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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Influência de fatores sócio-econômicos no desenvolvimento psicomotor na infância Por: Mônica Maria Rocha Fortes Orientadora: Maria Esther de Araújo de Oliveira Rio de Janeiro Abril / 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Influência de fatores sócio-econômicos no desenvolvimento

psicomotor na infância

Por: Mônica Maria Rocha Fortes

Orientadora:

Maria Esther de Araújo de Oliveira

Rio de Janeiro

Abril / 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Influência de fatores sócio-econômicos no desenvolvimento

psicomotor na infância

Mônica Maria Rocha Fortes

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Psicomotricidade.

Rio de Janeiro

Abril / 2008

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AGRADECIMENTOS

Agradeço às crianças que colaboraram com a pesquisa, as professoras que

contribuíram com informações.

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DEDICATÓRIA

À minha família, meus filhos Hugo e Marina

em todos os momentos;

Ao Nelson, aos amigos pela força.

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Aos meus alunos, ex-alunos, estagiários e amigos que me fizeram sentir a

necessidade de enfatizar o conhecimento.

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Resumo

A presente pesquisa teve como objetivo principal estudar as influências do meio sócio-

econômico no desenvolvimento psicomotor em crianças de oito anos de idade. A

aquisição de competência em movimentos é um processo extenso, que começa com

os primeiros movimentos reflexos do recém-nascido e continua por toda vida. O

processo pelo qual um individuo progride a partir da fase de movimentos rudimentares

e fundamentais e,finalmente,para a fase de habilidades motoras especializadas do

desenvolvimento é influenciado por fatores internos às tarefas, ao indivíduo e ao

ambiente. A densidade das experiências pessoais quanto ao estilo de vida é

determinada por muitos fatores: aptidão física, estado nutricional, dieta, exercício,

habilidade para lidar com o estresse, bem-estar social e espiritual, etc.

Realizou-se coleta de dados dos padrões fundamentais de movimento em crianças do

segundo ciclo escolar do ensino fundamental, e elaboração de diagnóstico sobre as

condições sócias econômicas das crianças da Escola Municipal Murilo Rubião, em Belo

Horizonte, Minas Gerais. O tratamento dos dados coletados seguiu critérios de análise

dos padrões fundamentais de movimento (correr, receber, saltar, arremessar e chutar)

analisados em três estágios: inicial, elementar, maduro e analisados em escore geral

dos componentes, a coleta de dados sócio-econômicos das famílias foi feita através de

registro dos depoimentos do grupo de professoras das crianças em reuniões

específicas.

O critério utilizado na avaliação dos padrões fundamentais do movimento seguiu a

seguinte pontuação: um ponto para o estágio inicial, três pontos para o estágio

elementar e cinco pontos para o estágio maduro. Cada criança executou cinco vezes

cada movimento para posteriormente obter-se a somatória geral dos pontos em cada

fase de todo o grupo.

Foi possível observar que as crianças trabalham em fases motoras diferentes, com

mesma faixa etária as diferenças estão relacionadas não só as suas respectivas

estruturas genéticas, mas também pelo ambiente social e cultural.

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2 – Método O presente estudo representa uma pesquisa empírica de caráter descritivo que se

valeu de técnicas quantitativas e qualitativas, com o objetivo de estudar se há ou não

influência sócio-econômica no desenvolvimento motor em crianças do ensino

fundamental.

1- A amostra foi composta por dezenove crianças do segundo ciclo do ensino

fundamental da Escola Municipal Murilo Rubião, em Belo Horizonte, residentes em

região de risco social. As aulas dessas crianças acontecem de segunda a sexta-feira e

uma vez por semana com a mesma professora que leciona a disciplina Ciências é

responsável pelo momento de recreação.

2- Uma avaliação efetuada após filmagem individual de cada criança para análise dos

padrões fundamentais de movimentos classificados conforme Mc Glenagham e

Gallahue (1985) em estágios inicial, elementar e maduro. Cada padrão fundamental de

movimento é decomposto em componentes, resultando na seguinte divisão: corrida

(pernas, pés, braços); Arremesso (braços, tronco, pernas e pés); Chute (braços, pernas

e pés); Salto (braços, tronco, pernas e quadril); Recepção (cabeça, braços e mãos). Foi

ainda realizada uma pontuação para o desempenho observado dos padrões

fundamentais de movimentos: Estágio maduro = 5 pontos, Elementares= 3 pontos, e

inicial = 1 ponto. Cada criança repetia o movimento cinco vezes, para se ter uma

melhor avaliação. A filmagem foi realizada com ângulo de 45º enquanto a criança

executou os movimentos pré-estabelecidos. Foi fornecida somente instrução verbal.

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SUMÁRIO

1. Introdução..............................................................................................................08

Capítulo l - Fundamentação Teórica........................................................................10

Capítulo ll - Desenvolvimento humano..................................................................... 13

Capítulo lll - Teorias do desenvolvimento humano.................................................... 15

Capítulo lV- Seqüências do desenvolvimento motor................................................ 25

Capítulo V - Padrões fundamentais de movimento.................................................. 27

Capítulo Vl - O contexto do estudo............................................................................37

Capítulo Vll - Fatores sócio-econômicos que afetam o desenvolvimento e o

crescimento infantil.............................................................................39

Anexos.......................................................................................................................42

Discussão e conclusão............................................................................................ 49

Bibliografia consultada.............................................................................................. 51

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1 – INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa visa estudar as influências sócio-econômicas no

desenvolvimento psicomotor de crianças de oito anos de idade do segundo ciclo do

ensino fundamental na Escola Municipal Murilo Rubião - EMMR, em Belo Horizonte.

Durante o período letivo percebe-se que as crianças são fruto de condições sócio –

econômica precária. As famílias não apresentam condições dignas de moradia, vivem

em áreas de risco, há desemprego dos pais, convivência diária com a violência em

todos os níveis, há baixa auto - estima, problemas econômicos e psicológicos

conforme relatório apresentado pelas professoras. As famílias destes alunos, pelas

condições já apontadas, não acompanha a vida escolar dos mesmos, comprometendo

o rendimento escolar.

Além disso, grande parte das crianças não possui um ambiente alfabetizador em casa,

nem mesmo possuem o hábito da leitura, o que transforma a escola no único local

onde tem contato com o mundo da cultura, da leitura e da escrita.

A convivência com esses fatos leva a questão: será que pode haver interferência dos

aspectos sócio-econômicas no desenvolvimento psicomotor?

Diante desse problema, esta pesquisa monográfica procura respostas através de

levantamento de dados referentes às habilidades motoras básicas fundamentais das

crianças e breve levantamento de histórico sócio-econômicas das famílias, construído

junto ao corpo docente da escola.

Sabe-se que cada criança manifesta seu universo subjetivo que constrói ao longo de

sua vida a partir de suas vivências objetivas sociais. Os estudos das mudanças nas

manifestações motoras, como produto do desenvolvimento humano têm constituído em

uma importante área do conhecimento, que interessa tanto a profissionais ligados às

atividades motoras, particularmente aqueles que trabalham com crianças, como a

estudiosos do desenvolvimento em geral. Muitas pesquisas têm sido realizadas nos

últimos anos, estabelecendo que o desenvolvimento motor do indivíduo deva ser

entendido dentro do sistema de desenvolvimento humano (Williams, 1983; Cratty,

1986; Ruiz Perez, 1987; Gallahue, 1989; citado por Benda, 1999) numa relação

integrada e indissociável entre esses aspectos. Assim, o desenvolvimento do ser

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humano afeta os componentes de sua motricidade (processos psicofísicos de controle

e regulação dos movimentos e produto: movimentos observáveis) e as atividades

perceptivo-motoras colaboram em geral para o desenvolvimento integral da pessoa e

devem ser interpretados como manifestações da personalidade, que serão modificados

pelo desenvolvimento do indivíduo como um todo.

1.1- Objetivo Geral

Estudar se existe influência de fatores sócio-econômicos no desenvolvimento motor na

infância.

Objetivos Específicos - Realizar avaliação dos padrões motores fundamentais das crianças, com o objetivo

de analisar o desenvolvimento motor.

- Fazer a correlação e análise dos dados obtidos.

- Contribuir para melhoria da prática pedagógica das atividades motoras na escola.

1.2– Hipótese

Buscando novos conhecimentos e observando crianças durante as aulas de Recreação

considerando o princípio da totalidade de desenvolvimento humano esperava-se que

as crianças apresentassem diferenças significativas no desenvolvimento psicomotor

devido a vários fatores inclusive fatores sócio-econômicos.

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Capítulo l

FUNDAMENTAÇÂO TEÓRICA

A tarefa de explicar o processo de interação entre o ser humano em desenvolvimento

e seus múltiplos contextos é de grande dificuldade para os estudiosos. Se antes a

grande discussão era polarizada entre fatores inatos, herdados geneticamente, e os

fatores ambientais, de natureza física e sociocultural, agora se depara com teorias

desenvolvimentistas que centram seu foco de atenção bem além disso. Nestas novas

abordagens, identificadas por Krebs (1998), novas tendências despontam, como: as

teorias de Gardner, Samples e Sternberg, sobre modalidades de inteligência; a teoria

dialética de Riegel; a teoria da personalidade em desenvolvimento de L “Abate; a teoria

sociocultural de Valsiner; a teoria da ecologia do desenvolvimento humano de

Bronfenbrenner”. De uma maneira geral, todas as teorias de desenvolvimento humano

estruturam suas hipóteses e princípios a partir de estruturas teóricas, caracterizadas

como modelos conceituais. Esses modelos conceituais possibilitam o estudo das

diferentes variáveis que interagem no processo do desenvolvimento humano. Dessa

forma, o estudo da motricidade pode ser facilitado pela utilização de alguns modelos.

Piaget considerou que se estudasse cuidadosa e profundamente a maneira pela qual

as crianças constroem as noções fundamentais de conhecimento lógico – tais como as

de tempo, espaço, objeto, causalidade etc. Assim, poderia se compreender a gênese e

a evolução do conhecimento humano (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Propôs-se a

investigar como a lógica infantil se transforma em lógica adulta. Nessa investigação

partiu de uma concepção de desenvolvimento envolvendo um processo contínuo de

trocas entre o organismo vivo e o meio ambiente.

Embora os modelos teóricos sejam partes constituintes de uma teoria de

desenvolvimento, quando se trata de uma característica desenvolvimentista específica

podem-se encontrar modelos teóricos construídos a partir da síntese de mais de uma

teoria. Como exemplos que enfatizam o desenvolvimento motor, pode-se apontar a

seqüência de Desenvolvimento Motor proposta por Gallahue (GALLAHUE; OZMUN,

1998), fundamentada nas teorias psicogenética de Piaget, psicossocial de Erikson, e

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na das tarefas desenvolvimentistas de Havighurst; o Modelo da Especialização Motora

esboçada por Krebs (1993), fundamentado nas teorias sócio-históricas de Vygotsky,

das necessidades humanas de Maslow, e na da ecologia do desenvolvimento humano

de Bronfenbrenner; e o Modelo da Diferenciação e Integração delineado por Cratty

(1986) baseado nas teorias psicogenética de Piaget, e cognicista de Brunner (citados

por BENDA, 1999).

O objetivo principal dos modelos de desenvolvimento motor é oportunizar o estudo da

motricidade humana a sua utilização torna-se indispensável na construção dos

programas de atividade motora. Esses programas destinam-se a múltiplos objetivos,

dentre os quais se podem destacar, como por exemplo, o planejamento de exercícios

de coordenação global definindo movimentos coordenados em função de um objetivo a

ser atingido na escola (BOULCH, 1987). Assim, observa-se indissociabilidade entre

teorias de desenvolvimento humano, modelos de desenvolvimento motor e programas

de atividades motoras.

Qualquer programa de atividades motoras delineadas a partir de modelos de

desenvolvimento motor infantil precisa estar fundamentado em teorias do

desenvolvimento da criança.

A fase de desenvolvimento dos movimentos fundamentais da criança tem sido

extensamente estudada nesses últimos anos.Gallahue e Ozmun (2002) propõem que

essa fase segue uma progressão que pode ser subdividida em estágios. A criança

progride de um estágio a outro de maneira seqüencial, influenciada tanto pela

maturação como pela experiência.

As crianças não contam somente com a maturação para atingir o estágio maduro de

suas habilidades motoras fundamentais. Condições ambientais, como as oportunidades

para a prática, o encorajamento e a instrução, são cruciais para o desenvolvimento de

padrões fundamentais de movimento. O vínculo entre o indivíduo, às condições do

ambiente e as exigências da própria tarefa não está totalmente compreendido.

Quando as habilidades motoras fundamentais de crianças são observadas e

analisadas, tornam-se visíveis os vários estágios de desenvolvimento para cada padrão

de movimento e também é óbvia a existência de diferenças de habilidades entre as

crianças, entre os padrões e “dentro” de cada padrão (intrapadrão).

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As diferenças entre padrões são observadas em todas as crianças. Uma criança pode

estar no estágio inicial em algumas tarefas motoras; em outras, no estágio elementar;

nas demais, no estágio maduro. Um dos motivos é que as brincadeiras e as

experiências instrutivas vão também influenciar. As diferenças intrínsecas aos padrões

são um fenômeno interessante e freqüentemente curioso. Em determinado padrão, a

criança pode exibir uma combinação de componentes em estágio inicial, elementar e

maduro. Por isso, no arremesso, a ação do braço pode estar no estágio elementar; a

ação das pernas, no estágio maduro; e a ação do tronco, no estágio inicial

(GALLAHUE; OZMUN, 2002). Então qual seria a função da aprendizagem motora no

desenvolvimento da criança? Qual seria a sua especificidade no contexto educacional?

O que cabe a ela desenvolver, e de que maneira?

Para tentar responder a estas perguntas é preciso, em primeiro lugar reconhecer que é

impossível falar do papel da motricidade sem definir o movimento humano como seu

objeto de estudo e aplicação. Qualquer que seja a abordagem ou a ênfase que se

atribui aos programas motores o seu foco é sempre o movimento humano (TANI,

1987). Como poderia o movimento ser trabalhado de forma que ele possa favorecer o

desenvolvimento da criança? A motricidade, particularmente na pré-escola e nas quatro

primeiras séries do ensino fundamental defronta-se com dois temas de trabalho: a

aprendizagem do movimento e a aprendizagem através do movimento. Parece que

atualmente a ênfase está sendo dada a aprendizagem através do movimento, aprender

sobre aspectos não necessariamente inerentes ao próprio movimento. A aprendizagem

através do movimento seria aquela que implica no uso do movimento como meio para

alcançar um fim, mas que o fim não é necessariamente uma melhora na capacidade de

se mover efetivamente (HALVERSON citado por TANI, 1987). O movimento é um meio

para o aluno aprender sobre si mesmo, sobre o meio ambiente e sobre o mundo (TANI,

1987; TANI; MANOEL; KOKUBUN; PROENÇA, 1988). Isto é, da ação motora pode-se

abstrair um primeiro material de reflexão. Porém, pensar não é só representar

mentalmente uma ação realizada corporalmente; pensar não é só copiar mentalmente

a realidade corporal. Portanto, procedimentos de avaliação ou testes podem mascarar

uma realidade pouco conhecida pelo professor, que como não se pode esquecer, nas

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escolas, um só professor cuida de dezenas e dezenas de crianças, e que um teste bem

aplicado requer muito tempo de dedicação.

Diante desse problema, e vendo a necessidade de colher dados para avaliar e tentar

compreender a influência dos aspectos sócio-econômicos no desenvolvimento motor

ficou claro que tanto a avaliação cognitiva como a motora podem ocultar a

compreensão maior do desenvolvimento motor e que não podem ser avaliados só no

interior da escola ou por um teste pré- determinado. Influências sócias culturais e a

própria motivação para a aprendizagem fazem parte deste processo e afetam o

desenvolvimento integral da criança.

Capítulo ll

1. Desenvolvimento Humano

É importante, inicialmente, conhecer alguns conceitos referentes aos termos

desenvolvimento e crescimento. O desenvolvimento “é um termo amplo que se refere a

todos os processos de mudança pelos quais as potencialidades de um indivíduo se

desdobram e aparecem como novas qualidades, habilidades, traços e características

correlatas. Inclui os ganhos de longo prazo e relativamente irreversíveis do

crescimento, maturação, aprendizagem e realização” (PIKUNAS, 1979, p.24).

Entende-se por crescimento “o aumento no número (hiperplasia) ou tamanho

(hipertrofia) das células que compõem os diversos tecidos do organismo. Por

desenvolvimento entendem-se as transformações funcionais que ocorrem nas células

e, conseqüentemente, nos diferentes sistemas do organismo” (TANI, et al 1988, p.50).

O desenvolvimento motor situa-se na essência das questões educativas observando as

questões do comportamento do indivíduo diante de suas necessidades perante as

tarefas a serem realizadas, condições ambientais, e a própria biologia (GALLAHUE;

OZMUN, 2002).

Entende-se então desenvolvimento motor como o processo de mudança na

organização do comportamento motor, que se inicia na concepção e se encerra com a

morte, isto é, durante todo o ciclo de vida (adaptado de MANOEL, 1998).

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1.1 – Princípios de Desenvolvimento Humano

O desenvolvimento humano, pela sua complexidade, é entendido como um sistema

essencialmente resultante de processos maturacionais fortemente determinantes do

trajeto evolutivo individual apresentando seqüências e modificações próprias bem como

dependente de variáveis sócio-ambientais, que, na sua interação, conduzirão a

comportamentos emergentes mais complexos.

Apresenta algumas características, que, de acordo com Corbin (1980), são as

seguintes:

. Princípio da Continuidade – o desenvolvimento se inicia antes do nascimento e

prossegue até a morte. São movimentos naturais e comuns a todas as pessoas.

. Princípio da Totalidade – o desenvolvimento ocorre em todos os seus aspectos

simultaneamente, quais sejam: intelectual, motor, social, emocional, outros.

. Princípio da Especificidade – apesar de ser global, desenvolvendo sempre todos os

aspectos (motor, intelectual, social, emocional e outros), o desenvolvimento será

enfatizado em um aspecto em cada situação.

. Princípio da Progressividade- o desenvolvimento não ocorre de forma rápida. É um

processo longo e lento, porém está sempre em evolução.

. Princípio da Individualidade – o desenvolvimento é diferente para cada pessoa,

respeitando suas características e experiências vivenciadas.

O desenvolvimento do ser humano ocorre de forma integrada, no qual estão presentes

os desenvolvimentos cognitivo, sexual, social, e motor. Um profissional desta área

precisa conhecer as etapas por que passam as crianças para poder atuar de forma

coerente, conforme as suas carências. Assim, é apresentada uma abordagem

descritiva de desenvolvimento, procurando destacar os principais aspectos da

infância.”(BENDA, 1999)”.

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Capítulo lll

2. Teorias do Desenvolvimento Humano

Conforme Davis e Oliveira (1994) Piaget, descreveu o desenvolvimento cognitivo em

etapas. Cada fase apresenta uma característica, que possibilita compreender a criança

de acordo com a evolução de sua inteligência.

Etapa Sensoriomotora: do nascimento até, aproximadamente, os dois anos de idade.

Nela, a criança baseia-se exclusivamente em percepções sensoriais e em esquemas

motores para resolver seus problemas, que são essencialmente práticos. Ela está

vivendo “o aqui e o agora” da situação. Os esquemas sensoriais são construídos a

partir de reflexos inatos (o de sucção, por exemplo)

Gradativamente, a criança vai estabelecendo ligações entre fatos e assim dando

origem a novos esquemas conceituais.

As concepções de espaço, tempo e causalidade começam a ser construída,

possibilitando à criança novas formas de ação prática para lidar com o meio. Aos

poucos, o período sensoriomotor se modifica e novos e mais complexos esquemas são

construídos, de forma a preparar e a dar origem ao aparecimento da função simbólica

que anuncia uma nova etapa.

Etapa Pré – Operatória: início da linguagem oral, pensamento sustentado por

conceitos. Nessa fase o egocentrismo é acentuado, observa-se é o “animismo”,

situação em que a criança coloca vida em objetos inanimados, como mesa ou cadeira.

Nesta etapa, o pensamento depende da percepção imediata. A criança não pondera ou

analisa determinadas situações para mostrar sua posição. Na sua primeira percepção,

ela decide seu posicionamento. Um exemplo disto é o copo fino e outro largo com água

até a borda superior. Ao perguntar à criança qual copo tem mais água, provavelmente

ela responderá que os dois copos têm o mesmo volume. Esta etapa inicia-se

aproximadamente aos dois anos e perdura até próximo dos sete anos.

Etapa Operatória – Concreta: nesta etapa irão ocorrer mudanças em relação à fase

anterior, e algumas das características presentes nas crianças vão se modificando. O

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pensamento torna-se mais lógico e objetivo. O egocentrismo diminui e a criança passa

a considerar e conhecer melhor o mundo ao seu redor. Uma nova característica é a

reversibilidade, em que a criança tem condições de retornar ao início de uma operação.

Nesta fase a criança o pensamento é denominado operatório porque é reversível: a

criança pode retornar, mentalmente, ao ponto de partida. Aprende que 2+3=5, logo,

tem a capacidade de determinar que 5-3=2. O pensamento passa a ter como base o

raciocínio e não mais a percepção. Outra característica é a incapacidade de pensar de

forma abstrata. O raciocínio segue condições concretas, devendo os exemplos e

materiais fazer parte da realidade da criança. Por volta dos sete anos de idade, as

características da inteligência infantil, a forma como a criança lida com o mundo e o

conhece, demonstram que se encontra numa nova etapa de desenvolvimento

cognitivo: a etapa operatório-concreta. Agora a criança é capaz de construir um

conhecimento compatível com o mundo que a rodeia. O real e o fantástico não mais se

misturarão em sua percepção. É denominado concreto porque a criança só consegue

pensar corretamente nesta etapa se os exemplos ou materiais que ela utiliza para

apoiar seu pensamento existem mesmo e podem ser observados. Não consegue ainda

pensar abstratamente, apenas com base em proposições e enunciados (DAVIS;

OLIVEIRA, 1994). Esta fase se inicia por volta dos sete anos e continua até,

aproximadamente, 12/13 anos.

Etapa Operatória – Formal: esta fase, que se inicia em torno de 12/13 anos, é a mais

avançada no desenvolvimento cognitivo. A partir deste momento, o ser humano adquire

maturidade para o ato de pensar. A criança passa a ter condições de pensar de forma

abstrata. Os exemplos e conteúdos podem ser contrários à realidade e contradizer as

leis da natureza que, mesmo assim, a criança será capaz de aceitar a informação e

analisá-la.

Davis e Oliveira (1994, p. 46) apresentam “quatro fatores básicos responsáveis pela

passagem de uma etapa de desenvolvimento mental para a seguinte: maturidade do

sistema nervoso, interação social (através da linguagem e educação), experiência

física com objetos e, principalmente equilibração (necessidade que a estrutura

cognitiva tem de se desenvolver para enfrentar as demandas ambientais)”.

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Sobre o desenvolvimento psicossexual, será abordada a proposição de Freud que

sugere as estruturas dinâmicas da personalidade (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

Os estágios de desenvolvimento psicossexual refletem as várias zonas do corpo com

as quais o indivíduo busca a gratificação do id (fonte inconsciente de motivos, desejos,

paixões e da busca do prazer). O ego é o intermediário entre o comportamento de

busca do prazer do id e o superego (senso comum, razão e consciência). Seus

estágios orais, anais, fálicos, latente e genital de desenvolvimento da personalidade

representam os termos aplicados às zonas que buscam o prazer do corpo e que

entram em atividades em faixas etárias diferentes. Cada estágio apóia-se muito em

sensações físicas e na atividade motora (GALLAHUE; OZMUN, 2002). Outro ponto

fundamental proposto por Freud diz respeito à noção do inconsciente. Segundo esse

autor, o comportamento das pessoas não é influenciado apenas por metas e objetivos

sobre os quais o indivíduo tem clareza (ou consciência). Atuam também sobre elas os

desejos e as idéias inconscientes do indivíduo, ou seja – os impulsos, as fantasias, as

experiências esquecidas, aspectos que não se encontram sob o domínio da

consciência (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

A qualidade instintiva das ligações afetivas seriam manifestações do instinto sexual da

criança. Por intermédio da sua experiência com o meio em que vive e dependendo de

sua maturação orgânica, a criança atravessa vários estágios de desenvolvimento que,

para Freud, estariam ligados aos lugares do corpo que servem como fonte primária de

prazer. O desenvolvimento da personalidade seguiria um padrão fixo, com estágios

determinados, de um lado, pelas mudanças maturacionais no corpo e, de outro, pelo

tipo de relacionamento que a criança estabelece com adultos significativos do seu

meio, em especial com o pai e a mãe.

Portanto, torna-se importante a interação entre as necessidades e desejos da criança

e o tratamento que a mãe ou outros adultos lhe dispensam. Nesse processo, a criança

constrói não apenas a sua personalidade, mas também a sua identidade, aquilo que a

diferencia das demais pessoas e que ela percebe como sendo seu Eu. A construção da

identidade ocorre através da construção de significados a respeito das ligações que o

indivíduo estabelece com o mundo, significados esses que podem ser conscientes ou

inconscientes para ele, num determinado momento (BENDA, 1999).

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Um outro tipo de interacionismo é proposto por Lev Seminovitch Vygotski (1896-1934).

Em seu trabalho encontra-se uma visão de desenvolvimento baseada na concepção de

um organismo ativo, cujo pensamento é construído paulatinamente num ambiente

histórico e, em essência, social. Nessa proposta são destacadas as possibilidades que

o indivíduo dispõe a partir do ambiente em que vive e que dizem respeito ao acesso

que o ser humano tem a instrumentos físicos (utensílios como mesa, cadeira, faca etc.)

e simbólicos (como a cultura, valores, crenças, costumes, tradições, conhecimentos)

desenvolvidos em gerações precedentes.

Vygotski defende a idéia de contínua interação entre as condições sociais mutáveis e a

base biológica do comportamento humano. Partindo de estruturas orgânicas

elementares, determinadas basicamente pela maturação, formam-se novas e mais

complexas funções mentais, a depender da natureza das experiências sociais a que as

crianças se acham expostas (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

A forma como a fala é utilizada na interação social com adultos e colegas mais velhos

desempenha um papel importante na formação e organização do pensamento

complexo e abstrato individual. O pensamento infantil, amplamente guiado pela fala e

pelo comportamento dos mais experientes, gradativamente adquire a capacidade de se

auto-regular. Por exemplo, quando a mãe mostra a uma criança de dois anos um

objeto e diz “a faca corta e dói”; o fato de ela apontar para o objeto e de assim

descrevê-lo provavelmente provocará uma modificação na percepção e no

conhecimento da criança. Com o tempo ocorre uma interiorização progressiva das

direções verbais fornecidas à criança pelos membros mais experientes de um ambiente

social. Entretanto, não se faz de forma linear, pois se assim fosse sua teoria seria,

antes de tudo, marcada por um forte determinismo do social no individual, uma vez que

este último simplesmente espelharia o primeiro.

O processo de internalização é, ao contrário, um processo ativo, no qual a criança

apropria-se do social de uma forma particular. Reside aí, na verdade, o papel

estruturante do sujeito: interiorização e transformação interagem constantemente, de

forma que o sujeito, ao mesmo tempo em que se integra no social. Assim, à medida

que as crianças crescem, elas vão internalizando a ajuda externa que se torna cada

vez menos necessária: mantém, agora, o controle sobre sua própria conduta.

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Ao internalizar instruções, as crianças modificam sua funções psicológicas: percepção,

atenção, memória, capacidade para solucionar problemas. É dessa maneira que

formas historicamente determinadas e socialmente organizadas de operar com

informação influenciam o conhecimento individual, a consciência de si e do mundo. Por

exemplo, a visão de mundo e as conseqüentes formas de interagir com as crianças

adotadas pelos adultos no século XV diferem substancialmente das utilizadas

atualmente, especialmente se comparar com as do mundo urbano moderno, fortemente

influenciado pelos meios de comunicação de massa. Traduzem formas diferentes de

organizar, planejar e atuar sobre a realidade.

Assim, as funções mentais superiores – como a capacidade de solucionar problemas, o

armazenamento e o uso da memória, a formação de novos conceitos, o

desenvolvimento da vontade – aparece, inicialmente, no plano social (ou seja, na

interação envolvendo pessoas) e apenas as funções mentais surgem no plano

psicológico (ou seja, no próprio indivíduo) (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

Ao reconhecer a imensa diversidade nas condições histórico-sociais em que as

crianças vivem, Vygotski não aceita a possibilidade de existir uma seqüência universal

de estágios cognitivos como propõe Piaget. Para Vygotski, os fatores biológicos

preponderam sobre os sociais apenas no início da vida das crianças e as

oportunidades que se abrem para cada uma delas são muitas e variadas, adquirindo

destaque, em sua teoria, as formas pelas quais as condições e as interações humanas

afetam o pensamento e o raciocínio (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

Vygotski aponta o papel da capacidade do homem de entender e utilizar a linguagem.

Vê a inteligência como habilidade para aprender, desprezando teorias que concebem a

inteligência como resultante de aprendizagens prévias, já realizadas. Para ele, as

medidas tradicionais de desenvolvimento, que se utilizam testes psicológicos

padronizados, focalizam apenas aquilo que as crianças são capazes de realizarem

sozinhas (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

Vygotski adota a visão de que pensamento e linguagem são dois círculos interligados.

É nessa interseção que se produz o pensamento verbal (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

Existem, portanto, áreas do pensamento que não têm relação direta com a fala. Desse

ponto de vista é possível afirmar que a diferença entre as crianças se deve, em grande

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parte, as diferenças qualitativas em seu ambiente social, ou seja, a diferente forma de

relacionar-se com as pessoas em seus ambientes. Essas formas auxiliam as crianças a

entrarem em sintonia com os procedimentos e os modos de realização das tarefas que

se fazem necessários à vida social, favorecendo, conseqüentemente a construção e o

domínio de dadas funções psicológicas. Trata-se, pois, de diferenças qualitativas nos

padrões de interação cognitivas presentes em ambientes sociais distintos. Tais padrões

permitem, dificultam ou criam sérios entraves à construção do conhecimento por parte

das crianças.As diferenças encontradas nos diferentes ambientes sociais das crianças

(incluindo o doméstico, o escolar, o de trabalho etc. de cada uma delas) promovem

aprendizagens diversas que passam a ativar processos de desenvolvimento também

diversos. (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).

2.1 Teorias emergentes de desenvolvimento

O estudo do desenvolvimento humano tem-se revelado uma fonte inesgotável de

questionamentos. Como elementos instigadores desses questionamentos podem-se

destacar dois, os quais têm sido fundamentais na construção de novos paradigmas do

desenvolvimento humano: (a) as múltiplas modalidades de inteligência e (b) a interação

entre contexto e história-de-vida.

As modalidades de inteligência

Na década de oitenta, um novo conceito de inteligência começou a emergir na literatura

da psicologia do desenvolvimento. Esse novo conceito apresentava a inteligência como

um construto multidimensional, e a cada dimensão era atribuída uma modalidade de

inteligência. Dois teoristas merecem crédito pela difusão desse novo conceito de

inteligências múltiplas, Howard Gardner e Bob Samples, ambos discípulos de Jerome

Bruner (KREBS, 1998).

Se comparar as propostas de Gardner e Samples, vê-se que são bastante

semelhantes. Enquanto Samples descreve uma modalidade como abstrato-simbólica

Gardner subdivide essa modalidade em duas: a verbal-linguística e a lógico

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matemática. O que Samples chama de visual-espacial Gardner refere-se como

espacial, simplesmente. A inteligência motora é denominada como cinestésica por

Samples, e por cinestésico-corporal por Gardner. Samples refere-se a uma

inteligência auditiva, enquanto Gardner enfatiza uma inteligência musical. E

finalmente, as inteligências sinérgicas, que Samples subdividiu em pessoal e naturais,

e sua correspondente na interpretação de Gardner, a inteligência pessoal, subdividida

em interpessoal e intrapessoal (KREBS, 1998).

Robert Stenberg também se envolveu com o estudo da multiplicidade da inteligência.

Embora não denomine sua teoria como de inteligências múltiplas o próprio Samples o

inclui nesse grupo.A proposta de Stenberg apóia-se num modelo triárquico, com três

tipos de inteligência. O primeiro é o tipo contextual, que diz respeito à capacidade que

uma pessoa tem para adaptar-se ao contexto em que está inserida. O segundo tipo de

inteligência é denominado como experimental Krebs e colaboradores (1996) destacam

que esse tipo de inteligência flui entre dois pólos, o da novidade da tarefa e o da

automatização e é na fluência do primeiro pólo para o segundo que acontece a

aprendizagem. O terceiro tipo é o da inteligência componencial, que explica os

mecanismos do processamento de informação (KREBS, 1998).

O contexto sociocultural é outro ponto de convergência entre estudiosos do

desenvolvimento humano, apontando a importância do contexto sociocultural para a

compreensão das relações homem-mundo.

A teoria de Riegel propõe que os eventos na vida da criança que efetivamente

contribuem para o seu desenvolvimento são mais bem explicados em quatro

dimensões: interno-biológica e individual-psicológica de natureza interna e

cultural-sociológica e externo-física (KREBS, 1998). Ao enfatizar o sentido dialético

de sua teoria, Riegel coloca que os conceitos como conflito e contradição deveriam

receber a mesma atenção que os conceitos de atenção e estabilização. Assim o foco

das investigações está no aspecto social da linguagem, especialmente na comunicação

e na construção de significados que ocorrem nos diálogos.

Na elaboração de sua teoria, Valsiner (1987) destacou dois aspectos do

desenvolvimento da criança. O primeiro é a dinâmica da ação e do pensamento da

criança em ambientes nos quais ela é confrontada com a necessidade de resolver

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alguma tarefa. O segundo aspecto refere-se à ontogênese, e busca explicar o processo

do desenvolvimento individual da criança em seus ambientes em constantes

mudanças. Enfatiza o fato óbvio de que ambos, o desenvolvimento da criança e seu

ambiente são estruturalmente organizados Os pressupostos de sua teoria tratam da

compreensão de dois componentes que são: restrições e zona.As restrições delimitam

diferentes áreas de um campo (zona), e assim canalizam o desenvolvimento de um

organismo. As zonas são especificadas pelas restrições, e os definem as zonas Krebs

(1998).

Zona de movimento livre – ZML

A ZML é uma estrutura funcional, constantemente criada e recriada na medida em que

a criança e seu cuidador mudam de uma estrutura ambiental para outra e da busca de

um conjunto de objetivos na busca de alcançar outros fins. Essa estrutura é dinâmica;

dada à mudança de objetivos e condições, suas delimitações estão constantemente

sendo organizadas.

a) Essa zona estrutura o acesso da criança às diferentes áreas do ambiente,

b) A disponibilidade dos diferentes objetos dentro de uma área acessível,

c) As maneiras de agir com os objetos disponíveis dentro da área acessível.

Como marca de seu desenvolvimento, a criança aprende a organizar a ZML

conforme seus próprios pensamentos e sentimentos. Essa zona torna-se

internalizada. Essa Zona de movimento livre possui quatro propriedades:

1ª - é sempre baseada nos relacionamentos da criança (ou do adulto) com as

estruturas de uma dada organização ambiental;

2ª - é baseada no significado dos diferentes ambientes para o “outro social”, (pais,

irmãos, professores, etc.), o qual é o organizador principal, mas não é o único;

3ª - a zona é geralmente organizada com base no entendimento que os outros têm

sobre o que a criança pode fazer em determinado ambiente, relacionado ao que ela

está fazendo ou fez no passado;

4ª - a zona é reconstruída quando o adulto e a criança entram em um novo ambiente.

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A zona de desenvolvimento livre é um meio e não um fim em si própria. Sendo assim, é

possível que essa zona pode se tornar obsoleta e ser substituída por outra.

Zona de ação promovida – ZAP

É caracterizada pela promoção de aquisição de novas habilidades. Envolve um

conjunto de atividades, objetos ou áreas do ambiente, onde as ações da criança são

promovidas. Salienta-se que nem sempre a criança estará envolvida com as ações

intencionalmente promovidas pelo adulto, e nesse caso a zona volta a ser

caracterizada como de movimento livre (KREBS, 1998).

Há uma interdependência entre as duas zonas ZML e ZAP porque ambas dependem

do contexto cultural em que estão inseridas, e que os significados que determinada

cultura dá aos objetos e atividades são fundamentais para definir as zonas.

Zona de desenvolvimento proximal – ZDP

Valsiner buscou esse terceiro conceito em Vygotsky, e evidencia que a limitação

seletiva de variabilidade é um mecanismo de desenvolvimento, que envolve o conjunto

de ações que a criança pode desempenhar quando ajudada por outra pessoa (KREBS,

1998).

Em síntese feita por algumas idéias centrais à teoria de Valsiner relatam que a

padronização de uma organização física de uma sociedade, seus costumes, corpo de

conhecimento e valores morais são um produto da evolução cultural dessa sociedade

(KREBS, 1998).

Percebe-se que é um sistema dinâmico e que ele prefere destacar as interações da

criança e seus contextos.

Por fim, a teoria dos Sistemas Ecológicos de Brofenbrenner apresenta duas partes que,

pela sua própria natureza não podem ser tomadas separadamente (KREBS, 1998).

1ª - refere-se às propriedades da pessoa numa perspectiva ecológica,

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2ª - refere-se aos parâmetros do contexto numa abordagem desenvolvimentista.

Brofenbrenner não inclui uma relação de características individuais que chama de

competências, como por exemplo, inteligência, caráter, etc., pois admite concordar com

outros autores que tratam desses temas (Krebs, 1998). No entanto, alerta que todas as

características individuais não podem ser interpretadas sem uma perspectiva

ecológica, sem estabelecer a relação entre as características do ser humano ativo em

desenvolvimento com seus respectivos contextos, entendidos como ambientes

dinâmicos em constantes transformações.

Para avaliar as competências individuais Brofenbrenner organizou-as em:

.Competência em função do status pessoal – isso significa atribuir certas

competências à pessoa em função de seu status social (professor/aluno, por exemplo).

O mais competente, independente do status, é quem obtiver mais sucesso na solução

de problemas inerentes ao contexto, que é a segunda competência denominada de

competência avaliada dentro do ambiente (KREBS, 1998).

Um terceiro nível é chamado de competência como uma cultura definida, e

considera a competência como um fator relacionado a toda cultura que permeia os

contextos em que a pessoa esteja inserida, desde os mais imediatos até aos mais

abrangentes (KREBS, 1998).

Em relação aos parâmetros do contexto propõe um modelo sistêmico. O

desenvolvimento humano de dá em larga escala de contextos

ambientais.Brofenbrenner denomina esses ambientes como microsistemas (a família,

a escola, o bairro, e o grupo de amigos de uma pessoa), o mesosistema (interação

entre vários ambientes dentro dos microsistemas), os exosistemas (ambientes sociais

nos quais a pessoa não desempenha papel ativo, mas é afetado por suas decisões), o

macrosistema (a cultura na qual uma pessoa existe) e o cronossistema (os eventos

histórico-sociais da vida de um indivíduo) (GALLAHUE; OZMUN, 2002).

Para oportunizar um avanço nas pesquisas de desenvolvimento humano, propõem -se

dois modelos:

a) Pessoa-processo-contexto,

b) Cronossistema.

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Mais recentemente, integra seus dois modelos em um só, e nomeia-o como pessoa-

processo-contexto-tempo. Portanto, diante dos estudos desenvolvidos pelas teorias

emergentes observa-se que um comportamento humano não pode ser previsto a partir

somente de um aspecto do desenvolvimento ou a partir apenas de uma variável. É

preciso considerar a interação de diversos componentes que se influenciam

mutuamente.

Capítulo lV

3. Seqüência de Desenvolvimento Motor

O modelo da ampulheta é uma representação conceitual de desenvolvimento motor,

que fornece orientações gerais para descrição e explicação do comportamento motor

(GALLAHUE; OZMUN, 2002).

Modelo da ampulheta da seqüência do desenvolvimento motor durante o ciclo da

vida

Fonte: Gallahue e Ozmun (2002).

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É preciso colocar areia dentro da ampulheta que significa o recheio da vida. A areia

que chega vem de dois recipientes diferentes. Um que tem tampa, que é o recipiente

hereditário e o outro recipiente que é o ambiental. Na verdade, não importa realmente

se a ampulheta está preenchida com uma ou outra areia. O que importa é que, de

alguma forma, a areia entra na ampulheta e que esse recheio da vida é produto tanto

da hereditariedade como do ambiente, e que ambos influenciam no desenvolvimento.

Nas fases reflexas e rudimentares do desenvolvimento motor que ocorrem nas

primeiras fases da vida a progressão é bastante rígida e resistente, mas podem ser

variadas desde que recebam oportunidades adicionais, o encorajamento e a instrução

em um ambiente propício ao aprendizado.

Nas fases os movimentos fundamentais, crianças começam a desenvolver um conjunto

de habilidades motoras básicas – correr, saltar, arremessar, receber, chutar, quicar e

outros. Muitos educadores, infelizmente têm a noção de que as crianças, de algum

modo desenvolverão somente pelo processo de maturação. Isso simplesmente não é

verdade, pois à medida que as exigências da tarefa de uma habilidade motora

fundamental mudam, também mudarão o processo e o produto.

A criança progride de um estágio para outro de maneira seqüencial, influenciada tanto

pela maturação como pela experiência. As crianças não contam somente com a

maturação para atingir o estágio maduro de suas habilidades motoras fundamentais.

Condições ambientais, como as oportunidades para a prática, o encorajamento e a

instrução, são cruciais para o desenvolvimento de padrões maduros de movimentos

fundamentais. Miller (1968) pesquisou a facilidade do aprendizado de habilidades

motoras fundamentais em crianças de três a cinco anos de idade e verificou que

programas de instrução podem aumentar o desenvolvimento de padrões motores

fundamentais, além do nível atingido somente devido à maturação. Na fase de

habilidades motoras especializadas, o desempenho bem-sucedido da mecânica de

habilidades motoras depende dos padrões fundamentais de movimento se apresentam

no estágio maduro.

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Entre os 7 e 8 anos de idade, as crianças geralmente entram num período agitado

chamado de estágio transitório,onde se encontram ativamente envolvidas na

descoberta e na combinação de numerosos padrões motores desenvolvidas e

refinadas no estágio anterior, mas que no estágio transitório desenvolve-se mais

precisão e melhor progride-se para os

estágios avançados, nos quais as habilidades motoras especializadas são aplicadas à

vida diária e a experiências recreativas e esportivas.

Capítulo V

4. Padrões Fundamentais de Movimento Uma criança sem qualquer incapacidade de desenvolvimento e que recebe estímulos

do ambiente onde vive e é influenciada tanto pela sua maturação como pela

experiência, pode seguir de um estágio a outro, descritos abaixo. Esses são técnicas

efetivas para avaliação empírica dos padrões motores fundamentais (GALLAHUE;

OZMUN, 2002).

Corrida

Estágio inicial do padrão da corrida apresenta as seguintes características:

1- Jogo de pernas pequeno, limitado.

2- Passos largos, irregulares e rígidos.

3- Fase aérea não observável.

4- Extensão incompleta da perna de apoio

5- Movimento curto e rígido com graus variados de flexão do cotovelo.

6- Braços tendem a balançar em direção externa e horizontalmente.

7- Balanço da perna tende para fora do quadril.

8- Balanço do pé com dedos para fora.

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9- Base de apoio larga.

Estágio elementar do padrão da corrida apresenta as seguintes características:

1- Aumento da extensão da passada, do balanço do braço e da velocidade.

2- Fase aérea limitada, mas observável.

3- Extensão mais completa da perna de apoio no impulso.

4- Aumento da oscilação do braço.

5- Balanço horizontal do braço reduzido no movimento para trás.

6- Pé de trás cruza linha mediana da altura.

Estágio maduro do padrão da corrida apresenta as seguintes características:

1- Máximo da extensão da passada e de sua velocidade.

2- Fase aérea definida.

3- Extensão completa da perna de apoio.

4- Coxa de trás paralela ao solo.

5- Oscilação vertical dos braços em oposição às pernas.

6- Braços dobrados em ângulos aproximadamente retos.

7- Mínima ação de rotação do pé e da perna de trás.

Dentre as principais dificuldades de desenvolvimento, podem ser citadas:

A- Oscilação do braço inibida ou exagerada.

B- Braços cruzam a linha mediana do corpo.

C- Colocação imprópria do pé.

D- Inclinação exagerada do tronco para frente.

E- Braços com movimentos pesados nas laterais ou rígidos para manter

equilíbrio.

F- Giro do tronco.

G- Cadência rítmica pobre.

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H- Apoio do pé interno no solo.

I- Pé ou perna irregularmente virados para dentro ou para fora.

Recepção

O padrão de movimento fundamental do receber envolve o uso das mãos a fim de

interceptar objetos arremessados. Os elementos do receber por cima e por baixo são

essencialmente os mesmos. A principal diferença está na posição das mãos no

momento do impacto do objeto.

No estágio inicial a recepção apresenta as seguintes dificuldades:

1- Freqüentemente, há uma reação de desvio, virando ou protegendo o rosto com as

mãos.

2- Braços se estendem e se mantêm à frente do corpo.

3- Movimento do corpo é limitado até o contato.

4- Recepção parece ação de cavar.

5- Uso do corpo para segurar a bola.

6- Palmas são mantidas para cima.

7- Dedos são estendidos e mantidos tensos.

8- Mãos não são usadas na ação de recepção.

O estágio elementar do receber apresenta as seguintes dificuldades:

1- Reação de desvio é limitada ao fechamento dos olhos no contato com a bola.

2- Cotovelos são mantidos nas laterais com inclinação aproximadamente de 90 graus.

3- Tentativa inicial de tocar na bola com as mãos é geralmente mal-sucedida, pois os

braços batem na bola.

4- Mãos são mantidas em oposição uma à outra; polegares se mantêm para cima.

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5- Ao contato, mãos tentam apertar a bola com movimento irregular e

insuficientemente rápido.

O conhecimento das dificuldades possibilita que seja mais efetivo o diagnóstico de

toda dificuldade e permite programação de experiências motoras significativas.

No estágio maduro o receber apresenta as seguintes dificuldades:

1- Não há reação de desvio.

2- Olhos seguem bola até as mãos.

3- Braços se mantêm relaxados nas laterais, e antebraços se mantêm na frente do

corpo.

4- Braços cedem ao contato com a bola para absorver a forças.

5- Braços se ajustam à trajetória da bola.

6- Polegares se mantêm em oposição um ao outro.

7- Mãos agarram a bola em movimento simultâneo e de bom ritmo.

8- Dedos agarram mais efetivamente.

As dificuldades de desenvolvimento do movimento de receber se apresentam da

seguinte maneira:

A- Falha ao manter controle com o objeto.

B- Falha ao mover os braços para receber.

C- Manter dedos rígidos e retos na direção do objeto.

D- Falha ao ajustar posição da mão à altura e à trajetória do objeto.

E- Inabilidade de variar padrão de recepção para objetos de pesos e forças

diferentes.

F- Tirar os olhos do objeto.

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G- Fechar os olhos.

H- Inabilidade de focalizar ou acompanhar o curso da bola.

I- Posicionamento impróprio, provocando perda de equilíbrio quando recebe

bolas rápidas.

J- Fechamento das mãos adiantado ou tardiamente.

K- Falha ao manter o corpo em linha com a bola.

Saltar em distância

O salto em distância é um movimento que exige potência, requer o desempenho

coordenado de todas as partes do corpo. Trata-se de um padrão de movimento

complexo, no qual é difícil inibir a tendência de adiantar-se sobre um pé. Em vez

disso, o impulso e o pouso devem ser feitos com os dois pés. O padrão de salto

horizontal tem sido extensamente estudado (GALLAHUE; OZMUN, 2002).

No estágio inicial o saltar em distância apresenta as seguintes características:

1- Movimento limitado; braços não iniciam ação do salto.

2- Durante o vôo, braços se movem para os lados e para baixo, ou para trás e para

cima, para manter equilíbrio.

3- Tronco se move em direção vertical; ênfase pequena na extensão do salto.

4- Agachamento preparatório inconsistente em termos de flexão de pernas.

5- Dificuldade de usar ambos os pés.

6- Extensão limitada de tornozelos, joelhos e quadris ao impulsionar.

7- Peso corporal cai para trás ao pousar.

No estágio elementar o saltar em distância apresenta as seguintes características:

1- Braços iniciam a ação do salto.

2- Braços se mantêm à frente do corpo durante agachamento preparatório.

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3- Braços se movem para as alterais para manter equilíbrio durante o vôo.

4- Agachamento preparatório mais profundo e mais consistente.

5- Extensão mais completa do joelho e do quadril ao impulsionar.

6- Quadris flexionados durante o vôo; coxas mantidas em posição flexionada.

No estágio maduro o saltar em distância apresenta as seguintes características:

1- Braços se movem para o alto e para trás durante o agachamento preparatório.

2- Durante o impulso, braços se inclinam para frente com força e alcançam altura.

3- Braços mantêm-se altos durante toda a ação do salto.

4- Tronco inclinado em ângulo aproximado de 45 graus.

5- ênfase maior na distância horizontal.

6- Agachamento preparatório profundo e consistente.

7- Extensão completa de tornozelos, joelhos e quadris ao impulsionar.

8- Coxas mantêm-se paralelas ao solo durante vôo; pernas pendem verticalmente.

9- Peso corporal inclina-se para frente ao pousar.

As dificuldades de desenvolvimento do saltar em distância apresentam as

seguintes características:

A- Uso impróprio dos braços (ou seja, falha ao usar os braços em oposição à

perna de propulsão em um balanço para cima e para baixo, enquanto a

perna flexiona, estende, e flexiona novamente)

B- Giro ou torção do corpo.

C- Inabilidade de executar o impulso tanto com um pé quanto com os dois.

D- Agachamento preparatório insuficiente.

E- Movimentos restritos de braços e pernas.

F- Ângulo de impulso insuficiente.

G- Falha em estender-se totalmente ao decolar.

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H- Falha em estender as pernas para frente ao pousar.

I- Cair de costas ao aterrissar.

Arremessar por cima

O arremesso por cima tem sido estudado nos últimos anos com atenção centralizada

na forma, precisão e distância. A variabilidade é particularmente visível nos primeiros

estágios de desenvolvimento de arremesso, resultando num alto grau de

inconsistência. Considerando os limites da tarefa, Manoel e Oliveira (2000), A

descobriram que, num grupo de meninos e meninas de sete anos, os arremessadores

maduros arremessavam a uma distância maior do que seus colegas de nível

elementar. Entretanto, eles não realizavam um arremesso melhor em relação à

precisão. O tamanho da bola arremessada também influenciou o mecanismo padrão

de arremesso (GALLAHUE; OZMUN, 2002).

O estágio inicial do arremessar por cima apresenta as seguintes características:

1- Ação é feita principalmente a partir do cotovelo.

2- Cotovelo do braço de arremesso mantém-se à frente do corpo; ação parece um

empurrão.

3- Dedos se separam ao liberar a bola.

4- Acompanhamento da bola para frente e para baixo.

5- Tronco se mantém perpendicular ao alvo.

6- Pequena ação de giro durante o arremesso.

7- Peso corporal se move levemente para trás para manter equilíbrio.

8- Pés permanecem parados.

9- Geralmente não há objetivo na movimentação dos pés durante a preparação do

arremesso.

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O estágio elementar do arremessar por cima apresenta as seguintes características:

1- Na preparação, o braço é inclinado para cima, para os lados e para baixo, para

posição de cotovelo flexionado.

2- Bola é segurada atrás da cabeça.

3- Braço é inclinado para frente, bem acima do ombro.

4- Tronco se vira para o lado do arremesso durante ação preparatória.

5- Ombros se viram para o lado do arremesso.

6- Tronco é flexionado para frente com movimento do braço para frente.

7- Mudança definida do peso corporal para frente.

8- Passos à frente com perna do mesmo lado do braço de arremesso.

O estágio maduro do arremessar por cima apresenta as seguintes características:

1- Braço é inclinado para trás na preparação.

2- Cotovelo oposto é elevado para equilíbrio como ação preparatória no braço de

arremesso.

3- Cotovelo de arremesso se move para frente horizontalmente enquanto se estende.

4- Antebraço gira e polegar aponta para baixo.

5- Tronco gira claramente par o lado do arremesso durante ação preparatória.

6- Ombro de arremesso cai levemente.

7- Rotação definida através dos quadris, pernas, coluna e ombros durante o arremesso.

8- Peso no pé de trás durante movimento preparatório.

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9- Conforme o peso se move, um passo é dado com o pé oposto.

As dificuldades de desenvolvimento do arremessar por cima são:

A- Movimento para frente com o pé do mesmo lado do braço de arremesso.

B- Inclinação para trás contida.

C- Falha ao girar quadris conforme o braço de arremesso é trazido para trás.

D- Falha ao dar um passo com perna oposta ao braço de arremesso.

E- Coordenação rítmica insuficiente do movimento do braço com o movimento

do corpo.

F- Falha ao liberar a bola na trajetória desejada.

G- Perde o equilíbrio enquanto arremessa.

H- Rotação para frente do braço.

Chutar

Chutar é comportamento no qual o pé é usado para propulsionar à bola. Variações

precisas da ação de chutar podem ser realizadas por meio de ajustes com a perna

que chuta e por meio da inclusão de braços e tronco no desempenho.

O estágio inicial do chutar apresenta as seguintes características:

1- Movimentos são restritos durante a ação de chute.

2- Tronco permanece ereto.

3- Braços são usados para manter equilíbrio.

4- Movimento para trás da perna que chuta é limitado.

5- Inclinação para frente é curta: há pequeno acompanhamento da bola.

6- Criança chuta “na” bola em vez de chutá-la tangencialmente à frente e

acompanhá-la.

7- Ação de empurrão é predominante em vez de batida.

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O estágio elementar do chutar apresenta as seguintes características:

1- Movimento preparatório para trás é centrado no joelho.

2- Perna só chute tende a manter-se inclinada durante todo o chute.

3- Acompanhamento da bola é limitado ao movimento do joelho para frente.

4- Um ou mais passos deliberados são dados em direção à bola.

O estágio maduro do chutar apresenta as seguintes características:

1- Braços oscilam em oposição um ao outro durante a ação de chute.

2- Tronco se inclina na cintura durante o acompanhamento.

3- Movimento da perna que chuta se inicia no quadril.

4- Perna de sustentação se inclina levemente ao contato.

5- Aumenta a extensão da oscilação da perna.

6- Acompanhamento é alto; pé de sustentação se eleva sobre os dedos ou

deixa a superfície totalmente.

7- Alcance da bola pode ser feito por uma corrida ou por um grande salto.

As dificuldades de desenvolvimento do padrão de movimento de chutar são:

A - Inclinação para trás restrita ou ausente.

B - Falha ao dar passo à frente com a perna oposta.

C - Tendência de perder equilíbrio.

D - Inabilidade de chutar com qualquer dos pés.

E - Inabilidade de alterar velocidade de bola chutada.

F - Tocar a bola sem acompanhá-la.

G – Oposição de braços e pernas insuficiente.

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H – Falha ao usar uma conjunção de forças pelo corpo para contribuir com a força do

chute.

I – Falha ao entrar em contato com a bola ou a perde completamente (os olhos não

estão atentos na bola).

J – Falha em se posicionar a uma distância adequada (falha ao acompanhar o

movimento durante o chute na produção de força).

Capítulo Vl

5. O contexto do estudo

A Escola Municipal Murilo Rubião situada no bairro Jardim Belmonte, foi construída em

área de risco social. Atende crianças e jovens nos turnos vespertinos e participam de

projetos sociais tentando minimizar a violência que as crianças estão sujeitas. Muitos

pais encontram-se desempregados, ou subempregados. Os filhos normalmente quando

não estão na escola ficam na rua e por isso sujeito à ação da marginalidade.

A estrutura física e a competência para assegurar os recursos humanos necessários ao

funcionamento de todas as despesas de operação e manutenção são da Prefeitura

Municipal de Belo Horizonte. Na cidade existem 186 escolas municipais sob sua

gestão. Algumas escolas atendem crianças desde a creche até o terceiro ciclo,

procurando oferecer serviços à população mais necessitada com atendimento de

tempo integral. A prática esportiva está inserida neste processo através da atividade

esportiva formal e informal manifestada nas suas instalações. São três pequenos

prédios de dois andares, uma quadra coberta, um ginásio poliesportivo simples, uma

área de lazer com brinquedos para as crianças menores, um anfiteatro próximo ao

estacionamento.

A escola é administrada por uma diretora e uma vice-diretora, um coordenador

pedagógico para o 1º e 2º ciclos e duas coordenadoras pedagógicas para o 3º ciclo

sendo uma coordenadora de turno, secretária escolar e estagiários. As decisões são

discutidas e decididas pelo colegiado composto por representantes de todos os

segmentos da escola: direção, professores, alunos, funcionários, pais de alunos.

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O corpo docente é formado por professores com nível superior, contratados através de

concurso público e trabalham em regime estatutário, com carga horária semanal de

22h e 30 m para cada cargo, sendo que a grande maioria das professoras tem dois

cargos.

A escola está inserida na proposta pedagógica de ciclos de formação. Por sua vez, há

críticas neste sistema, pois os ciclos implicam “promoção automática” e ensino de

“qualidade duvidosa”.

As referências ao ensino seriado, ainda dominante na cidade por sua vez estão

carregadas de expressões, tais como: ensino apertado, exigente, dá prova, aprova,

reprova, passa no vestibular, ensino de “qualidade”. O fato é que no calor das

discussões a defesa de uma proposta quase sempre ocorre em razão da negação da

outra. Uma tendência de polarização oferece riscos e possibilidades de equívocos

conceituais e posições corporativistas.

A conjugação desses diversos cenários provoca em muitos profissionais momentos de

incerteza, angústia, debates, mas também de procura, de estudos. Como conciliar uma

proposta de educação que respeite as diferenças individuais dos alunos e lhes

assegure o direito à educação de qualidade, dando-lhes uma formação humana e

solidária, em uma sociedade que, vive em meio a um acirramento competitivo,

planetariamente globalizado?

Juntar as duas tarefas -habilitação competente e formação solidária ficou sumamente

difícil, porque a maioria das expectativas do meio circundante (mercado competitivo) se

volta exclusivamente para a demanda da eficiência (capacidade competitiva).

Essa parece ser a grande questão que problematiza a ação do professor comprometido

com a educação cidadã. Assumir o desafio de uma prática pedagógica que inserida

nessa realidade, tenha propósitos coerentes e esteja impregnada de relações

valorativas de forma assertiva, e que possa inserir as crianças e jovens que ali estudam

no processo civilizatório antes a escola deve ser um espaço de formação humana, de

direito aos saberes.

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Capítulo Vll

6. Fatores que afetam o desenvolvimento e o crescimento infantil

O crescimento não é um processo independente. Embora a hereditariedade estabeleça

os limites de crescimento, os fatores ambientais desempenham papel importante na

extensão em que esses limites são atingidos. Até que ponto esses fatores afetam o

desenvolvimento motor ainda não está claro, havendo a necessidade de mais estudos.

A nutrição, o exercício e a atividade física são fatores importantes que afetam o

crescimento.

Nutrição

Entre os fatores que influenciam o desenvolvimento físico, no período pré-natal, a

nutrição é o mais importante. Numerosas pesquisas têm fornecido claras provas de que

deficiências alimentares podem ter efeitos muito prejudiciais no crescimento durante a

pré-infância. A extensão do atraso no crescimento, obviamente, depende da gravidade,

duração e da época do aparecimento da subnutrição. Por exemplo, se a má nutrição

crônica ocorre nos quatro primeiros anos da criança, existe pouca esperança de que

ela venha a igualar-se às outras crianças de sua idade em termos de desenvolvimento

mental, porque o período crítico de crescimento cerebral já terá passado.

O processo de crescimento físico pode ser interrompido por má nutrição em qualquer

período entre a primeira infância e a adolescência. A má alimentação pode também

servir como condição propiciadora para certas doenças que afetam o crescimento

físico. Por exemplo, a falta de vitamina D em regime alimentar pode resultar em

raquitismo, causador de amolecimento e deformação dos ossos, em função da

presença de sais de óxido de cálcio em ossos recém-formados. A deficiência de

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vitamina B12 pode causar pelagra, caracterizada por lesões de pele, problemas

gastrointestinais, mitóticos e neurológicos. A crônica falta de vitamina C pode levar ao

escorbuto, doença caracterizada pela perda de energia, dores nas articulações, anemia

e a tendência a fraturas de epífise. Todas essas doenças são relativamente raras na

maioria dos países desenvolvidos.

Estudos indicam que crianças que sofrem de má nutrição crônica, particularmente no

período pré-natal e na primeira infância, nunca estão completamente de acordo com as

normas de crescimento para suas faixas etárias e sofrem do que é conhecido como

retardo de crescimento. Isso é óbvio em nações em desenvolvimento, em que os

padrões de altura e de peso para adultos são consideravelmente mais baixos do que

os das nações industrializadas. O estado nutricional vincula-se ao nível de renda.

Excessos alimentares também afetam o crescimento de crianças. Em países ricos, a

obesidade é um problema importante. Existe considerável preocupação, entre os

profissionais, com o alto consumo de amidos e açúcares refinados pelas crianças. O

bombardeio das propagandas de TV exaltando um tipo de comida não-nutritiva ou o

vício do fast-food pode ter efeito no estado nutricional das crianças. A diferença crítica

entre nutrição adequada e inadequada não foi ainda identificada. A natureza individual

da criança, com sua composição bioquímica peculiar, torna difícil especificar em que

ponto a nutrição adequada termina e a má nutrição começa. Essa é, entretanto, uma

questão séria, que precisa de exploração mais minuciosa. O bem-estar de um imenso

número de crianças está em risco.

Exercício físico e lesão

A atividade física geralmente tem efeito positivo sobre o crescimento, exceto em casos

de nível excessivo de exercícios. O ponto crítico que separa a atividade benéfica da

atividade prejudicial não está claro. O rápido aumento de esportes juvenis e a

intensidade de treinamento deixam muitas perguntas sem resposta, mas podemos

supor que a atividade fatigante realizada por um período extenso de tempo pode

resultar em lesões dos músculos e do tecido ósseo da criança. A atividade física

estimula tanto a mineralização óssea como o desenvolvimento muscular e ajuda a

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retardar o depósito de gordura. A grande maioria das atividades físicas tem efeitos

benéficos desde que bem orientados.

Os fatores climáticos também demonstraram acelerar ou desacelerar o crescimento em

crianças. As crianças norte-americanas atualmente são mais altas e mais pesadas do

que as crianças de cem anos atrás. Tendências seculares definidas podem ser

observadas em muitas, mas não em todas as culturas. As diferenças de estilo de vida e

circunstâncias do regime alimentar desempenham papel importante na presença ou na

ausência de tendências seculares.

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Anexo 1

Resultados

Os resultados dos Padrões fundamentais de Movimento analisados são

apresentados no Quadro 1. Destaca-se que foi considerado para análise o somatório

das cinco tentativas realizadas por cada uma das 19 crianças, totalizando 95 padrões

de movimento.

Quadro 1 – Padrões de Movimentos Fundamentais com Cálculo Percentual

Corrida Inicial % Elementar % Maduro % Total %

Pernas 0 0 50 52.64 45 47.36 95 100 Braços 0 0 45 47.37 50 52.63 95 100

Pernas post. 0 0 45 47.37 50 52.63 95 100 Arremessar Inicial Elementar Maduro Total Braços 10 10.52 42 44.22 43 45.26 95 100 Tronco 10 10.52 44 46.32 41 43.15 95 100 Perna e Pés 36 37.39 25 26.32 25 35.76 34 100 Chutar Inicial Elementar Maduro Total Braços 7 7.37 72 75.78 16 16.85 95 100 Perna e pés 11 11.58 68 71.58 16 16.85 95 100 Saltar Inicial Elementar Maduro Total Braços 20 21.05 40 42.11 35 36.84 95 100 tronco 18 18.94 47 49.48 30 31.58 95 100 Pernas e quadris 20 21.05 46 48.43 29 30.52 95 100 Receber Inicial Elementar Maduro Total Cabeça 0 0.00 5 5.27 90 94.73 95 100 Braços 1 1.05 33 34.76 61 64.20 95 100 Mãos 1 1.05 31 32.64 63 66.31 95 100

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Anexo 2

Padrão motor

No quadro 2 pode ser observada a conversão do resultado obtido nos padrões

fundamentais de movimento e do conceito referente à avaliação do conteúdo

escolar para o critério de pontuação adotado: padrões fundamentais de movimento

(Estágio maduro – 5 pontos, elementar- 3,inicial- 1).

Quadro 2 Padrão motor

Nome Padrão Motor

Criança 1 270

Criança 2 300

Criança 3 253

Criança 4 140 Criança 5 303

Criança 6 312

Criança 7 276

Criança 8 264 Criança 9 185

Criança10 304

Criança11 210

Criança12 326 Criança13 320

Criança14 142

Criança15 288

Criança16 234 Criança17 216

Criança18 257

Criança19 304

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Anexo 3

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Anexo 4

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Anexo 5

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Anexo 6

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Discussão e conclusão

Na avaliação, o desempenho motor aponta para um leque de novos significados e de

responsabilidades para os espaços pedagogicamente organizados da escola.

As diferenças entre crianças fazem lembrar do princípio da individualidade de todo

aprendizado. A seqüência de progressão ao longo dos estágios inicial, elementar e

maduro é a mesma para a maioria das crianças. O ritmo, entretanto, variará

dependendo tanto dos fatores ambientais como dos fatores hereditários. O fato de uma

criança atingir ou não o estágio maduro depende basicamente do ensino, do

encorajamento e das oportunidades para a prática. Quando esses elementos estão

ausentes, as diferenças normais entre crianças serão aumentadas.

Isto é, uma possível explicação é a fundamentação que a concepção dinâmica de

desenvolvimento oferece (MANOEL, 1998). De acordo com Newell (1986), o

comportamento emergente se dá a partir da interação entre pessoa, ambiente e a

própria tarefa em questão. Os resultados do presente estudo demonstraram que, em

desenvolvimento humano, o comportamento resultante não reflete a relação de causa e

efeito, ou seja, não existe um fator único capaz de determinar as ações

independentemente de outras influências. Considera-se a interação não somente entre

fatores apresentados, mas também todo e qualquer aspecto que possa expressar

algum tipo de influência. Infelizmente, a complexidade de nossa sociedade moderna,

em geral, impede o desenvolvimento de muitas habilidades psicomotoras. O ambiente

no qual as crianças de hoje são criadas é tão complicado e perigoso, que elas são

constantemente advertidas a não tocar em objetos ou a evitar situações que oferecem

grande quantidade de informações psicomotoras. O ambiente das crianças de hoje é

também demasiadamente passivo e sedentário. Muitas crianças crescem em cidades

grandes, moram em edifícios, estudam em centros lotados e em ambientes escolares

que não encorajam ou promovem o aprendizado por meio do movimento.

Pouquíssimas crianças na sociedade contemporânea, por exemplo, sobem em árvores,

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andam nos muros, mergulham em riachos ou cavalgam. Elas perdem muitas das

experiências que as crianças deveriam ter para desenvolver suas habilidades motoras.

Os resultados do presente estudo demonstraram que, em desenvolvimento humano, o

comportamento resultante não reflete a relação de causa e efeito, ou seja, não existe

um fator único capaz de determinar as ações psicomotoras.

Não há duas crianças iguais; portanto, a partir da proposta, cada uma apresentou uma

reação particular influenciadas pelos fatores estudados e outros. As crianças são

diferentes no início e serão diferentes no final do processo educativo.

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