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Caderno de Conceitos e Atividades DO OBJETO PARA O MUNDO COLEÇÃO INHOTIM Lygia Pape, Livro da Criação, 1959-60, Inhotim, 2014 | foto: Daniel Mansur

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Caderno de Conceitos e Atividades

Ministério da Cultura, inhotiM, itaú e itaú Cultural apresentaM

DO OBJETO PARA O MUNDO – COlEçãO INhOTIM

quinta 2 abril a domingo 31 maio 2015terça a sexta, das 9h às 20hsábado, domingo e feriado, das 11h às 20h[indicado para todas as idades]

ITAú CUlTURAl

avenida paulista, 149 – são paulo/sp

doobjetoparaomundo.org.br

ApresentaçãoPatrocínio Co-realização Realização

DO OBJETO PARA O MUNDOCOLEÇÃO INHOTIM

Lygia Pape, Livro da Criação, 1959-60, Inhotim, 2014 | foto: Daniel Mansur

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Professor,

Este material educativo foi pensado para a exposição Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo, de 2 de abril a 31 de maio de 2015. 

A proposta é olhar para algumas obras da coleção do Instituto Inhotim – cuja sede se localiza em Brumadinho (MG), região metropolitana de Belo Horizonte – e descobrir possibilidades de nos relacionarmos com diferentes linguagens e conceitos. Você vai encontrar alguns exemplos e sugestões de como trazer a arte contemporânea para o seu cotidiano em sala de aula e potencializar o contato dos alunos com essa produção.

Arte contemporânea denomina atividades artísticas desenvolvidas desde os anos 1960 e abrange uma gama enorme de linguagens, poéticas e suportes. Os artistas trabalham em grupo ou individualmente, sem regras nem limites para as suas criações, e usam recursos variados, além de materiais convencionais, como a tinta a óleo. Isso demanda do educador uma postura de pesquisador, na medida em que, segundo os objetivos do seu projeto, deve encontrar os criadores e os trabalhos mais pertinentes.

Apesar de sua complexidade, a arte contemporânea pode ser trabalhada até mesmo com crianças em fase concreta (Ensino Infantil e Fundamental I) – a partir de adaptações criativas que a aproximem dos pequenos.

Nossa intenção é que este material seja útil para o seu dia a dia. Estamos abertos a comentários e sugestões de melhoria – entre em contato pelos nossos canais de comunicação.

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O Instituto Inhotim foi criado pelo empresário Bernardo de Mello Paz na década de 1980. Com o tem-po, tornou-se um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do mundo. Além dessa coleção, reúne no seu território espécies vegetais raras de todos os continentes, tendo sido reconhecido em 2010 como jardim botânico. Desde o início de sua história, o Inhotim mantém um diálogo com as comunidades do entorno e reforça seu papel como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) por meio de ações educativas e de aproximação do público com a produção artística que resguarda. Com atuação multidisciplinar, consolida-se a cada dia como agente propulsor do desenvolvimento humano e sustentável na região.

INHOTIM A EXPOSIÇÃO

Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim tem a curadoria de Rodrigo Moura, Júlia Rebouças e Inês Grosso e é a primeira exposição da coleção Inhotim fora de sua sede, em Brumadinho, Minas Gerais. Organizada em quatro núcleos – Neoconcretismo Ontem e Hoje; Gutai e Além; Anos 1960, Circulação e Virtualidade; Acionismos e Artes do Corpo –, traz obras de artistas do Brasil e de outras partes do mundo, de diversas gerações, e propõe roteiros pela arte brasileira da segunda metade do século XX e pela pro-dução internacional.

O nome da exposição faz menção à tendência, característica de algumas vertentes artísticas, de pensar o objeto da arte e a experiência cotidiana a um só tempo, tendo em vista um espectador que é também partici-pante. Nesse sentido, refere-se às discussões da pesquisa de Hélio Oiticica Museu É o Mundo, assim como do evento Do Corpo à Terra (1970), realizado em Belo Horizonte (MG) pelo crítico de arte e curador Frederico Morais, que reuniu performances e trabalhos visuais feitos por vários artistas.

Morais cita a noção de “objeto” definida por Oiticica como fundamental para Do Corpo à Terra: “O Objeto é visto como ação no ambiente, dentro do qual os objetos existem como sinais e não simplesmente como ‘obras’. É a nova fase do puro exercício vital, onde o artista é um propositor de atividades criadoras. O Objeto é a descoberta do mundo a cada instante, ele é a criação do que queiramos que seja. Um som, um grito po-dem ser um Objeto” (leia o texto completo em: bit.ly/docorpoaterra).

A seguir, faremos um percurso pelos núcleos da mostra, explorando modos de trazer cada tema para o am-biente da sala de aula.

Vista aérea Inhotim | foto: Marcelo Coelho

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NEOCONCRETISMO ONTEM E HOJE

O movimento neoconcreto surgiu nos anos 1960 no Brasil e foi uma reação contra o movimento concreto – daí o nome neoconcretismo, ou seja, novo concretismo. Enquanto em São Paulo os artistas seguiam regras rígidas no uso de cores e formas, no Rio de Janeiro um grupo passa a questionar esses critérios e a propor maior liberdade. Faziam parte dele nomes como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape.

O percurso artístico de Hélio Oiticica segue de 1950 até sua morte, em 1980. A série de obras Penetráveis é bastante representativa das suas pesquisas, pelo uso da cor, pelo abandono da moldura, por apresentar a arte como experiência transformadora para o espectador-participante. O visitante adentra um espaço, uma instalação, projetado para permitir certas vivências sensoriais. Já em Relevo Espacial A17 (1959/1991), a visão frontal, típica, por exemplo, de uma tela, é revista, aberta a possibilidades mais dinâmicas: o público pode mover o objeto, variar os ângulos de vista, em uma relação que integra todo o seu corpo à fruição.

Hélio Oiticica, Relevo Espacial A17, 1959/1991, acrílica sobre madeira, 76 x 156 x 8 cm

PROJETO PARA QUATRO OU MAIS AULAS:

Que tal você fazer um relevo espacial com seus alunos?

Apresente as formas da obra e como elas compõem o resultado final (a noção de composição plástica pode ser estudada aí), de acordo com os limites cognitivos de cada faixa etária.

Mostre várias imagens do cotidiano (revistas, jornais, televisão) e da arte (cinema, teatro, artes visuais, dança) para eles terem repertório quando forem criar seus próprios projetos.

Não há limites para as atividades: formas geométricas, orgânicas ou até recortes de materiais impressos, de acordo com a sua proposta educativa.

A abordagem pode ser feita de forma mais concreta para os pequenos e mais abstrata para os mais velhos. Apresente como temas as representações de sentimentos, de situações e de desejos, entre outras possibilidades.

Se possível, fotografe e filme o processo, para documentação e compartilhamento com todos.

Ensino Infantil e Fundamental I: a atividade ajuda no estudo e no aprendizado de formas geométricas, de cores primárias e secundárias, de noções básicas de composição, além de trabalhar coordenação motora e desenvolvimento de projeto. Faça uso, por exemplo, de origamis. As texturas, transparências e densidades dos variados tipos de papel levam a diferentes resultados.

Fundamental II: o projeto colabora com a construção e a consolidação de conceitos básicos de geometria, no estudo espacial e na ampliação do entendimento sobre cores primárias, secundárias e complementares. Pensar o ambiente da escola incentiva o respeito ao espaço; se for realizado em um trabalho coletivo, é possí-vel desenvolver o respeito às ideias dos colegas. É um campo para projetos interdisciplinares: em colaboração com o professor de matemática (para exposição dos conceitos da área), de educação física (para debate dos limites e usos físicos e corporais), de língua portuguesa (para aperfeiçoar o modo de expor conclusões e argumentar).

Ensino Médio: a proposta reforça alguns conceitos de geometria e construção conceitual de espaços e figuras. Outra ideia é discutir a percepção que temos do espaço à nossa volta – o que vemos e o que não vemos ou não queremos ver. Peça aos alunos que tragam inquietações pessoais e coletivas sobre o territó-rio compartilhado e sugiram soluções. Que tal propor a eles a criação de narrativas visuais e interferências no espaço escolar? Os professores de filosofia, sociologia, matemática e língua portuguesa, entre outros, podem contribuir.

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Hitoshi Nomura, Turning the Arm with a Movie Camera, 1972, 16 mm transferido para mídia digital, P&B, sem som, 11”

PROJETO PARA QUATRO OU MAIS AULAS:

Que tal trabalhar com a ideia de simultaneidade temporal e com as sensações que temos ao ver e ao experimentar uma ação?

Comece por investigar o que cada um dos alunos entende por tempo e por espaço. Leve-os a diferentes ambientes da escola e peça para se espalharem num pátio ou para entrarem todos numa sala bem pequena, para que tenham diferentes sensações.

Mostre várias imagens do cotidiano de diversos lugares do mundo. Como esse artista e o grupo Gutai são do Japão, que tal lembrar que, enquanto dormimos, no Japão as pessoas estão na escola, no trabalho etc.? Para esses exercícios, recursos da internet como o YouTube podem ajudar.

Experimente também trabalhar com relógios sincronizados de acordo com fusos horários distintos. Deixe esses relógios expostos na sala de aula para que eles visualizem essas diferenças.

Lembre-se que você é o propositor do projeto, então planeje algo que faça sentido para você e para a sua turma.

Se possível, fotografe e filme o processo, para documentação e compartilhamento com todos.

Ensino Infantil e Fundamental I: a proposta pode ser usada para que as crianças percebam que espaços e temporalidades distintos podem ser vivenciados. Trabalhar conhecimentos científicos – por exemplo, explicar e demonstrar por que em uma parte da Terra é dia e noutra é noite – pode tornar mais concreta a com-preensão do tempo. Procure também a ajuda de câmeras para registrar movimentos feitos pelas crianças em diferentes horários e espaços da escola ou de outros lugares que vocês visitem.

Fundamental II: para trabalhar a simultaneidade, é sempre recomendável revisar conceitos já vistos, para garantir a inclusão de todos os alunos no processo. Esta faixa etária pode experimentar a mudança da luz durante o dia ou, se você estender o projeto, ao longo de meses. Registrar as modificações na sombra de acordo com a posição do sol pode colaborar para esse propósito. Depois, em imagem ou vídeo, eles podem comparar os resultados. Os professores de história, geografia e ciências, entre outros, podem ajudar bastante.

Ensino Médio: com estudantes nesta fase, vale a pena investir em questões mais complexas e abstratas, por seu repertório ser maior. Pergunte, por exemplo, que horas são aqui e que horas são em países como Japão, Índia e Moçambique. Peça para acessarem sites que mostrem em tempo real outros lugares. A discussão sobre diferenças culturais, geográficas e históricas pode ser muito rica. Lembre-se de pesquisar antecipada-mente esses sites para que você não seja surpreendido com algum conteúdo inadequado. Os conteúdos de história, geografia, filosofia, sociologia e física podem ser úteis.

Em japonês, gutai quer dizer concreto, aquilo que é incorporado, ou seja, que ganha concretude. Esse é o ponto de partida para as investigações do grupo de artistas com esse nome, do qual Hitoshi Nomura faz parte.

Em Turning the Arm with a Movie Camera [Virando o braço com uma filmadora] (1972), presente na expo-sição, Nomura fotografa e é fotografado – captura imagens com uma câmera ao mesmo tempo que outra pessoa registra o seu movimento. Imagens mostram o artista fazendo movimentos circulares com o braço que segura a câmera; outras, o ponto de vista do braço que se move. Ele faz perceber o tempo e o espaço dessa ação: gestos que ocorrem numa sequência temporal feitos por um corpo que ocupa um lugar nesse espaço, gravados de diferentes orientações. Em uma das séries fotográficas, o espectador está externo ao movimento. Na outra, é envolvido, como parte do ato. Nesta última, é mais evidente a representação do tempo, com um movimento semelhante ao do relógio e à rotação da Terra. Na obra de Nomura, ações efê-meras são registradas em fotografias e em filmes de forma objetiva e analítica.

GUTAI E ALÉM

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ANOS 1960, CIRCULAÇÃO E VIRTUALIDADE

A década de 1960 foi um período de transformações rápidas e radicais no mundo todo, em torno de mudan-ças nos comportamentos socioculturais e do combate a opressões de vários tipos. No Brasil, foi instaurada a ditadura civil-militar em 1964, o que desencadeou a luta contra o regime – inclusive no âmbito da arte. A mú-sica, o teatro, as artes visuais, os quadrinhos e o cinema, entre outras linguagens, foram usados como forma de comunicação, conscientização e denúncia (leia, sobre o período, o texto “Descobertas, Sonhos e Desastres nos Anos 60”, de Heloísa Buarque de Hollanda: bit.ly/heloisa_cultura60).

No período, também se passou a questionar o que seria uma vulgarização do objeto artístico – que muitas vezes era reduzido à decoração e perdia a força pretendida pelo seu criador. Incomodados com isso, os artis-tas passaram a produzir obras que não podiam ser compradas e, às vezes, nem mesmo tocadas.

Na obra de Cildo Meireles Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Cédula, vemos uma nota de 200 cru-zeiros carimbada com “Quem matou Herzog?” – uma referência ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), preso e morto pela ditadura civil-militar. O artista confronta a censura e leva essa pergunta ao público. A obra é um ótimo exemplo do que podemos chamar arte conceitual, ou seja, arte da ideia. O artis-ta não precisa usar materiais convencionais para criar. Ele pode ter uma ideia e usar recursos simples, baratos e, ainda assim, provocar as pessoas, levando-as a pensar sobre assuntos que dizem respeito ao coletivo.

PROJETO PARA QUATRO OU MAIS AULAS:

Que tal desenvolver um projeto que trabalhe com a virtualidade?

Investigue o que é virtualidade. Não se esqueça de respeitar os limites de cada faixa etária e explore o tema segundo a sua proposta educativa.

Mostre várias imagens do cotidiano (revistas, jornais, televisão) e da arte (cinema, teatro, artes visuais, dança) para ampliar o repertório dos alunos.

A abordagem pode ser feita de forma mais concreta para os pequenos e mais abstrata para os mais velhos.

Se possível, fotografe e filme o processo, para documentação e compartilhamento com todos.

Ensino Infantil e Fundamental I: embora as crianças estejam cada vez mais conectadas com o mundo virtual, isso não significa que elas entendam o que a virtualidade significa, tampouco que saibam como re-conhecê-la. Comece mostrando coisas que não podemos pegar: cheiros, vento, cores-luz (uso de lanternas e papel celofane, por exemplo), som/músicas. Peça para cada um produzir algo que ninguém pode pegar: um gesto, um som – vocal ou de algum instrumento. Se for possível, use também computador, tablets, telefones celulares, câmeras de fotografia e vídeo para que eles experimentem de forma consciente o que é algo virtual. Peça que escolham uma forma de se manifestar virtualmente e grave em vídeo ou fotografe. Converse com eles sobre o processo e o que agora eles entendem desse assunto.

Fundamental II: investigue com seus alunos o que eles entendem por virtualidade. Com esta faixa etária, é possível explorar níveis um pouco mais abstratos, como mensagens que veiculam na televisão, no rádio, nas mídias sociais. Discuta como fazer uso consciente desses recursos, sem violar direitos e deveres de cidadania. Peça que deixem mensagens anônimas em espaços ou em objetos de uso comum da escola a partir de ques-tionamentos levantados por eles. Procure a ajuda dos professores de língua portuguesa, história e geografia, para que incluam em suas aulas discussões semelhantes.

Ensino Médio: com esta faixa etária, pode-se tematizar censura, ditadura, falta de liberdade de expressão etc. Os jovens geralmente sofrem com a carência de espaço e oportunidade para se expressarem – esta é uma ótima chance de explorar as formas de se fazer ouvir, mesmo quando há proibições. Os professores de história, geografia, filosofia e sociologia podem trabalhar esses conceitos em suas aulas também. O professor de língua portuguesa é muito importante para ajudar no desenvolvimento da linguagem, da expressividade e da argumentação oral e escrita.

Cildo Meireles, Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Cédula, 1970-1976, carimbos de borracha sobre cédulas de dinheiro

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ACIONISMOS E ARTES DO CORPO

A palavra acionismo vem de ação, que é o ato de agir. Fazem parte deste núcleo da mostra Do Objeto para o Mundo obras que nos levam a refletir como os corpos individuais podem formar um corpo coletivo que age de forma unificada, que define seus comandos centrais.

Estadio Azteca (2010), vídeo de Melanie Smith, é um bom exemplo para pensarmos o papel das massas nos dias de hoje. Para a gravação, Melanie convidou cerca de 3 mil alunos de escolas públicas da Cidade do Méxi-co e ensaiou com eles uma performance. A artista recorre a vários símbolos: o estádio Azteca, que recupera a memória do povo que lhe dá nome, massacrado durante a colonização espanhola; a obra Quadrado Vermelho (1915), do russo Kazimir Malevich (1879-1935), que pensava sobre como a Revolução Comunista poderia mu-dar o mundo e como fazer a arte compreensível para todos (por isso, a escolha da forma usada: um quadrado vermelho é um quadrado vermelho em qualquer lugar do mundo); representações do imaginário popular, como a máscara asteca e a bandeira do México; a frase “the revolution will not be televised” [a revolução não será televisionada], verso de um poema e música do artista britânico Gil Scott-Heron que discute a necessi-dade de tomada de consciência e de mobilização social contra injustiças sociais e étnicas na década de 1970. Ainda mais, a ação acontece no dia da comemoração do bicentenário da independência do país.

No vídeo, esses elementos são evocados, alinhados com uma coreografia. Aos poucos, uma desorganização e confusão tomam conta de todos. A artista, assim, promove uma discussão sobre como a massa tem o poder de subverter uma ordem dada, e sobre como os processos de colonização podem sufocar vítimas que, cedo ou tarde, se rebelam.

PROJETO PARA QUATRO OU MAIS AULAS:

Ensino Infantil e Fundamental I: brincar com os pequenos de quem obedece e quem comanda pode ser um bom começo. Dê a uma criança um comando para que ela o transmita aos outros – todos devem seguir a ordem. Troque os comandantes, mas mantenha esse primeiro comando. Observe como alguns alunos vão começar a ficar desanimados e se “rebelar”. Mencione como pode ser exaustiva essa situação, e como alguns se cansam e se manifestam contra a determinação. Converse com eles sobre o que foi mais aborrecedor e peça que imaginem como seria se todos os dias tivessem de fazer a mesma coisa, como se sentiriam. Alguns se habituariam à rotina, enquanto outros tentariam escapar da obrigação. Use os comentários que eles fize-rem para fundamentar suas observações e aponte situações do cotidiano deles em que é possível perceber a não aceitação, discutindo formas de demonstrar insatisfação. Se possível, filme a interação, para que todos possam se ver depois.

Fundamental II: a mesma brincadeira acima pode ser feita com esta faixa etária, com o acréscimo de dados para a reflexão. Descreva o que vai acontecer e pergunte aos alunos o que acham da ação. Discuta com eles como ela se constitui numa metáfora, por exemplo. O professor de língua portuguesa pode ajudar com as fi-guras de linguagem. Filme o processo, inclusive os momentos de descontentamento, para ser visto por todos na sequência. Veja também o vídeo de Melanie Smith.

Ensino Médio: assista ao vídeo Estadio Azteca com eles e colete as impressões. Descreva os elementos usa-dos pela artista e pergunte o que significam. Apresente a eles alguns desses significados e peça que pesqui-sem outros. Assista ao vídeo mais uma vez, agora tendo assimilado e discutido os símbolos que compõem a obra. Em seguida, peça para que a turma se divida em dois grupos e que cada um elabore uma ação que será realizada com as duas equipes. A ação deve representar metaforicamente situações que você definirá a partir dos comentários feitos pelos alunos até o momento. Filme não só a ação, mas também o processo de deci-são, para que a experiência toda seja tomada como parte do aprendizado. Compare, sempre que possível, a atividade com o cotidiano dos alunos. Não se esqueça de convidar outros professores. No final, lembre-se de questionar os resultados, se os objetivos foram cumpridos e como foi a aquisição desses conhecimentos e experiências novas. A avaliação conjunta estimula a confiança nas propostas feitas no futuro.

Ao terminar os projetos, exiba os registros (em vídeo ou foto, por exemplo) e pergunte a todos como se sentiram. Comente os pontos positivos e o que foi aprendido.

Melanie Smith, Estadio Azteca/Proeza Maleable, 2010, vídeo, cor, som, 10’29”, frame

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REFERÊNCIAS

LivrosARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. Martins Fontes.

ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Editora Mediação.

SitesSite do Itaú Cultural/Educação novo.itaucultural.org.br/explore/educacao

Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras enciclopedia.itaucultural.org.br

Site Oficial do Instituto Inhotim inhotim.org.br

Hotsite da exposição Do Objeto para o Mundo doobjetoparaomundo.org.br

Ocupação Itaú Cultural itaucultural.org.br/ocupacao

Cildo Meireles no Ocupação bit.ly/ocupa_cildomeireles

Sobre arte e ditadura, veja as seções:

Flávio Império/Robinson Crusoé (teatro)bit.ly/flavioimperio_rc

Laerte/Humanista (quadrinhos)bit.ly/laerte_h

Nelson Rodrigues/Polêmica como Princípio (literatura)bit.ly/nelsonrodrigues_pp

Zé Celso/Tortura (teatro)bit.ly/zecelso_t

Zuzu Angel/Anos de Chumbo (moda)bit.ly/zuzuangel_ac

Exposição Hélio Oiticica: Museu É o Mundo (2010) bit.ly/oiticicamundo

Exposição Lygia Clark: uma Retrospectiva (2012) bit.ly/lygiaclark2012

Site oficial de Lygia Clark lygiaclark.org.br

Artigo sobre o grupo Gutai, no blog Superfície do Sensível superficiedosensivel.wordpress.com

Site oficial de Melanie Smith melaniesmith.net

entrada franca

/itaucultural itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 [email protected] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000