dos elementos e efeitos da sentenÇa · 2020. 2. 29. · seção ii dos elementos e dos efeitos da...

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1 Professora: Cristiana Mendes DOS ELEMENTOS E EFEITOS DA SENTENÇA Técnica de leitura de um Julgamento Sentença era definida como o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa (CPC/73, art. 162, § 1º). Nos termos do novo art. 203, § , “sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum , bem como extingue a execução ”. Seção II DOS ELEMENTOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA Art. 489 do NCPC São elementos essenciais da sentença: I o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação , e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo. O relatório é um resumo da demanda (demonstração de que o juiz tem pleno conhecimento da demanda que está julgando), no qual o juiz indicará. Dispensa-se nos Juizados Especiais prolação de sentença sem relatório (art. 38 da Lei 9099/95).

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Page 1: DOS ELEMENTOS E EFEITOS DA SENTENÇA · 2020. 2. 29. · Seção II DOS ELEMENTOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA Art. 489 do NCPC – São elementos essenciais da sentença: I – o relatório,

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Professora: Cristiana Mendes

DOS ELEMENTOS E EFEITOS DA SENTENÇA

Técnica de leitura de um Julgamento

Sentença era definida como “o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o

mérito da causa” (CPC/73, art. 162, § 1º).

Nos termos do novo art. 203, § 1º, “sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com

fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a

execução”.

Seção II

DOS ELEMENTOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA

Art. 489 do NCPC – São elementos essenciais da sentença:

I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com

a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências

havidas no andamento do processo.

O relatório é um resumo da demanda (demonstração de que o juiz tem pleno conhecimento da

demanda que está julgando), no qual o juiz indicará. Dispensa-se nos Juizados Especiais – prolação de

sentença sem relatório (art. 38 da Lei 9099/95).

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As partes;

Uma breve suma do pedido;

Uma breve suma da defesa;

A descrição dos principais atos praticados no processo.

Relatório Per Relationem O STJ admite a figura do relatório per relationem (AgR. no Ag.

451.747/SP). Este relatório é aquele feito apenas por referência a outro anteriormente lançado nos

autos, como, por exemplo, em acórdãos, com a utilização do relatório da sentença impugnada ou

quando há utilização do relatório já realizado na ação conexa.

O relatório é elemento essencial e indispensável da sentença e sua ausência prejudica a análise

desta, acarretando sua nulidade (STJ – Resp. 25082/RJ). A doutrina majoritária afirma ser nulidade

absoluta ( Cassio Scarpinella Bueno), mas alguns afirmam se tratar de nulidade relativa (Daniel Amorim

Assunção Neves), pois somente se invalidaria a sentença se houvesse efetivamente prejuízo.

Art. 489 do NCPC – São elementos essenciais da sentença:

(...)

II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

A exigência de fundamentação é constitucional, prevista no art. 93, IX da CF. “São os porquês

do ato decisório” (Daniel Amorim Assunção Neves). Assim, toda decisão deve ser fundamentada sob

pena de nulidade (absoluta).

A decisão fundamentada, embora contrária à expectativa da parte, não importa em negativa de

prestação jurisdicional ou ausência de fundamentação. No julgamento da questão de ordem no AI-QO-

RG 791.292, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 13.08.2010, entendeu-se que a

decisão judicial tem que ser fundamentada (art. 93, IX), ainda que sucintamente, sendo prescindível que

a mesma se funde na tese suscitada pela parte.

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O Fim das Decisões Judiciais Genéricas

O processualista Alexandre Freitas Câmara afirma que a regra não trará grandes mudanças para

os magistrados que sabem fundamentar. E ainda acrescentou que “não se pode conviver com falsas

fundamentações (do tipo “ausentes os requisitos, indefiro”) que nada dizem e são incompatíveis

com o Estado Democrático de Direito.”

“Ementa: PROCESSUAL CIVIL. NULIDADE DO ACÓRDÃO. AUSÊNCIA DE

FUNDAMENTAÇÃO. ARTS. 130 E 535 DO CPC. VIOLAÇÃO. OCORRÊNCIA. 1. É nulo o acórdão que,

sem esclarecer os fundamentos jurídicos da solução adotada, se limita a confirmar a sentença recorrida.

Violação dos arts. 130 e 535 do Código de Processo Civil. 2. Na sessão do último dia 20.09.2007, no

julgamento do AgRg no AgRg no Ag 749.394/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, a Segunda Turma

consignou que as decisões que simplesmente façam remissão aos fundamentos de outra ou de parecer

do Ministério Público sem, ao menos, transcrevê-los, devem ser declaradas nulas, determinando-se o

retorno dos autos para que novo julgamento seja proferido. 3. Necessário determinar-se o retorno dos

autos ao Tribunal de origem para que seja proferida nova decisão. Prejudicado o exame do mérito. 4.

Recurso especial provido.” STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 841823 MS 2006/0071176-1 (STJ) Data

de publicação: 09/11/2007.

“APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDÊNCIA PRIVADA. AÇÃO INDENIZATÓRIA E REVISIONAL.

AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE A AÇÃO

RECONVENCIONAL. ATO JUDICIAL EM CONFRONTO COM A GARANTIA CONSTITUCIONAL QUE

IMPÕE A NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS. OFENSA A NORMA DO ART.

93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E AO ART. 489 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE

2015. ANULAÇÃO DO JULGADO QUE SE IMPÕE. PRECEDENTES DO E. STJ. E DESTA COLENDA

CORTE. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CAUSA MADURA, A QUE ALUDE O

ART. 1013, § 3º DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO

PARA ANULAR O JULGADO.” TJRJ APELAÇÃO CÍVEL Nº 0010871-07.2013.8.19.0042 12ª Câmara

Cível.

São comuns as decisões em que se invocam, na análise das questões jurídicas, tão-somente

precedentes jurisprudenciais, mais das vezes transcrevendo-se apenas as respectivas ementas no corpo do

julgado. São os “fundamentos aliunde”.

A decisão sem motivação.

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Como já se disse, a motivação tem conteúdo substancial, e não meramente formal. É bastante comum

o operador do direito deparar-se, no seu dia-a-dia, com decisões do tipo “presentes os pressupostos legais,

concedo a tutela antecipada”, ou simplesmente “defiro o pedido do autor porque em conformidade com as

provas produzidas nos autos”, ou ainda “indefiro o pedido, por falta de amparo legal”

MODELO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM EFEITOS INFRINGENTES

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de XXXXXXXX

Ref. Processo número:

XXXXXXXXXX, já qualificado nos autos em epígrafe, vem perante V. Exa, por intermédio de seu

procurador regularmente constituído, com fulcro nos artigos 1022, incisos I e II do CPC 2015, interpor

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM EFEITOS INFRINGENTES, conforme se segue:

Inicialmente, esclarece que o recurso é tempestivo, eis que interposto dentro do prazo de 5 (cinco) dias

úteis, bem como que o mesmo independe de preparo.

Como já assentado na Doutrina e na Jurisprudência tem-se que os Embargos de Declaração com efeitos

infringentes se justificam, não só, pela necessidade precípua de aclaramento de pontos omissos, mas também,

excepcionalmente quando utilizados como remédio corretivo para um julgamento com erros de fato,

manifestados em premissas equivocadas influentes para a decisão, para suprimento de omissão e extirpação

de contradição.

O Nobre Julgador utilizou-se de um acórdão que não pode servir de paradigma ou precedente ao

presente caso, tendo empregado conceitos jurídicos indeterminados, bem como invocado motivos que

se prestariam para qualquer outra decisão, violando-se assim, o prestigiado artigo 489, § 1º do CPC que

tem aplicação imediata aos processos em curso, pois não se considera fundamentada, nesse caso, a valiosa

sentença.

Na r. sentença, percebe-se que é clara a ocorrência de “omissão”, pois não houve indicação dos

fundamentos determinantes, não o particularizando no caso concreto, incorrendo o Nobre Julgador em

verdadeiro error in procedendo intrínseco, sendo nulo o julgamento.

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Por outro lado ( cabe ao advogado expor outras razões de direito) merecendo assim, o esclarecimento

das questões ora suscitadas, a saber:

DOS PEDIDOS FINAIS:

A interposição dos presentes Embargos de Declaração justifica-se, em primeiro lugar, pela TOTAL

OMISSÃO da r. sentença quanto aos fundamentos constantes nos autos, configurando, tal situação, motivo

de nova entrega da prestação jurisdicional, na medida em que retira do embargante o direito de ver seus

argumentos examinados, implicando num julgamento nulo de pleno direito.

Ainda, pelas contradições e obscuridades, requer aclaramento deste Douto Juízo, para que a valiosa

sentença possa ser corrigida e não cause dúvidas na sua interpretação.

Diante de todo o exposto, espera e suplica o Embargante pelo conhecimento e provimento dos

presentes Embargos de Declaração, inclusive pelo seu caráter infringente, intimando previamente os

embargados, para contrarrazões, no prazo legal, nos termos do art. 1023, § 2º, CPC, por medida de inteira

Justiça!

Aproveita o Embargante, outrossim, para realizar o prequestionamento necessário, a saber:

Termos em que pede deferimento. Local e Data.

Havendo falta de fundamentação o recurso adequado é o Recurso de Apelação com a

alegação de error in procedendo intrínseco, ainda que excepcionalmente possam ser admitidos

embargos de declaração com efeitos infringentes. Agora, o Novo Código de Processo Civil, no artigo

1013, § 3º, IV, consagra a aplicação da teoria da causa madura na hipótese de nulidade de sentença

por falta de fundamentação.

TEORIA DA CAUSA MADURA. Possibilidade de aplicação da teoria da causa madura em

julgamento de agravo de instrumento. Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, §

3º, do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do CPC/2015) em julgamento de agravo de instrumento.

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Ex: 0 MP ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo e Pedro pedindo a

indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz deferiu a medida em relação a todos eles, no entanto,

na decisão não houve fundamentação quanto à autoria de Pedro. Diante disso, ele interpôs agravo de

instrumento. O Tribunal, analisando o agravo, entendeu que a decisão realmente é nula quanto a Pedro

por ausência de fundamentação. No entanto, em vez de mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal

decidiu desde lodo o mérito do pedido e deferiu a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de

Pedro, apontando os argumentos pelos quais este requerido também praticou, em tese, ato de

improbidade. STJ. Corte Especial. REsp 1.215.368-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em

1/6/2016 (Info 590).

Caso concreto: Paulo ingressou com ação indenizatória contra Rafael pleiteando a condenação

do réu ao pagamento de R$ 250.000,00 a título de danos morais, alegando que sofreu difamação,

afetando-lhe direito da personalidade. O MM. Juiz de Direito condenou Rafael ao pagamento de R$

100.000,00, sendo que da sentença somente Paulo recorreu para majorar os danos morais. O Tribunal

entendeu que havia vício de legitimidade passiva de parte, considerando que a boataria partiu de diversa

pessoa e não de Rafael. Poderia o Tribunal extinguir o processo sem resolução do mérito, reformando

a sentença de primeiro grau?

Coisa Julgada e Fundamentação – Regra geral é que a fundamentação não faz coisa julgada

material (art. 504, I do NCPC). Há questões, no entanto, que devem ser decididas e não somente

conhecidas. São as questões postas para uma solução principaliter tantum (thema decidendum):

compõem o objeto do juízo. Somente em relação a estas é possível falar-se de coisa julgada.

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. CONDOMÍNIO EDILÍCIO. ANULAÇÃO DE ASSEMBLEIA-

GERAL EXTRAORDINÁRIA. PRESENÇA DE VÍCIOS. INEXISTÊNCIA DE COISA JULGADA. A

FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO, INCLUÍDAS AS RAZÕES DE DECIDIR, NÃO VINCULAM AS

PARTES DO PROCESSO. PRECEDENTES. STJ. INOBSERVÂNCIA DA CONVENÇÃO QUANTO AOS

REQUISITOS PARA CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLÉIA. IRREGULARIDADE DO QUÓRUM DE

VOTAÇÃO. Apenas o dispositivo da sentença faz coisa julgada, vinculando objetivamente as partes do

processo (art. 469 do CPC/73 e art. 504 do CPC/2015). Os motivos e a versão dada pelo julgado aos

fatos não fazem coisa julgada. Inobservância das disposições previstas na Convenção para a regular

convocação da Assembleia. A votação da matéria levada a AGE está inquinada de nulidade,

considerando que a mesma não obedeceu ao quórum fixado na convenção. Conhecimento e

desprovimento do recurso. 0004108-93.2014.8.19.0061 – APELAÇÃO Des(a). ROGÉRIO DE OLIVEIRA

SOUZA - Julgamento: 25/04/2017 - VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL.

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Ratio decidendi e obiter dictum.

A ratio decidendi são os fundamentos jurídicos que sustentam a decisão; a opção hermenêutica

adotada na sentença, sem a qual a decisão não teria sido proferida como foi; trata-se da tese jurídica

acolhida pelo órgão julgador no caso concreto. “A ratio decidendi (...) constitui a essência da tese jurídica

suficiente para decidir o caso concreto (rule of law)”. TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente judicial

como fonte do Direito. São Paulo: RT, 2004, p. 175.

Já o obiter dictum (obiter dicta, no plural) consiste nos argumentos que são expostos apenas de

passagem na motivação da decisão, consubstanciando juízos acessórios, provisórios, secundários,

impressões ou qualquer outro elemento que não tenha influência relevante e substancial para a decisão

(“prescindível para o deslinde da controvérsia”), sendo apenas algo que se fez constar “de passagem”,

não podendo ser utilizado com força vinculativa por não ter sido determinante para a decisão.

Trecho de uma Sentença. (...) É importante mencionar que nos dias de hoje, a relação é mais

virtual do que pessoal, afastando as pessoas de um convívio maior e fraterno. Nas relações de

vizinhança, assegura-se a saúde, o sossego e a segurança, de modo que qualquer interferência nefasta

pode ser analisada pelo Judiciário. Assim, julga-se procedente o pedido de danos morais, revelando-se

o nexo de causalidade entre a autoria e o dano, cabendo ao réu compensar os prejuízos sofridos pelo

autor, em decorrência de ......., no valor de R$................, observada a demonstração cabal do fato

constitutivo do direito do autor, cabendo à parte contrária arcar com as custas e honorários advocatícios

de 10% sobre o valor atualizado da causa.

Fundamentação Per Relationem –Tal forma de fundamentação é expressamente vedada pelo

art. 1.021, § 3º, do NCPC no julgamento do agravo interno, sendo nulo o acórdão desse recurso se

limitado a transcrever as razões do decidir monocrático.

Quais os motivos dessa necessidade de fundamentação?

1. SUPERFICIALIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO DOS JULGADOS

2. AUSÊNCIA DE ANÁLISE PANORÂMICA DOS FUNDAMENTOS

3. USO INADEQUADO DOS PRECEDENTES NO BRASIL

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4. ALTA INSTABILIDADE DECISÓRIA

5. ABSOLUTA INSEGURANÇA JURÍDICA

Art. 489 do NCPC – São elementos essenciais da sentença:

(...)

III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe

submeterem.

Dispositivo é a conclusão decisória da sentença, representando o comando da decisão. A sua ausência

gera vício gravíssimo até mesmo porque uma decisão sem dispositivo não é propriamente uma decisão, porque

nada decide. (Daniel Amorim Assunção Neves)

§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,

sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar

sua relação com a causa ou a questão decidida;

II- empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua

incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,

infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

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V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus

fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta

àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela

parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação

do entendimento.

(...) 5. Assim, necessário se faz a técnica hermenêutica do distinguishing

para concluir pela inaplicabilidade do precedente consubstanciado no

recurso especial nº 1.159.189/RS, pois os fundamentos fáticos ali

destacados, que foram reconhecidos pelo Tribunal a quo, não estão

presentes no acórdão ora recorrido. 6. Agravo regimental não provido.

(STJ, AARESP 201202262460, MAURO CAMPBELL MARQUES -

SEGUNDA TURMA, DJE DATA:13/05/2013)

Lorena Miranda Santos Barreiros ( Editora Jus Podivum ) destaca que existe um direito subjetivo à

distinção.

Esse direito fundamental da parte é baseado nos seguintes alicerces: a) o Magistrado tem o dever de

consultar as partes antes da exclusão de um precedente à luz do princípio da cooperação no processo civil; b)

o Magistrado tem o dever de fundamentação quanto à escolha de um certo precedente no caso concreto,

apontando a presença de similitudes fáticas e jurídicas; c) o Magistrado tem o dever de fundamentar a exclusão

do precedente, apontando a ausência de similitudes fáticas e jurídicas.

É ônus da parte, para os fins do disposto no art. 489, § 1º, V e VI, do

CPC/2015, identificar os fundamentos determinantes ou demonstrar a

existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do

entendimento, sempre que invocar jurisprudência, precedente ou

enunciado de súmula. Enunciado 9 ENFAM.

§ 2o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais

da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma

afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão.

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§ 3o A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus

elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé.

-REGRAS E PRINCÍPIOS. PREVISÃO LEGAL DA TÉCNICA DE PONDERAÇÃO DE VALORES. No

conflito entre regras, existem os critérios tradicionais de solução de conflito: hierarquia, cronologia e

especialidade.

Art. 489 § 2º do NCPC – No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios

gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as

premissas fáticas que fundamentam a conclusão.

“Precisamos desses critérios para racionalizar os argumentos e ter qualidade na argumentação jurídica”,

explicou Robert Alexy, ao demonstrar que diferentes princípios (como a dignidade humana e a liberdade de

expressão) recebem pesos diferenciados em sua fórmula, fazendo a balança pender para um dos lados.

Segundo o jurista, os argumentos são mais claros com a utilização de critérios racionais para equilibrar

princípios colidentes, no processo que ele chama de “ponderação de princípios”.

“Entre as teses possíveis, a fórmula é útil para exprimir o valor de cada princípio conflitante, o que pode

ser utilizado para dar mais confiança na legislação”, argumentou.

DA COISA JULGADA

Conceito multifacetado. O NCPC restringiu-se aos conflitos intersubjetivos de interesses. Não houve qualquer

regulamentação das ações coletivas. A coisa julgada é uma condição de existência do Poder Judiciário, pois

se os litígios pudessem ser reabertos a qualquer momento, a autoridade judicial restaria prejudicada na origem.

CASAD, Robert C., CLERMONT, Kevin M. Res Judicata. A handbook on its theory, doctrine and practice.

Durham: Caroline Academic Press, 2001.

Nas lições de Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr.: “o regime jurídico da coisa julgada é visualizado a

partir da análise de três dados: a) os limites subjetivos – quem se submete à coisa julgada; b) os limites objetivos

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– o que se submete aos seus efeitos; c) e o modo de produção – como ela se forma” (Curso de Direito

Processual Civil. Processo Coletivo. Vol 4. 5 ed. p. 363).

Seção V

Da Coisa Julgada

Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e

indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.

Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites

da questão principal expressamente decidida.

§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida

expressa e incidentemente no processo, se:

I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;

II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso

de revelia;

III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como

questão principal.

§ 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou

limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial.

Art. 504. Não fazem coisa julgada:

I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da

sentença;

II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.

Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma

lide, salvo:

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I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no

estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi

estatuído na sentença;

II - nos demais casos prescritos em lei.

Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando

terceiros.

Art. 507. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a

cujo respeito se operou a preclusão.

Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e

repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao

acolhimento quanto à rejeição do pedido.

REQUERIMENTO DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Processo número

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos em epígrafe, vem perante V. Exa., mui

respeitosamente, na ação de xxxxxxxxxxxxxxxxxxx que move em face de xxxxxxxxxxxxxxxxx, pelo

procedimento comum, tendo em vista a prolação por esse MM. Juiz de Direito de uma sentença ilíquida

reconhecendo o seu direito, vem por intermédio de seu procurador devidamente habilitado requerer

LIQUIDAÇÃO NA MODALIDADE DE ARBITRAMENTO por assim determinar o artigo 509, inciso I, CPC, em

razão da natureza do objeto da liquidação, devendo ser nomeado perito ( art. 510, CPC), até ulterior decisão

final.

Termos em que

Pede Deferimento.

Local e Data.