aliança taiko

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Relatório de Trabalho de Conclusão de Curso

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PROJETO ALIANÇA TAIKO DO BRASIL

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Universidade Estadual Paulista“Júlio de Mesquisa Filho”

Campus de BauruFaculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação

DesignNúcleo de Pesquisa PIPOL

Projetos Integrados de Pesquisa Online

Projeto Aliança Taiko do Brasil

Deborah Enjiu ShimadaOrientador: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi

Bauru2011

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Agradeço à minha família, pelo seu amor e apoio incondicionais; à existência dos meus verdadeiros amigos; ao Dorival, pelas verdades sem volta;e, por fim, à força de vontade.

Agradecimentos

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ResumoINTRODUÇÃOO TaikoNo Brasil

CONCEITOS/ INSPIRAÇÕESHimawari TaikoItigo ItieOrquestra Mediterrânea一は全、全は一MawacaMagda Dourado PucciFundamentos ZEN do Taiko

LOgOTIPONó EternoNós CeltasMitsudomoeAliança Taiko do Brasil

O PROJETODescritivo Artigo PublicadoRelatórios de TreinamentoConclusãoVídeos

Sumário

11.

12.14.

16.18.22.24.26.30.32.

36.38.39.40.

41.42.44.48.49.

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“Meu grupo sente falta disso, aquele grupo não tem aquilo...Mas nós temos ‘aquilo’ e eles têm ‘isso’...”

O projeto Aliança Taiko do Brasil é proveniente da crença no coletivo, é uma alquimia concebida para se alcançar um objetivo mais completo e rico, que só se mostra possível dentro da colaboração.

Resumo

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Há registros sobre a descoberta do Taiko há cerca de 10.000 anos, nas eras Jumon e Yayoi; presume-se que os instru-mentos eram utilizados nas estratégias de caça. O instrumento foi um importante meio de comunicação entre os povos an-tigos, transmitia notícias tristes, alegres ou mesmo sentimentos de ira, prazer. Estuda-se, ainda, que o Taiko foi importante para instruir soldados em suas marchas no Japão feudal, quando o instrumento foi empregado na motivação às tropas, no anúncio dos comandos a serem obedeci-dos e também nos embates marciais. Na era bélica japonesa, o tambor era utilizado como instrumento de guerra para pronunciar as conquistas realizadas, correspondendo a uma intensa força mís-tica e reforçando o estímulo à coragem. Muitos acreditavam que o Taiko era também utilizado para comunicação com os Deuses. Hoje em dia, o Taiko é muito entoado nas festividades com o intuito de sensibilizar a alma e acalmar os espíritos.

O Taiko

INTRODUÇÃO

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Essa atividade foi trazida pelos japoneses ao Brasil há cerca de 30 anos; ficou muito popular principalmente na década passada com a vinda do professor Yukihisa Oda em 2000 e sua iniciativa de fundar cerca de 10 grupos.A Associação Brasileira de Taiko (ABT)foi fundada no ano de 2004, e com sua criação teve início o primeiro campeonato de Taiko do Brasil. Entre os estilos, os mais entoados entre os jovens são o Kawasuji e o Suke-roku. Atualmente, existem cerca de 130 grupos distribuídos pelo país inteiro.gradativamente, o número de grupos de Taiko foi aumentando até o ano de 2008 (centenário da Imigração Japonesa no Brasil). Após esse marco, os grupos tive-ram uma queda significativa por ocorrer uma baixa no número de professores vindos do Japão e também por muitos grupos terem se formado por causa do centenário. Apesar de existirem diversos gru-pos no Brasil, muitos acabam se isolando em suas cidades e, sem grandes incen-tivos, com o tempo se quebram e termi-nam.

No Brasil

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Esse é o grupo do qual faço parte “desde que me conheço por gente”. Posso, com certeza, afirmar que grande parte dos meus valores foram aprendidos e desenvol-vidos em função desse grupo e dessa ati-vidade. Começamos a tocar desde crianças e até hoje administramos o grupo por conta própria (nós e nossas famílias), portanto o grupo sempre foi algo muito afetivo, que valorizamos e cultivamos com a ajuda dos nossos entes queridos. O grupo Himawari Taiko existe desde o ano de 2000. Com a vinda do Professor Yukihisa Oda do Japão, o grupo passou a se organizar melhor e a ensaiar com mais freqü-ência o estilo Kawasuji, proveniente da cidade de Fukuoka. Participo do grupo desde o nasci-mento do mesmo e já presenciei e fiz parte de muitas fases pelas quais o Himawari passou. Já vivemos em extrema concor-rência com os outros grupos (inclusive com o grupo de Atibaia, que hoje em dia é um grande parceiro nosso) e também já vivemos em aliança com os outros. No início de tudo, quando a maioria dos grupos brasileiros ensinados pelo professor Yukihisa Oda eram iniciantes, o próprio professor incentivava a

Himawari Taiko

competição entre os times diferentes; ele dizia que a competição era saudável para ambos. Com o tempo, passamos a perceber que tínhamos muito a aprender com os ou-tros grupos, que apesar de termos aprendido as mesmas músicas com o mesmo professor, cada um as apresentava de forma diferente, com sua característica singular em evidên-cia. Ter professores do Japão para ensinar os grupos brasileiros não é uma coisa muito freqüente hoje em dia; arcar com todos os gastos e benefícios costuma ficar caro demais para os grupos daqui, que ainda enfrentam certa dificuldade em se profissionalizar. Por isso, nós do Himawari valorizamos muito a experiência de tocar com outros grupos, por mais diferentes que sejam; sempre consegui-mos aprender muito com todos. Tenho muito orgulho de fazer parte desse time de pessoas especiais que me ajudaram a, gradativamente, construir o meu “eu”; tenho certeza de que o meu Trabalho de Conclusão de Curso não poderia ter sido diferente para que falasse por mim, tivesse relação com o meu aprendizado ao longo da vida e, principalmente, ao longo desses 5 anos de faculdade.

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Itigo Itie

Em outubro de 2009, dois grupos de Taiko distintos resolveram fazer um show em parceria, de produção completamente indepen-dente; esses eram Atibaia Seiryu e Himawari Taiko (grupo do qual faço parte). Como nome para o show, foi escolhido “ITIgO ITIE”, que em japonês tem um significado muito bonito: “um momento, um encontro único, que jamais se repete”. Para realizar tal evento de produção independente, foi necessário muito esforço de ambos os grupos, que ficaram responsáveis por fazer um belo show, divulgar com eficácia e organizar tudo. Foram feitas algumas reuniões para definir a escolha das músicas e daí em diante os grupos passaram a se reunir para ensaios em Atibaia. No show, foram apresentadas músicas individuais e em conjunto; para tocá-las em con-junto, os ensaios foram indispensáveis e ambos entraram em acordo sobre o que adaptar nas performances (cada grupo tinha uma interpreta-ção diferente das músicas). Pude observar que tal relação foi ex-tremamente benéfica para ambos, que se ajudaram mutuamente e encontraram diferentes

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inspirações ao se relacionar com pessoas de grupos distintos. Acredito que, a partir desse momento, passei a ver claramente como um projeto desse teor pode incentivar jovens a crescer na arte do Taiko e de uma forma bem simples, aproveitando-se apenas da nova relação emergente entre os jovens.

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Abaixo, vídeos do Show:

Towani

Ibuki

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No ano de 2010, tive a oportunidade de conhecer, por indicação do professor Dorival Rossi, um projeto chamado “Orquestra Mediter-rânea” e fiquei encantada. Os instrumentistas escolhidos por Carlin-hos Antunes, Lívio Tragtenberg e Magda Pucci para participar deste projeto deveriam saber expressar musicalmente sua própria cultura e improvisar com outros músicos que nunca houvessem tocado antes. Os 18 artistas que participaram foram aos poucos enviando suas composições e outras sugestões para o trio preparar, aqui no Brasil, o repertório- uma, entre as muitas relações à distância que deu certo. “Conforme a gente foi convidando este pes-soal, fomos pedindo para que eles fizessem sugestões de música para que a gente pudesse refletir. Eles nos enviaram gravações e partituras por Sedex, composições por e-mail em MP3. E nós ficamos aqui juntando e ouvindo tudo que chegava”, disse Carlinhos Antunes em entrevista. Depois de reunir estes trabalhos e definir quais seriam as canções que ficariam no rep-ertório, os diretores tentaram manter o que de essencial havia em cada uma delas, isto é, o caráter da composição. “A gente manteve isso em mente e tentamos adaptar as canções sem

Orquestra Mediterrânea

descaracterizá-las. Ou então, em outros momen-tos, criamos assumidamente outra sonoridade. Quando você junta uma orquestra atípica como essa ela precisa refletir este caráter atípico”. Ao juntar músicos gregos, espanhóis, marroquinos, sérvios, brasileiros, italianos, fran-ceses e turcos os diretores musicais optaram por composições de caráter popular e contem-porâneo. “O conceito de orquestra não é um conceito erudito, mas carrega em si a idéia de um coletivo que soa junto. Você pode ter uma orquestra popular de jazz, por exemplo. E a Orquestra Mediterrânea só poderia ser popu-lar, pois numa orquestra erudita os músicos se relacionam em outros moldes. Aqui a relação entre cada um deles é muito diferente”, disse Carlinhos. A primeira vez que este grupo se encon-trou foi uma semana antes do show e segundo Antunes esse primeiro olhar foi de “uma estra-nheza sadia”. Logo, os músicos passaram a se reconhecer mais, e os ensaios começaram a fluir melhor. O repertório foi sendo assimilado de diferentes formas pelos instrumentistas. “Uma parte dos músicos não lê partitura, então eles precisavam ouvir as composições para assimi-lar o que estava acontecendo. Só a partir daí

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começamos a tocar mesmo”, disse Carlinhos Antunes. Foram convidados para estar na Orquestra Mediterrânea o grego Petros Tabouris - que se apresentou na abertura das Olimpíadas de Atenas; o francês Eric Montbel, tocador de gaita-de-fole, compositor e estudioso de músicas étnicas; o espanhol Xavi Lozano, especialista em instrumentos in-tegrantes da cultura catalã; o libanês Sami Bordokan, mestre de instrumentos árabes e improvisação, entre outros. Lembro-me muito bem de que, quando lhe é perguntado sobre o desafio de ter feito o show com poucos ensaios, Carlinhos Antunes afirma que esses músicos vêm se preparando para isso a vida toda; pude entender que foi a trajetória individual de cada um que tornou o encontro possível e esse, por vez, só teve a acrescentar posteriormente. Isso foi muito inspirador para mim.

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ICHI WA ZEN, ZEN WA ICHI Essa passagem é de um Anime chama-do Full Metal Alchemist Brotherhood. A historia é muito interessante e completamente inspiradora. Ichi wa Zen, Zen wa Ichi, traduzindo em português seria “Um é Tudo, Tudo é Um”. No contexto do Anime essa frase faz muito sentido, mas acredito que podemos aplicá-la em muitos outros aspectos da vida, telvez em todos. No Anime, a frase dá nome ao episódio 12, onde dois meninos são deixados por um mês em uma ilha deserta pela sua professora para desvendar o enigma: “一は全、全は一”,se ao final desse prazo eles não tiverem desco-berto o enigma, ela não iria aceitar tomá-los como discípulos. Ao final do prazo, depois de terem passado por muitas dificuldades, os garotos têm a seguinte conversa:

一は全、全は一

“Não estou totalmente certo, masQuando eu estava com muita fome, comi uma formiga, lembra?Então, pensei:Se eu não comesse e tivesse morrido,Uma raposa iria comer minha carne,Com o tempo ele se tornará nutriente para as plantas, E um coelho iria comê-las- É uma cadeia alimentarNão é só issoEsta ilha já pode ter sido parte de outro lugar no marTalvez, há muitos anos atrás tenha sido o topo de uma montanha- Tudo está conectado?É um grande fluxo de vida que os olhos não podem verNão sei se isso chama mundo ou universoMas, frente a essa coisa giganteEu e você somos como formigasSomos apenas duas pequenas existências nesse fluxonão existe o “tudo” dentro de uma coisa, Mas, se todas essas pequenas existências se unirem,O todo pode existir...Então, o todo é isso.”

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Para que possamos fazer um projeto que beneficie a todos os participantes, precisa-mos nos unir para entender e construir o “Todo”.

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“São muitos os povos do mundo, e muitas mais são suas canções. Cantá-las e recantá-las é um exercício inquietante: a cada vez, a cada modo, diferentes elementos de suas tramas se sobressaem, abrindo infinitos caminhos à sen-sibilidade; não raramente, florescem por esses caminhos relações insuspeitas, insólitas trocas entre os cantos de todos os cantos.Pois é essa inquietação que move o Mawaca. Apoiado em seu incessante trabalho de pes-quisa, sob a direção musical de Magda Pucci, o grupo recria temas tradicionais de variadas etnias, combinando-os engenhosamente e buscando suas conexões com a música brasi-leira.As sete cantoras do Mawaca cantam as mil e uma línguas dos mil e um povos, imbuindo-se do poder atribuído a quem assim se denomi-na - para os hausa, do norte da Nigéria (uma entre várias etnias em que o termo assume significados semelhantes), mawaka designa os músicos que recorrem ao poder mágico da

Mawaca

palavra cantada para atrair a força dos espíritos.A sonoridade singular do Mawaca resulta de um trabalho de alquimia, cuja pedra filosofal é o elemento que aproxima canções arcaicas às modernas e as torna extremamente atraentes aos ouvidos contemporâneos. E, a exemplo do alquimista, o Mawaca faz valerem suas habi-lidades instrumentais. Um grupo instrumental acústico acompanha as cantoras, oferecendo uma rara multiplicidade de timbres: acordeom, violoncelo, flauta, violino, saxes, contrabaixo e diversos instrumentos de percussão, como tablas indianas, derbak árabe, djembés africa-nos, alfaias portuguesas, berimbau, vibrafone e pandeirões do Maranhão e do Oriente. (...)Surpreendentes tramas étnicas se velam e revelam em arranjos criativos, que promovem a comunhão virtual de tradições distantes e por vezes díspares. Os sons de todos os povos se entrelaçam no som do Mawaca, que, acrescen-do-lhes sempre de um aspecto original, canta a miscigenação de que todos somos fruto.”

Descrição feita pelo grupo em seu site:

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Ahkoy Té - Hotaru Koi / Arranjo: Magda Pucci/ Cancão dos índios Gavião e cantiga japonesa

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Juntamente com a minha irmã, Daniella Yumi Shimada, ao início deste ano, recebi um convite para participar tocando Taiko e dan-çando músicas japonesas em shows do grupo Mawaca. Logicamente, ficamos muito entusias-madas e maravilhadas com a oportunidade. Até hoje, fizemos cerca de 4 apresenta-ções em parceria com o grupo e, desde os en-saios até os shows, nos sentimos muito inspira-das não só com a musicalidade e cumplicidade

dos músicos, mas com o trabalho minucioso feito para combinar cada pessoa e elementos do show de uma forma simplesmente delicio-sa. Para o projeto, com certeza aprendi muito com o Mawaca, valorizando a mistura, o híbrido, a alquimia e procurar fazê-los com muita sensibilidade e coração, o que comove o público e até os músicos.

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Boro Horo - Hirigo/ Bre Petrunko/ Surret Ja Soriat / Adaptação e Arranjo: Marlui Miranda, Magda Pucci e Kari Reiman/ Canto tupari de Rondônia, horo búlgaro e canção de runa finlandesa.

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Magda PucciUm breve diálogo sobre o teor do projeto com a inspiradora autora de projetos anteriormente citados, como “Mawaca” e “Orquestra Mediter-rânea”.

1. Na sua opinião, qual é a importância de projetos como “A Orquestra Mediterrânea” para o desenvolvimento dos indivíduos que participam dele, seja como músico ou sim-ples ouvinte? Magda Pucci: Para o público, acho que a importância se encontra na possibilidade de conhecer outros tipos de música. Também acho interessar que as pessoas tenham a oportunidade de observar como é possível dialogar com pessoas de diferentes nacionali-dades e histórias através da música.Para os músicos, ter o compromisso de se apresentar depois de 4 dias intensos de ensaios, sem nunca termos tocados juntos foi, sem dúvida, um grande desafio; por outro lado, conseguimos reconhecer tantos elementos em comum e compartilhar o que eram diferentes, trocar informações musicais e vivenciar ritmos e melodias diferentes que foi realmente um momento prazeroso. 2. É evidente que o grupo Mawaca valoriza de uma forma admirável as formas híbridas na música e em sua performance; pela sua própria experiência, a execução do híbrido

alimenta a experiência e a técnica do músi-co nos seus projetos?Magda Pucci: Sim, as fusões entre diferentes culturas, sejam elas “naturais” ou “arranjadas” correspondem ao principal eixo do Mawaca. Com muita pesquisa e uma prática intensa, te-mos conseguido reunir diversos elementos de diferentes culturas de forma orgânica, brincan-do com esses elementos criativamente. 3. Qual é a sua opinião quanto ao desenvol-vimento coletivo após a exposição às singu-laridades musicais de cada indivíduo?Magda Pucci: O coletivo é resultado das experiências individuais de cada um acrescidos de elementos que formam um amálgama entre esses indivíduos.

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4. Você considera exercícios com integração de grupos de estilos diferentes uma forma saudável de incentivo à pratica musical?Magda Pucci: Sim, acho fundamental que artistas se voltem para compartilhar experi-ências com outros grupos, outras formas de expressão, pois se ficarmos muito fechados em uma única forma de expressar, corremos o risco de estagnarmos, de não dar espaço para possíveis diálogos. Mas entendo que quem tem a tradição muito arraigada tenha dificuldade de dialogar com outras formas de expressão, mas com um pouco de esforço e criatividade isso poderá ser amplamente realizado.

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“O Aliança tem como movimento principal “desmontar” tudo que já fora construído para poder escolher a melhor forma de construir em conjunto uma nova identidade para o Taiko. Este movimento de desmontar e mon-tar é o que epistemologicamente a palavra “análise” representa, e analisar é a doutrina base do pensamento Zen. Constitui então um método Zen de organizar o conhecimento do taiko e o difundir.”Thiago Rolim Rosa Lopes

Fundamentos Zen do Taiko

“É fato que historicamente em qualquer nação o primeiro instrumento musical desenvolvido é o de percussão. No Japão, o taiko. Assim sendo, a primeira expressão musical feita pelo homem é extraído da sonoridade de batidas feitas em um determinado objeto no qual se obtém uma comuni-cação rítmica. Com o desenvolvimento das próprias habilidades mentais e motoras, conseqüentemente, temos o desenvolvimento dessa primeira expressão musical.No entanto, em cada lugar do mundo, cada povo criou sua própria cultura, e com isso sua própria identidade, e assim seus possíveis diferenciais. Então, pode-se dizer que as principais diferenças das ex-pressões artísticas de cada povo se dá no resultado do desenvolvimento peculiar de cada cultura.A cultura se desenvolve a partir de causalidades singulares que são construídas pela história, e dessa forma moldam o significado que o povo dá para os fatos que se passam, tendo assim a emersão das doutrinas e metodologias que regem a base do pensamento desta nação. Mas esse é um aspecto que deve ser alvo de outros estudos com maior embasamento teórico, só pegaremos essa definição para entender um pouco mais do assunto que será abordado a seguir.A cultura japonesa é conhecida por seus aspec-

A seguir, está anexado um texto elaborado pelo por Thiago Rolim Rosa Lopes; o texto descreve os fundamentos Zen aplicados na arte do Taiko; é de extrema importância tê-lo incluso, pois esse texto foi uma referência para que nós tivéssemos as primeiras idéias e discussões sobre o teor do projeto.

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tos de perfeccionismo e dedicação (entre outros), embasados em um puro conhecimento filosófico oriundo de suas naturezas religiosas, que historica-mente nos aponta para os fundamentos do pen-samento Zen.Resumindo, assim o Taiko é considerado o instru-mento musical japonês mais antigo, talvez a forma mais antiga de expressão artística (considerando que a música é assim tida por historiadores), e seu grande diferencial ocorre por estar inserido nos moldes da cultura japonesa, dentro de suas doutri-nas e metodologias, desenvolvidas com base no pensamento zen.Pode-se explicar o fundamento zen do taiko fa-zendo analogia com a forma de como um monge mestre ensina seu discípulo a meditar: Aprende-se intelectualmente a meditar entendendo seus pro-cedimentos de sentar-se, relaxar, respirar, acalmar os pensamentos e caminhar para o estado de medita-ção. No entanto esta explicação está completamente errada, na verdade é o oposto da verdade Zen, pois a maneira mais verdadeira de se dizer como meditar não é executar procedimentos até que se alcance um estado mental de compreensão do eu, mas sim deixar de fazer tudo, tudo mesmo, aos poucos, excluir todos os movimentos físicos e mentais até que a única coisa que lhe reste fazer seja sentar e

respirar. Essa é forma como um monge ensina seu discípulo a meditar verdadeiramente.Assim como a meditação o taiko deve ser entendi-do, pois se o zen se tornou o “DO” de qualquer arte japonesa, também é o “DO” do taiko. (Verificaremos o sentido do “DO” posteriormente).Para que se treina taiko exaustivamente? Para que se esforça tanto? Para que tanta dedicação? Para ficar mais forte? Mais ágil? Ter movimentos mais artísticos? Na verdade, assim como na medita-ção, o caminho não é se esforçar para conquistar tantas execuções, mas sim para eliminá-las. Para compreender um pouco melhor isso vou recorrer a fundamentos criados pelos samurais no desen-volvimento de suas artes marciais. Em qualquer arte marcial o aluno treina suas posturas e golpes exaustivamente para encontrar o “despertar” através do fundamento “kikentai ichi”.“Kikentai ichi” é o conceito de harmonia no desen-volvimento de uma arte. Ki = energia; Ken = espada (vamos entender como a técnica do instrumento); tai = corpo; ichi = um. Entende-se então que se deve buscar a unificação entre a energia, o corpo e a téc-nica específica para o instrumento (neste caso, não necessariamente o taiko, mas qualquer instrumento marcial ou arma). Se, por exemplo, um lutador de kendo é extremamente energético, mas não pos-

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sui embasamento técnico e muito menos uma boa condição física, de nada adianta sua energia, o mesmo vale para os outros fatores. Logo, durante o exaustivo treinamento da arte, se busca a harmonia destes três conceitos, mas o métodoempregado na doutrina que é o mais peculiar das artes japonesas, pois o sentido do treinamento não é de acréscimo e sim de subtração.O esforço em um treinamento exaustivo só existe para o mesmo deixar de existir. Um praticante de Karate treina um kata excessivamente para que em uma situação real os movimentos do kata sejam usados sem ser feito o menor esforço, e assim em qualquer outro movimento específico da arte. A força só é necessária para alcançar o objetivo de não mais se preocupar com a existência da mesma. Trabalhando isso no fundamento do “kikentai ichi” um praticante é capaz de alcançar o seu despertar na arte buscando a harmonia através da subtração dos fatores que impedem sua execução até que se encontrem no ponto nulo, o vazio que desvela a verdade, a essência da doutrina Zen.O fundamento do “despertar” tem o mesmo sentido da palavra “desvelar”, pois se mostra aquilo que an-teriormente estava oculto, no entanto sempre esteve lá, só antes não fora subtraído aquilo que o cobria.O desvelar de um praticante para com a sua arte

é a descoberta da natureza da mesma, tornando os ensinamentos treinados um só com o corpo, a energia e a mente, tendo a execução destes três fatores agora como uma função tão natural quanto a própria respiração. A arte passa a fluir pela própria existência sem que seja feito o menor esforço, pois tudo que impedia isso de ocorrer foi eliminado durante o treinamento.Normalmente as artes japonesas possuem o kanji final de “DO”, como Kendo, Judo, Chado, Kyudo, entre outras. O “DO” significa “caminho”, para que seja compreendido o método adotado pela doutrina da qual a arte foi gerada. O “DO” corresponde ao mesmo significado filosófico da expressão chinesa “TAO”, que indica um caminho de revelações obtidas através de experiências físicas, mentais e espirituais para com uma arte.O “DO” está presente na maior parte das artes japonesas por ser uma doutrina que sirva de base para todas as expressões possíveis da cultura japonesa, até mesmo a expressão da própria existência, tendo assim um significado primordial para a compreensão de qualquer manifestação a ser desvelada.Assim se torna possível compreender que este mesmo “DO” é a base da verdade a ser desvelada no taiko.

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Aproximando ainda mais o pensamento Zen, uma música só pode ser composta a partir do silêncio. Batidas e ritmos só têm sentido por serem manifes-tadas a partir do silêncio. Mantendo esse prisma se entende que a música só existe por que o silêncio a permite existir.Para tal objetivo temos a prática do “mokuso”, a melhor forma de explicá-la é referenciando com o conto Zen da xícara vazia:“Nan-In, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de univer-sidade que veio lhe inquirir sobre Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas. Nan-In, enquanto isso, serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda. O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse: “Está muito cheio. Não cabe mais chá!” “Como esta xícara,” Nan-in disse, “você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?”Todos sabem que um fator importante para a prática do Taiko é o elemento de sincronização do grupo, sem esse não haveria co-operação no seu fazer. Então pense que cada um dos tocadores de um grupo tem sua vida, suas preocupações, seus obje-

tivos, seus desejos, cada um buscando seu caminho de suas diversas formas, mas no taiko é necessário que todos tenham a mesma vida, a mesma preo-cupação, mesmo objetivo e o mesmo desejo, em um mesmo caminho e da mesma maneira naquele momento, e a única forma de se conquistar tal transcendência de espírito é na prática do mokuso. Quando todos esvaziam suas xícaras se torna pos-sível o fenômeno da sincronização, com tanto que todos tenham a vontade de tomar o mesmo o chá, o taiko.Confesso que estas e outras questões do pen-samento Zen acabam se tornando redundantes e infinitas, não é de fácil compreensão nem de execução, mas exatamente por este sentido redun-dante e infinito existir é que treinamos, afinal tudo que se faz no taiko são repetições e repetições erepetições em busca do desvelamento do sentido do mesmo, este é o “DO” do taiko.Todo conhecimento que tenho do pensamento Zen vem de estudos particulares que fiz durante toda minha vida (principalmente no período da faculdade), e dos ensinamentos que tive com o Monge Zen, Sensei e amigo Haku’un Kainei, o qual me deu a iniciação no Zen Budhismo pelo nome de “Yuuki”. E outros Senseis de outras artes como o Kendo (Okano Sensei) que também se aprofundaram no mesmo estudo em busca da verdade sobre o “DO” e o Zen.”

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LOgOTIPO

Passei um longo tempo pensando sobre o que o logotipo deveria representar, decidi; que, acima de tudo, ele deveria ter como car-acterística a União, o fluxo livre de informação, a evolução em conjunto dos grupos; após de-cidir isso, foi fácil encontrar o “Nó INfINIto”, ou “Nó EtErNo”. Esse símbolo faz parte dos “oito sím-

bolos auspiciosos”, do Budismo Tibetano, que, na sua origem, formavam um grupo de sím-bolos indianos reais que eram apresentados em cerimônias como a coroação de um rei. No budismo, estes oito símbolos da boa fortuna representam as oferendas feitas pelos deuses ao Buda Shakyamuni logo após ter atingido a iluminação. Na iconografia budista antiga, represen-tações das pegadas do Buda apresentam os símbolos auspiciosos como marcas divinas na sola dos seus pés, sendo os mais comuns o lótus e a roda. Na arte, os símbolos auspiciosos podem surgir individualmente, aos pares, em grupos de quatro ou um grupo com os oito. Quando ilustrado desta maneira, muitas vezes tomam a forma de vaso, que nesse caso pode ser omitido, já que os outros sete símbolos tomam essa forma. O símbolo também é uma importante marca cultural em locais influenciados pelo Budismo Tibetano (locais como Tibet, Mon-gólia, Tuya, Kalmykia e Buryatia). Também pode ser encontrado na arte chinesa e utilizado em nós chineses.

Nó INFINITO

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O nó infinito tem sido descrito como “um símbolo antigo que representa o entrela-çamento do Caminho espiritual, a corrente de Tempo e Movimento, dentro do qual é Eterno.” É dito que todas as existências são ligadas pelo tempo e pela mudança, mas em última análise, repousa serenamente dentro do Divino e do Eterno. Os nós infinitos são como símbolos místicos/mitológicos que se desenvolveram independentemente em várias culturas. Um ex-emplo muito conhecido são os variados “Nós CEltas”. A forma entrelaçada do Hexagrama Unicursal do Ocultismo é topologicamente equivalente ao nó infinito do Budismo.

Existem muitas interpretações do sím-bolo: • A iconografia nó infinito sim-boliza Samsara, ou seja, o ciclo inter-minável de sofrimento ou de nasci-mento, morte e renascimento dentro do budismo tibetano. Sua tradução literal seria algo próximo de “Continuar a fluir” • O entrelaçamento de sabedoria e compaixão. • Relação e interação das forças opostas no mundo dualista de mani-festação, levando a sua união e, final-mente, à harmonia no universo. • A dependência mútua da doutrina religiosa e assuntos seculares. • A união da sabedoria e do método. • A inseparabilidade do vazio (shu-nyata) e originação dependente, a realidade subjacente de existência. • Simbólica do nó na ligação de an-tepassados com onipresença e o ritual mágico e meta-processo de ligação. • Como o nó não tem começo nem fim, também simboliza a sabedoria de Buddha.

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O Nó celta é o símbolo da mitologia celta, significando o nó infinito que enlaça todas as coisas, que estamos todos interligados e que de alguma forma para a evolução de um precisa-se da evolução de todos. Ele também é usado como amuleto de proteção pendurado no pescoço ou sobre a porta de entrada das casas. Em alguns rituais, ele é utilizado para invocar a grande Deusa. Os celtas acreditam que se o nó for colocado abaixo do que deseja, ele absorverá tal coisa para sua vida. Ele estará eternamente na magia de luz e aos mestres da sabedoria divina. O símbolo serve para quem quer estar na senda da luz e da sabedoria. Pensei que, apesar desses símbolos representarem muito bem o Teor do Projeto, ao olhá-los não me sentia fitando algo que pudesse representar um projeto de Taiko. Procurei, então, refletir sobre o corpo do nó e o porquê desse representar tão bem o teor do Projeto; cheguei à conclusão de que sua forma fechada entrei si, do início ao fim, era o fator importantíssimo. Procurei ligar esse conceito ao símbolo já existente chamado “MItsU toMoE”, que representa universal-mente o Taiko.

Nó CELTA

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Seu nome é Tomoe, com o significado de ciclo ou giro, referindo-se ao movimento da terra. O Tomoe é relacionado ao símbolo do yin-yang (tao), e também é apresentado com um significado semelhante: as diferentes forças no universo. Ele representa o Deus da guerra Hachiman (protetor dos guerreiros), e a divisão do universo numa visão Xintoísta, onde suas vírgulas representam A Terra (mundo físico), Os Céus (mundo espiritual) e a Humanidade. Diz-se também que é o símbolo que representa o Deus do Trovão no Japão, o Kaminari. Quando tem uma tempestade e ou-vem-se os trovões, diz a lenda que na verdade esse barulho é o Kaminari batucando em seus enormes tambores lá em cima das nuvens.

MITSU TOMOE

Então, no Japão, esse desenho simboliza não somente a força do trovão, mas força em geral. Os praticantes do Taiko geralmente usam esse desenho pintado nas peles dos tambores. Estes tambores eram usados nas batalhas campais dos samurais. Este símbolo já foi usado como insígnia por samurais e atualmente é amplamente usado no Japão em brasões familiares e logoti-pos de empresas.

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RESULTADO: ALIANÇA TAIKO DO BRASIL

A forma contínua do símbolo representa o fluxo de conhecimento que chega em todos os can-tos do ideograma, de forma homogênea e sem parar; toda sabedoria, quando colocada no projeto, é passada adiante, juntamente com as que foram absorvidas anteriormente e lá dentro

se fazem eternas.O entrelaçamento das linhas representa muito bem a força necessária para ter sucesso no projeto; é indispensável o empenho e a inte-gração de grupos diferentes para se fazer o “Nó”.

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A seguir descritivo que foi mandado aos grupos de taiko:

Descritivo

O PROJETO

“O projeto tem como objetivo disseminar o conhecimento dos grupos de taiko brasileiros.Muitos se encontram estagnados devido à falta de condições para trazer professores doJapão e até mesmo do Brasil. Ao realizar esse projeto, estaríamos possibilitando a expansãodos grupos participantes com o potencial já ex-istente nos tocadores brasileiros, tudo na baseda troca de experiências, integração. Assim, cada músico poderia voltar ao seu grupo, apóscada ensaio, com mais conteúdo para ser explorado e desenvolvido pelo seu time. O projetovisa suprir essa carência da essência do Taiko através da sua prática coletiva.Não sendo restrito a nenhuma associação ou departamento, é um projeto independente eaberto a todos os tocadores do Brasil que queiram participar.O projeto também procura desenvolver os envolvidos como músicos, explorando outrasculturas, ritmos e sons.Serão realizados treinos com planejamento para a necessidade de todos os integrantes egrupos do projeto, planeja-se de antemão con-teúdos que sejam inicialmente importantespara todos os tocadores voltarem aos seus grupos e terem algo “novo” ou “diferente” parapassar. A experiência de todos será utilizada

para a construção dos treinos e mais ainda parao conteúdo que será discutido.Por ser um projeto completamente indepen-dente, teremos que contar com a colaboraçãode todos os interessados para se dirigirem ao local do ensaio e bancar seus próprios gastos.Fica evidente o caráter extremamente coletivo e de integração desse projeto. O objetivo éque ele perpetue por muito tempo após seu primeiro ensaio, que a aliança consiga crescercada vez mais e ajudar todos os grupos que sentirem necessidade.Com a execução dos treinos, com os diálogos criados entre os tocadores e suas diversasexperiências, os participantes comprometidos conquistarão para si um desenvolvimento daessência do Taiko em sua contemplação e práti-ca. Não falamos somente de questões técnicase teóricas, mas a compreensão de significados que vão além do que se pode explicarfalando, só se torna explicável na experiência da prática.Gostaríamos de deixar claro que esse projeto não visa, de forma alguma, competir comoutras Associações vinculadas ao Taiko e sim fortalecer o elo entre todos os praticantesdessa atividade.”

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Artigo Publicadono site felipetamashiro.com, escrito e publicado por Felipe Tamashiro:

Compartilhando informações e desenvol-vendo o Taikô Nacional

“Há alguns anos atrás, no que eu considero o primeiro grande avanço técnico dos grupos do Brasil, alguns jovens de diversos grupos treina-vam juntos e ajudavam os demais grupos a se desenvolverem. Eles recebiam treinamentos de instrutores qualificados, discutiam o que pode-ria ser melhorado e viajavam para ajudar os outros grupos. Era algo promissor. Iniciei minha prática no Taikô nesta época e achava incrível como integrantes de diversas equipes conseguissem ter uma amizade tão intensa. Digo isso porque estes jovens eram

os líderes de seus grupos e tinham suas car-acterísticas e vaidades, talvez até rivalidades, mas conseguiam se respeitar e formar um grupo muito forte. Também vi a dispersão deste grupo. Da mesma forma que ele foi criado, com incentivo externo, também foi disperso, com a falta de incentivo. Naquela época, este grupo era formado na maior parte por estudantes que eram extrema-mente técnicos, porém, com pouca visão administrativa e empreendedora. Mas as coisas mudaram. Atualmente, muitos desses jovens já estão

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formados, possuem sua profissão e estão mais maduros. Já era de se esperar que muitos vol-tassem a pensar também naquele grupo que formaram antes. Ultimamente, tenho visto tentativas de reunir novamente tocadores de diversos grupos com o mesmo intuito. Sem sucesso. Talvez pelo fato de sempre terem a dependência de incentivo externo, como estavam acostumados. Minha opinião mudou. Uma reunião de longa duração, uma idéia, a verificação da oportunidade e o estudo da viabilidade. Os jovens voltaram a conversar e planejar algo que, segundo minha previsão, tem tudo para dar certo. O objetivo principal é claro. Unir novamente tocadores interessados em trocar informações em um grupo aberto, independente, sem estilos específicos, treinando para o desenvolvimento do Taiko nacional. Há muito trabalho pela frente e muitos de-

safios. Mas o principal já foi feito, a iniciativa de criar algo que os tocadores necessitam, treinos de alta qualidade técnica. Cabe aqui um comentário pertinente: o intu-ito deste grupo é agregar, desenvolver, e está muito longe de querer ir de encontro a algum grupo ou associação. Muito pelo contrário; é bem possível que estes jovens ajudarão, como sempre fizeram. Finalizando, isto será muito bom para os to-cadores de diversos grupos. Mas teremos que ter paciência, visto que não se estrutura um projeto desses de um dia para o outro. Bom, agora é com você. Deixe sua opinião. Obrigado!”

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Relatórios de Treinamento

ALIANÇA TAIKO DO BRASILRELATÓRIO DE TREINAMENTO

Local: Bauru /SPNúmero aproximado de tocadores: 30

Cronograma executado:09h00/10h00 – Café (reunião com o representante de cada grupo) 10h00/11h00 – Alongamento + Aquecimento 11h00/12h30 – Treinamento de Kihon diversos 12h30/13h30 – Almoço 13h30/14h30 – Conteúdo teórico + Dinâmica de grupo 14h30/17h00 – Treinamento de elaboração de música

O treinamento se deu com o início de uma hora de alongamentos e exercícios de aquecimento e integração.Após a descontração do aquecimento, começou o treinamento prático com Taiko. Primeiramente, foi feita uma exposição do ideal de treinamento do Projeto Aliança de Taiko do Brasil, destacando a importância de não, necessariamente, se espelhar no modelo padrão de treinamentos regionais do Brasil, onde os tocadores se encontram em uma posição passiva de conhecimento em relação aos líderes que os ensinam, pois no Projeto Aliança nenhum tocador terá a identidade de um líder responsável pelo conhecimento geral do treino, todos são responsáveis pela construção do con-hecimento e pela forma como o mesmo será passado, e assim o fizemos.Os tocadores tiveram espaço para mostrarem Kihon que treinam em seus grupos e todos pudem-os absorver esses diversos conhecimentos de forma organizada,+- com revezamento de tocado-res que se colocavam à frente, contribuindo com o treino.Depois do treinamento de kihon diversos, com duração de uma hora e meia, já estávamos no

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horário do almoço.Em seguida, iniciamos a dinâmica entre os participantes. Consistiu em separar grupos pequenos de pessoas de associações diferentes para discutir uma problemática que pode ocorrer em diver-sos grupos do Brasil; foi apresentado o caso de um membro problemático, um tocador que pode ter dificuldade de aprendizado, mas que o problema maior é sua tendência em incentivar as famo-sas “panelinhas” nos grupos e assim causar um desgaste das relações entre os componentes. A dinâmica era discutir uma forma de dar uma solução para tal problema.Conversando separadamente, cada time pôde chegar a uma conclusão, que foi apresentada e discutida por todos. Após esse exercício, foi feita uma pequena palestra expondo conhecimentos para a construção e execução de uma música em um grupo, fundamentado em questões filosóficas pertencentes às artes mais tradicionais japonesas, fundamentos da doutrina Zen.Com todos novamente separados em quatro grupos, iniciamos o treinamento de elaboração de músicas.Foi discutida a sugestão de alguns temas em reunião, e o que foi decidido entre todos é que o tema da música que iria ser confeccionada seria exatamente o projeto no qual estamos trabalhan-do, o Projeto Aliança de Taiko. Tal tema foi dividido em quatro “etapas”:1 – Individualidade: Onde cada grupo existe isolado em sua cidade e rotina, vivendo de sua ma-neira sem pensar na interação com outros.2 – Movimentação: Representa os grupos tendo a iniciativa de saírem do isolamento e se unirem para tentar construir algo em conjunto.3 – Aprendizado: Depois de unidos, todos trabalhando juntos para trocar o máximo de informa-ções e conhecimento.4 – “Onigiri”: Os grupos mostrando os resultados da identidade criada e o trabalho que são ca-pazes de elaborar com essa união. Obs.: “Onigiri” foi uma palavra descontraída para expressar a idéia de “todos juntos e unidos” criada espontaneamente pelos participantes do projeto como resultado de momentos lúdicos do treino.Cada grupo teve uma hora para tentar construir um minuto de música, e para a dinâmica ficar mais interessante, foi escolhido um coringa que distribuiu qual seria a “etapa” a ser representada por cada grupo, comunicando secretamente um de cada vez; desta forma cada um só sabia do tema que estava trabalhando e não fazia idéia do tema dos outros grupos.Após uma hora, os grupos atingiram a expectativa. A média foi de 45 segundos a 1:15 minuto.Então se iniciaram as apresentações. Os grupos mostraram o que fizeram enquanto os outros que desconheciam o tema tentavam adivinhar qual era, para testar a coesão da forma como con-struíram sua parte da música. Os grupos foram facilmente identificados com seus temas, pois conseguiram trabalhar bem a

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idéia de se fundamentar em uma idéia para construir batidas e movimentos significativos. E após a demonstração, tinham que justificar a forma como fizeram sua parte em relação ao seu tema, explicando batidas e movimentos.Com quatro partes da música construídas, todos se juntaram para começar a aprender e ensinar o produto do treino, e aos poucos, em conjunto, foram sendo construídos os “links” entre as partes diferentes e adições de melhorias na estrutura das frases.O objetivo do primeiro dia de treinamento do grupo Aliança foi alcançado com êxito.

ALIANÇA TAIKO DO BRASILRELATÓRIO DE TREINAMENTO

Local: Bauru /SPNúmero aproximado de tocadores: 40

Cronograma executado:09h00/10h00 – Café (no alojamento) 10h00/11h00 – Alongamento + Aquecimento 11h00/12h30 – Treinamento de Kihon diversos12h30/13h30 – Treino de Improvisação e Expressão Corporal 13h30/14h30 – Almoço 14h30/15h30 – Estudo de Partituras 15h30/16h30 – Elaboração de música16h30/17h30 – Estudo de música do grupo Mugenkyo de Bauru 17h30/18h00 – Reunião

Para o segundo dia de treino, tivemos a participação de mais dois grupos que não puderam com-parecer no sábado.O Alongamento, aquecimento e Kihons ocorreram como no dia anterior. Após essas atividades, os participantes propuseram uma atividade diferenciada, descrita acima como o “Treino de Improvisa-ção e Expressão Corporal”; basicamente, montamos um “Palco” com um nagado, dois okedodai-kos, um shimê (no zadai) e um fue. O desafio era: a cada rodada teríamos que usar um membro de cada grupo em cada posição; a platéia (os outros tocadores) decidia a ordem de início dos instrumentos na música e os tocado-res dispostos nos instrumentos tinham que “dar um show”. Antes de a atividade iniciar, tocadores lembraram da importância da expressão corporal para tal exercício.Pudemos perceber que todos apreciaram muito o exercício e foram feitas muitas rodadas de músicas, com os tocadores sugerindo até instrumentos menos usuais.Após o almoço, os tocadores com mais experiência em leitura de partituras elaboraram uma breve

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aula sobre o assunto. Logo após o estudo, separamos os menos experientes em pequenos gru-pos, cada um recebendo um papel de partitura que deveria ser tocado a todos os outros grupos por um tocador escolhido. Os mais experientes ajudaram os colegas nas dúvidas, transitando de um grupo para o outro.Depois dessa atividade, as pessoas que haviam comparecido no treino de sábado ficaram encar-regadas de passar o que havia sido feito no dia anterior aos demais e pudemos treinar em con-junto.Para a outra atividade, o grupo Mugenkyo de Bauru apresentou uma música escolhida por eles a todos os presentes. Após a apresentação, separamos os instrumentos iguais em grupos e os toca-dores de grupos diferentes se auxiliaram, cada um com seu conteúdo, na melhoria de detalhes da música.Na reunião final, pedimos a opinião dos representantes de cada grupo e de todos que queriam se expressar sobre o projeto.

PARTICIPANTES:

1.Isabella Midena Capelli2.Daniela LieUwada3.Rodrigo Chibana4.giuliano Di Seveno5.André Luiz Yamamoto6.Maíra Yassumi Nakazone de Mello7.Marcus Vinicius Borba Cezarino8.Deborah Enjiu Shimada9.grace Mayumi Katayama10.Marjorye Kaori Kametani11.Leonardo Jun Akagi12.Thiago Hideki13.Bianca Satie14.Carolina P. F. Almeida15.Isabella Midena Capelli16.Jaqueline Yumi Seki17.Jorge Henrique Yuiti Seki18.Julia Yurie Seki19.Julia Akemi Kato20.Renan Ishikawa21.Julia Ishikawa

22.Laura de Almeida Meyer23.Beatriz de Almeida Meyer24.Eduardo Hideki25.Mhai Ozawa26.Livia Dinardi27.Nicolas28.Yugo29.Enzo30.Matheus31.Kethy32.Camila33.Robson Takao34.Mori Ichikawa35.Erico Tooru36.Yamada37.Everton Teruo38.Mori Ichikawa39.Thiago Rolim40.Felipe Tamashiro41.Camila Akashi42.André dos Passos Pacano

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Conclusão

Aqui foi concebido um projeto que procura perpetuar e jamais enfraquecer. Esse só se mostrou possível ao encontrar um ingrediente essencial: a aliança, seja essa entre as pessoas, os conceitos, os pensamentos, as músicas. Cada um de nós representa um todo e o Todo somos nós, diferentes em suas particularidades e essenciais em suas diferenças.

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Vídeo:Feito por Felipe Tamashiro do primeiro treino da Aliança Taiko.