dos crimes contra a dignidade sexual

38
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL Os crimes contra a dignidade sexual foram alterados pela Lei 12.015/2009. Até 2009 existiam dois crimes sexuais violentos, quais sejam o estupro e o atentado violento ao pudor. Estupro era o art. 213 e atentado ao pudor 214. Eram dois crimes previstos em tipos autônomos. Ambos eram estritamente dolosos; ambos materiais; ambos unissubjetivos; plurissubsistentes; e instantâneos. Ambos eram de conduta vinculada, pois só podiam ser praticados de três formas: ou com violência ou com ameaça ou com presunção de violência (que era a hipótese do art. 224). O que o CP chamava de violência presumida, Gamil denomina de consentimento inválido. Os dois crimes já eram hediondos em todas as suas modalidades. Estupro exigia que o sujeito ativo fosse um homem e o sujeito passivo, do estupro, só podia ser mulher (nascida mulher). A doutrina discutia se o marido cometia estupro em relação a mulher: primeira corrente dizia que não havia estupro, em virtude do débito conjugal; a segunda corrente defendia que a mulher poderia rejeitar a cópula desde que por motivo relevante (ex.: marido com aids); a terceira corrente diz que a esposa pode ser vítima de estupro, sem ressalvas. O estupro só se consumava se houvesse cópula vagina. No atentado violento ao pudor, o sujeito ativo podia ser homem ou mulher; e o sujeito passivo também podia ser homem ou mulher; tanto em relações heterossexuais, quanto nas relações homossexuais. Obs.: a expressão ato libidinoso precisava ser interpretada à luz da ofensividade. A doutrina e jurisprudência entediam que ato libidinoso diverso da conjunção carnal seria somente aquele que tivesse ofensividade. Sem ofensividade o crime poderia ser desclassificado para ato obsceno ou para constrangimento ilegal. Obs.: existia uma discussão forte se podia haver concurso entre estupro e atentado violento ao pudor. A 1

Upload: yohanna-queen

Post on 02-Jan-2016

24 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Os crimes contra a dignidade sexual foram alterados pela Lei 12.015/2009. Até 2009 existiam dois crimes sexuais violentos, quais sejam o estupro e o atentado violento ao pudor. Estupro era o art. 213 e atentado ao pudor 214. Eram dois crimes previstos em tipos autônomos. Ambos eram estritamente dolosos; ambos materiais; ambos unissubjetivos; plurissubsistentes; e instantâneos. Ambos eram de conduta vinculada, pois só podiam ser praticados de três formas: ou com violência ou com ameaça ou com presunção de violência (que era a hipótese do art. 224). O que o CP chamava de violência presumida, Gamil denomina de consentimento inválido. Os dois crimes já eram hediondos em todas as suas modalidades. Estupro exigia que o sujeito ativo fosse um homem e o sujeito passivo, do estupro, só podia ser mulher (nascida mulher). A doutrina discutia se o marido cometia estupro em relação a mulher: primeira corrente dizia que não havia estupro, em virtude do débito conjugal; a segunda corrente defendia que a mulher poderia rejeitar a cópula desde que por motivo relevante (ex.: marido com aids); a terceira corrente diz que a esposa pode ser vítima de estupro, sem ressalvas. O estupro só se consumava se houvesse cópula vagina. No atentado violento ao pudor, o sujeito ativo podia ser homem ou mulher; e o sujeito passivo também podia ser homem ou mulher; tanto em relações heterossexuais, quanto nas relações homossexuais.

Obs.: a expressão ato libidinoso precisava ser interpretada à luz da ofensividade. A doutrina e jurisprudência entediam que ato libidinoso diverso da conjunção carnal seria somente aquele que tivesse ofensividade. Sem ofensividade o crime poderia ser desclassificado para ato obsceno ou para constrangimento ilegal.

Obs.: existia uma discussão forte se podia haver concurso entre estupro e atentado violento ao pudor. A jurisprudência e a doutrina se posicionavam no sentido de que o estupro absorvia os atos libidinosos necessários à prática da conjunção carnal. Lesões autônomas não necessárias à prática da cópula vagina davam lugar ao concurso material de infrações, ou seja, a pena do estupro era somada com a pena do atentado. Coito anal e cópula vagina eram dois crimes, outras condutas eram absorvidas. Isto já era criticado à exemplo dos professores PAULO QUEIROZ e ANA LÚCIA SABADELA, que sustentavam ser impossível a existência do concurso de crimes. Era impossível pelo fato de um BJ poder ser representado por inúmeros objetos; e se a lesão é à um BJ de um único titular, haverá um único crime, ainda que ocorra pluralidade de atos. O que não quer dizer que as penas fossem as mesmas. A jurisprudência não aceitava estes argumentos, pela especialidade do estupro e pela autonomia das lesões. No STF, o Ministro Marco Aurélio suscitou a possibilidade de aplicar ao caso o critério do crime continuado, mas não houve adesão. Podia haver tentativa de estupro ou seria atentado violento ao pudor

1

Page 2: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

consumado? Passou a haver consenso de que estupro por ser plurissubsistente (é possível o fracionamento) admitia tentativa. A tentativa de estupro absorve os atos que lhes são inerentes. Na dúvida presumia-se que se tratava de tentativa de estupro (in dubio pro reu). Estupro admitia tentativa, mas à ele não se aplicava a regra da desistência voluntária, pois senão seria atentado violento ao pudor consumado (mais grave).

Obs.: se o réu tivesse uma moléstia venérea haveria concurso de infrações com o crime que envolve a periclitação da vida ou da saúde. Se o autor utilizasse preservativo, o crime de periclitação seria afastado por falta de dolo.

Tanto o Estupro, quanto o atentado violento ao pudor deveriam ser provados com laudo pericial e existia (e existe até hoje) um problema grave relacionado à prova destes crimes. A jurisprudência diz que este tipo de crime é praticado na clandestinidade, e por conta disto, a palavra da vítima assume relevante valor probatório, o que não quer dizer que se possa condenar alguém com base exclusivamente na palavra da vítima. É dizer, a palavra da vítima precisa ser corroborada por outros indícios ou provas.

O art. 223 previa um aumento de pena se houvesse lesão corporal grave ou se houvesse morte. Era uma regra geral para os crimes contra a dignidade sexual. Essa regra foi revogada, pois, hoje, a lesão corporal grave e a morte foram colocadas como qualificadoras autônomas dos tipos.

O art. 224 cuidava das hipóteses de consentimento inválido e 3 eram essas hipóteses: se a vítima fosse alienada ou débil mental e o agente conhecia essa circunstância; a outra hipótese era se a vítima não pudesse oferecer resistência por qualquer motivo (essa capacidade de resistência diminuída não precisa ter sido causada pelo sujeito ativo); a terceira hipótese de consentimento inválido é se a vítima fosse menor de 14 anos. Discutia-se se a presunção pela idade era absoluta (inadmite prova em sentido contrário) ou relativa (admite prova em sentido contrário). LUIZ FLÁVIO GOMES passou a sustentar desde 1990 (depois do ECA) que a presunção só era absoluta até os 12 anos. Acima dos 12 anos, existiria presunção, mas ela seria relativa. Se a presunção fosse absoluta até os 14 anos; um casal de 13 anos seria condenado reciprocamente a uma penalidade do ECA. No entanto, com 11 anos, seria caso de medida protetiva apenas. Ademais, o menino de 13 anos de hoje não é o menino de 13 anos de 40 anos atrás. Os Tribunais não aceitavam esta tese. Os crimes sexuais com violência presumida também eram hediondos. Se a violência fosse presumida, contudo, não incidia uma causa de aumento de pena prevista na Lei dos Crimes Hediondos, pois se entendia que havia bis in idem. É dizer, o aumento de pena da Lei dos Crimes hediondos ficava reservado às hipóteses de violência real.

2

Page 3: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

O art. 224 foi revogado, pois foi criada uma figura autônoma chamada de estupro de vulnerável prevista no art. 217-A.

A ação penal nesses crimes era, pela literalidade do CP, privada. Processava-se mediante queixa. Se não fosse ajuizada até 6 meses depois de conhecida a autoria, haveria decadência. O sujeito poderia preferir esquecer o crime do que ajuizar uma ação, devido a violação à sua intimidade. O CP previa que a ação era pública e condicionada à representação se a vítima fosse pobre e não pudesse, assim, arcar com honorários advocatícios e custas judiciais. A ação era pública incondicionada se houvesse morte ou se o autor do fato fosse ascendente da vítima.

Na década de 80, o STF editou a súmula 608 que praticamente inverteu a regra do CP, pois o estupro geralmente é praticado com violência real. O STF considerou que o estupro é uma espécie de crime complexo, e que se na constituição do estupro há violência, e nos crimes de violência a ação penal é pública incondicionada, o estupro também deveria sê-la.

Súmula 608/STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada.

Em 2009, a regra passou a ser condicionada a representação (art. 225). O legislador somente excepcionou o estupro de vulnerável, pois este é de ação penal pública incondicionada.

Obs.: o PGR ajuizou uma ADIN em relação a este art. 225 sustentando que o dispositivo é inconstitucional, pois contraria a Súmula 608, viola o art. 129 da CF. Existe uma omissão constitucional insuperável, pois não poderia ser condicionada a representação em caso de morte da vítima.

Obs.2: Normas processuais, em regra, não são extrativas. Normas que se refiram à ação penal são híbridas porque há certas causas de extinção de punibilidade que estão diretamente atreladas ao tipo de ação penal (há carga de direito penal material). Mais precisamente, decadência, perdão do ofendido e renúncia ao direito de queixa, somente existem se a ação penal for privada. Assim, estas questões devem ser apreciadas se ação penal foi manejada ao tempo que a ação penal era privada.

Obs.3: o CP foi alterado em 2012 no art. 111, que ganhou o inciso V (Lei Joana Maranhão), que é o termo inicial da prescrição quando a violência sexual for praticada contra criança ou adolescente. O crime começa a prescrever, via de regra, da data da consumação. Esta lei passou a dizer que se a vítima de violência sexual tiver menos de 18 anos, a prescrição somente começa a correr da data que ela, vítima, completa 18 anos, salvo se a ação penal já tiver sido proposta.

3

Page 4: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Efeitos do casamento nos crimes contra o costume: o art. 107 do CP previa duas extinções de punibilidade nos crimes contra os costumes, pelo casamento. Como é uma norma benéfica, deveria ser aplicada, também, à união estável. A punibilidade era extinta se a vítima casasse com o autor do fato. A punibilidade também era extinta se a vítima casasse com terceira pessoa e não pedisse o procedimento da ação penal num prazo de 60 dias. Estas duas causas foram revogadas em 2005. Entretanto, até 2009 a regra do CP para estes crimes era a ação privada. Ações Penais Privadas comportam perdão do ofendido (que pode ser tácito ou expresso). Assim, até os fatos ocorridos em 2009, o casamento com o autor do fato representava a extinção de punibilidade. Não mais pelo casamento em si, mas pelo fato do casamento representar perdão, e a ação penal ser privada. A partir de 2009, como a ação se tornou pública condicionada à representação, descabe falar em perdão. A única coisa que se pode fazer, é proceder com a retratação expressa.

CAPÍTULO I

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1.º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2.º Se da conduta resulta morte:

Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

A Lei 12.015 alterou o art. 213 do CP, nele fundindo as condutas que representavam estupro e atentado violento ao pudor.

A revogação do art. 214, não gerou abolitio criminis daquela conduta. O fato continua sendo típico só que com outro rótulo, outra etiqueta.

O sujeito ativo: do estupro é qualquer pessoa. O sujeito passivo também é qualquer pessoa. Estupro é crime doloso. Unissubjetivo; plurissubsistente; de conduta vinculada.

4

Page 5: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Com a atual redação, muito embora a doutrina admita a tentativa de estupro, pois o crime é plurissubsistente; esta tentativa será de difícil verificação. O problema é que a tentativa de cópula vagínica já representa a consumação de um ato libidinoso. É dizer, com a atual redação, a tentativa de cópula vagínica é estupro consumado. Qualquer ato libidinoso que tenha sido praticado, estará consumado o estupro.

Com a alteração de 2009, também se discute como fica a questão do concurso de infrações. A partir de 2009, ganhou corpo no Supremo, a tese do crime continuado. Aplica-se a pena aumentada de 1/6 a 1/3. No STJ, encontram-se acórdãos em três sentidos: seria apenas um só crime, pois o BJ é o mesmo, com um único titular. Seria um crime continuado. Haveria concurso material de estupro com estupro, pois quando houver autonomia de condutas, haverá autonomia de crimes, diz-se que o fato das condutas estarem previstas no mesmo artigo não desautoriza que o somatório seja feito. No STJ tem prevalecido a terceira corrente, em que as penas são somadas.

O estupro continua sendo crime hediondo em todas as suas modalidades. E no parágrafo primeiro foi prevista uma qualificadora fundamentada pelo desvalor da conduta pela idade da vítima.

A lesão corporal leve desautoriza a qualificadora. Essa lesão corporal grave que qualifica o crime é uma lesão preterdolosa. Pois se a lesão corporal for dolosa, isto é, for autônoma, há concurso de crimes entre estupro e lesão corporal grave. Se menos de 14 anos a vítima tiver, o crime será autônomo de estupro de vulnerável. No parágrafo segundo existe uma outra qualificadora se do estupro resultar morte. A morte deve ser culposa, do contrário, haverá concurso de infrações.

*O crime precisa ser analisado à luz da ofensividade, de sorte que se o ato libidinoso não for grave deve ser feita a desclassificação para outro crime.

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR

Art. 214. Foi revogado.

VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

5

Page 6: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Teve a redação alterada para englobar em um só tipo, as antigas figuras do art. 215 e 216. Os arts. 215 e 216 tratavam da posse sexual mediante fraude e do atentado ao pudor mediante fraude. Eles eram chamados de “estelionato sexual”. A diferença entre o art. 215 para o 213, era o meio. O que diferenciava o 216 para o 214 era o meio. Nos arts. 215 e 216 o meio não é violento, mas sim fraudulento.

Até 2005, vítima de posse sexual mediante fraude era somente a mulher honesta. A partir de 2005, a vítima do atentado mediante fraude passou a ser qualquer pessoa.

A fusão dos arts. 215 e 216 não gerou abolitio criminis.

O sujeito ativo é qualquer pessoa. O sujeito passivo é qualquer pessoa que não esteja em situação de vulnerabilidade. Este tipo é residual, subsidiário. É dizer, se a pessoa não tinha capacidade para consentir, tratar-se-ia de estupro de vulnerável.

O crime é instantâneo; unissubjetivo; material; de conduta vinculada; plurissubsistente.

Aqui, a fraude é empregada de uma forma tal para minar a resistência da vítima, de modo a manifestar anuência em ter o contato. Se a vontade for nula, no entanto, trata-se de estupro de vulnerável.

ATENTADO AO PUDOR MEDIANTE FRAUDE

Art. 216. (Revogado pela Lei n. 12.015, de 7-8-2009.)

ASSÉDIO SEXUAL

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Parágrafo único. (Vetado.)

§ 2.º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

Assédio Sexual não se confunde com assédio moral. Assédio moral não é crime, pode constituir injúria. É um ilícito trabalhista.

No Brasil, tentativas de namoro por si só são fatos atípicos. Crime é se valer da condição de superior hierárquico para obter favores sexuais.

6

Page 7: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Assédio sexual é crime próprio e só pode ser praticado pelo superior hierárquico. Na qualidade de crime próprio, o inferior hierárquico pode responder por assédio sexual em coautoria. Vítima de assédio sexual é qualquer pessoa. Assédio sexual é crime de ação livre, pode ser praticado por qualquer forma e meio. O maior problema deste crime é em matéria de prova.

É crime de menor potencial ofensivo.

Obs.: havia um parágrafo único no art 216-A que foi vetado pelo Presidente da República (FHC). O parágrafo único dizia “nas mesmas penas incorre quem pratica o crime, prevalecendo-se das relações domésticas de coabitação e hospitalidade”. É óbvio, que pode haver crime de assédio sexual se a vítima for empregada doméstica. O veto ao parágrafo excluiu outras relações domésticas, de coabitação e hospitalidade, que não sejam relações de ascendência de emprego (ex.: República de Estudantes).

Obs.2: Nas relações religiosas interna corporis a opinião amplamente dominante é de que pode haver crime de assédio sexual. O fato de não ser oneroso não afasta o crime. Estão preenchidos os requisitos da relação de emprego, isto é, há pessoalidade, há relação de subordinação e de caráter permanente.

Obs.3: Prevalece entendimento de que há crime de assédio sexual mesmo que o vínculo seja com a Administração Pública. O superior hierárquico mesmo que não possa demitir, pode causar outros constragimentos.

Obs.4: Tem prevalecido na doutrina o entendimento de que não há crime de assédio sexual entre professor e aluno. Pois não há uma relação hierárquica entre professores e alunos. Pode configurar constragimento ilegal. Caso o aluno sera tirocinante, monitor, etc., pode haver assédio sexual.

Obs.5: o “teste do sofá” não configua assédio sexual. Não há vínculo de subordinação ainda. Trata-se de constragimento ilegal.

A pena será aumentada de 1/3 se a vítima é menor de 18 anos.

CAPÍTULO II

DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

SEDUÇÃO

Art. 217. (Revogado pela Lei n. 11.106, de 28-3-2005.)

ESTUPRO DE VULNERÁVEL

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

7

Page 8: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1.º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§ 2.º (Vetado.)

§ 3.º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4.º Se da conduta resulta morte:

Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

O art. 217-A passou a contemplar a figura do estupro com violência presumida, que eram tipificadas no art. 224. O legislador em 2009 criou o conceito de vulnerabilidade. Vulnerável é quem tem menos de 14 anos ou quem por enfermidade ou doença mental não tem discernimento ou quem por qualquer motivo não pode oferecer resistência. O STJ, em 2012, entendeu que a vulnerabilidade inclusive pela idade (faixa de 12 a 14 anos), é relativa. Abaixo dos 12 anos a vulnerabilidade é absoluta. O estupro de vulnerável passou a ser tipo autônomo; tipo qualificado, que representa novatio legis in pejus e que, portanto, não é retroativa. O conceito de vulnerabilidade ainda comporta discussões se ela é relativa ou absoluta.

É crime comum, doloso, hediondo. O crime foi colocado como crime de ação livre; unissubjetivo; instantâneo. O crime é doloso e exige a intenção de satisfação do prazer sexual, pois do contrário, dar banho em uma criança, seria estupro de vulnerável.

No parágrafo primeiro existe uma norma de extensão. O parágrafo segundo foi vetado. O parágrafo terceiro prevê uma modalidade qualificada se houver lesão corporal grave. O parágrafo quarto prevê uma modalidade qualificada se houver morte.

Obs.: desde 2009, todos os crimes contra a dignidade sexual correm, por força de lei, em segredo de justiça. Com o intuito de proteger a intimidade da vítima.

*No projeto do CP, os processos, infelizmente, serão publicizados.

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

8

Page 9: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Parágrafo único. (Vetado.)

SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

§ 1.º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

§ 2.º Incorre nas mesmas penas:

I – quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;

II – o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.

§ 3.º Na hipótese do inciso II do § 2.°, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

9

Page 10: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

CAPÍTULO III

DO RAPTO

RAPTO VIOLENTO OU MEDIANTE FRAUDE

Art. 219. (Revogado pela Lei n. 11.106, de 28-3-2005.)

RAPTO CONSENSUAL

Art. 220. (Revogado pela Lei n. 11.106, de 28-3-2005.)

DIMINUIÇÃO DE PENA

Art. 221. (Revogado pela Lei n. 11.106, de 28-3-2005.)

CONCURSO DE RAPTO E OUTRO CRIME

Art. 222. (Revogado pela Lei n. 11.106, de 28-3-2005.)

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES GERAIS

Formas qualificadas

Art. 223. (Revogado pela Lei n. 12.015, de 7-8-2009.)

Presunção de violência

Art. 224. (Revogado pela Lei n. 12.015, de 7-8-2009.)

Ação penal

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Aumento de pena

Art. 226. A pena é aumentada:

10

Page 11: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;

II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

III – (Revogado pela Lei n. 11.106, de 28-3-2005.)

CAPÍTULO V

DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM

Art. 227. Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 1.º Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

§ 2.º Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.

§ 3.º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

11

Page 12: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

§ 1.º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

§ 2.º Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena correspondente à violência.

§ 3.º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

RUFIANISMO

Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1.º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 2.º Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.

TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOA PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

12

Page 13: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro.

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

§ 1.º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.

§ 2.º A pena é aumentada da metade se:

I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;

II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;

III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou

IV – há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

§ 3.º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

TRÁFICO INTERNO DE PESSOA PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

§ 1.º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.

§ 2.º A pena é aumentada da metade se:

I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;

II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;

13

Page 14: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou

IV – há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

§ 3.º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

Art. 232. (Revogado pela Lei n. 12.015/2009).

CAPÍTULO VI

DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR

ATO OBSCENO

Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

ESCRITO OU OBJETO OBSCENO

Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I – vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;

II – realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;

III – realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.

14

Page 15: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

Também envolvem um BJ supra individual, razão porque os crimes são vagos. Como a Paz pública envolve a tranquilidade a social, estes três crimes são de consumação antecipada. É dizer, se consumam mesmo sem lesão concreta.

INCITAÇÃO AO CRIME

Art. 286. Incitar, publicamente, a prática de crime:

Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.

O BJ resguardado é a tranquilidade social.

O Sujeito Ativo é qualquer pessoa, o crime é comum. A incitação precisa ser pública, do contrário, não será crime contra a paz pública. A incitação deve ser de crime. Não é necessário, porém, que haja um apego ao rigor técnico nas declarações. Ex.: “subtraiam coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa...”.

Haverá este crime mesmo que os fatos incitados não ocorram. O art. 286 envolve BJ autônomo, daí porque nada impede o seu concurso com outras infrações.

Obs.: a Participação pode ocorrer por Induzimento, Instigação ou Auxílio Material.

O crime é de menor potencial ofensivo, logo, cabem as medidas dos Juizados Especiais.

APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO

Art. 287. Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:

Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.

O art. 287 cuida de apologia de crime ou de criminoso.

A incitação se refere a fatos futuros, que não ocorrerão necessariamente. O 287 se refere a fatos pretéritos. O sujeito enaltece, engrandece fatos pretéritos, que não necessariamente aconteceram.

O Sujeito Ativo, aqui, é qualquer pessoa, o crime é comum. É crime instantâneo. A apologia deve ser pública e deve ser de autor de crime ou de fato criminoso. Defender um autor de crime não é apologia de crime.

Na apologia o sujeito enaltece alguém pelo fato deste ser criminoso.

15

Page 16: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Obs.: não se exige para a configuração do art. 287, que tenha havido sentença penal condenatória transitada em julgado para o crime ou fato sobre o qual recai a apologia. Ex.: o sujeito que estampa a foto de alguém que é acusado de matar policiais de forma sistemática, em uma série de camisas, enaltecendo o fato de matar policiais.

Obs.2: há uma diferença entre fazer apologia de crime e defender a desnecessidade da intervenção penal. Ex.: “aborto não era para ser crime”. Em relação à “Marcha da Maconha”, a defesa pela descriminalização não é punida, mas a utilização, a venda, etc., dentro da manifestação são tipificadas. O mesmo raciocínio vale para manifestações artísticas como, por exemplo, as musicais (ex.: Lança Perfume – Jammil).

QUADRILHA OU BANDO

Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Parágrafo único. A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

O art. 288 cuida da formação de bando ou de quadrilha.

Não confundir formação de bando ou quadrilha com concurso eventual de pessoas. Formação de bando ou quadrilha exige estabilidade e permanência. Por isso, que formação de bando ou de quadrilha é um tipo penal autônomo. É dizer, alguém pode ser responsabilizado só por formação de bando ou quadrilha.

O BJ tutelado é a Paz Pública. O crime é plurissubjetivo (no mínimo 4 pessoas). Nestas quatro pessoas, segundo entendimento dominante, entram os inimputáveis.

O tipo é doloso e de dolo específico. É dizer, a associação deve ser voltada para a prática de um número indefinido de infrações. Ex.: se 10 pessoas se juntarem e passarem 5 anos planejando 1 crime, não constitui o art. 288

Obs.: no julgamento da Ação 470 (“Mensalão”), o STF entendeu que há crime de formação de bando ou de quadrilha ainda que os crimes fim, não sejam violentos. Pois, um argumento levantado pela defesa era de que o crime praticado não era violento e não afetava a paz pública.

Obs.2: não existe formação de bando ou de quadrilha para a prática de contravenção. É dizer, não há formação de bando ou de quadrilha para a exploração de jogo de azar, por exemplo.

16

Page 17: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Obs.3: Os Tribunais Superiores não enxergam bis in idem entre a punição por bando ou quadrilha em concurso com outros crimes agravados pelo concurso de pessoas como, por exemplo, o roubo majorado pelo concurso de pessoas, pois os BJs são diferentes. *Gamil discorda.

Na Lei dos Crimes Hediondos existe uma figura qualificada de bando ou quadrilha. Art. 8 da Lei 8072/90. Quando criou esse artigo o legislador olvidou que a Lei de Drogas (Lei 6968/76), previa no art. 14 o crime de associação para o tráfico que tinha pena mais grave.

Art. 288 Lei de Drogas Lei de Crimes Hediondos4 pessoas 2 ou mais 4 pessoas

1 a 3 anos 3 a 10 anos 3 a 6 anos

*O STJ passou a aplicar da forma que está destacada em negrito.

O problema é saber se houve, ou não, revogação desse art. 14 da Lei de Drogas, que geraria abolitio criminis. O STJ entendeu que a Lei 8072 representou novatio legis in mellius, ou seja, houve um abrandamento da pena sem alteração do preceito incriminador. O STJ fez conjugação de normas penais, combinando um pedaço do tipo A, com o tipo B, criando um tipo C (o que não é permitido).

A Lei 11.343/2006 no art. 35 volta a fixar a figura da associação contra o tráfico com duas ou mais pessoas, com pena de 3 a 10 anos. De agosto de 2006 para frente, resolveu-se o problema, pois há uma norma penal nova e mais grave, prevendo pena de 3 a 10 anos.

O parágrafo único prevê um aumento de pena se o bando ou quadrilha é armado. Arma em direito penal é tanto a arma própria, como a imprópria (não foi construída para agredir, mas pode ser utilizada, também, para agredir). Nesta causa de aumento, o fundamento do aumento é o maior desvalor da conduta. Formação de bando ou de quadrilha é um crime de ação livre. Pode ser praticado por qualquer forma ou meio.

Numa análise puramente objetiva da tipicidade, qualquer arma (própria, imprópria, municiada, quebrada, etc.) entraria no conceito do parágrafo único. Não se pode tratar da matéria da forma que se trata do roubo qualificado pelo emprego de arma (maior potencialidade lesiva). Entretanto, por um apego ao princípio da ofensividade, ao princípio da isonomia (não se pode equiparar quem usa arma de brinquedo com quem usa arma de verdade) e a legalidade estrita (arma de brinquedo não é arma) pode se afastar a causa de aumento se a arma for de brinquedo.

17

Page 18: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

*A arma de brinquedo não qualifica o roubo, pois seria bis in idem. O caput do tipo de roubo fala em “grave ameaça”, que já é o fundamento para a punição do uso da arma de brinquedo.

A Lei 12.720/2012 (setembro de 2012) introduziu 3 alterações no CP para dar um tratamento mais gravoso para as milícias. Essa lei colocou causas de aumento de pena no homicídio; na lesão corporal; e uma qualificadora para a quadrilha. Antes dessa lei não era possível prender preventivamente uma milícia. Como se trata de um tipo derivado e o tipo não é específico em relação à quantidade de pessoas, considera-se 4 pessoas no mínimo.

Obs.: Brevíssimas notas sobre crime organizado: a Lei 9.034/95 trata no Brasil do crime organizado. Não existe um tipo penal incriminador chamado de crime organizado. Ou seja, a Lei de Crime Organizado é Processual. Esta Lei 9.034 prevê que o crime organizado pode ser praticado em bando ou quadrilha (art. 288) ou em associação criminosa ou em organização criminosa. Não há conceito jurídico de organização criminosa. A Convenção de Palermo é usada por alguns autores como conceito de organização criminosa. O problema é que a Convenção de palermo fala em grupo criminoso organizado e não de organização criminosa. A sanção da Lei 12.694/2012 permitiu o julgamento feito por um órgão colegiado no primeiro grau, para diminuir a responsabilidade no combate contra a organização criminosa, devido as ameaças que os magistrados estavam sofrendo. Essa lei diz no art. 2 que “para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional”. O problema é que a lei fala expressamente em “PARA OS EFEITOS DESTA LEI”, ou seja, para os efeitos de julgamento em órgão colegiado. O STF ao julgar o HC 96007 determinou o trancamento de uma ação penal por lavagem de dinheiro tendo como antecedente fato praticado por organização criminosa. Se não há conceito de organização criminosa, a lavagem de dinheiro estaria derivando de fato atípico.

CAPÍTULO VII

DISPOSIÇÕES GERAIS

Aumento de pena

Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:

I – (Vetado.);

18

Page 19: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

II – (Vetado.);

III – de metade, se do crime resultar gravidez; e

IV – de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.

Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.

Art. 234-C. (Vetado.)

DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS

Essa é uma tutela de um BJ imaterial e como bem registra NELSON HUNGRIA, o DP só se preocupa com a religião para assegurar a liberdade de crença. A liberdade de crença envolve não só a possibilidade de as pessoas exercerem as crenças que elas tiverem como também o direito de não ver a sua religião atacada pelos outros. A liberdade de Expressão tem limites.

Além de se proteger o sentimento religioso, também se protege a memória das pessoas mortas.

CAPÍTULO I

DOS CRIMES CONTRA OSENTIMENTO RELIGIOSO

ULTRAJE A CULTO E IMPEDIMENTO OU PERTURBAÇÃO DE ATO A ELE RELATIVO

Art. 208. Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:

Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.

Parágrafo único. Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

O crime é comum; é crime vago; estritamente doloso; misto cumulativo.

O BJ resguardado é o sentimento religioso, daí proque pode haver concurso de infrações com os crimes contra a honra, por exemplo.

Escanecer é ridicularizar; é ofender; menoscabar; ultrajar.

19

Page 20: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Cabe invocação de animus jocandi, desde que com um certo comedimento.

Na primeira modalidade o escárnio precisa ser endereçado à alguém e precisa ser feito publicamente. Pois, se não for feito em público não há violação ao sentimento religioso, mas tão somente, talvez, à honra.

Impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso. Não estão abrangidos, aqui, os atos administrativos (ex.: SUCOM).

Vilipendiar é atacar, distratar. Precisa se referir a ato ou objeto de culto religioso.

Há um aumento de pena se o crime for praticado com violência, sem prejuízo da configuração de crimes autônomos.

CAPÍTULO II

DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS

IMPEDIMENTO OU PERTURBAÇÃO DE CERIMÔNIA FUNERÁRIA

Art. 209. Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária:

Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.

Parágrafo único. Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

É um crime comum; doloso; misto alternativo; de menor potencial ofensivo; instantâneo; de resultado na primeira conduta, e de consumação antecipada na segunda.

Mais uma vez, há um aumento de pena se o crime for praticado com violência.

VIOLAÇÃO DE SEPULTURA

Art. 210. Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

O BJ resguardado é o respeito aos mortos e indiretamente a saúde pública.

O crime é comum; estritamente doloso. O tipo é plurissubsistente.

Discute-se se o art. 210 concorre ou não com o crime de furto. Entende-se que há crime de furto e, por óbvio, o sujeito passivo não é o morto. O sujeito passivo é o titular do bem que deixou a coisa naquele lugar. O rompimento da urna serviria até para a qualificadora do furto. No entanto, essa qualificadora fica afastada em razão do crime autônomo (violação de sepultura). Há uma

20

Page 21: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

corrente forte que diz que se o objetivo do sujeito é apenas furtar, aplicar-se-ia o critério da cosunção, o crime fim absorve o crime meio necessário. O sujeito somente responderia por furto.

DESTRUIÇÃO, SUBTRAÇÃO OU OCULTAÇÃO DE CADÁVER

Art. 211. Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

O tipo é misto alternativo; comum; o crime é vago; e sobre este crime se discute se ele seria considerado exaurimento ou não do homicídio. Não se pode considerar isto como exaurimento pois o BJ resguardado não é vida.

Se a finalidade não for ultrajar a memória e sim aproveitar parte do cadáver para estudo, o BJ é outro, e o crime é protegido na Lei 9434/97 ou na Lei 10.211/2001. Veja que nesta Lei 9434, no art. 19, existe um crime, inclusive, que pune quem faz uma pesquisa e não devolve ao cadáver um aspecto condigno.

O tipo penal comporta suspensão do processo e não é do Juizado.

VILIPÊNDIO A CADÁVER

Art. 212. Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

O sujeito quer ultrajar a imagem de alguém morto. É crime de ação livre; doloso; instantâneo; unissubjetivo. Veja que o CP equipara as cinzas ao cadáver.

DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Antigamente, quando era possível a prisão civil do depositário infiel, o juiz do trabalho poderia decretar prisão, inclusive passível de interposição de HC. Depois do pacto de São José da Costa Rica, o STF editou a súmula vinculante nº 25, que assevera ser proibido esse tipo de prisão, pelo que cabe, hoje, até mesmo reclamação constitucional ao STF se descumprida a súmula. Justiça do Trabalho pode julgar crime contra a organização do trabalho? Não, porque não há jurisdição, malgrado a Justiça Eleitoral julgue crimes eleitorais e a Justiça Militar, os crimes militares. A Justiça do trabalho não tem competência para julgar matéria criminal.

O art. 109, VI da CF define a competência dos juízes federais para processar e julgar os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira. O STF

21

Page 22: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

apaziguou que só será de competência da JF esses crimes se a lesão for de repercussão nacional. Caso a lesão seja específica (a um só trabalhador) a competência é da justiça comum.

Até o advento da EC/45 existia uma polêmica muito grande para julgar HC contra atos da Justiça do Trabalho. O TRT não tinha competência para julgar matéria criminal. A EC/45 deu competência criminal para a JT para julgar HC. É uma competência residual. Não é competência para julgar crime. Com a edição da SV 25 essa competência praticamente se esvaziou.

25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

Nesses crimes contra a organização do trabalho não está em jogo a liberdade ambulatorial (seria outro crime), não se está a tutelar a liberdade de locomoção do trabalhador, porque isso é tutelado pelo tipo de redução à condição análoga à de escravo. Os crimes contra a organziação do trabalho dizem respeito a liberdade de contratar, condições de trabalho, a liberdade de associação profissional e sindical, etc.

O anteprojeto revoga os tipos contra a organização do trabalho, mas nem todas as condutas são consideradas atípicas. Isso porque, em verdade, são todos tipos especiais de constrangimento ilegal; são tipos que não necessariamente precisam existir.

Do art. 197 ao art 201, todos são crimes de menor potencial ofensivo; cabe suspensão condicional do processo; são de ação penal pública incodicionada.

ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE TRABALHO

Art. 197. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:

I – a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias:

Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência;

II – a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Tutela-se a liberdade de trabalho.

22

Page 23: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Esse crime consubstancia o contragimento ilegal. O que difere é a intenção do sujeito ativo.

Assim, conforme se verifica nos incisos I e II do art. 197, o constrangimento, exercido mediante violência ou grande ameaça, deverá ser utilizado para que a vítima leve a efeito qualquer das condutas por eles previstas.

No inciso I, o sujeito é constrangido a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias.

O inciso II descreve dois resultados distintos. O primeiro é a violação da liberdade de funcionamento de estabelecimento onde se exerce qualquer trabalho. O segundo é a participação da vítima em paralisação de sua atividade econômica, o chamado lockout, ou a participação de parede.

O crime é comum. Com relação ao sujeito passivo do inciso segundo, segunda parte (lockout), é o dono do estabelecimento.

É um crime de conduta vinculada; misto cumulativo (praticar a conduta do inciso I e do inciso II, equivale a dois crimes).

O Decreto 19.770/31, a CLT e a CF vedam a distinção entre arte, ofício, indústria, etc.

A lei 4.330/64 revogou a última figura do inciso II. Essa Lei, por seu turno, foi revogada pela lei 7.783/89, que dispôs sobre o exercício do direito de greve, definiu as atividades essenciais e regulou o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, regulamentando, assim, o art. 9 da CF.

O crime é doloso; o crime se consuma com o alcance do resultado quando o indivíduo faz ou deixa de fazer aquilo a que foi constrangido.

É um crime plurissubsistente, daí porque cabe tentativa em todas as modalidades.

ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO E BOICOTAGEM VIOLENTA

Art. 198. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola:

Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Protege-se tanto a liberdade de trabalho quanto a normalidade das relações trabalho. Por isso, é um delito pluriofensivo.

23

Page 24: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

O crime é comum. É importante ressaltar que as pessoas sujeitas a boicotagem são meros instrumentos ou vítimas deste crime.

O sujeito passivo é a pessoa que sofre a coação para celebrar o contrato de trabalho ou é constrangida a não fornecer ou adquirir de outrem matéria prima, ou produto industrial ou agrícola. REGIS PRADO entende que está incluída a Pessoa Jurídica. BITTENCOURT entende que a pessoa jurídica não está incluída.

A figura de quem força outrem a não celebrar contrato não foi tipificada neste artigo. Não quer dizer que seja atípico.

O contrato pode ser individual ou coletivo. A doutrina faz uma crítica a constranger uma coletividade de pessoas a celebrar contrato coletivo em razão da impossibilidade de se contranger um número elevado de pessoas.

É uma norma penal em branco. O conceito de contrato de trabalho pode ser encontrado nos arts. 442, 443, 611 da CLT.

Art. 442. Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego. (...) 

Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado. (...)

Art. 611. Convenções coletivas de trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais do trabalho. (...)

Não está abrangido o constrangimento ao não fornecimento de crédito.

Na segunda parte do artigo encontra-se o delito de boicotagem violenta, quando o agente pratica o constrangimento para que a vítima não forneça a outrem ou não adquira de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola. Exige-se que a boicotagem seja violenta, ou seja, praticada mediante o emprego de violência ou grave ameaça.

É crime doloso; a consumação ocorre com o alcance do resultado.

Se a intenção for outra, como, por exemplo, no caso do concorrente que impede alguém de contratar com seu adversário, o crime é contra a ordem econômica, e não contra a organização do trabalho.

ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO

24

Page 25: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Art. 199. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação profissional:

Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Protege-se a associação sindical. O sujeito ativo é qualquer pessoa, o crime é comum. Ele pode ser ou não membro do sindicato. Se for Funcionário Público, ele pode incorrer em abuso de autoridade. O sujeito passivo é a pessoa constrangida a participar ou não da associação.

A CF em seu art. 8 determina que ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado em sindicato.

A conduta é vinculada.

Os conceitos de associação e sindicato estão previstos nos arts. 1 ao 6 do DL 1402/39. AMAURI MASCARO NASCIMENTO define o sindicato como uma forma de organização de pessoas físicas ou jurídicas que figuram como sujeitos nas relações coletivas de trabalho.

O crime é doloso. Se consuma quando o sujeito passivo participa ou deixa de participar do sindicato ou da associação.

PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO DA ORDEM

Art. 200. Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra pessoa ou contra coisa:

Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Parágrafo único. Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.

A greve é um direito previsto pelo art. 9 da CF. A Lei 7.783/89 regulamentou o dispositivo constitucional dispondo sobre o direito de greve, bem como definiu as atividades consideradas essenciais, regulando, ainda, o atendimento das necessidades inadiáveis da coletividade.

O BJ protegido é a regularidade e a moralidade das relações trabalhistas. O sujeito ativo é o participante da greve (empregado) e no caso de suspensão (lockout) são os empregadores.

25

Page 26: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

No caso de greve é necessário no mínimo 3 pessoas (crime plurissubjetivo). E no caso de suspensão é necessário no mínimo 2 pessoas segundo REGIS PRADO. BITTENCOURT acha que basta 1 pessoa.

É crime doloso. Consuma-se com a prática do ato violento pelo empregado ou empregador.

Crime próprio em relação ao SA (só pode ser o empregado ou o empregador) e comum quanto ao SP.

PARALISAÇÃO DE TRABALHO DE INTERESSE COLETIVO

Art. 201. Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

A doutrina majoritária diz que esse crime foi revogado.

O BJ é o interesse da coletividade, já que o legislador tenta evitar a falta de serviços essencais.

O sujeito ativo é o empregado que abandona ou o empregador que participa do lockout.

O sujeito passivo é a coletividade que terá os serviços essenciais paralisados.

É crime doloso; consuma-se com a efetiva paralisação por suspensão ou abandono. É possível a tentativa.

INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM

Art. 202. Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

Art. 203. Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho:

26

Page 27: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Pena – detenção, de 1 (um) ano a 2 (dois) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

§ 1.º Na mesma pena incorre quem:

I – obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida;

II – impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais.

§ 2.º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.

FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE A NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO

Art. 204. Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho:

Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA

Art. 205. Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO

Art. 206. Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro.

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

27

Page 28: Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL

Art. 207. Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional:

Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

§ 1.º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem.

§ 2.º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.

Nota Sobre Mudanças do CP em 2013: A Lei 12.850/2013 alterou a redação do art. 288 do CP. Fui suprimido o nomen juris bando ou quadrilha. O art. 288, agora, trata da associação criminosa. Substancialmente mudou o número de sujeitos ativos (associarem-se 3 ou mais pessoas com o fim específico de cometer crimes). A associação continua exigindo estabilidade, permanência e o dolo específico de ser voltada a prática específica de crimes. É dizer, a associação voltada para a prática de um único crime, é atípica. A pena é de 1 a 3 anos, com a previsão do aumento da metade se a asscociação for armada ou se houver participação de criança ou adolescente. (vai surgir uma discussão se o crime de milícia foi revogado ou não). A outra alteração foi feita no art. 342 do CP. Houve uma alteração na pena, que passou a ser de 2 a 4 anos e multa. O art. 19 da nova lei, terminou por tipificar uma conduta assemelhada ao crime de denunciação caluniosa com pena mais branda. Este art diz “imputar falsamente, a pretexto de colaboração com a justiça, a pratica de infração penal a alguém, que saber ser inocente.” A pena prevista é de 1 a 4 anos.

28