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2ªsérie nº05 Jornal do Departamento de Ciências da Comunicação // ECATI Universidade Lusófona 2017 Dossier O que é isso de ser universitário? Alunos de CCC Uma experiência inesquecível no Porto Regresso à Semana de Comunicação Verão

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2ªsérienº05

Jornal do Departamento de Ciências da Comunicação // ECATIUniversidade Lusófona

2017

DossierO que é isso de ser universitário?

Alunos de CCCUma experiência inesquecível no Porto

Regresso à Semana de Comunicação

Verão

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Ficha técnicaDiretor: Luís Cláudio RibeiroEditora: Carla Rodrigues CardosoEditora-adjunta: Sara PinaColaboraram neste número: Alexandre Sabino, Ana Carolina Torres, Ana Catarina Santos, Ana Isabel Reis, Celmira Neto, Gonçalo Henriques, Inês Vilhana, Jéssika Martins, João Tojo, Jorge Amorim, Jorge Bruno, Marcelo Teixeira, Maria Calé Gaspar, Pedro Silva, Pedro Teixeira, Raquel De Araújo, Rita Silva, Rui Coutinho, Sara Amorim e Yauri NetoProjeto Gráfico: Alexandra Barradas e Yulianna ZosymskaTiragem: 250 exemplares – Distribuição GratuitaPré-Impressão, Impressão e Acabamentos: Serisexpresso – Edições e Impressão ISSN: 351.178 – Propriedade: COFAC

02 Nota de abertura

03 Investigar e publicar

04 Uma viagem de três dias no «Alfa Pendular»

06 Academia

07 Dossier Ser universitário é...

08 Na primeira pessoa 10 Entrevista

a Salomé Mariovet: «Continuo a legitimar o saber quehabilitaaumaprofissão»

12 Rever a Semana de Comunicação

14 E depois da universidade?

15 Repórteres em construção

16 Fora do campus A fechar…

À descoberta dos alunos do Ensino SuperiorO que pensam os estudantes universitários? Como se veem, como sentem o campus, os colegas, os professores, as matérias e os cursos? No dossier «Ser universitário é…», o MEDIALOGIAS parte à procura de respostas. São cinco os testemunhos recolhidos por Marcelo Teixeira, finalista da área de Jornalismo da licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura (CCC). E há respostas surpreendentes, de alunos que estão a formar-se em áreas tão distintas como Design e Gestão Aeronáutica, em instituições que vão da Lusófona à Universidade do Minho.

O dossier completa-se com uma entrevista a Salomé Mariovet, professora universitária na Universidade Lusófona, que dirige a licenciatura e o mestrado em Sociologia, assim como o Centro de Pesquisa e Estudos Sociais. Salomé Mariovet analisa os universitários, a sua relação com os professores e as diferenças registadas ao longo do tempo, abordando questões como as praxes, a «memória seletiva» e o comportamento em sala de aula.

Nas páginas 4 e 5, contamos com um artigo cedido pelo JornalismoPortoNet (JPN), assinado por Pedro Teixeira, aluno do 1º ano de CCC. É o balanço final do «Alfa Pendular», uma experiência conduzida pelo professor Ricardo J. Rodrigues, no âmbito da disciplina de Géneros Jornalísticos, que levou 20 alunos de CCC ao Porto para trabalharem na redação do JPN, como jornalistas. Vale a pena visitar o site do jornal online e descobrir todas as

reportagens multimédia, iniciadas em Lisboa e terminadas no Porto, sobre temas «fora da caixa» como as peixeiras das Caxinas ou o primeiro Banco de Gâmetas de Portugal.

Este ano, foram vários os trabalhos solicitados aos alunos do Departamento de Ciências da Comunicação (DCC) sobre a 5ª Semana de Comunicação, Artes e Tecnologias. O MEDIALOGIAS, nas páginas 12 e 13, conta-lhe três das muitas histórias dos cinco dias de atividades que em março animaram o DCC, assinadas por um conjunto de 12 estudantes.

Neste número, regressa o espaço «E depois da universidade?», nas páginas 14 e 15, com as histórias de Joana Gonçalves e Hugo Paulito, diplomados em Comunicação e Jornalismo (CJ) e em CCC, respetivamente. Joana licenciou-se em 2010 e quatro anos mais tarde abria a segunda empresa, Hugo Paulito é hoje diretor-adjunto do Teatro da Trindade. Os textos são de Jéssika Martins e de Inês Vilhana, alunas de CJ.

A fechar, fica aqui o convite para descobrir o projeto REC, na página 15, nascido do 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses, que já envolve 25 parceiros, entre os quais a Lusófona, através de cinco professores do DCC.

Boas férias e até para o ano!

Carla Rodrigues CardosoEditora

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Nota de abertura

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Lusófona com novo journal já no final de junho

Investigar e publicar

O lançamento do primeiro número do International Journal on Stereo & Immersive Media, das Edições Universitárias Lusófonas, está previsto para o fim de junho. A nova publicação científica é coordenada por Victor Flores, professor do Departamento de Ciências da Comunivcação, e resulta do êxito das duas edições da conferência internacional bianual Stereo and Immersive Media. A revista, publicada em inglês, é de acesso aberto e os artigos são selecionados por peer review. O primeiro número conta com seis artigos, de autores como Denis Pellerin e Nicholas Wade, e as temáticas vão da realidade aumentada à influência dos dispositivos sonorosno comportamento urbano.

Medalha de honra para Mário Mesquita

Professor de jornalismo do Departamento de Ciências da Comunicação, Mário Mesquita, foi distinguido a 22 de maio com uma medalha de honra da Sociedade Portuguesa de Autores. Jornalista e professor universitário com vasta obra publicada, Mário Mesquita foi diretor dos jornais Diário de Notícias e Diário de Lisboa. Assinou também crónicas regulares nos jornais Público e Jornal de Notícias, tendo sido Provedor do Leitor do Diário de Notícias. Está na ECATI desde o início do projeto e foi coordenador da área de jornalismo da Licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura.©

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Sopram Ventos de Mudança

Com Originalidade por Escrito, o projeto Livro de Contos regressou à ECATI, em 2016. Agora, chega Ventos de mudança, título da edição 2017, com textos individuais sobre o tema «Migrações» e características novas. O projeto atravessa este ano dois departamentos, o de Ciências da Comunicação e o de Cinema e Artes dos Média, reunindo estudantes de três licenciaturas – Comunicação e Jornalismo; Aplicações Multimédia e Videojogos; e Artes Visuais. São 15 contos, todos ilustrados, resultado do trabalho de 90 estudantes, 84 dos quais trabalharam durante nove semanas consecutivas, distribuídos por 26 equipas, nos contos de turma. E são três as professoras por trás de Ventos de Mudança: Carla Rodrigues Cardoso, como editora, Margarida Prieto, na coordenação das ilustrações, e Rute Muchacho, que assina o projeto gráfico.

Sir Charles Wheatstone and his family by Antoine Claudet, Stereoscopic daguerreotype, circa 1851-1852 © National Portrait Gallery, London

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Reportagem

Alfa Pendular: Alunos da Lusófona «invadem» o JPN

Durante três dias, 20 alunos de Ciências da Comunicação e da Cultura da Universidade Lusófona ocuparam a redação do JPN para produzirem reportagens multimédia.

Há uma sala atrás da redação do JornalismoPortoNet (JPN) onde reina a barafunda. Ouvem-se dedos a bater nos teclados dos computadores, pessoas a pedir cabos para passar vídeos para os portáteis, som das entrevistas que passam nos ecrãs, gente que chega de reportagem e gente que parte para reportagem. São três da tarde, o calor aperta, e ninguém aqui parece ter dúvidas do que tem para fazer.

Esta é a turma de Géneros Jornalísticos do curso de Ciências da Comunicação e da Cultura da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT), em Lisboa. Durante três dias, invadiram as instalações do JPN para investigar, produzir e publicar reportagens multimédia no site portuense de informação.

O projeto tinha começado no início do segundo semestre. Foi proposto aos alunos a ideia da ida à redação do JPN, com reportagens iniciadas em Lisboa e concluídas no Porto. A ideia era ter um contacto real com o trabalho no terreno e numa redação.

«Muitas vezes as universidades têm falta de ligação ao mundo laboral. Só que o jornalismo lida com os problemas das pessoas, não podemos fazer jornalismo sentados numa sala de aula ou na secretária de uma redação», dizia Ricardo J. Rodrigues, jornalista e professor que promoveu a iniciativa.

«O JPN é um jornal online regional que começou por ser um projeto universitário e se foi profissionalizando. Foi muito bom poderem acolher-nos. Ainda mais porque são francamente bons no jornalismo multimédia, uma área que precisa cada vez mais de gente».

Ana Isabel Reis, diretora do JPN e professora de jornalismo na Universidade do Porto, diz que «esta é uma troca fundamental para todos podermos crescer. Alunos, professores e os profissionais de comunicação social que aqui trabalham. São iniciativas como esta que nos devolvem o gosto da profissão e o gosto pelo jornalismo». E referiu que o acolhimento à turma da Lusófona revelou-se um verdadeiro intercâmbio. «Se por um lado o JPN já tem uma estrutura montada, por outro os alunos da Lusófona trazem metodologias e trabalhos novos».

Os temas foram escolhidos pelos alunos, sendo que estes tiveram o objetivo de abordar áreas diferentes e originais, fugindo ao normal, desafiando assim as suas próprias capacidades e elevando a fasquia com histórias em texto, fotografia, vídeo e áudio. «Estamos exaustos, mas felizes»E as ideias foram aparecendo: as dificuldade das vidas das mães adolescentes, a inserção de deficientes na vida ativa, as histórias dos veteranos que sofrem stress de guerra,

Texto*: Pedro Teixeira Fotos: Ana Isabel Reis

Os alunos escolheram os temas com o objetivo de abordar áreas diferentes e originais

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Reportagem

os novos modistas, a tensão e a expectativa que existe nos campeonatos infantis dos clubes de futebol de bairro, a angústia das mulheres dos pescadores, os programas de animação para crianças com cancro no IPO do Porto, a arte dos artistas de rua ou perceber como funciona o primeiro banco de recolha de óvulos e espermatozóides do Porto.

Estas eram as ideias, e no Porto foram investigadas no terreno. A Mafalda Pereira e a Mariana Baptista, por exemplo, passaram um dia no IPO do Porto a tratar um tema que na maior parte das vezes arrepia: o cancro infantil. «Achávamos que íamos encontrar tristeza e afinal fomos parar a uma casa cheia de alegria», diz a Mariana. «E isso foi uma grande lição de jornalismo. Perceber que não podes ter ideias feitas, tens de ir ao terreno verificar tudo». O Francisco Dionísio, que trabalhou o tema dos cidadãos com deficiência, aprendeu isto: «Não há nada como estar no terreno, trabalhar na redação, criar a autonomia de que precisamos para podermos ser jornalistas. Foi uma experiência magnífica».

À medida que os dias avançavam, as equipas voltavam de reportagem e chegava a hora de editar os ficheiros de vídeo e áudio, além de escreverem as peças. O corrupio dentro das salas 104, 107 e 108 do edifício onde funciona o JPN era incrível. Filipa Silva e Rita Neves Costa, as editoras do JPN,

pareciam ter oito braços cada uma, ajudando a editar textos, galerias de imagem, vídeos. Horas antes tinha havido uma formação sobre como usar câmaras, fazer fotos, gravar som e imagem, mas na hora da verdade sobravam as dúvidas. Um inacreditável espírito jornalístico enchia o ar.

Foram horas e horas de trabalho, condensadas em três dias intensos. Desde o início do semestre que os alunos tinham começado contactos e entrevistas, muitos trabalhos misturavam histórias de Lisboa e Porto, mas na reta final foi preciso acelerar para conseguir ter tudo pronto a tempo. É justo, a pressão faz parte do ofício. «Estamos exaustos mas felizes», dizia no fim de tudo o João Magalhães, um dos alunos. «Foi trabalhoso, mas quando vemos os resultados tudo vale a pena. Isto sim, é ser jornalista. Até trabalhar contra o tempo».

No regresso a casa, um grupo inteiro de alunos tinha-se transformado em redação de jornalistas. E tinha aprendido o que dissera Ana Isabel Reis, que «toda a gente tem histórias e elas podem estar onde menos se espera, até no trajeto entre o metro e a faculdade». Saber olhar e saber ver, também foi isso que os alunos perceberam. E sentiram o que no início da viagem dizia Ricardo J. Rodrigues, professor da Lusófona: «O jornalismo é o melhor ofício do mundo».

*Texto publicado no jornal online JornalismoPortoNet, a 29 de maio de 2017.

«Não podemos fazer jornalismo sentados numa sala de aula ou na secretária de uma redação», diz Ricardo J. Rodrigues

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Academia

Mafalda Anjos, a diretora da revista Visão, esteve na Lusófona a 11 de maio, à conversa com os estudantes do Departamento de Ciências da Comunicação sobre o futuro do jornalismo. A visita aconteceu a propósito do lançamento do SMACK, a nova plataforma do Grupo Impresa dirigida a quem tem entre 15 e 25 anos. O SMACK conta com uma parceria da Universidade Lusófona e todos os alunos interessados estão convidados a fazer propostas de colaboração.

SMACK traz diretora da Visão à Lusófona

Seminário anual do Mestrado em Comunicação Alternativa

«As pessoas cegas e com baixa visão na CPLP» foi o tema do seminário anual organizado pelo mestrado de Comunicação Alternativa e Tecnologias de Apoio, de 1 a 3 de junho. Ao longo dos três dias, avaliaram-se as diferenças de realidades na vida destas pessoas nos vários países da CPLP. O seminário contou com a presença da secretária de estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, e os painéis abordaram temáticas como a profilaxia e educação, investigação e tecnologias de apoio.

Doutorado em inteligência artificial, Manuel Pita participou, a 21 de junho, no VII Ciclo de Conferências Internacionais ECATI/Museu Coleção Berardo, trabalhando o tema «Arquivos evolutivos – micro e macro, natural e artificial». Uma abordagem aos arquivos na perspetiva do biólogo sistémico, mas também na ótica puramente computacional, sem esquecer o ângulo de um ator inserido numa grande rede social complexa que está em constante evolução. Manuel Pita discutiu os mecanismos essenciais de memória que, em grande medida, determinam a vida e a computação, relacionando-os com a evolução de arquivos naturais e artificiais.

Organizado a 9 de maio pelo Centro de Pesquisa e Estudos Sociais (CPES) da Lusófona, sob a coordenação da professora Salomé Mariovet, o seminário «Desporto na Europa: Media e Identidade» contou com a participação do Departamento de Ciências da Comunicação. Na primeira sessão, coube ao professor de Jornalismo Desportivo, Daniel Cruzeiro, fazer a introdução à apresentação dos resultados do grupo de trabalho Média e Desporto do CPES. De seguida, Carla Rodrigues Cardoso, diretora da licenciatura em Comunicação e Jornalismo, moderou o painel «Europa: Futebol, Média e Globalização», que teve como keynote speakers, a organizadora da iniciativa e William Gasparini, da Faculdade de Ciências de Desporto da Universidade de Estrasburgo.

Desporto, média e identidade em debate

Desmontar a evolução dos arquivos

Ana Rua, Juliana Mendes, Solange Rodrigues e Rui Antunes formaram os Bliss para concorrerem às Olimpíadas de Marketing. O grupo de estudantes da licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura (CCC), foram os vencedores da eliminatória de 27 de Abril, que apurou o representante da Lusófona na iniciativa organizada pelo Grupo de Alunos de Marketing da ESCS (GAME), com o apoio da Santa Casa da Misericórdia.

As Olimpíadas de Marketing são a primeira competição interuniversitária nesta área e, para além da Lusófona e da ESCS, participaram o ISEG, o ISCTE-IUL, o IADE e a Universidade Europeia.

No apuramento dos representantes da Lusófona competiram quatro grupos

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Bliss representam Lusófona no final das Olimpíadas de Marketing

formados por estudantes do cursos de Comunicação Aplicada e de CCC. O desafio foi ter de dar resposta a um briefing lançado pela Hamburgueria do Bairro. O júri, constituído por docentes da Lusófona e pelo diretor-geral do restaurante, não teve tarefa fácil porque todos os trabalhos mostraram corresponder a soluções capazes de resolver as questões apresentadas no briefing.

Ganharam os Bliss, que participaram na final das Olimpíadas, a 2 de Junho, na Escola Superior de Comunicação Social. O prémio de 1500 euros foi para a equipa do ISEG, mas a experiência fica no currículo e na memória dos quatro alunos de CCC.

Jorge Bruno © D

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Mais de 350 mil estudantes frequentam o Ensino Superior português, dados da Pordata. De 2015 para 2016, registou-se uma subida de quase sete mil alunos, invertendo-se a tendência de descida dos quatro anos anteriores. O melhor ano continua a ser 2003, o único em que a fasquia dos 400 mil foi ultrapassada e se percebeu como o panorama académico mudou em Portugal. Em 1978, os estudantes no Ensino Superior eram pouco mais de 80 mil, um número que subiu cinco vezes em apenas 25 anos de democracia consolidada.

São todos conhecidos como «universitários», embora uma boa parte frequente, por exemplo, institutos politécnicos. Quem pensa que elas são mais que eles há pouco tempo, desengane-se. O fenómeno conta precisamente três décadas e desde 1986 que as mulheres ultrapassam os homens no Ensino Superior. O ano passado, as estudantes eram mais de 190 mil, enquanto os estudantes não alcançavam os 170 mil.

«Uma vez estudante, para sempre estudante»Portador de um sorriso cativante, Ricardo Soares fez o mestrado integrado em Medicina Dentária na Cooperativa de Ensino Superior Egas Moniz, no Monte de Caparica. Após cinco anos como universitário, decidiu não parar, e considera que «uma vez estudante, para

Quem são os futuros Srs. Drs.?

Dossier | Ser universitário é...

Uns veem-nos como marrões, outros como presumidos à conquista dos títulos de «Sr. Dr.», «Engenheiro» ou «Arquiteto». E há quem pense que só gostam de borgas. O MEDIALOGIAS falou com cinco estudantes do Ensino Superior e conta-lhe o que eles dizem, na primeira pessoa, sobre o que é isso de ser «universitário».

Texto: Marcelo Teixeira

sempre estudante». Com 25 anos, está agora a frequentar o mestrado em Gestão da Saúde na Universidade Nova de Lisboa, porque «parar de aprender é parar de saber, é estagnar no que se sabe e não querer evoluir».

Essa vontade de «afinar a aprendizagem» e aprofundar conhecimentos continua em «sobressalto» no coração de Ricardo. No entanto, não esquece que enquanto frequentou o curso de medicina dentária pensava muitas vezes se iria «valer a pena». Uma pergunta que continua a persegui-lo, uma vez que ainda não enfrentou o mundo laboral, que lhe parece mais «temível» que o campus de uma universidade.

Percurso de «esforço e dedicação»Diogo Pereira Dias já se encontra mergulhado na sua primeira experiência de trabalho, através do estágio curricular que finaliza a licenciatura com mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade Lusófona. Reconhece que o curso foi «complicado», pois algumas disciplinas têm um «grau de dificuldade elevado», por isso, o percurso académico exigiu «imenso esforço e dedicação». A época de exames era «a mais difícil», recorda, pois «para além do stress, ficava sem tempo para nada». Em relação às disciplinas em particular, «nem sempre o interesse é intrínseco»,

«Parar de aprender é parar de saber, é estagnar no que se sabe e não querer evoluir», considera Ricardo Soares, que frequenta o mestrado em Gestão da Saúde

«Se formos exigentes connosco podemos sempre retirar algo de importante» de todas as disciplinas, assegura Diogo Pereira Dias, que está a concluir o mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas

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confessa, mas, para Diogo, «se formos exigentes connosco podemos sempre retirar algo de importante» de cada uma delas. Sobre o futuro, está na expectativa, uma vez que «os tempos de hoje são competitivos e imprevisíveis». Considera, por isso, a hipótese de montar o seu negócio.

«Existe muita competição»De segunda a sexta, Daniela Malcata faz o percurso Massamá/Santos/Massamá atrás do seu sonho. Com 19 anos, está a terminar o primeiro ano de Design no IADE. Aspira seguir uma carreira entre linhas e cortes, que lhe permita aprimorar a criatividade. Para Daniela, o saber não ocupa lugar, «devemos apreender o máximo dos conteúdos que nos transmitirem», considera. Mas pensa que, às vezes, a única maneira «é aprender sozinhos», uma grande parte do êxito depende do esforço individual.

Trabalhar a autonomia, considera Daniela Malcata, é essencial no caminho de preparação para o mundo profissional. «Existe muita competição», sublinha, e «todos querem ser os melhores naquilo que fazem». Mas como há vida para além da universidade, não descuida o mundo para lá dos muros do ensino. Para Daniela, ser estudante «é saber conciliar a vida pessoal e universitária, sem deixar nenhuma das duas para trás».

Não o convidem para «rebolar na lama»Natural de Famalicão, Paulo Costa está a finalizar a licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho. Com uma presença altiva, esclarece que «nunca foi a praxes, nem a noites académicas». No entanto, não se considera radical, pois não apela «ao fim das praxes» só não quer que contem com ele «para rebolar na lama». Lembra o momento em que iniciou o seu percurso académico: «entrei com o objetivo de tirar uma licenciatura, e as baterias estavam todas apontadas para esse fim». A promessa de que tudo correria bem foi feita aos pais, mas sobretudo a ele próprio. Fascinado pelo jornalismo em particular, «nunca quis perder tempo» e preferiu «estagiar em jornais locais ao invés de estar nos cafés».

Esta veia trabalhadora levou Paulo Costa a ser um dos estudantes selecionados para trabalhar no MediaLab do 4º Congresso dos Jornalistas, em janeiro. Mas antes disso, o seu esforço tinha sido reconhecido com prémios atribuídos a reportagens televisivas sobre a vida dos ciganos na região do Minho, e também já viu textos seus no jornal Público. Apesar dos 26 anos, tem um discurso de alguém com muita tarimba. «Li muito, fiz muitos vídeos e a câmara fotográfica está sempre ao ombro», diz, sem falsas modéstias. «Ser estudante é isto: gostar do que se faz e querer aprender mais», conclui.

É preciso «enfrentar as exigências»Carlos Lima está a terminar as horas de voo que lhe faltam para se tornar piloto e rasgar os céus. Depois de finalizar a licenciatura em Gestão Aeronáutica na Universidade Lusófona, falta-lhe concluir esta última etapa em Tires. Para Carlos, ser estudante está inteiramente ligado com «ser criativo». Nesse sentido, relembrou que um estudante prevenido vale por dois, pois é preciso «saber estar preparado para os desafios que nos são propostos, enfrentar as exigências, mesmo que a nossa vida pessoal esteja num momento crítico».

Muito organizado e quase poético, conta como a universidade foi importante para o seu crescimento. «Temos de ter a destreza de sair da nossa zona de conforto, a ginástica de gerir o tempo e a capacidade de aproveitar o momento». Afinal, Carlos não quer só asas mecânicas, procura aproveitar cada etapa, com «perseverança na nossa formação, no nosso enriquecimento». E remata, indo ao encontro das palavras de Ricardo Soares: «o conhecimento é um peão numa experiência interminável. Nunca deixamos de ser estudantes».

Ser estudante do Ensino Superior é «saber conciliar a vida pessoal e universitária, sem deixar nenhuma das duas para trás», considera Daniela Malcata, que finaliza o 1º ano de Design

«Gostar do que se faz e querer aprender mais», é esta a definição de estudante universitário para Paulo Costa, finalista de Ciências da Comunicação

«Temos de ter a destreza de sair da nossa zona de conforto, a ginástica de gerir o tempo e a capacidade de aproveitar o momento», considera Carlos Lima, da licenciatura em Gestão Aeronáutica

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Diretora do Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da Universidade Lusófona, Salomé Marivoet encontra diferenças entre os universitários de hoje e os da primeira metade dos anos 90. «Os alunos perderam capacidade para ir além daquilo que estava nos textos», afirma a também diretora da licenciatura e mestrado em Sociologia. Indisciplina e permanente distração com os telemóveis são alguns dos problemas que deteta em sala de aula. Sublinha que «quando se chega à universidade com uma herança de memorização» cultivada no Secundário, «não se sabe como relacionar as coisas». E deixa um alerta aos alunos: «a licenciatura desvalorizou-se. É necessária formação complementar»

Texto: Marcelo TeixeiraFotos: Alexandre Sabino

O que esperam os professores de um universitário? Deve ser um estudante com curiosidade em saber mais. Ter vontade de aprender e aumentar o seu conhecimento. Para além de se habilitar para algo em concreto, existe essencialmente um conjunto de competências que se vai adquirindo, mesmo sem consciência disso. É necessário que tenha uma análise critica da realidade, ganhando autonomia para arranjar soluções e formas de funcionamento. Ou criatividade, especialmente noutras áreas.

Por falar em realidade, o mercado de trabalho está complicado…Contam-se enormes dificuldades no mercado de trabalho e isso reflete-se nos estudantes, que vivem angustiados sem saber se irão rentabilizar o investimento. Duvidam se o mercado de trabalho vai reconhecer isso. Continuo a legitimar o saber que habilita a uma profissão.

O que deteta, então, como expetativas nos alunos universitários?Depende das áreas. O último objetivo é ter um estatuto social e poder atingir um cargo que a sociedade privilegia. Mas passa por um processo de muitas etapas. Recai na reflexão, circula pela autocorreção, estimula a exigência e culmina no trabalhar com outras pessoas. A relação interpessoal é muito importante, saber falar, expor ideias. Que avance com propostas, que seja líder.

E as praxes podem ou não ter um papel integrador na vida dos alunos?Existe sempre algo de dinâmico na vida académica. Como as praxes. Por vezes, e quando feitas com responsabilidade, incluem e criam alguma sociabilidade. É um palco de aproximação uns dos outros. O ritual do padrinho e da madrinha serve para passar o testemunho. Não deixam de ser uma iniciativa de alunos para alunos.

Existem diferenças entre os estudantes universitários de hoje e os de há dez ou 20 anos?Muitas diferenças. Na década de 90 até ao seu final verificaram-se mudanças. Os alunos que viveram a primeira metade dos anos 90 eram mais interessados, sentia-se empenhamento o que resultava em maior objetividade. Depois, no final dos anos 90, recordo-me que os alunos começaram a ficar indisciplinados. Faziam-se acompanhar de gravadores para as aulas e nos testes escreviam exatamente o que o aparelho tinha registado. Um professor pensa, «fui eu que disse isto». Os alunos começaram só a querer dizer o que o professor tinha dito.

«Contam-se enormes dificuldades no mercado de trabalho e isso reflete-se nos estudantes, que vivem angustiados»

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«A universidade não pode ser uma reprodução do secundário»

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Isso significa que os estudantes perderam capacidades?Os alunos perderam capacidade para ir além daquilo que estava nos textos. Tentam agradar e acham que a melhor forma é copiar, fazer igual. Mas quando fui para Coimbra notei novamente uma atitude de maior seriedade em termos de aprendizagem. O facto de muitos alunos estarem deslocados de casa gera maior responsabilidade para tornar o tempo de estudo mais proveitoso. Esse fator tem realmente uma ligação. Mas antes de abandonar Coimbra voltei a lidar com turmas indisciplinadas. Vim para a Lusófona em 2013, e ao nível dos alunos verifica-se um comportamento de maior seriedade em sala de aula. Há um grupo alargado com esta postura. No entanto, a distração é predominante por causa dos telemóveis.

Consegue identificar outras causas para as mudanças que verifica nas duas últimas décadas?Essas mudanças devem-se, também, ao momento de estrangulamento no ensino secundário. Quando a nota e a avaliação são baseadas na memorização tornam a nossa memória reflexiva. E quando se chega à universidade com uma herança de memorização não se sabe como relacionar as coisas. Depois, dentro do sistema académico implode um rastreio daqueles que têm ou não capacidade para progredir.

Por outro lado, o aumento demográfico encheu as universidades. O facto de haver um número de alunos muito grande e grandes turmas para reduzir despesa, impede o professor de extrair o melhor que há em cada aluno. E aí, persiste o mesmo problema da fase pré-universitária. Não se apropria conhecimento, mas informação para se fazer um exame. É a chamada memória seletiva que se esvazia e carrega quando se precisar.

O modelo de ensino académico, apesar da reforma de Bolonha, continua a ser demasiado teórico?A universidade não pode ser uma reprodução do Secundário. Não se pode querer uma nota só para obter um diploma. O sistema tem que intervir. Aquilo que se faz na sala de aula tem de ir ao encontro disso. A avaliação tem de ser também prática, não pode ser só teórica. Tem que se experimentar, não chega esperar que a informação passe a conhecimento.

Para si, o que é mais gratificante como professora?Ver os progressos dos alunos. Não é só dar uma boa nota. Aprecio quando é legível a timidez inicial de um aluno, e quando termina o semestre já está à vontade. É recompensador ver alunos a dominar técnicas de investigação, a escreverem relatórios complexos e credíveis. É o motor que me continua a puxar.

Que conselhos deixa aos universitários?A licenciatura desvalorizou-se. É necessária formação complementar. Se o aluno quiser desenvolver competências e aprofundá-las é importante fazer um mestrado. Juntar o máximo de ferramentas que o municiem para o mundo tecnológico. Tem havido um aumento significativo de licenciados a desempenhar funções indiferenciadas, porque hoje as exigências da sociedade são maiores.

«Dentro do sistema académico implode um rastreio daqueles que têm ou não capacidade para progredir»

Ser universitário é... | Dossier

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Semana de Comunicação

Cinco dias, três históriasDebates, workshops e muitos convidados animaram a 5ª Semana de Comunicação, Artes e Tecnologias, de 20 a 24 de março. A iniciativa anual da direção do Departamento de Ciências da Comunicação voltou a abrir as portas da universidade à sociedade e o MEDIALOGIAS deixa-lhe aqui três das muitas histórias que marcaram os cinco dias, contadas pelos alunos que as ouviram.

Tratar a «verdade dos factos» é o que distingue o trabalho do jornalista, diz Walter Dean. Com as redações a desaparecerem, é preciso não esquecer que «humildade e originalidade» são os requisitos principais para quem quer abraçar a profissão.

«A saúde das redações corre riscos», alerta Walter Dean, professor de jornalismo norte-americano com mais de 40 anos de experiência na profissão. A redação tornou-se «um lugar menos seguro», sem tanta entreajuda, e pode até nem existir – cada vez são mais os jornalistas que trabalham a partir de casa.

A propósito da polémica envolvendo as «fake news», Walter Dean dirigiu-se à plateia e perguntou: «O que é que distingue os jornalistas de todos os restantes fabricantes de média?». E foi o antigo jornalista da CBS que respondeu, afirmando que o jornalista «não só trata os factos como, também, a verdade dos factos». Os principais requisitos desta profissão são sempre a humildade e a originalidade.

Na conferência de abertura da 5ª Semana de Comunicação, Artes e Tecnologias, a 20 de março, Walter Dean sublinhou que o jornalismo é sempre um «ato de consciência» e deixou um conselho aos estudantes: «faz o teu próprio trabalho e sê original».  

Ana Catarina Santos, Ana Carolina Torres, Celmira Neto, Maria Calé Gaspar e Pedro Silva

E, de repente, três alunos descobrem o que é vestir a pele de professores.

São duas e meia da tarde de 22 de março. Já está tudo a postos para começar mais uma sessão da Semana de Comunicação, desta vez sobre «O futuro próximo nas tecnologias digitais». À porta do Agostinho da Silva estão três alunos, Alexandre Sabino, Gonçalo Henriques e Tiago Constantino, que formam a mesa de debate, acompanhados de Carlos Pimenta, professor de Ciberjornalismo na licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura.

Sente-se o nervoso miudinho no olhar de cada aluno participante. Nesta sessão vão repetir as apresentações que fizeram em sala de aula, mas desta vez com muito mais audiência. Vão sorrindo e mantêm a conversa, criando um ambiente agradável entre os quatro, sem saber como tudo vai correr.

«Bem, vamos entrando, então?», pergunta finalmente o professor, enquanto se dirige para a porta. «Já estamos em cima da hora e aproveitamos para ir adiantando trabalho», incentiva. Assim fizeram. Ainda estavam pessoas a entrar e a sentarem-se no auditório, já se organizavam os três intervenientes. Entre folhas e pen drives, canetas e telemóveis, preparam-se para começar a palestra.

Passar palavra «a quem percebe disto»Cerca de 50 pessoas na sala, enquanto os quatro membros da mesa permaneciam sentados. Logo depois do sinal da régie, Carlos Pimenta levanta-se e dirige-se ao púlpito. «Na mesa estão três dos meus alunos», anuncia, «que irão apresentar, cada um, uma série de cibertemas que trabalharam voluntariamente». Feitas as apresentações, chega o momento de explicar ao auditório o conceito de cibertema. Segue-se uma pequena introdução à temática trabalhada por cada um dos alunos, antes de Carlos Pimenta passar a palavra «a quem percebe disto».

O primeiro foi o Tiago, a seguir o Gonçalo, e por fim o Alexandre. Entre ADN artificial, carros e cidades autónomas, robôs capazes de substituir o ser humano, drones solidários e hologramas, os três estudantes demonstraram ao auditório que o futuro, para muitos longínquo, está cada vez mais perto de se tornar presente.

Os exemplos apresentados conseguiram captar a atenção do público e, no fim, o entusiasmo era tão grande que a conversa continuou, agora nos corredores. «Isto correu tão bem que já vos querem a apresentar novos temas no dia do Game Over!», comentou, sorrindo, Carlos Pimenta.

Alexandre Sabino, Gonçalo Henriques e João Tojo

Da plateia para o palco

A redação é hoje «um lugar menos seguro»

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Tiago Constantino, Gonçalo Henriques e Alexandre Sabino: do «nervoso miudinho» ao entusiasmo pelo sentimento de missão cumprida

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Semana de Comunicação

Oferecer conteúdos jornalísticos em formato digital a custo zero foi um erro, todos o reconhecem, mas deixar de estar presente online é um passo atrás impossível. Então, o que fazer?

«Nunca como agora o consumo de informação foi tão grande e nunca as empresas que produzem essa informação estiveram tão mal em termos financeiros», afirmou Paulo Ferreira. Este é o paradoxo que os média enfrentam. Para o jornalista e gestor da TrueStories, a crise económica é fruto de «um erro crasso: oferecer aquilo que tem valor», ou seja, a informação produzida por jornalistas. O advento do digital foi mal compreendido pelos média quando decidiram disponibilizar conteúdos a custo zero. De acordo com Paulo Ferreira, esta aposta traduziu-se em três problemas. O que passa a ser oferecido  «é percecionado como não tendo grande valor», «não gera receitas» e «é muito difícil que volte a ser pago». Uma análise que fez parte do painel «Jornalismo: novos modelos de negócio», que encerrou, a 24 de março, a 5ª Semana de Comunicação, Artes e Tecnologias..O único segredo para ser bom jornalistaModerada por Helena Garrido, a conferência contou ainda com a intervenção de David

À procura do «milhão de dólares»

Dinis, diretor do Público, Rute Sousa Vasco, jornalista e gestora da Madre Media, e Samuel Alemão, jornalista de O Corvo. Todos estiveram de acordo com a necessidade de continuar a apostar no digital – não é possível inverter um caminho que se tornou o único conhecido para grande parte dos consumidores, especialmente os mais jovens. Encontrar uma forma do jornalismo digital ter retorno financeiro, «é a pergunta para um milhão de dólares», referiu David Dinis. O diretor do Público considera que os média têm de se voltar para a informação útil, que interessa a quem a consome. E deixou um conselho aos estudantes de jornalismo: «sejam melhores, leiam muito, aprendam todos os dias e divirtam-se com aquilo que estão a aprender. Esse é o único segredo para ser um bom jornalista». Quanto a novos modelos de negócio, todos concordam que o futuro é experimentar e ir ultrapassando obstáculos, sem receio de falhar, pois ainda não se encontrou o caminho certo.

Raquel De Araújo e Yauri Neto, com Rita Silva e Sara Amorim

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David Dinis, Paulo Ferreira, Rute Sousa Vasco e Samuel Alemão, todos querem saber como tornar o jornalismo digital um negócio viável

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E depois da universidade?

Da formação em jornalismo para o marketing digital foi um pulo conseguido com «muita lata», assegura Joana Gonçalves, empresária de 29 anos, que terminou em 2010 a licenciatura em Comunicação e Jornalismo.

A história de Joana Gonçalves interessa a todos os estudantes que sonham ser empreendedores. No último ano da licenciatura em Comunicação e Jornalismo começou a trabalhar para a Atlanfina, uma exportadora de vinhos para Angola, alimentando o site e o blog da empresa. Quando conquistou o diploma, em 2010, lançou a NetSmile, uma empresa que atua na área do marketing digital, ao lado do até então colega de curso, Jean Paul Lopes.

«Na altura, os blogs e, principalmente, as páginas do Facebook eram algo muito recente para as empresas e vimos nisto uma oportunidade», explica Joana. O êxito da aposta levou a NetSmile a conquistar clientes com a dimensão da EDP.

Nova empresa, feiticeiraO futuro nunca se sabe de onde vem, e é preciso estar sempre atento. Em 2014, a produtora de televisão Coral Europa, cliente da NetSmile há três anos, propôs a Joana assumir a área comercial da empresa durante o projeto Água do Mar, telenovela realizada para a RTP. A empresária aceitou e convidou um amigo com experiência para trabalhar com ela. O resultado foi de tal forma recompensador que, quando as gravações terminaram, Joana Gonçalves sentiu que estava pronta para se lançar de cabeça numa nova aposta – a SoftWizard.

A sua segunda empresa nasce no final de 2014 e trabalha a colocação de marcas em conteúdos digitais e televisivos, atividades conhecidas profissionalmente como

Êxito = sorriso, suavidade e «muita lata»

Product Placement, SoftSponsoring e Branded Content. Quando comparada com a NetSmile, Joana considera a SoftWizard «um projeto mais aliciante», que lhe permite trabalhar com marketing de empresas e televisão, indo para além da gestão de redes sociais.

Sem arrependimentosAos 29 anos, a empresária não se arrepende das opções que tomou. «Quem sonha ser jornalista deve seguir essa vontade, e conheço pessoas que se sentem realizadas nessa área, pois trabalham naquilo que gostam», diz. Joana escolheu trabalhar em marketing, por considerar que tinha «ambições financeiras» mais fáceis de satisfazer se enveredasse por esse caminho. Lançou-se no mercado sem nenhuma experiência prévia e sem conhecimentos de gestão. O segredo, considera, é ter «muita lata». É preciso estar nos locais certos e «conhecer pessoas novas, que podem vir a ser futuros clientes».

E o curso de Comunicação e Jornalismo da Lusófona, valeu a pena, mesmo tendo apostado numa área de trabalho diferente? Se fosse hoje, Joana Gonçalves voltaria a fazer o mesmo percurso, complementando-o, depois, com um mestrado em marketing. Diz que a licenciatura a ajudou a saber escrever com qualidade, o que «foi essencial para a gestão das redes sociais». Para além disso, aprendeu a distinguir o que interessa ou não aos diversos públicos. E alerta: «as empresas cada vez mais procuram jornalistas para o marketing e comunicação». Por tudo isto, quando viu o primo sem saber que curso escolher, Joana levou-o à Lusófona. E João Cunha está prestes a terminar o primeiro ano… De Comunicação e Jornalismo, claro!

Jéssika Martins

Joana Gonçalves nem hesitou. Terminou a licenciatura em Comunicação e Jornalismo e lançou-se na aventura do empreendedorismo. Quanto a Hugo Paulito, já trabalhava e manteve-se no Teatro da Trindade após obter o diploma em Ciências da Comunicação e da Cultura. Só que agora, as funções que desempenha são outras. São mais duas histórias a descobrir de alunos que fizeram a sua formação académica no Departamento de Ciências da Comunicação.

Aventurar-se e descobrir que a esperança valia a pena

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Repórteres em Construção

Hugo Paulito já trabalhava e voltou a estudar para se valorizar. A licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura acabou por se tornar a chave de acesso às funções que hoje desempenha: diretor-adjunto do Teatro da Trindade.

Não era uma «necessidade para continuar a desempenhar as minhas funções profissionais», conta Hugo Paulito, que trabalhava como coordenador técnico de palco, no Teatro da Trindade, em Lisboa. Foi para se «valorizar como pessoa», que decidiu voltar a estudar. Em 2013, com 41 anos, concluiu a licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura, na área de Gestão Cultural.

Dos tempos na Lusófona, Hugo recorda, com nostalgia, o corpo docente. Foram os professores que o marcaram, pois «a matéria aprende-se sempre» e ele, com conhecimentos no campo de estudos, até sentiu o percurso académico facilitado. Destaca, como exemplo, Carlos Pessoa, um professor «muito inteligente». Hugo Paulito conta que «nas aulas do professor Carlos sentia que punha em causa tudo o que sabia, pois ele vê as coisas de uma forma diferente, mas que faz sentido».

Quando chegou ao último ano de Ciências da Comunicação e da Cultura, escolheu a área de Gestão Cultural por se relacionar com as funções que desempenhava, na esperança de se valorizar também profissionalmente. E isso aconteceu. Hugo Paulito tem hoje 45 anos e é o diretor-adjunto do Teatro da Trindade, cargo que considera ter alcançado por se ter decidido licenciar. Se não tivesse «um canudo», diz, «teria dificuldade em chegar a técnico superior» e alcançar a nomeação para diretor-adjunto.

Inês Vilhana

O futuro ao fundo do canudo

O REC nasceu e conta com a LusófonaUm projeto de olhos postos no jornalismo, que quer contar “estórias” e ajudar a preparar os estudantes para uma profissão dura, socialmente exigente, mas que só tem validade quando é feita com qualidade e paixão. Chegaram os Repórteres em Construção.

No último número, o MEDIALOGIAS deu a conhecer a experiência dos alunos da Lusófona no MediaLab do 4º Congresso dos Jornalistas, de 12 a 15 de janeiro. A convivência entre professores, estudantes e jornalistas ao longo dos quatro dias e nos meses que antecederam o encontro, foi de tal forma intensa que no dia 16 ninguém queria que terminasse.

Nas trocas de e-mails pela noite fora, entre agradecimentos, partilha de episódios, risos e memórias, uma ideia começou a ganhar força: continuar o caminho desbravado com o Congresso.

E assim está a nascer o REC – Repórteres em Construção. O objetivo é apenas um: fazer jornalismo. Ir para a rua, ver, sentir, ouvir, saborear e contar «estórias». As «estórias» que as redações não têm tempo para contar ou não são incentivadas a trabalhar. Partilhar a experiência dos jornalistas e professores com os estudantes que querem ser profissionais e precisam de começar a desenhar o seu caminho, a aprender fazendo,

consolidando os conhecimentos teóricos com a prática no terreno.

De Norte a Sul do paísO REC envolve, neste momento, 61 pessoas e 25 parceiros: o Cenjor, a Rádio Renascença e 23 das 28 instituições de Ensino Superior portuguesas com ensino na área do jornalismo, organizadas em quatro Núcleos Regionais (Norte, Centro, Lisboa e Sul). Articulam-se com uma Coordenação Geral de seis elementos e todos foram nomeados por um ano.

A Rádio Renascença já assegurou um espaço semanal em antena para um programa de reportagens, intercalado com outro de entrevistas. A Fundação para a Computação Científica Nacional tem acolhido as reuniões de trabalho e, a dar os primeiro passos, com a ajuda do Cenjor, está a plataforma multimédia que se quer como espaço de alojamento e desenvolvimento do projeto.

O que parecia ser uma utopia começa a ganhar contornos de realidade. Jéssika Martins, finalista de Comunicação e Jornalismo, está a fazer uma peça para o segundo programa de rádio, sob orientação dos professores Carlos Andrade e Mésicles Helin. Helena Garrido, Sara Pina e Carla Rodrigues Cardoso, que integra a Coordenação Geral, são os outros professores do Departamento de Ciências da Comunicação envolvidos. Os primeiros passos do REC já foram dados. Resta aguardar (boas) notícias.

E da experiência no MediaLab do 4º Congresso dos Jornalistas nasceu o REC

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Fora do campus

A segunda edição do Game Over chega a 29 de junho. Celebra-se o final do ano letivo e mostram-se os melhores trabalhos dos estudantes do Departamento de Ciências da Comunicação. Uma festa de entrada livre, em que todos são bem-vindos: professores, estudantes e funcionários, mas também família e amigos. Todos ao Game Over 2017!

A fechar...

Em menos de dois meses, os finalistas da licenciatura em Comunicação e Jornalismo visitaram duas exposições com o professor Jorge Amorim, no âmbito da disciplina de Fotojornalismo. Partiram à descoberta do «Tempo depois do tempo», de Alfredo Cunha, a 15 de março, data em que a exposição foi distinguida com o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para Melhor Trabalho de Fotografia. A 10 de maio, foi a vez de visitarem a World Press Photo 2017, no Museu de Etnologia.

Confrontar os alunos com a obra de grandes fotógrafos é uma inspiração para os estudantes, considera Jorge Amorim. «Por vezes, pedem-me ajuda quando não encontram um tema para um trabalho», conta. A resposta do professor é sempre a mesma: «Trabalho puxa trabalho. Não fiquem à espera que as vossas fotografias se façam sozinhas! Fotografem!». E nada como ver como se faz para aprender a bem fazer.

Ver e aprender a (bem) fotografar

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À descoberta do «Tempo depois do tempo» Imagens que despertam emoções no World Press Photo 2017

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