n. 6 abril de · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade...

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N. 6 A BRIL DE 2018 1 n. 6 DJE de abril 2018

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Page 1: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

N 6 ABRIL DE 2018

1

n 6 DJE de

abril 2018

N 6 ABRIL DE 2018

2

TESES E FUNDAMENTOS

BOLET IM DE ACOacuteRDAtildeOS PUBLICA DOS

Este Boletim conteacutem resumos de decisotildees proferidas pelo Supremo Tribunal Federal

Elaborado a partir de acoacuterdatildeos publicados no mecircs de referecircncia e cujo julgamento te-nha sido noticiado no Informativo STF o perioacutedico traz os principais fundamentos e con-

clusotildees dos julgados

A f idelidade deste trabalho ao conteuacutedo efetivo das decisotildees embora seja uma das metas almejadas apenas poderaacute ser aferida pela leitura integral do

inteiro teor publicado no Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico

SUMAacuteRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA 4 ADMINISTRACcedilAtildeO INDIRETA

EMPRESAS PUacuteBLICAS

SERVIDORES PUacuteBLICOS 4 REMUNERACcedilAtildeO

REAJUSTE

SERVIDORES PUacuteBLICOS 5 SERVIDORES TEMPORAacuteRIOS

REGRAS PARA ADMISSAtildeO

DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES 6 PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

ORDEM SOCIAL 6 COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

N 6 ABRIL DE 2018

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 15 CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA 15 CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO EM

GERAL DESACATO

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL 18 ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

NULIDADES E RECURSOS EM GERAL 18 RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

N 6 ABRIL DE 2018

4

DIREITO ADMINISTRATIVO

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

ADMINISTRACcedilAtildeO INDIRETA

EMPRESAS PUacuteBLICAS

Eacute incabiacutevel aplicar agrave empresa puacuteblica a regra excepcional de execuccedilatildeo prevista no art 100 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Mostra-se incongruente considerar bens in-tegrantes do patrimocircnio de empresas puacuteblicas enquanto pessoas juriacutedicas de direito privado como bens puacuteblicos gozando das vantagens de-correntes Tal oacuteptica subverte a organicidade do Direito ao implementar ao acessoacuterio e ao princi-pal regimes juriacutedicos diversos

A par desse aspecto haacute de ser observada a determinaccedilatildeo do art 173 sect 1ordm II da CF2 o qual submete a empresa puacuteblica ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas no que incluiacutedos os direitos e as obrigaccedilotildees civis comerciais tri-butaacuterias e trabalhistas

Ademais descabe a fixaccedilatildeo de honoraacuterios re-cursais previstos no art 85 sect 11 do Coacutedigo de Processo Civil3 quando se tratar de recurso for-malizado no curso de processo cujo rito os ex-clua

RE 851711 ED-AgR-AgR rel min Marco Aureacutelio DJE de 10-4-2018 (Informativo 888 Primeira Turma)

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1 CF art 100 ldquoOs pagamentos devidos pelas Fa-

zendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Munici-pais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo ex-clusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas do-taccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

2 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei sect 1ordm A lei estabeleceraacute o estatuto juriacutedico da em-presa puacuteblica da sociedade de economia mista e de suas subsidiaacuterias que explorem atividade econocircmica de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de bens ou de pres-taccedilatildeo de serviccedilos dispondo sobre () II ndash a sujeiccedilatildeo

SERVIDORES PUacuteBLICOS

REMUNERACcedilAtildeO

REAJUSTE

A decisatildeo judicial que considera procedente o pedido de incorporaccedilatildeo de reajuste de 1323 indistintamente a servidor puacuteblico federal afronta o Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante4

As Leis 106972003 e 106982003 tratam de diferentes aspectos da estrutura remuneratoacuteria dos servidores puacuteblicos federais A Lei 106972003 concedeu reajuste de 1 nas remu-neraccedilotildees e subsiacutedios A Lei 106982003 por sua vez instituiu Vantagem Pecuniaacuteria Individual (VPI) devida aos servidores puacuteblicos federais ocupantes de cargos efetivos ou empregos puacutebli-cos fixada em valor absoluto Satildeo parcelas dis-tintas

A instituiccedilatildeo de VPI em valor absoluto supos-tamente representaria aumento linear que bene-ficiaria em maior proporccedilatildeo os servidores puacutebli-cos federais com remuneraccedilotildees mais baixas Com o objetivo de corrigir essa alegada distor-ccedilatildeo esse valor fixo pode ser interpretado judici-almente como um percentual relativo agrave menor remuneraccedilatildeo de servidor puacuteblico federal na data de promulgaccedilatildeo da lei (1323) Assim o rea-juste de 1 (Lei 106972003) somado agrave VPI (Lei 106982003) eacute transformado por decisatildeo judi-cial em um reajuste de 1323 e aplicado em be-nefiacutecio de parte interessada desde que receba remuneraccedilatildeo mais elevada

Esse reajuste de 1323 todavia natildeo tem fundamento na Lei 106982003 de modo que o

ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas in-clusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comer-ciais trabalhistas e tributaacuteriosrdquo

3 CPC art 85 ldquoA sentenccedila condenaraacute o vencido a pagar honoraacuterios ao advogado do vencedor () sect 11 O tribunal ao julgar recurso majoraraacute os honoraacuterios fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal observando con-forme o caso o disposto nos sectsect 2ordm a 6ordm sendo vedado ao tribunal no cocircmputo geral da fixaccedilatildeo de honoraacuterios devidos ao advogado do vencedor ultrapassar os res-pectivos limites estabelecidos nos sectsect 2ordm e 3ordm para a fase de conhecimentordquo

4 Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante ldquoNatildeo cabe ao Poder Judiciaacuterio que natildeo tem funccedilatildeo legislativa au-mentar vencimentos de servidores puacuteblicos sob o fun-damento de isonomiardquo

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Judiciaacuterio ao concedecirc-lo com base no princiacutepio da isonomia atua como legislador positivo

A superveniecircncia da Lei 133172016 que in-corporou a VPI agrave remuneraccedilatildeo dos servidores fe-derais natildeo altera essa conclusatildeo A norma limi-tou-se a determinar que a VPI e outras parcelas remuneratoacuterias dela originadas deferidas por decisatildeo administrativa ou judicial fossem absor-vidas por aumentos de vencimento entatildeo conce-didos5

Rcl 24965 AgR red p o ac min Alexandre de Moraes DJE de 30-4-2018 (Informativo 886 Primeira Turma)

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SERVIDORES PUacuteBLICOS

SERVIDORES TEMPORAacuteRIOS

REGRAS PARA ADMISSAtildeO

Satildeo inconstitucionais a autorizaccedilatildeo legislativa geneacuterica para contrataccedilatildeo temporaacuteria e a permissatildeo de prorrogaccedilatildeo indefinida do prazo de contrataccedilotildees temporaacuterias

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute intransigente em relaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico como requisito para o provimento de cargos puacute-blicos (CF art 37 II6) A exceccedilatildeo prevista no art 37 IX7 da CF deve ser interpretada restritiva-mente cabendo ao legislador infraconstitucional a observacircncia dos requisitos da reserva legal da atualidade do excepcional interesse puacuteblico jus-tificador da contrataccedilatildeo temporaacuteria e da tempo-rariedade e precariedade dos viacutenculos contratu-ais8

Diante disso foi declarado inconstitucional o

5 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Ro-

berto Barroso 6 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-

direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico de-pende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acordo com a natu-reza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

7 CF art 37 ldquo() IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse

art 264 VI e sect 1ordm parte final9 da Lei Comple-mentar 41990 do Estado de Mato Grosso com a redaccedilatildeo conferida pela Lei Complementar 121992 com efeitos ex nunc preservados os contratos em vigor que tenham sido celebrados exclusivamente com fundamento nos referidos dispositivos por um prazo maacuteximo de ateacute doze meses da publicaccedilatildeo da ata de julgamento (31-3-2017)

ADI 3662 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 858 Plenaacuterio)

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puacuteblicordquo 8 Precedente RE 658026 rel min Dias Toffoli P

repercussatildeo geral Tema 612 9 Lei Complementar 41990 do Estado de Mato

Grosso art 264 ldquoConsideram-se como de necessi-dade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico as contrataccedilotildees que visem a () VI ndash atender a outras situaccedilotildees motivadamente de urgecircncia sect 1ordm As contra-taccedilotildees de que trata este artigo teratildeo dotaccedilatildeo especiacute-fica e natildeo poderatildeo ultrapassar o prazo de 06 (seis) me-ses exceto nas hipoacuteteses dos incisos II IV e VI cujo prazo maacuteximo seraacute de 12 (doze) meses e inciso V cujo prazo maacuteximo seraacute de 24 (vinte e quatro) meses pra-zos estes somente prorrogaacuteveis se o interesse puacuteblico justificadamente assim o exigir ou ateacute a nomeaccedilatildeo por concurso puacuteblicordquo

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES

PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

Ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) no acircmbito administrativo eacute defeso substituir o criteacuterio valorativo para escolha e correccedilatildeo das questotildees pela banca examinadora em concursos puacuteblicos

Eacute vedado ao CNJ assim como ao Poder Judi-ciaacuterio interferir na esfera da Administraccedilatildeo para valorar os criteacuterios adotados pela comissatildeo de concurso O oacutergatildeo natildeo pode apreciar mateacuteria re-ferente ao conteuacutedo de questotildees mas somente verificar e julgar a constitucionalidade legali-dade e infringecircncia dos processos seletivos

No entanto a discricionariedade da banca de concurso natildeo poderaacute confundir-se com arbitrari-edade em desrespeito aos princiacutepios constituci-onais da administraccedilatildeo puacuteblica possibilitando somente nessas hipoacuteteses plena revisatildeo pelo CNJ

Consectariamente tendo-se em vista que a delegaccedilatildeo do exerciacutecio do serviccedilo notarial e de registro natildeo eacute privativa de bacharel em direito10 e 11 revela-se legiacutetima a atuaccedilatildeo do CNJ que aplica interpretaccedilatildeo paciacutefica e reiterada no sen-tido da inviabilidade dos Tribunais locais atribuiacute-rem pontos aos candidatos que exerceram dele-gaccedilatildeo de serviccedilos notariais eou registrais por

10 Lei 89351994 art 15 sect 2ordm ldquoArt 15 Os con-

cursos seratildeo realizados pelo Poder Judiciaacuterio com a participaccedilatildeo em todas as suas fases da Ordem dos Advogados do Brasil do Ministeacuterio Puacuteblico de um no-taacuterio e de um registrador ()sect2ordm Ao concurso puacuteblico poderatildeo concorrer candidatos natildeo bachareacuteis em di-reito que tenham completado ateacute a data da primeira publicaccedilatildeo do edital do concurso de provas e tiacutetulos dez anos de exerciacutecio em serviccedilo notarial ou de regis-trordquo

11 Precedente ADI 4178 MC-REF rel min Cezar Peluso P

12 CF art 22 ldquoCompete privativamente agrave Uniatildeo le-gislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica tele-comunicaccedilotildees e radiodifusatildeordquo

13 CF art 221 ldquoA produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguin-tes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da

prazo inferior a 10 anos nos termos da Resolu-ccedilatildeo CNJ 812009

MS 33527 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 895 Primeira Turma)

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ORDEM SOCIAL

COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

Natildeo haacute viacutecio formal de constitucionalidade na Lei 124852011 ndash Lei do Serviccedilo de Acesso Condicionado (SeAC) de iniciativa de parla-mentar que redefiniu o marco regulatoacuterio do setor de TV por assinatura no paiacutes estabele-cendo amplas e profundas mudanccedilas no se-tor

A competecircncia legislativa do Congresso Naci-onal para dispor sobre telecomunicaccedilotildees (CF art 22 IV12) e para disciplinar os princiacutepios cons-titucionais incidentes sobre a produccedilatildeo e a pro-gramaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo (CF arts 22113 e 222 sect 3ordm14) confere autoridade ao Poder Legislativo para sponte propria criar ou modificar marcos regulatoacuterios setoriais no que estatildeo abarcados poderes para adaptar as institui-ccedilotildees vigentes de modo a garantir a efetividade das novas regras juriacutedicas

cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo in-dependente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regiona-lizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabelecidos em lei IV ndash res-peito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacute-liardquo

14 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 3ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social eletrocircnica indepen-dentemente da tecnologia utilizada para a prestaccedilatildeo do serviccedilo deveratildeo observar os princiacutepios enunciados no art 221 na forma de lei especiacutefica que tambeacutem garantiraacute a prioridade de profissionais brasileiros na execuccedilatildeo de produccedilotildees nacionaisrdquo

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Os arts 1015 1216 1317 19 sect 3ordm18 2119 2220 25 sect 1ordm21 31 caput22 3623 e 4224 da Lei do SeAC simplesmente indicam a autoridade do Estado encarregada de exigir o cumprimento de novas regras materiais sobre o serviccedilo regulado Eacute um desdobramento loacutegico de qualquer regra de con-duta que exija oacutergatildeo encarregado de dar-lhe con-creccedilatildeo de sorte que a mera inovaccedilatildeo formal de atribuiccedilotildees da Agecircncia Nacional do Cinema (AN-CINE) natildeo configura fundamento suficiente para inquinar a validade da lei

Dessa forma a Lei do SeAC natildeo promoveu al-teraccedilotildees na fisionomia do Estado brasileiro que

15 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-

bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anosrdquo

16 Lei 124852011 art 12 ldquoO exerciacutecio das ativi-dades de programaccedilatildeo e empacotamento eacute condicio-nado a credenciamento perante a Ancinerdquo

17 Lei 124852011 art 13 ldquoAs programadoras e empacotadoras credenciadas pela Ancine deveratildeo prestar as informaccedilotildees solicitadas pela Agecircncia para efeito de fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo empacotamento e publicidaderdquo

18 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cumpri-mento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo desconsi-derados () sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacute-odo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancinerdquo

19 Lei 124852011 art 21 ldquoEm caso de compro-vada impossibilidade de cumprimento integral do dis-posto nos arts 16 a 18 o interessado deveraacute submeter solicitaccedilatildeo de dispensa agrave Ancine que caso reconheccedila a impossibilidade alegada pronunciar-se-aacute sobre as condiccedilotildees e limites de cumprimento desses artigosrdquo

20 Lei 124852011 art 22 ldquoRegulamentaccedilatildeo da Ancine disporaacute sobre a fixaccedilatildeo do horaacuterio nobre res-peitado o limite maacuteximo de 7 (sete) horas diaacuterias para canais de programaccedilatildeo direcionados para crianccedilas e adolescentes e de 6 (seis) horas para os demais canais de programaccedilatildeordquo

21 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no ca-put e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimentordquo

22 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo dis-tribuir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2o do art 4o desta Leirdquo

descaracterizassem sua identidade da Adminis-traccedilatildeo a ponto de justificar a glosa judicial com fulcro no art 61 sect 1ordm II e da Constituiccedilatildeo Fede-ral (CF)25 O legislador foi prudente o suficiente para apenas adaptar o arcabouccedilo institucional brasileiro (e a partilha de atribuiccedilotildees ateacute entatildeo existente) a um novo marco regulatoacuterio do setor cujas modificaccedilotildees natildeo passariam de levianas promessas se natildeo acompanhadas de instrumen-tos operacionais miacutenimos para dar-lhes eficaacutecia

Satildeo constitucionais as restriccedilotildees agrave proprie-dade cruzada (art 5ordm caput e sect 1ordm da Lei do SeAC26) e agrave verticalizaccedilatildeo da cadeia de valor

23 Lei 124852011 art 36 ldquoA empresa no exerciacute-cio das atividades de programaccedilatildeo ou empacota-mento da comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condici-onado que descumprir quaisquer das obrigaccedilotildees dis-postas nesta Lei sujeitar-se-aacute agraves seguintes sanccedilotildees aplicaacuteveis pela Ancine sem prejuiacutezo de outras previs-tas em lei inclusive as de natureza civil e penal I ndash advertecircncia II ndash multa inclusive diaacuteria III ndash suspensatildeo temporaacuteria do credenciamento IV ndash cancelamento do credenciamentordquo

24 Lei 124852011 art 42 ldquoA Anatel e a Ancine no acircmbito de suas respectivas competecircncias regula-mentaratildeo as disposiccedilotildees desta Lei em ateacute 180 (cento e oitenta) dias da sua publicaccedilatildeo ouvido o parecer do Conselho de Comunicaccedilatildeo Socialrdquo

25 CF art 61 ldquoA iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Con-gresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Su-premo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II - disponham sobre () e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacute-blica observado o disposto no art 84 VIrdquo

26 Lei 124852011 art 5o ldquoO controle ou a titula-ridade de participaccedilatildeo superior a 50 (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas presta-doras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo natildeo poderaacute ser detido direta indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum por concessionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo so-nora e de sons e imagens e por produtoras e progra-madoras com sede no Brasil ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles serviccedilos sect 1o O con-trole ou a titularidade de participaccedilatildeo superior a 30 (trinta por cento) do capital total e votante de conces-sionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens e de produtoras e programadoras com sede no Brasil natildeo poderaacute ser detido direta indi-retamente ou por meio de empresa sob controle co-mum por prestadoras de serviccedilos de telecomunica-

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 2: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

N 6 ABRIL DE 2018

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TESES E FUNDAMENTOS

BOLET IM DE ACOacuteRDAtildeOS PUBLICA DOS

Este Boletim conteacutem resumos de decisotildees proferidas pelo Supremo Tribunal Federal

Elaborado a partir de acoacuterdatildeos publicados no mecircs de referecircncia e cujo julgamento te-nha sido noticiado no Informativo STF o perioacutedico traz os principais fundamentos e con-

clusotildees dos julgados

A f idelidade deste trabalho ao conteuacutedo efetivo das decisotildees embora seja uma das metas almejadas apenas poderaacute ser aferida pela leitura integral do

inteiro teor publicado no Diaacuterio da Justiccedila Eletrocircnico

SUMAacuteRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA 4 ADMINISTRACcedilAtildeO INDIRETA

EMPRESAS PUacuteBLICAS

SERVIDORES PUacuteBLICOS 4 REMUNERACcedilAtildeO

REAJUSTE

SERVIDORES PUacuteBLICOS 5 SERVIDORES TEMPORAacuteRIOS

REGRAS PARA ADMISSAtildeO

DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES 6 PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

ORDEM SOCIAL 6 COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

N 6 ABRIL DE 2018

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 15 CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA 15 CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO EM

GERAL DESACATO

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL 18 ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

NULIDADES E RECURSOS EM GERAL 18 RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

N 6 ABRIL DE 2018

4

DIREITO ADMINISTRATIVO

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

ADMINISTRACcedilAtildeO INDIRETA

EMPRESAS PUacuteBLICAS

Eacute incabiacutevel aplicar agrave empresa puacuteblica a regra excepcional de execuccedilatildeo prevista no art 100 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Mostra-se incongruente considerar bens in-tegrantes do patrimocircnio de empresas puacuteblicas enquanto pessoas juriacutedicas de direito privado como bens puacuteblicos gozando das vantagens de-correntes Tal oacuteptica subverte a organicidade do Direito ao implementar ao acessoacuterio e ao princi-pal regimes juriacutedicos diversos

A par desse aspecto haacute de ser observada a determinaccedilatildeo do art 173 sect 1ordm II da CF2 o qual submete a empresa puacuteblica ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas no que incluiacutedos os direitos e as obrigaccedilotildees civis comerciais tri-butaacuterias e trabalhistas

Ademais descabe a fixaccedilatildeo de honoraacuterios re-cursais previstos no art 85 sect 11 do Coacutedigo de Processo Civil3 quando se tratar de recurso for-malizado no curso de processo cujo rito os ex-clua

RE 851711 ED-AgR-AgR rel min Marco Aureacutelio DJE de 10-4-2018 (Informativo 888 Primeira Turma)

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1 CF art 100 ldquoOs pagamentos devidos pelas Fa-

zendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Munici-pais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo ex-clusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas do-taccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

2 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei sect 1ordm A lei estabeleceraacute o estatuto juriacutedico da em-presa puacuteblica da sociedade de economia mista e de suas subsidiaacuterias que explorem atividade econocircmica de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de bens ou de pres-taccedilatildeo de serviccedilos dispondo sobre () II ndash a sujeiccedilatildeo

SERVIDORES PUacuteBLICOS

REMUNERACcedilAtildeO

REAJUSTE

A decisatildeo judicial que considera procedente o pedido de incorporaccedilatildeo de reajuste de 1323 indistintamente a servidor puacuteblico federal afronta o Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante4

As Leis 106972003 e 106982003 tratam de diferentes aspectos da estrutura remuneratoacuteria dos servidores puacuteblicos federais A Lei 106972003 concedeu reajuste de 1 nas remu-neraccedilotildees e subsiacutedios A Lei 106982003 por sua vez instituiu Vantagem Pecuniaacuteria Individual (VPI) devida aos servidores puacuteblicos federais ocupantes de cargos efetivos ou empregos puacutebli-cos fixada em valor absoluto Satildeo parcelas dis-tintas

A instituiccedilatildeo de VPI em valor absoluto supos-tamente representaria aumento linear que bene-ficiaria em maior proporccedilatildeo os servidores puacutebli-cos federais com remuneraccedilotildees mais baixas Com o objetivo de corrigir essa alegada distor-ccedilatildeo esse valor fixo pode ser interpretado judici-almente como um percentual relativo agrave menor remuneraccedilatildeo de servidor puacuteblico federal na data de promulgaccedilatildeo da lei (1323) Assim o rea-juste de 1 (Lei 106972003) somado agrave VPI (Lei 106982003) eacute transformado por decisatildeo judi-cial em um reajuste de 1323 e aplicado em be-nefiacutecio de parte interessada desde que receba remuneraccedilatildeo mais elevada

Esse reajuste de 1323 todavia natildeo tem fundamento na Lei 106982003 de modo que o

ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas in-clusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comer-ciais trabalhistas e tributaacuteriosrdquo

3 CPC art 85 ldquoA sentenccedila condenaraacute o vencido a pagar honoraacuterios ao advogado do vencedor () sect 11 O tribunal ao julgar recurso majoraraacute os honoraacuterios fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal observando con-forme o caso o disposto nos sectsect 2ordm a 6ordm sendo vedado ao tribunal no cocircmputo geral da fixaccedilatildeo de honoraacuterios devidos ao advogado do vencedor ultrapassar os res-pectivos limites estabelecidos nos sectsect 2ordm e 3ordm para a fase de conhecimentordquo

4 Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante ldquoNatildeo cabe ao Poder Judiciaacuterio que natildeo tem funccedilatildeo legislativa au-mentar vencimentos de servidores puacuteblicos sob o fun-damento de isonomiardquo

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Judiciaacuterio ao concedecirc-lo com base no princiacutepio da isonomia atua como legislador positivo

A superveniecircncia da Lei 133172016 que in-corporou a VPI agrave remuneraccedilatildeo dos servidores fe-derais natildeo altera essa conclusatildeo A norma limi-tou-se a determinar que a VPI e outras parcelas remuneratoacuterias dela originadas deferidas por decisatildeo administrativa ou judicial fossem absor-vidas por aumentos de vencimento entatildeo conce-didos5

Rcl 24965 AgR red p o ac min Alexandre de Moraes DJE de 30-4-2018 (Informativo 886 Primeira Turma)

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SERVIDORES PUacuteBLICOS

SERVIDORES TEMPORAacuteRIOS

REGRAS PARA ADMISSAtildeO

Satildeo inconstitucionais a autorizaccedilatildeo legislativa geneacuterica para contrataccedilatildeo temporaacuteria e a permissatildeo de prorrogaccedilatildeo indefinida do prazo de contrataccedilotildees temporaacuterias

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute intransigente em relaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico como requisito para o provimento de cargos puacute-blicos (CF art 37 II6) A exceccedilatildeo prevista no art 37 IX7 da CF deve ser interpretada restritiva-mente cabendo ao legislador infraconstitucional a observacircncia dos requisitos da reserva legal da atualidade do excepcional interesse puacuteblico jus-tificador da contrataccedilatildeo temporaacuteria e da tempo-rariedade e precariedade dos viacutenculos contratu-ais8

Diante disso foi declarado inconstitucional o

5 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Ro-

berto Barroso 6 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-

direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico de-pende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acordo com a natu-reza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

7 CF art 37 ldquo() IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse

art 264 VI e sect 1ordm parte final9 da Lei Comple-mentar 41990 do Estado de Mato Grosso com a redaccedilatildeo conferida pela Lei Complementar 121992 com efeitos ex nunc preservados os contratos em vigor que tenham sido celebrados exclusivamente com fundamento nos referidos dispositivos por um prazo maacuteximo de ateacute doze meses da publicaccedilatildeo da ata de julgamento (31-3-2017)

ADI 3662 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 858 Plenaacuterio)

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puacuteblicordquo 8 Precedente RE 658026 rel min Dias Toffoli P

repercussatildeo geral Tema 612 9 Lei Complementar 41990 do Estado de Mato

Grosso art 264 ldquoConsideram-se como de necessi-dade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico as contrataccedilotildees que visem a () VI ndash atender a outras situaccedilotildees motivadamente de urgecircncia sect 1ordm As contra-taccedilotildees de que trata este artigo teratildeo dotaccedilatildeo especiacute-fica e natildeo poderatildeo ultrapassar o prazo de 06 (seis) me-ses exceto nas hipoacuteteses dos incisos II IV e VI cujo prazo maacuteximo seraacute de 12 (doze) meses e inciso V cujo prazo maacuteximo seraacute de 24 (vinte e quatro) meses pra-zos estes somente prorrogaacuteveis se o interesse puacuteblico justificadamente assim o exigir ou ateacute a nomeaccedilatildeo por concurso puacuteblicordquo

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES

PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

Ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) no acircmbito administrativo eacute defeso substituir o criteacuterio valorativo para escolha e correccedilatildeo das questotildees pela banca examinadora em concursos puacuteblicos

Eacute vedado ao CNJ assim como ao Poder Judi-ciaacuterio interferir na esfera da Administraccedilatildeo para valorar os criteacuterios adotados pela comissatildeo de concurso O oacutergatildeo natildeo pode apreciar mateacuteria re-ferente ao conteuacutedo de questotildees mas somente verificar e julgar a constitucionalidade legali-dade e infringecircncia dos processos seletivos

No entanto a discricionariedade da banca de concurso natildeo poderaacute confundir-se com arbitrari-edade em desrespeito aos princiacutepios constituci-onais da administraccedilatildeo puacuteblica possibilitando somente nessas hipoacuteteses plena revisatildeo pelo CNJ

Consectariamente tendo-se em vista que a delegaccedilatildeo do exerciacutecio do serviccedilo notarial e de registro natildeo eacute privativa de bacharel em direito10 e 11 revela-se legiacutetima a atuaccedilatildeo do CNJ que aplica interpretaccedilatildeo paciacutefica e reiterada no sen-tido da inviabilidade dos Tribunais locais atribuiacute-rem pontos aos candidatos que exerceram dele-gaccedilatildeo de serviccedilos notariais eou registrais por

10 Lei 89351994 art 15 sect 2ordm ldquoArt 15 Os con-

cursos seratildeo realizados pelo Poder Judiciaacuterio com a participaccedilatildeo em todas as suas fases da Ordem dos Advogados do Brasil do Ministeacuterio Puacuteblico de um no-taacuterio e de um registrador ()sect2ordm Ao concurso puacuteblico poderatildeo concorrer candidatos natildeo bachareacuteis em di-reito que tenham completado ateacute a data da primeira publicaccedilatildeo do edital do concurso de provas e tiacutetulos dez anos de exerciacutecio em serviccedilo notarial ou de regis-trordquo

11 Precedente ADI 4178 MC-REF rel min Cezar Peluso P

12 CF art 22 ldquoCompete privativamente agrave Uniatildeo le-gislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica tele-comunicaccedilotildees e radiodifusatildeordquo

13 CF art 221 ldquoA produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguin-tes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da

prazo inferior a 10 anos nos termos da Resolu-ccedilatildeo CNJ 812009

MS 33527 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 895 Primeira Turma)

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ORDEM SOCIAL

COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

Natildeo haacute viacutecio formal de constitucionalidade na Lei 124852011 ndash Lei do Serviccedilo de Acesso Condicionado (SeAC) de iniciativa de parla-mentar que redefiniu o marco regulatoacuterio do setor de TV por assinatura no paiacutes estabele-cendo amplas e profundas mudanccedilas no se-tor

A competecircncia legislativa do Congresso Naci-onal para dispor sobre telecomunicaccedilotildees (CF art 22 IV12) e para disciplinar os princiacutepios cons-titucionais incidentes sobre a produccedilatildeo e a pro-gramaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo (CF arts 22113 e 222 sect 3ordm14) confere autoridade ao Poder Legislativo para sponte propria criar ou modificar marcos regulatoacuterios setoriais no que estatildeo abarcados poderes para adaptar as institui-ccedilotildees vigentes de modo a garantir a efetividade das novas regras juriacutedicas

cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo in-dependente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regiona-lizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabelecidos em lei IV ndash res-peito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacute-liardquo

14 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 3ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social eletrocircnica indepen-dentemente da tecnologia utilizada para a prestaccedilatildeo do serviccedilo deveratildeo observar os princiacutepios enunciados no art 221 na forma de lei especiacutefica que tambeacutem garantiraacute a prioridade de profissionais brasileiros na execuccedilatildeo de produccedilotildees nacionaisrdquo

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Os arts 1015 1216 1317 19 sect 3ordm18 2119 2220 25 sect 1ordm21 31 caput22 3623 e 4224 da Lei do SeAC simplesmente indicam a autoridade do Estado encarregada de exigir o cumprimento de novas regras materiais sobre o serviccedilo regulado Eacute um desdobramento loacutegico de qualquer regra de con-duta que exija oacutergatildeo encarregado de dar-lhe con-creccedilatildeo de sorte que a mera inovaccedilatildeo formal de atribuiccedilotildees da Agecircncia Nacional do Cinema (AN-CINE) natildeo configura fundamento suficiente para inquinar a validade da lei

Dessa forma a Lei do SeAC natildeo promoveu al-teraccedilotildees na fisionomia do Estado brasileiro que

15 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-

bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anosrdquo

16 Lei 124852011 art 12 ldquoO exerciacutecio das ativi-dades de programaccedilatildeo e empacotamento eacute condicio-nado a credenciamento perante a Ancinerdquo

17 Lei 124852011 art 13 ldquoAs programadoras e empacotadoras credenciadas pela Ancine deveratildeo prestar as informaccedilotildees solicitadas pela Agecircncia para efeito de fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo empacotamento e publicidaderdquo

18 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cumpri-mento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo desconsi-derados () sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacute-odo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancinerdquo

19 Lei 124852011 art 21 ldquoEm caso de compro-vada impossibilidade de cumprimento integral do dis-posto nos arts 16 a 18 o interessado deveraacute submeter solicitaccedilatildeo de dispensa agrave Ancine que caso reconheccedila a impossibilidade alegada pronunciar-se-aacute sobre as condiccedilotildees e limites de cumprimento desses artigosrdquo

20 Lei 124852011 art 22 ldquoRegulamentaccedilatildeo da Ancine disporaacute sobre a fixaccedilatildeo do horaacuterio nobre res-peitado o limite maacuteximo de 7 (sete) horas diaacuterias para canais de programaccedilatildeo direcionados para crianccedilas e adolescentes e de 6 (seis) horas para os demais canais de programaccedilatildeordquo

21 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no ca-put e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimentordquo

22 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo dis-tribuir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2o do art 4o desta Leirdquo

descaracterizassem sua identidade da Adminis-traccedilatildeo a ponto de justificar a glosa judicial com fulcro no art 61 sect 1ordm II e da Constituiccedilatildeo Fede-ral (CF)25 O legislador foi prudente o suficiente para apenas adaptar o arcabouccedilo institucional brasileiro (e a partilha de atribuiccedilotildees ateacute entatildeo existente) a um novo marco regulatoacuterio do setor cujas modificaccedilotildees natildeo passariam de levianas promessas se natildeo acompanhadas de instrumen-tos operacionais miacutenimos para dar-lhes eficaacutecia

Satildeo constitucionais as restriccedilotildees agrave proprie-dade cruzada (art 5ordm caput e sect 1ordm da Lei do SeAC26) e agrave verticalizaccedilatildeo da cadeia de valor

23 Lei 124852011 art 36 ldquoA empresa no exerciacute-cio das atividades de programaccedilatildeo ou empacota-mento da comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condici-onado que descumprir quaisquer das obrigaccedilotildees dis-postas nesta Lei sujeitar-se-aacute agraves seguintes sanccedilotildees aplicaacuteveis pela Ancine sem prejuiacutezo de outras previs-tas em lei inclusive as de natureza civil e penal I ndash advertecircncia II ndash multa inclusive diaacuteria III ndash suspensatildeo temporaacuteria do credenciamento IV ndash cancelamento do credenciamentordquo

24 Lei 124852011 art 42 ldquoA Anatel e a Ancine no acircmbito de suas respectivas competecircncias regula-mentaratildeo as disposiccedilotildees desta Lei em ateacute 180 (cento e oitenta) dias da sua publicaccedilatildeo ouvido o parecer do Conselho de Comunicaccedilatildeo Socialrdquo

25 CF art 61 ldquoA iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Con-gresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Su-premo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II - disponham sobre () e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacute-blica observado o disposto no art 84 VIrdquo

26 Lei 124852011 art 5o ldquoO controle ou a titula-ridade de participaccedilatildeo superior a 50 (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas presta-doras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo natildeo poderaacute ser detido direta indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum por concessionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo so-nora e de sons e imagens e por produtoras e progra-madoras com sede no Brasil ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles serviccedilos sect 1o O con-trole ou a titularidade de participaccedilatildeo superior a 30 (trinta por cento) do capital total e votante de conces-sionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens e de produtoras e programadoras com sede no Brasil natildeo poderaacute ser detido direta indi-retamente ou por meio de empresa sob controle co-mum por prestadoras de serviccedilos de telecomunica-

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 3: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

N 6 ABRIL DE 2018

3

DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 15 CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA 15 CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO EM

GERAL DESACATO

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL 18 ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

NULIDADES E RECURSOS EM GERAL 18 RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

N 6 ABRIL DE 2018

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

ADMINISTRACcedilAtildeO INDIRETA

EMPRESAS PUacuteBLICAS

Eacute incabiacutevel aplicar agrave empresa puacuteblica a regra excepcional de execuccedilatildeo prevista no art 100 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Mostra-se incongruente considerar bens in-tegrantes do patrimocircnio de empresas puacuteblicas enquanto pessoas juriacutedicas de direito privado como bens puacuteblicos gozando das vantagens de-correntes Tal oacuteptica subverte a organicidade do Direito ao implementar ao acessoacuterio e ao princi-pal regimes juriacutedicos diversos

A par desse aspecto haacute de ser observada a determinaccedilatildeo do art 173 sect 1ordm II da CF2 o qual submete a empresa puacuteblica ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas no que incluiacutedos os direitos e as obrigaccedilotildees civis comerciais tri-butaacuterias e trabalhistas

Ademais descabe a fixaccedilatildeo de honoraacuterios re-cursais previstos no art 85 sect 11 do Coacutedigo de Processo Civil3 quando se tratar de recurso for-malizado no curso de processo cujo rito os ex-clua

RE 851711 ED-AgR-AgR rel min Marco Aureacutelio DJE de 10-4-2018 (Informativo 888 Primeira Turma)

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1 CF art 100 ldquoOs pagamentos devidos pelas Fa-

zendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Munici-pais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo ex-clusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas do-taccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

2 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei sect 1ordm A lei estabeleceraacute o estatuto juriacutedico da em-presa puacuteblica da sociedade de economia mista e de suas subsidiaacuterias que explorem atividade econocircmica de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de bens ou de pres-taccedilatildeo de serviccedilos dispondo sobre () II ndash a sujeiccedilatildeo

SERVIDORES PUacuteBLICOS

REMUNERACcedilAtildeO

REAJUSTE

A decisatildeo judicial que considera procedente o pedido de incorporaccedilatildeo de reajuste de 1323 indistintamente a servidor puacuteblico federal afronta o Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante4

As Leis 106972003 e 106982003 tratam de diferentes aspectos da estrutura remuneratoacuteria dos servidores puacuteblicos federais A Lei 106972003 concedeu reajuste de 1 nas remu-neraccedilotildees e subsiacutedios A Lei 106982003 por sua vez instituiu Vantagem Pecuniaacuteria Individual (VPI) devida aos servidores puacuteblicos federais ocupantes de cargos efetivos ou empregos puacutebli-cos fixada em valor absoluto Satildeo parcelas dis-tintas

A instituiccedilatildeo de VPI em valor absoluto supos-tamente representaria aumento linear que bene-ficiaria em maior proporccedilatildeo os servidores puacutebli-cos federais com remuneraccedilotildees mais baixas Com o objetivo de corrigir essa alegada distor-ccedilatildeo esse valor fixo pode ser interpretado judici-almente como um percentual relativo agrave menor remuneraccedilatildeo de servidor puacuteblico federal na data de promulgaccedilatildeo da lei (1323) Assim o rea-juste de 1 (Lei 106972003) somado agrave VPI (Lei 106982003) eacute transformado por decisatildeo judi-cial em um reajuste de 1323 e aplicado em be-nefiacutecio de parte interessada desde que receba remuneraccedilatildeo mais elevada

Esse reajuste de 1323 todavia natildeo tem fundamento na Lei 106982003 de modo que o

ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas in-clusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comer-ciais trabalhistas e tributaacuteriosrdquo

3 CPC art 85 ldquoA sentenccedila condenaraacute o vencido a pagar honoraacuterios ao advogado do vencedor () sect 11 O tribunal ao julgar recurso majoraraacute os honoraacuterios fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal observando con-forme o caso o disposto nos sectsect 2ordm a 6ordm sendo vedado ao tribunal no cocircmputo geral da fixaccedilatildeo de honoraacuterios devidos ao advogado do vencedor ultrapassar os res-pectivos limites estabelecidos nos sectsect 2ordm e 3ordm para a fase de conhecimentordquo

4 Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante ldquoNatildeo cabe ao Poder Judiciaacuterio que natildeo tem funccedilatildeo legislativa au-mentar vencimentos de servidores puacuteblicos sob o fun-damento de isonomiardquo

N 6 ABRIL DE 2018

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Judiciaacuterio ao concedecirc-lo com base no princiacutepio da isonomia atua como legislador positivo

A superveniecircncia da Lei 133172016 que in-corporou a VPI agrave remuneraccedilatildeo dos servidores fe-derais natildeo altera essa conclusatildeo A norma limi-tou-se a determinar que a VPI e outras parcelas remuneratoacuterias dela originadas deferidas por decisatildeo administrativa ou judicial fossem absor-vidas por aumentos de vencimento entatildeo conce-didos5

Rcl 24965 AgR red p o ac min Alexandre de Moraes DJE de 30-4-2018 (Informativo 886 Primeira Turma)

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SERVIDORES PUacuteBLICOS

SERVIDORES TEMPORAacuteRIOS

REGRAS PARA ADMISSAtildeO

Satildeo inconstitucionais a autorizaccedilatildeo legislativa geneacuterica para contrataccedilatildeo temporaacuteria e a permissatildeo de prorrogaccedilatildeo indefinida do prazo de contrataccedilotildees temporaacuterias

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute intransigente em relaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico como requisito para o provimento de cargos puacute-blicos (CF art 37 II6) A exceccedilatildeo prevista no art 37 IX7 da CF deve ser interpretada restritiva-mente cabendo ao legislador infraconstitucional a observacircncia dos requisitos da reserva legal da atualidade do excepcional interesse puacuteblico jus-tificador da contrataccedilatildeo temporaacuteria e da tempo-rariedade e precariedade dos viacutenculos contratu-ais8

Diante disso foi declarado inconstitucional o

5 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Ro-

berto Barroso 6 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-

direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico de-pende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acordo com a natu-reza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

7 CF art 37 ldquo() IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse

art 264 VI e sect 1ordm parte final9 da Lei Comple-mentar 41990 do Estado de Mato Grosso com a redaccedilatildeo conferida pela Lei Complementar 121992 com efeitos ex nunc preservados os contratos em vigor que tenham sido celebrados exclusivamente com fundamento nos referidos dispositivos por um prazo maacuteximo de ateacute doze meses da publicaccedilatildeo da ata de julgamento (31-3-2017)

ADI 3662 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 858 Plenaacuterio)

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puacuteblicordquo 8 Precedente RE 658026 rel min Dias Toffoli P

repercussatildeo geral Tema 612 9 Lei Complementar 41990 do Estado de Mato

Grosso art 264 ldquoConsideram-se como de necessi-dade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico as contrataccedilotildees que visem a () VI ndash atender a outras situaccedilotildees motivadamente de urgecircncia sect 1ordm As contra-taccedilotildees de que trata este artigo teratildeo dotaccedilatildeo especiacute-fica e natildeo poderatildeo ultrapassar o prazo de 06 (seis) me-ses exceto nas hipoacuteteses dos incisos II IV e VI cujo prazo maacuteximo seraacute de 12 (doze) meses e inciso V cujo prazo maacuteximo seraacute de 24 (vinte e quatro) meses pra-zos estes somente prorrogaacuteveis se o interesse puacuteblico justificadamente assim o exigir ou ateacute a nomeaccedilatildeo por concurso puacuteblicordquo

N 6 ABRIL DE 2018

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES

PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

Ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) no acircmbito administrativo eacute defeso substituir o criteacuterio valorativo para escolha e correccedilatildeo das questotildees pela banca examinadora em concursos puacuteblicos

Eacute vedado ao CNJ assim como ao Poder Judi-ciaacuterio interferir na esfera da Administraccedilatildeo para valorar os criteacuterios adotados pela comissatildeo de concurso O oacutergatildeo natildeo pode apreciar mateacuteria re-ferente ao conteuacutedo de questotildees mas somente verificar e julgar a constitucionalidade legali-dade e infringecircncia dos processos seletivos

No entanto a discricionariedade da banca de concurso natildeo poderaacute confundir-se com arbitrari-edade em desrespeito aos princiacutepios constituci-onais da administraccedilatildeo puacuteblica possibilitando somente nessas hipoacuteteses plena revisatildeo pelo CNJ

Consectariamente tendo-se em vista que a delegaccedilatildeo do exerciacutecio do serviccedilo notarial e de registro natildeo eacute privativa de bacharel em direito10 e 11 revela-se legiacutetima a atuaccedilatildeo do CNJ que aplica interpretaccedilatildeo paciacutefica e reiterada no sen-tido da inviabilidade dos Tribunais locais atribuiacute-rem pontos aos candidatos que exerceram dele-gaccedilatildeo de serviccedilos notariais eou registrais por

10 Lei 89351994 art 15 sect 2ordm ldquoArt 15 Os con-

cursos seratildeo realizados pelo Poder Judiciaacuterio com a participaccedilatildeo em todas as suas fases da Ordem dos Advogados do Brasil do Ministeacuterio Puacuteblico de um no-taacuterio e de um registrador ()sect2ordm Ao concurso puacuteblico poderatildeo concorrer candidatos natildeo bachareacuteis em di-reito que tenham completado ateacute a data da primeira publicaccedilatildeo do edital do concurso de provas e tiacutetulos dez anos de exerciacutecio em serviccedilo notarial ou de regis-trordquo

11 Precedente ADI 4178 MC-REF rel min Cezar Peluso P

12 CF art 22 ldquoCompete privativamente agrave Uniatildeo le-gislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica tele-comunicaccedilotildees e radiodifusatildeordquo

13 CF art 221 ldquoA produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguin-tes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da

prazo inferior a 10 anos nos termos da Resolu-ccedilatildeo CNJ 812009

MS 33527 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 895 Primeira Turma)

___________________________________

ORDEM SOCIAL

COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

Natildeo haacute viacutecio formal de constitucionalidade na Lei 124852011 ndash Lei do Serviccedilo de Acesso Condicionado (SeAC) de iniciativa de parla-mentar que redefiniu o marco regulatoacuterio do setor de TV por assinatura no paiacutes estabele-cendo amplas e profundas mudanccedilas no se-tor

A competecircncia legislativa do Congresso Naci-onal para dispor sobre telecomunicaccedilotildees (CF art 22 IV12) e para disciplinar os princiacutepios cons-titucionais incidentes sobre a produccedilatildeo e a pro-gramaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo (CF arts 22113 e 222 sect 3ordm14) confere autoridade ao Poder Legislativo para sponte propria criar ou modificar marcos regulatoacuterios setoriais no que estatildeo abarcados poderes para adaptar as institui-ccedilotildees vigentes de modo a garantir a efetividade das novas regras juriacutedicas

cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo in-dependente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regiona-lizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabelecidos em lei IV ndash res-peito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacute-liardquo

14 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 3ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social eletrocircnica indepen-dentemente da tecnologia utilizada para a prestaccedilatildeo do serviccedilo deveratildeo observar os princiacutepios enunciados no art 221 na forma de lei especiacutefica que tambeacutem garantiraacute a prioridade de profissionais brasileiros na execuccedilatildeo de produccedilotildees nacionaisrdquo

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Os arts 1015 1216 1317 19 sect 3ordm18 2119 2220 25 sect 1ordm21 31 caput22 3623 e 4224 da Lei do SeAC simplesmente indicam a autoridade do Estado encarregada de exigir o cumprimento de novas regras materiais sobre o serviccedilo regulado Eacute um desdobramento loacutegico de qualquer regra de con-duta que exija oacutergatildeo encarregado de dar-lhe con-creccedilatildeo de sorte que a mera inovaccedilatildeo formal de atribuiccedilotildees da Agecircncia Nacional do Cinema (AN-CINE) natildeo configura fundamento suficiente para inquinar a validade da lei

Dessa forma a Lei do SeAC natildeo promoveu al-teraccedilotildees na fisionomia do Estado brasileiro que

15 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-

bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anosrdquo

16 Lei 124852011 art 12 ldquoO exerciacutecio das ativi-dades de programaccedilatildeo e empacotamento eacute condicio-nado a credenciamento perante a Ancinerdquo

17 Lei 124852011 art 13 ldquoAs programadoras e empacotadoras credenciadas pela Ancine deveratildeo prestar as informaccedilotildees solicitadas pela Agecircncia para efeito de fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo empacotamento e publicidaderdquo

18 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cumpri-mento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo desconsi-derados () sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacute-odo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancinerdquo

19 Lei 124852011 art 21 ldquoEm caso de compro-vada impossibilidade de cumprimento integral do dis-posto nos arts 16 a 18 o interessado deveraacute submeter solicitaccedilatildeo de dispensa agrave Ancine que caso reconheccedila a impossibilidade alegada pronunciar-se-aacute sobre as condiccedilotildees e limites de cumprimento desses artigosrdquo

20 Lei 124852011 art 22 ldquoRegulamentaccedilatildeo da Ancine disporaacute sobre a fixaccedilatildeo do horaacuterio nobre res-peitado o limite maacuteximo de 7 (sete) horas diaacuterias para canais de programaccedilatildeo direcionados para crianccedilas e adolescentes e de 6 (seis) horas para os demais canais de programaccedilatildeordquo

21 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no ca-put e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimentordquo

22 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo dis-tribuir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2o do art 4o desta Leirdquo

descaracterizassem sua identidade da Adminis-traccedilatildeo a ponto de justificar a glosa judicial com fulcro no art 61 sect 1ordm II e da Constituiccedilatildeo Fede-ral (CF)25 O legislador foi prudente o suficiente para apenas adaptar o arcabouccedilo institucional brasileiro (e a partilha de atribuiccedilotildees ateacute entatildeo existente) a um novo marco regulatoacuterio do setor cujas modificaccedilotildees natildeo passariam de levianas promessas se natildeo acompanhadas de instrumen-tos operacionais miacutenimos para dar-lhes eficaacutecia

Satildeo constitucionais as restriccedilotildees agrave proprie-dade cruzada (art 5ordm caput e sect 1ordm da Lei do SeAC26) e agrave verticalizaccedilatildeo da cadeia de valor

23 Lei 124852011 art 36 ldquoA empresa no exerciacute-cio das atividades de programaccedilatildeo ou empacota-mento da comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condici-onado que descumprir quaisquer das obrigaccedilotildees dis-postas nesta Lei sujeitar-se-aacute agraves seguintes sanccedilotildees aplicaacuteveis pela Ancine sem prejuiacutezo de outras previs-tas em lei inclusive as de natureza civil e penal I ndash advertecircncia II ndash multa inclusive diaacuteria III ndash suspensatildeo temporaacuteria do credenciamento IV ndash cancelamento do credenciamentordquo

24 Lei 124852011 art 42 ldquoA Anatel e a Ancine no acircmbito de suas respectivas competecircncias regula-mentaratildeo as disposiccedilotildees desta Lei em ateacute 180 (cento e oitenta) dias da sua publicaccedilatildeo ouvido o parecer do Conselho de Comunicaccedilatildeo Socialrdquo

25 CF art 61 ldquoA iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Con-gresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Su-premo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II - disponham sobre () e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacute-blica observado o disposto no art 84 VIrdquo

26 Lei 124852011 art 5o ldquoO controle ou a titula-ridade de participaccedilatildeo superior a 50 (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas presta-doras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo natildeo poderaacute ser detido direta indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum por concessionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo so-nora e de sons e imagens e por produtoras e progra-madoras com sede no Brasil ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles serviccedilos sect 1o O con-trole ou a titularidade de participaccedilatildeo superior a 30 (trinta por cento) do capital total e votante de conces-sionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens e de produtoras e programadoras com sede no Brasil natildeo poderaacute ser detido direta indi-retamente ou por meio de empresa sob controle co-mum por prestadoras de serviccedilos de telecomunica-

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 4: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ORGANIZACcedilAtildeO DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

ADMINISTRACcedilAtildeO INDIRETA

EMPRESAS PUacuteBLICAS

Eacute incabiacutevel aplicar agrave empresa puacuteblica a regra excepcional de execuccedilatildeo prevista no art 100 da Constituiccedilatildeo Federal (CF)1

Mostra-se incongruente considerar bens in-tegrantes do patrimocircnio de empresas puacuteblicas enquanto pessoas juriacutedicas de direito privado como bens puacuteblicos gozando das vantagens de-correntes Tal oacuteptica subverte a organicidade do Direito ao implementar ao acessoacuterio e ao princi-pal regimes juriacutedicos diversos

A par desse aspecto haacute de ser observada a determinaccedilatildeo do art 173 sect 1ordm II da CF2 o qual submete a empresa puacuteblica ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas no que incluiacutedos os direitos e as obrigaccedilotildees civis comerciais tri-butaacuterias e trabalhistas

Ademais descabe a fixaccedilatildeo de honoraacuterios re-cursais previstos no art 85 sect 11 do Coacutedigo de Processo Civil3 quando se tratar de recurso for-malizado no curso de processo cujo rito os ex-clua

RE 851711 ED-AgR-AgR rel min Marco Aureacutelio DJE de 10-4-2018 (Informativo 888 Primeira Turma)

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1 CF art 100 ldquoOs pagamentos devidos pelas Fa-

zendas Puacuteblicas Federal Estaduais Distrital e Munici-pais em virtude de sentenccedila judiciaacuteria far-se-atildeo ex-clusivamente na ordem cronoloacutegica de apresentaccedilatildeo dos precatoacuterios e agrave conta dos creacuteditos respectivos proibida a designaccedilatildeo de casos ou de pessoas nas do-taccedilotildees orccedilamentaacuterias e nos creacuteditos adicionais abertos para este fimrdquo

2 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei sect 1ordm A lei estabeleceraacute o estatuto juriacutedico da em-presa puacuteblica da sociedade de economia mista e de suas subsidiaacuterias que explorem atividade econocircmica de produccedilatildeo ou comercializaccedilatildeo de bens ou de pres-taccedilatildeo de serviccedilos dispondo sobre () II ndash a sujeiccedilatildeo

SERVIDORES PUacuteBLICOS

REMUNERACcedilAtildeO

REAJUSTE

A decisatildeo judicial que considera procedente o pedido de incorporaccedilatildeo de reajuste de 1323 indistintamente a servidor puacuteblico federal afronta o Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante4

As Leis 106972003 e 106982003 tratam de diferentes aspectos da estrutura remuneratoacuteria dos servidores puacuteblicos federais A Lei 106972003 concedeu reajuste de 1 nas remu-neraccedilotildees e subsiacutedios A Lei 106982003 por sua vez instituiu Vantagem Pecuniaacuteria Individual (VPI) devida aos servidores puacuteblicos federais ocupantes de cargos efetivos ou empregos puacutebli-cos fixada em valor absoluto Satildeo parcelas dis-tintas

A instituiccedilatildeo de VPI em valor absoluto supos-tamente representaria aumento linear que bene-ficiaria em maior proporccedilatildeo os servidores puacutebli-cos federais com remuneraccedilotildees mais baixas Com o objetivo de corrigir essa alegada distor-ccedilatildeo esse valor fixo pode ser interpretado judici-almente como um percentual relativo agrave menor remuneraccedilatildeo de servidor puacuteblico federal na data de promulgaccedilatildeo da lei (1323) Assim o rea-juste de 1 (Lei 106972003) somado agrave VPI (Lei 106982003) eacute transformado por decisatildeo judi-cial em um reajuste de 1323 e aplicado em be-nefiacutecio de parte interessada desde que receba remuneraccedilatildeo mais elevada

Esse reajuste de 1323 todavia natildeo tem fundamento na Lei 106982003 de modo que o

ao regime juriacutedico proacuteprio das empresas privadas in-clusive quanto aos direitos e obrigaccedilotildees civis comer-ciais trabalhistas e tributaacuteriosrdquo

3 CPC art 85 ldquoA sentenccedila condenaraacute o vencido a pagar honoraacuterios ao advogado do vencedor () sect 11 O tribunal ao julgar recurso majoraraacute os honoraacuterios fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal observando con-forme o caso o disposto nos sectsect 2ordm a 6ordm sendo vedado ao tribunal no cocircmputo geral da fixaccedilatildeo de honoraacuterios devidos ao advogado do vencedor ultrapassar os res-pectivos limites estabelecidos nos sectsect 2ordm e 3ordm para a fase de conhecimentordquo

4 Enunciado 37 da Suacutemula Vinculante ldquoNatildeo cabe ao Poder Judiciaacuterio que natildeo tem funccedilatildeo legislativa au-mentar vencimentos de servidores puacuteblicos sob o fun-damento de isonomiardquo

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Judiciaacuterio ao concedecirc-lo com base no princiacutepio da isonomia atua como legislador positivo

A superveniecircncia da Lei 133172016 que in-corporou a VPI agrave remuneraccedilatildeo dos servidores fe-derais natildeo altera essa conclusatildeo A norma limi-tou-se a determinar que a VPI e outras parcelas remuneratoacuterias dela originadas deferidas por decisatildeo administrativa ou judicial fossem absor-vidas por aumentos de vencimento entatildeo conce-didos5

Rcl 24965 AgR red p o ac min Alexandre de Moraes DJE de 30-4-2018 (Informativo 886 Primeira Turma)

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SERVIDORES PUacuteBLICOS

SERVIDORES TEMPORAacuteRIOS

REGRAS PARA ADMISSAtildeO

Satildeo inconstitucionais a autorizaccedilatildeo legislativa geneacuterica para contrataccedilatildeo temporaacuteria e a permissatildeo de prorrogaccedilatildeo indefinida do prazo de contrataccedilotildees temporaacuterias

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute intransigente em relaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico como requisito para o provimento de cargos puacute-blicos (CF art 37 II6) A exceccedilatildeo prevista no art 37 IX7 da CF deve ser interpretada restritiva-mente cabendo ao legislador infraconstitucional a observacircncia dos requisitos da reserva legal da atualidade do excepcional interesse puacuteblico jus-tificador da contrataccedilatildeo temporaacuteria e da tempo-rariedade e precariedade dos viacutenculos contratu-ais8

Diante disso foi declarado inconstitucional o

5 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Ro-

berto Barroso 6 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-

direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico de-pende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acordo com a natu-reza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

7 CF art 37 ldquo() IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse

art 264 VI e sect 1ordm parte final9 da Lei Comple-mentar 41990 do Estado de Mato Grosso com a redaccedilatildeo conferida pela Lei Complementar 121992 com efeitos ex nunc preservados os contratos em vigor que tenham sido celebrados exclusivamente com fundamento nos referidos dispositivos por um prazo maacuteximo de ateacute doze meses da publicaccedilatildeo da ata de julgamento (31-3-2017)

ADI 3662 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 858 Plenaacuterio)

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puacuteblicordquo 8 Precedente RE 658026 rel min Dias Toffoli P

repercussatildeo geral Tema 612 9 Lei Complementar 41990 do Estado de Mato

Grosso art 264 ldquoConsideram-se como de necessi-dade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico as contrataccedilotildees que visem a () VI ndash atender a outras situaccedilotildees motivadamente de urgecircncia sect 1ordm As contra-taccedilotildees de que trata este artigo teratildeo dotaccedilatildeo especiacute-fica e natildeo poderatildeo ultrapassar o prazo de 06 (seis) me-ses exceto nas hipoacuteteses dos incisos II IV e VI cujo prazo maacuteximo seraacute de 12 (doze) meses e inciso V cujo prazo maacuteximo seraacute de 24 (vinte e quatro) meses pra-zos estes somente prorrogaacuteveis se o interesse puacuteblico justificadamente assim o exigir ou ateacute a nomeaccedilatildeo por concurso puacuteblicordquo

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES

PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

Ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) no acircmbito administrativo eacute defeso substituir o criteacuterio valorativo para escolha e correccedilatildeo das questotildees pela banca examinadora em concursos puacuteblicos

Eacute vedado ao CNJ assim como ao Poder Judi-ciaacuterio interferir na esfera da Administraccedilatildeo para valorar os criteacuterios adotados pela comissatildeo de concurso O oacutergatildeo natildeo pode apreciar mateacuteria re-ferente ao conteuacutedo de questotildees mas somente verificar e julgar a constitucionalidade legali-dade e infringecircncia dos processos seletivos

No entanto a discricionariedade da banca de concurso natildeo poderaacute confundir-se com arbitrari-edade em desrespeito aos princiacutepios constituci-onais da administraccedilatildeo puacuteblica possibilitando somente nessas hipoacuteteses plena revisatildeo pelo CNJ

Consectariamente tendo-se em vista que a delegaccedilatildeo do exerciacutecio do serviccedilo notarial e de registro natildeo eacute privativa de bacharel em direito10 e 11 revela-se legiacutetima a atuaccedilatildeo do CNJ que aplica interpretaccedilatildeo paciacutefica e reiterada no sen-tido da inviabilidade dos Tribunais locais atribuiacute-rem pontos aos candidatos que exerceram dele-gaccedilatildeo de serviccedilos notariais eou registrais por

10 Lei 89351994 art 15 sect 2ordm ldquoArt 15 Os con-

cursos seratildeo realizados pelo Poder Judiciaacuterio com a participaccedilatildeo em todas as suas fases da Ordem dos Advogados do Brasil do Ministeacuterio Puacuteblico de um no-taacuterio e de um registrador ()sect2ordm Ao concurso puacuteblico poderatildeo concorrer candidatos natildeo bachareacuteis em di-reito que tenham completado ateacute a data da primeira publicaccedilatildeo do edital do concurso de provas e tiacutetulos dez anos de exerciacutecio em serviccedilo notarial ou de regis-trordquo

11 Precedente ADI 4178 MC-REF rel min Cezar Peluso P

12 CF art 22 ldquoCompete privativamente agrave Uniatildeo le-gislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica tele-comunicaccedilotildees e radiodifusatildeordquo

13 CF art 221 ldquoA produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguin-tes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da

prazo inferior a 10 anos nos termos da Resolu-ccedilatildeo CNJ 812009

MS 33527 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 895 Primeira Turma)

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ORDEM SOCIAL

COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

Natildeo haacute viacutecio formal de constitucionalidade na Lei 124852011 ndash Lei do Serviccedilo de Acesso Condicionado (SeAC) de iniciativa de parla-mentar que redefiniu o marco regulatoacuterio do setor de TV por assinatura no paiacutes estabele-cendo amplas e profundas mudanccedilas no se-tor

A competecircncia legislativa do Congresso Naci-onal para dispor sobre telecomunicaccedilotildees (CF art 22 IV12) e para disciplinar os princiacutepios cons-titucionais incidentes sobre a produccedilatildeo e a pro-gramaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo (CF arts 22113 e 222 sect 3ordm14) confere autoridade ao Poder Legislativo para sponte propria criar ou modificar marcos regulatoacuterios setoriais no que estatildeo abarcados poderes para adaptar as institui-ccedilotildees vigentes de modo a garantir a efetividade das novas regras juriacutedicas

cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo in-dependente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regiona-lizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabelecidos em lei IV ndash res-peito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacute-liardquo

14 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 3ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social eletrocircnica indepen-dentemente da tecnologia utilizada para a prestaccedilatildeo do serviccedilo deveratildeo observar os princiacutepios enunciados no art 221 na forma de lei especiacutefica que tambeacutem garantiraacute a prioridade de profissionais brasileiros na execuccedilatildeo de produccedilotildees nacionaisrdquo

N 6 ABRIL DE 2018

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Os arts 1015 1216 1317 19 sect 3ordm18 2119 2220 25 sect 1ordm21 31 caput22 3623 e 4224 da Lei do SeAC simplesmente indicam a autoridade do Estado encarregada de exigir o cumprimento de novas regras materiais sobre o serviccedilo regulado Eacute um desdobramento loacutegico de qualquer regra de con-duta que exija oacutergatildeo encarregado de dar-lhe con-creccedilatildeo de sorte que a mera inovaccedilatildeo formal de atribuiccedilotildees da Agecircncia Nacional do Cinema (AN-CINE) natildeo configura fundamento suficiente para inquinar a validade da lei

Dessa forma a Lei do SeAC natildeo promoveu al-teraccedilotildees na fisionomia do Estado brasileiro que

15 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-

bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anosrdquo

16 Lei 124852011 art 12 ldquoO exerciacutecio das ativi-dades de programaccedilatildeo e empacotamento eacute condicio-nado a credenciamento perante a Ancinerdquo

17 Lei 124852011 art 13 ldquoAs programadoras e empacotadoras credenciadas pela Ancine deveratildeo prestar as informaccedilotildees solicitadas pela Agecircncia para efeito de fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo empacotamento e publicidaderdquo

18 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cumpri-mento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo desconsi-derados () sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacute-odo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancinerdquo

19 Lei 124852011 art 21 ldquoEm caso de compro-vada impossibilidade de cumprimento integral do dis-posto nos arts 16 a 18 o interessado deveraacute submeter solicitaccedilatildeo de dispensa agrave Ancine que caso reconheccedila a impossibilidade alegada pronunciar-se-aacute sobre as condiccedilotildees e limites de cumprimento desses artigosrdquo

20 Lei 124852011 art 22 ldquoRegulamentaccedilatildeo da Ancine disporaacute sobre a fixaccedilatildeo do horaacuterio nobre res-peitado o limite maacuteximo de 7 (sete) horas diaacuterias para canais de programaccedilatildeo direcionados para crianccedilas e adolescentes e de 6 (seis) horas para os demais canais de programaccedilatildeordquo

21 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no ca-put e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimentordquo

22 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo dis-tribuir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2o do art 4o desta Leirdquo

descaracterizassem sua identidade da Adminis-traccedilatildeo a ponto de justificar a glosa judicial com fulcro no art 61 sect 1ordm II e da Constituiccedilatildeo Fede-ral (CF)25 O legislador foi prudente o suficiente para apenas adaptar o arcabouccedilo institucional brasileiro (e a partilha de atribuiccedilotildees ateacute entatildeo existente) a um novo marco regulatoacuterio do setor cujas modificaccedilotildees natildeo passariam de levianas promessas se natildeo acompanhadas de instrumen-tos operacionais miacutenimos para dar-lhes eficaacutecia

Satildeo constitucionais as restriccedilotildees agrave proprie-dade cruzada (art 5ordm caput e sect 1ordm da Lei do SeAC26) e agrave verticalizaccedilatildeo da cadeia de valor

23 Lei 124852011 art 36 ldquoA empresa no exerciacute-cio das atividades de programaccedilatildeo ou empacota-mento da comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condici-onado que descumprir quaisquer das obrigaccedilotildees dis-postas nesta Lei sujeitar-se-aacute agraves seguintes sanccedilotildees aplicaacuteveis pela Ancine sem prejuiacutezo de outras previs-tas em lei inclusive as de natureza civil e penal I ndash advertecircncia II ndash multa inclusive diaacuteria III ndash suspensatildeo temporaacuteria do credenciamento IV ndash cancelamento do credenciamentordquo

24 Lei 124852011 art 42 ldquoA Anatel e a Ancine no acircmbito de suas respectivas competecircncias regula-mentaratildeo as disposiccedilotildees desta Lei em ateacute 180 (cento e oitenta) dias da sua publicaccedilatildeo ouvido o parecer do Conselho de Comunicaccedilatildeo Socialrdquo

25 CF art 61 ldquoA iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Con-gresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Su-premo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II - disponham sobre () e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacute-blica observado o disposto no art 84 VIrdquo

26 Lei 124852011 art 5o ldquoO controle ou a titula-ridade de participaccedilatildeo superior a 50 (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas presta-doras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo natildeo poderaacute ser detido direta indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum por concessionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo so-nora e de sons e imagens e por produtoras e progra-madoras com sede no Brasil ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles serviccedilos sect 1o O con-trole ou a titularidade de participaccedilatildeo superior a 30 (trinta por cento) do capital total e votante de conces-sionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens e de produtoras e programadoras com sede no Brasil natildeo poderaacute ser detido direta indi-retamente ou por meio de empresa sob controle co-mum por prestadoras de serviccedilos de telecomunica-

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 5: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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Judiciaacuterio ao concedecirc-lo com base no princiacutepio da isonomia atua como legislador positivo

A superveniecircncia da Lei 133172016 que in-corporou a VPI agrave remuneraccedilatildeo dos servidores fe-derais natildeo altera essa conclusatildeo A norma limi-tou-se a determinar que a VPI e outras parcelas remuneratoacuterias dela originadas deferidas por decisatildeo administrativa ou judicial fossem absor-vidas por aumentos de vencimento entatildeo conce-didos5

Rcl 24965 AgR red p o ac min Alexandre de Moraes DJE de 30-4-2018 (Informativo 886 Primeira Turma)

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SERVIDORES PUacuteBLICOS

SERVIDORES TEMPORAacuteRIOS

REGRAS PARA ADMISSAtildeO

Satildeo inconstitucionais a autorizaccedilatildeo legislativa geneacuterica para contrataccedilatildeo temporaacuteria e a permissatildeo de prorrogaccedilatildeo indefinida do prazo de contrataccedilotildees temporaacuterias

A Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute intransigente em relaccedilatildeo ao princiacutepio do concurso puacuteblico como requisito para o provimento de cargos puacute-blicos (CF art 37 II6) A exceccedilatildeo prevista no art 37 IX7 da CF deve ser interpretada restritiva-mente cabendo ao legislador infraconstitucional a observacircncia dos requisitos da reserva legal da atualidade do excepcional interesse puacuteblico jus-tificador da contrataccedilatildeo temporaacuteria e da tempo-rariedade e precariedade dos viacutenculos contratu-ais8

Diante disso foi declarado inconstitucional o

5 Fundamentos extraiacutedos do voto do ministro Ro-

berto Barroso 6 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-

direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () II ndash a investidura em cargo ou emprego puacuteblico de-pende de aprovaccedilatildeo preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos de acordo com a natu-reza e a complexidade do cargo ou emprego na forma prevista em lei ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeordquo

7 CF art 37 ldquo() IX ndash a lei estabeleceraacute os casos de contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse

art 264 VI e sect 1ordm parte final9 da Lei Comple-mentar 41990 do Estado de Mato Grosso com a redaccedilatildeo conferida pela Lei Complementar 121992 com efeitos ex nunc preservados os contratos em vigor que tenham sido celebrados exclusivamente com fundamento nos referidos dispositivos por um prazo maacuteximo de ateacute doze meses da publicaccedilatildeo da ata de julgamento (31-3-2017)

ADI 3662 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 858 Plenaacuterio)

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puacuteblicordquo 8 Precedente RE 658026 rel min Dias Toffoli P

repercussatildeo geral Tema 612 9 Lei Complementar 41990 do Estado de Mato

Grosso art 264 ldquoConsideram-se como de necessi-dade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico as contrataccedilotildees que visem a () VI ndash atender a outras situaccedilotildees motivadamente de urgecircncia sect 1ordm As contra-taccedilotildees de que trata este artigo teratildeo dotaccedilatildeo especiacute-fica e natildeo poderatildeo ultrapassar o prazo de 06 (seis) me-ses exceto nas hipoacuteteses dos incisos II IV e VI cujo prazo maacuteximo seraacute de 12 (doze) meses e inciso V cujo prazo maacuteximo seraacute de 24 (vinte e quatro) meses pra-zos estes somente prorrogaacuteveis se o interesse puacuteblico justificadamente assim o exigir ou ateacute a nomeaccedilatildeo por concurso puacuteblicordquo

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES

PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

Ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) no acircmbito administrativo eacute defeso substituir o criteacuterio valorativo para escolha e correccedilatildeo das questotildees pela banca examinadora em concursos puacuteblicos

Eacute vedado ao CNJ assim como ao Poder Judi-ciaacuterio interferir na esfera da Administraccedilatildeo para valorar os criteacuterios adotados pela comissatildeo de concurso O oacutergatildeo natildeo pode apreciar mateacuteria re-ferente ao conteuacutedo de questotildees mas somente verificar e julgar a constitucionalidade legali-dade e infringecircncia dos processos seletivos

No entanto a discricionariedade da banca de concurso natildeo poderaacute confundir-se com arbitrari-edade em desrespeito aos princiacutepios constituci-onais da administraccedilatildeo puacuteblica possibilitando somente nessas hipoacuteteses plena revisatildeo pelo CNJ

Consectariamente tendo-se em vista que a delegaccedilatildeo do exerciacutecio do serviccedilo notarial e de registro natildeo eacute privativa de bacharel em direito10 e 11 revela-se legiacutetima a atuaccedilatildeo do CNJ que aplica interpretaccedilatildeo paciacutefica e reiterada no sen-tido da inviabilidade dos Tribunais locais atribuiacute-rem pontos aos candidatos que exerceram dele-gaccedilatildeo de serviccedilos notariais eou registrais por

10 Lei 89351994 art 15 sect 2ordm ldquoArt 15 Os con-

cursos seratildeo realizados pelo Poder Judiciaacuterio com a participaccedilatildeo em todas as suas fases da Ordem dos Advogados do Brasil do Ministeacuterio Puacuteblico de um no-taacuterio e de um registrador ()sect2ordm Ao concurso puacuteblico poderatildeo concorrer candidatos natildeo bachareacuteis em di-reito que tenham completado ateacute a data da primeira publicaccedilatildeo do edital do concurso de provas e tiacutetulos dez anos de exerciacutecio em serviccedilo notarial ou de regis-trordquo

11 Precedente ADI 4178 MC-REF rel min Cezar Peluso P

12 CF art 22 ldquoCompete privativamente agrave Uniatildeo le-gislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica tele-comunicaccedilotildees e radiodifusatildeordquo

13 CF art 221 ldquoA produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguin-tes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da

prazo inferior a 10 anos nos termos da Resolu-ccedilatildeo CNJ 812009

MS 33527 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 895 Primeira Turma)

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ORDEM SOCIAL

COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

Natildeo haacute viacutecio formal de constitucionalidade na Lei 124852011 ndash Lei do Serviccedilo de Acesso Condicionado (SeAC) de iniciativa de parla-mentar que redefiniu o marco regulatoacuterio do setor de TV por assinatura no paiacutes estabele-cendo amplas e profundas mudanccedilas no se-tor

A competecircncia legislativa do Congresso Naci-onal para dispor sobre telecomunicaccedilotildees (CF art 22 IV12) e para disciplinar os princiacutepios cons-titucionais incidentes sobre a produccedilatildeo e a pro-gramaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo (CF arts 22113 e 222 sect 3ordm14) confere autoridade ao Poder Legislativo para sponte propria criar ou modificar marcos regulatoacuterios setoriais no que estatildeo abarcados poderes para adaptar as institui-ccedilotildees vigentes de modo a garantir a efetividade das novas regras juriacutedicas

cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo in-dependente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regiona-lizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabelecidos em lei IV ndash res-peito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacute-liardquo

14 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 3ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social eletrocircnica indepen-dentemente da tecnologia utilizada para a prestaccedilatildeo do serviccedilo deveratildeo observar os princiacutepios enunciados no art 221 na forma de lei especiacutefica que tambeacutem garantiraacute a prioridade de profissionais brasileiros na execuccedilatildeo de produccedilotildees nacionaisrdquo

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Os arts 1015 1216 1317 19 sect 3ordm18 2119 2220 25 sect 1ordm21 31 caput22 3623 e 4224 da Lei do SeAC simplesmente indicam a autoridade do Estado encarregada de exigir o cumprimento de novas regras materiais sobre o serviccedilo regulado Eacute um desdobramento loacutegico de qualquer regra de con-duta que exija oacutergatildeo encarregado de dar-lhe con-creccedilatildeo de sorte que a mera inovaccedilatildeo formal de atribuiccedilotildees da Agecircncia Nacional do Cinema (AN-CINE) natildeo configura fundamento suficiente para inquinar a validade da lei

Dessa forma a Lei do SeAC natildeo promoveu al-teraccedilotildees na fisionomia do Estado brasileiro que

15 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-

bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anosrdquo

16 Lei 124852011 art 12 ldquoO exerciacutecio das ativi-dades de programaccedilatildeo e empacotamento eacute condicio-nado a credenciamento perante a Ancinerdquo

17 Lei 124852011 art 13 ldquoAs programadoras e empacotadoras credenciadas pela Ancine deveratildeo prestar as informaccedilotildees solicitadas pela Agecircncia para efeito de fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo empacotamento e publicidaderdquo

18 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cumpri-mento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo desconsi-derados () sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacute-odo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancinerdquo

19 Lei 124852011 art 21 ldquoEm caso de compro-vada impossibilidade de cumprimento integral do dis-posto nos arts 16 a 18 o interessado deveraacute submeter solicitaccedilatildeo de dispensa agrave Ancine que caso reconheccedila a impossibilidade alegada pronunciar-se-aacute sobre as condiccedilotildees e limites de cumprimento desses artigosrdquo

20 Lei 124852011 art 22 ldquoRegulamentaccedilatildeo da Ancine disporaacute sobre a fixaccedilatildeo do horaacuterio nobre res-peitado o limite maacuteximo de 7 (sete) horas diaacuterias para canais de programaccedilatildeo direcionados para crianccedilas e adolescentes e de 6 (seis) horas para os demais canais de programaccedilatildeordquo

21 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no ca-put e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimentordquo

22 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo dis-tribuir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2o do art 4o desta Leirdquo

descaracterizassem sua identidade da Adminis-traccedilatildeo a ponto de justificar a glosa judicial com fulcro no art 61 sect 1ordm II e da Constituiccedilatildeo Fede-ral (CF)25 O legislador foi prudente o suficiente para apenas adaptar o arcabouccedilo institucional brasileiro (e a partilha de atribuiccedilotildees ateacute entatildeo existente) a um novo marco regulatoacuterio do setor cujas modificaccedilotildees natildeo passariam de levianas promessas se natildeo acompanhadas de instrumen-tos operacionais miacutenimos para dar-lhes eficaacutecia

Satildeo constitucionais as restriccedilotildees agrave proprie-dade cruzada (art 5ordm caput e sect 1ordm da Lei do SeAC26) e agrave verticalizaccedilatildeo da cadeia de valor

23 Lei 124852011 art 36 ldquoA empresa no exerciacute-cio das atividades de programaccedilatildeo ou empacota-mento da comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condici-onado que descumprir quaisquer das obrigaccedilotildees dis-postas nesta Lei sujeitar-se-aacute agraves seguintes sanccedilotildees aplicaacuteveis pela Ancine sem prejuiacutezo de outras previs-tas em lei inclusive as de natureza civil e penal I ndash advertecircncia II ndash multa inclusive diaacuteria III ndash suspensatildeo temporaacuteria do credenciamento IV ndash cancelamento do credenciamentordquo

24 Lei 124852011 art 42 ldquoA Anatel e a Ancine no acircmbito de suas respectivas competecircncias regula-mentaratildeo as disposiccedilotildees desta Lei em ateacute 180 (cento e oitenta) dias da sua publicaccedilatildeo ouvido o parecer do Conselho de Comunicaccedilatildeo Socialrdquo

25 CF art 61 ldquoA iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Con-gresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Su-premo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II - disponham sobre () e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacute-blica observado o disposto no art 84 VIrdquo

26 Lei 124852011 art 5o ldquoO controle ou a titula-ridade de participaccedilatildeo superior a 50 (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas presta-doras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo natildeo poderaacute ser detido direta indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum por concessionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo so-nora e de sons e imagens e por produtoras e progra-madoras com sede no Brasil ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles serviccedilos sect 1o O con-trole ou a titularidade de participaccedilatildeo superior a 30 (trinta por cento) do capital total e votante de conces-sionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens e de produtoras e programadoras com sede no Brasil natildeo poderaacute ser detido direta indi-retamente ou por meio de empresa sob controle co-mum por prestadoras de serviccedilos de telecomunica-

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

___________________________________

54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 6: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ORGANIZACcedilAtildeO DOS PODERES

PODER JUDICIAacuteRIO

CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

Ao Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) no acircmbito administrativo eacute defeso substituir o criteacuterio valorativo para escolha e correccedilatildeo das questotildees pela banca examinadora em concursos puacuteblicos

Eacute vedado ao CNJ assim como ao Poder Judi-ciaacuterio interferir na esfera da Administraccedilatildeo para valorar os criteacuterios adotados pela comissatildeo de concurso O oacutergatildeo natildeo pode apreciar mateacuteria re-ferente ao conteuacutedo de questotildees mas somente verificar e julgar a constitucionalidade legali-dade e infringecircncia dos processos seletivos

No entanto a discricionariedade da banca de concurso natildeo poderaacute confundir-se com arbitrari-edade em desrespeito aos princiacutepios constituci-onais da administraccedilatildeo puacuteblica possibilitando somente nessas hipoacuteteses plena revisatildeo pelo CNJ

Consectariamente tendo-se em vista que a delegaccedilatildeo do exerciacutecio do serviccedilo notarial e de registro natildeo eacute privativa de bacharel em direito10 e 11 revela-se legiacutetima a atuaccedilatildeo do CNJ que aplica interpretaccedilatildeo paciacutefica e reiterada no sen-tido da inviabilidade dos Tribunais locais atribuiacute-rem pontos aos candidatos que exerceram dele-gaccedilatildeo de serviccedilos notariais eou registrais por

10 Lei 89351994 art 15 sect 2ordm ldquoArt 15 Os con-

cursos seratildeo realizados pelo Poder Judiciaacuterio com a participaccedilatildeo em todas as suas fases da Ordem dos Advogados do Brasil do Ministeacuterio Puacuteblico de um no-taacuterio e de um registrador ()sect2ordm Ao concurso puacuteblico poderatildeo concorrer candidatos natildeo bachareacuteis em di-reito que tenham completado ateacute a data da primeira publicaccedilatildeo do edital do concurso de provas e tiacutetulos dez anos de exerciacutecio em serviccedilo notarial ou de regis-trordquo

11 Precedente ADI 4178 MC-REF rel min Cezar Peluso P

12 CF art 22 ldquoCompete privativamente agrave Uniatildeo le-gislar sobre () IV ndash aacuteguas energia informaacutetica tele-comunicaccedilotildees e radiodifusatildeordquo

13 CF art 221 ldquoA produccedilatildeo e a programaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo atenderatildeo aos seguin-tes princiacutepios I ndash preferecircncia a finalidades educativas artiacutesticas culturais e informativas II ndash promoccedilatildeo da

prazo inferior a 10 anos nos termos da Resolu-ccedilatildeo CNJ 812009

MS 33527 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 25-4-2018 (Informativo 895 Primeira Turma)

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ORDEM SOCIAL

COMUNICACcedilAtildeO SOCIAL

REGULACcedilAtildeO DE TELECOMUNICACcedilOtildeES

Natildeo haacute viacutecio formal de constitucionalidade na Lei 124852011 ndash Lei do Serviccedilo de Acesso Condicionado (SeAC) de iniciativa de parla-mentar que redefiniu o marco regulatoacuterio do setor de TV por assinatura no paiacutes estabele-cendo amplas e profundas mudanccedilas no se-tor

A competecircncia legislativa do Congresso Naci-onal para dispor sobre telecomunicaccedilotildees (CF art 22 IV12) e para disciplinar os princiacutepios cons-titucionais incidentes sobre a produccedilatildeo e a pro-gramaccedilatildeo das emissoras de raacutedio e televisatildeo (CF arts 22113 e 222 sect 3ordm14) confere autoridade ao Poder Legislativo para sponte propria criar ou modificar marcos regulatoacuterios setoriais no que estatildeo abarcados poderes para adaptar as institui-ccedilotildees vigentes de modo a garantir a efetividade das novas regras juriacutedicas

cultura nacional e regional e estiacutemulo agrave produccedilatildeo in-dependente que objetive sua divulgaccedilatildeo III ndash regiona-lizaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural artiacutestica e jornaliacutestica conforme percentuais estabelecidos em lei IV ndash res-peito aos valores eacuteticos e sociais da pessoa e da famiacute-liardquo

14 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 3ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social eletrocircnica indepen-dentemente da tecnologia utilizada para a prestaccedilatildeo do serviccedilo deveratildeo observar os princiacutepios enunciados no art 221 na forma de lei especiacutefica que tambeacutem garantiraacute a prioridade de profissionais brasileiros na execuccedilatildeo de produccedilotildees nacionaisrdquo

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Os arts 1015 1216 1317 19 sect 3ordm18 2119 2220 25 sect 1ordm21 31 caput22 3623 e 4224 da Lei do SeAC simplesmente indicam a autoridade do Estado encarregada de exigir o cumprimento de novas regras materiais sobre o serviccedilo regulado Eacute um desdobramento loacutegico de qualquer regra de con-duta que exija oacutergatildeo encarregado de dar-lhe con-creccedilatildeo de sorte que a mera inovaccedilatildeo formal de atribuiccedilotildees da Agecircncia Nacional do Cinema (AN-CINE) natildeo configura fundamento suficiente para inquinar a validade da lei

Dessa forma a Lei do SeAC natildeo promoveu al-teraccedilotildees na fisionomia do Estado brasileiro que

15 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-

bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anosrdquo

16 Lei 124852011 art 12 ldquoO exerciacutecio das ativi-dades de programaccedilatildeo e empacotamento eacute condicio-nado a credenciamento perante a Ancinerdquo

17 Lei 124852011 art 13 ldquoAs programadoras e empacotadoras credenciadas pela Ancine deveratildeo prestar as informaccedilotildees solicitadas pela Agecircncia para efeito de fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo empacotamento e publicidaderdquo

18 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cumpri-mento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo desconsi-derados () sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacute-odo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancinerdquo

19 Lei 124852011 art 21 ldquoEm caso de compro-vada impossibilidade de cumprimento integral do dis-posto nos arts 16 a 18 o interessado deveraacute submeter solicitaccedilatildeo de dispensa agrave Ancine que caso reconheccedila a impossibilidade alegada pronunciar-se-aacute sobre as condiccedilotildees e limites de cumprimento desses artigosrdquo

20 Lei 124852011 art 22 ldquoRegulamentaccedilatildeo da Ancine disporaacute sobre a fixaccedilatildeo do horaacuterio nobre res-peitado o limite maacuteximo de 7 (sete) horas diaacuterias para canais de programaccedilatildeo direcionados para crianccedilas e adolescentes e de 6 (seis) horas para os demais canais de programaccedilatildeordquo

21 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no ca-put e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimentordquo

22 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo dis-tribuir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2o do art 4o desta Leirdquo

descaracterizassem sua identidade da Adminis-traccedilatildeo a ponto de justificar a glosa judicial com fulcro no art 61 sect 1ordm II e da Constituiccedilatildeo Fede-ral (CF)25 O legislador foi prudente o suficiente para apenas adaptar o arcabouccedilo institucional brasileiro (e a partilha de atribuiccedilotildees ateacute entatildeo existente) a um novo marco regulatoacuterio do setor cujas modificaccedilotildees natildeo passariam de levianas promessas se natildeo acompanhadas de instrumen-tos operacionais miacutenimos para dar-lhes eficaacutecia

Satildeo constitucionais as restriccedilotildees agrave proprie-dade cruzada (art 5ordm caput e sect 1ordm da Lei do SeAC26) e agrave verticalizaccedilatildeo da cadeia de valor

23 Lei 124852011 art 36 ldquoA empresa no exerciacute-cio das atividades de programaccedilatildeo ou empacota-mento da comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condici-onado que descumprir quaisquer das obrigaccedilotildees dis-postas nesta Lei sujeitar-se-aacute agraves seguintes sanccedilotildees aplicaacuteveis pela Ancine sem prejuiacutezo de outras previs-tas em lei inclusive as de natureza civil e penal I ndash advertecircncia II ndash multa inclusive diaacuteria III ndash suspensatildeo temporaacuteria do credenciamento IV ndash cancelamento do credenciamentordquo

24 Lei 124852011 art 42 ldquoA Anatel e a Ancine no acircmbito de suas respectivas competecircncias regula-mentaratildeo as disposiccedilotildees desta Lei em ateacute 180 (cento e oitenta) dias da sua publicaccedilatildeo ouvido o parecer do Conselho de Comunicaccedilatildeo Socialrdquo

25 CF art 61 ldquoA iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Con-gresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Su-premo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II - disponham sobre () e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacute-blica observado o disposto no art 84 VIrdquo

26 Lei 124852011 art 5o ldquoO controle ou a titula-ridade de participaccedilatildeo superior a 50 (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas presta-doras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo natildeo poderaacute ser detido direta indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum por concessionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo so-nora e de sons e imagens e por produtoras e progra-madoras com sede no Brasil ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles serviccedilos sect 1o O con-trole ou a titularidade de participaccedilatildeo superior a 30 (trinta por cento) do capital total e votante de conces-sionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens e de produtoras e programadoras com sede no Brasil natildeo poderaacute ser detido direta indi-retamente ou por meio de empresa sob controle co-mum por prestadoras de serviccedilos de telecomunica-

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 7: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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Os arts 1015 1216 1317 19 sect 3ordm18 2119 2220 25 sect 1ordm21 31 caput22 3623 e 4224 da Lei do SeAC simplesmente indicam a autoridade do Estado encarregada de exigir o cumprimento de novas regras materiais sobre o serviccedilo regulado Eacute um desdobramento loacutegico de qualquer regra de con-duta que exija oacutergatildeo encarregado de dar-lhe con-creccedilatildeo de sorte que a mera inovaccedilatildeo formal de atribuiccedilotildees da Agecircncia Nacional do Cinema (AN-CINE) natildeo configura fundamento suficiente para inquinar a validade da lei

Dessa forma a Lei do SeAC natildeo promoveu al-teraccedilotildees na fisionomia do Estado brasileiro que

15 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-

bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anosrdquo

16 Lei 124852011 art 12 ldquoO exerciacutecio das ativi-dades de programaccedilatildeo e empacotamento eacute condicio-nado a credenciamento perante a Ancinerdquo

17 Lei 124852011 art 13 ldquoAs programadoras e empacotadoras credenciadas pela Ancine deveratildeo prestar as informaccedilotildees solicitadas pela Agecircncia para efeito de fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo empacotamento e publicidaderdquo

18 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cumpri-mento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo desconsi-derados () sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacute-odo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancinerdquo

19 Lei 124852011 art 21 ldquoEm caso de compro-vada impossibilidade de cumprimento integral do dis-posto nos arts 16 a 18 o interessado deveraacute submeter solicitaccedilatildeo de dispensa agrave Ancine que caso reconheccedila a impossibilidade alegada pronunciar-se-aacute sobre as condiccedilotildees e limites de cumprimento desses artigosrdquo

20 Lei 124852011 art 22 ldquoRegulamentaccedilatildeo da Ancine disporaacute sobre a fixaccedilatildeo do horaacuterio nobre res-peitado o limite maacuteximo de 7 (sete) horas diaacuterias para canais de programaccedilatildeo direcionados para crianccedilas e adolescentes e de 6 (seis) horas para os demais canais de programaccedilatildeordquo

21 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no ca-put e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimentordquo

22 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo dis-tribuir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2o do art 4o desta Leirdquo

descaracterizassem sua identidade da Adminis-traccedilatildeo a ponto de justificar a glosa judicial com fulcro no art 61 sect 1ordm II e da Constituiccedilatildeo Fede-ral (CF)25 O legislador foi prudente o suficiente para apenas adaptar o arcabouccedilo institucional brasileiro (e a partilha de atribuiccedilotildees ateacute entatildeo existente) a um novo marco regulatoacuterio do setor cujas modificaccedilotildees natildeo passariam de levianas promessas se natildeo acompanhadas de instrumen-tos operacionais miacutenimos para dar-lhes eficaacutecia

Satildeo constitucionais as restriccedilotildees agrave proprie-dade cruzada (art 5ordm caput e sect 1ordm da Lei do SeAC26) e agrave verticalizaccedilatildeo da cadeia de valor

23 Lei 124852011 art 36 ldquoA empresa no exerciacute-cio das atividades de programaccedilatildeo ou empacota-mento da comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condici-onado que descumprir quaisquer das obrigaccedilotildees dis-postas nesta Lei sujeitar-se-aacute agraves seguintes sanccedilotildees aplicaacuteveis pela Ancine sem prejuiacutezo de outras previs-tas em lei inclusive as de natureza civil e penal I ndash advertecircncia II ndash multa inclusive diaacuteria III ndash suspensatildeo temporaacuteria do credenciamento IV ndash cancelamento do credenciamentordquo

24 Lei 124852011 art 42 ldquoA Anatel e a Ancine no acircmbito de suas respectivas competecircncias regula-mentaratildeo as disposiccedilotildees desta Lei em ateacute 180 (cento e oitenta) dias da sua publicaccedilatildeo ouvido o parecer do Conselho de Comunicaccedilatildeo Socialrdquo

25 CF art 61 ldquoA iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do Con-gresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Su-premo Tribunal Federal aos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo sect 1ordm Satildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que () II - disponham sobre () e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacute-blica observado o disposto no art 84 VIrdquo

26 Lei 124852011 art 5o ldquoO controle ou a titula-ridade de participaccedilatildeo superior a 50 (cinquenta por cento) do capital total e votante de empresas presta-doras de serviccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo natildeo poderaacute ser detido direta indiretamente ou por meio de empresa sob controle comum por concessionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo so-nora e de sons e imagens e por produtoras e progra-madoras com sede no Brasil ficando vedado a estas explorar diretamente aqueles serviccedilos sect 1o O con-trole ou a titularidade de participaccedilatildeo superior a 30 (trinta por cento) do capital total e votante de conces-sionaacuterias e permissionaacuterias de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens e de produtoras e programadoras com sede no Brasil natildeo poderaacute ser detido direta indi-retamente ou por meio de empresa sob controle co-mum por prestadoras de serviccedilos de telecomunica-

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 8: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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do audiovisual (art 6ordm I e II da Lei do SeAC27)

Essas regras proibitivas nada mais fazem do que direta e imediatamente concretizar os co-mandos constitucionais inscritos nos arts 173 sect 4ordm28 e 220 sect 5ordm29 da CF no sentido de coibir o abuso do poder econocircmico e evitar a concentra-ccedilatildeo excessiva do mercado Cuida-se portanto de regras antitruste que buscam prevenir a con-figuraccedilatildeo de falhas de mercado (monopoacutelios e oligopoacutelios) e a distorccedilatildeo alocativa que lhes eacute correlata

De forma mediata as aludidas regras contri-buem ainda para promover a diversificaccedilatildeo do conteuacutedo produzido justamente porque tendem a evitar que o mercado de TV por assinatura se feche ampliando as fontes de informaccedilatildeo dispo-niacuteveis e o espaccedilo para a manifestaccedilatildeo de novos entrantes Dessa forma realizam a dimensatildeo ob-jetiva do direito fundamental agrave liberdade de ex-pressatildeo e de informaccedilatildeo no que tem destaque o papel promocional do Estado no combate agrave con-centraccedilatildeo do poder comunicativo

A atribuiccedilatildeo de poderes normativos agrave Ancine

ccedilotildees de interesse coletivo ficando vedado a estas ex-plorar diretamente aqueles serviccedilosrdquo

27 Lei 124852011 art 6o ldquoAs prestadoras de ser-viccedilos de telecomunicaccedilotildees de interesse coletivo bem como suas controladas controladoras ou coligadas natildeo poderatildeo com a finalidade de produzir conteuacutedo audiovisual para sua veiculaccedilatildeo no serviccedilo de acesso condicionado ou no serviccedilo de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens I ndash adquirir ou financiar a aquisiccedilatildeo de direitos de exploraccedilatildeo de imagens de eventos de interesse nacional e II ndash contratar talentos artiacutesticos nacionais de qualquer natureza inclusive direitos so-bre obras de autores nacionaisrdquo

28 CF art 173 ldquoRessalvados os casos previstos nesta Constituiccedilatildeo a exploraccedilatildeo direta de atividade econocircmica pelo Estado soacute seraacute permitida quando ne-cessaacuteria aos imperativos da seguranccedila nacional ou a relevante interesse coletivo conforme definidos em lei () sect 4ordm A lei reprimiraacute o abuso do poder econocirc-mico que vise agrave dominaccedilatildeo dos mercados agrave elimina-ccedilatildeo da concorrecircncia e ao aumento arbitraacuterio dos lu-crosrdquo

29 CF art 220 ldquoA manifestaccedilatildeo do pensamento a criaccedilatildeo a expressatildeo e a informaccedilatildeo sob qualquer forma processo ou veiacuteculo natildeo sofreratildeo qualquer res-triccedilatildeo observado o disposto nesta Constituiccedilatildeo () sect 5ordm Os meios de comunicaccedilatildeo social natildeo podem direta ou indiretamente ser objeto de monopoacutelio ou oli-gopoacuteliordquo

30 Lei 124852011 art 9o ldquoAs atividades de pro-duccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento satildeo livres para empresas constituiacutedas sob as leis brasileiras e com

por meio dos arts 9ordm paraacutegrafo uacutenico30 21 e 22 da Lei do SeAC natildeo viola o princiacutepio da le-galidade

A moderna concepccedilatildeo do postulado da lega-lidade em sua acepccedilatildeo principioloacutegica ou formal axioloacutegica chancela a atribuiccedilatildeo de poderes nor-mativos ao Poder Executivo desde que pautada por princiacutepios inteligiacuteveis capazes de permitir o controle legislativo e judicial sobre os atos da Ad-ministraccedilatildeo

Os referidos dispositivos legais apesar de conferirem autoridade normativa agrave Ancine estatildeo acompanhados por paracircmetros aptos a confor-mar a conduta de todas as autoridades do Estado envolvidas na disciplina do setor audiovisual bra-sileiro (art 3ordm da Lei do SeAC31) impedindo que qualquer delas se transforme em oacutergatildeo titular de um pretenso poder regulatoacuterio absoluto

A restriccedilatildeo agrave participaccedilatildeo de estrangeiros nas atividades de programaccedilatildeo e empacota-mento de conteuacutedo audiovisual de acesso condicionado (art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC32) natildeo viola o princiacutepio da igualdade

sede e administraccedilatildeo no Paiacutes Paraacutegrafo uacutenico As ati-vidades de programaccedilatildeo e de empacotamento seratildeo objeto de regulaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo pela Agecircncia Nacio-nal do Cinema ndash Ancine no acircmbito das competecircncias atribuiacutedas a ela pela Medida Provisoacuteria n 2228-1 de 6 de setembro de 2001rdquo

31 Lei 124852011 art 3o ldquoA comunicaccedilatildeo audio-visual de acesso condicionado em todas as suas ativi-dades seraacute guiada pelos seguintes princiacutepios I ndash liber-dade de expressatildeo e de acesso agrave informaccedilatildeo II ndash pro-moccedilatildeo da diversidade cultural e das fontes de infor-maccedilatildeo produccedilatildeo e programaccedilatildeo III ndash promoccedilatildeo da liacutengua portuguesa e da cultura brasileira IV ndash estiacutemulo agrave produccedilatildeo independente e regional V ndash estiacutemulo ao desenvolvimento social e econocircmico do Paiacutes VI ndash li-berdade de iniciativa miacutenima intervenccedilatildeo da adminis-traccedilatildeo puacuteblica e defesa da concorrecircncia por meio da livre justa e ampla competiccedilatildeo e da vedaccedilatildeo ao mo-nopoacutelio e oligopoacutelio nas atividades de comunicaccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Paraacutegrafo uacutenico Adicionam-se aos princiacutepios previstos nos inci-sos deste artigo aqueles estabelecidos na Convenccedilatildeo sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Ex-pressotildees Culturais aprovada pelo Decreto Legislativo n 485 de 20 de dezembro de 2006rdquo

32 Lei 124852011 art 10 ldquoA gestatildeo a responsa-bilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave programaccedilatildeo e ao empacotamento satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de 10 (dez) anos sect 1o As programadoras e em-pacotadoras deveratildeo depositar e manter atualizada

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

___________________________________

54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

___________________________________

CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 9: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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(art 5ordm caput da CF33)

A Constituiccedilatildeo de 1988 natildeo estabeleceu qual-quer regra juriacutedica que interdite a distinccedilatildeo entre brasileiro e estrangeiro ao contraacuterio do que acontece com a situaccedilatildeo do brasileiro nato e do naturalizado para a qual haacute expliacutecita reserva constitucional acerca das hipoacuteteses de trata-mento diferenciado (CF art 12 sect 2ordm34) Destarte eacute juridicamente possiacutevel ao legislador ordinaacuterio fixar regimes distintos desde que em respeito ao princiacutepio geral da igualdade revele funda-mento constitucional suficiente para a discrimi-naccedilatildeo e demonstre a pertinecircncia entre o trata-mento diferenciado e a causa juriacutedica distintiva

O art 10 caput e sect 1ordm da Lei do SeAC ao res-tringir a gestatildeo a responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo inerentes agrave pro-gramaccedilatildeo e ao empacotamento a brasileiros na-tos ou naturalizados haacute mais de dez anos repre-sentou tiacutepica interpretaccedilatildeo legislativa evolutiva do comando constitucional encartado no art 222 sect 2ordm da CF35 de todo condizente com os ve-tores axioloacutegicos que informam no plano consti-tucional a atividade de comunicaccedilatildeo de massa entre os quais a preservaccedilatildeo da soberania e iden-tidade nacionais o pluralismo informativo e a igualdade entre os prestadores de serviccedilo a des-peito da tecnologia utilizada na atividade

A exigecircncia de preacutevio credenciamento junto agrave Ancine para exerciacutecio das atividades de pro-gramaccedilatildeo e empacotamento o dever de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees solicitadas pela agecircncia para fins de fiscalizaccedilatildeo e cumpri-

na Ancine relaccedilatildeo com a identificaccedilatildeo dos profissio-nais de que trata o caput deste artigo os documentos e atos societaacuterios inclusive os referentes agrave escolha dos dirigentes e gestores em exerciacutecio das pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas na sua cadeia de controle cujas informaccedilotildees deveratildeo ficar disponiacuteveis ao conheci-mento puacuteblico inclusive pela rede mundial de compu-tadores excetuadas as consideradas confidenciais pela legislaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo cabendo agrave Agecircncia zelar pelo sigilo destasrdquo

33 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintesrdquo

34 CF art 12 ldquoSatildeo brasileiros () sect 2ordm A lei natildeo poderaacute estabelecer distinccedilatildeo entre brasileiros natos e naturalizados salvo nos casos previstos nesta Consti-tuiccedilatildeordquo

mento das obrigaccedilotildees de programaccedilatildeo em-pacotamento e publicidade e a vedaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo de conteuacutedo empacotado por empresa natildeo credenciada pela agecircncia (arts 12 13 e 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm36 da Lei do SeAC) satildeo vaacutelidos

O poder de poliacutecia administrativa manifesta-se tanto preventiva quanto repressivamente tra-duzindo-se ora no consentimento preacutevio pela Administraccedilatildeo Puacuteblica para o exerciacutecio regular de certas liberdades ora no sancionamento do par-ticular em razatildeo do descumprimento de regras materiais aplicaacuteveis agrave atividade regulada Em qualquer caso a ingerecircncia estatal (fiscalizatoacuteria e punitiva) exsurge como garantia da efetividade da disciplina juriacutedica aplicaacutevel

Ademais em nenhum momento a Lei do SeAC admite pelo menos em relaccedilatildeo a esses dis-positivos a influecircncia do Estado sobre a liber-dade de expressatildeo ou criaccedilatildeo intelectual em quaisquer de suas trecircs dimensotildees (ie produccedilatildeo de conteuacutedo audiovisual estruturaccedilatildeo da pro-gramaccedilatildeo e formataccedilatildeo de pacotes) Credenciar-se perante um oacutergatildeo puacuteblico ou prestar a ele in-formaccedilotildees natildeo satildeo obrigaccedilotildees que tolham a li-berdade de manifestaccedilatildeo de nenhum agente econocircmico na medida em que nada tecircm a ver com o objeto final das atividades de produccedilatildeo programaccedilatildeo e empacotamento

Os arts 12 e 13 da Lei do SeAC simplesmente fixam deveres instrumentais de colaboraccedilatildeo das empresas para fins de permitir a atividade fisca-lizatoacuteria da Ancine quanto ao cumprimento das novas obrigaccedilotildees materiais a que estatildeo sujeitos todos os agentes do mercado audiovisual Aleacutem

35 CF art 222 ldquoA propriedade de empresa jorna-liacutestica e de radiodifusatildeo sonora e de sons e imagens eacute privativa de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos ou de pessoas juriacutedicas constituiacutedas sob as leis brasileiras e que tenham sede no Paiacutes () sect 2ordm A responsabilidade editorial e as atividades de seleccedilatildeo e direccedilatildeo da programaccedilatildeo veiculada satildeo privativas de brasileiros natos ou naturalizados haacute mais de dez anos em qualquer meio de comunicaccedilatildeo socialrdquo

36 Lei 124852011 art 31 ldquoAs prestadoras do ser-viccedilo de acesso condicionado somente poderatildeo distri-buir conteuacutedos empacotados por empresa regular-mente credenciada pela Ancine observado o sect 2ordm do art 4ordm desta Lei sect 1ordm As prestadoras do serviccedilo de acesso condicionado deveratildeo tornar puacuteblica a empa-cotadora do pacote por ela distribuiacutedo sect 2ordm A distri-buidora natildeo poderaacute ofertar aos assinantes pacotes que estiverem em desacordo com esta Leirdquo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 10: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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disso por meio do credenciamento perante a Ancine e da prestaccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes agrave agecircncia fornece-se agrave autoridade regulatoacuteria substrato faacutetico miacutenimo para que possa mapear o mercado audiovisual brasileiro e assim de-sempenhar satisfatoriamente sua outra (e prin-cipal) missatildeo institucional a de fomentar o setor cultural brasileiro especialmente as induacutestrias ci-nematograacutefica e videofonograacutefica bem como a produccedilatildeo audiovisual de acesso condicionado Sem que a Ancine tenha acesso a dados precisos sobre a composiccedilatildeo do mercado audiovisual qualquer poliacutetica puacuteblica de fomento padeceria de dificuldades em diagnosticar as aacutereas carece-doras de estiacutemulo estatal e aquelas em que jaacute haacute suficiente oferta de conteuacutedo

Jaacute o art 31 caput sectsect 1ordm e 2ordm da Lei do SeAC consubstancia mero desdobramento loacutegico da exigecircncia de credenciamento das empacotado-ras e da necessidade de cumprimento das cotas

37 Lei 124852011 art 16 ldquoNos canais de espaccedilo

qualificado no miacutenimo 3h30 (trecircs horas e trinta minu-tos) semanais dos conteuacutedos veiculados no horaacuterio nobre deveratildeo ser brasileiros e integrar espaccedilo quali-ficado e metade deveraacute ser produzida por produtora brasileira independenterdquo

38 Lei 124852011 art 17 ldquoEm todos os pacotes ofertados ao assinante a cada 3 (trecircs) canais de es-paccedilo qualificado existentes no pacote ao menos 1 (um) deveraacute ser canal brasileiro de espaccedilo qualifi-cadordquo

39 Lei 124852011 art 18 ldquoNos pacotes em que houver canal de programaccedilatildeo gerado por programa-dora brasileira que possua majoritariamente conteuacute-dos jornaliacutesticos no horaacuterio nobre deveraacute ser ofertado pelo menos um canal adicional de programaccedilatildeo com as mesmas caracteriacutesticas no mesmo pacote ou na modalidade avulsa de programaccedilatildeo observado o dis-posto no sect 4o do art 19rdquo

40 Lei 124852011 art 19 ldquoPara efeito do cum-primento do disposto nos arts 16 e 17 seratildeo descon-siderados I ndash os canais de programaccedilatildeo de distribui-ccedilatildeo obrigatoacuteria de que trata o art 32 ainda que veicu-lados em localidade distinta daquela em que eacute distri-buiacutedo o pacote II ndash os canais de programaccedilatildeo que re-transmitirem canais de geradoras detentoras de ou-torga de radiodifusatildeo de sons e imagens em qualquer localidade III ndash os canais de programaccedilatildeo operados sob a responsabilidade do poder puacuteblico IV ndash os ca-nais de programaccedilatildeo cuja grade de programaccedilatildeo natildeo tenha passado por qualquer modificaccedilatildeo para se adap-tar ao puacuteblico brasileiro incluindo legendagem dubla-gem para liacutengua portuguesa ou publicidade especiacutefica para o mercado brasileiro V ndash os canais de programa-ccedilatildeo dedicados precipuamente agrave veiculaccedilatildeo de conteuacute-dos de cunho eroacutetico VI ndash os canais ofertados na mo-dalidade avulsa de programaccedilatildeo VII ndash os canais de

de programaccedilatildeo De fato se as empacotadoras estatildeo sujeitas a um dever de credenciamento e de veiculaccedilatildeo de conteuacutedo brasileiro seu des-cumprimento impede a atuaccedilatildeo no mercado au-diovisual brasileiro Em consequecircncia se a em-presa empacotadora estaacute impedida de atuar no setor nada mais natural do que as empresas dis-tribuidoras serem impedidas de com elas contra-tar

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de cotas de conte-uacutedo nacional para canais e pacotes de TV por as-sinatura (arts 1637 1738 1839 1940 2041 e 2342 da Lei do SeAC)

Essa sistemaacutetica consubstancia medida ade-quada necessaacuteria e proporcional para promover a cultura brasileira e estimular a produccedilatildeo inde-pendente dando concretude ao art 221 da CF e ao art 6ordm43 da Convenccedilatildeo Internacional sobre a

programaccedilatildeo ofertados em modalidade avulsa de con-teuacutedo programado sect 1o Para os canais de que trata o inciso VI aplica-se o disposto no art 16 sect 2o Na oferta dos canais de que trata o inciso VII no miacutenimo 10 (dez por cento) dos conteuacutedos ofertados que integra-rem espaccedilo qualificado deveratildeo ser brasileiros sect 3o O cumprimento da obrigaccedilatildeo de que trata o sect 2o seraacute aferido em conformidade com periacuteodo de apuraccedilatildeo estabelecido pela Ancine sect 4o Para efeito do cumpri-mento do disposto no art 18 seratildeo desconsiderados os canais de que tratam os incisos III IV V e VII do ca-put deste artigordquo

41 Lei 124852011 art 20 ldquoA programadora ou empacotadora no cumprimento das obrigaccedilotildees pre-vistas nos arts 16 a 18 observaraacute as seguintes condi-ccedilotildees I ndash pelo menos a metade dos conteuacutedos audio-visuais deve ter sido produzida nos 7 (sete) anos ante-riores agrave sua veiculaccedilatildeo II ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equiparado ao produzido por produtora bra-sileira III ndash o conteuacutedo produzido por brasileiro nato ou naturalizado haacute mais de 10 (dez) anos seraacute equipa-rado ao produzido por produtora brasileira indepen-dente caso seu produtor atenda as condiccedilotildees previs-tas na aliacutenea c do inciso XIX do art 2o IV ndash quando o caacutelculo dos percentuais e razotildees natildeo resultar em nuacute-mero inteiro exato considerar-se-aacute a parte inteira do resultadordquo

42 Lei 124852011 art 23 ldquoNos 2 (dois) primeiros anos de vigecircncia desta Lei o nuacutemero de horas de que trata o caput do art 16 as resultantes das razotildees esti-puladas no caput e no sect 1o do art 17 e o limite de que trata o sect 3o do art 17 seratildeo reduzidos nas seguintes razotildees I ndash 23 (dois terccedilos) no primeiro ano de vigecircn-cia da Lei II ndash 13 (um terccedilo) no segundo ano de vigecircn-cia da Leirdquo

43 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 11: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expres-sotildees Culturais (Decreto 61772007) em um ce-naacuterio mercadoloacutegico caracterizado pela concen-traccedilatildeo do poder econocircmico internacional pela existecircncia de barreiras agrave entrada das empresas produtoras brasileiras em especial das indepen-dentes e pela tendecircncia agrave homogeneizaccedilatildeo dos conteuacutedos disponibilizados ao assinante

Com efeito tanto a veiculaccedilatildeo miacutenima de conteuacutedo brasileiro nos canais de TV por assina-tura quanto a exigecircncia de um nuacutemero tambeacutem miacutenimo de canais brasileiros nos pacotes oferta-dos aos assinantes estimulam a demanda pelos produtos da induacutestria audiovisual nacional o que em consequecircncia aquece a cadeia produ-tiva do setor e favorece seu desenvolvimento e consolidaccedilatildeo

Apesar de existirem alternativas agrave promoccedilatildeo da induacutestria audiovisual brasileira (eg isenccedilotildees fiscais e patrociacutenio estatal) que impotildeem restri-ccedilotildees menos onerosas aos bens juriacutedicos contra-postos tais mecanismos natildeo se apresentam como igualmente eficazes para a promoccedilatildeo do fim desejado pela poliacutetica puacuteblica em exame E isso por uma simples razatildeo instrumentos fiscais e financeiros sempre existiram e foram aplicados em proveito da induacutestria nacional Tanto eacute assim que a Ancine fora concebida originalmente como agecircncia de fomento Sem embargo o setor de TV paga permaneceu dominado pelas obras estrangeiras A produccedilatildeo nacional e indepen-dente continuou marginalizada Somente com a

Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) artigo 6 ndash ldquoDireitos das Partes no acircmbito nacional 1 No marco de suas poliacuteticas e medidas culturais tais como definidas no artigo 46 e levando em consideraccedilatildeo as circunstacircncias e necessi-dades que lhe satildeo particulares cada Parte poderaacute ado-tar medidas destinadas a proteger e promover a diver-sidade das expressotildees culturais em seu territoacuterio 2 Tais medidas poderatildeo incluir a) medidas regulatoacute-rias que visem agrave proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais b) medidas que de maneira apropriada criem oportunidades agraves atividades bens e serviccedilos culturais nacionais ndash entre o conjunto das ati-vidades bens e serviccedilos culturais disponiacuteveis no seu territoacuterio ndash para a sua criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo dis-tribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo incluindo disposiccedilotildees relacionadas agrave liacutengua utilizada nessas atividades bens e servi-ccedilos c) medidas destinadas a fornecer agraves induacutestrias culturais nacionais independentes e agraves atividades no setor informal acesso efetivo aos meios de produccedilatildeo difusatildeo e distribuiccedilatildeo das atividades bens e serviccedilos culturais d) medidas voltadas para a concessatildeo de apoio financeiro puacuteblico e) medidas com o propoacutesito de encorajar organizaccedilotildees de fins natildeo lucrativos e

poliacutetica de cotas eacute que esse cenaacuterio comeccedilou a ser substancialmente modificado (e mais sem comprometer em demasia o eraacuterio)

Ademais o grau de prejuiacutezo imposto agrave liber-dade de iniciativa e agrave liberdade de expressatildeo das empresas estrangeiras eacute iacutenfimo na medida em que o legislador natildeo impediu em qualquer mo-mento a comercializaccedilatildeo de conteuacutedos audiovi-suais de outros paiacuteses nem o acesso de agentes econocircmicos estrangeiros ao mercado paacutetrio O leve sacrifiacutecio agrave liberdade de iniciativa eacute tempo-raacuterio e deveraacute ser suportado de modo progres-sivo pelos agentes econocircmicos resguardado que lhes foi periacuteodo razoaacutevel de adaptaccedilatildeo e planeja-mento Com efeito a poliacutetica de cotas de conte-uacutedo nacional foi criada com data para terminar (art 41 da Lei do SeAC44) Mais que isso a poliacutetica vem sendo implementada de forma gradual vi-sando a natildeo causar nenhum impacto instantacircneo no setor (art 23 da Lei do SeAC) Cuida-se pois de medida transitoacuteria e cautelosa arquitetada pelo legislador como resposta temporaacuteria agrave fra-gilidade do mercado audiovisual brasileiro em face do poder econocircmico internacional Espera-se que uma vez fortalecida a induacutestria paacutetria possa caminhar por suas proacuteprias pernas e ofer-tar produtos competitivos interna e externa-mente

Eacute constitucional a fixaccedilatildeo de limite temporal maacuteximo para a publicidade comercial na TV por assinatura (art 24 da Lei do SeAC45)

tambeacutem instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas artistas e ou-tros profissionais de cultura a desenvolver e promo-ver o livre intercacircmbio e circulaccedilatildeo de ideias e expres-sotildees culturais bem como de atividades bens e servi-ccedilos culturais e a estimular tanto a criatividade quanto o espiacuterito empreendedor em suas atividades f) medi-das com vistas a estabelecer e apoiar de forma ade-quada as instituiccedilotildees pertinentes de serviccedilo puacuteblico g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criaccedilatildeo de expressotildees culturais h) medidas objetivando promover a diversidade da miacute-dia inclusive mediante serviccedilos puacuteblicos de radiodifu-satildeordquo

44 Convenccedilatildeo Internacional sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (Decreto 61772007) art 41 ldquoOs arts 16 a 23 deixa-ratildeo de viger apoacutes 12 (doze) anos da promulgaccedilatildeo desta Leirdquo

45 Lei 124852011 art 24 ldquoO tempo maacuteximo des-tinado agrave publicidade comercial em cada canal de pro-gramaccedilatildeo deveraacute ser igual ao limite estabelecido para o serviccedilo de radiodifusatildeo de sons e imagens Paraacutegrafo uacutenico O disposto no caput deste artigo natildeo se aplica aos canais de que trata o art 32 desta Lei e aos canais

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 12: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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Essa limitaccedilatildeo estaacute em harmonia com o dever constitucional de proteccedilatildeo do consumidor (CF art 170 V46) maacutexime diante do histoacuterico quadro registrado pela Agecircncia Nacional de Telecomuni-caccedilotildees (ANATEL) de reclamaccedilotildees de assinantes quanto ao volume de publicidade na grade de programaccedilatildeo dos canais pagos

O consumidor do SeAC ao assinar um pacote de canais desembolsa recursos para obter maior diversidade de conteuacutedo e programaccedilatildeo audiovi-sual o que obviamente natildeo se refere a propa-ganda comercial Canais diferentes satildeo conheci-dos pelos seus programas e natildeo pela publicidade que transmitem

A proibiccedilatildeo da oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada ao puacuteblico brasileiro contratada no exterior por agecircncia de publicidade estrangeira (art 25 da Lei do SeAC47) viola o princiacutepio constitucional da igualdade

Esse princiacutepio enquanto regra de ocircnus argu-mentativo exige que o tratamento diferenciado entre indiviacuteduos seja acompanhado de causa ju-riacutedica suficiente para amparar a discriminaccedilatildeo cujo exame de consistecircncia embora preserve um espaccedilo de discricionariedade legislativa eacute sempre passiacutevel de afericcedilatildeo judicial (CF art 5ordm XXXV) A discriminaccedilatildeo introduzida pelo art 25 da Lei do SeAC natildeo encontra eco imediato em ne-

exclusivos de publicidade comercial de vendas e de in-fomerciaisrdquo

46 CF art 170 ldquoA ordem econocircmica fundada na valorizaccedilatildeo do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existecircncia digna con-forme os ditames da justiccedila social observados os se-guintes princiacutepios () V ndash defesa do consumidorrdquo

47 Lei 124852011 art 25 ldquoOs programadores natildeo poderatildeo ofertar canais que contenham publici-dade de serviccedilos e produtos em liacutengua portuguesa le-gendada em portuguecircs ou de qualquer forma direcio-nada ao puacuteblico brasileiro com veiculaccedilatildeo contratada no exterior senatildeo por meio de agecircncia de publicidade nacional sect 1ordm A Ancine fiscalizaraacute o disposto no caput e oficiaraacute agrave Anatel e agrave Secretaria da Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento sect 2ordm A Anatel oficiaraacute agraves distribuidoras sobre os canais de programa-ccedilatildeo em desacordo com o disposto no sect 1ordm cabendo a elas a cessaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo desses canais apoacutes o re-cebimento da comunicaccedilatildeordquo

48 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade

nhuma norma constitucional expressa natildeo pos-sui prazo para ter fim e eacute despida de qualquer justificaccedilatildeo que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade

A outorga da atividade de distribuiccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado mediante auto-rizaccedilatildeo administrativa sem necessidade de preacutevio procedimento licitatoacuterio (art 29 da Lei do SeAC) natildeo viola o art 37 XXI48 cc o art 17549 caput da CF

O dever constitucional de licitar somente in-cide nas hipoacuteteses em que o acesso de particula-res a alguma situaccedilatildeo juriacutedica de vantagem rela-cionada ao poder puacuteblico natildeo possa ser univer-salizado Destarte descabe cogitar de certame li-citatoacuterio quando a contrataccedilatildeo puacuteblica natildeo ca-racterizar escolha da Administraccedilatildeo e todo cida-datildeo possa ter acesso ao bem pretendido Ade-mais no campo das telecomunicaccedilotildees a Consti-tuiccedilatildeo admite a outorga do serviccedilo mediante simples autorizaccedilatildeo (art 21 XI50)

O procedimento previsto na Lei do SeAC tam-beacutem se justifica diante da nova e abrangente de-finiccedilatildeo do SeAC (art 2ordm XXIII) apta a abarcar to-das as possiacuteveis plataformas tecnoloacutegicas exis-tentes (e natildeo apenas cabos fiacutesicos e ondas de ra-diofrequecircncia) bem como diante da qualificaccedilatildeo privada recebida pela atividade no novo marco regulatoacuterio da comunicaccedilatildeo audiovisual

O art 32 sectsect 2ordm 13 e 14 da Lei do SeAC51 ao

publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinte () XXI ndash ressalvados os casos especificados na legislaccedilatildeo as obras serviccedilos compras e alienaccedilotildees seratildeo contra-tados mediante processo de licitaccedilatildeo puacuteblica que as-segure igualdade de condiccedilotildees a todos os concorren-tes com claacuteusulas que estabeleccedilam obrigaccedilotildees de pa-gamento mantidas as condiccedilotildees efetivas da proposta nos termos da lei o qual somente permitiraacute as exigecircn-cias de qualificaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica indispensaacute-veis agrave garantia do cumprimento das obrigaccedilotildeesrdquo

49 CF art 175 ldquoIncumbe ao Poder Puacuteblico na forma da lei diretamente ou sob regime de concessatildeo ou permissatildeo sempre atraveacutes de licitaccedilatildeo a prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicosrdquo

50 CF art 21 ldquoCompete agrave Uniatildeo () XI ndash explorar diretamente ou mediante autorizaccedilatildeo concessatildeo ou permissatildeo os serviccedilos de telecomunicaccedilotildees nos ter-mos da lei que disporaacute sobre a organizaccedilatildeo dos servi-ccedilos a criaccedilatildeo de um oacutergatildeo regulador e outros aspec-tos institucionaisrdquo

51 Lei 124852011 art 32 ldquoA prestadora do ser-viccedilo de acesso condicionado em sua aacuterea de presta-

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 13: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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impor a disponibilidade gratuita dos canais de TV aberta agraves distribuidoras e agraves geradoras de programaccedilatildeo da TV por assinatura natildeo ofende a liberdade de iniciativa nem os direi-tos de propriedade intelectual

O modelo de negoacutecios da radiodifusatildeo natildeo se estrutura financeiramente sobre receitas cobra-das do destinataacuterio do conteuacutedo A principal fonte de recursos das prestadoras de TV aberta eacute a publicidade comercial realizada durante a pro-gramaccedilatildeo e natildeo a cobranccedila de assinatura dos te-lespectadores O que fez a Lei do SeAC foi apenas replicar no acircmbito do serviccedilo de acesso condici-onado essa loacutegica vigente na televisatildeo aberta Com isso pretende assegurar que tambeacutem o consumidor dos serviccedilos de TV por assinatura te-nha acesso gratuito ao conteuacutedo aberto

Registre-se ainda que o direito de exploraccedilatildeo do serviccedilo de radiodifusatildeo qualifica-se como ser-viccedilo puacuteblico afastando-se da plena liberdade de iniciativa Nesse cenaacuterio eacute razoaacutevel reconhecer ao legislador a possibilidade de garantir o acesso

ccedilatildeo independentemente de tecnologia de distribui-ccedilatildeo empregada deveraacute tornar disponiacuteveis sem quais-quer ocircnus ou custos adicionais para seus assinantes em todos os pacotes ofertados canais de programa-ccedilatildeo de distribuiccedilatildeo obrigatoacuteria para as seguintes des-tinaccedilotildees () sect 2ordm A cessatildeo agraves distribuidoras das pro-gramaccedilotildees das geradoras de que trata o inciso I [canais da TV aberta] deste artigo seraacute feita a tiacutetulo gratuito e obrigatoacuterio () sect 13 Caso natildeo seja alcanccedilado acordo quanto agraves condiccedilotildees comerciais de que trata o sect 12 a geradora local de radiodifusatildeo de sons e imagens de caraacuteter privado poderaacute a seu criteacuterio exigir que sua programaccedilatildeo transmitida com tecnologia digital seja distribuiacuteda gratuitamente na aacuterea de prestaccedilatildeo do ser-viccedilo de acesso condicionado desde que a tecnologia de transmissatildeo empregada pelo distribuidor e de re-cepccedilatildeo disponiacutevel pelo assinante assim o permitam de acordo com criteacuterios estabelecidos em regulamenta-ccedilatildeo da Anatel sect 14 Na hipoacutetese de que trata o sect 13 a cessatildeo da programaccedilatildeo em tecnologia digital natildeo en-sejaraacute pagamento por parte da distribuidora que fi-caraacute desobrigada de ofertar aos assinantes a progra-maccedilatildeo em tecnologia analoacutegicardquo

52 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () XXXVI ndash a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgadardquo

53 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31 da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995

livre e gratuito ao conteuacutedo gerado

Eacute possiacutevel o cancelamento do registro do agente econocircmico perante a Ancine por des-cumprimento de obrigaccedilotildees legais

O art 36 da Lei do SeAC representa garantia de eficaacutecia das normas juriacutedicas aplicaacuteveis ao se-tor sendo certo que haveria evidente contradi-ccedilatildeo ao se impedir o iniacutecio da atividade sem o re-gistro (por natildeo preenchimento originaacuterio das exi-gecircncias legais) e ao mesmo tempo permitir a continuidade de sua exploraccedilatildeo quando configu-rada a perda superveniente da regularidade

A existecircncia de um regime juriacutedico de transi-ccedilatildeo justo ainda que consubstancie garantia individual diretamente emanada do princiacutepio constitucional da seguranccedila juriacutedica e da pro-teccedilatildeo da confianccedila legiacutetima (CF art 5ordm XXXVI52) natildeo impede a redefiniccedilatildeo e a atuali-zaccedilatildeo dos marcos regulatoacuterios setoriais

O art 37 sectsect 6ordm 7ordm e 11 da Lei do SeAC53 ao

() sect 6ordm Ateacute a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado soacute seratildeo admitidas pela Ana-tel renovaccedilotildees de outorgas de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncias alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora bem como transferecircncias de outorgas de controle ou demais alteraccedilotildees de instru-mentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos servi-ccedilos mencionados no sect 1ordm para prestadoras que se comprometerem com a Anatel a promover a adapta-ccedilatildeo de seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado imediatamente apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento que conteraacute os criteacuterios de adapta-ccedilatildeo sect 7ordm Apoacutes a aprovaccedilatildeo do regulamento do serviccedilo de acesso condicionado pela Anatel soacute seratildeo admiti-das renovaccedilotildees e transferecircncias de outorgas de con-trole renovaccedilotildees de autorizaccedilatildeo do direito de uso de radiofrequecircncia alteraccedilotildees na composiccedilatildeo societaacuteria da prestadora ou demais alteraccedilotildees de instrumentos contratuais referentes agrave prestaccedilatildeo dos serviccedilos men-cionados no sect 1ordm para prestadoras que adaptarem seus instrumentos de outorga para o serviccedilo de acesso condicionado () sect 11 As atuais concessotildees para a prestaccedilatildeo de TVA cujos atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia estejam em vigor ou dentro de nor-mas e regulamentos editados pela Anatel ateacute a data da promulgaccedilatildeo desta Lei poderatildeo ser adaptadas para prestaccedilatildeo do serviccedilo de acesso condicionado nas con-diccedilotildees estabelecidas nesta Lei permanecendo neste caso vigentes os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radio-frequecircncia associados pelo prazo remanescente da outorga contado da data de vencimento de cada ou-torga individualmente natildeo sendo objeto de renova-ccedilatildeo adicionalrdquo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 14: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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fixar regras sobre a renovaccedilatildeo das outorgas apoacutes o fim do respectivo prazo original de vigecircncia e regras pertinentes agraves alteraccedilotildees subjetivas sobre a figura do prestador do serviccedilo eacute constitucio-nalmente vaacutelido ante a inexistecircncia ab initio de direito definitivo agrave renovaccedilatildeo automaacutetica da ou-torga bem como da existecircncia de margem de conformaccedilatildeo do legislador para induzir os anti-gos prestadores a migrarem para o novo regime

Jaacute o art 37 sectsect 1ordm e 5ordm54 da Lei do SeAC ao vedar o pagamento de indenizaccedilatildeo aos antigos prestadores do serviccedilo em virtude das novas obrigaccedilotildees natildeo previstas no ato de outorga origi-nal natildeo viola qualquer previsatildeo constitucional porquanto em um cenaacuterio contratual e regula-toacuterio marcado pela liberdade de preccedilos descabe cogitar de qualquer indenizaccedilatildeo pela criaccedilatildeo de novas obrigaccedilotildees legais (desde que constitucio-nalmente vaacutelidas) Eventuais aumentos de custos que possam surgir deveratildeo ser administrados ex-clusivamente pelas proacuteprias empresas que tanto podem repassaacute-los aos consumidores quanto retecirc-los em definitivo

ADIs 4756 4747 4679 e 4923 rel min Luiz Fux DJE de 5-4-2018 (Informativo 884 Plenaacuterio)

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54 Lei 124852011 art 37 ldquoRevogam-se o art 31

da Medida Provisoacuteria n 2228- 1 de 6 de setembro de 2001 e os dispositivos constantes dos Capiacutetulos I a IV VI e VIII a XI da Lei n 8977 de 6 de janeiro de 1995 sect 1ordm Os atos de outorga de concessatildeo e respectivos con-tratos das atuais prestadoras do Serviccedilo de TV a Cabo ndash TVC os termos de autorizaccedilatildeo jaacute emitidos para as prestadoras do Serviccedilo de Distribuiccedilatildeo de Canais Mul-tiponto Multicanal ndash MMDS e do Serviccedilo de Distribui-ccedilatildeo de Sinais de Televisatildeo e de Aacuteudio por Assinatura Via Sateacutelite ndash DTH assim como os atos de autorizaccedilatildeo de uso de radiofrequecircncia das prestadoras do MMDS

e do Serviccedilo Especial de Televisatildeo por Assinatura ndash TVA continuaratildeo em vigor sem prejuiacutezo da adaptaccedilatildeo aos condicionamentos relativos agrave programaccedilatildeo e em-pacotamento previstos no Capiacutetulo V ateacute o teacutermino dos prazos de validade neles consignados respeitada a competecircncia da Anatel quanto agrave regulamentaccedilatildeo do uso e agrave administraccedilatildeo do espectro de radiofrequecircn-cias devendo a Agecircncia no que couber adequar a re-gulamentaccedilatildeo desses serviccedilos agraves disposiccedilotildees desta Lei () sect 5ordm Natildeo seratildeo devidas compensaccedilotildees financeiras agraves prestadoras dos serviccedilos mencionados no sect 1ordm nos casos de adaptaccedilatildeo de outorgas de que trata este ar-tigordquo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 15: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO

A accedilatildeo penal nos crimes contra a liberdade sexual praticados mediante violecircncia real an-tes ou depois do advento da Lei 120152009 tem natureza puacuteblica incondicionada

Os delitos de estupro em parcela significa-tiva satildeo cometidos mediante violecircncia Procu-rando amparar mais ainda a honra das viacutetimas desses crimes o Supremo Tribunal Federal (STF) aderiu agrave posiccedilatildeo de crime de accedilatildeo puacuteblica incon-dicionada que veio a ser cristalizada no Enunci-ado 60855 da Suacutemula do STF em pleno vigor

Ademais para fins de caracterizaccedilatildeo de vio-lecircncia real em crimes de estupro eacute dispensaacutevel a ocorrecircncia de lesotildees corporais56

HC 125360 red p o ac min Alexandre de Mo-raes DJE de 6-4-2018 (Informativo 892 Primeira Turma)

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA

A ADMINISTRACcedilAtildeO EM GERAL

DESACATO

55 Enunciado 608 da Suacutemula do STF ldquoNo crime de

estupro praticado mediante violecircncia real a accedilatildeo pe-nal eacute puacuteblica incondicionadardquo

56 Precedentes HC 81848 rel min Mauriacutecio Cor-recirca 2ordf T HC 102683 rel min Ellen Gracie 2ordf T

57 Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos ar-tigo 13 ldquoLiberdade de pensamento e de expressatildeo ndash 1 Toda pessoa tem direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Esse direito compreende a liberdade de buscar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de toda natureza sem consideraccedilatildeo de fronteiras verbal-mente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutes-tica ou por qualquer outro processo de sua escolha 2 O exerciacutecio do direito previsto no inciso precedente natildeo pode estar sujeito a censura preacutevia mas a respon-sabilidades ulteriores que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessaacuterias para assegurar a o respeito aos direitos ou agrave reputaccedilatildeo das demais pes-

A criminalizaccedilatildeo do desacato se mostra com-patiacutevel com o Estado Democraacutetico de Direito

A liberdade de expressatildeo prevista na Con-venccedilatildeo Americana de Direitos Humanos57 e igualmente tratada na Constituiccedilatildeo Federal (CF) natildeo possui como todos os demais direitos fun-damentais caraacuteter absoluto

Tomando-se o Pacto de Satildeo Joseacute da Costa Rica em seu art 13 como paracircmetro do con-trole de convencionalidade do ordenamento ju-riacutedico interno natildeo se infere qualquer afronta na tipificaccedilatildeo do crime de desacato Natildeo houve re-vogaccedilatildeo da norma penal mas recepccedilatildeo pela re-gra supralegal

Da mesma forma a CF ao tutelar a honra a intimidade e a dignidade da pessoa humana di-reitos conferidos a todos sem distinccedilatildeo de qual-quer natureza recepcionou a norma do desacato prevista na legislaccedilatildeo penal

A liberdade de expressatildeo consubstancia um dos mais valiosos instrumentos na preservaccedilatildeo do regime democraacutetico O pluralismo de opini-otildees a criacutetica a censura satildeo vitais para a forma-ccedilatildeo da vontade livre de um povo O direito de se comunicar livremente eacute inerente agrave sociabilidade proacutepria da natureza humana E deve ser ampla a liberdade do discurso poliacutetico do debate livre impedindo-se possiacuteveis interferecircncias do poder O Estado Democraacutetico de Direito natildeo desco-nhece esse valor universal

Entretanto a repressatildeo do excesso natildeo eacute in-compatiacutevel com a democracia O veto agrave censura preacutevia natildeo proiacutebe a censura a posteriori permi-tindo-se a intervenccedilatildeo contra manifestaccedilotildees natildeo protegidas juriacutedico constitucionalmente o que

soas ou b a proteccedilatildeo da seguranccedila nacional da or-dem puacuteblica ou da sauacutede ou da moral puacuteblicas 3 Natildeo se pode restringir o direito de expressatildeo por vias ou meios indiretos tais como o abuso de controles ofici-ais ou particulares de papel de imprensa de frequecircn-cias radioeleacutetricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusatildeo de informaccedilatildeo nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo de ideias e opiniotildees 4 A lei pode submeter os espetaacuteculos puacuteblicos a censura preacutevia com o obje-tivo exclusivo de regular o acesso a eles para proteccedilatildeo moral da infacircncia e da adolescecircncia sem prejuiacutezo do disposto no inciso 2 5 A lei deve proibir toda propa-ganda a favor da guerra bem como toda apologia ao oacutedio nacional racial ou religioso que constitua incita-ccedilatildeo agrave discriminaccedilatildeo agrave hostilidade ao crime ou agrave vio-lecircnciardquo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 16: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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ocorre quando transbordam dos limites do art 5ordm X da CF58 que trata em contraposiccedilatildeo agrave li-berdade de manifestaccedilatildeo da invulnerabilidade da honra59

De conseguinte a figura penal do desacato natildeo tolhe o direito agrave liberdade de expressatildeo e natildeo retira da cidadania o direito agrave livre manifes-taccedilatildeo desde que exercida nos limites de marcos civilizatoacuterios bem definidos punindo-se os ex-cessos

O direito agrave liberdade de expressatildeo deve har-monizar-se com os demais direitos envolvidos (honra intimidade e dignidade) e natildeo os elimi-nar Incide o princiacutepio da concordacircncia praacutetica pelo qual o inteacuterprete deve buscar a conciliaccedilatildeo entre normas constitucionais60

Com efeito eacute o exerciacutecio abusivo das liberda-des puacuteblicas que natildeo se coaduna com o Estado democraacutetico A ningueacutem eacute liacutecito usar de sua liber-dade de expressatildeo para ofender espezinhar vi-tuperar a honra alheia O desacato constitui im-portante instrumento de preservaccedilatildeo da lisura da funccedilatildeo puacuteblica e indiretamente da proacutepria dignidade de quem a exerce

Natildeo se pode despojar a pessoa de um dos mais delicados valores constitucionais a digni-dade da pessoa humana em razatildeo do status de

58 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () X ndash satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito a inde-nizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeordquo

59 ldquoO STF nesse sentido decidiu em caso asseme-lhado que o discurso de oacutedio natildeo se inclui no acircmbito de proteccedilatildeo da liberdade de expressatildeo No HC 82424 red p o ac min Mauriacutecio Correcirca DJ de 19-3-2004 Consignou-se lsquoO direito agrave livre expressatildeo natildeo pode abrigar em sua abrangecircncia manifestaccedilotildees de conte-uacutedo imoral que implicam ilicitude penalrsquordquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julga-mento)

60 ldquoSe eacute esperado do inteacuterprete que extraia o maacute-ximo efeito de uma norma constitucional esse exerciacute-cio pode vir a provocar choque com idecircntica preten-satildeo de outras normas constitucionais Devem entatildeo ser conciliadas as pretensotildees de efetividade dessas normas mediante o estabelecimento de limites ajus-tados aos casos concretos em que satildeo chamadas a in-cidir Os problemas de concordacircncia praacutetica surgem sobretudo em casos de colisatildeo de princiacutepios especi-almente de direitos fundamentais em que o inteacuter-

funcionaacuterio puacuteblico (civil ou militar) A investi-dura em cargo ou funccedilatildeo puacuteblica natildeo constitui renuacutencia agrave honra e agrave dignidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos oacutergatildeo responsaacutevel pelo julgamento de situaccedilotildees concretas de abusos e violaccedilotildees de direitos hu-manos reiteradamente tem decidido de forma contraacuteria ao entendimento da Comissatildeo de Direi-tos Humanos estabelecendo que o Direito Penal pode sim punir condutas representativas de ex-cessos no exerciacutecio da liberdade de expressatildeo61

A CF em seu art 3762 impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica a observacircncia dos princiacutepios da legali-dade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia podendo-se dessumir daiacute a compatibi-lidade entre a defesa da honra e intimidade do funcionaacuterio puacuteblico e a liberdade de expressatildeo

Anote-se pois a duacuteplice funccedilatildeo desse pre-ceptivo constitucional serve de vetor na atuaccedilatildeo do agente puacuteblico ao mesmo tempo em que atuando no leito condutor de tais princiacutepios constitucionais deve estar protegido de investi-das de terceiros O agente puacuteblico em razatildeo dos rigorosos deveres a que estaacute sujeito submete-se a um regime de responsabilidade bastante gra-voso superior agravequele imposto ao particular A improbidade administrativa estabelecida pelo sect

prete se vecirc desafiado a encontrar um desfecho de har-monizaccedilatildeo maacutexima entre os direitos em atrito bus-cando sempre que a medida de sacrifiacutecio de um deles para uma soluccedilatildeo justa e proporcional do caso con-creto natildeo exceda o estritamente necessaacuteriordquo (MEN-DES Gilmar Ferreira Curso de Direito Constitucional 12 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017 p 9495 apud minis-tro Gilmar Mendes em seu voto no presente julga-mento)rdquo

61 ldquoNesse ponto consigne-se que a Terceira Seccedilatildeo do STJ no julgamento do Habeas Corpus 379269 en-fatizou que desacatar funcionaacuterio puacuteblico no exerciacutecio da funccedilatildeo ou em razatildeo dela continua a ser crime con-forme previsto no art 331 do Coacutedigo Penal No voto do ministro Rogeacuterio Shietti Cruz registrou-se que a Corte Interamericana tem repudiado abusos no exer-ciacutecio da liberdade de expressatildeo citando-se os seguin-tes cases agrave guisa de exemplo caso Ricardo Canese vs Paraguai sentenccedila de 31 de agosto de 2004 sect 104 caso Kimel vs Argentina sentenccedila de 2 de maio de 2008 sectsect 71 e 76 e caso Herrera Ulloa vs Costa Rica sentenccedila de 2 de julho de 2004rdquo (Trecho do voto do ministro Gilmar Mendes no presente julgamento)

62 CF art 37 ldquoA administraccedilatildeo puacuteblica direta e in-direta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia e tambeacutem ao seguinterdquo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

N 6 ABRIL DE 2018

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

N 6 ABRIL DE 2018

19

liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

___________________________________

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SECRETARIA DE DOCUMENTACcedilAtildeO

COORDENADORIA DE JURISPRUDEcircNCIA COMPARADA E DIVULGACcedilAtildeO DE JULGADOS (CJCD)

cjcdstfjusbr

SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 17: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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4ordm do aludido art 3763 eacute mostra desse rigor legal que paira sobre a conduta do funcionalismo puacute-blico em geral Natildeo se estaacute pois diante de privi-leacutegio a colocaccedilatildeo do agente puacuteblico sob especial proteccedilatildeo legal

Reprimir o Estado ataques ao funcionalismo estaacute no acircmbito de abrangecircncia do espectro de-mocraacutetico O que natildeo se tolera no Estado Demo-craacutetico de Direito eacute colocar sob a proteccedilatildeo da lei uma classe de profissionais ou categoria de pes-soas deixando-se de punir seus desvios tor-nando-os imunes agrave persecutio criminis

Assim importante questatildeo a ser observada diz respeito agrave compatibilidade do desacato e agrave existecircncia no Estado democraacutetico de igual lei que puna o abuso de autoridade Haacute de existir um equiliacutebrio entre essas duas forccedilas O Estado Democraacutetico de Direito deve possuir mecanis-mos de salvaguarda do cidadatildeo contra abusos do poder ao mesmo tempo em que deve colocar o agente puacuteblico tambeacutem a salvo do exerciacutecio abu-sivo de direitos conferidos aos demais membros da sociedade Portanto o desacato natildeo eacute incom-patiacutevel com a democracia desde que em contra-partida haja lei que puna os abusos de autori-dade

Nesse ponto ressalte-se que a atual lei de re-pressatildeo ao abuso eacute precaacuteria Editada haacute mais de meio seacuteculo (Lei 48981965) eacute insuficiente para coibir eficazmente a diversidade de desvios fun-cionais desvelados hodiernamente

A ausecircncia de equiliacutebrio provocada pela falta de uma lei que puna exemplarmente desvios de agentes do Estado e a pretensatildeo deste de punir agressotildees contra esses mesmos agentes tecircm afe-tado a eficaacutecia social do tipo penal do desacato

No entanto natildeo eacute ainda o caso de se invocar a Teoria da Adequaccedilatildeo Social desenvolvida por Hans Welzel como causa supralegal de exclusatildeo da tipicidade pela qual se preconiza que deter-minadas condutas consensualmente aceitas pela sociedade natildeo mais se ajustam a um mo-delo legal incriminador A evoluccedilatildeo dos costumes seria o fator decisivo para a verificaccedilatildeo dessa ex-cludente de tipicidade circunstacircncia ainda natildeo

63 CF art 37 ldquo() sect 4ordm Os atos de improbidade ad-

ministrativa importaratildeo a suspensatildeo dos direitos poliacute-ticos a perda da funccedilatildeo puacuteblica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao eraacuterio na forma e gra-daccedilatildeo previstas em lei sem prejuiacutezo da accedilatildeo penal ca-biacutevelrdquo

64 CF art 1ordm ldquoA Repuacuteblica Federativa do Brasil for-mada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios

passiacutevel de afericcedilatildeo mas eacute preciso que o legisla-dor atualize a legislaccedilatildeo para punir eficazmente desvios e abusos de agentes do Estado

Havendo lei ainda que deficitaacuteria punindo o abuso de autoridade (Lei 48981965) pode-se afirmar que a criminalizaccedilatildeo do desacato se mos-tra compatiacutevel com o Estado Democraacutetico de Di-reito (CF art 1ordm64)

HC 141949 rel min Gilmar Mendes DJE de 23-4-2018 (Informativo 894 Segunda Turma)

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e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacute-tico de Direito e tem como fundamentos I ndash a sobera-nia II ndash a cidadania III ndash a dignidade da pessoa hu-mana IV ndash os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa V ndash o pluralismo poliacutetico Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeordquo

N 6 ABRIL DE 2018

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

N 6 ABRIL DE 2018

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 18: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL

ACcedilAtildeO PENAL

DENUacuteNCIA

Apoacutes o desmembramento de accedilatildeo penal quanto a reacuteu cuja denuacutencia natildeo fora recebida na instacircncia superior eacute possiacutevel o ofereci-mento de nova denuacutencia de distinto teor pe-rante o juiacutezo competente

O princiacutepio da independecircncia funcional estaacute diretamente atrelado agrave atividade finaliacutestica de-senvolvida pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico gravitando em torno das garantias (a) de uma atuaccedilatildeo livre no plano teacutecnico-juriacutedico isto eacute sem qualquer subordinaccedilatildeo a eventuais reco-mendaccedilotildees exaradas pelos oacutergatildeos superiores da instituiccedilatildeo e (b) de natildeo poderem ser responsa-bilizados pelos atos praticados no estrito exerciacute-cio de suas funccedilotildees Independentemente de eventual subordinaccedilatildeo administrativa natildeo haacute quanto agrave atividade-fim segundo o referido prin-ciacutepio qualquer espeacutecie de vinculaccedilatildeo teacutecnica en-tre os membros da instituiccedilatildeo que atuam pe-rante instacircncias diversas

O postulado da independecircncia funcional tam-beacutem fornece as bases teoacutericas para fundamentar o princiacutepio do promotor natural consoante o qual a definiccedilatildeo do membro do Ministeacuterio Puacute-blico competente para oficiar em um caso deve observar as regras previamente estabelecidas pela instituiccedilatildeo para distribuiccedilatildeo de atribuiccedilotildees em determinado foro de atuaccedilatildeo obstando-se a interferecircncia hieraacuterquica indevida da chefia do oacutergatildeo por meio de eventuais designaccedilotildees espe-ciais A proteccedilatildeo efetiva e substancial ao princiacute-pio do promotor natural impede que o superior hieraacuterquico designe o promotor competente bem como imponha a orientaccedilatildeo teacutecnica a ser observada

Na mesma linha os subprinciacutepios da imparci-alidade e do livre convencimento satildeo corolaacuterios

65 CF art 5ordm ldquoTodos satildeo iguais perante a lei sem

distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviola-bilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes () LVII ndash ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de sentenccedila penal condenatoacuteriardquo

do princiacutepio da independecircncia funcional assegu-rado aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico sem qualquer prejuiacutezo ao postulado da obrigatorie-dade que como regra pauta a accedilatildeo penal puacute-blica no sistema juriacutedico brasileiro

Consectariamente o membro do Ministeacuterio Puacuteblico ostenta plena liberdade funcional natildeo apenas na avaliaccedilatildeo inicial para aferir apoacutes a fase de investigaccedilatildeo a existecircncia de justa causa para o oferecimento da peccedila acusatoacuteria como tam-beacutem no exame ao final da instruccedilatildeo processual quanto agrave comprovaccedilatildeo dos indiacutecios de autoria originariamente cogitados sendo certo que a im-parcialidade na formaccedilatildeo da opinio delicti se efe-tiva na hipoacutetese em que o membro do Ministeacuterio Puacuteblico eacute realmente livre na formaccedilatildeo de seu convencimento

HC 137637 rel min Luiz Fux DJE de 25-4-2018 (Informativo 893 Primeira Turma)

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NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

RECURSOS EM GERAL

EMBARGOS

Verificado o empate no julgamento dos em-bargos de declaraccedilatildeo deve prevalecer a de-cisatildeo mais favoraacutevel ao reacuteu

Tratando-se de mateacuteria penal o empate so-mente pode beneficiar aquele que sofre a perse-cuccedilatildeo estatal de modo que em natildeo havendo maioria em sentido contraacuterio o empate impor-taraacute necessariamente em respeito agrave presunccedilatildeo constitucional de inocecircncia (CF art 5ordm LVII65) e tal seja a situaccedilatildeo processual em rejeiccedilatildeo da de-nuacutencia ou entatildeo em absolviccedilatildeo ou na hipoacutetese de habeas corpus em concessatildeo do proacuteprio writ constitucional66

Aceitar-se em situaccedilatildeo insuperaacutevel de em-pate a possibilidade de julgamento desfavoraacutevel ao reacuteu em sede penal constituiria na realidade verdadeiro anacronismo por traduzir retorno a velhas concepccedilotildees absolutistas67

O postulado in dubio pro reo traduz a foacutermula

66 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

67 Idem

N 6 ABRIL DE 2018

19

liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

AP 565 ED-ED red p o ac min Dias Toffoli DJE de 12-4-2018 (Informativo 888 Plenaacuterio)

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68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem

Page 19: N. 6 ABRIL DE · 2018-08-13 · n. 6 abril de 2018 3 direito penal crimes contra a dignidade sexual..... 15 crimes contra a liberdade sexual estupro crimes contra a administraÇÃo

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liberal dos regimes democraacuteticos sob cujo domiacute-nio natildeo compete ao acusado provar a sua proacutepria inocecircncia pois esse encargo recai por inteiro sobre o oacutergatildeo estatal da acusaccedilatildeo penal seja em face do que prescreve o art 5ordm LVII da Consti-tuiccedilatildeo da Repuacuteblica seja ainda em razatildeo do que dispotildee o art 156 caput do Coacutedigo de Processo Penal68 que atribui o ocircnus material da prova ndash tratando-se da demonstraccedilatildeo da materialidade e da autoria do fato delituoso ndash ao Ministeacuterio Puacute-blico69

A norma regimental70 que confere ao presi-dente do Plenaacuterio ou ao presidente de cada uma das Turmas o voto de qualidade natildeo pode nem deve incidir na hipoacutetese de empate que eventu-almente se registre em julgamentos penais como sucede na espeacutecie E a razatildeo eacute simples mera norma de iacutendole regimental jamais poderaacute prevalecer em situaccedilatildeo de antinomia sobre o texto normativo da Constituiccedilatildeo Qualquer solu-ccedilatildeo fundada na foacutermula do in dubio pro societate representaraacute retrocesso inadmissiacutevel em tema de persecuccedilatildeo penal pois no plano dos procedi-mentos persecutoacuterios haacute de sempre prevalecer o princiacutepio do favor libertatis que expressa ver-dadeiro dogma peculiar aos regimes que consa-gram o Estado Democraacutetico de Direito71

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SECcedilAtildeO DE PADRONIZACcedilAtildeO E REVISAtildeO (SEPRE)

68 CPP art 156 ldquoA prova da alegaccedilatildeo incumbiraacute a

quem a fizer sendo poreacutem facultado ao juiz de ofiacute-ciordquo

69 Fundamento extraiacutedo do voto do ministro Celso de Mello no presente julgamento

70 RISTF art 13 ldquoSatildeo atribuiccedilotildees do Presidente () IX ndash proferir voto de qualidade nas decisotildees do Ple-naacuterio para as quais o Regimento Interno natildeo preveja

soluccedilatildeo diversa quando o empate na votaccedilatildeo decorra de ausecircncia de Ministro em virtude de a) impedi-mento ou suspeiccedilatildeo b) vaga ou licenccedila meacutedica supe-rior a trinta dias quando seja urgente a mateacuteria e natildeo se possa convocar o Ministro licenciadordquo

71 Idem