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Natal • Rio Grande do Norte Domingo, 25 de fevereiro de 2018 7 geral YUNO SILVA Repórter S olidário, devoto, de perfil cu- rioso e conciliador, Nivaldo Edson do Monte (1918- 2006) foi um exemplo do “bom pastor”, sobre o qual nos fala os evangelhos cristãos, e fez parte da- quele seleto grupo de pessoas que não se martirizam nem titubeiam diante de questões existenciais: ele sabia bem qual missão cumpriria ao longo dos 88 anos de vida na jornada terrena. E em março, se- rá tempo de celebrar o primeiro centenário de nascimento dele. Mais conhecido por “Niniu”, entre amigos e familiares, Dom Ni- valdoMontedeixouumlegadoque transcende o campo eclesiástico. A aproximação do centenário de seu nascimento – a ser comemorado no próximo dia 15 de março – é a oportunidade certa para eviden- ciar as lições pregadas por ele. “Hoje, diante de um tempo em que a memória se dissipa de forma rápida, às vezes até injusta, é mui- to válido lembrar de pessoas que tiveram relevância na sociedade. É louvável a dedicação e o envolvi- mentodeDomNivaldocomassun- tos da família, da igreja, da cidade, da Academia Norte-riograndense de Letras, e do Instituto Histórico e Geográfico do RN”, lembrou Dom Jaime Vieira Rocha, arcebis- po de Natal, mesmo cargo ocupa- do por Dom Nivaldo entre 1967 e 1988.Foiumagestão,naCúriaMe- tropolitana, dedicada às atividades pastorais, à ação social e ao aper- feiçoamento do clero. ParaDomJaime,queconviveu e foi ordenado padre por Dom Ni- valdo, festejar o professor é eviden- ciar uma pessoa “que elevava a al- ma de todos com seu otimismo. Apesar da aparência física frágil, era um cabedal de conhecimento com uma sensibilidade incrível e grande habilidade para mediar conflitos. Era um conciliador, um homem da comunhão, paciente, que sabia até onde poderia ir em cada situação”, acrescentou o atu- al arcebispo de Natal, adiantando que no dia 15 de março, às 19h, ha- verá missa na Catedral Metropo- litana em homenagem a Dom Ni- valdo. Um site com vídeos, áudios, documentos, informações e depoi- mentos sobre Dom Nivaldo tam- bém será lançado na ocasião. Um homem de ações e preces Co-fundador da Rádio Rural de Natal ao lado de Dom Eugênio de Araújo Sales (1920-2012), Dom Nivaldo Monte foi radialista, jor- nalista, e professor de Latim, Gre- go, História Natural, Psicologia, História e Filosofia da Educação, Administração de Obras, Moral Geral e Ética Profissional, no Se- minário de São Pedro, em escolas regulares, nas escolas Doméstica e de Serviço Social, e no Instituto de Ciências Humanas da UFRN. Seu interesse por conhecimen- to ainda gerou pesquisas nas áreas de botânica, genética, arqueologia e etnografia. Poeta, autor de doze livros, e de outra dezena de plaque- tes, também dedicou parte de seu tempo à Academia Norte-ri- ograndense de Letras onde ocu- pou cadeira número 18 acujo pa- trono é Augusto Severo. Curioso e inquieto, também era desportista. Foi compositor de músicas cristãs, e ainda assinou o projeto arquitetônico do prédio onde funcionou a Escola de Ser- viço Social – imóvel que atualmen- te abriga a Câmara Municipal de Natal, no Tirol. Na Rádio Rural de Natal, além de comandar programas com mensagens reflexivas, desenvol- veu métodos para ensino radio- fônico dentro do Movimento de Educação de Base (MEB). Com Dom Eugênio Sales, Dom Nivaldo foi também o pri- meiro coordenador da Ação Ca- tólica Feminina e o segundo da Ação Masculina, ajudando a cri- ar o Movimento de Natal – inicia- tiva pioneira da igreja católica for- mada por um conjunto de ações que prezava pela formação do ser humano no período pós-Segun- da Guerra Mundial. A relevância do Movimento de Natal foi reconhecida regional, nacional e internacionalmente, servindo, inclusive, como base pa- ra a atual Campanha da Frater- nidade e referência para o 21º Concílio Ecumênico da Igreja Ca- tólica, realizado em 1961, o cha- mado Concílio Vaticano II convo- cado pelo Papa João XXIII. Sua dedicação por causas so- ciais o levaram Dom Nivaldo Monte a fundar (entre 1946 e 1955) diversos Centros Sociais em Natal e paróquias do interior, que culminaram com a fundação do Serviço Ação Urbana em 1966. Ele também trabalhou no iní- cio da construção da nova Cate- dral Metropolitana, e iniciou o projeto de erradicação da favela do Passo da Pátria, Cidade Alta, com construção de casas, escolas, centro social e capela. Centenário de Dom Nivaldo Caçula de sete irmãos, fi- lho de Pedro Alexandre do Monte e Belarmina Sobral do Monte, Dom Nivaldo seguiu os passos deixados pelo Padre Monte (1905-1944), seu irmão mais velho. “Tio Niniu era de uma época que os padres e bis- pos eram pastores, participa- vam da vida política e social da cidade”, lembrou o sobrinho Roberto Monte, economista e pesquisador que recebeu a re- portagem da TRIBUNA DO NORTE entre pilhas de docu- mentos e revistas, rolos de fil- mes 18mm, cartazes, fitas K7, DVD e VHS, centenas de li- vros, e muitas lembranças. “Ele tinha um raciocínio analógico, cartesiano, pesqui- sava de tudo e queria juntar to- do o material coletado em um único volume. Seu sonho era publicar uma enciclopédia so- bre o RN”, contou Roberto so- bre o tio, explicando que Nival- do era da turma dos moderados, “entre as alas progressista e rea- cionária da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Nunca mudou o tom de voz, es- tava sempre aberto ao diálogo, e era torcedor fervoroso do ABC de ir para o campo com o radi- nho no ouvido”, revelou o sobri- nho, que, aliás, é responsável pelo acervo do educador Moa- cyr de Góes (1930-2009), do ex- prefeito Djalma Maranhão (1915-1971), e do Monsenhor Expedito de Medeiros (1916- 2000). Roberto Monte resumiu em poucas palavras a personalida- de de quatro, entre os principais religiosos do RN. Para ele o Pa- dre João Maria (1848-1905) po- de ser definido pela simplicida- de, enquanto o Padre Monte tem seu nome relacionado à erudição. “Dom Eugênio repre- sentava o poder eclesial, en- quanto Dom Nivaldo a articu- lação e a conciliação”. Dom Nivaldo Monte nas- ceu em Natal no dia 15 de mar- ço de 1918. Filho de família simples, vinda do sertão per- nambucano, é o caçula de se- te irmãos. Como era muito li- gado à terra, vivia plantando árvores por onde andava para marcar sua passagem pelo lu- gar ou eternizar algum episó- dio. “Quer agradar um Mon- te? Traga uma fruta diferente. Nossa família veio morar no litoral, mas a origem está no interior, na terra, na granja”, disse o sobrinho Roberto Monte. De fato: no acervo mantido por Roberto com fotografias de Dom Nivaldo Monte, é fácil en- contrar o religioso ao lado de árvores frutíferas ou cuidando de um canteiro – tanto que en- tre suas pesquisas empíricas estão assuntos relacionados à botânica, biologia e genética. Seu nome, por sinal, batiza o Parque da Cidade, no bairro de Candelária. Apesar da aparência fran- zina e saúde frágil, Dom Ni- valdo era conhecido por pos- suir uma personalidade forte e destemida. Aos 13 anos en- trou para o Seminário, e aos 22 anos foi ordenado padre por Dom Marcolino Dantas, o primeiro arcebispo de Natal. Em 1941 assumiu o posto de vigário da Paróquia de São Gonçalo do Amarante, em se- guida as de Goianinha (1942) e Arez (1943) animado pela mística da vocação e pelo ze- lo pastoral. Entre 1943 e 44, já de volta a Natal, foi nomeado o primei- ro capelão militar do Exército brasileiro do continente, du- rante a 2ª Guerra Mundial. Nomeado bispo em 1963, escolheu como lema “Mihi vi- vere is Christus” (Para mim o viver é Cristo), e foi desig- nado bispo auxiliar do arce- bispo de Aracaju, na época Dom José Vicente Távora. Dois anos depois, em 1965, re- torna à capital do RN para as- sumir o cargo de Administra- dor Apostólico da Arquidio- cese de Natal no lugar de Dom Eugênio Sales (1920-2012), que havia sido transferido pa- ra a Bahia. Antes de ser nomeado o se- gundo arcebispo da Arquidio- cese de Natal pelo Papa Pau- lo VI, em 1967, função que exerceu até 1988, Dom Nival- do foi assistente eclesiástico da Juventude Feminina Cató- lica e do Secretariado Arqui- diocesano de Ação Social; se- cretário do Bispado de Natal; presidente, diretor e consul- tor da Escola de Serviço So- cial; secretário da Comissão de Artes Sacras e do Conse- lho Diocesano; pró-vigário ge- ral da Arquidiocese; diretor espiritual do Seminário de São Pedro; diretor da Divisão Téc- nica e Administrativa (DITA) do Serviço Social Rural; mem- bro do Conselho Administra- tivo da Arquidiocese de Natal; e capelão do Abrigo Juvino Barreto e do Colégio Nossa Se- nhora das Neves. Dom Nivaldo Monte era o caçula de uma família numerosa. Os pais tiveram oito filhos Na década de 1960, com o prefeito de Natal, Djalma Maranhão, lançando ações educacionais Naturalista e entusiasta da jardinagem, Dom Nivaldo Monte viveu os anos da aposentadoria entre as mangueiras do sítio de Emaús Arquidiocese de Natal, familiares e amigos preparam programação de eventos e celebrações pelos 100 anos de nascimento daquele que foi um dos mais populares e queridos líderes da Igreja Católica no Estado Origem agrária, alma eclética e trajetória religiosa Um homem de fé com uma “sede de saber” infinita Ele tinha um raciocínio cartesiano, pesquisava de tudo e queria juntar todo o material coletado em um único volume” ROBERTO MONTE Sobrinho de Dom Nivaldo DEPOIMENTO “Dom Nivaldo Monte, o nosso Niniu”, por Padre Fábio dos Santos Dom Nivaldo Monte foi a pessoa que melhor entendeu, e sentiu as palavras de Jesus, de que na terra é preciso se transformar numa criança para pode entrar no céu, por isso, o seu nome, mesmo nos tempos de padre, bispo e arcebispo, sempre foi o seu nome de menino, Niniu. Eu o chamava de o sempre menino bispo. Ele, com o saber e o sabor de uma criança, era um encantado, se encantava e encantava a todos. POEMAS Versos de Dom Nivaldo Monte sobre a terceira idade: A velhice é muito boa Pouco mal ela nos faz. Só não gosto da velhice, É por ser curta demais. “Pétala de rosa” Não te admires por eu ser tão velho De fazer, como eu faço, eu te aconselho: Nunca deites, cansado, pra dormir À procura de um justo e bom repouso Nunca feches os olhos sem abrir Um livrinho com fados de trancoso. Ele é um patrimônio da cultura e do saber, uma fonte de ensinamentos, um testemunho de vida, um filho amado do Pai, um autêntico louvor de sua glória. FOTOS: CEDIDAS/ARQUIVO DA FAMÍLIA

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Natal • Rio Grande do Norte Domingo, 25 de fevereiro de 2018 7geral

YUNO SILVARepórter

Solidário, devoto, de perfil cu-rioso e conciliador, NivaldoEdson do Monte (1918-

2006) foi um exemplo do “bompastor”, sobre o qual nos fala osevangelhos cristãos, e fez parte da-quele seleto grupo de pessoas quenão se martirizam nem titubeiamdiante de questões existenciais: elesabia bem qual missão cumpririaao longo dos 88 anos de vida najornada terrena. E em março, se-rá tempo de celebrar o primeirocentenário de nascimento dele.

Mais conhecido por “Niniu”,entre amigos e familiares, Dom Ni-valdo Monte deixou um legado quetranscende o campo eclesiástico. Aaproximação do centenário de seunascimento – a ser comemoradono próximo dia 15 de março – é aoportunidade certa para eviden-ciar as lições pregadas por ele.

“Hoje, diante de um tempo emque a memória se dissipa de formarápida, às vezes até injusta, é mui-to válido lembrar de pessoas quetiveram relevância na sociedade. Élouvável a dedicação e o envolvi-mento de Dom Nivaldo com assun-tos da família, da igreja, da cidade,da Academia Norte-riograndensede Letras, e do Instituto Históricoe Geográfico do RN”, lembrouDom Jaime Vieira Rocha, arcebis-po de Natal, mesmo cargo ocupa-do por Dom Nivaldo entre 1967 e1988. Foi uma gestão, na Cúria Me-tropolitana, dedicada às atividadespastorais, à ação social e ao aper-feiçoamento do clero.

Para Dom Jaime, que conviveue foi ordenado padre por Dom Ni-valdo, festejar o professor é eviden-ciar uma pessoa “que elevava a al-ma de todos com seu otimismo.Apesar da aparência física frágil,era um cabedal de conhecimentocom uma sensibilidade incrível egrande habilidade para mediarconflitos. Era um conciliador, umhomem da comunhão, paciente,que sabia até onde poderia ir emcada situação”, acrescentou o atu-al arcebispo de Natal, adiantandoque no dia 15 de março, às 19h, ha-verá missa na Catedral Metropo-litana em homenagem a Dom Ni-valdo. Um site com vídeos, áudios,documentos, informações e depoi-mentos sobre Dom Nivaldo tam-bém será lançado na ocasião.

Um homem de ações e precesCo-fundador da Rádio Rural

de Natal ao lado de Dom Eugêniode Araújo Sales (1920-2012), DomNivaldo Monte foi radialista, jor-nalista, e professor de Latim, Gre-go, História Natural, Psicologia,História e Filosofia da Educação,Administração de Obras, MoralGeral e Ética Profissional, no Se-minário de São Pedro, em escolasregulares, nas escolas Domésticae de Serviço Social, e no Institutode Ciências Humanas da UFRN.

Seu interesse por conhecimen-to ainda gerou pesquisas nas áreasde botânica, genética, arqueologiae etnografia. Poeta, autor de dozelivros, e de outra dezena de plaque-tes, também dedicou parte de seutempo à Academia Norte-ri-ograndense de Letras onde ocu-pou cadeira número 18 acujo pa-trono é Augusto Severo.

Curioso e inquieto, tambémera desportista. Foi compositor demúsicas cristãs, e ainda assinou oprojeto arquitetônico do prédioonde funcionou a Escola de Ser-viço Social – imóvel que atualmen-te abriga a Câmara Municipal de

Natal, no Tirol. Na Rádio Rural de Natal, além

de comandar programas commensagens reflexivas, desenvol-veu métodos para ensino radio-fônico dentro do Movimento deEducação de Base (MEB).

Com Dom Eugênio Sales,Dom Nivaldo foi também o pri-meiro coordenador da Ação Ca-tólica Feminina e o segundo daAção Masculina, ajudando a cri-ar o Movimento de Natal – inicia-tiva pioneira da igreja católica for-mada por um conjunto de açõesque prezava pela formação do serhumano no período pós-Segun-da Guerra Mundial.

A relevância do Movimentode Natal foi reconhecida regional,nacional e internacionalmente,servindo, inclusive, como base pa-ra a atual Campanha da Frater-nidade e referência para o 21ºConcílio Ecumênico da Igreja Ca-tólica, realizado em 1961, o cha-mado Concílio Vaticano II convo-cado pelo Papa João XXIII.

Sua dedicação por causas so-ciais o levaram Dom NivaldoMonte a fundar (entre 1946 e1955) diversos Centros Sociais emNatal e paróquias do interior, queculminaram com a fundação doServiço Ação Urbana em 1966.

Ele também trabalhou no iní-cio da construção da nova Cate-dral Metropolitana, e iniciou oprojeto de erradicação da favelado Passo da Pátria, Cidade Alta,com construção de casas, escolas,centro social e capela.

Centenário de

Dom Nivaldo

Caçula de sete irmãos, fi-lho de Pedro Alexandre doMonte e Belarmina Sobral doMonte, Dom Nivaldo seguiu ospassos deixados pelo PadreMonte (1905-1944), seu irmãomais velho. “Tio Niniu era deuma época que os padres e bis-pos eram pastores, participa-vam da vida política e social dacidade”, lembrou o sobrinhoRoberto Monte, economista epesquisador que recebeu a re-portagem da TRIBUNA DONORTE entre pilhas de docu-mentos e revistas, rolos de fil-mes 18mm, cartazes, fitas K7,DVD e VHS, centenas de li-vros, e muitas lembranças.

“Ele tinha um raciocínioanalógico, cartesiano, pesqui-sava de tudo e queria juntar to-do o material coletado em umúnico volume. Seu sonho erapublicar uma enciclopédia so-bre o RN”, contou Roberto so-bre o tio, explicando que Nival-do era da turma dos moderados,“entre as alas progressista e rea-cionária da CNBB (ConferênciaNacional dos Bispos do Brasil).Nunca mudou o tom de voz, es-tava sempre aberto ao diálogo,e era torcedor fervoroso do ABCde ir para o campo com o radi-nho no ouvido”, revelou o sobri-nho, que, aliás, é responsável

pelo acervo do educador Moa-cyr de Góes (1930-2009), do ex-prefeito Djalma Maranhão(1915-1971), e do MonsenhorExpedito de Medeiros (1916-2000).

Roberto Monte resumiu empoucas palavras a personalida-de de quatro, entre os principaisreligiosos do RN. Para ele o Pa-dre João Maria (1848-1905) po-de ser definido pela simplicida-de, enquanto o Padre Montetem seu nome relacionado àerudição. “Dom Eugênio repre-sentava o poder eclesial, en-quanto Dom Nivaldo a articu-lação e a conciliação”.

Dom Nivaldo Monte nas-ceu em Natal no dia 15 de mar-ço de 1918. Filho de famíliasimples, vinda do sertão per-nambucano, é o caçula de se-te irmãos. Como era muito li-gado à terra, vivia plantandoárvores por onde andava paramarcar sua passagem pelo lu-gar ou eternizar algum episó-dio. “Quer agradar um Mon-te? Traga uma fruta diferente.Nossa família veio morar nolitoral, mas a origem está nointerior, na terra, na granja”,disse o sobrinho RobertoMonte.

De fato: no acervo mantidopor Roberto com fotografias deDom Nivaldo Monte, é fácil en-contrar o religioso ao lado deárvores frutíferas ou cuidandode um canteiro – tanto que en-tre suas pesquisas empíricasestão assuntos relacionados àbotânica, biologia e genética.Seu nome, por sinal, batiza oParque da Cidade, no bairro deCandelária.

Apesar da aparência fran-zina e saúde frágil, Dom Ni-valdo era conhecido por pos-suir uma personalidade fortee destemida. Aos 13 anos en-trou para o Seminário, e aos22 anos foi ordenado padrepor Dom Marcolino Dantas, oprimeiro arcebispo de Natal.Em 1941 assumiu o posto devigário da Paróquia de SãoGonçalo do Amarante, em se-guida as de Goianinha (1942)e Arez (1943) animado pelamística da vocação e pelo ze-lo pastoral.

Entre 1943 e 44, já de voltaa Natal, foi nomeado o primei-ro capelão militar do Exércitobrasileiro do continente, du-rante a 2ª Guerra Mundial.

Nomeado bispo em 1963,escolheu como lema “Mihi vi-vere is Christus” (Para mimo viver é Cristo), e foi desig-nado bispo auxiliar do arce-bispo de Aracaju, na épocaDom José Vicente Távora.Dois anos depois, em 1965, re-torna à capital do RN para as-sumir o cargo de Administra-dor Apostólico da Arquidio-cese de Natal no lugar de DomEugênio Sales (1920-2012),que havia sido transferido pa-ra a Bahia.

Antes de ser nomeado o se-gundo arcebispo da Arquidio-cese de Natal pelo Papa Pau-lo VI, em 1967, função queexerceu até 1988, Dom Nival-do foi assistente eclesiásticoda Juventude Feminina Cató-lica e do Secretariado Arqui-diocesano de Ação Social; se-cretário do Bispado de Natal;presidente, diretor e consul-tor da Escola de Serviço So-cial; secretário da Comissãode Artes Sacras e do Conse-lho Diocesano; pró-vigário ge-ral da Arquidiocese; diretorespiritual do Seminário de SãoPedro; diretor da Divisão Téc-nica e Administrativa (DITA)do Serviço Social Rural; mem-bro do Conselho Administra-tivo da Arquidiocese de Natal;e capelão do Abrigo JuvinoBarreto e do Colégio Nossa Se-nhora das Neves.

Dom Nivaldo Monte era o caçula de uma família numerosa. Os pais tiveram oito filhos Na década de 1960, com o prefeito de Natal, Djalma Maranhão, lançando ações educacionais

Naturalista e entusiasta da jardinagem, Dom Nivaldo Monte viveu os anos da aposentadoria entre as mangueiras do sítio de Emaús

Arquidiocese de Natal, familiares e amigos preparam programação deeventos e celebrações pelos 100 anos de nascimento daquele que foium dos mais populares e queridos líderes da Igreja Católica no Estado

Origem agrária,alma eclética etrajetória religiosa

Um homem de fé com uma“sede de saber” infinita

Ele tinha umraciocíniocartesiano,pesquisava de tudo equeria juntar todo omaterial coletadoem um únicovolume”

ROBERTO MONTESobrinho de Dom Nivaldo

DEPOIMENTO

“Dom Nivaldo Monte, o nossoNiniu”, por Padre Fábio dos SantosDom Nivaldo Monte foi a pessoa quemelhor entendeu, e sentiu aspalavras de Jesus, de que na terra épreciso se transformar numa criançapara pode entrar no céu, por isso, oseu nome, mesmo nos tempos depadre, bispo e arcebispo, sempre foio seu nome de menino, Niniu. Eu ochamava de o sempre meninobispo. Ele, com o saber e o sabor deuma criança, era um encantado, seencantava e encantava a todos.

POEMAS Versos de Dom Nivaldo Monte sobrea terceira idade:

A velhice é muito boaPouco mal ela nos faz.Só não gosto da velhice,É por ser curta demais.

“Pétala de rosa”

Não te admires por eu ser tão velhoDe fazer, como eu faço, eu teaconselho:Nunca deites, cansado, pra dormir

À procura de um justo e bomrepousoNunca feches os olhos sem abrirUm livrinho com fados de trancoso.

Ele é um patrimônio da cultura e dosaber, uma fonte de ensinamentos,um testemunho de vida, um filhoamado do Pai, um autêntico louvorde sua glória.

FOTOS: CEDIDAS/ARQUIVO DA FAMÍLIA