beneficiamento de um minÉrio primÁrio de cobre...

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UFRJ Rio de Janeiro Abril de 2012 BENEFICIAMENTO DE UM MINÉRIO PRIMÁRIO DE COBRE MEDIANTE O USO DE MICRO-ORGANISMOS: biolixiviação e cominuição bio-assistida. Juan Carlos Guerrero Barreto Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como requisito necessário à obtenção do grau de Doutor em Ciências (Geologia). Orientador (es): Claudio Gerheim Porto, PhD. Luis Gonzaga Santos Sobral, PhD.

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  • UFRJ

    Rio de Janeiro Abril de 2012

    BENEFICIAMENTO DE UM MINRIO PRIMRIO DE COBRE

    MEDIANTE O USO DE MICRO-ORGANISMOS: biolixiviao e cominuio bio-assistida.

    Juan Carlos Guerrero Barreto

    Tese de Doutorado submetida ao Programa de Ps-graduao em Geologia, Instituto de Geocincias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como requisito necessrio obteno do grau de Doutor em Cincias (Geologia).

    Orientador (es):

    Claudio Gerheim Porto, PhD. Luis Gonzaga Santos Sobral, PhD.

  • Rio de Janeiro Abril de 2012

    BENEFICIAMENTO DE UM MINRIO PRIMRIO DE COBRE MEDIANTE O USO DE MICRO-ORGANISMOS: biolixiviao e cominuio bio-assistida.

    Juan Carlos Guerrero Barreto

    Orientador (es): Claudio Gerheim Porto, Luis Gonzaga Santos Sobral

    Tese de Doutorado submetida ao Programa de Ps-graduao em Geologia, Instituto de Geocincias, da Universidade Federal do Rio de JaneiroUFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias (Geologia).

    Aprovada por:

    _____________________________________________________ Presidente: JOS MRIO COELHO, DSc (UFRJ/IGEO) _____________________________________________________ REINER NEUMANN, DSc (CETEM/MCTI) _____________________________________________________ MARISA BEZERRA DE MELLO MONTE, DSc (CETEM/MCTI) _____________________________________________________ DENISE BEVILAQUA, DSc (UNESP) _____________________________________________________ GILSON EZEQUIEL FERREIRA, DSc (CETEM/MCTI)

  • Guerrero, Juan Carlos Barreto BENEFICIAMENTO DE UM MINRIO PRIMRIO DE COBRE MEDIANTE O USO DE MICRO-ORGANISMOS: biolixiviao e cominuio bio-assistida / Juan Carlos Guerrero Barreto. - Rio de Janeiro: UFRJ/Geologia, 2012. xvii, 101f.: il.; 29,7 cm. Orientadores: Claudio Gerheim Porto e Luis Gonzaga Santos Sobral. Tese (Doutorado em Geologia) UFRJ/Geologia/ Programa de Ps-Graduao em Geologia, 2012. Referncias Bibliogrficas: f 94-101. 1. Minrio de Cobre. 2. Biolixiviao 3. Micro-organismos acidfilos. 4. ndice de Bond. 5. Simulao. I. Porto, Cludio Gerheim e Sobral, Luis Gonzaga Santos. II. UFRJ/ Programa de Ps-graduao em Geologia. III. Ttulo (srie)

  • A meus pais que so meu orgulho.

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    A meu Deus por ter me dado foras para poder levar adiante este trabalho.

    A meus pais e minha famlia por ter me dado todo seu apoio incondicional

    A meus orientadores Dr. Luis Gonzaga Santos Sobral e o Prof. Claudio Gerheim Porto pelas orientaes, conselhos e auxlio, sempre que eu precisei.

    Ao CETEM e ao, ento diretor, Dr. Ado Benvindo da Luz por ter me permitido utilizar as instalaes do Centro para o desenvolvimento deste trabalho.

    Ao Dr. Reiner Neuman por ter emprestado seus laboratrios para poder realizar a caracterizao das amostras e pelas suas valiosas observaes.

    Ao Dr. Luis Marcelo Tavares e sua equipe do Laboratrio de Tratamentos de Minrios da COOPE/UFRJ pelo o auxilio no desenvolvimento do mtodo nos

    ensaios de moagem.

    A Dra. Marisa Bezerra de Mello Monte, por sua pacincia, palavras de animo e por ter permitido dividir meu tempo entre as atividades de trabalho e as da minha tese.

    A Renata, minha companheira, que sempre esteve pronta para me ajudar, eu devo muito de tudo isto.

    A Mnica Regina Lima, minha amiga, pelas cobranas e motivao.

    A Renata Lima e meus estagirios Emerson, Thaiana, Ricardinho e Isabella, muito obrigado pelo seu esforo.

    A meus amigos de boteco Gabriel, Vito, Junior, Jorge, David e Carlos Eduardo nesses momentos surgiram as grandes ideias e foram encontradas as respostas s

    perguntas mais complexas.

    A meus companheiros do laboratrio da CPMA, COAM e COPM do CETEM.

    Ao CNPq pela bolsa concedida.

  • iv

    La science, mon garon, est faite d'erreurs, mais d'erreurs qu'il est bon de commettre, car elles mnent peu peu la vrit.

    Jules Verne, 1867.

    (A cincia, meu rapaz, feita de erros, mas de erros que por sua vez, so os passos

    para chegar verdade)

    Julio Verne, 1867.

  • v

    Rio de Janeiro Abril de 2012

    RESUMO

    BENEFICIAMENTO DE UM MINRIO PRIMRIO DE COBRE MEDIANTE O USO DE MICRO-ORGANISMOS: biolixiviao e cominuio bio-assistida.

    Juan Carlos Guerrero Barreto

    Orientador (es): Claudio Gerheim Porto, Luis Gonzaga Santos Sobral

    Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Ps-graduao em Geologia, Instituto de Geocincias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias (Geologia).

    A inovao tecnolgica no processamento mineral, mediante o uso de micro-organismos, nas etapas hidrometalrgica e de cominuio foi o objeto deste estudo. Os micro-organismos, de forma indireta, colaboraram com o aumento da recuperao devido ao grau de fragmentao da rocha. Desta forma, esta pesquisa visou avaliar a capacidade de micro-organismos Mesoflicos, Termoflicos Moderados e Extremos na lixiviao de cobre e na fragilizao de um minrio primrio de cobre que apresenta problemas na etapa de flotao. Os resultados mostraram que o consrcio de micro-organismos que teve um melhor desempenho no processo bio-oxidativo, foi o constitudo por micro-organismos termoflicos moderados; porm, necessria a utilizao dos trs consrcios em conjunto uma vez que em uma pilha de grandes dimenses, os trs estariam atuando em conjunto. Foi observada, tambm, a atividade dos micro-organismos nativos (prprios do minrio) os quais mostraram um aceitvel desempenho no processo de biolixiviao. As extraes de cobre nos ensaios em coluna, nos testes bitico e com a atuao, to somente, dos micro-organismos endgenos, foram de 68 e 61%, respectivamente. O rejeito da coluna do ensaio Bitico teve uma reduo no ndice de Trabalho e no do Consumo de Energia de 12,26 e 8,42 %, respectivamente. Em escala piloto, houve uma diminuio no ndice de trabalho, reduzindo assim em 7% o consumo de energia e na etapa posterior de concentrao o minrio respondeu bem ao processo de flotao. Portanto, o tratamento biolgico proposto neste estudo foi adequado na extrao eficaz do cobre contido na amostra de minrio primrio de sulfetos de cobre, bem como na fragilizao do minrio.

    Palavras-chave: Minrio de Cobre, Biolixiviao, Micro-organismos Acidfilos, ndice de Bond, Simulao.

  • vi

    Rio de Janeiro Abril de 2012

    ABSTRACT

    MINERAL PROCESSING OF A PRIMARY COPPER ORE BY MICROORGANISMS: bioleaching and bioassited comminution.

    Juan Carlos Guerrero Barreto

    Supervisors: Claudio Gerheim Porto, Luis Gonzaga Santos Sobral

    Abstract da Tese de Doutorado submetido ao Programa de Ps-graduao em Geologia, Instituto de Geocincias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias (Geologia). The technological innovation in the mineral processing, by using microorganisms in the hydrometallurgical and comminution steps was the objective of this study. The microorganisms, in an indirect way, enhance the copper recovery due to the rock fragmentation. Therefore, this study aimed at evaluating the ability of mesophilic, moderate thermophilic and extreme thermophilic microorganisms on the bioleaching of copper and bio-embrittlement of primary copper ore sample that shows problems in froth-flotation process. The results showed that the consortium that had a best performance in the bio-oxidative process was moderate thermophilic microorganisms, but it is necessary to use the three consortia together in the scaling up process as they act collectively. It was also observed that the activity of indigenous micro-organisms (found in the ore) showed an acceptable performance in the bioleaching process. In the column tests, the copper extractions in biotic and that where only the indigenous microorganisms were acting were 68 and 61%, respectively. The tailings of biotic column test had a reduction in the work index and energy consumption of 12.26 and 8.42, respectively. In pilot scale, the sample, after biological treatment, decrease its bond work index, reducing the energy consumption in 7%, and in the next stage the sample have a good response to froth flotation process. In conclusion, the biological treatment proposed in this study was adequate for an efficient copper extraction out of the primary copper ore as well as in fragilizing the ore sample.

    Key-Words: Copper ore, Biolixiviation, Acidophilic Microorganism, Work Index, Simulation.

  • vii

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS ................................................................................................. iii

    RESUMO.................................................................................................................... V

    ABSTRACT ............................................................................................................... VI

    SUMRIO ................................................................................................................ VII

    LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. X

    LISTA DE TABELAS .............................................................................................. XIII

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................. XIV

    LISTA DE SMBOLOS ........................................................................................... XVII

    1 INTRODUO .............................................................................................. 1

    1.1 ENUNCIAO DO TEMA E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO.............................................. 1 1.2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 3

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................................ 5

    2.1 O COBRE ........................................................................................................... 5 2.1.1 Principais Tipos de Minerais de Cobre ..................................................... 5 2.1.2 Cadeia Produtiva ........................................................................................ 6 2.1.3 Oferta e Demanda ....................................................................................... 7 2.1.4 Preos, Custos e Margens. ...................................................................... 12 2.2 O TRATAMENTO BIO-OXIDATIVO ......................................................................... 13 2.2.1 Micro-organismos Envolvidos ................................................................ 13 2.2.1.1 Micro-organismos mesoflicos .................................................................. 13 2.2.1.2 Micro-organismos termoflicos .................................................................. 14 2.2.2 Emprego de Consrcios Microbianos .................................................... 15 2.2.3 Caractersticas do Processo de Biolixiviao ....................................... 16 2.2.4 Mecanismos de Oxidao dos Minerais ................................................. 16 2.2.4.1 Mecanismo direto ..................................................................................... 17 2.2.4.2 Mecanismo indireto .................................................................................. 17 2.2.4.3 Processo GEOCOATTM ............................................................................ 19 2.3 FUNDAMENTOS DE QUEBRA DE PARTCULAS E CONSUMO DE ENERGIA................... 20 2.3.1 Quebra de Partculas ................................................................................ 20 2.3.2 Teorias da Cominuio ............................................................................ 21 2.3.3 Mtodo de Bond para o Escalonamento de Moinho de Barras ............ 22 2.3.3.1 Clculo do parmetro do ndice de Trabalho (IT) ..................................... 23 2.3.3.2 Ampliao de escala de um moinho de barras ......................................... 23 2.3.3.3 Fatores de eficincia ................................................................................ 24 2.3.3.4 Clculo da energia especfica .................................................................. 24 2.3.3.5 Clculo da potncia .................................................................................. 25 2.3.4 Energia Requerida para a Extrao Mineral ........................................... 25

  • viii

    3 MATERIAIS E MTODOS .......................................................................... 28

    3.1 AMOSTRAS ....................................................................................................... 28 3.1.1 Amostragem .............................................................................................. 28 3.1.2 Preparao das Amostras ....................................................................... 28 3.1.2.1 Minrio Primrio de Cobre ........................................................................ 28 3.1.2.2 Concentrado de Flotao ......................................................................... 28 3.2 CARACTERIZAO ............................................................................................. 29 3.2.1 Anlises por Difrao de Raios-X ........................................................... 29 3.2.2 Anlises por Fluorescncia de Raios-X.................................................. 31 3.2.3 Anlise Granulomtrica ........................................................................... 31 3.2.4 Digesto cida das Amostras ................................................................. 32 3.2.5 Microscpio Petrogrfico ........................................................................ 32 3.3 CONSRCIOS DE MICRO-ORGANISMOS E MEIO DE CULTURA ................................. 33 3.3.1 Crescimento e Aclimatao dos Consrcios Microbianos ................... 33 3.4 VISUALIZAO DOS MICRO-ORGANISMOS MESOFLICOS ........................................ 34 3.5 ENSAIOS DE BIOLIXIVIAO EM ESCALA DE BANCADA ............................................ 35 3.5.1 Condies para os Ensaios em Bancada ............................................... 35 3.5.1.1 Ensaios com Consrcios Mesoflicos, Termoflicos Moderados e Extremos 36 3.5.1.2 Ensaio com os Consrcios Microbianos Atuando em Conjunto ............... 37 3.6 ENSAIO DE BIOLIXIVIAO EM COLUNA SEMI-PILOTO AUTOMATIZADA .................... 37 3.6.1 Ensaios Bitico e Nativo em Coluna Semi-piloto .................................. 38 3.6.2 Medidas de Monitoramento e Controle................................................... 40 3.6.2.1 Medidas de pH e Eh ................................................................................. 40 3.6.2.2 Determinao da concentrao de ferro total ........................................... 41 3.6.2.3 Determinao da concentrao de cobre ................................................. 41 3.6.3 Preparao e Caracterizao dos Rejeitos ............................................ 42 3.7 ENSAIO DE BIOLIXIVIAO EM COLUNA PILOTO .................................................... 42 3.8 CONSUMO DE ENERGIA NOS ENSAIOS EM ESCALA SEMI-PILOTO .......................... 43 3.8.1 Moinho de Barras ..................................................................................... 43 3.8.2 Ensaios de Moabilidade ........................................................................... 44 3.8.3 Modelo do Moinho de Barras .................................................................. 44 3.8.3.1 Funo seleo (S) .................................................................................. 45 3.8.3.2 Funo quebra (B) .................................................................................... 45 3.8.3.3 Retro-clculo dos parmetros das funes S e B..................................... 46 3.8.4 Determinao do IT e Consumo de Energia ........................................... 46 3.9 ENSAIO BIOOXIDATIVO EM ESCALA PILOTO. ......................................................... 47 3.9.1 Determinaes do ndice de Trabalho em Moinho de Bolas ................ 47 3.9.2 Ensaios de Flotao em Bancada ........................................................... 48

    4 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................. 50

    4.1 CARACTERIZAO ............................................................................................. 50 4.1.1 Minrio Primrio de Cobre ....................................................................... 50 4.1.2 Concentrado de Flotao ......................................................................... 53 4.2 VISUALIZAO DOS MICRO-ORGANISMOS ............................................................. 55 4.3 ENSAIOS EM ESCALA DE BANCADA UTILIZANDO CONSRCIOS DE MICRO-ORGANISMOS MESOFLICOS, TERMOFLICOS MODERADOS E EXTREMOS ........................... 58 4.3.1 Efeito no Potencial Redox. ...................................................................... 58 4.3.2 Efeito na Dissoluo de Espcies de Cobre e Ferro ............................. 60

  • ix

    4.3.3 Efeito na Composio Mineralgica ....................................................... 63 4.4 ENSAIOS EM ESCALA DE BANCADA UTILIZANDO CONSRCIOS EM CONJUNTO ........ 68 4.4.1 Efeito no Potencial Redox ....................................................................... 69 4.4.2 Efeito na Dissoluo de Espcies de Cobre e Ferro ............................. 70 4.4.3 Efeito na Composio Mineralgica ....................................................... 71 4.5 ENSAIOS DE BIOLIXIVIAO EM COLUNA AUTOMATIZADA SEMI-PILOTO .................. 74 4.5.1 Efeito no Potencial Redox ....................................................................... 74 4.5.2 Efeito na Dissoluo de Espcies de Cobre .......................................... 75 4.5.3 Efeito na Composio Qumica da Amostra .......................................... 76 4.6 SIMULAO DO MOINHO DE BARRAS PADRO DE BOND ....................................... 79 4.6.1 Distribuio Granulomtrica das Amostras no Ensaio de Moabilidade. 79 4.6.2 Ajuste do modelo ..................................................................................... 81 4.7 NDICE DE TRABALHO E CONSUMO DE ENERGIA NO ENSAIO SEMI-PILOTO. .............. 84 4.8 ENSAIO EM COLUNA PILOTO DE BIOLIXIVIAO. ................................................... 85 4.8.1 Composio Qumica, Mineralgica e Distribuio Granulomtrica das Amostras .................................................................................................................. 85 4.8.2 ndice de Trabalho e Consumo de Energia do Moinho de Bolas (Mtodo de Bond) .................................................................................................... 87 4.8.3 Recuperao de Cobre da Frao Fina da Amostra aps Tratamento por Flotao ............................................................................................................. 88

    5 CONCLUSES ........................................................................................... 89

    6 RECOMENDAES .................................................................................. 92

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................... 94

    8 ANEXOS

    Anexo 1: Dados dos ensaios em bancada.

    Anexo 2: Dados dos ensaios em coluna semi-piloto.

    Anexo 3: Dados dos ensaios de moabilidade

    Anexo 4: Dados do ndice de Trabalho de Bond das amostras no moinho de Barras

    Anexo 5: Relatrio do ndice de Trabalho do Moinho de Bolas amostra de minrio primrio de cobre.

    Anexo 6: Relatrio do ndice de Trabalho do Moinho de Bolas amostra de rejeito do ensaio de biolixiviao em coluna piloto.

  • x

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Cadeia produtiva do cobre. ......................................................................... 7

    Figura 2. Reservas em 2009 (barras em preto) e produo mundial de cobre no ano

    de 2010 (barras em vermelho). ............................................................................ 8

    Figura 3. Incremento no Consumo de Cobre.............................................................. 8

    Figura 4. Consumo industrial de cobre por setores. ................................................... 9

    Figura 5. Produo-consumo aparente de concentrado de cobre projetada de 2008

    at 2030 num cenrio frgil (linha preta) e num cenrio vigoroso (linha azul). .. 11

    Figura 6. Variao do preo do cobre no mercado internacional nos ltimos dez

    anos. .................................................................................................................. 12

    Figura 7. Mecanismo direto de interao micro-organismo-substrato mineral. ........ 17

    Figura 8. Mecanismo indireto de interao bactria-substrato mineral. ................... 18

    Figura 9. Mecanismo indireto de contato na interao micro-organismo-substrato

    mineral. .............................................................................................................. 18

    Figura 10. Fluxograma simplificado do beneficiamento para concentrados de cobre

    empregando o processo GEOCOATTM. ............................................................. 19

    Figura 11. Efeito dos teores de Cu no minrio sobre a energia incorporada das

    vrias rotas de processamento para a produo de cobre. ............................... 26

    Figura 12. Efeito dos teores de Cu no minrio sobre a emisso de gases do efeito

    estufa (GWP) das vrias rotas de processamento para a produo de cobre. .. 27

    Figura 13. Espectro Normalizado de uma amostra de dolomita e o resultado de seu

    tratamento pelo mtodo de Rietveld para quantificao de fases minerais. ...... 31

    Figura 14. Seo polida de calcopirita utilizada na visualizao dos micro-

    organismos mesoflicos ...................................................................................... 34

    Figura 15. Foto da coluna automatizada utilizada nos ensaios de Biolixiviao....... 38

    Figura 16. Desenho esquematizado do sistema reacional. ...................................... 39

    Figura 17. Moinho de Barras Tipo Bond. .................................................................. 44

    Figura 18. Teste de flotao em escala de bancada da amostra de rejeito da coluna

    de biolixiviao. .................................................................................................. 49

    Figura 19. Distribuio granulomtrica da amostra de minrio primrio de cobre. ... 50

    Figura 20. Principais espcies minerais identificadas no espectro de difrao de

    raios-X da amostra de minrio primrio de cobre. ph (flogopita);an (andesina),

    cpp (calcopirita); hn (hornblenda); tc (talco); cl (clorita); en (enstatita); qz

    (quartzo). ............................................................................................................ 51

    Figura 21. Fotomicrografias das principais espcies carreadoras de cobre sobre luz

    refletida das amostras de mo do minrio de cobre. Calcopirita (ccp), bornita

    (br), covelita (cv). ............................................................................................... 52

    Figura 22. Fotomicrografias sobre luz refletida (A) e luz transmitida (B) das amostras

    do minrio de cobre. .......................................................................................... 53

    Figura 23. Distribuio granulomtrica da amostra de concentrado de flotao de

    cobre. ................................................................................................................. 54

  • xi

    Figura 24. Principais espcies minerais identificadas no espectro de difrao de

    raios-X na amostra de concentrado de cobre. an (andesina), cpp (calcopirita); bn

    (Bornita); tc (talco); cl (clorita); qz (quartzo). ...................................................... 54

    Figura 25. Imagem da seo polida de calcopirita (ccp) com incluso de pirita (py)

    obtida atravs do MEV aps um dia de ensaio. ................................................. 55

    Figura 26. Espectro de DRX por EDS referente fase Py da fotomicrografia da

    Figura 25. ........................................................................................................... 56

    Figura 27. Espectro de DRX por EDS referente fase Cpp da fotomicrografia da

    Figura 25. ........................................................................................................... 56

    Figura 28. Imagem da adeso do micro-organismo na superfcie da calcopirita (A) e

    dimenses mdias da bactria na face da amostra (B) aps um dia de ensaio,

    obtidas atravs do MEV. .................................................................................... 57

    Figura 29. Micro-organismos aderidos na superfcie da amostra aps 48 horas de

    ensaio. Imagens obtidas atravs do MEV. ......................................................... 57

    Figura 30. Potencial Redox dos ensaios: bitico (), nativo () e abitico () e pH

    dos ensaios: bitico (), nativo () e abitico (), para os consrcios (A)

    mesoflico, (B) termoflico moderado e (C) termoflico extremo. ........................ 59

    Figura 31. Porcentagem de extrao de cobre em funo do tempo, em diferentes

    condies: bitico (), nativo () e abitico (), para os consrcios de micro-

    organismos mesoflico, termoflico moderado e termoflico extremo. ................. 61

    Figura 32. Porcentagem de extrao de ferro em funo do tempo, em diferentes

    condies: bitico (), nativo () e abitico (), para os consrcios de micro-

    organismos mesoflico, termoflico moderado e termoflico extremo. ................. 62

    Figura 33. Espectro de difrao de raios-X nos testes do ensaio de micro-

    organismos mesoflicos em diferentes condies: bitico, nativo, abitico e

    original. Minerais: ph (flogopita); cpp (calcopirita); hn (hornblenda); tc (talco); ch

    (clorita); en (enstatita); qz (quartzo). .................................................................. 64

    Figura 34. Espectro de difrao de raios-X nos testes do ensaio de micro-

    organismos termoflicos moderados em diferentes condies: bitico, nativo,

    abitico e original. Minerais: ph (flogopita); cpp (calcopirita); hn (hornblenda); tc

    (talco); ch (clorita); en (enstatita); qz (quartzo). .................................................. 65

    Figura 35. Espectro de difrao de raios-X nos testes do ensaio de micro-

    organismos termoflicos extremos em diferentes condies: bitico, nativo,

    abitico e original. Minerais: ph (flogopita); cpp (calcopirita); hn (hornblenda); jr

    (jarosita); tc (talco); ch (clorita); en (enstatita); qz (quartzo). .............................. 66

    Figura 36. Potencial Redox dos ensaios: bitico (), nativo () e abitico () e pH

    dos ensaios: bitico (), nativo () e abitico (), para a mistura dos consrcios

    dos micro-organismos Mesoflico, Termoflico Moderado e Termoflico extremo.

    ........................................................................................................................... 69

    Figura 37. Porcentagem de extrao de cobre em funo do tempo, em diferentes

    condies: bitico (), nativo () e abitico (), para a mistura de consrcios

    microbianos. ....................................................................................................... 70

  • xii

    Figura 38. Porcentagem de extrao de ferro em funo do tempo, em diferentes

    condies: bitico (), nativo () e abitico (), para a mistura de consrcios

    microbianos. ....................................................................................................... 71

    Figura 39. Espectro de difrao de raios-X dos testes do ensaio de mistura de

    consrcios, em diferentes condies: bitico, nativo, abitico e original.

    Minerais: ph (flogopita); cpp (calcopirita); hn (hornblenda); jr (jarosita); tc (talco);

    ch (clorita); en (enstatita); qz (quartzo)............................................................... 72

    Figura 40. Variao do Eh nos ensaios: bitico (), nativo () e pH dos ensaios:

    bitico () e nativo (), para a mistura dos consrcio de micro-organismos

    mesoflico, termoflico moderado e termoflico extremo no ensaio em coluna. .. 74

    Figura 41. Temperatura da coluna durante os ensaios bitico () e nativo () para a

    mistura dos consrcios microbianos, em escala semi-piloto. ............................. 75

    Figura 42. Porcentagem de extrao de cobre em funo do tempo, em diferentes

    condies: bitico (), nativo (), para a mistura de consrcios microbianos no

    ensaio em coluna. .............................................................................................. 76

    Figura 43. Variao da composio qumica da amostra original de minrio de cobre

    (cor preta), rejeito do ensaio bitico (cor vermelha) e rejeito do ensaio nativo

    (cor azul) nos ensaios em coluna. ...................................................................... 78

    Figura 44. Comparao da distribuio granulomtrica entre os dados experimentais

    (smbolos) e os dados obtidos no ajuste (linhas slidas) atravs da simulao do

    Moinho de Bond de Barras, na amostra original. ............................................... 82

    Figura 45. Comparao da distribuio granulomtrica entre os dados experimentais

    (smbolos) e os dados obtidos no ajuste (linhas slidas) atravs da simulao do

    Moinho de Bond de Barras, na amostra de rejeito do ensaio bitico. ................ 83

    Figura 46. Comparao da distribuio granulomtrica entre os dados experimentais

    (smbolos) e os dados obtidos no ajuste (linhas slidas) atravs da simulao do

    Moinho de Bond de Barras, na amostra de rejeito do ensaio nativo. ................. 83

    Figura 47. Porcentagem de reduo dos ndices de moab, IT e consumo de energia

    no britador nos ensaios bitico (vermelho) e abitico (azul). ............................. 84

    Figura 48. Curva da distribuio granulomtrica da amostra original e aps

    tratamento no ensaio em escala piloto. .............................................................. 87

  • xiii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Produo de concentrado de cobre no Brasil em 2010. ............................. 9

    Tabela 2. Produo, importao e exportao de cobre (metal contido) no mercado

    interno brasileiro de 2007 a 2010. ...................................................................... 10

    Tabela 3. Principais projetos de cobre no Brasil ....................................................... 11

    Tabela 4. Caractersticas de diferentes micro-organismos empregados na

    Biolixiviao. Q.O.: Quimiolitotrfico obrigatrio; Q.F.: Quimiolitotrfico

    facultativo; H: heterotrfico; Ar. aerbico; A.E.: aerbico estrito; A.n.:

    anaerbico. ........................................................................................................ 15

    Tabela 5. Origem dos dados cristalogrficos usados no refinamento ....................... 30

    Tabela 6. Micro-organismos utilizados nos ensaios de bio-lixiviao. ...................... 33

    Tabela 7. Testes de biolixiviao em escala de bancada. ........................................ 36

    Tabela 8. Parmetros dos ensaios de Biolixiviao em coluna automatizada .......... 40

    Tabela 9. Composio mineralgica das amostras nos testes dos ensaios

    Mesoflicos. ........................................................................................................ 67

    Tabela 10. Composio mineralgica das amostras nos testes dos ensaios

    Termoflicos Moderados. .................................................................................... 67

    Tabela 11. Composio mineralgica das amostras nos testes dos ensaios

    Termoflicos Extremos. ....................................................................................... 68

    Tabela 12. Composio mineralgica das amostras no ensaio de mistura de consrcios de micro-organismos. .....................................................................73

    Tabela 13. Distribuio granulomtrica da amostra original (antes do tratamento) em

    diferentes tempos de moagem no ensaio de moabilidade. ................................ 80

    Tabela 14. Distribuio granulomtrica da amostra do teste bitico (inoculado) em

    trs diferentes tempos de moagem no ensaio de moabilidade. ......................... 80

    Tabela 15. Distribuio granulomtrica amostra teste Nativo (micro-organismos

    endogenos) em trs diferentes tempos no ensaio de moabilidade. ................... 81

    Tabela 16. Comparao entre as medidas de moab e de IT das amostras

    estudadas. .......................................................................................................... 84

    Tabela 17. Composio qumica das amostras original e aps ensaio em coluna em

    escala piloto. ...................................................................................................... 86

    Tabela 18. Minerais identificados por Difrao de Raios X no ensaio em coluna em

    escala piloto. ...................................................................................................... 86

    Tabela 19. Resultados obtidos nos ensaios de flotao preliminar com tempo de

    moagem de 10 min. ........................................................................................... 88

  • xiv

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    a Parmetro da funo seleo

    AAS Espectrometria de adsoro atmica

    AbsFe Absorbncia do Fe2+

    AbsFe(T) Absorbncia do Ferro total+

    An Anaerbico

    Ar Aerbico

    B Funo quebra

    b Funo quebra no acumulada.

    bi,j Frao do material inicial de monotamanho j que passou ao novo Tamanho i.

    Bij Valor acumulado dos valores de b para o tamanho j.

    ccp Calcopirita

    ch Clorita

    cps contagem por segundo (DRX)

    D Dimetro do moinho.

    d80 Tamanho de abertura da peneira pela qual passa 80% do material.

    dE Incremento de energia

    DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral

    DRX Difrao de raios-X

    dt Incremento de tempo

    dwi Incremento de peso na frao i

    dx Incremento de reduo de tamanho de partcula

    EI Peso eletrodo inicial (electrogravimetria)

    EF Peso eletrodo final (electrogravimetria)

    E Energia de especifica de moagem

    E0 Potencial padro

    EH Potencial redox

    en Enstatita

    Ep Potencial observado

    EPS Sustncia polimrica extracelular

    EX Eletro-refino

    F Nmero de faraday

    FE Fator de eficincia

  • xv

    FE1 Fator de eficincia para moagem via seco

    FE2 Fator de eficincia devido ao tipo de moinho

    FE3 Fator de eficincia devido ao dimetro do moinho

    FE4 Fator de eficincia devido aos tamanhos grosseiros da alimentao

    FE5 Fator de eficincia devido moagem fina

    FE6 Fator de eficincia devido razo de reduo

    FE7 Fator de eficincia devido correo sobre o tamanho da alimentao

    FOB Preo livre a bordo (free on board)

    FRX Fluorescncia de raios-X

    GWP Gases do efeito estufa

    H Heterotrfico

    hn Hornblenda

    IT ndice de Trabalho

    ITD ndice de Trabalho pra um moinho de dimetro D

    J Frao do volume de enchimento do moinho com os corpos moedores

    jr Jarosita

    K Constante do modelo de Bond

    k Parmetro da funo quebra devido aos tamanhos grosseiros na alimentao

    K Radiao

    L Cumprimento do moinho em metros

    LME London Metal Exchange

    MCSA Minerao Caraba Sociedade Annima

    MKM Meio de cultura (Modified Kelly medium)

    moab Moabilidade do ensaio de Bond.

    mp Potencia do eixo no modelo de Bond em kW

    MS Metal sulfeto

    n Constante da energia de fragmentao

    n.d. Dado no informado

    n1 Parmetro do modelo de Austin para a funo quebra.

    n2 Parmetro do modelo de Austin para a funo quebra.

    ne Nmero de eltrons envolvidos na reao

    P.A. Pureza analtica

    PIB Produto Interno bruto

    ph Flogopita

  • xvi

    p1 Malha de trabalho do IT

    Q Vazo do material que processado no moinho em ton.h-1

    Q.F. Quimiolitotrfico facultativo

    Q.O. Quimiolitotrfico obrigatrio

    qz Quartzo

    R Constante dos gases

    Si Taxa especifica de fratura na frao i.

    SX Extrao por solventes

    T Temperatura

    tc Talco

    USD Dlares americanos

    W Massa de material que processado no moinho.

    wi Frao de material na classe i antes do evento de quebra.

    wi Peso na frao i

    wi(t) Frao de partculas na classe i depois de um tempo de moagem t.

    x Tamanho de partcula

    xA Tamanho de partcula da alimentao

    xA80 Tamanho de partcula do 80% do passante na alimentao

    xP Tamanho de partcula do produto

    xp80 Tamanho de partcula do 80% do passante do produto

  • xvii

    LISTA DE SMBOLOS

    Parmetro do modelo de raio de captura.

    Parmetro do modelo de Austin para a funo seleo

    Parmetro do modelo de Austin para a funo seleo

    Parmetro do modelo de Austin para a funo seleo

    Peso especfico do material.

    b Densidade dos corpos moedores (Barras).

    c Frao da velocidade crtica.

    Parmetro do modelo de Austin para a funo quebra.

  • 1

    1 INTRODUO

    1.1 ENUNCIAO DO TEMA E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

    A Minerao Caraba S.A. (MCSA) opera uma mina subterrnea de minrio de

    cobre, localizada na Fazenda Caraba, municpio de Jaguarar, noroeste do Estado da

    Bahia, Brasil. Segundo Rezende (2006), a mina da MCSA encontra-se numa sequncia

    de rochas bsicasultrabsicas composta de noritos, gabros noritos e piroxenitos

    encaixadas, basicamente, em gnaisse e granitos, correspondendo a uma faixa do

    terreno Pr-cambriano do Vale do Rio Cura, a Nordeste do Crton do So Francisco.

    Silva et al., (1988) sugerem que a mineralizao ocorre na forma de Sill, sobre rochas

    supra-cristais; tais corpos sofreram deformaes devido ao alto grau de metamorfismo

    regional com dobramentos fechados a isoclinais, provocando espessamento em zonas

    de fechamento, afinamento e rompimento nos flancos, definindo, assim, a distribuio

    atual observada, com corpos estirados, verticalizados e de aspecto tabular nas zonas

    de flanco e corpos de forma mais difusa nas zonas de charneiras e, principalmente,

    reas dmicas. Outra considerao de Oliveira (1989; 1990), tambm observado por

    Lacerda (1995), sugere que a mineralizao no corpo da Caraba ocorreu como

    mltiplas injees na forma de diques e veios de natureza clcio-alcalina.

    Atualmente, a mina subterrnea da MCSA atinge o painel 7, nvel -415, o que

    representa uma profundidade de -415 metros sob o nvel do mar (msnm). Isto ocorre

    devido s novas exploraes e ao alto valor do cobre no mercado. O mtodo de lavra

    subterrnea adotado o Vertical Retreat Mining (VRM) e baseia-se no emprego de

    grandes furos longitudinais de perfurao, de dimetro de 140 a 165 mm, e separados

    de 4 x 4 m na produo de minrio. A britagem primria realizada no subsolo e o

    minrio transportado por um shaft e armazenado diante da planta de Britagem

    Secundria e Terciria. O material proveniente da britagem primria passa, em

    seguida, para a planta de beneficiamento onde o minrio cominudo em dois moinhos

    de bolas. Cada moinho opera em circuito fechado com dois ciclones Krebs. O overflow

    dos ciclones alimenta o circuito de flotao (REZENDE, 2006). A MCSA conta com

    uma Clula Unitria de Flotao Dorr Oliver para produzir um concentrado grosseiro,

    com alto teor de sulfetos de cobre, com o objetivo principal de engrossar o concentrado

    global de flotao diminuindo a porcentagem de umidade da torta de flotao e

    melhorando a manipulao do concentrado final (ANDRADE et al., 2002). O circuito de

  • 2

    flotao da MCSA constitudo das seguintes etapas: desbaste, limpeza do desbaste,

    primeiro estgio da limpeza, limpeza do primeiro estgio da limpeza, segundo estgio

    da limpeza (SAMPAIO et al., 2002).

    Sabe-se que os minrios so constitudos de rochas resistentes e competentes,

    nas quais os gros de minerais encontram-se firmemente aderidos uns aos outros. A

    nica maneira, comercialmente, empregada para a liberao desses materiais na

    indstria a aplicao de grandes quantidades de energia mecnica em britadores e

    moinhos, resultando na produo de partculas finas, as quais apresentam maior

    probabilidade de se encontrarem disponveis para o devido beneficiamento e extrao

    (TAVARES, 2005).

    Um minrio considerado bom, no processo de flotao, proporciona recuperaes

    de 90 a 94% do metal de interesse na planta. Mais recentemente, segundo Rezende

    (2004), Barreto (2008) e Barreto et al., (2009), um minrio mais profundo (como o

    produzido na minerao Caraba) foi prospectado e tratado resultando, porm, em

    baixas recuperaes na planta, da ordem de 70 a 90%. Esse minrio de baixas

    recuperaes vem de uma rea perto de uma falha geolgica e apresenta

    considerveis variaes espaciais de recuperao de cobre em suas caractersticas de

    processamento devido, principalmente, baixa liberao das espcies minerais de

    interesse e falta de flotabilidade das partculas de sulfetos de cobre.

    Uma das rotas para aumentar a recuperao de cobre seria uma moagem mais

    fina de tal minrio; mas, na rea de processamento mineral, a cominuio a etapa

    onde se tem os maiores custos de processamento. Segundo Tromans (2008), em

    pases, como o Brasil, com uma importante participao da minerao no setor

    industrial, o gasto de energia uma parte importante do consumo energtico em nvel

    nacional. Outro ponto a ser considerado que medida que a profundidade do

    depsito aumenta, os teores tendem a diminuir e as operaes de explotao mineral

    se encarecem.

    O processo de biolixiviao uma rota alternativa para o processamento de

    minrios de baixo teor e baseia-se na atividade de Micro-organismos Mesoflicos,

    Termoflicos Moderados e Termoflicos Extremos, que suprem suas necessidades

    energticas na oxidao de ons ferrosos e compostos reduzidos de enxofre, para a

    manuteno de seus metabolismos, tendo como resultado prtico a solubilizao de

    metais de interesse comercial. Apesar de no ter trabalhos neste sentido, espera-se

  • 3

    que ditos consrcios microbianos auxiliem na fragilizao da rocha visto que a

    presena dos micro-organismos supramencionados, em soluo ou aderida ao mineral,

    catalisa a oxidao de sulfetos minerais pela modificao dos mecanismos

    eletroqumicos de oxidao, gerando micro-fraturas e potencializando as j existentes.

    Portanto, este trabalho visou o desenvolvimento de uma nova tcnica que

    ajudaria na otimizao do consumo de energia na etapa de moagem e diminuiria o

    tempo de residncia do minrio dentro do moinho, aumentando a capacidade de

    processamento da planta.

    1.2 OBJETIVOS

    O objetivo principal deste estudo foi acenar para uma rota processual capaz de

    aumentar a recuperao de cobre de um minrio primrio que responde mal aos

    processos de concentrao e extrao, avaliando a eficcia do uso de micro-

    organismos mesoflicos, termoflicos moderados e extremos na oxidao dos minerais

    e a subsequente fragilizao do minrio que os contem, mais especificamente:

    (i) Caracterizar, qumica e mineralogicamente, a amostra representativa do

    minrio de cobre, com identificao das fases carreadoras do metal, dos principais

    minerais da ganga e de outros eventuais minerais de interesse econmico ou com

    implicaes ambientais.

    (ii) Avaliar a capacidade de lixiviao dos minerais de interesse no minrio

    primrio de cobre empregando consrcios de micro-organismos mesoflicos e

    termoflicos moderados e extremos, bem como sua mistura visando determinar as

    melhores condies a serem aplicadas em escala semi-piloto para aumentar as

    recuperaes de cobre e potencializar a fragilizao da rocha.

    (iii) Efetuar ensaios de biolixiviao em escala semi-piloto com base no processo

    GEOCOAT.

    (iv) Desenvolver um mtodo matemtico alternativo, capaz de simular, com uma

    menor massa de amostra, a moagem em moinho de barras padro de Bond para

    prever o ndice de Trabalho.

  • 4

    (v) Caracterizar os rejeitos aps o processo de biolixiviao, alm de quantificar a

    diferena do consumo energtico, entre as amostras, na etapa de cominuio,

    empregando o mtodo de Bond.

  • 5

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 O COBRE

    Acredita-se que a descoberta do cobre tenha ocorrido a mais de 10.000 anos

    A.C., sendo utilizado como substituto da pedra na fabricao de ferramentas de

    trabalho. Com os romanos se iniciou uma era de uso mais intensivo do Cobre. A maior

    parte do Cobre romano veio da ilha de Chipre, que eles chamaram Cyprium e da qual

    derivou a palavra Cuprum dando origem a Cu como smbolo qumico do Cobre. O

    Cobre alcanou sua real dimenso de metal imprescindvel para o desenvolvimento

    industrial do mundo em 1831, quando Faraday descobriu o gerador eltrico, e desde

    ento a demanda por ele cresceu de forma notvel. Durante grande parte do sculo

    XIX, a Gr-Bretanha foi o maior produtor de Cobre do mundo, mas a importncia que o

    metal vermelho foi adquirindo, dia aps dia, motivou a abertura de novas minas em

    outros pases, como Estados Unidos, Chile e posteriormente na frica, se superando

    em 1911 em um milho de toneladas de Cobre fino (PROCOBRE, 2011).

    Na Tabela Peridica o cobre possui nmero atmico 29 e massa atmica 63,54

    g mol-1. Seu ponto de fuso 1.083 C e seu ponto de ebulio 2.567 C sendo

    definido como um metal no ferroso. Entre as propriedades que o destaca esto a alta

    condutividade eltrica, o alto grau de condutividade trmica, a grande resistncia

    corroso, a alta capacidade de ligao metlica e a boa capacidade de deformao a

    quente e a frio (CODELCO, 2011).

    2.1.1 Principais Tipos de Minerais de Cobre

    Os principais tipos de ocorrncia de cobre so minrios oxidados, minrios

    constitudos por sulfetos minerais e ocorrncias mistas com presena de sulfetos,

    xidos, hidrxidos e carbonatos. Cerca de 175 espcies minerais de cobre so

    conhecidas, mas apenas algumas so comercialmente mineradas (JOST e BORD,

    1988). No caso dos sulfetos, os mais explorados so a Calcopirita (CuFeS2), Calcosina

    (Cu2S), Covelina (CuS), Bornita (Cu5FeS4), Enargita (CuAsS4), Tetraedrita

    ((Cu,Fe)12Sb4S13), Tenantina ((Cu,Fe)12 As4S13) e Cuprita (Cu2O). Entretanto, para os

    minerais oxidados se destacam a Malaquita (Cu2(CO3)(OH)2), Cuprita (Cu2O), Azurita

  • 6

    (Cu2(CO3)2(OH)2), entre outros. Cada um desses dois tipos de minrios possui suas

    rotas processuais, como ser relatado mais a frente.

    Os tipos de depsitos econmicos de cobre, segundo Jost e Brod (1988), so os

    de segregao magmtica, escarnitos, vulcanognicos, cobre porfrico, os filoneanos e

    das sries sedimentares. No Brasil os principais depsitos de cobre compreendem, at

    o presente, os depsitos associados com as sries sedimentares detrticas,

    vulcanognicos e depsitos em intruses bsicas e/ou ultrabsicas.

    2.1.2 Cadeia Produtiva

    O beneficiamento dos minrios de cobre comea na extrao do mesmo da

    jazida, logo passa por operaes unitrias, tais como, cominuio e classificao para

    atingir as condies necessrias para as etapas hidrometalrgicas. Ao contrrio do

    minrio intemperizado, o minrio contendo sulfetos minerais passa, geralmente, por

    uma etapa a mais, a flotao.

    A rota metalrgica utilizada na obteno de cobre, a partir de um minrio

    intemperizado, a lixiviao em meio cido, seguido por extrao do cobre das lixvias

    por solventes especficos (SX). A soluo resultante de tal processo, enriquecida com

    os ons de cobre, passa a ser recuperada por eletrlise (EX), obtendo, assim, um cobre

    metlico com alta pureza (ANDRADE et al., 2001).

    Com respeito ao concentrado de flotao, constitudo por sulfetos minerais, este

    processado com o auxlio de altas temperaturas. O material submetido ao forno flash,

    de onde sai o mate com teor de 45% a 60%, e este ao forno conversor do qual se

    obtm o blister com 98,5% de cobre. Dependendo da pureza desejvel para o cobre, e

    tendo em vista a sua utilizao final, o blister pode ser submetido apenas ao refino ao

    fogo, onde se obtm cobre com 99,7% para ser, posteriormente, refinado,

    eletroliticamente, atingindo um grau de pureza de 99,99%. Esse cobre eletroltico

    submetido ao processo de refuso para obteno do cobre no formato de tarugos ou

    placas. A partir da trefilao desses tarugos, produzem-se os semi-elaborados de

    cobre na forma de barras, perfis e tubos e atravs da laminao das placas, so

    produzidos semi-elaborados no formato de tiras, chapas e arames. Se, entretanto, ao

    invs da simples refuso, o catodo for fundido e laminado em processo contnuo,

    obtm-se o vergalho, a partir do qual sero fabricados os fios e cabos (ANDRADE

  • 7

    et.al., 2001). A Figura 1 resume, esquematicamente, as operaes e processos

    unitrios empregados na obteno de cobre puro.

    Figura 1. Cadeia produtiva do cobre.

    Fonte: ANDRADE et al., 2001.

    2.1.3 Oferta e Demanda

    Segundo Ribeiro (2011), atualmente as maiores reservas (Oferta) encontram-se

    no Chile, China, Estados Unidos e Peru; tais reservas de cobre lavrveis em 2010,

    contm 630 milhes de toneladas desse metal. A Figura 2 mostra, em porcentagem,

    como essas reservas esto distribudas em nvel mundial. No caso da produo de

    cobre, o Chile o maior produtor com mais de 34% das 16,1 milhes de toneladas. Na

    mesma Figura 2, pode ser observada a produo mundial do mesmo mineral,

    fomentada pelo aumento da demanda gerada pelos pases emergentes, principalmente

    China e ndia, devido ao aumento da expanso urbana e industrial.

  • 8

    Bra

    sil

    Chi

    lePe

    ruUSA

    Chi

    na

    Aust

    rlia

    Out

    ros

    Pais

    es --

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    37,737,4

    5,4

    12,7

    7,4

    5,6

    8,0

    14,3

    33,8

    23,8

    Po

    rce

    nta

    ge

    m (

    %)

    Reservas Cu 2009

    Prod. Cu 2010

    1,51,3

    4,7

    6,2

    Figura 2. Reservas em 2009 (barras em preto) e produo mundial de cobre no ano de 2010 (barras em vermelho).

    Fonte: RIBEIRO, 2011.

    A Figura 3 mostra as expectativas desse crescimento, nos prximos anos, dos

    pases supracitados.

    Figura 3. Incremento no Consumo de Cobre.

    Fonte: DAVIS, 2009.

  • 9

    Segundo o London Metal Exchange (LME), a demanda deste metal se concentra,

    na sua maior parte, nos setores eltricos e de construo como mostrado na Figura

    4. (LME, 2011).

    Figura 4. Consumo industrial de cobre por setores.

    Fonte: LME,2012.

    No Brasil, as reservas em 2009 (ano base) somaram 9,8 milhes de toneladas de

    cobre contido. O Par representa o maior detentor das reservas medidas de cobre, no

    pas. Entretanto, a produo brasileira de concentrado de cobre alcanou, em 2010, um

    total de 213.600 t. (745.830 t de concentrado, com teor mdio de 28,6%), repartidos

    nas empresas como mostra a Tabela 1, a seguir.

    Tabela 1. Produo de concentrado de cobre no Brasil em 2010.

    Empresas Participao (%)

    Vale 54,7

    Minerao Caraba 10,9

    Minerao Marac 31,7

    Votorantim Metais Nquel 1,8

    Prometlica Minerao 0,9

    Fonte: RIBEIRO, 2011.

  • 10

    Na Tabela 2 so mostradas as estatsticas do concentrado de cobre, de 2007 a

    2010, no Brasil. Observa-se que a tendncia da balana comercial do minrio de cobre

    para os prximos anos positiva devido evoluo da produo interna, ao aumento

    das exportaes e estabilidade nas importaes.

    Tabela 2. Produo, importao e exportao de cobre (metal contido) no mercado interno brasileiro de 2007 a 2010.

    Unidades 2007 2008 2009 2010(*)

    Produo (t) 205.728 218.295 211.692 213.548

    Importao

    (t) 154.541 142.732 126.767 140.343

    103 USD-FOB 1.077.660 829.801 675.685 951.629

    Exportao

    (t) 177.705 151.580 142.170 152.440

    103 USD-FOB 1.032.312 1.196.341 803.013 1.237.741

    Consumo Aparente

    (1)

    (t) 182.564 209.447 196.289 201.451

    Preos(2)

    USD/t 3.180,0 2.192,0 3.222,0 2.198,0

    Obs: (1) Produo + Importao - Exportao; (2) Vale; Minerao Marac; Minerao Caraba; (*) preliminar.

    Fonte: RIBEIRO, 2008; RIBEIRO, 2011 e RODRIGUES, 2009.

    Farias (2009) projetou o consumo aparente de concentrado de cobre para o

    horizonte 2010-2030 a partir do consumo aparente de cobre metlico tambm

    projetado para o mesmo perodo, assumindo Cenrio Frgil (PIB crescendo a uma taxa

    correspondente a 75% do crescimento mdio) e Vigoroso (PIB crescendo a uma taxa

    correspondente a 100% da taxa de crescimento). Estes dados so mostrados na

    Figura 5.

    Finalmente, na Tabela 3 so mostrados os horizontes produtivos para o cobre,

    baseado nos principais projetos que, possivelmente, sero executados nos prximos

    anos.

  • 11

    2010 2015 2020 2025 2030

    2x105

    3x105

    4x105

    5x105

    6x105

    7x105

    Co

    bre

    co

    nti

    do

    em

    to

    ne

    lad

    as

    Ano

    Produo Interna projetada

    Consumo cenrio frgil

    Consumo cenrio vigoroso

    Figura 5. Produo-consumo aparente de concentrado de cobre projetada de 2008 at 2030 num cenrio frgil (linha preta) e num cenrio vigoroso (linha azul).

    Fonte: FARIAS, 2009.

    Tabela 3. Principais projetos de cobre no Brasil

    Projetos Empresa

    Prod. Cu-Contido Investimento Incio

    (1000 t) (USD milhes) (ano)

    Alvo 118 VALE 38 140 2015

    Cristalino VALE 30 500 2015

    Alemo VALE 80 550 2015

    Salobo II VALE 127 855 2013

    Gameleira VALE Nd Nd Nd

    Furnas VALE Nd Nd Nd

    Boa Esperana Caraba 30 150 2014

    Vale Verde Aura Gold 40 450 2012/2013

    Fonte: RODRIGUES, 2009.

  • 12

    2.1.4 Preos, Custos e Margens

    O preo do cobre, durante 2008, despencou drasticamente devido crise do setor

    imobilirio nos Estados Unidos. Este fenmeno desencadeou uma crise mundial capaz

    de paralisar o crescimento industrial e urbano em todo o mundo. Outro problema

    provocado pela crise foi a falta de crditos e juros elevados que impossibilitaram aos

    investidores a criao e a posta em prtica de novos projetos, no somente na rea do

    cobre, mas tambm em todo o setor mineral.

    No mercado brasileiro o preo da commodity de cobre adotado pelo LME e

    dado em dlares por tonelada (USD/t). O valor cotado no dia 13 de maro do corrente

    no site do LME foi de 8.390,50 USD/t. A Figura 6 mostra a variao do preo de cobre

    desde 2002 at o presente.

    Figura 6. Variao do preo do cobre no mercado internacional nos ltimos dez anos.

    Fonte: LME, 2012.

    Na cadeia de valor da indstria de cobre, a maior margem de ganho na mina, e

    nas outras etapas a margem de ganho muito menor. A composio do custo de

    produo do cobre envolve duas etapas: custo da minerao, que vai at a produo

    do cobre contido em concentrado, e da metalurgia extrativa do cobre. O custo de

    produo est associado, principalmente, ao consumo de energia, mas, desde alguns

    anos atrs, a poltica ambiental e responsabilidade social vm aumentando os custos

    dos projetos de extrao de cobre.

  • 13

    2.2 O TRATAMENTO BIO-OXIDATIVO

    Nesta parte sero descritas as principais famlias de micro-organismos atuantes

    neste processo, sua importncia em trabalhar em conjunto, assim como as

    caractersticas do processo e os mecanismos de oxidao dos minerais, potencializado

    pela atividade microbiana. Cabe mencionar que os consrcios microbianos utilizados

    neste trabalho esto presentes em guas cidas de minas e no representam nenhum

    risco ao ser humano (no patognicos).

    2.2.1 Micro-organismos Envolvidos

    2.2.1.1 Micro-organismos mesoflicos

    Esses micro-organismos operam temperatura ambiente e so responsveis pela

    oxidao de ons ferrosos e compostos reduzidos de enxofre para obteno de energia.

    A seguir so mencionadas as caractersticas das principais espcies deste grupo.

    Os micro-organismos da espcie Acidithiobacillus ferrooxidans so unicelulares,

    quimiossintetizantes, autotrficos, gram-negativos e com formato de basto;

    apresentam flagelos, e possuem tamanho de clula de 0,3 a 0,5 m de dimetro e de

    1,0 a 1,7 m de comprimento (BREWIS, 1996 e ESTEBAN e DOMIC, 2001). A espcie

    A. ferrooxidans cresce no intervalo de pH entre 1,0 e 6,0, sendo a faixa tima de pH,

    para alcanar a mxima velocidade de crescimento, 1,8. De modo anlogo, sobrevive

    em um intervalo de temperatura de 2 a 40 C, sendo o intervalo de 28 a 35 C o mais

    favorvel (BREWIS, 1996 e LIMA, 2006).

    O Acidithiobacillus thiooxidans oxida enxofre e compostos reduzidos de enxofre e

    utilizado na lixiviao de minerais que no contm ferro (SUZUKI, 2001). A

    temperatura tima de crescimento se encontra entre 25 e 30C e o pH timo para o

    crescimento mximo 2,0. Sua energia pode ser derivada atravs da oxidao de um

    ou mais compostos reduzidos de enxofre, incluindo sulfetos, enxofre, tiosulfatos,

    politionatos e tiocianatos, sendo o sulfato obtido como produto dessa oxidao (HOLT

    e KRIEG, 1994).

    A espcie Leptospirilum ferrooxidans oxida apenas ons ferrosos, mas pode

    crescer em temperaturas superiores s possveis para o A. ferrooxidans e A.

    thiooxidans. Este tambm um micro-organismo acidfilo, com pH timo em torno de

  • 14

    1,3. O L. ferrooxidans apresenta caractersticas que fazem com que possa ser utilizado

    em lixiviao de minerais sob alta temperatura, baixo pH e alta relao Fe3+/Fe2+

    (NORRIS, 1990), uma vez que a bioqumica de oxidao dos ons Fe (II) pelo L.

    ferrooxidans diferente da do A. ferrooxidans (ROHWERDER et al., 2003; RAWLINGS,

    2005), o que permite ao L. ferrooxidans oxidar ons Fe (II) em altos potenciais redox

    (RAWLINGS et al., 1999).

    2.2.1.2 Micro-organismos termoflicos

    Os micro-organismos termoflicos, capazes de crescerem em altas temperaturas,

    tm aplicao biotecnolgica, pois so as nicas fontes de enzimas com propriedades

    no usuais, utilizadas em fermentao a altas temperaturas, em processos de

    tratamento de rejeitos e em lixiviao mineral (BROCK, 1986; KELLY e BROWN, 1993;

    KELLY et al., 1994).

    Entre as espcies termoflicas, existem grupos fisiologicamente distintos. Alguns

    termoflicos geram energia reduzindo enxofre e hidrognio para formar sulfeto de

    hidrognio (POOL, 1990).

    Tais micro-organismos so classificados como termoflicos moderados,

    termoflicos extremos, e hipertermoflicos (HAN, 1998). As espcies hipertermoflicas

    so capazes de viver a 90C, com temperatura tima de crescimento de 80C ou

    acima. Os termoflicos extremos vivem entre 70C e 90C e os micro-organismos

    termoflicos moderados vivem na faixa de 50C a 70C (KELLY et al., 1994).

    Os gneros Sulfolobus, Acidianus e Metallosphaera possuem a habilidade de

    oxidar enxofre elementar (STETTER, 1989). Membros do Sulfolobus so capazes de

    utilizar acares, aminocidos, e complexos orgnicos como fonte de energia e

    carbono (BROCK, et al., 1972; ZILLIG, et al., 1980). Acidianus possui um metabolismo

    aerbico facultativo com enxofre elementar como doador ou aceptor de eltrons

    (SEREGER et al., 1986; ZILLIG et al., 1986).

    Na Tabela 4 se resumem as caractersticas dos micro-organismos presentes no

    processo de biolixiviao.

  • 15

    Tabela 4. Caractersticas de diferentes micro-organismos empregados na Biolixiviao. Q.O.: Quimiolitotrfico obrigatrio; Q.F.: Quimiolitotrfico facultativo; H: heterotrfico; Ar. aerbico; A.E.: aerbico estrito; A.n.: anaerbico.

    Micro-organismo Caracterstica Necessidade de Carbono

    Necessidade de Oxignio

    pH (timo)

    T(C) (timo)

    Acidithiobacillus ferrooxidans

    Oxida: Fe2+

    , So,

    Cu+, Se

    2+,

    tiosulfato, tetrationato, S

    Q.O. Ar. 1,2 - 6,0

    (1,7)

    5 - 40

    (28 - 35)

    Leptospirilum ferrooxidans

    Oxida : Fe2+

    , pirita

    Q.F. Ar. 1,5 - 4,5 20 40

    (30)

    Sulfolobus thermosulfooxidans

    Oxida: Fe2+

    , So,

    S2-

    Q.O. Ar.

    1,9 - 3,0 (1,9 2,4)

    20 60 (50)

    Sulfolobus acidocaldarius

    Oxida: Fe2+

    , So Q.F.

    2,0 7,0 (2,0 3,0)

    55- 85

    (70 - 75)

    Acidianus brierleyi A.n.

    A .H. (1,5 2,0) (70)

    Metallosphaera sedula

    Ar. (1,7) (75)

    Sulfolobulus metallicus

    Ar. (65)

    Acidianus infernus Ar. (2,0) (90)

    Pseudonomas sp. Acumula U, Cu, Pb intracelular

    H. A.E. 7 - 8,5 4 43

    (30)

    Desulfovibrio desulfuricans

    Remove U e Cu por dissoluo

    H. A.n. (4,0 7,0) 0 44

    (25 - 30)

    Fonte: MUOZ et al., 1995; LIMA, 2006; HAN, 1998.

    2.2.2 Emprego de Consrcios Microbianos

    A completa oxidao de certos minerais, tais como os sulfetos, envolve a bio-

    oxidao de ferro e enxofre. Micro-organismos oxidantes de ferro produzem ons

    frricos. Os ons frricos oxidam certos sulfetos minerais, como a pirita, produzindo

    tiossulfato, que oxidado a cido sulfrico biologicamente ou quimicamente. Foi

    demonstrado que populaes mistas de bactrias que oxidam ferro e enxofre (A.

    ferrooxidans, L. ferrooxidans e A. thiooxidans), esto presentes em sistemas de

  • 16

    lixiviao natural, temperatura ambiente, e so as principais responsveis pela

    solubilizao de sulfetos minerais (NORRIS, 1990).

    Os micro-organismos que oxidam enxofre, como o A. thiooxidans e A. caldus, so

    componentes importantes, pois reduzem o seu acmulo e melhoram a eficincia da

    dissoluo de espcies minerais (DOPSON e LINDSTROM, 1999).

    Consequentemente, a calcopirita, arsenopirita (FeAsS), ou esfalerita (ZnS) geram

    enxofre elementar quando lixiviados (SCHIPPERS e SAND, 1997). Portanto, para

    melhorar a eficincia do processo bio-oxidativo se faz necessrio a atuao de

    diferentes espcies de micro-organismos (consrcio microbiano).

    2.2.3 Caractersticas do Processo de Biolixiviao

    As caractersticas que fazem com que a atuao de um micro-organismo seja

    eficaz na lixiviao/oxidao de um mineral so: a possibilidade de atuao numa faixa

    expandida de temperatura (de 30 a 70C), faixa cida de pH (1,5 a 2,2) e alta relao

    dos ons Fe3+/Fe2+ (SUZUKI, 2001).

    Segundo Watling (2006) e Lima (2006), entre os fatores importantes a serem

    considerados para o sucesso do processo de bio-oxidao esto a granulometria fina,

    tipos de micro-organismos presentes no inoculo, a adio de nutrientes, a

    concentrao de ons ferrosos, o potencial redox das espcies de ferro e a quantidade

    de oxignio. A taxa de lixiviao aumenta com a diminuio da granulometria da fase

    slida devido ao aumento da rea superficial para a reao qumica entre o agente

    lixiviante e a fase slida em questo. J a adio de nutrientes em excesso, na soluo

    lixiviante, pode causar diminuio da taxa de lixiviao devido formao de espcies

    indesejveis. Finalmente, para a oxidao e lixiviao de minerais essencial a

    presena de ons frricos; porm, o potencial redox sempre deve ser monitorado.

    2.2.4 Mecanismos de Oxidao dos Minerais

    Os silicatos, tais como, feldspatos, piroxnios e micas, assim como os sulfetos,

    xidos e hidrxidos podem ser oxidados devido s condies de intemperismo.

    Segundo Dopson et al., (2009), tal processo pode depender das condies dos micro-

    organismos (bactrias, fungos) presentes. Entre as hipteses da alterao/oxidao de

    minerais est a formao de cidos metablicos, bem como o ataque de prtons e a

  • 17

    gerao de ons Fe3+, como ser descrito a seguir e exemplificado para o caso dos

    sulfetos minerais.

    Segundo Crundwell (2001), h trs mecanismos envolvidos no ataque dos micro-

    organismos aos minerais, em particular, dos sulfetos: o ataque direto, o indireto e o de

    contato indireto. No mecanismo direto, a bactria atua diretamente sobre o sulfeto

    mineral. No mecanismo indireto, a bactria converte, simplesmente, Fe2+ a Fe3+, e

    esses ons Fe3+ atuam diretamente na oxidao do sulfeto mineral (SMITH e MISRA,

    1991).

    2.2.4.1 Mecanismo direto

    O mecanismo direto ocorre de forma que os sulfetos presentes no sulfeto mineral

    (MS) so oxidados com gerao de ons sulfato, pelos micro-organismos (Figura 7).

    Portanto, o mecanismo direto caracteriza-se pela adeso obrigatria da bactria

    superfcie do sulfeto durante a dissoluo oxidativa do mineral. Segundo este

    mecanismo, a solubilizao do metal promovida pelo ataque de um sistema

    enzimtico presente na bactria, diretamente sobre a superfcie do mineral,

    promovendo a oxidao do S2- e a consequente solubilizao do metal de interesse.

    Figura 7. Mecanismo direto de interao micro-organismo-substrato mineral.

    Fonte: CRUNDWELL, 2001.

    2.2.4.2 Mecanismo indireto

    Neste mecanismo, no h a adeso da bactria na superfcie do mineral. Este

    mecanismo abrange o ciclo Fe2+ - Fe3+, quando duas etapas esto envolvidas: (a)

    interao qumica do Fe3+ com a superfcie mineral, e (b) regenerao do Fe2+ pela

    bactria.

    MS Bactria M2+ + SO42-

  • 18

    Desta forma, os ons frricos produzidos, pela oxidao dos ons ferrosos, pelos micro-

    organismos, reagem quimicamente com os sulfetos minerais, e produzem Fe (II),

    fechando o ciclo (Figura 8). O on frrico um agente oxidante potente e como tal

    usado na hidrometalurgia para dissoluo de vrios minerais. No entanto, durante as

    reaes, o on frrico reduzido a on ferroso, uma espcie qumica no oxidante. Para

    formar o ferro trivalente, ele tem que ser re-oxidado ao estado de oxidao mais

    elevado (TAKAMATSU, 1995).

    Figura 8. Mecanismo indireto de interao bactria-substrato mineral.

    Fonte: CRUNDWELL, 2001.

    No entanto, no mecanismo indireto existe outra hiptese que pode ser chamada

    de mecanismo indireto de contato (SILVERMAN, 1967), Figura 9. A principal

    caracterstica deste modelo que ons frricos ou prtons so os nicos agentes

    lixiviantes dos sulfetos minerais. O ferro contido na substncia polimrica extracelular

    (EPS), que excretada pela bactria, confere carga positiva clula, se aderindo

    superfcie do mineral devido atrao eletrosttica entre a clula bacteriana e a

    superfcie negativamente carregada de alguns minerais (SAND, et al., 1995;

    RODRIGUES et al., 2003).

    Figura 9. Mecanismo indireto de contato na interao micro-organismo-substrato mineral.

    Fonte: CRUNDWELL, 2001.

    MS Fe2+

    Fe3+

    EPS

    Bactria

    MS Fe2+

    bactria Fe

    3+ Fe

    2+ + M

    2+ + SO4

    2-

  • 19

    2.2.4.3 Processo GEOCOATTM

    A Figura 10, a seguir, ilustra a aplicao do mtodo GEOCOATTM no

    beneficiamento de cobre a partir de um concentrado de flotao de sulfetos.

    O processo GEOCOATTM, uma tecnologia patenteada pela empresa norte-

    americana GeoBiotics, LLC, que consiste no recobrimento de um substrato apropriado,

    normalmente uma rocha, com concentrado de flotao. Aps o recobrimento, o

    conjunto mineral disponibilizado em grandes pilhas convencionais. A pilha irrigada

    no topo com soluo cida contendo ferro e nutrientes, enquanto ar suprido na base

    da mesma. O tamanho relativamente uniforme (5-25 mm) da rocha suporte resulta num

    grande espao intersticial dentro da pilha que fornece baixa resistncia ao ar e

    soluo percoladora; portanto, os grandes espaos combinado com a fina camada de

    concentrado criam condies ideais para a biolixiviao (GEOCOATTM, 2011).

    Figura 10. Fluxograma simplificado do beneficiamento para concentrados de cobre empregando o processo GEOCOAT

    TM.

    Fonte: GEOCOATTM

    , 2011.

  • 20

    Este processo emprega micro-organismos oxidantes de ferro e enxofre, para

    facilitar a lixiviao dos metais de interesse tais como, Zinco, Cobre, Chumbo, entre

    outros. As partculas de sulfeto e os micro-organismos so constantemente expostos

    soluo lixiviante e ao fluxo de ar em contracorrente. Isto resulta na transferncia de

    oxignio de forma mais eficiente aumentando a taxa de oxidao. O processo de

    lixiviao/oxidao de minerais normalmente completado entre 45 e 120 dias,

    dependendo da mineralogia do minrio.

    Aps a etapa de biolixiviao, a lixvia encaminhada a uma piscina para

    posteriores processos de purificao e extrao dos metais de interesse. A fase slida

    remanescente do concentrado de flotao separada da rocha suporte por

    peneiramento a mido e essa rocha suporte reutilizada. No caso do ouro, o

    concentrado bio-oxidado tratado por processos tradicionais para recuperao de ouro

    (GEOCOATTM, 2011).

    2.3 FUNDAMENTOS DE QUEBRA DE PARTCULAS E CONSUMO DE ENERGIA

    Apesar de existirem alguns mtodos capazes de calcular a energia gasta

    necessria para quebrar as partculas dentro de moinhos, nesta parte do captulo

    somente ser abordado o mtodo de Bond. A escolha deste mtodo foi devido a que

    muitos profissionais da rea exigem o parmetro de ndice de Trabalho (IT) como

    medida de comparao de dureza entre diferentes minrios.

    2.3.1 Quebra de Partculas

    O tamanho, a forma e os intercrescimentos dos gros so as caractersticas

    morfolgicas e texturais mais importantes para a fragmentao dos minrios. Segundo

    Tavares (2005), com relao s propriedades mecnicas, se destacam: a coeso

    interna dos gros, de gros entre si e, portanto, das interfaces e a sua tenacidade,

    assim como a proporo dos minerais presentes.

    Entretanto, a fragmentao das partculas depende, principalmente, das

    propriedades do material e da forma de aplicar as tenses compressivas sobre as

    mesmas. O resultado da fragmentao fortemente influenciado por parmetros como

    a velocidade de carregamento ou o tipo de tenso aplicada. Assim, para produzir uma

    diminuio do tamanho de partcula de um material necessrio aplicar esforos para

  • 21

    produzir fraturas. Os esforos podem ser classificados como normais e tangenciais.

    Esforos normais podem ser de compresso ou de trao, enquanto os tangenciais

    correspondem aos de cisalhamento.

    Segundo King (2001), uma vez aplicados os esforos, dependendo da quantidade

    de energia e da distribuio final de tamanhos de partcula, se geram trs tipos de

    mecanismos de fratura: abraso, clivagem e estilhaamento. O mecanismo de abraso

    ocorre quando a energia aplicada na partcula no suficiente para causar fratura

    significativa no material, gerando uma distribuio de partculas quase igual e

    partculas muito finas devido ao lascamento. No mecanismo de clivagem, a energia

    aplicada apenas suficiente para formar poucas regies fraturadas, gerando partculas

    finas com tamanhos semelhantes. Finalmente, quando a energia aplicada na partcula

    muito maior que a energia necessria para produzir a fratura, o resultado uma

    quantidade grande de partculas com uma ampla faixa de tamanhos caracterizando o

    mecanismo de estilhaamento.

    Para Tavares (2005), o modo de fraturamento dominante depende da facilidade

    com que as fases minerais so liberadas. De modo que trs tipos principais de fraturas

    podem ocorrer, a fratura intergranular, fratura preferencial ou diferencial e a fratura

    aleatria ou normalmente transgranular. A ocorrncia de um ou outro modo de fratura

    depende das caractersticas do material, assim como do processo de cominuio.

    2.3.2 Teorias da Cominuio

    As teorias da cominuio relacionam a quantidade de energia fornecida e o

    tamanho das partculas do produto. Portanto, segundo Wills (1997), a energia e

    fragmentao podem ser relacionadas como mostra a Equao 1:

    Sendo dE a energia incremental necessria para produzir uma reduo de

    tamanho dx , K, uma constante e x o tamanho da partcula.

    A partir da Equao 1 se pode obter vrias solues que so as chamadas Leis

    da cominuio. A primeira lei foi postulada por Rittinger em 1867. Ele prope que a

    energia consumida na cominuio proporcional nova superfcie gerada, sendo a

  • 22

    rea especfica dos materiais inversamente proporcional ao dimetro das partculas.

    Neste caso o valor da constante n da Equao 1 igual a 2 de modo que pode ser

    escrita da seguinte forma (Equao 2):

    Onde K uma constante, E a energia especfica de moagem, e xP, e xA, so o

    tamanho de partcula do produto e da alimentao, respectivamente, representado,

    geralmente, por um ponto na distribuio granulomtrica chamado d80. A primeira lei

    no teve muita aplicao na prtica da moagem convencional, mas a equao se

    ajusta cominuio de partculas finas, principalmente, na moagem fina e ultrafina.

    A segunda lei de cominuio, postulada por Kick em 1885, prope que a energia

    consumida na cominuio depende, apenas, da razo de reduo, sendo independente

    da granulometria original das partculas e, para este caso, o valor da constante n seria

    1, dando como resultado a Equao 3.

    A terceira lei foi postulada por Fred Bond em 1952. Nesta lei se considerou que o

    trabalho envolvido na cominuio era inversamente proporcional raiz quadrada da

    abertura pela qual passa 80% do produto (BOND, 1952), Equao 4. Neste caso o n

    igual a 1,5.

    2.3.3 Mtodo de Bond para o Escalonamento de Moinho de Barras

    Na Equao 4, Bond define o parmetro K na funo ndice de Trabalho (IT), que

    representa o trabalho total, expresso em unidades de kWh ton-1 curta, necessrio para

    reduzir uma tonelada curta de material desde um tamanho teoricamente infinito at que

  • 23

    80% do material esteja menor que 100 m, de maneira que a Equao 4 pode ser

    reescrita como:

    O parmetro IT depende da resistncia do material e do tipo de equipamento de

    cominuio usado. Assim, necessrio determinar, experimentalmente, o parmetro

    para cada aplicao por meio de um teste padronizado (AUSTIN e CONCHA, 1993).

    2.3.3.1 Clculo do parmetro do ndice de Trabalho (IT)

    O parmetro IT calculado a partir de um ensaio normalizado de moabilidade

    (moab) e cujo objetivo determinar quantos gramas, aproximadamente, o moinho

    capaz de produzir abaixo de uma determinada malha de trabalho. O IT, no caso da

    moagem via mido em um moinho de barras de 2,44 m de dimetro, operando em

    circuito aberto, pode ser calculado usando a Equao 6 (AUSTIN e CONCHA, 1993).

    Onde o IT o ndice de Trabalho do ensaio, em kWh ton-1 mtricas, p1, a malha

    de trabalho em m, moab, a moabilidade, e xP e xA, os tamanhos de 80% do produto e

    da alimentao fresca em m, respectivamente.

    2.3.3.2 Ampliao de escala de um moinho de barras

    O escalonamento do IT para moinhos de barras maiores do que 2,44 m se

    espelha na Equao 7 (AUSTIN e CONCHA, 1993).

  • 24

    Onde o ITD o ndice de Trabalho a ser usado em um moinho de dimetro D.

    2.3.3.3 Fatores de eficincia

    Para poder utilizar o IT em diferentes condies de operao necessrio

    introduzir fatores de eficincia (FE) como mostrado nas Equaes 8 e 9.

    Segundo Rowland (2006), os fatores de eficincia a serem considerados so: por

    moagem via seco (FE1), tipo de circuito (FE2), dimetro do moinho (FE3), tamanhos

    grosseiros na alimentao (FE4), moagem fina (FE5), razo de reduo (FE6) e

    correo sobre o tamanho da alimentao (FE7).

    2.3.3.4 Clculo da energia especfica

    A partir do conceito de que as partculas de um material diminuem de tamanho

    medida que estas absorvem energia, Bond desenvolveu uma soluo para a energia

    especfica de cominuio (Equao 10) como sendo:

    Onde E representa a energia especfica de moagem em kWh ton-1 e xF e xP, os

    d80 do produto e da alimentao, em m, e IT o ndice de Trabalho corrigido, em

    kWh ton-1.

    Para Austin e Concha (1993), a energia especfica de moagem da Equao 6

    baseada na potncia que consome o moinho no eixo, mas no se considera as perdas

    eltricas. Para calcular essa potncia no eixo, utilizada a Equao 11:

  • 25

    Sendo, mp, a potncia no eixo em kW e Q a vazo de material que processado

    no moinho em ton h-1.

    2.3.3.5 Clculo da potncia

    Para o clculo da potncia para mover os corpos moedores na moagem, Bond

    props a Equao 12 (AUSTIN e CONCHA, 1993). Logo, a carga de barras dada por

    *D2*L*J*b *(1 - ) / 4, e com igual a 20, a potncia do eixo, em kW, fica expressa

    como:

    Onde J a frao em volume do enchimento do moinho com os corpos

    moedores, c a frao da velocidade crtica, b a densidade das barras, L e D so o

    comprimento e o dimetro do moinho.

    2.3.4 Energia Requerida para a Extrao Mineral

    Segundo Schoenert (1972) a energia requerida para produzir a mesma rea de

    superfcie durante a moagem em moinho de bolas pode chegar a 10 vezes a requerida

    na quebra de uma partcula em um britador. Tromans (2008) mostrou que a eficincia

    da fragmentao da rocha atinge apenas de 1 a 2 %. Isto confirma quo ineficiente

    este processo. Portanto, a nica forma de reduzir o consumo de energia seria a criao

    de novas fraturas (NORGATE e JAHANSHAHI, 2010). Novos mtodos esto sendo

    propostos, entre eles o uso de moinhos de alta presso conhecido pelas suas siglas

    em ingls como HPGR (High pressure grinding roles), tratamentos trmicos e

    tratamento com micro-ondas. Entretanto, nos Estados Unidos, estima-se que o

    consumo de energia no beneficiamento e processamento mineral seja 39% do total

    gasto durante todo o processo produtivo e que 75% atribudo etapa de cominuio

    (DOE, 2005).

  • 26

    Anteriormente estes gastos de consumo de energia no consideravam a parte

    econmica/ambiental. Hoje em dia a energia incorporada (embodied energy) um

    conceito que se est adotando na indstria mineral e abrange o clculo dos custos

    econmicos e da energia necessria utilizada desde a extrao do minrio at seu

    reaproveitamento. Outro fator a ser considerado na escolha do mtodo de extrao a

    emisso de gases do efeito estufa devido ao peso ambiental que este exerce.

    Norgate e Jahanshahi (2010) estudaram estes conceitos e fizeram um estudo

    aplicado para a indstria extrativa mineral. Os resultados deste trabalho mostraram que

    a rota mais apropriada para o beneficiamento de minrios de baixos teores de cobre

    em termos de consumo de energia incorporada e emisses de gases do efeito estufa

    depende, principalmente, da mineralogia do depsito mineral a ser explorado. Em caso

    de no ser necessria a cominuio do minrio e onde pode ser aplicado o tratamento

    pirometalrgico os autores sugerem o uso da rota tradicional por concentrao e

    ustulao. Porm, para minrios onde necessria a diminuio de tamanho de

    partcula (5 m) foi sugerido o uso da lixiviao em pilhas ou a ustulao direta

    (Figuras 11 e 12).

    Figura 11. Efeito dos teores de Cu no minrio sobre a energia incorporada das vrias rotas de processamento para a produo de cobre.

    Fonte: NORGATE e JAHANSHAHI, 2010.

  • 27

    Figura 12. Efeito dos teores de Cu no minrio sobre a emisso de gases do efeito estufa (GWP) das vrias rotas de processamento para a produo de cobre.

    Fonte: NORGATE e JAHANSHAHI, 2010.

    Finalmente, a realizao de estudos para o clculo de energia incorporada e a

    emisso dos gases do efeito estufa em todo projeto de minerao uma forma indireta

    de mesurar o impacto ambiental, alm de ser um indicador importante na toma de

    deciso da escolha do mtodo de extrao na indstria mineral.

  • 28

    3 MATERIAIS E MTODOS

    Neste captulo so abordadas as metodologias aplicadas na realizao deste

    trabalho, o qual foi dividido em quatro etapas: (1) caracterizao, (2) estudos em escala

    de bancada da biolixiviao dos minerais presentes no minrio, empregando diferentes

    tipos de consrcios microbianos, (3) ensaios em coluna semi-piloto, utilizando as

    melhores condies experimentais e (4) determinao do consumo energtico aps o

    tratamento bio-oxidativo.

    3.1 AMOSTRAS

    3.1.1 Amostragem

    As amostras usadas neste estudo foram fornecidas ao CETEM pela MCSA. A

    amostra de minrio primrio de cobre foi retirada da mina subterrnea da Caraba, no

    Painel 7, lado Leste, a 412 metros abaixo do nvel do mar. J o concentrado de sulfetos

    de cobre foi coletado na usina de flotao da MCSA.

    3.1.2 Preparao das Amostras

    3.1.2.1 Minrio Primrio de Cobre

    O minrio primrio de cobre foi quarteado e homogeneizado em pilha piramidal

    longitudinal para posterior separao de sub-amostras representativas. Para os

    ensaios de caracterizao e experimentos em escala de bancada, a amostra do

    minrio foi cominuda em moinho de barras at que todo o material estivesse abaixo de

    105 m. Para os ensaios em coluna, a amostra de minrio primrio foi classificada e

    utilizada apenas a frao grossa (5 a 15 mm).

    3.1.2.2 Concentrado de Flotao

    A amostra de concentrado de sulfetos de cobre foi secada em estufa a 35 C

    para, em seguida, ser quarteada e homogeneizada em pilha piramidal longitudinal. Da

  • 29

    pilha foram separadas alquotas representativas para serem utilizadas na

    caracterizao, nos ensaios em escala de bancada e nos ensaios em escala piloto.

    3.2 CARACTERIZAO

    A caracterizao das amostras representativas de minrio primrio e de

    concentrado foi realizada segundo o procedimento descrito por Barreto (2008). Numa

    primeira etapa foi separado meio quilo de material representativo, de ambas as

    amostras, para a determinao da distribuio granulomtrica original. Paralelamente,

    foram separadas 100 g de amostra de minrio de cobre que foi britada em um britador

    de mandbulas e logo moda em um moinho planetrio at que todo o material

    estivesse abaixo de 106 m, para a determinao da composio qumica e

    mineralgica. A amostra de concentrado j possua uma distribuio de partculas

    finas, no sendo necessria, portanto, a reduo de tamanho, sendo retirada apenas

    uma alquota de 100 g.

    As tcnicas empregadas para a caracterizao foram a Difrao de Raios-X

    (DRX), para a identificao das principais espcies minerais constituintes da amostra

    do minrio primrio de cobre, a Fluorescncia de Raios-X (FRX), para a determinao,

    semi-quantitativa, dos elementos que compem a mesma, a anlise granulomtrica e a

    determinao de cobre e ferro por digesto cida seguida por Espectrometria de

    Absoro Atmica (AAS).

    Lminas delgadas polidas das amostras de mo de minrio primrio foram

    observadas no microscpio petrogrfico para identificao dos sulfetos minerais de

    cobre.

    3.2.1 Anlises por Difrao de Raios-X

    Para a identificao e/ou quantificao das espcies minerais foi utilizada a

    tcnica DRX, mtodo do p. Para isto, 5 g de amostra foi desagregada por suave

    moagem manual em um gral de gata, montada em um suporte do tipo backload (para

    reduo de orientao preferencial) de ao, e analisada num Difratmetro de Raios-X.

    As anlises foram executadas em um equipamento Bruker-D4 Endeavor, nas

    seguintes condies de operao: radiao Co K (40kV/40 mA), com passo de 0,02o

  • 30

    2 tempo de contagem de 184 segundos por passo em detector linear sensvel

    posio do tipo silicon drift LynxEye, coletados de 5 a 80o 2. A interpretao qualitativa

    do espectro foi efetuada por comparao com padres contidos no banco de dados

    PDF02 (ICDD, 2006) em software Bruker DiffracPlus.

    As anlises quantitativas, a partir dos dados de raios X, foram calculadas pelo

    mtodo de refinamento de espectro multifsico total (Mtodo de Rietveld), com

    software Bruker AXS Topas, v. 3.0. As informaes das estruturas cristalinas das fases

    refinadas esto descritas na Tabela 5, e so oriundas do banco de dados da Bruker

    AXS ou do site do ICSD (International Crystal Structure Database).

    Tabela 5. Origem dos dados cristalogrficos usados no refinamento

    Mineral Descrio Fonte

    Quatzo Quartz Bruker Structure Database

    Bornita Bornite Bruker Structure Database

    Calcopirita Chalcopyrite Bruker Structure Database

    Ortopiroxnio Enstatite Bruker Structure Database

    Magnetita Magnetite Bruker Structure Database

    Talco Talc Bruker Structure Database

    Clinopiroxnio Diopside Bruker Structure Database

    Anfiblio Hornblende RoundRobin Bruker Structure Database

    Plagioclsio Anorthite Bruker Structure Database

    Clinopiroxnio Diopside Bruker Structure Database

    Mica Phlogopite 1M Mica Bruker Structure Database

    Clorita Chlorite IIb Bruker Structure Database

    Plagioclsio Andesine_66240 ICSD International Crystallographic

    Structure Database

    Jarosita Jarosite Bruker Structure Database

    Um exemplo de refinamento por Rietveld mostrado na Figura 13, na qual a linha

    vermelha representa o espectro calculado a partir dos dados das fichas mineralgicas

  • 31

    da calcita e da dolomita, e a linha azul, o espectro gerado pelo equipamento de DRX.

    Na mesma figura pode-se observar o espectro calculado da calcita (linha preta).

    Figura 13. Espectro Normalizado de uma amostra de dolomita e o resultado de seu tratamento pelo mtodo de Rietveld para quantificao de fases minerais.

    3.2.2 Anlises por Fluorescncia de Raios-X

    Aproximadamente 5 g de cada amostra foi desagregada com moagem manual em

    um gral de gata e, ento, as amostras foram secas em estufa a 40 oC e prensadas

    para preparao das pastilhas. As anlises qumicas foram efetuadas por FRX, em

    equipamento Bruker S4 Explorer. O espectro gerado a partir da amostra foi avaliado

    pelo software Spectra plus v.1.6, no modo standardless method, sem curva de

    calibrao especfica, e com reclculo para 100%.

    3.2.3 Anlise Granulomtrica

    As anlises granulomtricas foram feitas segundo a Norma ABNT NBR ISO 4701,

    por peneiramento via mido, usando um peneirador vibratrio, seguindo a srie de

    peneiras Tyler mesh variando de 13,2 a 0,038 mm. Para cada etapa de peneiramento

    foi usada uma massa de, aproximadamente, 300 g de amostra. Antes de cada ensaio

    se procedeu a deslamagem da amostra, que consiste em lavar a amostra e passar o

    sobrenadante por uma peneira mais fina (0,038 mm), para evitar o entupimento das

    peneiras durante o ensaio. Uma vez classificada a amostra, cada frao foi levada

    estufa