do pais constitucional ao pais neocolonial

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Comentários Sobre a Obra do Jurista Paulo Bonavides “Do País Constitucional ao País Neocolonial: a De Escrito por Reno Sampaio Mesquita Martins Seg, 09 de Agosto de 2010 00:00 Resumo: Análise e comentários sobre os capítulos da excelente obra do jurista Paulo Bonavides. Esta obra mostra como ocorreu o retrocesso do Brasil com o golpe de estado ocorrido e impactos sobre o regime constitucional até então vigente. Sumário: Introdução; As Quatro Crises do Brasil Constitucional; A Salvaguarda da Democracia Constitucional; O Poder Judiciário e a Democracia; A Destruição do Estado Constitucional pela Emenda do Plebiscito e da Constituinte; Constituição ou Medida Provisória; Plebiscito e Miniconstituinte; Oração da Medalha Teixeira de Freitas; A OAB e a Proteção dos Valores Democráticos: Uma Reflexão Sobre a Defesa da Constituição Federal e da Ordem Jurídica; A Globalização do Neoliberalismo; Oração da Medalha Rui Barbosa; O Poder Judiciário e o Parágrafo Único do Art.1º da Constituição do Brasil; A Crise da Integridade do Estado: A “Mexicanização” da Amazonia e o Assalto à Soberania; O Mundo Morto dos Opresores e os “Fascismos Sociais”; Bibliografia. INTRODUÇÃO O Século XX ficou assinalado na História por uma serie de acontecimentos que instituíram a hegemonia de uma única superpotência, determinado, ao mesmo passo, com o advento da globalização e do neocolonialismo, o acaso político e econômico de inumeráveis Estados do Terceiro Mundo. Os Estados por sua vez, passam por um eclipse de soberania. Sua ordem constitucional, por conseguinte, nunca esteve tão quebrada, tão desfalecida, sem embargo de aparente calmaria das instituições. Verificada a queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, instalou-se a crise do socialismo e uma suposta neutralidade do campo ideológico, a qual vem sendo exibida, com ares triunfais, pelo capitalismo e sua recente ideologia “sem ideologia” cifrada no neoliberalismo da globalização. Em relação às nações contemporâneas, todas elas ao cabo do Segundo Milênio, se sentem, em grau maior ou menor, submetidas à servidão da pax americana, que introduziu esta enorme 1 / 24

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Comentários Sobre a Obra do Jurista Paulo Bonavides “Do País Constitucional ao País Neocolonial: a Derrubada da Constituição e a Recolonização pelo Golpe de Estado Institucional”

Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

Resumo: Análise e comentários sobre os capítulos da excelente obra do jurista PauloBonavides. Esta obra mostra como ocorreu o retrocesso do Brasil com o golpe de estadoocorrido e impactos sobre o regime constitucional até então vigente.

Sumário: Introdução; As Quatro Crises do Brasil Constitucional; A Salvaguarda da DemocraciaConstitucional; O Poder Judiciário e a Democracia; A Destruição do Estado Constitucional pelaEmenda do Plebiscito e da Constituinte; Constituição ou Medida Provisória; Plebiscito eMiniconstituinte; Oração da Medalha Teixeira de Freitas; A OAB e a Proteção dos ValoresDemocráticos: Uma Reflexão Sobre a Defesa da Constituição Federal e da Ordem Jurídica; AGlobalização do Neoliberalismo; Oração da Medalha Rui Barbosa; O Poder Judiciário e oParágrafo Único do Art.1º da Constituição do Brasil; A Crise da Integridade do Estado: A“Mexicanização” da Amazonia e o Assalto à Soberania; O Mundo Morto dos Opresores e os“Fascismos Sociais”; Bibliografia.

INTRODUÇÃO

O Século XX ficou assinalado na História por uma serie de acontecimentos que instituíram ahegemonia de uma única superpotência, determinado, ao mesmo passo, com o advento daglobalização e do neocolonialismo, o acaso político e econômico de inumeráveis Estados doTerceiro Mundo.

Os Estados por sua vez, passam por um eclipse de soberania. Sua ordem constitucional, porconseguinte, nunca esteve tão quebrada, tão desfalecida, sem embargo de aparente calmariadas instituições.

Verificada a queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, instalou-se a crise dosocialismo e uma suposta neutralidade do campo ideológico, a qual vem sendo exibida, comares triunfais, pelo capitalismo e sua recente ideologia “sem ideologia” cifrada noneoliberalismo da globalização.

Em relação às nações contemporâneas, todas elas ao cabo do Segundo Milênio, se sentem,em grau maior ou menor, submetidas à servidão da pax americana, que introduziu esta enorme

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contradição, conceitual, e palpável: o direito internacional do mais forte, que faz as guerras semdeclará-las e poderá, em breve, governar o mundo suprimindo tribunais e soberanias.

É o perfil internacional do desespero que faz escravos, ao invés de fazer cidadãos, quesuprime a identidade dos povos e globaliza a resignação dos fracos.

Desde a terceira década do século XX que o constitucionalismo brasileiro se tem volvido para aconstrução de um País atado aos princípios do Estado social, à observância, tanto quantopossível rigorosa, de sua doutrina e ideologia, no afã de erguer uma sociedade mais justa,mais humana, mais fraterna, capaz de seguir a linha jurídica de propósitos fundamentaisenunciados, em síntese, no art. 1º da Constituição Federal e, ao mesmo passo, corrigir asdesigualdades sociais e regionais que lhe mimam a estrutura e lhe obstaculizam as viaslibertarias do desenvolvimento.

Com o golpe de Estado Institucional, liberais e globalizadores se apoderam, em definitivo, nãoapenas do governo, mas das instituições, regidos por um pensamento a teoria do EstadoNacional soberano, refrataria, por natureza e essência, aos cânones da globalização.

Donos do regime, das instituições, da Constituição, da soberania, do Estado e do governo,graças a golpe de Estado institucional, os autores desse golpe se tornam, também, ossenhores absolutos dos destinos do País.

Com o golpe de Estado institucional as instituições não mudam de nome; mudam, sim, de teor,substancia e essência. De sorte que uma vez levado a cabo, a conseqüência fatal, no casoespecífico do Brasil, é a conversão do País constitucional em País Neocolonial. É também aperda da soberania, a desnacionalização, a desconstitucionalização; o afrouxamento dos laçosde unidade; o excesso de arbítrio concentrado na esfera executiva; a quebra do pactofederativo; a desarmonia e a guerra civil dos Poderes; a decadência e corrupção da autoridade;o desrespeito a Justiça; a impunidade, a violência os direitos fundamentais.

São todos eles cúmplices na derrocada do Estado constitucional e na metamorfose que colocao Brasil sob a iminência de retroceder dois séculos e transformar-se noutra África colonial.

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Três poderes constituintes distintos atuaram ao começo da formação constitucional do Brasil.Dois deles impessoais e coletivos com sede num colégio de soberania, em nome do principioda legitimidade representativa.

Socialmente, o Brasil é o país mais injusto do mundo; por paradoxo, sua riqueza fez seu povomais pobre suas elites mais ricas numa proporção de desigualdade que assombra cientistassociais e juristas de todo pais.

De país constitucional se converte gradativamente em país neocolonial, em “colônia debanqueiros”, praça de “negócios da China” e mercado de especuladores internacionais, que lhesugam as riquezas, lhe empobrecem o povo e criam a mais injusta divida externa e interna jácontraída, este século, por um Estado.

AS QUATRO CRISES DO BRASIL CONSTITUCIONAL

A Crise Constituinte

É a atual crise. Com as medidas provisórias fica por igual patenteada a crise legislativa doregime.

Sujeitas a perderem a eficácias se não forem convertidas em lei no prazo de trinta dias a partirde sua publicação, o Poder Central perpetra um abuso inominável quando se reedita por viaobliqua e, assim, usurpa a legitimidade do legislador, quebrando o principio da separação dospoderes e deposita nas mãos da autoridade executiva um poder de arbítrio sem limites. Asmedidas provisórias de usurpação, cujo efeito imediato é concorrer sobre modo paraenxovalhar o regime, minar a segurança jurídica e aniquilar a legalidade e a legitimidade comque se legisla no País.

A crise constituinte brasileira atinge também o Poder Judiciário, onde pode ser vista peloângulo da inviabilidade funcional de sua mais alta corte de justiça.

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Em relação ao principio da legalidade, não se toca nele sem repercutir no principio dalegitimidade. As medidas provisórias assim o demonstram.

A Crise Constitucional

A crise constitucional é crise tópica, crise na Constituição e que da Constituição, mesma,recebe em termos jurídicos e políticos, seu remédio eficaz, não se propagando salvo emeventualidade excepcionalíssima, as instituições.

A crise na constituição é diferente de crise constitucional. Uma de todo superficial, não arranhaas instituições. A outra, ao contrario, mais profunda, corrompe, fere e abala as instituições.

A Crise de Soberania

O Brasil subscreve com o FMI cartas de intenções – diga-se de passagem, nunca cumpridas –que tem sido alvo no meio jurídico e em círculos de oposição ao governo, de pesadasobjurgatórias, por significarem documentos de abdicação de soberania, e sujeitarem o País aum status de vassalagem econômica e financeira equivalente à perda parcial de suaindependência.

Esta é a Política Econômica brasileira e a crise da Soberania Mas o temor generalizado é queessa crise se aprofunde gerando outra, muito mais grave, a saber, a de unidade nacionaldesignadamente oriunda de debilidade da soberania. Seu fantasma habita a região amazônica,cobiçada internacionalmente por suas incomparáveis e copiosíssimas riquezas, que jazem namaior parte adormecidas ou intactas, com uma potencialidade de exploração acima, porem, detoda expectativa.

A Crise da Unidade Nacional

A potencial crise que ora se desenha tocante ao desenvolvimento da Amazônia e à exploração

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intensiva de seus recursos naturais já suscita imediato temores, tocantes à proposta deautodesenvolvimento sustentável, todavia foi recebida com frieza, e até combatida, nos meiosonde domina mais forte o sentimento nacionalista e o temor do desmembramento e dainternacionalização da vastíssima região; reserva de um potencial Maximo de riquezas, que noBrasil ainda estão por explorar, em proveito de sua economia.

De tudo que já expendemos sobre a Amazônia, infere-se que aquela crise – caso se instale-poderá desintegrar o Brasil, em termos definitivos, acabando com a unidade política egeográfica do Estado, e amputando-lhe parte considerável se seu território. Acarretaria tambémnoutras regiões um processo semelhante de desmembramento político.

A globalização é o fascismo branco do século XXI: universaliza o egoísmo e expatria asolidariedade.

Em rigor, das quatro crises referidas, a constituinte, a constitucional, a de soberania e a deunidade nacional, apenas a derradeira não estalou ainda no País, embora haja enormepotencial de risco de sua atualidade, nomeadamente quando o tema é a Amazônia.

A SALVAGUARDA DA DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL

Plebiscito e constituinte no idioma político da liberdade são sinônimos de democracia. Mas noléxico do absolutismo presidencial, que arruína com medidas provisórias o edifício daConstituição, sofrem singular metamorfose semântica, não passando, portanto, de corruptelasda democracia, cuja versão cesariana é sempre fatal as instituições fundadas no contratosocial e no principio da separação de poderes.

Em verdade, as Medidas Provisórias são piores que os decretos-leis: são alvarás da ditaduraconstitucional; mas afins ao regime do Brasil-Colônia que à arrogância centralizadora do BrasilImperial.

A nosso ver a democracia, conforme temos reiteradamente assinalado, é a essa altura dacivilização política, direito de gênero humano, direito de quarta geração , direito cuja

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universalidade, em rigor, deriva de sua natureza principal e, como principio, entra ela de formaconstitutiva no ordenamento republicano.

A fórmula “direitos humanos” consagraria em primeiro lugar, pelas suas raízes históricas, osdireitos do homem antes de seu ingresso nos Códigos e nas Constituições como direitopositivo e publico dos ordenamentos nacionais.

Garantir direitos faz parte da natureza e essência dos regimes constitucionais. Tal se infere dotexto oracular dos fundadores do constitucionalismo. Direitos e garantias individuais não tem,por conseguinte, em nossa Lei Maior outra acepção se não aquela que deveria da simbiosedos direitos da primeira geração com os da segunda.

O Estado de Direito não se define apenas pela legalidade, mas pelos princípios constitucionais,por considerações superiores de mérito, que o governam e fundamentam.

Sobre ser Estado de separação de poderes, é Estado de direitos fundamentais, Estadoconstitucional, Estado da legitimidade, da cidadania e, sobretudo, da porção e tutela dadignidade da pessoa humana; enfim, Estado que faz justiça, da razão e da liberdade os esteiosdo regime político e da organização social.

Mas sobre esse Estado paira a nuvem negra da globalização. Sem nenhum exagero pode-sedizer da globalização, que tem uma única ideologia; um único altar: a bolsa de valores; umaúnica divindade: o lucro; e uma solitária aliança: o pacto neoliberal.

O PODER JUDICIÁRIO E A DEMOCRACIA

O Poder judiciário pode ser visto como o poder mais vulnerável, o mais exposto às vicissitudese fraquezas da organização política, alem de ser o mais sujeito a reparos, nem sempre justos.

Os que formulam propostas de reforma do Judiciário, com o intuito de fazer mais eficaz a

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prestação jurisdicional, acoimada até agora de omissa, lenta, burocrática e tardia e, por issomesmo, considerada irmã gêmea da impunidade ou fautora indireta da corrupção dosgovernantes, nem sempre ao malogro, se o tratamento das mazelas judiciais não se fizeracompanhar de uma transformação no comportamento do Executivo e do Legislativo, dondepromanam vícios que contaminam o ser social e o ente publico.

A crise não é propriamente do poder Judiciário, mas do Estado mesmo e, neste, do PoderExecutivo, seu ramo hegemônico, onde ela grassa com extrema virulência e intensidade,irradiando-se, em seguida, aos demais Poderes.

Dos três poderes é congenialmente o mais fraco e, de tradição, aquele que mais dificuldadeteve, no passado, para sobrepor-se às pressões executivas de denominação.

Em relação à crise constituinte, via de regra, é a crise que aflige os Países subdesenvolvidosou em desenvolvimento cujos sistemas políticos se mostram imponentes para manter aconstituição e, por isso mesmo, rolam na aventura dos golpes de Estado e das ditaduras, comas instituições submersas no caos ou no absolutismo.

Quanto mais largo o hiato entre a constituição e a realidade, o Estado e a sociedade, a normae a sua eficácia, os governantes, a lei e a justiça, a legalidade e a legitimidade, aconstitucionalidade formal e a constitucionalidade material, mais exposto e vulnerável à criseconstituinte fica o arcabouço do ordenamento estatal, por cujas juntas e articulações estalamtodas as estruturas do poder e da organização social.

Em razão de não ter sido possível ate hoje a, debelar no Brasil a crise constituinte, a qualpermanece latente, apesar das varias Constituições que o País jê teve, a conclusão a que sehá de chegar é que todas as Cartas Magnas padecem, por sua origem, natureza e aplicaçãoalguma deficiência de legitimidade, de tal modo que, unicamente , por obra de ficção eabstração se pode falar , aqui, na existência de um poder constituinte ilimitado, absoluto,primário, originário ou rigorosamente de primeiro grau.

Ao passo que se alarga e, ate certo ponto, tende a aumentar em proporção geométrica onumero de pleitos judiciais, o corpo de juízes se contrai ou tende a diminuir, provocando umdescompasso ou desequilíbrio que atormenta e preocupa a sociedade.

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Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

Do argumento matemático se infere um risco de omissão a qualidade na prestaçãojurisdicional, fazendo o Poder Judiciário caminhar de costas para o povo, cujas necessidades eexigências se avolumam, determinando uma queda de teor democrático da função que essePoder Constitucional tem sido chamado a desempenhar na grave conjuntura brasileira,distanciando, assim, o País da concretização de um legitimo Estado de Direito.

A reforma do Poder Judiciário brasileiro se tornou, assim, um imperativo de democratização dajustiça. E, também de sua eficácia.

O sistema vigente se caracteriza, consoante assinalados, por um Executivo que so é forte paraatropelar a Constituição, expedir Medidas Provisórias e formular, com disfarce, propostasautocráticas de plebiscitos, minicosntituintes e assembléias revisoras, por onde se manifesta odesprezo do regime à conservação dos princípios democráticos e constitucionais.

Faz-se mister um Poder Judiciário que não se curva a esse temor e cumpra sua missãoconstitucional de guarda da Lei Maior, prevenindo, assim, a consumação da pior dasinconstitucionalidades do momento, aquela que afeta, invade e nulo fica o principio daseparação da separação de poderes, clausula intangível de nosso ordenamento jurídico, nostermos explícitos do parágrafo 4o do art. 60 da Constituição.

É este, sem duvida, o mais pobre, o mais fundamental, o mais indeclinável princípio, dequantos a ordem jurídica possui, com que cimentar os alicerces do Estado de Direito e fazer aSociedade pensar livre e o Estado atuar com legitimidade.

Tem o Judiciário, de conseguinte, um compromisso com o Estado democrático de Direito.

Este mesmo Judiciário, se cumprir com a tarefa de salvaguarda da Constituição, a democraciasobreviverá, e a sociedade das gerações futuras ser-lhe-á imensamente agradecida.

A DESTRUIÇÃO DO ESTADO CONSTITUCIONAL PELA EMENDA DO PLEBISCITO E DA

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CONSTITUINTE

O Plebiscito da Emenda é instrumento inconstitucional esdrúxulo, de exceção e, porconseqüência, ruim da qualidade. Será criado por um poder constituinte de segundo grau,absolutamente provado de competência e legitimidade, para fazê-lo, em razão do fim a que sevincula.

Afigura-se-nos, a esse respeito, que as inconstitucionalidades das Medidas Povisoriascalejaram de insensibilidade considerável parte do meio congressual, ali afrouxando, assim, avigilância nas fileiras parlamentares e deixando, ao mesmo passo, escancarada a porta àinvasão de proposições designadamente inconstitucionais, cujo ingresso devia ter sido tolhidono próprio ato de sua apresentação.

Juridicamente, tanto pelo ângulo formal como material, a Proposta absurda já chegava nula einexistente às mãos do Relator. Não passava de um tecido de inconstitucionalidades, de umaafronta ao art. 60.

E o art. 60 funciona como as colunas do templo. Se ele cair, cai a constituição toda Não havia,pois, como fazer objeto de deliberação a admissibilidade de tão infame Proposta de Emenda àConstituição.

Quanto aos plebiscitos da atual Constituição são dois: um de teor permanente, o do art. 14, eoutro, de natureza excepcional, que já vingou e se exauriu constitucionalmente na data de suacelebração, ou seja, o do art. 2º.

Com efeito, a Emenda do Plebiscito é inconstitucional tanto do ponto de vista formal comomaterial.

Não é possível, assim, por meio do mecanismo de Emenda, alterar os requisitos formais queregem o processo de reforma ou revisão constitucional, quais se acham já declinados naConstituição mesma. Quem os declinou foi o constituinte de primeiro grau, cujo querer éinviolável.

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Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

O crime contra a Constituição é o pior dos crimes perpetrados na esfera das liberdades de umpovo. Expulsa o Direito, faz o cidadão súdito, antes de fazê-lo escravo.

A Emenda tem por objetivo e fim maior a instituição de um plebiscito de dimensão constituinte,simultâneo as eleições de quatro de outubro do ano em curso.

O plebiscito da Emenda é inconstitucional; a Assembléia Nacional Constituinte que ele buscaratificar desponta, já, nula de pleno direito na consciência jurídica da Nação, pois a introduçãoinconstitucional da técnica convocatória lhe retira, formal e materialmente, toda legitimidade.

Em verdade, a Emenda do Plebiscito e da Constituição não se rege por um pensamentoinclinado a aditar mais legitimidade e democracia à essência do regime.

A invasão executiva na área plebiscitária se tornará freqüente e inevitável, como freqüente einevitável tem sido para o Congresso Nacional dobrar-se, indolente, taciturno e sem reação,aos abusos e inconstitucionalidade das Medidas Provisórias.

CONSTITUIÇÃO OU MEDIDA PROVISÓRIA

A separação de Poderes é sem duvida uma condição indispensável da democracia e doEstado de Direito.

Não há, por conseguinte, receita libertaria de Estado de Direito que possa prescindir dessecomponente indissociável e essencial que é a divisão de poderes.

Onde ele falta, as portas se escancaram ao arbítrio, à autocracia, à concentração abusiva demando, com os governos perdendo o titulo que os legitima, e a cidadania a base da confiançaque o pacto social estatuiu para o exercício da autoridade.

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Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

Sem o funcionamento normal, harmônico e cooperativo dos Poderes, a democraciarepresentativa não se legitima.

O contributo de Leomar de Sousa é significativo, porquanto na substancia desse livro se fazpercuciente analise às medidas provisórias; analise, aliais demonstrativas da singularidadedesse instituto trazido do direito constitucional italiano, num traslado que ignora as distintasformas de governo estabelecidas; lá um sistema parlamentar , aqui uma república presidencial,cuja natureza mesma, pela tendência à aplicação e alargamento das competênciaspresidenciais, desaconselharia, sem cautelas mais rigorosa, o constituinte a criar, em nossosistema delegação legislativa tão delicada como esta, contida na medida provisória, semduvida, a pior inovação constitucional já introduzida em nosso País para responder ao desafioda atribuição de capacidade normativa ao Poder Executivo.

Na America Latina o fenômeno das ditaduras ostensivas é cada vez mais raro.

Cedeu lugar aos das ditaduras constitucionais, sempre dissimuladas e cada vez maisfreqüentes e mais difíceis de combater. A Medida Provisória desconstitucionaliza a republica. Odilema é este: ou a Medida Provisória ou a Constituição.

Que o Congresso e o Supremo Tribunal Federal façam a escolha. E respondam, amanhã,perante a Nação, se esta, porventura, ainda sobrevier , integra e soberana.

PLEBISCITO E MINICONSTITUINTE

O Plebiscito como colégio constituinte é, por conseguinte, rigorosamente inconstitucional.

Plebiscitos constitucionais só existem aqueles contemplados nos art. 14 e 18 da Lei Maior, osquais dão execução ao parágrafo único do artigo 1º da Constituição, enquanto expressão dademocracia semi-representativa ali estampada. Tão pouco viola o pacto fundamental criarplebiscito para referendar emendas constitucionais estatuídas nos termos do art. 60 da

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Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

Constituição. Todavia, introduzir na Lei Suprema, plebiscito para convocar o poder constituinteoriginário solapa os alicerces da Carta Magna e conduz o país ao regime de exceção.

A proposta que ora tramita no Congresso Nacional dissolve materialmente o poder constituintede segundo grau, único dotado de legitimidade jurídica para atuar nos limites da Constituição.

Se as elites brasileiras não estivessem tão ausentes e tão alheias aos deveres da cidadania eaos imperativos da verdade constitucional, tanto silencio e omissão não recairiam sobre oatentado que se vai perpetrar contra a Constituição, indubitavelmente o mais grave de toda anossa historia constitucional.

ORAÇÃO DA MEDALHA TEIXEIRA DE FREITAS

Os regimes de força, quando se sentem incomodados, determinam o fechamento ou recessode seus parlamentos de fachada; já os sistemas constitucionais aparentes fazem seusExecutivos se desatarem do compromisso com a Lei Magna e, convertendo a exceção emregra, instauram, como no caso do Brasil, a ditadura das medidas provisórias expedidas comextrema freqüência, sem observância do requisito constitucional de urgência. Tornando assim,a inconstitucionalidade mais feia e ostensiva, vale-se o governo, para perpetuar-lhe a eficácia,do instrumento não menos condenável da reedição, que nem as piores ditaduras da republicachegaram a conhecer; seus decretos-leis eram mais honestos, mais sinceros, nãodissimulavam o arbítrio.

Os mais obstinados e desaforados violadores da Constituição não são apenas os titulares doPoder Executivo que, na esfera do Governo Central, expedem medidas provisórias ilegais,senão, também, os autores de propostas de plebiscitos, mini-constituintes e assembléiasrevisoras.

Busca o Poder Executivo consolidar sua “ditadura constitucional” sob véu de legalidadeaparente. Em razão disso, e com tal objeto, se processam manobras de flexibilização do textoconstitucional em que o Governo, por sua maioria congressual, tanto se empenha, contando,ate mesmo, com a cumplicidade de um líder parlamentar de Oposição.

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Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

Se o poder Legislativo falha no exercício do controle preventivo de constitucionalidade, oJurídico não é menos suscetível de repressão pela maneira como às vezes, se omite nodesempenho de sua missão protetora da Constituição.

Por não enfrentar, porem, a magnitude política, jurídica e social imanente à pluralidadedimensional dos direitos fundamentais, a magistratura prefere, sempre, em matériaconstitucional, os métodos interpretativos clássicos, que ai são de rara ou nenhuma serventiatoda vez que o Direito cruza seu caminho com a Política, na guarda da Constituição e doRegime.

É ao juiz que cabe tolher a expansão de arbítrio e as invasões de inconstitucionalidade a quese arrima um poder autoritário, autocrático, ilimitado; um poder que é a antinação, aanticonstituição , a antidemocracia.

A inconstitucionalidade material é, de conseguinte, aquela que os tribunais menos considerame menos examinam quando chamamos a cumprir seu dever constitucional de proteção dosPoderes e dos direitos fundamentais.

Vista pelo ângulo de seu desenvolvimento, a Medida Provisória tem sido um crime contra aConstituição porquanto fere e anula dois princípios da ordem constitucional que não podem serquebrantados: o da legalidade e o da legitimidade.

Constituição e democracia só se fazem autenticamente exeqüíveis se for expressão deliberdade e eficácia da vontade popular, se concretizam os direitos da dimensão objetiva –aqueles que na aparição sucessiva de sua titularidade pertencem à classe, à Nação , aogênero humano.

Preservar a Carta Magna, interpretá-la, cumpri-la, é obrigação que se deve radicar, também, nosentimento constitucional da sociedade. A Constituição é a cidadela da cidadania. É algo quecompleta, opulenta e afiança a cultura do consenso.

A OAB E A PROTEÇÃO DOS VALORES DEMOCRÁTICOS: UMA REFLEXÃO SOBRE A

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Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

DEFESA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DA ORDEM JURÍDICA

Cumpre a este Painel fazer um largo e ponderável exame acerca do múnus da Ordem dosAdvogados do Brasil como entidade defensora das instituições democráticas e representativas,que vicejam à sombra da Constituição de 1988.

Em verdade a Ordem, pela sua tradição, pelo seu exemplo, por sua voz na imprensa e nostribunais, abraçada sempre as nobilitantes causas do povo, da nação e da sociedade como umtodo, e designadamente das classes sociais oprimidas, cujos direitos não raro soem ficardesamparados e vilipendiados, se converteu num dos órgãos que mais confiança inspiram noPaís e mais respeito merecem da opinião publica.

Em Rui Barbosa se condena a trajetória de um homem que teve os seus passos guiados,sempre, na direção da justiça e, por isso, padeceu ódios e perseguições; e, todavia nuncarecuou, nunca arrefeceu, numa abrandou diante de poderosos, inchados de arrogância eempatia.

O País só rompera, pois as trevas inconstitucionais, se grangear a solidariedade e aconvergência de todas as correntes consubstanciadas no corpo e no pluralismo da sociedadede sociedades, refratárias à dilatação de um Poder Central absorvente e, ao mesmo passo,desagregador daquela autonomia dos entes sociais, por onde circulam os elementosaxiológicos da liberdade e do Estado de Direito na sua expressão federativa e nos contornoséticos de sua organização de poder.

Não há de ser outra, senão esta, no repto contemporâneo da crise constituinte, a função daOAB: proteger os valores democráticos, formar a consciência constitucional da sociedade,amparar os direitos fundamentais.

Disponibilizar a Ordem seria, de conseguinte, atentar contra o estatuto, o fundamento, a cartamagna da entidade, numa retirada desprimorosa, em antagonismo com a história, o passado ea tradição da Casa, que levou ao impeachment governo menos lesivo e menos impopular queeste das privatizações desnacionalizadoras.

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Comentários Sobre a Obra do Jurista Paulo Bonavides “Do País Constitucional ao País Neocolonial: a Derrubada da Constituição e a Recolonização pelo Golpe de Estado Institucional”

Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

Tem a OAB o dever de apontar os erros que induzem o meio termo de oscilações em que aOposição se tem colocado, a saber, variando do comportamento omissivo à debilidade emdenunciar os excessos perpetrados contra a ordem jurídica pela ditadura disfarçada que seinstalou no poder.

Afigura-se-nos haver, por conseguinte, em gestação uma grave crise de legitimidade dasOposições.

Cabe, portanto a OAB aparelhar-se para essa cruzada, arrostando o furor e a arrogância doinimigo globalizador e neoliberal, que intenta confiscar as bases soberanas da autoridadepopular arruinando nossas finanças e entregar-nos, escravos, à sanha internacional deespeculadores sem escrúpulos, sem alma e sem pátria.

A GLOBALIZAÇÃO DO NEOLIBERALISMO

Quando a situação interna, a queda da inflação tem sido celebrada como a mais expressivavitoria do atual governo. O plano real trouxe o candidato das direitas na crise de uma onda desufrágios que o colocou no poder. Mas essa vitoria sobre a inflação é ainda questionável. Nãohá certeza nem garantia de que ela, a inflação, tenha sido efetivamente erradicada.

Com sua doutrina de poder, o neoliberalismo organizou e sistematizou em cada País a traiçãoaos interesses nacionais.

A ditadura de 64 encarcerou, torturou e assassinou nos calabouços da repressão muitos deseus opositores; o neoliberalismo, todavia, sem derramar o sangue dos patriotas, parece seachar inclinado a perpetrar atos igualmente reprováveis na esfera da economia, da ética datributação e do serviço público.

A globalização é ainda um jogo sem regras; uma partida disputada sem arbitragem, onde só osgigantes, os grandes quadros da economia mundial, auferem as maiores vantagens e padecemos menores sacrifícios.

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Escrito por Reno Sampaio Mesquita MartinsSeg, 09 de Agosto de 2010 00:00

O Neoliberalismo escamoteará sempre a noção e o pensamento da globalização democrática,tanto que seus teoristas se sobrexcedem em confiança e louvaminhas à globalizaçãoeconômica, deslembrados, porém, de falar da globalização política, certamente porquedesejam preservar as suas formas políticas e sociais de hegemonia e ter, de sua mão, todos osfreios e comandos do poder; temerosos, sem duvida, de que a globalização política venha aabrir uma fenda profunda no terreno da proposta conservadora.

Por um cálculo estratégico de conveniência, o neoliberalismo não se ocupa da globalizaçãopolítica; deixa o tema submerso no esquecimento e omissão.

Existe também uma outra globalização política . Esta, sim, é emancipatória e, tendo Carterlibertário, tem legitimidade. É de assinalar, mais uma vez, que o futuro, resolvendo a crise,nascerá da globalização política; mas unicamente se esta caminhar pela trilha da democracia,distanciada do espaço teórico e metafísico onde a função democrática constitui mero valorabstrato, sem fio de contato com a realidade concreta e sem arrimo na práxis cotidiana dacidadania. Com efeito, a cidadania há de ser compreendida, invariavelmente, no cenário daglobalização política como sujeito ativo e soberano da vontade governativa em todos os graus.

Não há como enfrear a inumanidade da globalização econômica no que toca aos povos dosubdesenvolvimento senão deflagrando e acelerando a globalização política baseada sobre oconceito da democracia-direito.

Por todas essas reflexões aqui feitas, afigura-se-nos que nunca a forma de governo doneoliberalismo se mostrou mais antidemocrática do que no exemplo brasileiro de seu estilo deconduzir os destinos de uma Nação.

O Federalismo das regiões já está em oito artigos da Constituição, sendo suficiente concretizaro texto do Estatuto Fundamental para fazê-lo, de imediato, realidade em nossas instituições.Basta apenas, empregar juridicamente o verbo concretizar no sentido constitucional que lheempresta Teoria Estruturante do Direito.

Rui Barbosa foi homem de dois séculos. O século XIX pertenceu pelo papel que desenhou na

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crise das instituições imperiais.

Ao século de XX, que é o nosso século, pelas ligações de um federalismo, em presidencialismoe um republicanismo na crise das instituições imperiais.

O advento da República e da Federação, sem a colaboração desse nome, teria sido umtraumatismo muito maior em nossa historia e em nossa sociedade, regando talvez no sangue,na dor, no luto e nas comoções da guerra civil.

O magistério daquele civismo, em verdade, buscava transformar servos em súditos em homenslivres e cidadãos, tornado-os conscientes de que só a cédula nas urnas liberta o povo, legitimao poder e faz a democracia.

De Rui Barbosa, pode-se dizer, com mais razão, que foi o maior advogado de todos os tempose de todas as nações. Com efeito, não há exagero em tal asserção, se a conferirmos com ascircunstancias da época e do ordenamento em que ele atuou.

A luz descortinadora de seu gênio alcançou também a altitude teórica e abstrata dos direitos dasegunda geração, os direitos sociais, cuja introdução no país ele pressentiu e antecipou emformulações admiráveis dos últimos trabalhos que produziu.

Enfim, Rui Barbosa foi o Direito, a Justiça, a Liberdade, e foi por igual a Nação, aIndependência e a Cidadania. Sem os princípios morais e sem a fé desse luminar danacionalidade jamais seremos um povo livre.

ORAÇÃO DA MEDALHA RUI BARBOSA

“A verdade impetrante desse habeas corpus é a Nação”, disse Rui Barbosa, o patrono dosadvogados brasileiros, num ato de coragem e protesto em face dos sobressaltos queacabrunhavam o país diante dos atos de força consumados pela ditadura militar de Floriano

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contra as vitimas de Cucuí e Laje. Sua palavra significava não haverem ressequido as fibrascívicas de nosso povo.

A desobediência dissolve, assim, com a formação de blocos regionais no seio darepresentação nacional, a autoridade dos partidos, minados, pois, a força política dosgovernantes que, por inércia e omissão, não fazem a reforma federativa. A geografiaregionalizou este país de dimensões continentais e, enquanto geografia política, nos preconizaa trilha de um federalismo regional, pelo qual nos batemos com sensibilidade patriótica, comdenodo e convicção profunda, há mais de trinta anos.

Nem é preciso reformar a Constituição para introduzi-lo; esse federalismo não afeta asautonomias federativas estabelecidas, e, se tivéssemos que emendar a Carta Magna, nãotropeçaríamos sobre os obstáculos do parágrafo 4º do art. 60 da Lei Maior.

O PODER JUDICIÁRIO E O PARÁGRAFO ÚNICO DO ART.1º DA CONSTITUIÇÃO DOBRASIL

Reza o parágrafo único do art. 1º da Constituição do Brasil: “Todo poder emana do povo, que oexerce por meio de representantes, eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição.

O desdobramento institucional que o Brasil tem vivido desde a promulgação da Constituição de1988, nos autoriza a concluir que ainda não foi possível associar, em termos definitivos, e namedida desejada, a democracia representativa – a única efetivamente realizada – ádemocracia direta, consoante manda, de maneira inequívoca e categórica, o textoconstitucional.

Do ponto de vista formal, tal se deve unicamente ao descumprimento, pelo legisladorsubsidiário, da mencionada reserva da lei, contida no art. 14.

O mecanismo mais importante, porém, a saber, o plebiscito e o referendum aguardam a leirespectiva, que, pela reserva do art. 14, se infere competir ao Congresso Nacional.

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O problema jurídico, suscitado por aquele reserva de lei, é o seguinte:

poderá o legislador federal asilar-se indefinidamente no silencia e na omissão para, escudandoem procedimento desse gênero, faltar à sua obrigação constitucional de fazer a lei regulatóriadaqueles instrumentos e privar, assim, o povo do exercício de sua vontade, naquela região quese nos afigura a mais impregnada de legitimidade, ou seja, a democracia direta?

Ainda na hipótese de a omissão bloquear o princípio de soberania popular e, ao mesmo passoimpedir a integração concretizante do parágrafo único do art. 1º combinado com o art. 14, nasesferas do município ou do Estado – membro, colidindo assim com o principio federativo,ter-se-ia, que admitir, nessa linha de raciocínio jurídico, haver o constituinte outorgado aolegislador ordinário o poder, sem limites e sem freio, de omitir-se e paralisar por essaabstenção na feitura da norma, a implantação constitucional da democracia direta nos trêsníveis da federação.

Paralisadas ou embargadas por um silêncio legislativo as duas mais importantes técnicasplebiscitárias – o referendum e o plebiscito oxidam-se no texto da Constituição.

O procedimento omissivo consubstancia, desse modo, por ofensa frontal ao parágrafo único doartigo 1º da Constituição, a sobredita inconstitucionalidade material, palpável a analise de todointerprete, empenhado em salvaguardar a eficácia normativa da Lei Maior.

Se o Poder Judiciário seguir, pois, essa segunda via hermenêutica, caminhará a nosso ver, nadireção certa e desempenhará, em favor da democracia, o inabdicável múnus de guarda daConstituição e defensor supremo de sua legitimidade eficaz.

Mas ocorre que esse Poder, tanto quanto ao Legislativo e Executivo, se acham em crise, e osfatores que a determinam em grande parte se furtam a sua jurisdição.

Quanto mais largo o hiato entre a Constituição e a realidade, o Estado é a sociedade, a norma

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e a sua eficácia, os governantes e os governados, a lei e a justiça, a legalidade e alegitimidade, a constitucionalidade formal e constitucionalidade material, mais expostos evulnerável á crise constituinte fica o arcabouço do ordenamento estatal, por cujas juntas earticulações estalam todas as estruturas do poder e da organização social.

Na reforma do Judiciário, que ora tramita nas duas Casas do Congresso Nacional, será de bomalvitre, para uma proteção mais eficaz aos direitos e garantias fundamentais e à organizaçãodos Poderes, á criação de uma corte constitucional conforme consta de proposta já aprovada eformalizada pela Ordem dos Advogados do Brasil.

Enfim, tornando ao ponto de partida dessas reflexões, a saber, o Poder Judiciário em face doparágrafo único do art. 1º, podemos asseverar outra vez que há na Constituição do Brasil, umsistema bidimensional de democracia: a representativa e direta. Mais só a primeira, pela índoleelitista e conservadora da classe política compõe a dinâmica do governo, ao passo que a outra,embora instituída também em base principal permanece adormecida.

A CRISE DA INTEGRIDADE DO ESTADO: A “MEXICANIZAÇÃO” DA AMAZONIA E OASSALTO À SOBERANIA

Menos de 20 anos depois de emancipar-se do domínio espanhol, em 1821, o México perdiapara os Estados Unidos a sua “Amazônia” setentrional, sem florestas tropicais, mais de climatemperado e composta de vastas e fertilíssimas terras, onde jaziam o ouro da Califórnia, aspastagens do Texas e as riquezas adormecidas de imensos e gigantescos lençóis petrolíferos.

Os bons americanos que cultivam sentimentos democráticos, conservam, até hoje, a respeitoda questão mexicana e daquela política do manifesto destino (“manifest destiny”), um certocomplexo de culpa – a dor e o peso na consciência que lhes trouxe o remorso de haveremcrescido e medrado grandemente a expensas da Nação vizinha esbulhada e agredida.

Todas essas reflexões e remissões ao passado não são descabidas, urge refrescar a memóriacontinental de nosso povo. A situação do Brasil tem certas analogias com as do México noséculo passado, na medida em que desperta hoje a cobiça inconfessável de super potenciasestrangeiras, que tem por ponta de lança algumas das chamadas organizações nãogovernamentais, cuja ação se espalha pelo mundo inteiro e cuja linguagem é precursora,

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introdutória e preparatória do assalta á soberania, não tendo obviamente a reserva, ocomedimento e a simulação dos discurso diplomático, suas ameaças já são palpáveis econstituem a pré agressão do futuro.

Corremos o risco de ver até mesma a Organização das Nações Unidas (ONU) fazer aqui, deforma até mais refinada e eficaz o papel que os Estados Unidos fizeram com menos hipocrisiano passado.

A “mexicanização” da Amazônia é conjuração em marcha, que vem desde o célebre Estatutoda Hiléia Amazônica e desemboca em fatos recentes, os quais traduzem sintomas de traiçãonacional e corrosão da unidade de nosso povo.

Desarmar o País é o primeiro passo para a sua desnacionalização e o seu desmembramento.Ocupemos, pois, a Amazônia que é nossa, primeiro que outros o façam. O Presidente daRepública parece ter tomado já consciência da gravidade nacional e internacional desse perigoe não há de passar à Historia como o Bustamante brasileiro, ou seja, aquele desditosoPresidente mexicano que em 1830 exarou o documento da interdição migratória, quando já eratarde, e suas leis não puderam cumprir-se, e Tróia ardeu.

A soberania nacional corre grave risco de desintegrar-se ou extinguir-se.

Não tem o Brasil pressupostos para que vinguem a traição separatista. Mas elacoincidentemente parte de um teuto-brasileiro, provavelmente de primeira geração – Hitler eraaustríaco, embora de sangue alemão que atua nos estados meridionais, onde ainda perduramquistos culturais de família refratária a uma plenitude assimilativa do sentimento nacionalbrasileiro. Por isso mesmo são vulneráveis e abertos a penetração de idéias contaminadas deracismo e forte apela secessionista.

Às grandes potencia interessa unicamente desarmar e debilitar os países do Terceiro e doQuarto Mundos, entre os quais, em primeiro lugar, o Brasil, em cujas fronteiras setentrionais,bem perto da orla do Caribe, uma das superpotências, estranhamente, e pela vez primeira,efetuou manobras de misteriosa finalidade.

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Mas o escândalo maior que avilta a soberania nacional despedaça a participação do cidadão econfisca a vontade geral do povo, é que essa revisão, conforme já assinalamos, se ergue sobrea lama da participação de dezoito deputados corruptos e de quatorze sob investigação; osprimeiros, execrados unanimemente pelo Relatório da CPI do Orçamento, com a qual seprocurou lavar de nódoas a dignidade e a reputação de um dos Poderes a Republica.

A revisão só tem um alvo: quebrantar o monopólio do Estado no campo da eletricidade, dopetróleo e da telecomunicação.

Já não são forças invisíveis ou ocultas que conspiram contra o País; ao alcance de nossasvistas, numa operação ostensiva, se constrói o “Cavalo de Tróia” que os invasores nãoprecisaram diligenciar-lhe a introdução dissimulada; cá se acha ele já posto intramuros por umafalange que bem merece o nome de quina coluna, a força civil secreta das décadas de 30 e 40,cuja função ignominiosa estava em abrir aos exércitos de ocupação as portas das nações, asquais, antes da conquista, tinham primeiro metodicamente vilipendiada e estraçalhada a honranacional.

Hoje nos países em desenvolvimento desconfia-se de que camufladamente grande partedaquelas sociedades não governamentais e missões religiosas desempenham a mesmafunção de vilipêndio; na rota da ocupação fingem-se de zelo sacerdotal pela causa indígena ouse credenciam como cientistas do solo, da fauna e da flora. São a ponta de lança da invasãofutura. Buscam, desse modo, conhecer melhor nossas riquezas com propósito de arrebatá-lasdepois, consoante já o fizeram nos casos do México e da Colômbia, vitimas da maior tragédiaimperialista dos últimos cento e cinqüenta anos na America Latina.

O que parece a primeira vista apreensão infundada ou mero pesadelo de Cassandrasnacionalistas , bem cedo, se não atalharmos o mal pela raiz, mediante vivencia efetiva nasfronteiras do Norte e Oeste, se tornará um fato consumado e uma tragédia, e como todas astragédias, algo irremediável.

O MUNDO MORTO DOS OPRESORES E OS “FASCISMOS SOCIAIS”

O neoliberalismo e a globalização romperam o modelo clássico de status quo institucionalestabelecido pelo capitalismo da revolução industrial.

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O direito internacional, o direito constitucional, o direito público interno, todos os ramos daárvore jusprivatista sofrem, por igual, o açoite da crise, e a sociedade da globalização, nessasórdida transmutação de valores, só conhece um elemento imperante, que, sem carteira deidentidade ou passaporte, atravessa todas as fronteiras, aplaudindo e festejando, onde querque ingresse, tendo por testemunhas os operadores das bolsas nos grandes mercadosfinanceiros: o capital especulativo dos mega investidores.

Fora dessas bolsas, onde a soberania, havendo desertado os palácios, os parlamentos e ospretórios , passa a residir, move-se, como num teatro de sombras e fantasias, o mundo mortodos oprimidos. Nesse mundo imperam os “fascismos sociais”, gerados por aquela modalidadede capitalismo a que se refere, com brilhantismo, acuidade e proficiência, o sociólogoBoaventura dos Santos.

Desnacionalizado e desconstitucionalizado, é capitalismo que invade fronteiras, denega justiça,confisca soberanias, desfaz Constituições, derruba bolsas, convulsiona mercados, destróieconomias, destabiliza regimes. Como o grande Satã da imagem iraquiana, ele faz, ao mesmopasso, do progresso, da tecnologia e da informação a ferramenta da dominação, do poder semequilíbrio e sem limites, do desemprego e da servidão dos povos.

Por sua vez, a constituição corre o risco de ver promulgada uma das seis propostas de emendaconstitucionais que tramitam no Congresso Nacional com o propósito de neutralizar ouparalisar a eficácia do parágrafo 2º do art. 60 da Carta Magna, sem duvida o coração daconstituição, enfim, a ditadura branca das revisões constitucionais supressivas do Estado deDireito. Para convelir o edifício da Lei Maior e fazê-la desabar em ruínas, basta apenaspromulgar uma daquelas Emendas.

BIBLIOGRAFIA

BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria da Constituição. São Paulo: ResenhaUniversitária, 1979.

BONAVIDES, Paulo, Do país constitucional ao país Neocolonial: a derrubada da Constituição e

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a recolonização pelo golpe de Estado institucional. São Paulo: 2. ed. Malheiros, 2001.

_______. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.

_______. Teoria constitucional da democracia participativa: por um direito constitucional de lutae resistência: por uma nova hermenêutica: por uma repolitização da legitimidade. São Paulo:Malheiros, 2001.

HABERMAS, Jürgen, Direito e Democracia: entre facticidade e validade, volume II, tradução deFlávio Beno Siebeneichler, Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1977.

LASSALLE, Ferdinand. A essência da Constituição. Tradução de Walter Stönner. Rio deJaneiro: Liber Juris, 1985.

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