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Uma Ideia Nova para a Europa A declaração Schuman 1950-2000 Por Pascal Fontaine Pascal Fontaine, nascido em 1948, doutorado em Ciências Políticas, foi o último assistente de Jean Monnet, com quem trabalhou de 1973 a 1977. Chefe de gabinete do presidente do Parlamento Europeu de 1984 a 1987. Professor no Institut d’études politiques de Paris. Assinado pelo seu autor, este texto não implica a responsabilidade da Comissão Europeia. Segunda edição

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Uma Ideia Nova para a EuropaA declaração Schuman 1950-2000

Por Pascal Fontaine

Pascal Fontaine, nascido em 1948, doutorado em Ciências Políticas, foi o últimoassistente de Jean Monnet, com quem trabalhou de 1973 a 1977. Chefe de gabinete do presidente do Parlamento Europeu de 1984 a 1987. Professor no Institut d’études politiques de Paris.

Assinado pelo seu autor, este texto não implica a responsabilidade da Comissão Europeia.

Segunda edição

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INTRODUÇÃO 5• A EUROPA AO SERVIÇO DA PAZ E DA DEMOCRACIA 5• UM ÊXITO HISTÓRICO 5• OS DESAFIOS DO FUTURO 8• A ACTUALIDADE DO MÉTODO COMUNITÁRIO 8

I — O PLANO SCHUMAN, UMA RESPOSTA ADAPTADA AOS PROBLEMAS DO PÓS-GUERRA 10• CONTEXTO HISTÓRICO 10• AS IDEIAS DE JEAN MONNET 11• A DECLARAÇÃO DE 9 DE MAIO DE 1950 12• ELABORAÇÃO DO TRATADO CECA 15

II — O PLANO SCHUMAN, CERTIDÃO DE NASCIMENTO DA EUROPA COMUNITÁRIA 17• OS PRINCÍPIOS INOVADORES DA PRIMEIRA COMUNIDADE EUROPEIA 17• A CECA, PRIMEIRA PEDRA DO EDIFÍCIO EUROPEU 20

III — QUESTÕES PARA A EUROPA DO SÉCULO XXI 23• PROCESSO DE ALARGAMENTO EM CURSO: UM INVESTIMENTO

PARA A PAZ NA EUROPA 24• REFORMAR AS INSTITUIÇÕES PARA UMA UNIÃO FORTE

E DEMOCRÁTICA 26• UMA UNIÃO POLÍTICA PARA GARANTIR A SEGURANÇA

DOS CIDADÃOS EUROPEUS 29

CONCLUSÃO: O CIDADÃO NO CERNE DO PROJECTO EUROPEU 35

ANEXOS 36• A DECLARAÇÃO DE 9 DE MAIO DE 1950 36• CRONOLOGIA DA CONSTRUÇÃO EUROPEIA 38

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SUMÁRIO

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A Europa ao serviço da paz e da democracia

A Europa comunitária festeja o seucinquentenário.

Quando, em 9 de Maio de 1950, propôs àRepública Federal da Alemanha e aosoutros países europeus que quisessem asso-ciar-se a criação de uma comunidade deinteresses pacíficos, Robert Schumanrealizou um acto histórico. Ao estender amão aos adversários da véspera, não sóapagava os rancores da guerra e o peso dopassado como desencadeava um processototalmente novo na ordem das relaçõesinternacionais, ao propor a velhas nações,pelo exercício conjunto das suas própriassoberanias, a recuperação da influênciaque cada uma delas se revelava impotentepara exercer sozinha.

A Europa que, desde essa data, se constróidia a dia representou o grande desígnio doséculo XX e uma nova esperança para oséculo que se inicia. A sua dinâmica nascedo projecto visionário e generoso dos paisfundadores saídos da guerra e animadospelo desejo de criar entre os povos euro-peus as condições de uma paz duradoura.Esta dinâmica renova-se sem cessar,alimentada pelos desafios que se colocamaos nossos países num universo em rápidae profunda mutação.

Alguém tinha previsto este imenso desejode democracia e de liberdade que fez cairo muro de Berlim, devolveu o controlo doseu destino aos povos da Europa Central eOriental e hoje, com a perspectiva depróximos alargamentos que consagrem aunidade do continente, confere uma novadimensão ao ideal da construção europeia?

Um êxito histórico

Uma rápida análise dos 50 anos de históriada integração europeia mostra que a UniãoEuropeia é, nos alvores deste terceiromilénio, um êxito histórico. Países outrorarivais e, na sua maior parte, destroçadospelos mais terríveis massacres que estecontinente conheceu, partilham hoje amesma moeda, o euro, e gerem os seusinteresses económicos e comerciais noquadro de instituições comuns.

Os europeus solucionam os seus diferendosatravés de meios pacíficos, recorrendo aodireito e procurando a conciliação. O espí-rito de supremacia e a discriminação sãobanidos das relações entre os Estados-Mem-bros que confiaram às quatro instituições daComunidade (Conselho, Parlamento,Comissão e Tribunal de Justiça), a missão dearbitrar os seus conflitos, definir o interessegeral dos europeus e desenvolver políticascomuns. 5

INTRODUÇÃO

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6 Outro país candidato

Países candidatos com os quais foram abertas negociações de adesão

GréciaPortugal

EspanhaItália

FrançaLuxemburgo

BélgicaReino Unido

Irlanda

ChipreMalta

TurquiaBulgária

Polónia

República EslovacaHungria

EslovéniaRoménia

FinlândiaSuécia

ÁustriaDinamarca

AlemanhaPaíses Baixos

EstóniaLetónia

Lituânia

República Checa

Estados-Membros da UE (*)

(*) Os territórios não continentais e ultramarinos não aparecem.

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O nível de vida da população melhorouconsideravelmente, muito mais do que semo benefício que representam para as econo-mias nacionais as economias de escala e osganhos de crescimento resultantes domercado comum e da intensificação dastrocas.

Os cidadãos circulam e os estudantestrabalham livremente num espaço semfronteiras internas. Estão lançadas as basesde uma política externa e de defesacomum. Recentemente foram abertosnovos estaleiros para aprofundar as polí-ticas comuns de solidariedade no domíniosocial, regional e do ambiente, da investi-gação e dos transportes.

A integração económica torna cada vezmais necessários e possíveis os progressosrumo à união política. A União Europeiaexerce no mundo uma crescente influênciacompatível com o seu peso económico, onível de vida dos seus cidadãos, o seu lugarnos círculos diplomáticos, comerciais,monetários.

A pujança da Europa comunitária decorredos valores comuns de democracia edireitos humanos, partilhados pelos povosque a compõem, sabendo preservar a diver-sidade das culturas, das línguas e dastradições que fazem a sua riqueza.

Graças à solidariedade atlântica e aocarácter atractivo do seu modelo, a Europaunida soube resistir às pressões dos totalita-rismos e fazer progredir o Estado de direito.

A Europa comunitária tornase um pólo deconvergência de todas as expectativas dospaíses, próximos ou longínquos, queatentam na dinâmica da União e querem

consolidar a sua democracia renascida oureconstruir uma economia devastada.

Hoje, a União dos Quinze negoceia as suaspróximas adesões com 10 países da EuropaCentral e Oriental e também com Malta eChipre. Mais tarde, será a vez de reque-rerem a sua adesão outros países oriundosda ex-Jugoslávia ou pertencentes à esferaeuropeia. As negociações de alargamentogiram em torno da aceitação do acervocomunitário e, em geral, dos grandes objec-tivos da União por parte dos países candi-datos. Pela primeira vez na sua longahistória, o continente prepara-se para sereunificar na paz e na liberdade.

Um movimento deste tipo representa umdesafio considerável para o equilíbrio domundo. As relações da Europa com osEstados Unidos, a Rússia, o mundo asiá-tico e a América Latina sofrerão grandestransformações. A Europa já não é simples-mente uma potência que soube preservar oseu lugar no mundo; a Europa constituiuma referência e uma esperança para ospovos que amam a paz e o respeito dosdireitos do Homem.

Porquê este êxito? Estará inscrito para durarna lógica da História do continente, sufi-cientemente enraizado na memória e navontade colectivas dos povos, de modo aerradicar os germes de qualquer guerraintraeuropeia?

As experiências dolorosas do passado e osconflitos que ainda hoje minam a EuropaBalcânica e ensanguentam o Cáucasodevem incitar os europeus a não considerara paz como uma situação natural e dura-doura mas a preservála com os cuidadosnecessários. 7

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Os desafios do futuro

Após meio século de História comunitária,os europeus continuam a ser confrontadoscom interrogações fundamentais: quais sãoos valores elementares que os movem equais as vias mais eficazes para ospreservar? Qual é o grau de união dese-jável e possível para se poder retirar omáximo partido da força implícita naunidade, sem alterar a identidade nemdestruir a especificidade que faz a riquezadas nossas nações, regiões, culturas? Épossível avançar a compasso, jogando coma harmonia natural que favorece oconsenso entre 15 Estados ou será neces-sário reconhecer as divergências de abor-dagem e diferenciar os ritmos deintegração? Quais são os limites da Europacomunitária, quando tantas nações, acomeçar pelas novas democracias daEuropa Central, Oriental e Balcânica até àTurquia, pedem para se associar aoprocesso de unificação em curso? Comoempenhar os indivíduos na empresa comu-nitária, despertar o sentimento de pertençaà Europa que complete e ultrapasse as soli-dariedades originais? Como aproximar ocidadão europeu das instituições da União,dar a cada um a oportunidade de «assi-milar» o projecto de uma Europa unida,por longo tempo reservado às decisões daschancelarias e ao engenho dos funcioná-rios?

Estas algumas questões de princípio quenão é possível evitar, sob pena de enve-redar por becos sem saída. Questões defundo cujas respostas determinarão em simúltiplas escolhas mais precisas, maistécnicas com que deverão confrontar-sequotidianamente os responsáveis daempresa comunitária.

Para os europeus, a questão é simples: oucontinuam a organizarse, reunindo as suasforças para fazer ouvir a sua voz no mundo,promover o ideal democrático e defenderos seus interesses tanto económicos comoestratégicos (deste modo a Europa conti-nuará a representar mais do que «opequeno cabo da Eurásia» de que falavaPaul Valéry; a Europa será um factor deequilíbrio e de moderação nas relaçõesentre potências hiperindustrializadas epaíses de desenvolvimento difícil) ou entãonão perceberão de forma suficientementeclara as solidariedades que os unem nemcriarão os instrumentos capazes de traduzirem factos os seus interesses comuns. Nestecaso, as economias de cada um dos paísesserão reduzidas a papéis de subcontrataçãoe o nível de vida dos consumidores regre-dirá. A Europa, simples entidade geográ-fica, será colocada na zona de influência depotências que lhe ficam à margem e lhefarão pagar o preço da sua dependência eda sua necessidade de proteccionismo.

A actualidade do método comunitário

A decisão tomada em 11 de Dezembro de1999 pelo Conselho Europeu reunido emHelsínquia, no sentido de convocar umaconferência intergovernamental especial-mente encarregada de adaptar os Tratadosàs condições de bom funcionamento deuma União alargada a mais de 20membros, representa a primeira pedra deum novo edifício institucional.

A Europa quinquagenária encontrase emplena efervescência. As esperanças estão àaltura das ambições e dos desafios, o quenão elimina os riscos de fracasso.

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Europa simples zona de livre câmbio ouEuropa motor no mundo? Europa tecnocrá-tica ou Europa democrática? Europa docada um por si ou Europa solidária?

Perante tantas opções críticas, tantas incer-tezas, o método comunitário que resultado diálogo organizado entre os Estados--Membros e as instituições comuns, queexercem em conjunto a soberania por dele-gação, surge com uma retumbante actuali-dade. Há 50 anos possibilitou a criação daComunidade Europeia do Carvão e do Aço,logo seguida pela Comunidade EconómicaEuropeia e pelo Euratom, completada peloActo Único Europeu, pelos Tratados deMaastricht e de Amesterdão. Penetrou nas

relações intereuropeias um «fermento demudança» que todos os dias produz novosefeitos. Amanhã, este método pode gerar amelhor contribuição possível para asolução dos grandes problemas com queos europeus se defrontam.

O alcance dos princípios fundadores daconstrução europeia ultrapassa a simplesmecânica institucional. Inventado econsubstanciado por homens de Estado quequeriam antes de mais construir umaEuropa ao serviço do Homem, o espíritocomunitário confere à ideia europeia aamplitude de um projecto de civilização. Adeclaração Schuman permanece semdúvida uma «ideia nova para a Europa».

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O contexto histórico

Os europeus não conheceram a trégua quedeveria ter sucedido ao final das hostili-dades. Mal terminara a Segunda GuerraMundial, não tardou a perfilar-se a ameaçade uma terceira, opondo o Leste e oOcidente. Em 24 de Abril de 1947, ofracasso da Conferência de Moscovo sobrea questão alemã convencia os ocidentaisde que a União Soviética, parceira na lutacontra o nazismo, ia tornar-se uma fontede perigo imediato para as democraciasocidentais. A tensão recrudesce com acriação do Kominform em Outubro de1947, que coligava os partidos comunistasdo mundo inteiro, o «golpe de Praga» de25 de Fevereiro de 1948, que assegurouaos comunistas do domínio da Checoslo-váquia, seguido do bloqueio de Berlim emJunho de 1948, como prelúdio à divisãoda Alemanha em dois Estados. Ao assinar oPacto Atlântico com os Estados Unidos em4 de Abril de 1949, os europeus doOcidente lançaram as bases da sua segu-rança colectiva. Mas a explosão daprimeira bomba atómica soviética, emSetembro de 1949, e a multiplicação dasameaças proferidas pelos dirigentes doKremlin contribuíram para espalhar o climade medo que, na época, foi designado por«guerra fria».

O estatuto da República Federal daAlemanha, que dirigia ela própria a suapolítica interna desde a promulgação daLei Fundamental de 23 de Maio de 1949,

tornouse então o pomo da discórdia Leste--Oeste. Mal os Estados Unidos manifestaramo desejo de acelerar a recuperação econó-mica de um país situado no âmago dadivisão do continente, logo em Washingtonecoaram vozes pedindo o rearmamento daantiga potência vencida. A diplomacia fran-cesa debatia-se com um dilema: ou cedia àpressão americana e, contra a sua opiniãopública, consentia na reconstituição dapotência alemã no Rur e no Sarre, ou entãomantinha-se numa posição rígida, noconfronto com o seu principal aliado econduzindo a sua relação com Bona a umimpasse.

A Primavera de 1950 viu soar a hora daverdade. O ministro francês dos NegóciosEstrangeiros, Robert Schuman, foi incum-bido pelos seus homólogos americanos ebritânicos de uma missão imperativa: fazeruma proposta para reintegrar a AlemanhaFederal no concerto das nações ocidentais.Estava programada para 10 de Maio de1950 uma reunião entre os três governos,pelo que a França não podia escapar àssuas responsabilidades.

Aos bloqueios políticos sucediam as difi-culdades económicas. Uma crise de super-produção do aço parecia então iminentedevido ao potencial siderúrgico dos váriospaíses europeus. A procura abrandava, ospreços baixavam e tudo fazia temer que osprodutores, fiéis às tradições dos ferreirosde entre as duas guerras, reconstituíssemum cartel para limitar a concorrência. Em10

I — O PLANO SCHUMAN, UMA RESPOSTA ADAPTADA

AOS PROBLEMAS DO PÓS-GUERRA

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plena fase de reconstrução, as economiaseuropeias não podiam darse ao luxo deentregar as suas indústrias de base à espe-culação ou à penúria organizada.

As ideias de Jean Monnet

Para destrinçar esta meada de dificuldadesque revelava a impotência da diplomaciatradicional, Robert Schuman recorreu aogénio inventivo de um homem aindadesconhecido do grande público, mas quetinha adquirido uma experiência excep-cional ao longo de uma longa e ricacarreira internacional. Jean Monnet, entãocomissário francês do Plano de Moderni-zação, nomeado por Charles de Gaulle em1945, para assegurar a recuperação econó-mica do país, era um dos europeus mais

influentes do mundo ocidental. Já naPrimeira Guerra Mundial, tinha organizadoas estruturas comuns de abastecimento dasforças aliadas. Secretário-geral adjunto daSociedade das Nações, homem da Bancanos Estados Unidos, na Europa Oriental, naChina, foi um dos conselheiros do presi-dente Roosevelt e o artífice do «VictoryProgram» que assegurou a supremaciamilitar dos Estados Unidos sobre as forçasdo Eixo. Mesmo sem mandato político,aconselhava os governos e adquirira areputação de um homem pragmático,sobretudo preocupado com a eficácia.

O ministro francês confiara ao comissáriodo Plano as suas preocupações: «Que fazercom a Alemanha?», era a obsessão deRobert Schuman, cristão natural da Lorenamovido pelo desejo de impedir para 11

Jean Monnet e Robert Schuman

(CE)

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sempre qualquer guerra entre as duasnações. À testa da pequena equipa da ruade Martignac, sede do comissariado doPlano, Jean Monnet tinha também envere-dado pela reflexão. A sua principal preocu-pação era a política internacional. Em seuentender, a guerra fria tinha nascido dacompetição entre os dois grandes daEuropa, porque a aposta era a Europa divi-dida. Ao fomentar a unidade da Europa,atenuavase a tensão. Jean Monnet reflectianuma iniciativa de alcance internacionalcujo objectivo essencial fosse a distensão ea instauração da paz mundial graças aoefectivo papel desempenhado por umaEuropa reconstruída e reconciliada.

Jean Monnet tinha observado as diferentestentativas de integração que se tinhamdesenvolvido sem êxito desde que ocongresso organizado pelo MovimentoEuropeu em Haia em 1948 apelara solene-mente à união do continente.

A Organização Europeia de CooperaçãoEconómica, criada em 1948, tinha apenasatribuições de coordenação e não puderaimpedir que a recuperação económica dospaíses europeus se efectuasse em moldespuramente nacionais. A instituição doConselho da Europa em 5 de Maio de 1949mostrava que os governos não estavamdispostos a deixar amputar as suas prerro-gativas. A assembleia consultiva tinhaexclusivamente poderes deliberativos,podendo cada uma das suas resoluções,que devia ser aprovada por uma maioriade dois terços, ser bloqueada pelo veto docomité de ministros.

Jean Monnet chegara à convicção de queera ilusório pretender criar, de um jacto,um edifício institucional completo, semsuscitar nos Estados-Membros resistênciasque votassem ao fracasso qualquer inicia-

tiva. Os espíritos não estavam madurospara aceitar transferências maciças de sobe-rania, que teriam ferido as susceptibilidadesnacionais ainda vivas, poucos anos após ofinal da guerra.

Para ter êxito, era preciso limitar os objec-tivos a domínios precisos, de grandealcance psicológico, e instaurar um meca-nismo de decisão em comum que gradual-mente fosse recebendo novas competências.

A declaração de 9 de Maio de 1950

Jean Monnet e os seus próximos colabora-dores redigiram durante os últimos dias deAbril de 1950 uma nota de algumaspáginas que continha ao mesmo tempo aexposição de motivos e o dispositivo deuma proposta que iria subverter todos osesquemas da diplomacia clássica. Longede proceder às tradicionais consultas juntodos serviços ministeriais competentes, JeanMonnet velou por que este trabalho fosserodeado da maior discrição, a fim de evitaras inevitáveis objecções ou contrapropostasque teriam alterado simultaneamente o seucarácter revolucionário e o benefício ligadoao efeito de surpresa. Ao confiar o seudocumento a Bernard Clappier, director dogabinete de R. Schuman, Jean Monnet sabiaque a decisão do ministro podia alterar ocurso dos acontecimentos. Por isso,quando, de regresso de um fim de semanana sua Lorena natal, Robert Schuman anun-ciou aos seus colaboradores: «Li o projecto.Eu trato do assunto», a iniciativa atingira ocampo da responsabilidade política. Nopróprio momento em que o ministrofrancês defendia a sua proposta, na manhãde 9 de Maio, perante os seus colegas dogoverno, um emissário do seu gabinetecomunicava-a em mão própria ao chan-celer 12

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Adenauer, em Bona. A reacção deste últimofoi imediata e entusiasta. Respondeu logoque aprovava de todo o coração aproposta.

Por conseguinte, foi devidamente munidodo duplo acordo dos governos francês ealemão que Robert Schuman tornoupública a sua declaração numa conferênciade imprensa realizada às 16 horas no salãode l’Horloge do Quai d’Orsay. A sua comu-nicação foi precedida de algumas frasesintrodutórias: «Não é uma questão depalavras vãs, mas um acto ousado, um actoconstrutivo. A França agiu e as consequên-cias da sua acção podem ser imensas. Espe-remos que assim seja. Agiu essencialmentepela paz. Para que a paz possa verdadeira-mente ter a sua oportunidade, é necessário

que primeiro exista uma Europa. Quaseexactamente cinco anos após a capitulaçãosem condições da Alemanha, a Françacumpre o primeiro acto decisivo da cons-trução europeia e associa a esse acto aAlemanha. Com isto, é de esperar que ascondições da Europa se transformemcompletamente. Essa transformação permi-tirá outras acções comuns até agora impos-síveis. Tudo isto será o nascimento daEuropa, uma Europa estreitamente unida esolidamente construída. Uma Europa ondeo nível de vida subirá graças à concen-tração das produções e ao alargamento dosmercados, que provocarão uma descidados preços […]».

O tom estava dado. Não se trata de umnovo arranjo técnico sujeito ao ávido rega- 13

Lançamento do plano Schuman, em 9 de Maio de 1950: salão de l’Horloge do Quai d’Orsay, Ministério francês dos Negócios Estrangeiros. Aomicrofone, Robert Schuman; à direita, Jean Monnet

(CE)

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Fac-símile do projecto definitivo da declaração de RobertSchuman de 9 de Maio de 1950. Este projecto definitivoera o nono; a equipa de Robert Schuman dava-lhe aúltima demão em 6 de Maio de 1950 (fonte: FundaçãoJean Monnet para a Europa, Lausana)

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tear de negociadores. A França estende amão à Alemanha, propondo-lhe que seassocie em pé de igualdade, no seio deuma nova entidade inicialmente incumbidade gerir em comum o carvão e o aço deambos os países, mas também, a maislongo prazo, de constituir a primeira pedrada federação europeia.

A declaração (ver texto em anexo) enunciauma série de princípios:

— a Europa não se fará de uma só vez,far-se-á por meio de realizaçõesconcretas. É necessário antes de maiscriar « solidariedades de facto»;

— a secular oposição entre a França e aAlemanha deve ser eliminada. Aproposta interessa principalmente estesdois países, mas está aberta à partici-pação de todas as outras nações euro-peias que partilhem os seus objectivos;

— a acção imediata deve incidir numponto «limitado, mas decisivo»: aprodução franco-alemã de carvão e deaço, que deverá submeter-se a uma AltaAutoridade comum;

— a fusão destes interesses económicoscontribuirá para a melhoria do nível devida e para a criação de uma comuni-dade económica;

— as decisões da Alta Autoridade terãoforça executiva e vincularão os paísesque a ela aderirem. Será integrada porpersonalidades independentes numabase paritária.

Elaboração do Tratado CECA

Para que a iniciativa francesa — logoconvertida numa iniciativa franco-alemã —

conservasse todas as possibilidades de setransformar em realidade, era preciso agirrapidamente. Em 20 de Junho de 1950, aFrança convocou em Paris uma conferênciaintergovernamental presidida por JeanMonnet.

Responderam ao apelo e sentaram-se àmesa das negociações os três países doBenelux e a Itália. Jean Monnet definiu oespírito dos debates que se iam inaugurar:«Estamos aqui para realizar uma obracomum. Não para negociar vantagens, maspara procurar as nossas vantagens navantagem comum. Só eliminando dadiscussão qualquer sentimento particula-rista poderemos encontrar uma solução. Namedida em que, aqui reunidos, soubermosmudar os nossos métodos, contribuiremospara transformar pouco a pouco a mentali-dade de todos os europeus» (1).

Os debates permitiram afirmar o projectodo edifício internacional previsto. A inde-pendência e os poderes da Alta Autoridadenão foram postos em causa, porque consti-tuíam o ponto central da proposta. Apedido dos Países Baixos, foi instituído umConselho de Ministros representando osEstados, o qual devia emitir em certos casoso seu parecer conforme. Uma AssembleiaParlamentar e um Tribunal de Justiçacompletarão o dispositivo que está na basedo sistema institucional das Comunidadesactuais.

Os negociadores nunca perderam de vistaque tinham o mandato político de cons-truir uma organização totalmente nova nos

15(1) Monnet, J.: Mémoires, edições Fayard, Paris,

1976, p. 378.

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seus objectivos e nos seus métodos. Eraessencial não enfraquecer a instituiçãoprestes a ser criada com todos os defeitospróprios das organizações intergoverna-mentais clássicas: exigência da unanimi-dade, contribuições financeiras nacionais,subordinação do executivo aos represen-tantes dos Estados nacionais.

Em 18 de Abril de 1951 foi assinado oTratado que institui a Comunidade Euro-peia do Carvão e do Aço, em vigor por umperíodo de 50 anos. Foi ratificado pelosseis Estados signatários e, em 10 de Agostode 1952, a Alta Autoridade presidida porJean Monnet, pôde instalar-se no Luxem-burgo.

16

À declaração de Robert Schuman de 9 de Maio de 1950 seguiu-se, em 18 de Abril de 1951, a assinatura doTratado de Paris, o primeiro dos Tratados fundadores da Comunidade Europeia

(CE)

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Os princípios inovadores daprimeira Comunidade Europeia

Foi necessário quase um ano para concluiras negociações do Tratado de Paris porque,ao longo dessas negociações, surgiram umasérie de questões fundamentais às quaisJean Monnet queria dar as respostas maisadequadas. Como vimos, não se tratava deuma negociação diplomática clássica. Aspersonalidades designadas pelos seisgovernos estavam reunidas para inventarum sistema jurídico-político inteiramentenovo e que aspirava a perdurar.

O preâmbulo do Tratado CECA, constituídopor cinco breves parágrafos, contém toda afilosofia que ainda hoje continua a inspiraros promotores da construção europeia:

«considerando que a paz mundial sópode ser salvaguardada por esforçoscriadores à altura dos perigos que aameaçam;

convencidos de que a contribuiçãodada à civilização por uma Europa

organizada e viva é indispensável àmanutenção de relações pacíficas;

conscientes de que a Europa só se cons-truirá por meio de realizações concretasque criem, antes de mais, uma solida-riedade efectiva e por meio do estabe-lecimento de bases comuns dedesenvolvimento económico;

preocupados em contribuir para amelhoria do nível de vida e para oprogresso da causa da paz mediante aexpansão das suas produções funda-mentais;

resolvidos a substituir as rivalidadesseculares por uma fusão dos seus inte-resses essenciais, a assentar, pela insti-tuição de uma comunidade económica,os primeiros alicerces de uma comuni-dade mais ampla e mais profunda entrepovos há muito divididos por conflitossangrentos e a lançar as bases de insti-tuições capazes de orientar um destinodoravante compartilhado, […]» 17

II — O PLANO SCHUMAN, CERTIDÃO DE NASCIMENTO DA EUROPA COMUNITÁRIA

«As propostas Schuman são simplesmente revolucionárias. O seu princípio fundamental é a delegação de soberania num domínio limitado,

mas decisivo. Um plano que não parta deste princípio não pode dar qualquer contributo útil para a solução dos grandes problemas que nos debilitam.

A cooperação entre as nações, por mais importante que seja, não resolve nada. O que é necessário procurar é uma fusão dos interesses dos povos europeus

e não a mera manutenção dos equilíbrios entre esses interesses.»Jean Monnet

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«Paz mundial», «realizações concretas»,«solidariedade efectiva», «fusão dos inte-resses essenciais», «comunidade», «destinodoravante compartilhado»: eis algumaspalavras-chave que contêm em germesimultaneamente o espírito e o métodocomunitários e conservam hoje todo o seupoder mobilizador.

Embora o Tratado CECA, relativo à gestãodo mercado do carvão e do aço, tenhadeixado de representar hoje, pelo seuobjecto, a importância que tinha, para aeconomia europeia, nos anos 50, os princí-pios institucionais que instaurou conservamtoda a sua actualidade. Desencadearamuma dinâmica que continua a dar os seusfrutos e alimenta uma visão política queconvém seguir de perto, sob pena de pôrem causa o precioso acervo comunitário.

Do plano Schuman, podemos destacarquatro princípios comunitários, que consti-tuem a base do actual edifício comunitário.

A supremacia das instituições

A aplicação às relações internacionais dosprincípios de igualdade, arbitragem econciliação, em vigor no próprio interiordas democracias constitui um progresso decivilização. Os pais fundadores tinhamvivido a experiência da desordem, daviolência e do arbitrário que a guerra trazconsigo. Todo o seu esforço tendia para acriação de uma comunidade de direitoonde a lei prevaleça sobre a força. JeanMonnet citava muitas vezes o filósofo suíçoAmiel: «A experiência de cada homemdesvanece-se. Só as instituições se tornam18

O primeiro lingote de ferro europeu foi fundidoem 30 de Abril de 1953 em Esch-sur-Alzette, no Grão-Ducado do Luxemburgo. Jean Monnet,presidente, e os membros da Alta Autoridade daComunidade Europeia do Carvão e do Aço celebram o acontecimento (fonte: Fundação Jean Monnet para a Europa, Lausana)

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mais sábias: acumulam a experiênciacolectiva e, com essa experiência, essasabedoria, os homens sujeitos às mesmasregras, ainda que a sua natureza semantenha, verão o seu comportamentotransformar-se gradualmente».

Pacificar e democratizar as relações entreos Estados, conjurar o espírito de domi-nação e o nacionalismo, eis as motivaçõesprofundas que deram à primeira Comuni-dade o seu conteúdo político e a colocaramno plano das grandes realizações históricas.

A independência dos órgãos comunitários

Para que as instituições desempenhem asua missão, devem dispor de uma autori-dade própria. As garantias inerentes à AltaAutoridade da CECA, que revertem embenefício das actuais instituições comuni-tárias, são de três ordens:

— a nomeação dos membros, hoje comis-sários, efectuada de comum acordoentre os governos (2). Não se trata dedelegados nacionais mas de personali-dades que exercem o seu poder deforma colegial, que não podem receberinstruções dos EstadosMembros. Afunção pública europeia deve obedecera este mesmo e único princípio comu-nitário;

— a independência financeira, concreti-zada na afectação de recursos própriose não, como no caso das organizaçõesinternacionais, no pagamento de contri-buições nacionais, que podem serpostas em causa;

— a responsabilidade da Alta Autoridade,e hoje da Comissão, exclusivamenteperante a Assembleia (hoje ParlamentoEuropeu) que, deliberando por maioriaqualificada, pode votar a moção decensura.

A colaboração entre as instituições

A independência da Alta Autoridade era,para Jean Monnet, a pedra angular do novosistema. Mas, ao longo das negociações,admitiu a necessidade de dar aos Estados--Membros a possibilidade de invocarem osinteresses nacionais. Era o meio maisseguro de impedir a Comunidade nascentede se limitar a objectivos demasiadotécnicos. Com efeito, era necessário que aComunidade pudesse igualmente intervirem sectores onde fossem tomadas decisõesde natureza macroeconómica, do âmbitoda competência governamental. Assim, aolado da Alta Autoridade, foi criado umConselho de Ministros, cujo papel foi estri-tamente delimitado: não decidia por unani-midade, mas por maioria. O seu parecerfavorável só era exigido em casos extremos.A Alta Autoridade conservava o monopólioda iniciativa legislativa: esta prerrogativaalargada às competências da actualComissão, é essencial, porque confere agarantia de que o conjunto dos interessescomunitários será defendido numa propostado Colégio. A partir de 1951, é organizadoo diálogo entre as quatro instituições, numabase não de subordinação, mas de colabo-ração, exercendo cada uma delas as suasfunções próprias no interior de um sistemadecisório completo de natureza préfederal.

A igualdade entre os Estados

Tendo sido aceite o princípio da represen-tação dos Estados no seio do Conselho, 19

(2) A Comissão Europeia está igualmente sujeita ao voto de investidura do Parlamento Europeu.

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permanecia por resolver a delicada questãodo seu peso respectivo. Os países doBenelux e a Itália, que receavam ficar emminoria pela proporção da respectivaprodução de carvão e de aço na produçãototal, defendiam a regra da unanimidade.Por sua vez, a Alemanha preconizava umsistema de representação proporcional àprodução. O que, naturalmente, não podiadeixar de assustar os seus parceiros.

Jean Monnet estava convencido de que sóo princípio de igualdade entre os Estadospoderia criar uma nova mentalidade. Tinhano entanto consciência da dificuldade queacarretava persuadir seis países dedimensões diversas a renunciar às facili-dades inerentes ao direito de veto.«O direito de dizer não era a segurançados grandes nas relações entre eles, bemcomo a garantia dos pequenos contra osgrandes» (3). Neste contexto, em 4 de Abrilde 1951, o presidente da conferênciaencontra-se em Bona com o chancelerAdenauer a fim de o persuadir das virtudesdo princípio de igualdade.

«Estou autorizado a propor-lhe que asrelações a nível da Comunidade entre aAlemanha e a França sejam regidas peloprincípio da igualdade, quer no Conselho,quer na Assembleia, bem como em todas asinstituições europeias actuais e futuras [...]Tenho a acrescentar, pessoalmente, que foinesse espírito que sempre considerei aproposta de união que está na origem desteTratado e julgo ter compreendido, aquandodo nosso primeiro encontro, que tambémassim o entendia. O espírito de discrimi-nação foi a causa das maiores calamidadesdo mundo. A Comunidade é um esforçopara o fazer recuar.»

A resposta do chanceler foi imediata:

«Conhece o meu empenhamento na polí-tica da igualdade de direitos para o meupaís, no futuro, e sabe como condeno asacções de busca do predomínio para queeste se deixou arrastar no passado. Felici-to-me por poder exprimir o meu acordoincondicional à sua proposta, pois nãoconcebo a Comunidade sem a igualdadetotal.»

Estabelecia-se assim um dos fundamentosjurídicos, de alcance moral, que confere oseu pleno sentido à noção de Comunidade.

A CECA, primeira pedrado edifício europeu

Na ausência de um tratado de paz entre osantigos beligerantes, a primeira Comuni-dade Europeia é ao mesmo tempo um actode confiança na vontade da França e daAlemanha, e dos seus parceiros, desublimar os erros do passado, e um actode fé num futuro comum de progresso.Apesar dos sobressaltos da História e dasresistências nacionalistas, a obra iniciadaem 1950 estava destinada a não parar. Ofracasso do projecto de Comunidade Euro-peia de Defesa, consumado em 30 deAgosto de 1954 após a rejeição pelaAssembleia Nacional francesa do Tratadoassinado em 27 de Maio de 1952, nãoquebra o impulso inicial. Em Junho de1955, foi decidido dar um passo em frenteem Messina, por iniciativa dos homens deEstado do Benelux, Paul Henri Spaak, JanBeyen e Joseph Bech. A marcha rumo aoTratado de Roma, assinado em 25 deMarço de 1957, que institui a ComunidadeEconómica Europeia e o Euratom, é acele-rada por uma série de acontecimentos20

(3) Monnet, J.: Mémoires, edições Fayard, Paris, 1976, p. 413 e seguintes.

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externos: a crise de Suez e a repressão naHungria pressionam de novo a Europa acerrar fileiras. As Comunidades Europeiasinstaladas em Bruxelas e no Luxemburgoenriquecem o seu conteúdo e o número departicipantes.

Ao mercado comum geral vêm enxertarsepolíticas comuns agrícola, comercial,regional, social, de investigação, doambiente, da educação, da cooperaçãocom o Terceiro Mundo. Em 1972 integramas Comunidades o Reino Unido, a Irlanda ea Dinamarca; mais tarde, Grécia, Espanha ePortugal completam a Europa comunitáriano seu flanco meridional. Em 1995, nasce aEuropa dos Quinze com a adesão daÁustria, Finlândia e Suécia.

Embora debilitada pela dupla crise petrolí-fera de 1973 e 1979, a Comunidade resisteàs forças centrífugas e consolida a suacoesão instaurando o sistema monetárioeuropeu em 1979. Este cria gradualmenteas condições de uma lenta mas irreversívelmarcha para a união económica e mone-tária, alcançada em 1 de Janeiro de 1999com a adopção do euro por 11 Estados daUnião.

Como qualquer empresa em permanenteevolução, a Europa não escapa às crises decrescimento: crise institucional em 1965,quando um Estado-Membro tenta pôr emcausa o voto maioritário; crise financeira,marcada pela inadequação dos recursospróprios ao forte aumento das despesas,resultantes da multiplicação de novas polí-ticas e dos custos crescentes da políticaagrícola comum.

Mas o facto é que nenhum Estado-Membro,por mais categóricas que tenham podidoser as suas exigências, encarou a possibili-

dade de abandonar a Comunidade, porqueé vista como o quadro insubstituível do seudesenvolvimento e da sua presença nomundo.

Em 1984, o Parlamento Europeu adoptouum projecto de Tratado da União Europeiaque propõe às instituições um salto qualita-tivo na respectiva integração. Ao adoptar,em 1985, o Livro Branco sobre o GrandeMercado Interno, a Comissão presidida porJacques Delors confere um conteúdoconcreto a esta vontade de progresso e fixauma data-chave: 1 de Janeiro de 1993.

Ao assinarem o Acto Único, em 1986, osEstados-Membros retiraram directamente doplano Schuman a sua fonte de inspiração eo seu método institucional: completaram oTratado de Roma por uma série de objec-tivos precisos articulados em torno doobjectivo principal do grande mercado semfronteiras e elaboraram um calendário.Renovaram o processo decisório alargandoo número de decisões a tomar por maioriaqualificada. Deste modo, devolveram aesperança a milhões de cidadãos europeusao propondo-lhes um horizonte mais vastoe oferecendo-lhes os meios de se adap-tarem à nova situação mundial.

No momento em que as instituições euro-peias completam o mercado interno ealargam a dimensão económica e social daEuropa comunitária, a História ressurge,imprevisível, em massa, e testa as capaci-dades dos europeus para se adaptarem àsnovas condições do mundo.

A queda do muro de Berlim, a que seseguiu a unificação da Alemanha em 3 deOutubro de 1990, e a democratização dospaíses da Europa Central e Oriental, libertosda tutela da União Soviética, ela própria 21

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confrontada com a sua própria autodisso-lução em Dezembro de 1991, transformamprofundamente a estrutura política do conti-nente.

Mais uma vez, os Estados são confrontadoscom um dilema: a facilidade da conduçãode políticas nacionais que privilegiem ointeresse imediato ou a visão e a gestãoconcertadas do seu futuro comum. Privile-giando o respeito do seu compromissoeuropeu e conscientes da necessidade deintegrar tão vastas transformações numaperspectiva comum, os Estados-Membrosenveredaram por um processo de aprofun-damento da União ao negociarem um novoTratado, cujas directrizes foram adoptadasno Conselho Europeu de Maastricht, em 9 e10 de Dezembro de 1991.

O Tratado da União Europeia, que entrouem vigor em 1 de Novembro de 1993, fixaaos Estados-Membros um programa ambi-cioso: união monetária até 1999, novaspolíticas comuns, cidadania europeia, Polí-tica Externa e de Segurança Comum, segu-

rança interna. Uma cláusula de revisãoconsignada no Tratado de Maastricht levouos Estados-Membros a negociarem um novoTratado, assinado em Amesterdão em 2 deOutubro de 1997, que adapta e reforça aspolíticas e os meios da União, nomeada-mente nos domínios da cooperação judi-ciária, livre circulação de pessoas, políticaexterna e saúde pública. Ao ParlamentoEuropeu, expressão democrática directa daUnião, são atribuídas novas competênciasque confirmam o seu papel de co-legis-lador.

Cinquenta anos de existência não enfra-queceram o potencial de inspiração queviu nascer a Comunidade Europeia.

Os herdeiros dos pais fundadores, hojeresponsáveis pelo destino dos povos detodo o continente, de Lisboa a Tallin, deDublim a Varsóvia, saberão compreender aderradeira mensagem de Jean Monnet (4), oinspirador e animador desta primeiraComunidade que os exorta a apoderarem-seda sua própria visão do futuro?

22

(4) «Não podemos parar quando à nossa volta omundo inteiro está em movimento. Consegui fazercompreender que a Comunidade que criámos nãotem um fim em si mesma? É um processo de trans-formação que continua aquele que deu origemàs nossas formas de vida nacionais ao longo deuma fase anterior da História. Como ontem asnossas províncias, hoje os nossos povos devemaprender a viver em conjunto com regras e insti-

tuições comuns livremente aceites, se quiserematingir as dimensões necessárias ao seu progresso emanter o controlo do seu destino. As nações sobe-ranas do passado deixaram de ser o quadro ondese podem resolver os problemas do presente. E aprópria Comunidade é apenas uma etapa rumo aformas de organização do mundo de amanhã», inMonnet, J.: Mémoires, edições Fayard, Paris, 1976,p. 616.

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Os historiadores da construção europeiadeverão certamente considerar que oConselho Europeu reunido em Helsínquia,em 10 e 11 de Dezembro de 1999, marcouuma viragem na evolução da União. Defacto, foi nesta data que os chefes de Estadoe de Governo decidiram elevar para 12 onúmero de países admitidos a negociar asua adesão à União. Foi também emHelsínquia que a Turquia viu ser-lhe confe-rido o título de candidato com o qualpoderão começar as negociações uma vezpreenchidos os critérios políticos e econó-micos. Ao fixar em 1 de Janeiro de 2003 adata em que a União deverá estar emcondições, após a Conferência Intergover-namental sobre a revisão dos Tratados, deacolher a primeira vaga de países candi-datos, os chefes de Estado e de Governoestabeleceram um calendário ambiciosopara as instituições da União. Ao mesmotempo, o Conselho Europeu quis aproveitara lição da guerra do Kosovo que subli-nhara a necessidade de meios militarescompatíveis com a projecção da Europapara além das suas fronteiras e o seu contri-buto para a solução de um conflito que sedesenrolava à sua porta.

Por isso, a Cimeira de Helsínquia colocouas primeiras pedras de um imenso edifíciocom o qual culminará sem dúvida a cons-

trução encetada há 50 anos pelos paisfundadores. Cabe agora aos actores institu-cionais da União mas também aos cidadãosresponder a três grandes questões funda-mentais para o futuro.

• A Europa, até onde e para quem?

Actualmente coloca-se a questão doslimites geográficos da União: que critérios,para além dos que respondem à exigênciado respeito dos princípios democráticos eda capacidade de integrar o acervo comu-nitário, isto é, o conjunto das políticascomuns e da legislação comunitária,poderão justificar a recusa do acesso àUnião a todos os países limítrofes dosEstados actuais e dos futuros membros daUnião?

• A Europa, como?

A passagem, na próxima década, de umaUnião de 15 para quase 30 membros,coloca naturalmente a questão do seufuncionamento, da eficácia dos seus proce-dimentos de decisão, da sua homogenei-dade e da sua relação com o cidadão:União Federal dos Estados incluindo amoeda, a defesa e a cidadania comum ouzona de livre câmbio enquadrada por 23

III — QUESTÕES PARA A EUROPADO SÉCULO XXI

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simples órgãos de arbitragem que velempelo respeito das regras de concorrência?

• A Europa, para quê?

Quando a mundialização exige aos Estadose às sociedades um gigantesco esforço deadaptação e os conduz a redefinir as basesdo contrato social pela bitola de novasregras válidas para o conjunto do planeta,os europeus deverão interrogar-se sobre oque lhes confere a sua identidade e os uneenquanto europeus. Existe um modelo dedesenvolvimento original para o nossocontinente, baseado em valores comuns ena consciência de pertencer à mesma civi-lização? Será que os europeus partilham amesma representação do lugar do homemna sociedade e dão uma resposta comumaos desafios do futuro, tais como o desen-volvimento duradouro e a bioética? Estarãoprontos a assumir juntos a sua segurançainterna e a sua defesa colectiva?

Eis algumas questões que tornam o debateeuropeu indissociável do debate políticointerno em que todos os cidadãos sãochamados a participar, no quadro de umademocracia activa.

Processo de alargamentoem curso: um investimentopara a paz na Europa

«A Europa não foi construída, tivemos queenfrentar a guerra.»

Declaração de Robert Schuman em 9 deMaio de 1950.

A queda do muro de Berlim em 9 deNovembro de 1989 foi vivida como umamagnífica aberta no céu do continente. Aaspiração do povo alemão à liberdade e àdemocracia, depressa partilhada pelos

povos do conjunto do bloco comunista,revelou-se mais forte do que a ditadura dospartidos leninistas e sobrepôs-se à ameaçados exércitos do Pacto de Varsóvia. Por suavez, em 26 de Novembro de 1991, oSoviete Supremo ratifica o desaparecimentoda União Soviética. Com o fim da «guerrafria», surge um mundo novo, mais instávelmas mais propício à vontade legítima e irre-pressível dos povos disporem do seudestino. A visão de Robert Schuman nosentido de ver reunificar o conjunto docontinente na paz e na prosperidade iráenfim cumprir-se? A Comunidade Europeiatenta fornecer respostas adaptadas às novasnecessidades de países finalmente libertosdo domínio externo, mas enfraquecidos porum sistema económico arruinado e àprocura de um sistema político estável edemocrático.

A partir de 1990 o Banco Europeu para aReconstrução e o Desenvolvimento e oprograma Phare concedem apoio financeiroàs novas democracias da Europa Central eOriental. São firmados acordos de associaçãocom a Bulgária, a Eslováquia, a Hungria, aPolónia, a República Checa, a Roménia edepois com os três Estados Bálticos e a Eslo-vénia. Mas, para além do auxílio económicode urgência e da assistência destinada a faci-litar a transição para a economia demercado, desenha-se um processo maisambicioso para cada um destes países a quese juntam Chipre e Malta: o da adesão aprazo à União Europeia.

O Conselho Europeu reunido em Cope-nhaga em 22 de Junho de 1993 regista estaaspiração e enumera as condições exigidaspara a adesão de um país associado:

— instituições estáveis que garantam ademocracia, o primado do direito, osdireitos do Homem e a sua protecção;24

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— a existência de uma economia demercado viável e a capacidade de fazerface à pressão da concorrência e àsforças do mercado no interior da União;

— a capacidade do país candidato assumiras obrigações decorrentes da adesão,nomeadamente, subscrever os objec-tivos da União política, económica emonetária.

Estes critérios políticos e económicosimpõem esforços consideráveis aos paísescandidatos e fazem pagar à respectivapopulação os pesados sacrifícios de umaeconomia de reconstrução e de transição.Mas a União Europeia comprometeu-se elaprópria a assumir as suas responsabilidadesmorais e políticas perante povos durantemuito tempo condenados ao imobilismo

pelos dramas da História. A unificaçãoda Alemanha, a aplicação do Tratado deMaastricht, assinado em 7 de Fevereiro de1992 que conduziu, para 11 Estados-Mem-bros, à instauração do euro em 1 de Janeirode 1999, depois da assinatura e entrada emvigor do Tratado de Amesterdão, traduzema vontade da União no sentido de conti-nuar na via da integração.

Readaptar as políticas comuns, lançar polí-ticas novas em sectores de futuro, conso-lidar o mercado interno na base de umamoeda única, e fomentar assim a criação deempregos, assegurar a liberdade de circu-lação dos cidadãos no interior de um espaçode justiça e de segurança interna, são asprincipais tarefas que as instituições sepropuseram para consolidar o edifício antesde abrir as portas aos países candidatos. 25

A assinatura do Tratado de Amesterdão, em 2 deOutubro de 1997, marcou uma nova etapa na via daintegração europeia. É este o acervo a subscrever pelospaíses candidatos

(CE)

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O imperativo de estabilidade nas fronteirasda União foi a preocupação principal dosgovernantes durante a década de 90. Existiaum vivo receio de ver ressurgir os conflitosterritoriais, os ódios étnicos e as pulsõesnacionalistas em zonas durante longotempo sujeitas à férula de regimes totalitá-rios. A decomposição da exJugoslávia quegerou os conflitos desastrosos da Bósnia edo Kosovo, ameaçava atingir outras regiões.O esforço de solidariedade por parte daEuropa Ocidental devia estar à altura doperigo de fazer da Europa Oriental e Balcâ-nica um braseiro. A perspectiva de anco-rarem na União Europeia, nas suasinstituições democráticas e na suaeconomia aberta foi e continua a ser para ofuturo um estimulante dos progressos aefectuar pelas jovens democracias daEuropa Central e Oriental.

Ao decidir consagrar uma parte substancialdos recursos do orçamento europeu aoauxílio de pré-adesão e adesão dos paísescandidatos — 80 mil milhões de euros, ouseja, 11,83% das dotações de autorizaçãopara o período de 2000-2006 — o ConselhoEuropeu reunido em Berlim em 25 deMarço de 1999 concretizou este impera-tivo de solidariedade. Na realidade, trata-sede um investimento capital para a estabili-dade do continente e o futuro da sua reuni-ficação. Mas o desafio não é simplesmentede ordem financeira, é antes de mais polí-tico e inscreve-se na própria vocação doprojecto de Robert Schuman. A reconci-liação dos inimigos da primeira metade doséculo XX foi o grande êxito do final desteséculo. A tarefa que espera os povos destaoutra parte do continente que convergepara a União apresenta uma amplitudeequivalente: aprender a viver em conjuntona paz e na tolerância, ultrapassar ospreconceitos étnicos e os ódios do passado,conciliar identidades e interdependências.

Será igualmente necessário que estes novosEstados que acabam de conquistar pacifi-camente a sua soberania nacionalconsintam em sujeitar-se às regras comunsda União. Deverão compreender que aforça de uma Comunidade assenta no exer-cício em comum de poderes livrementetransferidos para instituições encarregadasde gerir o bem comum da União.

Reformar as instituições para umaUnião forte e democrática

«Criar progressivamente entre os homensda Europa o mais vasto interesse

comum gerido por instituições comunsdemocráticas nas quais se delega a

soberania necessária: eis a dinâmica quenão deixou de funcionar desde o início da Comunidade Europeia, quebrando

preconceitos, apagando fronteiras, alargando em poucos anos à dimensão

de um continente o processo que ao longodos séculos tinha formado os nossos

velhos países.»Jean Monnet (Memórias, p. 615)

Uma União alargada a mais 25 Estados--Membros no termo da década que seinicia e que poderá contar, mais tardeainda, cerca de 30 ou 35 países poderáfuncionar com instituições concebidas em1950 para seis Estados?

Não há dúvida de que esta mutação espec-tacular, ao consagrar o próprio êxito daempresa comunitária, ameaça, sem reformaprévia, desnaturar os seus fundamentos eenfraquecer os seus mecanismos dedecisão. A Comunidade Europeia transfor-mou-se progressivamente numa união polí-tica com base na dupla legitimidade deuma União de Estados e de uma união depovos. A eleição do Parlamento Europeu26

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por sufrágio universal directo desde 1979 eo aumento progressivo dos seus podereslegislativos e de controlo introduziram nasinstituições um fermento democrático. UmaUnião de 25 Estados que se exprime emnome de 500 milhões de cidadãos será umdos principais protagonistas do mundo deamanhã.

As negociações do Tratado de Amesterdão,que entrou em vigor em 1 de Maio de1999, já tinham tido por objecto traduzirem textos e na prática institucional esteaumento de responsabilidades da Uniãoface aos seus próprios nacionais e ao restodo mundo. Mas era igualmente necessáriotomar disposições para manter a eficáciados procedimentos de decisão e garantir oequilíbrio original entre os Estados, deacordo com o seu peso demográficorespectivo. O Conselho Europeu reunidoem Helsínquia em 11 de Dezembro de1999 decidiu convocar uma novaConferência Intergovernamental destinada aadoptar as modificações a introduzir aosTratados europeus até Dezembro de 2000.Esta conferência, que se desenrola noprimeiro semestre do ano sob a presidênciaportuguesa e no segundo semestre sob a

presidência francesa, tem por mandatoexplícito analisar a dimensão da ComissãoEuropeia, a ponderação dos votos no seiodo Conselho de Ministros e a eventualextensão do número de decisões quepoderão ser tomadas por maioria qualifi-cada. Poderão ser adoptadas outrasreformas que correspondam aos impera-tivos de uma União mais vasta mas tambémcapaz de decidir eficazmente e deresponder às expectativas dos cidadãos.Estes manifestaram por ocasião das eleiçõeseuropeias de Junho de 1999 a suaexigência de uma maior transparência e deuma maior proximidade das instituições:quem decide na União, como são tomadasas decisões, como reforçar os controlossobre a utilização dos dinheiros públicospagos ao orçamento comunitário?

Numa resolução votada em 18 deNovembro de 1999, o Parlamento Europeumediu a importância da reforma institu-cional em curso, tendo-lhe fixado umobjectivo ambicioso: a «constitucionali-zação» da União. Destinada a aproximar aEuropa dos cidadãos, clarificar e tornarmais compreensíveis as competências dasinstituições comuns, esta constitucionali- 27

O Parlamento Europeu em sessão plenária: um papelpolítico essencial, ao serviço dos cidadãos europeus

(PE)

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zação implicará a unificação dos Tratadosnum texto único, com duas partes distintas:

— uma parte constitucional, integrando osobjectivos da União, os direitos funda-mentais e as disposições relativas àsinstituições e aos procedimentos dedecisão;

— uma parte que inclua as políticascomuns, e cujos procedimentos derevisão sejam mais flexíveis.

Com os representantes dos Estados-Mem-bros, os parlamentos nacionais e aComissão Europeia, o Parlamento Europeué também parte na elaboração da Carta dosDireitos Fundamentais da União Europeia.Os trabalhos tiveram início em Dezembrode 1999 com base num mandato estabele-cido pelo Conselho Europeu de Colóniaem 4 de Junho de 1999.

Presidida desde 15 de Setembro de 1999por Romano Prodi, a Comissão comprome-teu-se, decididamente, com o apoio doParlamento Europeu, na reforma da União.Num documento apresentado em 10 deNovembro de 1999 pelo presidente daComissão e pelo comissário competente,Michel Barnier, intitulado «Adaptar as insti-tuições para garantir o êxito do alarga-mento», a Comissão observa que a reformaem curso não é apenas uma condiçãoprévia para o alargamento mas tambémuma possibilidade de estabilizar o sistemainstitucional europeu. A Comissão sublinhaa necessidade de alargar o voto por maioriaqualificada ao nível do Conselho:

«A quase duplicação do número de Esta-dos-Membros impõe ir muito mais longe,porque a diversidade dos interesses embreve será tal que o funcionamentoda União facilmente poderá ser bloque-

ado [...]. A decisão por maioria qualificadadeve pois passar a ser a regra salvoexcepções limitadas a algumas questõesrealmente fundamentais ou sentidas comopoliticamente muito sensíveis.»

Para Jean Monnet, que tinha vivido pesso-almente a experiência da Sociedade dasNações e vira os limites de uma instituiçãoonde se exercia o direito de cada Estadopoder dizer não, «o veto é a causaprofunda e simultaneamente o símbolo daimpotência para ultrapassar os egoísmosnacionais».

A extensão do voto por maioria qualificadaao Conselho, associada ao procedimentode co-decisão com o Parlamento Europeu eno respeito do direito de iniciativa quecompete à Comissão, é a chave daabóbada do sistema institucional comuni-tário desde a sua criação. Será viável umaUnião de 30 Estados, se um ou outro dosseus membros for autorizado, apenas como seu veto, a bloquear permanentementequalquer decisão?

O reforço, o aprofundamento da União e oseu alargamento não devem em caso algumser dissociados nem considerados comoimperativos inconciliáveis. É do interessedos países candidatos obter um conjuntoinstitucional coerente nas suas estruturas eeficaz nos seus modos de decisão. Esteconjunto deve permanecer igualmente legí-timo aos olhos dos cidadãos e identificávelpor países terceiros que esperam que aUnião lhes fale a uma só voz. AConferência Intergovernamental em cursodeverá terminar no final do ano 2000 e darà União luz verde para assinar os primeirosTratados de adesão a partir de 2003 se asnegociações com os países candidatos esti-verem concluídas nessa data, e os Tratadosforem ratificados pelos Estados-Membros e28

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sujeitos ao parecer conforme do Parla-mento Europeu. As eleições de Junho de2004 para o Parlamento Europeu, seguidasa partir de 2005 pela entrada em funçõesduma nova Comissão Europeia, verão semdúvida a participação de povos da EuropaCentral e Oriental ou Mediterrânica. Estaperspectiva pressupõe por parte das insti-tuições da União e dos governos dos Esta-dos-Membros como dos Estados candidatos,uma mobilização à altura dos desafios.Uma União que tenha sido capaz dereformar as suas instituições, alargar-se semse debilitar, consolidar o seu acervo conti-nuando a progredir no caminho da cons-trução política, será o prolongamento edepois a concretização do sonho dos paisfundadores.

Uma União política para garantira segurança dos cidadãos europeus

A União Europeia dispõe de um braçoarmado ao serviço da paz

A aspiração dos povos à segurança e à pazconstitui um dos fundamentos mais fortes emais legítimos do contrato social que liga ocidadão à autoridade pública. De facto, asociedade internacional não esteve naépoca moderna em condições de garantiressa segurança à escala do continenteeuropeu. Os dramáticos conflitos daBósnia, do Kosovo e da Chechénia atingempopulações inocentes. Recordam as sinis-tras memórias das exacções maciças come-tidas ao longo do século XX por exércitosou milícias ao serviço de ideologias de ódioe exclusão.

A União Europeia decidiu aceitar o desafioda violência. Não só ao fazer da soluçãopacífica dos conflitos de interesses o prin-

cípio fundador dos Tratados, mas tambémao projectar para além das fronteiras umadinâmica de paz e de segurança servidapor uma diplomacia preventiva activa. Estadiplomacia assenta em meios financeiros,na assistência económica e numa compro-vada competência em matéria de soluçãode conflitos.

O Tratado de Maastricht, que entrou emvigor em 1 de Novembro de 1993, codi-ficou e reforçou um conjunto de regras epráticas de cooperação diplomática jáiniciadas no quadro das ComunidadesEuropeias. O objectivo foi fixado no título Vdo Tratado: «A Política Externa e de Segu-rança Comum (PESC) abrange todas asquestões relativas à segurança da UniãoEuropeia, incluindo a definição, a prazo,de uma política de defesa comum quepoderá conduzir, no momento próprio, auma defesa comum». O Tratado de Ames-terdão dá novos instrumentos à PESCreforçando a sua coerência com a acçãoexterna tradicional da Comunidade Euro-peia. A União passa a dispor de estruturaspolíticas e administrativas que lhe permitemexprimirse a «uma só voz» na política inter-nacional. O alto-representante para a PESC,igualmente secretário-geral do Conselho deMinistros, actua sob a autoridade doConselho Europeu e em estreita cooperaçãocom a Comissão para aplicar as orientaçõesdiplomáticas da União. Esta está vocacio-nada para exercer responsabilidades àescala mundial. Deve zelar pela salva-guarda dos valores comuns, dos interessesfundamentais, da independência e integri-dade da União, e da sua segurança. Ageno sentido da manutenção da paz, doreforço da segurança internacional, dapromoção da democracia e do Estado dedireito. 29

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Actualmente a União Europeia, potênciaeconómica, monetária e comercial surgecomo agente diplomático que dispõe demeios para fazer ouvir a sua voz. Oprocesso evolutivo conduz a União aapoiar-se na União da Europa Ocidental(UEO) competente em matéria militar. OTratado de Amesterdão torna possível aprazo a plena integração da UEO na UniãoEuropeia.

O Conselho Europeu reunido em Helsín-quia em 11 de Dezembro de 1999 ajudou afranquear uma nova etapa na construçãoda identidade europeia de segurança e dedefesa. O princípio de uma capacidadeautónoma para lançar e conduziroperações militares sob a direcção daUnião Europeia representa um progressoconsiderável na afirmação do papel políticoda Europa. A cimeira que reuniu emWashington em 24 de Abril de 1999 oschefes de Governo da NATO tinha-se«congratulado com o novo impulso dadoao reforço de uma política europeiacomum de segurança e de defesa peloTratado de Amesterdão». A cimeira confir-mara «que um papel mais forte da Europasó pode contribuir para a vitalidade danossa Aliança no século XXI, fundamentoda defesa colectiva dos seus membros».Assim, a NATO declarou-se pronta a«permitir o fácil acesso da União Europeiaaos meios e capacidades colectivos daAliança para operações em que esta, noseu conjunto, não fosse militarmentecomprometida enquanto Aliança».

Por conseguinte, o Conselho Europeu deHelsínquia podia retirar as consequênciasconcretas da vontade política da União nosentido de assumir uma capacidade deacção autónoma dos europeus ao nível daAliança. Decidiu que «os Estados-Membros,cooperando voluntariamente no quadro deoperações dirigidas pela União Europeia,deverão estar em condições, até 2003, deexpor num prazo de 60 dias e apoiardurante pelo menos um ano forças mili-tares que podem atingir 50 000 a 60 000pessoas». Estas forças deverão ser capazesde efectuar o conjunto «das missões huma-nitárias e de evacuação, as missões demanutenção da paz e as missões de forçade combate para a gestão das crises,incluindo as missões de restabelecimento30

A União da Europa Ocidental

A UEO integra 28 países para os quaisconstitui um verdadeiro quadro dediálogo e cooperação em matéria desegurança e de defesa. Destes países,10 têm a qualidade de Estados-Mem-bros; são igualmente signatários dosTratados da União Europeia e doAtlântico Norte. Os cinco outros paísesda União Europeia têm um estatuto deobservadores; trata-se da Dinamarca edos quatro Estados-Membros da UEque não fazem parte da NATO:Áustria, Finlândia, Irlanda e Suécia.Encontramos ainda na UEO, comomembros associados ou como asso-ciados parceiros, os membros euro-peus da NATO que não aderem à UEbem como os países da Europa Centrale Oriental que concluíram acordoseuropeus com a UE.

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da paz», enumeradas no artigo 17.° doTratado da União Europeia, alterado peloTratado de Amesterdão. A criação de umcomité político e de segurança, de umcomité militar e de um estado-maior comumfornecerá à União Europeia os instrumentosoperacionais necessários ao cumprimentodaquelas missões.

Assim a União Europeia apaga progressi-vamente a pesada recordação do fracassoda Comunidade Europeia de Defesa que,em 1954, marcara com uma travagem adinâmica da integração. Os acontecimentosdo Kosovo, a nova situação geopolítica,resultante do final da «guerra fria», a neces-sidade de construir uma União política àaltura do peso crescente da União nosnegócios do mundo permitiram fazerrenascer a perspectiva de uma Europa fortee autónoma, capaz de afirmar os seus inte-resses no respeito das suas alianças.

A diplomacia preventiva para garantiros direitos das minorias

A intervenção armada é apenas o últimoargumento à disposição das democraciasquando todos os recursos da diplomacia eda negociação se revelaram vãos. A políticaexterna da União assenta prioritariamentena exportação dos princípios que assegu-raram o seu próprio desenvolvimento pací-fico: a procura do interesse comum, orespeito do direito, a arbitragem ao níveldas instituições, a rejeição da discriminaçãoe do espírito de supremacia.

Tais princípios, que estão na base da PESC,já deram os seus frutos e são promissorespara o futuro das regiões perturbadas docontinente. Uma das primeiras acçõescomuns conduzidas pela União Europeiaem aplicação do Tratado de Maastricht

favoreceu a conclusão em Paris, em 21 deMarço de 1995, do Pacto de Estabilidade.O objecto deste pacto, dirigido desde entãopela Organização para a Segurança e aCooperação na Europa, consistia em asse-gurar a consolidação das fronteiras e orespeito dos direitos das minorias na EuropaCentral e nos Estados bálticos. A Uniãopreconizou o método de negociação dasmesas-redondas regionais na EuropaCentral e Oriental. Esta dinâmica dodiálogo tornou possível a assinatura deTratados bilaterais e multilaterais entre osEstados interessados, o que pôs fim aantigos contenciosos históricos.

Ao apoiar o Pacto de Estabilidade para oSudeste da Europa, nascido em Colónia emJunho de 1999 do desejo de aprender coma guerra do Kosovo, a União quis uma vezmais provar as virtudes pacificadoras dodiálogo e da procura do interesse comum.Poderá o método das mesas-redondas regio-nais aplicar-se aos Balcãs, ao Cáucaso, àbacia mediterrânica? A União Europeia estávocacionada para se tornar «engenheiro dapaz» e da integração regional, prolongandoassim a mensagem que Jean Monnet entre-gara ao Parlamento de Estrasburgo em 30de Novembro de 1954: «Entre países sepa-rados, a vantagem de cada um limita-se aoresultado do seu esforço isolado, aosganhos que obtiver sobre o vizinho, às difi-culdades que lhe conseguir transferir. Nanossa Comunidade, a vantagem de cadaum dos países membros é o efeito da pros-peridade do conjunto».

Circular na União com toda a liberdadee segurança

A liberdade de circular sem controlos nemrestrições no interior do território comuni-tário já estava inscrita como um objectivo e 31

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um direito dos cidadãos da União no ActoÚnico Europeu de 1986 e no Tratado deMaastricht de 1992. Era possível construirum mercado único que permitisse àsmercadorias, capitais e serviços ultrapassaros obstáculos das fronteiras sem concederessa mesma facilidade às pessoas? Paraalém da lógica económica que visa faci-litar a mobilidade da mão-de-obra e amelhor afectação dos recursos humanos,foi de facto o conceito de cidadania euro-peia que se impôs para justificar asupressão dos controlos de pessoas. Osacordos de Schengen, concluídos em 14de Junho de 1985 entre cinco paísesmembros e progressivamente alargados a

todos os Estados da União, com excepçãodo Reino Unido e da Irlanda, permitiramconcretizar esta medida muito bem aco-lhida pela população. Quem aceitaria hojerever este direito elementar de viajar deBerlim até Lisboa ou de Roma até Estras-burgo com o mesmo sentimento de liber-dade que se experimenta quando nosdeslocamos no nosso próprio país? OTratado de Amesterdão introduziu em 1997o acervo de Schengen nos textos constitu-tivos da União.

Pôr em causa uma das prerrogativas tradi-cionais de um Estado no quadro da suasoberania nacional, o controlo das suas

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No centro do dispositivo comunitário, a livre circulação de pessoas e bens regista constantemente novos progressos.O espaço comunitário de liberdade, segurança e justiça definido em 1997 pelo Tratado de Amesterdão deve facilitara liberdade de circulação das pessoas e aplicar normas comuns para a imigração e o direito de asilo. Uma cooperação judiciária e policial reforçada contribuirá simultaneamente para prevenir e sancionar a criminalidadeinternacional

(CE)

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fronteiras, não podia fazer-se sem asseguraraos cidadãos que a respectiva segurançaseria garantida tanto à escala europeiacomo do seu país. A opinião pública estácada vez mais preocupada com a insegu-rança quotidiana, com a pequena e agrande delinquência, acentuada por tráficosilegais de armas e de drogas, pela crimina-lidade internacional, pela imigração clan-destina e pelo terrorismo. Para poder servisto como uma vantagem da União, oespaço de liberdade deve ser acompa-nhado por um espaço de segurança e dejustiça. Foi aberto um enorme estaleiro quetrabalha no sentido de harmonizar as regu-lamentações em matéria de direito de asiloe imigração, e aproximar as legislaçõesnacionais relativas ao direito civil e aoprocesso civil. A cooperação judiciáriapenal e a cooperação policial devem igual-mente ser reforçadas para jugular a crimi-nalidade transnacional. Seria paradoxal queos delinquentes pudessem escapar à lei e àsperseguições por encontrarem refúgionoutro Estado-Membro, faltando a polícias ejuízes os meios para cumprirem a suamissão.

O Tratado de Amesterdão deu um novoimpulso à construção de um espaço comu-nitário de segurança, liberdade e justiça.Foi adoptado um programa quinquenal quereúne as instituições da União no estabele-cimento de normas comuns para aimigração, o direito de asilo, fundado norespeito dos direitos fundamentais e asse-gurando a prazo a livre circulação dosimigrantes na União. Para além destaprimeira ao longo da qual se exige a unani-midade para as decisões a tomar peloConselho, será possível recorrer ao votopor maioria qualificada e à co-decisão quepermita ao Parlamento Europeu, àComissão e ao Tribunal de Justiça desem-penhar plenamente o respectivo papel. No

quadro da cooperação intergovernamental,os Estados-Membros vão igualmente fixarnormas obrigatórias em matéria penal epolicial. Os meios da Europol serãoreforçados, para melhor lutar contra otráfico de droga e a criminalidade interna-cional. Será criada uma nova unidade,Eurojust, composta de procuradores, magis-trados e oficiais de polícia para facilitar acoordenação dos esforços das autoridadesnacionais na sua luta contra o crime orga-nizado.

O Conselho Europeu efectuou sob apresidência finlandesa, em 15 e 16 deOutubro de 1999, em Tampere, umareunião especial consagrada à aplicaçãodas disposições de Amesterdão. Foi subli-nhada a sua incidência na vida quotidianados europeus: «O cidadão só pode gozarde liberdade num verdadeiro espaço dejustiça onde cada um possa dirigir-se aostribunais e às autoridades de todos os Esta-dos-Membros tão facilmente como no seupróprio país. Os autores de infracções nãodevem poder de modo algum aproveitar-sedas diferenças entre os sistemas judiciáriosdos Estados-Membros [...]. Os cidadãos têmo direito de esperar da União que ela reajaà ameaça que a grande criminalidaderepresenta para a respectiva liberdade e osdireitos que a lei lhes reconhece. Paradebelar as ameaças é necessário agir emconcertação, em toda a União, em matériade prevenção e luta contra a criminalidadee as organizações criminosas. É necessáriauma mobilização comum dos recursos poli-ciais e judiciários no sentido de velar porque os autores de infracções e o produtodos seus crimes não encontrem qualquerrefúgio na União.»

«Nós não fazemos coligações de Estados,nós unimos homens», dizia Jean Monnet.Esta perspectiva duma União de segurança, 33

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externa e interna, deve suscitar o apoio doscidadãos e ser construída num clima detransparência e de controlo democrático.O Conselho Europeu manifestou a suaintenção de entabular com a sociedadecivil um diálogo aberto sobre os objectivose as modalidades deste espaço em cons-trução. Ninguém duvida de que o debatedemocrático é indispensável para se

realizar um projecto de tal amplitude;também ninguém duvida de que a Uniãoterá de enfrentar uma tarefa importante edelicada quando tiver de negociar com ospaíses candidatos da Europa Central eOriental a adopção do acervo nestedomínio, a fim de assegurar o controlo dasfronteiras externas numa União alargadaaos confins da Ásia e da Rússia.

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Seria cometer um grave erro de apreciaçãoreduzir a integração europeia a um simplesesforço de adaptação das economias dosnossos Estados aos desafios do livre câmbiomundial e da globalização. A ideia euro-peia nasceu da constatação de que «oshomens colocados numa situação de factonova, ou num sistema de obrigação dife-rente, adaptam o seu comportamento etornam-se diferentes. Tornam-se melhores seo contexto novo for melhor: é a históriamuito simples do progresso das civili-zações, e é a história da Comunidade Euro-peia». O homem está no centro do projectoeuropeu, numa visão voluntarista e posi-tiva da sua capacidade de retirar ensina-mentos dos erros do passado para prepararum mundo melhor às gerações futuras.Continente de todos os dramas, terreno deconfrontos entre nações soberanas e ideo-logias totalitárias que conduzem à guerra

ou à exterminação programada debatalhões de inocentes, a Europa do séculoXX perfaz a sua transformação e aborda oterceiro milénio tendo consolidado osinstrumentos que garantem a todos apromessa de uma paz duradoura.

Com base nas instituições e na mensagemdeixada por Robert Schuman e pelos cons-trutores do seu tempo, cabe agora àsmulheres e aos homens europeus completara unidade do continente interrogando-seconstantemente sobre a contribuição queesta União continuará a dar à civilização.

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CONCLUSÃO: O CIDADÃO NO CERNE DO PROJECTO EUROPEU

«Aquilo que devemos agora construir é uma União de corações e de espíritos que assenta no sentimento partilhado de uma comunidade de destino,

na consciência de uma cidadania europeia.»Romano Prodi,

presidente da Comissão Europeia ao Parlamento Europeu, em 14 de Setembro de 1999.

Os jovens são o futuro da Europa. A União elaborou em sua intenção importantes programas em domínioscomo a educação, a formação, os intercâmbios e oemprego. É um dos aspectos essenciais da Europa doscidadãos

(CE)

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ANEXOS

A declaração de 9 de Maio de 1950

A paz mundial não poderá ser salvaguar-dada sem esforços criativos à altura dosperigos que a ameaçam.

O contributo que uma Europa viva e orga-nizada pode dar à civilização é indispen-sável para a manutenção de relaçõespacíficas. Ao assumir-se há mais de 20 anoscomo defensora de uma Europa unida, aFrança teve sempre por objectivo essencialservir a paz. A Europa não foi construída,tivemos que enfrentar a guerra.

A Europa não se fará de uma só vez, nemnuma construção de conjunto: far-se-á pormeio de realizações concretas que criemprimeiro uma solidariedade de facto. Aunião das nações europeias exige que sejaeliminada a secular oposição entre a Françae a Alemanha: a acção deve envolver prin-cipalmente estes dois países.

Com esse objectivo, o Governo francêspropõe actuar imediatamente num planolimitado mas decisivo:

«O Governo francês propõe subordinar oconjunto da produção franco-alemã decarvão e de aço a uma Alta Autoridadecomum, numa organização aberta à parti-cipação dos outros países da Europa.»

Colocar em comum as produções decarvão e de aço garantirá imediatamente oestabelecimento de bases comuns dedesenvolvimento económico, primeiraetapa da federação europeia, e mudará odestino de regiões durante muito tempo

condenadas ao fabrico de armas de guerra,das quais foram as primeiras vítimas.

A solidariedade de produção assimalcançada revelará que qualquer guerraentre a França e a Alemanha se torna nãosó impensável como também material-mente impossível. A criação desta pode-rosa unidade de produção aberta a todos ospaíses que nela queiram participar permitiráfornecer a todos os países que a compõemos elementos fundamentais da produçãoindustrial em condições idênticas, e lançaráos fundamentos reais da sua unificaçãoeconómica.

Esta produção será oferecida a todos ospaíses do mundo sem distinção nemexclusão, a fim de participar na melhoriado nível de vida e no desenvolvimento dasobras de paz. Com meios acrescidos, aEuropa poderá prosseguir a realização deuma das suas funções essenciais: o desen-volvimento do continente africano.

Assim se realizará, simples e rapidamente, afusão de interesses indispensável à criaçãode uma comunidade económica e introdu-zirá o fermento de uma comunidade maisvasta e mais profunda entre países durantemuito tempo opostos por divisõessangrentas.

Esta proposta, por intermédio da colocaçãoem comum de produções de base e dainstituição de uma nova Alta Autoridadecujas decisões vincularão a Alemanha, aFrança e os países aderentes, lançará as36

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primeiras bases concretas de uma fede-ração europeia indispensável à preservaçãoda paz.

A fim de prosseguir a concretização dosobjectivos assim definidos, o Governofrancês está disposto a iniciar negociaçõesnas seguintes bases.

A missão atribuída à Alta Autoridadecomum consistirá em assegurar, a brevetrecho: a modernização da produção e amelhoria da sua qualidade; o fornecimento,em condições idênticas, de carvão e de açoaos mercados alemão, francês e dos paísesaderentes; o desenvolvimento da expor-tação comum para outros países; a harmo-nização no progresso das condições devida da mão-de-obra dessas indústrias.

Para atingir estes objectivos a partir dascondições muito díspares em que actual-mente se encontram as produções dospaíses aderentes, deverão ser tomadas, atítulo provisório, determinadas disposições,incluindo a aplicação de um plano deprodução e de investimentos, a instituiçãode mecanismos de perequação dos preçose a criação de um fundo de reconversãodestinado a facilitar a racionalização daprodução. A circulação do carvão e do açoentre os países aderentes será imediata-mente isenta de qualquer direito aduaneiro,não podendo ser afectada por tarifas detransporte distintas. Progressivamente, criar--se-ão condições para assegurar espontanea-mente a repartição mais racional daprodução ao mais elevado nível de produ-tividade.

Ao contrário de um cartel internacional quetende a repartir e explorar os mercados

nacionais com base em práticas restritivas ena manutenção de elevados lucros, a orga-nização projectada assegurará a fusão dosmercados e a expansão da produção.

Os princípios e compromissos essenciaisacima definidos serão objecto de umtratado assinado entre os Estados. As nego-ciações indispensáveis para precisar asmedidas de aplicação serão realizadas coma assistência de um mediador designadode comum acordo; este terá a missão develar por que os acordos respeitem os prin-cípios e, em caso de oposição irredutível,fixará a solução a adoptar. A Alta Autori-dade comum, responsável pelo funciona-mento de todo o regime, será composta porpersonalidades independentes designadasnuma base paritária pelos governos; o presi-dente será escolhido de comum acordoentre os governos; as suas decisões serão deexecução obrigatória na Alemanha e emFrança e nos restantes países aderentes. Asnecessárias vias de recurso contra asdecisões da Alta Autoridade serão assegu-radas por disposições adequadas. Umrepresentante das Nações Unidas junto dareferida Alta Autoridade elaborará semes-tralmente um relatório público destinado àONU, dando conta do funcionamento donovo organismo, nomeadamente no quediz respeito à salvaguarda dos seus finspacíficos.

A instituição da Alta Autoridade em nadaprejudica o regime de propriedade dasempresas. No exercício da sua missão, aAlta Autoridade comum terá em conta ospoderes conferidos à autoridade interna-cional da região do Rur e quaisquer outrasobrigações impostas à Alemanha, enquantoestas subsistirem.

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19509 de MaioRobert Schuman, ministro francês dos NegóciosEstrangeiros, propõe, num discurso inspirado porJean Monnet, a gestão conjunta dos recursos decarvão e de aço da França e da RepúblicaFederal da Alemanha numa organização abertaaos outros países europeus.

195118 de AbrilOs Seis assinam em Paris o Tratado que institui aComunidade Europeia do Carvão e do Aço(CECA).

195227 de MaioAssinatura em Paris do Tratado que institui aComunidade Europeia da Defesa (CED).

195430 de AgostoA Assembleia Nacional francesa rejeita o Tratadosobre a CED.

20 a 23 de OutubroConclusão dos acordos de Paris, na sequênciada conferência de Londres: estes acordos estabe-lecem as modalidades de alargamento do Pactode Bruxelas que dá origem à União da EuropaOcidental (UEO).

19551 e 2 de JunhoConferência de Messina: os ministros dos Negó-cios Estrangeiros dos Seis decidem o alargamentoda integração europeia a toda a economia.

195725 de MarçoAssinatura em Roma dos Tratados que instituem aComunidade Económica Europeia (CEE) e aEuratom.

19581 de JaneiroEntrada em vigor dos Tratados de Roma e insta-lação, em Bruxelas, das comissões da CEE e daEuratom.

19604 de JaneiroAssinatura da Convenção de Estocolmo queinstitui, por iniciativa do Reino Unido, a Asso-ciação Europeia de Comércio Livre (EFTA).

196230 de JulhoEntrada em vigor da política agrícola comum(PAC).

196314 de JaneiroNo decurso de uma conferência de imprensa, ogeneral De Gaulle anuncia que a França exprimeo seu veto contra a entrada do Reino Unido naCEE.

20 de JulhoAssinatura em Iaundé do Acordo de Associaçãoentre a CEE e 18 países africanos.

1965AbrilAssinatura do acordo sobre a fusão dos órgãosexecutivos das três Comunidades (CECA, CEE eCEEA), que institui uma Comissão e umConselho únicos, tendo entrado em vigor em 1de Julho de 1967.

196629 de JaneiroCompromisso do Luxemburgo: a França aceitaretomar o seu assento no Conselho, como contra-partida da manutenção da regra da unanimidade,sempre que estiverem em jogo «interesses muitoimportantes».38

Cronologia da construção europeia

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19681 de JulhoEliminação, com um ano e meio de ante-cedência em relação ao prazo previsto, dosúltimos direitos aduaneiros intracomunitáriosaplicados aos produtos industriais. É instituída,paralelamente, uma pauta aduaneira externacomum.

19691 e 2 de DezembroCimeira da Haia: os chefes de Estado e deGoverno decidem passar da fase de transiçãopara a fase definitiva da Comunidade, adoptandoos regulamentos agrícolas definitivos e estabele-cendo o princípio dos recursos próprios da CEE.

197022 de AbrilAssinatura no Luxemburgo do acordo que prevêo financiamento progressivo das Comunidades apartir de recursos próprios e que estabelece oalargamento dos poderes de controlo do Parla-mento Europeu.

30 de JunhoAbertura, no Luxemburgo, das negociações comos quatro países candidatos à adesão (Dina-marca, Irlanda, Noruega e Reino Unido).

197222 de JaneiroAssinatura, em Bruxelas, dos Tratados de adesãodos novos membros da CEE (Dinamarca, Irlanda,Noruega e Reino Unido).

24 de AbrilConstituição da «Serpente Monetária». Os Seisdecidem limitar a 2,25% as margens de flutuaçãodas respectivas moedas entre si.

19731 de JaneiroEntrada da Dinamarca, da Irlanda e do ReinoUnido na CEE (referendo negativo na Noruega).

19749 e 10 de DezembroCimeira de Paris: os nove chefes de Estado e deGoverno decidem reunir-se regularmente numConselho Europeu (três vezes por ano), propõema eleição do Parlamento por sufrágio universal edecidem a criação do Fundo Europeu de Desen-volvimento Regional (FEDER).

197528 de FevereiroAssinatura, em Lomé, de uma Convenção (LoméI) entre a Comunidade e 46 países de África, dasCaraíbas e do Pacífico (ACP).

22 de JulhoAssinatura do Tratado que reforça os poderesorçamentais do Parlamento Europeu e instituium Tribunal de Contas europeu. Entrada emvigor em 1 de Junho de 1977.

19786 e 7 de JunhoCimeira de Brema: a França e a RFA propõemum relançamento da cooperação monetáriamediante a criação de um Sistema MonetárioEuropeu (SME), que deveria substituir a«Serpente».

197913 de MarçoEntrada em vigor do Sistema Monetário Europeu(SME).

28 de MaioAssinatura do Acto de Adesão da Grécia àComunidade.

7 a 10 de JunhoPrimeira eleição, por sufrágio universal directo,dos 410 deputados do Parlamento Europeu.

31 de OutubroAssinatura, em Lomé, da segunda Convenção(Lomé II) entre a CEE e 58 Estados de África, dasCaraíbas e do Pacífico. 39

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19811 de JaneiroAdesão da Grécia à Comunidade Europeia.

198428 de FevereiroAdopção do programa Esprit (programa europeude investigação estratégica no domínio dastecnologias da informação).

14 a 17 de JunhoSegundas eleições para o Parlamento Europeu.

8 de DezembroAssinatura, no Togo, da terceira Convenção deLomé (Lomé III) entre os Dez e 66 países deÁfrica, das Caraíbas e do Pacífico.

1985JaneiroJacques Delors é nomeado presidente daComissão das Comunidades Europeias.

2 a 4 de DezembroConselho Europeu do Luxemburgo: os Dezacordam a revisão do Tratado de Roma, assimcomo o relançamento da integração europeiamediante a redacção de um «Acto ÚnicoEuropeu».

19861 de JaneiroAdesão de Espanha e de Portugal à ComunidadeEuropeia.

17 e 28 de FevereiroAssinatura, no Luxemburgo e na Itália do ActoÚnico Europeu.

198714 de AbrilA Turquia apresenta o seu pedido de adesão àCEE.

1 de JulhoEntrada em vigor do Acto Único.

27 de OutubroAdopção, na Haia, pela UEO, de uma plataformacomum sobre a segurança.

1988 FevereiroReforma do financiamento das políticas da CEE.Programação plurianual das despesas 1988--1992. Reforma dos fundos estruturais.

1989JaneiroO período de exercício de funções do presidenteda Comissão, Jacques Delors, é renovado porquatro anos.

15 a 18 de JunhoTerceira eleição do Parlamento Europeu, porsufrágio universal directo.

17 de JulhoA Áustria apresenta o seu pedido de adesão àCEE.

9 de NovembroQueda do muro de Berlim.

9 de DezembroConselho Europeu de Estrasburgo, que decide aconvocação de uma conferência intergoverna-mental.

15 de DezembroAssinatura da Convenção de Lomé IV com ospaíses de África, das Caraíbas e do Pacífico.

199029 de MaioAssinatura dos acordos que instituem o BancoEuropeu para a Reconstrução e o Desenvolvi-mento (BERD).

19 de JunhoAssinatura dos acordos de Schengen.40

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4 e 16 de JunhoMalta e Chipre apresentam os seus pedidos deadesão à CE.

3 de OutubroUnificação alemã.

14 de DezembroAbertura, em Roma, das conferências intergo-vernamentais sobre a união económica e mone-tária e sobre a união política.

19911 de JulhoA Suécia apresenta o seu pedido de adesão àCE.

21 de OutubroAcordo sobre a constituição do Espaço Econó-mico Europeu (EEE), que associa a Comunidade eos seus vizinhos da Europa Ocidental.

9 e 10 de DezembroConselho Europeu de Maastricht.

19927 de FevereiroAssinatura do Tratado da União Europeia emMaastricht.

18 de MarçoA Finlândia apresenta o seu pedido de adesão àCE.

25 de MarçoA Noruega apresenta o seu pedido de adesão àCE.

2 de MaioAssinatura, no Porto, do acordo sobre o EspaçoEconómico Europeu (EEE).

2 de JunhoA Dinamarca rejeita, por referendo, o Tratado deMaastricht.

20 de JunhoA Irlanda aprova, por referendo, o Tratado deMaastricht.

20 de SetembroA França aprova, por referendo, o Tratado deMaastricht.

11 e 12 de DezembroConselho Europeu de Edimburgo.

19931 de JaneiroRealização do mercado único.

18 de MaioSegundo referendo na Dinamarca: aprovação doTratado de Maastricht.

1 de NovembroEntrada em vigor do Tratado de Maastricht.

19941 de AbrilA Hungria apresenta o seu pedido de adesão àUnião Europeia.

8 de AbrilA Polónia apresenta o seu pedido de adesão àUnião Europeia.

15 de AbrilAssinatura da Acta Final das negociações dociclo do Uruguay Round do GATT em Marra-quexe.

9 e 12 de JunhoQuarta eleição do Parlamento Europeu, porsufrágio universal directo.Aprovação, por referendo, do Tratado de Adesãoda Áustria.

24 e 25 de JunhoConselho Europeu de Corfu.Assinatura dos actos de adesão à União Euro-peia da Áustria, Finlândia, Noruega e Suécia. 41

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16 de OutubroAprovação, por referendo, do Tratado de Adesãoda Finlândia.

13 de NovembroAprovação, por referendo, do Tratado de Adesãoda Suécia.

27 e 28 de NovembroRejeição, por referendo, do Tratado de Adesão daNoruega.

9 de DezembroConselho Europeu em Essen.

19951 de JaneiroAdesão da Áustria, Finlândia e Suécia à UniãoEuropeia.

23 de JaneiroInício de funções da Comissão presidida porJacques Santer (1995-2000).

26 de MarçoEntrada em vigor da Convenção de Schengen.

2 de JunhoPrimeira reunião do grupo de reflexão sobre aConferência Intergovernamental de revisão dosTratados.

12 de JunhoAcordos europeus com a Estónia, Letónia eLituânia.

22 de JunhoA Roménia apresenta o seu pedido de adesão.

26 e 27 de JunhoConselho Europeu de Cannes. Atribuição domandato do grupo de reflexão encarregado depreparar a Conferência Intergovernamental.

27 de JunhoA Eslováquia apresenta o seu pedido de adesão

27 de OutubroA Letónia apresenta o seu pedido de adesão.24 de NovembroA Estónia apresenta o seu pedido de adesão.

27 e 28 de NovembroConferência Euromediterrânica de Barcelona.

8 de DezembroA Lituânia apresenta o seu pedido de adesão.

14 de DezembroA Bulgária apresenta o seu pedido de adesão.

15 e 16 de DezembroConselho Europeu de Madrid.

199616 de JaneiroA Eslovénia apresenta o seu pedido de adesão.

17 de JaneiroA República Checa apresenta o seu pedido deadesão.

29 de MarçoAbertura da Conferência Intergovernamental noConselho Europeu de Turim.

21 e 22 de JunhoConselho Europeu de Florença.

13 e 14 de DezembroConselho Europeu de Dublim.

199717 de FevereiroIntervenção de Jacques Santer sobre a encefalo-patia espongiforme dos bovinos (BSE) perante oParlamento Europeu.

16 e 17 de JunhoConselho Europeu de Amesterdão.42

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16 de JulhoApresentação da Agenda 2000 ao ParlamentoEuropeu.

2 de OutubroAssinatura, em Amesterdão, do Tratado «conso-lidado».

20 e 21 de NovembroCimeira sobre o emprego no Luxemburgo.

12 e 13 de DezembroConselho Europeu do Luxemburgo.

19981 de JaneiroInício da presidência britânica.

30 de MarçoLançamento do processo de adesão dos 10Estados candidatos da Europa Central e Orientale de Chipre — seguido de conferências intergo-vernamentais bilaterais com Chipre, em primeirolugar, e depois com a Hungria, Polónia, Estónia,República Checa e Eslovénia.

31 de MarçoSchengen: supressão do controlo das pessoas nasfronteiras terrestres da Itália.

1 a 3 de MaioConselho dos ministros das Finanças dos Quinzee Conselho Europeu. Decisão sobre os Estadosem condições de participar na terceira fase daUEM.

15 e 16 de JunhoConselho Europeu de Cardife.

1 de JulhoInício da presidência austríaca.

19991 de JaneiroOnze países da União Europeia entram naterceira fase da UEM e adoptam o euro. Início dapresidência alemã.

25 de Março

Conselho Europeu de Berlim — Acordo global

sobre a Agenda 2000 e renovação das perspec-

tivas financeiras.

1 de Maio

Entrada em vigor do Tratado de Amesterdão.

3 e 4 de Junho

Conselho Europeu de Colónia.

8 a 13 de Junho

Quintas eleições directas para o Parlamento

Europeu.

1 de Julho

Início da presidência finlandesa.

15 de Setembro

Investidura pelo Parlamento Europeu da

Comissão Europeia presidida por Romano Prodi.

10 e 11 de Dezembro

Conselho Europeu de Helsínquia.

2000

1 de Janeiro

Início da presidência portuguesa.

1 de Julho

Início da presidência francesa.

2002

1 de Janeiro

Entrada em circulação das moedas e notas do

euro.

1 de Julho

Retirada das moedas e notas das moedas nacio-

nais. 43

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Comissão Europeia

UMA IDEIA NOVA PARA A EUROPA

A declaração Schuman — 1950-2000 (segunda edição)

Por Pascal Fontaine

Série: Documentação Europeia

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias

2000 — 43 p. — 16,2 x 22,9 cm

ISBN 92-828-8467-8

Nas origens da construção europeia, a declaração de Robert Schuman de 9 de Maio de 1950 continuaa revelar uma espantosa actualidade. É nela que, há 50 anos, se alicerça a paz entre os protagonistasde duas guerras mundiais, é ela que abre o caminho às Comunidades Europeias. No limiar doterceiro milénio, a União Europeia atingiu a maturidade. Prepara um novo alargamento que determi-nará o seu destino e o de todo o continente. É o momento favorável para quem quiser interrogar-sesobre a génese desta organização original, medir o caminho percorrido e colher ensinamentos paranovas etapas.

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GABINETE DA COMISSÃO EUROPEIA

Gabinete em PortugalCentro Europeu Jean MonnetLargo Jean Monnet, 1-10.°P-1250 Lisboa Tel.: (351) 213 50 98 00http://euroinfo.ce.pt

GABINETE DO PARLAMENTO EUROPEU

Gabinete em PortugalCentro Europeu Jean MonnetLargo Jean Monnet, 1-6.°P-1250 Lisboa Tel.: (351) 213 57 80 31/213 57 82 98Fax: (351) 213 54 00 04E-mail: [email protected]

Mais informações sobre a União Europeia

Na Internet, através do servidor Europa (http://europa.eu.int), há informações em todas as línguasoficiais da União Europeia.

Para obter informações e publicações em língua portuguesa sobre a União Europeia, pode contactar:

Existem representações ou gabinetes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu em todos osEstados-Membros da União Europeia. Noutros países do mundo existem delegações da Comissão Europeia.