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O P Ú S C U L O S D£ F O R M A Ç Ã Opára uso das Congregações Marianas

*

A RA U TO S

DO

DIVINO REI

P E R F I S

D ECONGREGADOS DE NOSSOS DIAS

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS CONGREGAÇÕES MARIANAS

Rio de Janeiro — Rua Senador Dentas, 118 • R.a •— Caixa Postei 1S61

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Imprimi potest

Rio de Janeiro, 1 de Agosto de 1941

P. Luiz Riou S. J.

Prep. Prov. Brasil. Centr.

Imprimatur

Rio de Janeiro, 7 de Agosto de 1941

+ Sebastião

Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

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As entusiastas alocuções, as revistas artistica­mente editadas ou as sedes deslumbrantes não são os índices da vitalidadé das Congregações Marionas. É o espírito cristão vivido pelôs seus jmeyibros,so­bretudo nos tempos de atribulação pessoal, éu gera4 que nos afirma que a Congregação-Mqriana ainda não renegou suas gloriosas tradições. -

A Congregação Mariana í essencialmente apos­tólica e por isso mesmo um batalhão de sçldados do Reino de Cristo. Ê pois pelo próprio appstòlado e pelo empenho na luta, que cada congregado deve mostrar se conserva, e até que ponto conserva, a fi­delidade ao ideal que abraçou ao ser admitido na Congregação.

Êste ideal encontra sua mais lídima expressão nos estatutos das Congregações Marianas e concreti- za-se na vida heróica dos seus Santos e Bemaventu- rados de ontem e de hoje.

Sim, nos Santos de hoje, pois também em nos­sos dias podemos focalizar um grande número de congregados que souberam e sabem viver o ideal dos cavaleiros da Virgem, que se demonstraram autên­ticos “Arautos do divino Rei". Êles são a prova indiscutível de que a Congregação Mariana desem­penha, ainda em nossos dias, sua santa e sublime missão. ,

Nestas biografias, nossos leitores não veem refle­xos de um passado remoto; são contemporâneos

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seus, protótipos de marianos do século X X que lhes mostram como realizar o ideal dos congregados nes­te nosso mundo, nestes nossos tempos.

“As palavras fascinam, os exemplos arrastam ".Apresentamos aqui, em breves traços, uma série

de perfis de congregados contemporâneos e de to­dos os países. Sob a denominação de “contempo­râneos” incluímos todos aqueles que viveram nestes últimos 25 anos e cuja vida pode ser examinada mi­nuciosamente.

E’ muito incompleta, bem o sabemos, esta pri­meira coletânea biográfica de congregados-modelos, pois estamos certos de que em todos os países exis­tem muitos outros marianos que, pela santidade e heroicidade de vida, são dignos de serem incorpo­rados a esta galeria.

Pedimos, portanto, aos Revmos. PP. Diretores das Congregações Marianos que reúnam os dados exatos que cheguem a seu conhecimento sobre a vi­da de tais marianos, e que os enviem à Confederação Nacional das CC. MM. ou diretamente ao Secreta­riado Geral das CC. MM. em Roma (Borgo S. Spiritq 5).

Dividimos os heróis aqui apresentados em três grupos:

Mártires,Confessores da Pé,Companheiros de luta.

Rio de Janeiro, Julho de 1941.P. Walter Mariaux S. J.

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1.° Grupo: Mártires

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3 de Janeiro de 1937

Mártires de LéonNicolau NAVARRO, (23 anos de

idade).José Valência GALLARDO, (27 anos

de idade, Presidente da Congre­gas®0 Mariana, instrutor da Asso* ciação Católica da Juventude Mexí* cana).

Salvador VARGAS (24 anos de ida­de, Secretário da C. M. e Presidente da A. C. J. M.).

Ezechiel GOMEZ, (24 anos de idade, Congregado Mariano).

“Quando nosso filhinho fôr grande, diga-lhe: Meu filho, teu Pai morreu pela Fé Católica!". Foi com estas palavras que Nicolau Navarro se des­pediu de sua esposa.

Eis o que nos consta sôbre o-calvário destes mártires.

Foram presos, condenados sem processo e sem inquérito judicial, arrastados pelò chão e tão cruelmente pisados, que as feridas e a lama os tornaram irreconhecíveis. Os soldados tentam arrebatar de Nicolau Navarro documentos com­prometedores. Êle engole-os. Exasperados os sol­dados vingam-se com deshumanos e cruéis suplí­cios. Já moribundo, procura ainda consolar seus companheiros com palavras animadoras: “Avan­te amigos! Coragem! Fôrça! Lembrem-se que

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são lutadores de Deus!” Nicolau perdoa aos seus algozes e expira com o nome de Cristo crucifi­cado nos lábios.

José Gallardo, censura os soldados da injus­tiça que praticam, levando os prisioneiros à morte, sem sentença. Em seguida dirige-se a seus com­panheiros para consolá-los, e quando ainda os in­cita a trocar esta vida por uma morte gloriosa, os soldados lhe arrancam a língua e matam-no. Suas últimas palavras foram: Viva Cristo Rei! Viva Nossa Senhora de Guadalupe!

Quando mostraram os retratos desses con- gregados-mártires ao Santo Padre, este de pró­prio punho escreveu sôbre êles estas palavras: “E t palmae in manibus eorum... Gloria Christi... Sanguis martyrum semen... Laudem eorum nun- tiet Ecclesia.” “Nas mãos, as palmas da vitó­r ia . .. Glória a C risto ... O sangue dos már­tires é sem ente... A Igreja proclame a sua glória.”

4 de Janeiro de 1927

Em luta a rm ad a contra CallesAntônio ACUA A y Rodriguez, (22

anos de idade).

Acuíia é o primeiro que, com o assistente da sua Congregação Mariana, Aloísio de Cadena, e

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um punhado de outros, se une em juramento so­lene, para defender a causa de Cristo até a morte. Afim de conseguir as forças necessárias para cumprir êste juramento, recebe diariamente a Sa­grada Comunhão.

No dia marcado, 3 de Janeiro de 1927, con­sagra-se à Virgem Santíssima, confiando-lhe tam­bém o resultado da sua empresa. Depois junta- se ao pequeno grupo dos “Libertadores.”

Eis que as tropas governamentais do Norte, do Sul e do Leste veem ao encontro do grupo. A batalha dura desde uma hora da tarde até ao anoitecer. Durante a noite retiram-se os “ Liber­tadores” às fazendas vizinhas. Mas Acuna per­deu o cavalo e depois de vaguear na escuridão da noite, resolve finalmente esperar o amanhecer no alto duma montanha. Quando porém intenta juntar-se aos companheiros, cai nas mãos das tro­pas do Govêrno. Interrogado, confessa: “Sim,sou soldado de Cristo Rei!” Ri-se a soldadesca, e atando-lhe ao pescoço uma corda participam-lhe que vai morrer. Transportado para o lugar da execução diz aos seus carrascos: “Vós todosque usais armas contra mim, soldado de Cristo, sois soldados de um Govêrno ímpio. Talvez al­guns de vós sejam católicos, e assim derramareis o sangue de um de vossos irmãos. Não tendes culpa. .Obedeceis às ordens dos comandantes.

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Cumpris vosso dever, como eu obedeço ao meu Comandante, e a Êle prestarei contas de meus atos.” Com o último brado: “Viva Cristo Rei!” cai Acuna, banhado em seu sangue.

Antônio Acuna y Rodriguez, nasceu aos 17 de Janeiro de 1905; fez-se congregado Ma- riano no colégio dos Jesuítas de Saltillo a 2 de Fevereiro de 1925; morreu por CrÍ9to e pela Fé a 4 de Janeiro de 1927.

10 meses depois:Outubro de 1927

Morte por CristoApolônio GONZALEZ, (16 anos de

idade, Presidente da C. M., mem­bro da A. C. J. M.).

Priscilliano Morales SERRANO, (17 anos de idade, Congregado Mariano, membro da A. C. J. M.).

Como alunos do Colégio dos Jesuítas em Guadalajara, distinguem-se estes dois jovens na luta pela liberdade da Igreja, porém vendo que não alcançariam o fim visado por meios pacíficos, comprometem-se por juramento, a defender a Igreja com as armas na mão.

Em princípios de Outubro de 1927 tombam ambos, no encontro de Taipa, em luta contra os soldados de Calles. Gonzalez morre imediata­mente, enquanto Serrano, não resistindo aos feri­mentos recebidos, sucumbe à noite.

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1 de Abril de 1927

Os mártires de G uadalajaraAnadeto Gonzalez FLORES, (34

anos de idade, Dirigente da “União Popular”, advogado e pai de fa­mília).

Aloísio Luiz PADILLA,Raymundo Gonzalez VARGAS e

Jorge Gonzalez VARGAS, (dois ir­mãos, ambos com 20 anos comple­tos; todos três universitários).

Ezechiel HUERTA (pai de 11 filhos).Salvador HUERTA, (ferreiro, pai de

10 filhos).Todos Congregados Marianos.

Quando, devido à situação angustiosa dos ca­tólicos no México, se fundou a "Liga nacional de defesa da liberdade religiosa”, Anacleto foi de­signado para dirigente dessa Liga na província de Guadalajara. Procurou, por todos os meios pacíficos possíveis, conseguir a anulação dos de­cretos anti-religiosos. Para que o Govêrno não suspeitasse da Liga, mudou o seu nome pelo de “União Popular” e adotou uma bandeira, cujas côres, encarnado e branco, simbolizavam a finali­dade da Liga: Pelo martírio, ao reino de Cristo!' A bandeira tem, de um lado, a imagem de Cristo com a inscrição: Vivat Christus Rex! e do outro, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe com a invocação: Regina Martyrum, ora pro nobis.

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Organizando sem cessar a luta legal dos ca­tólicos contra as leis anti-religiosas, Anacleto é preso frequentemente e condenado a penas de re­clusão. Cumpridas estas, volta novamente, sem­pre disposto, para a luta.

O Governo então resolve liquidar o adversá­rio tenaz e corajoso.

Guadalajara. Primeira sexta-feira, 1 de Abril de 1927. De madrugada, fortes contingentes mi­litares cercam a pequena casa onde estavam reu­nidos Anacleto e os irmãos Vargas Gonzalez e Luiz Padilla da União Popular.

Não há possibilidade de fuga. Todos são pre­sos e transportados ao presídio, onde, às 2 horas da tarde, principia o horrível martírio.

Anacleto consola os companheiros e fala aos soldados com tal entusiasmo sôbre o ideal cris­tão, que estes se negam a matá-lo. E ’ preciso en­viar um outro destacamento, cujo comandante proíbe Anacleto de falar. Suspenso pelos pole­gares, é supliciado, afim de declarar o paradeiro do arcebispo, e revelar os demais segredos que interessam ao Govêrno.

Anacleto e seus companheiros ficam firmes e morrem como heróis e mártires.

Na mesma noite são presos os dois irmãos Huerta, e, como se negassem revelar o paradeiro dos outros dois irmãos sacerdotes, sucumbem aos golpes dos algozes.

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12 de Setembro de 1927

Os mártires de ZamoraJoaquim da SILVA y Carrasco, (25

anos de idade).Manoel R. MELGAREJO, (17 anos

de idade).

Joaquim, filho do engenheiro Silva, nasceu na cidade de Guanajuato, região montanhosa do Sul do México, a 5 de Novembro de 1898. Fêz os seus estudos no Colégio dos Jesuítas de More- lia. Seu confessor de então exalta sua sinceridade e serenidade, e acrescenta: “Era de caráter forte e impulsivo, mas sabia dominar-se. Raramente perdia o controle de si mesmo, e quando isto se dava, arrependia-se e pedia perdão.” .

Tinha Joaquim 12 anos quando, com a queda do Govêrno de Diaz, seu pai perdeu o emprego e os vencimentos e foi obrigado a fugir da cidade. Mal concluira os estudos no Colégio dos Jesuítas em Moscarones, já devia ajudar aos pais a ganhar a vida. Vimo-lo no balcão da casa de negócio de seu pai, vendendo tabletes de chocolate rosado, marca “Silva”.

Entretanto o Çovêrno recomeça a persegui­ção religiosa. Joaquim toma-se membro da or­ganização iniciada com grande entusiasmo a “As­sociação católica da juventude Mexicana” (A. C. J. M.). Sua serenidade e seu zelo pelo trabalho, tornam-no, também aqui, benquisto de todos. Tô-

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das as noites, após o trabalho diurno, dedica-se ao serviço daquela organização da mocidade cató­lica.

Um dia vai à reunião do círculo dos estudantes; outro, ao recreio coletivo na sede da A. C. J. M. em Itrubide. O que porém mais o interessa são os cír­culos sociais dos operários. E ’ aí que o vemos frequen­temente, a trabalhar, sempre solícito e incansável.

Com uma aplicação admirável no estudo dos bons autores, prepara-se para esses trabalhos. Seu objetivo era: inculcar em todos os operários um profundo res­peito pela Igreja e atraí-los à prática do cristianismo.

Aos domingos não falta às reuniões da Con­gregação Mariana em Santa Brígida, embora sua residência fique em Tacubaya, bem distante da­quela cidade. Cortar cedo pelo sono, quando se pode descansar de uma semana de trabalhos ex- haustivos, é um sacrifício apreciável! O Padre Escandón, seu Diretor que nos narra estes por­menores, chama-o simplesmente de “modelo de congregado”.

Sempre ativo, a-pesar-de ser eleito para um dos di­rigentes da nova organização da juventude. Um círculo de oratória iniciado por êle tem pouca duração, devido às dificuldades imprevistas, mas o grupo da A. C. J. M., que êle mesmo fundou no Colégio dos Irmãos Maristas, floresce como poucos. Também no Colégio dos Pauli- nos na mesma cidade, Joaquim consegue reunir uns trinta companheiros fervorosos. Sua terceira obra é a funda­ção do Grupo da A. Ç. J. M. denominado “ Garcia Mo­reno”. Manoel Melgarejo, que mais tarde o acompanha na morte, é um dos que frequentam o círculo.

A dedicação, o dom de si mesmo, foi o maior tra­balho de Joaquim nesta época. Seu esforço neste ponto foi constante e sem o menor desleixo. Diariamente, quanto lhe é possível, assiste à Missa e recebe a Santa

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Comunhão. E isso quer dizer muito na vida de um jo­vem, exposto a ser ridicularizado pelos seus colegas e chamado de "beato” ou "rato de sacnstia” . .. Não dei­xava de rezar o têrço, mesmo quando morrendo de can- saço, após um dia cheio de trabalho em casa e nas reu­niões. Das visitas de Joaquim a Jesus Sacramentado, con­ta-nos um seu amigo o seguinte: "Muitas vezes ví Joa­quim ajoelhado diante do Tabernáculo, chorando”. To­dos os anos toma parte num retiro espiritual, chamando êsses dias silenciosos de "banho de aço de que preciso para me tornar um homem íntegro”.

A luta contra a religião, que nos últimos anos amainara um pouco, recomeça de novo sob o Go- vêrno de Obregon. Joaquim vive esta luta he­róica da Igreja no México, em tôdas as suas fases. Sua mãe escreveu naquele tempo: “A vida deJoaquim nos últimos 18 meses era uma verdadeira agonia para êle e para mim. Para mim também, pois era obrigada a vê-lo trabalhar quasi sem co­mer nem dormir.

A cada novo acontecimento funesto, a cada nova ignomínia, êle empalidecia de emoção e ex­clam ava: “Isso é insuportável 1 Isso não podemais ser tolerado!” Nosso médico aconselhou-o a não ler mais os jornais, visto que sua saúde es­tava seriamente abalada”.

Com o correr dos tempos acumulou-se nesta alma ardente uma cólera tremenda. Cólera que não provinha da paixão sedenta de vingança, e sim, duma dôr profunda que se apossa dos ho­mens de sentimentos nobres, quando se vêem im­possibilitados de reagir diante da crueldade e sei-

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vageria desrespeitosa de tudo quanto há dc mais sagrado. Joaquim nestes ímpetos recorria ao de­sagravo pela oração.

Contudo não foge às ações corajosas. Tôda sua fôrça é dedicada agora aos grupos da juven­tude. E’ necessário encontrá-los e avigorá-los para a luta de novo desencadeada. O jovem de­senvolve nessa época uma atividade extraordiná­ria. Em tôda a parte aparece, com o seu carri­nho de transporte. Porém não é para entregar tabletes de chocolate, e sim, para conferenciar com os dirigentes da organização de comícios de protesto, para prevenir, proteger ou esconder os sacerdotes perseguidos. A polícia não dorme. Há muito tempo que o espreitava cuidadosa­mente. Por duas vezes foi preso com seu irmão mais novo, Inácio, por terem distribuído circula­res “revolucionárias.” Amigos procuram conven­cer o corajoso jovem de que suas convicções não podem e não devem provocar a polícia: “ E ’ pre­ciso que tome mais cuidado, pois suas forças e sua atividade são necessárias para fins mais su­blimes. . . ”

E’ a antiga tentação que atravessa o cami­nho dos mártires de todos os tempos. Joaquim conta desde há muito com a possibilidade do martírio, e conciente das consequências, não he­sita em dar o passo que realmente lhe vai custar a vida.

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A cidade de Michoacan precisa dc auxílio. Para enfrentar eficazmente o radicalismo ateu, torna-se mister a contra-ação católica apoiada por um baluarte consistente da juventude católica, agremiada numa organização rigorosa. Os me­lhores membros da A. C. J. M. dividem entre si os papéis para essa ação; Joaquim e seu amigo Manoel são incumbidos do desempenho de uma tarefa dificílima, que é bem sucedida. Combinam com os companheiros um novo encontro para o dia 12 de Setembro em Tinguidin.

Viajando para essa localidade, aproxima-se dêles no trem um senhor muito amável, que se apresenta como bom católico, disposto nestes tempos árduos a todos os -sacrifícios pela sua Fé. Conquistando assim a confiança dos dois jovens, mostra-lhes algumas medalhas, com as quais, diz êle, encoraja e anima os católicos, em tôda a parte por onde passa.

Diante dessas provas os dois jovens não mais du­vidam. Revelam-lhe também as suas intenções, os seus planos e sucessos. E quando esse amável companheiro de viagem lhes propõe sua colaboração em prol da causa comum, não duvidam em aceitar sua oferta, e integrar o novo companheiro e correligionário sôbre os pormenores da organização e ação de resistência contra os inimigos da Fé. Mas, quem descreve a surpresa dos dois jovens, quando, ao tentarem desembarcar em. Tinguidin, vêem um grupo de soldados aproximar-se e cercar respeitosa­mente o pretenso defensor da Fé, que lhes diz: "Ami­gos, estão presos, — estão perdidos!" Só agora notam que o pretenso "católico" e viajante à paisana, é o fami­gerado general Cepeda, o confidente de Calles, que tinha abusado da confiança dêles para obter notícias compro­metedoras, e assim, perdê-los. Vendo-se logrados na sua bôa fé, Joaquim retruca com firmeza e dignidade: "Estou nas suas mãos. Faça comigo o que quiser, mas deixe em liberdade êste rapazinho; ainda não tem 17 anos". Todavia ambos são presos, e não se iludem sôbre o fim que os espera. A única coisa que desejam é re-

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ceber ainda, o Santo Viático. Não são atendidos. Nu­merosa escolta leva-os a Zamora, onde serão jul­gados.

A última tentação não deixa de os cercar. O Ge­neral Cepeda acompanha-os durante a viagem no trem . . . “ Serão postos em liberdade imediatamente, se retrata­rem o que disseram, prometendo não mais fazer tonti- ces” — diz Cepeda a Joaquim. — Êste porém enfrenta todas as lisonjas e ameaças com a resposta firme. “ Nada retiro e nada prometo!”

Chegando a Zamora, são transportados à pri­são do quartel militar. O General Cepeda tele­grafa a Calles perguntando se deve enviar os dois jovens à capital ou mandá-los fuzilar. A resposta lacônica vem prontamente: “Fuzilar.” Joaquim não se perturba ao receber esta decisão. Forte, cabeça erguida, passo firme, caminha para o lu­gar da execução.

Os soldados, despidos de todos os sentimen­tos nobres e humanos, querem lhe arrebatar o têrço da mão, mas o heróico congregado e defen­sor de Maria Santíssima resiste e lhes responde: “Enquanto tiver vida, não deixarei, não permiti­rei que arrebatem meu têrço!”. Alguns transeun­tes lhe perguntam: “ Para a execução?” — Joa­quim responde com calma e dignidade cristã: — “ Não, para o Calvário”.

A sentença deve ser executada no cemitério. Joaquim não quer que lhe vendem os olhos, di­zendo: “Deixem disso, não sou nenhum crimi­noso. Eu mesmo darei o sinal. Quando excla­mar: Viva Cristo R e i! ... Viva Nossa Senhora de Guadalupe 1 — podem atirar.”

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Em seguida dirige uma breve e comovente alocução aos presentes, perdoando aos seus ini­migos e algozes, e manifestando sua alegria por poder morrer por sua Fé e pela Pátria. Ao ouvir estas palavras, um dos soldados joga fora o seu fuzil e exclama: “Eu não atiro, eu também sou católico, sou um dos seus.” Imediatamente é preso para ser fuzilado no dia seguinte.

“Agora, descubram-me; daqui a poucos mi­nutos estaremos perante Deus!” — diz Joaquim aos presentes e ao seu fiel companheiro Manuel. Momentos depois ao exclamar: Viva Cristo Rei! Viva Nossa Senhora de Guadalupe! — ouvem-se os tiros do pelotão, e um Jovem mártir, soldado de Cristo, cai banhado no próprio sangue. Ma­nuel, o menino de 17 anos, desmaia. Os solda­dos matam o desfalecido a tiros. A alma de mais um mártir sobe ao céu, para receber a palma da vitória.

23 de Novembro de 1927

Vítima SacerdotalP. Miguel Agostinho Pró S. J.

O Padre Miguel Agostinho Pró S. J., nasceu em Concepción de Oro, no Estado de Zacatecas, (México), aos 13 de Janeiro de 1891, filho de uma família estimadíssima.

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Foi, desde sua juventude, congregado maria- no, entrou na Companhia de Jesús aos 10 de agosto de 1911; sofreu primeiramente, com seus irmãos, a dispersão no México, e mais tarde o des­terro, passando sucessivamente aos Estados Uni­dos e à Espanha.

Fêz dois anos de magistério no colégio de Nicarágua, fundado havia pouco tempo, estudou a teologia em Barcelona e em Enghien, e, orde­nado sacerdote em agosto de 1925, embarcou para o México em junho de 1926.

Quando chegou, faltavam poucos dias para entrar em vigor a famosa lei “ Calles”. As mul­tidões aglomeravam-se nas igrejas de tôda a Re­pública. O P. Pró entregou-se aos ministérios apostólicos com tanta constância e dedicação, que, por duas vezes pelo menos, tiveram que levantá- lo, desmaiado no confessionário por causa da fa­diga.

Proibido o culto nas igrejas, multiplicaram- se para êle os trabalhos e perigos. Vestido de se­cular, percorria as ruas levando ocultamente o S. S. Sacramento e distribuindo-o por casas de confiança, que êle chamava seus “centros euca- rísticos”. Consolava as famílias que na perse­guição haviam perdido algum dos seus. Socor­ria por meio de seus “centros de provisão”, as que haviam perdido os bens; reunia e organizava jo­vens catequistas. Dava conferências a jovens oradores, na maioria congregados marianos, que

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por sua vez as espelhavam por tôda a parte. Le­vava o alimento e o consolo aos católicos que en­chiam as prisões. Visitava os enfermos, dava exercícios espirituais, acudia a ouvir confissões... tudo em meio a perigos iminentes, que êíe perfei- tamente conhecia. Várias vezes assaltaram-no quando exercia seus sagrados ministérios. Êle porém sempre achava engenhosos ardis com que burlava seus perseguidores.

Prêso finalmente com um seu irmão e outro jovem exemplar, foi com eles acusado de aten­tar contra a vida do General Obregón, e, sem julgamento nem processo, com um requinte de cruel ilegalidade, foi assassinado aos 23 de no­vembro de 1927. A imprensa mais ou menos ve- ladamente propagou a calúnia, e, por desgraça, só em poucos lugares protestou-se contra esta injúria feita à Igreja. Muitos e valiosos teem sido os esforços com que os católicos procuram reivindicar desta infâmia nossa Sai\ta Mãe. Por brevidade transcreveremos um documento escri­to no próprio teatro destes sucessos, por uma tes­temunha de vista e confirmado sob juramento. Nem pelo caráter do autor, nem pelo respeito ao comitê episcopal (dos Exc. Srs. Bispos mexica­nos nos Estados Unidos, a que foi dirigido), é impossível supor a menor intenção de falsificar os fatos. Eis aqui o documento:

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“ E* para mim um dever de justiça dar-vos um tes­temunho explícito e certíssimo da inocência do P. Mi­guel Agostinho Pró S. J., e protesto serena mas ener­gicamente contra o modo injusto e calunioso com que foram tratados êle e seus companheiros, como .supostos autores do atentado a dinamite, no domingo 13 do cor­rente, contra o General Obregón. Eram perfeitamente conhecidas de muitíssimas pessoas, tanto fora como den­tro da Companhia (e nós mesmo o conhecemos), suas virtudes de excelente religioso e zelosíssimo sacerdote. Poderíam atestá-lo numerosas famílias desta capital. Isto basta para confirmar-nos de quão longe estaria de or­ganizar um “complot” revolucionário. De minha parte vim a conhecê-lo há dois anos nos Estados Unidos, tendo trato íntimo com êle, principalmente nêstes últimos me­ses. Posso assegurar e asseguro sob juramento ser abso­lutamente falso que o P. Pró haja assistido a alguma reunião em que se tramara o atentado, ou haja tomado parte nele, e muito menos, tenha sido autor do “com­plot” .

Quanto a seu irmão Humberto, sei por testemu­nhas fidedignas, que naquela tarde, no momento do aten­tado, jogava tranquilamente com seus irmãos em sua casa. Com toda a razão pois, ambos os Irmãos nas de­clarações que fizeram aos representantes da imprensa diante do general Cruz (única ocasião em que puderam fazer públicas suas afirmações) negaram redondamente sua participação no atentado, como se pode ler no “ Excel- sior”, do dia 22. O Padre acrescentou: “Acho-me in­teiramente tranquilo e espero que a justiça há de bri­lhar” .

Humberto fez notar que havia já indicado os meios de comprovar a verdade de suas afirmações.

Tão manifesta era a sua inocência, que se creu con­traproducente procurar a liberdade por meio de influên­cias, esperando que ela logo se havería de manifestar.

Porém a polícia, que há muito tempo os molestava e perseguia, por suas atividades na “Liga Defensora da Liberdade Religiosa”, não tratou de averiguar a ver­dade, mas de aproveitar a ocasião para fazer recair so­bre os católicos e em particular sôbre um sacerdote, a culpabilidade, urdindo quantas mentiras eram necessá­rias, e tirando em absoluto aos presos a possibilidade de se defender.

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Procedendo-se contra êles, ultrapassaram até as úl­timas raias da ilegalidade, da injustiça e da deshumani- dade. Não só foram ilegalmente presos, sem ordem al­guma por escrito (costume já de todos os dias), mas ainda permaneceram detidos e incomunicáveis, seis ou sete dias, procedimento expressamente proibido pela cons­tituição da República, sem ter sido pronunciada contra êles ordem formal de prisão, não sendo apresentados a autoridade judicial alguma; nem mesmo foram confron­tados com seu suposto acusador, para averiguar a ver­dade, e muito menos foram citadas testemunhas em seu favor. Não lhe9 foi concedido advogado de defesa. Tudo deveria executar-se segundo a lei e a justiça. Em outras ocasiões a imprensa menciona, seja ou não verdadeiro, que os réus sumariamente julgados, receberam a sentença de morte. Neste caso não houve forma alguma de juizo civil ou militar, mas arbitrariamente e com suma in­justiça, declarou-se a ordem de fuzilamento.

A força militar, num gesto de arbitrariedade, exe­cutou-os na mesma inspeção da polícia, situada no centro da cidade, e sem avisar minutos antes aos réus, nem muito menos a pessoa alguma que pudesse interpor, a tempo, algum auxílio. Tal foi o excesso de barbárie com que pretenderam aterrorizar os católicos, para que não continuassem, como até agora, lutando pela reconquista da sua liberdade. As atividades sociais do P. Pró, como chefe da Comissão de Auxílios, se limitavam, como êlc mesmo me assegurou em várias ocasiões, a repartir so­corros e víveres às famílias necessitadas. Caminhou para o lugar da execução com heróica serenidade e domínio de sí mesmo, a-pesar-de ignorar que a morte o esperava, até que viu chegar o pelotão que o fuzilaria. Pergun­tando-lhe momentos antes um dos seus executores se o perdoava, respondeu: “Não só o perdoo, mas lhe ficoprofundamente agradecido”.

Chegou ao lugar da execução e pediu permissão para orar; ajoelhou-se, rezou por breves instantes, e pondo-se de pé, levantou os braços em cruz para receber a descarga. Assim morreu o P. Miguel Agostinho Pró”.

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Até aqui, as palavras do documento mencio­nado. Agora, para maior informação dos nossos leitores, ajuntaremos mais alguns dados:

Humberto Pró chegou sereno ao lugar do su­plício, contemplou os cadáveres de seu irmão e do engenheiro Segura, tirou a medalha da Con­gregação, beijou-a e, crivado de balas, recebeu a palma dos mártires.

Na rua do Pánuco, n.° 58, colocaram-se os ca­dáveres e começou então, a romaria que no dia 23 durou desde as 5 da manhã até às 11 da noite, ho­ra em que se fechou a casa, e, no dia 24, desde as 6 da manhã até às 3 e meia da tarde, quando saíram dela os cadáveres. Durante a noite per­maneceram velando umas trinta pessoas das mais íntimas. Muitos milhares de pessoas inteiramen­te alheias à sua família desfilaram ante o esquife, ansiosas de venerar os corpos dos mártires.

Durante a noite, o Santíssimo Sacramento re­pousou alternativamente sôbre os esquifes, tra­zendo à memória as veneráveis cenas das cata­cumbas. Os sacerdotes rezando o ofício dos de­funtos, benzeram os cadáveres e celebraram a Santa Missa. O pai dos mártires, venerável an­cião de 75 anos, deu provas sublimes de forta­leza cristã, passando, várias horas de joelhos en­tre os dois esquifes, apoiando neles suas mãos.

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em oração. Mostrou-sc nobremente orgulhoso cios seus dois filhos e não guardou o menor ran­cor contra seus verdugos.

Chegado o momento do enterro, os sacerdo­tes pediram a honra de levar os esquifes até às carruagens, as mais luxuosas das cidades. Mu­dou-se, então, completamente o quadro: a dôr trocou-se em júbilo, o féretro em marcha triun­fal, em apoteose, fazia lembrar as gloriosas pro­cissões da Cidade Eterna, quando um povo en­tusiasta conduzia em triunfo os restos dos seus mártires. Uma multidão imensa que esperava a saída dos cadáveres, ao vê-los aparecer, sentiu-se presa de entusiasmo e de fé: o espirito de Deus havia-se apoderado dela, arrebatando-a num im­pulso de amor e fortaleza. Como um só homem, todos os presentes tombaram de joelhos, e desa­bafaram a intensa emoção dos seus peitos em lá­grimas de alegria, em clamores de triunfo, em aplausos. Desde que saíram os cadáveres até que o cortejo retornou de Dolores, vibraram no ar preces, cânticos de fé, vivas de entusiasmo.

Só se fêz profundo silêncio, no momento de depositar o esquife. O heróico progenitor dos irmãos Pró, de pé junto à cova de Humberto, com o coração dilacerado, mas com a alma a transbordar de Fé, de resignação e de santo jú­bilo, toma em suas mãos a pá, para atirar os pri­meiros punhados de terra que deveria cobrir os

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despòjos de seus filhos mártires, e ao afastar-se da sepultura, rogou a um grupo de sacerdotes que o acompanhavam, quisessem com êle entoar o “Te Deüm Laudamus”.

Glorioso como o dos irmãos Pró, foi o en- têrro do engenheiro Segura Vilchis realizado no mesmo dia e hora.

O enterro de João Tirado, foi no dia seguin­te.

O operário humilde e desconhecido, vivia paupérrimo quasi em completa miséria com seus velhos pais. Não obstante a população tôda foi tomada de comoção, e o espetáculo da tarde do dia 24, repetiu-se no dia 25 de manhã, em honra do pobre Operário. O número de automóveis igualou o da véspera, a concurrência do povo foi a mesma, seleta, numerosa, estuante de estusias- mo e alegria. O mesmo carro luxuoso serviu ao filho do trabalho.

Porém, os seus irmãos os trabalhadores, não consentiram que os restos mortais de Tirado fos­sem levados em carro. Levaram-no aos ombros desde a sua humilde habitação até ao lugar de seu último descanso, num percurso de mais de duas horas. As coroas de flores, como nos dias anteriores, foram copiosas. . .

Viva Cristo Rei! Vivam os santos márti­res ! . . . eram os brados contínuos dos peregri­nos, aos quais outros se ajuntavam: Viva o Pa­pal. .. Vivam os nossos Bispos! Vivam os nos-

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sos sacerdotes! . . . Viva a religião!;.. Santos mártires, impetrai-nos a liberdade para a Igre­ja ! . .. Senhor, se pedis mártires, eis aqui nosso sangue e nossa v ida!... É impossível descrever a marcha do cortejo. Basta dizer que a multidão foi calculada em 20.000 pessoas. E note-se que a cerimônia teve lugar num dia de trabalho, em horas de oficina. Não obstante isto, tôda a ^las­se de pessoas integrava a massa popular: senho­ras da melhor sociedade, mulheres humildes, grande número de operários, jovens e senhores das altas camadas sociais. Subia a 600 o núme­ro de automóveis. Várias vezes se interrompeu o tráfego. À passagem do cortejo, esvaziavam-se os bondes, pois todos os passageiros desciam para nele se incorporarem. Flores juncavam as ruas e calçadas. Uma hora antes de chegarem a Do- lores, os cadáveres foram transportados nos om­bros da multidão até aos seus túmulos. Em Do- lores, outra imensa multidão de crentes espe­rava com ;preces e cânticos a chegada dos már­tires. Confundem-se as ihassas e o entusiasmo

„ sobe a um grau indescritível. • - .

Veja-se1) RiedeL O lutador de Deus, Mi­

guel Pró — Herder 1935.2) Antônio Dragon, Um mártir em

nossos dias — Adaptação ao por­tuguês pelo P. Fernando Pedreira de Castro, S. J., companheiro de estudos do mártir.

3.* edição Brasileira» 1934. ~ v

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25 de Julho de 1931.

Sacerdote e congregadoAlberto F. de LANDA.

No sábado, 25 de Julho de 1931, às 4 horas da tarde, igreja de Nossa Senhora da Glória em Veracruz, estavam reunidos os três sacerdotes: Dario Acosta, Rosa e Landa, dando aula de ca­tecismo a cerca de 2.000 crianças, quando, um grupo numeroso de soldados e detectives do go­vernador Tejada, disfarçados em camponeses in­vadem a igreja. As crianças e senhoras, pressen­tindo algo de anormal, aglomeram-se diante do altar mór. O padre Rosa sobe ao púlpito. No mesmo instante começam os malfeitores a atirar contra as crianças, visando em primeiro lugar os sacerdotes. O padre Acosta morre imediatamen­te, e o padre Rosa, escapando ileso, consegue fu­gir. Enquanto isso, jazem no chão, gravemente feridos, o padre Landa, duas senhoras e algumas crianças. O padre Landa não resiste aos ferimen­tos recebidos e morre instantes depois.

Na “ Bandeira de Maria” do ano de 1931 le­mos o seguinte:

“Ainda jovem, Landa fêz-se Congregado mariano e nos anos de 1911/1912, como jovem sacerdote, traba­lhou em Buenos Aires, na Congregafião Mariana do Co­légio dos RR. PP. Jesuítas, denominada “ Regina Mar- tyrum”, da qual era co-fundador.

O Padre Landa era natural da Espanha, donde, logo após a sua ordenação, se transferiu, em companhia

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* ‘ j1" 80®' Para a Argentina. Alí exerceu o ministério sacerdotal como pregador e escritor. Mais tarde, estendeu sua atividade ao Brasil, e em seguida ao México, onde sem descansar trabalhou na vinha do Se­nhor, até ao momento em que tombou, vítima das hordas ímpias do comunismo”.

30 de Dezembro de 1934

Defesa heróica da IgrejaM aria d e la Luz

Domingo, 30 de Dezembro de 1934, o bolchc- vista mexicano Homero Margalli, reuniu um gru­po de comunistas, para atacarem a igreja em Coyoacan. Marcaram o ataque para as dez horas, quando as crianças estivessem na igreja assistin­do a Santa missa. O momento era o mais pro­pício para incendiar a casa de Deus.

São nove horas e já estão reunidos na praça pública cerca de 60 jovens vestindo uniformes preto-vermelhos. Margalli aguarda-os para en­tregar a cada um um revólver e 10 balas. Afim de encorajar os seus jovens e “heróis” revolu­cionários, manda distribuir entre êles “Cognac” e “Aguardente”. O ataque devia começar ao gri­to da senha “Viva a revolução”.

Tudo está bem preparado e previsto. A polícia re­cebeu ordem de não aparecer no local. — No caso de pe­rigo podem os bolchevistas refugiarem-se na Prefeitura, onde estarão a salvo, e nada lhes acontecerá. O edifí­cio da Prefeitura é em frente i igreja. No jardim pá-

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bUco, distante uns trinta metros da igreja, acha-se a cruz missionária, sobre a qual deverá flutuar a bandeira da revolução. Ao pé da cruz, colocar-se-à o retrato do chefe Margalh. Tudo vai correr às mil maravilhas. Alguns jovens bolchevistas pronunciam discursos provocadores, sempre do mesmo teor: ataque contra a religião cató­lica, zombarias contra o Papa, a Igreja, os Bispos e Pa­dres, maldições e blasfêmias.

Os circunstantes observam o desenrolar dos acon­tecimentos, e começam a se inquietar. O povo vai se pre­venindo. Um “orador” de 15 anos de idade (!) distin­gue-se pelos seus gestos e palavras despudoradas, que não deixam nenhuma dúvida sobre o intuito a ser rea­lizado. Êle sabe do que se trata, quando dirige a palavra aos seus companheiros:

“ O movimento da liberdade de Tabasco, tem por fim matar todos os monges e padres, destruir a religião e as igrejas. As imagens e igrejas devem ser queimadas”.

Com isto, puderam os fieis compreender o sentido do comício comunista. — “ Querem incendiar nossa igreja” !

Maria de la Luz, Filha de Maria, ao ouvir essa notícia aterradora, corre à igreja para de­fendê-la. É professora. Tem 27 anos de idade. Sabe que a maioria das crianças está reunida na casa de Deus, assistindo à Missa. É preciso sal­vá-las! Maria acha-se no momento adoentada e indisposta, mas isto não tem importância, pois a igreja e as criancinhas encontram-se em perigo. Âs pressas chama sua irmã mais moça Lupita, para ajudá-la. Maria tem o pressentimento de que estes são seus últimos passos nesta vida terres­tre. Ao vê-la vestir seu mais lindo vestido, per­gunta-lhe Lupita, tôda nervosa: “Porque é que você vai com êste vestido tão bonito?” “ Vou defender a Cristo Rei. Não será êste o momen-

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to mais próprio para usar o vestido mais lindo que tenho?”

Dez minutos mais tarde estão ambas à por­ta da igreja e cautelosamente rodeiam-na pelo jardim público, de onde lhes chega aos ouvidos o barulho e os gritos dos vermelhos. Um destes deixando seu grupo, aproxima-se das irmãs e de- tém-nas dizendo: “Não se vangloriem demasia­damente de seu catolicismo, hoje ainda, antes do meio dia, verão aqui coisas horríveis” !

“ Não se preocupe, que não temos medo, res­ponde-lhe Maria de la Luz; estamos dispostas a morrer, se preciso fôr, por Cristo Rei; seriamos felizes de obter tal graça.”

Entretanto, ná sacristia, preparava-se o Sacerdote para a Santa Missa. As irmãs de la Luz, vio prevení-lo do que vai acontecer. O bom Padre tranquiliza-as, jul­gando não haver perigo nenhum. Depois, veste os para­mentos e começa o divino ofício, não obstante o barulho infernal que fazem lá fora os vermelhos.

Maria de la Luz, pressentindo o perigo que se apro­xima, fica junto à porta da entrada, dizendo consigo mesma: Caso procurem penetrar aqui, só o consegui­rão atravessando por cima do meu cadáver. Aguarda os acontecimentos calma e resolutamente. Sua irmã Lu- pita está a seu lado, e perto delas mais algumas moças. Sentado junto ao portal um mendigo paralítico.

Neste momento aproxima-se do grupo das moças um rapazola bolchevista fardado. E* de Coyoacan. Maria de la Luz conhece-o. Era um dos seus alunos que ela havia preparado para a primeira comunhão. Parece que sua conciência se inquieta. Dirige-se à sua ex- professora e lhe diz: “Senhorita, por favor, eu lhe peço, não fique aqui. A igreja já vai ser incendiada”. Maria porém não se move do lugar. Na igreja continua o Sa­cerdote a celebrar a Missa. Ouve-se o sinal do “Sanctua”.

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No mesmo instante, tem-se a impressão de que os demônios se apoderaram do grupo dos vermelhos, pois êste avança com fúria selvagem, blasfemando horrivel­mente e gritando: “ Morte aos padrecos... Viva a re­volução... Maldita seja a Igreja — fora com ela” !

É o sinal para o ataque. Uma voz de fora lança um apêlo para o interior da igreja. “Quem tem coragem que venha para a porta para defen­der a igreja!” O grupo dos defensores cresce. Uns vinte homens, operários, algumas moças, se­nhoras com seus filhos. Todos veem juntar-se ao grupo das heróicas moças. À frente de todos c na primeira fila está Maria de la Luz.

Na igreja, o sacerdote, diante do altar, per­cebe o perigo em que se encontra e afim dc evi­tar uma profanação, consome as santas hóstias. Enquanto isto, as senhoras e mães procuram sal­var as crianças fugindo pelas portas dc emergên­cia. Em frente à igreja aglomera-sc o povo. O ambiente torna-se cada vez mais hostil aos ver­melhos. Êstes, vendo que não conseguirão facil­mente o seu objetivo, de penetrar na igreja, sem passar primeiro pelos cadáveres dos corajosos de­fensores, amaldiçoam-nos aumentando o tumul­to cada vez mais. Em resposta aos seus gritos infernais eleva-se o brado uníssono dos defenso­res da Fé: “Viva Cristo R e i... Viva Nossa Se­nhora de Guadalupe” !

O chefe do bando sobe os degraus da cruz das missões, mas não sabe o que fazer agora. Um

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católico encoraja sua mulher dizendo: “Grite também como Maria de la Luz: Viva Cristo Rei”.

De repente a horda bolchevista dirigindo-se aos defensores da igreja, brada: “Reneguem a Cristo”. Ao. mesmo tempo tirando as pistolas gritam :“Viva a revolução” e avançam contra os indefesos. “Viva C risto ...” são as últimas pala­vras pronunciadas pela virgcm-mártir Maria de la Luz, que, mortalmente ferida no peito, cái nos braços de sua irmã. Diante da porta da igreja, origina-se um pânico indescritível. Os cobardes agressores não conseguem romper o cêrco vivo. Junto à porta jaz o corpo da heróica professora. Sua irmã cái desfalecida, e quando acorda vê ao lado sua irmã agonizante, barrando a entrada da igreja.

Os assaltantes, tendo disparado tôda a carga das suas pistolas contra o povo indefeso, batem em retirada, deixando atrás de si os corpos iner­tes das suas vítimas. Refugiam-se na Prefeitura para salvar suas “preciosas” vidas, ameaçadas pela justa ira do povo indignado.

Enquanto isto, a vida de Maria de la Luz se esvai com o sangue que lhe corre da ferida mor­tal que recebera. Ainda recebe das mãos do sa­cerdote a Extrema Unção, e momentos depois morre em holocausto pela santa causa de Cristo Rei na mesma igreja que defendeu e salvou.

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1935

Um mártir dos BolchevistasMONS. LEÔNIDAS FIO D O R O FF

Descendente de uma nobre família russa, Mons. Leônidas Fiodoroff nasceu aos 4 dc No­vembro de 1879 em Petrograd (hoje Leningrad). Formou-se na Academia ortodoxo-russa. A 31 de Julho de 1901 converteu-se ao catolicismo.

Sua alma cheia de ideais, aspirava pelo sonho sublime do sacerdócio para trazer à luz da verda­de seus compatriotas, mergulhados no êrro do cisma. Êsse ideal iluminava todo o programa de sua vida. No Colégio Papal de Anagni (Itália), onde começou seus estudos preparatórios, foi admitido na recéin-fundada Congregação Maria- na, aos pés do altar da Virgem-Mãe, na manhã de 24 de Dezembro de 1905.

Seus compatriotas de então lembram-se, (e essa lembrança comove-os até às lágrimas) de seu espírito justiceiro e honesto, de seu amor aos estudos, de sua ve­neração ao Papa (quando teve que trocar seu nome, es­colheu o de “ Pedro” )» da sua mansidão e docilidade, conquistando a estima e o amor de todos. Dos grandes êxitos nos seus estudos dão testemunho o título de dou­tor em filosofia, que obteve em 1905, com distinção, e o bacharelado em teologia, conseguido no ano de 1907, ano em que foi transferido para o Colégio Pontifício da Pro­pagação da Fé, em Roma.

No ano seguinte (1908), foi a Friburgo na Suíça, para completar seus estudos, e em seguida, após alguns meses de estadia como assistente numa instituição reli­giosa em Lwów (Lemberg) na Galícia, onde a 25 de Março de 1911, na igreja búlgara de Permik Kapu, re-

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cebeu das mãos do Vigário Apostólico de Constantinopls, Monsenhor Miguel Mitrow, as ordens sacras pelo rito bizantino-eslavo-unido.

Os tres anos que se seguiram à sua ordenação sa­cerdotal, passou-os Leônidas em recolhimento piedoso e em retiros espirituais, nos mosteiros da Galícia e da Bós- nia, trabalhando sob as ordens do arcebispo da arquidio­cese de Lwów do rito oriental-unido, Mons. Sreptycki, na restauração da antiga Ordem dos Monges Studistas.

A grande guerra surpreendeu-o em Constan- tinopla. Julgando de seu dever voltar imediata­mente à sua pátria, para trabalhar em prol das almas por Cristo, empenhou-se numa penosa e perigosa viagem, durante 15 dias, conseguindo afinal chegar a Petrograd (Petersburgo), ex- hausto, mas ardente de zêlo pela sua santa mis­são. Porém mal tinha chegado à sua cidade na­tal, foi preso por ordem do Czar e sob uma forte escolta, transferido para uma das prisões de To- bolsk na Sibéria.

Após a queda do regime czarista na Rússia, deixou o seu desterro sombrio, para se dedicar exclusivamente ao ideal apostólico que o empol­gava. Seus esforços culminaram no desejo de extinguir os falsos preconceitos,, “que obscure- ceram o pensamento dos seus irmãos e os faziam crer ser sua igreja nacional a única verdadeira.O arcebispo Conde Szeptycki, nomeou-o por isso para exarca dos católicos russos, tendo sido con­firmada esta nomeação pela Santa Sé. A 1 de Março de 1921, foi Leônidas distinguido com a nomeação de “Promotor Apostólico ad instar.

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Eram os últimos lampejos da paz; aproxima­va-se a tempestade. À meia-noite do domingo de Ramos, 25 de Março de 1923, foi Mons. Leônidas e mais alguns companheiros, condenado pelos bol- chevistas, após um processo moroso e torturante, a 10 anos de prisão. Uma testemunha ocular da­quele processo e dos interrogatórios, relata o se­guinte: “Tanto na exatidão de suas respostas, quanto no seu porte digno, demonstrou-se a gran-'. de alma de Leônidas Fiodoroff, cujas palavras vibravam de um amor puro e sobrehumano para com os seus irmãos e sua pátria.”

Antes de ser pronunciada a sentença, disse o apóstolo-herói:

“Tôda a minha vida pousa sôbre dois fun­damentos: a Igreja Católica, à qual me consagrei, e minha pátria, que estremeço. Desde que per­tenço à Igreja, tenho um só pensamento: levar minha pátria a esta Igreja, que eu considero a única verdadeira... ”

Estas admiráveis palavras sintetizam todos os pensamentos de seu espírito lúcido e tôdas as aspirações de sua vida; por êste ideal foi ao cár­cere e à morte.

Durante o inverno de 1923, transferiram-no de Bu- tyrki para Moscou. Porém devido à superlotação das prisões bolchevistas, foi sôlto em Abril de 1926. ficando incluído na categoria dos das “ seis proibições", isto é, daqueles que sob nenhum pretexto, podem entrar em uma das seis maiores cidades da Rússia, e aos quais é ve­dado sem prévia autorização, de se afastar da localidade que lhes fôra destinada como domicílio.

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O nosso exarca transgrediu essa proibição, para ajudar aos que lhe pediam auxilio. Por êsse motivo, no mes de Setembro do mesmo ano, foi novamente prêso e encarcerado. Ao ser interrogado pelo juiz: “Porque estas opondo tanta resistência aos Soviets? — Não vês quanto faz o comunismô à Rússia? Protege e aindústria, combate o analfabetismo..

“Sei de tudo isso, mas sei também que Deus é oni­potente; Êle pode servir-se mesmo do demônio para fazer o bem” — respondeu-lhe o exarca com a sua ha­bitual franqueza.

Desta vez, foi desterrado para as sinistras ilhas de Solowski, na região gélida do extremo* Norte da Rússia. Mais tarde, em 1931, foi trans­ferido para Archangelsk, depois para Kotlas, c finalmente para Wiatka, perto do Ural.

Lá, nesse deserto de gêlo e de neve quasi per­pétua, numa manhã sem alvorada alcançou-o a luz do dia eterno.

Seu último pensamento foi para o Papa, a quem escrevera uma carta cheia de provas de de­dicação e de amor filial.

Os horríveis sofrimentos que padeciam os deportados naquela região haviam consumido o seu corpo já antes da morte.

Ao ouvirem a notícia do trânsito daquele he­rói, após martirizante prisão de 15 anos, seus companheiros de então puseram-se de joelhos e entoaram, não um “miserere , mas um hino de alegria e de louvor a Deus.

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èqiajh& a, Rebóica,

“Aos Nossos olhos rcfulgiram em todo seu brilho as virtudes de cristãos e de sacerdotes, a dedicação heróica e os martírios, no autêntico sentido da pa­lavra; sacrifícios das vidas de inocentes, de ancião;, de moços na flôr dos anos. Martírios cheios da co­ragem temerária e santa dos que pedem um lugar no carro das vítimas levadas pelo carrasco.

Com esta luc sobrenatural, nós vos acompanha­mos, caros filhos, e vos anunciamos agora o santo respeito e reverente admiração de todos aqueles, mesmo dos que não professam a nossa Fé, mas que conservaram a compreensão da dignidade humana c magnanimidade da alma. Essa admiração por vós c geral, caros filhos, mas sobretudo Nossa. . . que olhando-vos a vós e a todos os vossos companheiros nessa aflição e martírio, com carinho paternal, de­vemos e podemos assegurar-vos o que o Apóstolo disse aos vossos predecessorcs na bemaventurança do martírio: “Vós sois minha alegria e minha glória”!

(Palavras de PIO X I na sua alocução de 14 de Se­tembro de 1936 aos sacerdotes e religiosos refugiados da Espanha)

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5 de Agosto de 1936.

Um "leader" católicoDR. VICTOR PRADERA

Aos 5 de Agosto de 1936, apresenta-se o Dr. \ ictor Pradera diante do pelotão de soldados que o vai executar, e levantando o crucifixo exclama: “Não há verdade mais sublime do que esta, que tenho aqui, nas minhas mãos... Escutai-me, vós que viestes para me matar: Jesús o crucificado, c o apogeu do heroísmo moral; estais ardendo de ódio, e Jesús é o fogo ardente do amor. Vós me prostráreis, mas êle me fará imortal.* O amor de Cristo tenha piedade de vós... Viva Cristo Rei! — Viva a Espanha” !

Victor Pradera era Congregado mariano. Seusamigos lembram-se ainda das suas primeiras tentativas na arte oratória nas reuniões da Congregação da Ima­culada Conceição e de São Luiz Gonzaga em Madríd. Pradera subia i tribuna frequentemente. A princípio lutou com dificuldades; seu modo de falar era um pouco pesado, mas, vencendo todos estes obstáculos, como ou- trora o velho Demóstenes, com sua vontade férrea, tor- nou-se um orador exímio e falava depois com tal facili­dade que grangeou admiração de todos os que o ouviam...

Quando começou a sublevação nacional, en­contrava-se Pradera em San Sebastian, onde foi prêso e encarcerado aos 2 de Agosto. Nem por um momento sequer perdeu sua calma habitual. Dias depois, a 5 de Agosto, foram avisados — êle e os seus companheiros, que iam ser soltos. Em ver­dade, porém, foram transportados para Polloe e alí fuzilados.

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Uma das últimas palavras de Pradera fo i: “Jesús Cristo reinará na Espanha; Êle reinará sôbre mim, sôbre nós e sobre vós todos. Êste triunfo de Cristo, eu o sinto e o aguardo!”

15 de Agosto de 1936.

Com M aria, p ara o céuTHOMAZ CAYLA

Thomaz Cayla era dirigente dos Requetés de Catalunha e pertencia à Congregação Mariana. De acordo com a notícia divulgada e confirmada por averiguações posteriores, Thomaz Cayla foi fu­zilado aos 15 de Agosto de 1936, festa de Nossa Senhora da Glória, em frente da casa em que nasceu, em Valls na Tarragônia. Assim, sua al­ma subiu ao Céu, para junto da Rainha Celeste, em cuja Congregação a havia servido como mem­bro ativo e modelar, ocupando durante vários anos o cargo de Presidente... Sua própria mãe levou-lhe o corpo inerte e ensanguentado ao ce­mitério e, ao abrir a roupa, encontrando uma pe­quena cruz e o escapulário no peito de seu filho, exclamou: “Agora estou tranquila!”

Em Valls, cidade que sempre se distinguiu pela devoção a Maria Santíssima, há uma praça pública, a que os cidadãos denominaram “ Praça Thomaz Cayla” !

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Outubro de 1936.

Um sacerdote-leigoMARCELINO NADAL

O Congregado Marcelino já tinha 50 anos de idade, gastos todos êles no serviço da Igreja de Cristo como organizador de retiros espirituais, como auxiliar do Vigário e em geral como após­tolo leigo. Irrompendo em Valência o movimen­to comunista, o irmão de Marcelino, homem casa­do, pai de 10 filhos e também católico fervoroso, que se distinguia no movimento religioso da sua cidade, foi visado pelos vermelhos como uma das primeiras vítimas.

Marcelino ao saber do que se estava tramando contra o irmão, tratou de convencê-lo da necessi­dade de se esconder e salvar a vida para o bem de seus filhos. Enquanto isso, procurou persua­dir os inimigos da Igreja que desistissem do seu intento.

Quando os vermelhos chegaram à casa do ir­mão de Marcelino, saiu este ao seu encontro e lhes disse que sabia muito bem qual o motivo de sua vinda, pois seu irmão a quem vieram buscar, ti­nha-se distinguido como bom catolico e homem de bem. Entretanto, era inútil a sua vinda, pois êle se lhes escapara. Isso porem não tem impor­tância, pois para que não voltem com as mãos va­zias, êle Marcelino, oferece-se em lugar do irmão. É solteiro, morrendo não deixará orfãos, como aconteceria se matassem seu irmão.

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“ Quereis matar os homens que trabalharam Çèla Igreja? pois bem, eu sou um clêles; em tôda a minha vida dediquei-me ao serviço da religião e da Igreja” !

Os -algozes ficaram desnorteados. Entreo- lhando-se não sabiam o que fazer ou dizer. Fi­nalmente, deram-se por satisfeitos com a troca, e prenderam a Marcelino. Três horas depois, al­vejado pelas balas dos vermelhos, Marcelino caía morto.

Dessa maneira pôde esse Congregado mode­lo coroar seu apostolado-leigo, oferecendo a vi­da pela de seu irmão. E assim tornou-se ainda mais parecido com o Divino Mestre a quem ser­viu durante tôda a vida, e que de si mesmo pôde dizer: “Eu vim para dar a minha vida como res­gate.”

Oxalá todos os apóstolos leigos do mundo inteiro inscrevessem nas suas bandeiras o nome deste autêntico herói católico.

De uma carta:

Legítimos católicosPELAYO SERRANO e seus com­

panheiros.

“ . . . Quantos prisioneiros foram fuzilados aqui. Mas todos êles morreram piedosamente,— e isso é uma consolação para nós, nestes tempos de angústias e de terror geral.”

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Quando Pelayo Serrano e mai» «Igunt seus companheiros fôram citados no navio-proi- dio, para serem executados, fez Serrano esta per­gunta aos seus algozes: "Quem está de me fuzilar? Queria abraçá-lo em ««**» <Je per­dão.” — Com o brado: “Viva Cristo Uri! —• Viva a Espanha!” — tombaram estes destemidos he­róis. Antes da sua execução, todos haviam pedí* do para que suas famílias fossem avisadas de qpÉÉf êles morreram como verdademas c SqghenoS "ca* tólicos.

Pelayo Serrano a$é o dia de fervoroso congregado de Bafbãa,

16 de Outubro de JS86.

foi

Por ocasÜ© da h tt a u p e to emenda na universidade de Bw tdw a, a W de de 18S^ ficofc ferido pôr «arihwjs de g m d , o Om-

Iftowtd rtiffwwto ViW Tím% que *tálndo nas «doa de* xtwnefcefc, P®* 4stes transportado ««to o ***& & Mal «mto-bataida» ttaneíw**'*’** P** do, nano"Uyteuay^ n t d à ada wdçn®da de fwn*dlo. '

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Aos 14 de Outubro, começou perante o “ tri­bunal do povo” o processo contra o nosso con­gregado. Foi condenado à morte, pelo “crime de defesa de Deus e da Espanha” (palavras do con­gregado) bem como por ter incitado à revolta contra o governo. A sentença devia ser executa­da no dia 16 de Outubro pela manhã, no Castelo de Montjuich.

O prisioneiro ainda teve a felicidade de re­ceber os santos sacramentos. Poucas horas an­tes da execução, pôde escrever uma carta a seus pais e entregá-la à sua irmã Maria, que obteve a permissão de assistir à execução.

O teor da carta é o seguinte :

Barcelona, 15 de Outubro de 1936 a bordo do “ Uruguay”.

v Meus queridos Pais,

Ao receberem esta, já saberio certamente da sen­tença de morte que o “ tribunal do povo" pronunciou contra mim.

O “crime” de que me acusam, consiste no fato de ter eu tentado defender a santa religião e a Espanha. E ’ com alegria e orgulho que dou minha vida por Deus e pela Espanha, e é nestes dias mais do que em outros, que sinto pertencer a vida não ao homem, mas a Deus.

Pedí a Nosso Senhor, para que a Sua santa von­tade se cumpra em mim. Louvado seja Deus, Êle reina sôbre a Espanha! Posso assegurar-lhes, que êstes são os dias mais felizes da minha vida. Morro pela minha Pátria com a conciência limpa, e aguardo, com ansie­dade, o momento em que Deus me vai chamar para junto de Sí.

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.. . **ao f1(iuem tristes, mas alegres ao receberem a no- tIcla. ae minha morte. Deus assim o quer! A Espanha precisa do meu sangue. Lá do céu, hei de protegê-los.

Perdoem as faltas que porventura possa ter co­metido e tôdas as máguas que lhes causei. — todos os aborrecimentos e tôdas as minhas negligências, tudo... tudo.

Querídos^pais, da mesma maneira como se alegra­ram por ocasião do meu nascimento e o agradeceram a • Deus, devem também agora alegrar-se e agradecer a Deus, 'Pois e a mesma sua Santa Vontade que se está cumprindo. Mil agradecimentos pela educação que me deram, pois graças a ela somente é que posso morrer como um verdadeiro e legítimo cristão. Pensem muito em Nosso Senhor e façam também com que meus irmãos nunca o esqueçam. Permita Deus que todos vivam e morram como bons cristãos.

Agora mais do que nunca envia-lhes um abraço e um beijo cheio de carinho

O filho que morre em Deus pela Espanha,

Fernando

Carta da irmã

Barcelona, 20 de Outubro de 1936.

Queridos pais:

Eis aqui as notícias mais exatas sôbre o que acon­teceu a Fernando. Enviando-lhes esta carta por via ex­traordinária posso escrever com liberdade.

Fernando foi julgado no dia 14. Fomos à casa do seu advogado (aliás um homem distinto), onde soubemos que Fernando fôra condenado à morte. Imputaram-lhe as acusações mais incríveis e absurdas. O seu desemba­raço durante o processo foi admirável. Sempre amável e corajoso, respondeu a tôdas as perguntas que lhe foram feitas, com calma e dignidade. Realmente, comportou- se como um herói. Num dos intervalos, disse ao seu advogado: “Lance tôda a culpa sobre mim, talvez assta conseguirá salvar os meus companheiros. O advogado (que lhe fôra designado oficialmente) ficou emocionado,

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porém nada disse aos seus colegas. A sentença devia ser executada no dia 16 às 6 horas da manhã. Fernando pediu-me que lhe arranjasse os retratos dos queridos pais por intermédio do seu advogado, bem como seu temo novo, pois queria estar vestido com a maior solenidade possível para enfrentar a morte. Estava tão alegre e despreocupado, que chegou mesmo a consolar o advo­gado que chorava ao ver infrutíferos todos os seus esfor­ços para salvá-lo. Às 4 horas da tarde tomamos uma lancha para ir visitá-lo no navio presídio. Não podem imaginar quão afetuoso foi o nosso encontro nessa oca­sião 1 Acreditem, pois é impossível fazer idéia de como êle estava calmo, resignado e mesmo despreocupado com a sua sorte, principalmente quando me pediu que lhes comunicasse que êle se sentia feliz de morrer assim. Du-

. rante 90 dias, preparou-se para a morte. Uma oportuni­dade como esta, de morrer tão bem preparado, nunca mais se lhe apresentaria. Nem uma só lágrima. Pelo contrário, sorridente e satisfeito. . . Um verdadeiro he­rói! Quis saber também o que fariamos com o seu corpo, e quando lhe dei a resposta ficou muito contente. Se for possível, pedia êle, gostaria de que o colocassem numa bandeira sôbre tuna cruz.

Lá do céu ajudar-nos-ia e animaria a todos, princi­palmente a seus irmãos (que estavam nas fileiras do exér­cito nacional) para que cumprissem a sua missão su­blime na terra. Recomendou-me lhes dissesse que Fer­nando deu tudo pela Espanha, agora devem êles fazer pela pátria tudo o que lhes for possível. Uma recorda­ção especial devo transmitir ao nosso irmão mais velho. Fernando manda dizer-lhe que morre como católico e es­panhol.

Pouco antes da sua morte, pôde confessar-se e co­mungar, graças a uma ocurrência feliz permitida pela Di­vina Providência. No fim deu-me ainda algumas cartas para os senhores e para seus irmãos. Quando nos des­pedimos, disse-me, que estava feliz e orgulhoso de poder morrer. Fôram estas as suas últimas palavras.

Vamos rezar por êle todos os dias e recomendá-lo a Deus.

Maria

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Reproduzimos aqui o belíssimo artigo que publi­cou Álvaro de Ataíde sôbre êsfce herói, na «Es­trela do Mar”.

Um congregado heróiFernando Vktal Térrea

A morte dêsse Mariano não é só uma confir­mação horripilante da ferocidade dos baixos ins­tintos do homem desbridado, entregue todo ao ímpeto das paixões, mas é também e sobretndo uma demonstração de quanto pode a graça de Deus numa alma generosa.

Congregado Mariano, Fernando Vida! Tor­res soube, na hora temerosa em que os comu­nistas espanhóis lhe arrancavam a vida, aganar- se ao manto azul da Virgem de Ifoatsenat e confessar desteraidamente a Cristo, confortado por ela no mais doloroso transe da exUaêacm.

Mais uma vez venftea-se «m Ftrando Vi- dal que o Marianismo das CeagwgaçSes leva » Cristo pelas mãos maternais de Maova. — Ad Jcsuni per Mariam!

Defendia Fernando a Cfcfterwdade de Barce­lona contra a Mria dos ttiw tlw s, qeawdo ama ba­la afoita o prostrou em tm a. Bte ** wadragada de 19 de Julho de 1936. Ffcfco puirtwnefoa» taada- zem-no ao hospital mditmr t da* eoaxateawat*

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ainda, o transportam para bordo do vapor URU- GUAY, que servia de prisão.

Um tribunal popular é instalado, á moda ver­melha, e, nele, condenado à morte o jovem Mariano.

M orrer?.. .quando a vida desabrochava no encanto suave da flôr primaveril? M orrer?... quando a vida se alargava diante dêlc numa estra­da de luz, e o sol da juventude lhe clareava os pas­sos?

Não se preoccupa com isto Fernando Vidal. “Morro por Deus e pela Espanha!” — declara êle na belíssima carta de despedida aos pais.

Encara serenamente a morte. Tem certeza de que vai para junto de Deus. Anseia por isso: “ es­pero com ansiedade o momento que Deus rae quei­ra levar para seu lado”. Esta confiança lhe nasce da convicção que tem de estar fazendo a vontade de Deus. “ Pedí a Deus que se cumpra sua vonta­de. É esta. Seja Êle bendito!”

No fervoroso Mariano está bem vivo o dogma da comunhão dos santos. “ Não julgueis que por deixar êste mundo vos abandone, diz êle noutra carta para seus irmãos. Lá do céu velarei por vós e pedirei a Deus que vos proteja.”

Nas vésperas de ser executado, recomenda aos seus irmãozinhos: “ Sêde mais carinhosos para com Papai e Mamãe; e pensai que fazem tudo por vosso bem.” Sente-se que o coração se lhe con-

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' ^^^ge. A saudade, como uma morte anticipada, esmaga-o impiedosamente. Êle acrescenta: Re­cordai-vos dos felizes momentos que passamos jantos.”

Onde é que Fernando foi haurir tanto va­lor para enfrentar a morte? Se os heróis não se improvisam, onde se temperou êste herói? Êle próprio nos revela o grande, o valiosíssimo se­gredo. Escreve aos pais: “Agradeço-vos infi- n.tamente a educação religiosa que me désteis, pois a ela devo o poder morrer como verdadei­ro cristão.” Eis a escola em que se educou o herói! No santuário do lar cristão êle aprendera que a vida é um dom de Deus; que êste dom Lhe pertence inteiramente, que devemos estar prontos a Lh’o sacrificar quando o pedir.

Lembramos acima a caridade de Fernando para com o próximo. A perfeição desta virtude c o amor puríssimo de Deus. Dêle deu a prova mais eloquente e mais insofismável. Ninguém pode oferecer maior prova de amor, disse Cristo no Evangelho, do que dar a vida por seus ami­gos. Fernando morreu “por Deus e pela Espa­nha”.

Foi fuzilado a 16 de outubro de 1936.O que desejava o grande poeta seu patrício,

Fr. Luis de León, êle o obteve felizmente. E morrendo, podia cantar à Virgem na sua Assun­ção gloriosa:

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“Ao céu ides, Senhora,

Lá vos recebem com festivo canto,

Ah! quem pudesse, agora,

Travar do vosso manto,

E convosco subir ao monte santo!”

Fernando, fervoroso e digno filho de Maria conseguiu esta ventura. E olhando-nos con. amor, “do monte santo”, nos convida a imita* suas virtudes, a nós que, como êle, nos prèzamcs de Congregados Marianos.

Álvaro de Ataíde.

1936

Imitador de CristoEUSÊBIO GAGO

“O jovem Eusébio Gago, membro da Con­gregação Mariana, morreu como um verdadeiro mártir.

Veiu êle da linha de fogo, com a mão com­pletamente esfacelada; os dedos estavam ligados somente por algumas fibras. Com a outra mão intacta, segurava as vísceras que lhe saíam do ventre. . . Até mesmo o médico ficou horroriza­do ao ver Eusébio neste estado lamentável, e quis dar-lhe incontinenti uma injeção de morfina. “ De

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maneira alguma, respondeu-lhe o jovem congre­gado, Nosso Senhor Jesus Cristo também não te­ve nenhum alívio em seus sofrimentos.” Quan­do as dôres aumentavam, apertava piedosamen- tc o crucifixo aos lábios. Pouco depois morreu.”

(Da carta de um Congregado)

1936

Morro com prazerVERGARA DE JEREZ

“O requeté Vergara de Jerez, veiu ao nosso front, com o famoso grupo Redondo, que em pouco tempo varreu mais de 500 localidades ocu­padas pelos vermelhos. Certo dia, seguindo o grupo as tropas em retirada, apareceu sôbre as colunas um aviador inimigo, lançando bombas. Uma delas atingiu Vfergara. Êste, caindo, pegou logo na sua medalha de Congregado, tinta dc sangue. Vergara era membro da diretoria da Congregação Mariana de Nossa Senhora da Ima­culada Conceição e de São Luiz Gonzaga.

Ao notar que a morte se aproximava, pediu que o cobrissem com a capa. Seus camaradas puderam distinguir suas palavras, pronunciadas com voz apagada: “Eu morro com prazer, pois morro por Cristo, por Deus e pela Espanha. Oxa-

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“ Ao céu ides, Senhora,

Lá vos recebem com festivo canto,

Ah! quem pudesse, agora,

Travar do vosso manto,

E convosco subir ao monte santo!”

Fernando, fervoroso e digno filho de Maria conseguiu esta ventura. E olhando-nos con; amor, “ do monte santo”, nos convida a imita- suas virtudes, a nós que, como êle, nos prezamcs de Congregados Marianos.

Álvaro de Ataíde.

1936

Imitador de CristoEUSÉBIO GAGO

“ O jovem Eusébio Gago, membro da Con­gregação Mariana, morreu como um verdadeiro mártir.

Veiu êle da linha de fogo, com a mão com­pletamente esfacelada; os dedos estavam ligados somente por algumas fibras. Com a outra mão intacta, segurava as vísceras que lhe saíam do ventre. . . Até mesmo o médico ficou horroriza­do ao ver Eusébio neste estado lamentável, e quis dar-lhe incontinenti uma injeção de morfina. “ De

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maneira alguma, respondeu-lhe o jovem congre­gado, Nosso Senhor Jesus Cristo também não te­ve nenhum alívio em seus sofrimentos.” Quan­do as dores aumentavam, apertava piedosamen- le o crucifixo aos lábios. Pouco depois morreu.”

(D a carta de ura Congregado)

1936

Mono com prazerVERGARA DE JER EZ

“ O requeté Vergara de Jerez, veiu ao nosso front, com o famoso grupo Redondo, que em pouco tempo varreu mais de 500 localidades ocu­padas pelos vermelhos. Certo dia, seguindo o grupo as tropas em retirada, apareceu sôbre as colunas um aviador inimigo, lançando bombas. Uma delas atingiu Vergara. Êste, caindo, pegou logo na sua medalha de Congregado, tinta de sangue. Vergara era membro da diretoria da Congregação Mariana de Nossa Senhora da Ima­culada Conceição e de São Luiz Gonzaga.

Ao notar que a morte se aproximava, pediu que o cobrissem com a capa. Seus camaradas puderam distinguir suas palavras, pronunciadas com voz apagada: “Eu morro com prazer, pois morro por Cristo, por Deus e pela Espanha. Oxa-

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lá que meu sangue comova a misericórdia de Deus para apagar meus pecados.” Poucos ins­tantes depois exalava o último suspiro. Seus ca­maradas levaram o corpo de Vergara à sua cida­de natal.”

(Dc um jornal editado em Córdoba)

"Irmãos, agora vedes, os santos em armas! Ficai alerta na luta, ficai alerta na batalha gloriosa. Quando há general, há também soldado; quando há soldado, há inimigo; quando há luta, há também vitória!”

(Santo Agostinho)

1936

A pureza é a m inha fôrçaBOB DELLEM YN

Os jornais holandeses noticiaram em 1936 a morte heróica de um jovem católico holandês, na guerra civil espanhola. Bob Dellemyn era aluno do Colégio de Santo Inácio em Amsterdam, e membro da Congregação Mariana. Com o con­sentimento dos pais, alistou-se no exército da Frente Nacional, “para lutar pelo seu Rei Jesú- Cristo, pela única vitória que almejava, e que lhe era mais cara do que a própria vida.”

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Da sua última carta aos pais, extraímos o seguinte:

Bordéus, 16 de Setembro de 1936

Meus queridos Pais,

Cheguei aqui, são e salvo; sobra-me ainda muito di­nheiro.

Ao receberdes esta carta, estarei provavelmente nas fileiras do Exército Nacional espanhol, para combater o comunismo mundial e ajudar a sufocar a insurreição da humanidade contra Deus.

Papai e mamãe, se isto fôsse simplesmente uma guerra civil, nunca teria pensado em alistar-me para com­bater. Mas essa luta na Espanha, é uma peleja entre ho­mens que amaldiçoam a Deus e homens que amam a Deus.

Se a Espanha se perder, a França também se per­derá.

Meus queridos pais, não temo a morte. Se eu mor­rer, será por Deus; então sucumbirei como um zuavo.

Quero confiar-vos um segredo: graças à proteção da Virgem Santíssima, pude viver sempre puro. A pu­reza é a minha fôrça.

Se vós, queridos pais, houvésseis feito alguma obje­ção a respeito de meu propósito, nunca me havería alis­tado como voluntário em Burgos. Antes de o fazer, pen­sei muito e ponderei, refletindo bem sobre o passo que ia dar. No caso de tombar na Espanha, vosso filho terá sucumbido em defesa da lei de Deus, na luta contra a insurreição dos homens contra o Altíssimo. No caso de vencermos antes de 1 de Dezembro, voltarei, para entrar na real marinha de guerra holandesa. Se não fôr possí­vel, obrígar-me-ei pelo prazo de 3 anos, a lutar nas fi­leiras do exército libertador espanhol, e então começarei a estudar a língua espanhola.

Concluindo, peço-vos perdão por todos os desgostos que vos dei. Peço também perdão a meus irmãos. Sem­pre cumpristes o vosso dever para comigo, mas eu nem sempre cumprí o meu para convosco. As leis de Deus, vós as cumpristes melhor que muitíssimos outros. Meus queridos pais, vós não o sabeis, mas Deus o sabe, muitas

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vezes durante os estudos e em ocasiões que não eram ' do meu agrado, cerrei os dentes para vencer-me. Embora ainda não seja um engenheiro formado, não está errada a minha profissão atual. Parto logo para San Sebastian. Possivelmente será esta a última carta que a vós escre­vo, queridos pais, irmãos e irmãs. Mais uma vez peço- vos que me perdoeis, vós, parentes, amigos e conhecidos e asseguro-vos, que no caso de voltar comportar-me-ei melhor do que antes.

Querido pai, querida mãe, caros irmãos, parentes e amigos, envio-vos minhas saudações, talvez para todo o sempre. Enviai-me, queridos pais, a vossa bênção por meio da Santa Comunhão. Queridos irmãos, queridas ir­mãs, orai por mim, que eu também o farei por vós.

Papai e mamãe, agradeço-vos tudo o que por mim fizestes, mormente os vossos sacrifícios; que Deus vos recompense e que seja feita a sua santa vontade.

Saudações de vosso filhoBob.

Humedecida com o sa n g u e dos congregados

Da carta do Presidente da C. M. de Saragoça ao P. Diretor.

O autor» doutor cm direito e professor-lcntc dc direito internacional da Universidade de Saragoça, esteve no front

' como oficial do exercito nacionalista.

“Ainda me lembro muito bem dos vossos conselhos; quantas vezes o senhor nos dissera que nos preparássemos para essa luta e para as perseguições do porvir, hoje realidade. Alguns daqueles de quem outrora ouvimos falar, já se­laram vossas palavras com o seu sangue e mes­mo com a morte heróica. É deveras emocionan­

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te e ao mesmo tempo religiosamente consolador, observar a parte dessa juventude espanhola que defende o seu Deus e a sua pátria, com uma fé inabalável e com um entusiasmo extraordinário, que muitos, fora da Espanha, não podem' imagi­nar. É pena que nem todos possam ser testemu­nhas da luta dos nossos heróis de Oviedo, da Ci­dade Universitária, de Teruel, de Alcazar, e tc ... Estamos pensando em reunir num livro, todos os dados sôbre a morte dos membros da nossa Con­gregação Mariana. Posso afirmar, sem exagero, que a metade da Espanha está humedecida com o sangue dos nossos congregados, pois nós, os Aragoneses, estamos lutando em tôdas as par­tes do front.”

O autor descreve, depois, o bombardeio aéreo de Saragoça pelos vermelhos, na madrugada da festa da Ascenção de Nosso Senhor. Os pilotos inimigos lançaram 5 bombas de alto poder ex­plosivo, das quais três sôbre a catedral, e, logo depois deste ato deshumano, fugiram cobarde- mente. Uma das bombas atingiu em cheio a fa­mília do advogado Henrique Prez-Pardo. Êstc era congregado mariano, ativo e modelar, há mais de 20 anos, e de 1923 a 1933 foi Presidente da Congregação Mariana em Saragoça. Em virtu­de dos seus merecimentos como Congregado, foi eleito Presidente honorário da Congregação. O governo do general Franco tinha-o designado como deputado provincial.

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Os seus dois filhos também eram excelentes Congregados marianos. O mais velho, José Hen­rique, foi o único membro da família que saiu ileso daquele bombardeio. A carta supracitada refere-se a este último, nestes termos: “ Com se­renidade e submissão admirável à santa vontade de Deus, suportou êle este terrível golpe. Com prazer — diz êle — oferecería a minha vida e a de tôda minha família a Deus pela Pátria. — Agora está cuidando de sua velha mãe e do seu tio, ambos gravemente feridos, procurando con- sôlá-los nos seus sofrimentos.”

“Nós somos teus soldados, ó Imperador, porem não hesitamos em nos confessarmos servos de Deus.

A ti devemos os nossos serviços militares; a Êle, a abstenção do ^pecado. Não podemos obede­cer a ti para ofender a Deus, que é nosso creador e também teu, queiras ou não. Primeiro juramos obe­diência a Deus, depois submissão a César. Como poderás acreditar no nosso segundo juramento, se não cumprimos o primeiro? Ordenaste que fossem procurar os Cristãos, afim de castigá-los. Não pre­cisas procurá-los, aqui estamos! Cremos em Deus, o Pai e Criador de tôdas as coisas, e em Jesus Cris­to, seu Filho que é Deus.. . ”

Do soldado-mirtir Maurício (cerca do ano 300 D. C .).

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2.° Grupo: Confessores da Fé

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21 de Junho de 1921

4 Um leprosoJO A # Ú U | AGOSTINHO

£L ^ Jfr,Joaquim Agostinho Çttfag;

ciante Camins, nasceu em l$j& ém ZpmSoanga na Ilha Mindanao das Filipinas* No íolégio dok Jesuítas da sua cidade natal, faz-se Congregado mariano.* / ■ ... r ' ; . ■

. V . ' ; • ; 'V VNo ginásio r e v e la - s e : almá bpnfasima dejj? ‘ '

Joaquim: sempre um dos primeira noseStudos,dirigente 'da orquedÉra <®feolar e?wh exímio ar­tista nas peças teatrais representadas no Colé­gio. Mais ainda: é forte e puro; úl^valill^eho cavaleiro com o escudo e a espada sem mácula» É tão forte de alma, que o Senhor pode s ^ n ^ r carregar a êste menino de 15 anos, um fardo.bem

Joaquim fica leproso e é obrigado, áos 24 de Junho de 1917, a se transferir para a colônia dos lázaros em CulioiíN|jjí&l para êle um golpe tre­mendo. No entanto.. perdeu o ânimo. — “Veja, mamãe — dizia para a ponsbW M te‘ nho a lepra, excusam lagrima*- hof deve­mos conformar com a vontade <íé Deus, e carre­gar a nossa cruz com paciênciâ. NSo havendo outro remédio, vòu mesmo parà Culion, para que me tratem alí. ”

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E Joaquim vai para o exílio. Sim, exílio, pois nio é outra, a sorte de 5.000 sêres humanos que sofrem sem esperança, isolados do resto da humanidade e do mundo. Este ambiente é a nova morada de Joaquim. O sacer- dote-herói dos leprosos, padre Damião Devenster, ao re­ferir-se à sua colônia dos lázáfos, escreve o seguinte: “ O hálito desses infelizes é tão fétido que a atmosfera torna-se insuportável e quasi não se pode respirar. A princípio tive uma grande dificuldade em acostumar- me, tanto qüe certo dia, celebrando a Missa, pensei que ia morrer asfixiado e quasi não resistí à tentação de sair para respirar o ar fresco, pois julguei que não aguentava mais. Porém o pensamento dirigido a Nosso Senhor diante do túmulo de Lázaro, deu-me novas fôrças. Agora já estou um pouco mais acostumado e não sinto mais essa repugnância ao visitar os meus pobres doentes. Con­tudo, ao ouvir confissões, as feridas dos penitentes exa­lam o cheiro apodrecido d# cadáveres e causam-me ainda nojo de vez em quando. Às vezes acho-me numa situa­ção embaraçosa, ao administrar a Extrema-Unção, por não haver mais, por entre as- chagas, nenhuma parte sã para a aplicação dos santos óleos. Médicos, não os há aqui, e mesmo que os houvesse, não poderíam trazer alíviojP

— Ultimamente, alguns médicos e algumas enfermeiras, bem como os padres Jesuítasptra- zem algum consolo a êsses infelizes. Um dos pa­dres, dirigindo-se ao nosso^ ipenino-herói, disse-

"Vê, Joaquim, a cruz é agora tua única consolação. Quando chegar o momento em que julgares não poder aguentar mais, então olha para esta cruz e pensa em Nos­so Senhor que sofreu muito mais ainda, file foi a ino­cência personificada e nunca fez mal a ninguém. Seu amor era ainda maior do que a cruz. E lembra-te tam­bém que, sempqji que um homem quer fazer algo de

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grande, apega-se à cruz de Nosso Senhor e sobç com *U o caminho duro e áspero que conduz ao Gólgotat Desta maneira torna-se o homem um verdadeiro «mHador ge Cristo, e traz aos pobres e infelizes paz e felicidade."

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Dito isto, pôs o padre uma cruz nas mfoi do jovem paciente. Joaquim aceita-a, e como exi- mio imitador de Cristo leva sua cruz durante quatro longos anos.

Enquanto pode, e as forças o permitem, aju­da os padres comò' prefeito nos dormitórios das crianças, dedicando-se sem restrições aos seus pobres irmãos de infortúnio. Com especial cari­nho preocupa-se êle com a sorte dos mais infeli­zes e desamparados. À sua palavra, sempre ca­rinhosa e amável, ninguém resiste e ninguém re­cusa, no seu derradeiro momento, receber a vi­sita do padre. Joaquim continua a ser o mes­mo apóstolo de Cristo como outrora, quando era prdfcdente da Congregação Mariana, com a^dife- rença somente de ter agora a têmpera da alma mais rígida e mais brilhante sob os golpes divi­nos do sofrimento.

•i‘ O doença de Joaquim, ao que tonsta, não

tem progredido, parecendo manter-se o seu es- tado primitivo; porém em Junho de 1921, e pre­ciso removê-lo para o hospital, pois estava ata­cado de tuberculose galopante. Dali escreve êle para casa: *

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“ Querido Papai, estou doente e morrerei brò- ye. Ofereço a minha vida e morte por ti. Teu filho Joaquim!

P. S. — Estou tuberculoso. No céu rezarei por ti, sim, por ti meu pai. Adeus!”

Um...alto funcionário do governo, tendo vi­sitado Joaquim, escreve a respeito dêle e dos seUs últimos dias de vida: “Estou surpreso ain­da. O sorriso celestial que se expressou no seu rosto, desvendou-me a sereniditóe e a paz de sua alma. Perguntei-lhe se lhe faltava alguma coisa; respondeu-me: “Os médicos são de opinião que os pulmões estão atacados e que não há mais re-

..médio; é questão só de alguns dias.” A calma . admirável com que o jovem falou da morte, sur­

preendeu-me de tal maneira que fiquei estupefa­to. Disse-me ainda, que se tinha submetido in­teiramente à vontade de Deus.”

fif>s 21 de Junho de 1921, terminaram os\so- irimentos de Joaquim. Sua admirável e boníssi­ma alma foi repousar nos braços de Nosso Se­nhor a quem Joaquim tanto amou. Nesse mo-

* mento realizava-se o que este herói havia escri­to três meses antes:

“Amo a Deus e quero amá-LO sempre e eter­namente! Um só amor: Deusl Um só desejo: Deus! Uma só alegria e uma só felicidade: Deus!”

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29 de Março de 1916 ' .■ i ■*

Heroísmo dum menim)ANDRfi DE THAYE

André de Thaye, filho do engenheiro-geókf- go Dr. de Thaye, nasceu em 17 de Marçoyd^l9ÍS^ em Jumet-Gohyssart; perto de Charleró^/ dò sul, da Bélgica. Aos 19 de Março recebe o batisfao.O menino Andre distingue-se por duas qualidtfjt des: gênio alegrqje vontade férrea.

Quasi não se passa dia, sem que André te­nha posto a casa em alvoroço com as suas tra­vessuras, ou tenha feito os seus dar bôas garga­lhadas . Hoje calça as botas gigantes do v o v q

para ir passear, e amanhã, imitando os gatos e cachorros, põe em reboliço tôda a cachorrada de Charleroy, provocando um barulho infernal na cidade. .

A primeira prova de eua energia, deu-a Andfá ao*5 anos. Os seus pais acham graça e riem-se do^impo- Iho quando êste manifesta o seu "eu quero ir à escola’*. André indignadíssimo com êste menosprezo, vai direitpf ao Irmão Reitor do Colégio dos Maristas, e diz: "Meâ querido Irmão Reitor, tu me conheces e sabe* quem <q> sou, pois eu sou o irmão de Alberto. Eu também quero' aprender no teu Colégio, e j i .” Diante dêsse imperativo categórico, o Irmão Reitor não hesita, e o garotinho de cinco anos foi para o colégio. No entanto, não é *ó para impor a sua vontade e teimosia, que êle se mostra enérgico.

Pouco depois do Natal, seu "cofre" estava mais pe­sado. Os presentes haviam sido generosos. André ouve, casualmente, a conversa entre seus pais, sôbre i situa-

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ção precária em que se encontra, devido à crise geral, um sacerdote velhinho, conhecido deles. Não vacila muito, e embora com sacrifício, pois já sonhara com certos brin­quedos que tencionava comprar, pega o cofrezinho, sa- code-o e tira tudo, tudo, sem deixar um níquel sequer. Um padre acha-se em necessidade? — Pronto! Acabou- se 1 — André leva as suas economias ao pai e diz: "Papai, tome isto para o velho padre!" — Adeus sonhos, adeus brinquedos. — André não pensa mais no que podia ter comprado. Sim, André tem uma vontade forte que lhe permite fazer sacrifícios.

Como tudo mais, também a piedade era-lhe coisa natural. Podendo chamar a Deus de Pai, e Maria Santíssima de Mãe, para que então usar livros? Visitar Nosso Senhor e Nossa Senhora na igreja é contar-Lhes tudo, breve e claro, o que sua alma de criança sente, é para êle coisa tão natural como dar bom dia ao pai.

Com 10 anos vai André para o Colégio dos Jesuítas de Charleroy. É bom nos estudos, porém melhor ainda no jogo de football e de tenis. Um excelente “keeper”, comanda os onze da sua clas­se e é mesmo um bom companheiro de jogos.

André possue, como é de esperar, um aparê- lho fotográfico, e nada escapa à sua objetiva, nem homem, nem animal. É no seu receptor de cons­trução própria, que sintoniza uma estação após outra, pois é um menino de habilidade extraordi­nária. Eternizar no seu livro de história natural, o Cesar e Vercingetorix, como boxeur e atletas “peso mosca”, causa-lhe o mesmo prazer que as fiéis caricaturas que faz dos seus professores.

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Não é para admirar que em breve André se incorpore ao grupo de escoteiros. “Sempre aler­ta é o lema que lhe convém e agrada porque semelhante às suas preferidas linhas retas. Os colegas gostam deste menino ativo e piedoso; clegem-no como seu Presidente na Congregação. A necessidade de amar sua mãe é para êle coisa evidente.

Parece que tudo lhe corre bem • facilmente, sem lhe causar o mínimo embaraço ou exigir esforços. Quando André aparece com o seu sorriso, ou mesmo rindo, niò há quem possa resistir e todos riem também; é um pri­vilegiado da sorte. Sua mie, preocupada com o gênio alegre e a ligeireza do filho, adverte-o dizendo: “André, não sei como tu queres alcançar o céul Nunca te esfor­çaste; não sabes o que é sofrimento; defeitos grandes para combater, não os tens. Em verdade, tens poucos merecimentos para apresentar a Nosso Senhor, até, me­nos do que todos os outros!” — André fica, por um ins­tante pensativo; depois ri e diz: “Deus o sabei” Sim, Deus o sabe, e sabe melhor.

Durante as férias de 1926, ajuda, com o seu grupo de escoteiros, aos monges de Orval no rc- erguimento do mosteiro. Depois, pouco antes de começar o novo ano escolar, faz o seu retiro es­piritual. No terceiro e último dia dêsse retiro,' já não pode aguentar; dôres insuportáveis na co­xa esquerda obrigam-no a voltar para casa. As dôres aumentam, e Andre para não gritar, cerra os lábios num esforço sobrehumano. ‘Sofro dô­res horríveis — confessa a sua irmã mas nao diga nada a mamãe! — Mamãe já sofre bastan­te!” Ver a mãe chorar, era para André, mesmo

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quando ainda pequeno, o maior desgosto. Final­mente conseguem os médicos estabelecer o dia­gnóstico : uma forte inflamação da medula dos ossos. Torna-se indispensável interná-lo num hospital para ser operado; porém, mesmo diante desta perspectiva, André conserva o seu sorriso e a-pesar-de sofrer muito, continua alegre e brin­calhão. Forças para isso? — André recebe-as de Nosso Senhor.

Logo ao ser internado no hospital diz à Ir­mã, sua enfermeira: “ Irmã, estou acostumado des­de muitos anos, a comungar diariamente. Tam­bém aqui, quero ser fiel a êsse costume e peço tenha a bondade de se encarregar desta in­cumbência, para que eu possa receber aqui a Nos­so Senhor todas as manhãs!” E a bôa Irmã de Caridade não pôde negar-se a cumprir êsse dese­jo de André.

Em breve veem noites terríveis para o nosso herói: André não pode dormir. A febre sacode todo o seu corpo, e a sêde tortura-o de tal ma­neira que os lábios ressequidos se racham. E as­sim, neste estado, passam-se sete, dez, doze e mais horas. André porém permanece firme no seu propósito de receber a Nosso Senhor na Hós­tia Sagrada, abstendo-se de tomar algum refrês- co ou algumas gotas dágua. Seu corpo exaus­to, seus lábios fendidos e sua fronte ardente em consequência da febre implacável, reclamam água para aliviar a sêde que o devora; mas êste me-

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nino de 14 anos, forte e inabalável nb seu propó- ^ v sito, suporta tôdas as torturas do corpo, e .. . re­

siste vigorosamente, como um herói. Êste esta­do prolonga-se por muitos dias! André continua a resistir, dia apos dia, fortalecendo sua alma com Jesus Sacramentado, continuando a ser também o que era antes, o menino que irradia sol.

Já sabe que vai rnórrcr. “Sei — diz êle a um amigo —- que vou morrer, mas não me incomodo com isso, pois não tenho nada. Porém, o que me preocupa, é o golpe que vai atingir papai e mamãe. Só nisso é que eu penso.” — Sim, André somente pensa nos outros. Quando recebe visitas mostra-se alegre e brincalhão, não deixando trans­parecer no seu semblante a mínima sombra de sua dôr, que muito o atormenta e quando lhe perguntam como vai e se está sofrendo, responde alegremente: “Oh, isso não é nadai” — palavras aliás, que êle costumava dizer, sempre que alguém lhe causava alguma mágua.

A-pesar-de uma segunda, e mesmo depois de uma terceira intervenção cirúrgica, não houve melhoras; o seu estado foi peorando. André porém suporta tudo, sem manifestar seu sofri­mento, causando admiração ao velho médico. Êste, com 30 anos de prática de cirurgião, que assistiu a todos os horrores da guerra, en­tusiasma-se pelo seu jovem paciente quando fala aos assistentes: “Nunca na minha vida vi um doente que possuísse energia igual à dêste meni­no !” — E à mãe de André, que o consulta, diz. “Seu filho comoveu-me! Sou um homem habi­tuado aos sofrimentos dos meus pacientes, e a

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minha profissão, exercida durante longos anos, * não me fez sensível às dores físicas, mas, no caso _ t : de seu filho, fiquei penalizado e confesso-o, mes­mo comovido, quando li nos seus olhos bem cla­ro, a angústia e o medo da dôr que o aguardava, mas vi também a sua vontade forte e inquebran- tável, de querer sofrer calado como um herói!”

André é na verdade um herói. Um herói, até ao fim, um herói em Nosso Senhor! Na madru­gada de 29 de Março de 1926 parte quieto e ca­lado, com os olhos abertos, para vêr seu Deus, o Bom Jesus, no Reino Eterno.

A minha fronte roçou a fímbria ale­gre da vida,

E um sorriso, leve como uma flôr, des- prendeu-se-me dos lábios.

Reinhard Joh. Sorge (Inscrição no túmulo de um cristio)

Janeiro de 1938

Legítimo cavaleiro de M ariaPIER R E CHALMAGNE, de 19 anos

Pierre Chalmagne fôra, até Julho de 1937, aluno do Instituto São João Batista de la Salle em Saint Gilles, perto de Bruxelas. Dotado de t uma saúde invejável, inteligente, de olhar franco e aberto, gênio resoluto e reto, entusiasmando-se

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facilmente por tudo o que eleya o espírito, e pelos ideais sublimes, era Pierre um verdadeiro modê- lo^de estudante. Nas suas anotações, encontra­das depois da sua morte, lemos entre outras, a seguinte: “ Ser bom! Eu devo ser bom, como o foi Nosso Senhor; devo servir ao meu próximo como Nosso Senhor o fez, e mesmo morrer pelos meus amigos, por amor de Jesus, que tanto me amou. Sobretudo, devo serví-Lo fielmente, e ser, como Êle, um modelo, para os meus compa­nheiros, e os que me rodeiam. . . ”

Pierre era assistente na Congregaçlo Mariana. Sen amor à M ie de Deus era exemplar. O conhecido livro de William: "A vida de Maria, Mãe de Jesús”, foi o último livro comprado por êle antes da sua morte. Depois de concluído o curso da Escola Normal, fizera o firme propósito de aprender latim para depois fazer-se padre nas missões. Em Setembro de 1937, entra no se­minário dos Padres Brancos e começa os trabalhos com energia extraordinária e mesmo assustadora. Ao mesmo tempo pôs mão à obra, para corrigir e dominar seu gênio impulsivo, às vezes violento. Quando volta à casa por ocasião das férias de Natal, todos ficam admirados com a paciência e mansidão que êle conseguira adquirir nesse curto espaço de tempo.

Justamente, quando devia partir, aparece um tumor, que lhe infecciona o sangue. Há pe­rigo de vida; torna-se indispensável uma opera­ção imediata... M as... é tarde! Pierre morre.

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Quatro dias fôram suficientes para quebrar a saúde e a resistência de Pierre, mas também para revelar sua alma heróica em tôda a sua ple­nitude e beleza. A infecção incha-lhe horrivel­mente o rosto; já não pode ver com o ôlho es­querdo. Pouco a pouco estende-se a inflamação aos centros nervosos da cabeça... Seus sofri­mentos são horríveis, porém, nenhuma queixa sai dos seus lábios. Pelo contrário, procura sorrir ainda. Seu têrço, que há dois anos traz sempre consigo, tem-no enrolado nos pulsos.

À meia-noite atingem as dores o auge, tor­nam-se insuportáveis, contudo nenhuma queixa... De repente, pelas 3 horas da madrugada, ergue- se e com os olhos bem abertos olha para um can­to do quarto e diz sorridente: “Veja a Vir­gem Celeste. . . Ela vem! .. . e nesse mesmo ins­tante ca i... morto.

Pierre tinha duas senhas: Sempre pronto!— Estava sempre pronto, seja para comungar, seja para m orrer... — Para as alturas! — Deus

■<ez que esta senha se tornasse realidade, em todo o sentido da palavra,

E a gloriosa Rainha do Céu levou-o pessoál- mente para a glória eterna; a nós, porém, deixou a lembrapça do seu santo Congregado.

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19 de Janeiro de 1931

Almas gêmeas: ^São Paulo e Memi Vian

MEMI VIAN, de 22 anos

"Como padroeiro, quetiít um santo, jovem e cheio de entusiasmo para tudo o que vale a pe­na saber, que tenha participado da luta social; que soubesse lidar com pobres e ricos e tivesse convivido com ignorantes e sábios; com inclina­ção para a arte, mas também sério e ponderado. Deveria ser um santo que se tivesse extasiado . com a Santa Eucaristia e tivesse tomado parteem todos os acontecimentos notáveis de seu tem- &

• ■#po, sem sobressair; que desejasse falar em tôda a parte, e, com a conciência limpa, tivesse levado uma vida de recolhimento e agradável a Deus; que soubesse fazer estremecer o mundo, sem ja­mais ficar irritado. É pena, não ter eu encontra­do, até agora, um santo assim.”

Com isso desenhou-se Memi Vian a si mes­mo.

Memi Vian nasceu em Vicenza aos 18 de Outub*^ de 1908. Era um menino calmo e retraído. Seu ornar e tôda a sua aparência revelavam a inocência e o gênio alegre de um bom menino. Instintivamente sentia repu­gnância por tudo o que pudesse turvar sua purera. #

A 8anta Comunhio quotidiana i a fôrça e betem de sua juventude. Já muito cído consagrar á Santís- «ima Virgem na Congregação Manana. TqqO belo e nobre: arte, poesia, literatura, a vidf pqplt tuao 0v

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isto o encanta. Sua fantasia límpida vê na arte somente os sorrisos angélicos, a beleza do céu e o encanto da natureza para louvar a Deus.

Com 16 anos de idade, fez-se Memi aprendiz num Banco, onde ficou dois anos. Seu espírito muito vivaz e inteligente não encontrava dificuldade em aprender o serviço bancário, desempenhando as suas funções com zêlo e desembaraço, tendo sempre na mente e diante dos olhos: “ Deus, julgando-nos, não perguntará se realiza­mos grandes obras, mas como temos cumprido as nos­sas obrigações”.

Nas horas vagas da noite e nos domingos, não tendo serviço, Memi podia ser visto frequen­temente nas ruas estreitas e nos becos de Vene­za, em companhia de numerosos amigos jovens que o acatavam como a seu dirigente. Não raro, colocava no seu calçado pedrinhas para se “ mor- tificar um pouco.” Atendia a todos e sempre es­tava disposto a servir aos que o procuravam ou pediam seu auxílio. Quem não o estimaria? Sua conversa e suas palestras animavam e entusias­mavam a todos, tanto mais quanto sabia dar-lhes um tom alegre e interessante.

Das obras da juventude católica de Veneza, participou sempre com entusiasmo e dedicação: conferenciou, escreveu, apresentou idéias novas como produtos do seu espírito audaz e fervoroso,

•e serviu como exemplo aos outros pela profunda religiosidade de sua vida católica.

Nunca sentia mêdo, nem mesmo o conhecia; sabendo que Deus estava com êle, parecia-lhe que tudo era possível neste mundo, não havia impos­sível pára êle.

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P or ocasião do ano santoJfc 1925, r w lW a to. ventude católica, uma p rocissíoW ne pelas tuas de w ! neaa. À frente da mesma* ía Memi carregando a grande cruz, o símbolo glorioso da sna Pé.

. ? utra vcz’ t<*nando Parte na procissão de Corpus Chnsti, e vendo numa banca de jornais alguns retritos indecentes, saltou da fileira e arrancou-os corajosamsnte, pois julgava-os uma ofensa a Nosso Senhor, que justa* mente passava, e também às criancinhas inocentes que O acompanhavam.

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O ideal luminoso que o inspirava em soa vida de apóstolo leigo, era o Papa; ainda quando criança excla­mava: "Oh, se eu pudesse ser soldado do Santo Pairei"

A sua entrada nas fileiras da juveqfpde católica de Veneza, realizou Memi com as palavras; "O Santo Pa­dre o quer!”

Colaborador e organizador incansável da boa £ imprensa e das obras missionárias, propaga-as-^r fervorosamente. idéia de viver na época dçu- rada das missões, enche-o de grande satisf$$ão e alegria. "O problema das missões — diz êle — é sobretud^o prcd^ma do amor.” E conti­nuando, acrescenta: ^Num livro de Paul Clau- del, encontra-se uma pergunta, <fi é/fáz estreme­cer. Um cego, que nunca vira a luz, perguntou: “Vós, que conheceis a luz, que afazeis com éla?A mesma pergunta dirige a massa enorme de gentios a nós, que possuímos^a luz da Fé> Jesus trouxe ao mundo o grande bem da salvação; e quais são os nossos esforços para difuadi-lo e , torná-lo conhecido daqueles que *ind* Êf nas trevas da idolatria e da ignorância ?

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Dor ante o inverno» desculpava-se frequentemente diante doa paia: hoje {tarde o chapéu, amanhã será o “cache-nez” , depois as -luvas, e assim por^ diante.^ Certo dia, voltando para casa aep» o colête de lã, aproximou-se dêle o pai e lhe perguntou se por acaso não “perdera” essa peça para um pobre. Memi, cqm as faces enrube- cidaa, confessa: “ Sim papai; mas não diga nada a ma­mãe!”

A 31 de Dezembro de 1926, entra Memi, aos 18 anos de idade, na Congregação de S. Paulo, recentemente fundada. A apóstolo São Paulo é o Santo que mais o atrai.

lím a palavra. sua sobre o Apóstolo revela-nos o modo como trapalhou nos últimos'«aos. “ Ser apóstolo —• diz Sle certa vez — é ser um . servidor. Ser apóstolo quer dizer, servir aos nossos irmãos por amor de Deus. Ser­vir é proporcionar o alimento espiritual bem preparado e nutritivo, cuja escolha exije de nós, muito trabalho e esforço, servir e compreender o coração e os sentimen-

Sr tos de nossos irmãos pela participgção sincera de suas dõr£S e de seus sofrimentoS’; finalmente, servir, de um mOuo direto, é ser dócil, atendendo-os sempre no que for prieshrcl» com a mais ampla solicitude, não lhes negando com um áspero “não” o que nos pedem, nem mesmo com a excusa de “falta de tempo” ou "não posso”, diri­jam-se a outros. — . E ’ precjap que Séssos irmãos ve­jam e sintam o nosso prazer em lhes servir, e devemos ser gratos aos quç nos pedem alguma coisa por nos ofe­recerem Uma Oportunidade de podermos exercer a cari­dade cristã. NãO quero nunca faltar a esta virtude, nem mesmo, se por isso, correr o risco de passar por bobo, idiota ou imbecil. Não, para os meus irmãos, só tenho

• amor, amor, amor t Neles quero ver, unicamente, o Bom Jesósl”

No verão de. 1927, encontramos Memi em* JParís. * Sem a menor hesitação, dedica-se ao es- ,

^udt>,dá língua francesa, afim de se tornar mais apto é tfiaiá útil ao seu apostolado.

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Todas as manhãs, bem cedo, após ter assisti­do na capelinha à Santa Missa, recebido a Jesúa Sacramentado e feito as suas orações quotidia­nas, deixa Memi, esperançoso, cheio de amor de Deus e do próximo, a pequena casa da Rue Blan- che, atravessa a Praça da Santíssima Trindade e toma o trem subterrâneo que o leva aoe arrabal­des extremos da cidade, aos subúrbios de Pantin, Petit-Ivy, Bicetre, Levallois-Berret e Issy les Molineaux. Em geral leva o almoço consigo.

E que faz êle alí ? Durante o dia esperam-no, como a um anjo consolador, as criancinhas da colônia italiana, os pobres, velhos e doentes nos seus casebres. Ao pôr do sol, porém, encontra-se com os operários, que voltam do seu trabalho diurno. Para estes, organiza conferências, reu­niões, pequenas representações, festinhas e diver­sões; também não faltam conversas mais sérias e prolongadas.

Certo dia entra Memi* em companhia de um outro confrade paulino, numa sala apinhada de operários ita­lianos. Alguns dos mais exaltados, da extrema esquerda, reconhecendo os dois jovens, começam a protestar e a exigir a sua retirada. Memi no entanto, nio se deixa in­timidar, e dirigindo-se ao seu companheiro, diz: “ Deixe isso comigo, não tenho mêdo; arranco do revólver e en­tão 'verás como lhes responderei/' Dito isso tira do bolso... um terço e, agitando-o por cima das -cabeças dós revoltados, exclama: “ Olhem! Eis aqui as nossas armas!” E assim os venceu...

Outra vez num bonde, cai-lhe uma medalha de Nossa Senhora. Os passageiros começam a sorrir e a fazer as suas observações pouco lisonjeiras; Menti porém,' não se incomoda com a atitude da assistência, sem se

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perturbar, inclina-se e levanta a medalha, beija-a piedo- samente e com ternura, i vista de todos, e depois cuida­dosamente guarda o seu tesouro no bolso.

Em Setembro de 1929 é transferido para a nova casa, destinada pelos Superiores da Con­gregação, para abrigo de ex-penitenciários. Me- mi, embora exausto devido aos esforços exces­sivos de sua atividade missionária, repousa so­mente por alguns dias, para depois começar com maior intensidade no seu novo campo de traba­lho. Em breve torna-se êle o amigo dedicado e carinhoso desses homens, que anseiam pelo mo­mento de lhe poderem abrir o coração. E nesta tarefa de confidente dos ex-sentenciados, sente Memi indizivel satisfação; os mais infelizes den­tre êles, e os que sofrem, são os seus prediletos. Acompanhando todos os transes desses pobres desprotegidos e passeando pelas alamedas tran­quilas do jardim, permanece em conversas prolon­gadas com êles. Mas o que os atraia êsse jovem, não são tanto suas palavras, quanto o seu rosto expressivo que brilha de ardor missionário como o do primeiro diácono S. Estêvão. Nenhum dêles resiste aos modos singelos e encantadores dêste jovem modesto e sempre amável, e todos sentem uma verdadeira admiração por sua alma pura e cheia de amor divino.

No mês de Maio do ano seguinte, recebe do diretor da casa, licença de falar á noite, aos asila­dos, sobre a Santíssima Virgem. Memi fala com

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tanta simplicidade e ternura da sua Rainha, que todos os seus ouvintes ficam profundamente comovidos. Memi é de opinião, que aqueles ho­mens podem transformar-se em santos, e que aquela casa que habitam não deve ser sómente um abrigo temporário, mas ainda, uma habitação de creaturas abandonadas que, tocadas pela gra­ça de Deus, modificam sua vida e se dedicam aos exercícios de virtude e das boas obras, por amor de Deus.

Em Junho de 1930, sente-se Memi com a saúde alquebrada. Nada o pode salvar. Êsses meses de enfermidade sazonam a vida cristã dês- te jovem soldado de Cristo. Memi morre a 15 de Janeiro de 1931. Nas suas últimas anotações, canta o louvor do amor cristão. Eis aquí o seu testamento:

“ O amor vence tudo! Durante o curto período da minha atividade apostólica, pude verificar sempre, que somente o jugo do amor é suportável, e que ninguém pode resistir ao sorriso amável, à bondade e à mansidão. Os homens são em geral tio orgulhosos que nada mais os pode impressionar, a não ser a humildade, a humil­dade verdadeira. Só com delicadeza e humildade é que se podem conquistar as ^)mas. Ainda ontem, ouví re­petir um ditado que muito me agradou e do qual sempre hei de me lembrar no exercício da minha missão: “Mais bondade do que justiça.” Devemos ser mais bondosos do que justiceiros, para curar as feridas morais dos nos­sos irmãos. O temor de ser demasiadamente bondoso é só uma tentação para não praticar um ato de caridade, pois ninguém é demasiado bom, e mesmo o melhor e o mais bondoso dos homens não pode ser melhor • mais bondoso do que Deus."

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22 de Maio de 1929%

Um herói nos sofrimentosMANOEL GONZALEZ ECHA-

VARRI Y ARMANDIA, d• 22 anos

Nasceu aos 20 de Novembro de 1906 em Val- ladolid na Espanha; fez a primeira Comunhão com 7 anos de idade, aos 31 de Maio de 1914. Na lembrança dêsse santo ato religioso estão impres­sas as seguintes palavras:

A minha confiança está fundada em Deu6, na Santa Eucaristia,

O Seu sangue fortalece-me, a Sua paz tran­quiliza-me

O Seu amor sustenta-me.

Estas palavras tornar-se-ão verdade autênti­ca em sua vida.

No Colégio de São José dos PP. Jesuitas, onde Manoel faz os seus estudos ginasiais, é ben- quisto por todos, como companheiro leal e bom desportista. Um futuro brilhante e venturoso pa­rece que lhe está assegurado.

No entanto, em Julho de 1921, na casa de campo de seus pais, Manoel sofre uma queda do- lorosissima, em virtude da qual o resto da sua vida toma um rumo bem diferente do que se po­dia esperar. Os médicos verificam em Manoel a horrível doença de "ciática articular inflamada”,

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como consequência da queda. E desde aquele dia começa para Manoel um martírio ininterru­pto e crescente, durante 7 longos anos, até o mo­mento em que todos os remédios perderam tôda a eficiência para aliviar as suas dôres cruciantes. A arte médica não consegue salvá-lo; no ano de 1927 torna-se evidente que todos os esforços hu­manos são baldados, pois a-pesar-de duas inter­venções cirúrgicas, o seu estado de saúde não apresenta melhoras.

Em 1928, aparecem sintomaa completamente alheios à ciática articular. Crises fortes que se repetem perio­dicamente; começam de repente e se prolongam por 20 a 25 minutos, seguidas por convulsões que jogam o corpo esquelético do jovem sofredor de um lado para o outro, fazem estremecer a cama, enchem os presentes de horror e de angústia, e aumentam o martírio. Passada a crise, desfalece o doente, ficando neste estado de incondência durante cerca de duas horas, que são o seu descanso. Depois recomeça o martírio. Durante os últimos 18 meses de sua vida, sofre Manoel nada menos do que 1.000 desses ataques e crises, sendo 1 por dia nos meses de verão e 3 na média nos outros meses do ano.

Além disso, aparecem no seu corpo diversas feridas na espinha dorsal e nas pernas. Pouquís­simos são os momentos que lhe permitem algum repouso. Tanto os seus médicos, como as Irmãs enfermeiras são unânimes em afirmar que nunca viram tanta dôr e tantos sofrimentos num só cor­po.

Manoel suporta tudo com uma calma e re­signação admiráveis num jovem, e, com tôda a alma, bebe o cálice amargo do Senhor. Seu úni-

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co desejo é obter de Deus o perdão das suas fal­tas e de se tornar digno de que seus sofrimentos se unam aos do Bom Jesús para o resgate das almas. Suas dôres aumentam cada vez mais. A morfina e o pantopon, que os médicos lhe apli­cam afim de aliviá-las, após três ou quatro vezes, tornam-se sem nenhum efeito. Contudo, depois de ter recebido a Extrema Unção, os ataques cessam repentinamente.

O pai de Manoel, vendo seu filho sofrer, fica tão impressionado e comovido, que consulta mais uma vez o médico. Este é de opinião que uma certa injeção, que tem produzido efeito em casos semelhantes, não podería ser prejudicial. Manoel porém, em pleno poder de suas faculdades, responde: “ Isso, no meu estado atual, seria suicídio”, e a planejada injeção hão se realiza. Ardente­mente deseja a morte que o livrará dos seus sofrimentos, porém com absoluta submissão à vontade de Deus re­signa-se e pede somente: “ Meu Deus, se é a tua von­tade que eu continue sofrendo, então também o quero; mas, meu Deus, dá-me a graça da conformidade e da paciência.”

Os últimos momentos da vida de Manoel teem todos os caraterísticos da morte dos esco­lhidos. A 20 de Maio de 1929, está com as mãos e os pés já frios; seu coração porém, ainda bate chçio de amor a Deus e de ternura para com seus

' pais. Na noite de 20 para 21 de Maio, ainda reza com fervor: “Senhor, levai-me para o céu ... Eu vou para o céu. — Como me sentirei feliz no céu.”

Pouco antes de morrer, dirige-se Manoel a seu pai e diz com voz enfraquecida, que peça per-

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dão ao presidente da Congregação em aeu no­me, pelas faltas que porventura pudesse ter co­metido ou por tê-lo ofendido em qualquer oca­sião. E logo em seguida acrescenta: “Diga-lhe que a minha primeira oração junto a Deus, será por êle”.

Às quatro horas da madrugada, Manoel as­siste à última Missa, que o padre reza no seu quarto. Quando a campainha assinala o momen­to da Santa Comunhão, perguntam a Manoel, se também deseja comungar, e éste, já não poden­do responder, acena com a cabeça. — É a sua úl­tima Santa Comunhão na terra. Pouco a pouco, à tarde do mesmo dia, 22 de Maio de 1929, apaga- se a vida dessa vítima que se vai para receber a recompensa dos seus padecimentos. Por uma li­cença especial o seu corpo é enterrado com o há­bito da Companhia de Jesús.

Na vida do nosso Congregado Manoel Êcíia- varri, foram os sofrimentos excessivos que o le­varam à união mais íntima com Nosso Senhor. Como era grande o amor de Manoel para com seus pais! Para lhes poupar preocupações, es­conde-lhe quanto pode os proprioa sofrimentos.

Seu amor aos estudos é grande. Embora multo do­ente, prepara-se no leito de dôr, para concluir os estu­dos ginasiais, o que consegue após vencer muitos obstá­culos. Concluído assim o curso secundário, Manoel nio satisfeito com isso, aproveita as poucas horas que a sua doença lhe permite e matricula-se na faculdade de di­reito com o firme propósito de bacharelar-se, o que tam-

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bém consegue, ao completar 21 anos. Em 1924/1925, recebe lições de pintura. Não obstante seu estado de saúde ser precário e os incômodos da doença lhe causa­rem dificuldades, por ser obrigado a ficar de cama, faz em pouco tempo progressos notáveis, deixando um número bastante apreciável de quadros. Muitas ve­zes escolhe assuntos religiosos para as suas obras de arte, como por exemplo: São Luiz Gonzaga, visitando e tra­tando, nos hospitais de Roma, os doentes atacados pela peste. Um dos seus quadros, mandado em 1928 à expo­sição na Academia de Belas Artes, foi premiado no con­curso, com uma medalha.

Todavia, nem os estudos, nem a nobre arte de pin­tura são capazes de o fazerem suportar os sofrimentos horríveis que o atormentam. E ’ a fé que o fortalece, é o amor a Jesús Sacramentado que lhe dá essa paz e ale­gria, que se refletem no seu rosto, produzindo o milagre de sofrer em silêncio, sem que a menor queixa descer- rasse seus lábios. Manoel ama a Nosso Senhor com o fervor de tôda a sua alma jovem e pura. Quasi to­dos os domingos e dias santos, recebe êste fervoroso congregado a Santa Comunhão.

Dois dias antes da sua morte — já cego — aviva seu espírito ainda uma vez. Um só desejo exprimiam seus lábios: “Quero comungar!’’. Seu pai aproxima-se e diz baixinho ao ouvido do fi­lho doente: “Oferece esta comunhão pela beati­ficação de Pio X. Depois de Deus é a êle que deves a graça de poderes comungar frequente­mente." Tais palavras, ditas nestas circunstân­cias, encontram na alma dêste angélico jovem, uma profunda compreensão. A 26 de Março, de­pois de ter comungado, recebe a visita de seu confessor, a quem cumprimenta com as palavras: “Tenho uma passagem de primeira classe para

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o céu; por êsse motivo não gostaria de esperar na estação.’ Durante os últimos dois meses de sua vida, comungava três vezes por semana.

Manoel tem um grande amor a Nossa Se­nhora, e uma devoção especial à Santíssima Vir­gem de Lourdes. A leitura dos milagres, que ali se realizam, causam-lhe grande alegria. Êle mesmo gostaria muito de ajoelhar-se aos pés da Virgem Imaculada. Não sendo possível partici­par pessoalmente da peregrinação que vai de Valladolid a Lourdes, manda pagar de seu bol- sinho a passagem para um doente acometido do mesmo mal que o faz sofrer tanto.

Gosta muito de rezar o terço. O presidente da Congregação Mariana do Colégio dos Jesuí­tas, da qual Manoel faz parte como membro ati­vo, dá-lhe o melhor atestado: "Manoel era um modelo para os jovens, um imitador perfeito de São Luiz Gonzaga. Eu nem penso em rezar pela alma dêle; muito pelo contrário, prefiro recomen­dar-me a êle, que é um podefoso no Céu.”

A Sagrada Escritura é a leitura predileta de Manoel. Isso porém o não impede de se interessar pelas notícias desportivas. As audições de ra­dio agradam-lhe também; os aparelhos de rádio são manejados por êle com grande perícia.

Manoel Gonzalez de Echavarri nunca tomou parte na vida pública. A sua vida deslisou silen­ciosa e calma. Só os seus mais íntimos tiveram

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a graça de penetrar com o olhar a magnanimida­de dêsse jovem extraordinário, e ver o esplendor e as riquezas com que Deus dotou esta alma de escol. Hoje a fama de seu nome espalha-se por todos os recantos dò mundo, nas Congregações Marianas.

* * *

"A paciência é a força na sna maior potênciaLe Fort.

10 de Janeiro de 1930

Catedrático e médicoDOUTOR LUDOVICO NECCHI

Saber, obriga. Vico Necchi conhece esta obrigação perfeitamente e não se esquiva dela. Assim torna-se êle um apóstolo. Necchi quando ainda estudante de medicina, exerce sôbre seus colegas uma influência que já traz em si o cunho de um verdadeiro apostolado. Prova-o sua ami­zade com o comunista e socialista Eduardo Ge- melli.

Numa discussão bastante acalorada, consegue Nec­chi despertar a conciência dêsse jovem, o qual a-pesar-de se ter desviado, e estar mergulhado nas doutrinas er­rôneas, procura sinceramente a verdade e por ela se de­bate. E as conversas e discussões entre êsses dois jo­vens inteligentes versam constantemente sôbre assuntos religiosos. Gemelli aborda-os; Necchi responde, desen-

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volve, retruca corn argumentos claros e Irrefutáveis, • nunca lhe passa pela mente a idéia de eximir-se da sua santa incumbência, que aceitou voluntariamente. Certa vez, fazendo uma pequena excursio de barco no rio Ti- cino, embebem-se os dois amigos numa conversa sobre religião, com tanto ardor e desprendimento, que quasi foram abalroados por uma outra embàrcação, e se teriam afundado numa matéria bem diferente. . . nágua. E qual o resultado final dessas discussões? O jovem comunista Gemelli converte-se, torna-se franciscano, e hoje é Rei­tor da Universidade Católica de Milão, um sábio de fama mundial, cuja amizade para com Necchi perdura ainda.

Um outro colega de Necchi, Sílvio Girola, sofre mo­ralmente, devido ao seu pessimismo doentio. Necchi preocupa-se com a sorte de Sílvio, e para melhor com­preendê-lo, estuda essa triste filosofia, e a questão désse mal no mundo. Em breve, prepara e apresenta a seu amigo, três diálogos: dois sobre o pessimismo em geral, e um sobre o suicídio. Sílvio se convence e dêste modo livra-se do seu estado mórbido.

Muitos outros jovens estão sob a influência benéfica de Necchi. Às vezes uma só palavra sua, livra-os das aflições e dificuldades, ou é su­ficiente para evitar perigos. Muitos pais reco­mendam-lhe seus filhos, sendo que alguns fazem uma viagem longa e dispendiosa para lhos en­tregar e confiá-los pessoalmente, pois o seu exemplo atraente, e os seus conselhos, parecem- lhe inestimáveis. Necchi aceita esta incumbên­cia, zelando pelos seus jovens amigos, com todos os meios para preservá-los das seduções e do pe­cado.

Concluídos os seus estudos, ja médico for­mado, não diminue o seu grande amor ao próxi­mo ; pelo contrário, cresce ainda mais. Sejam po-

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bres ou doentes, a todos recebe com igual amor, pois em todos vê a Nosso Senhor Jesús Cristo. E é justamente esta caridade que o faz célebre e muito procurado como médico. Sua opinião sôbre o dever de médico é elevada e sublime: a ciência deve estar a serviço da caridade. O pro­cedimento de Necchi vae de acordo com êste le­ma, pondo sua ciência e profissão a serviço do próximo. Seus doentes são para êle os escolhi­dos de Deus, e em cada um deles vê Cristo Cru­cificado.

Para todos os doentes, sem exceção, é Necchi um verdadeiro pai; muitos deles afirmam com absoluta con­vicção que êle é mais ainda do que um pai: é um santo. Cura as moléstias psicopáticas não somente com os meios da medicina, mas sobretudo com amor e bondade, pro­curando compreender o espírito e a vida interna da alma de cada um. Desta maneira consegue inteirar-se do es­tado psicológico dè seus pacientes e falar-lhes de Deus e da Fé, pois cada doente é e será sempre para êle a imagem de Deus, uma alma imortal, por cuja salvação êle se julga responsável.

Por amor dos seus amigos e por obediência a seu diretor espiritual, participa Necchi da vida pública. Ao lado de muitos outros católicos de destaque, ataca o liberalismo e o socialismo nas Universidades. Nessa luta atém-se Necchi às disposições da Encíclica “Rerum Novarum” e submete-se em tudo aos desejos e às ordens do Papa. Afim de conseguir melhor êxito em sua atividade, segue os conselhos de seu guia espiri-

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tual: orar, sacrificar-se, trabalhar! A oração e os sacrifícios estão no primeiro plano da sua vi­da; só depois, em plano secundário, vem o seu trabalho nas reuniões e conferências.

Quando os socialistas retiram os crucifixos das escolas e querem apoderar-se das “Casas da Criança” para impossibilitar tôda e qualquer ati­vidade religiosa na educação, levanta Necchi en­tão a sua voz no Conselho Municipal de Milão e vence, graças à sua eloquência irresistível.

Quando o jornalismo e a literatura anti-re­ligiosa começam a atacar Lourdes e outros San­tuários católicos, é novamente Necchi seguido por Gemelli, que combate essa espécie de impren­sa, e com lógica irrefutável, demonstra e defende a Onipotência de Deus.

Necchi consagra um amor sincero e imenso a Nossa Senhora e a seu Santuário de Lourdes, pois é Congregado mariano, cavaleiro da Virgem Santíssima, e escolheu Lourdes como destino da sua viagem de noivado. Não é, portanto, de ad­mirar que esta defesa da Rainha-Virgem, fôsse coroada com brilhante vitória. Certo dia, às 4 horas da madrugada, Necchi reúne seus amigos 6 colaboradores na igreja, em ação de graças, pa­ra “agradecer e homenagear a Madona”. Isto pode ser chamado “ cristianismo moderno de in­telectuais.

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21 de Janeiro de 1931

Catedrático e arqueólogoDoutor ORAZIO MARUCCHI.

Aos 21 de Janeiro de 1931, faleceu com 77 anos de idade, o célebre professor da universida­de de Roma e membro da Congregação Maria- na “Scaletta”, Orazio Marucchi.

De quanta honra e de quanto proveito foi para a causa católica a atividade benéfica do pro­fessor Marucchi dão uma idéia, tanto seus ex­tensos estudos e suas inúmeras obras científicas, como seus esforços especiais em propagar em Roma a veneração aos santos mártires. O go­verno confiou-lhe na Universidade de Roma, a cátedra da Faculdade de Arqueologia Cristã.

O professor Marucchi, tornou-se um sábio de fama mundial. Em 1897, fundou com Armellini, Stevensen e Wall, o “Collegium cultorum Martyrum” (Colégio dos cultos dos mártires), e em 1894, deu o impulso para a fundação da revista científica intitulada: “ Nuovo Bollet- tino di Archeologia cristiana”, dirigindo-a até 1922.

Da atividade do prof. Marucchi como cien­tista, dão testemunho mais de 400 publicações, tôdas elas relativas à arqueologia cristã, egípcia e romana. Além de sua obra notável sôbre o tú­mulo de Domitila, é conhecida em todo o mun­do, e traduzida em diversos idiomas, a obra: — “Elementi di Archeologia Cristiana”. Esta obra

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veiu a lume em 1902, em fascículo6, que mais tarde fôram reunidos no “Manuale di Archeolo- gia Cristiana.”

Foi também devido à iniciativa do prof. Ma- rucchi, que se fundou, na Congregação Mariana “Scaletta”, a secção do “culto dos mártires”. Com essa fundação reviveu um antigo hábito das Congregações Romanas, de venerar regular­mente, os jazigos dos santos mártires. Nos dias de festa dos respectivos mártires, podia-se encon­trar infalivelmente o prof. Marucchi nos santos lugares; alí explicava aos seus ouvintes, com ar­dor fascinante, a vida do mártir festejado. O grande amor e a profunda veneração que êle mes­mo tinha aos santuários e monumentos do he­roísmo cristão, transmitia-se aos seus ouvintes e alunos, c inflamava os corações destes nos ideais do cristianismo.

11 de Março de 19214

Cientista e matemáticoDr. José Maria PLANS y de Freyre.

Recebidos os Sacramentos e santamente pre­parado, morreu a 11 de Março de 1934, o cientis­ta e professor de matemática da Universidade‘de Madri, Dr. José Maria Plans y de Freyre, mem­bro modelar da Congregação Mariana. Nasceu em Barcelona no dia da festa de Nossa Senhora

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do Carmo (16 de Julho) de 1878. Após um bri­lhante curso de estudos secundários e superio­res, obteve com distinção o grau dc doutor. Em - seguida foi professor da Escola Politécnica em Biibáo (1905), depois, em 1909, na faculdade de engenharia em Saragoça, em 1917 na de Madri, e em Maio de 1924, fez sua brilhante entrada na Academia de Ciências Naturais.

Sua especialidade era mecânica: tratava os mais ele­vados e abstratos assuntos desta disciplina; no entanto, possuía o dom de falar e explicar tudo, com admirável facilidade e clareza. Como ninguém na Espanha, soube difundir as teorias da relatividade, com tanto entusiasmo que o próprio Einstein ficou cheio de admiração para com o seu adepto. Grande número de obras dão teste­munho da ciência do professor Plans.

Êste sábio de raras qualidades não era so­mente famoso cientista, mas também um excelen­te católico e ótimo congregado. Já em 1894 en­trou na grande Congregação Mariana de Barce­lona. O célebre padre Fiter estimava muito ês­te jovem estudante. Em 1896, vimo-lo trabalhar como catequista; em 1899 assumiu o cargo de se­cretário da Secção “Comunhões dominicais"; no ano de 1903 foi eleito primeiro assistente da grande Congregação e vice-presidente de um Pa­tronato. Um ano depois ocupava o cargo de Vi­ce-presidente da Congregação e o de Presidente no Patronato. Com dedicação e aplicação extra­ordinária, trabalhou na secção de ciências natu­rais, distinguindo-se em diversas ocasiões pelas

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suas conferências, alocuções e relatórios. Mais tarde teve que viajar muito e se afastar dessa sec- ção, devido aos trabalhos científicos; porém, to­das as vezes que esteve em Barcelona, mesmo só de passagem, visitava seu presidente e a Congre­gação.

Seu zêlo por esta última, não era menos excepcional; não se contentava com sua ativida* de pessoal, procurava também a cooperação de outros para esta obra e para os seus ideais. Cheio de uma profunda compenetração das doutrinas da Santa Fé, soube entusiasmar e atrair os pró­ximos com estas idéias e com o ideal sublime do apostolado. Com especial fervor deditova-fg à preparação da juventude para a Primeira Co$tt- nhão e à educação da mocidade em geral.

Mesmo quando professor da Universidade e pai de familia, não se enverg&çhava da sua fita ou da medalha de congreg^dS^. Tend&fJ|ue deixar Barcelona em 1905, ficou-lhe alí, como di­zia, um pedaço do seu coração: a Congregação Mariana. Nunca, porém deixou de rezar, como o havia ensinado o P. Fiter, pela prosperidade de sua amada Congregação e dos seus confrades. Ao visitar Barcelona em viagens posteriores, sem­pre dava graças a Deus e exprimia aja satisfa­ção, por encontrar alí muitos dos sciíe colegas da Congregação e do Patronato, aos quais tinha dedicado antes, o« seus esforço^ quando ainda

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estudante e jovem professor. Plans era verda­deiramente um congregado modelo e um cató­lico exemplar.

Um professor da Universidade, que muito o conhe­ceu, disse que êle com outros dois dos seus colegas e amigos, dos quais um era congregado, formaram o mais brilhante “ triângulo” de matemáticos que jamais houve na Espanha. “ O mestre de todos era o professor Plans. Sua bondade, firmeza e santidade eram extraordinárias, e também nessas qualidades superava todos os seus co­legas. A Universidade espanhola, a Academia de Ciên­cias Naturais, a Igreja Católica e todo o mundo cientí­fico, sofreu com a morte dêste célebre e famoso pesqui­sador; foi uma perda irreparável que se fará sentir por muito tempo e que não poderá ser facilmente substituída. Podemos, sem exagero, considerar êste homem como um verdadeiro clássico.” Um outro sábio, escreveu o se­guinte: “Plans era uma das mais brilhantes figuras de nossa Pátria, e um dos mais modestos e despretenciosos espíritos que jamais conhecí.” E um professor, seu co­lega, exalta em Plans sua calorosa e ardente eloquên­cia que o tornou capaz de falar tanto às crianças, como aos adultos de tôdas as classes sociais. “A raiz e a base de todos os seus sucessos eram: a extrema bondade, sua re­ligiosidade prática, suas virtudes pessoais e sua profunda ciência. E ’ difícil dizer o que mais se deve admirar nele: se a ponderação e a força de sua lógica, se a firmeza e clareza de suas expressões ou a originalidade de suas palavras com que fascinava os ouvintes, obrigando-os a raciocinar com êle, a sentir com êle, e a querer como êle queria.”

..."Também tem rancor contra aqueles que fundam uma espécie de santo sodalício para venera­rem, de um modo especial, a Santíssima Virgem. . . Será que êle desconhece a grande necessidade que há de procurar e recomendar, os diversos modos de desviar o Povo, nos Domingos e dias santos de guar­da, das vaida&es da vida, e encaminhá-lo para a pie-

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dadc? Desconhece êle como é agradável a Deus, e o quanto c edificante e grato ao coração humano ver pessoas que, animadas pelo mesmo espírito, se reu­nem para melhor servir a Deus e à Virgem Mario, ou se associam no já mencionado sodalício paro mais se animarem mutuamente no serviço de Deus e gló­ria da Virgem Santíssimaf"

(São Pedro Canisio, contra o reformador protestante Platzius)

18 de Fevereiro de 1932

Rei e congregadoFREDERICO AUGUSTO I I I da

Saxdnia '

Em Sibillenort na Saxônia, morreu a 18 de Fevereiro de 1932, o monarca deposto daquele país, Frederico Augusto III. Da biografia do mesmo, escrita por seu filho, o P. Jorge S.J., tiramos do capítulo sôbre a “união com Deus”, o seguinte:

“A religiosidade do monarca, estava enrai­zada em todo o seu ser. Não falava muito a êste respeito, mas dava disso prova com as obras. Essa herança religiosa dos seus antepassados, cultivou-a e administrou-a fielmente.

Deus Nosso Senhor, era o porto principal e final da sua Vida e de suas aspiraçõe*.

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Fôram pesados os golpes do destino que o atingiram, mas a sua fé e confiança inquebran- táveis em Deus, tornaram-no inabalável. Em tudo via a vontade de Deus, submetendo-se a ela humildemente.

Depois da revolução, tendo já abdicado o trono e morando em Sibyllenort, na Silésia, repetia frequente­mente: “ Como é bom Nosso Senhor para conosco, por ter inspirado ao Duque de Brunswick deixar-nos a herança em Sibyllenort! Não fôsse isso, não sei onde devia morar hoje." Estava firmemente convencido de que depois das provações haveríam de vir tempos melhores para a Alemanha, pois não seria possível que tantos sa­crifícios fossem inúteis. Embora andasse muito pre­ocupado, nos últimos anos de sua vida, com as dificulda­des financeiras, o rei sempre estava cheio de fé e mesmo de otimismo, reanimando e os erguendo, com isto, aque­les que já haviam desesperado da sorte.

O verdadeiro amor de Deus manifesta-se no amor do próximo. Frederico Augusto ajudava quanto lhe era possível; as venerandas* Irmãs de diversas Congregações religiosas nunca lhe fi­zeram um pedido em vão. E para o Natal eram distribuídas e gastas grandes somas para levar alegria às crianças pobres. Para as necessidades do cultivo das terras mostrava grande compre­ensão e um coração generoso, dispensando para êste fim muitos milhares de alqueires das pro­priedades que ainda lhe restavam.

A Nosso Senhor dedicava um amor sem li­mites. Quando, após a guerra, dispôs de mais tempo, ocupava-se com estudos do Novo Testa­mento.

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Da carta de S. Paulo aos Filipenses é que mais gostava, pois costumava dizer: “É aqui que mais transparece o amor de N. Senhor para co­nosco.”

À V irgem Santíssima tinha ele o amor de um filho para com sua mãe. Nunca deixou de usar o escapulário e se orgulhava da sua qualidade de Congregado mariano, frequentando as reuniões dessa Congregação, que se realizavam em Bres- lau. O seu companheiro de viagem era sempre um pequeno devocionário mariano com a inscri­ção:

“A Vós, ó minha Mie, eu me ofereço,Sêde o meu amparo, assim Vos peço,Nas minhas angústias de tôda a sorte;Maria, protegei-me, na vida e na morte.

Gostava de visitar frequentemente os luga­res de romarias marianas, onde costumava con­fessar-se e comungar. Depois ficava lá por mui­to tempo, absorto em oração e rezando por seus filhos, pela Pátria, pelas intenções comuns do po­vo. Bem me lembro de uma romaria ao sítio de Maria-Luschari na Caríntia, na qual de sua casa de caça de Tarvis, fez todo o trajeto a pé, contentando-se com hospedagem rústica e sem conforto, com alimento parco e sem mostrar o mínimo desgosto com o frio e o sono escasso.

Certa vez, durante a grande guerra 1914-1918, en­contrando-se com os seus três filhos perto de Laon, na Franca, foi com êles diretamente i igreja de N. Senhora de Liesse, onde todos, pai e filhos, assistiram i Santa

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Missa e comungaram. Quão fervorosas deviam ter sido as suas preces naquela ocasião — ante as misérias da guerra!

Diariamente passavam-lhe pelos dedos as contas do terço, enquanto seus lábios pronuncia­vam lenta e expressivamente, as santas palavras, pois gostava muito da singeleza dessa oração. Um dos seus maiores prazeres, consistia em ou­vir os lindos cânticos populares em louvor de Nossa Senhora, de preferência o melodioso cân­tico: “Guia pelas ondas..

Uma consagração especial ligava-o à Santís­sima Trindade; todos os dias no fim das orações em comum, rezava com seus filhos e todos os em­pregados, a oração “ Ó dulcíssitno Jesus...” Con­servou sempre êste costume, quer em casa quer em viagem quer mesmo durante a guerra mun­dial, nunca omitiu esta oração. As orações da manhã e da noite, antes e depois das refeições eram de tal modo naturais e habituais que não se discutia sôbre isso.

Todos os dias assistia ao menos a uma Missa, mesmo quando em viagem ou na guerra.

Êsse hábito manteve-o rigorosamente. Só impe­dido por motivos de força maior foi que deixou de o cumprir. Quando viajava “incógnito”, ajoelhava-se em qualquer canto da igreja, onde encontrava um lugarzinho desocupado. Certa vez, perguntei-lhe porque ouvia Missa todos os dias. Respondeu-me: “ Quando não assisto a ela, sinto durante o dia inteifo uma falta que não sei explicar, mas quando a ouço, sinto-me feliz e alegre.”

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Não se passou um dia sem que se desse na capela do palácio, a bênção do Santíssimo Sacra* mento e sem que fôssem feitas as orações da noi­te em comum, com os membros da família e cria­dos. Eram ordens expressas do rei. Enchia-lhe a alma uma profunda devoção à paixão c morte de N. S., o que explica as frequentes “Vias Sa­cras” que costumava fazer com recolhimento edi­ficante.

Recebia os santos Sacramentos todos os do­mingos e dias santos de guarda, bem como nos dias de aniversário de seus filhos. Comungava antes da Santa Missa, gastando um quarto de hora na preparação e outro na ação de graças.

Quando em sua residência real em Dresden, sua capital, confessava-se na igreja do Paço, pondo-se na fila dos penitentes, como qualquer outra pessoa, esperando a sua vez. Não gostava e não admitia que algum dos seus súbditos lhe oferecesse o lugar para lhe dar preferência. “Aqui todos nós somos iguais”, costumava dizer. Nos domingos comungava sempre no altar do Santíssimo Sacramento da igreja do Paço. Alí havia poucos bancos, que quasi sempre estavam ocupados, quando vinha o rei. Para não incomodar os fiéis, ajoelhava-se fardado de ge­neral no chão ladrilhado. Tinha uma especial predileção pelo culto eucarístico, pedindo e recebendo ao dia duas vezes a bênção do Santíssimo Sacramento.

A sua vida de soberano estava completamen­te compenetrada de espírito religioso. Quando o destino da infeliz assassina Grete Beyer esteve nas suas mãos, recolheu-se uma tarde inteira nos

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seus bosques perto de Dresden para refletir, e orar horas a fio, pedindo luz ao céu, sobre o que devia fazer.

Quem levou uma vida tão profundamente re­ligiosa e crente, era também puro em todo sen­tido da palavra. Neste ponto não conhecia nem "concedia compromissos.

Severo e austero para consigo mesmo em matéria de moral e de costumes, exigia o mesmo dos outros, sendo intransigente neste ponto, e ficava indignadíssimo, quando alguém ousava ofender a moral, ou seu conceito sôbre a pureza. Assim criticou publicamente em diversas ocasiões, algumas exposições de arte. Numa biblioteca que herdara, e numa coleção de quadros que lhe foi ofe­recida, encontravam-se algumas obras indecentes. Ime­diatamente deu ordem para eliminá-las e queimá-las.

Sempre e em tôdas as ocasiões, confessou sua Fé católica persignando-se, quando as cir­cunstâncias o exigiam diante de todos, e sem se incomodar com a opinião dos de outras crenças.

Sua morte foi o reflexo de sua vida. Na vés­pera de seu trânsito (a congestão cerebral que o fêz perder os sentidos, teve lugar alta noite) ainda rezou a Via Sacra, e algumas de suas últi­mas palavras referiram-se à Santa Missa a ser celebrada no dia seguinte.

Ao abrir seu testamento lemos com emoção o seguinte:

“Em nome da Santíssima Trindade! —Pe­ço perdão a todos... a quantos causei algum mal ou ofendi por palavras ou obras, conciente ou in- concientemente. Perdoo também e esqueço todo

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c qualquer mal que me foi feito por palavras c obras e não guardo ressentimento de ninguém.

Nas mais graves situações de minha vida, cheguei à convição de que o homem sem o apoio da Religião Católica, sucumbirá ao desespero. Dirijo-vos, pois, meus queridos filhos, o meu úl­timo conselho e advertência, para que fiqueis firmes na vossa Religião e fiéis a vossa Fé, edu­cando também os vossos filhos neste espírito, pa­ra que se tornem piedosos e bons cristãos.

Peço-vos, como último sinal de vossa grati­dão, pelo amor que vos tive, que rezeis muito pe­la minha pobre alma."

Padre Jorge de Saxônia S. J.(Príncipe herdeiro)

7 de Fevereiro de 1933

O patriarca europeuConde ALBERTO APPONYI

A vida laboriosa e fecunda do "patriarca eu­ropeu", conde Alberto Apponyi, delegado do Go­verno junto à Sociedade das Nações, extinguiu- se a 7 de Fevereiro de 1933.

Nasceu aos 29 de Maio de 1846 em Viena. Em 1863 concluiu os estudos humanísticos, ja como Congregado Mariano e Presidente da Con­gregação de Kalksburg; em seguida estudou fi-

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losofia e direito nas Universidades de Viena e Budapest, coroando-os com o titulo de doutor. Depois empenhou-se em viagens de estudos pela Alemanha e França.

Por ocasião de sua viagem à África do Norte, as­sistiu à inauguração do Canal de Suez. Tomou parte também nas solenidades inaugurais do teatro de Wagner em Bayreuth, distinguindo-se nessa ocasião como orador, num brilhante discurso. No ano de 1872 foi eleito depu­tado. Suas alocuções e seus discursos trouxeram-lhe a fama de “orador exímio”, surpreendendo até seus cole­gas mais velhos. Seu discurso inaugural na Câmara dos Deputados causou grande sensação, principalmente quando abriu a campanha em defesa da Companhia de Jesús, revelando suas qualidades extraordinárias: umalógica clara e inconfundível, sagacidade e intrepidez, que causaram admiração tanto a amigos como a adversários. Em 1904 foi eleito presidente da Câmara; de 1906 a 1910 foi ministro do Culto e Educação. Também durante a Grande Guerra, em 1917, ocupou por algum tempo a pasta da Educação; porém seu trabalho principal nessa época era em prol da Cruz Vermelha.

Logo após a guerra, enquanto na Hungria reinava o terror comunista, vivia Apponyi em Kalksburg, onde assistia à Santa Missa e comungava diariamente no Co­légio onde fora educado.

Nos tratados de paz no Trianon e na Sociedade das Nações representava sua pátria, defendendo-a, o que lhe valeu da parte de seus patrícios a alcunha de “o sá­bio da nação.”

A 8 de Dezembro de 1932, completaram-se 75 anos de sua admissão na Congregação Maria- na do Colégio dos Jesuítas de Kalksburg, funda­da em 1857, da qual fôra um dos fundadores. Por ocasião dêsse jubileu, que tão de raro ocorre, fô- ram-lhe enviadas congratulações e o diploma ho­norífico da Congregação, o que o encheu de gran-

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de alegria e satisfação, como o prova sua carta escrita num latim clássico e eloquente. Durante aqueles 75 anos, renovava anualmente a sua con- sagração à Santíssima Virgem; porém nessa sua carta de 8 de Dezembro de 1932, dirigida à Con­gregação Mariana, agradeceu duma maneira co­movente a Deus e à Virgem Imaculada, todas as graças que lhe fôram concedidas por intermédio da Congregação Mariana. Não menos comoven­te era a sua gratidão, e fidelidade que conserva­va a seus antigos professores e educadores. Suas palavras pronunciadas a 28 de Maio de 1921, por ocasião das “homenagens da pátria a seu filho”, no dia do seu 75.° aniversário, pelos serviços re­levantes prestados com sacrifício e abnegação durante tôda a sua vida e principalmente nos dias das provações e da humilhação, manifestaram de modo singular seus sentimentos de gratidão a seus educadores e guias espirituais de outrora.

Os caraterísticos admiráveis da pessoa de Apponyi, podem ser resumidos em poucas pala­vras : docilidade, amabilidade, modéstia e des­prendimento.

O correspondente dum jornal vienense, em Buda- pest, elogia naquele estadista falecido, entre outras quali­dades, sua vida verdadeiramente espartana. Quando to­mava o “bonde” para se dingir ao Parlamento, ficava de pé na plataforma, para não tomar o assento que algum passageiro mais necessitado pudesse ocupar. Uma pro­funda modéstia e uma dedicação a tôda prova rdletum- se em tôda a sua personalidade. Era sem dúvida, um belo caráter harmoniosamente equilibrado!

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Apponyi deixou a escola da Congregação Mariana com o seu caráter perfeitamente prepa­rado para uma vida modelar, e com uma profun­da religiosidade. Só isto explica sua conduta. O que porém nele predominava, era sua fé inaba­lável. Embora considerado um patriota ardente, era sem dúvida e em primeiro lugar, um católico crente e fervoroso. Disto deu provas constan­temente, sobretudo por ocasião do “Dia dos Ca­tólicos Húngaros" em 1926, quando discursou de maneira fora do comum, sôbre o Reinado de Cris­to.

Quão perfeito congregado era êle, pode-se ver no seu costume, de confessar-se de 8 em 8, ou de 15 em 15 dias, assistir à Santa Missa e comungar diariamente, mesmo quando ministro de Estado, servindo como ajudante no altar, ainda quando ancião de 86 anos.

Como prova do seu cavalheirismo para com os opri­midos, sirva de exemplo o ter êle defendido publicamente, a causa da Congregação Mariana. Ao começar suas ati­vidades políticas, não havia ainda Congregações em Bu- dapest; f orara fundadas, mais tarde na Hungria, mas já em 1911, estavam disseminadas em todo o país nos res­pectivos Colégios dos Jesuítas e em outros educandários. Os maçons, bem como os protestantes, perceberam logo o “perigo", cotlsiderando os congregados marianos como a “ Vanguarda Católica" e começaram seus contra-ata­ques, mediante panfletos caluniosos, revistas, jornais e periódicos, e mesmo no parlamento. Uma onda de ins­tigações das massas e dos intelectuais, de ataques dire­tos e ocultos, de calúnias e infâmias, foi lançada contra as Congregações Marianas. Foi justamente nesse mo­mento que Apponyi surgiu no Parlamento, com sua fa­mosa defesa das ditas Congregações; e êsse discurso,

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que a princípio provocou a ira doa adversários e denois sensaçao inaudita, logrou pleno êxito e trouxe a vitória completa. Os ataques no Parlamento ccsaraL com! que por encanto, e pouco a pouco acalmaram-se também a tmprensa e os inimos dos adversários. As Congrega­ções Mananas, tomaram vulto e floresceram c a í ve* mais.

Assim passou pela terra, Apponyi, o grande estadista, admirado e venerado por todos, con­gregado fiel e católico modelar.

22 de Janeiro de 1931

Médico e apóstolo da caridadePríncipe Dr. Ladislau BATTHYANY

O príncipe Dr. Ladislau Batthyany, mem­bro da Congregação de Budapest, morreu aos 22 de Janeiro de 1931. Sua vida foi uma cadeia inin­terrupta de caridade e de amor ao próximo, que enobreceu sua alma e fortaleceu a todos os aflitos que o procuravam, buscando consolo e amparo em seus sofrimentos. Em seu hospital particular, construido à suas expensas em Kittsee, perto de Pressburgo, hoje Nieder-Donau (Baixo Danú­bio) era êle não somente um médico incansável, que se sacrificava pelos seus pacientes, mas tam­bém um apóstolo-leigo da caridade, no mais alto grau da perfeição cristã. Tôda a sua vida está cheia de exemplos de abnegação e de sacrifícios pessoais em prol da humanidade sofredora c to­

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do seu ser era possuído inteiramente pelo espírito do “ Cântico dos Cânticos”. Não sendo possível como desejava, dar pessoalmente a cada um dos seus doentes o apôio espiritual necessário, com­pôs êste médico zeloso, um pequeno livro, que continha os principais artigos da doutrina e da moral cristã, presenteando-o a seus clientes.

Além disso, todos os seus doentes no hospi­tal, recebiam uma belíssima imagem do Sagrado Coração de Jesús, com a seguinte inscrição:

“ Leva esta imagem como lembrança piedosa do nosso hospital de Kittsee, e se julgares dever-nos alguma coisa, reza por todos nós. Aqui vieste para encontrar a saúde do corpo; nunca te esqueças, que tua alma é tão preciosa para Nosso Senhor, que Êle mesmo quis morrer por ela na cruz. A vida é muito curta e em breve es­tarás perante Deus que te julgará. Foi Êle quem nos disse: Que adianta ao homem ganhar o mundo todo,com prejuizo da própria alma? Juntai tesouros no Céu, onde não há ferrugem nem traça que os corroam! Re­cebe, pois, quanto antes os Santos Sacramentos, visto que depois de tua morte, somente tuas bôas obras te acompanharão. Aceita estes conselhos de um amigo; lembra-te dêles e reflete bem. Que o Sagrado Coração te abençoe.”

Nas suas atividades profissionais de médico, era cheio de amor e compaixão para com seus po­bres e doentes. Quando procurado de manhã por 50, 80, e até 100 doentes, observava essas filas com grande interesse, dando preferência aos mal­trapilhos e aos de aspecto mais débil e fraco; em todo o caso sempre atendia aos mais pobres e ne­cessitados. “Os pacientes elegantes — dizia êle — podem procurar também outro médico e por

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isso podem esperar.” Nunca permitia que man­dassem embora algum doente miserável, que com o seu hálito ou de qualquer modo infestava a sala de consultas, a-pesar de às vezes se tornar insuportável. Diariamente antes e depois das consultas, ia à capela, para rezar pelo bem espi­ritual dos seus pacientes, pois seu maior cuidado sempre era o de influir beneficamente na alma do doente. Numa das gavetas de sua escrivaninha guardava presentes, e não raro acontecia que mandava vestir mendigos ou vagabundos da ca­beça aos pés.

Certa vez apresentou-se no consultório, um infeliz, com os olhos queimados pela cal virgem, de tal maneira que as pálpebras cerradas pelas feridas, de há muito nio se abriam, privando-o completamente da visio. Me­diante operações dificílimas e sobretudo mediante ora­ções e sacrifícios pessoais, conseguiu restituir a vista a seu “caro doente”. Feito isto, mandou vestí-lo com roupa completamente nova, desde a camisa até o calçado. Ao despedir-se de seu benfeitor, ajoelhou-se o pobre homem, vencido pela emoção, para lhe agradecer. No mesmo instante ajoelhou-se também o príncipe junto dêle para dar graças a Deus. Casos como este podem ser contados às centenas.

Não se deixava vencer pelo cansaço, mas sempre trabalhava sem cessar, chegando em casa exausto e abatido, para jantar, quando a família já estava reunida à mesa.

Tendo o príncipe-médico que fazer opera­ções da vista, persignava-se primeiro e mesmo re­zava durante a operação; isto podia-se notar so­

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mente, quando às vezes deixava escapar algumas palavras de suas preces, demonstrando com isto, quão profundamente estava unido a Deus.

Conciencioso em tudo o que fazia, era-o principalmente como médico, visitando seus do­entes frequentemente, e interessando-se por êles, consolando uns e advertindo outros, tendo para todos, sem exceção, palavras de conforto e ca­ridade cristã. Todos os que visitavam o hospital dêsse benfeitor da humanidade, eram unânimes em afirmar que nunca haviam visto tanta bonda­de, dedicação e delicadeza.

Em compensação, em nenhum outro lugar sc deparava tamanha gratidão e estima dos doentes para com o seu médico, como alí.

Um padre Jesuíta, ao perguntar certa vez a uma pobre velhinha se estava satisfeita no hospital do prín­cipe, recebeu esta resposta ingênua mas significativa: "O h Padre! o snr. Conde é tão bom como Nosso Se­nhor!”

Depois do decreto de S. Santidade o Papa Pio X, de 20 de Dezembro de 1905, sôbre a co­munhão frequente, comungava diariamente. Mesmo quando enfermo, pediu-a sempre que seu estado dè saúde o permitia, e não raro viu reali­zado seu grande desejo de ser celebrada a Santa Missa no seu quarto. Bispos, padres e religiosos de tôdas as partes do mundo que o visitavam, prontificavam-se em realizar seu desejo, e lhe trariam g #*nt*

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Em todos os Congressos Eucarístífos Inter- nacionais e nas respectivas conferências prepa­ratórias, estava sempre presertte o príncipe Bat- thyany, coptógpresentante da Hungria. Foi justamente dtífante uma dessas viagens a Pa* rís, para a conferência preparatória do Congresso, em Novembro de 1929, que Batthyany caiu doen­te, e' foi obrigado a interromper a viagem em Vie­na. Não tardaram a aparecer sinais de doença grave, que exigia intervenção cirúrgica, e êle mesmo médico operador, que fêz inúmeras ope­rações em seus clientes, teve que se submeter à ela, sendo operado por um colega. Havia os me­lhores prognósticos e as mais fundadas esperan­ças de um êxito favorável. Entretanto tudo em breve se desvaneceu.

Então •'tnanisfestou o príncipe suas qualida­des de um verdadeiro e perfeito cristão e homem de fé. A-pesar-de sofrer muito e sem tréguas,' não dava disto mostras, suportava as dores com um heroísmo extraordinário. Continuava a ser o que sempre fôra, amável e agradecido por todos os Serviços que se lhe prestavam, principalmentc las orações que lhe ofereciam, unicaraefife coi pensamento em Deus e em causar ^atisfação^è. alegria, aos que o cercavam.

O Santa Padre enviou-lhe diversas vêzes sua bênção especjal para confortá-lo e maqjdava pe*^ guntar pçla saúde A q ^ s tre doente. O prín<#*-^ sabia que é Pai e que a C ruzas sofrímW^

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tos que Êle nos manda, são também provas de seu amor paterno para conosco e preciosos auxí­lios para nossa santificação. Com este espírito genuinamente cristão e católico suportou pacifi­camente as dores até a morte, aos 27 de Janeiro de 1931, deixando inconsoláveis sua família, seus amigos e sobretudo seus pobres doentes. Seu tú­mulo já é hoje um lugar de romaria.

15 de Setembro de 1937

Anjo da caridadeCondessa Stephânia W ENCKHEIM

A 15 de Setembro de 1937, faleceu após cur­ta enfermidade, a condessa Stephânia Wcnck- heim, na idade de 75 anos, pertencente à Congre­gação Mariana da Imaculada no Sacré Cocur de Viena. Enquanto dispôs de recursos avultados, ajudou ocultamente a todos os necessitados que a procuravam ou que ela mesma descobria. De­pois da desvalorisação geral do dinheiro, tendo perdido sua fortuna, angariava donativos para seus pobres. Nunca porém quis dar na vista, pra­ticava o bem, silenciosa e cristãmente. Depois de decretada a proibição de remessas ao estran­geiro, sentiu e sofreu muito, por não poder mais

.ajudar eficazmente seus irmãos desprotegidos.

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Embora lutasse com dificuldades, nlo deixava d# ajudar os outros, chegando mesmo a ponto de contrair dívidas consideráveis, afim de concorrer para suavizar a miséria de famílias pobres e ajudar as instituições da caridade. Enquanto poude mover-se, nio hesitou em su­bir escadarias ou fazer penosas caminhadas, afim de vi­sitar doentes e necessitados. Ainda durante o ano da 1936, visitou, sempre a pé, inúmeras famílias pobres.

No ano de 1900 fundou esta nobre senhora, a so­ciedade das "Enfermeiras a domicílio”, começèndo esta obra com uma só enfermeira religiosa. Pouco a pouco chegaram de todo o país, pedidos para novas fundações locais dessa obra, que se desenvolvia rapidamente. As­sim por exemplo, contava em 1906 — 9 estações de tra­tamento, com 12 enfermeiras e 438 doentes; em 1927 — 86 estações de tratamento, com 111 enfermeiras e 4.800 doentes, das quais: a) no interior — 52 estações com 63 Irmãs e 2.800 doentes; b) em Viena — 34 estações com 48 Irmãs e 2.000 doentes.

A condessa Wenckheim cumpriu, pelo seu apostolado de caridade social, uma das finalida­des essenciais da Congregação Mariana. Muitos anos antes da fundação de sua obra de "Enfer­meiras a domicílio”, em 1906, já dirigiu a Asso­ciação denominada “Mater admirabilis”, funda­da por sua irmã, e durante 50 anos a fio esteve à frente dessa obra como presidente. Diariamente fazia o exame de consciência, examinando se fi­zera tudo o que lhe fôra possível. Podia estar tranquila, pois para ela não se passou um dia, sem alguma boa obra e sem sacrifícios pessoais.

A morte, quasi repentina, enconjxou a con­dessa Wenckheim bem preparada. Ao receber pela última vez a visita de seu diretor espiritual

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e confessor, disse-lhe: "Padre, alegro-me de mor­rer agora, pois quem sabe, se mais tarde estarei tão bem preparada.”

E nessa disposição morreu como uma ver­dadeira Filha de Maria.

15 de Agosto de 1934

Um batalhador de CristoDr. Joio Paulo Moreira TEMPORAL

João Paulo Moreira Temporal, nasceu em Recife no dia 25 de abril de 1911. Era de índole buliçosa, treloso mesmo. Porém um traço de re­ligiosidade chamava a atenção de todos. Aos 8 meses de idade preferia a cruz a qualquer brin­quedo, e quando começou a falar, se lhe mostra­vam, a cruz, exclamava, na sua linguagem infan­til: "Ai cruix, ai céu, ai Deus”. Daí o apelido de João da Cruz, com que em casa era conhecido na sua primeira infância. Era um fato muito comen­tado no círculo da sua familia.

Matriculado no Colégio Salesiano, em Feve­reiro de 1923, aí fez o curso primário e parte do secundário. Em 1927 transferiu-se para o Colé­gio Nóbrega onde terminou os preparatórios em 1929.

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As qualidades de um bom aluno possuia-as Temporal. Bem comportado, estudioso, aplicado, sobressaia entre os demais colegas.

Curso distinto. Atestam-no as suas notas de aula e os inúmeros prêmios que obtinha no fim do ano.

Foi admitido como sócio da "Liga para a, Restauração dos Ideais” em 1928 e trabalhou .sfii "Associação Desportiva Acadêmica” desde a sua fundação.

Na Escola e Diretório Acadêmico de Enge­nharia destacou-se como propugnador dos ideais católicos contra os comunistas. Na "A. U. C.” (Ação Universitária Católica) prestou servi­ços incalculáveis como secretário. Trabalhou incansavelmente pelo triunfo dos ideais católicos. Por ocasião dos comícios da "União Nacional Católica por Deus e pela Pátria” falou no Largo da Paz contra o Protestantismo. Admitido co­mo aspirante da “Congregação Mariana da Moci­dade Acadêmica” a 29 de maio de 1932, no fim, do mesmo ano, a 8 de Dezembro, recebia a fita de Congregado. Mais tarde foi também membro do “Centro Dom Vital”.

Sôbre a trágica morte de Temporal, escreve seu íntimo amigo José J. Cabral de Lima:

“No ano de 1934 sendo êle convidado para tomar a chefia da distilaria, na Central Barreiros, para alí se­guiu no dia 2 de agosto... Naquela distilaria fizeram-se experiências na coluna de álcool absoluto, afim de se obter a produfiio de 20.000 litros diários. Uma experiência

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teria lugar na noite de 14, às 22 horas. Às 19$í horas Temporal seguiu para a distilaria. Eu, alí chegando às 21.15, demorei-me algum tempo a conversar com êle e lhe pedí que me chamasse depois de meia noite, ao que respondeu: “Eu passo a noite inteira afim de assistir toda a experiência.” »

Retirando-me para o hotel às 21.40, aí deitava-me às 22 horas.

Dormia, havia precisamente uma hora quando enor­me estrondo acordou, pode-se dizer, toda a população da cidade. Anunciaram-me logo a triste nova: o incêndio da distilaria.

Imediatamente dirigí-me para lá. A parte supe­rior do edifício ainda continuava a arder, envolvida em chamas.

Perguntando pelo Temporal, descreveram-me logo o estado lastimoso em que se achava. . . Encontrava-seêle no momento da explosão na escada do 3.° andar. O administrador da Usina e alguns operários entraram depois no edifício, e naquele lugar encontraram-no cego, todo queimado a rolar pelo chão, procurando água para mitigar-lhe as dores.

Encontrei-o na farmácia da Usina, para onde foi em seguida transportado. Não tinha perdido o uso da razão. Falava com tôda clareza... No seu leito de dor pedia continuamente “ar e água”.

Compreendendo o perigo em que se achava o meu amigo, mandei logo chamar o Vigário e comuniquei-lhe minha resolução que êle aceitou de bom grado. E ’ em seguida transportado para o Hospital Sta. Francisca. Pouco depois, aí se confessava e recebia a Extrema Un- ção. Foi uma graça especial do céu para o Congregado e filho de Maria, porquanto voltando eu com o Padre até a Usina, afim de socorrer os outros feridos, encon­tramo-los todos carbonizados. Logo pela manhã tele­grafei ao P. Fernandes, seu D iretor... que na ho- milia fez um apêlo aos fieis para pedirem nas suas ora­ções pelas vítimas do desastre. Ao voltar da Missa soube do falecimento de Temporal, que ocorrera às 6.40.

Nessa mesma hora, em Recife, fazia-se a admissão dos novos Congregados e candidatos da Congregação Mariana...

Muito devoto de N. Senhora, Temporal trazia sem­pre contigo o têrço e duas medalhinhas pretas a camisa.

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Entre os restos da sua roapa queimada encontraram-se este Têrço, duas cartas da noiva e a aliança. Nos seus livros escrevia sempre o lema de Estanislau Kostlca: “Ad maiora natus sum.” A exemplo deste fugia das con- versas imorais. Para confirmar isso posso apelar a todos os seus colegas.”

Apresentamos, a seguir, a carateristica dês- te congregado, delineada pelo seu P. Diretor:

Abençoada memória a dêste jovem mariano a quem na flor da idade a Rainha e Mãe dos Con­gregados, no dia festivo da sua Assunção glorio­sa, veio transplantar dêste vale de lágrimas para o jardim celeste. A sua existência foi ceifada, aniquilando a esperança de uma carreira das mais brilhantes. A sua morte deixa nas fileiras da Ação Católica a lacuna de üm de seus , valores mais raros e fecundos. Ficarnos, porém, um pa­trimônio riquíssimo dos seus exemplos raros de virtudes cívicas e morais.

João Temporal pertence ao pequenino grupo de jovens do Colégio Nóbrega que iniciou o atual movimento católico do Recife principalmente en­tre a juventude estudantina. Bastava somente êste fato para tornar imperecível a sua memória. Mas êle pertencia à primeira fileira, distinguia- se entre os mais ardorosos. Fez parte de tôdas as nossas associações deixando nelas um rastro luminoso da sua passagem.

Meu íntimo trato com êste moço invejável data do tempo em que foi meu aluno no Colégio Nóbrega, onde cursou os três últimos anos e foi

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sócio da “ Liga para a Restauração dos Ideais." Tomou êle parte ativa e saliente em tòdas as dis­cussões, academias e manifestações públicas des­ta Agremiação. Foi sócio fundador de quasi to ­das as outras associações promovidas pela Con­gregação Mariana, e sempre emérito. Fêz parte das suas diretorias, não para luzir, mas para ser­vir com trabalhos insanos e obscuros. Ocupan­do semelhantes postos não podia deixar de ser piedoso. Comungava com certa frequência. Nunca perdeu o retiro anual. Porém não é êste o seu maior elogio. Muitos outros congregados fazem mais . do que êle. Também não possuia grandes dotes de escritor, mas não se negava a escrever quando se lhe pedia. Legou-nos assim vários artigos apreciáveis na imprensa, principal­mente na revista “Maria”. Orador também não era. Contudo sabia exprimir bem as suas idéias e apresentava-se a altura cm nossas reuniões. A sua grandeza excepcional estava em outras coisas.

João Temporal deixou-nos exemplos raríssi- mos que vou resumir em cinco capítulos:

Modelo na vida estudantina.

Tanto nos estudos secundários como supe­riores conhecí-o sempre amigo de estudo sério, coisa rara em nossos tempos. Creio que nunca leu romance, pelo menos não foi amigo dessas

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leituras. Leu algumas aventuras policiais para poder descobrir as manobras comunistas. Fre­quentava a biblioteca da nossa Congregação, mas para se debruçar sôbre a “Espasa”, estudando trabalhos da sua especialidade. Apaixonou-se pela Química. Passava horas inteiras no Labo­ratório em experiências de que um dia havia de vir a ser nobre vítima...

Modelo na vida associativa.

Nas associações e suas diretorias exerceu sempre os cargos mais pesados era que deu pro­vas superabundantes de constância, perseverança . c tenacidade de caráter que hoje em dia é preci­so buscar dos confins do mundo. A soma de energia que êle dispendeu. na organização da “Associação Desportiva Acadêmica” (A. D. A.)> “Ação Universitária Católica” (A. U. C.), etc., e a perfeição com que executou êste trabalho é superior a todo o elogio. Temporal possuia ca­pacidade de trabalho própria dos alemães e fran­ceses, de estar à mesa horas inteiras sem se aborrecer, e tinha jeito excecional para o serviço das fichas, rapidez datilográfica, etc. Só o traba­lho da catalogação da biblioteca da nossa Con­gregação bastaria para o caraterizar e propor co­mo grande modêlo da juventude atual, incapaz de esforço perseverante, habituada em tudo à su­perficialidade, caraterística da nossa época.

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Modelo na vida do católico militante.As associações do Colégio Nóbrega reves­

tem-se de caráter combativo, próprio de Sto. Iná­cio, nos casos em que se torna necessário defen­der à Igreja contra ataques insolentes de seus inimigos. Temporal ocupou sempre os postos mais perigosos,'na linha de frente... Era ho­mem disciplinado, caráter diamantino. . .

Modêlo na vida cívica.Hoje que a anarquia ameaça convulsionar a

sociedade nos seus fundamentos, não é lícito cru­zar os braços diante do comunismo. Por isso Temporal tomou para si um lugar de destaque na luta organizada pela “A. U. C.” contra os co­munistas nas Escolas Superiores e teve habilida­de para descobrir suas manobras triunfando em tôdas as ocasiões. Quando o dr. Barreto Campe-

• lo, nos dias tétricos das ameaças comunistas en­tendeu dever confiar a defesa dos edifícios reli giosos aos jovens católicos, Temporal não duvi­dou vir passar a noite com armas na mão no ter­raço do seu Colégio Nóbrega. A intrepidez acompanhou-o em tôda a parte. Na revolução de 1930 atravessou as ruas por meio do fogo nu- trfdo, para vir até aqui. . .

Modêlo na vida social.João ‘Temporal foi um jovem de trato sim­

ples e jovial, ganhando a simpatia tanto dos co-

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legas como dos homens da mais alta posição so­cial com quem teve ocasião de lidar. Sempre ob- sequioso e serviçal. Possuía muitas habilidades que punha á disposição das associações. Os nos­sos irmãos leigos lembram-se com saudade da ptontidão edificante com que os ajudava na Vila Nóbrega na improvização de novos cubícu­los para exercitantes, instalação ou concertos elé­tricos, preparação dé candieiros, etc. Tudo isto com a maior naturalidade, sem a menor ostenta­ção, sem alegar serviços, sem se mostrar can­sado.

♦O grande mal da mocidade comtemporânea

é a futilidade, é a propensão pelo “footing”, ci­nema, baile e outras diversões perigosas, desho- nestas, indignas de cristão e até de pagão. Tem­poral estava ao abrigo destas misérias porque to­mara a vida a sério, porque se apaixonara pelo estudo e pelo trabalho. A sua quasi única diver­são era o desporto. Esta mesma superioridade de João Temporal sôbre a conduta da maior par­te dos jovens, notou-se no noivado, em que tan­tos outros malbaratam o mais precioso do seu tempo e da sua energia; em vez de formar as suas noivas, deformam-nas, sujeitam-se aos sw í caprichos mais tolos, comprometem o futuro e perdem a virilidade. João Temporál soube ser homem, e homem ajuizado e previdente, senhor do seu coração. Visitava a sua noiva/*em geral, uma vez por semana, no domingo, o resto da se-

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mana era consagrado ao trabalho e ao estudo. Achavam-no alguns, pouco amoroso. Quanto ao amor sentimentalista e piegas, — sim, mas amor racional e profundo, — não. Precisamente por quê a amava muito, não queria inutilizar a sua vida, mas valorizá-la para poder oferecer à sua futura esposa um lar mais confortável.

De tudo quanto acabamos de expor, se evi­dencia a preciosidade da jóia de que ficamos pri­vados, perda incalculável para a Ação Católica e para o Estado de Pernambuco... João Tempo­ral tinha de custear o seu estudo, sustentar a sua mãe viúva e seus irmãos com o seu trabalho. As famílias de primeira grandeza de Pernambuco disputavam-no para preceptor de seus filhos. A sua paixão pelas experiências químicas arrastu- vam-no para o Laboratório. Tudo isto e mais os negócios de família impediam-no de atender plenamente a outros encargos. É verdade que nem por isso deixava de ser falta de sua parte o não me prevenir a tempo em algumas ocasiões. Mas que é isso ao lado do imenso cúmulo de vir­tudes que nos legou! E todas elas emolduradas era tão grande modéstia! Muitos dos que o co­nheceram, até uma grande parte dos próprios Congregados marianos, acharão ser uma revela­ção estas virtudes que acabo de escrever. Só­mente os que lidavam com êle na intimidade é que conheciam todo o seu quilate.

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Sim, Temporal, as tuas virtudes ser-nos-ão . legado precioso. O teu nome tão frequente e,

docemente pronunciado no circulo da nossa fa­mília espiritual há de continuar a ressoar saudo­so em nossos ouvidos... Oxalá a imitação dos teus exemplos venham suavizar a agrura do vazio que experimentamos em volta de nós. O resplandor de tuas virtudes nos servirá de fanal para encaminhar os nossos passos e renovar a tua saudade... Temporal, nós, teus amigos e companheiros na Congregação, conservamos bem impresso na mente o teu espírito associati­vo, tão difícil na raça latina, a facilidade com que perdoavas e esquecias qualquer falta sem guardar o menor ressentimento, as provas de amizade sincera, a dedicação com que procuras­te ajudar os teus amigos, até materialmente, usando de toda a tua influência com os grandes da terra. Sim, Temporal, todos os teus livros em que escreveste na primeira página o lema de Sto. Estanislau Kostka: “Ad majora natus sum”, nascí para coisas maiores, dão prova de qúe não te esqueceste der* que te ensinei há tantos anos, na admissão na “Liga para a Restauração dos Ideais". Sabemos também que à imitação deste jovem angélico, nunca pronunciaste uma palavra

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imoral, nem tomaste parte nas conversas inde­centes, defeito tão comum na juventude de hoje, nem nos bailes; nos cinemas e teatros, rarissi- mamente.

Alcança-nos, pois, da Virgem Pura, de cu­ja presença já gozas, a graça eficaz de não man­charmos a nossa alma nestas diversões que uma influência satânica paganizou. Obtém-nos for­ça de vontade para imitarmos os teus exemplos de amor ao estudo sério e trabalho aturado. Sim, Temporal, o sorriso do teu rosto amigo, sempre jovial no meio de tantas dificuldades, nunca dei­xará de brilhar diante dos olhos da nossa ima­ginação, afim de nos dar a alegria de viver até que sejamos transportados, como tu, para a ale­gria sempiterna. Sim, a Rainha e Mãe dos Con­gregados, que te veio buscar, como a filho mi­moso, no dia de sua Assunção aos céus, e do 4.“ centenário da fundação da Companhia de Jesús, há de, com certeza, assim o esperamos na sua misericórdia, juntar-nos aí um dia a todos, seus filhos, que pelejamos aqui sob a bandeira de Sto. Inácio e Dom Vital.

Pe. Antônio Paulo Ciríaco Fernandes S. J.,Diretor da Congregação Mariana da Moci­dade Acadêmica de Recife.

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Agosto de 1936.

Artista e apóstolo leigoAlberto OESCH

No mês de Agosto de 1936, morreu em St. Gallen na Suíssa, o famoso escultor, Alberto Oesch, um apóstolo leigo e congregado exem­plar. Quando em 1930 no oeste da cidade de St. Gallen, fundou-se a nova paróquia de Santa Cruz, foi Alberto Oesch que, entusiasmado, co­meçou a reunir os meninos daquela cidade, ser­vindo à recém-fundada Congregação Mariana na seção da mocidade (M. J. C.), com grande zêlo e fervor. Afim de que os meninos não caíssem nas malhas das seduções e não se corrompessem, organizou para êles a “Liga de São Tarcísio."

Dentro em breve conseguia reunir uns 80 meninos de tôdas as classes sociais, guiando-os e dirigindo-os ma­gistralmente. Até pais nio católicos, confiaram-lhe os filhos. Ajudado por um amigo, dedicou-se a êste aposto- lado com prazer, sacrificando-se mesmo neste trabalho durante muitas horas. O programa era bastante va­riado: passeio ao campo e is montanhas, recreios, diver­sões, organização de cursos, colônias de férias, conferên­cias, etc. — Os meninos tinham-lhe uma amizade e um respeito sem limites. Sem prejudicar sua autoridade, soube tornar-se um deles, ora brincando, oca ensinando» lhes jogos.

A preocupação dos meninos, nio o fsa esquecer-se da mocidade. Para todos encontrava tempo e interêaee. Aqueles que, por quaisquer motivos, nio quiseram alistar'* se na Congregaçio Mariana, reuniu-os em seu atelier, s por meio de leituras adequadas e discursos interessantes, soube avivar neles s piedade.

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Alberto Oesch era também co-fundador da Ação Católica na paróquia de Santa Cruz em St. Gallen. Eram inúmeras as visitas que fazia aos cristãos tíbios ou afastados das práticas religio­sas. Sua atividade em prol da imprensa católi ca, bem como sua solicitude para com os neces­sitados, não tinham limites. Inumeráveis eram os atos de caridade praticados às ocultas. Mes­mo nos dias de sua enfermidade, não afrouxou seu zelo pela salvação das almas; quando já não podia mais andar, continuou por meio da cor­respondência, seu incansável apostolado.

Esta atividade admirável de apóstolo leigo, * provinha-lhe de uma fé profunda e firme, que ne­

nhuma desilusão conseguia abalar. Guiava-se em todas as suas obras, por um princípio anota­do no seu diário: “Em tôda parte terei porideal de meus esforços, não o ouro, nem a prata, nem interesse algum, mas única e exclusivamen­te a Deus e o céu!” Fiel a êste ideal, nunca pro­curou recompensa terrena; tudo o que conseguiu fazer, fê-lo com a maior naturalidade e consciên­cia, por amor de Deus e do próximo.

Alberto Oesch, foi um artista notável e de fama reconhecida.

Foi êle o creador da obra monumental da ala leste do cemitério de St. Gallen, onde agora está gozando o seu merecido descanso; esta obra representa os dois dis-

, cípulos de Emaús, procurando consolação ao lado de Jesús Ressuscitado e que, gratos por haverem-na encon­trado, diziam: “Senhor, ficai conosco, já é tardei” Além

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desta possuem-se muitas outras obras que Oesch arfou com seu gênio e com suas mãòs de artista, e que na opinião dos peritos são de um valor imperecfveL

Porém o que êle fez e criou para o bem da Igreja, das almas e da mocidade, representa va- ^ lores eternos que jamais poderão ser avaliados pelos homens; só Deus saberá avaliá-los e re­compensá-los.

1841-1919.

Diretor de Banco e Místico^Jerônimo JAEGEN

“ Os santos não nascem santos. Têm que pelejar e conquistar suadamente, palmo a palmo, até morrerem santos.” São palavras de Jerônimo Jaergen e é a sua vida, que tôda se resume nu­ma enérgica e fiel cooperação com a graça di­vina para levar uma vida de santidade e perfei­ção até morrer como um santo.

SUA VIDA

Nasceu em Tréveris em 1841. Tôda sua vi­da passou-a em sua cidade natal, tão rica em santos e santuários.

Depois dos primeiros estudos do ginásio e do •urso na escola profissional, coroado em 1859 por um belo exame, trabalhou um ano numa Companhia de Navega-

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$ão Fluvial. Em Outubro de 1860 foi cursar engenharia em Berlim. Se em Tréveris vivera sempre como bom ginasiano, é em Berlim que, sob a direção do P. Eduardo Müller, se orientou definitivamente para a perfeição cristã. Por êste foi admitido na Congregação Mariana e iniciado no apostolado leigo. Leituras piedosas, exame particular de conciência, direção espiritual em confissão e em colóquios íntimos, formaram sempre mais o esfor­çado estudante. Em vista de seus ótimos sucessos é dis- tinguido com um prêmio pelo Ministério do Trabalho.

Assim realizava o jovem congregado o velho prin­cípio da escola Mavana: “ In pietate litterisque progres- sus.” Avançar na virtude e nas letras.

Ainda no início de sua carreira, em 1864, foi sor­teado para o 29.* Regimento de Infantaria. Com um sor­riso nos lábios partiu para a guerra de 1866, tomando parte ativa em diversas batalhas. Por entre o denso me­tralhar pediu a Deus, “ou nunca ofender-vos com um pe­cado mortal ou cair aqui por uma bala.”* Retomou seus trabalhos, porém várias vezes ainda houve de envergar a sua farda de tenente em diversos exercícios e na guerra de 72. Quando em 1873, meteu-se numa campanha pelos direitos da Igreja e dos católicos, sendo Oficial, foi exautorado por um tribunal militar. No dia l.° de Janeiro de 1880 tomou a direção do recen- fundado Banco Popular de Tréveris, cargo que manteve por 19 anos com a mais benéfica repercussão.

De 1899 até 1908 foi deputado na Câmara da Prússia. Sua atividade e prudência grangearam- lhe o amor de seus eleitores e de seus colegas. Até a morte em 1919 batalhou por Deus e pela Igreja, pelo povo e pela pátria.

O Congregado Mariano.

Jerônimo Jaegen era um congregado com­pleto, uma figura acabada de batalhador do Rei­no de Deus. Desde que entrou a 8 de Dezembro de 1860 na Congregação de Berlim não interrom-

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pcu suas atividades marianas. Em 1869 inscre­veu-se na Congregação Mariana de Jovens fun­dada em 1617, na qual duas vezes foi Presidente por dois anos (1882-84 e 1890-92). Pela sua colaboração exerceu a mais duradoura influên­cia no desenvolvimento da Congregação. Mais tarde passou Jaegen para a C. M. dos adultos e pouco antes da morte era membro do Comitê protetor da C. M. de Jovens.

Seu amor era todo para Maria e para sua Congregação. #

No seu livro de memórias "A luta pelo Bem supremo” relata, com as seguintes palavras, suts relações com a Rainha de todos os Santos:

"Perguntas que Santo deves escolher para interces- sor e patrono. Pois respondo que aquele no qual tens mais confiança. Alguns preferem recorrer a seu pa­droeiro, a outros agrada mais variar o intercessor con­forme a necessidade. De minha.parte opto por aqueles a quem Jesús mais amou. E entre êstes irrefragavel- mente Maria é rainha. Quando Cristo quis fazer-se ho­mem, e pela sua vida, paixão e morte libertar-nos do pe­cado e de suas consequências, escolheu Maria para sua Mie, instilou-lhe um amor tão ardente pelas almas, que Ela gozosa se associou por nós à vida e aos sofrimentos do Salvador, e por nós entregou seu unigênito a uma hor­renda morte de cruz. Concebida sem a mácula original, e tendendo sempre a uma vida da mais alta perfeição, tinha ela compreendido o espírito de imolaçio de seu Filho e tinha-o vivido. Neste espírito viveu e sofreu por nós. Por isto Maria é a creatura a quem Deus mais amou, e a que mais nos amou a nós. O amor do Re­dentor à sua Mie nio pode rejeitar-lhe o menor pedido.”

“O que importa unicamente é que conheças o "pro­tocolo” para atrair Maria a teus interesses. Deves crer inabalavelmente no seu poder e na sua bondade, tran-

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quilo confiar em sua proteção, ter-lhe um amor filial e reverente. Então Ela, a mãos cheias, fará descer sobre ti as graças de Deus/’

“ Mesmo que sejas o maior pecador e te arreceies comparecer ante o Altíssimo, não tens que temer ache- gar-te a Maria. Ela é a mãe dos pecadores. Deves im­portuná-la filialmente, não lhe deixar descanço, e per- severar nestas instâncias até que Ela nos reconcilie com o Pai. — Anceias pela mais alta perfeição cristã e te vês em apuros por não acabar de atinar com o caminho mais breve? Invoca Maria; que Ela seja tua advogada, e Ela, sem dúvida, virá em teu auxílio. Porque co­nhece muito bem o caminho para o Coração de seu Fi­lho Jesús.”

Esfas palavras de Jaegen são a sua vida. A boca fala do que o coração transborda.

VIDA INTERIOR e VIDA APOSTÓLICA.

Paralelamente aos misteres das diversas pro­fissões de engenheiro, comerciante, diretor de banco e deputado, consagrava o nosso congrega­do os claros de seu tempo à vida interior e à vi­da apostólica. Sua vida e sua obra adquirem uma posição de destaque em nosso tempo que, como todos, carece tanto de leigos santos.

Como estudante em Berlim começara Jaegen uma vida espiritual intensa. As leituras piedosas e medita­ções ocupavam o primeiro lugar. Até sua morte era de­las que hauria a consciência da realidade daquilo que suplicava a Deus e sobre que contemplava, daquilo pelo que lutava como pelo mais insigne bem: a vida eterna.

Só pode compreender suas atividades de apóstolo leigo, quem tem presente as riquezas de sua vida inte­rior. Quando, oomo tenente, regressou da guerra em

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1866, fundou com negociantes que' comungavam seus mesmos ideais, uma associação com fins religiosos cien­tíficos e sociais que em breve seria chamada "Har­monia.”

Na campanha que, sob Bismarck, teve que intentar pela causa da Igreja, encarnou êste grê­mio uma subida significação e robusteceu a vi­da católica em Tréveris. "Para a regeneração do mundo o de que precisamos é de homens de ca­ráter.” É Jaegen quem fala. E era êste o ideal que ambicionava para si, e pelo qual se bateu. Consciente porém do objetivo da causa católica, trabalhava também por formar homens de têm­pera. Nas Congregações e Associações católicas congêneres superabundavani as oportunidades para educar e plasmar o caráter. Em seu exem­plo, em suas palavras, em seus atos, pela sua pe­na e particularmente pelas suas orações e sofri­mentos Jaegen realizou no seu tempo a figura do verdadeiro apóstolo.

Por dezenas de anos em Tréveris era êle em pessoa quem elaborava a disposição das grandes procissões e quem as encabeçava. O amor sugeria-lhe iniciativas, fazia-o incansável no culto de Jesús Sacramentado. De nada disto lhe advinham proveitos pecuniários ou honras, muitos incômodos sim, e dissabores. Sempre e em tôda parte estava pelas suas convicções religiosas numa atitude discreta porém marcante^ no círculo ds seus amigos, na vida social e nas atividades políticas. Em Tréveris, em Berlim, até mesmo em estações de águas e alhures, nunca lhe faltou o tempo para a co­munhão quotidiana. Esta união continuada com seu Mestre era o segredo de sua vida espiritual e de seu apostolado. Maria foi quem o guiou pelo caminho seguro e introduziu-o na intimidade de seu Pilho.

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O APÓSTOLO DA PENA.

Jaegen conjugou em si duas vidas: a vida de apóstolo, como homem de sociedade, e a vida retirada de um monje. Conhecia bem a vida na significação, nos seus perigos, e soube manter-sc à altura. Para mostrar também a seus próxi­mos o caminho de uma vida exemplar, Jaegen tomou da pena. Escreveu uma iniciação práti­ca à perfeição para pessoas do mundo. Em 1883 apareceu a l.a edição de sua obra sob o título “A luta pela Coroa”. Posteriormente numa se­gunda edição modificou o título: “A luta pelobem supremo”. Quatro edições fizeram-se neces­sárias.

No seu quebra-lanças pela santidade, Jaegen cons­tatava que livros de iniciação à virtude só havia em geral de religiosos para religiosos. De tantas e tantas obras no gênero, retirou o que lhe era mais próprio a êle se­cular. O material recolhido e vivido quis pôr ao alcance de seus próximos. Tal a origem de seu livro. “Esta obra apresenta-se como fruto do espírito de um homem, que, sustentando todo o rigor do bom combate, peleja pela coroa eternal. Fruto de orações porfiadas, de racio­cínio profundo, de diutumas sondagens do próprio co­ração, de madura experiência da vida —.” Êste era o juízo de seu Bispo Korum.

Ainda uma segunda obra escreveu Jaegen, continuação da primeira, com o título: “A vida mística da graça”. Só o livro em sí, nos atesta que êste leigo era um cristão privilegiado, que conhecia por contato pessoal a literatura mística e sabia vivê-la. Um cristão da mediania não estava em condições de escrever um tal livro.

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OS ÚLTIMOS ANOS E A MORTE.

Com a idade lhe sobreveem os achaques, que o obrigam a deixar o Banco e a Câmara. A renúncia aos ofícios não significava porém uma redução no seu zelo de perfeição e de apóstolado. Trabalhou até onde deram as forças. Volta e meia retomava a pena para acepilhar mais sua obra.

Dedicava-se, sem a menor retribuição pecuniária, is iniciativas católicas, como por ex. aos estabelecimentos de ensino das Ursulinas, aos empregados pobres, a cre- anças surdo-mudas, associações de assistência social aos empregados, às congregações e procissões. Suportou com grande paciência seus sofrimentos físicos. Desde 1909 recolheu-se Jaegen frequentes vêzes ao hospital dos Irmãos da Misericórdia.

Quando aumentaram os incômodos e dores cruciantes, disse uma vez o ancião: "Ainda posso orar e sofrer”. — Oportunamente compôs todos os seus negócios para se poder entregar todo à preparação para a morte. Nada mais o prendia à terra. Quando em 1919 entraram pela cidade as tropas inimigas, extinguiu-se desper­cebido, sofrido, resignado, como era seu desejo. Queria que sua tumba jazesse desconhecida, per­dida entre as outras. Mas não foi isto que su­cedeu. Inúmeros são os que a seu sepulcro vão buscar auxílio'' para suas necessidades, deixan­do grinaldas e flores. Uma junta de sacerdotes

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e leigos desinteressadamente trabalha pela intro­dução da causa desta glória da Congregação de Tréveris.

Nós, congregados marianos, lembremo-nos em nossas aflições de volver para o céu olhares confiantes a êste nosso colega modelar. Não poucos são já os que êle socorreu.

Uma preocupação desconheceu Jerônimo Jaegen em sua vida: a preocupação do emprego e do dinheiro. Quantos de nós não vivemos de­baixo destes cuidados! .. . Quantos sofremos angústias sob a incerteza do porvir! .. . Ouça­mos o que Jaegen depõe com respeito à sua vida:

‘ Se desempenhamos com prudência cristã os deveres de nosso ofício, Deus mesmo cuidará de nosso arranjo material. Êle nos subministra- rá o necessário a uma posição condigna, não como uma graça extraordinária, mas simples­mente como algo secundário, mas indispensável, para não sermos detidos por preocupações terre­nas na nossa porfia pelo supremo ideal. Muitos lances podería aduzir de minha vida nos quais, por acontecimentos na aparência fortuitos, Deus guiou meus passos a invejáveis colocações”.

Tais palavras não fazem pensar na promes­sa de Cristo no sermão da Montanha: Pro­curai primeiro o reino de Deus e sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo ? (Mat. 6-33).

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1936

Exemplar na profissão e na C ongregação

Francisco JUMG

Reproduzimos aqui um pequeno idatórío sôbre a piedosa morte do Congregado Francisco Jung.

“Levamos à última morada nosso caro maio em Maria: Francisco Jung. Eia confeiteiro e morreu na pujança de vida, com 32 anos de ida­de. Sua Congregação de São José, em Hinden- burg, na Alta Silésia (Alemanha), oomparoom em pêso com sua fita azuL

Francisco Jung foi na vida e sa morte ma congregado genuíno. Com máscofa energia « fôrça de vontade fez-se na existência. 381o fee faltaram horas de dor e de sacriStaos. tSkàma- mente conseguira firmar o pé «a vida. X sima s Deus para o chamar à pátria eterna.

Incansavelmente batec-se pwa qpst as váéms da Congregação se e npwftnaêaasem. NSo perdia ocasiãe 4e aSrflwr oam* riteám entre os adultos* Os ifttetfese* 4a gWf m m l a Mariana eram o que lhe htx%x% <è

Nos exercido» eifãrihiwfe 4a «Cursos Bíblico», lá «ataxo éle fttoae aeu lei­to de dores lia ww Iw w a KwribwauSeu pároco, ao vtoWhk m eMftotroo-o

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lendo a epístola de São Paulo aos Coríntios. A conversa entre os dois sempre versava sôbre as epístolas do mesmo Apóstolo. Os congregados fizeram a Santa Teresinha uma novena por sua saúde. Apesar de desenganado por três médi­cos, restabeleceu-se e foi até buscar melhoras no asilo de Sta. Teresa numa cidade vizinha.

Não foi porém por muito tempo. Subita­mente voltaram as dores e em poucos dias che­gava o fim. O nosso congregado conservou a conciência até a morte. Baixinho pos-se a mur­murar nossa saudação: “ Nos cum prole pia”.Depois suavemente entoou um canto popular a Maria. A seguir pronunciou distintamente: “ Gloria Patria et Filio et Spiritui Sancto, Amen”. Inclinou a cabeça e expirou.

“Morte mais bela nem um padre pode ter”, observou o diretor de nossa Congregação que se achava presente”.

1888 - 1914

Dei tudo a DeusJorge PASTEAU

“Espírito independente”. Nascido em Lille em 1888, desaparecia entre as primeiras vítimas da guerra mundial, em 1914. Ao ingressar na Faculdade de Direito da Univèrsidade Católica desta cidade, em 1906, timbrara em agregar-se à

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Congregação Mariana e era sempre muito assíduo às reuniões de regra. E' pois um dos nossos: leiamos-lhe os exemplos:

Que vida regularia dêste acadêmico! Até parece um religioso. Levantar invariavelmente ás seis. Segue-se uma hora de oração de joelhos, sem se apoiar, em absoluta imobilidade. Frio, cansaço, não o excusavam jamais da oração nem da assistência à Santa Missa, quotidianamentc acompanhada da Sagrada Comunhão. E’ cora respeito que olham para êle quando volta da Sa­grada Mesa: “A vista dêste moço me faz bem; parece-me ver Deus nele”, dizia um velho.

Dez minutos antes do comêço das aulas esta­va na Faculdade, esperando na capela do Venite adoremus, onde era um prazer para êle rezar pelos professores, pelos condiscípulos. # Ardia em zêlo, zêlo discreto, feito antes de tudo de ora­ção, de exemplo. Para receber edificação bas­tava aos colegas fitá-lo quando respondia à ora­ção feita antes das aulas daquela faculdade cató­lica. Baixava os olhos, persignava-se lenta e convictamente, depois conversava com Deus. Sim, sentia-se que sua alma conversava com Deus. . . Quantos companheiros o atestaram depois de trinta anos! Esta franqueza em res­ponder à reza, bem alto, bem respeitosamente, se prolonga por três anos a fio, tempo de sua estadia na Faculdade.

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Aliás, como para tôda alma generosa, para todo o congregado de caráter, não existia para êle o fantasma do respeito humano. Achava tão natural, tão justo ser grato, ser leal para com Deus, o nosso maior benfeitor!

Quis combater o respeito humano. Com as palavras não era ainda tempo, combateu-o com exemplo.

À entrada do edifício da Faculdade há uma está­tua de S. Pedro, semelhante à existente na Basílica Va- ticana, onde é praxe dos fieis beijar o pé ao Príncipe dos Apóstolos em sinal de submissão. Jorge decide fazer sua esta prática. Sem absolutamente se inquietar com o que dirão os outros. À saída das aulas abandona o grupo buliçoso dos moços e, como se estivesse só, descobre-se e oscula o pé da estátua. O gesto vai se repetindo cada dia. A mocidade gosta de brincar, não perdoa ao de­voto: hoje é uma procissão que segue Pasteau, ama­nhã são duas fileiras que formam, reverentes à sua pas­sagem; ouvem-se caçoadas. Mas cansaram-se antes êlesdo que êle.

Alguns companheiros, leais, reconheceram que Jorge era um espírito independente, santa­mente cabeçudo, e que êles não teriam tido cora­gem de fazer outro tanto. Para todos a lição, um pouco original sem dúvida, estava dada; lição contra êsse maldito respeito humano, espantalho que afugenta a tantos homens, que se dizem co­rajosos.

* * *Para se dominar — Que penitências austeras

as dêste moço, que vivia, emulando em pleno século XX as austeridades dos anacoretas anti­gos!*

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Usava frequentemente da disciplina, tomando-a com violência espantosa. Fixava de antemão os golpes que ia descarregar sôbre si e nem sangue nem dôr o desistir do número preestabelecido. Cingia-se de «-iUrior Achando isto pouco para vencer seu temperamento ner­voso, imaginou um gênero de mortífica$io, que, conti­nuando, se tornou um verdadeiro suplício. Foi a morti­ficação da imobilidade. Passava longas horas, quatro em seguida, na mesa de estudo, sem fazer mais que os mo­vimentos da mão indispensáveis para escrever ou para virar as páginas dos livros. Sentado, nunca se encostava no espaldar; de joelhos, não se apoiava. Gênero de mor­tificação crudelíssimo, porque continuado, porque nunca afrouxado; de fato, uma observação continuada por vá­rios anos jamais surpreendeu nele tréguas com 6ste gê­nero de penitência.

Dest’arte veiu ter na mão sua alma, suas pai­xões. Recebia uma carta? Êle a abria e, pondo-a diante de si, esperava certo tempo antes de a ler. Acabava de receber um livro interessante? Dei­xava-o aberto na mesa, por alguns dias, sem per­correr nem uma linha; fixava em seguida quan­tos minutos daria quotidianamente à sua leitura, c, decorrido esse tempo marcado, fechava-o ime­diatamente.

Não mortificava só o corpo. As mortifica­ções do espírito, as humilhações, eram incluídas imperdoavelmente no seu programa de vida per­feita. Cada manhã assinalava uma humilhação para o correr do dia. Chegava a hora, executava impiedosamente em sí a sentença. O rubor de suas faces podia indicar que lhe custava; fazê-lo desistir, isso não.

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Singular! Travara, havia pouco, amizade com um colega? Pedia-lhe que ouvisse sua con­fissão. Antes que o amigo pudesse se defender, lá estava Jorge a se acusar de joelhos e com tan­ta sinceridade no humilhar-se, que já não havia possibilidade de afastar êste penitente excecio- nal. Para êle, a demais da humilhação, era êste gesto uma prova de lealdade, de confiança, de in­timidade.

E foi tão bom, tão dedicado amigo! Cara- terizava sua amizade o dom de si aos amigos.

Quando se achava perto deles, visitava-os, animava- os, sabia falar-lhes, sabia ouví-los. Quando ausente, não havia fadiga, não havia desculpa que o impedisse de lhes mandar algumas linhas.

Queria bem a seus amigos, 6obrenaturalmente, con­duzindo-os para Deus. Quantos não elevou acima da me­diocridade, iluminando-lhes o espírito com a palavra e com o exemplo, sobre o verdadeiro sentido da vida. Per­seguia suas almas, com a palavra e, se esta já não era escutada, com a oração, oração de lágrimas, de sangue até. Uma destas heróicas campanhas de orações êle a proseguiu por anos; e eis que um dia a alma em questão foi restituída a Deus.

Sua abnegação e domínio sôbre si o torna­vam de trato afável a todos. Espírito e lingua­gem distintíssimos, urbanidade rara entre as ra­ras, elegância na apresentação; talvez isto só cha­masse a atenção à primeira vista. Um observa­dor superficial não veria nele virtudes; entretan­to, sob estas aparências de virtude comum era um mariano modelar, heróico.

Entre o Colégio e a Universidade sentira o chamado da vocação religiosa. Não lhe sendo

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permitido segui-la logo, organizou sua vida da maneira que analisamos, iludindo no meio do mundo seus desejos frustrados.

Em Outubro de 1908 Jorge teve que fazer o serviço militar numa guarnição infelizmente cé­lebre por imoralidade e que não era amparada por obra alguma de assistência religiosa. Orga­nizou um Círculo e, como o Sr. Bispo declarasse não poder conceder-lhe um sacerdote, êle mesmo tomou sôbre si a direção da obra e chegou a pre­parar até sessenta companheiros para a confis­são e comunhão pascoais.

A 10 de Outubro de 1911 entrava Jorge no noviciado dos Jesuítas, então exilado em Floren- nes. “ Dei tudo a Deus. Só me resta o corpo. Entrando no noviciado pedirei que me enviem- a Madagascar para ser capelão duma leprosaria”, dizia ao partir para a vida religiosa.

De seus três anos de vida religiosa só uma frase.

Seu ser, alma e corpo, dominado pelo hábi­to de mortificação contínua, lhe dava nestes anos de principiante, únicos que viveu na Companhia de Jesus, a calma do exterior, o equilíbrio desem­baraçadamente modesto de um religioso vetera­no e perfeito, verificando êle e vivendo sua má­xima: Pax Christi, — A Paz de Cristo.

Joio Sotc* Boeha fi. J.

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1906 - 1936

Um modêlo de Ação CatólicaIrene Costa Lima VALENTE

Eis uma apóstola nossa, muito nossa. Hoje, no Brasil, poucos haverá que a não conheçam. O livro “Irene”, biografia da incansável apóstola cearense, alcançou, em pouco tempo, um êxito extraordinário.

Irene nasceu em Aracati, (Ceará), a oito de Maio de 1906. Filha de abastada família do Nor­deste, até aos dezenove anos foi uma moça como qualquer outra da nossa sociedade, ainda não de todo contaminada. Em 1925 era, ainda, uma jo­vem sem ideal nítido, talvez, mesmo, leviana c fútil. Nesse ano, porém, a graça a tocou em cheio. Teve, como disse, o seu “encontro pessoal com Cristo”. Desde êsse dia, transformou-se. Subiu, em ascenção retilínea, até ao cume da mais pura espiritualidade cristã.

Renunciou a tudo. Fez-se filha de Maria. Pa­ra ela, agora, só existe uma realidade: Deus,e o sobrenatural.

Moça inteligente, e de educação esmerada, pôs todos os seus dotes ao serviço da Igreja. Humanamente bem dotada, sorriam-lhe grandes triunfos na vida. Ela, contudo, preferiu consa­grar-se a Jesus, na obscura imolação da sua vida de cada dia.

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I r. .> 7 .

Fez-se a mãe espiritual de todpt 05 (Órfãos, a mestra dos pequeninos e dos rudes, át proteto­ra de todos os deslierdados. Foi o tipo ideal da apóstola dos nossos dias. Transbordante de Cristo, ela o comunicava a todos. Para isso, cor­ria, infatigável, os areais candentes dos arredo­res de Fortaleza, Mecejana ou Aracatí, enshían- do a doutrina cristã, preparando as crianças po­bres para a primeira comunhão. Irene nunca media sacrifícios. Nem sabia o que fôsse perten­cer à Igreja dormente.

Lendo sua vida admirável, vemos quanto es­sa oblação era total. “Sou tua, ó Jesus, e de mais ninguém.” Sua vida tinha uma única razão de ser: trabalhar e sofrer por Jesus Cristo.

£ sofreu muito Irene. Sofreu admiravelmente, crii- tãmente. Exemplo sem precedente, esta filha heróica dos carnaubais mantinha uma escola de “apóstolos”, moças que, depois, a deviam substituir no ensino db catecismo.

Irene não seguia a moda. Gasta o ordenado com as crianças pobres. Lecionava grátis às mesmas. Vendia as suas joias para comprar- lhes vestidinhos e brindes de Natal. Além dis­so, (coisa rara em nossos dias!) dava-se aos afa­zeres domésticos, bordava, costurava, sabia de arte culinária e outros trabalhos caseiros.

De uma espiritualidade dinâmica, não só as instruía, mas fazia-lhes roupinhas, curava-as qual enfermeira heróica da “miséria anônima” ! E di­zia em colóquio ao Divino Mestre: “Ajuda-me,

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Jesus, a formar para ti esses pequeninos cora­ções, a abrasar no teu amor as suas almas, filhas da nossa mística união.” Que belo!

A vida de Irene teve, é certo, seus altos c baixos, suas vicissitudes, seus desfalecimen- to s ... , é humano. Mas não há negar que para o nosso mundo paganisado de hoje, seja um exem­plo autêntico de.ação católica, vivida, de pureza, de elevação e de sacrifício.

A espiritualidade de Irene.

Como ela sabia abismar-se em Deus! Irene meditava. Lia livros de ascética cristã. Conhe­cia, a fundo, o Evangelho, a Bíblia c a doutrina católica.

No seu “diário de atnor” sentimos passar um sôpro vivificante de sã espiritualidade, de verdade e de sinceridade para com o Divino Es­poso. Tudo via sob êsse prisma sobrenatural. Comungava o mais frequentemente que podia. Quando, por fôrça das circunstâncias, tinha de trocar Fortaleza, por Aracatí, o que mais lhe custa­va, era o deixar sua amada Congregação. Al­ma essencialmente eucarística, os seus colóquios são um encanto.

Alguém sobre ela escreveu: "Estamos a ver, cons­tantemente, em nosso meio, esplêndidas atividades ao serviço da Igreja. Mas nunca supusemos que no século, estivesse como um perfume divinal, e uma bênção do Céu a pedir e merecer favores, uma alma do aprumado misticismo de Irene Costa Lima Valente”. (F. A. O.).

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De fato, a nosso ver, o que mais carateriza a jovem cearense é o ter sabido aliar vida tão eu- carística e mística a tão ativo e estafante aposto* lado. Só uma caridade sobrenatural e desinte­ressada a sustentava. Eis a vida de Irene.

A morte de uma Santa

Purificada pelo sofrimento e unida estreitís-simamente ao seu divino Esposo, em 1936 sen­tiu Irene que o fim se aproximava. Preparou-se para a morte. A sua vida interior torna-se mais intensa.

As forças a vão deixando. Esgotara-se de­mais no seu catecismo. Era a morte prematura. Confessou-se. Recebeu o Viático. Repetia a tniúdc: “Jesus, que morreste de amor por mim, morra eu de amor por Ti".

Numa espécie de delírio viu Irene, próxima à morte, uma festa de crianças no Céu. “Afastem, para dar passagem a um grupo de crianças”. . .

Pensava, talvez, nas suas crianças do cate­cismo. Depois exclamou: “Está terminada a fes­ta!” Logo após: Pronto! Mamãe, está tudo con­sumado !

Fôram suas últimas palavras... Era 3 de Julho de 1936. Morreu a militante da Ação Ca­tólica cearense. Morreu “a pescadora de almas”, cuja ocupação favorita era o catecismo.

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Que Irene suscite imitadoras do seu espíri­to apostólico! Que as nossas jovens, olhando o mesmo sublime ideal, a acompanhem na escala­da à busca do infinito, à conquista dêsse "lumi­noso dia sem fim” . .. j

Com a devida vênia, terminamos este esboço, dedi­cando-lhe o soneto do célebre Aires de Montalbo, cer­tamente sentindo n’alma ainda, a suave impressão que lhe deixara a leitura dêsse “ Diário de amor*’.

Ei-lo:

Nêste meu verde e plácido recanto,Que o Santo busca e artista não despreza, Chegou-me às mãos a plástica beleza Desta vida exemplar, que agora canto. . .

Bendito seja Deus! que em riso e em pranto A fez "mestra da infância", alma-pureza,Qual se fôra u’a Mãe, na doce empreza No mister dos misteres o mais santo. . .

Irene! às nossas jovens inda insontes, Mostra a senda do Céu, abre horizontes, Com o teu exemplo e virginal bondade...

Vem! e afastando os tétricos abismos,Fa-las seguir teus passos e heroismos Na conquista final da eternidade...

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24 de Novembro de 1925.

Heroína da vida quotidianaMargarida SINCLAIR

Margarida, filha virtuosa de pais humildes, porém muito piedosos, nasceu aos 29 de Março de 1900, em Edin^urgh, na Grã-Bretanha. Seu pai era um modesto funcionário da Limpeza Pú­blica, um simples “lixeiro", e sua mãe uma ope­rária. Apesar de suas condições humildes, cons* tituiam uma família católica modelar, educando cristãmente seus filhos. A piedosa mãe guiava os filhos desde a mais tenra idade pelo caminho do dever cristão, e o pai, homem profundamente religioso e crente, levava-os frequentemente a Jesus Sacramentado.

Nesse ambiente cresceu a pequena' Margari­da, cheia de amor para com Deus e para com o próximo. Morando perto da igreja, tinham ôs Sinclair a possibilidade e a grande graça de po­derem assistir à Santa Missa diariamente, e fazer visitas mais frequentes ao SS. Sacramento . O reflexo da luz do tabernáculo começou a iluminar cada vez mais a alma cândida de Margarida.

Mais tgrde, quando já moça, e sendo obri­gada a ganhar a vida, aproveitava sua hora de folga durante o almoço, para visitar Nosso Se­nhor no Tabernáculo, fazendo descansar a sua al­ma aos pés de Jesus. Era deveras edificante ver

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aquela moça orar diante do altar; nada de extra­ordinário, nada de piedade afetada, beatice ou exaltação: simplicidade nàtural, verdadeira e pro­funda devoção de criança inocente e alegre, como um raio de sol, que traz em si mesmo o dom de espalhar a luz e levar a alegria a todos que o veem.

Aliás, Margarida desde pequenina possuía a graça de elevada oração em tão alto grau que causaria inveja a muitos veteranos da vida reli­giosa. Esta graça foi correspondida e cultivada pelo coração agradecido desta jovem predesti­nada.

O apostolado predileto de Margarida era trazer alegria aos tristes. Talvez isto explica o cuidado que tinha do seu físico exterior, tanto no vestuário limpo e asseiado, sempre decente e nunca excessivo, como no seu modo de tratar a todos. Frequentava os divertimentos lícitos e inofensivos, acompanhando os pais e os seus, sempre solícita, alegre e prazenteira. Não sabe­mos que ficasse alguma vez de mau humor.

Certa vez confessando à sua irmã o pressentimento da sua morte, foi advertida por aquela: “Mas então como podes estar tão alegre e feliz?” — “Ora, respondeu-lhe Margarida, porque não devo estar alegre e satisfeita, mesmo,sabendo que vou morrer em breve, esperando ir para junto de Nosso Senhor no céu? Não é bastante, para me sentir feliz? Além disso penso muito nos ou­tros, por exemplo nas moças com as quais hoje estive­mos, ou naquelas que encontramos diariamente no nosso caminho da fábrica, e então acho que lhes devemos co­municar uma boa parte da nossa alegria. Elas são as

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nossas companheiras, e quem sabe se uma ou outra nio tem preocupações ou máguas que a fazem sofrer I As- sim, presenteando-as com Um simples sorriso, com uma amabilidade insignificante, mas cordial, podemos praticar um ato de caridade, fazendo com que êste pequeno raio de luz desanuvie pensamentos sombrios, fazendo-as es­quecer as preocupações e tristezas, infundindo-lhes cora- gem, seja mesmo apenas um pouco de ânimo.

■í

Não resta dúvida que isso custa um pouco de es­forço da nossa parte, nem sempre estamos bem dispos­tas; mas querendo, e com um pouco de boa vontade» podemos vencer nossa indisposição, e assim seri,fic!L Quando se quer, se pode. Para que então comungamos diariamente?"

Com seu gênio alegre e inclinado ao. bem, conse­guiu Margarida curar sua boa mãe que, sofrendo ataques nervosos e importunada por idéias sinistras, dentro de poucos meses ficou livre de seu mal.

Margarida não deixava passar nenhum dia, sem rezar o terço. Mesmo quando voltava com sua irmã de algum divertimento, que aliás nunca prolongavam além das 9 horas da noite, fazia suas orações como de cos­tume, sem abreviá-las, acrescentando mais algumas em ação de graças pelas horas alegres que Nosso Senhor lhe tinha proporcionado. E quando a família tôda se calava no mais profundo sono, então Margarida continuava a rezar sozinha, durante muitas horas, até alta noite.

Margarida chegou a ser noiva de um jovem, a quem tinha convertido ao cristianismo, pela sua amabilidade e firmeza de palavras, bem como pe­la sua conduta e pelo exemplo angélico. Êsse noivado porém foi desmanchado por Margarida, logo que sentiu o seu coração preso a outro, a quem já tinha amado antes e sempre amara, e por quem sua alma e todo o seu ser vibrava des­de manhã até a noite, e a quem se quis unir na vida e na morte... Jesús.

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Margarida quis fazer-se religiosa. E para poder ganhar a seu Divino Mestre muitas e mes­mo muitíssimas almas pelos seus sacrifícios pes­soais, consagrando-se ao serviço de Deus, esco­lheu uma Ordem religiosa muito severa e aus­tera, a Ordem de Santa Clara. Seu pedido foi bem acolhido, ingressando Margarida no Con­vento das Clarissas-Coletinas, em Londres. Em­bora sofresse muito pelo sacrifício da separação da sua querida mãe, dos irmãos, da familia intei­ra, sentia-se imensamente feliz, pois tendo feito os primeiros votos, realizava seu desejo tão alme­jado.

Nosso Senhor, porém, guiou-a às alturas, pe­lo caminho dos seus escolhidos, pelo caminho da cruz e da abnegação. Margarida não devia fi­car no convento como desejava. Contraindo uma grave enfermidade, teve que deixar o hábito, pa­ra ser internada por determinação de seu mé­dico, no Sanatório das Irmãs de Caridade em Warlay, no Condado de Essex, visto que inespe­radamente, foi constatado que sofria de tubercu­lose da garganta.

Margarida aceitou esse terrível golpe, com absoluta resignação e submissão à vontade de Deus, embora não pudesse conter as lágrimas ao saber que tinha de abandonar seu querido convento para sempre. Seus sofrimentos, du­rante os meses seguintes, foram quasi sobrehu­manos, tanto física como moralmente. Por fim,

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isolaram-na completamente das outras doentes, para não incomodá-las com a sua tosse ininterru­pta e forte. Êsse novo sofrimento foi aceito com sorrisos entre lágrimas.

Finalmente aproximou-se o dia do desenlacc. Sua vida tão curta, parecia-lhe sem merecimen­tos. Não pretendera fazer tanto, para agradar a Nosso Senhor, para Lhe ganhar muitas, muitas almas? Esses pensamentos invadem agora suá al­ma e fazem-na sofrer cada vez mais. Nada reali­zava do muito que propusera. Assim lhe parece. — De repente lembra-se de alguma coisa. A Irmã de Caridade, sua enfermeira, acode ao seu chama­do. Margarida diz com voz quasi imperceptí­vel: “ Irmã, tenha a bondade de ler-me mais uma vez aqueles trechos de São Paulo; queria ouvi- los antes do anoitecer”. E a Irmã leu. Leu co­mo a nossa vida faz parte integrante da vida de Nosso Senhor, e que por isto, todos os nossos atos, mesmo os mais insignificantes, tòdas as partículas de nossa vida, oferecidos nessa inten­ção, tecm perante Deus um valor imenso, incal­culável, que atraem a benção divina sóbre os ho­mens, mormente quando sofremos.

Margarida ouve calada, e vai meditando... Mas, sendo assim, então... então também ana vida, pequena, pobre e modesta, seus sptfrimen- tos, a sua morte lenta, tudo isso, representa ®m grande valor, um valor inestimável, para oa que lhe eram caros, para todos oa que te*> alista*’

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dos de Nosso Senhor. E então Margarida diz à Irmã: “ Sim, é isso mesmo. Si eu conseguisse ganhar uma única alma para o meu Jesús, en­tão simi, daria por bem empregados todos os meus sofrimentos. . . ”

Têrça-feira, 24 de Novembro de 1925, cha­mou o Divino Mestre a sua escolhida para junto de Sí, para as bodas celestiais.

“Ser herói por um minuto ou uma hora, é mais fácil do que suportar a vida quotidiana com heroís­mo constante e em silêncio. Escolhei, pois, essa vida obscura e monótona de cada dia, esses trabalhos pe­los quais ninguém vos louva, esse empenho, essa fi­delidade que ninguém percebe, e que não desperta interesse nenhum nos outros. Quem suportar esse “hoje” de cada dia e apesar disso continua a ser um homem bom, este ê o verdadeiro herói!”

(Dostojewski).

31 de Dezembro de 1937

O apóstolo leigo de ShangaiJosé Lo-Pa-HONG

A 3 de Dezembro de 1937 foi imolado por uma bala, o Congregado Lo-Pa-Hong, presiden­te da Ação Católica na China. Provavelmente trata-se de um caso de fanatismo político; al-

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guém que quis vingar-se de Lo-Pa-Hong, por ter êste, como fim de obter mitigação dos hor­rores da guerra, entabolado relações çom as for­ças japonesas que ocuparam Shangai.

Era sem dúvida no catolicismo um orien­tador de larga envergadura. Quando a princí­pios de Janeiro de 1938 a imprensa anunciou sua morte, poucos periódicos se lembraram de men­cionar que êste homem extraordinário fôra Con­gregado Mariano. Entretanto o fato é que Lo- Pa-Hong desde sua juventude era membro de uma Congregação Mariana. Por seus raros pre­dicados e por seu zêlo estuante achava-se talha­do para, na vida afóra, entregar-se a um aposto- lado de escala mais larga que na C. M. apenas, e para ocupar postos de mais alta responsabili­dade. No entanto, com isto não fez mais que rea­lizar o objectivo de tôda a formação mariana, que outro não é senão pôr à disposição da Igreja apóstolos leigos competentes.

Altamente benemérito foi Lo-Pa-Hong da religião católica na China. Numerosas obras de caridade cristã estão vinculadas a seu nome. Não houve necessidades materiais ou espirituais a que êle não trouxesse socorro quer se tratasse da ve­lhice desamparada, de enfermos, órfãos, aliena­dos, encarcerados, condenados, quer se tratas­se da guerra, fomes, inundações que causavam desgraças gerais. Suas frequentes visitas às peni­tenciárias, nas quais batizou na hora da morte

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muitos convertidos, grangearam-lhe em Shangai o apelido de “ Capelão de bandidos”. Sua fortu­na (Lo-Pa-Hong era Diretor geral da Compa­nhia de Energia Elétrica de Shangai, Diretor de várias emprêsas de água e de uma Companhia dc Navegação) lhe garantia os meios para desenvol­ver uma larga e caritativa atividade. O maior es­tabelecimento de caridade de Shangai, o hospital de S. José, que compreende uma igreja e 16 edi­fícios com 2.000 leitos, foi fundado por êle.

Dispensam-se aí anualmente 200.000 dólares chineses, e no decurso de 20 anos foram assisti­dos mais de 3 milhões de doentes. Além disto le­vantou em Shangai o hospital do Coração de Je­sus para os pobres, onde diariamente atendem-se centenas de enfermos.

A confiança de que gozava entre os indus­triais da China, moveu a muitos a fornecer-lhe subsídios pecuniários para suas atividades em favor dos doentes. Êle próprio na sua modéstia chamava-se o “Culi (1) de S. José” que era o santo de seu nome. As Missões católicas en­contravam em Lo-Pa-Hong um batalhador in­fatigável e resoluto, um incentivador dos seus in- terêsses missionários.

Por seu trabalho porfioso e constante no apostolado leigo da Ação Católica que há vá­rios anos dirigia, nomeou-o Pio XI seu camarei­ro secreto.

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N ota: (1) Empreiteiro chinês.

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Sua maior riqueza e seu maior título de hon­ra considerava Lo-Pa-Hong o trabalhar pelo reino de Cristo. Seu dia começava com o San­to sacrifício da Missa que ajudava e no qual co­mungava. Em todo o mundo católico tornou-se conhecido seu nome, por ocasião do Congresso Eucarístico de Manila, Fevereiro de 1937, para o qual partiu como membro da Delegação ponti­fícia.

Lo-Pa-Hong chegara apenas aos 63 anos. Podemos afirmar contudo que todos os dias des­ta vida foram cheios de boas obras de santifica­ção própria e de apostolado. Os congregados dc todo o mundo possuem nele um modelo • magní­fico e — esta é nossa esperança —, um poderoso adv ogado junto de Deus.

24 de Julho de 1935

Estudante de medicinaGiacomo MAFFEI, de 20 anot.

Nosso amigo Giacomo Maffei, nasceu a 9 de Novembro de 1914, em Casalmaggiore, perto de Cremona, no Norte da Itália. A 15 de Novembro do mesmo ano é batizado, a 8 de Abril de 1923 faz sua primeira comunhão, e a 16 de Novembro de 1924 recebe o santo sacramento do Crisma.

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Com 9 anos apenas, em 1923, entra Giaco- mo, de uma das famílias mais distintas de sua ci­dade natal, na recém-organizada “Ballila” (Ju­ventude fascista) cujo regime rigoroso muito lhe agrada.

Dessa época da vida de Giácomo conta-nos um dos seus professores o seguinte episódio:

“ Certo dia, disse eu ao menino: “Escuta, Giacomo, a m a n h ã, domingo, bem cedinho, faremos uma esplêndida excursão de bicicleta e . . . ”

“E a missa?” — interrompeu o menino.“ Não é nada, uma vez s ó . . . ” tentei convencê-lo.“Mas senhor professor, senhor professor, explode o

menino, todo exaltado, o que disse o senhor? Será que o senhor não sabe que não somente vai pecar, mas tam­bém será responsável pelos meus pecados que pesarão na sua consciência?”

Confesso que fui obrigado a desistir do meu propó­sito, e mudar a ordem do dia, não sem admirar.”

Giacomo naturalmcnte, tem tambcm seus de­feitos. Sobretudo é muito irascível; porém ca­da vez que se esquece de se dominar, pede per­dão, e, com o tempo, consegue corrigir-se dêsse defeito. E’ também muito impulsivo, fala rápi­da e apressadamente, de maneira que é difícil sc- guí-lo; quer fazer tudo sozinho, faz perguntas, c sem esperar resposta, responde êle mesmo. Em tudo e em tôda a parte, quer ser o primeiro, po­rém não por vaidade, mas pelo espírito de tra­balho ; aliás, defeitos que provêm de um gênio ati­vo e magnânimo.

Em Outubro de 1925, começa Giácomo a frequentar o curso secundário no ginásio de Ca-

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salmaggiore, onde é considerado como um bom aluno; só às regras da física e da matemática é que êle parece refratário, sendo por causa disso, obrigado a repetir o quinto ano ginasial. Aborre­cido, matricula-se no Colégio dos Salesianos em Valsalice, onde felizmente consegue alcançar o bacharelado.

Como todos os adolescentes, também Giaco- mo tem dificuldades em transformar a sua pieda­de puramente tradicional em uma virtude basea­da em convicções próprias e profundas. E ’ du­rante essa época do seu desenvolvimento físico, que êle não gosta de servir como sacristão nas igrejas de Casalmaggiore, p o r .. . vergonha. Mas, êsse sentimento tão comum entre os jovens de sua idade, não perdura. Não tarda muito, e êle vence galhardamente essa falsa vergonha e res­peito humano.

Já em Valsalice, torna-se Giacomo membro da Conferência de São Vicente, entusiasmando-se por essa obra dc tal maneira que, sendo jovem de 17 anos, organiza e consegue fundar um núcleo da mesma, em sua cidade natal.

Em Outubro de 1934, ao matricular-se na Universidade de Bologna como estudante de me­dicina, Giacomo alistou-se na Congregação Ma- riana. Sua atividade, nessa Congregação, era so­mente um feliz prolongamento do seu apostola- do fervoroso de Valsalice. Chega ao ponto dc cuidar não só das necessidades materiais dos

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desvetíturados e pobres, mas também de zejar pe­lo bem espiritual das almas, fazendo com que muitos matrimônios sejam normalizados e os não-batizados recebam o sacramento regenera- dor.

Giacojnp tem um modo irresistível e mesmo fino de conseguir de seus camaradas os meios dc subsistência para os pobres. Um estudante de Casalmaggiore, seu colega, escreve-nos o se­guinte :

“Era durante o verão de 1934, se não me engano. Estava com alguns amigos num café, jogando cartas. De repente, agarram-me pelo om bro... era Giacomo, que com uma expressão de angústia disse ao meu ouvido:

— Preciso falar-te com urgência.Saí com êle, bastante curioso. Dados alguns pas­

sos, Giacomo para, e pegando-me as mãos num gesto amável, olha-me meio serio e meio alegre, e diz:

— Porque jogas baralho?— Ora, para matar o tempo, e também com espe­

rança de ganhar, podendo assim filar um café.— E no caso de perderes?— Então devo pagar a minha despesa e a do com­

panheiro.— Em quanto fica um dêstes gastos?— Em uma lira e quarenta centavos.—• Uma lira e quarenta?.. Pensa bem !... Com

êste dinheiro, pode-se comprar quasi um quilo de pão, o suficiente para matar a fome de uma família inteira! Depois, refletindo um pouco, prosegue:

— Escuta! Para que vais tomar café?—- Para a digestão! respondi, achando graça dêsse

interrogatório.— Era só o que faltava, que um rapaz, tão grande

e forte como tu, precise do café para a digestão ! Veja, eu também, há tempos, tomava café duas vezes ao dia, mas quando notei que a minha digestão sem o café não ficava prejudicada, então fiz uma proposta a papai. Sabe qual? Disse-lhe; Papai, daqui em diante vou deixar de

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tomar café com o senhor. Mas, como recompensa, o Senhor me dará o equivalente mensal de 50 liras, que os meus cafezinhos lhe custam. Papai concordou e eu fi- quei muito satisfeito, por duas razões: em primeiro lu­gar livrei-me dêsse “vício” que nunca apreciei, e em se­gundo, ganhei com êsse negócio, uma renda mensal de 50 liras. Acho, que tu também podes e deves fazer as­sim. Economizar dinheiro, em vez de jogá-lp fora. E não somente economizar no café, mas também. doV cigarros. Estou certo de que serás mais feliz se assini. fizeres.

— Mas, respondí-lhe, tu não bebes, não fumas, não jogas. Que fazes afinal com todo aquele dinheiro que ganhas e economizas?

— Eu? Que faço? Muito simples. Ponho-o no Banco, e posso afirmar-te, que êle me traz um lucro muito maior do que podes imaginar, respondeu Giacomõ com tôda a franqueza e simplicidade.

Êsse Banco, onde Giacomo depositava sua fortuna, eram os pobres. E Nosso Senhor disse, que a recom­pensa será de cem por um.*

O conceito de Giacomo sôbre o apostolado leigo, encontra sua mais perfeita expressão, nos pensamentos, deixados por escrito numa carta, em que diz: “ Devemos ser os auxiliares do sa­cerdote; devemos aplainar o caminho da graça divina, pois, isto é mais fácil para nós, do que para os sacerdotes. . . Lembremo-nos que cada um de nós, sob seu terno à paisana, deve ser um sacerdote no coração!”

Belíssimas palavras, perfeita compreensão do dever e da missão do apóstolo leigo. Aliás, Giacomo, sabe-o também, que somente os puros podem desempenhar êsse apostolado. Não sen­do escravos de suas paixões, podem trazer as su­blimes verdades da vida • difundi-las nos cora-

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çoes, desde que vivam e cooperem com a graça 'divina. E’ assim que Giacomo entendia a vida do cristão, quando repetia:

"Não são os mortos que Te louvam, ó Se­nhor, mas nós. que estamos vivos, que vivemos e agimos em Teu louvor!"

Não é pois para admirar que Giacomo goste das alturas. A cadeia dos Dolomitas, é a que mais o atrai e entusiasma. Êle é um dominador dos cumes e alcançá- los, é para êle a expressão e o símbolo das aspirações de sua vida interior. Certa vez, escreveu a um amigo: “ Pas­sei dias inesquecíveis nas minhas montanhas, e voltei mais satisfeito e confortado à planície e aos meus estu­dos, depois de um passeio pela pureza dos montes e pela candura virginal da neve, que quasi receiava profanar com os p é s ... Nas montanhas não se sonha, mas vive- se uma vida mais interna, mais cheia, mais granítica, mais forte e mais verdadeira, que pode ser penosa mas que é duradoura. Os sonhos se desprendem do tempo, se afas­tam em busca das estrelas e . . . se desfazem. Como são belas e formosas as minhas montanhas! Tôdas elas me falam das alturas, da beleza, da frescura, da pureza e da liberdade do espírito nas suas aspirações para um ideal sublime. Isso me diz também o meu Oriani quando afirma: Somente no ideal está a beleza da vida! Mas posso te assegurar, que não confundo ideal com sonhos. Alguns dizem: Um jovem, que aos seus 20 anos não é um sonhador, é um náufrago. Puro engano!”

Um ano só, poude ficar na Universidade. Em Julho de 1935, adoece subitamente. Os médicos, apesar de todos os esforços para salvá-lo, veri­ficam um caso perdido. Algumas horas antes de sua morte, vê sua mãe em prantos vencida pela dor, soluçando desesperadamente. Sem dizer uma só palavra, pega o crucifixo e leva-o aos lá­bios de sua mãe.

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Giacomo exala seu último suspiro à 24 de Julho de 1935. Ele, que tanto apiou a vida para enchê-la com feitos grandiosos e heróicos, em louvor de Deus, deixou-a, sem poder realizar os seus altos e nobres projetos. Mas, sôbre seu semblante, pairava o sorriso dos santos, e sua al­ma elevou-se às alturas para todo o sempre.

Fontes: “Un corsáro di Cristo”, Scritti di Giacomo Maffei.(Torino, 1396).

Don Cojazzi, "Giacomo Maffei” (Cristianl Laici Modemi 7)(Torino, 1937).

24 de Setembro de 1938

A s s i m m o i r e u m f i lh o d e M a r i a S S m a .Joaquim NAGALLI

Joaquim Nagalli foi Congregado mariano em Rio Claro, no Estado de S. Paulo. Morreu a 24 de Setembro de 1938. Sôbre as suas últimas horas lemos na “Estréia do Mar", órgão oficial das CC. MM. do Brasil, o seguinte:

Nascido aos 7 de Agosto de 1923, Joaquim entra na Congregação Mariana com poucos anos de idade, manifestando desde o início um grande amor pela Congregação e uma devoção terníssi- ma a Nossa Senhora.

Sua pessoa frágil e seu angélico sorriso per­fumavam o ambiente que o rodeava.

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Joaquim era o amigo sincero em quem todos podiam confiar. Sua alma alegre e piedosa, que se contemplava no brilho dos seus olhos, era o espelho puríssimo do seu coração, tão inocente e tão nobre! Na família, sempre obediente, cari­nhoso, dedicado: era uma verdadeira jóia que en­riquecia o lar, — afirmaram seus pais.

Aos Congregados dava continuamente os mais belos exemplos de fidelidade escrupulosa às regras e ao espirito mariano. Citemos um só.

Tendo que apresentar-se quarta-feira à noite na Congregação, e não o podendo fazer por cau­sa da sua doença, Joaquim manda ao Presidente uma justificação na qual intercala estas palavras: "Se por acaso não puder justificar, peço-lhe o fa­vor de me avisar antes das sete e meia, que eu darei um geito de ir”. Apesar das suas dores, apesar do estado de extrema fraqueza em que sc encontra, já quasi às portas da morte, está dis­posto a levantar-se, a sair de casa, para cumprir sua obrigação! Foi preciso que seu pai intervies- se para fazê-lo desistir do seu propósito.

No meio dos seus indizíveis sofrimentos, não profere uma queixa, uma palavra de impaciência. Somente repete: "Eu quero ver o Padre; ah! Mamãe! Si eu pudesse levantar-me, iria ver o Pa­dre e falar com êle!”

Suas dores aumentam. Pede para lhe cha­marem a irmã e lhe diz: "Joana, reza por mim!”

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Bem entendia êle que só Deus lhe podia susten­tar as forças para sofrer, que só Êle podia aliviar seus padecimentos.

No dia 27 de Setembro de 1938 é transporta­do para a Santa Casa, donde nunca mais sairia com vida. Ao entrar pede seu têrço e seu manual.

Naquela mesma noite recebe a Extrema Un-ção.

“Quero ver o Presidente. Que horas são, Papai? Será que êle não vem?” Ao ouvir que já eram 21 horas, deixa correr pelas faces duas grossas lágrimas, porque o Presidente da Con­gregação já não podia entrar no hospital.

Quarta feira, 28, ao ser visitado por alguns Marianos, chama um em particular e lhe diz: “Você trabalha amanhã?... Não? Então venha acompanharme... ”

Acompanhá-lo? Onde queria êle ir? Presen- tia que no dia seguinte, a família e tôda a Con­gregação o acompanhariam à derradeira morada?

Quinta-feira de manhã, depois da Comunhão. Joaquim recebe a fita azul de Congregado. Du­rante a cerimônia pergunta ao Padre Lasinho: “A diretoria já sabe que vou receber a fita?” Tranquiliza-se ao ouvir uma afirmação.

Durante todo o dia conserva na mão a me­dalha, que vai beijando devotamente. “Que feli­cidade, Mamãe, exclama certa vez: Nossa Senho­ra concedeu-me uma grande graça! Quero as­sistir a missa de domingo com esta f ita ..."

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Vendo seu pai junto do leito, diz-lhe com voz suplicante: “Papai, arranje-me um médico que me possa c u ra r! ...” Uma religiosa respon­de-lhe brandamente que o melhor médico é Je­sus. Desde êsse momento o enfermo só sabe re­petir: “Faça-se, Senhor, vossa vontade!”

A seu pedido rezam várias vezes o ofício da agonia e o terço. Diz à sua mãe: “ Eu quero o Padre Lasinho para me dar a última bênção. Sou Congregado de Maria e quero ser abençoado”.

No momento em que fitava a imagem de Nossa Senhora, alguém lhe dirigiu a palavra. Êle imediatamente observou: “Não me falem: estou contemplando a Santíssima Virgem”.

rVai-se aproximando o fim. As religiosas

enfermeiras chegam-lhe aos lábios o crucifixo, que êle beija com amor, num esforço supremo.

Ninguém pode conter as lágrimas.“Joaquim, diz-lhe a religiosa, repita comi­

go: Sagrado Coração de Jesús, em Vós eu con­fio ... Doce Coração de Maria, sêde minha sal­vação ! .. . ” Com voz quasi imperceptível o mo­ribundo vai pronunciando as jaculatórias.

Eram cinco horas da tarde. Alguém debru­ça-se sôbre êle e acolhe ainda dos seus lábios estas palavras: “benedicat Virgo M aria ...”Poucos minutos antes da morte, o Congregado lembra-se da sua consagração a Nossa Senhora e morre implorando a bênção daquela que o chama­

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va para formar a grande Congregação dos filhos prediletos de Maria na pátria bemaventurada do céu. . .

Como é suave a morte para os que viveram como filhos genuínos da Santíssima Virgem! *

25 de Janeiro de 1939

Uma flor do Marianismo brasileiroDr. Aurélio de Bulhões PEDREIRA

O Dr. Aurélio de Bulhões Pedreira, membro da Congregação de Nossa Senhora das Graças no Rio de Janeiro, foi um congregado modelar e be­nemérito. Em 1938 fôra Presidente de sua Con­gregação e Assistente da Federação das Congre­gações Marianas do Rio.

Desde 1934 nunca faltou à sua adoração no­turna em S. Ana, no dia 30 de cada mês.

Em circunstâncias dolorosas, o exemplo da sua resignação cristã e uma palavra sua sôbre a

'grandeza do sofrimento santificado pela fé, pro­duziram uma impressão tão profunda que um homem culto, mas indiferente em religião, se con­verteu instantaneamente a uma vida fervorosa, afirmando que o gesto do Dr. Aurélio lhe revela­ra todo o sublime heroísmo da verdadeira san­tidade. '

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Arrebatado em poucos dias por uma perti- naz pneumonia, preparou-se para a morte com as orações do “Manual dos congregados” e entre­gou sua alma a Deus repetindo suavemente: “Ave Maria”. Morreu no dia 25 de Janeiro dc 1939.

Transcrevemos aqui sôbre êste congregado um ar­tigo do Prof. Alcebíades Delamare Nogueira da Gama, professor da Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, Congregado da mesma Congregação de Nossa Senhora das Graças. O artigo foi publicado no “ Jornal do Comércio” de 3 de Fevereiro de 1939.

Custa-me ainda a crer que já não pertençe Aurélio de Bulhões Pedreira ao número dos vi­vos !

Há precisamente uma semana, na sexta-fei­ra passada, trocávamos, cheios de entusiasmo, im­pressões sôbre as esplêndidas, vitórias do Genc- ralíssimo Franco às portas de Barcelona.

Seu olhar, em via de regra profundo, medi­tativo, perquiridor, tinha na manhã daquele dia uma vivacidade inédita para mim. Brilhava com um fulgor raro, denunciando a chama de alegria intensa e confiança que lhe escaldava a alma de crente piedoso e de nacionalista convicto.

Sua palavra, sempre sóbria, comedida, pru­dente, traduzia-se em manifestações extranha- mente comunicativas, revelando um estado de euforismo contrastante com a habitual reserva de suas atitudes.

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Tão sincero e incontido era seu júbilo, pelo triunfo esmagador dos exércitos cristãos da Es­panha Nacionalista sôbre as hordas vancíálicas dc Azana, Negrin, Caballero, Aguirre, Prieto e de­mais “caixeiros” de Stalin, que já vaticinava para breve com a rendição de Barcelona, o término da tragédia horripilante, que há mais de dois anos ensanguenta o solo glorioso da península ibérica.

Jamais o vi tão expansivo, tão confiante, tão satisfeito como na manhã radiosa de sexta-feira passada!

Não poderia em circunstância alguma, pas-' sar-me pela mente naquele dia, a suspeita de que, uma semana depois, nesta coluna, lhe tributaria à memória querida a homenagem que hoje, en­tre lágrimas de saudade lhe rendo, apontando-o aos meus leitores como um dos homens mais per­feitos, mais virtuosos, mais probos, mais santos que ainda conhecí na minha existência.

Humanamente falando, era na verdade um santo.

Tôda sua vida foi um modêlo de pureza, de volun­tária imolação, de sacrifícios ignorados, de devotamentos exemplares à sua Pátria e à sua Religião.

Recatado em extremo, a raros amigos costumava revelar, assim mesmo na mais estricta intimidade, sua opinião sôbre homens e coisas do nosso país.

Pois ufano-me de ter sido um de seus confidentes em horas angustiosas, nas quais os sofrimentos, as de­cepções, os vexames, em vez de abatê-lo, de espezinhá- lo, ao contrário, o enchiam de fé e confiança nos desti­nos do Brasil e na justiça de Deus!

Jamais o encontrei desalentado diante das dificul­dades, por maiores que fossem.

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Possuía uma fibra de espartano.Sempre disposto a lutar! Sempre pronto a mer­

gulhar, escoteiro que fôsse, nas refregas mais ásperas!- Otimista, via sempre luminoso o horizonte diante

dos olhos, por mais densas e carregadas as nuvens que o toldassem.

“Depois da borrasca virá a bonança” — era sua sentença predileta, a cada momento aflorando em seus lábios!

Nunca o encontrei blaterando contra a sor­te, zurzindo o látego de azedumes íntimos contra quem quer que fôsse, atacando a reputação, apoucando o renome, ferindo a dignidade, nem mesmo dos que o prejudicaram nos seus mais le­gítimos interesses!

E não foram poucos os que tentaram arre­batar-lhe o que de mais sagrado possuía — a sua honra profissional! Esta, soube-a defender, com uma galhardia, um denôdo, um heroísmo, ra­ros nos dias de comodismo, de indiferença, dc conformismo que o mundo atravessa, em contras­tes com as noções que outrora a humanidade pos­suía desse bem, que a nenhum outro se equipara

Escrupuloso como poucos no exercício de sua profissão de engenheiro, em vez de enrique­cer, como fácil lhe fôra em mais de uma feita, chegou a sacrificar economias e contrair compro­missos para levar a termo as tarefas que tomara sôbre os ombros e dar cumprimento rigoroso às obrigações contratuais que assumira.

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Nem assim a ganância cega de uns e mesqui­nharia trapaceira de outros quizeram poupá-lo a vexames e humilhações, que possivelmente o le­varam ao túmulo.

Morreu pobre. Nem siquer legou à família um pequenino pecúlio, que a ponha a coberto de privações!

Mas deixou à esposa — que é um padrão de virtudes cristãs, de heroísmo no sofrimento, de resignação na dor — e às três encantadoras crian­ças, agora privadas de sua assistência desvelada e carinhosa, um tesouro imenso, que ninguém acumula em títulos, em papéis de crédito, em no­tas bancárias, em propriedades de valor — um nome impoluto — cuja conquista, neste mundo de competições brutais, se alcança à custa de crifícios inauditos, numa luta desigual, em que os ímprobos, os espertos, os mais ágeis levam van­tagens sem conta aos homens escrupulosos, de consciência delicada.

Êsse o patrimônio que Aurélio de Bulhões Pedreira lega à sua família!

Patriota da mais fina têmpera, perquiria a fundo os problemas brasileiros, procurando en­contrar para cada um, que defrontava em meio a seus estudos, solução compatível com as realida­des nacionais.

Amava o Brasil com extremos de filial devoção*Sofria como poucos os males, as desditas, as mfe-

licidades de sua Pátria I

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Ambicionava vê-la cada vez mais pujante no desen­volvimento progressivo de suas forças econômicas, cada vez mais engrandecida no trabalho fecundo que une os homens e os identifica na comunhão do solo, da língua e dos ideais, cada vez mais prestigiosa no concerto das nações do Continente, cada vez mais fiel à Religião tra­dicional de seu povo.

De seus lábios jamais ouví um conceito pessimista sobre o futuro do Brasil, um pensamento acabrunhador a respeito das possibilidades de nossa terra, uma frase desprimorosa contra seus próprios adversários políticos.

Cultivava Aurélio de Bulhões Pedreira a vir­tude da caridade com ardor verdadeiramente so­brenatural.

O ilustre jesuíta, Padre Costa, que lhe devas­sara a alma nos refolhos mais íntimos, dizia-me, diante de seu esquife, que sua preocupação diu- turna era aperfeiçoar cada vez mais êsse senti­mento de amor ao próximo, e quanto mais o apu­rava numa renúncia constante às pequeninas vai- dades inerentes à contigência humana, tanto mais sua alma privilegiada, numa ascenção contínua, se aproximava de Deus através de orações, de je­juns, de mortificações, de penitências, de vida eu- carística diária.

Sobrinho de duas criaturas santas — a Irmã Zélia e o Dr. João Pedreira do Couto Ferraz, — pertencendo a uma família que conta quasi duas dezenas de sacer­dotes e religiosas, criado num ambiente de piedade, unido pelo amor a uma esposa modelarmente cristã, correspon­deu Aurélio de Bulhões Pedreira à graça com que o acumulou a Infinita Bondade de Deus, findando seus dias, aos 44 anos de idade, como lídimo soldado do Cris­to —- no seu posto de trabalho, lutando em defesa dos direitos de Deus e de sua Igreja e servindo ao Brasil com todo o seu devotamento e abnegação de patriota.

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Prosternado jun to* seu leito mortuário, de­morei meu olhar turbado pelas lágrimás em suas faces lívidas, e ao de leve com meu terço toquei em seu burel de franciscano, e revi em seu peito a fita e a medalha de congregado mariano, e desde êsse momento, confesso, uma consolação misteriosa inundou minha alma enlutada — a es­perança de que te'rei agora, junto Aquele que é n Supremo Juiz dos homens, mais um patrono, tão ardente em zêlo e caridade quão sincero e dedica­do foi o amigo, que a morte arrebatou de meu convívio.

Já não lamento sua ausência. Já não cho­ro sua separação. Hosanas levanto a Deus Oni­potente por ter merecido a graça de uma amiza­de que, não se encerrando no abismo de um tú­mulo, viverá perenemente na glória da Eterni­dade!

5 de Janeiro de 1941

Um leaderv m ariano no BrasilArlindo ANDRADE

Sôbre éste Congregado exemplar, falecido a 5 de Janeiro de 1941, lemos no número 256 de “O Apóstolo” de Florianópolis o seguinte:

De Joinville recebemos ainda comovente» pormenores da morte do grande católico e con­gregado mariano Arlindo Andrade.

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Despontou o dia 5, de Janeiro, domingo, cheio de sol, num calor abrasador. Arlindo Andra­de, sorridente e alegre, saiu cedo de casa e, diri­giu-se à igreja do S. C. de Jesús, afim de assistir a s. Missa e Comunhão geral da Congregação Mariana daquela paróquia, pois, como Presidente da Federação da Diocese, fôra convidado para assistir à posse da nova Diretoria daquela C. M.

Tudo corria bem. Durante a Missa, Arlindo puxava as orações, acompanhava os cânticos, to­mou a s. Comunhão.

Terminada a Missa todos os congregados se dirigiam ao salão para tomar o café... quando Arlindo sentiu forte dor de cabeça, queixando-se ao seu vizinho, que procurou animá-lo.

O mal, porém, se agravava rapidamente. Trouxeram-lhe uma chícara de chá; Arlindo sor­veu um pouco, mas já caiu em estado de comple­ta aflição. Beijou então, repetidas vezes, a me­dalha de congregado que trazia sobre o peito; e procurava com a mesma passar onde a dor ator­mentava. Socorrido por todos, teve em seguida vômitos e já pendia a cabeça, em estado de co­ma. Foi transportado para o Hospital. P. Al- dolino Gesser, que, por doença, se achava aí, lhe administrou a Unção. Todos os recursos em­pregados carinhosamente pelo médico assistente, foram inúteis, falecendo Arlindo ás 11,05.

A intensa multidão de povo que acompanhou Arlindo ao seu último descanço, foi uma prova

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comovente de como Arlindo Andrade éra esti­mado.

Sim, Joinville e a sua vida católica perde mui­to com êle, pois Arlindo era um esposo modelar, um pai desvelado, cidadão probo, funcionário consciencioso, um católico íntegro e o dedicadís­simo Presidente da Federação das Congregações Marianas da Diocese de Joinville. Deus e a San­tíssima Virgem o chamaram a si na flor da vida para recompensar o seu fiel servo, que soube cumprir generosamente sua sublime missão cá na terra.

Insondáveis são os desígnios de Deus! Ado­remos sua santíssima Vontade! Conservemos vi­va a memória de Arlindo Andrade.

Mais ainda; cuidemos de imitar o seu admi­rável exemplo de católico e congregado mariano, para preenchermos a grande e dolorosa lacuna que a morte de Arlindo Andrade entre nós dei­xou. R. I. P.

1912-1932

Um jovem de caraterGérard RAYMOND

Gérard Raymond nasceu em Québec, (Ca­nadá) , na freguesia de Sâint-Malo, • aos 20 de Agosto de 1912, sendo seus pais Camilo Raymond « Josefina Poítras.

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Êstes cristãos modelos transmitiram ao seu caro Gérard o amor de Deus, o culto da SS. Eu­caristia e o hábito da Comunhão diária. Com sua intensa vida sobrenatural, eram para a família numerosa, exemplos de um cumprimento genero­so, constante e total dos seus deveres de estado.

Com a idade de cinco anos e cinco meses fez Gérard a primeira Comunhão. O seu diário, principiado a 23 de Dezembro de 1927, termina aos 2 de Janeiro de 1932. Eis o que escreve a 23 de Dezembro de 1927:

“ QUE TENHO EU FEITO ? QUEM SOU EU? Quais são as minhas amizades? No meu coração o pri­meiro lugar deve ser e é de minha mãe, que me tem acumulado de tantos cuidados desde o dia do meu nasci­mento até hoje. Esteja certa, Mamãe, que jamais me esquecerei da Senhora. E, se algum dia conseguir o que desejo, se me tomar sacerdote, nêsse dia ao calor da minha prece só corresponderá o ardor com que agrade­cerei a Deus por me ter dado uma tão boa mãe.

Sim, Mamãe, quero cumprir os seus votos. Desejo subir os degráus do altar; e, (a Senhora já o suspeita), quero ser missionário! Missionário afim de dilatar o reino de J . . Cristo entre os infiéis, que vivem no paga­nismo, ao sol ardente da África e das índias. Anseio por me dirigir a êsses povos pagãos.”

Quanto à sua afeição para com os pais, asse­gura-lhes que quer dar prova dela dedicando-se ao trabalho, tirando bôas notas. E os arquivos do Seminário de Quebec lá estão para demons­trar que cumpriu sua palavra.

“Tenho o presentimento de que êste combate es­piritual, que hei de sustentar, será duro. Desde o co­meço percebf os múltiplos ardis do Inimigo. Depende

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de F»{f" o deixar-me cair em suas ciladas. Elas, porém, não me atemorizam. Enfrento-as. Demais, agora que desejo combater em mim o amor próprio, sinto-me in­flamado de pensamentos orgulhosos.

E ’ o demônio que me inspira estas opiniões lumi­nosas: “— Tu és, diz-me êle, o mais perfeito dos ho­mens; olha para os outros, não fazem nada do que tu fazes” . . . Os pensamentos desprendem-se, sucedem-se, precipitam-se todos a favor do meu execrável “ eu”. Ah! êste satanaz! . . . Torcer-lhe-ei o pescoço.

Palavras bonitas, confesso, mas, ao primeiro ataque que se apresente, deixar-me-ei iludir por êste sedutor infiel. Ai de mim! Não tenho nada de que me possa lisongear; estou ainda bem longe da perfeição, falta-me muito por fazer. O mais duro será dominar a minha vontade, vencê-la aos poucos, calcá-las aos pés. Custará tornar-me perfeitamente humilde.”

Assim se esforçava êste jovem por se entre­gar inteiramente a Deus!

A 23 de Fevereiro de 1928 anota êle suas re­flexões e seu programa para a Quaresma:

“Eis que a Quaresma começou; ontem recebemos as cinzas, e agora devemos continuar a fazer penitência. Da minha parte; não podendo jejuar, hei de fazer sãÇfí- fícios na alimentação e em todos os meus atos. ' Não provarei assucar. Cuidarei em não faltar à Missa e prin­cipalmente em seguí-la com devoção. O número das minhas visitas ao SS. deve aumentór; prepararei com mais empenho as lições e, na medida das minhas fôr- ças, tudo farei para agradar a Jesús nêstes dias de peni­tência.”

Jovem de 17 anos, se impôs uma série de pe­nitências pouco comuns. Realizou, em sua vida, a trilogia que tomara como programa da mesma: A M A R .... SO F R E R ... CA LA R... Sofrer! Eis

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o seu sonho doirado! Sofrer por N. Senhor, eis a sua ambição, e ela constituiu, por assim dizer, a sua felicidade de jovem.

Num dos seus cadernos escolares, escreveu numa imagem representando a agonia de Jesús: “Jesús, fazei que eu beba êste cálice convosco!”

“Quero ser vítima pelos pecadores!’' “Quero ser mártir!”

A 28 de Abril de 1927 consigna em seu diário:

“ Práticas de humildade para vencer o amor pró­prio: agir sempre como se fora o menor de todos, con­servando-me no último lugar. Na aula, quando o pro­fessor se dirigir à classe inteira para obter solução de uma dificuldade, se eu. a tiver, esperarei que todos deem as suas. Não me envergonharei de interrogar a quem quer que seja, sobre qualquer assunto. Jamais falar de mim mesmo, a não ser que seja interrogado. Nunca de­fender uma opinião obstinadamente, sobretudo se fôr o único a propugná-la. Não procurar defender-me antes as acusações, maximé se fôrem verdadeiras e até mesmo se fôrem falsas. Jamais divulgar uma bôa ação minha. Ob­servar os próprios defeitos e as virtudes alheias” .

A sua preocupação constante era combater o execrável “eu”. Repetia a miúde com a Imi­tação de Cristo: “Ama nesciri” “Ama a obscu­ridade”. Ser ignorado, esconder os seus talentos, passar no mundo como uma sombra, eis o anseio constante deste moço de caráter.

Gérard Raymond se bem propunha, melhor executava; das suas austeridades são-nos teste­munhas seus pais e irmãos, a quem amava dedi- cadamente.

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Deus abençoou sua família. Das seis irmãs que teve, quatro seguiram a yjdá religiosa; uma faleceu com desejos de seguir as primeiras e a última, quando Gérard faleceu, era ainda pe­quena.

O seu espírito religioso, a sua fé ardente, se manifestavam não só em ser o primeiro nos con­cursos de catecismo e de apologética, mas, sua atenção às pregações era tal, que depois podia fazer delas um resumo bem completo e exato.

Na devoção à SSma. Virgem era o primeiro entre todos. Membro da C. M. do Seminário Me­nor, assistia todos os domingos ao oficio, que a princípio era rezado às 6,30 da manhã. Nem as tempestades tnais violentas podiam impedí-lo de fazer o longo trajeto matutino para reunir-se aós alunos internos.

Congregado çônscio dos deveres de filho de Maria, não se continha dentro das balisas de uma mediania incompatível com a fita azul. Ti­nha um ideal: “Duc in altum” : Sempre paracim a... Tornar-se santo, missionário, mártir.

Apreciemos, ainda, algumas linhas traçadas no seu diário depois de um sermão, a 4 de Outu­bro de 1930, festa de S. Francisco de Assis:

“Eu também quero praticar êste catolicismo inte­gral, — quero colocar a cruz acima de qualquer rcaliza- cão, abraçá-la como o Seráfico S. Francisco, cuja festa celebramos hoje. Eu também quero aproveitar a minha juventude, afim de conceber grandes cousas, para, ao menos, realizar algumas.

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Doravante quero pôr o Crucifixo deante de mim do modo mais real possível, para conseguir meu ideal; ideal capaz de animar todos os meus atos. E êste ideal será: uma vida de missionário nos países pagãos, vida consu­mada pelo martírio cruento. Quero ser santo em toda a extensão da palavra, com tudo o que a santidade exige.”

A 2 de Janeiro de 1932 escrevia:

“Estou ainda um pouquinho doente. Já no comêço do ano perdi, pela primeira vez na vida, um pouco de sangue. Pode ser que não seja tão perigoso. . . Pouco importa. . . Estou pronto para aceitar tudo. Dar meu sangue na plenitude de minha juventude, vale talvez mais que o martírio longínquo e problemático de um velho. . . Fazei de mim, bom Jesús, o que Vos aprovér, fazei-me sofrer, se quiserdes, pois sou tão indolente para obter méritos doutra forma. De antemão, Jesús, aceito tu d o ... T udo ... e com os vossos sofrimentos serei forte. Quero sempre corresponder, por atos, ao “quid nunc Christus” , que é a minha divisa”.

E Jesús aceitou a imolação do jovem Gé- rard.

Congregado de grandes ideais, ouviu, pela úl­tima vez, o “duc in altum”. Desta vez, porém, para os páramos celestiais. Frequenta ainda o Seminário; nos dias 8 e 9 de Janeiro teve uma hemorragia. Transportado para o hospital “ La­vai” deu mostras, durante a sua doença, de pie­dade e resignação. Foi sempre o que era em ca­sa e na aula: edificante, discreto, calmo e sub­misso.

Já ao primeiro contato, as religiosas ficaram comovidas e admiradas. Tanta prudência e sabe-

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doria num jovem! Recebendo a notícia do seu estado grave, não se altera; aceita tudo da mão de Deus. Impertérrito, como em tôda a vida, amigo do sofrimento, não procura um alívio, to­ma o que lhe é menos gostoso. Recebida a ex­trema-unção com espansões de alegria, faleceu placidamente após uma hemorragia, na noite de 5 de Julho de 1932, com a idade de 19 anos, 10 meses e 15 dias. Com a cabeça caída sôbre o tra­vesseiro, lábios tintos de sangue, dava a impres­são de um m ártir... E ser mártir fôra seu ideal de cada instante...

O Verbo Eterno,O Filho Unigênito de Deus,Ensina-me a verdadeira magnanimidade!

Ensina-me a servir-te, como mereces:Dar, sem esperar,Lutar, sem me preocupar com ferimentos, Trabalhar, sem procurar repouso, Sacrificar-me, sem esperar outra recompensa,

■Que a certeza de ter cumprido A tua santa vontade!

Santa Inácio de Lorole

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3.° Grupo: Companheiros de luta

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Um vencedor nas olimpíadasRalph H. METCALFS

Já nos jogos olímpicos de Los Angeles em 1932, na corrida de 100 metros ganhou Ralph H. Metcalfe, estudante da Universidade “Marquette”, a medalha de prata, Nos mesmos jogos, em Ber- lim, no ano de 1936, percorreu Metcalfe em 40,4 se­gundos a distância de 100 metros, obtendo igual distinção; e na corrida combinada de quatrocentos metros, na olimpíada dos Estados Unidos de Owens, Draper, Wykoff e Metcalfe, mereceu a medalha de ouro. Eis aqui o breve relatório do célebre desportista negro, sobre o seu caminho à Igreja Católica e à Congregação Mariana:

Verdadeiramente, sente-se grande satisfação ao se obter a vitória na pista em concurso com os melhores corredores do mundo. E ’ um mo­mento feliz e emocionante quando se sabe que se alcançou ou até que se bateu o record na cor­rida. São alegrias reais, que entre muitas, ofe­rece o concurso desportista. Há noticias lison- geiras que a gente lê nos jornais com uma satis­fação muito natural, embora não se deva ligar muita importância a estas observações, que só in­citam a vaidade humana.

No entanto, nem as honras, nem as demons­trações de estima e de interesse pessoal que re­cebí, por ter tido, casualmente, bastante sorte co­mo corredor, nada disso, pode ser comparado com o sucesso verdadeiramente feliz que tive,

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quando pela primeira vez, me apercebí da gran­de felicidade que possuía: ser católico. Confesso com toda franqueza, que na minha religião, en­contrei uma nova felicidade, nunca imaginada, e em minhas preces, uma consolação nunca antes pressentida. A minha conversão foi provavel­mente o fato mais importante de tôda a minha vida, um passo singular, e nunca tive remorsos de o ter dado.

A um ou outro leitor, mormente nos Esta­dos Unidos, pode parecer exquisito ou fora de comum, que um preto se converta à Igreja ver­dadeira. No entanto, a minha raça, que está pro­gredindo cada vez mais culturalmente, seria um campo farto para missão interna.

O catolicismo já prestou excelentes serviços aos meus compatriotas. As igrejas e escolas, fun­dadas para a população de cor, dão testemunho dos esforços e trabalhos realizados.

Quanto a mim, posso afirmar, não tive difi­culdades extraordinárias quando resolví tornar- me católico.

Não cheguei a conhecer os entraves e incômodos de tantos e tantos neófitos que passam por tôda a sorte de dificuldades por parte da família, principalmente dos pais. Minha mãe tomou-sè católica, mesmo antes que eu. Quando morava em nossa casa paterna de Chicago, des- pertou-se a sua «stima pela Igreja Católica por meio de amigas, brancas e de côr, que pertenciam à verdadeira Fé, e cuja sinceridade, zêlo e absoluta submissão i santa vontade de Deus nos sofrimentos, muito a impressio­naram.

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Quando ainda colegial, voltou-se o meu in­teresse mais de uma vez para as verdades da Igreja Católica. Êsse interesse não era de modo algum superficial. Foi talvez por êsse motivo, que escolhi, ao terminar o curso secundário, a Universidade católica “ Marquette” dirigida pe­los PP. Jesuítas.

Êstes porém não forçaram a minha conver­são, como o supuzeram alguns dos meus amigos não católicos; nem tão pouco meus camaradas de esporte ou colegas de universidade influíram nesta minha resolução. Agí só com a convicção interna de minha alma; pois já muito antes da minha entrada na referida Universidade eu tinha resolvido tornar-me católico. Esta resolução foi fortalecida pela convivência com amigos, e pelos estudos e comparações feitas neste ambiente.

No inverno de 1932, durante uma viagem que fiz em companhia de um selecionado esportivo da “Marquette”, confiei a minha “grande idéia” a um bom amigo, que felicitando-me entusiasticamente, aconselhou-me que to­masse desde já as devidas providências para ser instruído nas verdades da Igreja Católica. Eu porém lhe respondí: “Agora não posso, não tenho tempo. Muitos estudos, muitos exercícios desportivos no campo e na pista. Isto cansa. Eu quero aproximar-me do catolicismo descan­sado e com os olhos bem abertos.”

O meu amigo não se conformou com a minha res­posta e foi falar ao Diretor da Congregação Mariana da nossa Universidade, o Padre John Markoe S. J., que era considerado por todos nós, os acadêmicos, como um ver­dadeiro apóstolo, em todo sentido da palavra. Nestas circunstâncias n ío tive outro remédio, sinto conversar com o referido Padre.

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Há coisa de dois anos, fui eu aceito no seio da Igreja Católica. O dia da minha crisma, foi para mim um dia feliz. Não menos feliz foi o dia 8 de Dezembro, data da minha admissão na Congregação Mariana.

O catolicismo abriu-me os olhos sôbre a be­leza da religião, dando-me ao mesmo tempo con­solo, fôrça e nova alegria de viver. No esporte e nos estudos, nos meus esforços físicos e espiri­tuais, procuro amparo e auxílio na oração que nunca falha. O meu maior desejo, reforçado pe­la oração frequente, é conservar para sempre a fidelidade à Igreja.

1936

A consagração do congregadoErnesto STRAND

Ernesto Strand vê aproximar-se o dia de sua admissão na Congregação Mariana de Baden, perto de Viena. Poucas semanas antes, porém, cai enfermo e é internado num dos hospitais da cidade. Os médicos entreolham-se preocupados com o estado do doente ao constatarem que se tratava de uma grave enfermidade na perna. Quasi todas as semanas escreve Ernesto ao Di­retor e ao presidente da Congregação Mariana: "Virei com certeza, para a admissão 1” Certo dia, porém, decidem-se os médicos a inteirá-lo sô-

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bre o estado da sua perna: tinha de ser amputa­da, quanto antes. E na semana seguinte devia Ernesto, com mais alguns companheiros, ser ad­mitido solenemente na Congregação Mariana!.... Contudo Ernesto dá o seu consentimento e escre­ve ao Diretor da Congregação Mariana: “O meu último passeio com ambas as pernas, será à Vir­gem Santíssima — virei com tôda a certeza — depois podem amputar-me a perna!” E cumpriu a palavra. Assistido por membros da família, apoaindo-se penosamente sobre a muleta, arras­ta-se até a capela da Congregação. Todos os presentes se impressionam e se comovem, ao vê- lo em posição diante do altar, com o rosto páli­do e emagrecido, mas cheio de fôrça de espí­rito, para se consagrar à Virgem Maria.

No dia seguinte, Ernesto, era um pobre alei­jado — para sempre! Deve haver certamente qualquer coisa de grandioso na consagração à Maria, porquanto êsse jovem a tomou tão a sério!

Diante do tribunal dos vermelhosTiago UDINA

Em princípio de 1937, o Presidente da grande e fa­mosa Congregação Mariana da Imaculada e de S. Luiz de Barcelona foi preso pêlos comunistas.

Trata-se do advogado Tiago Udina.Uma semana após a capitulação de Barcelona, es­

creveu a seu irmão Jesuíta, residente na Itália, interes­santíssima carta sobre as peripécias por que passou. O bom espírito que rescende esta carta é exemplo aca­bado para todos os nossos congregados.

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Barcelona, 21 de Março de 1939

Caríssimo Irmão,*r

Eis-mé novamente em casa a espera das úl­timas ordens que fixem a minha situação mili­tar. Pode imaginar como estou cansado e quan­to necessito de restabelecer as forças. Graças a Deus já me sinto muito m elhor...

De novo a Congregação está em “ casa sua”, aquela da Rua Caspe (1) onde gozou os dias de seu maior esplendor. O Altar da Congregação, na igreja do Sagrado Coração, está encimado por uma imagem da Imaculada, reprodução, em for­mato menor, da “nossa” profanada pelos verme­lhos. (2). Já se pôs de novo em prática a missa quotidiana, a saudação sabatina, os catecismos, as vésperas... Durante esta semana estamos em Retiro. A concurrência é inesperada! Ime­diatamente depois será instituída a “guarda de honra”. Ainda nestes dias deixaremos para sem­pre os belos salões de “ ESTRE”, pois não que­remos ter outro local nem sítio de reuniões para os nossos congregados, senão aqueles em que o Pe. Fiter, e ultimamente o Pe. Verges, forma­ram tantas gerações de valorosos congregados.

1) No Colégio dos Jesuítas que em 1932 foi fechado pela República. O edifício ficou bem conservado/ pois a República o des­tinara a vários ofícios públicos. A igreja, espoliada de todos os seus altares, durante a guerra serviu de caserna. O Governo Nacional restituiu tudo à Companhia.

2) O original se conservava em uma casa particular, onde foi encontrado e destruído pelos comunistas por ocasião da revista.

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A acusação

Em Fevereiro de 1939 esta mesma Çongre- gação compareceu perante o Tribunal popular" n. 2 de Barcelona na pessoa de sei^ humilde Pre­sidente. Esta é a verdade. Contra a minha pes­soa não houve nenhuma acusação. Todas eram em razão do meu ofício, portanto dirigidas con­tra as Congregações Marianas. Quando os poli­ciais, às ordens do anarquista Eroles, me condu­ziram ao “Tribunal Popular" fizeram-no só por ser eu Presidente do “Estre", entidade segundo êles, filiada à Falange espanhola, e alegando por motivo, que eu levava ao fanatismo os outros católicos.

Perante o juiz fui obrigado a explicar o que era o “ ESTRE” e respondí assim: é uma entida­de instituída para que a Congregação Mariana pudesse realizar seus escopos sob o aspecto cul­tural c formativo da juventude. Desde o início afirmei que se tratava de uma organização cató­lica. E puz em relevo que, sem fugir a nenhuma responsabilidade, eu desempenhava o meu ofício com dependência de um Diretor e um Conselho, negando, porém, a suposta adesão do "ESTRE" a qualquer organização política.

Encerram-me na prisão. Veiu o dia do pro­cesso como também o do julgamento, 15 de Fe­vereiro de 1937. Desde o início tomei o propósi­to de me defender pessoalmente e só me serví dos auxílios de um outro congregado, advogado, a

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quem dei a ler os autos processuais. Os meus mo­tivos são claríssimos: não queria de modo algum desvirtuar a causa fundamental da minha prisão e do meu processo, nem tão pouco passar ao “Tribunal Popular” de Barcelona como “vítima da besta negra... ”

O interrogatório das testemunhas

Êste me foi muito favorável. As duas teste­munhas de acusação foram duas porteiras: a da minha casa e a do antigo domicílio do P. Verges. Estas se declararam pela minha inocência com muito desagrado do “ Fiscal” (procurador real). As testemunhas de defesa foram, um estudante que não me conhecia, mas não ignorava que coi­sa era o “ ESTRE”, uma porteira do mesmo cen­tro, um velho companheiro de serviço militar e, finalmente dois individuos do ofício onde eu de­sempenhava a minha profissão de advogado. Com todos êles, insistí que de modo nenhum, nem mesmo pelo desejo natural de me favorecer, pu­sessem em dúvida perante o tribunal, a minha Fé.

O meu processo, portanto, consistiu numa defesa do “Estre”.

A minha declaração perante o tribunal foi uma solene confirmação do caráter essencialmen­te “apolítico” das Congregações Marianas, e, com respeito à acusação contra o Pe. Vergés (pelo qual perguntou o “Fiscal”) por ser êle jesuíta,

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respondí que a república já dissolvera a Compa­nhia dc Jesús na Espanha. Contestou êle mos- trando-nie uma revista que trazia a firma do P. Yergés S.J. ao lado da minha “ Presidente da Congregação de Barcelona”, julgando o dignís­simo representante do “ Ministério Popular” ha­ver-me induzido em contradição, demonstrando ao Tribunal a trama que eu pretendia armar. Respondí, porém, não haver afirmado que o men­cionado Padre não fôra Jesuíta, mas que a Com­panhia de Jesús estava abolida e, por conseguin­te, o Tribunal não podia julgá-lo como tal.

Acusação do “Fiscal”O “ Fiscal” confirmou que “ESTRE” e Con­

gregação Mariana são uma e a mesma coisa; não fez a menor alusão à suposta adesão à Falange, mas dirigiu todos os esforços para demonstrar tôda a responsabilidade que atribuía às Congre­gações Marianas na revolução do levante militar, afirmando que, se não existissem os congrega­dos marianos, na Espanha não havería Movimen­to Nacionalista. Pôs em relevo a importância da minha pessoa, examinou atentamente as re­gras da Congregação e chegou a citar frases tex­tuais das mesmas, quando a elas se referia. Ser­viram-lhe de documento uma cópia do “Signo”, cuja casa editora era abertamente anti-comunis­ta (“Signo” é um periódico da Juventude da Ação Católica espanhola) e alguns folhetos em que se falava das CC.MM. e de seus círculos de

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estudo. Não faltavam invectivas contra a Com­panhia de Jesús e acusação direta contra a Con­gregação Mariana. Ameaçava-me com pena de morte e multa de 10.000 pesetas.

A defesa

Comecei por afirmar a minha fé católica, renunciando defender-me por êsse motivo. Não estava alí para defender um católico denunciado, mas sim para defender a Congregação Mariana. Proclamei as suas excelências, citei textos do Papa e de Bispos: exaltei a doutrina social da Igreja, declarando que a aplicação desta é a as­piração individual e coletiva dos congregados. Afirmei ter assumido tôdas as responsabilidades inerentes ao meu ofício para promover a ativi­dade da C., e do “ESTRE” a partir de 2 de Fe­vereiro de 1934 até 18 de Julho de 1936, data em qüe fui nomeado Presidente. Terminei pedindo minha absolvição. Disseram-me que me portei valorosamente, que estive sereno e mesmo elo­quente. Não lhe digo isto para me gabar, mas para dar-lhe uma idéia do que daí resultou. De fato, no público a minha exposição causou enor­me impressão. Impressionou também ao tribu­nal, mais disposto a absolver do que a condenar, conquanto não se duvida que tivesse predomi­nado a ameaça, o ódio, a perseguição e a injusti­ça. Com isto fiquei muito contente, rendendo graças a Deus e à minha Mãe Imaculada pelo

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amparo que me dispensaram. Sem a bênção di­vina nada conseguiría.

A Sentença. LCondenaram-me a 10 anos de trabalhos for­

çados e à multa de 10.000 pesetas, “em benefí­cio da coletividade". Não me condenaram à mor­te, porque não merecia o martírio, fiste caminho seria fácil demais para ir ao céu, e o Senhor não o queria. À nossa familia reservava uma honra muito maior: ter, não um, mas dois mártires...

Aos 15 de Fevereiro de 1937, dei o último ósculo a meus pais. Saí do Tribunal com des­tino ao cárcere, despedindo-me por alguns dias. Poucos dias... Um mês depois, pêla misericór­dia de Deus, êles já se achavam no céu.

Quando, na sexta-feira da última semana, assistia aos funerais que se celebraram por êles, tive impressão que aquele luto estava fóra de pro­pósito. As circunstâncias exigiam antes cores festivas, notas triunfais, um solene “Gloria" e um "Te Deum" em ação de graças. Nossos pro- genitores deram a sua vida por serem pais de congregados, por serem cristãos. Com muita razão, portanto, podemos chamá-los mártires. Que honra para nós ser filhos de mártires!

N. B. — O pai era congregado e também oa dois filhos. Consta com certeza que os pais foram presos precisam ente por serem pais de congregados. Juntamente com êles foram detidos outros pais cujos dois filhos tinham sido- presidentes da Congregação Manana da Anun­ciação e de S. Joio Berchmans. A ordem de pnsáo colheu todos no mesmo dia, 16 de Março de 1937, e pelos mesmos belegums. . Desde aquela data náo se sabia mais nada absolutamente sôbrs o seu destino.

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Na prisão

Muita coisa poderia contar-lhe dos meus 25 meses de prisão. De Janeiro de 1937 (que pre­sente dos Reis Magos ser preso no dia da sua festa!) até Maio de 1938 estive ná “ Prisão Mo­delo”, excetuando os dias que passei na de Fi- gueras. Êste ano passei bem. Na minha cela habitavam outros congregados, alguns Padres da Companhia, alguns Beneditinos de Monserrat, sacerdotes e outra boa gente. Quotidianamen- te, às escondidas, podia assistir à Santa Missa e comungar. Fazíamos reuniões para recitar o Rosário, cantar à surdina as vésperas, praticar devoções mais frequentes, como o mês de Maio, Junho etc .... Muitas vezes havia exposição do Santíssimo, com exortações, discursos, cânticos etc., sempre, porém, com muita prudência e cau­tela. No Natal de 1937 conseguí assistir à Mis­sa da meia-noite. Lia muito, assistia a um ou outro círculo de estudo político-sociais que alí se realizavam. Não levando em conta os incô­modos da prisão e a privação da liberdade, que aliás não é pouco, posso dizer que passei bem êsse tempo.

Trabalhos forçados

Mas em Maio de 1938 começou a segunda etapa da minha prisão, no campo de trabalho n.# 4 na província de Lérida. Trincheiras e estra-

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das eram o objetivo do nosso trabalho. Onze horas por dia, sem respeitar domingos nem fes­tas. Comida pouquíssima. Em um mês, houve 16 fuzilamentos por motivos fúteis. Estavamos divididos em grupos de 5 e sabíamos que, com a fuga de um, os quatro restantes seriam fuzila­dos. Para isto bastava alguém tornar-se anti­pático a um guarda, como de fato sucedeu ao advogado Cisquer. Caminhadas de 60 Km. por dia; maus tratos por obras e palavras, blas­fêmias como eu nunca tinha ouvido em número e malícia, era cousa de todo dia. Roubavam os poucos presentes que nossas famílias nos podiam mandar: comida, cigarros, roupas. Na corres­pondência só nos era lícito escrever 20 palavras, e a maior parte dos cartões ia para o cesto. Éra­mos vigiados por indivíduos realmente "escolhi­dos”, a fina flor dos vermelhos. Passei por tudo, não me faltou nem por um momento nada. Su­portei bem tudo isto, porque o espírito prevale­ceu sôbre o corpo. Todos os dias oferecia a Nosso Senhor os meus trabalhos em expiação dos meus pecados, pela salvação da Espanha e pelo restabelecimento da Congregação. . .

Seu irmão Tiago

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A m paro e a u x ílio a sacerdotes escondidos

Os congregados de MATARÓ

A 19 de Janeiro de 1938 escreve o Presidente da Congregação Mariana de Matarõ, Juan Comas:

“O Diretor da nossa Congregação, padre Dr. José Samso Elias, morreu heroicamente, como um verdadeiro mártir. Nós, naturalmen­te, voltamos a nossa atenção com prudência e de­vida cautela para os assuntos mais urgentes da Congregação, amparando com auxílio material e pecuniário os sacerdotes e religiosos escondi­dos. Para êste fim conseguimos angariar, até hoje, cerca de 300 pesetas por mês. Obtivemos também que os nossos irmãos na fé, principal­mente os moribundos, recebessem os santos Sa­cramentos”.

Nunca tão congregado como agoraUm congregado de MATARÓ

Domingos Róvira, o primeiro assistente da Congre­gação Mariana de Matarõ, escreve em carta de 13 de Fevereiro de 1938 a um sacerdote:

“Vossa Reverendíssima vê que nossa queri­da Mãe celeste não me abandonou por um ins­tante siquer depois de minha fuga do batalhão dos vermelhos. Tenho por certo que o bom Pa­

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dre Dr. Samso, e um poderoso intercessor no céu. Desde que escapei da região ocupada pelos vermelhos, sou mais congregado do que nunca. Desde então acho-me ansioso por trabalhar o mais possivel, sob a proteção de Maria, para a glória de Deus e da Santa Igreja”.

A vida das catacumbasOs congregados de BARCELONA

Por carta de um congregado de Barcelona, escrita a 17 de Abril de 1938, sabemos o seguinte:

“Aqui em Barcelona, dão-se coisas incríveis, com os congregados e membros da "Liga da Per­severança”. Sacerdotes, religiosos e famílias católicas, as vitimas mais visadas, são ampara­dos em número cada vez maior, recebendo di­nheiro, mantimentos e outros auxílios. Uma grande consolação para os infelizes que não pude­ram fugir, é naturalmente, a distribuição diária da Santa Comunhão. Todos em minha casa, eu, minhã esposa e meus três filhos mais velhos, re­cebemos frequentemente a Nosso Senhor! ... ”

Oferecí a Deus meu corpoNome ignorado

De uma carta dum congregado:

" . . . Quando o trouxeram ao hospital, o nos­so irmão mariano estava horrivelmente mutila­

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do. Uma perna estava estraçalhada quasi por completo. Êle mordia os lábios de dor, até san­grarem, mas de sua bôca não escapava nenhum gemido, nenhuma queixa, nenhum sinal da dor que o atormentava.

Desde que foi atingido pela bomba, ficou por algum tempo como que atordoado. Por essa razão, os médicos não se acautelaram ao fala­rem sôbre o caso em sua presença, julgando-o desacordado.

“ Será possível salvar a perna?”, perguntaum.

“ E* pouco provável”, responde outro, “acho melhor amputá-la”.

“E* pena, um rapaz tão forte, tão sadio, tão moço e já mutilado. Mas não há outro remédio. O que se há de fazer?”

Neste momento interrompe-os o requeté fe­rido: “Digam-me tudo sem hesitação. Nãome vou queixar. Oferecí a Deus todo o meu corpo, e Êle se deu por satisfeito com uma só perna. Êle não exige muito. Portanto não me posso queixar”.

E’ fácil de imaginar a perplexidade dos pre­sentes. Depois da operação, tendo já voltado a si o heróico paciente, disse-lhe alguém grace­jando, que na próxima vez hão de lhe cortar também a outra perna. “ Não faz mal”, respon­deu o requeté sorrindo, “uma vez que é neces­sário, cortem quanto quiserem. Quanto a mim, basta-me minha alma para oferecê-la a Deus”.

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Após a alta do hospital, apresentou-se o nos­so heróico mariano incontinente a disposição das autoridades militares e pediu o favor de ser ocupado na guarnição interna dos tanques, visto que alí podia prestar serviços, mesmo com uma só perna. . . ”

Outono de 1936

M aria nosso "General"Os heróis do Alcáçar de TOLEDO

O heroísmo dos defensores do Alcáçar, (a praça forte de Toledo,) tomou-se conhecido no mundo inteiro. Menos conhecido porém é o fato de que uma grande parte desses heróis per­tence às fileiras do exército mariano. Na Esco­la dos Cadetes de Toledo, existia desde há muito, uma florescente Congregação Mariana, com cer­ca de 200 membros, que antigamente usava a de­nominação de “A Real Congregação Mariana”.

Também o heróico comandante do Alcáçar, General Moscardó, que se mostrou digno do seu posto e, como estrategista de primeira ordem, deu provas de sua capacidade militar, era um dos congregados mais exemplares. Sacrificou o próprio filho em prol de uma cousa santa, pof Deus e pela Patria.

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O testemunho autêntico do diretor da sua Congregação de Toledo, é cheio de elogios para com o congregado Moscardó. O Bispo de Cartage- na, Mons. Diaz y Gomara, quando ainda desterra­do em Roma, disse certa vez, em um discurso pro­ferido na Cidade Eterna: “ Não nos causa admi­ração o espírito heróico e brilhante dos Cadetes de Toledo, pois sabemos que êles são congrega­dos mariaros, cavaleiros da Virgem Santíssima, a Vencedora do espírito do mal”.

Um repórter, perguntando ao general Mos­cardó sôbre o destino da própria família, recebe dele a resposta, pronunciada lenta e pausada- mente: “A minha esposa e um dos meus fi­lhos estavam presos em Toledo pelos verme­lhos, vivendo só‘ a pão e água. Agora estão livres. Um outro filho meu, está na linha de batalha, o terceiro, dão por desaparecido na re­gião ocupada pelos vermelhos. E o meu último filho... Ê ste ... Nos primeiros dias do assé­dio, quando a linha telefônica ainda funcionava entre Alcáçar e a cidade, fui chamado ao apare­lho pelo comando vermelho, que me intimou à rendição, caso contrário, meu filho, que se achava nas suas mãos, seria fuzilado. Em prova disso, meu filho foi chamado, para falar comigo. Dis­se-lhe: “ És filho de um soldado, recomenda atua alma a Deus!” Poucos minutos depois foi fuzilado”.

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No diário católico francês “La Croix” (13 dc Outubro de 1936), um correspondente narra alguns episódios sôbre o assédio do Alcáçar, re­latando ao mesmo tempo, as suas entrevistas com os oficiais da fortaleza.

“Depois da tomada de Toledo, o capelio celebrou a Santa Missa, em meio dos destroços fumegantes, e os que estavam ainda em jejum comungaram. Publicava-se, durante o assédio, um diário mimeografado "O Alcáçar” do qual saíram 64 números. A moral dos emnli*ten<«f nunca sofreu baixa.

Desde os primeiros dias da luta, o cajntio Sane de Diego organizara um serviço religioso: doas vêses ao dia, rezava-se em comum o terço, domada Virgem Santíssima. Grande era a lé, e sentida a pie­dade dos sitiados. Dentre todos, quer oficina, qusr id - dados, quer civis, ninguém duvidava de qne “o •saecti% a Santíssima Virgem, não os havería de ahandnnae.

E’ incrível como tantas pessfiaa, e inteiras, pudessem morar naqueles sidero um verdadeiro milagre nio epidemia; ainda hoje é hnpossfvd res sem sentir-se enojado pelos hálitos deles exalam.

O CORONEL MOSCARDÔ, de » anoa, 4 o legendário dos defensores, um soldado -de |W— |aw- vras, e de olhar fulgurante. “N io fíoo UM smAuBaM firo os fatos, — que Cotes sto os que utiquijjiSM eu mena de ideal, especialmente quaodfese Deus e pela Espanha. Nooea iw HW * '* * * * • • ■ Conhecia meus homens, saiweta, e Cmu ua casamos % mim.”

O GOVERNADOR C pequenos suportaram tudo o mesmo feridos, UM do* st4o vencedor» sle palavras % “o nosso general.*' PetiUhttt-MS< 86 Deus podará dlsi-ÍA «haA aa

«táattlMta

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dei tudo quanto possuía: A honra, a família, os bens tem­porais; e o que ofertei não quero retomar. Deo gratias! Eis o que fica do meu patrimônio” ! E mostrou-me um sobretudo já gasto. “ Sentí uma alegria imensa, conti­nuou, quando vi o primeiro avião sobrevoar o Alcáçar. Sim, alguém pensava em nós, vivíamos no coração dos nossos camaradas que lutavam distante. Deus é bom e a Espanha vive. A vitória deverá sorrir-nos; era a men­sagem da Virgem que o avião nos vinha trazer” .

O PR EFEITO DE TOLEDO diz, falando dos ca­maradas: “ São heróis, são santos, são “trunfos” do he­roísmo; viviam, lutavam, morriam por Deus e pela Es­panha. E* maravilhoso, não é? E todos, absolutamente todos, eram dedicados a Nosso Senhor, e cheios de con­fiança na Santíssima Virgem.”

O DOUTOR MARIN: — “ Doutor que impressões tem dos 72 dias de cativeiro?”

# “ Situação terrível deveras! Contávamos com um as­sédio de 4 ou 5 dias, pois, na Espanha, as revoluções nunca foram prolongadas. Mas 72 dias, nas condições em que estávamos! .. . Sem luz, sem água potável, sem recursos para manter a higiene, com multidão de homens, mulheres e crianças, todos metidos em subterrâneos! .. . Nossa Senhora nos favoreceu com um estupendo mi­lagre. Não duvido que os materialistas vão rir-se de mim, considerando-me um crédulo. Não importa. Se êles não acreditam nos milagres, serão pelo menos forçados a reconhecer que tais fatos não se explicam naturalmente. Destituídos de meios, não fomos vítima de nenhuma epi­demia ou doença. Tínhamos por alimento, um pão horrí­vel e pedaços de carne de cavalo, e isto durante 72 dias! Acho que êste acontecimento lhes fará abrir os olhos, deixar de lado suas falsas teorias científicas, e assim compreenderão melhor as coisas de Deus. Nunca me esquecerei da Mãe Celeste. Foi ela quem nos salvou.” O doutor sorrindo beija respeitosamente a medalha que lhe pende do pescoço.

JO S E ’ SANZ DE DIEGO. Entrevistei-me com êle, e relato algumas frases suas: “ Sou católico, da or­dem terceira de S. Francisco e Congregado Mariano. Agí segundo os meus princípios. Tudo devo a Deus e à San-

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tíssima Virgem. Dócil instrumento nas suas mios, dei­xei-me guiar." Depois, a todas as minhas perguntas, sem afetar devoção, manifestando uma vida interior admi­rável, como poucas vêzes me foi dado conhecer, res­pondeu-me sempre fio mesmo modo. "Deus e a Santís­sima Virgem, a minha M ãe... a Virgem e D eus...”

O CAPITAO FREJO. — E’ um simpático oficial, alto e atraente. Tive uma entrevista com êle durante 10 minutos, num corredor de sua casa, onde o encontrei sentado, com tôda simplicidade, nos degraus de uma es­cada. Não fala de si. "Oh que belo assédioI Setenta e dois dias de vida épica, cheia de sacrifícios e de des­prendimento. Nunca amei tanto a Nossa Senhora, a Deus e a meus irmãos. A humanidade é sublime quando vivificada pelos ideais do Céu (parecia descontente de es­tar salvo!...). Nunca eu havia vivido uma vida íntima com Aquele a quem eu amava". E beija a pequena cruz que leva sôbre o peito. “ O mais bravo, me diz ao ouvido, é Sanz de Diego, é um santo". Mas êste último protesta e replica: "Foi Frejo, que recitava o têrço com uma de­voção encantadora." Foi impossível arrancar-lhe mais uma palavra, porque afinal êles pouco fizeram, os gran­des defensores do Alcáçar foram Deus, a Virgem e . .. os outros. . .

AURÉLIO JOSE’ GREGÓRIO, capitão dos Re- quetés de Toledo: "A Espanha não é nem será grande se não for submissa a Deus. Havemos mister menos de palavras que de fatos. Precisamos viver a vida de Cristo e pensar que Cristo vive em nós. A base de nossa vida é a sagrada Comunhão, a adoração ao Santíssimo. Eis como deve viver um soldado de Jesús Cristo 1 Não com­preendo outra existência, para um redimido. A cada momento deve estar pronto para morrer por seu rei: Viva Cristo Rei!”

Enquanto permanecemos era Toledo, o capitão Gre- gório comungava quotidianamente, à frente de seus ofi­ciais. Durante todo o dia, os soldados, tendo a poucos metros o inimigo, recitavam piedosamente o têrço.”

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Esforça-se até o extremoUm congregado de BARCELONA

Os seguintes trechos são da carta de um jovem en­genheiro, que conseguiu evadir-se de Barcelona, e depois de uma breve estadia, voltou para se alistar como vo­luntário no exército nacional libertador. A carta foi di­rigida a um irmão seu, residente na Itália. Êste nô-la entregou para ser publicada.

“ De marcha para o fro n t... Não me será fácil escrever-te, querido irmão. E’ possível que esta seja minha última carta. Deus seja louva­do em tudo, se Êle em sua santa vontade assim o decidiu e quer. Morrerei com prazer, em de­fesa de um ideal tão sublime e em reparação dos meus pecados e dos da Espanha. No caso po­rém de que Deus, em sua misericórdia, me sal­var dos perigos desta peleja, então que satisfa­ção invadirá meu espírito e minha consciência, ao recordar, que tive a felicidade de ser um da­queles que lutaram pela restauração da sua Rea­leza em nossa querida Pátria”.

Do front de Toledo... “ Pude descansar por alguns dias em Toledo, onde recebí ordem de seguir com o meu grupo, rumo a Retamares (Madrid). Essa localidade foi visada de um modo especial pelos canalhas vermelhos, que a atacaram com seus aviões mais modernos e mais destruidores. Desta maneira, serei obrigado prova-

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velmente a passar os próximos dias santos na trincheira, a não ser que se empreenda alguma ofensiva. Não me preocupo. Para mim o que vier, está bem. Quem sabe, talvez poderei, espe­cialmente nesta semana, tornar-me mais parecido com Nosso Senhor, que suportou as intempéries e o exílio. Digo-te com tôda a sinceridade, que no fundo, estou muito contente com esta coin­cidência: assim como Jesús veiu ao mundo para salvá-lo pela luta e pelos seus sofrimentos, do mesmo modo posso eu nestes dias, lutar e sofrer por sua Honra. E se Deus quiser que eu sobre­viva depois de tudo isto, como na minha velhice (caso a alcance) me lembrarei dessas horas de angústia, de luta e de troar de canhões, do frio c da humidade, dos incômodos e da peleja...

E’ provável que na azáfama das pugnas não me lembre muito de ti em minhas orações, mas faze-o por mim, para que eu cumpra o meu dever e me torne digno do meu cargo de comandante do meu grupo de soldados. Saiba eu lutar va- lorosamente, vencer ou morrer! Adeus, até a próxima vez, se Deus o permitir. E se não ..., tanto melhor! “Viva Cristo Rei! Viva a Es­panha!"

Do front de Badajoz (O autor da carta foi promovido de alferes a 2.* tenente de cavalaria). “ ...A gora estou novamente no front. Podia ter ficado no meu posto em que comecei, mas

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desde o primeiro momento, fiz tudo para chegar à frente. Graças a Deus, o conseguí; sou de opi­nião, que nestes tempos em que vivemos, é obri­gação de cada um, cumprir não sómente o seu dever, mas empregar no cumprimento dêle todo esforço que lhe é possível. Por êsse motivo re­gistrei-me, quando veio a chamada de voluntá­rios, para completar os “ Regulares” (regimentos de mouros). Desta maneira estou agora num esquadrão da cavalaria dos mouros. Mamãe soube desta minha atitude e aprovou-a, deixan­do-me partir sem a menor dificuldade. Que belo exemplo de mãe, que sabe em primeiro lugar ser católica- e ao mesmo tempo espanhola. Eu também me sinto muito feliz e satisfeito porque me é possível fazer grandes cousas pela nossa causa. Até agora ainda não estive na linha de fogo; mas isso não quer dizer nada, pois eu sei que estou aqui na minha posição, junto com as tropas de assalto. Caso me sobrevenha a mor­te, hei de saudá-la jubiloso, visto que ela me abrirá as portas da felicidade eterna. E se sair com vida, então saudarei esta mesma vida com a plena convicção de ter cumprido o meu dever.

Escrevo-te à lapís, sôbre o joelho, à luz de uma vela — é êste o processo geral na guerra. Até à próxima vez, e seja sempre corajoso e bravo. “Viva Cristo R ei! Viva a Espanha”.

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25 de Fevereiro de 1938.

Com o crucifixo na mãoUm congregado do front de TERUBL

“Agora, também nós estamos envolvidos nesse avanço. Marchei sempre com o crucifixonuma das mãos e a carabina na outra. Entre- guei-me todo nas mãos de Deus e de Maria San­tíssima, e agora não tenho mais medo de nada, pois, como o Sr. sabe, quem se entrega a Deus e a Sua Santissima Mãe, não se atemoriza ante perigo algum. Pelo menos assim Acontece co­migo, pois sempre que me encontrava em risco, bastou dizer: Sagrado Coração de Jesus, con­fio em Vós; Maria, minha Mãe, a Vós recorro”, e tomando o crucifixo em minha mão, sentia logo uma fôrça e tranquilidade em minha alma, que eu mesmo não. sei explicar. *

O que há de novo na Congregação? Se o Sr. soubesse como estou ancíoso pelo trabalho apostólico, que tenho em mente desenvolver com todas as veras de minha a lm a!...”

*

Roberto.

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Têrço na trincheiraUm congregado soldado

Um congregado espanhol, soldado durante a guerra civil, narra, numa carta, o seguinte:

“Quando estou na trincheira, devendo passar

nela três, quatro e mesmo vinte-e-quatro horas,

encontro a maior consolação. Consola-me a

reza do Têjço, e encomendo ao Senhor os que

me são caros, enquanto velo para que êstes trai­

dores de Deus e da Pátria não possam entrar

na cidade• de Z. Não posso escrever m ais...

Teu irmão que se sente feliz de poder combater

em defesa duma causa tão justa, te abraça.

. . . Lembra-te de mim na capela da Congre­

gação, para que eu possa morrer defendendo a

Religião e sem nenhum pecado. Adeus, Fernan­

do, o oficial nos chama para partirmos. . . ”

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A grande Santa Teresa dizia:Heróis que militais sobre este lábaro,

Alerta, alerta, vigiai!Que não há pas segura neste mundo.

0 mesmo Cristo quis morrer,Heróico a padecer!Sigamo-lo!Responsáveis somos por sua morte...Feliz do herói intrépido,Que nesta luta,Por Êle vibra a espada!

Alerta, alerta, vigiai!Não haja um vil cobardc em vosso meio!

Eia! Ã conquista da terra para Deusl Arrisquemos a vida Pois que a não perde Quem por Cristo a imola.Ê Êle nosso guiaNosso penhor, nosso prêmioApós lutas sem trégua.

Alerta, alerta, vigiai!Que não há paz segura neste mundo.

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Como congregado d a V irgem S a n t í s s im a

Um estudante de M EDICINA

De que maneira a juventude espanhola empreendeu a luta em sua pátria contra os vermelhos, e como nela viu uma verdadeira cruzada pelo cristianismo e pela Es­panha católica, póde-se deduzir de uma carta escrita por um membro da Congregação Mariana de Barcelona, que, com dois outros companheiros, conseguiu fugir da parte ocupada pelos comunistas. Êsses jovens pedem aqui a permissão para a entrada em território ocupado pelos exércitos nacionais e o seu alistamento naquele exército.

“Exmo. Senhor. Fomos informados de que V.S. tem junto ao Consulado espanhol o encargo de organizar os transportes de voluntários que são enviados ao General Franco. Queremos ser incorporados nas fileiras dos heróicos espanhóis, amigos da ordem e fiéis a Cristo que numa ver­dadeira cruzada se defrontam com os ímpios.

A conselho de alguns sacerdotes, dirigimo- nos a V.S. e pomo-nos á sua disposição para que a Espanha católica possa dispor de nós e contar conosco. Sabemos muito bem que possivelmen­te tombaremos no campo de batalha, ou cairemos prisioneiros nas mãos do inimigo implacável que nos atormentará e nos queimará vivos. Mas isso não importa, pois quem mais do que Cristo merece o sacrifício de nossas vidas?

Estamos anciosos por lutar por Cristo, que se sacrificou por nós, dando a sua própria vida

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para salvar a nossa. Se Êle agora nos chama, que faremos nós católicos congregados da Vir­gem Santíssima, senão derramar de bom grado o sangue, pela santa religião?...

Eis os nomes dos meus companheiros...

Eu tenho 26 anos, sou estudante de medicina... Faça o obséquio de nos informar sôbre o meio de transporte mais próximo, no qual poderiamos embarcar. Sabemos que agora se trata de uma luta de vida ou de morte; mas quem hoje em dia não dirigirá seus pensamentos a Deus, ao ver tanta barbaridade e crimes tão horríveis!... Não queremos demonstrar a nossa dedicação à santa causa, só com palavras; o amor de Deus mos­tra-se mais pelos fatos e pelas obras".

Haverá algo mais nobre do que tomar-se mártir?

Um congregado voluntário

O Padre Baro de Saragoça, escreve o seguinte: “Re­cebí uma carta de um antigo aluno do nosso Colégio de Saragoça, a quem conheço pessoalmente. £ste, depois

ter concluído o ginásio, foi por mim admitido na Con­gregação Mariana.

Aos 19 anos juntamente com seu irmão mais velho, também congregado, alistou-se como voluntário no exér­cito nacionalista, logo no início das hostilidades. Na re­ferida carta, diz entre outras coisas, o seguinte:

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"Com o espírito inquebrantável e com cora­gem indomável, com a consciência limpa, esta­mos aqui sempre dispostos, se Deus o quiser, a dar a ultima gota de nosso sangue por Êle e pela Espanha. No caso de eu tombar ou ficar fe­rido, não deve lamentar, nem se entristecer, pois haverá algo mais sublime e mais nobre, do que oferecer e sacrificar a vida pela religião e pela pátria?... - Estou com muita pressa, pois tenho de aprontar tudo para o avanço. E’ possível que estas sejam as minhas últimas palavras. Veja como é firme minha mão, enquanto escrevo, nada de mêdo! O que vale uma vida, quando não se-lhe sabe dar valor? Nada. Porém vale mui­to, quando bem aproveitada. Que póde haver de mais elevado nesta vida do que tornar-se már­tir pelos nossos santos ideais, isto é, por Deus e pela nossa Espanha unida, grande e livre?” . . .

A m edalha de congre- g a d o e o c r u c i f i x o

Um congregado de Bilbáo eacreve o seguinte ao seu Diretor:

Front de Teruel, 13 de Janeiro de 1938

" . . . Suponho que o senhor recebeu a minha carta, que lhe escreví de Guadalajara... Queio falar-lhe com tôda a franqueza: Nunca deixo

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de fazer os meus exercícios de piedade, e dia a dia, sinto-me cada vez mais obrigado à Imacula­da Conceição, padroeira e Rainha de nossa Con­gregação. De manhã, de noite, durante o duí? dirijo-me à minha Mãe Celeste, principalmente quando o troar dos canhões, o explodir das gra­nadas e o matraquear das metralhadoras, nos deixam num nervosismo irritante; pego então a minha medalha de congregado, que aliás sempre trago no meu peito, debaixo da farda, e imedia­tamente sinto em mim uma coragem inexplicá­vel e uma tranquilidade interna tão firme, que nem o ribombar dos canhões, nem os estrondos ou sibilar das balas me incomodam mais.

Do mesmo modo procedo com o crucifixo que V. Revma. me deu em 1931, quando a Con­gregação foi dissolvida, e o efeito é idêntico. Desde que sou soldado, nunca o larguei. Não raro pego o fuzil com uma das mãos e o cruci­fixo com a outra, e então, noto em. mim nova coragem e novo ânimo. Como devo ser grato a Jesus e à Virgem Santíssima! Há muito tem­po invoco-os, assim como ha tempo chamo-os de meus queridoã pais, tamanho é o meu amor para com êles.

Neste instante fui substituído no meu pôsto de sentinela noturna. Rezei um terço pela mi­nha mãe, e um outro por meu pai. Depois re-

; nt.v< r.srwi Ave M aria em ação «1c graça t ««*

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todos os benefícios que minha Mãe Celeste tne dispensou durante o dia. Quem pode sentir-se mais satisfeito e mais feliz do que eu ?

O meu desejo mais ardente é voltar a Bilbáo, para trabalhar com tôdas a3 minhas forças na Congregação e assim mostrar-me grato à minha Mãe Celeste, pelos benefícios recebidos.

Queira escrever-me quanto antes, para que eu saiba como está passando V. Revma. e qual o andamento da nossa querida Congregação. . . ”

Preparado p ara a morteUm congregado escreve à sua mãe, pouco antes do

ataque:

“Minha querida Mãe. No caso de eu mor­rer durante a batalha, lembre-se do que lhe digo: vou direitinho para o céu. Afirmo isto, pois se eu morrer, morrerei com a medalha da Congre­gação Mariana e o escapulário de Nossa Senho­ra do Carmo, no meu peito. Sei que a Sra., mi­nha querida mãe, tem uma devoção especial à Nossa Senhora do Carmo. Fique, pois tranqui­la e consolada, e ofereça êste sacrifício Àquele que se sacrificou por todos nós. Também eu sinto o sacrifício, ao pensar que talvez terei de deixar aqui, todos aqueles que mais amei neste mundo: minha querida Mãe, Papai, meus seis irmãos, e abandonar todos os projetos da minha

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juventude... Lembre-se, minha querida Mãe, que assim, como Deus permitiu que Nossa Se­nhora sofresse tanto ao ver Seu Filho crucifi­cado, assim talvez quer que a Sra. sofra por mi­nha causa. Oferecendo êste sofrimento a Deus diga-lhc. Com prazer ofereço a vida de meu filho, em pról de uma causa santa, para que a religião católica vença em nossa pátria..."

O Adeus dum esposo e dum pcdUm congregado mariano de Barcelona, eacreve a

seu irmão, o que segue:

- “Querido irmão. Agora vou fazer-te um pequeno relatório sôbre a odisséia da minha fuga de Earcelona. Far-te-ei sabedor dos espinhos que Nosso Senhor Jesús Cristo se dignou en­viar-me para que eu aprendesse a ama-lo nos so­frimentos como nunca antes O amara, e a tor­nar-me bom como nunca antes o fôra. Os meus pecados e os de muitos outros, deram origem a esta guerra terrível, que agora sofremos. Ex­piamos assim as nossas faltas e as dívidas que contraímos para com Deus.

Fernando, tú voltarás à Espanha, se Deus quiser... Quanto a mim, talvez uma bala porá

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fim à minha existência neste mundo. Por esta razão» quero dizer-te algo, afim de que um dia quando tiveres notícia da minha morte pela Es­panha, possas cumprir os meus últimos desejos.

Peço-te, caro Fernando, que digas à ininha esposa, que eu não a abandonei por falta de amor, mas por que compreendí ser do meu dever dei­xá-la para ir defender a santa religião católica. Pela religião, pela Pátria, por ela, minha querida esposa, e pelo nosso filhinho, peguei em armas, sacrificando o mais ardente amor que lhes con­sagro. Estou pronto a levar êsse meu sacrifício até ao extremo, dos sofrimentos e mesmo até à morte, para que ao meu filhinho, seja conserva­da a religião de seus pais, e não uma praça tu­multuosa de crimes hediondos. O que certamen­te aconteceria se o marxismo brutal, que ainda reina na Catalunha, tivesse que decidir da sorte da nossa Pátria. Acredita, caro irmão, que no caso de ser necessário, morrerei, porque tenho uma noção perfeita dos meus deveres como cidadão, como esposo e como pai, e porque estou conven­cido de que assim concorro com a minha morte, para a vida dos que me são caros e para a pros­peridade da Espanha...

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^ &t&dô- dó- CóHÇMÇóUÍó- OfUVUCtitó.

Creio em Deus e em Jesús Cristo.

Amo a Maria, minha Mãe Celeste.

Creio na Santa Igreja, em seus ensinamentos e na sua moral.

Creio em minha patria e nas suas tradições religio­sas.

Creio na alegria e nos prazeres puros da família cristã.

Creio na juventude católica da minha pátria.

Creio na eficácia do bom exemplo.

Creio no apostolado do congregado mariano.

Creio no dever do congregado de confessar intrepi­damente a sua fé.

Creio na repugnância do congregado contra utna vi­da imoral.

Creio na coragem do congregado em suportar a dor e os sofrimentos.

Creio na recompensa celeste do congregado mariano.

Creio na glória etertià do congregado o qual no ceu verá as almas redimidas por seu apostolado.

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D ias c o m e m o ra t iv o s d o s congregados contemporâneos

D I A ANO

Janeiro

1914

1919

1935

1936

1936

1936

1936

1936de 1938

3 de Janeiro de 1927

4 de Janeiro de 1927

5 de Janeiro de 1941

10 de Janeiro de 1930

19 de Janeiro de 1931

21 de Janeiro de 1931

22 de Janeiro de 1931

25 de Janeiro de 1939

7 de Fevereiro de 1933

18 de Fevereiro de 1932

11 de Março de 1934

29 de Março de 1926

Jorge Pasteau

Jerônimo Jaegen

Mons. Leônidas Fiodoroff

Eusébio Gago

Bob Dellemyn

Francisco Jung

Pelayo Serrano e Comp.

Vergara de Jerez

Pierre ChalmagneOs mártires de León

Antônio Acuna y Rodrigucz

Arlindo Andrade

Ludovico Necchi

Memi Vian

Orazio Marucchi

Ladisláu príncipe Batthyany

Aurélio de Bulhões Pedreira

Alberto conde Apponyi

Frederico Augusto III, Rei

da Saxônia»

José Maria Plans y de Freyre

André de Thaye

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D IA ANO

1 de Abril de 192722 de Maio de 192921 de Junho de 1921

2 de Julho de 19365 de Julho de 1932

24 de Julho de 193525 de Julho de 1931

Agosto de 19365 de Agosto de 1936

15 de Agosto de 1936

15 de Agosto de 1934

12 de Setembro de 192715 de Setembro de 1937

24 de Setembro de 1938Outubro de 1927Outubro de 1936

16 de Outubro de 193623 de Novembro de 192724 de Novembro de 192530 de Dezembro de 193431 de Dezembro de 1937

Os mártires de Guadalajara Jesús Gonzalez de Echavarri Joaquim Augusto Camins Irene Costa Lima Valentt Gerard Raymond

Giacomo Maffei Alberto de Landa Alberto Oesch

Victor Pradera Tomaz Cayla João P. Moreira Temporal Joaquim da Silva y Carasco Stephânia condessa Wen-

ckheim/

Joaquim Nagalli Apolônio Gonzalez e Comp.

Marcelino Nadai Fernando Vidal Torrei Padre Miguel Pró S. J. Margarida Sinclair

Maria de la Luz José Lo-Pa-Hong

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LISTA DOS CONGREGADOS M ENCIONADOSNESTE LIVRO

Acuna A............................................................................... 14

Andrade A. .................................................................... 173

Apponyi A........................................................................ 105

Batthyany L ..................................................................... 109

Bulhões Pedreira A. de ................................................. 167

Camins J ............................................................................. 65

Cayla T ...................................................................... - • • 46

Chalmagne P ...................................................................... 74

Costa L. Valente Ir..................................................... 144

Dellemyn B...................................................................... §8

Echavarri M.................................................................... 84

Fiodoroff L ...................................................................... 40

Flores A. G..................................................................... 17

Frederico Augusto II I ............................................... 99

Gago E ............................................................................. 56

Gallardo J. V.................................................................. 13

Gomez E.......................................................................... 13

Gonzalez A....................................................................... 16

Huerta E .......................................................................... 17

Kuerta S.......................................................................... 17

Jaegcn J. ....................................................................... 129

Jung F ........................................................ 137

Landa A. de .................... 34

Lo*Pa-Hong .................................................................... 154

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Luz M. de la ........................................................... 95

Maffei G................................................................................157

Marucchi O............................................................... 9 4

Melgarejo M.................................................................... 19

Metcalfe R ............................................... JggNadai M............................................................................ 47

Nagalli J ........................................................................... 193Navarro N ........................................................................ 13Necchi L ........................................................................... 90Ocsch A............................................................................ 137Padiila A. L ....................................... 17

tPasteau J .......................................................................... 158Plans J ................................................................................ 96Pradera V............................................................. 45Pró M........................................... 25Raymond G..................................................................... 175Serrano P ........................ 18Serrano Pel..................................................................... 48Silva J. da .................................................................... 18Sinclair ... ......................................................................... 189Strand E ............................................ 188Temporal J. P. Moreira ............................................. 116Thaye A. de ................................................................. 88Udina .. ........................................................................... 189Vargas ............................................................................Vargas J. G. ................................................................. *7Vargas R. .. .................................................*.......... . ^7

157Vergara de Jerez .......................................................•V ianM ...................................... 77Vidal Torre» F. ...........................................................Wenckheim St. de .................................. H8

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t

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Prefácio1 N D I C |

1. Grupo: Mártires 11

Mártires de Léon: N. Vavarro, J. V. Gallardo,S. Vargas, E. G o m ez ................................... ... . ig

Em luta armada contra Calles: A. Acufia . . . 14Morte por Cristo: A. Gonzarlez, P. Serrano . . 16Os mártires de Guadalajara: A. G. Flores, A. L.

Padilla, R. G. Vargas, J. G. Vargas, E. Huerta,S. H u e r ta ...................................................... 1 7

Os mártires de Zamora: J. da Silva, M. Melgarejo 19 ’ Vítima sacerdotal: P. Miguel &£Pro S. J. . . . 25Sacerdote e congregado: A. dc^&ánda . . . . 84Defesa heróica da igreja: Maria de la Luz . . . 86Um mártir dos Bolchevistas: Leônidas Fiodoroff 40 Espanha heróica. Palavras do Papa Pio XI . . 44Um leader católico: Dr. Victor Pradera . . . . 46Com Maria, para o Céu: Thomaz Cayla . . . 46Um sacerdote-leigo: Marcelino £íadal . . . . 47Legítimos católicos: Pelayo Serrano e companheiros 48"Feliz de morrer assim”: Fernando Vidal Torres 49Imitador de Cristo: Eusébio G a g o ............................ 56Morro com prazer”: Vergara de Jerez . . . . 57“A pureza é a minha força”: Bob Dellemyn . . 58“Humedecida com o sangue dos congregados”: Uma

carta de S a ra g o ç a ........................................................60

2- Grupo: Confessores da Fé 63Um leproso: Joaquim A. C a m in s ............................ 65Heroísmo dum m enino: A. de Thaye~ . . . . 69Legítimo cavaleiro de Maria: Pierre Cnalmagne 74 Almas gêmeas: São Paulo e Memi Vian . . . 77Um herói nos sofrimentos: Manoel G. Echavarri . 84Catedrático e médico: Dr. L. Necchl . . . . 90Catedrático e arqueólogo: Dr. O. Marucchi . . 94Cientista e matemático: Dr. José M. Plans . . -Rei e CongregadoPFrederico: Augusto de Saxônia O patriarca europeu: Conde A. Apponyi . .Médico e apóstolo da caridade: Príncipe L. Bat-

th y a n y .......................................................' . * 'Anjo da caridade: Condessa Stephânia Wenekhemi 114 Um batalhador de Cristo: Dr. João Moreira

T e m p o ra l................................................. 116

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Artista e apóstolo leigo: Alberto Oesch . . . 127 Diretor de Banco e Místico: Jerônimo Jaegen . . 129Exemplar na profissão e na Congregação: Fran­

cisco Jung ............................................................... 137“Dei tudo a Deus”: Jorge P a s t e a u ....................... 138Um modelo de Ação Católica: Irene Costa Lima

V a le n te ........................................................% . 1QHeroína da vida quotidiana: Margarida Sinclair .O apóstolo leigo de Shangai: Lo-Pa-Hong . .Estudante de medicina: Giacomo Maffei: . . .Assim morre um filho de Maria SSma.: Joaquim

N a g a ll i ................................. ..... • • • • •Uma flor do Marianismo brasileiro: Dr. Aurélio de

Bulhões Pedreira ....................................................Um leader mariano no Brasil: Arlindo Andrade Um jovem de caráteiy Gerard Raymond . . .

149154157

163

167173175

3* Grupo: Companheiros de luta 183

Um vencedor nas olimpíadas: Ralph H. Metcalfe 185 A consagração do congregado: Ernesto Strand . 188Diante do tribunal dos vermelhos: Dr. Tiago Udina 189 Amparo e auxilio a sacerdotes escondidos: Os con­

gregados de M a t a r ó ..................................................198“Nunca tão congregado como agora” : Um con­

gregado de M a t a r ó 198A vida das catacumbas: Os congregados de Bar­

celona ................................. 199"Oferecí a Deus meu corpo” .......................................199“Maria nosso general” : Os heróis do Alcáçar de

T o ledo .............................................................................. 201“Esforça-se até o extremo”: Um congregado de

B arce lo n a ........................................................................206Com o crucifixo na mão: Um congregado do front

de Teruel . ................................................................... 209Terço na trincheira: Um congregado soldado . . 210“Como congregado da Virgem SSma.” : Um es­

tudante de m e d ic in a 212“Haverá algo mais n o b r e do que tornar-se már­

tir?”: Um congregado v o lu n tá r io ........................... 213A medalha de congregado e o crucifixo: Um con­

gregado de B ilb á o .......................................................214Preparado para a morte: Carta à mãe . . . . 216O Adeus dum esposo e dum pai: Um congregado

de B arcelona ..................................................................217O Credo do ^Congregado M a r ia n o ........................... 219Dias comémòrativos dos Congregados contem­

porâneos .........................................................................220

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W lüdâ M bi KdiçG » T écnicas Bsactlyiiàs Lt m , * R. da Figueira, 20*B