documento protegido pela leide direito autoral · 2016. 10. 11. · de especialista em...

38
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES SOCIAIS E FAMILIARES E SUA INTERFERÊNCIA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO MONICA BANDEIRA DE MOURA ALVES ORIENTADOR: Prof. Solange Monteiro Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

Upload: others

Post on 24-Oct-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES SOCIAIS E FAMILIARES E

SUA INTERFERÊNCIA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

MONICA BANDEIRA DE MOURA ALVES

ORIENTADOR: Prof. Solange Monteiro

Rio de Janeiro 2016

DOCUMENTO P

ROTEGID

O PELA

LEID

E DIR

EITO A

UTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Monica Bandeira de Moura Alves

A AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES SOCIAIS E FAMILIARES E

SUA INTERFERÊNCIA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Rio de Janeiro 2016

Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

3

AGRADECIMENTOS

Agradecer é admitir que houve um momento em

que se precisou de alguém, é reconhecer que o

homem jamais poderá lograr para dentro de si o

dom de ser auto-suficiente.

Agradeço a todos que de forma direta e indireta

colaboraram para a realização deste sonho.

Aos professores que passaram por nossas vidas

deixando marcas, palavras de incentivo, olhares

de apoio. Mais que professores tornaram-se

amigos.

À minha orientadora, Solange Monteiro, pelo

auxílio e encorajamento.

Aos amigos, que compartilharam comigo

felicidades e tristezas durante este ano.

Aos amigos de trabalho que através do apoio e

incentivo me ajudaram a vencer essa etapa.

À minha irmã, à minha discipuladora e ao meu

grupo de discipulado por tantas orações.

Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus que

foi a minha força nos momentos difíceis durante o

percurso, que por misericórdia me fez romper o

medo e a insegurança, me deu sabedoria, vida e

força para chegar até aqui. A Ele toda honra e

toda a glória!

E ainda de forma muito especial, ao grande amor

da minha vida, meu esposo, Gilberto Alves Júnior,

que foi meu cúmplice em cada trabalho, cada

apresentação, incansavelmente esteve ao meu

lado e com muita paciência suportou toda a minha

histeria, sem ele eu não teria conseguido.

Aos meus filhos, Thiago e Marcos Filipe, que

ainda tão pequenos tiveram que compreender

cada vez que tive de renunciar e sacrificar

momentos de lazer com eles para concluir

trabalhos...

E finalmente aos meus pais, Edmar e Alda que

são o meu exemplo de persistência e superação.

Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

5

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo despertar profissionais da

educação e familiares sobre a importância da afetividade no processo de

aprendizagem do aluno, especialmente na alfabetização, onde podem surgir

diversos obstáculos que obstruem o desenvolvimento acadêmico. Outro

aspecto que rege este trabalho é conscientizar sobre a relevância do olhar

peculiar do psicopedagogo na escola e sua atuação como mediador na busca

de uma aprendizagem mais significativa.

Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para realização deste estudo caracteriza-se

por uma pesquisa bibliográfica que reuniu diversas literaturas, revistas, artigos

e sites eletrônicos que fundamentaram este trabalho.

Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Algumas considerações sobre afetividade 11

CAPÍTULO II

Principais dificuldades apresentadas no processo de leitura e escrita 18

CAPÍTULO III

A atuação do psicopedagogo no processo ensino aprendizagem 27

CONCLUSÃO 34

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 38

Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

8

INTRODUÇÃO

Este projeto tem como assunto a afetividade, por ser essa, alvo de

inúmeros estudos que visam provar que a criança, desde recém-nascida,

depende de estímulos e que a ausência de afeto traz sérios danos ao seu

desenvolvimento emocional e cognitivo. O tema a seguir abordará o olhar do

Psicopedagogo sobre a afetividade nas relações sociais e familiares.

A alfabetização é, sem duvida, um período de muita importância na

vida escolar de uma criança. É preciso deixar os brinquedos de lado e

preocupar-se com os cadernos, alguns pais estão ansiosos para verem seus

filhos lendo e escrevendo, outros não demonstram interesse pela vida escolar

dos mesmos e o professor tem pressa para ver os resultados do seu trabalho.

É um ano de muitas cobranças. A transição da educação infantil para o ensino

fundamental é muito significativa para a criança e necessita ser feita com muita

afetividade por parte do professor, dos pais e familiares, caso contrário, uma

série de dificuldades pode surgir no processo de alfabetização. E essa tarefa

se torna cada vez mais difícil visto que a sociedade vive um verdadeiro caos

nos relacionamentos. Valores importantes como família e respeito estão sendo

minados dia após dia. Atualmente o modelo tradicional de família assumiu

novas formas. A evolução social trouxe alterações diretas ao núcleo familiar e

ao conceito família, regulamentando e reconhecendo novas concepções da

mesma. A família tradicional patriarcal do início do século passado tinha uma

visão extrema, onde a dissolução do casamento era vetada e a chefia destas

famílias era do marido. Hoje temos a família monoparental composta por mães

solteiras, mães divorciadas, filhos criados apenas pelo pai, filhos criados pelos

avós, filhos que vivem com um dos pais e sua nova família, filhos de uniões

homoafetivas... Toda essa mudança não para por aí. Hoje a mulher necessita

trabalhar para ajudar no sustento da casa ou ser mesmo a única provedora do

lar. E quem cuida de seus filhos? Quem os educa? Quem auxilia nas lições de

casa?

Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

9

Toda essa transformação acaba por se refletir na escola atingindo a

todos, não importando a faixa etária e nem mesmo a classe social. Dessa

forma foi se atribuindo à escola algo que é de responsabilidade da família,

espera-se que a escola cuide e supra a necessidade de afeto que a criança

deveria receber em casa. Muitas das dificuldades encontradas hoje, em sala de

aula, são resultados da desestruturação familiar que fatalmente ocasiona a

falta de afetividade nas relações familiares e sociais.

Na tentativa de amenizar sua culpa, os pais se enganam e cometem

vários outros erros: Existe uma falsa idéia de que a criança se satisfaz

realizando várias tarefas. Logo eles pensam: “Quanto mais eu ocupar o tempo

dele menos ele sentirá minha falta...” Buscam então escolas de turno integral,

balé, futebol, judô, natação, aula de inglês, etc.

Outro erro é acreditar que os presentes irão preencher a

necessidade de afeto da criança, mas eles só servem para aliviar a consciência

dos pais. A criança não necessita de brinquedos caros ou de eletrônicos de

última geração e sim de presença e atenção. O que eles querem é brincar com

os pais, correr na praça e se lambuzar tomando sorvete.

As crianças possuem dificuldades para expressar seus sentimentos

com clareza, mas de alguma forma e em algum momento, elas irão fazê-lo.

Tentarão de algum modo dizer “Ei! Alguém pode me ver? Estou Aqui!!! Preciso

da sua atenção!!!” E normalmente isso acontece na escola. Indisciplina,

agressividade, falta de interesse, falta de concentração... Muitos

comportamentos nada tem haver com o clínico e sim com a afetividade e

família.

Este projeto segue a linha de pesquisa da construção e diversidade

de saberes: cultura e desenvolvimento pessoal. As constatações acima

apresentadas nos remetem à seguinte reflexão: O olhar do Psicopedagogo

sobre a afetividade nas relações sociais e familiares pode auxiliar no

processo ensino-aprendizagem?

Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

10

Compreender a importância da afetividade no processo de

alfabetização. Investigar de que maneira a falta de afetividade gera dificuldade

na aprendizagem. Esclarecer o papel do Psicopedagogo na instituição escolar.

Enumerar as principais dificuldades apresentadas na alfabetização. São os

objetivos desse trabalho.

Para que haja um desenvolvimento pleno e saudável na criança é

preciso considerar várias questões, a afetividade é uma delas. A relação de

afetividade que a família e o professor estabelecem com o aluno irá interferir de

forma positiva ou negativa no seu processo de alfabetização?

A escolha do tema afetividade se deve à experiência pessoal que

tive ao observar a relação familiar nas minhas turmas de alfabetização. A cada

ano, me deparei com a mesma situação: Pais com sentimentos confusos e

totalmente perdidos a respeito da educação dos filhos! Alguns são super

protetores, outros são permissivos, e tem ainda aqueles que erram por cobrar

demasiadamente.

De um lado temos pais inseguros, do outro, professores estafados

com uma turma superlotada e certos de que não vão resolver todos os

problemas do mundo.

Ciente de que o primeiro ano escolar será de grande importância

para o desenvolvimento acadêmico do aluno, passei a observar as orientações,

estímulos e afeto oferecidos aos mesmos por seus familiares e professores.

Realizei o presente projeto com o objetivo de compreender melhor a influência

da afetividade no processo de alfabetização.

Num primeiro momento, trataremos de algumas considerações

sobre afetividade na proposta de Henri Wallon, Jean Piaget e Vygotsky. No

capitulo 2 apresentaremos as principais dificuldades no processo de

construção da leitura e escrita. E por último, falaremos da atuação do

psicopedagogo auxiliando no processo de aprendizagem.

Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

11

CAPÍTULO I

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AFETIVIDADE

Para compreender o processo de desenvolvimento afetivo será

abordado, primeiramente, como ocorre o desenvolvimento do conhecimento

humano nas perspectivas de alguns teóricos. Veremos a seguir o conceito de

afetividade na proposta de Jean Piaget, Vygotsky e Henry Wallon.

1.1 Jean Piaget, Epistemologia genética

De acordo com o artigo de Vera Maria Ramos de Vasconcellos,

Faculdade de Educação - UFRJ, para Piaget, o desenvolvimento cognitivo

ocorre através da interação do sujeito com o meio, a partir das estruturas que o

sujeito já possui. Ou seja, através de auto-regulação. Podemos entender o

meio aqui como um brinquedo, um livro ou um amiguinho.

Em sua teoria, Piaget diz que o processo de aprendizagem acontece

da seguinte forma: o sujeito assimila (contato com o mundo exterior), acomoda

(acionamento dos esquemas) e adapta, criando novos esquemas para serem

utilizados em aprendizagens posteriores. Para Piaget, a maturação biológica é

o principal fator para que ocorra a aprendizagem, sendo a interação social um

fator secundário.

Segundo Taille (1992), no livro Teorias psicogenéticas em

discurssão, Piaget costuma ser criticado por “desprezar” o papel dos fatores

sociais no desenvolvimento humano. Porém o que ocorreu foi que Piaget não

se aprofundou de fato nesta questão, estudando tão somente a interação social

do ponto de vista do desenvolvimento da inteligência. Para melhor

compreensão, se faz necessário ver a definição de Piaget acerca do homem

como um ser social:

O homem normal não é social da mesma maneira aos seis meses ou aos vinte anos de idade, e, por conseguinte, sua individualidade não pode ser da mesma qualidade nesses dois diferentes níveis. (PIAGET 1977 apud TAILLE 1992 p.12)

Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

12

Piaget entende que o homem somente é um ser social quando há

uma qualidade de troca intelectual e quando tal troca atinge o equilíbrio. Como

resultado de vários anos de pesquisa, Piaget tornou-se o primeiro a formular

uma teoria coerente e explicativa sobre os estágios do desenvolvimento

psicogenético da inteligência humana. Sua teoria depende de quatro

elementos:

1- Maturação do sistema nervoso;

2- Experiências físicas e lógico-matemáticas;

3- Transição social;

4- Equilibração das estruturas cognitivas.

1.1.1 Estágios do desenvolvimento

• Sensório-motor: (0 a 2 anos). A criança busca adquirir coordenação

motora e aprender sobre os objetos que a rodeiam. Período em que a

criança capta o mundo pelas sensações.

• Pré-operatório: (3 a 7 anos). A criança adquire a habilidade verbal e

simbólica. Nesse estágio, ela começa a nomear objetos e raciocinar

intuitivamente, mas ainda não consegue realizar operações

propriamente lógicas.

• Operatório concreto: (8 a 12 anos). A criança começa a formar conceitos

como os de número e classes. Possui lógica consistente e habilidade de

solucionar problemas concretos.

• Operatório formal: (12 em diante). O adolescente começa a raciocinar de

forma lógica com hipóteses.

No estágio sensório-motor não há uma real socialização da

inteligência, como afirma Piaget, é somente na fase pré-operatória, a partir da

aquisição da linguagem, que se iniciará uma socialização efetiva da

inteligência, com algumas limitações devido à incapacidade de aderir a uma

escala comum de referência, condição necessária ao verdadeiro diálogo; isso

ocorre devido ao fato de a criança ainda não conservar suas definições durante

a conversa; e de ter extrema dificuldade em se colocar no ponto de vista do

Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

13

outro, o que caracteriza o pensamento egocêntrico como definiu Piaget.

1.1.2 O Desenvolvimento do Juízo Moral e a

Afetividade na teoria de Jean Piaget

Emannuelle Oliveira, em seu artigo: Desenvolvimento afetivo na

criança, diz que para Piaget, a afetividade não se restringe somente às

emoções e sentimentos e, como toda conduta, tem como objetivo a adaptação,

pois o desequilíbrio reflete uma impressão afetiva particular e a consciência da

necessidade. Para ele, as noções de equilíbrio e desequilíbrio tem um

significado essencial no ponto de vista afetivo e cognitivo, levando-o a refletir

sobre os processos de assimilação e acomodação afetivas. Tendo a

assimilação o interesse principal no “eu” e a compreensão do objeto como tal, e

a acomodação é o interesse relativo e o ajuste dos esquemas do pensamento

aos objetos.

Piaget apud Taille (1992) faz um comentário sobre o eixo principal

das idéias no seu livro Juízo Moral, acerca da concepção da relação entre

afetividade e cognição). Dizendo que o desenvolvimento humano acontece na

medida em que a criança desenvolve o seu juízo moral (evolução da prática e

da consciência de regras) que se dividem em três etapas:

• Anomia: Crianças de até cinco anos não seguem regras coletivas.

• Heteronomia: A criança entre nove e dez anos, em média, obedece, mas

não assimilou ainda o sentido da existência de regras. Esta fase se

denomina realismo moral e se caracteriza pela obediência da criança às

regras impostas pelo adulto ao pé da letra, fazendo um julgamento das

consequências dos atos e não da intenção.

• Autonomia: Compreensão da razão das regras. Superação do realismo

moral.

O ingresso da criança no universo moral certamente se dá pela aprendizagem de diversos deveres a ela impostos pelos pais e adultos em geral: não mentir, não pegar as coisas dos outros, não falar palavrão, etc. (TAILLE,1992 p. 51)

Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

14

1.2 Henri Wallon, a afetividade e a construção do sujeito

Segundo artigo publicado na revista Nova Escola, Henri Wallon foi o

teórico que mais se aprofundou nos estudos sobre afetividade. Em sua teoria,

defende que ela é um dos aspectos centrais no desenvolvimento da criança,

mas não atua sozinha. É necessária a atuação de forma integrada das

dimensões motora, afetiva e cognitiva. Wallon defende ainda que o

desenvolvimento depende tanto da capacidade do sujeito como do meio que o

afeta.

A criança em desenvolvimento passa por diferentes fases

comportamentais denominadas por Wallon como:

• Impulsivo-emocional (0 a 1 ano) - Nessa fase a função que predomina é

a afetividade. Segundo Dér (2004), a criança é ser afetivo desde o

nascimento, quando estabelece um laço de afetividade com a mãe por

ela satisfazer suas necessidades promovendo-lhe uma agradável

sensação de bem estar.

Ao nascer, a criança não se percebe como individuo diferenciado dos demais. Ela se encontra ligada ao seu meio ambiente, particularmente à mãe, por meio de uma íntima relação, estabelecida ainda na fase uterina, denominada por Wallon (1975) simbiose fisiológica. (DÉR, 2004, p. 63)

• Sensório motor e projetivo (1 a 3 anos) - A inteligência prepondera.

Conforme Dér (2004), nessa fase as relações recíprocas entre as

crianças já evoluíram. Buscam amigos para brincar, imitam, utilizam os

mesmos brinquedos e são capazes de realizar uma mesma tarefa. Por

volta dos dois anos são capazes de efetuar trocas, interrogam e julgam

as condutas dos amigos.

• Personalismo; (3 a 6 anos) - O estágio do personalismo consiste na

“necessidade que a criança tem de reconhecer a sua existência e de

sentir sua própria independência em relação ao outro” como explica

DÉR, (2004). Esta fase é bastante egocêntrica, nela a criança vive três

etapas: fase da oposição, sedução e imitação em que está muito

Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

15

acentuada a exteriorização, expansão do eu e confronto eu-outro. De

acordo com Dantas (1992):

É este drama que ocupa dominantemente o quarto, o quinto e o sexto ano, numa sucessão de manifestações que vão desde a rebeldia e o negativismo em estado quase puro, à sedução do outro e depois à sua imitação. (DANTAS, 1992, p. 95)

• Categorial (6 a 11 anos) - Por volta dos 6 ou 7 anos o exercício social

permite à criança tomar consciência de sua personalidade polivalente.

• Puberdade e adolescência (11 em diante) - Uma crise se instala na

criança por volta dos onze anos, marcando o início da adolescência.

Fazendo-a experimentar profundas transformações, que a torna repleta

de sentimentos e atitudes ambivalentes, conforme afirma DÉR (2004).

As idéias de Wallon estão fundamentadas em quatro elementos: a

afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa.

• Afetividade: São funções responsáveis pelas emoções (ativação

fisiológica), sentimentos (ativação representativa) e paixão (ativação do

auto controle).

• Movimento: Refere-se à possibilidade de deslocar-se no tempo e no

espaço e ao equilíbrio corporal.

• Inteligência: Funções voltadas para o desenvolvimento cognitivo.

A formação do eu como pessoa representa a integração de todas as

funções. Dantas (1992), diz que o ser humano é afetivo desde o seu

nascimento e que “A afetividade e a inteligência estão sincreticamente

misturadas, com o predomínio da primeira”. Segundo a autora, a afetividade

passa por três grandes momentos: Afetividade emocional ou tônica; afetividade

simbólica e afetividade categorial. O primeiro diz respeito a manifestações

somáticas de pura emoção, onde as trocas afetivas dependem da presença do

outro. Num segundo momento, após a construção simbólica há um ajuste fino

Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

16

na comunicação afetiva e no terceiro e último momento da construção da

afetividade ocorre exigências racionais às relações afetivas. Para Dantas

(1992), a construção do sujeito se faz pela interação com o objeto por meio da

integração entre inteligência e afetividade.

1.3 Vygotsky e a afetividade no processo de desenvolvimento

social da criança.

Teresa Rego (2012), professora da Faculdade de Educação

Universitária de São Paulo, em artigo publicado na Revista Nova Escola, diz

que Vygotsky atribuía “um papel predominante às relações sociais nesse

processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento

é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo”. Segundo a autora,

Vygotsky se opõe teoricamente ao biólogo Jean Piaget que atribuiu mais

importância aos processos internos do que aos interpessoais. A teoria

Vygotskiana, enfatiza a relação do homem e o seu meio. “Na ausência do

outro, o homem não se constrói homem”, escreveu o psicólogo. Para o autor a

formação ocorre de forma dialética entre sujeito e sociedade, onde o homem

modifica o meio e o meio modifica o homem.

Segundo Oliveira (1992), a teoria de Vygotsky acerca da afetividade

é fundamentada na indissolução de quaisquer dimensões humanas como

corpo/alma, mente/alma, material/não-material, pensamento/linguagem e

cognitivo/afetivo. “A separação do intelecto e do afeto, diz Vygotsky, enquanto

objetos de estudo, é uma das principais deficiências da psicologia tradicional.”

Vygotsky utilizou termos como “funções mentais” e “consciência” quando se

referiu a processos como pensamentos, memória, percepção e atenção.

Vygotsky fez ainda uma distinção entre funções mentais básicas (reflexos) e

funções mentais superiores (atenção voluntária e memória). Em sua concepção

não há como compreendê-las separadamente, sua essência é serem inter-

relacionadas com outras funções. Um dos principais conceitos da teoria de

Vygotsky é o da zona de desenvolvimento proximal e zona de desenvolvimento

real. Segundo sua teoria sobre zona de desenvolvimento, as crianças são

diferentes, pois possuem ritmos diferentes uma das outras, tendo, portanto

Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

17

maneiras e tempos particulares que tornam seu aprendizado individual.

Perceber os alunos como possuidores de habilidades distintas, facilita o

processo de desenvolvimento infantil que segundo o teórico constitui-se em

dois pontos:

• Zona de Desenvolvimento Real: Engloba as habilidades e

conhecimentos adquiridos pela criança. Ou seja, o que ela conseguiu

fazer sozinha.

• Zona de Desenvolvimento Proximal: Onde com o auxílio de um

mediador, a criança avança em seus conhecimentos e capacidades.

Segundo Vygotsky “a zona proximal de hoje será o nível de

desenvolvimento real amanhã”.

Ainda segundo, Oliveira (1992), na teoria Vygotskyana o

aprendizado antecede o desenvolvimento. Para ele, a criança aprende ao

interagir com o meio social que se constitui por um colega ou professor que

atua como um facilitador, para somente após a aprendizagem (social)

ocorrer o desenvolvimento (biológico).

Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

18

CAPITULO II

PRINCIPAIS DIFICULDADES APRESENTADAS NO PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA

É cada vez mais comum a queixa e o relato de pais e professores a

cerca da dificuldade de aprendizado das crianças.

A aprendizagem, segundo Topczewski (2000) é a capacidade que o

individuo tem de perceber, conhecer, compreender e reter na memória as

informações obtidas. O aprendizado necessita de estruturas cerebrais íntegras

e devidamente maduras, entretanto somente isso não é suficiente, é

necessário a integração cerebral com outras áreas, como a visual, auditiva e

motora para que o aprendizado desejado ocorra com sucesso. É possível

observar ao longo das décadas a dificuldade que as crianças tem no processo

de alfabetização. As estatísticas que vem sendo apresentadas anualmente

pelas Secretarias Estaduais de Educação indicam que não houve progresso

segundo nota da autora.

Pode-se dizer que, nesse inicio de século XXI, o problema permanece; a diferença é apenas que, hoje, os alunos não rompem a barreira do 1º ciclo, que substituiu a 1ª serie como etapa de alfabetização, ou, no caso de sistemas que optaram pela progressão continuada, passam ao ciclo seguinte ainda não alfabetizados.( SOARES, 2013 p.14)

As causas dessas dificuldades estão relacionadas a uma pluralidade

de enfoques:

• Problemas com os alunos, questões de saúde, psicológica ou de

linguagem;

• Contexto cultural do aluno, ambiente familiar e vivências socioculturais;

• Incompetência profissional do professor, formação inadequada;

• Métodos ineficientes;

Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

19

• Material didático inadequado às experiências e interesses das crianças;

• Sistema fonológico e ortográfico da língua portuguesa.

O processo de alfabetização tem sido alvo de estudo de

especialistas de diversas áreas, segundo perspectivas psicológicas,

psicolinguísticas, sociolinguisticas e propriamente linguísticas. Sendo a

primeira predominante sobre as demais.

Segundo Soares (2013), essa perspectiva foi dominante pela ênfase

nas relações entre inteligência (QI) e alfabetização, e nas relações entre os

aspectos fisiológicos e neurológicos e os aspectos psicológicos da

alfabetização.

Para compreendermos melhor tais dificuldades, faz-se necessário

conceituarmos o termo alfabetização. A alfabetização em seu sentido próprio,

especifico, é o processo de representação de fonemas em grafemas (aquisição

da escrita) e de grafemas em fonemas (aquisição da leitura).

Definições de alguns distúrbios de acordo com o Centro de Apoio do

Departamento Psicopedagógico:

• DISLEXIA : É importante saber que a dislexia não é uma doença,

senão um distúrbio genético e neurobiológico que nada tem a ver com

preguiça, falta de atenção ou má alfabetização. O que ocorre é uma

desordem no caminho das informações, o que inibe o processo de

entendimento das letras e, por sua vez, pode comprometer a escrita. É

claro que os sintomas da dislexia variam de acordo com os diferentes

graus do transtorno, mas a pessoa tem dificuldade para decodificar as

letras do alfabeto e tudo o que é relacionado à leitura. O disléxico não

consegue associar o símbolo gráfico e as letras ao som que eles

representam. Podem confundir direita com esquerda, no sentido

espacial, ou escrever de forma invertida, ao invés de “vovó”, “ovóv”,

“topa” por “pato”. A dislexia também gera a omissão de sílabas ou letras

como “transorno” para “transtorno”, até mesmo a confusão de palavras

com grafia similar, por exemplo, n-u, w-m, a-e, p-q, p-b, b-d… Ter a

Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

20

necessidade de seguir a linha do texto com os dedos, dificuldades para

compreensão de texto, saltar ou retroceder linhas no momento da

leitura, dificuldade para reconhecer rimas e símbolos, decorar tabuada,

são sinais de dislexia. O indivíduo sofre com a pobreza de vocabulário,

escassez de conhecimento prévio, confusão com relação às tarefas

escolares, podendo resultar num atraso escolar.

• Transtorno do Défict de Atenção (TDA/H): é o diagnóstico

neuropsiquiátrico usado para nomear um comportamento desatencional

com ou sem histórico de hiperatividade física ou mental excessivo,

presentes predominantemente em crianças e adolescentes. Vale

salientar que o diagnóstico neuropsiquiátrico, não deve ser o único

processo a ser realizado, já que sua análise se baseia em variáveis que

cobrem apenas parte do contexto de vida do indivíduo e nem sempre

levam em conta fatores importantes que podem estar provocando um

comportamento desatento, impulsivo e hiperativo da criança. Esses

sintomas podem, em uma leitura relativizada, estar sinalizando na vida

desses indivíduos um incômodo, uma dor ou até mesmo uma angústia

em relação a algo que vem acontecendo em seu processo de vida.

Quem sabe, até mesmo a entrada na escola e sua nova adaptação ao

contexto escolar. Analisar esses fatores é crucial no processo,

principalmente antes do uso da medicação, que pode até ajudar, mas

não irá calar a dor daquele que a experimenta. A recomendação é a de

que somente com a ajuda de uma equipe interdisciplinar formada por:

psicólogos, psicopedagogos, professores, psicanalistas, entre outros das

áreas afins, pode-se aproximar da possível causa de tal comportamento.

Nem sempre a medicação única, sem possibilitar ao sujeito o espaço

para que o indivíduo possa externalizar sua dor, poderá dar conta do

tratamento.

• Hiperatividade: É quando a criança é agitada e não consegue parar

quieta. Elas se machucam com mais frequência, não tem paciência,

Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

21

interrompem conversas… O comportamento hiperativo de crianças e

adolescentes tem se acentuado nos últimos anos. Famílias, escolas e

consultórios dos profissionais da saúde mental frequentemente lidam

com essa questão. As pesquisas apontam que para cada vinte alunos

em uma turma escolar, pelo menos cinco apresentam esse

comportamento. O problema se torna mais acentuado quando o

comportamento hiperativo dos filhos atravessa os muros da escola.

Queixas dos professores pelo mau comportamento dessas crianças que

não param quietas no momento da explicação do conteúdo, idas e

vindas à direção da escola e, em quase todos os casos, resultados

insuficientes para acompanhar a média da sua turma. “Estar” hiperativa

é diferente de “Ser” hiperativa! Estar indica que o processo é

momentâneo, a criança pode estar vivendo uma fase mais agitada, por

um motivo ou outro na sua vida. Ser, significa carregar o rótulo por toda

a sua vida. E esse peso é, com certeza, muito pesado. O fato se agrava

mais quando o indivíduo ainda compra a ideia de que seus desafios e

fracassos se justificam exclusivamente por causa dessa condição. É

importante pontuarmos essa diferença. Toda criança apresenta um

comportamento similar ao de hiperatividade até certa fase de seu

desenvolvimento, principalmente nos anos que marcam sua descoberta

do mundo.

• Dislalia: um distúrbio de fala, caracterizado pela dificuldade em articular

as palavras e pela má pronunciação, omitindo, acrescentando, trocando

ou distorcendo os fonemas. Esse distúrbio na fala é o que encontramos

no personagem de Maurício de Sousa, o Cebolinha, conhecido por

trocar a letra “R” por “L”. Esse é um caso clássico de dislalia. Podemos

citar alguns casos: a troca de “bola” por “póla”; de “porta” por “poita”; de

“preto” por “peto”; de “tomei” por “omei”; de “barata” por “balata”; de

“atlântico” por “atelântico”. Outro exemplo comum envolve a pronuncia

do “K” e do “G”: “ato” ao invés de “gato”; “ma a o” no lugar de “macaco”.

As trocas mais comuns são:

– P por B; F por V; T por D; R por L; F por S; J por Z; X por S.

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

22

A Dislalia está subdividida em quatro tipos:

– Evolutiva: considerada normal em crianças e corrigida

gradativamente durante o desenvolvimento;

– Funcional: quando ocorre a substituição ou eliminação das letras

durante a fala e/ou distorção do som;

– Audiógena: acontece em indivíduos com deficiência auditiva, pois

não consegue imitar os sons.

– Orgânica: ocorre em casos de lesão no encéfalo, o que

impossibilita a pronúncia correta, ou quando há alteração na boca.

Até os quatro anos, o erro em pronunciar as palavras é considerado

normal, mas, após essa idade, continuar falando mal pode acarretar

sérios problemas, inclusive na escrita. Uma opção é fazer o trabalho

preventivo à alfabetização, evitando dificuldades escolares.

Possivelmente ocorra a estimulação do distúrbio caso a criança use

chupeta, mame mamadeira ou chupe dedo por tempo prolongado,

causando flacidez muscular e postura indevida da língua.

Vale ressaltar algumas dicas para não ajudar a desenvolver esse

distúrbio. Em muitos casos, os tios, avós, pais, enfim, acham graça

quando a criança fala de forma errada como “biito” (bonito), “tebisão”

(televisão), “Tota-Tola” (Coca-cola)… Mas é importante não achar fofo e

sempre corrigi-la. Falar certo diante da criança, para que ela cresça

sabendo e se habituando ao correto. O professor deve articular bem a

palavra, fazendo com que os fonemas estejam claros. Ao perceber em

sala de aula que um determinado aluno não está pronunciando bem,

deve procurar os pais e comunicá-los. E, como a fala é um ato motor

elaborado, troque informações com os professores de educação física,

que observam melhor o desenvolvimento psicomotor do aluno. O

professor deve tomar muito cuidado na hora da correção, para o aluno

não se sentir inferiorizado, por isso a necessidade e importância do

fonoaudiólogo no tratamento.

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

23

• Disortografia: dificuldade de aprender e desenvolver as habilidades da

linguagem escrita, é um transtorno específico da grafia que, geralmente,

acompanha a dislexia. Segundo a fonoaudióloga Fernanda Marques, “é

a alteração na planificação da linguagem escrita, causando transtorno

na aprendizagem da ortografia, gramática e redação”. Os órgãos

sensoriais estão intactos e devem passar por uma instrução adequada.

Traçado incorreto da letra, lentidão, alteração no espaço, sujeira e falta

de clareza na escrita, inteligibilidade são alguns sinais da disortografia.

Muitas pessoas também se queixam de dores nas mãos ou nos braços,

pois fazem força para escrever. A pessoa que sofre de disortografia

tende a escrever textos curtos, a ter dificuldade no uso de coordenação

e subordinação das orações, dificuldade em perceber os sinais de

pontuação, falta de vontade para escrever.

Considera-se que, até a segunda série seja comum as crianças se

confundirem ortograficamente, dado que a relação com o som e a

palavra escrita ainda não está dominada. Para que seja diagnosticada a

disortografia, a criança não pode ter alterações intelectuais, sensoriais,

neurológicas, motoras e afetivas. Esse é um transtorno funcional que

afeta a forma, inteligibilidade, significado e o ritmo da escrita. Isto é, o

desenho da letra não estará adequado à verdadeira escrita. A

disortografia pode vir sozinha, ou seja, a pessoa lê e escreve bem, mas

não consegue desenhar a letra de forma clara e limpa, como também

pode aparecer junto com a dislexia. Fernanda ensina que o caderno de

ortografia ajuda a trabalhar com a percepção e coordenação motora da

criança e, consequentemente, a melhorar seu desempenho na escrita.

Porém, pessoas com disortorgrafia necessitam de atividades mais

específicas e mais eficazes. É preciso intervenção fonoaudiológica, o

quanto antes para evitar o fracasso escolar.

Após uma avaliação com esse profissional, a criança terá um plano de

tratamento para que o distúrbio não seja um vilão na aprendizagem. É

importante estimular a criança com exercícios para os ombros,

cotovelos, punhos, mãos e dedos, podendo fazer uso de bolas, petecas,

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

24

brinquedos… Esses exercícios também poderão ser feitos através de

técnicas de percepção corporal como relaxamento, prancha de

equilíbrio, materiais como argila, tinta, massinha e jogos.

O diagnóstico precoce é de fundamental importância, pois com o

passar do tempo as dificuldades vão se somando e tornam-se mais acentuadas

dificultando a resolução do quadro, é importante também para evitar a

desmotivação do jovem e o consequente abandono escolar. No entanto com a

“lei da não reprovação” até o quarto ano, o diagnóstico das dificuldades

escolares é praticamente ignorado até lá.

E por último, mas não menos importante, a falta da afetividade

destaca-se entre todas as dificuldades que o aluno enfrenta na alfabetização.

Seja por parte do professor ou dos familiares. Como nos afirma o grande

educador que entendia e valorizava o processo de afetividade, Paulo Freire

(1979). Há este respeito ele salientou “não há educação sem amor [...] Quem

não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar”.

A família é o primeiro meio social do qual a criança participa,

conforme nos afirma Capelatto (2001, p. 15) “A família é um conjunto de

pessoas que se unem pelo desejo de estar juntas, por uma dinâmica chamada

afetividade”.

É preciso haver, portanto um bom relacionamento emocional a fim

de proporcionar um desenvolvimento saudável para que ela consiga interagir

em outros meios sociais.

Conforme Topcewski (2000), conflitos familiares como doenças

graves em membros da família, litígio dos pais ou outros fatores de

instabilidade familiar podem interferir no desempenho escolar. Famílias pouco

estruturadas ou modelos que fogem do padrão, a grande ansiedade da criança

devido à exagerada expectativa dos pais, a desmotivação devido a pais que

não participam da vida do filho ou até os rejeitam pelos motivos mais variados,

são determinantes de instabilidade emocional. A esse respeito Baltazar afirma

que:

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

25

(...) crianças, púberes e adolescentes mal adaptados na escola, são fruto de prévias vivências complicadas em suas famílias, com algum tipo de disfunção, além de outras violências sociais. (BALTAZAR, 2006 p. 16)

Para Vergara (1999) citado por Baltazar (2006), a família

contemporânea está abandonando a função de ser o lugar privilegiado de

construção da vida afetiva e das relações de autoridade. Hoje, ela divide a sua

tarefa de proteção e amparo com um número cada vez mais significativo de

organizações sociais e serviços.

O Papel da escola é preparar o aluno para se tornar um cidadão

pleno, consciente dos seus direitos e deveres. Mas, devido aos avanços e

modificações da sociedade, a escola assume um novo papel. Assim como no

ambiente familiar a escola tem influência fundamental na formação da

personalidade e na aquisição dos aspectos culturais, cognitivos, afetivos e

sociais. Ela é a continuação do lar, sendo, portanto, na escola que, muitas

vezes, vemos as consequências da falta de afeto e diálogo em casa. Conforme

adverte Maldonado (1994) quando diz que os comportamentos de indisciplina

muitas vezes são uma forma de fuga, de medo ou revolta.

Atitudes ríspidas, grosseiras e agressivas expressam, com frequência, a necessidade de formar uma carapaça protetora contra o medo de ser rejeitado, contra sentimentos de inadequação ("já que sou mesmo incompetente para tantas coisas, por aí eu me destaco") e contra a dor do desamor ("ninguém gosta de mim mesmo, quero mais é explodir o mundo"). (MALDONADO,1994 apud LUCENA, 2015 p.39).

O professor tem o papel educativo de ampliar, ir alem dos horizontes

da sala de aula. Conhecedor de que, no ambiente escolar, enfrentará muitas

dificuldades, devido às relações familiares conturbadas e problemáticas, o

professor muitas vezes vivencia situações de extremo desconforto.

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

26

Amor, agressividade, originalmente dirigidos aos pais serão transferidos para os professores. Poderá acontecer que um adolescente, irritado com seus pais, tenha com estes uma atitude aparentemente “adequada” extravasando com um professor toda a bronca. (BALTAZAR, 2006 p.47)

Consciente do seu papel como facilitador da aprendizagem, o

professor sabe que a aprendizagem e a afetividade estão interligadas, sabe

que precisa conquistar a amizade do aluno, envolvê-lo, incentivá-lo, pois a

relação de afetividade que for desenvolvida entre o professor e aluno fará com

que as dificuldades apresentadas sejam superadas ou se acentuem cada vez

mais, como pontua o autor.

A escola tem um significado primordial para o adolescente. Conforme o ambiente que vivencia, ele terá um aprendizado prazeroso e propício ou distúrbio de conduta e/ou aprendizagem. (BALTAZAR, 2006 p.48)

Crianças com dificuldades emocionais, muitas vezes tem o seu

processo de aprendizagem prejudicado devido a sentimentos de inferioridade

ou de incapacidade por se compararem com os coleguinhas que estão mais

adiantados. O professor deve estar atento para não transformar esse

sentimento em um trauma. É preciso saber trabalhar a motivação para

recuperar a autoestima desse aluno. Ao mesmo tempo, os pais devem ser

orientados para não desconstruir o trabalho feito na escola. Eles devem focar

nos acertos e não nos erros. Elogios são uma grande fonte de estímulo.

Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

27

CAPÍTULO III

A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

A Psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de

aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Atualmente a intervenção

psicopedagógica ganhou espaço nas instituições escolares devido ao

crescente número de crianças com dificuldades de aprendizado.

3.1 - Breve histórico da psicopedagogia no Brasil

Buscando compreender melhor o campo de atuação desse

importante profissional da área da educação, faremos um breve passeio sobre

a história da Psicopedagogia no Brasil.

Segundo Masini em seu livro: O psicopedagogo na escola página

25, a psicopedagogia surgiu no Brasil, seguindo os mesmos passos do que

ocorreu na Europa, só que alguns anos depois. Consta que as primeiras

atuações de um profissional dessa área, ocorreram na clínica psicológica da

PUC – SP realizados por Genni C. Moraes, assistindo alunos com dificuldades

no aprendizado. Sendo assim reconhecida como a pioneira no Brasil. Segundo

ela, os principais obstáculos à aprendizagem eram inaptidões ou distúrbios do

próprio aluno. Os primeiros psicopedagogos surgiram dentro da própria

educação com o objetivo de auxiliar os alunos com déficit de aprendizagem

utilizando técnicas, adquiridas com a prática, para suprir a necessidade de

cada aluno de forma individualizada. Com o passar do tempo e de acordo com

as demandas, esses profissionais entenderam a necessidade de angariar

conhecimentos da psicologia, neurologia e psicomotricidade para entender

melhor as questões referentes às dificuldades. Criaram-se então cursos de

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

28

extensão para qualificar professores brasileiros, franceses e argentinos. Em

seguida surgem os cursos de especialização reunindo experiências da área da

educação e da psicologia. Ao mesmo tempo, surgia em alguns países,

inclusive aqui no Brasil, a tendência de prevenção em psicopedagogia,

baseada em várias pesquisas de aprendizagem além de discurssões

relacionando o tema a questões orgânicas e sociais, focalizando o fracasso

escolar. Segundo registros da Secretaria de Estado dos Negócios da Educação

de São Paulo, o índice de repetência e evasão nas séries iniciais era muito

elevado, gerando nos anos seguintes registros de defasagem referentes à

idade escolar correta devido às reprovações. Baseado nesses dados, concluiu-

se que o fracasso escolar era consequência das patologias. Entendeu-se ainda

que investigações sobre problemas de aprendizagem com enfoque exclusivo

no aluno, estavam no caminho certo. A questão passou a ser preparar a escola

a fim de atender às necessidades desses alunos com dificuldades de forma

eficaz. Diversos temas a respeito de fatores intraescolares, de ordem social,

econômica e política passaram a ser alvo de estudos. Pesquisas datadas a

partir da década 1970 já assinalavam mudança de enfoque. Orientando a

ampliação do campo de atuação da psicopedagogia, passando a focalizar não

apenas o problema, mas a pessoa na sua totalidade corporal, afetivo-social,

cognitivo como ser de um específico contexto.

3.2 – Áreas de atuação do psicopedagogo

Oliveira (2009), ao discorrer sobre a psicopedagogia como um

processo de aprendizagem constante no desenvolvimento do sujeito, fala da

importância do psicopedagogo estar atento às inúmeras possibilidades de

construção do conhecimento e valorizar o imenso universo de informações que

nos circunda. Dessa forma, o campo de atuação do psicopedagogo se torna

mais amplo a cada dia. De acordo com a natureza da instituição, o

psicopedagogo pode contribuir de diferentes formas:

Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

29

• Psicopedagogia familiar – O psicopedagogo atua junto à familia

promovendo um novo olhar sobre as diversas formas de aprender e

sobre a necessidade individual de cada criança. Busca ainda

conscientizar os pais sobre a necessidade da sua participação no

processo de aprendizado do seu filho e na parceria com a escola

• Psicopedagogia empresarial – O psicopedagogo atua na empresa

trazendo novas formas de treinamento e buscando ampliar o olhar

dos colaboradores, saindo do individualismo para o trabalho em

equipe. Valorizando cada parte visando o melhor funcionamento do

todo e despertando um maior empenho para alcançar os objetivos da

empresa.

• Psicopedagogia hospitalar – atua na criação de um ambiente

propício para o aprendizado dos internos. Elaborando projetos

lúdicos e oficinas psicopedagógicas.

Contudo a minha pesquisa tem ênfase na psicopedagogia escolar. A

atuação do psicopedagogo no processo ensino-aprendizagem deve

proporcionar:

1. Diagnóstico da escola.

2. Busca da identidade da escola.

3. Definições de papéis na dinâmica relacional em busca de

funções e identidade diante do aprender.

4. Instrumentalização de professores, coordenadores,

orientadores e diretores sobre práticas e reflexões diante de

novas formas de aprender.

5. Reprogramação curricular, implantação de programas e

sistemas avaliativos.

6. Oficinas para vivências de novas formas de aprender.

7. Análises de conteúdo e reconstrução conceitual.

Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

30

8. Releitura, ressignificando sistemas de recuperação e

reintegração do aluno no processo.

9. O papel da escola no diálogo com a família.

Na escola, o psicopedagogo atua na linha preventiva e terapêutica.

Seu papel é analisar os fatores que contribuem ou prejudicam a aprendizagem.

É um profissional capacitado para orientar a família, os professores e demais

profissionais da escola. Segundo Bossa (1994, p.23) cabe ao psicopedagogo

perceber onde acontece os obstáculos no processo aprendizagem, favorecer a

integração entre comunidade e escola, participar da dinâmica da comunidade

educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas

de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo e

realizando processos de orientação. Já no caráter assistencial, o

psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e

projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com

que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da

escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem

da criança ou da própria prática de ensino.

O trabalho do psicopedagogo somente terá bons resultados quando

alinhado com a escola e família. Cabe a ele avaliar o aluno e identificar os

problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais

construtivos e em suas dificuldades, intervir junto à família por meio, por

exemplo, de uma entrevista e de uma anaminese para tomar conhecimento de

informações sobre a sua vida orgânica, cognitiva, emocional e social. A criança

não pode ser pensada isoladamente. A família é a primeira instituição

organizada na qual a criança é inserida, sendo, portanto responsável por

grande parte de sua educação. Logo, o que a família pensa, seus anseios,

seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho

farão toda a diferença. O psicopedagogo deve estar atento aos detalhes do

contato da criança com os pais e à qualidade dessa interação. Deve procurar

compreender as mensagens, muitas vezes implícitas, sobre os motivos que

Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

31

levam as crianças a obterem resultados insuficientes. Conforme salienta

Rubintein (2006, p. 27) “No contato com os pais, é fundamental que o

psicopedagogo esteja atento não só ao que está manifesto, mas sobre tudo ao

que está latente”.

O psicopedagogo atua ainda como mediador formando uma teia

com outros profissionais das áreas psicológicas, psicomotora, fonoaudiologica,

neurológica e oftalmológicas. Pois tais dificuldades de aprendizado podem ter

diversas causas e tratamentos. Dessa forma, este profissional dentro de suas

limitações não resolverá todos os problemas existentes na sala de aula, mas

pode identificar o que está causando o problema e, em conjunto com os

demais profissionais, buscar um novo caminho.

o psicopedagogo não é um mero “resolvedor” de problemas, mas um profissional que dentro de seus limites e de sua especificidade, pode ajudar a escola a remover obstáculos que se interpõem entre os sujeitos e o conhecimento e a formar cidadãos por meio da construção de práticas educativas que favoreçam processos de humanização e reapropriação da capacidade de pensamento crítico (TANAMACHI apud LUCENA, 2015 p. 43).

Lucena (2015), em seu livro Pedagogia do Relacionamento página

19, fala sobre o psicopedagogo como principal mediador frente às relações

entre professor e aluno no âmbito escolar e familiar; destaca as relações

interpessoais, a experiência do indivíduo e a sua influência no processo de

construção do conhecimento, pautado pela motivação e afetividade. Cita ainda

a importância da postura do professor diante do crescente número de alunos

com dificuldades. Nesse contexto, ressalta a importância da ação

psicopedagógica como mediadora no trabalho do educador. O autor fala da sua

experiência em sala de aula e de como venceu as dificuldades de aprendizado

atuando de forma afetiva e motivacional junto aos seus alunos.

O psicopedagogo deve então ampliar seu ollhar para o

relacionamento e a afetividade entre professor e aluno uma vez que “nenhum

aprendizado significativo acontece sem um relacionamento significativo”

Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

32

conforme nos afirma a escritora e professora Adelia Prado.

Buscando condições para a aprendizagem significativa, o

psicopedagogo focaliza o aluno levando em conta a complexidade da sala de

aula. E oferece ao professor recursos para trabalhar numa proposta

teoricamente fundamentada.

O êxito em sala de aula exige uma série de intervenções. Atitudes

simples, porém repletas de afetividade podem fazer toda a diferença. Tais

como: encorajamento, elogios, afeição, acolhimento e aceitação.

Segundo Ciasca (2004), a criança desenvolve um processo de

valorização de atributos de caráter avaliativo, a partir dos sete anos,

denominado auto estima.

A auto estima é determinante da conduta humana e influi para que a pessoa desenvolva todas as suas capacidades, sendo necessário para tal que ela se sinta segura, querida, protegida e aceita no meio em que vive e nos grupos sociais que partilha, já que é um juízo global de auto valia que define o quanto se gosta da pessoa que se percebe ser. (CIASCA, 2004, p. 210).

Palacios & Hidalgo (1995), citado por Ciasca (2004) menciona

pesquisas sobre a auto estima e desempenho acadêmico com comprovadas

correlações. Segundo o autor é possível verificar a simultaneidade de

ocorrências de baixa auto estima e de desempenho acadêmico ruim e de auto

estima e êxito escolar.

A forma como a criança entende o sucesso e o êxito na realização

das tarefas influencia na sua performance e no seu comportamento social. E o

comportamento por sua vez é influenciado pela auto estima, conforme autora:

O comportamento é fortemente influenciado pela auto estima, de tal forma que, quando se verifica a presença de auto estima positiva ou elevada, é provável que esteja associada ao êxito e segurança; e quando se verifica a presença de auto estima negativa ou baixa é provável que se verifique também o fracasso pelo surgimento de sentimentos de insegurança e confusões. (CIASCA,2004, p.211).

Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

33

É possível perceber a correlação entre desempenho acadêmico,

auto estima e comportamento social. O aluno torna-se, então, refém de um

ciclo vicioso. Por apresentar dificuldades de aprendizado e se perceber “ruim”

em relação aos outros, desenvolve baixo estima e sentimentos de insegurança

tornando seu processo de aprendizagem cada vez mais difícil.

Dessa forma, fica clara a fundamental importância do

psicopedagogo intervindo e atuando justamente no processo de formação de

uma auto percepção positiva, para a partir daí, começar a alcançar os objetivos

almejados no processo de aprendizagem. Sua intervenção, propriamente dita,

conduzirá o aluno a uma nova visão de si mesmo.

Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

34

CONCLUSÃO

Esta monografia se propôs a compreender a importância da

afetividade no processo de alfabetização. Atendo-se aos seguintes aspectos:

(I) Investigação sobre a falta de afetividade e a consequente dificuldade na

aprendizagem. (II) Principais dificuldades na alfabetização. (III) Esclarecimento

do Papel do psicopedagogo na instituição escolar.

Para alcançar os objetivos propostos foram realizadas pesquisas

bibliográficas que reuniram diversas literaturas, revistas, artigos e sites

eletrônicos que fundamentaram este trabalho. Os escritos aqui apresentados

nos mostram que há uma concordância entre diversos teóricos quando afirmam

que para ocorrer o desenvolvimento pleno e saudável da criança é preciso que

o educador compreenda que a afetividade deve estar inserida no processo

educacional e que a construção do caráter da criança envolve o aspecto físico,

cognitivo, afetivo, social e moral. Os teóricos enfatizam a importância da

afetividade no processo de aprendizagem e a interação entre professor e

alunos, onde o afeto, o respeito e a confiança sejam a base dessa relação.

Durante todo o desenvolvimento desse trabalho, observamos à

importância do papel do psicopedagogo na escola e do olhar direcionado à

afetividade no processo de aprendizagem. A realização desse trabalho permitiu

repensar a autoestima e sua interferência no desempenho acadêmico das

crianças. Sabe-se que o professor deve acreditar e incentivar o seu aluno, pois

o mesmo desenvolverá sua valorização própria à medida que interiorizar o

apreço e confiança que os outros tem por ele. Ouvir as crianças e tentar

compreendê-las fortalece esse processo. Diante da realidade sociocultural

precária, grande parte dos alunos mora com os avós e/ou tem pais separados,

por isso o afeto, o estímulo e o incentivo dispensados a algumas crianças são

insuficientes. Logo, é necessário para um educador, ser mais do que apenas

um profissional é preciso ser sensível, afetivo e humano.

Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

35

Com este trabalho conclui-se, que não importa qual anomalia causa

a dificuldade de aprendizagem no sujeito, não importa se é de caráter

neurológico, físico ou emocional; a afetividade estará sempre presente como

ferramenta essencial para intervenção psicopedagógica. Acredita-se que, para

que haja uma aprendizagem significativa, a afetividade deve permear todo o

processo de aprendizagem. E por fim, compreende-se o importante papel do

psicopedagogo na instituição escolar, conforme Oliveira (2009) o qual afirma

que, na sua prática, esse profissional será capaz de perceber a escola na sua

funcionalidade, identificar um circuito de retroalimentação no qual cada sujeito

afeta e é afetado. Intervir e conduzir a instituição a uma nova visão dela

mesma. Através de sua atuação junto à escola, ao professor, ao aluno e aos

familiares ele trará um novo olhar sobre a dificuldade do aluno. O que antes se

pensava ser resultado de um déficit do próprio sujeito, pode agora ser pensado

a partir das relações que o envolve, ou seja, suas relações escolares e

familiares.

Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

36

BIBLIOGRAFIA

BALTAZAR, José Antonio et al. Família e Escola: um espaço interativo e de conflitos. São Paulo: Arte & Ciência, 2006. BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas sul, 1994. CAPELATTO, Ivan. Diálogos sobre afetividade. 3º edição. Papirus Editora, 2001. CIASCA, Sylvia Maria. Distúrbios de aprendizagem. 2° edição. Casa do Psicólogo, 2004. DÉR, Leila Christina Simões et al. A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. 1º Edição. Editora Loyala, 2004. FREIRE, Paulo. 1921-1997. Educação e Mudança.[recurso eletrônico] Paulo Freire 1ª Edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. Recurso digital. LUCENA, Izan. Pedagogia do Relacionamento. 1° edição. Editora Agbook, 2015. MASSINI, Elcie F. Salgamo. Psicopedagogia na escola: Buscando condições para aprendizagem significativa. São Paulo: Cortez, 2015. OLIVEIRA, Mari Ângela Calderari. Intervenção Psicopedagogica na Escola. 2ª edição. Curitiba, PR: Iesde Brasil, 2009. REGO,Teresa Cristina. Vygotsky: Uma perspectiva histórico- cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. RUBINSBEIN, Regina, Organizadora. Psicopedagogia: Fundamentos para construção de um estilo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. 6ª edição, 4ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. TAILLE, Yves de la; OLIVEIRA, Martha Kohl de; DANTAS, Heloisa. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus, 1992.

TOPCEWSKI, Abram. Aprendizado e suas desabilidades: Como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

Page 37: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

37

WEBGRAFIA

GRANDE PENSADORES:Henry Wallon, o educador integral.Nova Escola, Edição Especial. Out. de 2008. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/educador-integral-423298.shtml?page=3> Acessado em: 22 abr. 2012 às 09h17min.

OLIVEIRA, Emannuelle. Desenvolvimento afetivo na criança. 31 março 2010. Disponível em: <http://www.infoescola.com/psicologia/desenvolvimento-afetivo-na-crianca/ > Acessado em: 19 set. 2016 às 20h55min.

OLIVEIRA, Maria de Fátima de. A afetividade entre mãe-bebê, a construção da realidade psicológica da criança e as conseqüências da ausência afetiva maternal quando da entrada das crianças nos Infantários, 2006.

Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?codigo=AOP0062&area=d4&subarea= > Acessado em 19 set. 2016 às 21h00min

REGO, Teresa. Grandes Pensadores. Nova Escola, Edição Especial. Out. de 2008. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml?page=0> Acesso em: 19 set. 2016 às 21h10min.

VASCONCELLOS, Vera Maria Ramos de. Infância & Psicologia. Marcos Teóricos da compreensão do desenvolvimento da criança pequena. In: 2ª JORNADA PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO INFANTIL, 2011 Faculdade de Educação - UERJ Disponível em: <https://docs.google.com/document/d/1RGBLxEmyPwLwdZnHVvUaCvBWAZqiKTjvljQnL915z98/edit?hl=pt_BR&pli=1>. Acesso em: 19 abr. 2016 às 20h52min

Page 38: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2016. 10. 11. · de especialista em Psicopedagogia. Por ... é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para dentro de si o

38

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Algumas considerações sobre afetividade 11

1.1. Jean Piaget, Epistemologia genética 11

1.2. Henri Wallon, a afetividade e a construção do sujeito 14

1.3. Vygotsky, e a afetividade no processo de desenvolvimento

social da criança 16

CAPÍTULO II

Principais dificuldades apresentadas no processo de leitura e escrita 18

CAPÍTULO III

A atuação do psicopedagogo no processo ensino aprendizagem 27

3.1. Breve histórico da psicopedagogia no Brasil 27

3.2. Áreas de atuação do psicopedagogo 28

CONCLUSÃO 34 BIBLIOGRAFIA 36 WEBGRAFIA 37 ÍNDICE 38