crimes contra a dignidade sexual · 7 2. as recentes reformas na legislação brasileira referente...

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CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

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CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL SEXUAL .................................................................5Conceito ...................................................................................................................................................................................5

2. AS RECENTES REFORMAS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA REFERENTE AOS CRIMES SEXUAIS ..................................................................................................................8

3. ESTUPRO .........................................................................................................................10Tipo penal .............................................................................................................................................................................. 10

4. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE ................................................................... 17Tipo penal (Art. 215, CP) ....................................................................................................................................................17

5.  IMPORTUNAÇÃO SEXUAL (ART. 215 - A) .................................................................. 22

6. CRIME DE ASSÉDIO SEXUAL ....................................................................................... 25Tipo penal ..............................................................................................................................................................................25

7.  REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL (ART. 216 - B) ...............29

8. CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL ............................................................... 32Estupro de vulnerável.......................................................................................................................................................32

Corrupção de Menores (Art. 218) .................................................................................................................................35

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (Art. 218 - A) ...........................36

9. FAVORECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL ................................................................................................................................ 39Tipo penal ..............................................................................................................................................................................39

Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual (Art. 228) ............................40

10. DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU CENA DE SEXO NÃO AUTORIZADA . 43

11. MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM E RUFIANISMO .................. 46Tipo penal ............................................................................................................................................................................. 46

Rufianismo ............................................................................................................................................................................47

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12. CRIME DE MANTER “CASA DE PROSTITUIÇÃO” ................................................... 50Tipo penal  ............................................................................................................................................................................ 50

13. TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL .............................. 53Promoção de migração ilegal  ......................................................................................................................................53

14. ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR ..................................................................................55Tipo penal ..............................................................................................................................................................................55

Escrito ou objeto obsceno .............................................................................................................................................56

15.  CRIMES RELACIONADOS À PORNOGRAFIA INFANTIL - LEI 8.069/90 ............. 58

16. ASPECTOS PROCESSUAIS DE CRIMES SEXUAIS .................................................. 61

17. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NOS CRIMES SEXUAIS ..................................... 63

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1 INTRODUÇÃO AO

DIREITO PENAL SEXUAL

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1. Introdução ao Direito Penal Sexual

ConceitoO direito penal sexual é um ramo do direito penal que sofre influência maciça do contexto social, moralidade, costumes e religião.

Verifica-se, ao longo da história, um movimento pendular de repressão e abrandamento na legislação referente aos crimes sexuais. Atualmente, presenciamos novamente um período de repressão e do aumento do rigor punitivo dos crimes sexuais na legislação penal brasileira.

BEM JURÍDICO TUTELADO

O bem jurídico tutelado pelo direito penal sexual já passou por diversas fases ao longo da história, sendo que já se entendeu seu objeto como a moralidade, os bons costumes, o pudor, a honestidade e, mais recentemente, a liberdade e dignidade sexual.

As ideias tradicionais sobre o bem jurídico tutelado não mais se sustentaram por traduzirem conceitos subjetivos, que variam com o passar do tempo.

Dessa maneira, a partir dos anos 90, passou-se a compreender que o bem jurídico tutelado pelo direito penal era a liberdade sexual, ou a dignidade sexual, como mencionado pelo Código Penal brasileiro.  

A dignidade sexual pode ser conceituada como o livre exercício da sexualidade. Dessa maneira, os crimes contra a liberdade sexual atentam contra a faculdade de escolher livremente o parceiro, a modalidade, a forma ou as práticas sexuais.

Adiante, veremos quais são os crimes sexuais previstos no Título VI do Código Penal.

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2 AS RECENTES REFORMAS NA

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

REFERENTE AOS CRIMES SEXUAIS

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2. As Recentes Reformas na Legislação Brasileira Referente aos Crimes Sexuais

Os crimes contra a dignidade sexual encontram-se dispostos no Título VI do Código Penal, denominado “Dos crimes contra a dignidade sexual”.

Anteriormente, este título era denominado “Dos Crimes Contra os Costumes”. Conforme mencionado anteriormente, entendia-se que o bem jurídico tutelado pelo direito penal sexual eram a moral sexual, o pudor e os bons costumes.

Todavia, este entendimento modificou-se e atualmente o bem jurídico tutelado pelo direito penal sexual é a autodeterminação e dignidade sexual.

O Título VI do Código Penal é estruturado da seguinte maneira:

• Crimes contra a liberdade sexual;

• Crimes sexuais contra vulnerável;

• Rapto (revogado);

• Disposições gerais.

DISPOSITIVOS REVOGADOS E ALTERADOS

As disposições sobre os crimes contra a dignidade sexual sofreram diversas alterações, especialmente com o advento das seguintes leis:

• Lei n° 11.106/2005: alterou os arts. 148, 215, 216, 226, 227, 231 e acrescentou o art. 231-A ao Código Penal e deu outras providências.

• Lei n° 12.015/2009: alterou o Título VI da Parte Especial do Código Penal e o art. 1° da Lei n° 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos. Além disso, revogou a Lei n° 2.252, de 1° de julho de 1954, que trata de corrupção de menores.

• Lei nº13.718/2018: tipificou os crimes de importunação sexual (art. 215-A,CP)  e de divulgação de cena de estupro (art. 218-C, CP), tornou pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual (art. 225) e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabeleceu causas de aumento de pena para esses crimes e definiu como causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo (art. 226, CP).

• Lei nº 13.772/2018: criminalizou o registro não autorizado de conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado.

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3 ESTUPRO

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3. Estupro

Tipo penalO artigo 213 do Código Penal conceitua o crime de estupro como o ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.

Dessa maneira, a estrutura do tipo é:

• “Constranger” mediante violência ou grave ameaça: aqui, o verbo “constranger” possui o sentido de coagir, obrigar ou forçar alguém a fazer algo.

• Por violência: emprego da força física para imobilizar a vítima ou até mesmo de tortura psicológica, violência psicológica.

• Grave ameaça: a grave ameaça é a promessa de um mal iminente e verossímil. Trata-se da intimi-dação com o objetivo de fazer com que a vítima faça ou consinta com que seja feito algo contra a sua vontade.

O crime de estupro pode ser cometido de duas formas:

• Pela conjunção carnal: penetração do pênis na vagina, ainda que incompleta.

• Através de ato libidinoso: será considerado ato libidinoso aquele que tem a finalidade de satisfazer a lascívia, contra a vontade da vítima e em ofensa à moralidade sexual. Veja que, se o agente procurar satisfazer sua lascívia mediante toque no braço da vítima, este ato não será considerado libidinoso por não ofender a moral sexual padrão, a menos que haja juntamente a ele outros elementos que o tornem sexual.

A vítima poderá ser coagida a praticar ato sexual (comportamento ativo) ou a permitir que com ela se o pratique (comportamento passivo). Antes da alteração promovida pela Lei n° 12.105/2009, o crime de estupro era conceituado como o ato de constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Dessa maneira, o estupro somente era consumado através da conjunção carnal e só poderia ser cometido por homem contra mulher.

Além disso, o atentado violento ao pudor era concebido como o ato de constranger pessoa, mediante violência ou grave ameaça, forçando-a a praticar ou permitir que com ela se praticasse ato libidinoso diverso da conjunção carnal (sexo oral, anal, etc.). Ele poderia ser cometido por homem ou mulher, contra qualquer pessoa. Porém, com o advento da Lei n° 12.105/2009, o crime de atentado violento ao pudor foi absorvido pelo crime de estupro (observe-se que não houve abolitio criminis, não se suprimiu alguma conduta do Código Penal). Assim, o que antes era considerado atentado violento ao pudor é, agora, tido também como estupro, ou seja, independentemente de haver conjunção carnal ou não, haverá crime de estupro se a vítima for constrangida mediante violência ou grave ameaça a praticar ato sexual.

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Vejamos abaixo o quadro comparativo da alteração promovida pela Lei n° 12.105/2009 no crime de estupro:

NOVA REDAÇÃO REDAÇÃO ANTERIOR

TÍTULO VI

DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

TÍTULO VI

DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES

CAPÍTULO I

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

CAPÍTULO I

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Art. 213. Constranger alguém, mediante

violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal

ou a praticar ou permitir que com ele se pratique

outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

Nomenclatura: estupro;

Sujeito ativo: homem – possibilidade de coautoria

ou participação de mulher - para a conjunção

carnal; qualquer pessoa para outro ato libidinoso;

Sujeito passivo: mulher – para a conjunção

carnal; qualquer pessoa para outro ato libidinoso.

Art. 213. Constranger mulher à conjunção

carnal, mediante violência ou grave ameaça:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

Nomenclatura: estupro;

Sujeito ativo: homem – possibilidade de co-

autoria ou participação de mulher;

Sujeito passivo: somente a mulher.

*Art. 214. Constranger alguém, mediante

violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir

que com ele se pratique ato libidinoso diverso da

conjunção carnal:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

Nomenclatura: atentado violento ao pudor;

Sujeito ativo: qualquer pessoa;

Sujeito passivo: qualquer pessoa.

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NOVA REDAÇÃO REDAÇÃO ANTERIOR

Art. 213.  ...

§ 1° Se da conduta resulta lesão corporal de

natureza grave ou se a vítima é menor de 18

(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2° Se da conduta resulta morte: (Incluído pela

Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Formas qualificadas.

*Art. 223. Se da violência resulta lesão corporal

de natureza grave:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

Parágrafo único - Se do fato resulta a morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 25 (vinte e cinco)

anos.

Formas qualificadas.

Assim, não é exigido que haja contato físico entre a vítima e o agressor ou, ainda, entre terceiro, mas exige-se que a vítima seja envolvida de forma corpórea no ato libidinoso de alguma forma.  Dessa maneira, a dignidade sexual não é ofendida apenas por atos físicos, mas também pelo transtorno psíquico que causa. Pode-se citar como exemplo o crime de estupro virtual, que embora não seja mencionado expressamente pelo Código Penal, tem sido aceito pela doutrina e jurisprudência. Ele ocorre quando o agente, mediante grave ameaça e através de meios digitais, constrange a vítima a praticar ato sexual virtual. Todavia, há quem entenda que, neste caso, não se configura o crime de estupro por não haver proximidade física entre a vítima e o agente. Existiria, assim, o crime de constrangimento ilegal.

Neste sentido, questiona-se: o beijo forçado pode ser considerado estupro? A doutrina se divide quanto à classificação de atos semelhantes ao beijo forçado. O entendimento majoritário é que o beijo forçado não constitui crime de estupro, mas contravenção de importunação ofensiva ao pudor, prevista no art. 61, do Decreto-Lei n.º 3.688/41 (Lei de Contravenções Penais). Contudo, o beijo forçado será configurado estupro se houver violência física empregada com a intenção de satisfazer a lascívia contra a vontade da vítima.

É o que decidiu o Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, no Agravo Regimental no Recurso Especial n° 1705120/SC, no qual o agente “agarrou a vítima de 16 anos à força, beijou sua boca, mordeu seu rosto e passou a mão nos seios, nádegas e vagina, por cima da roupa, a fim de satisfazer a sua lascívia”, o que foi justamente considerado estupro.

Convém ressaltar que o crime de estupro está previsto na Lei n° 8.072, de 25 de julho de 1990, que trata dos crimes hediondos.

SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa, seja homem ou mulher. Trata-se de crime comum.

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Este crime admite coautoria e participação.

O coautor é aquele que emprega violência ou grave ameaça contra a vítima, sem realizar com ela a conjunção carnal ou o ato libidinoso. Será coautor, também, aquele que realizar, juntamente com outra pessoa, atos sexuais com a vítima.

Já o partícipe será aquele que estimular a prática do estupro, ainda que sem realizar qualquer ato executório nesse sentido.

SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo é qualquer pessoa maior de 14 anos, apta a discernir.

Cabe ressaltar que, durante muito tempo, entendia-se que não era possível ocorrer estupro nas relações matrimoniais. Todavia, este entendimento não mais se sustenta. Há, inclusive, aumento de metade da pena se o crime for cometido por cônjuge ou companheiro, de acordo com o artigo 226, inciso II do Código Penal.

Deve-se mencionar, também, que o sujeito passivo poderá ser a prostituta, quando forçada a realizar ato sexual indesejado, ainda que mediante pagamento.

CONSUMAÇÃO

A consumação do crime de estupro se dá com a conjunção carnal ou a prática do ato libidinoso diverso, como o sexo oral, anal, o toque em regiões íntimas do corpo sem consentimento.

TENTATIVA

Admite-se a tentativa quando o agente emprega violência ou grave ameaça com a finalidade de realizar ato sexual com a vítima mas não o consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Trata-se, portanto, de crime plurissubsistente, aquele que se perfaz com vários atos, bastando que se concretize um deles para considerar-se iniciada a execução do crime. Caso não sejam exauridos todos os atos descritos no tipo, o crime não se terá dado por inteiro e se considerará tentado. (O crime unissubsistente, por sua vez, não admite tentativa pois se conclui inteiramente com um simples ato).

ELEMENTO SUBJETIVO

O elemento subjetivo é o dolo, consubstanciado na intenção de tolher a liberdade sexual da vítima mediante violência ou grave ameaça.

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PENA

Forma Simples

Art. 213. Constranger alguém,

mediante violência ou grave ameaça,

a ter conjunção carnal ou praticar ou

permitir que com ele se pratique outro

alto libidinoso: Pena - reclusão de 6 a

10 anos.

Estupro Forma Qualificada

Se da conduta resulta lesão corporal de

natureza grave ou se a vítima é menor

de 18 anos ou maior de 14 anos: Pena -

reclusão de 8 a 12 anos.

Forma QualificadaSe da conduta resulta morte: Pena -

reclusão de 12 a 30 anos.

• A pena prevista para este crime é de reclusão, de 6 a 10 anos.

• Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima tem entre 14 e 18 anos, a pena será de reclusão de 8 a 12 anos.

• Além disso, se, da conduta, resultar morte, a pena será de reclusão de 12 a 30 anos.

FIGURAS QUALIFICADAS:

• Lesão corporal grave: deve-se observar que, caso se tratem de lesões corporais leves, elas são absorvidas pelo crime de estupro. Entende-se que o agente possui dolo quanto ao estupro e culpa em relação à lesão corporal grave. Caso assim não seja, e o agente possua de início a intenção de provocar lesão corporal grave na vítima, ele responderá pelo crime de estupro simples em concurso material com o crime de lesão corporal grave.

• Vítima entre 14 e 18 anos: note-se que, se a vítima for menor de 14, configura-se o crime de es-tupro de vulnerável.

• Morte: tal qual na lesão corporal grave, pressupõe-se que, neste caso, houve dolo quanto ao crime de estupro e culpa quanto ao resultado morte. Porém, se o agente intencionalmente matar a vítima, ele responderá por estupro simples em concurso material com o crime de homicídio qualificado.

CONCURSO DE CRIMES

Existe divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à classificação do crime de estupro quando o agente, em um mesmo contexto, praticar contra a vítima conjunção carnal e ato libidinoso. Existem os seguintes entendimentos doutrinários:

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• Tipo penal misto alternativo: tanto a conjunção carnal quanto a prática de atos libidinosos contra a vítima consistem crime único. Esta é a posição majoritária.

• Tipo penal misto cumulativo: há crime continuado ou um concurso material de delitos quando o agente pratica cópula e atos libidinosos contra a vítima, pois há previsão de mais de um delito (há previsão de atos distintos) no mesmo tipo penal.

PROCESSO E JULGAMENTO DO CRIME

Antes da Lei 12.015/2009 a ação penal prevista para os crimes sexuais era privada. Mas, com a lei 12.015/2009, para os crimes previstos no Capítulo I, do Título VI, do Código Penal, a ação penal passou a ser pública condicionada à representação da vítima. E para o caso de vítima menor de 18 anos ou vulnerável, a ação penal passou a ser pública incondicionada. 

Entretanto, isso mudou mais uma vez com a Lei 13.718/2018, que determinou que nos Capítulos I e II, do Título VI do CP, a ação penal é pública incondicionada, ou seja, não depende-se mais da representação da vítima. 

Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública incondicionada.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO CRIME

Classificação

Doutrinária

Crime simples e

de dano quanto à

objetividade jurídica

Comum e de concurso

eventual quanto ao

sujeito ativo

De ação livre,

comissivo ou omissivo

impróprio quanto aos

meios de execução

Material e instantâneo

quanto ao momento

consumativo

Doloso quanto ao

elemento subjetivo

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4 VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE

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4. Violação Sexual Mediante Fraude

Tipo penal (Art. 215, CP)Victor Eduardo Rios Gonçalves (2016) conceitua a fraude no ato sexual como “qualquer meio iludente empregado para que a vítima tenha uma erra percepção da realidade e consinta no ato sexual.”

Este crime também é chamado de “estelionato sexual”. Assim, mediante fraude, a vítima tem sua livre manifestação de vontade impedida ou dificultada. Ludibriada.

Pode-se citar como exemplos de violência sexual mediante fraude: o médico que mente para a paciente fazendo-a a acreditar na necessidade de exame ginecológico quando, na realidade, pretende praticar ato libidinoso; ou o gêmeo que se faz passar pelo irmão a fim de praticar atos sexuais com a esposa deste.

Antes do advento da Lei n° 12.015/2009, havia dois crimes: a posse sexual mediante fraude e o atentado violento ao pudor mediante fraude. A posse sexual mediante fraude consistia na conjunção carnal com mulher mediante a utilização de fraude. Já o atentado violento ao pudor mediante fraude, no uso de fraude para induzir alguém, homem ou mulher, à prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

Atualmente, estes dois tipos foram unificados; assim, incorre no mesmo crime quem emprega fraude para praticar conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso.

Vejamos abaixo o quadro comparativo da alteração promovida pela Lei n° 12.105/2009 no crime de violação sexual mediante fraude:

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NOVA REDAÇÃO REDAÇÃO ANTERIOR

Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato

libidinoso com alguém mediante fraude ou outro meio que

impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da

vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

*Parágrafo único.  Se o crime é cometido com o fim de

obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

Nomenclatura: Violação Sexual Mediante Fraude;

Sujeito ativo: homem – possibilidade de coautoria ou

participação de mulher - para a conjunção carnal; qualquer

pessoa para outro ato libidinoso;

Sujeito passivo: mulher – para a conjunção carnal; qualquer

pessoa para outro ato libidinoso.

Qualificadora: não existe mais a forma qualificada pela

idade da vítima, ou pela condição de mulher virgem.

Art. 215. Ter conjunção carnal com mulher, mediante fraude:

Pena - reclusão, de 1(um) a 3 (três) anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado contra mulher

virgem, menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Nomenclatura: Posse Sexual Mediante Fraude;

Sujeito ativo: homem – possibilidade de co-autoria ou

participação de mulher;

Sujeito passivo: somente a mulher; forma qualificada -

mulher virgem, menor de 18 e maior de 14 anos.

Qualificadora: contra mulher virgem, menor de 18 e maior de

14 anos.

*Art. 216. Induzir alguém, mediante fraude, a praticar ou

submeter-se à prática de ato libidinoso diverso da conjunção

carnal:

Pena - reclusão, de um a dois anos. 

Parágrafo único. Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior

de 14 (quatorze) anos:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Nomenclatura: Atentado ao pudor mediante fraude;

Sujeito ativo: qualquer pessoa;

Sujeito passivo: qualquer pessoa; para a forma qualificada

pelo sujeito – vítima menor de 18 e maior de 14 anos.

Qualificadora: contra menor de 18 e maior de 14 anos.

Outro aspecto importante a ser observado é a diferenciação entre o crime de violência sexual mediante fraude e o estupro de vulnerável. No primeiro, o agente usa de ardil para impedir a livre manifestação de vontade da vítima. Já no segundo, o agente inviabiliza a capacidade de resistência física da vítima.

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SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, tanto homem quanto mulher; é um crime comum. Já o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa maior de 14 anos e apta a discernir.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A consumação dá-se no momento da prática da conjunção carnal ou de qualquer que seja o ato libidinoso. Já a tentativa é admitida nos casos em que o agente emprega violência ou grave ameaça (que já consistem em atos executórios do crime) mas não consegue realizar os atos libidinosos por circunstâncias alheias à sua vontade. É um crime plurissubsistente.

PENA

A pena para este crime é de reclusão de 2 a 6 anos.

É importante ressaltar, ainda, que, se o crime for cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa, cumulativamente.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA

Vejamos, a seguir, a classificação doutrinária do crime de violação sexual mediante fraude:

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Classificação

Doutrinária

Crime simples e

de dano quanto à

objetividade jurídica

Comum e de concurso

eventual quanto ao

sujeito ativo

De ação livre quanto

aos meios de

execução

Material e instantâneo

quanto ao momento

consumativo

Doloso quanto ao

elemento subjetivo

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5 IMPORTUNAÇÃO

SEXUAL (ART. 215 - A)

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5. Importunação Sexual (Art. 215 - A)Este tipo penal foi acrescentado ao código pela lei nº 13.718 de 2018, apresentando uma conduta ofensiva à dignidade sexual de teor menos grave que o estupro, mas com semelhança nos seguintes aspectos:

• O objetivo do autor é satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro (Lascívia: luxúria, libidinagem);

• Não existe a anuência ou concordância da vítima para a realização do ato libidinoso.

Por se tratar de tipo penal mais brando, não existe a conjunção carnal na conduta descrita, mas sim a prática de ato libidinoso (de teor sexual) que não seja análogo àquela, contra a vontade da pessoa e para satisfazer vontade própria. A pena aplicada é de 1 a 5 anos, caso o ato não constitua crime mais grave. Essa conduta pode fazer parte de uma conduta mais danosa ou ser seguida de outro crime que a abarque.

A tipificação penal deste tipo de conduta se deu em resposta ao aumento significativo de relatos e denúncias de casos envolvendo atitudes libidinosas que violaram de certa forma a dignidade das vítimas e geraram grande revolta pública, mas que não puderam ser enquadradas como estupro. 

Pode-se tomar como exemplo o caso ocorrido em um ônibus na capital paulista que tomou proporção nacional. Diego Ferreira de Novais foi detido em agosto de 2017 por ter ejaculado em uma mulher dentro do ônibus em são paulo, conduta que até então gerava suspeita de estupro; o homem foi levado até a delegacia e o juiz responsável pelo caso enquadrou a ação de Diego como importunação ofensiva ao pudor - contravenção penal - de forma que este cumpriu somente a pena de multa. Esta atitutde atualmente pode ser enquadrada como Importunação Sexual, recebendo um tratamento diferenciado e adequado.

Portanto, entende-se que a aprovação do novo tipo penal se deu em resposta a um quadro social observado e ao significativo crescimento dos movimentos em defesa da mulher, que dão maior visibilidade aos problemas que ocorrem diariamente e, por diversos motivos, não são formalmente denunciados ou não possuem meios viáveis de serem processados.

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6 CRIME DE ASSÉDIO

SEXUAL

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6. Crime de Assédio Sexual

Tipo penalO artigo 216-A do Código Penal conceitua o crime de assédio sexual como o ato de “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.” São elementos que caracterizam o assédio sexual:

• A presença do assediador e da vítima e a posição destes de superior e subordinada.

• O comportamento do agente, que desestabiliza o ambiente laboral a fim de obter vantagem sexu-al;

• A ausência de livre consentimento da vítima.

Aqui, o verbo “constranger” possui o sentido de importunar com propostas ou condutas de cunho sexual.

SUJEITO ATIVO

Aquele que ocupa posição superior na relação de trabalho com a vítima, seja homem ou mulher. Trata-se, portanto, de crime próprio.

É exigido, pelo tipo penal, que exista superioridade hierárquica ou ascendência entre o agente e a vítima. Contudo, admite-se o assédio sexual entre indivíduos que estejam no mesmo nível hierárquico desde que, por razões de influência, antiguidade ou experiência, um desempenha ascendência sobre o outro. Não havendo esse desnível, poderá ficar caracterizada a contravenção penal prevista no art. 61 da Lei das Contravenções Penais, e não o Assédio.

É importante observar que, de acordo com o Código Penal, o crime de assédio sexual só existe nas relações de trabalho. Dessa maneira, não existiria assédio sexual na relação entre líder espiritual e fiel ou entre professor e aluno, por exemplo.

O doutrinador Luiz Régis Prado discorda deste entendimento e sustenta a possibilidade de que haja assédio sexual em outros casos como o do professor e aluno em razão da relação de ascendência.

SUJEITO PASSIVO 

Qualquer pessoa que, explícita ou implicitamente, esteja subordinada à pessoa do sujeito ativo.

Diz-se que o assédio é um crime bipróprio, ou seja, exige uma situação especial tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo.

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CONSUMAÇÃO

No momento em que ocorre o assédio, independentemente da concessão do favorecimento sexual e independentemente de ter havido, de fato, qualquer ato libidinoso.

TENTATIVA

Admite-se tentativa na forma escrita, isto é, no caso do extravio da carta que continha a proposta indecorosa.  Recebendo a vítima a mensagem, resta o crime já configurado.

PENA

A pena para este crime é de detenção de 1 a 2 anos.

A pena é aumentada em até um terço se a vítima for menor de 18 anos. 

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CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA

Vejamos, a seguir, a classificação doutrinária do crime de assédio sexual:

Classificação

Doutrinária

Crime simples e

de dano quanto à

objetividade

Próprio e de concurso

eventual quanto ao

sujeito ativo

De ação livre e

comissivo quanto aos

meios de execuçaõ

Formal e instantâneo

quanto ao momento

consumativo

Doloso quanto ao

elemento subjetivo

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7 REGISTRO NÃO

AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL

(ART. 216 - B)

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7. Registro não autorizado da intimidade sexual (Art. 216 - B)

O crime a ser estudado faz parte das recentes alterações no Código Penal na parte de Crimes contra a Dignidade Sexual. Tais alterações trouxeram a tipificação de algumas condutas que não possuiam a atenção do Direito Penal por falta de regulamentação objetiva e clara, deixando uma grande margem para a impunidade ou a punição desporporcional. Mais especificamente, o crime tratado inaugurou o capítulo I-A, denominado “Da exposição da intimidade sexual”.

Vejamos agora a letra da lei:

Art. 216-B.  Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.

Parágrafo único.  Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.

É interessante observar que esse dispositivo acompanha o grande crescimento da disseminação de informação através da internet, buscando penalizar a produção (potencial divulgação) de cenas sexuais ou íntimas de maneira irresponsável e não autorizada. Entende-se que a exposição da intimidade da pessoa pode violar gravemente a sua dignidade e repercutir de maneira extremamente negativa em todas as atividades que a mesma venha a realizar. Esse material não autorizado, caso produzido, pode acarretar consequências ruins na vida profissional ou até mesmo o desrespeito familiar e um prejuízo emocional à vítima.

Considerando que a edição de imagens e vídeos é cada vez mais utilizada, fez-se necessário também, tipificar a conduta de realizar montagens que coloquem a pessoa (vítima) na situação de libidinagem ou nudez a que se refere o crime. Dessa forma, a consumação do crime independe da realização de atos sexuais ou libidinosos pela vítima, já que o delinquente pode utilizar imagens de terceiro para prejudicar a mesma.

O tipo penal nesse crime é misto alternativo, porque possui diferentes ações nucleares que podem configurar a conduta (produzir, fotografar, filmar, registrar). Na prática de mais de uma ação descrita, configura-se um único crime, mas qualquer das atitudes isoladamente já pode configurá-lo. Além disso, o crime é comum e material, porque pode ser cometido por qualquer pessoa e implica em um resultado naturalístico. Admite-se a tentativa.

Vale ressaltar ainda que a divulgação do referido conteúdo configura o crime previsto no artigo 218 - C do código penal, diferentemente do que foi exposto acima, que depende somente da produção do material:

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Art. 218-C.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Aumento de pena

§ 1º  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.

Por fim, não se enquadram neses crimes as condutas descritas que envolverem crianças ou adolescentes, uma vez que o ECA é o diploma legal responsável por regular tais stuações:

ECA

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

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8 CRIMES SEXUAIS

CONTRA VULNERÁVEL

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8. Crimes Sexuais Contra Vulnerável

Estupro de vulnerávelTIPO PENAL

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1°  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§ 2° (VETADO)

§ 3° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4° Se da conduta resulta morte: 

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

§ 5º As penas previstas no  caput  e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. 

O crime de estupro de vulnerável é conceituado pelo artigo 217-A do Código Penal como o ato de “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos.”

Além disso, incorre no mesmo crime aquele que estupra alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 

O bem jurídico tutelado é, portanto, a dignidade e o desenvolvimento sexual do vulnerável.

É importante ressaltar que o estupro de vulnerável se configura independentemente de violência ou grave ameaça. Além disso, é irrelevante o consentimento da vítima ou o fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime para a aplicação das penas previstas no caput do art. 217-A e nos §§ 1º, 3º e 4º.

De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a contemplação lasciva de menor de 14 anos, ou seja, o ato de satisfazer a libido mediante a contemplação da nudez alheia, ainda que sem contato, é ato libidinoso e configura o crime de estupro de vulnerável.

Contudo, se o agente praticar conjunção carnal ou ato libidinoso com menor de 14 anos acreditando que este possui idade superior a esta em razão da sua aparência ou de outro motivo, ocorrerá erro de tipo. Exige-se o elemento subjetivo dolo, ou seja, a consciência do sujeito ativo da vulnerabilidade do sujeito passivo.

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SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa, sendo crime comum. Deve-se mencionar que, no caso do estupro de vulnerável, se aquele que tinha o dever jurídico de proteção do sujeito passivo estava ciente e permitiu pacificamente a prática do crime, ele responderá, também, pela sua prática. Assim, neste caso, é possível a responsabilização penal pelo crime de estupro em razão da omissão.

SUJEITO PASSIVO

Quanto ao sujeito passivo, este não é um crime comum. A vítima deste crime é o vulnerável, classificado desta forma seja por sua idade; por qualquer restrição cognitiva permanente ou ocasional, ou por sua impossibilidade de resistência. Essa é uma cláusula aberta, ou seja, permite-se a interpretação de acordo com o caso, levando-se em conta aspectos objetivos e subjetivos do sujeito em questão. Também o estupro de pessoa sob embriaguez completa será considerado estupro de vulnerável, por exemplo.

É irrelevante, para a configuração do crime, que a criança ou adolescente esteja se prostituindo ou que já tenha tido relações sexuais com outrem. Ela será considerada vulnerável de todo modo.

Existem críticas à presunção absoluta de violência nestes casos, especialmente em relação a adolescentes entre 12 e 14 anos que namoram pessoas maior de idade. Eles seriam, em tese, vítimas de estupro. A doutrina aponta que, neste intervalo etário, a presunção de violência seria relativa, isto é, admitiria provas em contrário.

No que diz respeito ao limite etário de 14 anos, observa-se que a legislação penal não utilizou os marcos etários do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual são crianças as pessoas com menos de 12 anos e adolescentes aqueles entre 12 e 18 anos.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A consumação se dá no momento da prática da conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso. Admite-se a tentativa: casos em que não se pôde consumar qualquer ato libidinoso por circunstâncias alheias à vontade do agente, mas, executada qualquer prática libidinosa, o delito estará inteiramente consumado.

PENA

A pena é de reclusão de 8 a 15 anos.

FIGURAS QUALIFICADAS:

• Se, da conduta, resulta lesão corporal de natureza grave: a pena é de reclusão de 10 a 20 anos.

• Se, da conduta, resulta morte: a pena é reclusão de 12 a 30 anos.

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Contudo, se o agente quis ou assumiu o risco do resultado mais grave, responderá pelo crime de estupro de vulnerável simples em concurso material com o crime de lesão corporal grave ou homicídio doloso.

Além disso, cabe mencionar que o lapso prescricional no crime de estupro contra menor de idade somente começa a correr quando a vítima completa 18 anos.

Deve-se ressaltar, por fim, que o crime de estupro de vulnerável é considerado hediondo pela Lei n° 8.072/1990.

CLASSIFICAÇÃO

Vejamos a classificação doutrinária do crime de estupro de vulnerável:

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Classificação

Doutrinária

Crime simples e

de dano quanto à

objetividade jurídica

Comum e de concurso

eventual quanto ao

sujeito ativo

De ação livre,

comissivo ou omissivo

impróprio quanto aos

meios de execução

Material e instantâneo

quanto ao momento

consumativo

Doloso quanto ao

elemento subjetivo

Corrupção de Menores (Art. 218)TIPO PENAL

O artigo 218 do Código Penal conceitua o crime de corrupção de menores como “induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem.” Deve-se observar que o sentido da palavra “lascívia”, para este tipo penal, é o de ato de luxúria e gozo carnal, assim, não é necessário que haja a conjunção carnal.

Neste crime, o agente visa à satisfação da lascívia de um terceiro ao persuadir menor de 14 anos a participar de ato sexual com esse. Exige-se que este terceiro seja pessoa determinada, se assim não for, estará configurado favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável (Art. 218 - B).Se o agente visar à satisfação da própria lascívia e não a de outrem, haverá crime de estupro de vulnerável (Art. 217).

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, tendo em vista que trata-se de crime comum. Já o sujeito passivo deve ser menor de 14 anos.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se no momento da prática da conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso pela pessoa terceira que o sujeito ativo “auxiliou”, não se exigindo efetiva satisfação sexual desse terceiro. Admite-se tentativa.

PENA

A pena para este crime é de reclusão de 2 a 5 anos.

Formas majoradas:

• Da quarta parte, se o crime for cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas (art. 226, I do Código Penal);  

• Da metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou se, por qualquer outro título, tem autoridade sobre ela (art. 226, II do Código Penal);  

• De 1/3 a 2/3, nos casos de estupro coletivo ou corretivo:

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• Estupro coletivo: mediante concurso de dois ou mais a gentes;

• Estupro corretivo: para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.

• Da metade a 2/3, se do crime resultar gravidez (art. 234-A, III do Código Penal). Vale lembrar que é autorizado o aborto no caso de gravidez resultante de estupro, nos termos do artigo 128, II do Código Penal.

• De 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber (dolo direito ou dolo eventual) ser portador e se a vítima é idosa ou pessoa com defi-ciência (art. 234-A, IV do Código Penal).

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (Art. 218 - A)TIPO PENAL

Praticar, na presença de menor de 14 anos, ou induzir o menor a presenciar conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer a lascívia própria ou de outrem.

Este crime exige o dolo específico de satisfazer a lascívia própria ou a de outrem.

Há dissenso na doutrina quanto à possibilidade de cometimento deste crime mediante presença indireta, isto é, quando a vítima presencia a conjunção carnal ou ato libidinoso indiretamente, por meio de mecanismo tecnológico, por exemplo.

Bitencourt entende que este crime exige a presença in loco da vítima, enquanto Guilherme Nucci admite o crime de satisfação de lascívia mediante presença indireta de criança ou adolescente.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa pode se configurar como sujeito ativo, ao passo que o sujeito ativo deve ser menor de 14 anos.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 

Para que este crime se configure, basta a exposição do menor de 14 anos ao ato libidinoso. É necessário que o menor não tenha envolvimento no ato sexual, caso contrário, o crime será de estupro de vulnerável. Admite-se tentativa, quando, por exemplo, tem início a conjunção carnal ou ato libidinoso e o menor foge para não presenciá-lo.

PENA

A pena é de reclusão de 2 a 4 anos.

Formas majoradas:

• Da quarta parte, se o crime for cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas (art. 226, I do Código Penal);  

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• Da metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou se, por qualquer outro título, tem autoridade sobre ela (art. 226, II do Código Penal);  

• De 1/3 a 2/3, nos casos de estupro coletivo ou corretivo:

• Estupro coletivo: mediante concurso de dois ou mais a gentes;

• Estupro corretivo: para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.

• Da metade a 2/3, se do crime resultar gravidez (art. 234-A, III do Código Penal). Vale lembrar que é autorizado o aborto no caso de gravidez resultante de estupro, nos termos do artigo 128, II do Código Penal.

• De 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber (dolo direito ou dolo eventual) ser portador e se a vítima é idosa ou pessoa com defi-ciência (art. 234-A, IV do Código Penal).

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9 FAVORECIMENTO DE

PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE

EXPLORAÇÃO SEXUAL

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9. Favorecimento de Prostituição ou de Outra Forma de Exploração Sexual

Tipo penalO artigo 218-B do Código Penal conceitua o crime de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável como “submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone”.

Alexandre Salim e Marcel André de Azevedo (2017) conceituam prostituição como “o comércio do próprio corpo, de forma habitual, visando à satisfação da lascívia de um número indeterminado de pessoas.”

É irrelevante, para a configuração do crime, o fato de a vítima menor de idade ou vulnerável afirmar se prostituir por inciativa própria.

Note-se que, se a vítima tiver menos de 14 anos, o crime será de estupro de vulnerável, e não de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, já que se trata de crime comum. Também respondem por este crime o sujeito que pratica o ato sexual com pessoa entre 14 e 18 anos e o proprietário, gerente ou responsável pelo local de prostituição.

Deve-se observar que aquele que mantém relação sexual com prostituta (o) maior de 18 anos não comete este crime. O sujeito passivo é aquele menor de 18 anos e maior de 14 ou o vulnerável em razão de enfermidade ou deficiência mental.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Este crime consuma-se quando da efetiva produção do resultado naturalístico, ou seja, quando a vítima é, de fato, posta a prostituir-se, ainda que sem ter tido contato com qualquer cliente. Diz-se que o crime é instantâneo porque, uma vez consumado este simples ato, está plenamente configurado o tipo.

É possível, entretanto, a configuração do crime na modalidade de impedimento à vítima do abandono da exploração. Nesses casos, o crime se consuma enquanto a vítima estiver impedida ou sofrendo embaraços para abandonar a prostituição, tratando-se, assim, de crime permanente. Também na modalidade de dificultar, o crime consuma-se quando se dá o óbice ao abandono da prostituição pelo menor ou vulnerável. No momento em que se pratica o ato que faz a vítima não abandonar a exploração. Admite-se a modalidade tentada por se tratar de crime plurissubsistente.

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PENA

A pena é de reclusão de 4 a 10 anos. O Código Penal prevê a aplicação cumulativa da pena de multa ao agente se o crime é praticado com a finalidade de obter vantagem econômica. Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento onde se pratica a exploração sexual de vulnerável.

O Estatuto da Criança e do Adolescente também prevê o crime de submeter criança ou adolescente à prostituição ou à exploração sexual em seu artigo 244-A. Este dispositivo é anterior à inclusão deste crime no Código Penal pela Lei n° 12.015/2009. Por esta razão, entende-se que o artigo 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente foi tacitamente revogado.

O crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável foi classificado como hediondo pela Lei n° 12.978/2014. Não cabem para esses crimes, então, a suspensão condicional do processo, a suspensão condicional da pena, os benefícios atinentes ao JECRIM, a anistia, a graça, o indulto e nem a fiança.

Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual (Art. 228)TIPO PENAL 

O artigo 228 do Código Penal conceitua o crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual como o ato de “induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone”.

Trata-se de um tipo misto alternativo, portanto, o agente poderá, em um mesmo contexto fático, praticar os seguintes delitos:

• Induzimento: convencer alguém a ingressar na prostituição;

• Atração: a divulgação de contratação de prostitutas (os);

• Facilitação: pode ser o auxílio à prática da prostituição ou a captação de clientes;

• Impedir o abandono da prostituição: ocorre quando o agente cria o óbice ao abandono da prosti-tuição pelo sujeito passivo e logra êxito;

• Dificultar o abandono da prostituição: ocorre quando o agente cria o óbice ao abandono da prosti-tuição, mas a vítima consegue superá-lo.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito, enquanto que somente os maiores de 18 anos podem ser sujeito passivo.

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CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Na indução, atração ou facilitação à prostituição, o crime consuma-se no momento em que a vítima passa a se prostituir, mesmo que ainda sem ter tido relação com qualquer cliente. Já no impedimento e imposição de dificuldades ao abandono da prostituição, o crime é permanente e consuma-se no momento em que se pratica o ato que faz a vítima deixar de abandonar a prostituição ou outra forma de exploração sexual. Admite-se tentativa tanto para as condutas de induzir, atrair e facilitar quanto para as condutas de impedir ou dificultar o abandono.

PENA

A pena é de reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

Formas qualificadas:

• Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cui-dado, proteção ou vigilância desta: a pena de reclusão de 3 a 8 anos.  

• Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: a pena é de reclusão, de 4 a 10 anos, além da pena correspondente à violência específica em questão.

Aplica-se cumulativamente a pena de multa se o crime for cometido com o fim de lucro.

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10 DIVULGAÇÃO DE

CENA DE ESTUPRO OU CENA DE SEXO NÃO

AUTORIZADA

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10. Divulgação de cena de estupro ou cena de sexo não autorizada

Esse tipo penal foi adicionado recentemente ao Código, também decorrente da lei 13.718/18, trazendo a tutela jurídica da dignidade sexual através da preocupação com a exposição e divulgação em massa de pornografia ou conteúdo sexual não autorizado e de cenas de estupro (comum ou de vulnerável). Pode-se afirmar que o advento da lei procura acompanhar a frequente utilização dos meios tecnológicos de comunicação e diversas redes sociais, que permitem a visualização livre das informações a qualquer pessoa com acesso à internet. Vejamos o caput do artigo para compreender um pouco melhor:

Art. 218-C.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Observa-se que o caput traz diversos verbos nucleares para a descrição da conduta delituosa, inclusive o ato de oferecer, deixando evidente que o material não precisa efetivamente chegar ao sujeito destinatário ou ser aceito por ele. Além disso, entende-se que a execução dos verbos nucleares pode se dar por qualquer meio em que o agente consiga dispor. Isso significa que tanto a publicação de um vídeo em redes sociais quanto a distribuição de uma imagem impressa configuram a conduta criminosa, uma vez que atingem o objetivo igualmente.

O Objeto do crime é o conteúdo audiovisual, exemplificado no artigo por fotografia e vídeo, contendo a cena de estupro ou apologia ao ato criminoso ou ainda cena de sexo não autorizada pela vítima. Um ponto importante sobre o objeto é que ele sempre representa algo considerado lesivo à sociedade, algo que fere tanto o interesse público quanto a dignidade e autonomia da vontade da vítima - podendo deixar prejuizos que se prolongam no tempo (traumas, sequelas, marginalização do meio social, entre outros).

Destaca-se que não existe modalidade culposa do crime, sendo exigida a intenção de agir.

A pena prevista para aplicação é privativa de liberdade, configurando reclusão, de 1 a 5 anos, podendo ser majorada de acordo com a hipótese do §1º:

§ 1º  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.

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Essa causa de aumento de pena foi disposta principalmente para coibir a prática do “Revenge Porn” (Pornografia de vingança), conduta considerada ainda mais reprovável e que consiste em descontar um sentimento de raiva ou ódio contra uma pessoa próxima (geralmente companheiro) com a qual se teve um desentendimento. Além disso, a intenção de humilhar a vítima também configura causa de aumento de pena.

Por fim, o art. §2º trabalha a possibilidade de exclusão da ilicitude:

§ 2º  Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.

Aqui o código expõe a importância da divulgação de material que tem algo a agregar para a sociedade, serve para informação (cunho jornalístico), aprendizado (cunho científico e acadêmico) ou enriquecimento social (cunho cultural). É importante frisar que a excludente de ilicitude não autoriza a divulgação sem consentimento da vítima nem a sua identificação no material.

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11 MEDIAÇÃO PARA

SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM E RUFIANISMO

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11. Mediação para Servir a Lascívia de Outrem e Rufianismo

Tipo penalO artigo 227 do Código Penal conceitua o crime de mediação para servir a lascívia de outrem “induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem”. Note-se que o objetivo é a satisfação da lascívia alheia, e não a própria. Este crime está contido no Capítulo V do Código Penal, que trata do lenocínio. O lenocínio pode ser conceituado como a facilitação da prostituição, proxenetismo (mediação para satisfazer da lascívia de outrem) e tráfico de pessoas com vistas à exploração sexual. Deve-se observar que, neste caso, a vítima não é forçada ao ato sexual.

A mediação para servir à lascívia de outrem difere-se do induzimento à prostituição, na medida em que a prostituição pressupõe a habitualidade daquela prática, enquanto que, na mediação, a vítima é induzida a ter relações sexuais em uma ocasião determinada, com uma pessoa determinada, seja mediante pagamento ou não.

SUJEITO ATIVO E PASSIVO

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. No lenocínio comum, apenas o “mediador”, o facilitador (também chamado de lenão) responde por crime. No lenocínio de vulnerável, entretanto, o destinatário responderá por estupro de vulnerável. Qualquer pessoa pode ser o sujeito passivo, maior ou menor de idade.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

No momento em que se realiza o primeiro ato libidinoso, não havendo necessidade de a vítima satisfazer a lascívia do terceiro. Admite-se a modalidade tentada.

PENA 

A pena é de reclusão de 1 a 3 anos.

Vejamos, ainda, sobre esse tipo penal:

Se a vítima é maior de idadeCrime de mediação para servir a lascívia de outrem em sua

modalidade simples (art. 227, caput)

Se a vítima tem mais de 14 e menos de 18 anosCrime de mediação para servir a lascívia de outrem em sua

modalidade qualificada (art. 227, § 1°)

Se a vítima é menor de 14 anosCrime de mediação para servir a lascívia de outrem com

vulnerável menor de 14 anos (art. 218)

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RufianismoTIPO PENAL

O artigo 230 do Código Penal conceitua o crime de rufianismo como o ato de “tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça”. É indiferente que haja o consentimento da pessoa que se prostitui.

Deve-se observar que, ainda que o rufião, também conhecido como cafetão, possua alguma profissão e seja sustentado apenas parcialmente pela (o) prostituta (o), o crime restará caracterizado. Um fator que distingue o rufianismo do favorecimento à prostituição com intuito de lucro é que o rufião, que acaba também favorecendo ou facilitando a prostituição, tem escopo principal, na verdade, de auferir vantagens econômicas perante a pessoa que se prostitui.

Este tipo penal visa à proteção da dignidade sexual e, também, a coibir a difusão da prostituição. Há erro de tipo se o indivíduo não souber que é sustentado pelo exercício da prostituição ou não for sua escolha (o filho da prostituta, obviamente, não tem responsabilidade alguma por ser sustentado por dinheiro advindo da prostituição.)

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Diferencia-se o rufião do proxeneta. O rufião (ou cafetão) tira vantagem, habitualmente, da prostituição de outrem, mediante o emprego de violência ou não. Já o proxeneta, conforme mencionado anteriormente, intermedia a satisfação da lascívia alheia (é um intermediador de encontros sexuais), auferindo ou não lucro.

Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo, seja homem ou mulher. Diz-se, entretanto, que a vítima deve ser a pessoa já prostituída pois, caso o agente alicie alguém à prostituição, convencendo-a a iniciar tal atividade em proveito próprio, o crime será o do art. 228 do CP (e, se menor de 18 anos, o do art. 218-B).

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Trata-se de crime habitual, ou seja, consuma-se com a subsistência mediante a prostituição de outrem e não se admite a tentativa.

PENA

A pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Vejamos quais são as formas qualificadas:

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12 CRIME DE MANTER

“CASA DE PROSTITUIÇÃO”

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12. Crime de Manter “Casa de Prostituição”

Tipo penal O artigo 229 do Código Penal conceitua o crime de manter casa de prostituição como “manter, por conta própria ou de terceiros, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente”.

Este crime sofreu alterações com o advento da Lei n° 12.015/2009, conforme pode-se constatar a seguir:

NOVA REDAÇÃO REDAÇÃO ANTERIOR

Art. 229.  Manter, por conta própria ou de terceiro,

estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou

não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou

gerente:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Nomenclatura: Casa de prostituição;

Sujeito ativo: qualquer pessoa que mantenha, por conta

própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra

exploração sexual;

Sujeito passivo: a coletividade.

Art. 229 Manter, por conta própria ou de terceiro, casa

de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim

libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta

do proprietário ou gerente:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Nomenclatura: Casa de prostituição;

Sujeito ativo: qualquer pessoa que mantenha, por conta

própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar

destinado a encontros para fim libidinoso;

Sujeito passivo: a coletividade.

Verifica-se que, anteriormente, o tipo penal referia-se a “manter lugar destinado a encontros para fim libidinoso”. A alteração legislativa removeu este trecho, com a finalidade de evitar a criminalização de motéis, casas de swing e casas noturnas.

Há a dificuldade de se determinar a existência de exploração sexual, que está associada à ideia de agressão à liberdade de autodeterminação do indivíduo.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é a pessoa prostituída e também a coletividade (diz-se que se trata de um crime vago). Lembre-se: caso o agente alicie alguém à prostituição, o crime será o do art. 228 do CP, e, se o local também explorar a prostituição de menores de 18 anos, o crime será o do art. 218-B, § 2º, II, do CP.

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CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Por ser crime habitual, exige-se a reiteração da atividade de manutenção de casa de prostituição. A simples manutenção do estabelecimento já caracteriza o crime, sendo este, portanto, um crime formal (aquele que não deve causar dano de fato, bastando que gere o risco de o dano ser gerado). Isso significa que, ainda que não haja, de fato, a consumação de encontros sexuais no local, a manutenção deste bastará para restar configurado o tipo. Não se admite a tentativa por ser crime habitual.

PENA 

A pena é de reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

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13 TRÁFICO DE PESSOA

PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

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13. Tráfico de Pessoa Para Fim de Exploração SexualEste crime foi revogado recentemente pela Lei nº 13.344/16, que trata especificamente da prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas. Por sua vez, foi inserido no Código Penal o artigo 149-A, que trata do tráfico de pessoas de forma genérica, o qual poderá ter, dentre outras finalidades, a exploração sexual. De acordo com o artigo 149-A do Código Penal, o crime de tráfico de pessoas consiste em “agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso”.

Ele poderá ter como finalidade:

• Remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;

• Submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;

• Submetê-la a qualquer tipo de servidão;

• Adoção ilegal, ou

• Exploração sexual.

PENA

A pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa.

Promoção de migração ilegal TIPO PENAL

Recentemente, a Lei n° 13.445/2017 incluiu, no Título VI do Código Penal, que trata “Dos crimes contra a dignidade sexual”, o crime de promoção de migração ilegal.

O artigo 232-A do Código Penal conceitua este crime como “promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro”.

Contudo, o tipo penal não especifica tratar-se de promoção de migração ilegal para fins de exploração sexual.

Deve existir o dolo específico de obter vantagem econômica.

PENA

A pena é de reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

Há aumento de pena de 1/6 a 1/3 se:

• O crime for cometido com violência;

• Se há submissão a condição desumana ou degradante.

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14 ULTRAJE PÚBLICO AO

PUDOR

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14. Ultraje Público ao Pudor

Tipo penalO crime de ultraje público ao pudor é conceituado pelo artigo 233 do Código Penal como “praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público”. O bem jurídico tutelado é a moralidade pública ou o pudor, conceitos subjetivos e variáveis com o passar do tempo.

É necessário que o comportamento praticado tenha conotação sexual ou exponha órgão sexual. Pode-se citar como exemplo o ato de urinar em via pública. É praticado mediante dolo direto ou eventual (não há previsão de modalidade culposa).

Além disso, o ato deverá ser praticado em local:

• Público: aquele cujo acesso ao público é irrestrito.

• Aberto ao público: o acesso ao público é permitido mediante o cumprimento de determinada condição.

• Exposto ao público: o acesso é privado, mas é visível aos demais.

Não se exige que nenhum ato sexual seja realmente praticado, basta a simples sugestão.

Contudo, deve-se ter em vista o princípio da adequação social. Desse modo, atualmente, não consiste em ultraje público ao pudor fazer top less, deixar partes do corpo expostas em um desfile de carnaval ou ficar nu em uma praia de nudismo. Estas situações são já vistas como possibilidades dentro da nossa sociedade.

Além disso, caso o agente vise a importunar pessoa específica em lugar público ou acessível ao público, não se tratará de crime de ultraje público ao pudor, mas da contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor, prevista no artigo 61 da Lei de Contravenções Penais.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Já o sujeito passivo é a coletividade, tratando-se de outro crime vago. Considera-se vago o crime que prejudica não um indivíduo em particular mas um número de pessoas indeterminadas.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime consuma-se no momento da prática do ato obsceno, que não precisa ter sido, de fato, presenciado por ninguém. Admite-se tentativa, ainda que rara, pois é muito fácil consubstanciar um ato obsceno.

PENA

A pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.

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Escrito ou objeto obscenoO artigo 234 do Código Penal conceitua o crime de escrito ou objeto obsceno como “fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno”.

De acordo com o parágrafo único deste artigo, incorre na mesma pena quem:

• Vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;

• Realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral ou exibição cinematográfi-ca de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo que tenha o mesmo caráter;

• Realiza, em lugar público, acessível ao público ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter ob-sceno.

Este crime está superado desde o advento da Constituição de 1988, que vela pela liberdade de expressão, sendo alvo de críticas a sua manutenção no Código Penal.

Deve-se observar que este crime não se confunde com outras condutas semelhantes previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente relativamente à pornografia infantil.

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15 CRIMES RELACIONADOS

À PORNOGRAFIA INFANTIL - LEI

8.069/90

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15. Crimes Relacionados à Pornografia Infantil - Lei 8.069/90

Os artigos 240 a 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente tratam dos crimes relacionados à pornografia infantil. São eles:

Crime Pena

Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer

meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou

adolescente.

Pena – reclusão, de 4

(quatro) a 8 (oito) anos, e

multa.

Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que

contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança

ou adolescente.

Pena – reclusão, de 4

(quatro) a 8 (oito) anos, e

multa.

Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar

por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou

telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de

sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

Pena – reclusão, de 3 (três)

a 6 (seis) anos, e multa.

Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo

ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou

pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

Pena – reclusão, de 1 (um)

a 4 (quatro) anos, e multa.

A pena é diminuída de 1

(um) a 2/3 (dois terços) se

de pequena quantidade o

material.

Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo

explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem

ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de

representação visual.

Pena – reclusão, de 1 (um)

a 3 (três) anos, e multa.

Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de

comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso.

Pena – reclusão, de 1 (um)

a 3 (três) anos, e multa.

Sobre o crime de aliciamento, assédio ou constrangimento da criança com fim de praticar ato libidinoso com ela: se efetivamente ocorrer o ato libidinoso, o crime será de estupro de vulnerável.

Deve-se observar, ainda, que, nos crimes relacionados à pornografia infantil previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, é utilizado o limite etário nele previsto:

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16 ASPECTOS

PROCESSUAIS DE CRIMES SEXUAIS

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16. Aspectos Processuais de Crimes SexuaisO processamento e o julgamento dos crimes sexuais sempre estiveram envoltos em polêmicas, principalmente quanto à necessidade de representação da vítima e o dano emocional que esta poderia sofrer com a investigação e abordagem do assunto.

Antes da lei nº 12.015/2009, os crimes sexuais eram processados mediante Ação Penal Privada, ou seja, somente a pessoa que teve seu bem jurídico violado poderia requerer a propositura da Ação Penal. O referido diploma legal alterou essa regra, transformando os crimes sexuais em delitos de Ação Penal Pública condicionada à representação.

A alteração foi realizada para evitar a inércia do Ministério público frente às situações que continham práticas ilícitas graves, uma vez que a maioria das vítimas não chegava a fazer uma denúncia por medo ou ameaça de seu violentador. Outro aspecto considerado, foi o perigo da revitimização, onde a pessoa violentada deveria rememorar os fatos ocorridos para o andamento do processo. Dessa forma, a alteração do processamento para Ação Penal Pública condicionada à representação procurou atender a esses dois aspectos mencionados.

Entretanto, com o advento da Lei nº 13.718/2018, a Ação Penal Pública incondicionada passou a ser o meio adequado para o processamento dos crimes sexuais. Tal situação se deu pela maior valorização da gravidade desses crimes e por uma mudança no entendimento do sofrimento que a vítima efetivamente passa.

Passou-se a considerar a impunidade de tais delitos mais gravosa do que a necessidade de rememorar os fatos e, portanto, que o Ministério Público deveria agir independentemente da representação da vítima.

Código Penal

Art. 225.   Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública incondicionada.  (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)

Por fim, vale ressaltar que o Código Penal atribui o segredo de justiça para tais processos, visando a proteção da vítima:

Art. 234-B.   Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.  (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

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17 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NOS CRIMES

SEXUAIS

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17. Causas de Aumento de Pena nos Crimes SexuaisSão causas de aumento de pena para os crimes sexuais previstos nos Capítulos I e II, do Título VI do Código Penal

• Da quarta parte, se o crime for cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas (art. 226, I do Código Penal);  

• Da metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou se, por qualquer outro título, tem autoridade sobre ela (art. 226, II do Código Penal);  

• De 1/3 a 2/3, nos casos de estupro coletivo ou corretivo:

• Estupro coletivo: mediante concurso de dois ou mais a gentes;

• Estupro corretivo: para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.

São causas de aumento de pena para todos os crimes sexuais previstos no Título VI do Código Penal

• Da metade a 2/3, se do crime resultar gravidez (art. 234-A, III do Código Penal). Vale lembrar que é autorizado o aborto no caso de gravidez resultante de estupro, nos termos do artigo 128, II do Código Penal.

• De 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber (dolo direito ou dolo eventual) ser portador e se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência (art. 234-A, IV do Código Penal).