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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO ADRIANA MULLER DIVERSIDADE GENÉTICA NA PRODUÇÃO DE MUDAS PARA RESTAURAÇÃO FLORESTAL BRAGANÇA PAULISTA 2010

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

ADRIANA MULLER

DIVERSIDADE GENÉTICA NA PRODUÇÃO DE MUDAS PARA RESTAURAÇÃO

FLORESTAL

BRAGANÇA PAULISTA

2010

ADRIANA MULLER

DIVERSIDADE GENÉTICA NA PRODUÇÃO DE MUDAS PARA RESTAURAÇÃO

FLORESTAL

Orientador: Laura Francesca Mercedes Nieri

BRAGANÇA PAULISTA

2010

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito

parcial à obtenção do grau

Tecnólogo em Gestão

Ambiental, pela Universidade

São Francisco.

ADRIANA MULLER

DIVERSIDADE GENÉTICA NA PRODUÇÃO DE MUDAS PARA RESTAURAÇÃO

FLORESTAL

Aprovado pela Banca Examinadora em 5 de junho de 2010.

Prof. Esp. Laura Francesca Mercedes Nieri – USF/SP

Prof. Esp. José Roberto Paolillo Gomes – USF/SP

Prof. Esp. André Augusto Gutierrez Fernandes Beati – USF/SP

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito

parcial à obtenção do grau

Tecnólogo em Gestão

Ambiental, pela Universidade

São Francisco.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente e eternamente aos meus pais Ismael Muller e Yvonne Anita Muller

por tornar a conclusão desse curso possível, juntamente com o resto da família e amigos.

Agradeço a Universidade São Francisco pelo apoio a busca de estágios e a Secretaria do Meio

Ambiente de Bragança Paulista por permitir que os estudos fossem feitos no Viveiro e Escola

Municipal.

Agradeço a professora Laura e ao engenheiro Mauricio pela paciência e ensinamento dados

durante o período de estagio e produção do Trabalho de Conclusão de Curso.

E por ultimo agradeço ao coordenador do curso Prof. Esp. José Roberto Paolillo Gomes.

“A semente não pode saber o que lhe vai acontecer, a semente jamais

conheceu a flor. E a semente não pode nem mesmo acreditar que traga

em si a potencialidade para transformar-se em uma bela flor. Longa é

a jornada, e sempre será mais seguro não entrar nessa jornada, porque

o percurso é desconhecido, e nada é garantido. Nada pode ser

garantido. Mil e uma são as incertezas da jornada, muitos são os

imprevistos -- e a semente sente-se em segurança, escondida no

interior de um caroço resistente. Ainda assim ela arrisca, esforça-se;

desfaz-se da carapaça dura que é a sua segurança, e começa a mover-

se. A luta começa no mesmo momento: a batalha com o solo, com as

pedras, com a rocha. A semente era muito resistente, mas a plantinha

será muito, muito delicada, e os perigos serão muitos.”

(Osho)

RESUMO

O presente trabalho procura descrever os estudos feitos durante o período de estagio

no Viveiro Escola Municipal de Bragança Paulista com o objetivo de mostrar a importância

de um viveiro para problemática do desmatamento e as técnicas utilizadas para a produção de

mudas juntamente com a importância de se manter a diversidade das florestas reflorestadas.

Inicialmente apresenta-se a situação desmatamento no decorrer dos anos e as medidas

tomadas para evitar as atividades causadoras dessa destruição. Em seqüência, estuda-se a

importância do conhecimento dos princípios que regem a dinâmica florestal para sua

recuperação. Apresenta-se a estrutura de um viveiro e explica-se como é feita a produção de

mudas nativas, partindo da importância seleção das espécies e o estudo feito sobre as espécies

da região. Explica-se como é feita a seleção de matrizes para a coleta de sementes, o

processamento de sementes e todos os processos para produção de muda, assim como

semeadura, repicagem, preparação de substratos, adubação, controle fitossanitario, limpeza e

transplante. Para finalizar comenta-se sobre o padrão de qualidade das mudas e as conclusões

finais do estudo feito.

Palavras-Chave: Recuperação Florestal. Diversidade. Produção de Mudas.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Estrutura do Viveiro Escola Municipal de Bragança Paulista ............................... 21

Figura 2 - Sansão-do-campo utilizado como cerca viva defensiva e quebra ventos ............... 21

Figura 3 – Sementeira ............................................................................................................. 22

Figura 4 - Área aberta ............................................................................................................. 22

Figura 5 - Área sombreada ...................................................................................................... 22

Figura 6 – Viveiro de espera ................................................................................................... 22

Figura 7 – Dedaleiro ............................................................................................................... 25

Figura 8 - Pau-Formiga ........................................................................................................... 25

Figura 9 - Jacarandá Paulista .................................................................................................. 25

Figura 10 - Pata-de-vaca ......................................................................................................... 26

Figura 11 – Caroba .................................................................................................................. 26

Figura 12 – Pata-de-vaca (Bauhinia forficata) ....................................................................... 26

Figura 13 - Sangra d'água (Croton urucurana) ....................................................................... 29

Figura 14 - Aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolius) ...................................................... 29

Figura 15 - Jaracatiá (Jacaratia spinosa) ................................................................................ 29

Figura 16 - Jerivá (Syagrus romanzoffiana) ........................................................................... 29

Figura 17 - Pau-cigarra (Senna multijuga) .............................................................................. 29

Figura 18 - Canafístula (Peltophorum dubium) ...................................................................... 29

Figura 19 – Semente de Graviola (Annona sp) ....................................................................... 31

Figura 20 – Semente de Jatobá (Hymenaea courbaril) ........................................................... 31

Figura 21 - Semente de Pata-de-vaca (Bauhinia sp) ............................................................... 31

Figura 22 – Semente de Mulungu (Erythrina verna) .............................................................. 31

Figura 23 – Semente de Dedaleiro (Lafoensia pacari) ........................................................... 31

Figura 24 - Quebra da dormência da semente de Jatobá ......................................................... 32

Figura 25 – Canteiro contendo as sementes de Dedaleiro, Graviola, Pata-de-vaca, Mulungu e

Ipê amarelo .............................................................................................................................. 33

Figura 26 – Canteiro contendo semente de Jatobá .................................................................. 33

Figura 27 – Canteiro contendo sementes de Pinheiro e Saboeiro ........................................... 33

Figura 28 - Plântulas de Dedaleiro .......................................................................................... 34

Figura 29 – Canteiro com sementes de Graviola (não emergidas ainda) e Plântulas de Pata-de-

vaca e Mulungu ....................................................................................................................... 34

Figura 30 – Canteiros com sementes de Ipê amarelo (não emergidas ainda) e Plântulas de

Dedaleiro ................................................................................................................................. 34

Figura 31 – Canteiro com sementes de Ipê Amarelo (não emergidas ainda) .......................... 34

Figura 32 – Canteiro com sementes de Pinheiro e Saboeiro (não emergidas ainda) .............. 34

Figura 33 - Plântulas de Dedaleiro após um mês aproximadamente ...................................... 35

Figura 34 – Plântulas de Pata-de-vaca após um mês aproximadamente ................................. 35

Figura 35 – Plântulas de Mulungu após um mês aproximadamente ....................................... 35

Figura 36 – Plântulas de Saboeiro após um mês aproximadamente ....................................... 35

Figura 37 – Plântulas de Pinheiro após um mês aproximadamente ........................................ 35

Figura 38 – Sacos plásticos preenchidos com substrato ......................................................... 37

Figura 39 - Material para o preparo do substrato (húmus, terra, matéria orgânica) .............. 37

Figura 40 – Substrato preparado ............................................................................................. 38

Figura 41 – Mudas com folhas amareladas, atacadas por pragas e doenças ........................... 38

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Conceitos utilizados em práticas de recuperação de áreas degradadas ..................17

Tabela 2 - Principais características diferenciais dos grupos ecológicos de espécies

arbóreas ....................................................................................................................................18

Tabela 3 – Algumas espécies arbóreas encontradas no Viveiro Escola Municipal de Bragança

Paulista .................................................................................................................................... 24

Tabela 4 – Listas de espécies para coleta de sementes, considerando a época de colheita .... 28

Tabela 5 – Técnicas mais usadas para quebra de dormência .................................................. 30

Tabela 6 – Processos de produção de mudas em que são utilizados dois tipos de

embalagens .............................................................................................................................. 36

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 11

2.1. Exploração das florestas ............................................................................................. 11

2.2. Inicio da preocupação com as florestas brasileiras .................................................... 11

2.3. Reflorestamento no Brasil .......................................................................................... 13

2.4. Políticas Públicas na recuperação de áreas degradadas ............................................. 14

2.5. Gestão dos Recursos Florestais .................................................................................. 15

3. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ................................................................... 16

3.1. Apresentação geral da empresa ...................................................................................16

4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 17

4.1. Recuperação Florestal ................................................................................................ 17

4.2. Viveiro para produção de mudas ............................................................................... 20

4.2.1. Condições predisponentes a instalação ................................................................... 20

4.2.2. Durabilidade do viveiro e Zoneamento ................................................................... 22

4.3. Produção de mudas nativas ........................................................................................ 23

4.4. Seleção de matrizes e obtenção de sementes ............................................................. 27

4.5. Processamento de Sementes ....................................................................................... 30

4.6. Semeadura .................................................................................................................. 32

4.7. Repicagem .................................................................................................................. 36

4.8. Substratos e Adubação ............................................................................................... 37

4.9. Controle Fitossanitário e Limpeza ............................................................................. 38

4.10. Transplante ............................................................................................................... 39

4.11. Padrão de qualidade das mudas ............................................................................... 39

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 40

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 42

1. INTRODUÇÃO

A produção de mudas tem se tornado uma ferramenta importante na gestão ambiental

uma vez que a degradação do meio ambiente tem se tornado mais freqüente e em maiores

escalas nos últimos tempos. Dessa forma, com o manejo de mudas nativas a recuperação das

áreas degradadas se torna possível, porem é importante ressaltar que para que seja eficaz, a

produção de mudas deve ser bem estudada, pois é preciso garantir que as mudas sejam

capazes de manter o equilíbrio ecológico.

O conhecimento da dinâmica florestal do local que se deseja recuperar se torna o

diferencial para garantir o sucesso do manejo. O presente estudo buscou informações sobre a

flora do interior de São Paulo através de manuais de identificação de plantas arbóreas, estudos

feitos na região e utilizando normas como a resolução SMA 08/08 para seleção das espécies

mais apropriadas para o reflorestamento. Estando ciente disso, foi possível saber com quais

espécies seriam trabalhadas e como seria feita a obtenção de suas sementes para a produção

de mudas.

A obtenção de sementes precisa ser bem estudada e planejada, pois com ela será

possível manter a diversidade genética, um fator que não tem sido valorizado durante as

restaurações feitas nos últimos anos, porem tem-se notado que é a diversidade é a responsável

pela conservação dos processos ecológicos naturais.

Após a obtenção de sementes o processo de produção de mudas é iniciado em

viveiros, o que necessita de uma boa infra-estrutura e acessibilidade. O presente estudo,

realizado no Viveiro Escola Municipal de Bragança Paulista, possibilita observar

detalhadamente cada etapa durante a produção de mudas, assim como o processamento de

sementes, semeadura, repicagem, preparação de substratos, controle fitossanitario, limpeza,

transplante e padrão de qualidade das mudas.

A produção de mudas, tanto para reflorestamento quanto para paisagismo, é um

processo delicado que necessita de avaliação continua de todas as etapas de seu processo, por

isso se torna importante o estudo de cada uma das fases. Portanto o presente trabalho mostra

detalhadamente todos os aspectos a serem considerados durante todas as etapas, o que torna

possível a busca pela melhoria continua.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 EXPLORAÇÃO DAS FLORESTAS

Segundo Bensusan (2006) a agricultura de fato foi a atividade humana que mais

causou impacto sobre o meio ambiente. Esse sistema que transformou o homem em

sedentário teria surgido em diferentes partes do mundo a partir de 12.000 a.C. Seguindo essa

exploração da natureza, a remoção deliberada de florestas tanto através de queimadas ou corte

é também uma das mais duradouras e significantes formas de modificação do meio ambiente.

Outro fator importante, levantado por Perlin (1992), considera que as arvores

fornecem material para fazer fogo, e tal calor proveniente da queima da madeira possibilita a

transformação de materiais, alimentos e possibilita a sobrevivência em locais com climas

relativamente frios, o que mudaria o perfil das civilizações. “Análises de pólen mostraram que

as florestas temperadas começaram a ser removidas no Mesolítico e no Neolítico e depois,

sempre em taxas crescentes.” (BENSUSAN, 2006, p. 100).

Segundo César e Pinto (2001, p. 6) “a guerra contra a floresta continuou em quase

todo o planeta, com o objetivo de suprir com materiais de construção e combustível o

contínuo crescimento material da civilização”. Houve o crescimento do comercio e logo a

indústria passou por uma grande transformação. Máquinas começaram a aparecer, assim

como as de fiação, o que significou para muitos o inicio da Revolução Industrial. (Perlin,

1992)

Como cita Bensusan (2006, p. 100) “à medida que as populações cresceram e as

tecnologias se desenvolveram, o impacto direto da humanidade sobre os ambientes naturais e

sua influencia na destruição da biodiversidade do planeta foram aumentando continuamente”.

De acordo com GoldemBerg (1998 apud Scarpinella, 2002) a revolução industrial

causou nos últimos 150 anos causou grande queima de combustíveis fósseis e queimadas

decorrentes dos desmatamentos, o que se tornaram a maior causa de emissão de dióxido de

carbono (CO2) para a atmosfera. Tais aspectos levaram a degradação do meio ambiente ao

longo do tempo, e estão causando grande preocupação nos dias atuais.

2.2 INÍCIO DA PREOCUPAÇÃO COM AS FLORESTAS BRASILEIRAS

Segundo o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (2007, p.33) “a

retirada da cobertura vegetal original, formada na maior parte por florestas tropicais, é um

traço distintivo do processo de ocupação e desenvolvimento da economia brasileira. Até os

anos 1950, o território nacional era quase totalmente coberto por florestas nativas.” Porem o

ritmo acelerado de desenvolvimento e o crescimento veemente de atividades econômicas fez

com que normas fossem estabelecidas para controlar e disciplinar o desmatamento que

viessem ameaçar as florestas do país.

Dessa forma, criou-se o primeiro Código Florestal Brasileiro “que foi editado por

decreto do Governo Provisório de Getúlio Vargas em janeiro de 1934. Datam desta época

diversos outros regulamentos sobre os recursos naturais, como o Código de Águas, que ainda

está em vigor.” (RESENDE, 2000, p. 149). Tais normas impunham “restrições ao

desmatamento de propriedades privadas e instituíam o controle do desmatamento”. (IICA,

2007, p. 33).

“Em decorrência das imensas dificuldades verificadas para a efetiva implementação do

Código Florestal de 1934, elaborou-se proposta para um novo diploma legal que pudesse

normatizar adequadamente a proteção jurídica do patrimônio florestal brasileiro.” (AHRENS,

2003, p. 6).

Dessa forma elaborou-se o 2º Código Florestal, onde segundo o IICA (2007, p. 34) ele

“procurou ser mais rigoroso no controle do desmatamento, impedindo a derrubada de florestas

em áreas muito inclinadas, impondo a necessidade de autorizações e licenças para diversas

atividades, exigindo planos técnicos de manejo florestal e limitando a exploração de novas

áreas.” O Instituto de Cooperação para a Agricultura (2007, p.34) também lembra que:

Tais exigências, na verdade, abriram as portas para a criação de um aparato

institucional e legal que permitisse as empresas cumprirem o que a legislação

determinava. Para viabilizar tal negociação, foi criado pelo governo, em 1967, o

Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), vinculado ao Ministério

da Agricultura, para “formular a política florestal bem como orientar, coordenar e

executar ou fazer executar as medidas necessárias à utilização racional, à proteção e

à conservação dos recursos naturais renováveis e ao desenvolvimento florestal do

país.” (Decreto-Lei n° 289/67).

De frente as dificuldades do plantio de florestas devido ao longo período de maturação

e o baixo retorno financeiro, desenvolveram-se também um Programa de Incentivos Fiscais ao

Florestamento e Reflorestamento no período de 1967 a 1986 (BACHA; BARROS, 2004).

Entretanto, como chama atenção Bacha (1993 apud IICA, 2007, p. 35), “o programa de

incentivos fiscais não teve um controle adequado, propiciando má utilização dos recursos,

perda do valor patrimonial dos recursos aplicados em incentivos fiscais e concentração da

riqueza.”

Houve grande crescimento da área reflorestada de 1967 a 1979 e decréscimo de 1980 a

1986. Isto porque os incentivos fiscais foram crescentes até o final da década de 1970 e

reduzidos no período de 1980 a 1986 uma vez que passaram a se concedidos para os plantios

na área da Sudene. (BACHA; BARROS, 2004).

Com o fim dos incentivos fiscais ao reflorestamento o Instituto Interamericano de

Cooperação para a Agricultura (2007, p.35) cita que “as grandes empresas adotaram

progressivamente estratégias de diversificação de fontes de financiamento, buscaram reformar

florestas já existentes de baixa produtividade e incentivaram programas de reflorestamento em

pequenos estabelecimentos rurais.”

Em 20 de abril de 2000, foi criado o Programa Nacional de Florestas (PNF), decreto

n° 3.420. De acordo com Scarpinella (2002, p. 59), “sua criação foi uma iniciativa do governo

federal e tem o objetivo manifesto de estimular o reflorestamento no Brasil. Essa iniciativa

tem o objetivo não só de diminuir os números do desmatamento ilegal, como o de evitar que o

Brasil torne-se importador de madeira dentro.”

Neste mesmo ano, “após longo processo de discussão no Congresso e com entidades

ambientalistas foi editada a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o SNUC

(lei n° 9.985, de 18/7/00). Esta definiu dois principais tipos de Unidades de Conservação: as

de proteção integral e as de uso sustentável.” (RESENDE, 2000, p. 79).

“As UCs de proteção integral, ou seja, aquelas cujas limitações de uso e acesso são

maiores, se multiplicaram nos últimos anos, na tentativa do governo impedir o avanço da

desflorestação no “Arco do Desmatamento”, uma extensa região que vai do Acre do Pará,

passando por Rondônia, Mato Grosso e Tocantins.” (IICA, 2007, p. 33).

Dois anos depois, em 2002 foi criado o Programa de Plantio Comercial e Recuperação

de Florestas (PropFlora) que é um mecanismo que “estimula o plantio de espécies utilizadas

como fonte de matéria-prima para a indústria moveleira, o governo não só fundamenta uma

atividade econômica como também contribui para a fixação e a sustentabilidade de mais

famílias no campo.” (RAICES, 2003, p 131).

2.3. REFLORESTAMENTO NO BRASIL

Como enfatiza Crestana et al. (2004, p. 1) “as florestas tropicais constituem o

ecossistema de maior diversidade e todo o mundo e suas reservas mais significativas estão em

nosso país.” Dessa forma, fica clara a importância da sua preservação, uma vez que “as

florestas são de vital importância, pois diminuem as mudanças climáticas, melhoram os

ambientes urbanos, promovem a produtividade do terreno e protegem recursos marítimos

litorâneos.” (SCHUMACHER et al., 2005, p. 3).

As florestas plantadas no Brasil podem ser consideradas irrelevantes, comparadas à

imensidão das florestas nativas existentes. Representam aproximadamente 1% da cobertura

florestal, com cerca de 5 milhões de hectares espalhados pelo país. (SCARPINELLA, 2002).

Tais florestas plantadas no Brasil geram madeira que é “utilizada por empresas de base

florestal, na forma de madeira serrada e para produzir compensados, aglomerados, lâminas de

madeira, chapadas de fibra, celulose e papel.” (SCHUMACHER et al., 2005, p. 3).

De acordo com Scarpinella (2002) o reflorestamento já ocorre no Brasil em diversas

escalas e com diversas finalidades, assim como melhoria na qualidade de produção,

atendimento na demanda de matéria-prima para indústrias e visando também reparos

ambientais. Porem “o real conhecimento sobre a importância ecológica das florestas, tanto na

conservação quanto na restauração de áreas degradadas possui apenas um pouco mais de 20

anos.” (SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 6).

“São Paulo é hoje o único estado brasileiro que possui políticas para conservação

florestal e para os reflorestamentos heterogêneos com espécies nativas, que considera a

diversificação de espécies florestais na conservação da sua biodiversidade.” (SANTOS;

GUARDIA, 2009, p. 7). Segundo Lorenzi (1992, p. 0) “a função primordial de equilíbrio

ambiental e ecológico proporcionado pelas matas nativas, jamais poderá ser comparado a

culturas homogêneas de espécies alienígenas como o gênero Eucaliptus e Pinus, etc.,

amplamente cultivadas no país.”

É por isso que a partir dos anos 1980, quando a visão para os problemas ambientais

começou a crescer, “as empresas de papel e celulose passaram a enfrentar uma crescente

resistência das organizações ambientalistas à expansão das florestas plantadas de eucalipto e

pinus.” (IICA, 2007, p. 54).

2.4. POLÍTICAS PÚBLICAS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

De acordo com Santos e Guardia (2009, p. 7) “as políticas publicas adotadas para a

recuperação de áreas degradadas (RAD) têm estimulado permanentes revisões, sobre as suas

normas e procedimentos adotados, envolvendo a orientação para reflorestamento

heterogêneo”. Além disso, tem havido maior integração das ações voltadas ao planejamento,

fiscalização e licenciamentos, realizadas pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA),

Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (SAA) e Coordenadoria de Assistência

Técnica Integral (CATI). (BARBOSA et al., 2007, p. 1).

Como cita Santos e Guardia (2009, p. 7) “a lei estadual n° 817 de 2008 que dispõe

sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Cerrado no Estado de São Paulo, é

outra ferramenta que certamente contribuirá para a conservação e restauração de áreas

degradadas deste bioma”. Outros exemplos que podem ser mencionados são: a Resolução

SMA 47/03, que fixa orientações para os reflorestamentos heterogêneos com espécies nativas

e a Resolução SMA 48/04, que lista as espécies da flora ameaçadas de extinção e que,

respaldada no melhor conhecimento da flora paulista. (BARBOSA et al., 2007, p. 1).

Também podemos citar a Resolução SMA 68/08 que inclui programas de manejo em

unidades de conservação. (SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 7).

2.5. GESTÃO DOS RECURSOS FLORESTAIS

“Em busca da conservação da biodiversidade as empresas florestais começaram a

questionar como agir para aumentá-la, considerando a existência de paisagens já estabelecidas

representadas por grandes monoculturas de pinheiros e eucaliptos.” (LEÃO, 2000, p. 340)

A gestão desses recursos naturais vai depender essencialmente da ação institucional,

partindo-se da definição dos direitos de propriedade e da regulação pública destes direitos

privados e/ou comuns. (RESENDE, 2000, p. 53). De acordo com Leão (2000, p. 343) “esse

tipo de procedimento torna-se necessário diante das exigências legais de reflorestar áreas

reservadas à preservação permanente, como matas ciliares, topos de morros ou encostas com

declividades muito acentuadas”.

3. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

3.1. APRESENTAÇÃO GERAL DA EMPRESA

O “Viveiro Escola Municipal” localiza-se no Parque de Exposições Dr. Fernando

Costa no Posto de Monta, Bragança Paulista/SP. O programa é desenvolvido em parceria com

a Secretaria Municipal de Educação e tem por objetivos a educação ambiental direcionada aos

alunos da Rede Municipal e produção de mudas. A estrutura do viveiro foi construída pelo ex-

prefeito José de Lima e de acordo com informações da Prefeitura, desde construção, o local

nunca teve uma atividade objetiva, por isso a Secretaria Municipal de Meio Ambiente passou

a administrá-lo e agora é utilizado para educação ambiental.

A instalação é composta de um escritório uma sala de aula onde é realizado do projeto

de educação ambiental com crianças, dois banheiros um galpão para o beneficiamento das

sementes e armazenamento de insumos agrícolas, uma estufa de 5 por 5 metros para

germinação de sementes, um telado com sombrite mediando18 por 18 metros, com

capacidade aproximadamente de 20.000 mil mudas de arvores nativas, uma parte

da área reservada para a rustificação das mudas ao sol, que permanecem por vários meses

para a adaptação, com capacidade para 50.000 mil arvores.

4. METODOLOGIA

4.1. RECUPERAÇÃO FLORESTAL

É de grande importância saber que de acordo com Rodrigues & Gandolf (2004 apud

RODRIGUES, 2009, p. 11) a recuperação de áreas degradadas mudou sua visão de “mera

aplicação de práticas agronômicas ou silviculturais de plantios de espécie perenes, visando

apenas a reintrodução de espécies arbóreas numa dada área, para assumir a difícil tarefa de

reconstrução das complexas interações da comunidade”.

Na Tabela 1 constam algumas definições importantes que devem ser

entendidas antes de discutir sobre a recuperação florestal.

Tabela 1 – Conceitos utilizados em práticas de recuperação de áreas degradadas.

Conceito Definição Fonte

Reabilitação

a) Retornar um ecossistema degradado ou população para

uma condição não degradada que pode ser diferente da sua

condição original.

IUCN, Unep,

WWF 1991

b) Recuperação de um ecossistema, com nível intermediário

de degradação, podendo ou não haver intervenção humana.

Maini 1992

Restauração

a) Retornar um ecossistema degradado ou população a uma

condição original

IUCN, Unep,

WWF 1991

b) Recuperação de um ecossistema degradado de forma

irreversível, havendo necessidade de intervenção humana.

Maini 1992

Recuperar Readquirir, recobrar o pedido. Ferreira 1986

Recompor Tornar a recompor, reorganizar. Ferreira 1986

Reflorestar Plantar florestas em local onde inicialmente existia

cobertura florestal

Sem fonte

Revegetar Ato de plantar em local onde inicialmente havia cobertura

vegetal.

Sem fonte

Fonte: Amaral, 1992 apud Crestana et al., 2004, p. 4.

Como cita Clewell (2004, p. 3-4) “as intervenções empregadas em restaurações variam

grandemente entre projetos, dependendo da extensão e duração das perturbações passadas,

condições culturais que formaram a paisagem”. Vale ressaltar que “deve-se favorecer ao

máximo o uso de espécies nativas brasileiras em detrimento das espécies exóticas.”

(RODRIGUES, 2009, p. 16).

Segundo Crestana et al. (2004, p. 5) “é preciso saber como é que funciona na prática a

dinâmica da floresta tropical e conhecer os princípios que regem esta dinâmica, os quais

absolutamente não podem ser tratados isoladamente, pois são interligados”.

De acordo com Gandolfi et al. (2007 apud RODRIGUES, 2009, p. 18) “a sucessão

ecológica pode ser descrita como um fenômeno no qual uma dada comunidade vegetal é

progressivamente substituída por outra ao longo do tempo e em um mesmo local.”. A

sucessão ecológica acontece em duas fases: sucessão primaria e sucessão secundária.

“Genericamente a sucessão secundária é aquela que ocorre em áreas que eram ocupadas por

uma comunidade e que sofreu perturbações [...], se difere da sucessão primaria que ocorre em

áreas onde não havia uma comunidade estabelecida.” (SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 31).

Como cita Rodrigues (2009, p. 19) “alguns pesquisadores propuseram categorias que

permitem classificar as espécies segundo suas respectivas categorias sucessionais, sendo

usualmente utilizados termos como pioneiras, secundárias e climáticas.”

De acordo com Crestana et al. (2004) espécies pioneiras possuem rápido crescimento e

não necessitam de sombra, o que se torna uma vantagem, pois ocupa rapidamente o espaço.

Suas sementes apresentam dormência, outro fator que indica a necessidade de pleno sol, pois

dessa forma será possível sua germinação. Isso as difere das espécies secundarias que

possuem sementes prontas para germinar, formando o banco de plântulas. As secundarias

podem crescer sob sombra, mas ainda necessitarão de luz de pequenas clareiras. Similar às

secundárias, as de clímax também formarão banco de plântulas, porem podem se desenvolver

na ausência de luz solar. A Tabela 2 ilustra uma das classificações adotadas para diferenciar

os grupos ecológicos.

Tabela 2 - Principais características diferenciais dos grupos ecológicos de espécies arbóreas

Características Pioneiras Secundarias

Inicias

Secundarias

Tardias Climáxicas

Crescimento Muito rápido Rápido Médio Lento ou muito

lento

Tolerância a

sombra

Muito

intolerante

Intolerante Tolerante no

estágio juvenil

Tolerante

Regeneração Banco de

Sementes

Banco de

plântulas

Banco de plântulas Banco de plântulas

Frutos e

Sementes

Pequeno Médio Pequeno á médio –

sempre leve

Grande e pesado

1° Reprodução

(anos)

Prematura (1 a

5)

Prematura (5 a

10)

Relativamente

tardia (10 a 20)

Tardia (mais de 20)

Tempo de

vida(anos)

Muito curto

(aprox. 10)

Curto (10 a 25) Longo (25 a 100) Muito longo (> 20)

Ocorrência

Capoeiras,

bordas de matas,

clareiras médias

e grandes.

Florestas

secundárias,

bordas de

clareiras e

clareiras

pequenas.

Florestas

secundárias e

primarias, bordas

de clareiras e

clareiras pequenas,

dossel florestal e

sub-bosque.

Florestas

secundárias ou

estagio avançado

de sucessão,

florestas primarias,

dossel e sub-

bosque. Fonte: adaptado de Ferreti, 2002 apud Rodrigues, 2009, p. 19

A falta de preocupação com o grande número de espécies e plantios apenas

baseados na sucessão florestal não foram suficientes para atingir a sustentabilidade, e dessa

forma “a próxima tentativa de melhoria desses projetos buscou não só copiar a sucessão da

floresta como também sua florística e estrutura.” (RODRIGUES, 2009, p. 27). De acordo com

Crestana et al. (2004, p. 12):

De fato, não há um modelo universal de recomposição para as áreas de

domínio da floresta tropical, mas sim princípios universais a serem obrigatoriamente

em todo e qualquer projeto, como: a diversidade de espécies, a raridade de espécies,

a interação entre plantas e animais, a sucessão secundária e o uso de espécies nativas

de ocorrência regional: o referencial deve ser sempre a dinâmica da floresta tropical,

ajustadas as peculiaridades de cada local.

Segundo Sebbenn (2006 apud SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 47) “a ausência da

diversidade genética predispõe populações e espécies a extinção diante de pressões exercidas

por mudanças ambientais, doenças e ataque de pragas”.

De acordo com Rodrigues et al. (2009, p. 40) “além da importância para a

sobrevivência da própria espécie, a diversidade genética pode inclusive alterar o

funcionamento dos ecossistemas.” Como exemplo, observa-se o trabalho de Madritch &

Hunter (2002), onde a constituição genética de diferentes indivíduos de Quercus laevis afetou

diretamente a constituição química da serapilheira produzida pelos mesmos, que por sua vez

definiu o padrão da ciclagem do carbono e nitrogênio no solo sob as árvores. Dessa forma,

ficou claro pela primeira vez a relação entre diversidade genética e o funcionamento de um

ecossistema. (RODRIGUES et al., 2009).

Outro aspecto ambiental que afeta a diversidade genética em nível de populações e

espécies é a fragmentação florestal (SANTOS; GUARDIA, 2009). “Os fragmentos florestais

desempenham importante função de mantenedores da biodiversidade existente na região

afetada e devem ser considerados como elementos-chave no planejamento de conservação

ambiental”. (RODRIGUES et al., 2009, p. 160).

Como a recuperação florestal exige diversidade elevada, essa deve ser compatível com

o tipo de vegetação nativa ocorrente no local e poderá ser obtida através do plantio de mudas.

(SANTOS; GUARDIA, 2009).

4.2. VIVEIRO PARA PRODUÇÃO DE MUDAS

De acordo com Almeida (2000, p. 114) “um viveiro de mudas deve ser planejado,

desde seu inicio, para produzir plântulas adaptadas as diferentes condições de campo

encontradas”. As condições predisponentes a sua instalação, a durabilidade de um viveiro, a

utilização de embalagens para mudas, substratos e o manejo das mudas são alguns requisitos

básicos para sua instalação. (CRESTANA et al., 2006).

4.2.1. CONDIÇÕES PREDISPONENTES A INSTALAÇÃO

Segundo Almeida (2000) exigências básicas relacionadas a água, acesso, topografia e

mão de obra devem ser atendidas durante a produção de mudas em um viveiro. O estudo

detalhado de tais itens influenciará no sucesso do empreendimento. (CRESTANA et al.,

2006).

Topografia: De acordo com Almeida (2000, p. 115) “não se deve escolher área que

necessite de grandes obras de terraplanagem (a declividade deve variar entre 3-5%)”.

Dessa forma haverá “um bom escoamento de água das chuvas e da irrigação, em local

de solo com boa drenagem”. (CRESTANA et al., 2006, p. 26).

Água: Necessita-se de qualidade e quantidade suficiente para atender a demanda da

produção (ALMEIDA, 2000). De acordo com Crestana et al. (2006, p. 26) tais fatores

“limitam a produção das mudas, especialmente de plantas nativas, pois sua diversidade

é grande e sua necessidade de água é muito variável”.

Acesso: Segundo Almeida (2000, p. 115) o acesso “deve ser fácil para facilitar o

transporte das mudas para o campo, bem como deve ficar o mais próximo possível do

local de plantio”. Dessa forma, menores serão os danos causados nas mudas e seu

preço devido a redução do custo do frete. (CRESTANA et al., 2006).

Mão-de-obra: “Deve ser encontrada disponível nas proximidades da área do viveiro,

reduzindo custos de transporte”. (ALMEIDA, 2000, p. 115).

De acordo com Crestana et al. (2006, p. 27) outro fator que deve ser levado em

consideração é o “cuidado na escolha da área onde será instalado o viveiro com a ocorrência

de geadas e ventos fortes que influenciam no crescimento de mudas”. Outro cuidado é a

produção de mudas em locais muito sombreados. As mudas produzidas em locais com tais

características apresentam-se fortes e bonitas, mas ao serem levadas para o campo,

apresentam alta mortalidade por não estarem acostumadas com insolação direta e altas

temperaturas (ALMEIDA, 2000).

O Viveiro Escola Municipal de Bragança Paulista (Figura 1) possui fácil acesso, com

mão de obra próxima e transporte acessível. Dispõe de um sistema de irrigação e sua

declividade é suficiente para o escoamento da água das chuvas e da irrigação. Possui uma

iluminação adequada e proteção contra ventos (Figura 2).

Figura 1 – Estrutura do Viveiro Escola Municipal de Bragança Paulista

Fonte: Adriana Muller

Figura 2 - Sansão-do-campo utilizado como cerca viva defensiva e quebra ventos

Fonte: Adriana Muller

4.2.2. DURABILIDADE DO VIVEIRO E ZONEAMENTO

Há dois tipos de viveiros que serão instalados dependendo das circunstâncias:

permanentes e temporários. (CRESTANA et al., 2006). Segundo Almeida (2000, p. 116) “os

permanentes são aqueles projetados para atender programas de recuperação de grande escala,

onde é necessária a produção continua de mudas por um longo período”. Já em viveiros

temporários, serão atendidas “situações de produção de mudas para o plantio em curto espaço

de tempo ou onde há dificuldade de acesso ao campo”. (CRESTANA et al., 2006, p. 26).

De acordo com Almeida (2000) em um viveiro de produção de mudas deve-se haver

sementeira, área de repicagem, galpão, depósitos de defensivos, área aberta, área de sombra e

viveiro de espera.

Figura 3 - Sementeira Figura 4 - Área aberta

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 5 - Área sombreada Figura 6 – Viveiro de espera

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

4.3. PRODUÇÃO DE MUDAS NATIVAS

Segundo Crestana et al. (2004, p. 25) “quando se trata de produção de arvores nativas,

todos deverão ficar cientes em estar lidando com uma gama enorme de espécies, cada qual

com suas peculiaridades. O insucesso no manejo de muitas espécies deve ser considerado

como um desafio profissional a ser enfrentado”. Dessa forma, todas as etapas da produção de

mudas devem ser cuidadosamente estudadas e aprimoradas.

De acordo com Santos e Guardia (2009, p. 50) com a ajuda da resolução da SMA

08/08 houve melhorias na produção de mudas. Dentre elas:

Aumento da diversidade: as produções eram com baixa diversidade, na faixa de 40

espécies, com as resoluções passou-se a produzir 80 espécies.

Planejamento da produção de espécies: hoje a SMA disponibiliza uma lista que orienta

as espécies regionais, grupos ecológicos, síndromes de dispersão e espécies ameaçadas

de extinção, informação que só era possível se obter a traves de livros e indicações do

DEPRN.

Espécies inadequadas: com a resolução, a utilização de espécies inadequadas diminuiu

nos projetos de produção de mudas, tais como espécies exóticas e nativas de outras

regiões.

Sementes: a colheita e o armazenamento passaram a ser mais criteriosos, sempre

levando em consideração a maior diversidade genética.

Foi feito um levantamento das 30 espécies mais produzidas no Viveiro Escola

Municipal. Após a identificação, as espécies foram comparadas com a listagem das espécies

arbóreas fornecidas pela resolução SMA 08/08. Foi observado que 66,5% das espécies se

encontravam na listagem, portanto são recomendadas para recuperação de áreas degradadas.

As 33,5% restantes são recomendadas para paisagismo, arborização de ruas e outros. A

Tabela 3 apresenta o nome (popular) das espécies encontradas no Viveiro Escola Municipal.

Tabela 3 – Algumas espécies arbóreas encontradas no Viveiro Escola Municipal de Bragança Paulista

Nome popular Reflorestamento Paisagismo/

Urbanização/Outros

Acoita-cavalo x

Alterneiro do Japão x

Amendoim-do-campo x

Araucária x

Barbatimão x

Cacau Selvagem x

Caroba x

Cássia Rosa x

Cereja-do-Rio-Grande x

Dedaleiro x

Flamboiã x

Grumixama x

Ipê-branco x

Ipê-roxo x

Jacarandá Paulista x

Jatobá x

Jussara x

Mulungu x

Paineira x

Pata-de-Vaca x

Pau-Ferro x

Pau-Formiga x

Pinheiro-do-Paraná x

Quaresmeira x

Sabão-de-soldado x

Sapoti x

Sibipiruna x

Urucum x

Uva Japonesa x

Uvaia x

Fonte: Adriana Muller

Foi feito um segundo levantamento das espécies produzidas na área sombreada

(estufa) e constatou-se que as cinco espécies mais produzidas são: Dedaleiro (Lafoensia

pacari), Pau-Formiga (Triplaris americana), Jacarandá Paulista (Machaerium villosum), Pata-

de-vaca (Bauhinia sp) e Caroba (Jacaranda sp). As espécies foram identificadas com a ajuda

do Manual de Identificação e cultivo de Plantas Arbóreas no Brasil, por Harri Lorenzi, e com

a ajuda do bando de sementes do Viveiro Escola Municipal de Bragança Paulista, através da

comparação entre as mudas, as respectivas sementes e os dados fornecidos pelo manual.

Figura 7 - Dedaleiro

Fonte: Adriana Muller

Figura 8 - Pau-Formiga Figura 9 - Jacarandá Paulista

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 10 - Pata-de-vaca Figura 11 - Caroba

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Segundo Lorenzi (2002) as espécies Lafoensia pacari (dedaleiro), Triplaris americana

(pau-formiga), Jacarandá cuspidifolia (caroba) e Macherium villosum (jacarandá paulista)

são espécies recomendadas para plantios destinados a recomposição de áreas degradadas.

Há varias espécies nativas de Pata-de-vaca, dentre elas: a Bauhinia longifólia,

utilizada na arborização de ruas e a Bauhinia forficata, recomendada para plantios mistos em

áreas degradadas destinadas a recomposição da vegetação arbórea, porem deve-se haver

cuidado para não utilizar a espécie exótica da Bauhinia para o mesmo fim, o que não é correto

uma vez que deve-se utilizar apenas espécies nativas para o reflorestamento de áreas

degradadas. Um exemplo é a Bauhinia monandra, espécie exótica de origem tropical,

amplamente cultivada na arborização e aproveitada para o paisagismo em geral. (LORENZI,

2003).

Figura 12 – Pata-de-vaca (Bauhinia forficata)

Fonte: Mauro Guanandi

4.4. SELEÇÃO DE MATRIZES E OBTENÇÃO DE SEMENTES

A Resolução SMA 08/08 estabelece critérios relacionados ao número mínimo de

espécies e a proporção de indivíduos a serem utilizados nos reflorestamentos, porem encontra-

se uma enorme dificuldade em atingir essa grande diversidade de mudas nos viveiros.

(SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 37). Por isso, que de acordo com Lorenzi (1992, p. 0) “a

obtenção de sementes é a parte mais importante no processo de produção de mudas de

essências nativas para reflorestamentos”.

Segundo Santos e Guardia (2009, p. 37) os fatores que mais interferem no processo de

obtenção de sementes são “o conhecimento da flora local, a existência de remanescentes

florestais em bom estado de conservação e os custos de deslocamento e mão-de-obra para a

colheita”.

Primeiramente devem-se definir quais espécies serão utilizadas no reflorestamento,

com base em “levantamento florístico e fitossociológico e observações de campo nos diversos

estágios sucessionais da floresta que se deseja recuperar”. (ALMEIDA, 2000, p. 113). Deve-

se também selecionar matrizes para a coleta de sementes que estejam em bom estado de

conservação. (SANTOS; GUARDIA, 2009). Também é necessário adquirir outras

informações, assim como “existência de matrizes na região, época de frutificação, numero de

sementes por quilo, existência de dormência, melhor embalagem e condições para

armazenamento”. (ALMEIDA, 2000, p. 113).

De acordo com Santos e Guardia (2009, p. 39) “dois critérios essenciais devem ser

respeitados durante os procedimentos de seleção e marcação de matrizes: o numero de

indivíduos e a distancia entre eles”. No mínimo devem-se selecionar dez matrizes de cada

espécie, havendo um intercambio de sementes para poder ampliar a base genética das

populações, tornando possível assim, a diversidade. (ALMEIDA, 2000).

Outro aspecto importante na marcação de matrizes é o registro da localização, o que

pode ser feito com GPS (Global Positioning System). Deve-se fazer um registro preciso da

localização para que seja possível encontrar a árvore futuramente. (SANTOS; GUARDIA,

2009).

De acordo com Almeida (2000, p. 114) “é importante, também, um bom treinamento

da equipe de coleta de sementes, pois existe tendência das pessoas coletarem sementes de

arvores com características não desejáveis, uma vez que estas são de mais fácil acesso”.

Foi feita uma listagem das espécies que se encontravam em época de floração e

frutificação durante o mês de Fevereiro a Maio na região próxima ao município de Bragança

Paulista e Campinas. Dessa forma, o conhecimento da fenologia (época de floração,

frutificação e outras características) torna possível a coleta de sementes para a produção de

mudas (ALMEIDA, 2000). A Tabela 4 apresenta as espécies listadas com o auxilio do

Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil, por Harri Lorenzi, e

o livro Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica, por Ricardo Ribeiro Rodrigues et al.

Tabela 4 – Listas de espécies para coleta de sementes, considerando a época de colheita.

Nome científico Nome popular

Época de colheita das sementes P/

D

* Fev. Mar. Abr. Mai.

Aegiphila sellowiana Tamanqueiro x x x P

Calophillum brasiliensis Guanandi x D

Cecropia pachystachya Embaúba x D

Colubrina glandulosa Saguaraji-vermelho x P

Croton floribundus Capixingui x P

Croton urucurana Sangra-d’água x x x x P

Cytharexylum myrianthum Pau-viola x x P

Ficus insipida Figueira-do-brejo x P

Gochnatia polymorpha Cambará x P

Holocalyx balansaei Alecrim-de-Campinas x D

Inga uruguensis Ingá-do-brejo x P

Jacaratia spinosa Jaracatiá x x D

Luehea divaricata Açoita-cavalo x P

Ocotea odorifera Canela-de-sassafrás x x D

Peltophorum dubium Canafístula x x P

Psidium cattleianum Araçazinho-do-campo x x P

Schinus terebinthifolius Aroeira-pimenteira x x x x P

Senna multijuga Pau-cigarra x x P

Syagrus romanzoffiana Jerivá x x x x D

Tapirira marchandii Peito-de-pombo x D

Tibouchina granulosa Quaresmeira x x P

Trema micrantha Crindiúva/ Periquiteira x x x x P

Vitex polygama Tarumã x x x P

Fonte: LORENZI, 2002 e RODRIGUES, 2009.

*P/D = Preenchimento/Diversidade

Figura 13 - Sangra d'água (Croton urucurana) Figura 14 - Aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolius)

Fonte: Maria Heloisa Fonte: Dinesh Valke

Figura 15 - Jaracatiá (Jacaratia spinosa) Figura 16 - Jerivá (Syagrus romanzoffiana)

Fonte: Andre Benedito Fonte: Mauro Guanandi

Figura 17 - Pau-cigarra (Senna multijuga) Figura 18 - Canafístula (Peltophorum dubium)

Fonte: Black Diamond Images Fonte: Chris Diewald

4.5. PROCESSAMENTO DE SEMENTES

De acordo com Crestana et al. (2006, p. 31) “depois de colhidas com todo o cuidado

de modo a não ferir as arvores, com a utilização de instrumento adequado, as sementes

deverão passar por um processo de secagem, tendo casa espécie um tratamento diferenciado”.

Há o tratamento de frutos secos e carnosos, os frutos secos são colocados em lonas e

levados a pleno sol para que haja perda de excesso de umidade ou ocorra abertura espontânea.

Após a abertura os frutos são peneirados de forma que sejam separados os resíduos para a

limpeza das sementes. Já os frutos carnosos são mantidos na sombra para murcharem e em

seguida são colocados em água para facilitar a limpeza. (SANTOS; GUARDIA, 2009).

Segundo Crestana et al. (2006, p. 32) “muitas espécies apresentam dormência, com

ocorrência de mecanismos de defesa os quais impedem a germinação de suas sementes,

causadas por inibidores de germinação, tegumento impermeável ou embrião imaturo”. “Pode

ser considerada como uma estratégia de sobrevivência de muitas espécies, pois visa à

superação de uma dada condição ambiental adversa”. (SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 54).

Na Tabela 5, mostra-se os principais processos de quebra de dormência aplicados em

sementes das principais espécies arbóreas nativas de ocorrência no estado de São Paulo.

Tabela 5 – Técnicas mais usadas para quebra de dormência.

Causa Método Execução

Inibidores de germinação Lixiviação Colocação das sementes em

água corrente em período

variável de tempo

Embrião imaturo Estratificação Colocação das sementes em

meio úmido e à baixa

temperatura (5 a 10°C)

Tegumento impermeável Escarificação mecânica Corte do tegumento ou

raspagem com lixa

Escarificação química Acido sulfúrico ou clorídrico

(meio químico)

Choque térmico Imersão em água (70 a 100°C)

ou geladeira/congelador (5 a

10°C) Fonte: Yamazoe e Vilas Boas 2003 apud Crestana et al, 2006, p. 32.

Durante o período de estagio, foram estudadas as sementes de oito espécies diferentes:

Graviola (Annona sp), Jatobá (Hymenaea courbaril), Pata-de-vaca (Bauhinia sp), Mulungu

(Erythrina verna), Pinheiro (Pinus sp), Saboeiro (Sapindus saponaria), Dedaleiro (Lafoensia

pacari) e Ipê amarelo (Tabebuia sp).

Figura 19 – Semente de Graviola (Annona sp) Figura 20 – Semente de Jatobá (Hymenaea courbaril)

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 21 - Semente de Pata-de-vaca (Bauhinia sp) Figura 22 – Semente de Mulungu (Erythrina verna)

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 23 – Semente de Dedaleiro (Lafoensia pacari)

Fonte: Adriana Muller

A quebra de dormência do Jatobá se deu por imersão em água à temperatura ambiente

por dois dias (Figura 24). Outro método que poderia ter sido utilizado, e altamente

recomendado para quebra de dormência das sementes dessa espécie, é a escarificação com

lixa.

Figura 24 - Quebra da dormência da semente de Jatobá

Fonte: Adriana Muller

4.6. SEMEADURA

De acordo com Almeida (2000, p. 117) “atualmente existe uma grande tendência à

realização do semeio direto, onde os custos de repicagem são eliminados, reduzindo o valor

final da muda”. Nesse caso, a semeadura é feita diretamente nos recipientes, principalmente

em espécies sensíveis ao transplante. (CRESTANA et al., 2006). Já “as espécies com baixa

porcentagem de germinação e aquelas que possuem sementes grandes (jatobá, araribá,

guapuruvú e etc.) ou as que apresentação germinação lenta (jerivá), são semeadas em

canteiros com areia (alfobre).” (SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 56).

Todas as sementes das espécies trabalhadas durante o estudo no Viveiro Escola

Municipal de Bragança Paulista foram semeadas em canteiros com areia. As Figuras 25, 26 e

27 apresentam a sementeira logo após a semeadura.

Figura 25 – Canteiro contendo as sementes de Dedaleiro,

Graviola, Pata-de-vaca, Mulungu e Ipê amarelo. Figura 26 – Canteiro contendo semente de Jatobá

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 27 – Canteiro contendo sementes de Pinheiro e Saboeiro

Fonte: Adriana Muller

As Figuras 28, 29, 30, 31 e 32 mostram o crescimento após uma semana. Com base

nessas observações foi possível notar que espécies como o Dedaleiro (Lafoensia pacari),

Pata-de-vaca (Bauhinia sp) e Mulungu (Erythrina verna) possuem um crescimento rápido.

Figura 29 – Canteiro com sementes de Graviola (não

Figura 28 - Plântulas de Dedaleiro emergidas ainda) e Plântulas de Pata-de-vaca e Mulungu

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 30 – Canteiros com sementes de Ipê amarelo Figura 31 – Canteiro com sementes de Ipê Amarelo

(não emergidas ainda) e Plântulas de Dedaleiro (não emergidas ainda)

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 32 – Canteiro com sementes de Pinheiro e Saboeiro

(não emergidas ainda).

Fonte: Adriana Muller

Após aproximadamente três semanas, foi feita outra observação. Foi possível notar o

crescimento das plântulas (Figura 33, 34 e 35) e a emersão do Saboeiro e Pinheiro (Figura 36

e 37).

Figura 33 - Plântulas de Dedaleiro Figura 34 – Plântulas de Pata-de-vaca

após um mês aproximadamente. após um mês aproximadamente

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 35 – Plântulas de Mulungu Figura 36 – Plântulas de Saboeiro

após um mês aproximadamente após um mês aproximadamente

Fonte: Adriana Muller Fonte: Adriana Muller

Figura 37 – Plântulas de Pinheiro

após um mês aproximadamente

Fonte: Adriana Muller

4.7. REPICAGEM

Ao atingirem 3-7 cm as mudas emergidas em sementeiras deverão ser transplantadas

para outros recipientes, uma vez que, quanto menor o tamanho das mudas por ocasião de

transplante, maior serão as suas chances de sobrevivência. (LORENZI, 1992). Segundo

Almeida (2000, p. 118) “existe hoje uma grande variedade de tipos de recipientes. Os mais

utilizados são a tradicional sacola plástica e os tubetes de polietileno”.

Cada tipo de embalagem possui suas conveniências e desvantagens, apresentadas pela

Tabela 6:

Tabela 6 – Processos de produção de mudas em que são utilizados dois tipos de embalagens.

Saco

s P

lást

icos

Vantagens Desvantagens

Custo de implantação reduzido Possibilidade de enovelamento de raiz

Abrigo de mudas maiores e maior

capacidade de retenção de água

A qualidade do substrato pode variar conforme a

disponibilidade

Produção de mudas maiores, pois o

viveirista escolhe as dimensões dos sacos

Menor produtividade dos funcionários

Facilidade na repicagem e semeadura Maior infestação de plantas daninhas

Mão-de-obra menos qualificada Necessidade de promover a “dança”, para

desenraizar mudas que romperam o plástico

Mudas rustificadas e com maior área foliar Menor produção de mudas por área

Tu

bet

es

Vantagens Desvantagens

Reutilização dos tubetes Custo inicial elevado

Há substrato pronto no mercado Maiores cuidados com a irrigação

Melhor formação do sistema radicular Obrigatoriedade no suprimento das necessidades

nutricionais da planta

Maior produtividade dos funcionários Lavagem e desinfecção para reutilização

Melhores condições de trabalho Aparecimento de musgo em alguns substratos que

concorrem com as mudas

Não há necessidade de remoção para

desenraizar as mudas

Cuidado com chuvas pesadas na sua fase inicial das

mudas

Menor infestação de plantas daninhas Exige mão-de-obra mais qualificada

Fonte: Crestana et al., 2006. p. 28

Figura 38 – Sacos plásticos preenchidos com substrato

Fonte: Adriana Muller

4.8. SUBSTRATOS E ADUBAÇÃO

De acordo com Almeida (2000, p. 119) “em função do recipiente escolhido,

quantidade e tipo de muda a ser produzida, sistema de propagação, deve-se definir o substrato

a utilizar”. “No mercado são encontrados substratos prontos para o enchimento dos tubetes, o

que não impede que o viveirista produza o seu próprio substrato” (CRESTANA et al, 2006, p.

28).

Uma das características em relação ao substrato é a sua porosidade, uma vez que se

deve manter o máximo de oxigenação, o que pode ser atingido na adição de material orgânico

bem decomposto ao solo arenoso ou argiloso. (LORENZI, 1992).

Segundo Santos e Guardia (2009, p. 57) “as adubações são iniciadas após o termino de

germinação e realizadas por fertirrigação, com freqüência semanal até a expedição das mudas.

A composição utilizada é N, P, K, Ca, Mg, salvo em casos específicos de deficiência que

exigem um tratamento diferenciado”.

Figura 39 - Material para o preparo do substrato

(húmus, terra, matéria orgânica)

Fonte: Adriana Muller

Figura 40 – Substrato preparado

Fonte: Adriana Muller

4.9. CONTROLE FITOSSANITÁRIO E LIMPEZA

De acordo com Crestana et al. (2006, p. 33) “mesmo com a desinfecção do substrato

utilizado, é inevitável o surgimento de plantas daninhas no viveiro que devem ser

permanentemente erradicadas, uma vez que disputam água, nutrientes e luminosidade”.

O controle fitossanitário é realizado no mesmo período da adubação, deve-se fazer

uma vigilância operacional, dessa forma, os funcionários que trabalham na área devem alertar

os responsáveis quando for detectada uma ocorrência. (SANTOS; GUARDIA, 2009).

Segundo Crestana et al. (2006) o sinal mais comum de que a planta necessita de nutrientes é o

amarelecimento das folhas (clorose).

Figura 41 – Mudas com folhas amareladas, atacadas por pragas e doenças.

Fonte: Adriana Muller

4.10. TRANSPLANTE

Segundo Crestana et al (2006, p. 33) “por meio de observação diária, acompanha-se o

desenvolvimento das mudas na área sombreada e determina-se o momento em que elas

deverão ser removidas para o sol”. “Quando as mudas atingirem um determinado porte (de

acordo com cada espécie) ou que possam ser sacadas de suas respectivas embalagens, sem

que ocorram danos ao sistema radicular, são transplantadas para tubetes onde permanecerão

até a expedição para plantio em campo”. (SANTOS; GUARDIA, 2009, p. 56).

4.11. PADRÃO DE QUALIDADE DAS MUDAS

É comum as pessoas escolherem as mudas somente pelo seu tamanho, mas há outros

fatores que também devem ser levados em consideração. O tamanho da parte aérea não deve

ultrapassar mais que três vezes o tamanho em altura dos recipientes, o sistema radicular deve

estar integro e o diâmetro do colo bem desenvolvido e com aspecto lenhoso. Tais parâmetros

demonstram melhor qualidade das mudas. (SANTOS; GUARDIA, 2009).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos e observações feitas durante o período de estagio no Viveiro e

Escola Municipal de Bragança Paulista foi possível observar que o funcionamento de um

viveiro precisa de uma administração adequada e uma estrutura que possibilite manter a

qualidade das produções de mudas. A gestão de um viveiro é complexa e precisa levar sempre

em consideração os estudos feitos para poder atingir ao máximo a qualidade da produção das

mudas e para que o manejo das florestas recuperadas ocorram com sucesso e consigam

manter o equilibrio ecológico.

Dessa forma, ficou evidente que o estudo das espécies que serão produzidas se torna o

diferencial para atingir o sucesso do manejo. Por isso foi feito o estudo das espécies

adequadas para reflorestamento (de acordo com a resolução SMA 08/08) e que se

encontravam na região, uma vez que as mudas eram destinadas para reflorestamentos

localizados na região de Bragança Paulista.

O estudo das espécies já produzidas no viveiro tornou possível a familiarização das

espécies com potencial para recuperação florestal que a região possui. Também foi possível

observar as diferenças entre espécies adequadas para reflorestamento e as recomendadas para

paisagismo, uma vez que o Viveiro e Escola Municipal de Bragança Paulista também produz

algumas espécies para urbanização. Um dos principais aspectos levantados foi em relação a

sua originalidade, pois para o reflorestamento não se deve usar espécies exóticas, diferente da

urbanização de calçadas e praças que normalmente utilizam espécies que não são nativas do

Brasil.

Após o estudo detalhado das espécies encontradas na região e produzidas no viveiro,

também foram estudadas as sementes que o viveiro possuía para a produção de mudas, e após

o estudo detalhado foi observado que apenas a semente de Jatobá necessitava de quebra de

dormência. Após a quebra de dormência do jatobá e os estudos feitos, foi iniciado o processo

de produção de mudas, começando pela semeadura. Durante esse processo foi observado que

para a germinação não era necessário a utilização de substratos, mas sim um ambiente

adequado, o que era oferecido pela estufa da sementeira (Figura 3).

Não houve tempo necessário para a repicagem das plântulas produzidas durante o

estudo, porém outras etapas também foram estudadas, assim como o preenchimento de sacos

plásticos com substrato e a remoção de ervas daninhas das plantas, o que é necessário, pois

observa-se que o crescimento delas é rápido e precisam ser erradicadas periodicamente pois

afetam o crescimento das mudas.

Todo os processos feitos durante o período de estagio no viveiro mostraram que é

possível atingir o máximo de qualidade das mudas e garantir que florestas sejam recuperadas

de forma eficiente, porem é necessário que haja avaliação continua de todas as etapas pois são

processos sensíveis e necessitam de uma gestão apropriada.

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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