documento protegido pela leide direito autoral · 3 agradecimentos agradeço a deus pelas...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
OS OFENDÍCULOS COMO EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
Por: Danielle De Schepper Ferreira
Orientador
Prof. Jean Alves
Rio de Janeiro
2016
DOCUMENTO P
ROTEGID
O PELA
LEID
E DIR
EITO A
UTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
OS OFENDÍCULOS COMO EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito Privado e Civil.
Por: Danielle De Schepper Ferreira
Rio de Janeiro
2016
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelas dificuldades
que Ele permitiu em minha vida, pois
essas me fizeram persistir, lutar e
assim não desistir de conquistar meus
objetivos.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a minha família
pela força e confiança demonstrada;
Aos meus sinceros amigos pelo apoio
incondicional, e, em especial minha
Professora e Mestra Judith Regis, que foi
uma grande amiga e que fez renascer em
mim a garra de continuar a caminhada
jurídica, além de ser um grande exemplo
de professora e mulher. Enfim a todos
que de alguma forma participaram do
meu caminho nesta jornada, tornando-o
mais fácil de ser percorrido. Muito
obrigada!
5
RESUMO
Todo ser humano preza por defender e resguardar seu bem jurídico,
cabendo tanto ao Estado quanto ao proprietário do bem exercer tal mister,
porém, sua atuação é de maneira secundária, auxiliando e dando condições de
agir, exercendo seu poder somente quando provocado, utilizando então o seu
jus puniendi, já ao particular cabe a função principal de tutelar seu bem, já que
o maior interesse pela preservação é seu, o que ocasiona o uso de dispositivos
de defesa predispostos destinados à defesa da sua propriedade, denominados
pela doutrina como ofendículos e colocados pelo proprietário do bem, como
por exemplo: cacos de vidro, pontas de lança em muros e portões, telas ou
cercas elétricas, cães bravios entre outros. Sempre com intuito em impedir a
violação do seu bem, e nunca de forma a vir agredir excessivamente o agente
de tal ato (a invasão).
A conclusão obtida é que o uso dos ofendículos representa uma
legítima defesa, um exercício regular de direito, dando ao proprietário uma
autorização de autodefesa quando utilizado com moderação, vez que, a
legítima defesa, como o próprio nome está dizendo, é tutela do direito próprio
ao de terceiro, e, portanto integra-se na ordem jurídica, consequentemente é
um direito, não podendo tal atitude ser entendida como criminosa, desde que
não seja exagerada.
6
METODOLOGIA
Para a elaboração deste trabalho, o principal procedimento adotado
foi abordagem indutiva, sendo consultadas obras jurídicas, reportagens, artigos
e análises de jurisprudências sobre o tema, com ênfase para o Direito Civil,
Direito Constitucional e Direito Penal.
A finalidade do presente trabalho é demonstrar a importância do
uso nos dias atuais do instituto dos ofendículos no meio social, haja vista a
falha na obrigação do Estado em relação à garantia de defesa da propriedade
da sociedade e o direito de defesa do cidadão à sua autotutela, ou seja, o
direito de autodefesa com o gozo de recursos próprios.
Qualquer indivíduo está sujeito a um ataque de terceiros contra seu
patrimônio ou contra a sua integridade física e a de seus familiares, por isso, a
autodefesa, utilizando-se de um exercício regular de direito, garantido por lei
que qualquer indivíduo brasileiro possui em instalar obstáculos para dificultar
agressões ou invasões de terceiro, se tornou a forma mais comum de tentar
evitar esses ataques.
Tal trabalho possui um tema de fundamental importância para toda
a sociedade brasileira, pois visa à elaboração dos direitos permitidos ao gozo
de todos os tipos de ofendículo para a segurança de seu patrimônio.
Estudou-se o conceito e a natureza jurídica dos ofendículos, bem
como a utilização desse instituto pela sociedade na forma permitida por lei
desde a antiguidade, pois tal trabalho esclarece e demonstra que o gozo do
7
uso de obstáculos na intenção da sua própria segurança é lícito, porém, o uso
com excesso ou com a intenção de ferir/matar um terceiro, torna-se um ato
ilícito, prática que gera uma responsabilidade civil e penal para quem lesou e
não mais para quem foi lesado.
A pesquisa abrange consultas a doutrinas específicas na área, como
as dos autores Alexandre de Moraes, Nelson Hungria entre outros, bem como
algumas Leis, e, a própria Constituição Federal de 1988, além de análises à
jurisprudências dos nossos Tribunais.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I 10
Ofendículos
CAPÍTULO II 18
Origem e breve relato da evolução dos artefatos como meio de defesa nas
comunidades/propriedades
CAPÍTULO III 24
O uso dos ofendículos no instituto do exercício regular de direito e no da
legítima defesa
CAPÍTULO IV 28
Utilização dos ofendículos “Forma responsável ou excesso?”
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA 43
ÍNDICE 44
ANEXOS 46
9
INTRODUÇÃO
O tema posto em debate busca um posicionamento sobre a
natureza jurídica e a responsabilidade civil do aparato usado para defesa do
bem jurídico de um indivíduo, conhecido juridicamente como ofendículos.
Estes são utilizados na forma onde o proprietário prepara uma defesa de
antemão, quando o perigo ainda é futuro, servindo como uma advertência para
dificultar ou impedir a acesso de uma eventual invasão de terceiro ao seu
próprio patrimônio.
O crescimento acelerado das cidades tem levado as pessoas a
obter um cuidado maior com os seus bens jurídicos quando observado uma
possibilidade de ameaça ou ataque por terceiros, principalmente em relação as
suas residências. Isso porque os órgãos responsáveis, que são os de
segurança pública, já não conseguem há tempo, vigiar ou manter em
segurança as famílias brasileiras em seus lares, também não conseguem
prestar um serviço público adequado, obrigando assim, os cidadãos a
buscarem outra forma de proteger os seus bens materiais, imateriais, e o bem
maior, que é a família e a sua própria vida, ou seja, quando o Estado não
puder defender o indivíduo, este retorna legalmente à autotutela, prém, é
necessário tomar alguns cuidados com a forma pela qual se pretende defender
para que não incorra em crime.
O ordenamento jurídico determina quais atos o indivíduo não possui
permissão para executar, e, quando não observamos as regras ditadas no
ordenamento, estamos agindo de maneira ilícita, ocorrendo então a
antijuricidade, ou seja, uma atitude contrária que acaba lesionando um terceiro.
10
Na verdade para a existência do crime é necessário que haja um
fato típico (composto pela conduta (ação ou omissão), pelo resultado (inerente
à maioria dos crimes), pela relação de causa e efeito entre a conduta e o
resultado (relação de causalidade) e ainda pela tipicidade, que não é a
descrição, mas a ligação entre o fato concreto e o tipo incriminador);
antijurídico e culpável. Isso porque o crime é um ato reprovável pelo
ordenamento jurídico.
Desta forma, se faz surgir os ofendículos, que são mecanismos
utilizados para impedir qualquer lesão de um terceiro a um bem jurídico ou
uma propriedade própria. Tendo como objetivo dificultar e evitar que seu bem
jurídico venha sofrer qualquer dano, como um dos exemplos mais comum, a
colocação de cercas elétricas, cacos de vidro ou arame farpado em algumas
residências, que são usadas para inibir a entrada indesejada de pessoas
intrusas de forma invasiva a seu imóvel.
11
CAPÍTULO I
OFENDÍCULOS
Os ofendículos consistem em artefatos não inteligíveis utilizados
para resguardar o patrimônio, porém, é indispensável que se observem os
requisitos de moderação no emprego dos mesmos, haja vista que sua
utilização visa proteger a patrimônio, o bem jurídico, não devendo predominar
o detrimento da vida, ou seja, significa o uso de qualquer aparato pré-ordenado
para a defesa do patrimônio, tratando-se de causa de exclusão da ilicitude,
consistindo no exercício de prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico,
caracterizada como fato típico.
Estes mecanismos que se destinam à defesa de bens jurídicos
devem ser usados com zelo, de forma responsável e segura, pois a
desproporcionalidade frente à agressão causada a terceiros acarretará um
crime doloso ou culposo, onde o agente (proprietário) causador responderá
pelo excesso.
O uso de tal mecanismo deve valer-se de meios que cessem, evitem
ou se causarem danos, que estes não sejam gravosos a terceiros/invasores, e
sim, moderados, porque quando o meio utilizado se torna excessivo, causando
uma lesão desproporcional aos limites legais estabelecidos para a excludente
de ilicitude, o agente causador responderá de forma dolosa ou culposa pelo
seu ato, não sendo dispensado de sua responsabilidade.
Assim, o emprego destes mecanismos deixa de ser legítimo, pois,
somente excluem a ilicitude havendo a moderação, e, ainda, se os mesmos
forem compatíveis com a agressão que pretendem evitar.
12
É de extrema necessidade a verificação e a sua moderação, além
da compatibilidade entre a gravosidade que o ofendículo utilizado poderá
causar bem como a necessidade para a proteção do bem com a sua
instalação. Nesse sentido, a cautela para o controle da instalação deve ser
tomada com antecedência para que não venha a ocorrer uma lesão
desnecessária à pessoas inocentes ou desavisadas.
É necessária a distinção dos artefatos utilizados como ofendículo na
forma de constituir uma advertência acerca da suposta invasão, daqueles
ocultos que se tornam uma grave ameaça, se tornam armadilhas, que em sua
maioria lesa de forma irreparável, causando até o óbito de alguém.
A faculdade de instalar os tipos de ofendículo para a proteção de
sua propriedade ou de outro bem jurídico advém do direito costumeiro, porém
não dá o direito a tirar a vida de qualquer terceiro, pois a vida é o maior bem
jurídico de qualquer cidadão.
1.1. Conceito.
Ofendículos, também chamados de ofendículas, offendicula,
offensacula, offendiculum.
Estes são obstáculos, postos pelo próprio proprietário com o intuito
de impedir a penetração de alguém em sua propriedade. Dessa forma eles
dificultam que uma pessoa invada o domicílio, que se trata de um bem jurídico
protegido pelo art. 150 do Código Penal brasileiro.
13
O termo “ofendículo”, de acordo com nosso dicionário tem o
significado de embaraço, empecilho, estorvo. Constituem, portanto,
dispositivos de defesa predispostos, destinados a dificultar ou repelir o ataque
ilícito a um bem, em via de regra, ao patrimônio.
Pelos dicionários jurídicos é atribuído ao significado de meios de
defesa instalados para proteção da propriedade como cacos de vidro postos
nos muros, arame farpado sobre os muros ou cercando os muros, plantas
espinhosas, eletrificação de maçanetas, foco profundo ao redor do imóvel
entre outros.
1.2. Natureza Jurídica.
O uso dos ofendículos consiste em um objeto de controvérsia
doutrinária e jurisprudencial acerca da sua natureza jurídica.
Com efeito, vislumbra-se nas doutrinas a existência de três
importantes teorias sobre o assunto em questão, onde a primeira, ditada por
Aníbal Bruno, que sustenta que, a utilização de ofendículos caracterizaria o
exercício regular de um direito, excludente encartada no art. 23, inciso II, do
Código Penal Brasileiro.
A segunda teoria, construída pelo mestre Nélson Hungria, explica
que a excludente incidente quando o indivíduo faz uso de aparatos de
segurança é a legítima defesa.
A terceira teoria é adotada através de uma posição intermediária,
salientando que, ao instalar o mecanismo de defesa escolhido, a pessoa
14
encontra-se no exercício regular de um direito, qual seja o de proteger a sua
propriedade, entretanto, quando deflagrado o ataque, a repulsa seria hipótese
de legítima defesa antecipada, em razão de uma agressão futura.
Majoritariamente, defende-se a natureza jurídica dos ofendículos
como exercício regular de direito e não legítima defesa. Mas é certo que há
grande polêmica doutrinária, como verificaremos no decorrer do trabalho.
Não existe uma unificação nos Tribunais acerca deste assunto
também, onde alguns julgados consideram o ofendículos como dolo eventual.
O uso dos ofendículos é uma via de mão dupla, se instalado e
atingindo o seu objetivo, ou seja, evitando que marginais invadam
propriedades, o proprietário estará agindo em legítima defesa, mas se,
porventura, um inocente vier a ser atingindo, este então responderá por dolo
eventual, conforme entendimento da maioria dos tribunais.
Para analisarmos a intenção no uso dos ofendículos, além de
pesquisarmos as discussões doutrinárias, também devemos recorrer às
jurisprudências, pois estas apesar de se mostrarem esclarecedoras, ao mesmo
tempo são também divergente aos entendimentos doutrinários, pois deve se
levar sempre em consideração, a intenção, a instalação, atuação e o dano
causado ao terceiro. Vejamos:
STJ - RECURSO ESPECIAL RESP 38302 GO 1993/0024397-
7 (STJ) DATA DE PUBLICAÇÃO: 15/12/1997 EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICIDIO. OFENDICULO. LEGITIMA DEFESA. INEXISTENCIA DE PROVA PLENA. PRONUNCIA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO CP, ARTS. 23 E 25 E DISSIDIO JURISPRUDENCIAL. INOCORRENCIA. 1. O TRIBUNAL DO JURI E O JUIZ NATURAL DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA, SO PODENDO TER O SEU JULGAMENTO SUBTRAIDO PELO JUIZ SINGULAR QUANDO AS DIRIMENTES EXPRESSAS
15
NO ART. 411 DO CPP RESTAREM PLENAMENTE PROVADAS. 2. RECURSO NÃO CONHECIDO.
TJ-DF - APELAÇÃO CÍVEL AC 671046920028070001 DF
0067104-69.2002.807.0001 (TJ-DF) DATA DE PUBLICAÇÃO: 25/11/2004 EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. COLOCAÇÃO DE OFENDÍCULO (MURO COM CERCA ELÉTRICA). ACIDENTE FATAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL PARA FINS DE REPARAÇÃO DE DANO MORAL E MATERIAL. 1.NÃO HAVENDO DEMONSTRAÇÃO DE QUE O APELADO PRATICOU ATO ILÍCITO, EIS QUE A CERCA EM CIMA DO MURO DE SUA PROPRIEDADE NÃO FAZIA CONTATO COM A REDE DE ENERGIA ELÉTRICA, NÃO PODE ESTE RESPONDER PELOS DANOS CAUSADOS A TERCEIROS. 2.RECURSO IMPROVIDO.
TRF-4 - APELAÇÃO CIVEL AC 12215 RS 2000.71.00.012215-
8 (TRF-4) DATA DE PUBLICAÇÃO: 16/07/2003 EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DE TRÂNSITO.OFENDÍCULOS COLOCADOS EM VIA PÚBLICA EM DESCONFORMIDADE COM AS LEIS DE TRÂNSITO. CULPA CONCORRENTE DA PARTE AUTORA. - NÃO HAVENDO AUTORIZAÇÃO LEGAL ESPECIAL, A SINALIZAÇÃO DEVE ATENDER AOS COMANDOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO, QUE VEDA O ESTACIONAMENTO A MENOS DE 5 M DA TRANSVERSAL, NAS ESQUINAS.CONSEQÜENTEMENTE, NÃO SENDO POSSÍVEL A COLOCAÇÃO DE PEDRAS COMO MEIO DE SINALIZAR O LOCAL. - A VELOCIDADE IMPRIMIDA AO VEÍCULO NÃO ERA A ADEQUADA PARA A CONDUÇÃO EM UMA VIA URBANA, ESPECIALMENTE AO REALIZAR UMA CURVA, E TAMBÉM QUE O OBSTÁCULO, DADA A SUA POSIÇÃO, ERA FACILMENTE VISUALIZÁVEL ANTES DO VEÍCULO INICIAR A CURVA SE O MOTORISTA ESTIVESSE, COMO DEVERIA, ATENTO À CONDUÇÃO.
TJ-PR - APELAÇÃO CÍVEL AC 3000486 PR 0300048-6 (TJ-
PR) DATA DE PUBLICAÇÃO: 26/10/2005 EMENTA: APELAÇÃO 1. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CERCA ELETRIFICADA EM PROPRIEDADE RURAL. OFENDÍCULAS CONSTITUEM EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO DESDE QUE NÃO ULTRAPASSEM OS LIMITES DO RAZOÁVEL, E, EM ASSIM SENDO, GERAM O DEVER DE INDENIZAR. INEXISTÊNCIA DE PLACAS DE ADVERTÊNCIA NO LOCAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA 341 DO STJ. VÍTIMA FALECIDA EM DECORRÊNCIA DE CHOQUE ELÉTRICO. RESPONSABILIDADE CIVIL. REQUISITOS. CULPA. DANO E NEXO DE CAUSALIDADE CONFIGURADOS. DANOS MORAIS. DEVER DE INDENIZAR. REDUÇÃO DO VALOR DA
16
INDENIZAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CORRETAMENTE FIXADOS. APELAÇÃO 2. MAJORAÇÃO DO VALOR FIXADO A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PENSÃO MENSAL ESTABELECIDA EM FAVOR DOS PAIS DA VÍTIMA FALECIDA. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL PARA GARANTIA DO PAGAMENTO DA PENSÃO. DESPESAS DE FUNERAL E HOSPITALARES. INCIDÊNCIA DA CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA NOS TERMOS DA SÚMULA 43 E 54 DO STJ.
O aparelho predisposto constitui um exercício regular de direito. Mas
quando funciona em face de um ataque se torna um problema de legítima
defesa preordenada.
Podemos verificar que a solução das várias hipóteses, depende do
caso concreto em si. Não obstante, aponta-se que o juiz deve avaliar a conduta
do sujeito, que ao se utilizar de tais mecanismos, pode agir dolosamente ou
ser surpreendido com a simples falta de cuidado do próprio ofendido, nos
alertando para que não haja excesso nos meios empregados para a defesa da
sua propriedade, ou seja, que exista a moderação quanto o seu uso, como por
exemplo, cercas elétricas nos muros, o grau do choque deve ser de forma a
repelir o invasor, não podendo ser o mesmo utilizado em redes elétricas. Desta
forma, a culpabilidade da responsabilidade acaba sendo transferida ao
magistrado, devido a subjetividade dos fatos na maioria dos casos.
Constatamos então que tanto os doutrinadores quanto os Tribunais
muito se divergem sobre essa questão, deduzindo se que a solução depende
do caso concreto em si, o que gera no cidadão de boa fé uma insegurança
jurídica perante as formas utilizadas na defesa de sua vida, de seus familiares
e de sua propriedade, onde a Lei, ao regulamentar a postura para quem quer
exercer o seu direito à defesa de sua propriedade, por meio de mecanismos
17
previamente preparados, busca evitar que, no exercício de seu direito, o
proprietário venha a prejudicar interesses de terceiros inocentes.
18
CAPÍTULO II
ORIGEM E BREVE RELATO ACERCA DA EVOLUÇÃO
DOS ARTEFATOS (OFENDÍCULOS) COMO MEIO DE
DEFESA NAS COMUNIDADES/PROPRIEDADES
Ao abordarmos a evolução histórica e a origem dos ofendículos
devemos estar com seu conceito bem definido e entendido, ou seja, devemos
ter em mente que estes artefatos foram e ainda são os meios de proteção a
propriedades particulares e aos seus bens, sendo estes artefatos os meios de
proteção mais comuns utilizados pela maioria dos indivíduos.
Encontramos o uso dos ofendículos na defesa de propriedades ou
de seus bens desde os primórdios das civilizações cristãs, ou seja, desde a
antiguidade, estando estes presentes no cotidiano dos povos à época, como
forma de proteção às suas casas, terrenos, etc.
Podemos verificar em várias passagens na Bíblia Sagrada, a
descrição acerca dos cuidados como as medidas tomadas para aquele que
desrespeitasse as normas de proteção das casas, dos bens e da própria
comunidade no todo, onde qualquer pessoa que ousasse invadir ou subtrair
algo da propriedade de qualquer outra, independente de ser conhecido ou
parente, era considerado um “indivíduo do mal”, pois praticava uma conduta
que era repudiada por todos, sendo punido de acordo com os costumes da
época pelo próprio proprietário do bem violado, onde o dono da propriedade
que estivesse na iminência de sofrer uma violação, podia à época, se valer da
força física para conter o ato criminoso, independente de ferir o invasor ou não,
não sendo imputado à ele nenhuma culpabilidade pelo uso da força, mesmo
que causasse a morte do suposto invasor, porém, como nos dias atuais,
19
existiam regras para que não houvesse a imputação da culpa do homicídio a
quem houvesse matado o criminoso.
Lei acerca da Proteção da Propriedade “Se o ladrão que for pego arrombando for ferido e morrer, quem o feriu não será culpado de homicídio, mas, se isso acontecer depois do nascer do sol, será culpado de homicídio.”
1
À época, tais normas de conduta tinham as suas aplicações
circunscritas a pequenos grupos, que expressavam uma única unidade
genética e cultural, porém, entre os grupos diferentes, a lei que imperava era
sempre a do grupo mais forte. A lei do mais forte devia ser respeitada sempre
e se caso não fosse, a mesma era imposta.
Nesse sentido, concluímos que desde as primeiras sociedades
existem normas de condutas, porém, antigamente as mesmas, eram baseadas
nos costumes e nos valores familiares, sendo transmitidos ao longo das
gerações por suas tradições, onde a proteção do patrimônio particular contra
ameaças de terceiros já era legitimada através de ataques à integridade física
àquele que ameaçava.
A violação ao patrimônio, sempre foi uma conduta reprovável, desde
aquele tempo, sendo a mesma passível de punição imediata do indivíduo
ofendido, como continua sendo nos dias atuais, a diferença é que nos dias
atuais, através das implantações dos ofendículos se tornou uma forma
cautelosa e respeitosa às liberações ou proibições dos seus usos pelas das
Leis vigentes, que visam sempre proteger a propriedade de violações e
invasões, mas com a garantia à vida e a integridade fica do suposto invasor.
20
Toda sociedade que passou a ser regulada pelo Direito sofreram
grandes evoluções, passando a possuir como base de defesa padrões de
condutas aceitáveis, além da faculdade da legítima defesa, que limitou e
sistematizou toda e qualquer ação de autodefesa dos indivíduos, deixando as
Leis mais antigas, como o Código de Manu, Hamurabi, na Lei Mosaica, nas
Leis atenienses de Sólon, e na Lei das Tábuas, constantes em quase todas as
legislações do mundo antigo somente como referência. Isso porque a maioria
destas leis eram muito severas acerca da punição as condutas reprováveis
pela sociedade à época.
Desta forma, verificamos que ocorreu uma grande evolução acerca
da vingança privada, direito material neste caso, surgindo então a legítima
defesa (exclusão de ilicitude) com a intenção de fazer os povos viverem de
forma mais harmoniosa e menos agressiva, onde as condutas reprováveis pela
sociedade passaram a ser consideradas crimes através da criação do Código
Penal. O Estado se auto intitulou como único detentor do jus puniendi,
determinando e impondo limites e regras acerca dos métodos utilizados na
defesa pessoal de qualquer indivíduo de bem, bem como na atuação dos
mesmos, porém, apesar do Estado ser considerado um segurador universal, o
mesmo não pode estar presente em todo lugar a todo tempo para proteger
todos os indivíduos ao mesmo tempo, logo, o mesmo permite que cada qual
utilize meios autorizados ou não proibidos pela legislação para defender suas
propriedades, porém, ao excederem no seu uso, somente o Estado pode
julgar, culpar, inocentar e imputar a pena.
O jus puniendi surge quando ocorre uma infração penal.
1 Bíblia da Mulher de Fé/organização de Mary Graham, Christie Barnes;(tradução de Marcus Aurélio de
Castro Braga).-Rio de Janeiro:Thomas Nelson Brasil,2012. Página 87
21
Podemos definir o jus puniendi como como o direito total que o
Estado possui para aplicar a pena contra quem praticou a ação ou omissão
descrita num preceito primário, que gerou um dano ou uma lesão jurídica à
alguém. Este também pode ser chamado de Direito poder-dever de punir do
Estado, vez que conduz a noção do poder público empenhado na missão da
coerção, pois não cabe uma simples faculdade ao Estado empunir, mas sim
uma obrigação.
A garantia bem como a obrigação do Estado acerca da segurança e
da proteção aos indivíduos não se dá de qualquer forma, mas sim através da
nossa Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que é
considerada a Lei Maior de um País.
As garantias e os direitos fundamentais de um cidadão são tratados
no artigo 5º da Constituição Federal Brasileira, sendo ele considerado um dos
mais importantes por toda a sociedade, pois trata de direitos fundamentais que
surgiram para assegurar aos indivíduos a possibilidade de ter uma vida digna,
livre e igualitária.
Ao analisarmos o caput do artigo verificamos que os diretos e
garantias são estendidos a todos que residirem no nosso País, sendo
brasileiros ou estrangeiros, sendo todos amparados pelo mesmo de forma
igualitária. Dentre os principais direitos estão o direito à vida, a liberdade, a
igualdade, a segurança e a propriedade.
Nesse sentido, a segurança pública é uma garantia dada a todos.
Por esse motivo, a lei define ou deve definir bem os tipos de crime e as
22
penalidades imposta para quem os comete. Essa segurança se refere a policial
e a jurídica também.
Vejamos algumas das garantias dadas por nossa Constituição
Federal a todos os cidadãos de forma igualitária:
“Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.”
2
“CAPÍTULO III DA SEGURANÇA PÚBLICA Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. (...)”
3
O direito de defesa de qualquer indivíduo surge então quando a
proteção do Estado for impotente para repelir invasões às propriedades ou aos
bens de cada indivíduo, nesse caso, permitindo ao cidadão de bem que exerça
2 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm) 3 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm)
23
por si só a defesa do seu bem jurídico, defesa essa exercida através da
instalação de aparatos intimidadores e ostensivos que se julga necessário.
Tais aparatos são denominados pela doutrina de ofendículos, ofendículas ou
offendicullum, do latim, como já esclarecido através dos seus conceitos.
Concluímos assim, que, a defesa do patrimônio particular sempre
esteve legitimada pelas ações de todas as populações, porém, antigamente
era utilizado o uso da força para impedir qualquer tipo de violação às
propriedades e com o passar do tempo a sociedade sofreu transformações que
fizeram evoluir as técnicas de proteção particular, chegando ao que se tem
hoje: cacos de vidros cimentados em cima dos muros, cercas elétricas e vários
outros aparatos para repelir, impedir a invasão de terceiros em suas
propriedades ou em outros tipos de bens particulares. Sendo todos os
aparatos liberados ou não por cada localidade, cabendo ao cidadão que
pretende utilizar algum deles verificar em sua região quais são os permitidos
pelas Leis ou decretos na sua região, para que não venha a sofrer danos e
sanções maiores caso algum terceiro seja ferido ou morto pelo meio utilizado à
sua propriedade, mesmo que não haja a intenção.
24
CAPÍTULO III
O USO DOS OFENDÍCULOS NO INSTITUTO DO
EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO E NO DA LEGÍTIMA
DEFESA
Acerca da inviolabilidade do domicílio, os ofendículos encontram
respaldo em nossa Constituição, que garante que “a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial”. 4
Insta destacar que o direito de propriedade é garantido a todo e
qualquer indivíduo/cidadão que viva ou resida no Brasil. Desta forma, fazer uso
de ferramentas legais para defender a propriedade de forma moderada é uma
garantia imediata da segurança pessoal e do direito de propriedade, em que a
residência ou domicílio devem estar protegidos de um suposto agente, que
venha entrar ou permanecer em residência alheia ou de suas dependências,
contra a vontade expressa ou tácita do morador.
As causas de exclusão ou de justificativas de antijuridicidade
encontram-se respaldadas no Código Penal, que em regra, são reconhecidas
pela seguinte expressão: “não há crime quando...” 5
4 Constituição Federal de 1988, artigo 5º, inciso XI.
5 Código Penal Brasileiro, artigo 23.
25
“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
de outrem”. 6 Sendo assim, a legítima defesa é o direito de defesa ou de
reação em face de terceiros com toda e qualquer ferramenta a seu alcance
contra uma agressão ou simples ameaça de agressão, desde que, os meios
utilizados sejam de forma mediana.
A legítima defesa trata-se de uma excludente de ilicitude prevista no
código penal nos artigo 23, inciso II e no artigo 25, para que os cidadãos
possam repelir agressões injustas causadas por terceiros sem serem
responsabilizadas por um crime. Vale salientar que, para que o ato de repelir
uma agressão seja considerado legítimo, tem que se adequar a todos os
elementos que definem a legítima defesa, não havendo excessos ou intenção
de lesão, pois a legítima defesa se faz presente ao direito do cidadão quando a
segurança pública não se faz presente em todos os lugares e em todos os
momentos, desta forma pode-se utilizar de meios necessários e disponíveis
para a defesa de sua propriedade.
Assim, podemos dizer que, não há crime quando o indivíduo pratica
tal fato no exercício regular do próprio direito, como na recusa de depor em
juízo por parte de quem tem o dever legal de sigilo. Tal idéia é baseada no
limite do exercício regular do direito em relação a seu uso de forma abusiva.
Nesse sentido, destacam-se os ensinamentos de Rogério Greco
quando diz que:
6 Código Penal Brasileiro, artigo 25.
26
(...) essa permissão não é limitada, pois que encontra suas regras na própria lei penal. Para que se possa falar em legítima defesa, que não pode jamais ser confundida com vingança privada, é preciso que o agente se veja diante de uma situação de total impossibilidade de recorrer ao estado, responsável constitucionalmente por nossa segurança pública e, só assim, uma vez presente os requisitos legais de ordem objetiva e subjetiva, agir em sua defesa ou na defesa de terceiros.
7
No instituto dos ofendículos, a visão principal é a preservação a vida
e os bens de um cidadão, o que permite a defesa de sua honra e a vida de
seus familiares através de prevenção em virtude da insegurança em que se
encontra nos dias atuais.
O principal defensor desse pensamento em nossa doutrina é o autor
Aníbal Bruno, que cita:
"Pertence o ato do indivíduo que, para defender a sua propriedade, cerca-a de vários meios de proteção, as chamadas defesas predispostas ou “offendicula”, dispositivos ou instrumentos que impeçam ou embaracem o acesso do malfeitor ao bem protegido... destinados a funcionar no momento da agressão".
8
Desta forma, fica evidenciado que o direito exercitado pelo indivíduo,
no caso, é o de cercar sua propriedade de recursos que lhe assegurem a
inviolabilidade, o direito de todo titular de um bem jurídico de protegê-lo contra
injusta agressão.
7 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Rio de Janeiro: Impetus, 2009, p. 340.
8 BRUNO, ANÍBAL. Direito penal – parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 09.
27
Neste sentido, podemos concluir que as lesões decorrentes da ação
de dispositivos preordenados à proteção da propriedade, que ficam a
evidência, não podem ser consideradas como praticadas em legítima defesa,
justamente pelo fato de faltarem os requisitos da iminência do perigo no
momento da instalação desses mecanismos.
Quando os obstáculos passivos são usados de forma visível,
notória e que constituem um simples impedimento, sendo destinados à
prevenção de um possível ataque a sua propriedade, como o uso de cacos de
vidros em cima dos muros, grades altas e pontiagudas, cerca de arame
farpado entre outros, conferem ao indivíduo o exercício regular do direito, já o
uso de mecanismos predispostos a repelir de forma ativa os ataques
deflagrados no momento da invasão de um terceiro a propriedade, como o
exemplo de armas que disparam automaticamente à entrada de um ladrão em
determinada área, maçanetas eletrificadas, armadilhas com seringas
contaminadas ou qualquer outro objeto que venha a ferir quem pisa em um
determinado lugar são exemplos de excesso de limites acerca da defesa
passiva.
Sendo assim, concluímos que o gozo dos ofendículos como
exercício regular do direito se dá na distinção, na intenção e na forma pela qual
o indivíduo faz o uso dos mecanismos escolhidos, sendo pacífico o
entendimento de que qualquer que seja a excludente de ilicitude é
indispensável que se observe o requisito da moderação, independente da
inclusão do instituto defendido, seja no âmbito de exercício regular de direito
quanto no instituto da legítima defesa predisposta.
28
CAPÍTULO IV
UTILIZAÇÃO DOS OFENDÍCULOS
“FORMA RESPONSÁVEL OU EXCESSO?”
Nos dias atuais, o uso do ofendículos é reconhecido como um
direito do cidadão na defesa dos seus bens jurídicos. Porém, esse direito,
como outros devem ser usados com muita prudência e consciência, para que
não venha a ultrapassar os limites da razoabilidade, não colocando em risco a
vida e a segurança de pessoas inocentes, pois o excesso pode causar danos
irreparáveis.
A lei exige que a utilização de qualquer meio com a intenção de
repelir a agressão seja de forma moderada, buscando assim minimizar a
possibilidade do agente exceder na reação.
Devemos esclarecer que o excesso decorre do uso na inadequação
do meio, ou seja, consiste na utilização de mecanismos mais gravosos ou na
falta de moderação na repulsa. Vicente Sabino Júnior assegura que qualquer
excesso de defesa corresponde a uma nova ofensa injusta e legitima o
exercício de uma outra legitima defesa.
Quando falamos em excesso não podemos exigir critérios rigorosos
ou medidas incompatíveis com os fenômenos da vivência humana. O que deve
haver é a aplicação de uma lógica razoável, ou seja, o que se espera por
medida de defesa, não podendo haver a expectativa de atingir algo além do
que é esperado.
29
O Direito Civil considera o uso de ofendículos para a segurança do
seu bem, ou do seu patrimônio um direito regular de defesa, pois como já
mencionado anteriormente, o cidadão pode intervir na segurança, na proteção,
no resguardo do seu patrimônio, desde que observe a moderação do seu uso,
pois uma eventual punição dependerá exclusivamente da sua conduta
excessiva, ou seja, dos atos desnecessários ou imoderados, que são utilizados
além do necessário, ultrapassando o que seria indispensável para a defesa.
A natureza do uso com o excesso deve ser analisada caso a caso,
sempre de forma única e individual como podemos analisar no exemplo do
seguinte caso:
“Um proprietário X possuidor de uma horta e cansado de sofrer
furtos, resolve eletrificar a parte interna de onde ficam as hortaliças e não as
cercas que a protegem. Não informando o ato tomado a ninguém, e nem
mesmo colocando placas informando o perigo que podem vir a causar a
qualquer pessoa que pise naquele local no momento que estiverem em
funcionamento, ou seja, liberando energia elétrica dentro dos canteiros”.
Neste caso, se um terceiro, mesmo com a intenção, com a vontade
de furtar algumas hortaliças venha sofrer uma descarga elétrica e com isso
fique inválido ou venha a falecer, não haverá dúvidas em afirmar que houve
uma imprudência do dono da horta, pois o mesmo acabou consentindo o
possível resultado. Assim, entendemos neste caso que, não se retira o direito
de defesa do proprietário em relação ao seu bem, mas o que se leva em
consideração é a desproporção entre o bem que estava prestes a ser lesado e
o modo de reação. Assim, podemos entender que, neste caso existe um
excesso passível de punição.
30
Não se pode utilizar a defesa preventiva de forma
inconsideradamente, o que proporcionará ao terceiro um risco de agressão,
sendo inaceitável a colocação de mecanismos altamente ofensivos em local de
grande movimentação, principalmente de idosos ou crianças. Sendo assim, a
finalidade do ofendículo sofre um desvirtuamento.
Qualquer cidadão pode se valer de medidas preventivas para evitar
uma agressão injusta e inesperada ao seu patrimônio já que o Estado, que tem
o dever de proteger os cidadãos bem como seus patrimônios, não dispõe de
recursos para tal, passando então ao cidadão de bem o direito de resguardar,
de proteger seus bens, suas propriedades.
Ocorre que, na nossa realidade jurídica, não há qualquer legislação
específica que disponha sobre ofendículos, nem de forma indicativa e nem de
forma proibitiva. Assim, a inexistência das normas proibitivas não podem
impedir que o proprietário instale mecanismos que podem ser de diferentes
modos, a fim de defender sua propriedade, desde que o seu uso não venha a
ferir o direito ou por em risco a vida de terceiros. O que existe neste cenário
jurídico são as normas municipais que visam regulamentar administrativamente
as instalações dos mecanismos utilizados, que devem ser sempre voltados à
defesa razoável.
4.1. As Normas Utilizadas para uma Instalação Segura.
A lei autoriza a qualquer indivíduo a instalar artefatos que venham
dar segurança às suas propriedades, como cercas elétricas, cacos de vidros,
etc. Porém, os juristas apesar de entenderem esse uso como um exercício
regular de direito, ditam que, deve existir a observação de alguns cuidados, a
fim de evitar consequências gravosas que podem vir a surgir diante da
31
instalação e do seu uso, o que gerará uma responsabilidade ao proprietário,
cabendo a ele responder judicialmente pelo resultado causado ao terceiro.
Um dos ofendículos mais utilizados são os cacos de vidros cima dos
muros em locais de baixa renda a as cercas elétricas, espalhadas por várias
propriedades em todo o Estado, que possibilitam através de visualização
identificar que a propriedade está gozando de uma forma a mais para sua
segurança, como forma de tentativa de intimidar e impedir a invasão de
terceiros.
No caso dos cacos de vidros a visualização primária já demonstra
que, o indivíduo ao tentar invadir a propriedade pode sofrer um corte raso ou
profundo, já as cercas elétricas, devem possuir a voltagem da corrente elétrica
utilizada razoável, pois tal artefato não deve ter como finalidade a morte ou a
lesão corporal e sim o impedimento de uma suposta invasão, causando a fuga
instantânea do suposto invasor.
A proibição no uso dos ofendículos depende de cada região, porém,
todas as responsabilidades pelo excesso procedem da mesma forma,
responsabilização judicial, que varia o entendimento e a penalização de acordo
com o jurista de cada caso. Vejamos a seguir alguns julgados:
TJ-RS - Recurso Cível 71005276399 RS (TJ-RS)
Data de publicação: 28/01/2015 Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. REPARAÇÃO DE DANO MATERIAL. QUEIMA CENTRAL DE CHOQUE CERCA ELÉTRICA. OSCILAÇÃO DA REDE DE ENERGIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA FORNECEDORA FRENTE AO CONSUMIDOR. DEVER DE INDENIZAR OS DANOS MATERIAIS. A negativa da concessionária em indenizar o autor na via extrajudicial ocorreu
32
em virtude deste ter solicitado a indenização após o conserto da avaria, não negando, no entanto, a ocorrência do evento (oscilação/queda da energia). Tal justificativa, no entanto, não prospera, pois conforme laudo técnico acostado aos autos ficou demonstrado que a avaria foi produzida pela oscilação da energia, além de que necessária a troca do equipamento, pois o avariado não teria conserto. Assim, embora tenha o consumidor solucionado o problema antes do pedido junto à concessionária, o aparelho avariado permaneceu à disposição para vistoria, a qual, no entanto não foi feita pela concessionária. Em sendo a responsabilidade da concessionária pela falha na prestação de serviços objetiva, bem como comprovado o nexo causal entre o fato e o dano, impõe-se à concessionária o dever de indenizar o dano material, o qual restou demonstrado pelo orçamento e nota fiscal trazidos aos autos, na quantia de R$ 760,00. RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Recurso Cível Nº 71005276399, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 27/01/2015).
TJ-MG - Apelação Cível AC 10699090982744001 MG (TJ-
MG)
Data de publicação: 19/08/2013 Ementa: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CERCA ELÉTRICA COLOCADA SEM IDENTIFICAÇÃO. CULPA DO RÉU COMPROVADA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO. 1. É evidente a ocorrência do dano, a culpa do réu, bem como o nexo de causalidade entre a sua conduta e o dano causado ao autor, na medida em que o réu instalou a cerca elétrica em sua propriedade sem respeitar qualquer padrão de segurança para os seres humanos, somente preocupando-se com a invasão de bovinos, tendo, portanto, contribuído com o acidente que vitimou o autor. 2. Para que se modifique em grau de recurso o quantum indenizatório, via de conseqüência modificando a decisão do magistrado que está mais próximo aos acontecimentos e às partes, é necessário que a indenização se mostre manifestamente exagerada ou irrisória, distanciando-se das suas finalidades, o que não se vê na hipótese dos autos. (V.V) EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CERCA ELÉTRICA SEM IDENTIFICAÇÃO - QUEIMADURA EM PARTE DA BARRIGA DO AUTOR - PEQUENA DIMESNÃO - DANO NÃO PROVADO - PEDIDO IMPROCEDENTE. - O fato de ter o requerido deixado de identificar a cerca elétrica instalada em seu terreno, com placas de alerta quanto ao perigo que oferece, apesar de absolutamente reprovável, por si só, não é capaz de gerar o alegado dano moral ao autor da ação, considerando que a queimadura que o acometeu, em parte da barriga, foi de pequena dimensão e não trouxe outras
33
consequências, sequer estéticas, caso em que o pedido deve ser julgado improcedente.
TJ-RS - Apelação Cível AC 70054177795 RS (TJ-RS)
Data de publicação: 14/04/2014 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CHOQUE CERCA ELÉTRICA. O choque elétrico provocou na parte autora dor, mal estar e lesão corporal associada ao evento. O dano moral decorrente é inafastável. Pedido de pensionamento desacolhido. Apelo parcialmente provido. (Apelação Cível Nº 70054177795, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elisa Carpim Corrêa, Julgado em 03/04/2014)
TJ-MG - Apelação Cível AC 10647120050222001 MG (TJ-
MG)
Data de publicação: 23/08/2013 Ementa: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - MORTE DE ANIMAL - DESCARGA ELÉTRICA - CERCA ELETRICA INSTALADA NA PARTE DE DENTRO DA PROPRIEDADE DO RÉU - AUSENTE O DEVER DE INDENIZAR. - Cabe ao autor comprovar os fatos constitutivos de seu direito, demonstrando, suficientemente, a presença dos pressupostos para a responsabilização civil do réu. - Se o conjunto probatório dos autos demonstra claramente que os animais do autor invadiram a propriedade do réu, sendo eletrocutados em uma cerca que foi instalada somente ao redor da casa, e não na divisa entre as propriedades, não há que se falar em dever de indenizar do vizinho. - Recurso não provido.
As citações jurisprudenciais acima mostram que o tema em questão
gera uma grande polêmica doutrinária sobre a sua natureza jurídica, não se
tratando somente de uma discussão doutrinária ou acadêmica, pois as
consequências na prática são consideradas e analisadas caso a caso.
4.2. As Regulamentações Administrativas Acerca do uso dos Ofendículos.
Como já discorrido, não existe legislação federal específica para a
regulamentação do uso dos ofendículos. Contudo, encontramos disposições
34
na ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas que normatizam o
assunto, sendo regulamentadas atualmente por leis municipais.
Podemos citar como um dos exemplos a cerca elétrica, que se
utiliza de diversas denominações, como eletrônica, eletrificada, entre outras.
A utilização das cercas elétricas não é proibida pela nossa
Constituição, disposto no artigo 5º, inciso II, mediante o princípio da legalidade.
Em alguns Estados ou Municípios, a utilização de cacos de vidros
cimentados em cima dos muros foi proibida através de Lei Complementar e por
esse motivo o ideal a ser feito antes de fazer uso desse artefato, é verificar se
sua propriedade estará resguardada por lei para gozar deste tipo de
ofendículo, caso contrário, uma lesão sofrida por terceiros acarretará uma
responsabilidade nos âmbitos civil e penal.
Vejamos um exemplo de Lei Complementar que proíbe o uso de
cacos de vidros:
LC 163/06 ... Art. 743 - É proibido colocar cacos de vidro, nos muros frontais, laterais e fundos. Parágrafo Único - Os proprietários que tenham colocado materiais especificados no caput deste artigo, antes da vigência desta Lei Complementar têm prazo de 3 (três) meses para retirá-los, sob pena de incidirem nas sanções desta Lei Complementar.
9
9 Lei Complementar 163/06 | Lei Complementar nº 163 de 12 de dezembro de 2006.
35
É facultado ao cidadão tudo o que não é proibido pela nossa
Constituição, sendo assim, o uso dos ofendículos está amparado pela Lei
Maior. Existem empresas privadas especializadas em segurança particular,
que se comprometem a instalar mecanismos defensivos para a propriedade do
contratante, baseando-se em legislações municipais para adotar os
parâmetros legais de sua utilização, ou seja, resguardando os limites estritos
de proteção, observando a altura adequada, a voltagem do choque, que deve
ser regulado para que o corpo humano suporte sem que venha a sofrer danos
irreparáveis.
Outro exemplo é o município de Campos do Goytacazes, que entre
outros, regulamentou o uso das cercas elétricas através da Lei 8.372 de 23 de
junho de 2013, que dispõe sobre a instalação, a utilização e o funcionamento
de cercas elétricas destinadas à proteção das propriedades local. A Lei
determina que qualquer instalação deverá ter avaliação e autorização de um
técnico responsável, habilitado junto ao Conselho Regional de Engenharia e
determina ainda que serão padronizadas, sendo instaladas somente em partes
superiores de muros, grades e outros com uma inclinação de 45 graus para
dentro do imóvel e adaptadas a uma altura mínima de 2,20 metros de altura,
adequada assim a uma amperagem que não seja mortal, sendo que o local
deverá possuir placas de advertência em portas ou portões de acesso,
discriminando a corrente elétrica adequada às normas de segurança no caso
de contato humano.
Com esta Lei a fiscalização será feita pela Subsecretaria de Defesa
Social, e poderá no caso de descumprimento, advertir ou multar o responsável
pela propriedade que estiver fazendo gozo de tal mecanismo. Porém os
imóveis que já estiverem se utilizando das cercas, deverão se adequar as
regras, pois a finalidade principal da nova Lei é a proteção da vida humana no
conceito de segurança e de qualidade.
36
Outras localidades também possuem legislações que seguem o
mesmo caminho, regulamentando o uso de tais ofendículos e por esse motivo,
o ideal é que antes de algum cidadão instalar tal mecanismo, procure saber se
existe Lei que o regularize e que utilize dentro dos parâmetros adequados.
O excesso não absorve toda ação, somente o ato que ocasionou
abuso ao repelir a injusta agressão, e sobre tal excesso, nossos Tribunais já se
mostrou a favor através de julgados.
Na verdade, em todas as causas excludentes de ilicitude poderá
ocorrer o excesso, ocorrendo quando seu comportamento em relação a
justificativa ultrapasse os limites legais, onde a condição essencial para a
existência do excesso é a intensificação desnecessária da conduta, onde o
cidadão fez além do que seria necessário para a defesa da sua propriedade,
causando prejuízos ofensivos a honra, a dignidade e principalmente a vida do
agressor.
4.3. Tipos de Excesso.
A possibilidade de punição do excesso no uso pode ser dolosa ou
culposa.
O excesso doloso ocorre quando é feito de forma consciente e
intencional do cidadão que se utiliza de mecanismos que devem ser utilizados
para defesa de forma a produzir danos gravosos à integridade física de
terceiro.
37
Neste caso, podemos dizer que, quando uma pessoa com a
intenção de proteger a sua residência, instala cercas elétricas nos muros. O
risco gerado é na intensidade da descarga elétrica, onde o proprietário pode
escolher a voltagem a ser utilizada, e mesmo sabendo do risco que irá gerar,
ele se dispõe a causar a morte de um terceiro.
Nessa hipótese, a desproporcionalidade entre o bem a ser protegido
e o dano causado ao terceiro resulta o dolo, pois ocorrera um excesso de
limites, onde o proprietário quis um resultado antijurídico, com a intenção e
assumindo o risco desnecessário ou não autorizado legalmente.
O excesso culposo ocorre quando o cidadão com intenção somente
de proteção a propriedade deseja um resultado proporcional, necessário e
autorizado, mas que diante de um comportamento desatento, excede em sua
defesa e acaba gerando um fato criminoso disposto e amparado por Lei.
Qualquer cidadão responderá pelo excesso em sua forma culposa
quando cometer erro inescusável, vencível, isto ocorre quando qualquer
pessoa normal, por meio dos requisitos da culpa (imprudência, negligência e
imperícia), fosse passível de cometer o mesmo erro. O erro inescusável faz
com que o cidadão responda pelo excesso, contudo haverá redução da pena
por tratar-se de modalidade culposa.
Exemplificando, no caso de um cidadão que reside em uma casa
com um quintal grande e com muros altos, mas que para sua segurança
adquire um cão de guarda. No caso de uma criança invadir a residência
38
escalando os muros para vir a pegar uma pipa ou uma bola e acaba por ser
atacada pelo animal, que vem a sofrer lesões corporais, não acarretará ao
dono do imóvel a ser responsabilizado criminalmente, visto que manteve todas
as medidas necessárias para a proteção do seu patrimônio, o que tornou o
erro escusável. Porém, se o animal vem a escapar e avança em uma criança,
subsiste a uma responsabilidade civil a ser discutida.
Podemos concluir então que, os excessos pressupõem uma
excludente de ilicitude, sendo afastada quando o agente intervir de forma
desrespeitosa aos limites impostos por lei, respondendo assim, pelos
resultados advindos pelo abuso e também pelas lesões desnecessárias em
relação ao invasor, suportando desta forma, todos os resultados causados por
de sua conduta, não podendo então alegar a exclusão de ilicitude para gozar
da legítima defesa ou o exercício regular de direito.
4.4. A Defesa Mecânica Predisposta.
Defesa mecânica predisposta possui a mesma finalidade dos
ofendículos, porém, é um aparato oculto destinado à defesa da propriedade ou
de qualquer outro bem jurídico, podendo configurar delitos culposos, pois
alguns deles são instalados imprudentemente e podem gerar trágicas
consequências.
Dentre os exemplos mais comuns estão às eletrificações de
maçanetas e armadilhas que disparam no momento que o invasor consegue
abrir o portão, a porta ou uma das janelas da propriedade, levando geralmente
à morte, o que caracteriza o exercício regular de direito.
39
O cidadão que se resguarda ao uso dos ofendículos para a
proteção do seu bem jurídico ou da sua propriedade se encontra no exercício
regular de um direito, aplicável ainda na hipótese de resultados danosos
produzidos na pessoa do violador. Ao contrário, nas hipóteses de defesa
mecânica predisposta, sempre ocorre o excesso de legítima defesa, e a
maioria das jurisprudências não reconhecem a defesa mecânica predisposta
exatamente por ser aparato oculto, podendo gerar maior risco de lesão a
terceiros inocentes.
Independente do meio utilizado para a proteção do bem jurídico,
nunca pode ocorrer o excesso, ou seja, a desproporcionalidade no seu uso,
pois não podemos sacrificar a vida de ninguém. A desproporcionalidade e a
falta de moderação são patentes e evidentes. De qualquer modo, se a cerca
elétrica ou a defesa mecânica for colocada de forma regular, sem excesso, e
com as todas as precauções, não há elaboração de risco proibido, mesmo que
venha ocorrer o falecimento de alguém, não há tipicidade material. Não há
risco proibido.
A questão fica complicada quando há excesso, ou seja, alta
potência não permitida e autorizada pelo dono do patrimônio ou do bem
jurídico, como a armadilha mortal feita com ratoeira, primeiro o caso do
trabalhador rural de Formosa-GO, que predispôs a armadilha e matou um
suposto ladrão, com dois projéteis no peito, em julho de 2011.10
, outro caso
mais recente foi de um adolescente, que morreu após ser baleado por
armadilha no Agreste da Paraíba, a armadilha disparou tiro de calibre 12 no
tórax do jovem, que tinha 13 anos que segundo polícia, vítima entrou em
10
Reportagem do jornal nos anexos. http://oglobo.globo.com/ - 15/07/2011 0:00 / atualizado 03/11/2011
18:40.
40
garagem que estava trancada11
. Todos os casos acima citados foram reais, os
mesmos foram reportagens de diversos meios de comunicação à época.
11
Reportagem do jornal nos anexos. http://g1.globo.com/ - 10/04/2016 10h54 - Atualizado em
10/04/2016 15h37.
41
CONCLUSÃO
Concluímos com essa pesquisa que qualquer bem jurídico pode ser
posto sob a proteção do uso de ofendículos e não só o patrimônio.
A prática de uma conduta prevista em lei como crime e o simples
fato de instalar o aparato não tem o condão de configurar um ilícito penal se ao
menos não causar dano ao bem jurídico de alguém.
Podemos dizer que a utilização de ofendículos na propriedade de
um indivíduo não passaria de um mero exercício de um direito social, valendo
dizer que esta conduta seria equivalente a qualquer outra levada a efeito para
buscar segurança, como o simples ato de trancar as portas e as janelas da sua
residência para evitar que bandidos adentrem no local.
Portanto, entendemos que a hipótese soluciona-se no âmbito do
exercício regular do direito de instalar, porém com moderação por meio da
proporcionalidade os mecanismos para sua segurança. Assim, se a instalação
funcionar de forma defensiva, alertando do perigo da alta voltagem da cerca
elétrica, do cão bravo ou do poder cortante dos objetos colocados acima do
muro, o morador da residência estará justificado. Desse modo, aquele que
violar o bem protegido já está consciente das possíveis consequências, agindo
assim o agente ofendido de boa-fé, o que lhe assegura uma excludente de
ilicitude. Do contrário, não cabe exercício regular do direito.
O eventual dano, a lesão sofrida pelo agressor só deve ser atribuída
à conduta dele próprio, não à do titular do bem jurídico protegido, pois o
42
ofendículo não irá atuar senão com o decorrer da própria ação de um suposto
agressor ou atacante.
Para tanto, faz-se necessário um projeto de lei federal para que
venha regular e fiscalizar o uso dos ofendículos no todo, com o intuito de
conter o excesso e melhor administrar a segurança dos indivíduos, dos
cidadãos deste país, com o intuito de evitar que terceiros inocentes venham a
ser prejudicados, prevalecendo assim a primazia do interesse público, ou seja,
da sociedade.
43
BIBLIOGRAFIA
ABNT. Apresentação de relatórios técnico-científicos. Rio de Janeiro, 2001.
ABNT. Referências Bibliográficas. Rio de Janeiro, 2001.
ABNT. Apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, 2001.
BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal, parte geral: v.1. 5 ed.
Revista e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2006.
BÍBLIA DA MULHER de Fé/organização de Mary Graham, Christie Barnes;
(tradução de Marcus Aurélio de Castro Braga)-Rio de Janeiro: Thomas Nelson
Brasil, 2012.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1999.
BRUNO, Aníbal. Direito Penal – parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1, parte geral - 15. ed. -
São Paulo: Saraiva, 2011.
CÓDIGO PENAL BRASILEIRO.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Rio de Janeiro: Impetus, 2009.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal - Parte Geral, 1º vol., 25ª ed., São Paulo:
ed. Saraiva, 2005.
SITES CONSULTADOS:
Reportagem do jornal nos anexos. http://oglobo.globo.com/ - 15/07/2011 0:00 /
atualizado 03/11/2011 18:40.
44
Reportagem do jornal nos anexos. http://g1.globo.com/ - 10/04/2016 10h54 -
Atualizado em 10/04/2016 15h37.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jus_puniendi
Lei Complementar 163/06 | Lei Complementar nº 163 de 12 de dezembro de
2006.
45
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 01
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I
OFENDÍCULOS 11 1.1. Conceito 12 1.2. Natureza Jurídica 13
CAPÍTULO II
ORIGEM E BREVE RELATO ACERCA DA EVOLUÇÃO DOS ARTEFATOS (OFENDÍCULOS) COMO MEIO DE DEFESA NAS COMUNIDADES/PROPRIEDADES 18
CAPÍTULO III
O USO DOS OFENDÍCULOS NO INSITUTO DO EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO E NO DA LEGÍTIMA DEFESA 24
CAPÍTULO IV
UTILIZAÇÃO DOS OFENDÍCULOS “FORMA RESPONSÁVEL OU EXCESSO?” 28 4.1. As Normas Utilizadas para instalação Segura 30 4.2. As Regulamentações Administrativas acerca do uso dos ofendículos 34 4.3. Tipos de Excesso 36 4.4. A Defesa Mecânica Predisposta 38
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA 43
ANEXOS 46
46
ANEXOS
Seringas e ofendículos
Postado por Ana Cláudia Lucas (imagem do site G1 – 23 de agosto)
“Uma notícia publicada no site G1 me foi enviada pelo aluno Renê Johann Jr, via twitter.
A matéria jornalística diz que o protesto de uma médica no condomínio RK, na cidade de
Sobradinho, a 22 Km de Brasília, impressionou os vizinhos.
Cansada de ser vítima de furtos e/ou roubos, ela fixou „seringas‟ na grade de casa, sobre o
muro, e escreveu um cartaz dizendo: „Muro com sangue HIV positivo‟ – não pule‟.
Segundo a médica, ela já teve subtraído de sua residência cortador de grama, secador de
cabelos, máquinas fotográficas e, da última vez, os ladrões levaram uma televisão tela plana.
A moradora foi notificada pelo condomínio, através do síndico, para retirar o material de cima
do muro. Além disso, o presidente do Conselho Regional de Medicina também condenou a
conduta da médica.
A notícia pode ser um exemplo, ainda que inusitado, de offendiculas? Boa questão para
reflexão.”
47
Ladrão tenta cortar cerca elétrica com alicate e morre eletrocutado
Casa tinha sido roubada várias vezes pelo mesmo homem, diz
polícia.
Dono instalou energia elétrica em uma cerca comum, em Luziânia,
GO. Do G1 GO com informações da TV Anhanguera
Um homem de 28 anos morreu eletrocutado ao tentar cortar com um alicate a cerca
elétrica de uma casa, em Luziânia, cidade goiana no Entorno de Brasília, na terça-
feira (5).
De acordo com a Polícia Militar, ele teria assaltado o local várias vezes e ia praticar o
crime novamente quando foi surpreendido pela descarga elétrica.
O dono da casa contou aos policiais que decidiu proteger a casa com a cerca
improvisada por não aguentar mais ser roubado pelo rapaz. “O proprietário da casa
colocou energia na cerca, que antes era comum”, afirmou o soldado Samuel Oliveira.
Os vizinhos informaram à polícia que a vítima era usuário de drogas e praticava furtos
na região constantemente.
48
Armadilha com ratoeira mata suposto ladrão. Isso é permitido? 10/04/2016 10h54 - Atualizado em 10/04/2016 15h37 Adolescente morre após ser baleado por armadilha no Agreste da Paraíba Armadilha disparou tiro de calibre 12 no tórax do jovem, que tinha 13 anos. Segundo polícia, vítima entrou em garagem que estava trancada. Do G1 PB FACEBOOK Adolescente entrou em prédio abandonado por brecha no portão (Foto: Volney Andrade/TV Cabo Branco) Adolescente entrou em prédio abandonado por brecha no portão (Foto: Volney Andrade/TV Cabo Branco) Um adolescente de 13 anos morreu no início da noite de sábado (9) após ativar uma armadilha que desferiu um tiro de espingarda calibre 12 em sítio na zona rural da cidade de Araruna, no Agreste paraibano. Conforme informações do relatório da Central Integrada de Operações Policiais (Ciop), a armadilha tinha sido instalada dentro de um prédio abandonado em sítio vizinho ao que o adolescente morava com a família. Ainda de acordo com a polícia, a vítima e um outro adolescente tinham ido até a área para dar ração e água aos cavalos. Após o serviço, a vítima passou por uma brecha entre o portão de uma garagem, que estava fechada, e a parede. Ao entrar no quarto, o jovem ativou a armadilha e sofreu um tiro na região do tórax. Ele chegou a ser socorrido pelos parentes e atendido por uma equipe do Samu, mas não resistiu aos ferimentos e morreu antes de ser encaminhado para um hospital. saiba mais Menino é ferido com tiro no pescoço e morre na grande João Pessoa Estudante entra armado em escola na PB e arma dispara na mochila Homem diz que atirou acidentalmente em esposa e foge na Paraíba Aroldo Pereira, amigo da família do adolescente morto pela armadilha, comentou que o sepultamento do jovem deve ocorrer na tarde deste domingo (10), na cidade de Araruna. “Pelo que contaram, ele entrou em um buraco na parede desse quarto. O rapaz que estava com ele ouviu o barulho de tiro. Quando correu, viu o adolescente saindo do buraco dizendo que ia morrer”, detalhou o amigo do pai da vítima. A armadilha artesanal, conforme relatório do Ciop, foi produzida com uma ratoeira, fios de nylon e um cano de ferro, onde ficava instalado o cartucho de espingarda calibre 12. Ainda de acordo com a polícia, a garagem, onde a armadilha tinha sido instalada, estava trancada com uma corrente e um cadeado no portão. A polícia realizou buscas para localizar o proprietário do sítio, mas até o início da manhã ele não havia sido localizado. Prédio em que o jovem foi baleado está abandonado, segundo moradores do local (Foto: Volney Andrade/TV Cabo Branco) Prédio em que o jovem foi baleado está abandonado, segundo moradores do local (Foto: Volney Andrade/TV Cabo Branco)
49
POR BOM DIA BRASIL / / / 15/07/2011 0:00 / ATUALIZADO 03/11/2011 18:40
PUBLICIDADE
SÃO PAULO - Cansado de ter a casa invadida pelo mesmo bandido, na cidade de Formosa, em Goiás, a 75 quilômetros do centro de Brasília, José Geraldo Souza, de 32 anos, montou uma armadilha para o assaltante. Ele usou fios, uma ratoeira, um cano, pólvora e munição utilizada em espingarda e armou o 'artefato' sobre a mesa da cozinha. Quando o criminoso, identificado como Jeferson Evangelista, de 32 anos, invadiu a residência na última quarta-feira, pela porta da cozinha, a armadilha disparou, ele levou um tiro no peito e morreu na hora.
Souza foi indiciado por homicídio doloso. Ele pagou fiança, responderá ao processo em liberdade, mas pode pegar até 30 anos de prisão, caso seja condenado.
- Ele exagerou.Quando o bandido invadiu a casa, a ratoeira desarmou e fez os cartuchos dispararem no peito do ladrão - disse a delegada Renata Machado.
José Geraldo alegou que costuma viajar frequentemente e sua casa já tinha sido invadida pelo menos nove vezes.
Um vizinho de José Geraldo viu o ladrão chegando de bicicleta, ligou para o dono da casa, que pediu que ele chamasse a polícia.
- Quando os policiais chegaram, o bandido já estava morto com um tiro no peito - contou o mecânico Júlio Pereira.
PUBLICIDADE
Advogados dizem que o dono da casa pode alegar legítima defesa.
- Mas ele sabia que a arma era letal - diz a delegada.
José Geraldo também foi indiciado por porte ilegal de arma.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/em-goias-
ladrao-que-invadiu-casa-morre-com-tiro-no-peito-ao-acionar-armadilha-
2715366#ixzz4DBeQU0qp
© 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e
Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por
broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.