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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Inversão do ônus da prova no CDC Por: Eric Luiz da Costa Ricardo Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Inversão do ônus da prova no CDC

Por: Eric Luiz da Costa Ricardo

Orientador

Prof. Willian Rocha

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Inversão do ônus da prova no CDC

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito do Consumidor e Responsabilidade Civil

Por : Eric Luiz da Costa Ricardo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela vida e acima de tudo.

A minha mãe Vera Lúcia da Costa Ricardo.

A minha esposa Vanilza Pereira Ricardo.

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DEDICATÓRIA

Dedico a presente a minha mãe Vera Lúcia da Costa Ricardo e a minha esposa Vanilza Pereira da Silva que me incentivaram e deram força para a conclusão de mais uma conquista.

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RESUMO

O presente trabalho tem como finalidade abordar a aplicação da inversão do ônus da prova frente ao Código de Defesa do Consumidor, direito este que se encontra consagrado na Constituição Federal como direito fundamental.

A relação entre consumidores e fornecedores que até então não dispunha de normas e delimitação de interesses passou a configurar um novo pólo de estudo dentre do ordenamento jurídico, chamado de direito de consumidor.

O denominado direito do consumidor definiu claramente os direitos, obrigações e limites para as duas partes constantes na relação jurídica estudada, passando posteriormente a dispor de mecanismos capazes de proporcionar uma tutela efetiva.

Destaca-se neste momento o instituto da inversão do ônus da prova, este que se trata de um dos mais relevantes instrumentos da facilitação de defesa na esfera jurídica.

Neste sentido, a tese a ser estudada demonstrará quando e como poderá ocorrer esse meio de facilitação da defesa, acentuando suas principais peculiaridades, objetivos, fundamentos e possibilidades de aplicação.

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METODOLOGIA

Para elaboração do presente trabalho, fora utilizada a minha

monografia do 3º grau, revistas bibliográficas, o Código Civil e de Processo, bem como

o Código de Defesa do Consumidor e decisões recentes do TJRJ. Em análise textual,

foi realizada a leitura de livros doutrinários, artigos sobre o tema, para a obtenção de

uma visão panorâmica e comparativa com a finalidade de selecionar todos os

elementos básicos para a devida compreensão do texto.

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SUMÀRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

NOÇÕES GERAIS DE PROVA 10

CAPÍTULO II O ÔNUS DA PROVA 15 CAPÍTULO III OS PRINCIPIOS GERAIS 24 CAPÍTULO IV INVERSÃO DO ONUS DA PROVA NO CDC 29 CAPITULO V MOMENTO PROCESSUAL 38 DA INVERSÃO DO ONUS DA PROVA E APLICAÇÃO DESTE INSTITUTO CONCLUSÂO 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46

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INTRODUÇÃO

A Constituição de 1988 elencou como direito fundamental a defesa dos

direitos do consumidor.

No ano de 1990, foi editada a Lei 8.078, codificando, assim, os direitos

dos consumidores no chamado Código de Defesa e Proteção do Consumidor.

Com o advento do CDC, a idéia de facilitação da defesa do consumidor

no processo civil traz ao nosso ordenamento jurídico a possibilidade de inversão do

ônus da prova, facultada ao magistrado quando verossímeis as alegações autorais,

assim como quando for constatada sua hipossuficiência.

Entender então a produção de provas em casos que envolvam relações

de consumo é compreender a própria base axiológica da Lei 8078/90, assim como

toda sua principiologia calcada na vulnerabilidade do consumidor, sua hipossuficiência

– técnica, econômica e jurídica – bem como seus desmembramentos na esfera de

responsabilidade do fornecedor.

A persistência pela proteção dos direitos dos consumidores insere-se

como um tema dos direitos humanos. A qualidade de vida, a segurança, bem como a

saúde física e mental do homem é o objetivo a ser alcançado. Ao Estado compete a

garantia da efetividade do principio da igualdade, bem como assegurar os meios para

que os direitos do indivíduo e da sua coletividade.

O desenvolvimento econômico e as transformações provenientes

deste, através da expansão da produção em serie de produtos trouxe a baila

divergências nas relações de consumo, conflitos esses próprios da sociedade de

produção em massa que passaram a ser melhor resolvidos com a tutela coletiva dos

interesses e direitos metaindividuais previstos no Estatuto Consumerista.

Com efeito, atuando no universo contratual entre fornecedores e

consumidores, o CDC fortalece a parte mais fraca – tanto sob a perspectiva

econômica quanto técnica – com mecanismos de proteção, que permitem a aplicação

da justiça em todos os casos onde há relação de consumo.

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Nesse diapasão, o art. 6º do CDC elenca os direitos básicos do

consumidor, entre os quais, destaca-se o instituto da inversão do ônus da prova como

sendo uma das formas de facilitação da defesa do consumidor em juízo.

Ressalta-se, no entanto, que o referido instituto não é o único

instrumento de facilitação da defesa prevista em lei podendo encontrar regras

semelhantes inseridas nos arts. 28, 88 e 101 do CDC, bem como no art. 333 do

Código Processual Civil/CPC.

O art. 28 prevê a possibilidade da desconsideração da personalidade

jurídica em prol do consumidor. O art. 88 versa sobre a intervenção de terceiros,

sendo vedada a denunciação a lide. O art. 101 excepciona a regra geral do art. 94 do

CPC ao prever que a ação de responsabilidade civil do fornecedor poderá ser

proposta no domicílio do autor. Já o art. 333 do CPC prevê a inversão legal do ônus da

prova em determinados casos.

Neste sentido, pertinente mencionar que a lei a ser estudada constitui-

se como sistema autônomo e próprio, sendo fonte primária para o intérprete dentro da

CRFB/88. Desta forma, no que tange a produção de provas no Processo Civil, o CDC

é o ponto de partida aplicando-se de forma complementar as regras do CPC.

Com o fundamento no exposto, necessário se faz analisar o mecanismo

de inversão do ônus da prova sob o prisma do CDC, examinado-se as diversas

situações aplicáveis na relação consumerista, bem como o modo pelo qual se opera

este mecanismo em cada hipótese específica.

Durante este estudo mister se faz demonstrar quando e como poderá

ocorrer esse meio de facilitação de defesa, acentuando suas principais peculiaridades.

Deste modo, no exame do tema buscar-se-á esclarecer as motivações do legislador

pátrio para a criação do instituto, bem como o modo que se opera aplicação do

mecanismo na prática forense e ausência de violação aos princípios constitucionais.

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CAPÍTULO I

NOÇÕES GERAIS SOBRE PROVA

1.1. Conceito de Prova

A origem da palavra vem do latim probatio, derivado do verbo probare,

que significa provar, verificar.

A prova, no sistema jurídico é a forma de demonstrar e reconstituir os

fatos narrados ao juiz, permitindo que o mesmo construa seu juízo de valor acerca dos

acontecimentos submetidos a sua apreciação. Portanto, a prova será o cerne principal

do processo, pois será na convicção da existência ou inexistência do fato ou

acontecimento ora alegado, que o julgador ira concluir pela procedência ou não do

pedido.

O conceito tradicional de prova adotado, pelo menos repetido por boa

parte da doutrina jurídica, a tem, com algumas variáveis, reconhecido como meio de

obtenção da verdade dos fatos no processo. Nesse sentido, a prova seria o

instrumento pelo qual o juiz se utilizaria para definir a verdade dos fatos que

ensejaram a lide.

No entanto, cumpre esclarecer que provar não consiste em averiguar,

mas sim em verificar a procedência dos fatos ou acontecimentos relatados, pois fatos

não se provam eles existem por si só, como demonstra o entendimento do Mestre

Santiago Santis “fatos não se provam, fatos existem”.

Nos ensinamentos do Mestre Chiovenda provar significa formar a

convicção do juiz sobre a existência ou não de fatos relevantes ao processo. Portanto,

entende-se como prova todo elemento que contribui para a formação da convicção do

juiz a respeito da existência ou de determinado fato. Nesse sentido, tudo aquilo que for

levado aos autos com o intuito de convencer o juiz será denominado prova.

Outrossim, o próprio CPC em seu art. 332, induz o intérprete a essa

conceituação na medida que coloca a prova como meio hábil de obtenção da verdade

dos fatos.

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Neste momento, é imperioso frisar a distinção entre as noções de

certeza e convicção. Enquanto a certeza é de ordem objetiva, ou seja, emana de

qualidade intrínseca do próprio fato, a convicção é subjetiva e se forma na mente do

julgador.

Segundo Tânia Lis Tizzone Nogueira, “a prova é a espinha dorsal do

processo, pois será na convicção da existência de fato ou acontecimento que o juiz ira

concluir sobre a procedência ou não do pedido”.

Por derradeiro, surge como conceito definitivo de prova a tentativa de

demonstração objetiva dos fatos controvertidos com a intenção de possibilitar ao

julgado a formação de uma hipótese razoável que possa ser adotada como suporte

fático para formulação de uma decisão.

1.2. Objeto da Prova

Conforme se observa pela análise do conceito da prova, esta incide, via

de regra, sobre matéria fática. Em função disso, segundo a maior parte da doutrina,

são os fatos litigiosos o objeto da prova.

Na visão do eminente jurista Alexandre Câmara, esta não parece a

posição mais correta. Segundo ele, os fatos existem ou não, não sendo atribuição das

provas conferir-lhes certeza. Seguindo este raciocínio, afirma que o objeto das provas

é constituído pelas alegações das partes a respeito dos fatos. Sendo assim, o que se

almeja com a produção da prova é a demonstração objetiva dos fatos controversos

com a intenção de facultar ao juiz a formulação da decisão.

Como já anteriormente comentado, as provas devem recair sobre

matéria fática. O direito, ordinariamente não se prova, pois iura novit curia.

Excepcionalmente, há hipóteses em que pode ocorrer a necessidade de prova em

matéria de direito, ou seja, em algumas hipóteses expressamente previstas em lei, o

objeto da prova também será constituído por alegações sobre o direito propriamente

dito. Segundo preleciona o art. 337 do CPC, quando a parte alegar direito Municipal,

Estadual, Estrangeiro ou Consuetudinário, poderá o juiz exigir a respectiva prova.

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A prova do direito Municipal ou Estadual pode ser feito através da

juntada do diário oficial onde foi publicada a norma jurídica ou através de certidão do

órgão legislativo (Câmara de Vereadores ou Assembléia Legislativa) onde se ateste o

teor e a vigência da lei indicada.

Quanto à aplicação do direito estrangeiro, este pode ser provado das

seguintes maneiras: juntada de documento ou publicação do país estrangeiro;

utilização de subsídios doutrinários; e parecer jurisconsulto especializado na matéria

sobre a qual se converte.

No que se refere ao direito consuetudinário, ou seja, o direito baseado

nos costumes, qualquer meio de prova poderá ser utilizado. Entretanto, vale destacar,

o costume aplicável como fonte do direito nunca poderá ser contra legem.

Com relação aos fatos, a prova pode ser direta ou indireta. Prova direta

demonstra que o fato narrado nos autos existe. Prova indireta evidência outro fato, do

qual, por raciocínio lógico se chega a uma conclusão a respeito dos fatos dos autos. É

o que denomina também prova indiciária ou por presunção. Em outro capítulo, será

pormenorizadamente analisada a questão das presunções e dos indícios.

1.3. Destinatários da Prova e Sistemas de Valoração

Ao efetuarem suas afirmações acerca da existência, da ocorrência ou

inocorrência de determinado fato, visando o provimento judicial, cada uma das partes

tem interesse em provar a veracidade de suas afirmações a fim de que o julgador

forme seu convencimento para prover-lhes o pedido.

Em face disso, por mais que pareça óbvia, as partes não precisam

provar para si mesmas, pois presume-se que se tenha conhecimento prévio do

ocorrido.

Sendo assim, as provas possuem dois tipos de destinatários: o direto,

sendo Estado-Juiz e o indireto, as partes. Vale dizer, a prova, uma vez levada aos

autos, pertence a todos, isto é, ao processo, não sendo de nenhuma das partes. No

jargão forense, a prova já produzida e do juízo e não das partes.

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Para Tânia Lis Nogueira, o destinatário da prova é o processo, o juiz é

quem utiliza delas para extrair sua convicção.1 Tal posicionamento também é acolhido

por Santiago S. Melendo e José Carlos Barbosa Moreira.

No estudo dos destinatários da prova, há que se ressaltar a importância

do destinatário direto – o juiz – e os métodos existentes para que o juiz valore as

provas produzidas.

Sendo assim, para manipular os meios de prova para formar seu

convencimento, o juiz não pode agir arbitrariamente. Ao contrario, deve seguir um

método ou sistema que lhe permita analisar com rigor técnico o material probatório

careado para os autos.

São os sistemas conhecidos na historia do direito processual, quais

sejam, o critério legal, o da livre convicção e o da persuasão racional.

No sistema de critério legal, que se encontra superado, o juiz apenas

afere as provas seguindo uma hierarquia legal e o resultado surge automaticamente.

Costuma-se dizer em doutrina que representa a supremacia do formalismo sobre o

verdadeiro ideal de justiça, pois o juiz fica restrito a um procedimento burocrático de

“tarifamento das provas” para a prolação das decisões, que nem sempre retratam a

realidade dos fatos. Este sistema é originário das ordálias ou juízo de deus, em que se

acreditava que a parte que estivesse com a razão seria protegida pela divindade.

Nesta época nasce os meios de prova mais cruéis, como a utilização de água

fervente, ou da fogueira. Apesar de superado, o sistema de prova legal ainda guarda

resquícios no direito moderno, como por exemplo, no art. 227 do CC e 902 do CPC. O

art. 227 impõe restrição a utilização da prova exclusivamente testemunhal nos

negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse 10 (dez) vezes o maior salário mínimo

vigente, e o art. 902 exige prova literal (escrita) do contrato de deposito que, embora

não solene, somente se prova desta forma.

Já no sistema de livre convicção, o juiz é soberano para investigar a

verdade e apreciar as provas. Não há nenhuma regra que imponha limites a essa

pesquisa, devendo prevalecer a íntima convicção do juiz. Vai ao extremo de permitir o

convencimento extra-autos e contrário às provas produzidas pelas partes. Este

sistema encontrou defensores entre os povos germânicos, mas peca por entrar em

conflito com o principio constitucional do contraditório, que nenhum direto processual

1 NOGUEIRA, op. cit., p.75.

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moderno pode desprezar. Embora esteja em desuso no moderno processo civil, é

ainda usado em sede processual penal.

No sistema de persuasão racional, o julgamento deve ser fruto de uma

operação lógica estruturada com base nos elementos de convicção existentes no

processo. O juiz formará seu convencimento examinando livremente as provas

colhidas pelas partes, devendo defluir sua decisão daquilo que restou demonstrado

nos autos. Trata-se da aplicação do bocardo quod non est in acti non est in mundo (o

que não esta nos autos não está no mundo). Não há aqui rigidez da prova legal, em

que o valor de cada prova é previamente fixado em lei, nem o excesso de liberdade

conferido ao julgador no sistema do livre convencimento, em que o juiz pode ser

desprezar as provas dos autos.

Vale dizer, o sistema da persuasão racional é o prevalecente no direito

processual brasileiro, tendo sido consagrado no código Napoleônico.

Outrossim, além de basear sua decisão nas provas constantes nos autos,

o juiz deverá apresentar na decisão os motivos que o levaram a decidir desta ou

daquela forma. É o princípio da motivação das decisões, exigência que se justifica

como meio de controle da atividade judicial, ou seja, a partir da motivação as partes

poderão se a decisão proferida deu- se ou não com fundamento nos elementos de

prova constantes nos autos. Por esta razão, o sistema da persuasão racional também

é chamado de sistema do livre convencimento motivado.

Repetindo Amaral dos Santos, Humberto Theodoro Junior2 expõe que a

convicção do magistrado fica, portanto, condicionada aos seguintes elementos:

a) aos fatos nos quais se funda a relação jurídica controvertida;

b) as provas desses fatos, colhidas no processo;

c) as regras legais e máximas de experiência;

d) e o julgamento deverá sempre ser motivado.

2 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 26 ed. Rio de Janeiro, 1999. v. I. p. 93

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CAPÍTULO II

ÔNUS DA PROVA

2.1 Abordagem Constituconal

O instituto da prova tem ampla importância na sistemática processual,

pois não há dúvida de que a prova no processo judicial, seja qual for sua natureza, é

imperioso para se chegar à solução dos conflitos de interesses. Isto porque, é ela

quem vai confirmar a verdade dos fatos afirmados pela partes, servindo, também,

como fundamento da pretensão jurídica.

A atividade probatória é parte integrante do processo, sendo elemento

essencial para a resolução dos conflitos. Partindo desse conhecimento, não se pode

deixar de salientar a relação existente entre a prova e o princípio do devido processo

legal, assegurado pelo art. 5º, LIV, da CRFB/88.

O devido processo legal, como princípio fundamental do processo civil,

abrange uma série de direitos e deveres e, dentre eles, o dever de se propiciar ao

litigante a oportunidade de apresentar provas ao juiz. A produção da prova pelos

litigantes é inerente ao princípio do contraditório e da ampla defesa, ambos previstos

no art. 5°, LV da CRFB/88.

Igualmente o CDC contém princípios especiais voltados para a

regulação de todas as relações de consumo, que para a sociedade contemporânea,

que é uma sociedade de produção e de consumo de massa, é imprescindível, porque

tais regramentos servem para assegurar o necessário equilíbrio das relações de

consumo e garantir uma prestação jurisdicional justa.

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A edição do CDC encontra-se perfeitamente inserida dentro da nova

ordem jurídica advinda da CRFB/88 que consagrou em seu art. 5º, XXXII, a defesa do

consumidor como cláusula pétrea, nos termos do art. 60, § 4º, IV do mesmo Código,

em virtude de versar sobre os direitos e deveres individuais e coletivos, considerando,

ainda, a abrangência do CDC como condição de interesse social, segundo art. 170, V

da CRFB.

Cabe ressaltar ainda que o art. 5°, XXXII da CRFB/88 ao estabelecer

que o Estado deve promover a defesa do consumidor, assegurando ao cidadão essa

proteção como um direito fundamental, implicitamente, reconheceu a vulnerabilidade

do consumidor na relação consumerista.

Diante disso, surge princípio da vulnerabilidade do consumidor que é

base da atual legislação protetora. Este princípio considera o consumidor a parte mais

fraca da relação de consumo, uma vez que o consumidor se submete ao poder de

quem dispõe o controle sobre bens de produção para satisfazer suas necessidades de

consumo. Em outras palavras, o consumidor se submete às condições que lhes são

impostas no mercado.

Costuma-se pensar na relação de consumo como o ato de compra e

venda de um produto. Ocorre que, em se tratando de uma pessoa materialmente

hipossuficiente a compra de determinado bem é fruto de sacrifício e qualquer defeito

naquele produto representará dano irreparável para o consumidor.

Ainda mais gravoso se analisar sob a ótica do fornecimento de serviço.

Se, por exemplo, a concessionária responsável pelo tratamento e fornecimento de

água não cumpre com sua obrigação e repassa à sociedade água de má qualidade, o

consumidor que não tem condições financeiras de comprar água mineral será

prejudicado não só economicamente, mas, também, sim na sua qualidade de vida,

ferindo o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, disposto no art. 1°, III

da CRFB/88.

Neste aspecto observa-se que o CDC prevê o acesso do consumidor à

justiça, reconhecendo sua vulnerabilidade na relação de consumo e estabelecendo

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regras que o protege, visando equilíbrio na relação e a paridade das partes

respeitando-se as desigualdades.

O direito do consumidor faz parte desta renovação e adequação dos

direitos à modernidade social, que busca proteger e atender as necessidades do

indivíduo e da coletividade frente à ordem econômica que vivemos.

Assim, o CDC em seu art. 6°, VIII, declara, entre outros, qual seria um

dos direitos básicos do consumidor, dispondo no referido diploma a cerca da inversão

do ônus da prova em seu favor, de forma a facilitar a defesa no processo, desde que

presentes determinadas condições, a saber: “a facilitação da defesa de seus direitos,

inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a

critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as

regras ordinárias de experiências”.

A inversão do ônus da prova é uma facilitação dos direitos do

consumidor e se justifica como uma norma dentre tantas outras previstas no CDC para

garantir o equilíbrio da relação de consumo, face a reconhecida vulnerabilidade do

consumidor.

Neste prumo, convém esclarecer que tal instituto, como um direito

básico do consumidor, não ofende o princípio da isonomia das partes, estabelecido no

art. 5°, caput da CRFB/88. Ao, contrário, é um instrumento processual com vistas a

impedir o desequilíbrio da relação jurídica e, conforme já foi visto anteriormente, o

CDC está imbuído com preceitos Constitucionais, de modo que a existência de uma

norma contrária a ele deve ser extinta alegando inconteste inconstitucionalidade.

Diante do exposto conclui-se o instituto em tela está amplamente

regulamentado pela ilustre CRFB/88 sendo certo que não é razoável obrigar o

consumidor hipossuficiente a produzir provas suficientes e capazes de comprovar a

veracidade de suas alegações, sob pena de restar prejudicada a ação diante da

impossibilidade de fazê-lo, o que afrontaria frontalmente a dignidade da pessoa

humana, bem como o princípio do devido processo legal, ambos defendidos

constitucionalmente.

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Por fim ressalte-se que a inversão do ônus da prova, assim como as

demais facilidades trazidas ao consumidor pelo CDC, trata-se do mínimo necessário

para se viver com dignidade e resguardar as devidas proporções entre as partes na

relação de consumo, posto que um bem adquirido com defeito, ou um serviço básico

mal prestado não resultam em mera inconveniência, mas sim no prejuízo direto à

dignidade da pessoa humana e à Constituição em sua totalidade.

2.2 Conceito e Etimologia

A palavra ônus deriva do termo homônimo em latim ônus, que significa

carga, peso, fardo, gravame. Ônus probandi tem como tradução literal o encargo de

provar, no aspecto de necessidade de provar. Isto significa dizer que aquele que tem o

ônus de provar tem o interesse de produção de determinada prova, porque se não o

fizer sua inércia poderá trazer-lhe conseqüências desfavoráveis.

Para posteriormente adentrar no tema que será objeto do presente

trabalho, faz-se imprescindível compreender o conceito de ônus da prova, tanto sob a

perspectiva subjetiva quanto objetiva.

Proposta a demanda, a atividade probatória deve desenvolver-se de

acordo com o interesse das partes em oferecer ao julgador as provas possíveis para a

prolação de um provimento que lhe seja favorável, capaz, portanto, de solucionar o

conflito de interesse posto em apreciação.

Nesse desiderato, objetivando formar a convicção do juiz, o

demandante tem o encargo de comprovar as alegações fáticas que amparam seu

direto, sob risco de, assim não agindo, sofrer um julgamento desfavorável.

Prosseguindo nessa esteira de raciocínio, conclui-se que o conceito de

ônus da prova revela-se no agir de determinado modo para a satisfação de interesse

próprio, evitando-se uma simulação de desvantagem. Este é o entendimento

perfilhado pelo insigne processualista José Carlos Barbosa Moreira:3

3 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de Direito Processual. São Paulo: Saraiva, 1980, p.74.

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“Parte da premissa explicita ou implícita, de que, o maior

interessado em que o juiz se convença da veracidade de um

fato é o litigante a quem se aproveita dele como verdadeiro,

por decorrer daí a afirmação de um efeito jurídico favorável a

esse litigante, ou a negação de efeito a ele desfavorável.”

Ainda no que concerne ao ônus da prova, para que se possa conferir

maior amplitude ao presente estudo, insta aqui definir as noções de ônus subjetivo e

objetivo, que serão analisados mais amiúde na seção destinada ao “Ônus da prova e o

CDC”.

Precisamente ao que se refere ao aspecto subjetivo do ônus da prova,

conforme leciona Alexandre Câmara, busca-se responder a pergunta: ”quem deve

provar o que?”. Dispõe o art.333 do CPC, que cabe ao autor provar o fato constitutivo

de seu direito, e ao réu de provar o extintivo, impeditivo ou modificativo do direito.

Quanto à perspectiva objetiva do ônus da prova, cumpre neste sentido

afirmar que as regras sobre distribuição do ônus da prova são entendidas como

“regras de julgamento”, a serem aplicadas pelo órgão jurisdicional no momento de

julgar a pretensão do autor, produzindo então seu juízo de valor.

2.3 Distinção Entre Ônus, Obrigação e Dever

Não se poderia dar continuidade ao estudo do ônus da prova sem

que antes se procedesse à indeclinável distinção entre ônus, obrigação e dever.

Em regra, a obrigação está ligada ao direito material, onde requer

uma conduta de adimplemento ou cumprimento, certo que a omissão do devedor

poderá resultar sua coerção para que cumpra a obrigação. Já o ônus é uma faculdade

que a parte tem, não se sujeitando a coerção, mas aos efeitos que uma possível

inércia e passividade implicarão.

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Quem também perfilha deste entendimento é Tânia Lis Tizzone

Nogueira, ao afirmar que “O ônus é desta forma diferente da obrigação, uma vez que o

não cumprimento de uma obrigação poderá ensejar que outrem exija o cumprimento”.4

Arruda Alvim salienta ainda outra importante distinção entre ônus e

obrigação, que “é a circunstancia de esta ultima ter um valor e poder, assim ser

convertido em pecúnia, o que não ocorre no que tange ao ônus”.5

O insigne doutrinador Pontes de Miranda, ocupando-se da diferença

entre ônus e dever, diz:6

“(...) a diferença entre dever e ônus está em que: (a) o dever é

em relação a alguém, ainda que seja em relação a sociedade,

há relação entre dois sujeitos, um dos quais é o que deve; a

satisfação é do interesse do sujeito ativo; ao passo que (b) o

ônus é em relação a si mesmo; não há relação entre sujeitos;

satisfazer é do interesse do próprio onerado.”

Por fim, trazemos a colação um modelo de classificação perfilhado por

Tânia Lis Tizzoni Nogueira, distinguindo as três expressões quanto à titularidade do

interesse em questão. Nesse sentido, as obrigações seriam no interesse do credor; os

deveres seriam da comunidade; e o ônus seria em interesse próprio, e por assim ser

não se traduz de modo imperativo.

2.4 Alternatividade ou Cumulatividade dos Requisitos

Os requisitos para a inversão do ônus da prova, previstos no artigo 6º ,

inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, são alternativos, conforme se

depreende da leitura do próprio artigo supracitado:

4 NOGUEIRA, op. cit., p. 73. 5 ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: RT, 2000, p. 476. 6 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. 2ed. Rio de Janeiro, 1954, v. III.

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Art. 6º - São direitos básicos do consumidor :

VIII- a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive

com inversão do ônus da prova, a seu favor, no

processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímel

a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo

as regras ordinárias de experiência.

Sendo assim, estando o magistrado convencido da presença de um dos

requisitos exigidos pela lei, deverá inverter o ônus da prova a favor do consumidor,

seja por considerar suas alegações verossímeis ou por considerá-lo hipossuficiente.

2.5 O Ônus da Prova e o Código de Processo Civil

Conforme já foi dito em passagem anterior deste trabalho, a análise do ônus

da prova pode ser dividida em duas partes, quais sejam, uma subjetiva (formal) e uma

objetiva (material).

Todavia, antes de se analisar a mencionada classificação, faz-se

oportuno neste momento consignar o disposto no art. 333 do CPC, abaixo transcrito:

Art. 333. O ônus da prova incumbe:

I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;

II – ao réu, quanto aos fatos impeditivos, modificativos e

extintivos do direito do autor.

Nesse diapasão, sob a perspectiva subjetiva do ônus probandi, incumbe

ao autor provar o fato constitutivo de seu direito, e ao réu o de provar fatos extintivos,

modificativos e impeditivos do autor.

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No entanto, cumpre esclarecer que cabe também ao réu o chamado

“ônus da contraprova”, ou seja, o ônus de provar a inexistência do fato constitutivo do

direito do autor.

Pode-se conceituar como fato constitutivo, aquele que deu origem a

relação jurídica deduzida em juízo (res in iuducium deductia), ou seja, o fato principal

objeto da lide, como, por exemplo, um contrato de mútuo celebrado entre autor e réu,

sendo incumbência do 1º o ônus de prová-lo.

Já o fato extintivo é aquele que põe fim à relação jurídica deduzida no

processo, como, o caso acima, o pagamento de uma divida decorrente de um contrato

de mútuo. Cabe ao réu produzir prova em juízo de que já efetuou o pagamento.

O fato impeditivo refere-se diretamente à ausência de algum dos

requisitos genéricos de validade do ato jurídico, ou seja, na ausência de qualquer

desses requisitos apontados pode-se deparar com um fato impeditivo.

Já o modificativo é aquele que altera a relação jurídica posta sob exame

judicial, e um de seus exemplos mais corriqueiros é o pagamento parcial de uma

debito.

O réu também pode provar a inexistência do fato constitutivo do direito

do autor, chamado de ônus da contraprova. Caso fosse vedada ao réu a

demonstração da inexistência do fato constitutivo do direito do autor, e não havendo

provas a produzir quanto à extinção, modificação, ou impedimento do direito do autor,

a única prova constante nos autos seria favorável ao demandante, o que traria como

conseqüência inarredável o acolhimento de sua pretensão.

Ainda nesse sentido, vale dizer quando o réu apresenta contestação

apenas negando o fato em que se baseia a pretensão do autor – defesa direta -, todo

o ônus probatório recai sobre o último. Sendo assim, o réu verá o pleito autoral sendo

julgado improcedente caso o autor não logre êxito em demonstrar a veracidade do fato

jurídico que serve de fundamento para seu pretenso direito.

Por outro lado, quando o réu se defende através da defesa indireta ou

objeção, afirmando que inobstante serem verdadeiros os fatos alegados pelo autor,

existe um fato extintivo, impeditivo ou modificativo, ocorre a inversão do ônus da

prova. Nesta hipótese, o réu admitiu implicitamente a veracidade das alegações do

autor na exordial, que tornaram-se incontroversos. A controvérsia deslocou-se para o

fato trazido pela resposta do réu, competindo agora a este o encargo de prová-lo.

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No que tange ao chamado ônus objetivo da prova, vale dizer as regras

de distribuição do ônus probandi encerram regras de julgamento, critérios destinados a

indicar, conforme o caso, qual dos litigantes terá de suportar os riscos e

conseqüências desfavoráveis por não haver provado o fato que lhe cabia.

Jose Carlos Barbosa Moreira7 e Alexandre Câmara8 salientam que a

visão subjetiva do ônus da prova tem maior relevância psicológica do que jurídica. O

mestre Barbosa Moreira se manifestou sobre o assunto nos seguintes termos:

“Para efeitos práticos, o que interessa saber não é se a parte

onerada conseguiu ou não carrear para os autos elementos

necessários à demonstração do fato a ele favorável; o que

interessa é, sim, verificar se tais elementos foram careados

para os autos, por obra da parte onerada ou de outrem, pouco

importa.”9

Tal efeito surge como corolário do principio da comunhão da prova,

segundo o qual, uma vez levadas ao processo, as provas não mais pertencem as

partes e sim ao juízo, não importando quem produziu.

Essa visão objetiva do ônus da prova liga-se, também, de maneira

indissociável à vedação do non liquet, ou seja, a impossibilidade do juiz se eximir de

julgar por qualquer motivo. Ainda que os fatos da causa não estejam adequadamente

provados, terá o juiz de proferir uma decisão, o que fará com base nas regras de

distribuição do ônus probandi.

Desse modo, conclui-se esta seção ressaltando que segundo a regra do

art.333 do CPC o juiz deverá considerar as regras sobre a distribuição do ônus

probandi no momento de julgar o mérito, e assim verificar quem será prejudicado em

razão da inexistência de prova sobre determinado fato. Veremos mais adiante que

repousa justamente no momento processual adequado para distribuição do ônus da

7 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de Direito Processual. São Paulo: Saraiva, 1980, p.97 8 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003. v. 1. p. 105 9 MOREIRA, op. cit., p. 98.

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prova o ponto mais controvertido sobre o assunto quando sua disciplina é regida pelo

CDC.

CAPÍTULO III

OS PRINCÍPIOS GERAIS

3.1. Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor consagrou em seu art. 4º, I, o

princípio da vulnerabilidade reconhecendo, assim, o consumidor como parte mais

fraca na relação de consumo, não sendo diferente nos contratos bancários, os quais

as instituições financeiras tem suporte em todos os âmbitos, já que o consumidor

somente o que lhe foi informado pelo prestador do serviço.

Com o desenvolvimento tecnológico atual, gerando métodos

sofisticados de produção por parte da empresa, acentuou-se a diferença entre

produtor e consumidor numa situação de inferioridade devido à dificuldade de

informações, inclusive o fato de reivindicar seus direitos. Em caso de reivindicá-los, os

meios de que se dispõe são reduzidos face à força econômica dos produtores e

fornecedores.

Existem também os mecanismos de ressarcimento, onde devem ser

mais céleres. Havendo a necessidade efetiva de execução de trocas, restituição com

correção monetária do dinheiro e abatimentos proporcionais dos preços (Artigo 18 § 1º

da Lei 8078/90), com isso visando equiparar as desigualdades, eis que as instituições

bancárias tem a posse de informações dos consumidores, bem como produtos, sendo

este a pecúnia.

3.2 Princípio da Transparência

Pelo princípio da transparência, expresso no nosso ordenamento jurídico, no

art. 6º, III, da Lei 8078/90, assegura-se ao consumidor a ciência da exata extensão

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das obrigações assumidas perante o fornecedor. Assim, deve o fornecedor transmitir

efetivamente ao consumidor todas as informações indispensáveis a decisão de

consumir ou não o produto ou serviço, de maneira clara, correta e precisa.

Este princípio traduz na obrigação de fornecedor de dar ao

consumidor a oportunidade de conhecer os produtos e serviços que são oferecidos e

também, o conhecimento prévio de seu conteúdo. A obrigação de apresentar

previamente o conteúdo do contrato está inserida no art. 46 da lei.

Embasado no princípio da transparência, os contratos bancários

devem ser claros e informativos, elucidando assim os consumidores concernente as

taxas, juros, condições para rescisão contratual, bem como qualquer informação que

possa modificar a decisão do consumidor.

Conclui-se que o princípio ora explicado, regente no art. 4º do

Código de Defesa do Consumidor, é indispensável para a qualidade na prestação de

serviço, pois através dele é adotada uma postura de respeito ao consumidor.

Conforme entendimento jurisprudencial em relação ao tema o

julgado no TJRJ na defesa do direito à transparência e boa-fé objetiva no Recurso de

Apelação 0242294-32.2010.8.19.0001, relatado pelo Desembargador Cleber

Ghelfenstein, pela Décima Primeira Câmara Cível, julgado em 03/07/2013. O

entendimento que é dever legal do fornecedor informar adequada e claramente sobre

os riscos do produto e/ou serviços fornecidos.

3.3 Princípio da Boa-fé

Verificamos atualmente a prevalência da boa-fé como princípio de

orientação máxima e embora o próprio caput do art. 4º do CDC consagra a autonomia

do “ Princípio da Transparência” , não há como se negar que este é do que uma das

diversas faces da boa-fé, que tamanha abrangência , deixa escapar o seu sentido

para umas conceituações abertas, indutoras de nova postura no ambiente contratual.

Este princípio está inserido nas relações de consumo expressamente no

inciso III, do art. 4º do CDC, e de certa forma, encontra-se difundido em grande parte

dos dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, desde a instituição de direitos

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básicos ( artigo 6º ), percorrendo pelo capítulo pertinente a reparação por danos pelo

fato do produto e, orientando basicamente os capítulos referentes às práticas

comerciais, a publicidade e a proteção contratual, de acordo com o inciso IV, do artigo

51 do CDC, que considera nulas e plenas direitas clausulas contratuais que sejam

incompatíveis com a boa-fé e equidade.

A boa-fé pode ser observada sob dois aspectos : o subjetivo,

constituindo num estado psicológico , de consciência do agente de estar agindo de

acordo e sob o amparo da lei ou ainda sem ofendê-la e o objetivo, que é um modelo

ideal de conduta, tendo em vista seu caráter à ausência de subjetivismo na

responsabilização civil do CDC, pode-se ressaltar que nas relações de consumo ,

existe a concentração de atenções sobre a presença da boa-fé objetiva.

A boa-fé objetiva exerce três funções, como fontes de deveres

especiais , exercendo uma função criadora de novos deveres entre as partes de uma

relação de consumo, sendo chamados de deveres anexo. Uma segunda função é a

interpretação dos contratos de consumo, o qual deve ser analisado de cunho

consumerista. A terceira é a mais importante função é a delimitação dos exercícios

dos direitos subjetivos nas relações de consumo. Ela atua então como agente inibidor

de condutas ou cláusulas abusivas, tendo, por exemplo, os contratos bancários, eis

que aquelas são anuladas quando trazem má-fe ao consumidor.

3.4 Princípio da Veracidade

O princípio da veracidade, também conhecido como princípio da

confiança previsto no artigo 6º , IV do CDC, veda a publicidade enganosa e abusiva e

os métodos comerciais coercitivos ou desleais. O consumidor quando adquiri um

produto ou serviço e não fica satisfeito. O fornecedor que frusta essas expectativas

viola ao princípio da veracidade.

Existem normas específicas inspiradas neste princípio. Os artigos

8º e 92 do CDC exigem quanto aos produtos ou serviços que ofereçam risco natural à

saúde ou á segurança, que o fornecedor preste as informações necessárias e

adequadas, para o consumidor ter ciência de tal risco, caso a informação seja

insuficiente ou inadequada o produto será considerado defeituoso ou viciado.

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Concernente aos contratos bancários de adesão escritos,

determina-se que devem ser redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos

e legíveis, respeitando, assim, o princípio da veracidade.

3.5 Princípio da Publicidade

Refere-se aos fornecedores prestadores de serviços e ao meio

publicitário, impondo o ônus da prova relativo à veracidade e correção da informação,

bem como da comunicação publicitária, a quem se patrocina.

Este princípio está atrelado a uma determinação quanto ao ônus da

prova contida no Código de Defesa do Consumidor , que é o do artigo 38: “ O ônus da

prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a

quem as patrocina”.

Dispõe o artigo 30 do CDC que toda informação ou publicidade

vinculada por qualquer forma ou meio de comunicação relativa a produto ou serviço,

obriga o fornecedor. Esse é um meio de desestimular o fornecedor a divulgar

informações enganosas.

3.6 Princípio da Equidade

O contrato estabelecido entre o fornecedor e consumidor possui por

princípio norteador a equidade contratual do equilíbrio de direito e deveres nos

contratos bancários, para lograr justiça contratual, consagrando equilíbrio de força

entre as instituições financeiras e o consumidor, eis que gera uma relação de

consumo.

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3.7 Princípio da Igualdade

O princípio da igualdade tem a idéia de proteger o consumidor reduzindo

as desigualdades sociais, culturais e econômicas com relação aos fornecedores.

O avanço a produção em larga escala e dos meios para escoar a

produção foram fatores determinantes para o equilíbrio nas relações de consumo

deixando assim os consumidores vulneráveis concernente aos produtos que lhe eram

impostos no mercado.

Por outra vertente, o consumidor figura de forma extremamente passiva

no mercado, posto que em raríssimas exceções são dadas a oportunidade de discutir

as condições de um contrato de consumo, já que estes contatos já vem com suas

cláusulas determinada e indiscutível.

O Código de Defesa do Consumidor é a plena expressão do princípio da

igualdade material, haja vista que reconhece a desigualdade dos consumidores em

relação aos fornecedores de produtos e serviços, institui o plano de políticas públicas

de responsabilidade do Estado visando à igualdade nas relações de consumo e ainda,

dispõe de mecanismo jurídico de ordem de direito material e processual que visem à

defesa ao consumidor.

Todos são iguais perante a lei ( art. 5º da CF), e aplicação do princípio

nas relações de consumo vem declarar a vulnerabilidade do consumidor,

apresentando-se como a parte mais fraca da relação jurídica.

O fornecedor deve levar em consideração na contratação de fornecimento

de produtos ou serviços que as pessoas são diferentes entre si, e , portanto, é, inviável

igual tratamento. O tratamento deve ser igual no limite em que as partes se

desigualem e no mesmo sentido de se igualar na diferença.

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CAPÍTULO IV

A INVERSAO DO ÔNUS DA PROVA NO CDC

4.1. Considerações iniciais

Sob a perspectiva da efetividade da lei, a mais importante alteração

trazida pelo Código de Defesa do Consumidor consta do art. 6º , inciso VIII do CDC

que autoriza o Juiz a determinar, no processo civil, a inversão do ônus da prova em

benefício do consumidor. Deste que verificado o prejuízo ao consumidor, presume que

o vício ou defeito não existia para afastar a obrigação de reparação do dano.

Um dos grandes trunfos dos fornecedores que impedia a decretação

judicial de sua responsabilidade , era justamente a teoria clássica do ônus da prova. A

teor do art. 333 CPC , a prova do fato constitutivo do direito pleiteado incumbe a quem

o alega; significando que cumpre ao autor da ação comprovar os fatos que

fundamentam os seus pedidos.

Diante do atual desenvolvimento de técnicas produtivas das

instituições bancárias, cada vez mais complexas e distantes dos leigos, ou ainda,

devido à natureza do produto e a forma de seu consumo, há que se considerar o

consumidor em situação de inferioridade nas contendas judiciais no que se refere à

produção de provas.

Com o intuito de atenuar essa desigualdade de força, o inciso

VIII, do art. 6º , do Código de Defesa do Consumidor adotou o instituto da inversão do

ônus da prova na defesa do consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor :

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive ,

com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no

processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a

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alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as

regras ordinárias de experiências. (grifos nosso).

Verifica-se que a facilitação da defesa dos direitos que porventura

venha a pleitear, inclusive com a inversão do ônus da prova em seu favor quando se

trata de processo civil . Percebe-se então que o legislador adotou a teoria da

responsabilidade objetiva na formulação desta parte do dispositivo legal.

4.2. Requisitos para inversão

O Código de Defesa do Consumidor além de atribuir ao fornecedor

prova da inexistência do defeito do produto ou serviço, faculta a possibilidade de

inversão do ônus da prova. O mesmo é autorizado quando houver verossimilhança

nas alegações, ou quando o consumidor for hipossuficiente.

Há duas hipóteses distintas, a primeira aborda a faculdade do julgador

fazer do juízo de verossimilhança as alegações do consumidor nos exatos e a

segunda trata da situação de hipossuficiência em que ela se encontra nesse tipo de

relação.

No primeiro caso o Juiz, através do seu livre convencimento, pode

considerar as alegações do consumidor verossímeis , ou seja, as alegações feitas pelo

consumidor tem a aparência de verdadeira.

Insta salientar, que na hipótese de inversão do ônus de provas, deve

prevalecer o princípio do livre convencimento motivado do Juíz. A real razão deste

dispositivo é chamar o julgador da causa à disposição de personagem mais ativo

neste tipo de litígio do que em outros, onde não ocorrem desavenças relacionadas

com as questões de consumo.

A verossimilhança não exige a certeza de verdade, porém deve existir

uma aparente verdade demonstrada nas alegações do autor, que uma vez

comparadas com as regras de experiência seja capaz de ensejar a inversão.

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Dependendo da situação, muitas vezes não basta ao Juíz fazer uso da

verossimilhança das alegações do consumidor para que identifique o real problema da

coisa. O consumidor nem sempre detém conhecimento suficiente sobre assuntos do

litígio, de modo que seja necessário ao Juíz invocar a hipossuficiência do mesmo.

Outro critério que deve ser analisado pelo Juíz para que se possa

inverter o ônus da prova é o da hipossuficiência do consumidor o que se traduz em

razão da capacidade econômica e técnica do consumidor.

Sob a análise concernente ao conceito da hipossuficiência do

consumidor, somente o fornecedor tem conhecimento pleno do projeto, da técnica e

do processo da fabricação do produto ou serviços alvo da contenda judicial. Resume-

se que tanto aqueles que apresentam alegações verossímeis, bem como os o não

fazem, por se acharem em situação evidente vulnerabilidade por hipossuficientes que

são, encontrarão amparo na inversão do ônus da prova no Código de Defesa do

Consumidor.

Urge ressaltar, que a inversão do ônus da prova é regra, mas não

necessária no direito do consumidor , dado que há casos em que fornecedor e seu

destinatário final encontram-se em desigualdade para fazer determinado tipo de prova,

caso em que somente entrará em pauta o princípio da verossimilhança das alegações

deste em relação o produto ou serviço oferecido por aquele.

Entendemos que quando se falar em hipossuficiência do consumidor

nos aspectos econômicos e técnico, se está justamente acatando o principio da

vulnerabilidade do consumidor como parte mais fracas na relação de consumo, em

virtude de sua economia inferior ao fornecedor, e de seu reduzido conhecimento

técnico, e por conseguinte, na maioria das vezes todos são hipossuficientes.

4.3. O Momento da Inversão

O Juíz a requerimento da parte ou de ofício, analisará com base nas

regras ordinárias de experiências se há referencias de um ou demais requisitos que

permitam a inversão do ônus da prova.

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O processo fora da relação de consumo não exige que o Juiz realize

qualquer declaração a respeito da distribuição do gravame. Torna-se suficiente levar

em consideração o momento de julgar a demanda. Não existe surpresa para as partes

referente a quem compete a produção de prova. Concernente à lei consumerista não

expressa essa convicção, uma vez que a inversão prevista no art. 6, VIII do CDC, não

é automática, fica a critério do Juiz quando for verossímel a alegação ou se for

hipossuficiente o consumidor.

Portanto, é necessário que o Juiz manifeste- se a fim de saber se há

verossimilhança ou o elemento da hipossuficiência do consumidor está presente.

A decisão do Juiz quanto a inversão do ônus da prova precisa estar

fundamentada, sob pena de nulidade com fulcro no artigo 93, IX da Constituição da

República Federativa do Brasil. A garantia do artigo 6 do CDC, que busca o equilíbrio

da relação processual em razão de sua vulnerabilidade.

Há dois entendimentos quanto ao momento processual da inversão do

ônus da prova, o primeiro reforça argumentando que o Juiz não pode decidir

antecipadamente a respeito, uma vez que a inversão do ônus probatório depende da

verossimilhança da alegação ou de sua hipossuficiência e na maioria dos casos para

chegar a essa conclusão analisar as provas.

Existe o posicionamento contrário, o qual alega a obrigatoriedade prévia

do Juiz inverter o ônus da prova, como decorrência do princípio do contraditório e da

ampla defesa, para dar as partes possibilidade de defesa dentro do processo.

Rizzato observa que a polêmica do momento processual para aplicação

da regra da inversão do ônus da prova se dá em razão da falta de rigor e teleologismo

do sistema processual instaurado na lei 8078/90, e se opõe ao entendimento que o

momento da inversão do ônus da prova é no julgamento da causa, afirmando que este

julgamento está alinhado com a distribuição legal da inversão da prova que é uma

regra que exprime certeza4.

________________

4 NUNES, Luiz Antonio Rizzato.Curso do direito do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2011.p. 101-102

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4.4 Inversão do Ônus Probatório Ope Legis e Ope Judicis

Ope Legis é o nome dado a inversão do ônus da prova decorrente

diretamente da própria lei, quando a comprovação de um fato, que normalmente seria

encargo de uma parte é atribuída pela própria lei a outra parte.

O CDC, em seu art. 12, § 3º, II, em seu art. 14, § 3º, I, deixa

evidente que é de competência do fornecedor o ônus de provar a inexistência de

defeito no produto ou serviços. A modificação dos encargos probatórios na própria lei

é o que se denomina de inversão ope legis do ônus da prova.

A inversão do ônus da prova pode também decorrer de

determinação do Juiz no concurso do processo ( ope judicis). O CDC, em seu art 6 º,

inciso, VIII, autoriza a inversão do ônus da prova em favor do consumidor por ato

judicial, quando for verossímil a sua alegação segundo as regras ordinárias da

experiência, ou quando for ele hipossuficiente.

4.5 Hipótese de Inversão Legal do Ônus da Prova

Além da previsão apresentada pelo art. 6º, VIII, o Código de Defesa

do Consumidor traz outras hipóteses de inversão do ônus da prova. Contudo, essas

possibilidades diversas tem natureza jurídica do principio contido no artigo ora citado.

A inversão do ônus da prova pela verossimilhança das alegações ou

pela hipossuficiência do consumidor tem a natureza processual, diferentemente do

que se observa nos artigos 12º, § 3º e do 38 do Código de Defesa do Consumidor.

A diferença fundamental entre estes mecanismos legais é o fato da

inversão derivado do art.6º do CDC se dá através da análise subjetiva dos fatos (

verossimilhança ou hipossuficiência), pelo Juiz, que determinará ou não a inversão,

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enquanto os artigos 12, § 3º , 14 , § 3º , e 38 do CDC ordenam a inversão do ônus da

prova em determinadas situações, independente de apreciação subjetiva do caso.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. (...)

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (...)

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.

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O próximo tópico irá tratar do momento da inversão do ônus probatório,

entretanto, tal discussão só abrange a inversão trazida pelo artigo 6º do CDC, visto

que as demais inversões previstas no CDC não carecem de definição de momento,

pois como já dito, tem previsão expressa em lei e é consequentemente conhecida

pelas partes.

4.6 Momento do Funcionamento da Prova

Devido ao fato do Juiz ter o dever de manter-se imparcial, o mesmo

não poderá, em nenhuma hipótese, indicar às partes qual o momento do processo em

que devem provar os fatos, salvo o caso do artigo 333, parágrafo único, do Código

Processual Civil, em consequência da decretação da nulidade de inversão

convencional da prova.

Cabe ao magistrado, conforme o art. 331, § 2º c/c art. 451, ambos do

Código de Processo Civil fixar os pontos controvertidos sobre os quais incidirá a

produção de provas, evitando-se a dilação probatória desnecessária, e,

consequentemente, atrelado ao princípio da economia processual.

No ato em que Juiz avaliar que certa prova é inoportuna, a legislação lhe

conferirá poderes para recusá-la, contudo, se fora entendimento do Juiz que há

necessidade dele mesmo determinar, ex officio, as provas indispensáveis ao

esclarecimento dos fatos, sem que se beneficie uma das partes.

4.7 Especificamente o Momento da Prova

Consideram- se momentos da prova as fases em que a atividade

probatória, desenvolvida pelas partes, se desenvolve, esse momentos se integram em

um autentico procedimento probatório com composição própria.

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Deve-se compreender procedimento probatório como adjunto de

disposições atreladas à atividade probatória inseridas nos autos.

São três os momentos da prova : o requerimento e a apresentação dos

meios de prova, a admissão das provas, e a realização das provas.

O momento inicial, é o requerimento e apresentação dos meios de

prova, acontece : 1 ) com a petição inicial ( art. 282, VI do CPC); 2) com a contestação

(art. 300 do CPC); e/com a reconvenção ( art. 297 do CPC); 3 ) se não acontecer na

contestação, ou se revelia, resta a oportunidade ao autor que especifique

4.8 Momento Processual da Inversão do Ônus da Prova

No art. 6º , VIII, o Código de Defesa do Consumidor, não estabelecera

uma inversão legal do mencionado ônus, contudo, constituiu uma inversão judicial;

caberá ao Juiz efetuá-lo quando entender necessário.

O mesmo diploma legal inverteu o ônus da prova no que diz respeito ao

defeitos do produto ( artigo 12, § 3º ), e de seus serviços ( 14, § 3º), a norma jurídica

facilmente constituiu a presunção do vício. Dessa forma, pode –se falar em inversão

do ônus probatório.

Entretanto, quando a regra genérica não precisa necessariamente ser

aplicada pelo magistrado, podendo o mesmo usar uma norma inovadora, torna-se

manifesto, que essa norma pode ser constituída em período útil à defesa da parte

destinatária de nova obrigação de provar.

O que preceitua o art. 333, do CPC, não influi na iniciativa do

magistrado e de nenhuma das partes ( consumidor e fornecedor), em pleitear ou

produzir informações da convicção. Porém, o texto do dispositivo legal deixa evidente

que o próprio impera sobre o procedimento.

Os princípios de segurança e lealdade são indispensáveis para que as

partes cooperem na procura e edificação da justa decisão da lide. Somente será

resguardado o contraditório e a ampla defesa se cada uma das partes tiver

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conhecimento desde o início do elemento da prova e de que a uma delas será

incumbido o ônus de provar.

Destarte, se o Magistrado se convencer-se do de que existe a

necessidade da inversão do ônus probatório, após encerrada a fase de instrução da

ação, deverá ser reaberta a fase probatória, para que haja a oportunidade de se

produzir a prova que julgar apropriada para isentar-se do novo ônus de provar.

As consequências da inversão do ônus probanti podem desobrigar o

consumidor da prova conveniente ao nexo causal – em caso de responsabilidade

objetiva – e de culpa – em caso de responsabilidade subjetiva. Em nenhum do casos,

contudo, o consumidor conseguirá se livrar do dever de constituir prova sobre o dano

ou o prejuízo, cuja reparação se dirija à lide.

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CAPITULO V

MOMENTO PROCESSUAL DA INVERSÃO DO ONUS DA PROVA E APLICAÇÃO DESTE INSTITUTO

5.1 Regras de Experiência e Presunções

O CDC em seu art. 6º VIII prevê que o juiz utilizará as “regras

ordinárias de experiência” para qualificar como verossímeis as alegações autorais, isto

é, com intuito de esclarecer suas dúvidas ao julgador, no momento de apreciação das

provas, poderá utilizar-se de regras de experiência e de presunção, para alcançar a

certeza e posteriormente proferir sua decisão quanto ao mérito da causa.

A presunção é um raciocínio lógico utilizado pelo magistrado para que,

de um fato conhecido seja possível chegar a um fato também desconhecido. Ressalta-

se a presunção é um processo racional do intelecto, pelo qual o conhecimento de um

fato infere-se com razoável probabilidade a existência de outro ou o estado de uma

pessoa ou coisa.

Fato indiscutível que merece ser mencionado é de que o termo “regras

de experiência” não se trata de novidade em nosso ordenamento jurídico. O art. 335

do CPC dispõe que “Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicara as regras

de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente

acontece e ainda as regras de experiência técnica, ressalvado, o exame pericial”. Com

o advento da Lei 9099/95 veio a permitir que o juiz utilizasse as regras de experiência

comum e técnica na apreciação de todas as provas.

___________________

21 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: Direito

Material. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 49

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As presunções podem ser classificados em quatro tipos: quais sejam,

presunção relativa “juris tantum” ou absoluta “jure et de jure”, presunção legal e por fim

presunção “hominus”.

A presunção relativa é aquela que pode ser desfeita pela prova em

contrário, ou seja, admitem contra-prova. Assim, o interessado no reconhecimento do

fato tem o ônus de provar o indício, ou seja, possui o encargo de provar o contrário ao

presumido.

Na absoluta o juiz aceita o fato presumido desconsiderando qualquer

prova em contrário. Assim, o fato não é objeto de prova. A presunção absoluta é uma

ficção legal.

Presunção legal é aquela expressa e determinada pelo próprio texto

legal, ou seja, ela liga o fato conhecido ao fato que servira de fundamento à decisão.

Já a presunção “hominis” parte de um raciocínio humano, ou seja, parte de um indício

e chega a um fato relevante. É necessário prova técnica quando o fato depender de

conhecimentos específicos ou especializados

.

De acordo com o entendimento do Mestre Barbosa Moreira22 o

indício situa-se como etapa intermediária no itinerário percorrido entre a produção de

prova e a formação da presunção judicial. O órgão judicial vem a conhecê-lo com base

nas provas trazidas aos autos, e vale-se dele, num segundo passo, para formar sua

presunção.

5.2 O Momento Processual da Inversão do Ônus da Prova

É inegável que este subtítulo trata-se de uma matéria de grande

divergência doutrinaria e ate mesmo prática entre os doutos magistrados, qual seja o

momento processual oportuno para aplicação do mecanismo da inversão do ônus da

prova pelo julgador.

___________________

22 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de Direito Processual. São Paulo: Saraiva, 1977,

p. 58.

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Há autores que afirmam que o juiz pode decretar a inversão do ônus da

prova já no despacho liminar da petição inicial. Porém, este não parece ser o melhor

entendimento, pois, antes da contestação não se sabe quais fatos serão

controvertidos e terão, por conseguinte, de se submeter à prova.

Neste sentido, torna-se inconcebível um juízo de verossimilhança acerca

dos fatos apenas afirmados pelo autor, sem que antes o juízo venha a conhecer as

contraalegações do réu e sem que a hipossufuciência do demandante tenha sido

adequadamente demonstrada e analisada pelo juiz.

Há também quem admita que o melhor momento para a inversão judicial

do ônus da prova seja na própria sentença. No entanto, no momento da sentença, a

inversão seria medida tardia por já se encontrar encerrada a atividade instrutória.

Outra corrente que merece ser citada é a qual o aluno que apresenta

esta monografia acredita ter mais acerto, visualiza o momento adequado para a

inversão do ônus da prova na fase de saneamento do processo. Este posicionamento

traz como principal vantagem sobre os demais o fato de que a parte onerada teria um

maior lapso temporal pra preparar-se para a produção de provas.

Nesse diapasão, acredita-se que o momento mais adequado seja no

despacho saneador, quando o juiz terá os elementos necessários para a fixação dos

pontos controvertidos e para posteriormente decidir, quem incumbira o ônus da prova.

Desta forma, restaria garantida a consecução do devido processo legal,

do contraditório e da ampla defesa, possibilitando que as partes se insurjam contra

esta decisão interlocutória através do recurso cabível – agravo de instrumento – em

um momento processual no qual ainda estaria assegurada uma possível produção de

prova em caso de decisão desfavorável, permitindo-lhes, assim, optar por produzir ou

não as provas que acharem necessárias, não sendo as partes no momento da

sentença.

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5.3 A Inversão do Ônus da Prova nos Juizados Especiais

A importância da delimitação do momento processual da inversão do

ônus probatório no Juizado Especial deve-se ao fato da esmagadora maioria das

demandas relacionadas à relação de consumo ser exercida em tal procedimento, isto

porque o teto de 40 salários mínimos é um quatum considerável, tendo em vista a

natureza das relações de consumo de um modo geral. Enfim, dentro deste valor

abarcam-se a maioria das relações consumeristas, principalmente aquelas em que o

consumidor é hipossuficiente.

Se analisarmos o rito nos JEC percebemos que embora possua todas

as atividades comuns ao procedimento ordinário, quais sejam, postulatória,

saneadora, instrutória e decisória, as mesmas não encontram uma delimitação nítida,

ocorrendo muitas vezes num mesmo momento, qual seja, a AIJ, devido à grande

concentração de procedimento.

O procedimento vem sendo adotado com freqüência pelos magistrados

do Juizado Especial é a advertência ao requerido, na citação, de que “se a lide versar

sobrerelação de consumo poderá ser invertido o ônus da prova”. Tal advertência

expõe uma mera possibilidade. As relações jurídicas almejam certezas.

O mero aviso da possibilidade de inversão do ônus da prova não atende

à necessidade premente de segurança nas relações jurídicas. Se a decisão cabe ao

juiz, nada mais correto que o magistrado manifestar sua convicção, ou melhor,

exteriorizá-la, para que as partes envolvidas na demanda tomem conhecimento da

mesma, e devera ser feito por meio de decisão interlocutória.

O art. 29 do microssistema aqui analisado define como sendo AIJ o

melhor momento para decidir questões incidentais que interfiram no prosseguimento

do processo. A inversão do ônus da prova deve ser inserida neste contexto porque,

inegavelmente, influencia o desate da lide, embora, tecnicamente, não possa

serconsiderada uma questão incidental.

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O problema é que no procedimento da Lei 9099/95 existem apenas duas

audiências e o saneamento ocorre, normalmente, na segunda. Desta constatação

decorre que o momento da decisão interlocutória que inverterá o ônus da prova

ocorrerá na AIJ, ocasião em que já estarão praticamente esgotados os meios de

prova.

No que concerne a decisão interlocutória que decreta a inversão do

ônus da prova nos JEC, cumpre ressaltar que da mesma não caber recurso.

Sendo assim, conclui-se que o inicio da AIJ seja o melhor momento para

que se inverta o ônus da prova, apesar de não ser o ideal para a consecução dos

princípios do contraditório e da ampla defesa.

Em nosso tribunal temos decisão sumulada no sentido na qual

determina que a inversão do ônus da prova não se poderá ocorrer na sentença. Assim

reza a súmula nº 91 do TJERJ:

“Sumula nº 91 DIREITO DO CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA

PROVA. DETERMINAÇÃO NA SENTEÇA.IMPOSSIBILIDADE. PRICIPIO DO CONTRADITÓRIO.

A inversão do ônus da prova prevista na legislação consumerista não pode ser determinada na sentença”.

Na pratica forense, é possível observar o mecanismo da inversão do

ônus da prova sendo aplicado pelo magistrado em diversos momentos processuais,

desde um despacho de concessão de tutela antecipada, ate a própria prolação da

sentença.

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CONCLUSÃO

É fato indiscutível em nosso ordenamento jurídico que em uma relação

jurídica, cada parte deve se desincumbir do ônus da prova de acordo com seu

interesse em vencer a demanda ou demonstrar uma situação jurídica favorável.

O instituto que foi tema deste trabalho, ou seja, a inversão do ônus da

prova,prevista no art. 6º VIII do CDC (Lei 8078/90) pauta-se por critérios objetivos

expressamente previstos em lei, não havendo discricionariedade na decisão do

julgador.

Quanto ao momento processual adequado para aplicação deste

mecanismo de facilitação da defesa do consumidor, entende-se que no procedimento

ordinário, será no despacho saneador que o juiz devera inverter o ônus da prova, caso

verifique a ocorrência dos pressupostos legais.

Não se nega a possibilidade da inversão do ônus da prova ser utilizada

irregularmente. É possível que uma pretensão, apesar de verossímil, traga em si o

objetivo de desmoralizar o produto do fornecedor demandado, obrigando-o a

desenvolver toda atividade probatória para não correr risco de sofrer uma sentença

desfavorável.

Nesse diapasão, o mecanismo da inversão do ônus probatório deve

ser aplicado quando estritamente necessário para superar a vulnerabilidade do

consumidor, traduzida em juízo pela constatação de sua hipossuficiência ou pela

verossimilhança das alegações.

Assim, o instituto estudado não pode ser de modo algum um meio de

impor um novo desequilíbrio na relação entre as partes que compõem a demanda, ou

seja, consumidores e fornecedores, a tal ponto de atribuir ao fornecedor um encargo

absurdo e insuscetível de desempenho e ao consumidor uma proteção exagerada.

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Por fim, o princípio da isonomia deve ser refletido no campo do direito

processual, devendo ser compreendido não apenas sob o seu aspecto formal, mas

também sob o prisma substancial, de modo a tratar os iguais de forma igual e os

desiguais de forma desigual, na exata medida das suas desigualdades.

Essa igualdade material, contudo, não se destina a justificar diferenças

sociais, como sustentava, por exemplo, Aristóteles. Ao revés, a isonomia substancial

deve ser um instrumento de realização da justiça social e de mitigação das

disparidades existentes na sociedade.

Somente a plena equiparação dos litigantes pode propiciar um resultado

justo no processo. O magistrado, nesse passo, não pode ser inerte, isto é, figurar no

processo como um mero espectador. Deve ser um efetivo agente construtor de uma

nova ordem jurídica, mais justa e equânime.

E o processo, para ser democrático, demanda contraditório e,

sobretudo, igualdade substancial. É necessário, então, tratar-se os iguais de forma

igual e os desiguais de forma desigual exatamente para ser afastado qualquer tipo de

desigualdade. Desse modo, inclusive, o direito processual aproximar-se-á do direito

substancial, permitindo que a vontade da lei seja atuada da forma mais exata possível.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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da prova diabólica e uma possível solução. São Paulo: Dialética, 2005, n. 31, p. 12.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

NOÇÕES GERAIS DE PROVA 10

1.1 Conceito de Prova 10 1.2 Objetivo de Prova 11 1.3 Destinário da Prova e Sistema de Valoração 12

CAPÍTULO II O ÔNUS DA PROVA 15 2.1 Abordagem Constitucional 15 2.2 Conceito e Etimologia 18 2.3 Distinção entre Ônus, Obrigação e Dever 19 2.4 Alternatividade ou Cumatividade dos Requisitos 20 2.5 O Ônus da Prova e o Código de Processo Civil 21 CAPÍTULO III OS PRINCIPIOS GERAIS 24 3.1 Principio da Vulnerabilidade do Consumidor 24 3.2 Principio da Transparência 24 3.3 Princípio da Boa-Fé 25 3.4 Princípio da Veracidade 26 3.5 Principio da Publicidade 27 3.6 Princípio da Equidade 27 3.7 Princípio da Publicidade 27

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CAPÍTULO IV INVERSÃO DO ONUS DA PROVA NO CDC 29 4.1 Considerações Iniciais 29 4.2 Requisitos para a Inversão 30 4.3 O Momento da Inversão 31 4.4 Inversão do Onus Probatório Ope Legis e Ope Judicis 33 4.5 Hipótese de Inversão Legal do Ônus da Prova 33 4.6 Momento do Funcionamento da Prova 35 4.7 Especificamente o Momento da Prova 35 4.8 Momento Processual da Inversão do Ônus da Prova 36 CAPITULO V MOMENTO PROCESSUAL DA INVERSÃO DO ONUS 38 DA PROVA E APLICAÇÃO DESTE INSTITUTO 5.1 Regras de Experiência e Presunções 38 5.2 O Momento Processual da Inversão do Ônus da Prova 39 5.3 A Inversão do Ônus da Prova nos Juizados Especiais 41 CONCLUÇÃO 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46 ÍNDICE 47