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VIII ENCONTRO DE CORTES SUPREMAS DOS ESTADOS-PARTES DO MERCOSUL E ASSOCIADOS O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Boa tarde. Retomando os nossos trabalhos, tenho o prazer de apresentar e deixar com os Colegas a nossa Colega Ministra Cármen Lúcia, que vai nos dirigir a palavra representando o Supremo Tribunal Federal. A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Boa tarde a todos. Tenho a honra de reiterar, aqui, as boas-vindas que o Presidente deste Supremo Tribunal já manifestou, certamente, a todos os Senhores e, em meu próprio nome, também reitero, ainda uma vez, a nossa enorme honra de poder contar com a presença de todos os Senhores e podermos discutir alguns dos problemas que são comuns e as soluções que podemos dar a esses que seriam os problemas comuns a todos nós. Vou considerar que todos se sintam individual e pessoalmente cumprimentados por mim nessa hora. Trabalhamos num primeiro painel, agora à tarde, sobre os direitos fundamentais exatamente nos nossos Estados do Mercosul, e gostaria, então, de fazer algumas observações para, na sequência, todos nós podermos participar e trocar as experiências dos diferentes países. Farei isso fazendo a primeira apresentação do que temos pensado sobre o tema de direitos fundamentais na jurisdição constitucional brasileira; e não apenas na

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VIII ENCONTRO DE CORTES SUPREMAS

DOS ESTADOS-PARTES DO MERCOSUL E ASSOCIADOS

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE)

- Boa tarde. Retomando os nossos trabalhos, tenho o prazer

de apresentar e deixar com os Colegas a nossa Coleg a

Ministra Cármen Lúcia, que vai nos dirigir a palavr a

representando o Supremo Tribunal Federal.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Boa tarde

a todos. Tenho a honra de reiterar, aqui, as boas-v indas

que o Presidente deste Supremo Tribunal já manifest ou,

certamente, a todos os Senhores e, em meu próprio n ome,

também reitero, ainda uma vez, a nossa enorme honra de

poder contar com a presença de todos os Senhores e podermos

discutir alguns dos problemas que são comuns e as s oluções

que podemos dar a esses que seriam os problemas com uns a

todos nós. Vou considerar que todos se sintam indiv idual e

pessoalmente cumprimentados por mim nessa hora.

Trabalhamos num primeiro painel, agora à

tarde, sobre os direitos fundamentais exatamente no s nossos

Estados do Mercosul, e gostaria, então, de fazer al gumas

observações para, na sequência, todos nós podermos

participar e trocar as experiências dos diferentes países.

Farei isso fazendo a primeira apresentação

do que temos pensado sobre o tema de direitos funda mentais

na jurisdição constitucional brasileira; e não apen as na

jurisdição, mas como pensamos o tema dos direitos

fundamentais neste momento, não apenas da América L atina,

mas do mundo em geral. Farei a primeira apresentaçã o e, na

sequência, todos nós, então, poderemos nos ouvir pa ra

chegarmos a algum consenso sobre esse tema.

Gostaria de começar as minhas observações,

portanto, não citando a Constituição brasileira ou algum

jurista de renome, mas um poeta brasileiro chamado Ferreira

Gullar, que tem um poema denominado "Nós, latino-

americanos", que tem muito a ver exatamente com o t ema dos

direitos humanos e com as nossas experiências. Ele afirma

que somos todos iguais, nós latino-americanos, não porque

seja o mesmo o sangue que no corpo levamos. O que t em sido

o mesmo é o modo como o derramamos. Historicamente nós nos

irmanamos não apenas no sangue do corpo, mas no san gue

derramado do corpo que, na nossa história, tem sido

constante e mais ou menos com características comun s.

Parto disso para fazer essas observações

iniciais e, na sequência, todos nós podermos fazer uma

troca das nossas experiências e do nosso pensamento sobre

essa matéria que é fundamentalíssima.

Gostaria de começar dizendo que, talvez,

haja três pontos que eu observaria inicialmente. O primeiro

é que me parece que não dá para pensar direitos hum anos, em

nenhum lugar do planeta, hoje, sem previamente pens ar na

ética do Estado e da sociedade, porque, primeiro, e sse tema

é um ponto crucial, penso, das organizações estatai s e até

das instituições supranacionais. E mesmo nós, do Po der

Judiciário, penso que não temos nem o direito nem a falta

de percepção de que a ética realmente perpassa toda s as

instituições. Penso que agora não é qual a ética, m as como

se garantir a ética que garantirá relações nacionai s e

relações internacionais seguramente comprometidas c om os

objetivos fundamentais não de cada Estado, mas de t odos os

Estados para todos os cidadãos.

Tenho dito que é a ética ou o caos, como se

tem, aliás, como o título de um livro de um autor f rancês.

E, no nosso caso brasileiro, observamos de uma form a muito

peremptória que a ética é imprescindível para que t enhamos

direitos fundamentais, porque alguns dos direitos

fundamentais dependem basicamente do atendimento do s

princípios éticos. Os recursos públicos que não vão para o

público, que não se voltam para o público por força da

corrupção, acabam fazendo com que direitos fundamen tais,

especialmente direitos sociais, não sejam plenament e

atendidos.

Ainda temos um deficit , por exemplo, de

saúde e de educação, que é histórico e que, em gran de

parte, realmente se deve ao não cumprimento dos pri ncípios

éticos. Parece-me que - não está escrito na Constit uição,

no caso brasileiro, a não ser em algumas Constituiç ões de

alguns entes da Federação - todo cidadão tem direit o ao

governo honesto e que o governo honesto garantirá t odos os

direitos fundamentais, porque há uma ligação, realm ente,

imprescindível entre esses dois dados: a ética e os

direitos fundamentais.

A segunda observação que eu faria

inicialmente - e aí é uma observação pessoal - é qu e penso

que não estamos vivendo um tempo de mudanças, porqu e, se

pegarmos desde a Antiguidade até agora, veremos que todo

mundo, no seu tempo, achou que estava vivendo um te mpo de

mudanças. Penso que estamos vivendo a mudança de te mpos. É

outro momento da História e com paradigmas absoluta mente

novos tanto do ponto de vista político quanto do po nto de

vista social, do ponto de vista do conhecimento e d e

tecnologias. E isso tem tudo a ver conosco, juízes, porque

não adianta pensar num modelo de Judiciário que des conheça

esse novo momento que a humanidade atravessa, quer dizer,

nós, juízes brasileiros, em grande parte, somos pes soas que

lidam com o computador como se fosse máquina de esc rever de

luxo, mas o jovem, hoje, raciocina de uma maneira

diferente, ele pensa de uma maneira diferente, ele

verbaliza de maneira diferente, expressa isso de ma neira

diferente e esse é um cidadão para o qual preciso a tentar.

Então essa mudança de tempos, para mim, também tem uma

imbricação direta com os direitos humanos e como va mos

prestar jurisdição nestes tempos de tantas mudanças .

Cito um exemplo do que vivo como Vice-

Presidente do Tribunal Superior Eleitoral: estamos numa

eleição e, no caso brasileiro, comparecendo às urna s cento

e trinta e cinco milhões de pessoas; temos 27 Estad os na

Federação e, nas eleições de 2008, só o meu Estado de Minas

Gerais teve sessenta e sete mil candidatos a veread ores que

formam o Poder Legislativo local. Há três semanas, tivemos

que decidir se o twitter e o blog eram direito à informação

e garantiriam o direito à resposta. Numa eleição qu e tem

cento e trinta e cinco milhões de pessoas, há de se

imaginar o que isso representa em termos de demanda s

judiciais para a jurisdição eleitoral. E não adiant a eu

desconhecer, como juíza, que essa é uma realidade d o meu

tempo e tenho que achar uma solução para não inviab ilizar a

jurisdição e para não frustrar a cidadania. O cidad ão vive

no mundo de hoje com essa realidade, inclusive tecn ológica.

E o terceiro dado que eu ainda chamaria a

atenção inicialmente, antes de fazer as observações sobre

direitos fundamentais no Mercosul e que faz parte, no

fundo, de um pensamento sobre direitos fundamentos neste

início de século XXI, é que penso que estamos viven do

também mudanças sociais para o Estado e não como at é,

digamos, o início do século XX, em que o Estado pen sava as

suas mudanças.

Para os Senhores terem uma ideia, já tivemos

julgamentos, nesse ano de 2010, aqui no Supremo, em que um

enorme número de cidadãos compareceu e ficou em vol ta do

Supremo durante o julgamento. Como os Senhores sabe m, nem

precisaria da presença física, porque as nossas ses sões são

televisionadas e, por isso mesmo, podem ser assisti das por

todo mundo. Com isso o cidadão opina sobre o que fa zemos.

Eu, que ando muito de táxi e tudo o mais,

escuto, às vezes, a crítica de uma pessoa que é lei ga mas

que, de todo o jeito, é a vida dela quando eu decid o.

Escuto os seus comentários sobre essas decisões, ne m sempre

bem compreendidas, mas é o que ela compreendeu e o que pode

repercutir para a sua vida. Essa mudança social, a meu ver,

impõe uma mudança, realmente, do Estado como um tod o e do

Poder Judiciário.

Já tivemos decisões, por exemplo, em

fevereiro desse ano, sobre a execução de penas no B rasil,

em que o país inteiro discutiu o tema. Havia progra mas de

rádio perguntando para o povo o que ele achava do q ue os

onze Ministros do Supremo tinham decidido, sendo qu e o

Direito é uma matéria técnica - mas é sobre a vida de todo

o mundo - e o Direito Constitucional muito mais. E aí

escutávamos todo o tipo de opinião, todo o tipo de retorno

nos foi dado. Alguns até muito agressivos, que é um direito

deles de se expressarem e de falarem.

Então, até aqui eu sempre encontrava uma

dificuldade enorme de fazer mudanças nas instituiçõ es

estatais, porque mudarmos de dentro para fora, até

pessoalmente, é difícil, imagine o Estado mudar. Er a mais

ou menos um processo de querer mudar com muitos cui dados. A

imposição e a presença da sociedade para impor a mu dança,

para nós, realmente é um fator novo, é uma democrac ia

participativa direta e que, no caso brasileiro, tem sido

sentida e vista o tempo todo.

Várias vezes os cidadãos comparecem, ficam

em frente ao Supremo dizendo que estão nos assistin do e

tudo o mais. Essa é uma mudança, portanto, social e com

impacto direto sobre a forma de agir. Como sempre d igo, o

cidadão tem o direito de gritar, mas o juiz não tem o

direito de julgar segundo esse grito, uma vez que e le é

escravo da Constituição. Mas, de todo o jeito, não posso

desconhecer que a cidadania mudou e impõe uma mudan ça,

portanto, para todos nós.

E a partir disso é que, então, pensamos os

direitos fundamentais no Mercosul - e aqui também c hamaria

a atenção inicialmente para o que me parece ser uma mudança

de paradigma do Estado constitucional, também neste momento

que estamos vivendo, do final do século XX ao iníci o desse

século XXI. Tínhamos o constitucionalismo com a sob erania

como ideia forte e hoje temos o constitucionalismo

cooperativo, que pode chegar até a um constituciona lismo

integrativo, como é o da União Europeia, que dá sur gimento

ao direito comunitário, mas é certo que a ideia de

soberania que fazia com que cada Estado fosse estan que,

isolado, parece-me superada. Daí a constitucionaliz ação do

Direito Internacional e a internacionalização do Di reito

Constitucional.

O Supremo Tribunal Federal, no nosso caso,

que tem no artigo 1º da nossa Constituição que a Re pública

Federativa do Brasil tem como fundamento a soberani a, o

Supremo lê a soberania popular e não a soberania es tatal. O

Brasil é, sim, um Estado soberano aberto a todos os outros

Estados.

Digo isso porque, na sequência, nós temos no

mesmo título da Constituição o artigo 4º que estabe lece,

textualmente, exatamente, que nas relações internac ionais o

Brasil tem como princípios o respeito à independênc ia dos

povos, o respeito aos direitos humanos, e um parágr afo que

fixa, impõe, portanto, não a governos, mas ao Estad o

brasileiro o cumprimento de uma aliança ou de uma f ormação

da comunidade latino-americana. Exatamente porque, muitas

vezes, nós, latino-americanos nos aliamos a Estados

europeus. Ao invés de, eu digo, dançarmos tango, mu itas

vezes, nós resolvemos dançar o que estava na moda e m Nova

Iorque ou em Paris, quando era muito mais próprio d a nossa

alma exatamente o que estava mais perto de nós.

Acho que esta mudança da forma de atuar é

uma mudança deste tempo e, no caso brasileiro, é um a

imposição constitucional. Esse constitucionalismo

cooperativo determina mesmo uma nova forma de alian ça entre

nós, digo de aliança porque é uma soberania aberta, nós

queremos garantia à cultura local e aos interesses locais

com o outro e não isoladamente. Quer dizer, não por

imposição da globalização apenas do ponto de vista

econômico ou mercantil, mas do ponto de vista do se r

humano. Esta mudança é muito significativa. Eu digo sempre

que o Estado não é mais uma autorreferência, mas um a alter

referência; é a referência do outro e com o outro, não um

fim em si mesmo e buscar fechar-se especialmente na matéria

jurídica, especialmente nesse campo.

Por isso que os direitos fundamentais para

mim são esse fio que conduz a nossa aliança, essa

comunidade que faz com que a base da comunidade não seja

precária, nem seja algo de momento, porque não é

governamental, é realmente da sociedade para o Esta do e do

Estado para o Estado irmão. Essa é uma mudança que faz com

que nós interpretemos a Constituição, digo, nós juí zes

brasileiros, interpretemos a Constituição levando e m

consideração a nossa ponte permanente com o outro.

E, neste caso, nós temos na integração as

instituições nacionais, as instituições estatais, m as,

também, um grande número de organismos cooperantes.

Então, eu fico vendo que algumas formas hoje

de solucionar problemas, de solucionar conflitos, p or

exemplo, através da mediação, ficam ao lado do Pode r

Judiciário formal, mas que nós estamos pensando em convidar

a sociedade a dizer o Direito no caso concreto sem,

necessariamente, precisar de vir à Justiça formal, aos

órgãos de Justiça formal.

No caso brasileiro nós temos tido a cada

ano, no mês de dezembro, uma semana que nós chamamo s semana

da conciliação. Os últimos anos têm sido com o slogan

"Conciliar é legal". E o próprio Supremo Tribunal F ederal e

o Conselho Nacional de Justiça convidam o povo, naq uela

semana, a fazer um mutirão para solução de conflito s.

Isto tem sido feito internamente, e temos

pensando que esses mutirões na áreas de fronteiras dos

Estados talvez possam vir a ser soluções muito bené ficas

para os cidadãos dos Estados e mesmo para que tenha mos

soluções mais rápidas de conflitos que podem, realm ente,

chegar a um bom resultado com aplicação do Direito com

respeito a todos os povos.

E, finalmente, temos um item para ser levado

em consideração e para ser pensado no caso do Merco sul,

especificamente, que é o princípio do efeito direto dos

atos assinados pelos Estados-partes. Quer dizer, en quanto

isto na Europa já é algo que se consolidou, no noss o caso,

nós precisamos, ainda, de passar pelo Direito inter no. Isso

nem sempre tem aceitação imediata, nem tem eficácia

imediata, mas me parece que, para conseguirmos conc iliar

todos os direitos dos Estados soberanos que formam o

Mercosul, talvez seja importante o efeito direto da s

decisões tomadas no Mercosul, que, realmente, possa mos

andar um pouco mais e com uma certa rapidez nisso.

Fico lembrando-me que Bobbio afirmava que -

no início da década de 90 - o problema já não era q uanto a

direitos humanos, de conquistar novos direitos, mas de dar

eficácia aos direitos que nós conseguimos conquista r, e que

este é o desafio do nosso tempo. E dar eficácia aos

direitos humanos, no âmbito do Mercosul e até dos E stados

associados, parece-me o ponto crucial e, aí, o prin cípio do

efeito direto talvez seja um ponto que tenhamos que avançar

muito mais do que conseguimos avançar até agora,

especialmente porque é aí que a jurisdição teria ef icácia

plena e que o cidadão sentiria que, realmente, rece be

aquilo que lhe é devido e que foi reconhecido como devido.

Há quinze dias atrás, exatamente, na sexta-

feira, dia 12, os Ministros da Justiça dos Estados do

Mercosul e de mais seis Estados assinaram um docume nto -

que é um passo adiante do que nós temos até hoje em termos

de captura e entrega de presos, que hoje para nós d epende

do processo de extradição, no caso brasileiro pelo Supremo,

às vezes extremamente demorado com a pessoa presa, o

extraditando preso -, firmando o que foi chamado de

"Mandado Mercosul de Captura", e, portanto, de acor do com o

Direito de todos esses Estados, o mandado será cump rido,

imediatamente, desde que verificado que é uma ordem

judicial da parte requerente, sem precisar do proce sso

inicial de extradição, mas dando sequência a ele e

guardados alguns dos princípios fundamentais da ext radição,

que é um processo pesado, demorado, às vezes, e nós temos

discutido, no Brasil, que um preso brasileiro pode ter de

ser solto por excesso de prazo de prisão. No entant o, o

extraditando, às vezes o cidadão do nosso Estado ir mão,

fica preso muito mais tempo porque, enquanto durar o

processo de extradição, excesso de prazo não conta.

Então, esse tipo de conduta - como esse que

foi adotado pelos Ministros da Justiça no âmbito do

Mercosul - talvez seja um passo adiante realmente

necessário para repensarmos até o peso dessa jurisd ição

formalizada para a qual queremos segurança, mas tam bém

eficácia e celeridade.

Acho que, portanto, a questão da eficácia

dos direitos fundamentais, no âmbito específico do

Mercosul, depende realmente de novos modelos proces suais,

não no sentido do peso de um processo, mas de uma l eveza e

de uma celeridade maior.

Fico sempre pensando que eu não sei se nós

precisamos de tantos papéis e de tantas burocracias para

dar segurança num mundo em que falamos com o Japão apenas

com uma tecla de telefone e não tem insegurança, ou pelo

menos não tem mais do que a insegurança normal da v ida. Por

que nós precisamos manter essas situações? Já tive mos

situações de extraditandos presos durante três anos , sendo

que não sabemos se continua lá o processo, se realm ente

teve sequência e tudo mais.

Então, a eficácia dos direitos fundamentais

é o tema mais importante, agora, para que consigamo s,

efetivamente, pensar cada um desses institutos.

O ponto de partida, a meu ver, para que

tenhamos um avanço na jurisdição constitucional e n a

jurisdição dos direitos fundamentais nos Estados do

Mercosul, talvez seja ter uma pauta mais concreta d o que

nós queremos. Nós estamos discutindo carta e declar ações

que eu acho necessárias. Eu canso de dizer, como pr ofessora

de Direito Constitucional, vi tantas críticas à

Constituição brasileira quando entrou em vigor em 8 8. Muita

gente criticava dizendo: "É direito demais!" Não. A

Constituição é necessária, o documento é necessário , a

pessoa saber onde vai para buscar qual o direito é

imprescindível. Mas não é suficiente.

Da mesma forma, só ter cartas, documentos,

leva-me sempre a uma fala de Montesquieu que dizia que

tanto mais corrupto é o povo que tenha mais leis e mais

normas para serem cumpridas, porque é mais fácil de scumpri-

las, sob a alegação de desconhecer.

Ninguém conhece todas as leis quando as leis

são demasiadas num Estado. Então, o ponto-chave é t er uma

agenda concreta de direitos fundamentais em pontos que

precisam ser atacados e que seriam comuns e com uma

resposta mais pronta e mais inovadora do ponto de v ista da

formalização dos processos.

E, neste caso, sempre me preocupa um dado

sobre quais são as urgências sociais, regionais que nós

temos. Volto ao que dizia o poeta, quais são as nos sas

dores maiores para termos mais esperanças de ter so luções

para elas? Quer dizer, essas urgências sociais são

diferentes do que é a Europa, são diferentes do que é a

África, nós temos as nossas próprias dificuldades m ais

iminentes e de maior premência. Acho que fixar essa pauta,

essa agenda, talvez desse mais concretude, mais efi cácia e

fôssemos capazes de pensar soluções mais próximas p ara que

nós mesmos chegássemos à eficácia desses direitos

fundamentais.

Eu sempre levo em consideração, neste caso,

a questão do mínimo existencial necessário para tod os nós,

pelo menos dos Estados do Mercosul. Digo isso porqu e, no

nosso caso, o mínimo existencial é muito diferente do que é

para um alemão, por exemplo, ou para um finlandês. O nosso

mínimo existencial, no caso brasileiro, mesmo no no sso

Estado é diferente. Nós temos pessoas que vão para o

trabalho de helicóptero e ainda temos brasileiros q ue não

têm nem o ônibus para chegar ao seu local de trabal ho.

Então, essa mesma defasagem que eu tenho aqui dentr o nós

temos, também, nos diferentes Estados hoje no mundo .

Portanto, acho que saber qual é a urgência

regional, social, talvez nos desse um enfoque mais rápido

para que pudéssemos chegar a esta carta, a esses do cumentos

e fazer com que pudéssemos andar juntos de uma form a mais

eficiente.

E, neste caso, tenho pensado que a garantia

dos direitos fundamentais do bloco latino-americano ,

especificamente do Mercosul, talvez pudesse propici ar uma

multiplicação da cidadania, ao que eu chamo de "múl tiplos

da cidadania e da cidadania múltipla".

O Mercosul surgiu, claro, muito em termos de

coisas, dos negócios, do comércio, dos dinheiros, d a livre

circulação nesse sentido, mas não da livre circulaç ão de

direitos ou da não recriação dos direitos no âmbito de todo

Mercosul. E considerando as diferenças, eu me lembr o bem

quando nós discutimos a questão dos direitos do con sumidor,

como alguns Estados eram muito diferentes dos outro s, nós

não conseguimos chegar a um patamar. Em termos de d ireitos

fundamentais, no entanto, este patamar mínimo preci sa ser

devidamente resguardado porque, aí, todas as Consti tuições

resguardam, garantem e expressam os direitos fundam entais,

a dignidade da vida, e o que seja a dignidade da vi da. Acho

que nesse sentido é que nós poderíamos, talvez, con struir

os Tribunais mesmo, aberturas e possibilidades, até com a

tecnologia, com as novas formas de conhecimento, pa ra que

pudéssemos andar mais depressa e garantir a todos o s

cidadãos as condições realmente de efetivar os dire itos sem

precisar desse ônus maior.

Neste caso, o Protocolo de Olivos cumpriu um

papel, foi uma etapa importante. Acho que, talvez, se as

opiniões consultivas forem devidamente orientadas - no

nosso caso é pelo Supremo -, no caso de direitos

fundamentais, nós consigamos que a resposta tenha, não a

vinculação que tem já na Europa com o reenvio preju dicial,

mas eu acho que nós conseguiríamos, realmente, ter uma

melhor condição de, através dessas primeiras experi ências,

ter um equacionamento mais equilibrado de como aten tar e

dar eficácia aos direitos fundamentais.

As Constituições dos Estados do Mercosul

todas têm uma previsão de supranacionalidade, ainda que em

sentido muito diferenciado, Argentina e Paraguai já muito

mais avançado, Uruguai falando em integração social , e o

Brasil, que tinha no artigo 4º o nosso ponto de apo io,

avançou com a Emenda Constitucional nº 45, que é de 2004,

porque foi introduzido - nós já tínhamos a previsão

constitucional dos direitos e garantias que são de uma

listagem muito fecunda do artigo 5º da Constituição - que

além daqueles previstos teriam outros decorrentes d e

tratados. Mas sempre ficou no Brasil a dúvida sobre qual

era a importância desses outros direitos, reconheci dos em

tratados, para fins de uma superconstitucionalidade , de um

vigor maior. Então, houve uma mudança acrescentando -se dois

parágrafos a este artigo 5º, fixando, expressamente , que os

direitos fundamentais decorrentes de tratados, quan do

votados por dois terços do Congresso Nacional, têm o mesmo

efeito de uma emenda constitucional, e, portanto, i ntegram

o núcleo duro da Constituição brasileira e nem pode m mais

ser mudados agora, a não ser por outra Constituinte .

Com isso, tivemos um avanço muito grande no

patamar de reconhecimento jurisdicional dos direito s

fundamentais. Acho que isso, portanto, faz com que aquela

proposta, que faço, de que tivéssemos direitos fund amentais

reconhecidos pelos tribunais, e que através, talvez , das

opiniões consultivas mesmo, pudéssemos fazer com qu e os

outros tribunais chegassem a pensar aquelas soluçõe s dadas

por um dos tribunais ou por mais de um Estado, que

realmente se consiga chegar a essa agenda.

Nesse caso, listei alguns temas que me

parecem realmente os mais graves, pelo menos na pau ta

brasileira de direitos fundamentais.

Essas urgências, no caso brasileiro,

primeiro estão postas numa crise penitenciária perm anente

no Brasil, que é gravíssima, e sei que não é só do Brasil.

É o que me atinge de uma forma mais direta, é o meu caso,

porque temos um problema, realmente, que demanda nã o apenas

soluções legislativas, mas soluções judiciais. Temo s mais

de quatrocentas mil pessoas em penitenciárias, o qu e é um

número enorme. Este número não se cumpre com penite nciárias

em condições humanas. Tivemos em mutirões carcerári os,

feitos pelo Conselho Nacional de Justiça, a triste

conclusão de que tinham pessoas com mais de dois, t rês anos

presas sem processo, sem sequer ter a culpa, portan to, em

condições graves. Como digo, temos essas situações

internas, mas situações, por exemplo, nas fronteira s em que

não se consegue saber muito bem em que condições es tão,

portanto, temos de repensar. Eu até tenho dito que talvez

seja a hora de se reconhecer que Beccaria morreu e que nós

precisamos de um novo Beccaria. O sistema de delito s e de

penas, realmente, precisa ser repensado; e, no caso do

Brasil, nós ainda não repensamos, e não é só no cas o

brasileiro. Mas estamos a discutir isso, exatamente , pelas

vicissitudes, pelos erros que conseguimos detectar. Em

grande parte, também, porque, pelo número de proces sos que

nós temos, temos um deficit judicial muito grande que, no

processo penal, atinge a vida e a liberdade dessas pessoas.

O que é grave, mas que eu acho, também, não é uma r ealidade

só brasileira, embora, como eu digo, o que me afete , de uma

forma mais direta, seja o que eu não dou conta de c umprir

com eficiência.

Por outro lado, temos violências sociais

graves que atingem os direitos fundamentais. Por ex emplo,

temos que tomar medidas cada mais graves, e temos t omado,

não apenas do ponto de vista legislativo, mas judic ial,

relativamente à violência contra crianças e adolesc entes,

em grande parte decorrente de um fenômeno mundial, o

gravíssimo problema das drogas, que no caso nosso d o

Mercosul, também, é um caso de todos. Não é um caso isolado

de ninguém, que não tem uma solução, e não terá uma solução

isolada de nenhum Estado, até porque pelas fronteir as é,

exatamente, que todos os Estados acabam sendo serve ntes à

profícua proliferação deste mal. Os jovens são os

apanhados, e temos, cada vez mais, com a globalizaç ão a

facilidade enorme de maior criminalização desse fen ômeno.

Temos a destruição de jovens com o crack, agora. O crack

destrói rapidissimamente, e são jovens de todos os lugares.

Temos a violência de rua, a questão da

segurança ou insegurança física mesmo nas ruas, que também

todas as grandes cidades do mundo têm, mas que talv ez

devêssemos repensar. Afinal o Estado moderno foi fu ndado,

exatamente, levando em consideração a liberdade fís ica, e

nem esta estamos conseguindo dar, especialmente nas grandes

cidades.

A violência contra a mulher continua sendo

um ponto comum na América do Sul, mais comum do que em

outros Estados. Eu não acredito que nenhuma democra cia do

mundo vai se realizar, com a população que temos, s e nós

não repensarmos isso e não nos comprometermos. Acho que é

preciso se pensar, talvez, em mecanismos de prevenç ões, ou

de acentuar a jurisdição constitucional em todas as formas

de marginalização e de preconceitos contra os velho s,

contra os índios, os quais temos ainda em grande

quantidade, enfim, contra todas as formas de discri minação

e de racismo. E acho que, talvez, o que se possa fa zer em

termos, realmente, de mudança de comportamento da

jurisdição seja, no caso, primeiro, introduzir na p auta dos

direitos fundamentais um novo ator, que é a socieda de,

porque sempre se pensava - como dizia no início - d e dentro

para fora: o Estado pensando e imaginando qual a so lução

que daria. Hoje, temos a sociedade querendo falar s obre os

seus direitos, em todo lugar, de todo jeito, e é ex atamente

o cidadão que pode nos introduzir o que ele quer, e com que

rapidez ele quer a resposta judicial aos seus princ ipais

problemas.

Por outro lado, hoje, pelo menos a

experiência brasileira tem sido nesse sentido de, e m grande

parte, fazer com que a sociedade converse com as

instituições, por exemplo, o Judiciário.

Como eu disse, tivemos alguns julgamentos

aqui; e, no ano passado, tivemos um julgamento que foi de

grande repercussão para os brasileiros, sobre uma r eserva

indígena, a Reserva Raposa Serra do Sol. E nós, o e ntão

Presidente Gilmar Mendes, eu e outro Ministro da Ca sa,

fomos até o local, conversamos com os índios, verif icamos a

situação para saber como interpretar a Constituição , e o

que havia de fato ou de discurso jurídico, naquilo que nos

era entregue para solucionar. Quer dizer, tenho dit o que o

juiz, cada vez mais, vai ter de ir aonde o povo est á, e não

esperar que aquele único cidadão venha aqui, até po rque, em

termos de direitos fundamentais, não é cada um que diz:

onde houver alguém com os seus direitos, de alguma forma

violentados, dói em todos nós e é comprometimento d e todos

nós?

Acho que a questão, portanto, de direitos

fundamentais para o Mercosul talvez seja estreitar as

pautas mais concretas e, principalmente, pensar sol uções

que possam ser mais eficazes, de maneira mais rápid a, para

que se dê resposta aos cidadãos de uma maneira gera l.

Eu diria, e apenas para escutar os senhores,

que, como toda instituição humana, o Mercosul e o

Judiciário no Mercosul não é um construído, é uma

construção permanente. Se nós já andamos, e no caso

brasileiro eu digo como juíza, faço mea culpa que há muito

a andar, há muito a conquistar e de uma forma muito rápida,

porque a reclamação social cresce muito mais na med ida em

que a democracia se fortalece. Quanto mais democrát ica a

sociedade, mais o cidadão participa e quer uma resp osta do

Estado, especialmente do Estado juiz. Nesse caso, t emos de

dar essa resposta, exatamente pensando novas formas , porque

temos uma Justiça, inclusive uma Justiça Constituci onal

artesanal para uma sociedade de massa. Essa incoerê ncia não

nos leva a uma solução fácil. Costumo brincar que o cidadão

quer que eu leia, estude e dê, se possível, por esc rito, a

solução para o caso dele com rapidez. Mas ele quer isso, e

mais setenta milhões de brasileiros querem, que é a média

do número de processos em andamento no Brasil. Temo s cento

e oitenta e cinco milhões de brasileiros, e na poss e do

Ministro Cezar Peluso, ele fez uma referência de qu e

estariam em tramitação setenta milhões de ações, ou de

processos, eu não diria de ações porque há os recur sos; o

que significa que tenho a sociedade litigiosa deman dado a

reposta do Poder Judiciário, querendo que cada juiz leia o

seu caso, mas é impossível, se tenho quase um terço de

brasileiros em juízo.

Isso, portanto, é o grande desafio,

especialmente no campo dos direitos fundamentais, p orque

esse não pode esperar. Costumo dizer que quem tem f ome tem

pressa, porque a fome dói e a dor é contra a dignid ade da

pessoa humana. Quem precisa de um remédio não pode esperar,

e no caso brasileiro isso chega aqui no Supremo Tri bunal, a

demanda chega aqui, e precisamos, portanto, dar ess a

resposta. Esse é o desafio: dar resposta com rapide z, com

celeridade, mas, também, com segurança, porque o di reito

tem um tempo próprio, mas a sociedade tem uma press a

própria, e precisamos chegar exatamente a este equi líbrio.

Na área da jurisdição constitucional,

portanto, tenho que o Mercosul tem desafios grandes demais,

talvez mais do que no início do Mercosul, quando fo i

formado, porque a sociedade mudou com rapidez enorm e na

parte do conhecimento, tanto mais informados dos se us

direitos, quanto mais os cidadãos vêm ao Judiciário buscar

a sua resposta. O que é bom. O problema é a gente s aber dar

essa resposta.

Por outro lado, acho que, também, a

sociedade e as condições atuais de conhecimento, de

informações, nos dão condições de oferecer alternat ivas

melhores, mas para isso é preciso que se pense um

Judiciário novo. Qual é esse Judiciário e para qual o

jurisdicionado é o grande desafio.

Mas tenho realmente uma enorme esperança de

que sejamos capazes juntos, sabendo dessas urgência s

nossas, de acumular nossas informações, nossos

conhecimentos, para que se pense essas alternativas novas,

que quanto mais juntas forem, melhor para os cidadã os

latino-americanos, especialmente esses que compõem a

América do Sul.

Comecei citando um poeta e vou terminar

citando um escritor moçambicano, Mia Couto, que tem uma

literatura muito próxima da nossa brasileira. E ele fala de

histórias "abensonhadas", que é uma palavra que ele criou,

porque ele dizia que em Moçambique tinha sempre o s onho da

chuva, para eles terem as soluções para os seus pro blemas,

e quando a chuva caia era uma benção; por isso ele criou a

palavra "abensonhada", de benção e de sonho. Acho q ue o

Direito Constitucional é o Direito "abensonhado" ne sse

sentido. É uma benção, quando ele é eficaz, eficien te, o

ser humano se sente seguro, e é o Direito das utopi as

possíveis, porque conseguimos conquistar os direito s, e

fazer com que eles valham; o que melhora a vida da gente é

a possibilidade de se buscar ser feliz. Mas para is so é

preciso que nós, principalmente juízes, sejamos cap azes da

criação e da recriação dessas instituições, que, a meu ver,

realmente estão a demandar um repensamento rápido, porque

aprendi que ou vivemos com o nosso tempo ou o tempo vive

sem nós.

Mais de uma vez, na experiência brasileira,

quando o Judiciário não deu respostas, nas décadas de

sessenta e setenta, tivemos até experiências de

linchamentos na sociedade, porque, à falta de uma r esposta

do Estado, a sociedade fez justiça pelas próprias m ãos; e,

aí, esse é um desafio em que nós nos colocamos

permanentemente.

Por isso, a honra de recebê-los para esse

encontro, e de poder agora escutar quais as alterna tivas e

as propostas que podemos pensar para ter uma mudanç a, ou se

é uma continuação, mas, enfim, dos modelos de prest ação da

jurisdição em termos de direitos humanos.

Agradeço a paciência dos senhores de terem

me ouvido, mas eu queria muito, agora, escutar, tal vez a

partir daqui, as experiências e o que os Senhores t eriam a

oferecer para que possamos pensar e pautar alguma c oisa

mais concreta para os direitos fundamentais no Merc osul.

Agradeço e vou passar a palavra. Vou

escutar. Todos nós vamos falar, exatamente, sobre e ssa

experiência.

(Exposições)

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Eu

gostaria de até fazer algumas considerações e volta r.

Acontece que a Ministra Ellen Gracie, minha Colega, que na

sequência continuará com outro painel, já está há a lgum

tempo a nos aguardar.

Faria apenas algumas observações brevíssimas

para agradecer a presença e a oportunidade que tive de

poder estar aqui e ouvir os Senhores e poder falar, dizer

que me aparecem duas coisas das ideias todas, e que seriam

muito mais se nós tivéssemos tido, evidentemente, m ais

tempo.

Primeiro que é, sim, competência dos

tribunais constitucionais. Eu acho que, no Estado m oderno,

a se tomar só realmente a partir das revoluções, po rtanto,

séculos XVII e XVIII, vamos ver que o Estado começo u com o

Legislativo forte. A própria doutrina da separação de

poderes, em grande parte, enfatizava o Legislativo, porque

havia quase um fetichismo pela lei. Se houvesse lei , não

haveria ruptura alguma a direitos. Depois, nós tive mos, no

final do século XIX e século XX, uma ênfase no Exec utivo,

porque era o garantidor da segurança individual e s ocial, e

também os serviços públicos que cresceram e era o E xecutivo

que os prestava. E chega-se a isso que no início eu

lembrava citando Bobbio. É preciso ter os direitos

conquistados formalmente mesmo nas constituições, m as é

preciso que as constituições sejam cumpridas rigoro samente.

E quem garante esse cumprimento é o Poder Judiciári o em

última instância.

Então, eu acho que a legitimidade do Poder

Judiciário, a efetividade do Poder Judiciário,

especialmente daqueles que têm competência constitu cional,

é a garantia do cidadão de o que está na lei será c umprido,

o que está na Constituição será observado e,

principalmente, os seus direitos não serão discurso ou

retórica de uma legislação numa prateleira, mas ser ão

efetivamente cumpridos, observados e a sua inobserv ância

encontrará alguém que fará garantir o retorno ao es tado de

legalidade.

É claro que, no momento que nós vivemos,

temos desafios maiores, porque nós precisamos não a penas de

saber que não é mais só o Estado violador, mas as r elações

particulares que violam direitos fundamentais e que não

estavam na ordem das preocupações até mesmo dos

constituintes de vinte anos atrás. Nem por isso se pode

imaginar que os tribunais constitucionais não serão capazes

de interpretar a norma para atender as finalidades a que

ela se destina. Portanto, teremos capacidade para r epensar

a forma de atuação e atuar de maneira que a Constit uição

seja cumprida nos seus objetivos básicos.

Acho que todo caminho, como dizem os

chineses, mais longo ou mais curto, começa pelos pr imeiros

passos. Estarmos reunidos aqui - que já não é a pri meira

vez - não é um primeiro passo. É um passo a mais de muitos

outros que nós teremos de dar, mas certamente essas ideias,

com certeza, irão de alguma forma fecundar para que

cheguemos às melhores conclusões e a boas alternati vas e

possamos nos acrescentar.

Agradeço muitíssimo. Gostaria realmente de

poder prolongar o debate, mas convido a Ministra El len

Gracie a vir assumir a presidência.

Peço licença aos senhores para me ausentar.

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