distribuição espacial de focos de esquistossomose através ... · esquistossomose e descrever...

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Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Mestrado em Saúde Pública Distribuição espacial de focos de esquistossomose através de Sistemas de Informações Geográficas – SIG, Ilha de Itamaracá, Pernambuco Recife, 2004 Karina Conceição Gomes Machado de Araújo

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Page 1: Distribuição espacial de focos de esquistossomose através ... · esquistossomose e descrever espacialmente um potencial agravo à saúde, identificando grupos expostos ao risco

Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva

Mestrado em Saúde Pública

Distribuição espacial de focos de esquistossomose através de Sistemas de

Informações Geográficas – SIG, Ilha de Itamaracá, Pernambuco

Recife, 2004

Karina Conceição Gomes Machado de Araújo

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KARINA CONCEIÇÃO GOMES MACHADO DE ARAUJO

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE FOCOS DE ESQUISTOSSOMOSE ATRAVÉS DE

SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS – SIG, ILHA DE ITAMARACÁ,

PERNAMBUCO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Saúde Coletiva do NESC, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – CPqAM, da Fundação Oswaldo Cruz como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública.

Orientadora: Prof. Drª. Constança Simões Barbosa

RECIFE 2004

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Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

616.995.122A663e Araújo, Karina Conceição Gomes Machado de.

Distribuição espacial de focos de esquistossomose através Sistemas de Informações Geográficas-SIG, Ilha de Itamaracá, Pernambuco/ Karina Conceição Gomes Machado de Araújo. — Recife, 2004. 73 p.: il., figuras, mapas.

Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)-Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, 2004. Orientadora. Constança Simões Barbosa.

1. Esquistossomose Mansoni. 2. Sistemas de Informação Geográfica. 3. Distribuição espacial 4. Epidemiologia. I. Barbosa, Constança Simões. II. Título.

CDU 616.995.122

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DEDICATÓRIA

A o m estre, F rederico S im ões B arbosa, que hoje se encontra em outra dim ensão, dedico os m éritos dessa conquista.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, símbolo de bondade e perfeição, que guia todos os meus passos e está presente

em todas as minhas realizações. Obrigada Senhor!

Aos meus pais, Gerson e Conceição, que se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos

para que pudesse realizar o meu. A vocês, ofereço essa vitória e agradeço pelo amor e

dedicação.

Ao meu esposo, Kalasas, cujo amor, carinho, dedicação e compreensão foram suficientes

para fortalecer nossa união durante esta jornada.

Aos meus irmãos, Toninho, Gersinho e Netinho, que me incentivaram e acreditaram na

minha vida profissional.

Aos meus familiares, que estiveram sempre presentes nos meus pensamentos apesar da

distância.

À orientadora e pesquisadora Constança Simões Barbosa que compartilhou comigo os seus

conhecimentos no campo da Saúde Pública e abriu horizontes rumo à satisfação plena dos

meus ideais profissionais e humanos. É, sem dúvida, uma pessoa especial!!!

A professora Lucilene (Deptº. de Engenharia Cartográfica) que me deu apoio e incentivo

no aprendizado de uma tecnologia inovadora no campo da Saúde Pública.

A companheira Carol (Deptº. de Engenharia Cartográfica) que esteve comigo em todas as

etapas da construção do aplicativo mostrando-se sempre interessada em me ensinar cada

passo dado.

Aos pesquisadores Otávio Pieri e Tereza Favre pelo entusiasmo que sempre tiveram com

esta pesquisa.

A companheira Paula sempre pronta a me ajudar nos momentos que precisei.

Ao mais novo amigo Constantino que contribuiu na pesquisa sem medir esforços.

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Aos colegas de turma, Carol, Cristina, Érika, Erlene, Fábio, Geisiane, Luciana, Marinalda,

Odaléia, Sálvea e Sandra, pela inesquecível companhia durante a nossa jornada.

Aos professores do Mestrado pelos conhecimentos transmitidos durante as aulas. Em

especial, ao professor Djalma Agripino.

Aos funcionários do Serviço de Referência para Diagnóstico em Esquistossomose/CPqAM

pela colaboração durante a coleta de dados. Em especial, a Sebastião, Lúcia, e Robson.

Aos funcionários do NESC pela atenção dada em todos os momentos que precisei de

ajuda.

A FIOCRUZ por ser uma renomada instituição fomentadora de conhecimentos.

Aos amigos, companheiros indispensáveis da vida.

A todos que direta ou indiretamente colaboraram com esta pesquisa. Meus sinceros

agradecimentos!

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“ N o anseio da luz, sentei-m e aos pés de

m estres, consultei livros de sabedoria,

visitei lugares santos e busquei por toda

parte. E ncontrei um a seta que

apontava para m im m esm a e quando a

busquei em m eu íntim o – onde sem pre

havia estado à m inha espera – ali a

encontrei! Só depois desta

autodescoberta passei a ver a luz nos

instrutores, nos livros e em todos os

lugares.”

James D. Freeman

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RESUMO

Os casos de infecção aguda de esquistossomose que vêm ocorrendo em localidades do

litoral de Pernambuco são decorrentes de exposições acidentais provocadas por vários

distúrbios ambientais. A ocupação populacional desordenada da Ilha de Itamaracá criou as

condições ambientais favoráveis para o surgimento de inúmeros criadouros dos moluscos

vetores em locais propícios para a infecção humana. Os SIGs têm se revelado um instrumento

eficaz para mapear os focos de doenças e fazer o seu monitoramento, conduzindo mais

rapidamente a informação local às esferas de decisão. O presente estudo pretendeu

desenvolver um aplicativo empregando SIG para identificação e localização dos focos de

esquistossomose e descrever espacialmente um potencial agravo à saúde, identificando grupos

expostos ao risco de infecção e contribuindo para a vigilância e o monitoramento da saúde de

populações específicas. As praias do Forte e Enseada dos Golfinhos foram eleitas por terem

registro de ocorrência e freqüência de vetores infectados e casos de pessoas contaminadas pelo

parasito. A partir da aquisição dos dados espaciais gráficos e descritivos foi construída a base

cartográfica, georreferenciando a posição espacial do foco ao número de caramujos coletados

e positivos, bem como à taxa de infecção para S. mansoni nas áreas de estudo. Utilizou-se o

programa Autocad 2000 para transformação, para pontos, de cada par de coordenadas

capturadas pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS). A disponibilização dos dados foi

realizada por meio de um sistema de consulta com base em SIG, que armazenou todos os

dados espaciais para manipulação e ligação dos atributos descritivos às feições gráficas,

permitindo a visualização, a análise espacial e, principalmente, a atualização desses dados no

sistema. O programa utilizado para esse fim foi o Arcview versão 3.2, onde os resultados

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sairam sob forma de mapas temáticos e tabelas. A análise espacial foi realizada através do

programa SPRING 4.0 para geração de grade retangular e aplicação do método de

interpolação através de média ponderada. No período de 1998 a 2002, foram coletados 767

moluscos Biomphalaria glabrata na Enseada dos Golfinhos e 5009 na Praia do Forte, sendo

que 9,5% e 12,2% deles estavam positivos para S. mansoni, respectivamente. Na primeira

localidade, observou-se apenas uma área com foco de esquistossomose mansônica, enquanto

na segunda foram identificados 27 focos da doença em áreas de maior ou menor risco

ambiental. Os mapas temáticos indicam o logradouro, posição espacial de cada foco, número

de caramujos coletados e positivos, taxa de infecção para S. mansoni e os sítios com maior

risco de transmissão da doença. A análise espacial dos focos permitiu a visualização de áreas

expostas a diferentes graus de risco. Os resultados da pesquisa possibilitam oferecer, aos

serviços municipais de saúde, um instrumento que facilita o monitoramento dos focos da

esquistossomose na Ilha de Itamaracá.

Palavras-chave: esquistossomose mansônica; Sistema de informação geográfica (SIG); focos

de transmissão; análise espacial.

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ABSTRACT

The cases of acute schistosomiasis infection that are occurring in coastal localities of

Pernambuco results from accidental exposure caused by several environmental disorders. The

disorderly populational occupation of Itamaracá Island created environmental conditions that

favours the outcome of numberless breading places for the vector mollusks in propitious sites

for human infection. The GIS (Global Information Systems) have been an effective

instrument to map the disease foci and to make their monitoring, conveying faster information

to the decision making level. This study aimed to develop an applicative utilizing GIS for

identification and localization of the schistosomiasis foci and to describe spatially a potential

loss of the health, identifying groups exposed to infection risk and contributing for the

surveillance and the monitoring of the health of specific populations. The beaches named

Praia do Forte and Enseada dos Golfinhos were selected because of the records of occurrence

and frequency of infected snails and people contaminated by the parasite. A cartographic base

was built from descriptive and spatial graphic data, georeferencing the spatial position of the

transmission foci with the number of collected and positives snails, as well as the infection

rate for Schistosoma mansoni in each area of study. The Autocad 2000 program was utilized

for transformation, in points, of each coordinate pair captured through Global Position System

(GPS). The data were made available by a GIS-based consultation system that stored all

spatial data for manipulating and linking the descriptive attributes to the graphic features. This

enable the visualization, the spatial analysis and, mainly, the up-date of the data in the system.

For that purpose there was used the Arcview 3.2 program, where the results were showed

through thematic maps and tables. The spatial analysis was carried out through the SPRING

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4.0 program to create a rectangular grid and to apply the interpolation method through

weighed average. Between 1998 and 2002, 767 Biomphalaria glabrata snails were collected

in the Enseada dos Golfinhos and 5,009 in the Praia do Forte. Of these totals, 9.5% and 12.2%

were positives for S. mansoni, respectively. In the former locality, only one area with

schistosomiasis foci was identified, while in the latter 27 disease foci were identified in areas

of varying environmental risks. The thematic maps indicate the street name, the spatial

position of the transmission foci, the number of collected and positives snails, the infection

rate for S. mansoni and the sites with greater risk of disease transmission. The spatial analysis

of the transmission foci permited the visualization of sites subject to different degrees of risk.

The results of this work will provide an instrument for the municipal health services that will

facilitate the monitoring and control of transmission sites of schistosomiasis on Itamaracá

Island.

Key words: schistosomiasis mansoni; geographic information system (GIS); transmission foci;

spatial analysis.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização da área de estudo

Figura 2. Sistema de Posicionamento Global

Figura 3. Modelo de superfície gerada por uma grade retangular

Figura 4. Mapa temático da Enseada dos Golfinhos

Figura 5. Lagoa Constança na Enseada dos Golfinhos

Figura 6. Mapa temático da Enseada dos Golfinhos mostrando a relação dos dados descritivos

com o sistema viário

Figura 7. Mapa temático de localidades da Praia do Forte

Figura 8. Foco de esquistossomose peridomiciliar na Praia do Forte

Figura 9. Mapa temático de localidades da Praia do Forte mostrando a relação dos dados

descritivos com o sistema viário

Figura 10. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na Praia do

Forte – Ilha de Itamaracá em 1998

Figura 11. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na Praia do

Forte – Ilha de Itamaracá em 1999

Figura 12. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na Praia do

Forte – Ilha de Itamaracá em 2000

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Figura 13. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na Praia do

Forte – Ilha de Itamaracá em 2001

Figura 14. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na Praia do

Forte – Ilha de Itamaracá em 2002

Figura 15. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na Praia do

Forte – Ilha de Itamaracá entre 1998 e 2002

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Proporção (%) de Biomphalaria glabrata positivos (POS) para S. mansoni entre os

coletados (COL) no período climático pós-chuvas de acordo com os logradouros. Praia do

Forte e Enseada dos Golfinhos, Itamaracá, PE, set. a dez. de 1998 a 2002.

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1 – INTRODUÇÃO 14

1.1 – A Esquistossomose Mansônica 14

1.2 – A Esquistossomose Mansônica em Pernambuco 17

1.3 – Esquistossomose e Ambiente 20

1.4 – Os sistemas de informação geográfica e o controle das doenças endêmicas 22

1.5 – Modelos computacionais para controle da esquistossomose 27

1.6 – Análise espacial 28

1.7 – Justificativa 30

2 - OBJETIVOS 31

2.1 – Geral 31

2.2 – Específicos 31

3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 32

3.1 – Área de estudo 32

3.2 – Desenho do estudo 33

3.3 – Coleta de dados do inquérito malacológico 33

3.4 – Análise dos dados do inquérito malacológico 35

3.5 – Análise e processamento dos dados espaciais 36

4 - RESULTADOS 42

5 - DISCUSSÃO 59

6 - CONCLUSÕES 64

7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65

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1 – INTRODUÇÃO

1.1 - A Esquistossomose Mansônica

A esquistossomose mansônica afeta cerca de 200 milhões de pessoas em várias

regiões do mundo. Seu agente etiológico é o Schistosoma mansoni um parasita

trematódeo digenético. A distribuição geográfica de S. Mansoni no Continente

Americano é ampla, sendo encontrado em Porto Rico, República Dominicana, Santa

Lúcia, Guadalupe, Martinica, St. Kitts, Suriname, Venezuela e Brasil.

No Brasil, a doença é considerada endêmica e apresenta cerca de 8 milhões de

indivíduos parasitados (SOUZA; LIMA, 1990). Sua distribuição é observada na faixa

litorânea que compreende desde a região Norte até a região Sul, apresentando-se como

endêmica em vários estados do Nordeste e como áreas focais em alguns estados da

região Sudeste.

A gravidade que assume a doença - em muitos casos - e o déficit orgânico que

produz fazem da esquistossomose um dos mais sérios problemas de saúde pública no

mundo. No Brasil, a doença é conhecida popularmente por “xistossomose”, “xistosa” ou

“doença do caramujo”, assim como por “barriga d’água”, devido à ascite que

acompanha as formas mais graves, com fibrose hepática (REY,1991). As maiores

prevalências são encontradas em populações de áreas rurais e nos grupos sociais

subempregados e desempregados, em geral, com baixos níveis de escolaridade

(LOUREIRO, 1989).

A introdução da esquistossomose no Brasil é explicada pela vinda de escravos

negros trazidos da África já infectados com S. mansoni para trabalhar nas lavouras

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canavieiras do Nordeste e nos plantios de café no Sudeste do Brasil. Nestas regiões, o

agente etiológico encontrou hospedeiros suscetíveis e um ecossistema adequados para a

transmissão da parasitose (SILVA, 1985).

O homem é o hospedeiro definitivo principal, embora alguns roedores,

marsupiais, carnívoros, silvestres e ruminantes já tenham sido encontrados naturalmente

infectados no Brasil. As três espécies de moluscos vetores responsáveis pela

transmissão no Brasil são Biomphalaria glabrata, B. straminea e B. tenagophila (REY,

1991). B. glabrata é a principal hospedeira do S. mansoni e sua distribuição geográfica

coincide em grande parte com a da área de ocorrência de esquistossomose. B. straminea

tem ampla distribuição geográfica no país, sendo a principal hospedeira de S. Mansoni

na região Nordeste e em focos isolados no Pará (Fordlândia e Belém) e Goiás (Goiânia),

embora apresente taxas de infecção natural consideradas baixas se comparadas as de B.

Glabrata. B. Tenagophila é hospedeira do S. mansoni responsável pelos focos de

transmissão encontrados nos estados do Rio de Janeiro; Santa Catarina; São Paulo (no

Vale da Paraíba) e em Minas Gerais (nos municípios de Jaboticatubas, Itajuá e Belo

Horizonte) (SOUZA; LIMA, 1990).

Os ovos do S. mansoni são eliminados pelas fezes do hospedeiro definitivo

(homem). Na água, estes eclodem, liberando uma larva ciliada denominada miracídio

que infecta o caramujo vetor. Após 4 a 6 semanas, os moluscos infectados começam a

eliminar uma quarta forma larvária – cercárias – que nada ativamente em busca do

hospedeiro definitivo. O contato humano com águas infectadas pelas cercárias é a

maneira pela qual o indivíduo adquire a esquistossomose (M.S. FNS/CENEPI, 1998).

Admite-se, geralmente, que cada fêmea do S. mansoni produz em torno de 300 ovos

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diários. Destes, estima-se que cerca de 25 a 30% são eliminados nas fezes, o restante

ficando retido nos tecidos, particularmente, nos intestinos (grosso e delgado) e no

fígado, onde são destruídos (COUTINHO; DOMINGUES, 1993).

A transmissão da doença depende da contaminação fecal em ambientes

aquáticos e da existência de pessoas infectadas que apresentam contato freqüente com

as coleções de água doce colonizadas por moluscos vetores suscetíveis (PIERI, 1995).

A expansão da doença está ligada à distribuição geográfica do caramujo hospedeiro

intermediário e a sua compatibilidade com as diferentes linhagens do parasita

(HAGAN; GRYSEELS, 1994).

As principais formas clínicas da doença são devidas aos ovos do parasita presos

no fígado causando hepatomegalia e patologia associada (BERGQUIST, 1995). A

infecção, na maioria dos pacientes em áreas endêmicas, dá-se na infância, mas não é

acompanhada de sintomas importantes, passando sem diagnóstico. O curso da doença

depende do tipo de reações ocorridas na fase de invasão, das mudanças provocadas pelo

amadurecimento dos vermes e pela oviposição que se segue, bem como da maneira que

o organismo do paciente reage à presença dos ovos de Schistosoma (REY, 1991;

TANABE et al., 1997).

A doença esquistossomótica evolui no hospedeiro definitivo de acordo com a

idade em que ocorreu a primeira exposição, a freqüência de exposições, a intensidade da

infecção e o estado imunológico do indivíduo, permitindo classificar os pacientes de

acordo com as seguintes formas clínicas da esquistossomose mansônica: intestinal,

hepatointestinal e hepatoesplênica (DOMINGUES; DOMINGUES, 1994).

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1.2 – A Esquistossomose Mansônica em Pernambuco

As prevalências mais elevadas da doença encontram-se na região Nordeste,

sendo que 15,2% correspondem ao Estado de Pernambuco (KANO, 1992). Nesse estado

a esquistossomose é historicamente endêmica na região rural em localidades onde as

taxas de infecção humana variam de 12% - 82%. A prevalência e a intensidade da

infecção nas comunidades de Pernambuco afetadas pela doença estão condicionadas à

práticas culturalmente moldadas como: atividades econômicas, de lazer ou domésticas,

peculiares em cada localidade (BARBOSA, 1998; GONÇALVES et al., 1990; PIERI et

al., 1998).

Recentemente, casos humanos de infecção aguda têm sido detectados em praias

onde a doença está sendo introduzida devido à ausência de planejamento social e

econômico na ocupação desses espaços. A falta de opção de trabalho para o homem do

campo vem levando a um crescente êxodo rural por melhores condições de vida,

direcionado aos centros urbanos e pólos turísticos litorâneos. Deste modo, indivíduos

infectados pelo parasito acabam por contaminar os criadouros de moluscos existentes no

litoral. Este fato tem sido comprovado através de focos de vetores da esquistossomose

encontrados em localidades litorâneas do Estado, além de novos sítios de transmissão

ativa da doença detectados em praias de turismo e veraneio de classe média alta

(BARBOSA et al., 1996, 1998, 1998 a, 2000, 2001).

Como conseqüência, vem se notando uma mudança no perfil epidemiológico

desta endemia, em Pernambuco. Em áreas rurais, a esquistossomose se apresenta

predominantemente sob a forma crônica, incidindo na classe social de baixa renda e

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tendo como vetor B. straminea. No litoral, a doença é representada por casos agudos

em pessoas de classe média e alta, sendo o vetor B. glabrata (BARBOSA et al., 2001).

Resultados preliminares de levantamentos malacológicos realizados em

municípios do litoral pernambucano apontam 12 novos focos de esquistossomose em

localidades praianas do Estado (BARBOSA et al., 2003). O mais importante evento

epidemiológico relacionado à esquistossomose ocorreu na praia de Porto de Galinhas

por ocasião de uma epidemia de esquistossomose aguda em setembro de 2000, com 410

casos agudos registrados. O fato foi decorrente de distúrbios ambientais acidentais

causados pela ação humana e por inundações (BARBOSA et al., 2001).

A exploração crescente dessas zonas de veraneio e lazer vem atraindo um

contingente considerável de turistas, além dos habitantes locais. A expansão da endemia

para o litoral de Pernambuco decorre do crescimento e da ocupação populacional

descontrolada desses espaços urbanos com conseqüentes distúrbios ambientais. A

população dessas localidades, formada por moradores permanentes e por veranistas, não

costuma ter contato obrigatório com os focos, uma vez que é servida por sistema

público de abastecimento de água ou por poços artesianos. Os casos de infecção aguda

que vêm ocorrendo em localidades do litoral são decorrentes de exposições acidentais

causadas por distúrbios ambientais de diversas ordens (BARBOSA et al., 2001).

Um exemplo desta situação é a Ilha de Itamaracá, situada ao norte do Estado,

distante apenas 42km da cidade do Recife. Nesta Ilha, áreas pantanosas ou de

manguezais foram destruídas e aterradas para a construção de condomínios residenciais

e de veraneio, sem que antes fossem construídos sistemas que permitissem o

escoamento das águas pluviais. Por ocasião da construção dos condomínios, as lagoas

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de água doce que abrigavam o molusco transmissor foram contaminadas pelas fezes dos

trabalhadores da construção civil oriundos de áreas rurais endêmicas. Atualmente, nos

meses chuvosos, essas lagoas transbordam e os moluscos vetores invadem ruas e

quintais, infectando pessoas sadias (BARBOSA et al., 2000).

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1.3 – Esquistossomose e Ambiente

No processo saúde-doença os fatores ambientais são fundamentais para a

ocorrência de diversas doenças. O conhecimento da variação espacial e temporal da

incidência das doenças concomitantemente com situações ambientais especificadas é

importante para o planejamento de ações de prevenção e controle das mesmas

(MEDRONHO, 1995).

O espaço é “entendido como um conjunto indissociável, solidário e também

contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados

isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 1996).

A Saúde Pública e o ambiente estão intrinsecamente influenciados pelos padrões

de ocupação do espaço. Não basta descrever as características das populações, mas é

necessário localizar o mais precisamente possível onde estão acontecendo os agravos,

que serviços a população está procurando, o local de potencial risco ambiental e as áreas

onde se concentram situações sociais vulneráveis (CARVALHO et al., 2000).

As relações entre saúde e ambiente podem ser evidenciadas através da análise de

características epidemiológicas das áreas próximas às fontes de contaminação e pela

identificação de fatores ambientais adversos em locais onde há concentração de agravos

à saúde. Além disso, é possível monitorar ações de saneamento e tendências das

doenças preveníveis após ações do meio e melhoria da qualidade de vida em função de

obras realizadas (ELIAS; TINEM, 1995).

Freqüentemente, por estratégia de sobrevivência, as populações marginalizadas

são obrigadas a realizar modificações ambientais e a apresentar comportamentos que

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acarretam riscos individuais e coletivos. A obrigatoriedade de acesso a algumas poucas

coleções de água e a ausência de destino adequado dos dejetos têm resultado na

presença de transmissão da esquistossomose nas periferias de diversas cidades e,

mesmo, em regiões metropolitanas (SABROZA et al., 1992).

Atualmente, recomenda-se que o controle da esquistossomose seja baseado em

medidas integradas; dentre estas, o combate aos hospedeiros intermediários é

considerado imprescindível, destacando-se, para esse fim, o uso de modificações

ambientais (GIOVANELLI et al., 2001).

O encaminhamento de soluções para problemas de habilitação, trabalho,

saneamento e saúde, e novos modelos de participação comunitária, de relações com o

ambiente, de organização política e de serviços públicos nas áreas urbanas são da maior

prioridade. Assim, modelos adequados de organização de serviços de proteção à saúde e

ao ambiente e o desenvolvimento de novas estratégias de financiamento e controle

social da utilização dos recursos são indispensáveis (SABROZA; LEAL, 1992).

Desde a recente reforma sanitária, os serviços municipais de saúde são a

instância responsável pelo controle dos agravos à saúde na população local, incluindo a

esquistossomose, cujo controle está relacionado ao manejo ambiental e saneamento

básico. Para este fim, é de suma importância para o município o conhecimento sobre a

localização exata dos focos de transmissão da doença e do seu espaço de atuação. Desta

forma, os gestores de saúde e ambiente poderão planejar e operacionalizar as ações de

controle.

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1.4 – Os Sistemas de Informação Geográfica e o Controle das Doenças

Endêmicas

O conhecimento detalhado das condições ambientais de saúde da população

pode ser feito através de mapas que permitam observar a distribuição espacial de

situações de risco e dos problemas de saúde (CARVALHO et al., 2000).

A origem dos estudos da geografia médica remonta à antiguidade, iniciando-se

talvez com a própria história da medicina. A primeira obra referente ao tema, publicada

em torno do ano 480 a.C., é atribuída a Hipócrates e denomina-se “Ares, Águas e

Lugares”. Hipócrates analisou com minúcias os principais fatores geográficos e

climáticos que influíam na ocorrência de endemias e epidemias (ANDRADE, 2000).

Há mais de um século epidemiologistas e outros cientistas médicos começaram a

explorar o potencial de mapas para o entendimento da dinâmica espacial das doenças.

Um dos estudos pioneiros sobre uso de mapas na ciência médica foi realizado por John

Snow, entre 1849 a 1854, na área do Soho, em Londres, no clássico “On the Mode of

Communication of Cholera in London, 1855” (SNOW, 1999).

Snow descreveu a mortalidade por cólera ao longo do Rio Tâmisa onde

conseguiu identificar que as áreas que recebiam a água transportada das partes mais

baixas do rio, por uma das companhias, eram as mais afetadas (OPAS, 2002). Partindo

da hipótese que a cólera era transmitida através da água, Snow usou mapas para mostrar

a distribuição geográfica das mortes pela doença na região de Soho em Londres,

demonstrando uma associação espacial entre mortes por cólera e suprimento de água

(MEDRONHO, 1995).

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23

O desenvolvimento histórico da geografia médica, incluindo pesquisas

aplicadas, torna evidente a importância deste campo. As questões espaciais relacionadas

ao processo saúde-doença têm sido objeto de estudos de grupos de geógrafos de vários

países. No Brasil, observa-se uma tendência ao incremento de pesquisas, mesmo de

forma isolada, entre alguns geógrafos e epidemiologistas (ANDRADE, 2000).

Um importante instrumento a ser utilizado na descrição e análise da situação de

saúde subsidiando as ações de gestão em saúde é o Sistema de Informação Geográfica –

SIG (OPAS, 1996). O SIG é uma tecnologia computacional poderosa que possibilita a

análise de grandes quantidades de informação dentro de um contexto geográfico (VINE

et al., 1997). Os SIG são estruturas de processamento eletrônico de dados que permitem

a captura, armazenamento, manipulação, análise, demonstração e relato de dados

referenciados geograficamente (SANSON et al., 1991).

O marco conceitual dos SIG consiste em entrada, armazenamento,

processamento e saída. As entradas (inputs) incluem a coleta de dados geográficos ou

espaciais e dados de atributo ou características relacionadas com a população ou área

geográfica e o seu entorno. A coleta de dados pode ser feita por levantamento de campo

diretamente ou acessando diferentes bancos de dados ou, ainda, mediante métodos

remotos, como por satélites. O armazenamento em forma digital dos dados é feito em

bancos de dados para sua posterior utilização. Em seguida, procede-se a sua

recuperação, transformação, análise e, finalmente, os dados são transformados em

informação na forma de mapas, gráficos e tabelas para sua apresentação e interpretação

(saída ou resultado – output) (OPAS, 2002).

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Os SIG proporcionam facilidades na execução de atividades, como

planejamento, análise, gerenciamento e monitoração, sobretudo quanto à manipulação

de dados gráficos e não-gráficos. Os dados gráficos são dados associados a fenômenos

do mundo real em relação aos quais se privilegia, para fins de análise, seus atributos de

localização e extensão sobre uma representação gráfica. Os dados não-gráficos são

dados que privilegiam as características temáticas dos fenômenos do mundo real de

forma a permitir sua identificação, classificação e o estabelecimento de relações

relevantes (NAJAR; MARQUES, 1998).

As ferramentas gráficas que melhor se adaptam às necessidades do SIG são os

sistemas CAD – Computer Aided Design. O SIG baseado em CAD possui

características como (CÂMARA; DAVIS, 2000):

• Gerenciamento de dados gráficos feito por um pacote de CAD, geralmente

externo ao SIG;

• Gerenciamento de dados alfanuméricos feito por um gerenciador de bancos de

dados relacional externo, geralmente padrão de mercado, externo ao SIG;

• Possibilidade de manipulação direta dos arquivos gráficos utilizando o sistema

CAD “por fora” do SIG.

O programa ARC/VIEW – interface gráfica do ARC/INFO para Windows

(CARVALHO et al., 2000) possui características como (CÂMARA; DAVIS, 2000):

• Gerenciamento em separado de dados gráficos e tabelas;

• Armazenamento de gráficos em estruturas proprietárias;

• Armazenamento de dados alfanuméricos em banco de dados relacional;

• Capacidade de processar dados vetoriais, grades e imagens.

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25

A principal característica de um SIG é focalizar o relacionamento de

determinado fenômeno da realidade com sua localização espacial (MEDRONHO,

1995). Os avanços na tecnologia da informação e a facilidade do SIG em integrar

grandes bancos de dados e produzir mapas de forma dinâmica têm contribuído para sua

ampla difusão em diversas áreas de estudo, inclusive, na saúde pública (OPAS, 2002).

Porém, a aplicação dos SIG em epidemiologia e saúde pública ocorreu apenas

recentemente. As razões para o atraso da aplicação do SIG em saúde são (OPAS, 2002):

� Conhecimento limitado dos métodos, técnicas e processos dos SIG;

� Falta de ferramentas computadorizadas simplificadas para a análise

epidemiológica.

Os SIGs surgiram na Saúde Pública para melhorar as possibilidades da descrição

e análise espacial das doenças em grandes conjuntos de dados georreferenciados. A

capacidade de executar múltiplos questionamentos sobre o conjunto de dados, junto

com o uso de alta resolução gráfica, tem facilitado a obtenção de informações relevantes

(MEDRONHO, 1995). Dentre as aplicações do SIG no campo da Saúde Pública,

destacam-se (OPAS, 1996):

• Descrição espacial de um evento de saúde;

• Identificação de riscos ambientais e ocupacionais;

• Análise de situação de saúde em uma dada área geográfica;

• Análise dos padrões ou diferenças na situação de saúde em diversos níveis de

agregação;

• Geração de hipóteses de pesquisas operacionais e novas áreas de estudo;

• Planejamento e programação de atividades em saúde pública;

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26

• Avaliação de intervenções em saúde.

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27

1.5 – Modelos Computacionais para controle da Esquistossomose

Em 1998, foi criada a Regional Network on Asian Schistosomiasis (RNAS) em

Wuxi, República da População da China, com capacidade para facilitar a transferência

de conhecimento a respeito de pesquisa, vigilância, controle e outras informações

relacionadas com a esquistossomose asiática. Esta rede possui website disponível nas

versões inglesa e chinesa com endereço URL: http://www.rnas.org . Uma sub-rede

sobre o uso de sistemas de informação geográfica (GIS) e sensoriamento remoto (RS)

para vigilância, prevenção e controle da esquistossomose foi produzida para acesso no

website RNAS a fim de trocar informações e experiências sobre atividades de pesquisa

com GIS/RS (ZHOU et al., 2002).

Em 2000, uma rede global que utiliza SIG para o controle de doenças veiculadas

por moluscos foi criada por um grupo que envolve a Organização Mundial da Saúde

(WHO), Organização de Agricultura e Alimentos (FAO), Universidade do Estado da

Louisiana (LSU) e o Laboratório Dinamarquês de Bilharziasis (DBL). O site de Internet

www.GnosisGIS.org ( Rede global em infecções veiculadas por molusco com referência

especial para Esquistossomose utilizando SIG) foi iniciado para permitir interação dos

pesquisadores como um “grupo de pesquisa virtual” (MALONE et al., 2001).

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1.6 – Análise Espacial

A cartografia computadorizada, utilizada desde a década de 60 e intensificada

nas décadas seguintes, possibilitou o refinamento na interpretação dos dados e o uso de

novas técnicas de análise. Técnicas sofisticadas da estatística e da cartografia vêm sendo

incorporadas, em particular técnicas multivariadas que objetivam explorar as

associações ambientais, sociais e físicas com as doenças (ANDRADE, 2000).

O estudo dos padrões de distribuição geográfica das doenças e suas relações com

fatores sócio-ambientais de risco, constituem-se no objeto do que hoje chama-se de

Epidemiologia Geográfica, que tem se constituído em campo de aplicação de métodos

de análise cada vez mais sofisticados na área da estatística (SHIMAKURA et al. 2001).

A noção de dependência espacial parte do que se convencionou chamar de

primeira lei da geografia: “todas as coisas são parecidas, mas coisas mais próximas se

parecem mais que coisas mais distantes”. A dependência espacial está presente em todas

as direções e fica mais fraca na medida em que aumenta a dispersão na localização dos

dados (CÂMARA et al., 2000).

As técnicas de análise espacial são orientadas pela natureza dos dados coletados.

Existem diferentes técnicas para proceder à análise quando os dados estão disponíveis

como: informações sobre fatores ambientais de caráter contínuo; informações sobre

fluxo e acesso; dados relativos à localização precisa de eventos no espaço; dados

relativos a áreas (BAILEY, 2001).

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29

A análise espacial é composta por um conjunto de procedimentos encadeados

cuja finalidade é a escolha de um modelo inferencial que considere explicitamente o

relacionamento espacial presente no fenômeno (CÂMARA et al., 2000).

As questões espaciais relacionadas ao processo saúde-doença – alocação dos

serviços de saúde e distribuição das doenças – têm sido objeto de estudos de grupos de

geógrafos de vários países. No Brasil, observa-se uma tendência ao incremento de

pesquisas, mesmo que de forma isolada, entre alguns geógrafos e epidemiologistas

(ANDRADE, 2000).

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1.7 – Justificativa

A relevância desse estudo está baseada na descrição espacial de um potencial

agravo à saúde, identificando grupos expostos ao risco de infecção e, desta forma,

contribuindo para a vigilância e o monitoramento da saúde de populações específicas.

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2 - OBJETIVOS

2.1 - Geral

Desenvolver um aplicativo empregando Cartografia e SIG para identificação e

localização dos focos de esquistossomose, construindo mapas de risco ambiental.

2.2 - Específicos

Empregar Cartografia para identificar a posição espacial da ocorrência dos focos

da esquistossomose;

Circunscrever, espacialmente, as áreas de riscos biológicos e ambientais destes

focos;

Observar a evolução temporal das áreas de risco em determinada localidade;

Contribuir para o planejamento das ações de controle da esquistossomose.

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3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 – Área de estudo

As áreas de estudo, Praia do Forte e Enseada dos Golfinhos, estão localizadas na

Ilha de Itamaracá (Figura 1), situada no litoral Norte de Pernambuco, que possui

extensão territorial de 67 km2 com população estável de 15.854 habitantes, sendo

12.930 correspondente à zona urbana e 2.924 à zona rural (FIDEM, 2001). A ilha está

localizada a 47,5 km da cidade do Recife e possui os seguintes limites: norte (Goiana);

sul (Igarassu); leste (Oceano Atlântico) e oeste (Itapissuma). No verão, as praias da ilha

são freqüentadas por veranistas e turistas.

Figura 1. Localização da área de estudo

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Inquéritos malacológicos, realizados pela equipe do Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães (CPqAM) da FIOCRUZ entre 1998 a 2002 nessas localidades, identificaram

criadouros de moluscos vetores, com exemplares de B. glabrata naturalmente

infectados, caracterizando a ocorrência de transmissão ativa da doença. Casos humanos

agudos da doença ocorreram na Ilha (GONÇALVES et al., 1992), cuja infecção ocorreu

devido às modificações ambientais realizadas na área.

O critério de eleição dessas áreas foi o fato de ambas serem localidades onde

existem registros recentes de ocorrência de caramujos infectados e detecção de casos

humanos da doença (BARBOSA et al., 2000).

3.2 – Desenho do Estudo

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, de corte transversal, a partir de

dados primários resultantes de inquérito malacológico.

3.3 – Coleta de Dados do Inquérito Malacológico

As seguintes etapas foram realizadas para o inquérito malacológico:

� Eleição das localidades para o estudo

As duas localidades do estudo foram elegidas por terem tido

ocorrência de “casos índices”, ou seja, pessoas contaminadas pelo

parasito que procuraram o Serviço de Referência para

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Diagnóstico em Esquistossomose do CPqAM/FIOCRUZ

tiveram diagnóstico parasitológico positivo para S. mansoni e

foram definidas como casos autóctones da doença.

� Elaboração dos croquis das localidades

Foram elaborados croquis das localidades do estudo onde

constavam todas as coleções hídricas disponíveis (perenes ou

temporárias), ruas e residências aglomeradas por quadras.

� Coleta dos moluscos

Em cada coleção hídrica identificada como criadouro – pela

presença do molusco vetor – foram demarcadas estações de coleta

para captura dos caramujos. Foram definidas coleções hídricas

perenes e não perenes cujo volume de água variava de acordo

com os índices pluviométricos anuais: lagoas perenes, charcos

sazonais em terrenos alagadiços, valas e poças nas ruas. Os

caramujos foram coletados pelo método de OLIVIER &

SCHNEIDERMAN (1956) observando a técnica de

homem/minuto/conchada.

� Identificação dos caramujos

Os caramujos coletados foram conduzidos ao laboratório do

Serviço de Referência para Diagnóstico em Esquistossomose

para a identificação da espécie através da Técnica de Dissecção

do Aparelho Genital (DESLANDES, 1951).

� Diagnóstico parasitológico do vetor

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A verificação da infecção dos moluscos para S. mansoni foi realizada através da:

• Técnica clássica de exposição à luz para estimular a eliminação de cercárias de

S. mansoni (SOUZA et al. 1990) conforme descrição:

Os moluscos são lavados e colocados individualmente em vidros

pequenos, com cerca de 3ml de água e expostos a foco de luz (lâmpada

de 60w), durante 30 a 40 minutos. Decorrido o tempo de exposição, a

água dos frascos é examinada com auxílio de lupa para verificar a

presença ou não de cercárias. A taxa de infecção do lote de moluscos é

dada pelo número de indivíduos positivos para S. mansoni encontrados

em relação ao total de moluscos examinados.

3.4 – Análise dos dados do Inquérito Malacológico

Nas fichas de malacologia resultantes desse inquérito foram incluídos dados

referentes ao número de caramujos – coletados e positivos para S mansoni – por ano e

por estação de coleta. Cada criadouro com moluscos positivos foi considerado como

foco de transmissão da doença. A unidade de análise desse estudo foi o foco de

transmissão identificado, com sua localização e posição espacial. As variáveis de

inclusão foram: o número de caramujos coletados e o número de caramujos positivos

para S. mansoni nos anos de 1998, 1999, 2000, 2001 e 2002.

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3.5 – Análise e Processamento dos Dados Espaciais

Para criação da base cartográfica, adquiriu-se os dados gráficos, em meio digital,

junto à Fundação de Desenvolvimento Municipal – FIDEM. Esses dados são compostos

pela Carta de Nucleação Norte da Região Metropolitana do Recife (1997), escala de

1:20.000, e pelas Plantas Cadastrais Topográficas – PCT do Projeto UNIBASE, escala

de 1:1.000, de números: 94/77:00, 94/75:05, 93/77:00 e 93/77:05.

A Carta de Nucleação Norte foi a base cartográfica preliminar para a localização

das áreas em estudo e por conseqüência a localização da numeração das PCTs. A base

final é composta pela junção das quatro PCTs, onde contém: quadras, lotes, edificações

e as toponímias (nome do logradouro e número das edificações).

Os dados descritivos (logradouro, posição espacial dos focos, número dos

caramujos examinados e positivos) foram adquiridos parte em pesquisa de campo e

parte por dados preexistentes do Serviço de Referência para Diagnóstico em

Esquistossomose no período de 1998 a 2002. Para a localização espacial dos focos, foi

utilizado método absoluto com o posicionamento instantâneo de um ponto, coletado

através de um receptor GPS (Global Positioning System) de navegação GARMIN, cuja

captura das coordenadas geográficas foram feitas em sistema de projeção UTM e de

referência elipsoidal SAD69. Esses atributos foram tratados e organizados em uma

planilha do Microsoft Excel 2000.

O Sistema de Posicionamento Global, conhecido por GPS (Global Positioning

System) ou NAVSTAR-GPS (Navigation Satellite with Time And Ranging), é um

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sistema mundial de rádio-navegação desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos

Estados Unidos da América (DoD-Department Of Defense).

A concepção do sistema permite que um usuário, em qualquer local da

superfície terrestre, tenha a sua disposição, no mínimo, quatro satélites que podem ser

rastreados. Este número de satélites permite o posicionamento em tempo real (Figura 2).

Figura 2. Sistema de Posicionamento Global

A idéia básica do princípio de navegação consiste da medida das chamadas

pseudo-distâncias entre o usuário e quatro satélites. Conhecendo as coordenadas dos

satélites num sistema de referência apropriado, é possível calcular as coordenadas da

antena do usuário com respeito ao mesmo sistema de referência dos satélites

(CEUB/ICPD, 2000).

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Além das coordenadas geográficas (latitude e longitude), a maioria das cartas de

grande e média escalas, em nosso País, também é construída com coordenadas plano-

retangulares. Estas coordenadas formam um quadriculado relacionado à Projeção

Universal Transversa de Mercator (UTM).

O espaço entre as linhas do quadriculado UTM é conhecido como eqüidistância

do quadriculado e será maior ou menor de acordo com a escala da carta. O sistema de

medida usado é o linear em metros, cujos valores são sempre números inteiros, sendo

registrados nas margens da carta.

Assim, o quadriculado UTM está estreitamente relacionado à projeção com o

mesmo nome, a qual divide a Terra em 60 fusos de 6° de longitude cada um. O

quadriculado, se considerado como parte integrante de cada fuso, tem sua linha vertical

central coincidente com o Meridiano Central (MC) de cada fuso.

A origem das medidas do quadriculado é o cruzamento do MC com o Equador,

ao qual foram atribuídos arbitrariamente os seguintes valores: para o Meridiano Central,

500.000mE, determinando as distâncias em sentido Leste/Oeste, e para o Equador,

10.000.000m para o Hemisfério Sul, e 0m, para o Hemisfério Norte (CEUB/ICPD,

2000).

Na fase de processamento dos dados, realizado no programa Autocad 2000,

seguiram-se as seguintes etapas: transformação, para pontos, de cada par de

coordenadas capturadas pelo GPS; edição das feições das PCTs para a eliminação

duplicada das entidades; transformação dos segmentos de linhas em polígonos

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fechados; homogeneização dos layers (planos de informações) e correção da toponímia

da base cartográfica.

A disponibilização dos dados foi realizada por meio de um sistema de consulta

com base em SIG, que armazenou todos os dados espaciais para manipulação e ligação

dos atributos descritivos às feições gráficas, permitindo a visualização, a análise

espacial e, principalmente, a atualização desses dados no sistema. O programa utilizado

para esse fim foi o Arcview 3.2, onde os resultados sairam sob forma de mapas

temáticos, tabelas e relatórios.

A análise espacial foi realizada através do programa SPRING versão 4.0 para

geração de grade retangular. A grade retangular ou regular é um modelo digital que

aproxima superfícies através de um poliédro de faces retangulares (Figura 3). Os

vértices desses poliedros podem ser os próprios pontos amostrados, caso estes tenham

sido adquiridos nas mesmas localizações xy que definem a grade desejada.

Figura 3. Modelo de superfície gerada por uma grade retangular

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A geração de grade regular ou retangular deve ser efetuada quando os dados

amostrados na superfície não são obtidos com espaçamento regular. Assim, a partir das

informações contidas nas isolinhas ou nos pontos amostrados, gera-se uma grade que

representa de maneira mais fiel possível a superfície. Os valores iniciais a serem

determinados são os espaçamentos nas direções x e y de forma que possam representar

os valores próximos aos pontos da grade em regiões com grande variação. Ao mesmo

tempo, devem reduzir redundâncias em regiões quase planas.

O espaçamento da grade, ou seja, a resolução em x ou y, deve ser idealmente

menor ou igual a menor distância entre duas amostras com cotas diferentes. Ao se gerar

uma grade muito fina (densa), com distância entre os pontos muito pequena, existirá

um maior número de informações sobre a superfície analisada, porém necessitará maior

tempo para sua geração. Ao contrário, considerando distâncias grandes entre os pontos,

será criada uma grade grossa, que poderá acarretar perda de informação. Desta forma

para a resolução final da grade, deve haver um compromisso entre a precisão dos dados

e do tempo de geração da grade.

Uma vez definida a resolução e consequentemente as coordenadas de cada ponto

da grade, pode-se aplicar um dos métodos de interpolação para calcular o valor

aproximado da elevação.

Média Ponderada - o valor de cota de cada ponto da grade é calculado a partir da

média ponderada das cotas dos 8 vizinhos mais próximos a este ponto, porém atribui-se

pesos variados para cada ponto amostrado através de uma função que considera a

distância do ponto cotado ao ponto da grade.

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d = ((x - x0)2 + (y - y0)

2)1/2 d = distância euclidiana do ponto interpolante ao vizinho i

w(x,y) = (1/d)u=1 u = 1 = expoente da função de ponderação

onde:

w(x,y) = função de ponderação

f(x,y) - função de interpolação

Este interpolador produz resultados intermediários entre o interpolador de média

simples e os outros interpoladores mais sofisticados, com tempo de processamento

menor.

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4 – RESULTADOS

Inquérito Malacológico

Os resultados do inquérito malacológico realizado pelo

SRDEM/CPqAM/FIOCRUZ nas duas localidades estudadas no período climático pós-

chuvas (SET-DEZ) encontram-se na Tabela 1. No período de 1999 a 2002, foram

coletados 767 caramujos na Enseada dos Golfinhos, sendo que 9,5% estavam positivos

para S. mansoni. Dos 5009 caramujos coletados no período de 1998 a 2002, na Praia do

Forte, 12,2% apresentaram positividade para S. mansoni.

De acordo com a tabela 1, verificou-se que, no ano 2000, foram coletados 2784

caramujos na Praia do Forte e 570 na Enseada dos Golfinhos, sendo que a positividade

para S. mansoni correspondeu a 289 e 54 caramujos, respectivamente.

Na Enseada dos Golfinhos, o vetor Biomphalaria glabrata foi encontrado numa

lagoa perene e ocasionalmente em poças temporárias na principal rua da localidade. Por

outro lado, na Praia do Forte, a mesma espécie vetora estava presente em duas lagoas de

água doce, em charcos sazonais em terrenos alagadiços, valas e poças temporárias nas

ruas.

Considerando-se os logradouros de ambas as localidades, observa-se que a taxa

de infecção natural variou de 4,3% a 28,8% durante o período de estudo.

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Mapas Temáticos

As bases de dados das localidades Enseada dos Golfinhos e Praia do Forte

compreenderam dados gráficos e descritivos, sendo que estes foram inseridos na tabela

do ARCVIEW. Nas duas localidades foram mapeados 28 focos de esquistossomose,

correspondendo estes a sítios de transmissão ativa da doença.

Na Enseada dos Golfinhos (Figura 4), observou-se apenas uma área com foco de

esquistossomose mansônica, a qual foi representada por um par de coordenadas

capturadas por GPS.

Figura 4. Mapa Temático da Enseada dos Golfinhos

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A Lagoa Constança (Figura 5) está localizada dentro de um lote de terreno na

Praia Enseada dos Golfinhos o qual possui uma edificação. Esta área corresponde ao

maior foco em extensão desse estudo, onde são encontradas densas populações de

Biomphalaria glabrata.

Figura 5. Lagoa Constança na Enseada dos Golfinhos

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A Figura 6 mostra a relação dos dados descritivos representados pelo número de

caramujos coletados e positivos no período de 1999 a 2002, pela taxa de infecção para

S. mansoni e o sistema viário representado pela Rua Eduardo Spinelli Carneiro Pinto.

Esta rua é a principal via de acesso da Enseada dos Golfinhos e dela pode-se observar o

foco de esquistossomose situado numa lagoa.

Figura 6. Mapa Temático da Enseada dos Golfinhos mostrando a relação dos

dados descritivos com o sistema viário

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Na Praia do Forte (Figura 7), foram identificados 27 focos de esquistossomose

com coordenadas, sendo observados em vários tipos de feições gráficas: sistema viário e

quadras (foco peridomiciliar), edificações (foco intradomiciliar), lagoas. Nesta

localidade, os dados descritivos podem ser visualizados no aplicativo (SIG) através do

sistema viário, o qual contém informações sobre o número de caramujos coletados e

positivos e a taxa de infecção para S. Mansoni em cada ano estudado.

As principais vias de acesso à praia correspondem às ruas: Araras, Coqueiros,

Dr. Walter C. Jatobá, Pastor Ulisses e Lauras; e às avenidas Passidônio José de Lima e

Engenheiro Paulo Sá Leitão. A maioria dos focos está situada nas quadras, as quais se

relacionam com um determinado logradouro, porém alguns deles localizam-se no

próprio sistema viário.

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Figura 7. Mapa temático de localidades da Praia do Forte

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49

A Figura 8 representa um charco sazonal e poças temporárias de água na rua

transversal à Rua Araras. Observa-se que o volume de água das coleções hídricas se

estende até as calçadas e muros das casas, caracterizando o foco peridomiciliar.

Figura 8. Mapa temático com foco de esquistossomose peridomiciliar na Praia do

Forte

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50

A Figura 9 mostra o relacionamento entre dados descritivos e gráficos através do

sistema viário da Praia do Forte, no qual pode-se identificar o nome da rua e a

quantidade de caramujos coletados e positivos no período de 1998 a 2002. Nesta figura,

as quadras de 1 a 11 estão relacionadas com a Rua Araras, porém as áreas de maior

risco ambiental correspondem às quadras 5, 7 e 10; cada uma contendo 3, 1 e 2 focos,

respectivamente, sendo caracterizados como peri e intradomiciliares. Estas informações

podem, também, serem observadas nas principais vias de acesso à praia, variando

apenas quanto ao número e tipo de foco, posição espacial e ao número da quadra.

Figura 9. Mapa temático de localidades da Praia do Forte mostrando a relação dos

dados descritivos com o sistema viário

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Análise Espacial

Com base nos atributos descritivos (positividade para S. mansoni) relacionados

com cada foco de esquistossomose representado na Praia do Forte, foi estimado um

modelo de dependência espacial que permitiu a interpolação da superfície apresentada

nos mapas correspondentes aos anos 1998, 1999, 2000, 2001, 2002 e em todo período

de estudo (1998_2002). A superfície interpolada mostra um padrão de distribuição das

áreas com potencial de risco para transmissão de esquistossomose mansônica que varia

de leve a intenso.

Observou-se, através dos mapas das figuras 10 e 11, que nos anos de 1998 e

1999 houve predominância de risco moderado para transmissão da doença por quase

toda localidade da Praia do Forte, seguido do risco intenso em duas pequenas áreas ao

norte e ao sul, excetuando-se o centro, havendo pouca concentração de focos de

esquistossomose o que caracteriza o risco leve.

No ano 2000 (Figura 12), apesar do incremento do número de caramujos

coletados e positivos, o potencial de risco variou entre leve e moderado na área de

estudo. Nos anos 2001 e 2002 (Figuras 13 e 14), houve um aumento substancial da

positividade para S. mansoni ao sul e ao norte, respectivamente, caracterizando o

potencial de risco intenso para transmissão da esquistossomose mansônica.

Comparando-se cada ano de estudo (Figuras 10 a 14), observa-se uma

distribuição desigual da endemia caracterizada pela presença de focos descontínuos,

intercalados por áreas onde ocorrem apenas casos isolados. No entanto, ao sobrepor as

informações contidas no período de 1998 a 2002 (Figura 15), verifica-se que o potencial

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de risco moderado predomina na maior parte da Praia do Forte, seguido do risco

intenso, não havendo áreas com potencial de risco leve. Esta figura aponta uma

paisagem epidemiológica para risco específico na transmissão de esquistossomose

mansônica na Praia do Forte.

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Figura 10. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na

Praia do Forte - Ilha de Itamaracá em 1998

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Figura 11. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na

Praia do Forte - Ilha de Itamaracá em 1999

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Figura 12. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na

Praia do Forte - Ilha de Itamaracá em 2000

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Figura 13. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na

Praia do Forte - Ilha de Itamaracá em 2001

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Figura 14. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na

Praia do Forte - Ilha de Itamaracá em 2002

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Figura 15. Potencial de risco para transmissão da esquistossomose mansônica na

Praia do Forte - Ilha de Itamaracá entre 1998 e 2002

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5 – DISCUSSÃO

Dos resultados

Os resultados do inquérito malacológico mostram que a taxa de infecção de

Biomphalaria glabrata, em ambas localidades, sofreu variação anual de 9,5% a 28,6% e

por logradouro de 4,3% a 28,8%, caracterizando o potencial ambiental de risco para a

transmissão da esquistossomose, principalmente nos meses de verão quando a

densidade populacional aumenta devido à entrada de turistas e veranistas na ilha.

Em estudo epidemiológico realizado na Ilha de Itamaracá em 1997, Barbosa et

al. (2000) relataram que a taxa de infecção natural variou de 7,9% a 20,5% e na época

de veraneio 18,6% dos moluscos coletados em poças situadas nas ruas de acesso à praia

estavam positivos para S. Mansoni. Os autores afirmaram que esses resultados

mostraram que a transmissão da esquistossomose na ilha não está restrita a um período

climático, ocorrendo ao longo de todo ano. Assim, os riscos de infecção são maiores na

época da seca e pós-chuvas.

No presente estudo, constatou-se que a maior quantidade de caramujos

recuperados em todos os criadouros, nas duas localidades, correspondeu ao ano 2000,

representando mais de 50% do total de caramujos coletados e quase 50% dos positivos.

O conjunto de investigações realizadas no período de 1998 a 2002 ressaltou a

importância do peridomicílio como fator de risco na transmissão da esquistossomose na

Ilha de Itamaracá, já que a maioria dos focos tinha localização peri ou intradomiciliar.

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O comportamento do padrão de distribuição espacial indica que a dinâmica das

duas localidades da ilha não pode ser analisada apenas a partir do lugar onde elas se

encontram, sendo necessário situá-las no contexto da região onde está inserida

ressaltando a importância da produção social do espaço onde a transmissão se

materializa.

Segundo Barbosa et al. (2000), a ocupação desordenada do espaço na Ilha de

Itamaracá, além de destruir o ecossistema original, criou as condições ambientais ideais

para o surgimento de inúmeros criadouros dos moluscos vetores de esquistossomose em

locais propícios para a infecção humana, estabelecendo a transmissão da doença.

Um aspecto importante da ilha é a topografia do terreno que favorece a

manutenção do criadouro durante todo o ano sofrendo influência apenas no período de

chuvas onde as chances de infecção são menores, fato este observado por Barbosa et al.

(2000). O encontro de Biomphalaria glabrata, nas localidades estudadas, é comum e

decorre da urbanização ineficiente nessas áreas, onde são encontrados charcos,

córregos, valas, poças e lagoas abrigando populações desse molusco.

A identificação e localização espaço/temporal de áreas onde acontecem

diferentes graus de risco para transmissão de esquistossomose mansônica, na Praia do

Forte, pode ajudar a orientar as decisões de planejamento para intervenções em saúde.

Os locais de maior concentração de focos, onde a densidade de domicílios é também

maior, estão na área de risco moderado, o que mostra a necessidade de reforçar o

sistema de vigilância naquelas áreas.

A categoria espaço tem valor intrínseco na análise das relações entre saúde e

ambiente e no seu controle onde o conhecimento da estrutura e dinâmica espacial

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permite a caracterização da situação em que ocorrem eventos de saúde (BARCELLOS

& BASTOS, 1996).

Segundo dados do IBGE (1998) sobre saneamento da Ilha de Itamaracá, 34,5%

dos domicílios possuem abastecimento de água inadequado e 100% deles apresentam

esgotamento sanitário precário. Assim, a presença do molusco hospedeiro em algumas

coleções hídricas (a exemplo de córregos que recebem água de esgoto não tratado)

existentes em áreas da ilha não totalmente urbanizadas, reflete uma preocupação quanto

à possível ocorrência de novos focos de esquistossomose. Contudo, os dados do

presente trabalho não permitem estimar o surgimento de novos focos, e sim, monitora-

los através do SIG, anualmente, mantendo as informações sempre atualizadas para a

vigilância epidemiológica da esquistossomose.

Nesse contexto, estudos ecológicos mais aprofundados sobre a dispersão e

proliferação dos caramujos para outras áreas são necessários para melhor compreender

as associações entre ambiente e saúde, podendo lançar mão de métodos de análise

espacial para investigação do padrão de distribuição dos eventos localizados

pontualmente.

Particularmente no campo da esquistossomose, Bergquist (2001) afirma que o

desenvolvimento de modelos de SIG para predizer impactos de saúde, através de

projetos que envolvem variações climáticas e escoamento de água, contribui para uma

melhor documentação, facilitando decisões que poderiam evitar o aumento da

transmissão, bem como o surgimento de epidemias em áreas previamente não

endêmicas.

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A localização dos focos, orientada pelos vários tipos de criadouros (permanentes

e temporários) do molusco vetor, contribuiu para a distribuição desigual da

esquistossomose mansônica, evidenciada pela presença de unidades espaciais com

riscos diferenciados.

Através da observação visual dos mapas representados nas figuras 10 a 14, nota-

se que o potencial de risco moderado para transmissão da esquistossomose predominou

nos anos de 1998 e 1999. No entanto, em 2000, houve um incremento do número de

caramujos coletados e positivos (tabela 1) devido aos altos índices pluviométricos

atingidos neste ano, acarretando o surgimento de novos criadouros e conseqüentemente

de novos focos de transmissão. Apesar desse fato, a proporção de Biomphalaria glabrata

positivos para S. mansoni entre os coletados no ano 2000 correspondeu a 10,4%,

estando abaixo dos valores obtidos nos outros anos de estudo, porém representando o

ano de maior importância epidemiológica.

Do método

Dentre as dificuldades encontradas na metodologia empregada está a falta de

atualização das bases digitais, as quais são produzidas a partir de cartas resultantes de

fotografias aéreas que, por seu elevado custo, não são renovadas com a periodicidade

desejada. Ao observar as Figuras 4 e 7, constata-se inúmeras coleções hídricas,

principalmente, na Enseada dos Golfinhos, uma vez que as bases digitais utilizadas

representam a realidade de 1997. Atualmente, o panorama das duas localidades é outro

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63

devido às alterações provocadas no ecossistema ao longo dos anos, fator este que exerce

influência no processo de urbanização da esquistossomose.

Apesar de se ter utilizado as plantas topográficas cadastrais do projeto

UNIBASE, nas duas localidades, houve dificuldade em relacionar os logradouros das

bases digitais com aqueles encontrados no trabalho de campo. Além disso, as

coordenadas capturadas por GPS do foco encontrado na Enseada dos Golfinhos não

foram localizadas na quadra que continha a Lagoa Constança, e sim, na quadra em

frente.

No que se refere à construção dos mapas temáticos referentes à Praia do Forte,

optou-se por relacionar os dados descritivos ao logradouro e não a cada foco

encontrado, pois, no levantamento de campo, a maior parte das estações de coleta dos

caramujos, foi associada ao logradouro. Contudo, este fato dificultou a análise da

distribuição espacial dos focos, uma vez que o logradouro é sempre representado por

uma linha na base cartográfica, sendo necessário a transformação de linha em pontos

para que os dados descritivos fossem inseridos ao longo de toda rua. Apesar disso, os

mapas temáticos produzidos representam claramente o potencial de risco de transmissão

da esquistossomose mansônica em cada ano considerado.

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6 - CONCLUSÕES

O SIG mostrou-se como instrumento de grande importância na caracterização da

localização geográfica dos focos de esquistossomose na Enseada dos Golfinhos e Praia

do Forte.

As áreas de riscos biológicos e ambientais ocupam toda a localidade da Praia do Forte,

configurando-se microáreas de risco leve, moderado ou intenso para transmissão da

esquistossomose mansônica a depender do ano de estudo.

Os dados obtidos na pesquisa possibilitam oferecer, aos serviços municipais de saúde,

um instrumento que facilita o monitoramento dos focos de esquistossomose na Ilha de

Itamaracá.

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