dossiê políticas e gestão da educação 1991 1997

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    SRIE ESTADO DO CONHECIMENTO NO5

    Polticas e Gestoda Educao(1991-1997)

    Realizao:Associao Nacional de Polticas

    e Administrao da Educao (Anpae)

    Organizadores:Lauro Carlos Wittmann

    Professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e diretor de pesquisas da Anpae

    Regina Vinhaes GracindoProfessora da Universidade de Braslia (UnB) e presidente da Anpae

    Braslia-DFMEC/Inep/Comped

    2001

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    COORDENAO-GERAL DE LINHA EDITORIAL E PUBLICAESAntonio Danilo Morais Barbosa

    COORDENAO DE PRODUO EDITORIALRosa dos Anjos Oliveira

    COORDENAO DE PROGRAMAO VISUALF. Secchin

    EDITORJ air Santana Moraes

    REVISOAntonio Bezerra Filho

    NORMALIZAO BIBLIOGRFICAMaria ngela Torres Costa e SilvaRosa dos Anjos Oliveira

    PROJ ETO GRFICO E CAPAF. Secchin

    ARTE-FINALMarcos Hartwich

    TIRAGEM2.000 exemplares

    EDITORIAINEP/MEC Esplanada dos Ministrios, Bloco L, Anexo I, 4 Andar, Sala 416CEP 70047-900 Braslia-DF BrasilFones: (61)224-7092 (61)410-8438Fax: (61)224-4167E-mail: [email protected]

    DISTRIBUIOCIBEC/INEP Esplanada dos Ministrios, Bloco L, TrreoCEP 70047-900 Braslia-DF BrasilFones: (61)224-9052 (61)323-3500Fax: (61)223-5137E-mail: [email protected]://www.inep.gov.br

    A exatido das informaes e os conceitos e opinies emitidos so de exclusivaresponsabilidade dos autores.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    Polticas e gesto da educao (1991-1997) / Realizao: Associao Nacional de Polticas eAdministrao da Educao. Braslia : MEC/Inep/Comped, 2001.149 p. : il. (Srie Estado do Conhecimento, ISSN 1676-0565, n. 5)

    1. Poltica da educao bsica. 2. Gesto da educao. I. Associao Nacional de Polticas eAdministrao da Educao. II. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. III. Srie.

    CDU 37.014

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    APRESENTAO........................................................................................................................... 7

    INTRODUO ............................................................................................................................... 9Lauro Carlos Wittmann, Regina Vinhaes Gracindo

    O processo da pesquisa ............................................................................................................... 9Levantamento de dados ............................................................................................................. 10

    Organizao do banco de dados e primeira anlise.................................................... 10Anlise por rea temtica e divulgao ........................................................................ 12Viso sinptica dos resultados...................................................................................... 12

    Os captulos do livro.................................................................................................................... 16

    Captulo 1Captulo 1Captulo 1Captulo 1Captulo 1EDUCAO-ESTADO-SOCIEDADE COMO PANO DE FUNDODA GESTO DO ENSINO............................................................................................................ 19Brulio Tarcsio Porto de Mattos, Maria Zlia Borba Rocha

    Introduo.................................................................................................................................... 19Resultados................................................................................................................................... 21Concluso ................................................................................................................................... 28Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 28

    Captulo 2Captulo 2Captulo 2Captulo 2Captulo 2

    DIREITO EDUCAO E LEGISLAO DO ENSINO............................................................... 31Lourdes Marcelino Machado, Romualdo Portela de Oliveira

    Introduo.................................................................................................................................... 31A subcategoria temtica Direito Educao ............................................................................. 33A subcategoria temtica Legislao do Ensino ......................................................................... 36Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 38Anexo 1 Descritores da subcategoria Direito Educao, por convergncia temtica e freqncia ................................................................... 40Anexo 2 Descritores da subcategoria Legislao do Ensino,

    por convergncia temtica e freqncia ................................................................... 41

    Sumrio

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    Captulo 3Captulo 3Captulo 3Captulo 3Captulo 3

    POLTICAS DE EDUCAO: CONCEPES E PROGRAMAS ................................................. 43J anete Maria Lins de Azevedo, Mrcia Angela da Silva Aguiar

    Introduo ....................................................................................................................................43As pesquisas sobre Polticas de Educao................................................................................ 45Consideraes finais ................................................................................................................... 50Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 51

    Captulo 4Captulo 4Captulo 4Captulo 4Captulo 4

    O PBLICO E O PRIVADO NA EDUCAO............................................................................... 53Luiz Fernandes Dourado, Maria Sylvia Simes Bueno

    Introduo ....................................................................................................................................53O pblico e o privado: marcos tericos na agenda educacional .............................................. 54Caracterizao geral das pesquisas .......................................................................................... 56

    Constructo da categoriaO Pblic o e o Privado na Educao ...................................... 56Identificao e anlise dos descritores por subcategoria ............................................ 58Presena da categoria nas demais pesquisas ............................................................. 59

    Metodologia................................................................................................................................. 61Consideraes finais ................................................................................................................... 61Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 62

    Captulo 5Captulo 5Captulo 5Captulo 5Captulo 5

    PESQUISAS NO PAS SOBRE O FINANCIAMENTO DA EDUCAO:ONDE ESTAMOS? ....................................................................................................................... 63J acques Velloso

    Um cenrio dos estudos sobre o financiamento........................................................................ 63Origens da consolidao............................................................................................... 63Temrio original .............................................................................................................. 64Diversificao e novos rumos........................................................................................ 64

    As pesquisas no Pas .................................................................................................................. 66Evoluo e uma questo preliminar .............................................................................. 66Recortes e grandes temas transversais ........................................................................ 67Tpicos especficos ....................................................................................................... 69

    Breve e provisria nota final ........................................................................................................ 71Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 72

    Captulo 6Captulo 6Captulo 6Captulo 6Captulo 6

    MUNICIPALIZAO E GESTO MUNICIPAL DA EDUCAO ................................................... 75Cleiton de Oliveira, Lcia Helena G. Teixeira

    Consideraes iniciais ................................................................................................................ 75Uma viso geral dos trabalhos analisados ................................................................................ 76Os estudos sobre a municipalizao do ensino ........................................................................ 78

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    Os estudos da gesto municipal ................................................................................................ 79Consideraes finais ................................................................................................................... 81Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 82

    Captulo 7Captulo 7Captulo 7Captulo 7Captulo 7

    PLANEJ AMENTO E AVALIAO EDUCACIONAIS ..................................................................... 85Bernardo Kipnis, Roberto Algarte

    Introduo.................................................................................................................................... 85Relevncia terico-prtica da categoria ..................................................................................... 86Anlise dos resultados na categoria........................................................................................... 87Consideraes finais ................................................................................................................... 95Referncias bibliogrficas ........................................................................................................... 97

    Captulo 8Captulo 8Captulo 8Captulo 8Captulo 8

    A QUESTO DA FORMAO DOS EDUCADORES NO BRASIL:INTEGRANDO ESTUDOS REALIZADOS NA BUSCA DE NOVASSOLUES ................................................................................................................................. 99Marta Luz Sisson de Castro, Naura Syria Carapeto Ferreira

    Introduo.................................................................................................................................... 99O universo da pesquisa .............................................................................................................. 99As subcategorias temticas ...................................................................................................... 102

    A subcategoria Formao ........................................................................................... 103A subcategoria Prtica................................................................................................. 105A subcategoria Luta Sindical e Profissionalizao...................................................... 106A subcategoria Formao do Especialista.................................................................. 107A subcategoria Avaliao ............................................................................................ 108A subcategoria Outros ................................................................................................. 109

    Consideraes finais ................................................................................................................. 110Referncias bibliogrficas ......................................................................................................... 110

    Captulo 9Captulo 9Captulo 9Captulo 9Captulo 9

    GESTO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS: A PRODUO DEPESQUISAS NO BRASIL ........................................................................................................... 113

    Regina Vinhaes Gracindo, Vani Moreira Kenski

    Introduo.................................................................................................................................. 113Anlise descritiva....................................................................................................................... 114

    Tipos de pesquisa........................................................................................................ 114Anos de concluso ...................................................................................................... 115Instituies de origem.................................................................................................. 116Pesquisas por regio ................................................................................................... 116Pesquisas por gnero dos autores.............................................................................. 117Pesquisas por esferas de poder.................................................................................. 117Pesquisas por instncia administrativa ....................................................................... 118Pesquisas por nvel de ensino ..................................................................................... 119

    5Polticas e Gesto da Educao

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    Anlise descritiva circunstanciada............................................................................................ 119Relao entre perodo e tipo de pesquisa .................................................................. 120Relao entre instituies, tipos de pesquisa e perodos .......................................... 120Pesquisas por tipo de investigao e metodologia.................................................... 121

    Concepo e mbito de sistemas educacionais ........................................................ 122Temticas das pesquisas ...........................................................................................................122

    Produo de pesquisas ............................................................................................... 123Organizao e funcionamento dos sistemas educacionais ....................................... 123Relao escola/trabalho/modernizao na gesto dossistemas educacionais ................................................................................................ 124Articulao entre as instncias do Poder Pblico ....................................................... 124Gesto de polticas pblicas especiais ....................................................................... 124Democratizao da gesto de sistemas educacionais .............................................. 124

    Consideraes finais ................................................................................................................. 125

    Captulo 10Captulo 10Captulo 10Captulo 10Captulo 10GESTO DA UNIVERSIDADE: CAMINHOS E POSSIBILIDADESNA PRODUO DE PESQUISAS.............................................................................................. 127Afrnio Mendes Catani, Maria Estela Dal Pai Franco

    Introduo.................................................................................................................................. 127A temticaGesto da Universidade condies e inseres ................................................. 128Convergncias da temticaGesto da Universidade............................................................... 131

    Avaliao e qualidade.................................................................................................. 131Universidade e pesquisa ............................................................................................. 133Poltica de educao superior ..................................................................................... 134Histria da universidade .............................................................................................. 135

    Universidade e sociedade ............................................................................................136Perfil do profissional..................................................................................................... 136Autonomia e deciso ................................................................................................... 137

    Encaminhamentos conclusivos ................................................................................................ 138O olhar sobre as subtemticas.................................................................................... 138Caminhos e possibilidades.......................................................................................... 139

    Referncia bibliogrfica............................................................................................................. 140

    Captulo 11Captulo 11Captulo 11Captulo 11Captulo 11

    GESTO DA ESCOLA ............................................................................................................... 141

    Antonio Elizio Pazeto, Lauro Carlos WittmannIntroduo.................................................................................................................................. 141A gesto escolar em novos tempos ......................................................................................... 141Objetivo, importncia e processo metodolgico ..................................................................... 142Abrangncia e temtica das pesquisas.................................................................................... 143Temas convergentes ................................................................................................................. 147

    Democratizao da gesto e autonomia .................................................................... 147Organizao do trabalho escolar ................................................................................ 148Funo e papel do gestor............................................................................................ 148Gesto pedaggica ..................................................................................................... 149

    Concluso ................................................................................................................................. 149

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    Apresentao

    A Associao Nacional de Poltica e Administrao da Educao (Anpae) vem se con-

    solidando, desde 1996, como espao social de pesquisa. De 1996 a 1997, ela desenvolveu umprograma de pesquisa sobre A Situao da Administrao da Educao no Brasil, que envolveupesquisadores de todo o Pas em quatro pesquisas nacionais. Os relatrios dessas pesquisas forampublicados nos cadernos da SrieEstudos e Pesquisas, de sua edio.

    No perodo de 1998 a 1999, a Anpae desenvolveu a pesquisaO estado da arte sobrepoltic as e gesto da educao no Brasil: 1991-1997.*Decorrente desta pesquisa, disponibiliza, emsua home page(http://www.fe.unb.br/anpae), o banco de dados contendo as fichas das 922 pes-quisas levantadas. Como outra forma de divulgao dessa pesquisa, publica-se este livro, queanalisa toda a produo acadmica identificada e que se constitui uma expresso do compromis-so acadmico-poltico de pesquisadores do mais alto nvel com a causa da construo histricade uma educao pblica, gratuita, universal e de qualidade para todos. A cada um, um especialagradecimento.

    Agradecemos ainda ao Conselho Nacional de Secretrios de Educao/Rede Nacionalde Referncia em Gesto Educacional (Consed/Renageste), pela parceria na coleta de dados nasunidades federadas, e, tambm, ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e Fundao Ford, pelo apoio financeiro que viabilizou a construo desse processo.

    Os resultados alcanados no presente estudo so uma contribuio histrica para aacademia, para a prtica da gesto e para o estabelecimento de polticas. Primeiro, eles contribuempara a realizao de estudos e pesquisas, subsidiando trabalhos acadmicos; alm disto e principal-mente, trazem reflexes e encaminhamentos que podem auxiliar na melhoria da prtica social daeducao, especialmente de sua gesto em nvel de sistema, de instituies educativas e de outrasorganizaes da sociedade civil. Contribuem, ainda, para subsidiar o estabelecimento de polticasde educao comprometidas com a construo da cidadania brasileira.

    Regina Vinhaes Gracindo

    Presidente da Anpae 1995-1999

    *Verses anteriores deste trabalho foram publicadas pela Anpae, como relatrio de pesquisa, na srie Estudos e Pesquisas, n. 6, Braslia, 1999,e pela Editora Plano, Braslia, 2001. (N. do E.)

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    9Polticas e Gesto da Educao

    Introduo

    Lauro Carlos Wittmann*

    Regina Vinhaes Gracindo**

    O PROCESSO DA PESQUISA

    Na administrao da educao, as funes bsicas de estabelecimento de polticas ede gesto da educao, assim como a resultante organizao e funcionamento das instituieseducacionais, so fatores decisivos no desempenho e no nvel de qualidade de sua prtica. Umestudo da produo de pesquisas como expresso do estado do conhecimento sobre Polticas eGesto da Educao torna-se, pois, de fundamental importncia para o processo histrico deproduo de conhecimento, para a qualificao dos agentes e para a melhoria da prtica concretada educao, especialmente de sua administrao.

    Com o intuito de contribuir para o avano do conhecimento relevante na rea daadministrao da educao e consolidar sua base nacional de articulao e intercmbio siste-mticos entre pesquisadores na rea, a Associao Nacional de Poltica e Administrao daEducao (Anpae) realizou este estudo e, atravs desta publicao e da Internet,1 disponibilizaos resultados alcanados.

    A rede nacional de pesquisadores da Anpae foi mobilizada para as atividades deelaborao do projeto, levantamento e anlise dos dados e elaborao desta publicao. Almdos coordenadores nacionais, organizadores desta publicao, e dos autores dos captulos destelivro, tiveram destacada participao os seguintes pesquisadores: Edna Maria Cunha Dias/Univer-sidade Federal da Paraba (UFPB), Gilda de Arajo Costa/Universidade Federal do Esprito Santo(Ufes), J os Soares de Arajo Filho/Universidade Federal do Piau (UFPI), J acira Caboclo da Cos-ta/Universidade do Amazonas (UA), Jurema Rosa Lopes/Universidade Federal do Mato Grosso(UFMT), Ktia Siqueira de Freitas/Universidade Federal da Bahia (UFBA), Otvio Augusto Martins/

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Rinalva Cassiano Silva/UniversidadeMetodista de So Paulo (Umesp). Os pesquisadores, alm de reunies nacionais, participaram doprocesso por interlocuo virtual, mediante a utilizao dos recursos do correio eletrnico.

    O estudo desenvolveu-se, de setembro de 1998 a novembro de 1999, em trs fases:a) levantamento das pesquisas realizadas; b) categorizao das pesquisas e incluso do acervolevantado no Banco de Dados da Anpae; e c) anlise dos documentos por categoria e elaboraodos textos para divulgao dos resultados.

    * Professor da Fundao Universidade Regional de Blumenau (Furb) e diretor de pesquisas da Associao Nacional de Polticas e Administraoda Educao (Anpae).

    **Professora da Universidade de Braslia (UnB) e presidente da Anpae.1 Cf. http://www.fe.unb.br/anpae

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    10 Srie Estado do Conhecimento

    LEVANTAMENTO DE DADOS

    Foi estabelecido que o estudo deveria envolver todas as pesquisas sobre polticas egesto concludas no perodo de 1991 a 1997, como um prosseguimento do levantamento (j inicia-do em 1997) desenvolvido pelos professores da Universidade de Braslia (UnB) Roberto Algarte eRegina Vinhaes Gracindo e publicado no Caderno n 3 da SrieEstudos e Pesquisasda Anpae, em1998. Assim, foram identificados relatrios de pesquisa, livros e artigos que, nesta ordem de priorida-de, continham as informaes necessrias para a anlise pretendida.

    Para o levantamento de dados, a Anpae contou com sua rede nacional de pesquisa-dores, tendo um coordenador em cada unidade federada, e, em algumas delas, com uma equipede pesquisadores. Em diversos casos, esta equipe envolveu-se muito alm da coleta de dados,participando da anlise das pesquisas levantadas, bem como da definio das categorias ou re-as temticas. Com a idia de contemplar um horizonte bastante amplo de pesquisas realizadas,de forma extensiva, optou-se por se tomar como base os resumos das produes acadmicasreferidas.

    Nessa fase ocorreu a primeira parceria da Anpae com o Conselho Nacional de Secret-rios de Educao (Consed) na realizao da pesquisa. Os representantes estaduais da Rede Nacio-nal de Referncia em Gesto Educacional (Renageste) auxiliaram no levantamento dos dados dasrespectivas unidades federadas.

    A estratgia de levantamento dos dados, os procedimentos de coleta, assim como aelaborao do instrumento e a prpria coleta dos dados, foram definidos no processo, com oenvolvimento de pesquisadores da Anpae de todo o Pas.

    Os documentos resultantes desse levantamento tm limitaes de duas ordens: pri-meiro, o rastreamento no foi exaustivo, o que significa existirem pesquisas concludas no perodoe que no constam do levantamento, por no terem sido levantadas ou porque foram excludas daanlise por falta de dados indispensveis; segundo, grande parte dos resumos levantados impu-

    seram limites ao aprofundamento da anlise neste estudo do estado do conhecimento. A naturezados resumos variada, no contemplando todos os aspectos que devem existir num resumo depesquisa eles no indicam descritores, e muitos omitem informaes sobre a metodologia ouresultados. Apesar destas limitaes, o resultado alcanado constitui uma contribuio significati-va para a rea de estudo.

    Organizao do Banco de Dados e Primeira Anlise

    Inicialmente, os dados primrios e secundrios coletados foram includos no Bancode Dados da Anpae, para, em seguida, desencadear-se o processo de anlise dos documentoscom vista definio das categorias ou reas temticas contempladas nas pesquisas levantadas;houve uma especial ateno nesse processo de definio das categorias e, principalmente, nacategorizao dos resumos. Dadas as limitaes dos resumos, destacadas anteriormente, a bus-ca de novas informaes visando complementao e fidedignidade dos dados obtidos foi fatorque exigiu dedicao redobrada.

    Houve um processo de seleo dos documentos resultantes do levantamento inicial.Muitos referiam-se a outras reas como avaliao de aprendizagem e experincias didticas eque foram excludos da anlise por "impertinncia temtica"; outros correspondiam a pesquisasque no haviam sido concludas no perodo do estudo (1991 a 1997), que tambm foram excludospor "impertinncia temporal". Um terceiro grupo foi excludo por preenchimento inadequado oufalta de informaes solicitadas no instrumento de coleta, como autor, origem institucional, nature-za da pesquisa ou, at mesmo, o prprio resumo.

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    11Polticas e Gesto da Educao

    O projeto inicial previa a categorizao das pesquisas em dois grandes conjuntos:polticas e gesto. A anlise dos dados levou, no entanto, a uma redefinio da enucleao dascategorias ou reas temticas. A partir dos documentos, foram enucleadas 11 grandes temticasda produo de pesquisas. Os documentos pertinentes a cada uma destas temticas constiturama base para a anlise do estado da arte, constituindo cada temtica um captulo desta publicao.

    Os contedos constantes do Quadro 1, encontrados nas pesquisas e identificados comoeixos temticos, fundaram a definio das 11 categorias deste estudo.

    Quadro 1 Categorias temticas e contedos respectivos

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    12 Srie Estado do Conhecimento

    Anlise por rea Temtica e Divulgao

    A ltima etapa desta pesquisa consistiu na anlise e elaborao dos captulos paradivulgao dos resultados, atravs da publicao em livro e sua disponibilizao na Internet. Umsignificativo nmero de pesquisadores da Rede Nacional de Pesquisadores da Anpae participou dadefinio do processo de anlise e das sugestes para a elaborao de textos e divulgao dosresultados da pesquisa. Em vrias reunies da equipe coordenadora, com a participao de outrospesquisadores e mediante contribuies enviadas por correspondncia postal ou eletrnica, foramanalisados os dados levantados e delineados aspectos da metodologia de trabalho, resultado, por-tanto, de esforo coletivo.

    Nessa fase, os documentos foram distribudos segundo as 11 categorias ou reastemticas que constituram o objeto de estudo do estado do conhecimento. Os autores dos captulosfizeram a anlise descritiva dos respectivos documentos e elaboraram os textos.

    A busca da unidade na diversidade norteou o trabalho de anlise das categorias. Aunidade era demandada pelo fato de se tratar deumapesquisa desenvolvida pela Anpae; a diversi-

    dade decorreu do fato decada captuloser elaborado por autores d iferentes. Portanto, cada captulodeste livro constituiu uma pesquisa com identidade, autonomia e objetivos prprios, inerentes aoestudo especfico de cada categoria. Respeitada esta especificidade, cada categoria manteve liga-o com o todo, integrada ao contexto do estudo global.

    As exigncias mnimas para a anlise descritiva dos resumos levantados, coletivamentedefinidas, no constituram uma camisa de fora, mas sugestes para garantir a unidade da pesqui-sa em seu conjunto ou a integrao de cada captulo sobre uma das categorias no todo do estudodeste estado do conhecimento.

    O resultado constante desta publicao revela, como trao comum e fundamental detodo o processo, o esforo de nortear as anlises pelo princpio metodolgico da fidelidade ao objeto,enucleando o que est nos resumos, descobrindo os eixos que neles esto presentes. O horizonteterico dos autores dos captulos foi o "filtro". Se, de um lado, no foi possvel confrontar a produo

    levantada com todo o conhecimento de ponta no tema, de outro lado procurou-se superar a meradescrio classificatria. Nesse sentido, os dados foram problematizados na construo de cada tema/categoria, possibilitando uma significativa reflexo para a rea.

    Viso Sinptica dos Resultados

    A ttulo de situar a totalidade do estudo e de expor alguns pontos relevantes de suaspartes, destaca-se, inicialmente, que foram analisados 1.170 documentos, dos quais 248 foram ex-cludos da pesquisa por impertinncia (temtica ou temporal) ou por insuficincia de dados. Osdemais, 922, foram incorporados ao estudo e distribudos em 11 categorias (cf. Tabela 1).

    Tabela 1 Nmero de pesquisas por categoria(continua)

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    13Polticas e Gesto da Educao

    (concluso)

    Quase 70% das pesquisas analisadas concentram-se em cinco categorias: a)Profissio-nais d a Educao: Formao e Prtica; b) Poltic as de Educao: Concepes e Programas; c)Ges-to da Escola; d)Esco la/Instituies Educativas e Sociedade; e e)Gesto da Universidade. Destas, huma significativa preponderncia de duas (mais de 30%): as que tratam da formao e prtica dosprofissionais de educao e as que dizem respeito s polticas de educao.

    Trs das 11 categorias analisadas receberam um volume bastante diminuto de pesqui-sas, prximo de 10% do total. Certamente este fato no ocorreu pela irrelevncia dos temas, mastalvez, sim, pela pontualidade e especificidade de suas reflexes: Financ iamento da Educao; OPblico e o Privado na Educao; e Planejamento e Avaliao Educacionais.

    Uma vez que os temas muitas vezes se entrelaam e diversos deles so analisados emvrias categorias, importante destacar que a alocao de cada um em uma dada categoria deveu-seao foco principalda anlise desenvolvida. Nesse sentido, os estudos so complementares, mesmoconfigurando-se como originais e especficos.

    O Grfico 1 possibilita a visualizao de todas as categorias e a disperso das pesqui-sas entre elas.

    Grfico 1 Nmero de pesquisas levantadas por categoria temtica

    As pesquisas analisadas so decorrentes de trs origens: dissertaes de mestrado, te-ses de doutorado e pesquisas docentes (individuais, coletivas, interinstitucionais, etc.). Destaca-se,nessa tabela, a produo de dissertaes, que atinge a marca de quase 64% do total; seguem-se, naordem, as pesquisas docentes e as teses, essas em nmero significativamente menor (Grfico 2).

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    14 Srie Estado do Conhecimento

    Grfico 2 Porcentagem das pesquisas segundo a natureza

    No que concerne produo das pesquisas no espao temporal de anlise (1991 a1997), destaca-se o ano de 1995 como o mais profcuo quantitativamente, concentrando cerca de25% das pesquisas do perodo. Nos quatro anos que antecederam 1995, a produo de pesquisasna rea manteve pequena variao; nos anos posteriores, no entanto, nota-se uma significativa que-da em 1996, com uma pequena recuperao em 1997 (Grfico 3).

    Grfico 3 Pesquisas por ano de concluso

    As pesquisas analisadas no presente estudo foram produzidas nas cinco regies geo-grficas brasileiras, tendo sido encontradas sete desenvolvidas por mais de uma regio e duas coma participao de instituies estrangeiras.

    A preponderncia daquelas oriundas da Regio Sudeste (mais de 50%) confirma a ex-pectativa, como conseqncia da concentrao dos programas de ps-graduao brasileiros nestaregio. Prximo de 40% do total de pesquisas foram produzidas nas Regies Sul e Centro-Oeste,ficando menos de 10% nas Regies Norte e Nordeste.

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    A disperso da produo de pesquisas em polticas e gesto da educao apresen-tada (Grfico 4), altamente centralizada nas Regies Sudeste, Sul e Centro-Oeste (90%), parecedemonstrar a fragilidade das polticas pblicas de educao e de cincia e tecnologia nas regieseconomicamente mais carentes.

    Grfico 4 Pesquisas por origem regional de sua produo

    Ao verificar a distribuio das pesquisas nas regies, conjugada situao apresenta-da nos anos focalizados (Tabela 2), verifica-se uma ntida tendncia de ampliao das oriundas dasRegies Centro-Oeste e Sul, com um declnio das produzidas na Regio Sudeste. Os anos de 1996e 1997 mostram o empobrecimento das pesquisas produzidas nas Regies Norte e Nordeste.

    Tabela 2 Pesquisas por ano de concluso, segundo a regio de origem

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    OS CAPTULOS DO LIVRO

    Quanto aos captulos constantes do presente livro, abrangendo as 11 categorias deanlise, destaca-se:

    No captulo "Educao-Estado-Sociedade como Pano de Fundo da Gesto do Ensino",elaborado por Brulio Tarcsio Porto de Mattos e Maria Zlia Borba Rocha, analisada a diversidadetemtica e metodolgica encontrada no mbito da categoria. Os autores verificam a insero da cate-goria no conjunto geral das pesquisas, destacando sua posio relativa e significativa (114 pesquisas),e as caractersticas gerais dessa categoria relativamente s demais. Em seguida, passam ao"mapeamento dos estudos feitos na rea temtica em questo". Apresentam os resultados encontra-dos em relao aos dois conjuntos temticos (categoriaEsco la/Instituies Educativas e Soc iedadeeas demais), considerando a regio, o tipo de trabalho, o tipo de instituio e sexo/modalidade. Ao sedebruarem na anlise da diversidade temtica interna categoria, consideram cinco variveis: o tipode investigao, a metodologia da pesquisa, o aporte terico, o locusenfocado no trabalho e assubcategorias temticas. As subcategorias indicadas pelos autores so: Movimentos Sociais, Polticas

    Pblicas, Representaes Sociais, Estruturao Escolar e Gesto do Ensino.O captulo "Direito Educao e Legislao do Ensino", elaborado por Lourdes MarcelinoMachado e Romualdo Portela de Oliveira, aborda o tema descrito em 74 pesquisas, sob duas ticas: ada educao enquanto um direito da cidadania e a da realidade da legislao do ensino encontradanas pesquisas produzidas. Sob a tica da educao como direito, a anlise recai sobre as questes daincluso e da excluso, da educao cidad e das experincias e alternativas para a transformaodesse direito em prtica. Sobre a questo da legislao educacional, os autores destacam, em suaanlise, estudos que trataram da elaborao, os que se voltam para a interpretao e os demais, queestudam os impactos da legislao na realidade educacional.

    No captulo "Polticas de Educao: Concepes e Programas", produzido por J aneteMaria Lins de Azevedo e Mrcia Angela da Silva Aguiar, so analisados 139 resumos que, arbitraria-mente, foram "agrupados em trs grandes blocos temticos". O primeiro desenvolve

    as anlises sobre concepes de polticas de educao, compreendendo 16% dos casos; nosegundo, encontram-se os que tratam do papel dos partidos polticos e de outras entidades dasociedade civil na proposio de polticas ou no acompanhamento da sua implementao, com11% dos casos; por ltimo, tem-se o bloco temtico que agrega os trabalhos voltados para aavaliao de programas e projetos, o maior dos trs, englobando 73% do total analisado.

    As autoras mostram o destaque que as pesquisas vm dando ao tema Poltic as deEducao,

    cuja explicitao advm do significativo acervo produzido nos sete anos aqui considerados. Com

    efeito, os pesquisadores deste campo tm colocado disposio da comunidade acadmicauma gama diversificada de estudos sobre os mais distintos temas e problemas, o que, de certomodo, 'cobre' questes relativas a todos os nveis de ensino, bem como a atores e entidades quepossuem uma interface direta com a poltica educacional.

    No captulo "O Pblico e o Privado na Educao", produzido por Luiz Fernandes Doura-do e Maria Sylvia Simes Bueno, ressaltado que

    o debate entre o pblico e o privado na educao brasileira no recente, e as pesquisas explicitampontos de convergncia e de divergncia entre os quais se inserem as questes destas catego-rias e seus reflexos em cada modalidade e/ou nvel educacional, destacando anlises que tratamda natureza e do carter da educao.

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    Os autores identificam, no conjunto dos 33 resumos analisados, as seguintessubcategorias: Relaes Pblico/Privado, Estudos Comparativos, Esfera Pblica, Esfera Privada eInstituies Filantrpicas/Confessionais. Destacam que

    a reflexo sobre o enfoque temtico dos trabalhos, no intuito de delinear o perfil de cadasubcategoria, foi conduzida pela seleo dos descritores evidenciados nos textos dos resumos eno nos trabalhos neles sintetizados.

    Apontam tambm para a presena da categoria nas demais pesquisas, assinalando que

    sua presena ressaltada por uma srie de indicadores, que classificamos como especficos outangenciais, os quais denotam sua transversalidade e a existncia de grande similaridade, naabordagem terica e tratamento analtico, com os estudos arrolados na categoria especfica.

    Nas consideraes finais, destacam as novas facetas da relao pblico e privado, "oque coloca (...) novos marcos e desdobramentos efetivos na esteira fronteiria entre o pblico e o

    privado".O captulo "Pesquisas no Pas sobre o Financiamento da Educao: Onde Estamos?",

    elaborado por J acques Velloso, apresentaum cenrio dos estudos sobre financiamento, destacandoque a consolidao das pesquisas sobre o tema, na literatura internacional, remonta s dcadas de60 e 70. Aborda a diversificao dos modelos de anlise do financiamento da educao nos anosrecentes, em especial do financiamento escolar; as temticas que vm predominando na dcada de90 eqidade,custos da educao, bo lsas de estudo e emprstimos a estudantes; e os estudos quetratam de avaliao e financiamento. Destaca ainda uma outra abordagem dos estudos de financia-mento que coloca o Estado no centro das anlises e tem "como ponto de partida a responsabilidadedeste para com o financiamento do ensino pblico". Quanto situao das pesquisas no Pasnessecenrio, o autor analisa o conjunto dos 25 resumos de pesquisas registrados, procurando indicar "ostipos de recortes que dominam os objetos de estudo, depois os grandes temas transversais que os

    marcam e, finalmente, os principais tpicos tratados".O captulo "Municipalizao e Gesto Municipal da Educao", elaborado por Cleiton

    de Oliveira e Lcia Helena G. Teixeira, inicia com uma reviso bibliogrfica sobre o tema, enfatizandoa descentralizao como matriz. Os 60 trabalhos desta categoria foram divididos em duassubcategorias: Municipalizao do Ensino e Gesto do Ensino Municipal. Na primeira, foram detec-tadas como principais temticas a democratizao, o binmio centralizao x descentralizao e adimenso administrativa. Na segunda, foram identificados como temas principais a dimenso admi-nistrativa, a dimenso poltica e pedaggica, a qualidade de ensino, mudana e democratizao.Enfatizam os autores que os estudos esto progressivamente tomando como tema a anlise deexperincias na gesto municipal da educao.

    No captulo "Planejamento e Avaliao Educacionais", produzido por Bernardo Kipnis eRoberto Algarte, partindo de "duas referncias conceituais relacionadas concepo dos termos

    planejamento e avaliao", os autores estabelecem "os descritores de categorizao" que "esto re-presentados por vocbulos ou expresses-chave que exprimem a natureza temtica da pesquisa eque proporcionaram, de forma objetiva, a sua categorizao". Destacam a relevncia terico-prticada categoria e apontam trs princpios fundamentais ao planejamento e avaliao: dialogicidade,partic ipao, diretividade. Na seo "Anlise dos resultados na categoria" apresentam "alguns co-mentrios e grficos sobre o perfil dos trabalhos identificados nesta categoria, em dois nveis. Primei-ramente, uma descrio da incidncia porcentual nas escalas das variveis com as quais foi possveltrabalhar". Em seguida, propem "alguns cruzamentos, de forma a possibilitar uma compreensomais desagregada dos dados e a identificao de diferenas porventura existentes". O perfil vai ser"descrito atravs das variveisano , reg io, unid ade da Federao, institu io, subcategoriae tipo depesquisa". Nas consideraes finais, os autores buscam interpretar as "tendncias da produo empesquisa" identificada a partir dos 40 documentos analisados.

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    No captulo "A Questo da Formao dos Educadores no Brasil: Integrando EstudosRealizados na Busca de Novas Solues", elaborado por Marta Luz Sisson de Castro e Naura SyriaCarapeto Ferreira, so considerados 143 resumos que constituram o universo da pesquisa. Estesresumos apresentam-se agrupados em "seis subcategorias que se construram na/da convergnciadas temticas abordadas na produo cientfica relativa categoria" mencionada, a saber: Forma-o; Prtica; Luta sindical e Profissionalizao; Formao do Especialista (supervisor, orientador);Avaliao; e Outros. Na temtica Formao, as produes organizam-se em trs aspectos: forma-o do professor, formao do educador e formao poltica. As autoras analisam os resumos vincu-lados a cada um desses aspectos e, na anlise dos dados, assinalam os possveis ganhos e aslacunas detectadas. Por fim, indicam as tendncias e perspectivas da temtica em questo.

    No captulo "Gesto de Sistemas Educacionais: a Produo de Pesquisas no Brasil", ela-borado por Regina Vinhaes Gracindo e Vani Moreira Kenski, so analisadas 62 pesquisas. O textoapresenta, num primeiro momento, a descrio dos tipos de pesquisa, ano de concluso, instituiesde origem, regies das instituies, gnero de seus autores e amplitude dos grupos, esferas do poder,instncias administrativas e, finalmente, nveis de ensino. Numa segunda parte, analisa a relao do

    tipo de pesquisa com os anos em que foram concludas, compara esses dados e as instituies emque as pesquisas foram realizadas e identifica o tipo de investigao e a metodologia que forjaram aspesquisas em questo. Ao final do texto, so apresentadas reflexes sobre os seis eixos temticosidentificados nos documentos: produo de pesquisas; organizao e o funcionamento dos sistemaseducacionais; questes sobre a relao escola/trabalho/modernizao na gesto dos sistemas educa-cionais; articulao entre as instncias do poder pblico; gesto de polticas pblicas especiais; e ademocratizao da gesto de sistemas educacionais. Alm da supremacia quantitativa desse ltimoeixo de anlise, destaca-se a significativa nfase dada aos estudos sobre descentralizao, autonomiae municipalizao na gesto desses sistemas.

    No captulo "Gesto da Universidade: Caminhos e Possibilidades na Produo de Pesqui-sas", desenvolvido por Afrnio Mendes Catani e Maria Estela Dal Pai Franco, os autores apresentam"um quadro panormico da temtica Gesto da Universidade, em produes de pesquisa no interregno

    1991-1997, analisando condies, inseres e convergncias temticas, tendo presente a distribuiotemporal e a natureza do estudo". No estudo, so analisados 98 documentos nos quais so trabalha-das as subtemticas de Avaliao e Qualidade, Universidade e Pesquisa, Poltica de Educao Superi-or, Universidade e Sociedade, Histria da Universidade, Perfil do Profissional e Autonomia e Deciso.

    O captulo "Gesto da Escola" foi desenvolvido por Antonio Elizio Pazeto e Lauro CarlosWittmann. Em seu estudo dos 134 documentos, identificaram como temas convergentes da pesquisanesta rea temtica as subcategorias: Democratizao da Gesto e Autonomia, Organizao do Tra-balho Escolar, Funo e Papel do Gestor e Gesto Pedaggica. Salientam o crescente reconhecimentoda centralidade da escola e, nesta, da aprendizagem , apresentam um quadro geral dos resultadosdas pesquisas e detalham informaes sobre cada um dos quatro temas convergentes identificadosna anlise.

    Com a divulgao deste trabalho de pesquisa, a Anpae tem como objetivo contribuirpara o avano da pesquisa na rea e, principalmente, subsidiar a melhoria da prtica e formao dosgestores da educao em todos os nveis e modalidades e, tambm, a definio de polticas. Aperspectiva da emancipao humana, de sua autonomizao, da construo sempre mais consis-tente e significativa da educao pblica, democrtica, universal, gratuita e de qualidade para osbrasileiros funda a atuao terico-prtica da Anpae.

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    INTRODUO

    O presente artigo tem por objetivo analisar a diversidade temtica e metodolgicaencontrada no mbito da categoriaEscola/Instituies Educativas e Soc iedade. Mais especifica-mente, pretendem os autores no apenas observar o peso quantitativo dos temas e abordagenstpicas no conjunto dessa categoria, mas tambm sugerir algumas possibilidades interpretativascom respeito ao assunto.

    Por certo, Max Weber tem razo ao afirmar que o objeto existe a partir do olhar dosujeito. Contudo, por demais evidente o predomnio de determinados temas e problemas de inves-tigao em determinadas pocas. Ademais, no que se refere a hegemonias temticas no contextodas cincias humanas, quase sempre muito difcil discernir o valor intrnseco dessa produo, se

    moda passageira ou linha de pesquisa promissora. Talvez Imre Lakatos tenha oferecido o melhoresquema de avaliao da produo cientfica at o presente momento. Tal esquema no ope talen-to individual lgica coletiva, mas pretende apreender a solidez de certos "programas de pesquisa"orientados por forte liderana intelectual (Lakatos, 1979). Naturalmente, em funo do escopo estritodo material emprico coletado na presente pesquisa, no estamos em condies de aferir aqui aqualidade dos estudos focalizados. Para isso, seria necessrio dispor de informaes sobre autorese estudos cannicos (referncias onomsticas em peridicos reconhecidos, etc.). Limitar-nos-emos,ento, a apresentar aquilo que nos parece ser o quadro panormico dos subtemas que compem acategoria em foco no perodo entre 1991 e 1997.

    Em primeiro lugar, importa ainda considerar a insero dessa categoria no conjunto

    da produo. Conforme observado na Introduo deste livro, a categoria Escola/ Institu iesEducativas e Sociedaderepresenta 12,3% do total de pesquisas realizadas no perodo (ou seja,114 de 922 estudos). Isto pode parecer pouco, mas deve-se tomar em conta que a sistemticade amostragem adotada pela pesquisa, por acurada que tenha sido, pode estar subestimando ocontingente de pesquisas educacionais feitas dentro de departamentos de Cincias Sociaisstrictosensu. Se assim for, revela-se expressivo o fato de essa categoria ocupar a quarta posio nombito de investigaes primordialmente voltadas para o campo poltico e administrativo daeducao. O Grfico 1 informa sobre a evoluo dessa participao relativa ao longo do perodoconsiderado.

    * Professores da Faculdade de Educao da Universidade de Braslia (UnB).

    Educao-Estado-Sociedade comopano de fundo da gesto do ensino

    Brulio Tarcsio Porto de Mattos

    Maria Zlia Borba Rocha*

    Captulo 1

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    Grfico 1 Participao relativa das categorias por ano de realizao das pesquisas

    Observa-se que a categoria objeto de estudo (representada pela linha preta) manteveuma posio relativa na faixa entre 8% e 15% no perodo; ascendeu primeira posio no intervalo1993-1995; tem variado diretamente com a categoriaMunic ipalizao e Gesto Munic ipal da Educaoe inversamente com as categoriasPoltic as de Educao: Concepes e Prog ramaseProfissionais deEducao: Formao e Prtica. Ainda que a magnitude desses movimentos de ascenso e descensorelativos seja pequena, caberia investigar melhor, em pesquisas subseqentes, o seu significado. Emtermos absolutos, vimos, na Introduo deste trabalho, que 1995 foi o ano mais produtivo e 1996, omenos. Seguramente, esse fenmeno est associado s vicissitudes do sistema de financiamento.No est claro, contudo, se essas mesmas vicissitudes, por ao refletida ou no, esto atingindo,seletivamente, o campo de investigaes como um todo. Em todo o caso, importa-nos aqui ressaltar ofato de a categoriaEsco la/Instituies Educativas e Soc iedadeter respondido por um nmero significa-tivo de pesquisas no perodo considerado.

    No seria exagero dizer que a educao constitui uma temtica fundante da Sociologiamoderna. H muito, os cientistas sociais tm assimilado educao socializao, enquadrado fun-cionalmente essa instituio na estrutura social e investigado seus vnculos com outras grandesinstituies sociais (famlia, empresas, governo, mdia, igrejas). Nesse sentido, compreende-se queas Cincias Sociais constituam termo de referncia para a pesquisa educacional (diga-se, uma fontede amparo, mas tambm de presso).

    O contexto brasileiro, no entanto, apresenta duas peculiaridades relevantes a esse res-peito, e importante aqui ao menos mencion-las sucintamente. A primeira delas diz respeito aoexcepcional peso do Estado, tanto no funcionamento efetivo do sistema nacional de educao quan-to na intelligentziaencarregada de pensar essa realidade. Ainda que seja cabvel discutir (terica epoliticamente) o grau de estatizao direta dos sistemas de educao no Pas, difcil no reconhecer

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    o fato de que a atuao dos governos nacional e subnacionais nessa seara tem sido expressiva, nomnimo do ponto de vista regulatrio. De outra parte, sabemos que o Estado tem sido tambm umaidia-fora poderosa na formao da Sociologia brasileira, mais aberta s influncias francesa e alemdo que s inglesa ou norte-americana. A confluncia dessas duas tendncias ajuda a entender por quea relaoeducao-Estado-soc iedadetornou-se uma espcie de pano de fundo inevitvel da pesquisaeducacional em geral e sobre polticas e gesto da educao em particular.

    A segunda peculiaridade diz respeito ao relativo distanciamento tradicionalmente es-

    tabelecido entre educadores e cientistas sociais no Brasil. Nesse particular, a indagao mais

    incisiva que deve ser feita se a institucionalizao da ps-graduao ocorrida no Pas nas lti-mas dcadas tem revertido o referido distanciamento. Em outras palavras, precisamos saber se a

    formao ps-graduada, carro-chefe tambm da pesquisa, tem promovido simultaneamente o

    treinamento cientfico apropriado dos pedagogos e ampliado o interesse dos cientistas sociaispelo campo educacional.1

    Feitas essas consideraes, passemos ento ao mapeamento dos estudos feitos narea temtica em questo.

    RESULTADOS

    Socilogos, pedagogos, antroplogos, cientistas polticos e estudiosos do servio so-cial debruaram-se sobre os aspectos sociais envolvidos na formulao de polticas e na gestoeducacionais. Antes de tomar em considerao a diversidade interna das 114 pesquisas em ques-to, importa ainda observar algumas caractersticas gerais dessa categoria relativamente s demais.Os Grficos 2 a 5 representam as diferenas entre esses dois conjuntos temticos, por regio doPas, tipo de trabalho, tipo de instituio e sexo dos pesquisadores. Embora as diferenas observa-das sejam pequenas, so estatisticamente significativas (exceo feita ao sexo).

    Grfico 2 Distribuio porcentual das pesquisas por regio

    1 Acerca do engajamento poltico da pesquisa educacional, confira-se Brunner (1994). Com respeito ao distanciamento entre pedagogos ecientistas sociais no Brasil, confira-se Gomes (1979).

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    O Grfico 2 permite observar que, embora a Regio Sudeste represente, em termosabsolutos, a maior contribuio para os dois conjuntos (52% para a categoria Escola/ Institu iesEducativas e Sociedadee 59% para o conjunto das demais categorias), em termos relativos, o Nor-deste contribuiu proporcionalmente mais para o desenvolvimento de pesquisas nessa temtica (25%

    das pesquisas nessa rea foram feitas no Nordeste, ao passo que a regio contribuiu apenas com9% da produo de pesquisas referentes s demais categorias). Uma possvel explicao para essaascendncia da Regio Nordeste nessa rea temtica, comparativamente s Regies Sul, Centro-Oeste e Norte, pode estar no grande nmero de universidades federais existentes nessa regio (su-perado apenas pela Regio Sudeste).

    O Grfico 3 mostra uma predominncia absoluta de dissertaes de mestrado nos doisgrupamentos temticos. Contudo, a tambm se verifica uma maior participao relativa desse tipode trabalho no universo da categoriaEsco la/Instituies Educativas e Socied adecomparativamentecom o peso da mesma no conjunto das demais categorias (84% contra 61%).

    Grfico 3 Distribuio porcentual das pesquisas segundo a modalidade

    De outra parte, a pesquisa docente sobressai no conjunto das demais categorias com-parativamente categoria Escola/Instituies Educativas e Sociedade (27% contra 8%), e as tesesde doutoramento constituem 8% das pesquisas realizadas nessa categoria, pouco se sobressaindono universo dos trabalhos levantados.

    Considerando-se o tipo de instituio avalizadora das pesquisas, observa-se no Grfico 4que as universidades federais ocupam grande destaque na produo como um todo, quer nessa cate-goria, quer nos demais segmentos temticos. Em termos comparativos, contudo, a contribuio dessetipo de instituio na produo de cada segmento revela-se proporcionalmente maior na rea temticaem tela do que nas demais. Mais precisamente, as universidades federais contriburam com 68% daspesquisas feitas nessa categoria e com 54% nas demais reas.

    Este grfico possibilita que se faa ainda um outro recorte analtico, atentando para acontraposio entre o setor pblico (universidades federais e estaduais) e o setor privado (univer-sidades confessionais e outros tipos de instituio). Nesse caso, observa-se que o setor pblicocontribuiu proporcionalmente mais para as pesquisas feitas na categoria temtica Escola/Institui-es Educativas e Soc iedadedo que o setor privado, mais voltado para outras temticas. O setorpblico respondeu por 85% das pesquisas feitas nessa rea e por 73% das pesquisas em outrasreas, ao passo que o setor privado respondeu por 26% das pesquisas em outras reas e apenas16% na categoriaEsco la/Instituies Educativas e Soc iedade.

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    Grfico 4 Distribuio porcentual das pesquisas por tipo de instituio

    Por fim, considerando-se as diferenas entre os dois universos temticos em funoda varivel combinada sexo do pesquisador/modalidade da pesquisa, o Grfico 5 mostra queinexistem diferenas marcantes a esse respeito. Em termos absolutos, nos dois grupamentos, apesquisa em equipe ainda rara, e o sexo feminino, predominante. Estatisticamente, deve-se

    desconsiderar a pequena ascendncia do sexo feminino sobre a categoria Escola/Ins tituiesEducativas e Sociedade.

    Grfico 5 Distribuio porcentual das pesquisas segundo o sexo dos pesquisadores

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    Passemos agora diversidade temtica interna categoria Escola/InstituiesEducativas e Sociedade. Sob esse aspecto, h que se considerar cinco variveis interessantes: otipo de investigao, a metodologia da pesquisa, o aporte terico, o locusenfocado no trabalho eas subcategorias temticas.

    Em relao ao tipo de investigao, verifica-se pelo Grfico 6 que 73% dos estudosnessa rea temtica se constituem de pesquisas empricas, 15% so de carter histrico e apenas12% enquadram-se como trabalhos tericos. Esse predomnio de trabalhos empricos pode ser to-mado como uma caracterstica positiva, pois possibilita um mapeamento cada vez mais minucioso ecompleto das relaes educao-Estado-sociedade.

    Grfico 6 Categoria Escola/Instituies Educativas e Sociedade por tipo de investigao

    O Grfico 7 complementa o anterior e mostra que a impreciso metodolgica atinge32% dos trabalhos analisados. De outro lado, dado que as matrizes disciplinares na rea de huma-nidades se caracterizam por conbio de paradigmas e no por excluso mtua dos mesmos, adiversidade metodolgica dos estudos registrada nessa categoria temtica parece ser positiva.2

    Constata-se, assim, que 23% deles foram de estudo de caso, 21% consistiram em anlise docu-mental, 8% se constituram de pesquisa participante, 5% foram realizados a partir de pesquisaquantitativa por amostra estatstica, 4% foram baseados em histria oral dos atores envolvidos, 3%trataram de anlise do discurso, 3%, tambm, foi a incidncia de trabalhos etnogrficos, ficando apesquisa qualitativa com um ndice de apenas 1%.

    Grfico 7 Categoria Escola/Instituies Educativas e Sociedadepor metodologia da investigao

    2Acerca do conceito de matrizes disciplinares e diversidade paradigmtica nas cincias humanas, confira-se Oliveira (1988).

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    Por certo, no podemos nos deter aqui nas demarcaes epistemolgicas,metodolgicas e tcnicas presentes na pesquisa social brasileira como um todo ou na pesquisaeducacional em particular. Entretanto, vale observar que a contraposio entre teoria e empiria cons-titui uma nota recorrente e bastante imprecisa em nosso meio. No so poucos os pesquisadoresque trabalham com uma noo etrea da teoria e com um arsenal emprico desprovido de valorautocorretivo. E o mais curioso que essa deficincia pode ser explicada no apenas pela falta deorientao terica explcita, mas pela natureza da orientao terica assumida pelo pesquisador.3

    Os Grficos 8 e 9 tratam das correntes tericas que embasam as pesquisas na rea.O exame do Grfico 8 revela duas caractersticas dos trabalhos: a falta de delimitao

    terica (58%) e o predomnio do marxismo no contexto das orientaes tericas explicitadas (26%).Como no foram geradas tabulaes cruzadas entre tipos de investigao e modelos de orientaoterica, no sabemos qual o grau ou a natureza de empiria envolvidos nesse marxismo hegemnico.Em todo o caso, os dados so insuficientes para se falar em demonstraes empricas oportunistas(ilustrativas de teses preconcebidas).

    Alm disso, trata-se de um marxismo muito nuanado: reprodutivista (3%), marxismo

    cristo de Paulo Freire (7%), historicismo dialtico de Antnio Gramsci (50%) e, mesmo, a teoriacrtica da Escola de Frankfurt (2%).4

    H que se ressaltar tambm a inexistncia do pensamento weberiano como escopo deanlise, muito embora a temtica da burocracia tenha sido tratada por algumas pesquisas. Mesmosem dispor de uma hiptese explicativa para isso, acreditamos que a resposta deve ser buscada nascaractersticas do prprio marxismo que acabou predominando em nosso meio intelectual (no caso daeducao, predomnio afirmado contra uma matriz funcionalista que mal havia rendido seus primeirosfrutos, a exemplo dos estudos de Fernando de Azevedo).

    Por fim, deve-se considerar tambm que novas orientaes tericas podem estar sendogestadas no presente momento e acabaram escapando ao levantamento coberto pela presentepesquisa.5

    Grfico 8 Categoria Escola/Instituies Educativas e Sociedade por correntes tericas

    3Acerca da teoria cientfica moderna como generalizao de dados empricos regulada por heurstica conceitual e lgica, confira-se Merton(1970). Especialmente importante a reflexo desse autor sobre o nvel de alcance da teorizao. Acerca do papel autocorretivo da empiria nacincia moderna, confira-se Lakatos. Segundo ele, "a honestidade intelectual consiste em especificar precisamente as condies em que umapessoa est disposta a renunciar sua posio. Marxistas e freudianos comprometidos recusam-se a especificar tais condies" (Lakatos,1979, p. 111).

    4Em texto bastante informativo, Merquior (1987) engloba sob a denominao "marxismo ocidental" todo um espectro de estudiosos europeusinspirados em Marx, mas fortemente interessados na cultura e na subjetividade (diferentemente do marxismo sovitico, do chins e, mesmo,do latino-americano, por exemplo, mais voltados para as dimenses econmica e poltica dos fenmenos sociais). Especialmente marcante,nesse particular, foi o freudo-marxismo, desenvolvido pela chamada Escola de Frankfurt. Tendo em vista o carter menos doutrinrio dessemarxismo "psicoculturalista", a reflexo de Merquior convida-nos a indagar se essa virtude decorre da qualidade intrnseca desses intelectuaisou do ambiente acadmico que lhes circundara.

    5Seria interessante estudar, por exemplo, o potencial de crescimento das "vises de mundo alternativas" no campo da pesquisa educacional.Sobre a surpreendente confluncia entre marxismo e pensamento alternativo, confira-se Carvalho (1994).

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    Grfico 9 Categoria Escola/Instituies Educativas e Sociedade por corrente marxista

    O Grfico 10 representa as subcategorias temticas que apresentaram maior incidn-cia nos estudos analisados: Movimentos Sociais (52%), Polticas Pblicas (20%), RepresentaesSociais (13%), Estruturao Escolar (12%) e Gesto do Ensino (3%).

    Grfico 10 Categoria Escola/Instituies Educativas e Sociedadepor subcategoria temtica

    A subcategoria Movimentos Sociais abarca um amplo leque institucional e comporta muitaspossibilidades analticas. Nos anos 80, a literatura sociolgica promoveu um enquadramento tericodos movimentos sociais em contraposio ao sindicalismo e aos partidos polticos. A idia bsica eraa de que esses novos movimentos (associaes de bairro, movimento dos sem-terra, etc.) constituamcanais de democratizao do Estado brasileiro, desprovidos que eram de vcios tradicionais(corporativismo sindical, fisiologismo partidrio, etc.). Essa abordagem refluiu bastante na dcada de90, mas deixou como contribuio a conscincia de que omodus operandida democracia brasileiratranscende em muito o sistema clssico de representao poltica. Por certo, a construo da demo-cracia provoca efeitos na (e sofre efeitos da) educao. Nesse sentido, o conjunto de estudos dessasubcategoria focaliza no apenas o ensino formal, mas tambm uma enorme gama de processoseducativos no-formais.

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    27Polticas e Gesto da Educao

    Para fins da presente anlise, tomamos os movimentos sociais em sentido amplo. Nessaacepo, a poltica e a gesto educacionais foram referidas aos diversos tipos de movimentos sociaisna seguinte proporo: sindicalismo (28%), associaes de bairros (25%), movimentos de pais comoluta organizada pela escolarizao (9%), movimentos de mulheres (9%) e uma gama variada de outros

    movimentos (cooperativismo, movimento estudantil, formao de lideranas, modelos comunitriosalternativos de escola, organizao popular em torno do oramento pblico, etc.).

    Ainda com referncia aos movimentos sociais, interessante observar que estudosvoltados para o meio rural foram relativamente escassos nessa subcategoria (3% apenas), especial-mente se considerarmos que, no conjunto da categoria Esco la/Instituies Educativas e Sociedadetais estudos atingiram a casa de 11% do total. A explicao para essa preferncia pode estar associ-ada no apenas maior facilidade de acesso coleta de dados, mas, tambm, a um vis urbanodos prprios pesquisadores.

    Com respeito ao tema dasPoltic as Pblic as, cuja incidncia no universo investigado foide 20%, observamos que a educao profissional mereceu maior destaque (54% de incidncia noconjunto das polticas). Certamente tal nfase est associada ao multifacetado fenmeno da globalizao,s modificaes em curso na estrutura dos mercados e seus reflexos sobre as relaes laborais

    (informalidade, empregabilidade, desemprego, formas de gesto, entre outras), assim como s polti-cas de educao profissional adotadas atualmente pelo governo federal. Verificamos, portanto, que aspolticas voltadas para o ensino fundamental foram objeto de estudo em apenas 18% dos trabalhos algo paradoxal , no entanto, as polticas de cincia e tecnologia no emergiram no perodo comotema de grande interesse (27% de incidncia no conjunto das polticas). Isso surpreendente, pois asupremacia da cincia e da tecnologia constitui uma caracterstica fundamental do processo deglobalizao e fonte de muitas incertezas no que tange ao processo de democratizao (cf. Goergen,1998; Dowbor, 1997; Gorender, 1997; Singer, 1997).

    Estudos sobre Representaes Sociais aparecem como o terceiro tema (13%) nasinfinitas nuanas das relaes educao-Estado-sociedade. Observa-se que este tema emergiu apartir de 1994. A preocupao das pesquisas centra-se em descobrir quais representaes sociaisos vrios atores apresentam do processo educacional, da poltica, de seu prprio movimento, das

    polticas pblicas engendradas pelo Estado para o setor educacional. A emergncia deste temapermite a apreenso dos significados simblicos que os sujeitos tm da realidade, consistindo emuma temtica fundamental para a compreenso da realidade educacional que nos cerca, seja naesfera formal ou nos processos no-formais.

    A quarta subcategoria entre as que apresentaram maior porcentual foi EstruturaoEscolar, com 12% de incidncia. Nesses trabalhos, observamos que as investigaes em espaosescolares compreenderam 44% do universo enfocado. Destes, 25% tratavam do ensino pblico,9%, do ensino privado e 10%, das modalidades de ensino comunitrio. Considerando-se as moda-lidades de ensino, verificamos que quase todas foram contempladas: ensino fundamental e oensino mdio comparecem com 8%. A educao profissional merece destaque, com a incidnciade 10% dos estudos. O ensino superior consistiu foco de anlise em 9% dos trabalhos investiga-dos. A educao de adultos compreendeu 5% das pesquisas e a educao infantil foi foco de

    estudo em 3% delas, enquanto os processos de alfabetizao apresentam o ndice de 1%, o mes-mo do ensino a distncia. A especificidade de educao indgena foi enfocada em apenas umtrabalho, assim como apenas um trabalho investigou especificamente a questo da educaoartstica. Os temas da organizao escolar que foram contemplados compreenderam desde aorganizao curricular ao livro didtico, passando pelas metodologias de ensino e pela evasoescolar. As relaes escola-comunidade, escola-Estado, escola-mundo do trabalho, escola-ideo-logia, escola-mdia permearam os estudos. A ausncia que se destaca so as investigaes emtorno do ensino especial e do contedo das vrias disciplinas especficas que compem o univer-so escolar, como importante elemento que confere instrumental compreenso da realidade. Ou-tra lacuna consiste nas relaes assistemticas que permeiam o mundo da escola, posto que asrelaes intersubjetivas informais so conformadoras do funcionamento do sistema de ensino emum sentido muito mais profundo do que parece primeira vista (cf. Freitag, 1993; Giroux, 1986,1997).

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    CONCLUSO

    No restam dvidas de que o conjunto da produo cientfica na categoriaEscola/Institui-

    es Educativas e Soc iedadefoi amplo e variado no perodo considerado (1991-1997). De outra parte,

    a baixa incidncia na subcategoria temtica Gesto do Ensino (3% do conjunto das pesquisas nacategoria) um dado surpreendente, cabendo aqui chamar a ateno para ele na concluso desteartigo. O fato surpreendente, quer por estarmos diante de pesquisadores especialistas nessa rea,quer pela circunstncia de a realidade mesma estar desafiando a nossa capacidade de compreensosobre o tema. O capitalismo contemporneo vive uma profunda reestruturao de seus paradigmasadministrativos, movimento esse que se iniciou na esfera produtiva privada e que atingiu o aparelhoestatal na segunda metade da dcada de 90 (Reforma do Estado). As escolas e o sistema de ensinono ficam de fora dessa movimentao terica, metodolgica e poltico-ideolgica que pressiona porracionalizao gerencial no contexto das organizaes como um todo. Como explicar ento que oassunto esteja sendo to pouco trabalhado pelo conjunto de pesquisas que se propem investigar apoltica e a administrao do ensino a partir da relao educao-Estado-sociedade?

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    Direito educao elegislao do ensino

    Lourdes Marcelino Machado*

    Romualdo Portela de Oliveira**

    Captulo 2

    * Doutora em Educao, professora do Departamento de Administrao e Superviso Escolar da Faculdade de Filosofia e Cincias da UniversidadeEstadual de So Paulo (Unesp/Marlia), diretora estadual da Anpae, Seo So Paulo.

    ** Doutor em Educao, professor do Departamento de Administrao Escolar e Economia da Educao da Faculdade de Educao daUniversidade de So Paulo (USP), onde atualmente coordenador do Curso de Pedagogia.

    1 Apenas para citar alguns trabalhos, vale lembrar os que compilam e analisam as decises da Suprema Corte a respeito do Direito Educao(Fellman, 1961; Wilkinson, 1979; Morris, 1999, entre outros), bem como revistas acadmicas especialmente dedicadas ao tema.

    2 O art. 90 da LDB prev que "As questes suscitadas na transio entre o regime anterior e o que se institui nesta Lei sero resolvidas peloConselho Nacional de Educao ou, mediante delegao deste, pelos rgos normativos dos sistemas de ensino, preservada a autonomiauniversitria".

    INTRODUO

    Duas razes justificam a presena do tema Direito Educacional num estado do conhe-cimento sobre Polticas e Gesto da Educao no Brasil: uma diz respeito efetivao de direitos e normatizao dos sistemas de ensino; a outra prende-se sua relativamente pequena abordagemna literatura brasileira recente.

    O ttulo deste captulo poderia ser reduzido ao seu segundo termo. De fato, o Direito Educao no deixa de ser, na verdade, uma parte da Legislao do Ensino e, em seu sentido maisamplo, do Direito Educacional. Cabe distingui-los, para fins de classificao, pela especificidadeconceitual decorrente da polissemia do termo "direito educao" e pela pequena produo acercade ambos na literatura brasileira hodierna.

    Entretanto, preciso reconhecer que o estudo desta temtica no faz parte da tradioda pesquisa em educao no Brasil. Afora produes isoladas, como a Enc ic lopdia de legislao

    do ensino, de Vandick Londres da Nbrega (1952), poucos so os trabalhos na rea eventualmenteinfluenciados por algum processo marcante de elaborao legal. Neste caso, cabe destacar aqueleselaborados a partir do incio dos anos 30, motivados pela elaborao da Constituio de 1934 e,posteriormente, da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB), Lei n 4.024/61,momentos em que avulta o nmero de publicaes que procuram analisar e influir nos rumos dodebate (cf. Villalobos, 1969; Buffa, 1979; Cury, 1978).

    Diferentemente, em outros pases, como os Estados Unidos, significativa a bibliogra-fia sobre legislao educacional, particularmente no seu aspecto jurisprudencial, caracterstica tpicado seu sistema jurdico.1Da mesma forma, os trabalhos de Hctor Felix Bravo (1986 e 1988), naArgentina, marcam uma importante contribuio para os estudos nesta rea na Repblica Platina.

    No Brasil, durante o perodo analisado neste texto, o interesse pela temtica foiincrementado pelo debate pr e ps-Constituinte de 1987-1988 e seus desdobramentos, tanto no

    que diz respeito aos processos de elaborao das Constituies Estaduais (CEs), das Leis Orgni-cas Municipais (LOMs), da LDB (Lei n 9.394/96), do Plano Nacional de Educao (PNE), como regulamentao de aspectos da legislao facultados ao Conselho Nacional de Educao, nos ter-mos do art. 90 da LDB.2Apesar desse incremento, a produo ainda pouco significativa em termosquantitativos.

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    Edivaldo Boaventura aponta como contribuio para a sistematizao dos estudos narea o I e II Seminrios de Direito Educacional, realizados na Universidade Estadual de Campinas(Unicamp) nos anos de 1977 e 1978. O III Seminrio, segundo o autor, realizou-se "em Salvador-BA,em 1982, em comemorao ao centenrio dos pareceres de Rui Barbosa sobre a reforma do ensino"(Boaventura, 1985, p. 109).

    No presente levantamento, pode-se constatar que permanecem srias lacunas nessarea de conhecimento, o que indica a necessidade de maior estmulo e apoio a pesquisas quetenham por foco a Legislao do Ensino e, em seu sentido mais abrangente, o Direito Educacional.

    O reflexo dessa situao manifestou-se nas dificuldades percebidas durante a organi-zao deste captulo. A primeira foi decidir o que faria parte dele e o que seria trabalhado em outros enfim, o tradicional problema do que incluir ou excluir e de como classificar, que se expressou j nolevantamento das pesquisas. Uma vez que cada ttulo includo no Banco de Dados s recebeu umaclassificao, a amostra ficou sensivelmente reduzida. Se fosse tomado como critrio incluir aqui ostrabalhos que se reportam ao Direito Educacional e Legislao do Ensino em seu sentido amplo,aqueles que tomam a legislao como "pano de fundo" para estudos especficos, provavelmente

    teramos de arrolar vrios que esto "classificados" em outras partes deste Estado do Conhecimento.Foi, portanto, necessrio realizar "escolhas". Muitas podem ser consideradas arbitrri-as, mas sem elas este trabalho teria sido invivel. Optou-se por organizar o captulo a partir de seuselementos constitutivos, o Direito Educao e a Legislao do Ensino. Apesar de haver uma certainterpenetrao entre eles, possvel distingui-los.

    A comparao do nmero de trabalhos includos em cada uma das duas subcategoriascorrobora o que foi dito anteriormente. O Grfico 1 mostra a distribuio dos trabalhos entre as duaspartes deste captulo e sua presena no total coletado.

    Foram includos na categoria 74 trabalhos, o que corresponde a 8% das pesquisaslevantadas. O Grfico 2 mostra sua participao relativa no total.

    Grfico 1 Distribuio dos trabalhos da categoria temtica Direito Educaoe Legislao do Ensino por subcategoria

    Grfico 2 Posio da categoria Direito Educao e Legislao do Ensino em relao aouniverso da pesquisa

    A seguir, uma anlise mais detalhada de cada uma dessas subcategorias e os descritoreslevantados em funo do material coletado

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    A SUBCATEGORIA TEMTICA DIREITO EDUCAO

    Uma das conquistas do sculo 20 a ampliao da noo de direitos do homem queherdamos do Iluminismo. Se compararmos os dois documentos paradigmticos a respeito, aDeclara-o dos direitos do homem e do c idado, da Revoluo Francesa de 1789, e aDeclarao universal dosdireitos humanos, da Organizao das Naes Unidas (ONU) de 1948, possvel perceber a amplia-o do reconhecimento dos direitos que devem ser garantidos a cada ser humano (cf. ONU, 1948;Faur, 1996). No documento de 1948, o direito educao incorporado nos seguintes termos:

    I. Todo ser humano tem direito educao. A educao deve ser gratuita, ao menos nos estgioselementar e fundamental. A educao elementar deve ser compulsria. (ONU, 1948, art. 26)

    Este direito reconhecido em praticamente todas as Constituies deste sculo. A Cons-tituio alem de Weimar,3 de 1918, foi a primeira a incluir em seu texto um captulo especfico paraa educao.

    Esta incorporao do direito educao pode, grosso modo, ser historicizada nos ter-

    mos realizados por Thomas Humphrey Marshall (1967), em seu estudo clssico Cidadania, classesoc ial e status. Apesar da evidente impregnao, em seu trabalho, da especificidade britnica, esta certamente uma referncia para os estudos a respeito nas sociedades contemporneas.

    Marshall (1967, p. 66) recupera o desenvolvimento do conceito de cidadania dividindo-o em trs elementos civil, poltico e social , cada um deles tendo sua expanso-consolidao,grosso modo, associada a um sculo diferente: respectivamente, o sculo 18 para os direitos civis, osculo 19 para os direitos polticos e o sculo 20 para os direitos sociais. Ao explicit-los, trata inicial-mente dos elementos da cidadania civil e poltica:

    O elemento civil composto dos direitos necessrios liberdade individual liberdade de ir e vir,liberdade de imprensa, pensamento e f, o direito propriedade e de concluir contratos vlidos eo direito justia. Este ltimo difere dos outros porque o direito de defender e afirmar todos os

    direitos em termos de igualdade com os outros e pelo devido encaminhamento processual. Istonos mostra que as instituies mais intimamente associadas com os direitos civis so os tribunaisde justia. (...) Por elemento poltico se deve entender o direito de participar no exerccio do poderpoltico, como um membro de um organismo investido da autoridade poltica ou como um eleitordos membros de tal organismo. As instituies correspondentes so o parlamento e conselhosdo Governo local. (Marshall, 1967, p. 63)

    Por fim, do elemento social:

    O elemento social se refere a tudo o que vai desde o direito a um mnimo de bem-estar econmi-co e segurana ao direito de participar, por completo, na herana social e levar a vida de um sercivilizado de acordo com os padres que prevalecem na sociedade. As instituies mais intima-mente ligadas com ele so o sistema educacional e os servios sociais. (idem, ibidem, p. 63-64)

    Bryan Turner (1986, 1993) problematiza o trabalho de Marshall, explicitando suaespecificidade inglesa, e aponta pistas para uma necessria atualizao do conceito. Parece-nos umadecorrncia do fim do processo de associao entre o desenvolvimento capitalista e a expanso dosdireitos, civis, polticos e sociais, conseqncia da crise do Estado de Bem-Estar Social. Pela primeiravez nos ltimos duzentos ou trezentos anos, o desenvolvimento econmico capitalista separa-se dodesenvolvimento poltico e social um no implica mais o outro. O cinismo do discurso neoliberal, dainevitabilidade da excluso de uma parcela da sociedade, uma expresso desse movimento (cf.Forrester, 1997). o fim da associao entre capitalismo e democracia, amplamente problematizada

    3 Em Oliveira (1995, cap. 1) realizado um mapeamento de grande nmero de Constituies onde se constata a sua incorporao ao TextoConstitucional de mais de 70 pases.

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    na filosofia poltica.4 Assim, passa a ser absolutamente necessrio distinguir liberalismo econmicode liberalismo poltico, de uma maneira que poderia ser ideologicamente, no sentido marxiano dotermo, negligenciado em outros momentos.

    Em Marshall, a educao aparece como um direito social proeminente, como um pres-suposto para o exerccio adequado dos demais direitos sociais, polticos e civis:

    A educao das crianas est diretamente relacionada com a cidadania, e, quando o Estadogarante que todas as crianas sero educadas, este tem em mente, sem sombra de dvida, asexigncias e a natureza da cidadania. Est tentando estimular o desenvolvimento de cidados

    em formao. O direito educao um direito social de cidadania genuno, porque o objetivoda educao durante a infncia moldar o adulto em perspectiva. Basicamente, deveria ser

    considerado no como o direito da criana freqentar a escola, mas como o direito do cidadoadulto ter sido educado. (...) A educao um pr-requisito necessrio da liberdade civil. (Marshall,1967, p. 73)

    Alm de ser um direito social, a educao um pr-requisito para usufruir-se os demaisdireitos civis, polticos e sociais, emergindo como componente bsico dos direitos do homem. Aeducao enquanto direito humano quase um pressuposto para se poder usufruir dos demais,concepo adotada explicitamente na Declarao de 1948. Como decorrncia disso, Norma Tarrow(1987) aborda o tema em seus dois aspectos: a educao como um direito humano e a educaopara os direitos humanos.

    Na produo brasileira, o conceito de cidadania adotado bastante influenciado pelotrabalho de Marshall. As crticas a esta formulao ainda so pouco difundidas. particularmenteinstigante a leitura que J os Murilo de Carvalho (1992) faz do processo de desenvolvimento dacidadania no Brasil, pois ele entende que esta, entre ns, se desenvolve de maneira diferente doesquema proposto por Marshall.

    As pesquisas sobre a educao enquanto um direito so raras, podendo-se mencionarentre estas o clssico Dire ito educ ao, de Francisco Pontes de Miranda (1933).A legislao brasileira tem progressivamente incorporado o direito educao, elevando-

    o ao nvel constitucional a partir de 1934. Mesmo as Constituies ditatoriais de 1967 e sua Emenda de1969 o ampliam (cf. Oliveira, 1995, cap. 3). Finalmente, em 1988 detalhado, precisado e explicitado,estabelecendo-se at mesmo os mecanismos para sua garantia como em nenhuma das Constituiesanteriores (art. 208).

    Um seno que se pode levantar a este processo de ampliao do direito educaoconsiste nas modificaes introduzidas nos incisos I e II do artigo 208 pela Emenda Constitucionaln 14 (EC-14), de 1996. No inciso I, ela suprime a obrigatoriedade do acesso ao ensino fundamen-tal aos que a ele no tiveram acesso na idade prpria, mantendo, entretanto, a sua gratuidade; noinciso II, substitui a expresso "progressiva extenso da obrigatoriedade e gratuidade" ao ensinomdio por "progressiva universalizao". Evidentemente, a nfase do texto diminui, mas discut-vel que tenha representado uma reduo de direitos.

    No inciso I, necessrio lembrar que o termo "obrigatoriedade" neste tipo de legislao de duplo significado: refere-se tanto obrigao do Estado em garantir o ensino gratuitamentequanto ao pai ou responsvel de matricular seu filho na escola. Assim, esta obrigatoriedade para osque a ela no tiveram acesso na idade prpria no poderia redundar em eventual punio ao adultoque no desejasse estudar e que no tivesse tido acesso ou completado este nvel de ensino. No casodo ensino fundamental para as crianas de 7 a 14 anos, os pais ou responsveis so obrigados amatricular seus filhos na escola. O art. 246 do Cdigo Penal, de 1940, tipifica esta omisso como crime

    4Norberto Bobbio (1986, 1987), entre outros, explora bastante as dicotomias que esta associao sugere.

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    de "abandono intelectual", caracterizado como "deixar, sem justa causa, de prover instruo primriade filho em idade escolar",5 cujas penas previstas so a perda do ptrio poder ou multa pecuniria.

    No caso da verso original do Texto Constitucional de 1988, no h tipificao de crimepor parte do adulto que optar por no cursar o ensino fundamental. Ele teria o direito de se matricular, eo Estado, de garantir-lhe a gratuidade. O termo "obrigatoriedade" ali expresso propiciava uma ambigi-dade interpretativa. Resta, pois, discutir se a excluso da palavra obrigatoriedade exclui tambm odever do Estado. Entendemos que no, pois mantm-se a garantia da gratuidade no inciso I modifica-do pela EC-14 e, ao mesmo tempo, mantm-se o expresso dever do Estado para com a oferta deeducao no artigo 205 do Texto Constitucional. Nesse sentido, parece-nos que fica juridicamente maisexplicitado o carter opcional ao aluno, mantendo-se a obrigao do Estado.

    No inciso II, em ambas as redaes, a prescrio tem um carter prospectivo; no umdispositivo auto-aplicvel nem enseja a possibilidade de responsabilizao da autoridade pblicapelo seu no cumprimento, como no caso do ensino fundamental. Assim, a diferena introduzidapela EC-14 tem sentido mais simblico do que real, pois discutir se "progressiva extenso daobrigatoriedade e gratuidade" substantivamente diferente de "progressiva universalizao" no pa-rece, salvo melhor juzo, delinear claramente posies antagnicas.

    Neste caso, o elemento decisivo para a "progressiva obrigatoriedade" ou para a"universalizao" do