alguns poemas
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Exemplos do que façoTRANSCRIPT
Sincero
Amar-te,
é o corpo que me deixa ser o assuão frio que te renega o vício de respirar,
para que o sempre seja só mais um segundo a sentir
o bem querer do calor exasperante do teu sorriso,...
vem para aqui,
onde tudo é mais fácil que um sorriso dado em troca de
dois suspiros sinceros,
somos um,
mais fácil que todas as únicas certezas do universo
escondidas na face oculta da lua que nos alumia,
e tudo se resume a querer-te mais que o desejo
me quis algum dia dar a mim....
1
(Ainda mais) sincero
Disseste que me querias no que restasse deste fio de luar,
com a noite menos indistinta de toda a criação finita a
embalar o que prometessemos,
prometer,
prometi-te compromisso com este
segundo multicolor que vivemos,
esperando que o próximo nada seja menos
fugidio do que nos habituámos a respeitar,
devotos ao frio com sopros cálidos de medo,
juntámo-nos nesta minudência
de universos projectados além
desta rotina de esperanto escrita,...
espera-nos o que sozinhos nem aceitámos
que pudesse existir ao amanhecer cantado assim....
2
Tão insidiosa pessoa
deixei-me aqui não estar,
adorando este compromisso
de falta de ética que é o
de sobrevalorizar tudo o que parece não se ver,
mas está de facto à frente da compreensão
sobreposta em ciclos,...
percebi-o aqui nas soluções aquosas
de insidiosa pessoa
onde manipulo
os dias que
atropelam os minutos,...
sapateiro dos teus
passos inseguros,
calcorreio o que prometi
naquela noite de estanho derretido
que se transformou em amor,
depois oferecido nas
bandejas frias da madrugada em que te
toquei sem estar lá,...
o sozinho do teu ser,
assenta- bem nestas
circunstâncias que não
descrevo,
mas pressinto,...
tão insidiosa pessoa que sou não consegue
3
fazer mais nada que
não filmar tudo isto
em ciclos intermináveis....
4
Ser livre (poema de alfabeto)
Abraços são profissões
Belas de querer
Consentimentos expressos
De um amor
Evasivo e pleno de
Futilidades próprias de
Gotas de orvalho a
Hibernar em
Indicas condições da
Jovialidade anexa à
Luz. Raios que
Martirizaram sem
Nada mais
Oferecer em troca que
Pensamentos místicos, Tudo a
Que têm direito os
Rasteiros da
Séria condição humana.
Temos assim a
Unica e possível
Via de solução.
Xilofones dourados a
Zombar do desejo de ser livre....
5
Um raio de sol para perceber o que é amar
nunca te quis no
plano do cetim,
dos rostos quando
amanhecem encostados
ao sol que nos assalta
a casa para tirar a mal
feita percepção de
conformismo,....
penso-te como ontem,
aliás como para o
sempre onde te quero
perfeita no correr dos
dias a desfiar-me
na imperfeição que
carrego...
6
Fazemos
não sei fazer de mim o
que impossível é
à sombra
de necessidades vãs,....
releio as fáceis coisas que
nos seguem naquelas
tardes de estanho,
os momentos subtis de
anseio com névoa para ungir
a alma que chora,...
se somos para tratar o que
doente arrasta-se na lama
dos desiludidos de afago,
faz de nós qualquer coisa
com sonhos díspares e
juntos com seiva de amor,...
espero por suster o que tu achares
coisa comezinha,
momento sem sentido do labor de
luxúria que és,
coberto da fuligem dourada dos
dias que correm.....
7
Rendilhado de amor para passar uma tarde
os dias abraçam-me com os porquês
dos momentos em que me vejo sem os teus abraços,...
se sim,
quando os tenho,
é porque me sinto
feliz na directa proporção do
céu que encontro
nas pequenas frestas dos minutos que me tornam imortal no teu respirar...
se não,
se é a vida,
com o correr tépido do que temos de
fazer para por cá continuar que
me afasta de ti,
brinco triste com a tristeza sem som,...
os pedidos expressos do murmurar do amor, aligeiram os minutos que são séculos,...
e se vestem de segundos dos primeiros sons com que me imortalizei no momento em que
o teu sorriso
soprou-me vida...
8
Esperançoso
faz lá o que sabes
com a razão podre que
vendes,
isso,
diz mal do mundo lactente,
o que já cheira mal,
com as coisas a dormirem
nos intervalos dos
argumentos pobres
dos inergúmenos,
preciso de mais precisas descrições
do que ainda ninguém percebeu de ti,
ver-te a fazer meneios
doces de ironia,
e brincos ímpares com
retalhos do crepitar do fogo,
do expoente explosivo de ti....
faças mesmo o que sabes,
eu desenhado,
nem explicado sou
melhor que o que desejas...
9
O que faz rir num contexto de fome e desespero
eu sou daquelas pessoas
que guarda tudo o que o faz
rir num cantinho esquecido,...
vejamos por partes o que me diverte,...
soluços,
ver pessoas encavacadas
a enxotar para debaixo do tapete
os restos de aerofagias,
apenas porque as acham
bonitas e penteadinhas com
cheiros angelicais,...
inconsequências,
consequentes faltas de
processos de auto-defesa,
traduzidos no
'desculpe,
não fiz por mal',...
e ao finalizar isto,
que se avance com as
perspectivas de morte
ao voltar da esquina,...
vi um filme há muitos
anos em que o rapazinho
acabava o romance com a imagem
10
de uma mulher,
depois de tropeçar e cair
para dentro de um
precípicio,...
se bem me lembro o
jovem chamava-se
oportunidade,...
nome estranho para
quem é um fóssil
que repousa no museu
dos fechados e que
não sonham....
11
Fado do tempo que corre
à senhora mais menina da esquina
menos feminina deste mundo que já foi homem,
tornaste são o suspiro entre
o meio do genitivo composto de fim de semana,
tardam meios de te ter,
fábulas para esquecer,
resguardos improvisados e desnortes com sal de morte,
ao final de um dia destes,
parecido com o de anteontem,
e ansioso pelo que vem,
resguardado do pó dos segundos que,
juntos,
fazem muros de horas,
lamento-me de que embora,
tenha assim o minuto perdido,
de ao dizer a mim mesmo,
que sou preciso para terminar o conjunto,
de dois dedos de rima com um de impoluto
desejo.....
12
Feérico desnível
fruto do apaziguamento da criança que ruge,
levantaram-se do chão as dúvidas de um homem classificado,....
ordenaram-se princípios de racionalidade por cores mortiças,
e o sonho descarnou,
infectou,
desnutriu,...
sonora paz,
distinto sentir,
foi um tumulto dos roídos de espírito que
polvilham o núcleo do planeta,...
o dia ressuscitou depois de um longo arroto de todos os capitéis dos monumentos que
contam,...
cláusulas postas em chaga porque o homem,
recusa esmagar as insensibilidades deste pedregulho.....
13
Dois anos
para dizer que o sol é
o intervalo do doce da tua boca,
sem afirmar que luar defende
hesitações na descrença do correr
de água dos dias,
no postulado do ser
em vez do querer em
tiras de cetim diáfano,
apostar na aposta como
solução para a falta do inventivo,
de tudo um pouco é o nada feito milhão,
como seres aberrantes
defendem castrações
perfumadas,
defendo-te a ti,
porque dois anos,
são a vida descolorida e a saber bem,
quando se cansa de saber mal.....
14
Reformados
não somos tão poucos assim
que nem nos reste discernimento,
sôfrega batelada de nada é o que é,
depreendo que nos reste o
arrastamento pelos bicos
das mesas de esplanada,
a mirar tetas,
a mirar cus,
seremos poucos
quando fecharem as
ruas do sofrimento neoplásico,
meninos de ranho fácil
ganharão nesse dia,
as esquinas melancólicas
serão balizas dos vossos berlindes,
lençóis brancos amarelecidos,
sim, irá de assoar nesses trapos
pois as velhas desleixadas merecem,
até lá,
seremos cada vez menos,
os senhores de clemência
misturada com fortuna,
as almas centrípetas que se
portam pior que gatos em lutas jónicas...
com os próprios rabos,
em suma,
os controlos remotos de fugida,
(epitáfio de punheteiros, na minha linguagem)
para o fim ficam os sonhos,
15
nunca feliz soma de nadas,
é como os chamo,
odeio-os.....
16
O seguinte poema não presta
tolos versos,
prenhos de sexo,
falta de senso,
para me cuidar
e desmembrar,..
poema a meio,
frete ou cheiro
a centeio,
de virgem apurada,
enamorada de tolos,
com chuva a cair,
trovões sem sorrir,...
noite de medos fáceis,
inspiração agarrada
a flatulências ocasionais,
faros de anormais,...
para acabar sem o sim,
só de não disparado
e já morto,
para fazer o que se espera,
disto que se assemelha,
a poema semi-torto,
com raíz ecuménica,
para no fim dizer,
que sós somos todos,
mesmo quando para dentro,
17
restam-nos ovos,
podres ovos de sonhos
reflexos,
e medonhos....
18
Matriarca
foi um assento de pouco relento,
onde a vi, Minha mãe dá-me colo,
mostra que o mundo é um caroço
de pêssego,...
plantado num bosque que despe
pele de gente, Não quer comer,
recusa chorar, só quer florir,...
aconchego de só,
pessoa que chora fui
no olhar dela, rangeu,
bateu, floriu ela que sabe,
ela que nota,...
desdissemos o que feliz foi,
brincámos só para
o tempo sorrir,
com as frivolidades nossas,
com o embalo de nunca mais ver.....
19
Mortal, até amanhã
acordou estremunhado,
cansado,
por menos que isso,
doía ao mundo o regaço,...
inefável,
queria ter simples
dores de parto,
um homem a
dizer de si,
o que o mundo odiava
pois escapava
ao senso comum,
das longas noites de
fazer nada,
e hoje,...
a ser o dia depois de ontem,
e sem querer que o amanhã venha,
estava estremunhado,
desejoso do mal,
queria tolerância,
risos descarnados,
malandros frisados a
rir com a possível
ignorância de ser
sacana e angelical ao
mesmo tempo,..
20
arredado,
de tudo quanto
contava para
as pessoas,
arrastava-se por
aqui,
e por ali catava,
do chão,
dos chãos das
existências cadenciadas,
beatas dos que sucedidos,
mais ou menos bem,
limpavam-se às limpezas
do amanhã
que se desfaz em
suores inconsequentes,...
foi-se deitar arrependido,
enfadado,
por menos que um sopro de vida,
deixou-se enlear no que desenhado,
não dá mais que dois suspiros,
e uma vontade de matar
pictórica e real....
21
Mulher de prioridades indefinidas
era uma chuva que
escrevia a cores
as palavras do desejo
canoro,
e ela dúbia,
de mundo reprimido
debaixo dos pés,....
sentia sorverem-lhe a força
para ainda lamentar mais
o amor,
descreveu-se de forma
tragicamente redundante,
e a nuvem mais à mão
serviu para que escrever,
se tornasse o encontrar
de pessoas no deslizar
da maior perfídia que o tempo
deixava de comer para
matar ainda mais,...
22
Psicodrama
na área aventurosa do poema,
esboçado está o focinho
das coisas inaudíveis,
sendo que por caudal frio da criatividade
entende-se a insegurança do poeta,
pelo menos com a má reacção de quem
vê como um insulto esta
queda de água de frustrações literárias,....
e por aventuroso o poema terá o cheiro,
é de experimentar leitura sucinta,
com um final de dia experimentalista
e frustrante no sentido menos falacioso
do termo......
23
Blasé forma de chorar
fizemo-nos fortes tão
somente por nada ser
mais fraco que deixar
assim de esperar novas
manhãs de antanho,
tudo e menos que nada
do que resta assim
mesmo em dias de
chuva beijada,
será por fracos sonhos,
desnortes assim para
coleccionar à luz dos dias
que correm debaixo da
ponte da infância
desmobilizada,
escrita está a memória
de quem parte para
voltar se o medo
permitir.....
24
São sempre os porquês que mais me lixam
Do que se apresenta
ao branco da incerteza, resta pouco de quem
se fez uno com este cenário que já foi de certezas...
deserto por sentir o incerto,
Falacioso, por incapaz de abraçar unas certezas,..
não crio nada,...
só regurgito
pequenos poços de verve retórica,
tudo me diferencia do que já me fez único..
pictorizo, para escapar às conjecturas,
lamento todos os países
de pequenas rugas que criei no sorriso fresco do
mundo à sombra...
sem conseguir,
sequer produzir,
desníveis mesmo que
imperfeitos de loucura
colorida e descontrolada....
25
Face
Face,
plena de vezes
geradas de fé,
com tudo e
sem nadas,
paz assim de sonhos,
guerra em fogo finto,
dupla face,
mês para os ses,
dos anos escapados,
assim,
por dedos de zês,
em passo de velho,
com morte de pêndulo,
na face....
26
Pessoas que amam pessoas
pessoas que amam pessoas,
são as pessoas menos azuladas,
tomam banho, despem piloros,
têm hérnias quando comem tremoços,
e o mundo gira,
sem perdões incongruentes,
porque nem se importa,....
pessoas que desprezam pessoas,
choram com o fado mais brejeiro,
porque se importam,
querem convergências,
pulam com meninos simpáticos,
e depois,
assinam um cheque,
em moeda maldita,
para abater rebentos,....
pessoas que amam pessoas,
são bolas de naprons tricotados,
a balouçar nas patinhas de um gato,
para um fim que pede reflexão,
porque o mundo está pintado a lápis de cera...
27
Ser se
escrevo sombras,
que se minhas não são,
desmilitarizam o que sobrou
da psicose que tu
descambaste em quadros dadaistas,....
se pelo menos fados são
mulheres de xaile roto a
chorar plenipotenciárias
uniões com remansos
desconhecidos,...
estes verbos teus nunca hão-de ser,
meus com a sorte desfeita
serão se o fundilho do medo
quiser,....
fosse eu calamidade do
que os dias chovem,
tu meus ses comerias,
tão específica,
tão desejosa de mim seres,...
28
Manifesto anti-mau poeta
Colossal,
fenómeno,
de rés má e
psicótica,...
poetastro,
façanhudo exemplo
de quando o latente
se despenha nu,
em mar de explosões,...
pecado,
pecadilho sonso,
redilho que enredilha
o que insonsa a sopa
do pobre,...
declaro nulo o que
liga pobreza ao senso
de elogiar pedaços
de ti,....
glaucos sons de
impérvios caminhos,
fazem de paz
o que se desfaz,
no que rodeia,
do que te faz,
das coisas más
29
alcatraz,...
silêncios,
concertos de
sons estúpidos,
considera brinde
o desprezo que
sai do alto da
sapiência que nunca tive.....
30
Tele-escola
Se o tino não me falha
já tinha aprendido a ler-me,
desenhei de um trago as curvas do mundo,
com as aparas do carvão
fiz povos às cores,....
gente que olhasse o passado com ar frívolo,
desnudando mulheres pela maldade de o fazer,
e esperar em troca o declínio das estações,
e o benfazer das rugas traçadas a sangue,....
todos os dias me faço mal,
habito em oceanos de aldeias desertas,
e continuo sem entender,
se a terra tem alma,...
ou se sou eu o mapa-mundo dos equívocos....
31
Tricotado e despercebido
vês-me em silêncio,
tricotado de ti,
de mão na ambiência
de fulgor que nos rodeou,....
adoro o que sorris
para mim em dia
de alegria,
vês-me em silêncio,
mas e o que somos
de madrugada?,...
não te interrogam os
sopros alados de luxúria
que nos levam de mansinho
ao que sofregamente desprezámos?,...
deixei de mansas
perguntas ao sol,....
pedi por menos
soluções inconformadas,...
só me vejo em silêncio,
rasga-me,
para tricotar ser o verbo
com que me decompões....
32