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Dissecação Folicular: Um método eficiente para
estudos de competência ovocitária
ISSN 0102-0110
Junho, 2008 260
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Documentos 260
Dissecação Folicular: Um método eficiente para
estudos de competência ovocitária
Ester Siqueira Caixeta
Margot Alves Nunes Dode
Editores Técnicos
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Brasília, DF
2008
ISSN 0102 0110
Junho, 2008
Exemplares desta edição podem ser adquiridos na
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Serviço de Atendimento ao Cidadão
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Secretário-Executivo: Maria da Graça Simões Pires Negrão
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Sueli Correa Marques de Mello
Vera Tavares de Campos Carneiro
Supervisor editorial: Maria da Graça S. P. Negrão
Normalização Bibliográfica: Ligia Sardinha Fortes
Editoração eletrônica: Maria da Graça S. P. Negrão
1ª edição
1ª impressão (2008):
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei
nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
______________________________________________________________________
C 138 Caixeta, Ester Siqueira
Dissecação folicular: um método eficiente para estudos de competência ovocitária. /
Ester Siqueira Caixeta e Margot Alves Nunes Dode. -- Brasília, DF: Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, 2008.
21 p. -- (Documentos / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ISSN 0102-
0110 ; 260).
1. Reprodução animal. 2. Dissecação folicular. 3. Biotecnologia. 4. Embrião. I.
Caixeta, Ester Siqueira. II. Título. III. Série.
636.082 - CDD 21.
_____________________________________________________________________________________________
Autores
Ester Siqueira Caixeta
Universidade de Brasília
Margot Alves Nunes Dode1
Embrapa Recursos genéticos e Biotecnologia
Sumário
1. Introdução ......................................................................................................... 1
2. Desenvolvimento do folículo e do ovócito .............................................................. 2
3. Técnica de dissecação e avaliação dos folículos ...................................................... 5
4. Estudo para a avaliação da técnica de dissecação dos folículos ............................... 10
Considerações finais ............................................................................................. 13
Referências ......................................................................................................... 14
1
Dissecação Folicular: Um método eficiente para
estudos de competência ovocitária
______________________________________ Ester Siqueira Caixeta
Margot Alves Nunes Dode
Introdução
Com o estabelecimento da produção in vitro (PIV) de embriões tem sido possível explorar
melhor o potencial reprodutivo das fêmeas. Essa técnica tem sido amplamente utilizada em
rebanhos bovinos, como uma opção para a multiplicação de animais de interesse
econômico. No Brasil essa biotecnologia foi rapidamente incorporada ao setor produtivo, de
tal forma que nos últimos 4 anos o país foi responsável por 50% da produção de embriões
in vitro do mundo (VIANA e CAMARGO, 2007).
Mesmo com todos os avanços feitos nos últimos anos, a PIV ainda possui uma baixa
eficiência, visto que, dos ovócitos selecionados no início do processo cerca de 40% produz
embriões viáveis após a maturação e fecundação in vitro. Isto sugere que a maturação
ainda é um dos problemas da PIV. Mais estudos com o objetivo de entender melhor os
mecanismos da maturação in vitro são necessários, pois somente assim será possível
indicar modificações e melhoras nos protocolos para que o sistema in vitro possa ser o
mais próximo possível do in vivo, e, com isso, aumentar a disponibilidade de ovócitos mais
competentes para serem utilizados nas técnicas de reprodução assistida.
Na maturação ocorrem mudanças nucleares e citoplasmáticas que conferem ao ovócito a
capacidade de dar origem a uma nova vida. Vários fatores podem interferir no sucesso da
maturação, tais como a qualidade do ambiente folicular, tamanho do folículo de origem,
morfologia do complexo cumulus-ovócito e principalmente a competência ovocitária.
Somente ovócitos competentes podem sofrer maturação completa e ter desenvolvimento
embrionário normal (DODE, 2006). A competência do ovócito, portanto, se refere à sua
capacidade de ser fecundado e de formar um embrião viável. Entretanto, os mecanismos
bioquímicos que regulam essa aquisição e os eventos envolvidos durante esse período
ainda não são conhecidos.
Está clara a existência de uma relação entre o tamanho do folículo e a qualidade do ovócito
em termos de morfologia e grau de competência, sendo que ovócitos derivados de grandes
folículos têm um maior potencial de desenvolvimento que ovócitos obtidos de pequenos
2
folículos, gerando uma melhor produção de embriões in vitro (HAGEMANN et al., 1999;
MACHATKOVA et al., 2004; LEQUARE et al., 2005). Existe também uma correlação entre
o diâmetro do ovócito e tamanho do folículo e, consequentemente com a capacidade de
desenvolvimento (GANDOLFI et al., 2005). Devido a este fato, o tamanho folicular tem
sido amplamente utilizado como indicador do potencial de desenvolvimento do ovócito.
Entretanto, na maioria dos estudos que utilizam esse parâmetro, a avaliação do tamanho
folicular é feita na superfície do ovário, o qual não permite uma medição precisa.
Portanto, o objetivo deste trabalho é apresentar e descrever a técnica de dissecação dos
folículos como um método eficaz para obtenção de ovócitos a serem utilizados em estudos
da competência ovocitária.
2. Desenvolvimento do folículo e do ovócito
Diferente dos espermatozóides, os quais são continuadamente gerados a partir da
puberdade, a fêmea tem uma população finita de ovócitos que estão presentes no ovário
quando a fêmea bovina nasce. Os ovócitos presentes em um ovário adulto originam-se a
partir de um número definido de células germinativas primordiais que são formadas no
epitélio do saco vitelínico do embrião. Estas células migram do saco vitelínico para as
cristas genitais onde vão colonizar as gônadas em formação.
A ovogênse e a foliculogênese são processos distintos, porém interdependentes. Na
ovogênese ocorre a formação, crescimento e maturação do gameta feminino. O processo
começa durante a vida fetal (AUSTIN e SHORT, 1982; KNOBIL e NEILL, 1994 FAIR,
2003). As células germinativas primordias se diferenciam em ovogônias, que se proliferam
por mitoses antes do nascimento e então entram em meiose, se tornando um ovócito
primário que inicialmente, fica retido no estágio prófase I (AUSTIN e SHORT, 1982).
Portanto, no nascimento, os ovócitos estocados nos ovários se encontram no estágio de
prófase da primeira divisão meiótica (Figura 1) e necessitam da ação hormonal na
puberdade para a retomada e finalização da meiose I e uma completa maturação
citoplasmática (Figura 2) (HAFEZ e HAFEZ, 2004; WANG e SUN, 2007).
Figura 1. Ovócito primário no estágio de prófase da
primeira divisão meiótica (Vesícula Germinativa).
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Fig. 2. Fases da ovogênese.
Fonte: Adaptado de Senger, 2003
A foliculogênese em bovinos, também começa durante a vida fetal. Logo depois que os
ovócitos são formados eles se tornam circundados por uma simples camada de células
epiteliais achatadas, formando o folículo primordial (AUSTIN e SHORT, 1982; FAIR, 2003).
Logo que o estoque de folículos primordiais é estabelecido, começa o crescimento que
ocorre somente em um grupo de folículos. O crescimento folicular é um processo contínuo
durante a vida reprodutiva (AUSTIN e SHORT, 1982). Os folículos que entram na fase de
crescimento passam a ser chamados de folículos primários, que se caracterizam pelo
ovócito rodeado por uma completa camada de células cuboidais (FAIR, 2003) (Figura 3).
Progressivamente, as células da granulosa do folículo primário aumentam em número e
tornam-se mais volumosas dando origem aos folículos secundários. (AUSTIN e SHORT,
1982; HAPER, 1994). As células da granulosa começam a sintetizar um fluido que se
Pré-natal
Ovulação
FecundaçãoZigoto
Ovócito
Secundário
Células
Germinativas
Primordiais
Mitose
Ovogônia
Ovócito
Primário
Início da prófase meiótica
Pico LH –
Retomada da
meiose I
Interrupção da meiose
Ovócito
Primário
Após
Puberdade
2N: Diplóide
1N: Haplóide
PB1: Primeiro corpúsculo polar
PB2: Segundo corpúsculo polar
PN: Prónucleo masculino
PN: Prónucleo feminino
Pré-natal
Ovulação
FecundaçãoZigoto
Ovócito
Secundário
Células
Germinativas
Primordiais
Mitose
Ovogônia
Ovócito
Primário
Início da prófase meiótica
Pico LH –
Retomada da
meiose I
Interrupção da meiose
Ovócito
Primário
Após
Puberdade
2N: Diplóide
1N: Haplóide
PB1: Primeiro corpúsculo polar
PB2: Segundo corpúsculo polar
PN: Prónucleo masculino
PN: Prónucleo feminino
2N: Diplóide
1N: Haplóide
PB1: Primeiro corpúsculo polar
PB2: Segundo corpúsculo polar
PN: Prónucleo masculino
PN: Prónucleo feminino
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acumula entre as próprias células da granulosa, formando o antro inicial e o folículo
terciário (Figura 4).
Fig. 3. A e B) Folículo primordial contendo um ovócito circundado
por uma simples camada de células epiteliais achatadas. C e D)
Folículo primário caracterizado pelo ovócito rodeado por uma
completa camada de células cuboidais.
Fonte: www.uam.es/departamentos/ciencias/biologia/citologia/praticas.htm
Fig. 4. A e B) Folículo secundário formado por um ovócito rodeado
por mais de uma camada de células cuboidais. C e D) Acumulo
inicial de fluido entre as células da granulosa formando o antro
5
inicial e o folículo terciário. E e F) Folículo maduro ou folículo de
Graaf.
Fonte: www.uam.es/departamentos/ciencias/biologia/citologia/praticas.htm
Durante todo este período de desenvolvimento folicular o ovócito permanece retido no
estágio de diplóteno da prófase I. Entretanto, o seu crescimento continua, sendo que o
volume da célula aumenta, indicando um período de intensa atividade metabólica, na qual
ocorrem mudanças ultra-estruturais no ovócito, incluindo o surgimento de algumas novas
organelas (HAPER, 1994). O crescimento do ovócito é acompanhado por um aumento no
número de mitocôndrias e por mudanças na sua ultra-estrutura, se tornando altamente
vacuolizadas e ovais. Concomitantemente, o complexo de Golgi sofre alterações, que são
indicativas de um aumento na sua atividade. Ocorre também um acúmulo de gotículas de
lipídeos, que servirão como reserva energética para o futuro embrião. O surgimento da
zona pelúcida no espaço perivitelínico também ocorre neste período de crescimento do
ovócito. Por último, ocorre a formação dos grânulos corticais, que são pequenas vesículas
esféricas que terão a função de provocar o endurecimento da zona pelúcida no momento
da fecundação, impedindo a polispermia (HAPER, 1994).
O período final do desenvolvimento folicular envolve o recrutamento, seleção e
dominância. O estímulo para o recrutamento folicular é uma elevação nas concentrações
séricas de FSH. Após o recrutamento apenas um folículo é selecionado e passa a exercer
dominância sobre os demais ao longo da onda (FAIR, 2003).
Se o folículo dominante está presente durante a fase lútea, os altos níveis de progesterona
impedem o aumento da freqüência dos pulsos de LH, e não ocorrerá a ovulação.
Posteriormente, ocorrendo luteólise, as concentrações de progesterona diminuem
permitindo um aumento na pulsatibilidade de LH, o qual permite a maturação final do
folículo e a ovulação (SIRARD et al., 2006)
O folículo pré-ovulatório ainda contém um ovócito primário, que por ação do LH é
estimulado a retomar e completar a primeira divisão meiótica (I), seguida da extrusão do
primeiro corpúsculo polar, e entrada na segunda divisão meiótica (II). O ovócito no estágio
de metáfase da segunda divisão meiótica (MII), é então, retido pela segunda vez, sendo
esse o estágio em que se encontra quando é liberado do folículo na ovulação (AUSTIN e
SHORT, 1982). O término da maturação meiótica do ovócito é dependente da penetração
do espermatozóide durante a fecundação. Quando a região equatorial da cabeça
espermática liga-se à membrana vitelínica inicia a ativação do ovócito que induz ao término
da segunda divisão meiótica, e a liberação do segundo corpúsculo polar (GINTHER, 1992;
HAFEZ e HAFEZ, 2004).
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3. Técnica de dissecação e avaliação dos folículos
3.1. Material necessário
Ovários
1 pinça pontiaguda curva
1 pinça serrilhada curva
Tesoura
Lâmina de bisturi
Placa aquecedora
Placa de Petri
Lupa
Ocular graduada (ex.: micrometer eyepiece OSM-4 Olympus®)
Meios:
Solução Salina: -NaCl 0,9% acrescido de penicilina (0,1176 mg/ml) e
estreptomicina (0,11 mg/ml).
TCM-199 com sais de Hank´s, glutamina e Hepes (Gibco®-12350),
suplementado com 10% soro fetal bovino (SFB).
Deve-se colocar a quantidade de meio que será utilizada no dia na estufa (com a tampa
fechada) ou no banho-maria, algumas horas antes do uso, para ser aquecido a temperatura
ideal de 35 C.
3.2. Dissecação dos folículos
Para a realização do procedimento de dissecação dos folículos é necessária a coleta de
ovários a partir de vacas ovarioectomizadas ou vacas sacrificadas em abatedouro.
Imediatamente após a coleta, os ovários devem ser transportados até o laboratório em
solução salina (NaCl 0,9%) acrescida de antibióticos (penicilina e estreptomicina), à
temperatura de 32 a 35ºC. No laboratório, os ovários devem ser conservados em banho-
maria à 35ºC até o início do processo de dissecação.
Os folículos são dissecados da córtex ovariana em temperatura ambiente, com o auxílio de
tesoura, lâmina de bisturi e pinças (Figura 5). Para maior facilidade de dissecação e para
manter a integridade dos folículos é recomendada a utilização de uma pinça pontiaguda
curva e uma serrilhada curva. A pinça pontiaguda curva deve ser posicionada mais
afastada do folículo e servir como um ponto de apoio para segurar o ovário (Figura 6). Com
a pinça serrilhada curva bem próxima ao folículo que está sendo dissecado, puxa-se
lentamente a parede do folículos em vários pontos contornando a sua superfície e
liberando-o cuidadosamente da córtex ovariana (Figura 6). Geralmente em folículos maiores
(>6,0 mm), é necessário utilizar a lâmina de bisturi delimitando com um corte raso na
7
superfície do contorno do folículo, e em seguida realizar a dissecação com as pinças. Após
a retirada completa do folículo da córtex ovariana, a tesoura deve ser utilizada para realizar
o acabamento da limpeza dos folículos, retirando os restos de tecido ovariano que podem
ter permanecido. Os folículos devem ser completamente dissecados, de tal forma que seja
possível a sua avaliação e mensuração precisa.
Os folículos dissecados devem ser transferidos e mantidos em placas de Petri contendo
meio TCM-199 com sais de Hank’s suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB),
sobre uma placa aquecedora a 36ºC, onde deverão permanecer durante todo o
procedimento de dissecação, o qual recomenda-se que não seja superior a 90 minutos
(Figura 7).
Fig. 5. Ovários mantidos à 36 ºC (seta). Material utilizado para a dissecação dos folículos
(lâmina de bisturi, tesoura e pinças)
Fig. 6. Folículo sendo dissecado da córtex ovariana com o uso de pinças pontiaguda (A) e
serrilhada (B).
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B
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B B
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Fig. 7. Folículos dissecados mantidos sobre uma placa aquecedora a 36ºC durante todo o
procedimento de dissecação.
Após a dissecação, os folículos devem ser mensurados e avaliados de acordo com sua
qualidade. Para a mensuração, os folículos de diferentes tamanhos devem ser colocados
sobre uma lupa contendo uma ocular graduada (micrometer eyepiece OSM-4 Olympus®)
(Figura 8), e então, classificados e distribuídos em categorias de acordo com o tamanho
(Figura 9 A e B). A qualidade morfológica dos folículos deve ser avaliada de acordo com a
presença de vasos sanguíneos evidentes e aspecto translúcido e brilhoso.
Fig. 8. Ocular graduada para ser
acoplada a lupa. Micrometer
eyepiece OSM-4 Olympus®.
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Fig. 9. A) Mensuração de folículo de 6,1 a 8,0 mm em estereomicroscópio utilizando uma
ocular graduada. B) Folículos dissecados das várias categorias de tamanho folicular.
3.3. Recuperação e avaliação dos ovócitos
Os folículos classificados e separados por categoria devem ser cuidadosa e
individualmente rompidos em uma placa de petri contendo meio TCM-199 com sais de
Hank’s suplementado com 10% de SFB, sobre uma lupa. Para romper os folículos utiliza-se
duas pinças, que devem ser puxadas em direções opostas rasgando a parede folicular.
Após a ruptura, o complexo cumulus-ovócito liberado deve ser recuperado com uma pipeta
de manipulação, sendo em seguida transferidos para placas contendo gotas do mesmo
meio TCM-199, sobre placa aquecedora.
Após a recuperação, os complexos cumulus-ovócitos devem ser classificados utilizando
como critério a homogenidade e coloração do citoplasma e aparência, compactação e
número de camadas de células do cumulus. Existem vários sistemas para avaliação da
morfologia de ovócitos. No laboratório de Reprodução Animal da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia é utilizada a classificação de Stojkovic et al., (2001) modificada
(Figura 10 A, B, C e D)descrita a seguir:
Qualidade 1: Ovócito com citoplasma homogêneo e com granulações finas e múltiplas
camadas compactas de células do cumulus.
Qualidade 2: Ovócito com citoplasma homogêneo com pequenas áreas mostrando
pigmentações irregulares, cumulus compacto menor do que na categoria 1 com pelo
menos 5 camadas completas.
Qualidade 3: Ovócito com citoplasma heterogêneo/vacuolizado, a zona pelúcida coberta
com pelo menos 3 camadas de células do cumulus e/ou com pequenas áreas desnudas.
Qualidade 4: Citoplasma heterogeneamente pigmentado e o cumulus
completamente/parcialmente ausente ou expandido.
Somente os complexos cumulus-ovócitos classificados como qualidade 1 e 2 devem ser
utilizados na produção in vitro (PIV) de embriões.
A B
≥8,1 mm
6,1 a 8,0 mm
3,1 a 6,0 mm
1,0 a 3,0 mm
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Fig. 10. A) Ovócito de qualidade 1 com citoplasma homogêneo e múltiplas
camadas compactas de células do cumulus. B) Ovócito de qualidade 2 com
citoplasma homogêneo com pequenas áreas mostrando pigmentações
irregulares, cumulus compacto menor do que na categoria 1. C) Ovócito de
qualidade 3 com citoplasma heterogêneo, e células do cumulus com pequenas
áreas desnudas. D) Ovócito de qualidade 4 com citoplasma heterogeneamente
pigmentado, apresentando vários vacúolos e o cumulus parcialmente ausente.
Após a avaliação, os complexos cumulus-ovócito (COC) poderão ser utilizados para a
maturação in vitro ou podem ser desnudados, dependendo da finalidade da técnica de
dissecação.
Se o objetivo do uso dos ovócitos requer o desnudamento, os ovócitos devem ser
transferidos para uma pequena gota (50 l até 10 ovócitos) de PBS e, com uma pipeta
realizar sucessivas pipetagens até garantir a ausência completa das células do cumulus.
Para facilitar o procedimento a ponta da ponteira pode ser levemente pressionada para
diminuir o seu diâmetro, permitindo o desnudamento.
4. Avaliação da técnica de dissecação dos folículos
Vários estudos têm demonstrado que a capacidade de desenvolvimento in vitro de ovócitos
bovinos pode ser afetada pelo tamanho e qualidade dos folículos dos quais são obtidos e
pela qualidade morfológica do complexo cumulus-ovócito (LONERGAN et al., 1994;
HAGEMANN et al., 1999; MACHATKOVA et al., 2004; LEQUARE et al., 2005; GANDOLFI
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et al., 2005). De tal forma, que o tamanho folicular se tornou um modelo interessante para
a avaliação dos mecanismos relacionados à competência.
Para avaliar a eficiência da técnica de obtenção de ovócitos com diferentes graus de
competência, oriundos de folículos de diferentes tamanhos, foi realizado estudo na
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – Cenargen - DF, utilizando a técnica de
dissecação de folículos descrita acima (CAIXETA et al., 2007).
Para isso, ovários de fêmeas bovinas foram obtidos de vacas de abatedouro local e foi
realizado todo o procedimento de dissecação dos folículos. Os folículos dissecados foram
avaliados em estereomicroscópio contendo uma ocular graduada, sendo selecionados pela
presença de vasos sanguíneos e aspecto translúcido e brilhoso. Aqueles selecionados
foram mensurados e distribuídos de acordo com o diâmetro em 4 categorias: 1) 1,0 a 3,0
mm; 2) 3,1 a 6,0 mm; 3) 6,1 a 8,0 mm; 4) > 8,1 mm. Os complexos cumulus-ovócitos
foram recuperados dos folículos e classificados morfologicamente de acordo com a
homogeneidade e coloração do citoplasma e número de camadas e aspecto das células do
cumulus em viáveis (qualidade 1 e 2) e não viáveis (qualidade 3 e 4). Após serem
selecionados, apenas os ovócitos classificados como grau 1 e 2 foram utilizados no
sistema de produção in vitro de embriões já padronizado e rotineiramente utilizado pelo
Laboratório de Reprodução Animal da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
(PEREIRA et al., 2005; CORRÊA et al., 2008). Os ovócitos viáveis de cada grupo foram
maturados (Figura 11), fecundados e cultivados in vitro, ou desnudados para avaliação do
diâmetro.
Fig. 11. Ovócitos maturados por 22 horas. Expansão das células do cumulus.
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A mensuração do diâmetro dos ovócitos desnudos foi realizada utilizando uma ocular
graduada acoplada à lupa (micrometer eyepiece OSM-4 Olympus®). O desenvolvimento da
competência dos ovócitos foi avaliado pela taxa de clivagem no dia 2, e produção de
blastocistos nos dias 6, 7 e 8, considerando dia 0 (zero) o dia da inseminação (Figura 12).
As taxas de clivagem, blastocistos e porcentagem de ovócitos viáveis foram analisadas
pelo teste de 2. Os tamanhos dos ovócitos foram comparados pela análise de variância e
teste de Tukey.
Fig. 12. A) Embrião clivado, dia 2 pos-inseminação(PI); B) Embrião no estágio de
blastocisto expandido, dia 7 p.i.
Os resultados mostraram que mais de 50% dos ovócitos obtidos de folículos dissecados
são viáveis e podem ser utilizados para a maturação in vitro, independente do tamanho do
folículo (Tabela 1). A menor percentagem de ovócitos grau 1 e 2 obtidos no grupo de
folículos de 3,1 a 6,0 mm pode ser devido, a que nesse estágio encontram-se mais
folículos que foram recrutados, cresceram, mas que não continuaram seu crescimento e,
portanto, estão em estágio mais avançado de atresia.
Tabela 1 - Porcentagem de ovócitos viáveis (Grau 1 e 2) e não viáveis (Grau 3, atrésico,
degenerado ou expandido), oriundos de folículos de diferentes tamanhos, em relação ao
número total de ovócitos (N).
Tamanho do folículo N Viáveis (%) Não viáveis (%)
1. 1,0 a 3,0 mm 216 115 (53,24%)a,b 102 (46,76%)a,b
2. 3,1 a 6,0 mm 413 208 (50,36%)a 205 (49,64%)a
3. 6,1 a 8,0 mm 212 126 (59,43%)b 86 (40,57%)b
4. > 8,1 mm 235 145 (61,70%)b 90 (38,30%)b
ab Diferentes letras na mesma coluna indicam valores diferentes (P<0.05).
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Com relação ao tamanho, os ovócitos obtidos de folículos de 1,0 a 3,0mm, apresentaram
diâmetro menor do que os de folículos maiores (Tabela 2). Estes resultados mostram que o
diâmetro dos ovócitos continuam aumentando até os folículos atingirem em torno de 3,0
mm.
Tabela 2 - Diâmetro dos ovócitos oriundos dos diferentes grupos de folículos.
Tamanho do
folículo
Número total
de ovócitos
Diâmetro dos ovócitos média ± desvio
padrão
1. 1,0 a 3,0 mm 60 124,15 μm ± 9,19a
2. 3,1 a 6,0 mm 60 128,0 μm ± 7,41b
3. 6,1 a 8,0 mm 60 128,20 μm ± 6,04b
4. ≥ 8,1 mm 60 129,33 μm ± 8,11b
ab Diferentes letras na mesma coluna indicam valores diferentes (P<0.05).
O grupo de ovócitos obtido de folículos até 3 mm apresentou menor taxa de clivagem e de
blastocisto em relação ao demais, possivelmente por não ter completado o seu
crescimento total, como pode ser confirmado pelo diâmetro dos ovócitos obtidos desse
grupo (Tabela 2). A produção de blastocistos foi maior nos ovócitos oriundos de folículos
de 6,1 a 8,0 mm e ≥8,1 mm, que nos obtidos de folículos menores, dos grupos 1 e 2
(Tabela 3). Esses resultados confirmam a relação existente entre o tamanho do folículo,
diâmetro e potencial de desenvolvimento dos ovócitos. Entretanto, é importante ressaltar
que outros fatores estão envolvidos na aquisição da competência ovocitária, visto que
ovócitos do grupo 2 (folículos de 3,1 a 6,0 mm), apesar de terem atingindo o seu
crescimento total (Tabela 2), são menos competentes do que os grupos de folículos
maiores (Tabela 3).
Portanto, os resultados indicam que somente a classificação morfológica e o diâmetro do
ovócito não são suficiente para indicar a competência ovócitária. Entretanto, quando essas
características são associadas com o tamanho do folículo, é possível obter grupos de
ovócitos com competências distintas, o que foi demonstrado pelas taxas de blastocistos,
que variaram de 28% a 72 % (Tabela 3). Esses grupos podem ser utilizados para estudos
na tentativa de esclarecer os mecanismos envolvidos na competência ovocitária
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Tabela 3 - Taxas de clivagem no dia 2 pós-inseminação (p.i.) e blastocistos nos dias 6, 7 e
8 p.i. em relação ao número total de ovócitos (N) provenientes de diferentes tamanhos de
folículos.
Tamanho do
folículo
N D2 (%) Blastocistos
D6 (%) D7 (%) D8 (%)
1. 1,0 a 3,0 mm 98 58 (59%)a 23 (23%)a 27 (28%)a 27 (28%)a
2. 3,1 a 6,0 mm 190 141 (74%)b 57 (30%)a 67 (35%)a 67 (35%)a
3. 6,1 a 8,0 mm 89 78 (88%)b,c 46 (52%)b 62 (70%)b 64 (72%)b
4. ≥ 8,1 mm 96 86 (90%)c 52 (54%)b 66 (69%)b 66 (69%)b
ab Diferentes letras na mesma coluna indicam valores diferentes (P<0.05).
Considerações finais
Os resultados após a utilização da técnica de dissecação mostraram que o grupo de
ovócitos provenientes de folículos maiores, 6,1 a 8,0 mm e ≥8,1 mm, são mais
competentes, o que pode ser observado não só pelo aumento no diâmetro, mas também
pelo melhor potencial de desenvolvimento, sendo aqueles ovócitos de folículos de 1,0 a
3,0 mm e 3,1 a 6,0 mm os menos competentes.
A dissecação dos folículos para avaliação mais precisa do tamanho, mostra que é possível
obter ovócitos com diferentes graus de competência. Esse modelo, portanto, nos permite
realizar estudos para identificar os mecanismos envolvidos na aquisição da competência.
Essas informações permitirão criar alternativas para obtenção de ovócitos mais
competentes e com isso aumentar a taxa de blastocistos e a eficiência da PIV.
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