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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A REGULAMENTAÇÃO DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS Joice Gonçalves Rodrigues ORIENTADORA: Prof.ª Gisele Leite Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A REGULAMENTAÇÃO DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS

Joice Gonçalves Rodrigues

ORIENTADORA:

Prof.ª Gisele Leite

Rio de Janeiro

2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de especialista

em Gestão e Planejamento Tributário.

Por: Joice Gonçalves Rodrigues

A REGULAMENTAÇÃO DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS

Rio de Janeiro

2016

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AGRADECIMENTOS

Aos amigos, parentes, professores e colegas de trabalho

que contribuíram com paciência, conhecimento e

incentivo a esta nova etapa da minha vida profissional.

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DEDICATÓRIA

Dedica-se este trabalho a minha família, em especial

meu esposo Tércio e minha sogra Lúcia, que me

apoiaram incondicionalmente.

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RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo investigar quais os motivos que levaram o Imposto sobre

Grandes Fortunas a não ser implantado no Brasil apesar de estar previsto na Constituição

Federal. Será analisada a vertente de que este se trata de Confisco, bem como sua incidência.

Qual a(s) alíquota(s) deve (m) ser aplica(s)? Sobre quem deve incidir? Pessoa física, jurídicas

ou ambas? Quais os exemplos existentes em outros países e quais as consequências? Veremos

também como está a saúde econômica do Brasil e quais os esforços que estão sendo feitos

para resolver o problema. Veremos outro tributo em alta nas discussões governamentais – a

Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. Sua história, retorno, incidência e

vantagens e desvantagens. Por fim descobriremos quais as alternativas que melhor se aplicam,

tendo um melhor retorno com o menor impacto possível.

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METODOLOGIA

O presente trabalho é baseado em uma extensa pesquisa bibliográfica, composta por

livros, sites, revistas, jornais e a Legislação pertinente ao assunto. Estes visam embasar a

fundamentação teórica ora apresentada, bem como elucidar as questões propostas.

Como base para pesquisa, foram utilizados termos como: “Imposto sobre grandes

fortunas”; “grandes riquezas”; “Constituição Federal” e “Confisco”.

O presente trabalho tem por objetivo apresentar pesquisas realizadas acerca do assunto,

seu histórico, bem como aplicabilidade das hipóteses dentro do contexto tributário e

econômico.

Utilizasse tabelas e cálculos a fim de pontuar com maior clareza o assunto defendido,

possibilitando ao leitor uma aproximação com os assuntos desenvolvidos.

Ao final da leitura deste trabalho, pretende-se que o leitor seja capaz de observar de

forma crítica o cenário no qual o assunto é inserido, vislumbrando as sugestões aqui propostas

agindo de forma ativa no que concerne o assunto em questão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................7

CAPÍTULO I .............................................................................................................................................9

O IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A CONSTITUIÇÃO ................................................................9

CAPÍTULO II .......................................................................................................................................... 15

DÉFICIT BRASILEIRO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA........................................................................... 15

CAPÍTULO III ......................................................................................................................................... 20

IGF COMO ALTERNATIVA A CPMF ........................................................................................................ 20

CONCLUSÃO ......................................................................................................................................... 28

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 32

ÍNDICE .................................................................................................................................................. 34

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES ...................................................................................................................... 35

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INTRODUÇÃO

Analisando a carga tributária existente no Brasil e a conjuntura histórica que envolve a

tributação desde os primórdios, percebemos que os detentores das maiores riquezas são os que

menos contribuem. Na história da humanidade a tributação, em seus mais diversos

momentos, tem considerado uma relação contextualizada nos âmbitos culturais,

sociais e econômicos onde, no final de todo esse processo, nota-se

uma cultura de exclusões, discriminações, desigualdades, intolerâncias e injustiças,

consideradas normais.

Há de se notar que sempre existiram na historia da humanidade a acumulação de

riquezas, com a aquisição de grandes fortunas, principalmente após as grandes

guerras da Idade Antiga com a apropriação dos bens dos derrotados.

Um dos fatores que influenciaram no aparecimento de grandes propriedades privadas,

com valores elevados e concentrados em determinadas famílias ou indivíduos, foi o fato de

que, nem na Grécia e nem na Roma Antiga, estes acumuladores de riqueza eram obrigados a

pagar impostos. Também os poderosos e a Igreja que tinham influência junto ao Estado, eram

isentos da tributação, situação essa semelhante à vivenciada até os nossos dias atuais, sendo

tributados na época apenas os com menor poder aquisitivo como o povo, os camponeses, os

estrangeiros e os comerciantes.

Podemos perceber que, ao longo do tempo, a acumulação de riquezas e a construção de

grandes fortunas sempre existiram, sendo essa relação mais tarde traduzida em poder, onde

quem detém maior riqueza sobrepuja quem não a detém, sendo ainda isento de determinadas

cargas tributárias ou se beneficiando desta.

Diante deste cenário elaborou-se este trabalho, a fim de lançar luz acerca de um

imposto previsto na Constituição Federal de 1988, mas que não foi regulamentado até o

presente momento: O Imposto sobre Grandes Fortunas, apresentando-o como opção viável e,

quiçá, sem efeito para a parcela da população que já é tão impactada com a tributação atual,

frente a algumas medidas que têm sido levantadas como opção para alavancar a arrecadação,

visando equalizar a balança pública, como a já conhecida CPMF (Contribuição Provisória

sobre Movimentação Financeira).

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Considerando-se que vivemos em um país onde a desigualdade social é tão perceptível e

a equalização social e econômica têm sido destaque no atual mundo globalizado, porque não

lançar-se do princípio da Capacidade Contributiva esculpida em nossa Carta Magna, em seu

artigo 145, para colocar em prática este imposto, a fim de fazer com que os que mais detêm

bens e riquezas contribuam de forma equiparada ao acumulo obtido para o bem comum.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

§ 1º. Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e

serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à

administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses

objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais nos termos da lei, o

patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

(Constituição Federal de 1988, Art. 145, § 1°).

Como alternativa a equalização da atual carga tributária, este trabalho esmiúça o

assunto, sem, contudo, intencionar esgotá-lo, partindo da premissa de que quem ganha mais

deve contribuir mais, analisando os prós e os contras do IGF (Imposto sobre Grandes

Fortunas).

O estudo irá analisar a importância do IGF quanto ao seu potencial social, no tocante à

contribuição, para diminuição das desigualdades sociais e como pode garantir direitos

fundamentais expressos na Constituição.

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CAPÍTULO I

1 O IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A CONSTITUIÇÃO

O IGF – Imposto sobre Grandes Fortunas – é um tributo de competência da União,

previsto na Constituição Federal, com o objetivo de tributar as grandes fortunas. Para que seja

instituído necessita de Lei complementar que deve ser aprovada por maioria absoluta (50% +

1) dos membros das duas casas do Congresso Nacional.

1.1 O IGF no mundo.

Segundo Szklarowsky, o imposto sobre grandes fortunas existe desde tempos

imemoriais por considerá-lo como simples espécie de imposto sobre o patrimônio:

O Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), espécie de imposto

sobre o patrimônio, tem-se desenvolvido, através dos tempos, sob os mais

diversos nomes. Imposto sobre a terra, de tempos imemoriais, desde a época

bíblica, passando pelo Egito, Grécia e Roma.

Já o autor Francisco de Paula Giffoni entende que o único imposto com a denominação

de Imposto sobre grandes fortunas instituído foi francês, intitulado “Impôtsurles Grandes

Fortunes”, este entende ainda que o Imposto sobre grandes fortunas pode ser traduzido como

a mais moderna versão de imposto global sobre o patrimônio.

Ao longo do século XX, verificou-se que a maioria dos países Europeus já adotou este

tipo de imposto. Muitos países adotaram uma tributação sobre riqueza, heranças e renda, de

forma progressiva, gerando uma desconcentração de renda e riqueza continuamente.

Tem-se que, em meados de 90, quando esses países atingiram um bom nível de

desenvolvimento e de igualdade, o imposto foi extinto. Alguns motivos levaram a esse

desfecho, dentre eles temos a transferência de capital para paraísos fiscais; alto custo

administrativo e fiscalizatório e distorções na aplicabilidade a pessoas jurídicas.

Porém, mesmo em meio a este cenário, alguns países decidiram manter o IGF ou algo

análogo a ele. O maior exemplo é a França na Europa e Uruguai e Argentina na América do

Sul. Nestes países, têm-se relatos de crescimento na arrecadação e no número de

contribuintes. Para tal, desenvolveram legislações e administração detalhadas e complexas no

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decorrer dos anos, permitindo-os manter os resultados obtidos. Com a crise financeira e fiscal

de 2009, alguns países como Espanha e Islândia reinstituíram o imposto.

Atualmente, na Europa, países como a Noruega, Islândia, França, Suíça, Hungria,

Espanha, Holanda e Luxemburgo possuem o imposto sobre riqueza. Cada país possui,

isoladamente, uma estrutura diferenciada e autônoma na taxação, mas o objetivo comum é a

cobrança de impostos sobre os rendimentos e patrimônios mais elevados. Ocaso de maior

destaque é o da França, pois possui o “Imposto de Solidariedade sobre a Fortuna” (o qual

inspirou o Imposto sobre Grandes Fortunas no Brasil), que em 2012 instituiu um imposto

especial com duração de 02 anos, no qual foi aplicado 75% sobre os rendimentos superiores a

um milhão de euros por ano.

1.2 O IGF e a Constituição – Legalidade ou Confisco?

Reza a Constituição em seu art. 153: "Art. 153. Compete à União instituir impostos

sobre: [...] VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar". Sendo assim, porque há

correntes que afirmam se tratar de Confisco, alegando ilegalidade deste tributo?

Dispõe o art. 150, inciso IV, da Constituição Federal de 1988: "Art. 150. Sem prejuízo

de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios: [...] IV - utilizar tributo com efeito de confisco; [...]".

O confisco trata-se de ato do poder público que consiste na apropriação dos bens dos

particulares sem a devida indenização, ou seja, há uma verdadeira usurpação dos bens

privados.

Para Leandro Paulsen, o confisco identifica-se "com a tributação excessivamente

onerosa, insuportável, não razoável, que absorve a própria fonte da tributação".

A partir destas premissas percebe-se que o IGF, para não ter o caráter confiscatório,

deve obedecer aos princípios legais, as quais sejam, a proporcionalidade, respeitando o direito

fundamental da propriedade, bem como a razoabilidade, onde o conjunto dos tributos

aplicados pela mesma pessoa política se enquadre nos limites da normalidade no caso

concreto.

Percebemos assim que, para ser confiscatório, o IGF, em conjunto com outros tributos

da União, seja oneroso em demasia para o contribuinte. Ou seja, se outro tributo proveniente

do mesmo ente tributário, neste caso a União, com alíquotas expressivas, as quais somadas

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tivessem um resultado relevante, fosse calculado sem que houvesse dedução deste valor da

base de cálculo do IGF.

Ao analisarmos a obra de Machado verificamos que “o dispositivo constitucional pode

ser invocado sempre que o contribuinte entender que o tributo, no caso, lhe está confiscando

os bens”, e ainda “cabe ao judiciário dizer quando um tributo é confiscatório. A regra

constitucional, no mínimo, deu ao judiciário mais um instrumento de controle da veracidade

fiscal do Governo, cuja utilidade certamente fica a depender da provocação dos interessados e

da independência e coragem dos magistrados, especialmente dos que integram o Supremo

Tribunal Federal”.

O princípio do Confisco tende a embasar à instituição do Imposto sobre Grandes

Fortunas quando induz a acreditar que o aumento da carga tributária com a instituição de tal

tributo alienaria o patrimônio dos contribuintes, desapropriando os mesmos de seus direitos,

repassando-os ao Estado.

Podemos perceber até o momento que o efeito confiscatório se torna maior não com a

instituição do IGF, devido ao volume sobre o qual incidiria, mas quando nos deparamos com

a instituição de tributos incidentes sobre aqueles com menor capacidade contributiva,

atingindo de forma cruel e desmedida os que têm menor concentração de recursos.

1.3 Tentativas de implementação – O que deu errado?

Desde 1989 são apresentadas propostas para regulamentar o Imposto sobre Grandes

Fortunas. A primeira foi a PLP (Projeto de Lei Complementar) 202/89 do ex-presidente e

então Senador Fernando Henrique Cardoso. Em 1999 foi aprovada pela Comissão de Finanças

e Tributação e em 2000 pela Constituição de Justiça e de Cidadania, porém até hoje aguarda

votação em Plenário.

Com as discussões acerca da Reforma Tributária na Câmara, em 2008 PSOL e PT

apresentaram propostas para a regulamentação deste imposto, mas sem sucesso.

Em Junho de 2008 a Deputada Luciana Genro (PSOL) conseguiu aprovar a proposta

277/08 na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, mas a Comissão de Finanças e

Tributação deixou vencer o prazo para analisá-la uma vez que nunca houve consenso entre os

deputados, o que tornou o processo conturbado. Em Fevereiro do mesmo ano, uma proposta

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semelhante, a PLS (Projeto de Lei do Senado) 128/08, do Senador Paulo Paim (PT), foi

arquivada pelo Senado.

Podemos enumerar, dentre os projetos de lei apresentados, acerca do IGF, ao Congresso

os seguintes: PL (Projeto de Lei) nº. 310 de 03/12/19871, PLP nº. 108 de 06/06/19892, PLS nº.

162 de 23/06/19893, Substitutivo nº. 01 de 20/09/1989 4ao PLS nº. 162/1989, PLP nº. 208 de

11/12/19895, PLP nº. 202 de 12/12/19896, PLP nº. 218 de 22/03/19907, PLP nº. 268 de

11/12/19908, PL nº. 2.097 de 29/10/19919, PLP nº. 70 de 19/11/199110, PLP nº. 77 de

28/11/199111, PLP nº. 193 de 30/06/199412, PLS nº. 50 de 04/03/200813, PLS nº. 100 de

26/03/200814, PLP nº. 277 de 26/03/200815, PLS nº. 128 de 09/04/200816, SUBSTITUTIVO

1Projeto de Lei de autoria do poder executivo (Presidente da República: José Sarney), Ementa: cria o imposto sobre grande

fortuna. 2Projeto de Lei Complementar de autoria do Deputado Juarez Marques Batista, Ementa: institui o imposto sobre grandes

fortunas de que trata o inciso VII, do artigo 153 da Constituição Federal e dá outras providências. 3Projeto de Lei Complementar de autoria do Senador Fernando Henrique Cardoso, Ementa: dispõe sobre a tributação de

grandes fortunas, nos termos do artigo 153, inciso VII, da CF/88. 4Substitutivo de autoria do senador Gomes Carvalho ao PLS nº. 162/1989, Ementa: Substitutivo ao Projeto de Lei do Senado

nº. 162 de 1989 – Complementar. 5Projeto de Lei Complementar de autoria do Deputado Antônio Mariz, Ementa: regulamenta o artigo 153, inciso VII, da

CF/88 que dispõe sobre o imposto sobre grandes fortunas. 6Projeto de Lei Complementar redistribuído pelo Senado, de autoria do Senador Fernando Henrique Cardoso, Ementa: dispõe

sobre a tributação de grandes fortunas, nos termos do artigo 153, inciso VII, da CF/88. 7Projeto de Lei Complementar de autoria do poder executivo (Presidente da República: Fernando Collor de Mello), Ementa:

institui o imposto sobre grandes fortunas e dá outras providências. 8Projeto de Lei Complementar de autoria do deputado Ivo Cersosimo, Ementa: dispõe sobre instituição de imposto sobre

grandes fortunas e determina outras providências. 9Projeto de Lei Complementar de autoria do deputado Wilson Campos, Ementa: conceitua, para efeito tributário, as grandes

fortunas, regulamentando o artigo 153, inciso VII, da CF/88. 10

Projeto de Lei Complementar de autoria do deputado Maviael Cavalcanti, Ementa: define grande fortuna e estabelece citerios para sua tributação regulando o artigo 153, inciso VII, da Constituição Federal 11

Projeto de Lei Complementar de autoria do deputado Wilson Campos, Ementa: conceitua, para efeito tributário, as grandes fortunas, regulamentando o artigo 153, inciso VII da CF/88. 12

Projeto de Lei Complementar de autoria do deputado Ernesto Gradella, Ementa: institui o imposto sobre grandes fortunas de que trata o inciso VII, do artigo 153 da CF/88 e dá outras providências. 13

Projeto de Lei Complementar de autoria da senadora Serys Slhessarenko, Ementa: regulamenta o disposto no artigo 153, VII da CF/88 para instituir o imposto sobre grandes fortunas e dá outras providências. 14

Projeto de Lei Complementar de autoria do senador José Nery, Ementa: regulamenta o inciso VII do artigo 153 da CF/88 (imposto sobre grandes fortunas). 15

Projeto de Lei Complementar de autoria da deputada Luciana Genro, Ementa: regulamenta o inciso VII do artigo 153 da CF/88 (imposto sobre grandes fortunas). 16

Projeto de Lei Complementar de autoria do senador Paulo Paim, Ementa: institui o imposto sobre grandes fortunas de que trata o inciso VII, do artigo 153 da CF/88 e dá outras providências.

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nº. 117 de 06/05/2009 ao PLP nº. 277/2008, PLP nº. 26 de 11/03/201118, PLP nº. 62 de

01/06/201119, PLS nº. 534 de 31/08/201120 e PLP nº. 130 de 07/02/201221.

Defensor da corrente contra a implementação do IGF, Janir Adir Moreira, vice-

presidente da Associação Brasileira de Direito Tributário (Abradt), afirma que o atual sistema

de controle da Receita impede que haja dúvida de que as grandes fortunas e empresas já

pagam impostos no país. “Para conseguir juntar o patrimônio, os donos de grandes fortunas

pagaram todos os tributos exigidos, inclusive impostos sobre o patrimônio, como o IPTU

(Imposto Predial e Territorial Urbano) e ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural)”.

Ainda de acordo com ele, o imposto significa retrocesso. “Taxar a geração de riquezas em

circulação, rendimentos ou lucros é mais coerente do que tributar o resultado final dessas

operações, sobre o qual já incidiram todos os impostos”.

Ainda de acordo com Maciel:

Constitui um notável desestímulo à poupança e um peculiar caso

de pluritributação, pois tributa mais uma vez um patrimônio já tributado pelos

impostos patrimoniais, para não falar da tributação da renda que lhe deu

origem.A recente e perigosa explosão nos preços dos imóveis urbanos

converteria parte significativa da classe média das grandes cidades brasileiras

em contribuintes do imposto, mesmo que não tenha havido correspondente

aumento de sua renda líquida. De mais a mais, como ficariam aqueles que

optaram por construir fundos financeiros para custear sua aposentadoria,

sobretudo quando se considera a hipótese plausível de colapso da

Previdência? (MACIEL, Everardo).

17Substitutivo de autoria do deputado João Dado ao PLP nº. 277/2008, Ementa: regulamenta o inciso VII do art. 153 da

Constituição Federal (Imposto sobre Grandes Fortunas). 18

Projeto de Lei Complementar de autoria do deputado Amauri Teixeira, Ementa: Institui Imposto sobre Grandes Fortunas - IGF, regulamentando o inciso VII do art. 153 da Constituição Federal. 19

Projeto de Lei Complementar de autoria do deputado Cláudio Puty, Ementa: dispõe sobre a tributação sobre grandes fortunas, nos termos do art. 153, inciso VII da Constituição Federal. 20

Projeto de Lei Complementar de autoria do Senador Antônio Carlos Valadares, Ementa: Regulamenta o inciso VII do art. 153 da Constituição Federal, para dispor sobre a tributação de grandes fortunas. 21

Projeto de Lei Complementar de autoria do Deputado Paulo Teixeira, Ementa: Institui o Imposto sobre Grandes Fortunas, previsto no art. 153, VII, da Constituição Federal.

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Podemos pontuar que, apesar das inúmeras tentativas, existe uma força que luta contra o

IGF e, até o momento, tem conseguido mantê-lo sem efeito.

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CAPÍTULO II

2 DÉFICIT BRASILEIRO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA

Na atual conjuntura econômica em que se encontra o país, as dificuldades enfrentadas

pelo governo para honrar seus compromissos e manter serviços essenciais como saúde e

educação, têm causado grande preocupação e especulação. Segundo dados da Receita Federal,

pode-se observar uma diminuição nas Receitas obtidas em 2015 frente a 2014 e um aumento

das despesas, gerando, assim, um déficit nas contas públicas em 2015 em relação ao superávit

de 2014.

2.1 Déficit e Superávit – Qual a diferença?

Antes de entender a real situação das contas públicas, precisamos entender o que é

déficit e superávit, a fim de efetuar uma melhor análise do Balanço Federal.

2.1.1 Superávit.

O superávit, derivado do Latim, significa que as exportações de um ente federativo foi

maior que as importações. Dessa forma, define que ao final do período estipulado de tempo,

entrou mais dinheiro do que a quantia que saiu por meio das exportações.

O superávit é um fator positivo na economia, este mostra que o mesmo está exportando

mais do que está importando. Tal situação gera um lucro que é usado para investir no próprio

sistema econômico.

Ainda assim, precisamos nos atentar ao fato de que há dois tipos de superávits: o

nominal e o primário. O primário é a diferença entre a receita e a despesa, não incluindo os

juros de dívidas públicas. Essa receita não se configura apenas como dinheiro, mas também

como patrimônios e outros valores de titularidade do governo. Sendo positivo o valor do

balanço, os lucros, geralmente, são usados para aplicar no pagamento das dívidas internas.

Dívida interna é o saldo devedor dos estados com pessoas físicas ou jurídicas nacionais.

Em suma, o ganho obtido num superávit primário é utilizado para quitação dos juros

decorrentes destas dívidas. Este se faz necessário tanto para impedir o crescimento da dívida,

quanto para mostrar ao credor que o governo pode e vai pagar as suas contas.

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Caso o valor obtido no superávit seja além do estimado para o pagamento dos juros, o

saldo remanescente será empregado para quitar o valor total ou parcial do saldo devedor

diminuindo a dívida pública. Nesse caso, temos o superávit nominal, uma vez que é usado

para a quitação de dívidas públicas.

2.1.2 Déficit.

Déficit, também deriva do Latim, representando um saldo negativo ou um prejuízo, no

qual se gasta mais do que se ganha. Em se tratando da balança comercial, o déficit ocorre

quando o valor das importações é maior que o das exportações. Sendo assim, o déficit é o

resultado de quando o país acaba gastando mais do que produz, comprando mais do que

vendendo.

Nesse caso, o país cria uma dívida que pode ocorrer por diversas razões: o déficit pode

ser um resultado de gastos excessivos do país; ou por uma má administração dos recursos

existentes; ou intencionalmente.

Pode soar estranho e até sem sentido um governo criar de forma intencional um déficit,

mas esse mecanismo é utilizado com o objetivo de criar um orçamento cíclico ou

realimentado. O orçamento cíclico consiste em criar déficits quando a economia não vai bem,

gerando um aquecimento na economia. Já nos tempos em que economia estiver em melhores

condições, cobram-se impostos maiores para o governo acumular dinheiro para si, o que causa

uma nova queda econômica, a qual vai variando de intensidade, servindo para manipular a

economia de acordo com os interesses do país.

2.2 Análise do Resultado Primário do Governo Central.

Passaremos a partir deste ponto a analisar o Resultado Primário do Estado no ano de

2015 a fim de entender se houve queda na Arrecadação de tributos e qual o impacto deste na

Economia do Estado.

Conforme Notas Explicativas, em dezembro de 2015, o resultado primário do Governo

Central, a preços correntes, foi deficitário em R$ 60,7 bilhões, contra superávit de R$ 1,1

bilhão em dezembro de 2014. Este resultado, comparado com o mesmo mês do ano anterior, é

explicado pela elevação de R$ 71,1 bilhões na despesa total em contrapartida a um aumento

de R$ 8,5 bilhões na receita líquida total. O aumento nas despesas totais é explicado

principalmente pela elevação, em comparação com dezembro de 2014, de R$ 35,0 bilhões nas

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despesas com subsídios e su

capital. Em termos reais, as d

Comparativamente ao

houve decréscimo de R$ 97,

um déficit de R$ 17,2 bilh

proporção ao PIB (Produto I

0,30% nos doze meses de 2

aumento da despesa total (1

total (2,0%). Vale ressaltar q

6,4%, explicada principalme

para arrecadação de tributos

receita de dividendos. As

apresentaram aumento de 2,1

Podemos ver o detalha

Figura 1- Receitas Primária

Fonte: Tesouro Nacional

s e subvenções e de R$ 27,6 bilhões em outras d

is, as despesas apresentaram aumento de 55,9%.

te ao acumulado até dezembro de 2014, também

$ 97,8 bilhões no resultado primário do Governo

,2 bilhões em 2014 para déficit de R$ 115,0 bi

duto Interno Bruto) de cada período, o resultado

s de 2014 para -1,94% do PIB em 2015. Esse re

tal (11,6%) em maior proporção que o crescimen

altar que, em termos reais, a receita líquida total

ipalmente pela evolução dos indicadores macroec

ributos, desonerações tributárias, compensações tr

s. As despesas totais, no acumulado do ano

de 2,1%.

etalhamento da Receita obtida através do quadro ab

árias Governo Central

17

tras despesas de custeio e

mbém a preços correntes,

erno Central, passando de

5,0 bilhões em 2015. Em

ltado primário passou de -

sse resultado é reflexo do

cimento da receita líquida

total registrou redução de

acroeconômicos relevantes

ões tributárias e queda na

ano, em termos reais,

dro abaixo:

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18

Podemos perceber uma redução na arrecadação de 2015 em referência a 2014, na

Receita do Tesouro (tributos), em 6,8%. De acordo com o Relatório de Resultado do Tesouro

Nacional, as causas desse déficit foram:

• decréscimo de R$ 19,1 bilhões (13,9%) em IRPJ (Imposto de Renda – Pessoa Jurídica)

e de R$ 10,3 bilhões (13,8%) em CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido):

decréscimos reais nos recolhimentos por estimativa e por lucro presumido e nos

parcelamentos especiais;

• redução de R$ 15,4 bilhões (34,2%) em Cota Parte de Compensações Financeiras:

efeito dos fatores determinantes da base de incidência do tributo, dentre eles a queda no preço

internacional do petróleo;

• diminuição de R$ 10,8 bilhões (4,9%) na COFINS (Contribuição para o

Financiamento da Seguridade Social) e de R$ 2,9 bilhões (5,0%) no PIS/PASEP (Programa de

integração Social/ Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público): sobretudo

devido ao decréscimo real no volume de vendas (7,8%), parcialmente compensado por

arrecadação extraordinária de R$ 1,1 bilhão em fevereiro de 2015, bem como pelas alterações

nas alíquotas do PIS/ COFINS, incidentes sobre gasolina, diesel e na importação de bens e

serviços;

• redução de R$ 9,2 bilhões (42,8%) em Dividendos: sobretudo devido aos

recebimentos da Petrobras, de R$ 2,3 bilhões em 2014, sem correspondente em 2015; e do

BNDES, que totalizaram R$ 10,4 bilhões em 2014 e R$ 5,0bilhões em 2015;

• decréscimo de R$ 2,7 bilhões (30,5%) nas receitas de concessões: receita de

concessões de R$ 5,7 bilhões em dezembro de 2014, advinda principalmente da outorga de

serviços de telecomunicações (4G). As principais receitas de concessões em 2015 foram o

recebimento no mês de maio de 2015, referente à outorga ao setor aeroportuário (R$ 1,2

bilhão) e de telecomunicações (1,7 bilhão), e em julho de 2015 referentes à outorga ao setor

aeroportuário (R$ 1,3 bilhão). Mencione-se ainda a reclassificação, no valor de R$ 1,1 bilhão,

relativo à licitação de serviço de banda larga, cujo pagamento foi realizado por depósito

judicial em 2013;

• aumento de R$ 11,1 bilhões (6,3%) em IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte):

associada, principalmente, à elevação na arrecadação do IRRF Rendimentos do Capital (R$

9,3 bilhões) derivado dos acréscimos nominais na arrecadação do imposto de renda incidente

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sobre fundos de renda fixa, na arrecadação sobre operações de swap e na arrecadação do item

aplicações de renda fixa (PF e PJ);

• elevação de R$ 3,4 bilhões na arrecadação da CIDE (Contribuição de Intervenção no

Domínio Econômico) Combustíveis, devido à alteração das alíquotas sobre gasolina e diesel

estabelecida pelo Decreto nº 8.395/2015 a partir de maio de 2015 (anteriormente com alíquota

zero); e

• aumento de R$ 2,4 bilhões (6,6%) em Demais-Outras Receitas: impacto do

parcelamento instituído pela Lei nº 12.996/2014, cujos recolhimentos em 2014 iniciaram-se

somente a partir do mês de agosto, enquanto em 2015 vem sendo computados ao longo de

todo o período analisado.

Podemos perceber como as políticas públicas adotadas, bem como o escândalo da

Petrobrás, ajudaram nesse cenário.

Em entrevista ao G1, Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários e

Aduaneiros da Receita Federal, afirma que "a arrecadação está sofrendo forte impacto da

desaceleração da atividade econômica, que não está nos níveis esperados.”...,destacando ainda

que, apesar do “ potencial para desenvolver uma certa atividade,..., diversas incertezas estão

contribuindo para um cenário de redução da atividade.”..., além “das desonerações que foram

concedidas e que não foram revertidas até o momento”.

Ainda, frente à diminuição das Receitas, temos um aumento significativo das Despesas,

gerando assim um déficit.

Este déficit nas contas públicas resultou na busca de alternativas para equilibrar as

finanças da União. Para tal, foram levantadas duas vertentes como opções para gerar mais

Recursos, sendo o primeiro amplamente debatido, diferente do segundo: a) O retorno da

CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira); b) O Imposto sobre

Grandes Fortunas.

Mas, o que é CPMF e quais os impactos de sua implementação? Qual das duas opções

traria maiores benefícios aos cofres públicos, tendo menor impacto sob a população?

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CAPÍTULO III

3 IGF COMO ALTERNATIVA A CPMF

3.1 Histórico da CPMF.

A CPMF foi instituída em 1996, porém baseado no Imposto análogo de 1993, o IPMF

(Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira). Estes visavam à recuperação da

Economia (1993) e a aplicação na Saúde (1996). Podemos ver abaixo no quadro sua evolução:

Figura 2 – Histórico da CPMF

Fonte: Unafisco

Conforme Maria do Carmo Lopes Toffanetto Rossitto Bassetto, advogada e

especialista em direito tributário, a CPMF não agradou aos contribuintes em vários sentidos:

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21

“Sob o ponto de vista do contribuinte, o tributo trouxe muitas

desvantagens: além do aumento da carga tributária para as pessoas físicas e

jurídicas, a incidência da CPMF diminuiu o poder de compra da população e

onerou ainda mais os produtos fabricados no Brasil. Apesar dos bilhões

arrecadados pela CPMF, o sistema de saúde continuou caótico e muito aquém

das necessidades dos brasileiros. Além disso, a injeção de dinheiro nos cofres

públicos não foi capaz de conter a expansão do déficit da Previdência Social,

que deve persistir nos próximos anos. Isso demonstra que o cerne do

problema não está na insuficiência de arrecadação, mas na falta de

competência e seriedade do Estado brasileiro em gerir os recursos

provenientes da arrecadação tributária”.

Verificou-se que nem todos os recursos da CPMF foram utilizados na Saúde, na

Seguridade Social ou no combate a fome.

Com a Desvinculação de Receitas da União, a chamada DRU, foi possível o desvio

de parte dos recursos da CPMF, tendo em vista que este mecanismo permite ao governo

realocar 20% do Orçamento (com exceção do Fundo de Combate à Pobreza), conforme sua

conveniência.

Da sua instituição até o final de 2006, a CPMF arrecadou R$ 185,9 bilhões.Segundo

levantamento do Sindicato Nacional dos Auditores da Receita Federal (Unafisco), estima-se

que deste total R$ 33,5 bilhões deixaram de ser aplicados em políticas sociais.

Ainda sobre o assunto, a advogada Maria do Carmo discursa que, “o cidadão tem que

trabalhar 151 dias (5 meses) somente para pagar toda esta carga tributária”. Não sendo este a

única questão a ser levantada, ressalta que:

“Segundo especialistas na área, cargas tributárias acima de 35%

do PIB travam o crescimento econômico e, com a volta da CPMF, o valor a

ser recolhido aos cofres públicos será ainda maior e a crise econômica do país

tende a aumentar. A conjugação da alta carga tributária com um número tão

grande de tributos diferentes dificulta a administração fazendária e favorece

as práticas de sonegação fiscal”.

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22

3.2 As grandes riquezas do Brasil.

Com relação à incidência do IGF, Ives Gandra Martins se posiciona ao afirmar que a

intenção do constituinte é a de tributar as "grandes" fortunas:

O tributo apenas permitirá a incidência sobre "grandes fortunas",

nem mesmo podendo incidir sobre "fortunas" que não sejam grandes.

Definitivamente, a classe média e a classe alta não detentora de grande

fortuna estarão a salvo deste tributo, se a Constituição for respeitada pelos

legisladores. Fortuna é mais do que riqueza. E grande fortuna é mais do que

fortuna. A pessoa rica, portanto, não se deverá submeter a qualquer

imposição, incindível apenas sobre os grandes bilionários deste país. O

universo de sua aplicação terá que ser necessariamente restrito. (Comentários

à Constituição do Brasil, Editora Saraiva, RJ, 1ª edição, 1990, 6º vol. tomo I,

pág. 269).

Mas o que seriam “grandes fortunas”?

Apesar da recessão, o número de bilionários no País cresce de forma exponencial

conforme pesquisas. Em 2015, o Brasil somou um total de 61 bilionários e entra na lista dos

dez países com o maior número de pessoas que formam parte da elite da economia mundial,

correspondendo sua fortuna a 8% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.

Dados divulgados pelo banco UBS apontam que o Brasil subiu duas posições no

ranking das economias com o maior número de bilionários, ocupando pela primeira vez a 9.ª

colocação no ranking de 2014. O ranking contabiliza o número de pessoas com ativos e

fortunas acima de US$ 1 bilhão.

Reportando um crescimento de 22% em um ano, o Brasil totaliza mais bilionários do

que economias tradicionais como a da Itália, Japão, França e Canadá. Juntos, esses brasileiros

acumulam uma pequena fortuna de US$ 182 bilhões e em apenas um ano, o Brasil ganhou 11

novos bilionários.

A cidade de São Paulo acumula 36 bilionários, sendo a capital dos maiores ricos da

América Latina e a sexta do mundo. Somam, em conjunto, recursos no valor de US$ 91

bilhões, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Receita Federal lib

Declarações do ano base 201

Figura 3– Total de con

Fonte: Receita Federal do Brasil

Com base na tabela ab

71mil pessoas físicas.

Conforme estudos do

ganham mais de 160 salário

renda. Já um assalariado que

Isso é possível, pois 6

não-tributáveis pela legislaçã

o imposto de renda só é prog

Renda).

ral liberou informações acerca do acumulo de ri

se 2013. Abaixo podemos visualizar a progressão d

e contribuintes com renda superior a 160 salários

ela abaixo, verifica-se que 21,7% da riqueza do p

dos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica

alários mínimos por mês pagam só 6,51% de sua

o que ganhe R$ 5 mil por mês paga 27,5% de impo

pois 65,8% de sua renda total são rendimentos co

gislação brasileira, como, por exemplo, dividendos

é progressivo até a classe média, os quais pagam

23

de riqueza com base nas

ssão desde 2007 a 2013:

ários

a do país está nas mãos de

ômica Aplicada), os que

e sua renda de imposto de

e imposto de renda.

tos considerados isentos e

ndos e lucros. Na prática,

agam mais IR (Imposto de

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24

Figura 4 – Classificação de detenção de bens por Renda

Fonte: Receita Federal do Brasil

Diante do exposto, como equilibrar esta conta? E, principalmente, como arrecadar mais,

a fim de cobrir os gastos do governo?

3.3 CPMF ou IGF – Volume de arrecadação e incidência.

"A CPMF foi considerada que, dentre todas as alternativas de

tributos, seria o caminho que traria menores distorções na economia e menor

impacto inflacionário. Esse é o imposto mais distribuído, incidindo de

maneira equitativa entre todos os setores da economia", argumentou o então

ministro da Fazenda Joaquim Levy, em agosto. "O imposto equivale a dois

milésimos de uma entrada de cinema paga em cartão de crédito",

exemplificou.

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25

Um dos principais defensores da volta da CPMF é o economista Marcos Cintra, vice-

presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "A CPMF se revelou um bom tributo.

Mostrou excelente produtividade quando comparada sua baixa alíquota com a arrecadação

gerada, seu custo administrativo para o governo e para as empresas é muito baixo quando

comparado com os tributos tradicionais e foi eficiente no combate à sonegação", argumenta.

Apesar da propaganda acerca da adoção da CPMF, percebe-se que o verdadeiro

contribuinte é a população mais pobre, tendo em vista que as empresas, responsáveis pelas

grandes e constantes transações bancárias (na qual incide o imposto) repassam esses custos ao

consumidor final. Ou seja, por melhor que sejam as intenções, quem acaba penalizado com

essa adoção é a população que já carece de renda.

Originalmente, a proposta da CPMF prevê uma arrecadação de 32 bilhões no próximo

ano.

“Quando você tem uma sociedade com má distribuição de

riqueza, você tem uma atividade econômica mais frágil. O imposto sobre

grandes fortunas (...) teria uma arrecadação semelhante àquela que tinha a

CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Portanto

bem acima até do ajuste fiscal pretendido pelo governo”, diz Amir Khair em

entrevista a Carta Capital em 03/03/2015.

A Secretaria da Receita Federal elaborou um Estudo Tributário, o qual demonstra a

concentração do patrimônio nas mais diversas camadas da Sociedade.

Mas quem concentra esta riqueza? Abaixo veremos o quadro desenvolvido por Amir

Khair, no qual analisa a capacidade de captação de recursos tanto de pessoas físicas quanto

jurídicas e esse montante frente a CPMF.

Percebe-se que, desde 1999 e 2000 quando o cálculo foi feito, se o IGF estivesse em

vigor, no lugar da CPMF, geraria uma arrecadação muito maior.

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Figura 5 – Potencial tr

Fonte: Dados básicos da SRF – Elabo

E se o tributo fosse

pessoas jurídicas sempre repa

Abaixo é demonstrado

considera apenas a tributação

Figura 6 – Potencial tr

Fonte: Dados básicos da SR

Com um aumento de

sobre pessoas físicas, tem-se

período.

Com relação aos bens

tributação, podemos citar a c

ial tributário IGF PF e PJ

Elaboração Amir Khair

fosse calculado somente sobre Pessoas Físicas,

re repassam seus custos ao consumidor final?

strado um quadro adaptado e elaborado por Am

utação por pessoas físicas.

ial tributário IGF PF

da SRF – Ajustado por Joice Gonçalves

de apenas 0,2% na alíquota proposta inicialmen

se uma arrecadação superior ao arrecadado pe

ns que integram as grandes fortunas aos quais

tar a crítica de Machado ao lembrar que:

26

sicas, tendo em vista que

r Amir Khair, no qual se

ialmente, incidindo apenas

ado pela CPMF no mesmo

quais seriam passíveis de

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27

Ninguém falou que existiam dificuldades técnicas para tributação

do imposto de transmissão causa mortis e doação, de que trata o artigo 155,

inciso I, nem do imposto de transmissão inter vivos, de que trata o artigo156,

inciso II, da Constituição Federal. Ninguém sustentou a inviabilidade para

instituição desses impostos, então porque para o IGF? Já que terá os mesmos

bens a ser tributados?

Ainda nesse contexto, Ueren Domingues faz uma explanação a respeito da função social

que o Imposto sobre Grandes Fortunas teria se instituído no Brasil:

O Brasil é o 10º país com pior distribuição de renda do mundo.

Os 10% mais ricos detêm quase metade de toda a riqueza e os que pertencem

ao seleto grupo dos 1% mais ricos possuem 1/6 da riqueza de nosso país. O

tema no Brasil tem o enfoque evidentemente errado quando deixa de buscar a

justiça do sistema tributário, que seria a aplicação do § 1º do artigo 14513 da

CF/88 e busca, com o apoio da mídia em geral, políticos dando ao IGF e

assemelhados uma roupagem de Madre Tereza (a de Calcutá), que se coloca

supostamente como benéfica a maior parcela da população, que são menos

favorecidos monetariamente, e pagam impostos proporcionalmente

altíssimos, juntamente com a classe media, que por sua vez paga estes

mesmos impostos e ainda é a grande pagadora do Imposto de Renda no

Brasil. O debate do IGF não deve estar definitivamente em redistribuição de

renda baseada em penalizar o rico pela acumulação de riqueza, mas sim

tornar o nosso sistema tributário mais justo, de forma que os pobres paguem

menos impostos (sobre o consumo), os ricos paguem mais impostos sobre a

renda e, porque não, sobre a acumulação de fortuna como imposto

complementar voltado para fins de apoio ao combate às desigualdades

sociais.

Percebemos, através destes estudiosos, uma linha em defesa do IGF como forma de

equilibrar a balança social do país ainda em consonância com os princípios da igualdade e da

Isonomia presentes em nossa Constituição.

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CONCLUSÃO

Diante da exposição auferida até o presente momento, podemos observar que, mesmo

constando da Constituição Federal, o IGF é o único imposto que não foi instituído. Tal

afirmativa nos leva a questionar quais os interesses por traz dos impedimentos, muitas das

vezes apresentados, para que isto não ocorra.

Não podemos fechar os olhos para o fato de que a corrupção levou o país à fase em que

está, porém, na atual conjuntura dos fatos, é de extrema relevância buscar alternativas para a

solução do problema.

Defende-se uma reforma tributária em que se inserisse o tributo em questão,

objetivando a minoração de outros tributos, pois estes têm sufocado a população

que tem pouquíssimas condições de subsistência e vivem praticamente na miséria ganhando

seus salários apenas para pagar tributos. A justiça no sistema tributário nacional seria

alcançada com a instituição do imposto por meio da aplicação dos princípios que o

fundamenta, tais como o principio da igualdade e da capacidade contributiva.

Conceituar tal imposto, não é uma tarefa fácil, porém deve-se

ter em vista que ele deverá ser feito com total atenção às médias de riquezas e à

porcentagem de riqueza acumulada nas mãos dos diferentes níveis de classe social. É

necessário que os interesses políticos não interfiram e que se leve em consideração os

preceitos constitucionais, para que, só assim, possamos atingir o cerne social de tais

mandamentos.

O voto do Relator da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos

Deputados, o Deputado João Dado, reforça mais ainda a idéia de que é possível a instituição

do tributo no nosso país, quando se analisava o Projeto de Lei Complementar nº. 277/2008,

conforme destacamos abaixo:

Essas assertivas, no entanto, não merecem colhimento unânime,

pelo que se podem aduzir argumentos bastante convincentes também

para contestá-las. Quanto aos custos administrativos, por exemplo,

discute-se que a estrutura já existente para administrar o imposto de

renda gozaria de plena capacidade para enfrentar o desafio da

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29

fiscalização do novo tributo, inclusive por que já realiza atualmente

tarefa semelhante ao verificar as declarações de bens relativas a

esse imposto. Procura-se também debelar o receio quanto à fuga de

capitais aludindo à modicidade das alíquotas que normalmente

caracterizam exações dessa natureza, em geral pouco relevantes

para suplantar as considerações de natureza econômica que

costumam orientar as escolhas dos investidores internacionais.

Contra o hipotético desestímulo à poupança, objeta-se em geral com

a idéia de que somente se desestimularia a acumulação improdutiva

– ou de pequeno retorno econômico – o que na verdade poderia

constituir um benefício para a sociedade. As virtudes inerentes ao

próprio IGF, de sua vez, acrescentam-se a esses argumentos para

recomendar a sua instituição, especialmente no caso do Brasil. Com

efeito, tributos que incidem sobre a totalidade do patrimônio, às vezes

chamados “sintéticos”, têm sido vistos, mais do que propriamente

como fonte de receitas, com as funções de auxiliar a tributação da

renda. Isso porque permitem o cruzamento de informações e a

verificação da conformidade das declarações do contribuinte,

dificultando a sonegação de outros tributos de arrecadação mais

substantiva. Mas não se pode desconsiderar também a sua aptidão

para apanhar manifestações de riqueza que nem sempre estão ao

alcance do imposto sobre a renda, tornando o sistema tributário mais justo e

abrangente – efeito de valor ético indiscutível. O fato de que

em geral promove a redistribuição da riqueza tem sido ainda

apontado como outro benefício associado a essa espécie de imposto,

ainda que tal redistribuição não se mostre quantitativamente

relevante, em face da magnitude das disparidades verificadas no

Brasil, porque de qualquer forma reafirma os princípios de justiça e

solidariedade social em que assenta a ordem jurídico-política do País

(...) de fato, apesar de constar em abstrato no texto constitucional há

quase vinte anos, a tributação sobre os grandes patrimônios

permanece inédita na realidade institucional do País, jamais logrou

ultrapassar aquele patamar de mera declaração de princípios

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programáticos. Recomenda a prudência, em tal caso, cautela na sua

implantação, até para que seja possível avaliar coetaneamente os

resultados, assim como os efeitos sobre a economia do País. A

possibilidade de dedução do montante devido pelo contribuinte a

título de imposto de renda reforça o papel de complementaridade do

IGF em relação à tributação da renda, de acordo com algumas

recomendações do mundo doutrinário. Pretende-se com isso tributar

certas manifestações de capacidade contributiva que podem escapar

ao imposto de renda, como na clássica alegoria construída pelo

economista Nicholas Kaldor, ao comparar as situações econômicas

de dois hipotéticos contribuintes: um marajá titular de grande riqueza

invertida em ativos que não geram renda, e que portanto não

contribui para o IR; e um mendigo, igualmente isento do imposto, mas

pela efetiva ausência de capacidade contributiva. A possibilidade de

se deduzirem os tributos patrimoniais de competência estadual e

municipal (IPTU e IPVA), bem como o ITR, de competência federal,

evita questionamentos com respeito à duplicidade de incidências

sobre o mesmo fato gerador, questionamentos esses que, apesar de

infundados, poderiam ser agitados perante o Judiciário como forma

de dificultar ou atrasar a implementação do tributo (...) é o meu voto

pela compatibilidade e adequação financeira e orçamentária e, no

mérito, pela aprovação do Projeto de Lei Complementar nº 277,

de 2008, na forma do anexo Substitutivo. (Sala da Comissão, em de

de 2008. Deputado JOÃO DADO Relator.)

Os argumentos do Relator da Comissão de Finanças Tributação

e Orçamento fazem-nos perceber que ao contestar outros argumentos desfavoráveis à

instituição do IGF o Deputado Federal afirma que não existe a inviabilidade administrativa

proposta por muitos e recomenda a sua instituição no Brasil, por não se tratar o IGF apenas

como fonte de receita, tendo em vista que viria a exercer também a função de auxiliar a

tributação da renda, vindo a dificultar a sonegação de outros tributos.

Facilmente podemos notar a importância da função social que esse

imposto potencialmente viria a ter ao ser instituído de forma bem planejada. Teria, como

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31

principal essência, a natureza solidária, social, tendo em vista que a tributação recairia sobre

aqueles que mais têm a fim de arrecadar mais para investimentos em saúde, educação e

moradia, por exemplo. Sabe-se que a realidade social brasileira ainda é cheia de desigualdades

e que a maior parte das riquezas de nosso país se concentra nas mãos de uma pequena

minoria, enquanto que a grande pobreza desse país está entregue nas mãos daqueles que são

muitos e sofrem pelas injustiças que naturalmente já nascem emergidos e que na maioria das

vezes o estado nem oferece a oportunidade e as condições necessárias para que

aquela pessoa mude a sua realidade.

Como visto neste trabalho, uma das fontes de arrecadação do governo, a maior, é o

recolhimento de tributos. Em um país em que a parcela mais pobre arca com essa despesa,

não podemos entender como justo onerá-los com mais carga tributária, como defendido por

aqueles que pretendem inserir a CPMF novamente no Brasil.

A partir desta premissa, defende-se o IGF como forma de estabilizar as contas do

governo, de tal forma, que haja uma equiparação na qual quem detém maior valor em bens

pague correspondente ao acumulo adquirido, ao contrário do que ocorre nos dias de hoje.

Com certeza, este é um debate que precisa ser levado a sério e levanta questões

complexas, pois exigem Razoabilidade e Proporcionalidade. Talvez esse seja o grande desafio

deste assunto. Até que ponto alguém está habilitado para definir de forma razoável e

proporcional o valor do bem de outrem a fim de ser tributado pelo IGF ou ser isento de forma

a não causar danos, muitas das vezes irreparáveis.

Porém, não se pode postergar estas discussões ao passo que alternativas estão sendo

propostas com um olhar mais agradável e amável de nosso Congresso, as quais também

podem causar danos irreversíveis numa parcela da população que não tem como, muita das

vezes, brigar pelos seus direitos.

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32

REFERÊNCIAS

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COSTA, Francisco José Santos da. Imposto sobre grandes fortunas: um estudo crítico. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2665,18 out. 2010. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/17656>. Acesso em: 05 fev. 2016.

DADO, João. Parecer do relator da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados do Brasil. Disponível em: ˂http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idproposicao=388149˃. Acesso em: 10 fev. 2016.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................7

CAPÍTULO I .............................................................................................................................................9

1 O IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A CONSTITUIÇÃO ........................................................9

1.1 O IGF NO MUNDO. ...................................................................................................................... 9

1.2 O IGF E A CONSTITUIÇÃO – LEGALIDADE OU CONFISCO? .................................................... 10

1.3 TENTATIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO – O QUE DEU ERRADO? ................................................... 11

CAPÍTULO II .......................................................................................................................................... 15

2 DÉFICIT BRASILEIRO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA ................................................................... 15

2.1 DÉFICIT E SUPERÁVIT – QUAL A DIFERENÇA? ........................................................................ 15

2.1.1 Superávit. ............................................................................................................................. 15

2.1.2 Déficit. .................................................................................................................................. 16

2.2 ANÁLISE DO RESULTADO PRIMÁRIO DO GOVERNO CENTRAL. .............................................. 16

CAPÍTULO III ......................................................................................................................................... 20

3 IGF COMO ALTERNATIVA A CPMF ................................................................................................. 20

3.1 HISTÓRICO DA CPMF. ............................................................................................................. 20

3.2 AS GRANDES RIQUEZAS DO BRASIL. ........................................................................................ 22

3.3 CPMF OU IGF – VOLUME DE ARRECADAÇÃO E INCIDÊNCIA. ............................................... 24

CONCLUSÃO ......................................................................................................................................... 28

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 32

ÍNDICE .................................................................................................................................................. 34

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES ...................................................................................................................... 35

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Receitas Primárias Governo Central .............................................................. 17

Figura 2 – Histórico da CPMF ........................................................................................ 20

Figura 3 – Total de contribuintes com renda superior a 160 salários ............................. 23

Figura 4 – Classificação de detenção de bens por Renda ............................................... 24

Figura 5– Potencial tributário IGF PF e PJ ..................................................................... 26

Figura 6– Potencial tributário IGF PF ............................................................................. 26