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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS E-BOOKS Por: Luis Felipe Boechat Borges Luquetti dos Santos Orientador (a) Prof. Patricia Portal Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS E-BOOKS

Por: Luis Felipe Boechat Borges Luquetti dos Santos

Orientador (a)

Prof. Patricia Portal

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS E-BOOKS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em direito público e tributário.

Por: .Luis Felipe Boechat Borges Luquetti dos

Santos

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AGRADECIMENTOS

.....minha mãe, meu pai que eu amo,

minha namorada, meus parentes e

amigos.

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DEDICATÓRIA

.....dedica-se ao meu pai e a minha

mãe, aos meus amigos, a minha

namorada pela compreensão e pelo

amor e os meus familiares.

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho é abordar a imunidade tributária

prevista no artigo 9º, IV, d do CTN questionando a sua aplicabilidade a livros

comercializados no meio eletrônico.

Neste trabalho serão estudados as hipóteses de imunidades

tributárias previstas no artigo 9º do Código Tributário Nacional, com enfoque

no inciso IV, alínea d da referida norma legal, fazendo um paralelo entre os

livros tradicionais e os chamados e-books, que hoje se encontram disponíveis

em razão do avanço tecnológico dos dias atuais.

Palavras-chave: 1. Imunidade tributária 2. Livros e periódicos 3. E-books.

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METODOLOGIA

A presente monografia foi objeto de vários estudos e leitura de jornais,

revistas, livros e análises na melhor doutrina e jurisprudência sobre o tema

tratado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A História da imunidade tributária 09

CAPÍTULO II - Imunidades no sistema brasileiro 19

CAPÍTULO III – O problema dos livros eletrônicos 35

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 47

FOLHA DE AVALIAÇÃO 48

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INTRODUÇÃO

A imunidade tributária se caracteriza pelo impedimento constitucional

irrestrito à incidência de tributos, haja vista restringe de forma categórica as

pretensões na forma de cobrar tributos seja no campo da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A imunidade tributária ocorre

quando a Carta Magna impede a incidência de tributos, estabelecendo um

impedimento do Estado de cobrar uma carga tributária, um tributo, ou seja, as

pessoas agraciadas com a imunidade obtêm o direito de realizarem

determinadas ações, que normalmente gerariam a incidência tributária, mas

com o respectivo instituto não sofrem a tributação.

Neste diapasão, o trabalho mostrará o histórico da imunidade

tributária, sua evolução no ordenamento jurídico brasileiro, as características

presentes em cada Constituição estabelecida pelo ordenamento jurídico

pátrio, bem como seus primórdios e sua evolução jurídica diante do direito

alienígena e comparado.

Será abordado as hipóteses de incidência das imunidades tributárias

presentes na Constituição da República de 1988, fazendo um paralelo entre

elas, as suas características, julgados jurisprudenciais recentes e doutrinas

acerca do tema.

Por último, será apresentada a questão dos e-books, o lugar onde

essa nova tecnologia se encontra dentre as imunidades previstas na Carta

Magna e os problemas inerentes ao avanço tecnológico suportado pela

humanidade nos últimos anos.

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CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

1.1 ETIMOLOGIA

Para adentrar na síntese do estudo do instituto das imunidades

tributárias dos livros, jornais, periódicos e do papel destinado a sua

impressão, faz-se necessário abordar a matéria de uma forma ampla1.

Etimologicamente, o vocábulo imunidade procede do latim

immunitas, immunitate. Trata-se de palavra que indica negação de munus

(cargo, função ou encargo), sendo que o prefixo in oferece a sua verdadeira

conotação (sem encargo, livre de encargos ou múnus)2.

No que tange a etimologia da palavra imunidade, faz-se

necessário observar que a sílaba latina in, que antecede o radical, além de

negação, assume também o significado de "em para dentro de" e o termo

munitus, que obedece a mesma raiz de munus, que, por sua vez, tem o

mesmo sentido de "algo protegido por uma barreira3".

Em se tratando de tributos, tal concepção de imunidade, entendido

o vocábulo "privilégio" em seu sentido vulgar, ao leigo parece denotar

equivocadamente uma pretensa "regalia" ou "prerrogativa" de que gozam

determinados entes que passam a ser "livres" da tributação. Ainda que essa

acepção repugne o preceito científico da isonomia jurídica – tal como é

entendida hodiernamente, há que se observar que existem razões históricas

que determinaram tal sentido subjacente ao instituto da imunidade tributária,

1 MARANHÃO, André Luiz. Imunidades tributárias. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 652, 21 abr. 2005 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/6610>. Acesso em: 11 set. 2013. 2 MORAES, Bernardo Ribeiro de. Imunidades tributárias. Coordenador Ives Gandra da Silva Martins. São Paulo: Revista dos Tribunais, Pesquisas Tributárias, Nova Série - 4, 2001,p. 105. 3 FARIA, Maria Cristina Neubern de. A interpretação das normas de imunidade tributária: conteúdo e alcance. Revista Tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n° 36, Coordenação Dejalma Campos, p.81.

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o que impõe a análise histórica do instituto, para o fim de entendermos a

extensão deste instituto jurídico4.

Tal instituto deve ser entendido como uma espécie de privilégio,

pois as imunidades tributárias protegem valores sociais e políticos abarcados

na Magna Carta, tais como a liberdade de expressão e a difusão de

conhecimentos através das fronteiras internas e externas de nosso país5.

1.2 HISTÓRICO

No direito romano, muito embora houvesse uma estrutura tributária

mais complexa, a situação não era diversa em relação a outras sociedades

da Antigüidade. Também em Roma, com freqüência, as isenções eram

concedidas, mais ou menos caprichosamente, como graça ou favor, aos

seguidores ou amigos dos senhores e soberanos6.

Neste diapasão, na antiguidade, a imunidade tributária era um

privilégio para as camadas mais poderosas, como a nobreza e o clero. A

população geralmente era esquecida e pagava os impostos com o intuito de

patrocinar as luxúrias das classes mais ricas.

Neste sentido, é curiosa a constatação de que a noção subliminar

de imunidade relacionada como sendo uma benesse fiscal a uns poucos

privilegiados, remonta a Antigüidade7.

Baseava-se precipuamente, na diferenciação das classes sociais,

sendo concedida indiscriminadamente como graça ou favor aos amigos e

protegidos do soberano. O privilégio tributário era decorrente do domínio

político inicialmente, para, em seguida, manifestar-se em favor dos povos

4 REIS JÚNIOR, Ari Timóteo dos. Imunidade tributária. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2613, 27 ago. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/17284>. Acesso em: 12 set. 2013. 5 FARIA, Maria Cristina Neubern de. A interpretação das normas de imunidade tributária: conteúdo e alcance. Revista Tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n° 36, Coordenação Dejalma Campos, p.118. 6 FARIA, Maria Cristina Neubern de. A interpretação das normas de imunidade tributária: conteúdo e alcance. Revista Tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n° 36, Coordenação Dejalma Campos, p.119. 7 FARIA, Maria Cristina Neubern de. A interpretação das normas de imunidade tributária: conteúdo e alcance. Revista Tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n° 36, Coordenação Dejalma Campos, p.121.

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invasores e conquistadores em relação aos conquistados, como também em

favor das classes tidas como superiores diante dos menos privilegiados

desprovidos de direitos de direitos civis e políticos. Todavia, com o passar

dos tempos, não mais havendo razão para a distinção de classes, os

privilégios fiscais foram sofrendo radical transformação, dando lugar à

fundamentação jurídica com base nos supremos interesses sociais8.

Na Idade Média esse privilégio se fundamenta nas diferenciações

de classes, castas ou estamentos sociais, privilegiando certas pessoas. Com

o passar dos anos, a imunidade passou a repousar em bases diferentes

calcadas no interesse social e político do Estado9.

Pois bem, na Idade Média fica claro que a única função do instituto

da imunidade tributária era patrocinar as riquezas e luxúrias da nobreza e do

alto clero, pouco importando a situação da população, que era classe mais

baixa não possuindo nenhuma forma de isenção fiscal e tributária.

1.3 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NAS CONSTITUIÇÕES

BRASILEIRAS

O Direito positivo brasileiro passou a prever tal forma de imunidade

a partir da Constituição do Império do Brasil de 1824.

A primeira Constituição do Estado brasileiro se deu num contexto

em que se buscava a emancipação política, momento de uma quase absoluta

prevalência dos ideais liberais sob influência inglesa, com a introdução de

mão-de-obra remunerada por salário, embora mantido o instituto jurídico da

escravidão, bem como o enfraquecimento da coroa portuguesa por força das

Guerras Napoleônicas, que invadiu o território português na Europa,

8 FARIA, Maria Cristina Neubern de. A interpretação das normas de imunidade tributária: conteúdo e alcance. Revista Tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n° 36, Coordenação Dejalma Campos, p.118. 9 FARIA, Maria Cristina Neubern de. A interpretação das normas de imunidade tributária: conteúdo e alcance. Revista Tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n° 36, Coordenação Dejalma Campos, p.118.

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forçando, dessa forma, a fuga da família real para o Brasil10. Sob o aspecto

da estrutura fiscal ligada ao Brasil independente, também é possível

vislumbrar, quanto às imunidades tributárias, uma transferência da aplicação

das regras jurídicas então em vigor na Metrópole, pois foram mantidas todas

as leis portuguesas aplicáveis, enquanto não fossem editadas as leis

brasileiras, conforme Lei de 20 de outubro de 1823 11 . No período que

antecedeu a Proclamação da Independência, o Brasil seguiu a política ditada

por Portugal, inclusive a fiscal, e manteve, mesmo após a independência

política, toda a tradição patrimonialista e clientelista inerente ao sistema

português misturando o patrimônio público com o da pessoa do rei e

concedendo favores e monopólios àqueles que lhe prestassem

vassalagem12.

O período regencial (1831-1840) se caracterizou pelo avanço no

que tange as imunidades tributárias, pois se implementou uma

sistematização de impostos e uma certa descentralização por meio de uma

discriminação de receitas tocantes às Províncias e de outras atinentes ao

Governo Geral. Foi também durante a Regência que se estabeleceu algumas

isenções fiscais13.

A próxima Constituição fora promulgada em 24 de fevereiro de

1891, sendo fortemente inspirada na Constituição dos Estados Unidos da

América, que possuía como principal característica a descentralização dos

poderes. Fora inspirada, também no modelo federalista norte-americano,

permitindo que os Estados se organizassem de acordo com seus interesses,

desde que não afrontassem a Carta Maior. Estabeleceu a existência de três

poderes, quais sejam: Executivo, Legislativo e Judiciário, abolindo assim, o

10 FILHO, Eloi Cesar Daneli. As constituições brasileiras e a imunidade tributária de templos de qualquer culto. In: XIX Encontro Nacional do CONPEDI, 2010, Fortaleza. Anais...Fortaleza, 2010. 11 BALTHAZAR, Ubaldo Cesar. História do Tributo no Brasil. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005. p. 7

12 FILHO, Eloi Cesar Daneli. As constituições brasileiras e a imunidade tributária de templos de qualquer culto. In: XIX Encontro Nacional do CONPEDI, 2010, Fortaleza. Anais...Fortaleza, 2010. 13 BALTHAZAR, Ubaldo Cesar. História do Tributo no Brasil. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005. p. 8

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quarto poder que vigorava na Constituição anterior, o poder Moderador,

símbolo máximo da soberania do Imperador.

No que tange às imunidades fiscais e tributárias, a Constituição

previa duas hipóteses expressas, porém, com terminologia inadequada para

o Direito Tributário atual, uma vez que os dispositivos mencionavam

“isenção” para casos em que hoje, tecnicamente denomina-se “imunidade”,

quando o Estado exportar produtos produzidos em outros Estados, e, sobre

tributos estaduais que incidiriam sobre produtos estrangeiros importados.

Afirma ainda Ichihara14, que há duas outras hipóteses de imunidade tributária

que, por suas palavras são “o embrião” do que hoje se chama de imunidade

reciproca e imunidade dos templos de qualquer culto. Todavia, é de se notar

que inexiste previsão expressa acerca dessas espécies de imunidades15.

A Constituição de 1934 foi promulgada em 16 de julho e teve

duração curta, apenas três anos.

A promulgação desta Carta Magna foi consequência direta da

Revolução Constitucionalista de 1932, quando a Força Pública de São Paulo

lutou contra as forças do Exército Brasileiro. Com o final da Revolução

Constitucionalista, a questão do regime político veio à tona, forçando desta

forma as eleições para a Assembleia Constituinte em maio de 1933, que

aprovou a nova Constituição substituindo a Constituição de 1891, já obsoleta

devido ao dinamismo e evolução da política brasileira. Em 1934, a

Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo Governo Provisório da

Revolução de 1930, redigiu e promulgou a segunda constituição republicana

do Brasil16.

A Constituição de 1934 apresenta um sistema tributário mais

complexo, com diversas garantias e mecanismos de controle à atividade do

fisco. Mantém-se a imunidade recíproca, acrescentando-a às concessões de

serviço público. Havia previsão em seu artigo 17, inciso VIII, de imunidade

para os combustíveis produzidos no país para motores de explosão. Por fim,

14 CHIHARA, Yoshiaki. Imunidades tributárias. São Paulo: Atlas, 2000. p. 129. 15 BALTHAZAR, História do Tributo no Brasil, 2005, p. 131. 16 Disponível em: <http:// http://pt.wikipedia.org/wiki/Constituição_brasileira_de_1934>. Acesso em 11 de set. de 2013.

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é importante observar a existência de vedação à incidência de impostos que

gravassem diretamente a profissão de escritor, jornalista ou professor17.

A Constituição Brasileira de 1937 (conhecida como Polaca),

outorgada pelo presidente Getúlio Vargas em 10 de Novembro de 1937,

mesmo dia em que implanta a ditadura do Estado Novo, é a quarta

Constituição do Brasil e a terceira da república de conteúdo pretensamente

democrático. Será, no entanto, uma carta política eminentemente outorgada

mantenedora das condições de poder do presidente Getúlio Vargas. É

também conhecida como Polaca por dois motivos: por ter sido baseada na

Constituição autoritária da Polônia e porque, na época, chegavam muitas

mulheres poloneses ao Brasil, fixando-se em São Paulo, buscando refugiar-

se das más condições econômicas. Muitas vezes, essas mulheres eram de

origem judaica, das quais algumas, para sobreviverem e sustentarem seus

filhos, viram-se forçadas à prostituição. Por causa dessas prostitutas polacas,

para os paulistas, apelidar a constituição de 1937 de Polaca tinha uma

conotação especialmente pejorativa. Foi redigida pelo jurista Francisco

Campos, ministro da Justiça do novo regime, e obteve a aprovação prévia de

Vargas e do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra18.

No tocante as imunidades tributárias, restringiu-se apenas a repetir

as disposições atinentes da Constituição anterior.

Na área tributária pouca coisa mudou, permanecendo o disposto

na Constituição anterior quase que intocável. Dentre as alterações, pode-se

destacar a possibilidade que tinha a União de “decretar” impostos sobre a

importação de mercadorias vindas do exterior, sobre o consumo de quaisquer

bens, sobre as rendas e os proventos quaisquer que fossem, sobre as

transferência e fundos para o estrangeiro, e, por fim, sobre os atos originados

em seu próprio governo, além de também sobre os seus negócios atinentes a

própria economia, bem como instrumentos ou contratos regulados em

17 FELÍCIO, Carlos Eduardo. Aspectos gerais da imunidade tributária. Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3488, 18 jan. 2013 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/23489>. Acesso em: 11 set. 2013. 18 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Constituição_brasileira_de_1937>. Acesso em 11 de set. de 2013.

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legislação federal. Além disso, a Constituição de 1937 estabeleceu que a

União também poderia instituir os impostos atribuídos aos Estados-Membros

por ela própria19.

A Constituição de 1946 foi promulgada em 18 de setembro de

1946, consagrando todas as liberdades proclamadas na Constituição de 1934

e retiradas na Constituição Polaca.

No que diz respeito às limitações ao poder de tributar, na

Constituição de 1946 ocorreu um alargamento do número de casos

beneficiados pela imunidade tributária e foi o texto que mais se aproximou do

texto da Constituição vigente. Na Carta Magna de 1946 as imunidades dos

templos de qualquer culto, bens e serviços dos partidos políticos, das

instituições de educação e de assistência social, se fizeram presentes

expressamente. Da mesma forma as imunidades recíprocas e sobre o papel

destinado a impressão de livros, jornais e periódicos20.

A Constituição Brasileira de 1967 foi votada em 24 de janeiro e

entrou em vigor no dia 15 de março de 1967.

Foi elaborada pelo Congresso Nacional, a que o Ato Institucional

n. 4 atribuiu função de poder constituinte originário ("ilimitado e soberano"). O

Congresso Nacional transformado em Assembleia Nacional Constituinte e já

com os membros da oposição afastados, elaborou, sob pressão dos militares,

uma Carta Constitucional semi-outorgada que buscou legalizar e

institucionalizar o regime militar consequente do Golpe de 196421.

Sob o aspecto das imunidades tributárias, estavam previstas no

inciso III do artigo 19, que era a repetição literal do texto da EC 18/65, mas

sem a imunidade aos tributos do papel destinado à impressão de jornais,

livros e periódicos. No que diz respeito à imunidade do papel e de livros e

periódicos, é muito importante que se faça um comentário no sentido de que

essa inicialmente (durante a vigência da CF/46) se deu para que fosse

barateado o preço desses produtos aos leitores, todavia, tal regra foi

19 BALTHAZAR, História do Tributo no Brasil, 2005, p. 121. 20 BALEEIRO, Aliomar; LIMA SOBRINHO, Barbosa. A Constituição de 1946. In: PORTO, Walter Costa (Coord).“Constituições do Brasil”. Brasília: Editora Escopo, 1987. p. 143

21 Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Constituição_brasileira_de_1967>. Acesso em 11 de set. de 2013.

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distorcida e acabou servindo apenas para o aumento do lucro dos editores,

sem que fosse repassado benefício algum para os público consumidor de

livros e periódicos22.

Por fim, a Constituição Cidadã de 1988 veio consolidar o Estado

Democrático de Direito após uma sangrenta ditadura que perdurou 21 anos.

No que tange a imunidade tributária, esta vem consolidada no artigo 150,

englobando inúmeras hipóteses.

1.4 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NO DIREITO

COMPARADO.

No que concerne ao instituto da imunidade tributária referente aos

templos de qualquer culto, na Argentina, apesar de não ser um país laico23,

portanto tendo uma religião oficial, adota a mesma isonomia fiscal verificada

na Constituição brasileira de 1891. Em outras palavras, não há imunidade

tributária na Argentina.

Na Constituição da República do Paraguai depreendemos a

laicidade do Estado e, paralelamente, até mesmo por absoluto bom senso e

coerência político-jurídica, não existe qualquer previsão quanto à imunidade

tributária24.

A República Oriental do Uruguai, em consonância à Constituição

brasileira, outorga imunidade tributária aos cultos religiosos25.

A Constituição Colombiana não se expressa sobre a imunidade

tributária, apesar da liberdade de culto religioso.

22 BALTHAZAR, História do Tributo no Brasil, 2005, p. 168.

23 Constituição Argentina. Artigo 2o. “El Gobierno federal sostiene el culto católico apostólico romano”. 24 MURTA, Antonio Carlos Diniz. Repensando a imunidade tributária aos templos de qualquer culto. Uma abordagem sobre a distorção e inconsistência de sua aplicação. UFMG, p.7. 25 Constituição Uruguaia. Art. 4o. “Todos los cultos religiosos son libres en el Uruguay. El Estado no sostiene religión alguna. Reconoce a la Iglesia Católica el dominio de todos los templos que hayan sido total o parcialmente construidos con fondos del Erario Nacional, exceptuándose sólo las capillas destinadas al servicio de asilos, hospitales, cárceres u otros establecimientos públicos. Declara, asimismo, exentos de toda clase de impuestos a los templos consagrados al culto de las diversas religiones”.

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Por sua vez a Venezuela traz como traço distintivo das demais a

previsão de garantia de liberdade para a prática da religião e culto, dando a

impressão clara de entendê-la como sendo institutos distintos, da mesma

maneira não concede imunidade tributária26.

A França trata do tema apenas do ponto de vista da laicidade do

Estado e a da sua autonomia.

No caso de Portugal, a Constituição prevê que ninguém poderá ser

perguntado pelas autoridades português sobre a sua religião e crença, ou

mesmo ser perseguido por causa de sua escolha e convicção religiosa27.

O Estados Unidos da América, a despeito de ter uma Constituição

enxuta, curta e objetiva, trata apenas da laicidade do Estado e da liberdade

do exercício religioso, não fazendo qualquer menção à imunidade tributária28.

Nestes termos, a organização jurídica brasileira preza pela

liberdade religiosa consubstanciada na premissa da imunidade tributária de

templos de qualquer culto, prevista no artigo 150 da Carta Magna. No que

concerne a imunidade dos livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua

impressão, o legislador pátrio se preocupou em expandir o acesso a cultura,

ao ensino e a informação, não taxando estas formas de liberdade de

expressão.

No que concerne à imunidade dos livros, jornais, periódicos e

papel destinado a sua impressão é muito escassa a literatura no direito

comparado, chegando até mesmo afirmar que não se tem norma equivalente

no direito alienígena. De fato, o Brasil, através da norma de imunidade aos

livros, jornais e periódicos, encontra-se na vanguarda em relação à promoção

26 MURTA, Antonio Carlos Diniz. Repensando a imunidade tributária aos templos de qualquer culto. Uma abordagem sobre a distorção e inconsistência de sua aplicação. UFMG, p.7. 27 Constituição Portuguesa. Art. 13. “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Art. 41. (liberdade de consciência, da religião e de culto) 4. “As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto. 28 MURTA, Antonio Carlos Diniz. Repensando a imunidade tributária aos templos de qualquer culto. Uma abordagem sobre a distorção e inconsistência de sua aplicação. UFMG, p.9.

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da liberdade cultural e informacional e o conseqüente fomento ao

pluralismo29.

29 RODRIGUES, Gabriela Wallau. Imunidade tributária do livro eletrônico. Por uma leitura sistemática e teleológica ao art. 150, VI, da Constituição Federal. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2162, 2 jun. 2009 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12843>. Acesso em: 9 out. 2013.

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CAPÍTULO II

IMUNIDADES NO SISTEMA BRASILEIRO

2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

As imunidades são “ausência de competência”. São hipóteses

onde a Constituição não admite e não concede poder para tributar.

Distinguem-se das isenções, também neste particular, pois nelas a entidade

faz uso de sua competência para tributar, mas num sentido inverso, ou seja,

para abrir mão desta tributação. Leandro Paulsen esclarece a distinção30:

“A imunidade é norma negativa de competência

constante do texto constitucional. A isenção, por sua vez,

emana do ente tributante que, ao instituir um tributo no

exercício da sua competência”.

No ordenamento jurídico brasileiro, as imunidades tributárias

estão presentes no artigo 150, VI da Constituição da República de 1988,

quais sejam: patrimônio, renda ou serviços uns dos outros; templos de

qualquer culto; patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,

inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das

instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,

atendidos os requisitos da lei; e livros, jornais, periódicos e o papel

destinado a sua impressão.

In verbis o referido artigo:

30 Leandro Paulsen, Direito Tributário – Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência, 3ª edição, 2001, Livraria do Advogado-RS, p. 871.

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Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias

asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,

ao Distrito Federal e aos Municípios:

VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;

b) templos de qualquer culto;

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos

políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais

dos trabalhadores, das instituições de educação e de

assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos

da lei;

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a

sua impressão.

2.1.1 IMUNIDADE RECÍPROCA

A imunidade recíproca é aquela que protege as pessoas jurídicas

de direito público umas das outras, no que concerne à incidência dos

impostos. Por exemplo, a União não pode cobrar impostos dos Estados e

Municípios, sendo verdadeira a recíproca, nem os Estados nem os

Municípios podem cobrar impostos da União nem uns dos outros31.

Ricardo Lobo Torres32 pontua que:

“se deve à Suprema Corte Americana a

construção da doutrina da imunidade recíproca. O caso

McCulloch vs. Maryland em 1819, em que o relator Juiz

31 Disponível em: <http: http://academico.direito-rio.fgv.br/wiki/As_imunidades_tributárias._A_imunidade_rec%C3%ADproca. Acesso em 12 de set. de 2013. 32 TORRES, Ricardo Lobo Imunidades tributárias. Coordenador Ives Gandra da Silva Martins, São Paulo: Revista dos Tribunais, Pesquisas Tributárias, Nova Série - 4, 2001, p.210.

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Marshall, decidiu a impossibilidade de incidência de impostos

estaduais sobre o banco pertencente à União.

Posteriormente a doutrina Norte Americana se alargou, para

proteger as instrumentalidades do governo Federal, os

Juízes, os Funcionários Públicos etc.; e apenas neste século

é que a pouco se restringiu o campo de imunidade recíproca.

No Brasil tivemos influência do direito americano,

principalmente com a Constituição de 1891 e da influencia do

Jurista Rui Barbosa, porém ainda não houve refluxo da

jurisprudência e da legislação, mantendo-se de forma

abrangente a garantia constitucional”.

Luciano Amaro33 afirma que:

“A União pode tributar a renda, exceto dos partidos

políticos; pode tributar os produtos industrializados, exceto

papel de imprensa. Podemos chamar estas situações de

imunes. A imunidade tributária é, assim, a qualidade da

situação que não pode ser atingida pelo tributo, em razão de

norma constitucional que, à vista de alguma especificidade

pessoal ou material dessa situação, deixou-a fora do campo

sobre que é autorizada a instituição do tributo.”

O fundamento da imunidade recíproca é a liberdade, sendo-lhe

estranhas as considerações de justiça ou utilidade. Os entes públicos não

são imunes por insuficiência de capacidade contributiva ou pela inutilidade

das incidências mútuas, senão que gozam da proteção constitucional em

homenagem aos direitos fundamentais dos cidadãos, que seriam feridos

com o enfraquecimento do federalismo e da separação dos poderes34.

33 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 12ª edição. São Paulo: Editora Saraiva. 2006. p.106. 34 Disponível em: <http: http://academico.direito-rio.fgv.br/wiki/As_imunidades_tributárias._A_imunidade_rec%C3%ADproca. Acesso em 12 de set. de 2013.

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De fato, na essência do instituto da imunidade recíproca,

descobre-se a preocupação do legislador constituinte de inibir, pela repulsa

à submissão fiscal de uma entidade federada a outra, qualquer tentativa

que, concretizada, possa, em última análise, inviabilizar o próprio

funcionamento da Federação.35

O Excelentíssimo Ministro Celso de Mello36 afirma que:

“Desse modo, afirma-se que a problemática da

imunidade recíproca está umbilicalmente ligada à ideia de

Federação, pois, enquanto os entes federados estão voltados

ao bem comum, é inadmissível conceber que intentem se

tributar mutuamente.”

Para Regina Helena Costa, a imunidade recíproca tida como a

mais importante das imunidades tributárias 37 , quer do ponto de vista

doutrinário, quer do jurisprudencial38, fundamenta-se em dois pilares: (I)

supremacia do interesse público sobre o privado; (II) ausência de

capacidade contributiva das pessoas políticas39.

2.1.2 IMUNIDADE DOS TEMPLOS DE QUALQUER

CULTO

A imunidade de entidades religiosas tem por objetivo garantir a

liberdade de culto religioso. Assim, a imunidade tributária prevista na

35 ARANHA, Luiz Ricardo Gomes. Imunidade Federativa: a repercussão nas imunidades recíprocas, p.138. 36 MELLO, Celso de apud PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e código tributário nacional à luz da doutrina e da jurisprudência. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. 37 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias. Teoria e análise da jurisprudência do STF. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 138. 38 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias. Teoria e análise da jurisprudência do STF. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 139. 39 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias. Teoria e análise da jurisprudência do STF. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 81.

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Constituição Federal atinge todos os impostos que incidem sobre o

patrimônio, a receita e os serviços prestados por estas entidades40.

Regina Helena Costa41 ensina que:

“Como imunidade política e incondicionada, visa a

garantir a eficácia da diretriz constitucional contemplada no

art. 5º, VI, que assegura a liberdade de crença e o livre

exercício de cultos religiosos, densificando-os”.

A imunidade consagrada no artigo 150, VI, b da Constituição da

República reafirma o princípio da liberdade de crença e prática religiosa,

que a Carta prestigia no artigo 5º, VI a VIII. Nenhum óbice há de ser criado

para impedir ou dificultar esse direito de todo cidadão. E entendeu o

constituinte de eximi-lo também do ônus representado pela exigência de

impostos42.

E isso é assim porque a atividade dos templos de qualquer culto

tem como objetivo não o lucro, mas sim disseminar a crença religiosa, a fé.

Ou seja, dado que o Direito Tributário deve se preocupar com atividades

economicamente interessantes para o Estado, este não é o caso dos

templos de qualquer culto, que não exercem nenhuma atividade

econômica43.

Ainda, há que se lembrar que os templos de qualquer culto

exercem enorme e relevante função social, consistente na ajuda a viciados,

pobres e miseráveis, contribuindo e muito para um Estado mais justo e

humanitário. Assim, tais atividades, por serem consideradas de grande

interesse social e cultural, e que são intrínsecas ao trabalho dos templos de

qualquer culto, não podem, jamais, ser tributadas. Ou seja, o Direito

Tributário deve, sim, se preocupar com atividades que envolvem interesses

40 Disponível em <http:www.ambito-juridico.com.br/site/n_link>. Acesso em 12 de set. de 2013. 41 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias. Teoria e análise da jurisprudência do STF. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 156. 42 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 25. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 195. 43 Disponível em <http:www.ambito-juridico.com.br/site/n_link>. Acesso em 12 de set. de 2013.

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de lucro, pois, a atividade, para ser tributada, deve, necessariamente,

objetivar a transferência de riquezas44.

Dessa maneira, mesmo o Brasil sendo um Estado laico, não

existindo religião oficial, o constituinte de 1988 buscou assegurar a

liberdade de culto a todas as religiões, inovando em relação às outras

constituições passadas que condicionavam o exercício dos cultos religiosos

de acordo com as suas próprias conveniências políticas e sociais45.

Nestes termos, Alexandre de Moraes46 assevera que:

“A Constituição Federal assegura o livre exercício

do culto religioso, enquanto não for contrário à ordem,

tranqüilidade e sossego público, bem como compatível com

os bons costumes. Desta forma, a questão das pregações e

curas religiosas deve ser analisada de modo que não

obstaculize a liberdade religiosa garantida

constitucionalmente, nem tampouco acoberte práticas

ilícitas”.

Assim sendo, fica claro a utilidade do instituto referente aos

templos de qualquer culto, pois a religião é um direito inalienável esculpido

na Carta Magna e a fé traz consolo e conforto para aqueles doentes da

alma.

44 Disponível em <http:www.ambito-juridico.com.br/site/n_link>. Acesso em 12 de set. de 2013. 45 Bruno Eduardo Pereira de. Imunidade tributária das entidades religiosas: breve análise. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 20 mar. 2012. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.36090&seo=1>. Acesso em: 12 set. 2013. 46 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional Descomplicado. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.77.

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2.1.3 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DO PATRIMÔNIO,

RENDA OU SERVIÇOS DOS PARTIDOS POLÍTICOS, DAS

ENTIDADES SINDICAIS DOS TRABALHADORES E DAS

INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO E DE ASSISTÊNCIA SOCIAL.

São imunes no quesito tributação o patrimônio, a renda e os

serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades

sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência

social, observados os requisitos da lei, tudo isso insculpido no artigo 150,

VI, “d” da Constituição da República.

Os partidos políticos são cédulas de capital relevância para a

organização política da sociedade, saindo de seus quadros os

representantes dos vários setores comunitários, que dentro deles discutem

e aprovam os programas e as grandes teses de interesse coletivos47. É de suma importância esta imunidades pois assegura alguns

princípios essências, a própria finalidade dos partidos políticos e, entre eles

o regime democrático, o pluralismo politico e, como não podia deixar de ser

os direitos fundamentais da pessoa humana do qual dentro está a dignidade

da pessoa humana48.

No contexto das instituições de educação e assistência social,

Paulo de Barros Carvalho49:

“As instituições de educação e assistência social

desenvolvem uma atividade básica, que, a princípio,

cumpriria ao Estado desempenhar. Antevendo as

dificuldades de o Poder Público vir a empreende-la na

47 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 25. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 195. 48 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. Saraiva, vol. 6 ,São Paulo, 1993, p. 235. 49 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 25. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 195.

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medida suficiente, o legislador constituinte decidiu proteger

tais iniciativas com a outorga da imunidade.”

Pelo art. 205 da Constituição da República de 1988, a educação é

um direto de todos e um dever do Estado, exigindo-se assim uma constante

promoção e incentivo, com a colaboração da própria sociedade, na busca do

pleno desenvolvimento da pessoa. E nesse sentido, para que a iniciativa

privada possa cooperar e colaborar com o Estado nessa missão, suprindo

suas deficiências no setor educacional, o constituinte inseriu o atributo da

imunidade tributária às instituições de educação, na Carta Magna, nos termos

do art. 150, VI, "c"50.

A palavra ‘instituições’ foi usada em sentido corrente de entidade

que atua secundando a atividade do Estado, na busca, sem finalidade

lucrativa, do atendimento do interesse público primário. Logo, desde que a

entidade atue no campo da educação, sem finalidade de lucro, o decantado

requisito da gratuidade na prestação de serviços é dispensável51.

Convém lembrar que para os partidos políticos e suas fundações

gozarem de imunidade de impostos sobre seu patrimônio, rendas e serviços,

consoante expressa previsão legal insculpida na Constituição da República,

devem buscar os seguintes objetivos específicos: resguardo da soberania

nacional, do regime democrático, do pluripartidarismo e dos direitos

fundamentais da pessoa humana; terem caráter nacional; não receberem

recursos financeiros de entidades ou governos estrangeiros ou ficarem

subordinados a estes; prestarem contas à Justiça Eleitoral e terem

subordinação estrita à legalidade contida na Carta Constitucional52.

Diante da importância dada a este tema, é de suma importância

notar que a imunidade atribuída aos partidos políticos expressa na

Constituição da República ganha um caráter quase absoluto e monumental

50 ABLE, José. Imunidade tributária das instituições de educação. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2639, 22 set. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/17460>. Acesso em: 12 set. 2013. 51 CARRAZZA, Elisabeth Nazar, Imunidade Tributária das Instituições de Educação, in Revista de Direito Tributário – RDT, São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 2, nº 3 jan/mar, 1978, p. 169. 52 SCAFF, Fernando Facury. Cidadania e imunidade tributária in http://www.mundojuridico.adv.br/artigos/documentos/texto283.html.

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que chega perto de se confundir com a natureza do Estado Democrático de

Direito contemplado e promulgado de forma primordial e na Constituição

Cidadã de 1988.

Diante disso, tanto é assim, que existem inúmeros doutrinadores

de grande renome no sistema jurídico brasileiro que afirmam que as

imunidades conferidas aos partidos políticos e suas instituições seriam

clausulas pétreas, que são previsões legais que não podem ser abolidas pelo

Poder Constituinte Derivado, tendo em vista que fazem parte da própria

soberania estatal, conquistada ao longo dos anos e que fazem parte da

essência do Estado Democrático de Direito encontrada na Constituição da

República. Neste diapasão, soberania, de forma simples e sucinta, é a

qualidade que identifica, configura verdadeiramente um Estado perante a

comunidade internacional e o direito internacional, o direito das gentes. Este

Estado não pode ficar sujeito a nenhuma autoridade superior,

internacionalmente ou nacionalmente, melhor dizendo, não reconhece

qualquer autoridade superior que não a própria configurada pelo

ordenamento histórico. A partir disso surge a noção de que a imunidade do

partido político, seja caracterizada como garantia das liberdades da vontade

popular, do poder emanado do povo, conforme insculpido na Carta

Constitucional que decorre da autonomia popular como exposto

anteriormente. Neste diapasão não deve estar sujeita a alterações

constitucionais derivadas do Poder Constituinte Derivado Reformado ou que

possam ocorrer a partir de movimentos turbulentos e passageiros53.

Com tudo exposto, em nome da República, da democracia e do

Estado Democrático de Direito, caracterizados como cláusula pétrea pelo

Constituinte de 1988, os partidos políticos, suas fundações e seus

patrimônios não devem sofrer nenhum tipo de tributação pelos entes

federados.

No tocante a imunidade das instituições de educação e assistência

social, a referida alínea deve ser interpretada de forma teleológica pois assim

a Constituição estaria sendo respeitada.

53 REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público, 9ª ed., Saraiva, São Paulo, 2002, p. 216.

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Ademais, são beneficiadas com a imunidade as instituições de

assistência social apenas aquelas que atendam as exigências da lei,

conforme art. 195, §7º da Constituição da República, in verbis:

Art. 195. A seguridade social será financiada por

toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da

lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e

das seguintes contribuições sociais:

(...)

§ 7º - São isentas de contribuição para a

seguridade social as entidades beneficentes de assistência

social que atendam às exigências estabelecidas em lei.

Assim, para que seja configurada a imunidade tributária, as

instituições educacionais e de assistência social, sem fins lucrativos, devem

atender aos requisitos previstos no artigo 9º c/c o artigo 14, ambos do

Código Tributário Nacional – CTN, que faz as vezes de lei complementar54:

Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

(...)

IV - cobrar imposto sobre:

(...)

c) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos

políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais

dos trabalhadores, das instituições de educação e de

assistência social, sem fins lucrativos, observados os

requisitos fixados na Seção II deste Capítulo;

(...)

54 MALHEIROS, Carolina Rocha. Imunidade tributária das instituições de educação e assistência social. Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3693, 11 ago. 2013 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/25136>. Acesso em: 9 out. 2013.

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§ 1º O disposto no inciso IV não exclui a atribuição,

por lei, às entidades nele referidas, da condição de

responsáveis pelos tributos que lhes caiba reter na fonte, e

não as dispensa da prática de atos, previstos em lei,

assecuratórios do cumprimento de obrigações tributárias por

terceiros.

Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do

artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes

requisitos pelas entidades nele referidas:

I – não distribuírem qualquer parcela de seu

patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título;

II - aplicarem integralmente, no País, os seus

recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais;

III - manterem escrituração de suas receitas e

despesas em livros revestidos de formalidades capazes de

assegurar sua exatidão.

§ 1º Na falta de cumprimento do disposto neste

artigo, ou no § 1º do artigo 9º, a autoridade competente pode

suspender a aplicação do benefício.

§ 2º Os serviços a que se refere a alínea c do

inciso IV do artigo 9º são exclusivamente, os diretamente

relacionados com os objetivos institucionais das entidades de

que trata este artigo, previstos nos respectivos estatutos ou

atos constitutivos.

Com isso, para que seja formalmente reconhecida a imunidade

aos impostos e contribuição para a seguridade social é imperativa a

observância, pelas entidades de educação e assistência social, dos requisitos

caracterizadores da imunidade já estabelecidos no artigo 14 do CTN ou

mediante lei complementar que disponha a respeito.

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2.1.4 IMUNIDADE DE LIVROS, JORNAIS,

PERIÓDICOS E PAPEL DESTINADO A SUA IMPRESSÃO

Qualquer livro ou periódico, e bem assim o papel utilizado para a

sua impressão, sem restrições ou reservas, estarão à margem dos anseios

tributários do Estado, no que concerne aos impostos. De nada vale arguir que

a frequência da edição seja pequena, que o livro tenha características

especiais, ou, ainda, que o papel não seja o mais indicado para a impressão.

Provado o destino que se lhe dê, haverá a imunidade. Para essa hipótese,

sendo uma disposição de eficácia plena e aplicabilidade imediata, nada tem a

lei que complementar55.

Nas palavras do Ilustre Prof. Aliomar Baleeiro56:

"a imunidade tem como meta a redução do custo

do produto, favorecendo a veiculação de informações, do

ensino, da educação e da cultura. Por isso está destinada,

em primeiro lugar, a beneficiar o consumidor que sofrerá,

finalmente, pelo mecanismo dos preços, a transferência do

encargo financeiro dos impostos incidentes sobre a produção

e a comercialização do papel, do livro, dos jornais e

periódicos."

Cumpre observar que a liberdade de pensamento não se limita a

autorizar que as pessoas expressem as suas idéias. De modo mais amplo,

garante-lhes, ainda, o direito de difundir os seus pensamentos como bem

entenderem, seja proferindo conferências, publicando livros, jornais ou

periódicos, etc.57

55 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 196. 56 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª edição, Ed. Forense, pág. 341. 57 Disponível em <www.unifacs.br/revistajuridica/arquivo/edicao.../discente/disc03.doc.> Acesso em 28 de set. 2013.

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Neste diapasão Roque Carraza58:

“No Brasil, todos podem manifestar livremente o

próprio pensamento, seja pela palavra, seja pelo escrito, seja

por quaisquer outros meios de comunicação entre pessoas,

principalmente a escrita. Como vemos, a liberdade de

pensamento é assegurada em sentido latíssimo,

contemplando, destarte, qualquer meio idôneo a divulgá-lo”.

No que concerne à breve análise histórica da imunidade tributária

dos livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão, deve-se

salientar que, com o passar dos anos, sempre se impôs censura à liberdade

de expressão do pensamento mediante controle na venda do papel ou na

excessiva carga tributária dos objetos formadores de informação e opinião.

A imensa carga tributária representou um dispendioso retrocesso cultural

para o país, o qual começou a ser superado no governo de Juscelino

Kubitschek59.

A Constituição Federal de 1946 foi a primeira carta constitucional

a insculpir, expressamente, sobre a imunidade tributária do papel que se

destinava impreterivelmente à impressão de livros, jornais e periódicos.

Aliomar Baleeiro60 afirma que, quando da promulgação desse preceito na

Constituinte de 1946, visava-se, sobretudo, garantir o acesso à e evitar a

censura ditada pelo governo do Estado. E, por fim, na luta entre a

propagação cultural através da diminuição das cargas tributárias e os

interesses econômicos e financeiros, observa-se que o primeiro quesito

prevaleceu no texto da carta constitucional. Esse era o impasse

constitucional da época: tentar evitar com que o fato se repetisse e a carga

tributária servisse como desculpa estatal para diminuir o acesso à cultura, 58 CARRAZA, Roque Antônio. Importação de Bíblias em fitas – sua imunidade – exegese do art. 150, VI, d, da Constituição Federal. Revista Dialética de Direito Tributário, n. 26, São Paulo: Dialética, novembro-1997, p. 125. 59 CARVALHO, André Castro. Tributação de Bens Digitais: interpretação do art. 150, VI, d, da Constituição Federal. 1. ed., São Paulo: MP, 2009, p.52-53. 60 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª edição, Ed. Forense, pág. 341.

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informação e saber; arbitrariamente, as publicações poderiam ser

consideradas inapropriadas e, portanto, ser fonte de censura61.

Com a Emenda Constitucional nº 1 de 17 de outubro de 1969,

houve a inversão dos conceitos com a expressão “e o papel destinado a sua

impressão” posta ao final do dispositivo legal, priorizando-se, destarte, os

livros. É por isso que a imunidade não foi concedida somente ao papel, mas

sim ao produto que era o principal componente desses veículos

propagadores de pensamento62.

Essa inversão de conceitos trouxe consequências importantes,

principalmente porque houve uma ampliação da imunidade que beneficiou o

papel para qualquer impressão.63

Com a Constituição Federal de 1988, ainda prevalece na doutrina

e na jurisprudência, o entendimento de Aliomar Baleeiro. A imunidade sobre

o papel, os livros, os jornais e os periódicos é considerada objetiva, no

sentido de que alcança somente os impostos incidentes sobre a importação,

a produção industrial e a circulação de mercadorias, mas não os impostos

incidentes sobre a renda e o patrimônio, os quais devem ser pessoais64.

Neste diapasão é bom salientar sobre a inclusão das listas

telefônicas nessas imunidades. Acerca deste assunto Paulo de Barros

Carvalho65:

“Discute-se recentemente, a propósito da inclusão

das listas telefônicas no âmbito de alcance da regra

imunizante do artigo 150, VI, d. É fácil perceber o manifesto

descabimento da pretensão fazendária. Certificado que as

listas telefônicas têm periodicidade, que no caso é anual, não

61 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª edição, Ed. Forense, pág. 190. 62 FERRAZ, Tércio Sampaio. “Livro Eletrônico e Imunidade Tributária”, in Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, n.22, 1998, p.34. 63 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª edição, Ed. Forense, pág. 148. 64 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, 7ª edição, Ed. Forense, pág. 149. 65 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 197.

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pode prosperar qualquer hesitação no reconhecimento da

imunidade.”

Acerca de seu tipo, o mesmo autor66:

“A imunidade dos livros, periódicos e do papel

destinado à sua impressão é classificada, por muitos, como

do tipo objetivo, pouco importando as qualificações pessoais

da entidade que opera com esses bens.”

Nestes termos, é imprescindível para o acesso a cultura e a

informação a imunidade tributária imposta pela Constituição da República

para os livros, jornais e periódico e o papel destinado a sua impressão.

2.1.5 OUTRAS HIPÓTESES DE IMUNIDADE

Há outras hipóteses presentes na Constituição da República que

definem a incompetência do legislador em instituir tributos.

Neste diapasão, é preceito imunizante aquele gravado no art.

153, §3º, III da Constituição da República, segundo o qual o IPI (Imposto

sobre produtos industrializados), não incidirá sobre produtos industrializados

destinados ao exterior 67 . É chamada pela doutrina especializada de

imunidade específica.

Neste termos é também imunidade a previsão expressa do artigo

153, §4º, II do mesmo diploma legal. Este artigo diz que o imposto territorial

rural não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as

explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel.

66 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 197. 67 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 197.

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No inciso V do mesmo dispositivo Constitucional é consagrada a

imunidade do ouro com relação a todos os impostos que não aqueles

previstos no dispositivo supracitado68.

Neste diapasão, Paulo de Barros Carvalho69:

‘Significa dizer, por outros torneios, que somente o

imposto que onera as operações de crédito, câmbio e seguro,

ou relativas a títulos ou valores mobiliários, pode alcançar o

ouro, desde que seja ele definido em lei como ativo financeiro

ou instrumento cambial. Esse o mandamento inscrito no

artigo 153, §5º.”

É também imunidade a citada no artigo 155, §2º, X “a” da

Constituição da República de 1988. Este dispositivo fala sobre o ICMS e as

operações que destinem mercadorias para o exterior e aos serviços

prestados a destinatários situados fora do território nacional.

Também imunes as operações que destinem a outros Estados

petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele

derivados, e energia elétrica, conforme artigo 155, §2º, X, “b”.

Por fim, quanto ao imposto sobre transmissão de bens e direitos,

insculpido no artigo 156, II, há a imunidade referida no §2º, I, vedando a

incidência desse tributo sobre a transmissão de bens ou direitos

incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, ou

na transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão, incorporação,

cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo, se nesses casos, a atividade

preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos,

locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil70.

68 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 197. 69 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 197. 70 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p. 198.

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CAPÍTULO III

O PROBLEMA DOS LIVROS ELETRÔNICOS

3.1 Conceito

Um livro digital (livro eletrônico/eletrônico ou o anglicismo e-book)

é um livro em formato digital que pode ser lido em equipamentos eletrônicos

tais como computadores, PDAs, Leitor de livros digitais ou até mesmo

celulares que suportem esse recurso. Os formatos mais comuns de E-books

são o PDF, HTML e o EPUB. O primeiro necessita do conhecido leitor de

arquivos Acrobat Reader ou outro programa compatível, enquanto que o

segundo formato precisa de um navegador de Internet para ser aberto. O

EPUB é um formato de arquivo digital padrão específico para e-books. Por

ser um dispositivo de armazenamento de pouco custo, e de fácil acesso

devido à propagação da Internet nas escolas, pode ser vendido ou até

mesmo disponibilizado para download em alguns portais de Internet

gratuitos71.

De acordo com Danilo Amoroso72:

“A definição de leitor digital é simples: um

dispositivo que exibe o conteúdo de livros digitais e que

pode ser exclusivo para este tipo de leitura ou ter outras

funções também. O que esses aparelhos buscam como

melhoria em relação ao manuseio convencional de livros é,

principalmente, a portabilidade. Vários livros podem ser

71 Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_digital>. Acesso em 28 de set. 2013. 72 AMOROSO, Danilo. Leitores digitais: conheça mais sobre esses aparelhos. Disponível em:<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:JGBoyX5Di78J:www.baixaki.com.br/info/2557-leitores-digitais-conheca> Acesso em 28 de set 2013.

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“carregados” em um único dispositivo sem peso nenhum, por

exemplo.”

3.2 Imunidade tributária dos livros eletrônicos.

O livro casual é uma fonte de sabedoria e prazer, é relacionado a

educação de um povo e uma forma de se aprender e transmitir conteúdo

sendo indispensável para uma nação que queira progredir economicamente e

tecnologicamente, ou seja, a leitura deveria ser uma obrigação fomentada

pelos órgãos do governo de forma que a população incorporasse em sua

rotina o hábito de leitura.

Ao tratar da imunidade tributária do livro, Ângela Maria da Motta

Pacheco73, assim o define:

“O livro é aquilo que faz o homem pensar, o

homem sentir, o homem existir. São os livros que ensinam a

linguagem matemática, musical e a nossa linguagem das

palavras. São os livros que contam histórias dos povos, falam

sobre a vida de alguém, ou falam de histórias imaginárias,

fantásticas e mágicas. São os livros que falam de como o

homem pensa, de como percebe a natureza, de como pode

nela interferir, destruindo-a ou reconstruindo-a.

É o livro que imortaliza o homem. Livro é, pois, o

conteúdo de um veículo que divulga informação, ciência,

ficção, arte, idéias e cultura, no vasto domínio do

conhecimento humano. A matéria, na qual o livro se

impregna, se identifica, completa-o, mas não o define.”

Com o passar dos anos o avanço tecnológico se mostrou

insaciável e de suma importância nas interações entre seres humanos e

73 PACHECO, Ângela Maria da Motta. Imunidade Tributária do Livro. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade Tributária do Livro Eletrônico. São Paulo: Atlas, 2003, p. 14-29.

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máquina. Hoje, ninguém vive sem aparelhos tecnológicos que fazem do dia-

a-dia uma forma mais fácil de viver. Logicamente os livros entrariam nesse

avanço, e entraram na forma digital, facilitando a experiência de leitura. Ao

invés de carregar um imenso conteúdo de livros, as pessoas podem carregar

seus leitores eletrônicos e dentro deles uma imensa gama de sabedoria e

leitura.

Sobre a interpretação da imunidade tributária e seu alcance na

moderna tecnologia, Machado74, escreve:

“A melhor interpretação das normas da

Constituição é aquela capaz de lhes garantir a máxima

efetividade. Toda imunidade tem por fim a realização de um

princípio que o constituinte considerou importante para a

nação. A imunidade dos livros, jornais, periódicos tem por

fim assegurar a liberdade de expressão do pensamento e a

disseminação da cultura. Como é inegável que os meios

magnéticos, produtos da moderna tecnologia são hoje de

fundamental importância para a realização desse mesmo

objetivo, a resposta afirmativa se impõe.”

Diante do posicionamento do renomado autor, fica claro que deve

se levar em consideração não o formato do livro, mas sim o conteúdo que ele

fornece, que tanto o casual quanto o digital seria o saber. Neste diapasão, o

mesmo Ives Gandra Martins75:

“A prova maior de que a imunidade deve ser

interpretada extensivamente encontra-se nas decisões do

STF sobre publicidade em jornais, revistas e periódicos, listas

telefônicas e papel fotográfico, em que a imunidade se

aplicava tanto à publicidade divulgada por esses veículos,

74 MACHADO, HUGO BRITO. Curso de Direito Tributário. 13a ed, São Paulo: Malheiros, 2011, p. 293. 75 MARTINS, IVES GANDRA DA SILVA. Imunidades Tributárias. São Paulo: Revista dos Tribunais,1998, p.39.

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quanto às listas telefônicas e à aquisição do papel

fotográfico, pois essenciais ao desiderato constitucional de

proteger a liberdade de expressão, informação e formação.”

Os Tribunais brasileiros já se posicionaram sobre o tema das

Imunidades Tributárias das novas mídias eletrônicas. As discussões que

anteriormente envolviam os livros, jornais e periódicos impressos em papel,

passaram a contar também com os CD-Roms e novas formas de mídias

eletrônicas.76

O Supremo Tribunal Federal tende ao posicionamento contrário à

extensão da imunidade tributária ao livro eletrônico, e, enquanto não há

uma definição, editou a Súmula n° 657, para a qual a imunidade prevista no

art. 150, VI, “d“, da Constituição Federal, abrange os filmes e papéis

fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos apenas, não se

estendendo aos livros do gênero eletrônico.

Não há dúvida que os depósitos eletrônicos chamados e-reader

possuem a mesma função de um livro, qual seja, o de difundir o

conhecimento, a educação e garantir a liberdade de expressão de um jeito

fácil e moderno.

Ocorre que, apesar de poder carregar uma imensa quantidade de

livros e assim difundir o conhecimento, esses dispositivos também servem

para escutar músicas e ver filmes e programas pela tela disponível nesses

gadgets.

Ou seja, é um dispositivo eletrônico como um celular, apenas foi

feito especialmente para a leitura sendo que alguns modelos também

permitem outras visualizações.

Por isso, fica a dúvida se esses aparelhos podem ser enquadrados

nas imunidades contidas no artigo 150, VI, “d” da Constituição da

República.

Sobre este tema, alguns passos já foram tomados, pois,

recentemente a Justiça Federal em São Paulo foi chamada a decidir nos

76 Disponível em <http://atualidadesdodireito.com.br/alexandrepontieri/2013/05/04/as-imunidades-tributarias-aos-livros-eletronicos-sob-a-otica-dos-tribunais-3/>. Acesso em 28 de set. 13.

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autos do mandado de segurança n° 0025856-62.2009.403.6100, no sentido

de não se exigir pagamento de tributos por ocasião do desembaraço

aduaneiro de dispositivo digital para leitura. O Juízo da 22ª Vara Federal,

julgando parcialmente procedente a demanda, entendeu que o e-reader

consiste em um “instrumento cuja finalidade é acessar os livros

eletrônicos”, justificando seu entendimento no sentido de que “há de ser

interpretada a norma constitucional para que nossa Carta Magna tenha vida

longa, ou seja, que não precise ser emendada a cada evolução tecnológica

que surja77”.

O renomado autor Janczeski entende que não se pode parar no

tempo e estender apenas as imunidades para os livros tradicionais, uma vez

que o objeto dos livros eletrônicos é o mesmo. Nestes termos, suas

palavras78:

“Hoje, o livro ainda é conhecido por ser impresso e

ter como suporte material o papel. Rapidamente, porém, o

suporte material vem sendo substituídos por componentes

eletrônicos, cada vez mais sofisticados, de modo que, em

breve, o papel será tão primitivo, quanto são hoje a pele de

animal, a madeira e a pedra. A imunidade, assim, não se

limita ao livro como objeto, mas transcende a sua

materialidade, atingindo o próprio valor imanente ao seu

conceito. Pode-se dizer, então, que a Constituição não tornou

imune a impostos o livro-objeto, mas o livro-valor.”

Porém, apesar de toda a doutrina e alguns entendimentos

jurisprudenciais a favor, se encontra nos Tribunais uma posição contra a

referida imunidade, como o julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do

Sul, nestes termos:

77 Disponível em <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9815>. Acesso em 28 de set 2013. 78 JANCZESKI, CELIO ARMANDO. A Imunidade dos Livros, Periódicos e do Papel Destinado à Sua Impressão. In: Imunidades Tributárias. Marcelo Magalhães Peixoto e Cristiano Carvalho (Organizadores). São Paulo: MP Editora, 2004, p.59.

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Processo: AGV 70046150975 RS

Relator (a): Maria Isabel de Azevedo Souza

Julgamento: 23/02/2012

Órgão Julgador: Vigésima Segunda Câmara

Cível

Publicação: Diário da Justiça do dia 29/02/2012

Ementa: AGRAVO. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE.

LIVRO.

ELETRÔNICO. CD-ROM.

1. Em se tratando de matéria a cujo respeito há

súmula ou jurisprudência dominante do respectivo tribunal,

do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior, o

Relator está autorizado a negar seguimento ou a dar

provimento a recurso. Art. 557 do CPC.

2. As operações de circulação de livro eletrônico

não estão ao abrigo da imunidade. Jurisprudência do STF.

Recurso desprovido. (Agravo No 70046150975, Vigésima

Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Maria Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 23/02/2012).

Pois bem, apesar de algumas posições contrárias, fica claro que

este tema ainda não é pacífico em nossos tribunais, porém com o avanço

tecnológico e as novas invenções é evidente que este caminho encontrará

um consenso, qual seja, a imunidade estendida a estes aparelhos

eletrônicos.

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CONCLUSÃO

O problema inerente ao e-books ou leitores digitais, no tocante as

imunidades tributárias deverão ser analisadas conforme o caso concreto a

ser estudado.

Fica claro que o leitor digital puro aquele que serve apenas para

leitura e difusão do conteúdo ali inserido com vistas a educação e a

liberdade de expressão deve estar contido no artigo 150, VI, “d” da

Constituição da República, pois ele é igual a qualquer livro de papel e assim

destina-se ao incremento da informação, do conteúdo com vistas ao

melhoramento da atividade humana, consubstanciado com o Estado

Democrático de Direito previsto na Constituição Cidadã de 1988, que preza

pela liberdade de expressão.

Ademais, no tocante aos leitores mais tecnológicos que permitem

uma variedade de atividade, bem como a possibilidade de ouvir música e

ver programas, não cabe a primeira vista a referida imunidade, haja vista

que levando em consideração seu aspecto tecnológico, ele se parece mais

como um pequeno computador ou smartphone, os quais sabemos não

carecem de imunidade tributária.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 9

1.1 - Etimologia 9

1.2 – Histórico 10

1.3 – Imunidade Tributária nas Constituições Brasileiras 11

1.4 – Imunidade Tributária no Direito Comparado 16

CAPÍTULO II

IMUNIDADES NO SISTEMA BRASILEIRO 19

2.1 – Constituição Federal de 1988 19

2.1.1 – Imunidade recíproca 20

2.1.2 – Imunidade dos templos de qualquer culto 22

2.1.3. – Imunidade tributária do patrimônio, renda ou serviços dos

partidos políticos, das entidades sindicais dos trabalhadores e das

instituições de educação e de assistência social. 25

2.1.4 - Imunidade de livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua

impressão 30

2.1.5 - Outras hipóteses de imunidade 33

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48

CAPÍTULO III

O PROBLEMA DOS LIVROS ELETRÔNICOS 35

3.1 - Conceito 35

3.2 – Imunidade tributária dos livros eletrônicos 36

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CITADA 42

ÍNDICE 47