distúrbios de comportamento na escola

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INTRODUÇÃO OBJETIVOS FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA METODOLOGIA CONSIDERAÇÕES RODRIGUEZ, Allencar Profa. Dra. CELERI, Eloísa H. V. Laboratório de Ciências Médicas Faculdade de Ciências Médicas Universidade Estadual de Campinas FCM/UNICAMP DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO NA ESCOLA A manifestação da violência em nossa sociedade é endêmica e ocorre de várias formas. Hoje, 400.000 brasileiros provenientes dessa violência fazem parte de um sistema prisional caótico e excludente. Isto significa que 2% da população brasileira não conseguiram suprir em algum momento de suas vidas alguma falha ambiental, básico e/ou familiar. Pior, esse número aumenta todo dia. Existe um sintoma inicial que é revelador em sala de aula. Discutir, a partir de uma abordagem winnicottiana, a probabilidade de um indivíduo que apresenta manifestações anti-sociais constantes dentro de uma sala de aula, evoluir para o contexto da destrutividade, violência e portanto a delinqüência. Este trabalho tem como referencial teórico alguns fundamentos da obra de Donald Woods Winnicott, principalmente aqueles que compõem a obra “Privação e Delinquência”. Essa obra reúne seus escritos sobre a privação e como essa pode reforçar a tendência anti-social (delinqüência), considerando os recursos sociais exigidos para o tratamento da criança delinquente e também o uso efetivo da terapia individual. O contexto global deste trabalho quanto ao levantamento, análise e interpretação de dados como à análise da anamnese, tem um único propósito de discorrer os fatos analisados sobre o prisma da teoria de D. W. Winnicott. A pesquisa foi feita com Jhonatans, 13 anos e 11 meses (15/12/94), aluno a 5ª. Série do Ensino Fundamental (semi-analfabeto) da rede pública estadual cujo portfólio acadêmico registra 26 ocorrências por atitudes indisciplinares em sala de aula. Numa análise sintética, o sujeito pesquisado necessita de acompanhamento profissional especializado nas áreas da psicologia, psiquiatria e psicopedagógica. Sua problemática emocional condiz com a literatura de D.W.Winnicott no contexto da privação e delinqüência. Por outro lado não atingindo o equilíbrio de integração entre seu mundo interno e externo esse sujeito recorreu à construção de um falso-self o qual se apóia em busca de socorro. Dessa forma, ele despreza a realidade original e sem o acompanhamento citado, seu mundo será adotado como único sem limites e regras cuja convergência indica um entrave no caminho da socialização. Contato: [email protected] www.twitter.com/katcavernum www.katcavernum.com.br

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Este trabalho tem como referencial teórico alguns fundamentos da obra de Donald Woods Winnicott, principalmente aqueles que compõem a obra “Privação e Delinquência”. Essa obra reúne seus escritos sobre a privação e como essa pode reforçar a tendência anti-social (delinqüência), considerando os recursos sociais exigidos para o tratamento da criança delinquente e também o uso efetivo da terapia individual. OBJETIVO: Discutir, a partir de uma abordagem winnicottiana, a probabilidade de um indivíduo que apresenta manifestações anti-sociais constantes dentro de uma sala de aula, evoluir para o contexto da destrutividade, violência e, portanto, a delinqüência.

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Page 1: Distúrbios de comportamento na escola

INTRODUÇÃO

OBJETIVOS

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA METODOLOGIA

CONSIDERAÇÕES

RODRIGUEZ, Allencar

Profa. Dra. CELERI, Eloísa H. V.

Laboratório de Ciências Médicas

Faculdade de Ciências Médicas

Universidade Estadual de Campinas

FCM/UNICAMP DISTÚRBIOS

DE COMPORTAMENTO

NA ESCOLA

A manifestação da violência em nossa sociedade é endêmica e ocorre de

várias formas. Hoje, 400.000 brasileiros provenientes dessa violência fazem

parte de um sistema prisional caótico e excludente. Isto significa que 2% da

população brasileira não conseguiram suprir em algum momento de suas

vidas alguma falha ambiental, básico e/ou familiar. Pior, esse número

aumenta todo dia. Existe um sintoma inicial que é revelador em sala de aula.

Discutir, a partir de uma abordagem winnicottiana, a probabilidade de um

indivíduo que apresenta manifestações anti-sociais constantes dentro de

uma sala de aula, evoluir para o contexto da destrutividade, violência e

portanto a delinqüência.

Este trabalho tem como referencial

teórico alguns fundamentos da obra de

Donald Woods Winnicott, principalmente

aqueles que compõem a obra “Privação e

Delinquência”. Essa obra reúne seus

escritos sobre a privação e como essa pode

reforçar a tendência anti-social

(delinqüência), considerando os recursos

sociais exigidos para o tratamento da

criança delinquente e também o uso efetivo

da terapia individual.

O contexto global deste trabalho quanto ao levantamento, análise e

interpretação de dados como à análise da anamnese, tem um único

propósito de discorrer os fatos analisados sobre o prisma da teoria de D. W.

Winnicott. A pesquisa foi feita com Jhonatans, 13 anos e 11 meses

(15/12/94), aluno a 5ª. Série do Ensino Fundamental (semi-analfabeto) da

rede pública estadual cujo portfólio acadêmico registra 26 ocorrências por

atitudes indisciplinares em sala de aula.

Numa análise sintética, o sujeito pesquisado necessita de acompanhamento profissional

especializado nas áreas da psicologia, psiquiatria e psicopedagógica. Sua problemática

emocional condiz com a literatura de D.W.Winnicott no contexto da privação e

delinqüência. Por outro lado não atingindo o equilíbrio de integração entre seu mundo

interno e externo esse sujeito recorreu à construção de um falso-self o qual se apóia em

busca de socorro. Dessa forma, ele despreza a realidade original e sem o

acompanhamento citado, seu mundo será adotado como único sem limites e regras cuja

convergência indica um entrave no caminho da socialização.

Contato: [email protected]

www.twitter.com/katcavernum

www.katcavernum.com.br

Page 2: Distúrbios de comportamento na escola

INTRODUÇÃO

A manifestação da violência em nossa sociedade é endêmica e ocorre da várias

formas. Hoje, 400.000 brasileiros provenientes dessa violência fazem parte de

um sistema prisional caótico e excludente. Isto significa em números explícitos,

que 2% da população brasileira não conseguiram suprir em algum momento de

suas vidas alguma falha ambiental, básico e/ou familiar. Pior, esse número

aumenta todo dia.

Institucionalmente existe um sintoma inicial que é revelador em sala de aula.

Page 3: Distúrbios de comportamento na escola

OBJETIVO

Discutir, a partir de uma abordagem winnicottiana, a probabilidade de um

indivíduo que apresenta manifestações anti-sociais constantes dentro de uma

sala de aula, evoluir para o contexto da destrutividade, violência e portanto a

delinqüência. Isso fundamentado nas relações familiares que se insere esse

indivíduo, o contexto da vulnerabilidade social, seu processo de integração da

personalidade e a ocorrência de uma deprivação em seu período de

amadurecimento.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este trabalho tem como referencial teórico alguns fundamentos da obra de

Donald Woods Wnnicott, principalmente aqueles que compõem a obra “Privação

e Delinqüência. Essa obra reúne seus escritos sobre a privação e como essa

pode reforçar a tendência anti-social (delinqüência), considerando os recursos

sociais exigidos para o tratamento da criança delinqüente e também o uso

efetivo da terapia individual.

METODOLOGIA

O contexto global deste trabalho quanto ao levantamento, análise e

interpretação de dados como à análise da anamnese, tem um único propósito

de discorrer os fatos analisados sobre o prisma da teoria de D. W. Winnicott. A

pesquisa foi feita com Jhonatans, 13 anos e 11 meses (15/12/94), aluno da 5a.

Série do Ensino Fundamental da rede pública estadual cujo portfólio acadêmico

registra 26 ocorrências por atitudes indisciplinares em sala de aula.

CONCLUSÕES

Frente à manifestação de tendência anti-social, relacionada com a falha do

ambiente familiar, com a deprivação da figura paterna o caminho para a

delinqüência do indivíduo pesquisado é uma probabilidade que deve ser levado

em consideração. Portanto, numa análise sintética, esse indivíduo necessita de

acompanhamento profissional especializado nas áreas da psicologia, psiquiatria

e psicopedagogia rumo ao seu processo de amadurecimento seguindo a

literatura de D. W. Winnicott para um self verdadeiro.

Page 4: Distúrbios de comportamento na escola

CONTEXTUALIZAÇÃO

I – INTRODUÇÃO

A escola é um reflexo da realidade social, portanto, um lugar que é possível

dimensionar a intensidade da desestruturação familiar nos dias de hoje pelos índices de

desenvolvimento escolar, da evasão, da repetência entre outros fatores em que a culpa

recai sobre o Estado e sobre a (De) gestão da Unidade Escolar. Essas famílias

vivenciam um horizonte sem desenvolvimento e progresso produzindo filhos com baixa

auto-estima, depressivos, intolerantes e agressivos.

Quando esses filhos chegam à adolescência a falta de controle de seus impulsos

primitivos não educados poderá incorrer em sérios problemas psicossociais. Sem regras

impostas pela educação primária não aprendem a seguir as regras sociais e nem lidar

com suas frustrações e perdas. Como defesa usam a agressividade como padrão de

comportamento. E, a escola pela sua incompetência administrativa não é para ele um

referencial para sua vida de crescimento, de harmonia, de socialização.

O referencial de desenvolvimento emocional para a criança é sua própria família. Se

houver uma falha nesse ambiente, essa criança buscará fora de casa um outro

referencial que lhe de sustentabilidade ambiental de amadurecimento. Essa

sustentabilidade poderá vir de seus tios, avós, amigos da família. A criança privada

desses ambientes poderá obter, ainda, na escola o que lhe faltou no próprio lar. Esse

fato não acontece com a criança anti-social.

A criança anti-social está simplesmente olhando

um pouco mais longe, recorrendo à sociedade em

vez de recorrer a família ou à escola para lhe

fornecer a estabilidade de que necessita a fim de

transpor os primeiros e essenciais estágios de seu

crescimento emocional.

(Winnicott, 2005, pg. 130)

Para piorar a situação dos indivíduos que se inserem nos fatores que produzem a

agressividade no padrão anti-social como os instintos agressivos, a bagagem

hereditária e seu ambiente familiar, pesquisas revelam que crianças oriundas de

famílias de padrão sócio-econômico baixo são mais agressivas e mais propensas de se

tornarem delinqüentes.

Page 5: Distúrbios de comportamento na escola

II – A TEORIA

A base teórica deste trabalho, sob o âmbito das idéias de Winnicott, aborda

questões de conduta anti-social, a criação do falso self e um outro fundamento

winnicottiano, parte integrante na formação psíquica da criança, que é a função

materna.

2.1 METODOLOGIA

2.1.1 Método de construção da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida na modalidade de estudo de caso. O sujeito da pesquisa

foi um adolescente dentro do contexto institucional escolar e sua família. Esse sujeito é

apresentado pelos professores de sua escola como “incapaz”, “incompetente”, “burro”

na ênfase acadêmica além de apresentar “conduta agressiva e anti-social”. Seu

portfólio acadêmico registra um alarmante índice de 26 ocorrências por atos de

indisciplinas em 10 meses letivos. Esse fato demonstra não só um distúrbio emocional

recorrente do indivíduo como também uma enorme incompetência da gestão da

unidade escolar que não teve capacidade de minimizar os problemas desse indivíduo.

Esta pesquisa se caracteriza por:

retratar o sujeito no âmbito da unidade escolar e suas relações familiares;

relacionar a etiologia de suas ações com a literatura winnicottiana;

estabelecer uma possível previsão probatória quanto ao futuro desse indivíduo frente

seu ambiente no processo de seu amadurecimento;

esta pesquisa foi desenvolvida na linguagem narrativa.

A reflexão que se concerne nesta narrativa tem base em minha própria experiência,

nas leituras dirigidas de D. W. Winnicott ministrada pela Profa. Dra. Celeri, Eloísa H. V.

na Unicamp, na profunda observação e acompanhamento institucional do indivíduo e

nos diálogos desenvolvidos junto a esse indivíduo e sua mãe. Outro parâmetro o qual

fundamentei minha análise de sua personalidade foi uma série de cinco desenhos e

cinco histórias realizadas com o sujeito da pesquisa fundamentado na literatura do

procedimento desenhos-estórias de Walter Trinca.

Page 6: Distúrbios de comportamento na escola

2.1.2 Winnicott e a tendência anti-social – Agressão e suas raízes

Amor e ódio constituem os dois principais

elementos a partir dos quais se constroem as

relações humanas. Mas, amor e ódio envolvem

agressividade. Por outro, a agressão pode ser

sintoma de medo.

(Winnicott, 1987, p.93)

De onde vem à tendência agressiva humana é uma tarefa difícil de identificar. Por

Darwin ela é inerente à formação genética de nossos ancestrais que fundamentavam

sua sub-existência na luta contra a fome, em favor da vida e a natureza hostil.

Diferente nos períodos formadores das sociedades onde a agressividade e violência se

confundem. Hoje, em estudo profundo, Winnicott certifica e demonstra que ataques de

impulsos irracionais está intimamente relacionado ao desenvolvimento emocional do

indivíduo e que “em termos” o ato é influenciado pelo ambiente.

Para Winnicott, a agressividade pode tomar vários caminhos e estes caminhos

estarão em estreita relação com a resposta ambiental: o desenvolvimento normal da

capacidade de inquietude e duas alternativas patológicas, que seria a não capacidade

para a inquietude e a questão da formação do faso-self, ligado à questão da tendência

anti-social.

Mas, segundo Winnicott, à agressividade que configura em muitos casos como uma

tendência anti-social não pode ser vista como um diagnóstico de transtorno ou

distúrbio relacionado à saúde do indivíduo. A tendência anti-social é um sinal de pedido

de socorro pelo indivíduo que se sente preso à um meio que não foi ou ainda não é

suficientemente bom para ele.

Na fase escolar é comum a manifestação agressiva de crianças e adolescentes.

Principalmente nos adolescentes que precisam dominar seus impulsos agressivos e

sexuais. Atitudes anti-sociais extremas, muitas vezes, ajudam o adolescente a se sentir

real, num período de perturbação emocional depressiva ou de deprivação. Winnicott

afirma que o processo do amadurecimento é a cura da adolescência e dessas atitudes

hostis positivas no contexto do crescimento do indivíduo. Manifestações que giram em

função de sua defesa e conquistas, para o exercício da criatividade e a cumplicidade

amorosa. O grande problema é se o indivíduo tomar o viés da tendência à delinqüência,

onde a tendência à construção do seu próprio eu é substituído pela ação da

destrutividade e a violência.

Page 7: Distúrbios de comportamento na escola

O indivíduo delinqüente difere daquele com tendência anti-social uma vez que no

âmbito da delinqüência já haveria defesas constituídas com ganhos secundário, que

dificultariam a criança entrar em contato com seu desilusionamento inicial.

Segundo Winnicott (1983), dos dois vieses da tendência anti-social, o roubo está

relacionado à interação mãe e seu desempenho materno condicionado à falha de

exercer o holding. No roubo a criança procura por algo em algum lugar sendo que o

objeto roubado não é o valor da conquista, mas o sentido da causa e conseqüência. A

causa é o fracasso, pois o objeto subtraído não tem importância emocional. Já a

destrutividade se insere na forma mais desesperada do indivíduo em chamar para si à

atenção.

Somado a isso, a destrutividade está relacionada à interação com o pai. Em

Winnicott, a função paterna é a caracterização de um ambiente indestrutível, aquele

que sustenta a mãe e o bebê. O pai sustenta a mãe a sentir-se bem em seu próprio

corpo e feliz em seu espírito. E, para ser uma mãe suficientemente boa, é necessário

que essa mãe esteja feliz em seu ego. Dessa forma, o pai é uma identidade

reconhecida na mãe frente aos desejos e anseios dessa própria mãe. O que a mãe

implanta na criança, o pai sustenta. Portanto, uma falha nesse ambiente poderá induzir

uma predisposição a distúrbios afetivos e tendência anti-social. Pois, pai e mãe dão

sustentação a criança em momentos distintos que se intercedem na construção

emocional dessa criança. A criança necessita da presença do pai pelas qualidades que

esse distingue de outros homens. O pai é um elo entre a família e a sociedade. Dessa

forma, o pai é importante a partir daquilo que a mãe necessita como também ele é

importante às necessidades da criança. Nesse caso, o pai é um ser real que pode ser

visto como um objeto de amor quando sua agressividade se direciona a mãe da mesma

forma que pode odiar o pai enquanto sustenta seus reflexos de amor à mãe.

Nesse contexto se dá o processo de integração de uma espécie de fragmentos

psíquicos na mente da criança. Ela pode até não ter um pai real e vivo, mas deverá

constituir um substituto já que a constituição do pai pela fala da mãe constrói-se um

símbolo. Esse símbolo constituído pela fala da mãe e o imaginário da criança impede a

socialização de um substituto. Daí vem o fracasso do ambiente, da mãe, e da criança.

Portanto a não superação ou o não amadurecimento desse estágio agressivo em

seu processo de crescimento, de acordo com D. W. Winnicott, a criança ou o

adolescente poderá se tornar um delinqüente. Isto é, aquele que desaloja as coisas,

que desaloja de seu lugar, do lugar que lhe é atribuído pela sociedade. Nesse caso, seu

grito de socorro estará direcionado para as estruturas mais formais da sociedade: As

leis do país cujos limites são as barras de uma prisão.

Page 8: Distúrbios de comportamento na escola

A agressividade madura não é algo a ser curado;

é algo a ser notado e consentido. Se for

incontrolável, saímos de lado e deixamos que a lei

se encarregue.

(Winnicott, 2005, pg. 101)

III – OS SUJEITOS DA PESQUISA

3.1 Jhonatas em 80 horas

O personagem principal desta narrativa é um adolescente de 13 anos, alto: 1,78m,

magro, cor branca, detalhe: um brinco em cada orelha e seu inseparável boné de cor

branca.

Durante 10 meses, cerca de 80 horas, acompanhei diretamente seu desempenho

sócio-cognitivo em sala de aula assim como seu comportamento, produção e interesse

junto aos seus professores das disciplinas de Matemática, Português e História. Isso se

fez necessário uma vez que suas atitudes de agressividades, assunto deste estudo,

podem estar, também relacionado e/ou potencializados no contexto, além do

emocional, ao didático e pedagógico caracterizado pelas dificuldades apresentadas na

leitura, escrita e cálculos. Somado a isso, foi realizado um duas sessões uma entrevista

de anamnese com sua mãe.

3.2 Jhonatas Institucional (5ª. Série Ensino Fundamental)

O reclame dos professores converge, principalmente, pela sua atitude anti-social

contra seus colegas em sala de aula como “xingamentos” e perturbações emocionais

nas agressões verbais e agressões físicas contra os mais frágeis já que uma análise no

contexto da aprendizagem não exige nenhuma reflexão complexa para seu

entendimento. Muito inferior à média. Jhonatas está entre os piores alunos de uma sala

que iniciou o ano letivo com 38 alunos e terminou com 26. Isso projeta uma

perspectiva nada animadora para Jhonatas: O fracasso escolar, a evasão e/ou coisa

pior.

Na sala de aula sob o meu comando não foram poucas às vezes que o retirei da sala

para algum tipo de repreensão como também inúmeros foram os momentos que

presenciei suas agressões com tapas, chutes e objetos atirados contra seus colegas

além da agressão verbal. O álibi argumentativo pelos seus atos sempre foi o mesmo: a

culpa foi do agredido que segundo Jhonatas, “ele que começo!”.

Page 9: Distúrbios de comportamento na escola

Esse tipo de ação, pela minha percepção frente ao sujeito, se apresenta como

recorrente. Isso também atesta o perfil desse sujeito elaborado e descrito pelos

professores das disciplinas citadas, quanto suas atitudes anti-sociais, o que de acordo

com D. W. Winnicott, qualquer pessoa, em qualquer idade, pode apresentar.

3.3 O contato com a mãe

ROTEIRO DE ENTREVISTA

O CASO ANALISADO

Jhonatas: 13 anos e 4 meses (5ª. Série)

Pai - Jurandir Afonso Lisboa

Mãe – Milena de Oliveira

A primeira entrevista aconteceu com a mãe em 24/04/2008

A entrevista transcorreu de forma informal onde procurei induzir â mãe que o

processo seria sigiloso, científico e de forma alguma seu resultado traria algum tipo de

problema para seu filho. Deixei-a livre para responder possíveis questões de forma

tranqüila e espontânea.

Durante a entrevista a primeira surpresa foi à própria mãe que apresentou: em um

de seus dedos existe a tatuagem de uma folha de canabilis. A segunda surpresa foi

quando indaguei sobre a relação de Jhonatas com o seu pai.

- Ele está muito ansioso... e violento. Faz tempo que ele não vê seu pai... uns três

meses...

- Vocês não moram juntos?

- Ele está preso... vai sair no mês que vem.

- Há quanto tempo ele está preso?

- 12 anos... era para sair em 2010... eu não queria que ele saísse.

- Qual foi o motivo?

- Roubo... muito roubo... quando ele foi preso a casa caiu.

- E o Jhonatas. Como ele está sabendo que o pai vai sair?

- Está esquisito... não quer vir pra escola... esses dias ele ameaçou me bater.

Page 10: Distúrbios de comportamento na escola

Assim começou este trabalho e mais uma surpresa no final de nossa conversa

informal foi quando a mãe disse que me enviaria o Relatório da APAE de seu filho.

IV – ANÁLISE

Numa análise resumida Jhonatas se insere no contexto da deprivação em D. W.

Winnicott o que revela sua tendência anti-social. O referencial da teoria do

amadurecimento elaborada pelo autor em que se estuda a tendência anti-social e suas

etiologias induzem à uma reflexão perturbadora de que o sujeito pesquisado é um

sujeito com fortes características de toma um viés de entrave no caminho da

socialização.

Jhonatas apresenta classificação intelectual educável a nível mental, alguma

dificuldade na organização grafo-perceptiva no espaço numa avaliação psicomotora,

nas provas de Piaget encontra-se no estágio de transição na construção do raciocínio

lógico-matemático, ansiedade numa análise de personalidade. Sua avaliação

pedagógica é satisfatória.

Portanto, seu comportamento agressivo não está relacionado ao contexto didático e

pedagógico caracterizado no seu desempenho escolar descrito em 3.1 Jhonatas em

80 horas. Seu caso é muito mais grave: Sua manifestação de tendência anti-social,

relaciona-se com a falha do ambiente familiar, com a deprivação da figura paterna o

que ocasionou uma perda de capacidade de explorar atividades destrutivas, onde se

apresentam a mãe e o pai como objetos a serem destruídos, relacionadas à experiência

instintiva. Seu caminho para à delinqüência é uma possibilidade real como também um

viés psicopata.

V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Numa análise sintética, o sujeito pesquisado necessita de acompanhamento

profissional especializado nas áreas da psicologia, psiquiatria e psicopedagogia. Sua

problemática emocional condiz com a literatura de D. W. Winnicott o contexto da

privação e delinqüência. Por outro lado não atingindo um equilíbrio de integração entre

seu mundo interno e externo esse sujeito recorreu à construção de um falso-self o qual

se apóia em busca de socorro. Jhonatas apresenta enorme necessidade de chamar

atenção. Dessa forma ele despreza a realidade original. E, no nível que esse falso-self

atua em Jhonatas, sem o acompanhamento citado, seu mundo será adotado como

único, sem limites, regras e coerência cuja convergência indica um entrave no caminho

de sua socialização.

Page 11: Distúrbios de comportamento na escola

APRESENTAÇÃO DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO

Procedimentos e Unidades de Produção

Unidade de Produção 1

Estória - Pipa

Unidade de Produção 2

Estória – A PIPA

A minha pipa Bem colorida foi

feito de seda e deu muito

trabalho.

Era uma vez o menino estava soltando pipa quando derrepende ela

é cortada o menino corre a traz da pipa au atravesar a rua um carro

atropelo o menino.

No hospital ele entra em coma, Dois dia depois ele se recupero e

tem alta.

No dia que ele teve alta ele falou para mãe que não ta mais soltar

pipa na rua pois é muito perigoso.

Page 12: Distúrbios de comportamento na escola

Unidade de Produção 3

Estória – O velho sem a sua Vara

Unidade de Produção 4

Estória – O cara

Avaliação dos Procedimentos

Interpretação:

Temos aqui mais um caso notório de um indivíduo com sérios

problemas emocionais projetados em seus desenhos (agressividade)

e estórias (infantis em desacordo com sua idade cronológica) e

expressivos distúrbios no contexto da leitura e escrita. Os desenhos e

as estórias não são compatíveis com a sua idade, não existe

adequação entre desenho e estória. Ele apresentou alta resistência

para realizar os procedimentos. O contexto da morte, prisão, perigo e

a citação da cidade de Piracicaba projetam suas angústias, medo e

ansiedade. A pesquisa constatou que seu pai está preso, há 12 anos,

na cidade citada. Moacir se insere num caso clássico de atitudes anti-

sociais na escola que o pode levar a delinqüência de acordo com a

teoria de Douglas Woods Winnicott. Contatado sua mãe ela discorreu

que “não sabe mais o que fazer” e que tem medo do marido preso

que está para ser posto em liberdade condicional. Ela declarou que

seu filho está muito agressivo com ela ameaçando-a de

espancamento e demonstra muita ansiedade e agitação.

Um velho chamado Bastião tinha uma Vara e

ele não antava sem ela.

Um dia Esse velho saiu e foi no Bar chegando

lá ele viu que estava sem sua Vara e foltou

correndo para casa na quele dia ele fez uma

promeça de não sairia sem verificar se estava com

a vara.

O cara ceachava que era O cara

com o carro e ia andar de carro

pata de pirasicaba prafaze mala

com O carro e daí ele bateu o

carro ela em pirasicaba com

carro e daí ele fugiu com o carro

a policia foi preso e ficou preso 3

anos e saiu da cadeia e como

missau aim na igreja e deus

pediuse as coisa que ele fez.

Page 13: Distúrbios de comportamento na escola

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÉDARD, N. “Como interpretar os desenhos das crianças”. São Paulo: Editora Isis,

2007.

GALINA, R. L. M. “Contorno individuais no sistema familiar: uma abordagem

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WEISS, M. L. L. “Psicopedagogia Clínica - uma visão diagnóstica dos problemas de

aprendizagem escolar.”

WINNICOTT D. W. “A família e o desenvolvimento individual.” São Paulo: Martinsfontes,

2005

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_____________ . “Os bebês e suas mães.” São Paulo: Martinsfontes, 2006

_____________ . “O ambiente e o processo de maturação.” Porto Alegre, Artmed

editora, 1983

_____________ . “Natureza humana.” Rio de Janeiro: Imago editora, 1988

_____________ . “Privação e delinqüência.” São Paulo: Martinsfontes, 2005