dois poemas

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DE TARDE Naquele piquenique de burguesas, Houve uma coisa simplesmente bela, E que, sem ter história nem grandezas, Em todo o caso dava uma aguarela. Foi quando tu, descendo do burrico, Foste colher, sem imposturas tolas, A um granzoal azul de grão-de-bico Um ramalhete rubro de papoulas. Pouco depois, em cima duns penhascos, Nós acampámos, inda o Sol se via; E houve talhadas de melão, damascos, E pão-de-ló molhado em malvasia. Mas, todo púrpuro a sair da renda Dos teus dois seios como duas rolas, Era o supremo encanto da merenda O ramalhete rubro das papoulas! http://pt.slideshare.net/lucindacunha5/ficha-formativa-cesrio- verde-2?related=4 http://multimedia.santillana.pt/files/DNLCNT/Priv/_600_c.book/ A DÉBIL Eu, que sou feio, sólido, leal, A ti, que és bela, frágil, assustada, Quero estimar-te, sempre, recatada Numa existência honesta, de cristal. Sentado à mesa dum café devasso, Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura, Nesta Babel tão velha e corruptora, Tive tenções de oferecer-te o braço. E, quando socorreste um miserável,

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DE TARDENaquele piquenique de burguesas,Houve uma coisa simplesmente bela,E que, sem ter histria nem grandezas,Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,Foste colher, sem imposturas tolas,A um granzoal azul de gro-de-bicoUm ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,Ns acampmos, inda o Sol se via;E houve talhadas de melo, damascos,E po-de-l molhado em malvasia.

Mas, todo prpuro a sair da rendaDos teus dois seios como duas rolas,Era o supremo encanto da merendaO ramalhete rubro das papoulas!http://pt.slideshare.net/lucindacunha5/ficha-formativa-cesrio-verde-2?related=4http://multimedia.santillana.pt/files/DNLCNT/Priv/_600_c.book/

A DBILEu, que sou feio, slido, leal,A ti, que s bela, frgil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existncia honesta, de cristal.Sentado mesa dum caf devasso,Ao avistar-te, h pouco, fraca e loura,Nesta Babel to velha e corruptora,Tive tenes de oferecer-te o brao.E, quando socorreste um miservel,Eu, que bebia clices de absinto,Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom, saudvel. Ela a vem! disse eu para os demais;e pus-me a olhar, vexado e suspirando,o teu corpo que pulsa, alegre e brando,na frescura dos linhos matinais.Via-te pela porta envidraada;E invejava, - talvez que o no suspeites! -Esse vestido simples, sem enfeites,Nessa cintura tenra, imaculada.Ia passando, a quatro, o patriarca.Triste eu sa. Doa-me a cabea;Uma turba ruidosa, negra, espessa,Voltava das exquias dum monarca.Adorvel! Tu, muito natural,Seguias a pensar no teu bordado;Avultava, num largo arborizado,Uma esttua de rei num pedestal.Sorriam, nos seus trens, os titulares;E ao claro sol, guardava-te, no entanto,A tua boa me, que te ama tanto,Que no te morrer sem te casares!Soberbo dia! Impunha-me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma famlia, um ninho de sossego,Desejava beijar sobre o teu peito.Com elegncia e sem ostentao,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma de padres de batina,E de altos funcionrios da nao. Mas se a atropela o povo turbulento!Se fosse, por acaso, ali pisada!De repente, paraste, embaraadaAo p dum numeroso ajuntamento.E eu, que urdia estes fceis esbocetos,Julguei ver, com a vista de poeta,Uma pombinha tmida e quietaNum bando ameaador de corvos pretos.E foi, ento, que eu, homem varonil,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que s tnue, dcil, recolhida,Eu, que sou hbil, prtico, viril.http://pt.slideshare.net/Aimar10/a-debil-cesario-verde?related=6http://pt.slideshare.net/armindagoncalves/teste-cesrio-a-dbil-2013-correo?related=5