do sábado para o domingo (samuele bacchiocchi).pdf

395
SINTESE DA OBRA Do Sábado Para o Domingo: COMO A MUDANÇA OCORREU? Samuele Bacchiocchi, Ph. D. Professor Jubilado de Teologia e História Eclesiástica, Universidade Andrews Freqüentemente as pessoas me pedem um sumário conciso e simples das descobertas de minha investigação de como o sábado foi mudado para o domingo na igreja primitiva durante meu período de estudos doutorais de cinco anos na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália. Eles se queixam com razão que minha dissertação é muito puxada em termos de tempo e concentração. Preferem uma explicação mais simples que possam compartilhar mais prontamente com pessoas interessadas. Para atender essa demanda tento nesta conferência apresentar os pontos altos de minha pesquisa, numa maneira simples e bem-estruturada. Para efeito de brevidade omiti algumas referências de notas de rodapé. Os leitores interessados encontrarão toda a documentação em From Sabbath to Sunday [Do sábado para o domingo]. 1 Sintam-se livres para imprimir, usar e distribuir o texto deste estudo em qualquer formato que julgarem necessário para seus esforços de divulgação das informações nele contidas. ESCLARECIMENTO IMPORTANTE Constantino não introduziu a observância dominical. Ele simplesmente tornou o Dia do Sol um feriado civil por promulgar a famosa Lei Dominical de 321 AD. A razão por que Constantino fez do domingo um feriado civil é simplesmente porque naquele tempo o Dia do Sol havia se tornado popular tanto entre os pagãos quanto entre os cristãos. Isso é indicado pela própria linguagem da legislação: “No venerável Dia do Sol . . .” 2 É evidente que na época o dia do sol já era “venerável”, ou seja, popular e respeitado. O processo que levou à adoção do dia do sol como um feriado civil

Upload: luiz-francisco-ferreira-junior

Post on 26-Nov-2015

628 views

Category:

Documents


163 download

TRANSCRIPT

  • SINTESE DA OBRA

    Do Sbado Para o Domingo:

    COMO A MUDANA OCORREU?

    Samuele Bacchiocchi, Ph. D.

    Professor Jubilado de Teologia e Histria Eclesistica, Universidade

    Andrews

    Freqentemente as pessoas me pedem um sumrio conciso e simples

    das descobertas de minha investigao de como o sbado foi mudado para

    o domingo na igreja primitiva durante meu perodo de estudos doutorais de

    cinco anos na Pontifcia Universidade Gregoriana de Roma, Itlia. Eles se

    queixam com razo que minha dissertao muito puxada em termos de

    tempo e concentrao. Preferem uma explicao mais simples que possam

    compartilhar mais prontamente com pessoas interessadas. Para atender essa

    demanda tento nesta conferncia apresentar os pontos altos de minha

    pesquisa, numa maneira simples e bem-estruturada. Para efeito de

    brevidade omiti algumas referncias de notas de rodap. Os leitores

    interessados encontraro toda a documentao em From Sabbath to Sunday

    [Do sbado para o domingo].1 Sintam-se livres para imprimir, usar e

    distribuir o texto deste estudo em qualquer formato que julgarem

    necessrio para seus esforos de divulgao das informaes nele contidas.

    ESCLARECIMENTO IMPORTANTE

    Constantino no introduziu a observncia dominical. Ele simplesmente

    tornou o Dia do Sol um feriado civil por promulgar a famosa Lei

    Dominical de 321 AD. A razo por que Constantino fez do domingo um

    feriado civil simplesmente porque naquele tempo o Dia do Sol havia se

    tornado popular tanto entre os pagos quanto entre os cristos. Isso

    indicado pela prpria linguagem da legislao: No venervel Dia do Sol . . .2 evidente que na poca o dia do sol j era venervel, ou seja, popular e respeitado.

    O processo que levou adoo do dia do sol como um feriado civil

  • Do Sbado para o Domingo

    2

    2

    para todo o Imprio Romano comeou na primeira parte do segundo

    sculo, quando o dia do sol foi avanado do segundo dia da semana para a

    posio de primeiro e mais importante dia semanal. Esse processo

    discutido no captulo 8 de From Sabbath to Sunday, e a isso se far breve

    aluso no final desta conferncia. H indicaes bastante convincentes de

    que quando os romanos avanaram o dia do sol para o primeiro e mais

    importante dia da semana, os cristos gentios, que tiveram uma formao

    pag, foram influenciados a adotar o mesmo dia do sol, a fim de mostrar

    separao dos judeus e identificao com os romanos. Para diz-lo de

    modo diferente, eles decidiram estar politicamente corretos com a adoo

    do dia do sol, antes que serem biblicamente corretos observando o sbado

    do stimo dia.

    A guarda do sbado comparada nas Escrituras a fidelidade a Deus, e

    a profanao do sbado a apostasia. Mediante o profeta Ezequiel Deus

    lamenta: a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto . . . profanaram grandemente os meus sbados (Eze. 20:13). A razo para essa equao no difcil de ver. Uma pessoa que ignora o Senhor em Seu santo

    dia, por fim ignorar o Senhor todo dia.

    Em vista da importncia vital que o sbado desempenha na experincia

    religiosa do povo de Deus, haveria de ser muito surpreendente se o

    Maligno no tivesse se metido com o mandamento do sbado durante os

    trs primeiros sculos. Por levar muitos cristos a rejeitarem o sbado logo

    aps o incio do cristianismo, o diabo teve xito em promover falsos tipos

    de culto. Nunca devemos esquecer que o Grande Conflito em grande

    medida centraliza-se sobre adorao: ou seja, a verdadeira adorao versus

    a falsa adorao. E o sbado essencial para a adorao, porque nos

    convida a adorar a Deus por consagrar nosso tempo e vida a Ele numa

    forma especial todo stimo dia.

    DO SBADO PARA O DOMINGO: COMO A MUDANA

    OCORREU?

  • Do Sbado para o Domingo

    3

    3

    Dr. Samuele Bacchiocchi

    Poucos assuntos tm sido to calorosamente debatidos na histria

    crist quanto a mudana do dia de repouso e adorao do sbado para o

    domingo no cristianismo primitivo. Mais de 3.000 dissertaes e tratados

    foram publicados sobre este assunto desde o tempo da Reforma. Uma razo

    destacada para esse incessante interesse na origem histrica do domingo

    tem sido a necessidade de definir a natureza da observncia dominical em

    seu relacionamento com o sbado. O debate muitas vezes gira em torno

    dessa questo fundamental: Originou-se o domingo como uma continuao

    do sbado e, conseqentemente, devia ser observado como um DIA de

    repouso e adorao a exemplo do sbado? Ou acaso o domingo comeou

    como uma instituio crist inteiramente nova, radicalmente diferente do

    sbado, e conseqentemente devia ser observado mas como uma HORA do

    culto semanal?

    Os cristos tm estado igualmente divididos em sua resposta a estas

    perguntas. Por um lado, h aquelas igrejas que seguem a tradio calvinista

    que v o domingo como o sbado cristo, e assim para ser observado como

    um DIA SANTO de descanso e culto ao Senhor. Por outro lado, existem

    aquelas igrejas que seguem as tradies catlica e luterana que vem o

    domingo como diferente do sbado, e assim para ser observado

    primariamente como a hora semanal de culto.

    A atual crise da observncia do domingo tem despertado um renovado

    interesse pela questo da origem do domingo e sua relao para com o

    sbado. Dirigentes eclesisticos catlicos e protestantes esto

    profundamente preocupados com o alarmante declnio na freqncia

    igreja. Na Itlia, de onde procedo, estima-se que somente 5% dos catlicos

    assistem regularmente missa aos domingos. Cerca de 95% dos catlicos

    vo igreja trs vezes na vida: quando nascem, se casam e morrem [o autor

    usa e expresso cmica em ingls: when they are hatched, matched and dispatched--quando so chocados, acasalados e despachados]. A situao essencialmente a mesma na maioria dos pases ocidentais onde a

    assistncia igreja atinge menos de 10% da populao crist. A freqncia

    chocantemente baixa igreja vista pelos lderes eclesisticos como uma

    ameaa sobrevivncia no s de suas igrejas, mas do prprio cristianismo.

  • Do Sbado para o Domingo

    4

    4

    Afinal de contas, a essncia do cristianismo um relacionamento com

    Deus e se os cristos ignoram o Senhor no dia que eles consideram o Dia

    do Senhor, as chances so de que ignoraro o Senhor todos os dias da

    semana.

    Agudamente cientes das implicaes da crise da observncia dominical

    para o futuro das igrejas crists numerosos dirigentes eclesisticos e

    eruditos esto reexaminando a histria e teologia do domingo num esforo

    para promover mais eficazmente sua observncia. Como j feito notar, uma

    questo relevante abordada em recentes dissertaes, livros e artigos, o

    relacionamento entre o sbado e o domingo.

    Dois Pontos de Vista Concernentes Origem do Domingo

    Para declarar sumariamente, h dois principais pontos de vista hoje

    concernentes origem histrica do domingo e seu relacionamento com o

    sbado bblico. O ponto de vista antigo e tradicional, que pode ser

    identificado desde o cristianismo primitivo, sustenta que h uma

    descontinuidade radical entre o sbado e o domingo, e, conseqentemente,

    o domingo no o sbado. Os dois dias diferem em origem, significado e

    experincia. O ponto de vista mais recente, que articulado pelo prprio

    Papa Joo Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini, mantm que o

    domingo comeou como a incorporao e expresso plena do sbado e, conseqentemente, deve ser observado como um imperativo bblico, com

    suas razes no prprio mandamento do sbado.3

    Segundo o ponto de vista tradicional, que tem sido sustentado pela

    Igreja Catlica e aceito por aquelas denominaes protestantes que seguem

    a tradio luterana, o sbado foi uma instituio mosaica temporria dada

    aos judeus, ab-rogada por Cristo e, em conseqncia, no mais vigente

    hoje. Os cristos adotaram a observncia do domingo, no como uma

    continuao do sbado bblico, mas como uma nova instituio

    estabelecida pela Igreja para celebrar a Ressurreio por meio da

    celebrao da Santa Ceia.

    Essa posio tradicional tem sido mantida pela Igreja Catlica, que

    reivindica a responsabilidade por mudar o sbado para o domingo. Por

    exemplo, Toms de Aquino (1225-1274 AD), considerado o maior telogo

  • Do Sbado para o Domingo

    5

    5

    catlico que j viveu, declara explicitamente: A observncia do Dia do Senhor tomou o lugar da observncia do sbado, no por virtude do

    preceito [bblico] mas por instituio da Igreja.4 Tal ponto de vista tem sido reiterado ao longo dos sculos em catecismos catlicos oficiais onde

    uma declarao semelhante a esta geralmente encontrada: Observamos o domingo em lugar do sbado porque a Igreja Catlica, em virtude de sua

    autoridade, transferiu a solenidade do sbado para o domingo.5 Recentemente, contudo, tem surgido eruditos tanto catlicos quanto

    protestantes que argumentam por uma origem apostlica para a observncia

    do domingo. Segundo esses estudiosos, os prprios apstolos escolheram o

    primeiro dia da semana como o novo sbado cristo no prprio incio do

    cristianismo a fim de comemorar a ressurreio de Cristo.

    Essa opinio defendida em grande extenso pelo Papa Joo Paulo II

    em sua Carta Pastoral Dies Domini (O Dia do Senhor), que foi promulgada

    em 31 de maio de 1998. Nesse extenso documento (mais de 40 pginas) o

    Papa faz um ardente apelo para um reavivamento da observncia do

    domingo apelando ao imperativo moral do mandamento do sbado. Para o

    Papa, o domingo deve ser observado, no meramente como uma instituio

    estabelecida pela Igreja Catlica, mas como um imperativo moral do

    Declogo. A razo que o domingo supostamente se originou como a

    incorporao e plena expresso do sbado e, por conseqncia, deve ser observado como o sbado bblico.

    Joo Paulo se desvia da tradicional posio catlica presumivelmente

    porque deseja desafiar os cristos a respeitarem o domingo, no meramente

    como uma instituio da Igreja Catlica, mas como um mandamento

    divino. Ademais, por enraizar a guarda do domingo no mandamento do

    sbado, o Papa oferece as mais vigorosas razes morais para instar os

    cristos a assegurarem que a legislao civil respeite seu dever de manter o domingo santo.6

    As tentativas feitas pelo Papa e outros dirigentes eclesisticos para

    fundamentar a observncia do domingo no mandamento do sbado suscita

    esta importante indagao: Se se espera que os cristos observem o domingo como o sbado bblico, por que no deviam observar logo o

    sbado? O que havia de errado com o sbado bblico que careceu de ser mudado para o domingo? Aplicar o mandamento do sbado observncia

  • Do Sbado para o Domingo

    6

    6

    do primeiro dia da semana, o domingo, pode ser confuso, para dizer o

    mnimo, porque o quarto mandamento estabelece a observncia do stimo

    dia, no do primeiro dia. Essa confuso pode explicar por que muitos

    cristos no levam a srio a observncia do domingo.

    As Concluses de Minha Pesquisa

    Para encontrar uma resposta a estas perguntas quanto ao tempo, lugar,

    causas e conseqncias da mudana do sbado para o domingo no

    cristianismo primitivo, passei cinco anos na Pontifcia Universidade

    Gregoriana, de Roma, examinando os antigos documentos cristos para a

    minha dissertao doutoral. Os resultados de minha investigao foram

    publicados em minha tese From Sabbath to Sunday: A Historical

    Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity [Do

    Sbado para o Domingo: Uma Investigao Histrica do Surgimento da

    Observncia do Domingo no Cristianismo Primitivo]. A dissertao foi

    publicada em 1997 pela grfica da Universidade com o imprimatur catlico

    oficial. O Papa Paulo VI concedeu-me uma medalha de ouro por ter

    alcanado a distino acadmica mxima, summa cum laude, nessa

    pesquisa e no trabalho escolar. Neste artigo tentarei compartilhar alguns

    dos pontos altos de minha investigao.

    Para efeito de brevidade, permitam-me expor de incio a concluso da

    pesquisa. Objetivamente, minha anlise dos dados bblicos e histricos

    indica que a mudana do sbado para o domingo no se deu no princpio do

    cristianismo por autoridade de Cristo ou dos apstolos que supostamente

    escolheram o primeiro dia da semana como o novo sbado cristo para

    celebrar a ressurreio de Cristo. Antes, a mudana comeou cerca de um

    sculo aps a morte de Cristo durante o reinado do imperador romano

    Adriano (cerca de 135 AD), em resultado de uma interao de fatores

    polticos, sociais, pagos e religiosos. Essencialmente, foi a necessidade de

    evitar a repressiva legislao antijudaica promulgada em 135 AD pelo

    Imperador Adriano que levou o bispo de Roma a ser o pioneiro em mudar o

    sbado para o domingo, e a Pscoa para o domingo de Pscoa. Essas

    mudanas destinavam-se a mostrar a separao e diferenciao dos cristos

    para com os judeus numa poca em que as prticas religiosas judaicas eram

  • Do Sbado para o Domingo

    7

    7

    proibidas pelo governo romano.7

    As implicaes dessa concluso so que a mudana do sbado para o

    domingo no foi meramente uma alterao de nomes ou nmeros, mas uma

    mudana de significado, autoridade e experincia. Para ajud-los a ver

    como cheguei a esta concluso, eu os conduzirei a seguir passo a passo

    atravs das partes principais de minha pesquisa. Comeamos por examinar

    primeiro o suposto papel de Cristo, de Sua ressurreio e da igreja de

    Jerusalm na mudana do sbado para o domingo. Da prosseguiremos na

    considerao da influncia fundamental da igreja de Roma e a adorao do

    sol na adoo do domingo.

    JESUS E A ORIGEM DO DOMINGO

    Um ponto de vista popular defendido por vrios eruditos de que

    Cristo preparou o terreno para o abandono do sbado e adoo do domingo

    em seu lugar por Suas reivindicaes messinicas e Seu mtodo

    provocativo de observar o sbado, o que causou considervel controvrsia

    com os lderes religiosos de Seu tempo. Um exemplo digno de nota deste

    ponto de vista o simpsio From Sabbath to the Lords Day [Do Sbado Para o Dia do Senhor], produzido por sete eruditos americanos e britnicos

    e patrocinado pela Tyndale Fellowship for Biblical Research em

    Cambridge, Inglaterra.8 Os autores mantm que Cristo transcendeu a lei do

    sbado por suas reivindicaes messinicas. Ele agiu contra as tradies

    sabticas prevalecentes a fim de propiciar a Seus seguidores a liberdade de

    reinterpretar o sbado e escolher um novo dia de culto, mais bem adequado

    a expressar sua nova f crist.

    O problema fundamental com este ponto de vista popular que

    interpreta distorcidamente as controvertidas atividades e ensinos de Cristo

    no sbado que foram claramente designadas, no a anular, mas a esclarecer

    a inteno divina do quarto mandamento. Cristo agiu deliberadamente

    contra as falsas concepes prevalecentes a respeito do sbado, no para

    dar fim a sua observncia, mas para restaurar o propsito para o dia

    intencionado por Deus. Deve-se notar que toda vez que era acusado de

    violar o sbado, Cristo rejeitava e refutava tal acusao. Ele Se defendia e a

    Seus discpulos da acusao de quebrantarem o sbado apelando s

    Escrituras: No lestes . . . (Mat. 12:3-5).

  • Do Sbado para o Domingo

    8

    8

    A inteno dos ensinos e atividades provocantes de Cristo no sbado

    no era para preparar o caminho para o abandono do sbado e adoo da

    observncia do domingo, mas para revelar o verdadeiro significado e

    funo do sbado--um dia para fazer o bem (Mat. 12:12), para salvar vida (Mar. 3:4), para libertar pessoas de escravido espiritual e fsica (Lucas 13: 12,16), e para revelar misericrdia acima de religiosidade (Mat. 12:7). Um cuidadoso estudo desses pronunciamentos de Jesus sobre

    o sbado claramente demonstra que Jesus no tinha inteno de ab-rogar o

    sbado. Desejava era esclarecer o divino propsito do sbado--um dia para

    celebrar o amor redentor e criativo de Deus por oferecer um servio vivo e

    amorvel s pessoas necessitadas.

    A RESSURREIO E A ORIGEM DO DOMINGO

    Um ponto de vista comum entre observadores do domingo que este

    foi adotado pela igreja apostlica para comemorar a ressurreio de Cristo.

    O prprio Papa apela ressurreio e aparecimento de Jesus no domingo

    em sua Carta Pastoral Dies Domini a fim de argumentar pela origem

    apostlica do domingo. Numerosos eruditos catlicos e protestantes tm

    escrito em defesa do mesmo ponto de vista.

    Por exemplo, em sua dissertao doutoral Storia della Domenica

    [Histria do domingo], Corrado Mosna, um estudante jesuta da Pontifcia

    Universidade Gregoriana, que trabalhou sob a direo do Prof. Vincenzo

    Monachino, S. J., (o mesmo professor que monitorou minha dissertao)

    conclui: Portanto, podemos concluir com certeza que o evento da Ressurreio determinou a escolha do domingo como o novo dia de culto

    para a primeira comunidade crist.9 Em semelhante linha de pensamento o Cardeal Jean Danilou escreveu: O Dia do Senhor uma instituio crist; sua origem deve ser encontrada unicamente no fato da ressurreio de

    Cristo no dia seguinte ao sbado.10 A despeito de sua popularidade, a alegao de que a ressurreio de

    Cristo no primeiro dia da semana provocou a mudana do culto no sbado

    para o domingo carece de apoio tanto bblico quanto histrico. Um

    cuidadoso estudo de todas as referncias Ressurreio revela a

    incomparvel importncia do evento, mas no propicia qualquer indicao

  • Do Sbado para o Domingo

    9

    9

    com respeito a uma dia especial para comemor-lo. O Novo Testamento

    no atribui qualquer significado litrgico ao dia da ressurreio de Cristo

    simplesmente porque a Ressurreio foi vista como uma realidade

    existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do Salvador

    Ressurreto, no como uma prtica litrgica associada ao culto dominical.

    Permitam-me mencionar brevemente sete principais razes que

    desautorizam o suposto papel da ressurreio de Cristo na adoo da

    observncia dominical:

    (1) Nenhuma Ordem de Cristo ou dos Apstolos. No h

    mandamento de Cristo ou dos apstolos concernente a uma celebrao

    semanal ou anual da ressurreio de Cristo. Temos as ordens no Novo

    Testamento que dizem respeito ao batismo (Mat. 28:19-20), Ceia do

    Senhor (Mar. 14:24-25; 1 Cor. 11:23-26) e lava-ps (Joo 13:14-15), mas

    no h ordenana ou mesmo qualquer sugesto para celebrar a ressurreio

    de Cristo num domingo semanal ou num domingo de Pscoa anual.

    (2) Jesus No Fez Qualquer Tentativa de Instituir um Memorial de

    Sua Ressurreio. Se Jesus desejasse que o dia da Ressurreio se

    tornasse um dia memorial e de culto, Ele teria Se aproveitado do dia em

    que se ergueu da tumba para estabelecer tal memorial. importante

    observar que as instituies divinas como o sbado, batismo, Santa Ceia,

    todas remontam sua origem a um ato divino que os estabeleceu. Mas sobre

    o dia da Ressurreio Cristo no realizou qualquer ato para instituir um

    memorial que a celebrasse.

    Se Jesus desejasse memorializar o dia de Sua ressurreio, muito

    provavelmente teria dito s mulheres e discpulos quando ressurgiu: Vinde parte e celebremos Minha Ressurreio! Em vez disso Ele disse s mulheres: Ide avisar a meus irmos que se dirijam Galilia (Mat. 28:10) e aos discpulos: Ide. . . fazei discpulos . . . batizando-os (Mat. 28:19). Nenhuma dessas declaraes do Salvador ressurreto revela inteno

    de memorializar a Ressurreio por tornar o domingo o novo dia de

    descanso e culto.

    A razo que nosso Salvador desejava que Seus seguidores vissem a

    Ressurreio como uma realidade existencial a ser experimentada

    diariamente pelo viver vitorioso mediante o poder de Sua ressurreio,

  • Do Sbado para o Domingo

    10

    10

    antes que por um evento litrgico/religioso a ser celebrado no domingo.

    Paulo expressa a esperana de conhecer o poder da sua ressurreio (Fil. 3:10), mas ele nunca menciona o seu desejo de celebrar a ressurreio de

    Cristo no domingo ou no domingo de Pscoa.

    (3) O Domingo Nunca Chamado Dia da Ressurreio. O domingo nunca chamado no Novo Testamento de Dia da Ressurreio. coerentemente designado de primeiro dia da semana. As referncias ao domingo como dia da ressurreio primeiro aparecem na primeira parte do

    quarto sculo, especificamente nos escritos de Eusbio de Cesaria. Por

    esse tempo o domingo havia se tornado associado com a Ressurreio e

    conseqentemente foi referido como Dia da Ressurreio. Mas este fato histrico ocorreu vrios sculos aps o comeo do cristianismo.

    (4) O Domingo-Ressurreio Pressupe Trabalho, No Repouso ou

    Adorao. O domingo-ressurreio pressupe trabalho, antes que descanso

    e culto, porque no assinala o trmino do ministrio terreno de Cristo, que

    findou numa sexta-feira tarde quando o Salvador declarou: Est consumado (Joo 19:30), e da descansou na tumba segundo o mandamento. Em vez disso, a Ressurreio assinala o incio do novo

    ministrio intercessrio de Cristo (Atos 1:8; 2:33), o qual, semelhana do

    primeiro dia da criao, pressupe trabalho, e no descanso.

    (5) A Ceia do Senhor No Foi Celebrada no Domingo em Honra da

    Ressurreio. Em sua dissertao Sunday: The History of the Day of Rest

    and Worship in the Earliest Centuries of the Christian Church [Domingo:

    A Histria do Dia de Repouso e Adorao Nos Primeiros Sculos da Igreja

    Crist] Willy Rordorf argumenta que o domingo se tornou o Dia do Senhor

    porque esse foi o dia em que a Ceia do Senhor era celebrada.11

    Este ponto

    de vista carece de suporte bblico e histrico. Historicamente sabemos que

    os cristos no podiam celebrar a Ceia do Senhor numa base regular aos

    domingos noite porque tais reunies eram proibidas pela lei romana da

    hetariae--que impedia todos os tipos de refeies comunitrias noite. O

    governo romano temia que tais reunies noturnas se tornassem ocasies

    para tramas polticas.

  • Do Sbado para o Domingo

    11

    11

    A fim de evitar as batidas da polcia romana, os cristos alteravam

    regularmente o tempo e lugar da celebrao da Ceia do Senhor. Finalmente,

    mudaram o servio sagrado da noite para a manh. Isso explica por que

    Paulo to especfico quanto ao modo de celebrar a Santa Ceia, mas vago

    quanto questo do tempo da assemblia. Notem que quatro vezes ele

    repete a mesma frase: quando vos reunis (1 Cor. 11:18, 20, 33, 34). Esta linguagem deixa implcito tempo indefinido, mais provavelmente porque

    no havia um dia institudo para a celebrao da Santa Ceia.

    Se, como alguns eruditos pretendem, a Ceia do Senhor era celebrada

    no domingo noite, como parte do culto do Dia do Senhor, Paulo

    dificilmente teria deixado de mencionar o carter sagrado do tempo em que

    se reuniam. Isso fortaleceria o seu apelo para uma atitude de mais

    reverncia durante a participao na Ceia do Senhor. A falha de Paulo em

    mencionar o domingo como o tempo da reunio ou o uso do adjetivo do Senhor-kuriak para caracterizar o dia como dia do Senhor (como ele fez com referncia Ceia do Senhor), demonstra que o apstolo no

    atribua qualquer significao religiosa ao domingo.

    (6) A Ceia do Senhor Comemora o Sacrifcio de Cristo, No Sua

    Ressurreio. Muitos cristos hoje consideram a Santa Ceia como o centro

    de seu culto dominical em honra Ressurreio. Mas na igreja apostlica, a

    Santa Ceia no era celebrada no domingo, como acabamos de ver, e no se

    relacionava com a Ressurreio. Paulo, por exemplo, que alega transmitir o

    que recebeu do Senhor (1 Cor. 11:23), explicitamente declara que o rito comemorava, no a ressurreio de Cristo, mas Seu sacrifcio e Segunda

    Vinda (anunciais a morte do Senhor at que Ele venha--1 Cor. 11:26). Semelhantemente, a Pscoa, celebrada hoje por muitos cristos no

    Domingo de Pscoa, era observado durante os tempos apostlicos, no no

    domingo para comemorar a Ressurreio, mas segundo a data bblica de 14

    de Nis, primariamente como um memorial do sofrimento e morte de

    Cristo. Contrariamente ao que muita gente pensa, o domingo de Pscoa era

    desconhecido da igreja apostlica. Foi introduzido e promovido pela Igreja

    de Roma no segundo sculo a fim de mostrar separao e diferenciao da

    Pscoa judaica. O resultado foi a bem-conhecida controvrsia sobre a data

    da Pscoa que finalmente levou o bispo Vtor de Roma a excomungar os

  • Do Sbado para o Domingo

    12

    12

    cristos asiticos (cerca de 191 AD) por recusarem adotar o domingo de

    Pscoa. Essas indicaes mostram que a ressurreio de Cristo no primeiro

    dia da semana no influenciou a igreja apostlica a adotar o domingo

    semanal e a Pscoa anual para celebrar tal evento.

    (7) A Ressurreio No a Razo Dominante Para a Observncia

    do Domingo nos Documentos Mais Antigos. As mais antigas referncias

    explcitas observncia do domingo se encontram nos escritos de Barnab

    (cerca de 135 AD) e Justino Mrtir (cerca de 150 AD). Ambos esses

    autores de fato mencionam a Ressurreio, mas somente como a segunda

    de duas razes, importante, mas no predominante. A primeira motivao

    teolgica de Barnab para a guarda do domingo escatolgica, ou seja, o

    fato de que o domingo o oitavo dia e representaria o incio de outro mundo.12 A noo de que o domingo era o oitavo dia foi mais tarde abandonada porque no faz sentido falar em oitavo dia numa semana de sete dias. A primeira razo de Justino para a assemblia dos cristos no

    Dies Solis-o dia do sol, a inaugurao da criao: Domingo o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas em matria prima, criou o

    mundo.13 Essas razes foram finalmente abandonadas em favor da Ressurreio que se tornou a razo primria para a observncia do

    domingo.

    As sete razes dadas acima so suficientes para desacreditar a alegao

    de que a ressurreio de Cristo no primeiro dia da semana causou o

    abandono do sbado e a adoo do domingo. A verdade que inicialmente

    a Ressurreio era celebrada existencialmente, antes que liturgicamente, ou

    seja, por uma maneira vitoriosa de vida, no mediante um dia especial de

    adorao.

    JERUSALM E A ORIGEM DO DOMINGO

    Intimamente relacionada com o suposto papel da Ressurreio ocorre a

    opinio popular de que a igreja em Jerusalm foi a pioneira em abandonar o

    sbado para adotar o domingo. Dediquei o captulo 5--Jerusalm e a Origem do Domingo--de minha dissertao a uma detida anlise desse ponto de vista. Minha investigao revela que esta viso popular repousa

  • Do Sbado para o Domingo

    13

    13

    sobre trs principais pressupostos equivocados:

    O Domingo Comeou em Jerusalm Porque Ali Foi Onde Cristo

    Ressuscitou

    Primeiramente, presume-se que Jerusalm deve ser o bero da

    observncia do domingo, porque foi o lugar onde Jesus ergueu-Se dos

    mortos no primeiro dia da semana. Alega-se que imediatamente aps a

    ressurreio de Cristo, os apstolos no mais se sentiam vontade no culto sabtico judaico14 e conseqentemente passaram a instituir o culto dominical a fim de comemorar a ressurreio de Cristo por uma liturgia

    crist distinta.

    Como j demonstramos, esse pressuposto carece de suporte bblico e

    histrico porque na igreja apostlica a Ressurreio era vista como uma

    realidade existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do

    Salvador Ressurreto, e no uma prtica litrgica associada com o culto do

    domingo. Fizemos notar anteriormente que nada no Novo Testamento

    prescreve ou mesmo sugere a comemorao da ressurreio de Jesus no

    domingo. O prprio nome Dia da Ressurreio no aparece na literatura crist at o princpio do quarto sculo.

    Se a primitiva igreja de Jerusalm foi pioneira e promovia a guarda do

    domingo por no mais sentir-se vontade com a observncia do sbado

    judaico, seria natural esperar encontrar em tal igreja uma ruptura imediata

    das tradies e culto religiosos judaicos. Contudo, o que se deu foi

    exatamente o oposto disso. Tanto o livro de Atos dos Apstolos quanto

    vrios documentos judaico-cristos claramente revelam que a composio

    tnica e orientao teolgica da igreja de Jerusalm eram profundamente

    judaicas. Lucas caracteriza a igreja de Jerusalm como composta por

    cristos zelosos pela lei (Atos 21:20). Esta uma precisa descrio que dificilmente permite ver o abandono de um dos principais preceitos da lei,

    qual seja, o sbado, to firmemente observado pelos judeus, de modo at

    exagerado, o que levou Cristo a intervir para corrigir as distores

    aplicadas ao mandamento (ver Mateus 12:12).

    Paulo Aprendeu Sobre a Observncia do Domingo de Dirigentes

  • Do Sbado para o Domingo

    14

    14

    Judaicos

    O segundo pressuposto equivocado que Paulo aprendeu sobre a

    observncia do domingo dos lderes apostlicos da igreja de Jerusalm e

    ensinou-o a seus conversos gentios. A razo dada para esse pressuposto

    que Paulo dificilmente poderia ter sido pioneiro do abandono do sbado e

    adoo do domingo sem suscitar a oposio de seus irmos judeus. A

    ausncia de qualquer eco de controvrsia interpretada como significando

    que Paulo aceitou a observncia do domingo como ensinada a ele pelos

    irmos judeus, e promoveu essa prtica entre as igrejas gentias que

    estabeleceu.

    Em seu livro The Lords Day [O dia do senhor], Paul Jewett observa, por exemplo: Se Paulo tivesse introduzido o culto dominical entre os gentios, parece provvel que a oposio judaica teria acusado a sua

    temeridade em pr de lado a lei do sbado, como foi o caso com referncia

    ao rito da circunciso (Atos 21:21). A ausncia de tal oposio interpretada por Jewett como indicativo de que Paulo aceitou e promoveu a

    observncia do domingo como ensinada a ele pelos irmos judaicos.15

    Esse pressuposto est correto em manter que Paulo no poderia ter sido

    o pioneiro da observncia do domingo sem suscitar a oposio dos irmos

    judeus, mas est incorreto em sugerir que os irmos judeus ensinaram a

    Paulo a observncia do domingo. A verdade que os cristos judeus, como

    veremos agora, eram profundamente comprometidos com a observncia da

    lei em geral e do sbado em particular. A ausncia de qualquer controvrsia

    entre Paulo e os irmos judeus indica, muito mais, que o sbado nunca se

    tornou uma disputa na igreja apostlica porque era fielmente observado por

    todos os cristos.

    Somente a Apostlica Igreja de Jerusalm Poderia Mudar o

    Sbado para o Domingo

    O terceiro pressuposto equivocado de que somente a igreja de

    Jerusalm, que foi a igreja-me da cristandade, teria reunido autoridade e

    respeito suficientes para persuadir todas as igrejas crists espalhadas por

    todo o Imprio Romano para mudar seu dia semanal de culto do sbado

  • Do Sbado para o Domingo

    15

    15

    para o domingo. Igrejas menos influentes nunca poderiam ter realizado essa

    mudana.

    O problema fundamental com esse pressuposto no reconhecer a

    composio judaica e orientao teolgica da igreja de Jerusalm. De todas

    as igrejas crists, a de Jerusalm era a nica que se compunha quase

    exclusivamente de judeus cristos que eram zelosos na observncia da lei

    em geral, e do sbado em particular.

    Apego lei. O apego da igreja de Jerusalm lei mosaica refletida

    nas decises do primeiro conclio de Jerusalm realizado entre 49-50 AD

    (ver Atos 15). A iseno da circunciso foi concedida somente aos irmos dentre os gentios (Atos 15:23). Nenhuma concesso feita para os cristos judeus, que deviam continuar a circuncidar os seus filhos.

    Ademais, a iseno dos gentios da prtica da circunciso no

    subentende que estavam livres da observncia da lei em geral, e do sbado

    em particular. Isto claramente indicado pelo fato de que se esperava que

    os gentios observassem as quatro leis mosaicas com respeito ao

    forasteiro que habitasse entre os israelitas. Essas leis se acham em Levtico 17 e 18 e so citadas na deciso do Conclio de Jerusalm: Que vos abstenhais das cousas sacrificadas a dolos, bem como do sangue, da

    carne de animais sufocados e das relaes sexuais ilcitas (Atos 15:29). Essa preocupao do Concilio de Jerusalm quanto contaminao ritual e

    leis alimentares reflete seu contnuo apego s leis mosaicas.

    Esta concluso apoiada pela razo dada por Tiago ao requerer que os

    gentios observassem as quatro leis mosaicas concernentes aos forasteiros. Porque Moiss tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde lido todos os sbados (Atos 15:21). Todos os intrpretes reconhecem que tanto em sua proposta quanto em sua

    justificativa, Tiago reafirma a natureza vigente da lei mosaica que era

    costumeiramente ensinada cada sbado na sinagoga.

    A ltima Visita de Paulo. Luz adicional propiciada pela ltima

    visita de Paulo a Jerusalm. O apstolo foi informado por Tiago e pelos

    ancios que milhares de judeus conversos eram todos zelosos pela lei (Atos 21:20). Os mesmos lderes ento pressionaram Paulo a provar s

  • Do Sbado para o Domingo

    16

    16

    pessoas que ele tambm vivia em observncia da lei (Atos 21-24), submetendo-se a um rito de purificao no Templo. luz desse profundo

    compromisso observncia da lei, dificilmente se poderia conceber que a

    igreja de Jerusalm tivesse ab-rogado um de seus principais preceitos--a

    guarda do sbado--e foi pioneira na observncia do domingo para substituir

    o sbado.

    Acaso o Domingo se Originou na Palestina Aps 70 AD?

    As evidncias acima expostas levaram alguns eruditos a argumentar

    que a observncia do domingo comeou na Palestina em tempo

    ligeiramente posterior, ou seja, aps a destruio romana do Templo em 70

    AD. Presumem que a fuga dos cristos de Jerusalm para Pela, bem como o

    impacto psicolgico da destruio do Templo, afastou os cristos dos

    regulamentos judaicos tais como a guarda do sbado.

    Esse pressuposto desacreditado pelos testemunhos tanto de Eusbio

    quanto de Epifnio que nos informam que a igreja de Jerusalm aps 70

    AD e at o cerco de Jerusalm por Adriano, em 135 AD, era composta e

    administrada por conversos judeus, os quais se caracterizavam como

    zelosos para insistirem na observncia literal da lei.16 A continuao da observncia do sbado entre os cristos palestinos,

    conhecidos como nazarenos, evidenciada pelo testemunho de um

    historiador palestino do quarto sculo, Epifnio. Ele nos conta que os

    nazarenos, descendentes diretos da comunidade primitiva de Jerusalm, insistiam e persistiam na observncia da guarda do sbado do stimo dia

    at seu prprio tempo, ou seja, cerca de 350 AD.17

    Eu me recordo

    vividamente da alegria que senti quando dei com este testemunho de

    Epifnio. Ansiosamente mostrei este documento a meu professor jesuta,

    Vincenzo Monachino, que o leu detidamente, e da exclamou: Este o golpe de morte na teoria que faz de Jerusalm o bero da observncia do

    domingo. Meu professor de imediato entendeu que se os descendentes diretos da

    igreja de Jerusalm persistiram na observncia do sbado at pelo menos o

    quarto sculo, ento a igreja de Jerusalm dificilmente poderia ter sido

    pioneira no abandono do sbado e adoo do domingo durante o tempo

  • Do Sbado para o Domingo

    17

    17

    apostlico. De todas as igrejas crists, a igreja de Jerusalm era tanto tnica

    como teologicamente a mais prxima e a mais leal s tradies judaicas, e

    destarte a que teria menor probabilidade de mudar o dia do sbado.

    ROMA E A ORIGEM DO DOMINGO

    Tendo provado para satisfao de meu professor que a igreja de

    Jerusalm devia ser excluda como tendo sido o local de origem da

    observncia dominical, prossegui considerando a igreja que maior

    probabilidade poderia ter iniciado a referida mudana. No decurso de

    minha investigao descobri evidncias cumulativas apontando igreja de

    Roma. Foi nessa igreja que encontrei as condies sociais, religiosas e

    polticas que tornaram conveniente ao bispo de Roma promover o

    abandono da observncia do sbado e a adoo do culto dominical, em seu

    lugar.

    (1) Predomnio dos Conversos Gentios. Em primeiro lugar, a igreja

    de Roma era composta predominantemente de conversos gentios. Paulo em

    sua epstola igreja de Roma afirma explicitamente: Dirijo-me a vs outros que sois gentios (Romanos 11:13). Isto significa que enquanto a igreja de Jerusalm era composta quase exclusivamente de cristos judeus

    que estavam profundamente comprometidos com suas tradies religiosas,

    como a observncia do sbado, a igreja de Roma compunha-se sobretudo

    de conversos gentios que foram influenciados por prticas pags tais como

    a adorao do sol, com o seu dia do sol.

    (2) A Diferenciao Inicial Com Relao aos Judeus. Em segundo

    lugar, descobri que a membresia predominantemente gentlica

    aparentemente contribuiu para uma diferenciao bem cedo dos cristos

    com relao aos judeus em Roma. Isso indicado pelo fato de que em 65

    AD Nero culpou os cristos pela queima de Roma, conquanto o distrito

    judaico de Trastevere no houvesse sido tocado pelo fogo. Este fato sugere

    que por 65 AD os cristos em Roma no mais eram percebidos como uma

    seita judaica pelas autoridades romanas, mas como um movimento

    religioso distinto. Muito provavelmente a razo disso que por essa poca

  • Do Sbado para o Domingo

    18

    18

    os cristos de Roma no mais participavam nos cultos da sinagoga. Este

    no era o caso na Palestina onde os cristos freqentavam os servios da

    sinagoga at o fim do primeiro sculo, o que se evidencia pelo fato de que a

    fim de manter os cristos longe dos cultos na sinagoga, as autoridades

    rabnicas introduziram pelo ano 90 AD a maldio aos cristos a ser

    recitada durante o servio religioso.

    (3) Preeminncia da Igreja de Roma. Uma terceira e importante

    considerao a autoridade preeminente (potentior principalitas) exercida pelo bispo de Roma aps a destruio de Jerusalm em 70 AD.

    Sendo o bispo da capital do Imprio Romano, o bispo de Roma assumiu a

    liderana da comunidade crist em geral. Sua liderana reconhecida, por

    exemplo, por Incio, Policarpo, Irineu, todos os quais viveram no segundo

    sculo. Provas tangveis da liderana do bispo de Roma so suas

    intervenes contra movimentos sectrios como o marcionismo e o

    montanismo.

    Mais importante ainda para nossa investigao o papel do bispo de

    Roma em dar incio e promover a mudana do festival do sbado para o

    jejum do sbado, bem como a mudana da data da Pscoa para o domingo

    de Pscoa. Retornaremos brevemente a este ponto. A estas alturas

    suficiente fazer observar que o bispo de Roma emergiu posio de

    liderana aps a destruio de Jerusalm em 70 AD. Ele era o nico que

    reunia suficiente autoridade para influenciar a maioria dos cristos a adotar

    novas observncias religiosas, tal como o domingo semanal e o domingo de

    Pscoa anual.18

    (4) Medidas Antijudaicas repressivas. Para apreciar por que o bispo

    de Roma estaria na vanguarda do abandono do sbado e adoo do

    domingo importante considerar um quarto importante fator, qual seja, as

    medidas repressivas de carter fiscal, militar, poltico e religioso impostos

    pelos romanos sobre os judeus, a comear com a Primeira Revolta Judaica

    contra Roma em 66 AD e culminando com a Segunda Revolta Judaica em

    135 AD. Essas medidas, que foram introduzidas pelo governo romano para

    punir os judeus em vista de suas violentas rebelies em vrios lugares do

    Imprio, foram especialmente sentidas na cidade de Roma, que tinha uma

  • Do Sbado para o Domingo

    19

    19

    vasta populao judaica.

    Fiscalmente, os judeus eram sujeitos a um imposto discriminatrio (o

    fiscus judaicus), introduzido por Vespasiano e aumentado primeiro por

    Domiciano (81-96 AD), depois por Adriano. Significava que os judeus

    tinham de pagar um imposto meramente por serem judeus. Militarmente,

    Vespasiano e Tito esmagaram a Primeira Revolta judaica (66-70 AD) e

    Adriano, a Segunda Revolta Judaica (132-135 AD). Religiosamente,

    Vespasiano (69-79 AD) aboliu o Sindrio e o ofcio do Sumo Sacerdote.

    Essas medidas repressivas contra os judeus foram sentidas

    intensamente em Roma, que tinha uma grande populao judaica. De fato,

    a crescente hostilidade da populao romana contra os judeus forou o

    Imperador Tito, conquanto a contragosto (invitus), a pedir judia Berenice, irm de Herodes, a jovem, com quem desejava se casar, a deixar

    Roma.

    (5) Propaganda Antijudaica. Um quinto e significativo fator a

    propaganda antijudaica por um bom nmero de autores romanos que

    comearam a depreciar os judeus racial e culturalmente, zombando

    especialmente da guarda do sbado e da circunciso como superties

    judaicas degradantes. Esses autores faziam pouco especialmente da guarda

    do sbado como exemplo da preguia dos judeus. Literatura antijudaica

    zombadora pode ser encontrada nos escritos de Sneca (65 AD), Prsio

    (34-62 AD), Petrnio (ca. 66 AD), Quintiliano (ca. 35-100 AD), Marcial

    (ca. 40-104 AD), Plutarco (ca.46-119 AD), Juvenal (125 AD) e Tcito (ca.

    55-120 AD), todos eles residentes de Roma na maior parte de suas vidas

    profissionais.

    (6) A Legislao de Adriano. O sexto e mais decisivo fator que

    influenciou a mudana do dia de culto do sbado para o domingo a

    legislao antijudaica e anti-sabtica promulgada pelo Imperador Adriano

    em 135 AD. Adriano chegou ao ponto de tornar fora da lei a prtica da

    religio judaica em geral, e da observncia do sbado em particular em 135

    AD.

    Essa legislao antijudaica repressiva foi promulgada por Adriano

    aps trs anos de luta sangrenta (132-135 AD) para esmagar a revolta

  • Do Sbado para o Domingo

    20

    20

    judaica. Suas legies romanas sofreram muitas perdas. Quando o

    Imperador finalmente capturou Jerusalm, ele decidiu tratar do problema

    judaica de modo radical. Matou milhares de judeus e levou milhares deles

    como escravos para Roma. Tornou Jerusalm uma colnia romana qual

    chamou Aelia Capitolina. Ele proibiu os judeus e os cristos judeus de

    jamais entrarem na cidade. Mais importante ainda para nossa investigao

    que Adriano baniu a prtica da religio judaica em geral, e do sbado em

    particular por todo o Imprio.

    No de surpreender que os judeus considerem a Adriano e Hitler

    como os dos homens mais odiados de sua histria. Ambos compartilham a

    infame distino de desejarem erradicar a religio judaica e o povo judeu.

    Adriano tentou abolir o judasmo como religio e Hitler tentou liquidar os

    judeus como um povo.

    Quando aprendi a respeito da legislao antijudaica e anti-sabtica de

    Adriano, indaguei-me: Como os cristos, especialmente os que viviam em

    Roma sob a ateno imediata do Imperador, reagiram a tal legislao?

    Preferiram permanecer fiis a sua observncia do sbado, mesmo se

    significasse serem punidos como judeus, ou abandonaram a guarda do

    sbado a fim de deixar claro s autoridades romanas sua separao e

    diferenciao dos judeus? A resposta simples: Muitos cristos mudaram o

    tempo e maneira de observncia de duas instituies associadas com o

    judasmo, ou seja, o sbado e o domingo de Pscoa. Em breve reveremos

    que o sbado foi alterado para o domingo e a Pscoa para o Domingo de

    Pscoa a fim de evitar qualquer semelhana com o judasmo.

    (7) A Teologia Crist de Desprezo Pelos Judeus. Para entender o que

    contribuiu para essas mudanas histricas, precisamos mencionar um

    stimo importante fator, qual seja, o desenvolvimento de uma teologia

    crist de desprezo pelos judeus. Isto o que se passou: quando a religio

    judaica em geral, e o sbado em particular, foram postos fora da lei pelo

    governo romano e passou a ser objeto de zombaria de escritores romanos,

    todo um conjunto de literatura crist chamada Adversus Judaeos (contra os

    judeus) comeou a aparecer. Seguindo o caminho dos autores romanos,

    autores cristos desenvolveram uma teologia crist de separao dos judeus e desprezo por eles. Costumes caractersticos dos judeus como a

  • Do Sbado para o Domingo

    21

    21

    circunciso e a guarda do sbado foram proclamados como sinais da

    depravao judaica.

    A condenao da guarda do sbado como sinal de impiedade judaica

    contribuiu para a adoo da observncia do domingo a fim de esclarecer s

    autoridades romanas a separao dos cristos do judasmo e identificao

    com o paganismo romano. Essa mudana histrica do sbado para a

    observncia do domingo foi iniciada pela igreja de Roma--

    predominantemente gentlica que, como feito notar antes, assumiu a

    liderana das comunidades crists aps a destruio de Jerusalm em 70

    AD. Para apreciar como a igreja de Roma se empenhou em afastar os

    cristos da observncia sabtica e incentivar o culto aos domingos

    mencionaremos brevemente as medidas teolgicas, sociais e litrgicas

    tomadas pela igreja de Roma.

    Medidas Tomadas Pela Igreja de Roma

    Teologicamente o sbado foi reduzido de uma instituio criacional

    estabelecida por Deus para a humanidade para uma instituio dada

    exclusivamente aos judeus como marca registrada de sua depravao.

    Justino Mrtir, por exemplo, um lder da igreja de Roma, que escreveu pela

    metade do segundo sculo, alega em seu Dilogo com Trifo, que a

    observncia do sbado era uma ordenana mosaica temporria que Deus

    imps exclusivamente aos judeus como uma marca para separ-los para punio de que tanto merecem por suas infidelidades.

    difcil compreender como lderes da igreja como Justino, que se

    tornou um mrtir da f crist, pudesse rejeitar o sentido bblico do sbado

    como um sinal do compromisso de um concerto com Deus (xo. 31:16, 17;

    Eze. 20:12, 20), e reduzi-lo, em vez disso, a um sinal da depravao

    judaica. O que ainda mais difcil de aceitar a ausncia de qualquer

    condenao erudita a tal absurdo e teologia embaraosa de desprezo pelos

    judeus--uma teologia que patentemente interpreta errado instituies

    bblicas como o sbado, a fim de dar sano bblica represso poltica aos

    judeus.

    A triste lio da histria que o desejo de ser politicamente correto

    por apoiar polticas populares imorais tais como o extermnio dos judeus,

  • Do Sbado para o Domingo

    22

    22

    muulmanos e herticos, ou a perpetrao da escravido, tem levado alguns

    dirigentes eclesisticos e especialistas bblicos a se tornarem biblicamente

    incorretos. Eles criaram teologias antibblicas que sancionam prticas

    imorais. impossvel estimar o dano causado por tais teologias de

    convenincia nossa sociedade e ao cristianismo em geral.

    Por exemplo, a falha dos lderes eclesisticos e eruditos de se

    desculparem pela teologia de desprezo para com os judeus tem contribudo,

    entre outras coisas, para dar origem popular teologia dispensacionalista.

    Essa teologia, acatada por muitas igrejas evanglicas hoje, ensina, entre

    outras coisas, que Deus arrebatar a igreja secreta e subitamente, antes de

    derramar Sua ira sobre os judeus durante os sete anos finais da Tribulao.

    A popularidade do livro e filme Deixado Para Trs, que est tomando a

    Amrica do Norte de roldo, uma prova tangvel de quo difundidos este

    ensino enganoso se apresenta hoje em dia.

    Socialmente, a reinterpretao negativa do sbado como um sinal da

    iniqidade judaica levou a igreja de Roma a transformar a observncia do

    sbado de um dia de celebrao e regozijo em um dia de jejum e tristeza. O

    propsito do jejum no sbado no era para incentivar a observncia

    espiritual do sbado, antes, como enfaticamente declarado na decretal do

    Papa Silvestre (314-335 AD), o jejum do sbado foi designado para

    mostrar desprezo pelos judeus(exsecratione Judaeorum) e por sua celebrao de seu sbado (destructione ciborum). A tristeza e fome

    resultantes do jejum capacitariam os cristos a evitarem parecer que observavam o sbado com os judeus e os encorajariam a entrar mais ansiosa e alegremente na observncia do domingo.

    O jejum semanal aos sbados desenvolveu-se como uma extenso ou

    correspondente ao jejum do sbado santo da estao de Pscoa. Esse era o

    dia em que todos os cristos que adotaram o Domingo de Pscoa Romano

    jejuavam. O jejum do santo sbado de Pscoa, semelhana do jejum

    sabtico, destinava-se a expressar no s tristeza pela morte de Cristo, mas

    tambm desprezo pelos judeus que eram considerados os perpetradores de

    Sua morte. Por exemplo, um documento do terceiro sculo conhecido como

    Didascalia Apostolorum (Os ensinos dos apstolos--ca. 250 AD) insta os

    cristos a jejuarem na sexta-feira de Pscoa e no sbado por conta da

  • Do Sbado para o Domingo

    23

    23

    desobedincia de nossos irmos [isto , os judeus] . . . por que nele o povo

    matou-se a si mesmo crucificando o nosso Salvador. A maioria dos eruditos concorda que a igreja de Roma foi responsvel

    por repudiar o tempo bblico da Pscoa (14 de Nis) e promover, em seu

    lugar, o domingo de Pscoa. A mudana da Pscoa para o Domingo de

    Pscoa foi introduzida pela igreja de Roma na ltima parte do segundo

    sculo a fim de evitar, como o Prof. Lightfoot expe, at mesmo a semelhana de judasmo.19 A motivao antijudaica para o repdio da data bblica da Pscoa claramente expressa por Constantino em sua carta aos

    bispos cristos no Conclio de Nicia (325 AD). Nessa carta conciliar, o

    Imperador insta todos os cristos a seguirem o exemplo da igreja de Roma

    em adotar o domingo de Pscoa porque, escreveu ele, no devemos ter nada em comum com os judeus, pois o Salvador nos mostrou outro

    caminho . . . Ao unanimemente adotarmos esta maneira [ou seja, o

    domingo de Pscoa] desejamos, queridos irmos, separar-nos da detestvel

    companhia dos judeus. Esta carta do Conclio de Nicia representa a culminao de uma controvrsia iniciada dois sculos antes que se

    centralizou em Roma.20

    As mesmas motivaes antijudaicas que causaram a mudana da

    Pscoa do domingo de Pscoa tambm so responsveis pela substituio

    da guarda do sbado pela guarda do domingo. Esta concluso apoiada no

    s no fato de que o sbado judaico compartilhava a mesma condenao

    antijudaica quanto Pscoa judaica, mas tambm pela ntima ligao entre

    a observncia do jejum anual do sbado de Pscoa, que era seguido pelo

    regozijo do domingo de Pscoa, e a observncia de seu correspondente

    semanal, o jejum do sbado, seguido pelo regozijo do domingo. A unidade

    bsica entre essas observncias anuais e semanais explicitamente

    afirmada pelos Pais, e sugere adicionalmente uma origem comum na igreja

    de Roma ao mesmo tempo e devido a causas semelhantes.

    Deve-se notar que a tentativa do Papa em desfazer o brilho do sbado

    por tornar o dia um tempo de rigoroso jejum no foi recebida

    favoravelmente por todas as igrejas. As igrejas orientais, por exemplo,

    resistiram em adotar o jejum do sbado, bem como o domingo de Pscoa.

    De fato, sua resistncia a essas prticas finalmente contribuiu para a ruptura

    histrica em 1054 entre a Igreja Catlica Romana e a Igreja Ortodoxa

  • Do Sbado para o Domingo

    24

    24

    Grega.

    Liturgicamente, a igreja de Roma decretou que nenhuma assemblia

    religiosa nem celebraes eucarsticas se realizassem no sbado. Por

    exemplo, o Papa Inocncio I (402-417 AD) declarou que como a tradio da Igreja mantm, nesses dois dias [sexta-feira e sbado] no se deve

    celebrar absolutamente os sacramentos. Dois historiadores eclesisticos contemporneos, Scrates e Sozomen, confirmam tal decreto. Sozomen

    (ca. de 400 AD) nos diz que enquanto o povo de Constantinopla, e quase por toda parte, se renem no sbado, bem como no primeiro dia da semana,

    tal costume nunca observado em Roma e Alexandria.21 Em suma, as evidncias histricas acima aludidas indicam que a igreja

    de Roma empregou medidas teolgicas, sociais e litrgicas para esvaziar o

    sbado de qualquer significado religioso e promover a observncia do

    domingo em seu lugar.

    O CULTO AO SOL E A ORIGEM DO DOMINGO

    A discusso precedente focaliza-se sobre a interao de fatores sociais,

    polticos e religiosos que contriburam para o abandono do sbado. A

    questo que ainda permanece irrespondida : por que o domingo foi

    escolhido para mostrar separao e diferenciao dos judeus? Por que os

    cristos no adotaram outro dia como a sexta-feira para celebrar o sacrifcio

    expiatrio por nossa redeno?

    Adorao do Sol e o Domingo. A resposta a essas perguntas deve ser

    encontrada especialmente na influncia do culto ao sol com seu dia do sol

    que se tornou dominante em Roma e em outras partes do Imprio desde a primeira parte do sculo II AD. O deus sol-invencvel tornou-se o principal deus do panteo romano e era adorado especialmente no dies

    solis, que o dia do sol, conhecido no calendrio em ingls como Sunday (tambm em alemo, Sonntag), no sentido de dia do sol.

    Para entender como o Dia do Sol tornou-se o primeiro e mais

    importante dia da semana romana importante observar que os romanos

  • Do Sbado para o Domingo

    25

    25

    adotaram a semana de sete dias dos judeus pouco antes do incio do

    cristianismo. Todavia, em lugar de enumerarem os dias semelhana dos

    judeus, os romanos escolheram o nome dos dias da semana segundo os sete

    planetas, que cultuavam como deuses.

    O que surpreendente, porm, que inicialmente os romanos fizeram

    do Dies Saturni (o dia de saturno) o primeiro dia da semana, seguido do

    Dies Solis (dia do sol), que era o segundo dia. A razo que durante o

    primeiro sculo o deus saturno era visto como sendo mais importante do

    que o deus sol. Conseqentemente, o dia de saturno foi tornado o primeiro

    e mais importante dia da semana. A situao mudou pelo incio do segundo

    sculo, quando o deus sol tornou-se o deus romano mais importante. A

    popularidade do deus sol provocou o avano do dia do sol (domingo) da

    posio de segundo dia da semana para o primeiro e mais importante dia

    semanal. Isso exigiu que cada um dos demais dias avanasse um dia, e o

    dia de saturno destarte tornou-se o stimo dia da semana para os romanos

    como havia sido para os judeus e cristos.

    Quando soube a respeito do avano do Dia do Sol do segundo dia da

    semana no primeiro sculo para o primeiro dia da semana no segundo

    sculo, indaguei-me: possvel que esta ocorrncia influenciou os cristos

    de formao pag a adotarem e adaptarem o dia do sol para o seu culto

    cristo a fim de demonstrar separao dos judeus e identificao com os

    romanos ao tempo em que a quebra do sbado era proibida pela lei

    romana?

    Evidncias Indiretas. Durante minha investigao descobri

    abundantes evidncias diretas e indiretas apoiando esta hiptese. Descobri

    que pessoas que haviam adorado o deus-sol em seus dias pagos traziam

    consigo para a igreja vrias prticas pags. A existncia do problema

    evidenciado pelas freqentes repreenses de lderes eclesisticos queles

    cristos que veneravam o sol, especialmente o dia do sol.

    A influncia do culto ao sol pode ser vista na arte e literatura crist

    primitivas, onde a simbologia do deus-sol freqentemente empregada

    para representar a Cristo. De fato, as mais antigas representaes de

    pinturas de Cristo (datadas de ca. de 240 AD), que foram descobertas sob o

    confessionrio da Baslica de So Pedro, escavada durante 1953-57, um

  • Do Sbado para o Domingo

    26

    26

    mosaico que retrata a Cristo como o deus-sol cavalgando a quadriga,

    carruagem do deus-sol. O nascer do sol tambm se tornou a orientao para

    orao e para as igrejas crists. O dies natalis solis Invicti, aniversrio do

    Sol Invencvel, que os romanos celebravam em 25 de dezembro, foi

    adotado pelos cristos para celebrar o nascimento de Cristo.22

    Evidncia direta. Uma influncia mais direta da adorao do sol na

    adoo crist do domingo propiciada pelo uso da simbologia do sol para

    justificar a real observncia do domingo. Os Pais da Igreja freqentemente

    invocavam os motivos da luz e do sol para desenvolver uma justificativa

    teolgica para o culto dominical. Por exemplo, Jernimo explica: Se chamado o dia do sol pelos pagos, ns de mui bom grado o reconhecemos

    como tal, uma vez que nesse dia a luz do mundo apareceu e nesse dia o Sol

    da Justia ergueu-Se.23

    Concluso. A concluso de minha investigao conduzida durante um

    perodo de cinco anos nas bibliotecas pontifcias e arquivos em Roma,

    Itlia, de que a mudana do sbado para o domingo ocorreu, no por

    autoridade de Cristo ou dos apstolos, mas em resultado de uma interao

    de fatores sociais, polticos, pagos e religiosos. Descobri que o anti-

    judasmo levou muitos cristos a abandonarem a observncia do sbado

    para se diferenciarem dos judeus numa poca em que o judasmo em geral,

    e a guarda do sbado em particular, foram postos fora da lei pelo Imprio

    romano. A adorao ao sol influenciou a adoo da observncia do

    domingo para facilitar a identificao crist e integrao com os costumes e

    ciclos do Imprio Romano.

    Objetivamente exposto, o sbado foi mudado para o domingo por

    convenincia, ou seja, a necessidade de evitar a legislao romana

    antijudaica e anti-sabtica. Podemos indagar: a convenincia um motivo

    legtimo para alterar um mandamento divino? Acaso Jesus alguma feita

    declarou: Se tornar-se difcil observar um de Meus mandamentos, no sofram com isso! Apenas alterem!? Obviamente a resposta No! Nenhum ensino tal encontrado na Bblia. Contudo, vez aps vez na

    histria do cristianismo, alguns dirigentes eclesisticos e organizaes

    religiosas tm escolhido a convenincia e o comprometimento de

  • Do Sbado para o Domingo

    27

    27

    preferncia aos ensinos bblicos.

    A mudana do sbado para o domingo no foi simplesmente de nomes

    ou nmeros, mas de autoridade, sentido e experincia. Foi uma mudana de

    um DIA SANTO divinamente estabelecido para nos capacitar a

    experimentar mais livre e plenamente a conscincia da presena divina e

    paz em nosso viver, num FERIADO para a busca de prazer e ganho

    pessoais. Essa mudana histrica tem afetado grandemente a qualidade da

    vida crist de incontveis cristos que ao longo dos sculos tm sido

    privados da renovao fsica, mental e espiritual que o sbado tem por fito

    proporcionar. A mudana tambm tem contribudo para o enorme declnio

    de freqncia igreja que est ameaando a sobrevivncia de igrejas

    histricas em numerosos pases ocidentais.

    A recuperao do sbado especialmente necessria hoje quando

    nossas almas, fragmentadas, penetradas e dissecadas por uma cultura

    cacfona e dominada pela tenso clama pela libertao e realinhamento que

    nos aguardam no dia de sbado.

    A redescoberta do sbado nesta era csmica propicia a base para uma

    f csmica, uma f que abarca e une a criao, redeno e restaurao

    finais; o passado, presente e futuro; o homem, a natureza e Deus; este

    mundo e o mundo por vir. uma f que reconhece o domnio de Deus

    sobre toda a criao e a vida humana por consagrar a Ele o stimo dia; uma

    f que cumpre o verdadeiro destino do crente no tempo e eternidade, uma

    f que permite que o Salvador enriquea-nos a vida com uma maior medida

    de Sua presena, paz e descanso.

    Notas e Referncias

    1. From Sabbath to Sunday, The Pontifical Gregorian University Press,

    Roma, 1977. Para obter uma cpia do livro traduzido ao portugus, em

    formato eletrnico, dirija-se ao e-mail: [email protected].

    2. Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2 (3).

    3. Dies Domini, Carta Pastoral de Joo Paulo II emitida em 31 de maio de 1998.

    4. Toms de Aquino, Summa Theologica, 1947, II, Q. 122 Art.4, p. 1702.

    5. Peter Geiermann, The Converts Cathecism of Catholic Doctrine, pg.

  • Do Sbado para o Domingo

    28

    28

    50. Geiermann recebeu a bno apostlica do Papa Pio X por seus trabalhos em 25 de janeiro de 1910.

    6. Dies Domini. 7. S. Krauss, Barkokba Jewish Encyclopedia, 1907, II, p. 509, assim

    sumaria a dramtica: Os judeus passaram agora por um perodo de amarga perseguio; os sbados, as festividades, o estudo da Torah e a

    circunciso foram interditados e parecia que Adriano desejava aniquilar

    o povo judeu. . . . A poca subseqente foi de perigo (shaat hasekanah) para os judeus da Palestina, durante a qual se proibiram os costumes rituais mais importantes; por isso o Talmude declara (Geigers Jud. Zeit 1, 199, 11, 126; Weis, Dor, 11, 131; Rev. Et. Juives, xxxii. 41) que certas regras foram promulgadas para enfrentar a emergncia.

    Chamou-se a poca do edito (gezarah) ou de perseguio (shemad,

    Shab. 60a; Caut. R. ii, 5), veja tambm H. Graetz, History of the Jews, 1940, II, pg, 425; S. Grayzel, A History of the Jews, 1947, pg, 187; S.

    W. Baron, A Social and Religious History of the Jews, 1952, II, pp. 40-

    41, 107.

    8. Publicado posteriormente pela editora evanglica Zondervan.

    9. C. S. Mosna, Storia della Domenica, p. 44.

    10. J. Danilou, Bible and Liturgy, p. 243.

    11. Op. Cit., pg. 180.

    12. Citado pelo tradutor, E. Goodpeed, Apostolic Fathers, 1950, p. 40, 41.

    13. Justino Mrtir, Dialogue 67, 3-7, citado por Thomas B. Falls, Writings

    of Saint Justin Martyr, The Fathers of the Church, 1948, pp. 106-107.

    14. W. Rordorf, The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest

    Centuries of The Christian Church p. 218.

    15. P. K. Jewett, Lords Day, p. 57. 16. Eusbio, Histria Eclesistica 3, 27, 3 traduzido por Kirsopp Lake,

    Eusebius, The Ecclesiastical History, 1949, 1, p. 263.

    17. Marcel Simon, La migration Pella. Legende ou ralit?, Judo-christianisme, pp. 47, 48.

    18. Ver captulo Roma e a Origem do Domingo, de Do Sbado Para o Domingo, onde h ampla discusso sobre isto.

    19. J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 1885, II, part I, p. 88.

    20. O decreto conciliar do Conclio de Nicia especificamente ordenava:

  • Do Sbado para o Domingo

    29

    29

    Todos os irmos no Oriente que anteriormente celebravam a Pscoa com os judeus, daqui em diante o faro mesma poca que os romanos,

    conosco e com todos aqueles que desde os tempos antigos tm celebrado

    a festividade ao mesmo tempo que ns. (Ortiz De Urbina, Nice et Constantinople, 1963, 1, p. 259; conforme Socrates, Historia

    Ecclesiastica 1, 9).

    21. Socrates, Ecclesiastical History, 5, 22; NPNF 2 11, p. 132.

    22. Franz Cumont, Astrology and Religion Among and Romans, 1960, p.

    89: Um costume bem generalizado exigia que em 25 de dezembro, o nascimento do novo Sol fosse celebrado, quando, depois do solstcio de inverno, os dias comeam a ficar maiores e a estrela invencvel triunfa novamente sobre as trevas. Por textos sobre a celebrao mitraica do 25 de dezembro, veja CIL I, p. 140.

    23. Jermino, In dies dominica Paschae homilia CCL 78, 550, 1, 52.

  • Do Sbado para o Domingo

    30

    30

    DO SBADO PARA O DOMINGO Uma Investigao do Surgimento da Observncia do Domingo

    no Cristianismo Primitivo

    [Clique na palavra NDICE]

    PONTIFICIA UNIVERSITAS GREGORIANA

    FACULTAS HISTORIAE ECCLESIASTICAE

    FROM SABBATH TO SUNDAY A HISTORICAL INVESTIGATION OF THE RISE OF SUNDAY

    OBSERVANCE IN EARLY CHRISTIANITY

    SAMUELE BACCHIOCCHI

    Vidimus et aprobamus ad normam Statutorum Universitatis

    Romae, ex Pontifcia Universitate Gregoriana

    die 25 iunii 1974

    R. P. VICENZO MONACHINO, S. I.

    R. P. LUIZ MARTINEZ-FAZIO, S. I.

    Imprimatur Romae, die 16 Iunii 1975

    R. P. HERV CARRIER, S. I.

    Rector Universitatis

    Con approvazione Del Vicariato di Roma

    In data 17 giugno 1975

  • Do Sbado para o Domingo

    31

    31

    ____________________________________________________

    _

    THE PONTIFICAL GREGORIAN UNIVERSITY PRESS,

    ROMA, 1977

    COMENTRIOS A RESPEITO DO LIVRO E DO AUTOR

    UMA OBRA QUE SE RECOMENDA A SI MESMA. . .

    uma obra que se recomenda a si mesma, em virtude do rico contedo e do vasto horizonte com que foi concebida e executada. Isto

    indica a habilidade singular do autor em englobar vrios campos a fim de

    capturar aqueles aspectos e elementos relacionados ao tema em

    investigao.

    A orientao estritamente cientfica da obra no impede que o autor revele suas profundas preocupaes religiosas e ecumnicas. Ciente de que

    a histria da salvao no conhece fraturas, mas continuidade, ele encontra,

    na redescoberta dos valores religiosos do sbado bblico, um auxlio para

    restaurar ao dia do Senhor seu antigo carter sagrado. Vincenzo Monachino,

    S. J. Chairman,

    Departamento de Histria Eclesistica.

    Pontifcia Universidade Gregoriana

    Redator, Miscellanea Historiae

    Pontificiae

    UM MARCO MILENAR POR MUITO TEMPO. . .

    Para aqueles interessados em saber como o Cristianismo veio a observar o domingo como dia de adorao, em lugar do sbado, este estudo

    impressionante feito por um erudito Adventista do Stimo Diacomplementando sua dissertao doutoral com um imprimatur

  • Do Sbado para o Domingo

    32

    32

    certamente ficar como marco milenar por muito tempo. The Christian Ministry, Chicago

    TENTATIVA NOVA, PESQUISADA COM PROFUNDIDADE...

    Na ltima dcada, mais ou menos, as igrejas crists tm feito grandes progressos ao purificar seus catequticos e teologia de um anti-

    judasmo histrico. Porm, com exceo de alguns termos tais como

    judeus perdidos, pouca ateno tem sido dada liturgia crist. Pode ser que uma das mais poderosas formas de anti-judasmo na igreja hoje seja a

    prpria estrutura de sua liturgia. Por isso, Do Sbado Para o Domingo deve

    ser recebido como uma tentativa nova, pesquisada com profundidade, para

    iniciar as discusses nesta rea vital. um campo que necessita de nossa

    ateno. E no se poderia achar melhor ponto de partida para tal explorao

    do que o ltimo volume do Dr. Bacchiocchi. Eu o recomendo altamente. John T. Pawlikowski, OSM, Ph.D.

    Chairman, Departamento de Estudos

    Histricos e Doutrinrios

    Unio Teolgica Catlica

    Conglomerado de Escolas Teolgicas de

    Chicago

    UMA PESQUISA COMPLETA E LABORIOSA. . .

    uma pesquisa completa e laboriosa, a qual todo investigador, no futuro, ter que levar em considerao.

    Bruce M. Metzger

    Professor do Novo Testamento

    Seminrio Teolgico de Princeton

    POSITIVA E COMPULSRIA. . .

    Para mim, o Dr. Samuele Bacchiocchi fez uma contribuio muito

  • Do Sbado para o Domingo

    33

    33

    importante ao estudo de uma questo muito central na histria da religio

    bblica. Sua obra um estudo bastante completo e cuidadosamente

    pesquisado, com cobertura completa de todas as fontes principais e da

    maioria das secundrias que tratam dele. Conquanto no possamos esperar

    que a questo se resolver em termos puramente acadmicos, uma

    avaliao positiva e compulsria da evidncia deveria ser da maior

    importncia para toda a pesquisa e estudo do assunto.

    David Noel Freedman, Professor de Estudos

    Bblicos

    Universidade de Michigan

    Redator, Arquelogo Bblico

    DE GRANDE VALOR PARA JUDEUS. . .

    Com laboriosa erudio, o Dr. Bacchiocchi tem reavaliado a transio da observncia do sbado para o domingo na histria da igreja.

    Ao mesmo tempo, sua anlise teolgica procura levar os cristos

    contemporneos a uma apreciao do sbado bblico, que os profetas

    bblicos viam como um dia, no de mau pressgio, mas de deleite honrado e santo ao Senhor. Contra o pano de fundo do rigor exagerado nas restries sabticas entre algumas seitas judaicas, agora enfatizadas pelos

    achados do Mar Morto, os rabinos farisaicos emergem como artistas

    espirituais que utilizavam os meios de comunicao de seu tempo para

    modelar um dia de devoo e iluminao. A contribuio de Bacchiocchi

    histria crist deve provar-se de grande valor aos judeus que, de sua

    especial posio vantajosa, poderiam ganhar um vislumbre mais profundo

    de sua herana halquica. Joseph M. Baugartem

    Professor de Leis e Instituies Rabnicas

    Baltimore Hebrew College

    IMPLICAES SURPREENDENTES. . .

  • Do Sbado para o Domingo

    34

    34

    O trabalho bem pesquisado e bem escrito do Dr. Bacchiocchi combina erudio, devoo e um esprito conciliatrio. Ele argumenta que

    a compreenso do domingo como sbado cristo encontra suas razes, no

    no Novo Testamento, absolutamente, mas em complexas presses

    histricas e ideolgicas no perodo patrstico. Se esta controvrsia do Sr.

    Bacchiocchi est corretae acredito que estejaento deve-se, ou segui-lo e apoiar um sbado continuado (do stimo dia), ou estudar-se novamente os

    documentos principais a fim de chegar a alguma outra concluso.

    Pessoalmente inclino-me para a ltima; seja como for, as implicaes so

    surpreendentes, no s em virtude da prpria questo sbado/domingo, mas

    tambm por causa do problema maior do relacionamento entre o Velho e o

    Novo Testamento. Don A. Carson

    Deo, Seminrio Teolgico Batista do Noroeste

    Vancouver, B.C.

    Redator do prximo simpsio sobre

    A Questo Sbado/Domingo.

    NDICE

    Prefcio ................................................................................................. 10

    Captulo IINTRODUOATUAL CRISE DO DIA DO SENHOR ................................................................................................................. 12

    O Problema e os Objetivos deste Estudo .................................. 13

    Notas e Referncias ................................................................... 16

    Captulo IICRISTO E O DIA DO SENHOR ............................... 19 A Tipologia do Sbado e Seu Cumprimento Messinico .......... 20

    A Atitude de Cristo para com o Sbado ..................................... 24

    As Primeiras Interpretaes Patrsticas ...................................... 25

    As Primeiras Curas no Sbado ................................................... 26

  • Do Sbado para o Domingo

    35

    35

    O Homem com a Mo Ressequida ............................................. 27

    A Mulher Enferma ...................................................................... 31

    O Paraltico e o Homem Cego .................................................... 33

    A Colheita das Espigas ............................................................... 40

    O Sbado na Epstola aos Hebreus ............................................. 50

    Uma Admoestao de Cristo Quanto ao Sbado ........................ 55

    Concluses .................................................................................. 56

    Notas e Referncias ..................................................................... 58

    Captulo IIIAS APARIES PS-RESSURREIO E A ORIGEM DA OBSERVNCIA DO DOMINGO................................... 69

    A Ressurreio ............................................................................ 69

    A Santa Ceia ............................................................................... 70 A Pscoa Hebraica........................................................................ 72

    As Aparies do Cristo Ressurreto ............................................. 75

    Notas e Referncias ..................................................................... 78

    Captulo IVTRS TEXTOS DO NOVO TESTAMENTO E A ORIGEM DO DOMINGO ........................................................................ 85

    I Corntios 16:1-3 ........................................................................ 85

    Atos 20:7-12 .............................................................................. 92

    Apocalipse 1:10 ....................................................................... 100

    O Domingo .............................................................................. 100

    O Domingo de Pscoa ............................................................. 101

    O Sbado do Stimo dia........................................................... 102

    O Dia do Senhor ...................................................................... 102

    Concluso ................................................................................ 103 Notas e Referncias ................................................................. 103

    Captulo VJERUSALM E A ORIGEM DO DOMINGO ........ 110 A Igreja de Jerusalm no Novo Testamento ............................ 112

    O Lugar das Reunies Crists .................................................. 112

    A Hora das Reunies Crists ................................................... 114

    A Orientao Teolgica da Igreja de Jerusalm ...................... 117 A Igreja de Jerusalm Depois de 70 A.D. ................................ 124

  • Do Sbado para o Domingo

    36

    36

    Os Ebionitas ............................................................................. 125 Os Nazarenos ........................................................................... 126 A Maldio dos Cristos .......................................................... 128

    A Poltica de Adriano ............................................................... 129

    Notas e Referncias .................................................................. 132

    Captulo VIROMA E A ORIGEM DO DOMINGO ................... 143 Predominncia de Conversos Gentios ...................................... 143

    Primeiras Diferenas Entre Judeus e Cristos .......................... 144

    Sentimentos e Medidas Anti-Judaicas ...................................... 145

    Medidas e Atitudes Romanas ................................................... 146

    Medidas e Atitudes Crists ....................................................... 149

    A Igreja de Roma e o Sbado Judaico....................................... 153

    Roma e a Controvrsia Sobre a Pscoa ..................................... 160

    A Origem do Domingo de Pscoa .............................................160

    O Domingo de Pscoa e o Domingo Semanal ...........................162

    O Primado da Igreja de Roma ................................................... 165

    Concluso ...................................................................................168

    Notas e Referncias ....................................................................169

    Captulo VIIANTI-JUDASMO NOS PAIS DA IGREJA E A ORIGEM DO DOMINGO ......................................................................194

    Incio.......................................................................................... 194

    Barnab ......................................................................................

    197

    Justino Mrtir .............................................................................

    201

    Concluso ...................................................................................

    206

    Notas e Referncias ....................................................................

    208

    Captulo VIIIO CULTO DO SOL E A ORIGEM DO DOMINGO

  • Do Sbado para o Domingo

    37

    37

    .........................................................................................................

    217

    O Culto do Sol e a Semana Planetria Antes de 150 A.D. .........

    218

    O Culto do Sol .......................................................................

    218

    A Semana Planetria ..............................................................

    220

    Reflexos do Culto do Sol no Cristianismo .................................

    225

    Cristo, o Sol ...........................................................................

    225

    Orientao em Direo ao Leste ............................................

    226

    A Data do Natal .....................................................................

    228

    O Dia do Sol e a Origem do Domingo .......................................

    230

    Concluso ...................................................................................

    234

    Notas e Referncias ....................................................................

    235

    Captulo IXA TEOLOGIA DO DOMINGO ................................. 252

    A Ressurreio ............................................................................

    252

    A Criao ....................................................................................

    254

    O Oitavo Dia ...............................................................................

    257

    Batismo .......................................................................................

    258

    A Semana Csmica .....................................................................

    259

  • Do Sbado para o Domingo

    38

    38

    Continuao do Sbado ...............................................................

    261

    A Superioridade do Oitavo Dia ...................................................

    262

    A Separao do Oitavo Dia do Domingo ....................................

    269

    Concluso ....................................................................................

    273

    Notas e Referncias .....................................................................

    274

    Captulo XRETROSPECTIVA E PERSPECTIVA ....................... 285

    Notas e Referncias .....................................................................

    299

    APNDICEPaulo e o Sbado ........................................................ 303

    A interpretao Tradicional de Colossenses 2:16 e 17...............

    303

    A Heresia Colossense.................................................................

    305

    O Que Foi Cravado na Cruz?......................................................

    308

    A Atitude de Paulo Para Com o Sbado.....................................

    311

    O Sbado em Romanos e em Glatas.........................................

    320

    Concluso....................................................................................

    323

    Notas e Referncias.....................................................................

    325

  • Do Sbado para o Domingo

    39

    39

    ABREVIATURAS:

    ANFThe Ante-Nicene Fathers. 10 vols. Grand Rapids, Michigan:

    Wm. B. Eerdmans.

    NPNFNicene and Post-Nicene Fathers. First and Second Series, Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans, 1971reprint.

    AUSSAndrews University Seminary Studies. Berrien Springs, Michigan.

    BZUNWBeiheft zur Zeitschrift fr die neutestamentiche Wissenschaft, Berlin.

    CCLCorpus Christianorum. Series Latina. Turnholti: Typographi Brepols Editores Pontificii, 1953ss.

    CDDamascus Document. CILCorpus Inscripionum Latinorum, ed. A. Reimer, Berlin: apud

    G. Reimerum, 1863-1893.

    CSCOCorpus Scriptorum Christianorum Orientalium, Louvain: Secretariat du Corpus SCO.

    CSELCorpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum. Vienne: C. Geroldi filium, 1866ss.

    EITEnciclopedia Italiana Trecani, Milano, Roma, 1929ss. GCSDie griechischen christlichen Scriftstel ler der ersten drei

    Jahrhunderte. Berlin: Akademie-Verlag, 1887ss.

    HEHistoria Ecclesiastica. JBLJournal of Biblical Literature. Philadelphia. LCLLoeb Classical Library. MANSISacrorum Conciliatorum Nova et AmplissimaCollectio, ed.

    Joannes Dominicus Mansi. Graz, Austria: Akademische

    Dfruck U. Verlagsanstalt, 1960-1961.

    NSTNew Testament Studies. Cambridge. PGPatrologie cursus completus, Series Graeca, ed. J. P. Migne

    Editorem, 1857ss.

    PLPatrologie cursus completus, Series Latina, ed. J. P. Migne. Paris: Garnier Fratres et J. P. Migne, 1844ss.

  • Do Sbado para o Domingo

    40

    40

    PSPatrologia Syriaca SS. Patrum, Doctorum, Scriptorumque Catholicorum, ed. R. Graffin. Paris: Firmin-Dodpt et socii,

    1894ss.

    SCSources Chretiennes. Collection directed by H. de Lubac and J. Danielou. Paris: Editions du Cerf, 1943ss.

    SBKommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, ed. H. L. Strack and P. Billerbeck. Munich, 1922ss.

    TDNTTheological Dictionary of the New Dictionary, eds. G. Kittel e traduzido por G. W. Bromiley. Grand Rapids: Wm. B.

    Eerdmans Publishing Company, 1964ss.

    TUTeste und Intersuchungen zur Geschichte der altchristlichen Literatur, encontrado por O. von Gebhardt e A. Harnack,

    Leipzig, 1882ss.

    VTVetus Testamentum. Leiden.

    Obs.: Os nomes dos chamados Pais da Igreja e outros personagens

    antigos citados no livro tero normalmente a grafia de tais nomes mantidas

    em ingls nas Notas e Referncias quando associados diretamente com obras especificamente citadas. Noutros casos, tero sua grafia mais

    conhecida em portugus. Exemplo: Justino Mrtir/Justin Martyr.

    Duas letras s acompanhando um nmero indicar a seqncia de pginas que se segue primeira indicada. Assim, tem o sentido de e pginas seguintes. Exemplo: 117sspgina 117 e seguintes. O Revisor.

    PREFCIO

    A atrao que o problema da origem e observncia do domingo

  • Do Sbado para o Domingo

    41

    41

    exerceu sobre os estudantes de Histria da Igreja Primitiva nas ltimas duas ou trs dcadas no est, de maneira alguma, desgastada. Isto,

    acreditamos, deve-se a duas razes principais. Por um lado, a sempre

    crescente no-observncia do Dia do Senhor como resultado da

    transformao radical do ciclo semanal, causado pela complexidade da vida

    moderna e pelo progresso cientfico, tecnolgico e industrial, leva a um

    srio reexame do significado do domingo para o cristo hoje. Para realizar

    uma correta reavaliao teolgica do domingo necessrio investigar sua

    base bblica e sua origem histrica. Por outro lado, os vrios estudos sobre

    este assunto, embora excelentes, no oferecem uma resposta totalmente

    satisfatria em virtude da falta de considerao de alguns dos fatores que

    na igreja dos primeiros sculos contriburam para o surgimento e

    desenvolvimento de um dia de adorao diferente do sbado judaico.

    Por esta razo, o novo trabalho do Dr. Samuele Bacchiocchi muito

    oportuno. Ele levanta novamente o estudo deste sugestivo tema e, ao

    analisar criticamente os vrios fatoresteolgicos, polticos e pagosque de alguma modo influenciaram a adoo do domingo como um dia de culto

    cristo, ele se esfora para proporcionar um quadro completo da origem e

    progressiva configurao do domingo at o quarto sculo. uma obra que

    se recomenda a si prpria pelo seu rico contedo, o rigoroso mtodo

    cientfico, e o vasto horizonte com o qual foi concebida e executada. Isto

    uma demonstrao da singular habilidade do autor em abranger vrios

    campos a fim de captar os aspectos e elementos relacionados com o tema

    que est sendo investigado.

    Mencionamos com prazer a tese que Bacchiocchi defende quanto ao

    bero do culto dominical: Para ele mais provvel que este culto tenha

    surgido, no na primitiva Igreja de Jerusalm, bem conhecida por sua

    profunda ligao s tradies religiosas dos judeus, mas na Igreja de Roma.

    O abandono do sbado e a adoo do domingo como o dia do Senhor so o

    resultado de uma interao de fatores cristos, judaicos e pagos. O evento

    da ressurreio de Cristo, que ocorreu neste dia, tem naturalmente uma

    importncia significativa. Seguindo a ordem da histria da Redeno, o

    autor comea sua investigao com a tipologia messinica do sbado no

    Velho Testamento e prossegue examinando como isto encontra seu

    cumprimento na misso redentora de Cristo.

  • Do Sbado para o Domingo

    42

    42

    A estrita orientao cientfica da obra no permite ao autor revelar

    seu profundo interesse religioso e ecumnico. Cnscio de que a histria da

    salvao no trata de rupturas mas de continuidade, ele encontra na

    redescoberta dos valores religiosos do sbado bblico uma ajuda para

    restaurar o antigo carter sagrado do Dia do Senhor. Esta , na realidade, a

    exortao que j no quarto sculo os bispos dirigiram aos crentes, ou seja,

    que no deviam passar os domingos em passeios ou apreciando

    espetculos, mas sim santific-los, ao assistir a celebrao eucarstica e

    praticar atos de piedade. (St. Ambrose, Exam. III 1.1)

    Roma, 29 de junho de 1977

    Vincenzo Monachino, S.J.

    Presidente do Depto. de Histria Eclesistica

    da Pontifcia Universidade Gregoriana

  • Do Sbado para o Domingo

    43

    43

    INTRODUOA ATUAL CRISE DO DIA DO SENHOR

    O ciclo de seis dias de trabalho e um de adorao e repouso, no

    obstante o legado da histria dos hebreus, tem, felizmente, prevalecido

    atravs de quase todo o mundo. De fato, o culto judeu e cristo encontra

    sua expresso concreta em um dia, a cada semana, no qual a adorao a

    Deus torna-se possvel e mais significativa pela interrupo das atividades

    seculares.

    Recentemente, entretanto, nossa sociedade tem sofrido muitas

    t