distribuiÇÃo gratuita. nÃo É permitida a … · numa doutrina que orienta o respetivo...

97
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO. ©

Upload: others

Post on 25-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Page 2: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

O E S S E N C I A L S O B R E

Cooperativas

Cooperativas.indd 1 10-01-2013 18:37:01

Page 3: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Cooperativas.indd 2 10-01-2013 18:37:01

Page 4: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

O E S S E N C I A L S O B R E

CooperativasRui Namorado

Cooperativas.indd 3 10-01-2013 18:37:01

Page 5: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Cooperativas.indd 4 10-01-2013 18:37:01

Page 6: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Índice

7 Apresentaçção9 1  Introdução17 2  Origem  do  cooperativismo23 3  Breve  panorama  cooperativo23 3.1  As cooperativas no mundo atual27 3.2  As cooperativas na União Europeia29 3.3  As cooperativas em Portugal

33 4  A  identidade  cooperativa33 4.1  Abordagem introdutória34 4.2  Aorigemdosprincípioscooperativosesua

atualidade38 4.3  Noçãodecooperativaevalorescooperativos

na atualidade41 4.4  Os princípios cooperativos na atualidade

49 5  A  ordem  jurídica  do  cooperativismo  emPortugal

49 5.1  Enquadramento introdutório51 5.2  A Constituição da República Portuguesa

(CRP)51 5.2.1  Introdução53 5.2.2  O setor cooperativo e social57 5.2.3  OutrospreceitosdaCRPcomincidência

direta nas cooperativas61 5.2.4  Conclusão64 5.3  O Código Cooperativo64 5.3.1  Introdução65 5.3.2  Noção de cooperativa e sua natureza

jurídica69 5.3.3  Âmbito da atividade das cooperativas

Cooperativas.indd 5 10-01-2013 18:37:01

Page 7: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

70 5.3.4  Ramos cooperativos71 5.3.5  Operações com terceiros72 5.3.6  Espécies de cooperativas72 5.3.7  Capital social73 5.3.8  Estrutura orgânica das cooperativas73 5.3.9  Direito subsidiário

75 6  Epílogo — para  uma  simplificação  dofuturo

87 Bibliografia

Cooperativas.indd 6 10-01-2013 18:37:01

Page 8: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 7

Apresentação

Rui Namorado é uma personalidade que, pelasua obra e ação, se tornou numa figura incontor‑náveldopensamentocooperativoportuguês,comreconhecimento internacional. Não admira, pois,que a sua abordagem da realidade cooperativaassumaumanaturezaiminentementedoutrináriasemdeixardeser,aomesmotempo,deformaexi‑gente e rigorosa, pedagógica e informativa.

Neste Ano Internacional das Cooperativas(AIC—2012), declarado pela Organização dasNações Unidas (ONU), e que a CooperativaAntónio Sérgio para a Economia Social (CASES)recebeuaincumbênciadeorganizarnonossopaís,tornava‑se imperioso, sem desdouro por outrosestudiosos do cooperativismo em Portugal, dar apalavra a Rui Namorado, uma voz reconhecida, erespeitada,portodosnomundodaacademiaenomundo da ação.

Nestelivroaborda‑seocooperativismoligandoa história, e a essência dos seus princípios, às

Cooperativas.indd 7 10-01-2013 18:37:01

Page 9: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 8

circunstâncias da atual crise social e económicaglobal, pondo em relevo um modelo organizativoque,pelasuaprimeiraligaçãoaohomemenãoaocapital,representaumaesperançaparaofuturoeque, por essa razão, tem sido estudado com reno‑vado interesse por especialistas e académicos detodo o mundo.

Manifestamos,apropósito,onossoreconheci‑mento, e prestamos homenagem, a Rui Namora‑do—o Homem e o Estudioso—que, com espíritodedádiva,comoosrestantesautoresquecolabora‑ramnasediçõesdadasàestampanoâmbitodestaparceria entre a INCM e a CASES, contribuíramparadinamizarodebateedarvisibilidadeaotemado cooperativismo.

Eduardo GraçaPresidente da Direção da CASES.

Cooperativas.indd 8 10-01-2013 18:37:01

Page 10: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 9

1Introdução

1.1 As cooperativas são organizações de umanatureza empresarial atípica, cujos membrosvisam, por seu intermédio, a prossecução deobjetivoscomuns.Essesobjetivospodemser,nãosó de natureza económica, mas também socialou cultural. A principal energia que as anima é acooperaçãoentreosseusmembros.Éatravésdelaqueatingemosseusobjetivos.Objetivossuficien‑temente diversificados para terem originado umamultiplicidade de ramos cooperativos. O tipo decooperaçãovariaderamopararamo,umavezqueasdiferençasqueosseparamseradicam,emlargamedida,nadiversidadedaspráticassociaisoudasatividades cooperativizadas.

As cooperativas são encaradas como uma sín‑tese de associação e de empresa. São associaçõesqueatuamatravésdeumaempresa.Sãoempresascujo titular é uma entidade associativa. Por isso,não estamos perante um fenómeno que se limitea congregar duas componentes separáveis, mas

Cooperativas.indd 9 10-01-2013 18:37:01

Page 11: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 10

perante uma simbiose, perante uma síntese, cujaperenidade é indispensável para que as coopera‑tivasnãocorramumriscoacrescidodesedesmo‑ronarem.Pode,portanto,dizer‑seacercadelasquesão uma entidade associativa de tipo especial queé titular de um tipo particular de empresa, sendoa simbiose das duas vertentes um dos seus maisfortes elementos identitários.

A amplitude do universo cooperativo, à escalaplanetária,ésignificativa;omesmoacontecequernoplanoeuropeu,queremPortugal.Mas,hojeemdia, a sua importância não pode ser plenamentecompreendida,senãooinserirmosnumconjuntoainda mais vasto, o da economia social. Conjuntoque não cabe aqui analisar, mas cujo potencialemergente, quer em Portugal, quer na Europa,quernomundo,nãodevesermenosprezado.Paradeixar dele uma imagem impressiva em palavrasnecessariamentebreves,podemosusarumametá‑fora para o descrever: a economia social pode serencarada como uma galáxia integrada por múlti‑plas constelações. As cooperativas corresponde‑riam,destemodo,aumadasdiversasconstelaçõesque constituem a galáxia da economia social.

Percebe‑se assim como é apropriado dizer‑seque as cooperativas pertencem a um espaço par‑ticulardeorganizaçõesepráticassociais,vocacio‑nadoparaprotagonizarumaarticulaçãointerativaentreoeconómicoeosocial.Espaçoque,longedeserumartefactomuseológico,oriundodeumpas‑sadoqueseesvai,éumaverdadeiracontaminaçãovirtuosadopresentepelofuturo;ou,sepreferirmos,a abertura, no presente, de janelas de futuro. Porisso,numaoutraperspetiva,podemosafirmarque

Cooperativas.indd 10 10-01-2013 18:37:02

Page 12: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 11

umasociedadefuturavestiriaascoresdospesade‑losecorreriaumpermanenteriscodeimplosão,sedela estivesse ausente a economia social.

1.2Ascooperativasdevemserencaradascomoum todo, quer diacrónica, quer sincronicamente,ou seja, quer olhando para a sua história, querolhando para o panorama das que atualmenteexistem. A essa realidade global, um discurso queapenasqueiraidentificá‑la,podetambémchamarfenómeno cooperativo, realidade cooperativa oumesmo universo cooperativo.

Fazendo eco de diferentes ângulos de abor‑dagem, podem ainda usar‑se designações comomovimento cooperativo, setor cooperativo ecooperativismo.Emcertostiposdediscurso,essasexpressões podem ser usadas indiferentemente,sem prejuízo de haver casos em que a opção porumadelasseimponha.Defacto,elasnãosãodesig‑naçõespuramentedescritivas,aocontráriodasante‑riormente mencionadas. Na verdade, ao falar‑seem movimento cooperativo está a referir‑seo conjunto das cooperativas numa perspetivaevolutiva,historicamentesituada,encaradocomoummovimentosocialqueassumeumaidentidademarcadaporumadinâmicaeumhorizonteespecí‑ficos.Aexpressãosetorcooperativotemumaforteconotaçãosincrónica,referindo‑seaoconjuntodascooperativasqueexistemnumacertacircunstânciatemporal e espacial, radicado em característicasespecíficas. Em si própria, reflete o caráter mistode uma economia radicada numa diversidade desetores, um dos quais é o cooperativo. Quando sefala em cooperativismo, faz‑se referência quer apráticas sociais que são fruto de uma trajetória

Cooperativas.indd 11 10-01-2013 18:37:02

Page 13: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 12

históricaespecíficaqueasincorpora,queràsideiasque as ajudam a compreender e se congregamnumadoutrinaqueorientaorespetivoproselitis‑mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las,quer ao tipo particular de normatividade que é asubstância da identidade cooperativa.

1.3Mas,afinal,oqueéumacooperativa?Pode‑mos responder, em sede introdutória, recorrendoà noção que a Aliança Cooperativa Internacional(ACI) 1 consagrou: «Uma cooperativa é uma as‑sociação autónoma de pessoas unidas voluntaria‑mente para prosseguirem as suas necessidades e aspirações comuns, quer económicas, quer sociais, quer culturais, através de uma empresa comum democraticamente controlada.»

Como se vê, também a ACI, fiel a uma pers‑petiva que assumiu desde a sua fundação em1895, encara as cooperativas como uma simbiosede associação e de empresa. Valoriza a sua auto‑nomia, destaca o carácter voluntário da ligaçãodos cooperadores às cooperativas, aponta comoobjetivo a satisfação de um leque diversificado denecessidades e aspirações, assegurando sempre asua natureza democrática.

1.4Indoumpoucomaisalém,devesalientar‑seque as cooperativas visam, em primeiro lugar, serúteis aos cooperadores, o que significando desdelogo terem uma utilidade social direta limitadaaos seus membros, não impede que tenham tam‑bém uma utilidade social indireta que se projeta

1 Apartirdeagora,paradesignaraAliançaCooperativaInterna‑cional,usareiasiglaACI.

Cooperativas.indd 12 10-01-2013 18:37:02

Page 14: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 13

em toda a sociedade. Efetivamente, além de umacooperativasersocialmenteútilpelaprossecuçãodos seus fins específicos, ela é‑o também, pelosimples facto de existir, por prosseguir interessesdoscooperadores,atravésdacooperaçãoentreeles.Ouseja,acooperatividadeé,porsisó,socialmenteútil,funcionandointernamentecomoeloentreoscooperadoreseexternamentecomoumelementopotenciador da coesão social.

A especificidade cooperativa vive, principal‑mente, da existência de uma lógica cooperativadistintadalógicalucrativistadasempresascapita‑listas;lógicaestaque,comotodossabemos,édomi‑nantenassociedadesatuais.Alógicacooperativaé,porisso,umalógicasubalterna,espelhandoassimasubalternidadedocooperativismonassociedadescapitalistas. Subalternidade que não implica umdesvalor ético, nem uma quebra de legitimidade,espelhandoapenasumarelaçãodeforças,umdes‑nívelentreoforteeofraco,entreodominanteeodominado.Subalternidadequenãoincorporaumaatitudedesubmissãoeconformismo,masque,pelocontrário,deveráconjugar‑sesemprecomumaati‑tudederesistênciaaodomínio,resultantedotipodesociedadeemquevivemos.Subalternidadequecontribuimuitoparaainvisibilidademediáticadofenómenocooperativo,aqual,porsuavez,exprimee potencia a sua desconsideração simbólica.

Mas essa subalternidade, como aliás a de todaa economia social, reflete muito mais a circuns‑tância de estarmos perante sementes de futurodo que perante resquícios do passado. Se há umpós‑capitalismo, cujos prenúncios se inscrevemno presente como focos de resistência às forças

Cooperativas.indd 13 10-01-2013 18:37:02

Page 15: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 14

dominantes, às quais contrapõem uma forteenergia humanista, as cooperativas inscrevem‑seseguramenteentreessesprenúncios,emboracomintensidadesdistintas.Intensidadesdistintas,querem virtude das conjunturas, quer da sua funçãoeconómica concreta, quer mesmo da identidadesocialdosseusmembrosoudasuavisãopolítico‑‑ideológica do mundo.

Constituem também, por isso, focos de resis‑tênciaobjetivaaocapitalismo,umavezqueanteci‑pam,dealgummodo,oquepoderávirdepoisdele.Resistênciaobjetiva,porestarinscritaestrutural‑mentenanaturezadascoisas,independentementedasopçõessubjetivasdosprotagonistasindividuaisdas organizações em causa.

De facto, nas cooperativas, o capital está aoserviço dos cooperadores, como instrumento dosseusobjetivos;nãosãooscooperadoresqueestãoao serviço do capital, como instrumentos da suareprodução. É, portanto, verosímil sustentar‑seque a lógica cooperativa faz parte de tudo aquiloque, no atual contexto capitalista, antecipa já umpós‑capitalismo.Porisso,essetipoderesistência,aquenos estamos areferir, estánecessariamenteenvolvido por uma atmosfera de alternatividade,em face do tipo de sociedade atualmente domi‑nante.

Esta energia futurante não compromete avocação cooperativa de responder diretamente aproblemas concretos existentes. Pelo contrário,uma das fontes dessa energia é a sua eficácia naresposta imediata às consequências do funciona‑mentodassociedadesatuais,asquaissãogeradorasde sofrimento humano e de disfunções sociais e

Cooperativas.indd 14 10-01-2013 18:37:02

Page 16: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 15

económicas que perturbam o desenvolvimentosocial. É esta vocação para uma reação rápida,em face de questões concretas, que credibiliza ascooperativasparainscreveremassuaspráticasnosmaislargoshorizontesalternativos.Talcomoéestafamiliaridadecomofuturoquedáaoseuquotidia‑no consistência e profundidade históricas.

Esta potencial vocação alternativa das coo‑perativas não é, nem tinha que ser, psicologica‑mente assumida por todos os cooperadores, nempartilhada por todas as tendências doutrináriasdo cooperativismo. O movimento cooperativopodecomportar,semosviolentarnemlhesexigirreserva mental, os que encaram as cooperativascomoorganizaçõescompatíveiscomocapitalismo,cujas sequelas de algum modo procuram atenuare cujas consequências predatórias pretendemmitigar. Mas pode comportar igualmente os que,alémdisso,veemnascooperativasalfobresdeumpós‑capitalismo que elas próprias parcelarmenteantecipam.Ouseja,comportaosquesecontentamcom os efeitos curativos imediatos das práticascooperativas e os que, para além deles, e sem osmenosprezarem, nelas valorizam um efeito deirradiaçãovirtuosadacooperatividade,rumoaumatransformação regeneradora de toda a sociedade.O curso da história dirá quem está mais perto deter razão.

Cooperativas.indd 15 10-01-2013 18:37:02

Page 17: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Cooperativas.indd 16 10-01-2013 18:37:02

Page 18: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 17

2Origem  do  cooperativismo

2.1  Encarando o cooperativismo como proje‑ção e apologia do movimento cooperativo que,desse modo, com ele se identifica, pode dizer‑seque emergiu, com a fisionomia atual, no início doséculo xix, conjugadamente com a irradiação docapitalismo. Manifestou‑se então como uma rededeorganizaçõespredominantementeeconómicas,cujoeixoprincipaleraacooperaçãoentreosseusmembros.

As cooperativas modernas traduzem assim acentralidade de uma prática social, a cooperação,que é um dos tecidos conjuntivos das sociedadeshumanas, tendo, aliás, havido uma época naalvoradadahistóriaemqueelafoiumaverdadeiracondição de sobrevivência da espécie humana.

Depois, evoluiu‑se das sociedades assentes nacooperação livre para sociedades de exploração,onde passou a imperar uma colaboração pro‑dutiva forçada. Quando se globalizou o tipo desociedade em que se maximizou a eficácia dessa

Cooperativas.indd 17 10-01-2013 18:37:02

Page 19: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 18

exploração, isto é, no capitalismo, reanimou‑sea cooperatividade que estivera latente durante olongo período decorrido desde o esbatimento dacooperação livre.

Defacto,aolongodosséculos,múltiplasformasdecooperaçãolivresobreviveramemarquipélagosdispersos, no espaço e no tempo, conservando ofenómeno da cooperação num estado de latência.Noséculoxix,aeclosãodomovimentocooperati‑vo moderno pôs fim a essa espécie de hibernaçãohistórica.

2.2 As cooperativas são, assim, a expressãomoderna das práticas sociais de cooperação, bemgravadas no seu código genético, mas revelam‑seatravésdeummovimentosocialqueseafirmanoseio do movimento operário como uma das suasvertentes, o movimento cooperativo.

Porisso,osocialistafrancêsJaurèsviunomovi‑mentooperárioumaarticulaçãodetrêspilares:umpolítico,umsindicaleumcooperativo.Opolítico,correspondenteaospartidospolíticosoperáriosdematriz socialista; o sindical, envolvendo a defesadostrabalhadores,emfacedospatrões,pugnandopeladefesadosseusdireitos;ocooperativo,tradu‑zindoaintervençãonavidasocialdeprotagonistasligadosaomovimentooperário,porintermédiodeuma atividade empresarial.

Harmoniza‑se, no essencial, com esta pers‑petiva aquela que valoriza a existência deuma nebulosa associativa inicial, que evoluiudiferenciando‑se.Àluzdela,ofenómenoassocia‑tivo amadureceu suscitando três tipos distintosde associações: os partidos, os sindicatos e ascooperativas.

Cooperativas.indd 18 10-01-2013 18:37:02

Page 20: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 19

Esta evolução estruturada em três vias prin‑cipais não impediu que outros amadurecimentosdiferenciadores, mas socialmente menos especí‑ficos, tivessem ocorrido. Uma destas especializa‑ções, entre as mais relevantes, foi a que suscitouomutualismo,mantendo‑seanaturezaassociativadasentidadesqueointegraram.Menosuniversais,mastambémmarcantesnalgunspaíses,surgemasassociações de instrução pública e as associaçõesrecreativas.

2.3Acentralidadedoscomportamentoscoope‑rativosinscritanocódigogenéticodestasorganiza‑çõeseasuainserçãonomovimentooperário,queemergiucomsignificativarelevâncianaEuropadoséculo xix, são os elementos mais relevantes doenraizamentohistóricodaidentidadecooperativa.E este segundo aspeto dá‑lhe naturalmente umatonalidade social própria.

Mas a especificidade dessa tonalidade social,que reflete uma conexão íntima entre as práticascooperativas e o carácter operário do movimentosocialqueasexprimiueimpulsionou,nãosedeveentendercomoseomovimentocooperativotivessesido, em todos os casos, desde o seu inicio, ummovimento apenas de operários e, muito menos,como se sempre assim se tivesse mantido.

De facto, houve países, como foi o caso daAlemanha, em que o cooperativismo se começaporafirmarmaisclaramentenosambientesruraisdo que no seio do operariado. No entanto, seriaesquecer o essencial, menosprezar, numa pers‑petiva global, o vínculo de inserção primária domovimento cooperativo no movimento operário.Em contrapartida, encarar esse vínculo como se

Cooperativas.indd 19 10-01-2013 18:37:02

Page 21: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 20

significassequenascooperativasatuaisapenassecongregavamoperáriosrepresentariaumaenormedistorção da realidade.

De facto, hoje, nas organizações cooperativasestãocongregadoscooperadoresoriundosdosmaisdiversos grupos sociais que representam diversossetores produtivos, sendo algumas delas, pelo seutipoepeloseuobjeto,participadasporelementoscom múltiplas pertenças sociais. Há até algunsramos em que predominam, ou têm inequívocarelevância, as cooperativas de empresários, comoé o caso do ramo da comercialização.

2.4Apartirdestaconstatação,podeperguntar‑‑sequesentidotematribuiraindaumsignificado,que não seja o da sua relevância histórica, à in‑serção do movimento cooperativo no movimentooperário. Será possível encontrar uma respostaa essa questão, lembrando que o fenómeno coo‑perativo está fortemente impregnado, no cerneda sua própria identidade, por uma componentenormativa. E nesta assumem uma centralidadeevidente os princípios cooperativos, conjunto demensagensnormativasgeraisondeestáoessencialda identidade cooperativa.

Ora,essesprincípiostêmumaorigemhistóricabem determinada: emergiram, na sua primeiraversão, numa cooperativa de operários em 1848,nos arredores de Manchester. E essa cooperativaemergiu em consonância com a atmosfera ideo‑lógica do movimento operário. As suas mutações,ocorridas através de reformulações feitas no qua‑dro da ACI, nos anos 30, 60 e 90 do século xx,não romperam com a sua matriz inicial, a qualincorpora, em si própria, uma ligação genética do

Cooperativas.indd 20 10-01-2013 18:37:02

Page 22: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 21

movimento cooperativo ao movimento operário.Esseaspetodocódigogenéticocooperativonuncapode, portanto, ser desconsiderado em qualquerabordagemaqueseprocedanestecampodeaná‑lise,sobpenadeseesquecerumelementocentraldo objeto de estudo.

2.5 Nesta perspetiva, embora a cooperativi‑dade conserve, por essa via, a marca genética domovimentooperário,eladeixoudeserumtipoderesposta usado apenas por essa classe social. E,sendo assim, vale a pena procurar‑se a existênciadeumamotivaçãogenéricatípicaquepossaajudaracompreenderessealargamentodoespaçosocialda sua incidência.

Porventura, o traço mais comum será o dehaver estímulo à cooperatividade sempre que ospotenciais cooperadores prevejam a concorrên‑cia ou o enfrentamento com entidades dotadasde uma força ou de um potencial claramentemaiores e resolvam responder solidariamente aesse desafio. Na verdade, a especificidade desseartefactoempresarial,historicamenteradicadonomovimento operário, foi a de reunir um máximode sinergias, perante a provável competição cominiciativas idênticas no objeto de atividade, deumaenvergaduramuitomaioroufinanceiramentemais robustas.

Pode acontecer que a resposta cooperativase baseie também na necessidade de se daremrespostasrápidaseconcertadasaproblemasespe‑cialmentegraves,inesperadosoumelindrosos.E,éclaro,nãopodemmenosprezar‑seasvirtualidadesdeinduçãodecomportamentossocialmenteposi‑

Cooperativas.indd 21 10-01-2013 18:37:02

Page 23: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 22

tivoseeticamentevirtuosos,inerentesàspráticascooperativas.

Na verdade, a origem e o código genético dascooperativas não podem ser esquecidos sob penade se não compreender a lógica mais funda dofenómeno em causa.

Cooperativas.indd 22 10-01-2013 18:37:02

Page 24: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 23

3Breve  panorama  cooperativo

3.1As  cooperativas  no  mundo  atual

Um breve percurso através de alguns aspetosmarcantesdopanoramamundialdascooperativaspode contribuir para a compreensão do fenóme‑no cooperativo. A importância desse contributodepende muito do relevo nele atribuído à AliançaCooperativa Internacional (ACI). De facto, estaorganização, já atrás mencionada de relance,fundada em 1895 e constituída por organizaçõescooperativas, abrange na sua quase totalidadeas atualmente existentes no mundo. Na verda‑de, todos os países, económica, demográfica oupoliticamente mais relevantes, têm organizaçõescooperativas integradas na ACI.

Nãoexistequalqueroutraorganizaçãodecoo‑perativas,comâmbitomundial,quenãosecircuns‑creva a um ramo, ou a um conjunto limitado deramos.EnãosepodeesquecerqueaACIéaestru‑turalegitimadoradavalidadedosprincípioscoope‑rativos,elementosbásicosdaidentidadecooperati‑vaecomotalrecebidosemmuitasordensjurídicas.

Cooperativas.indd 23 10-01-2013 18:37:02

Page 25: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 24

A fundação da ACI em 1895 foi precedida porumalongagestação,especialmenteprotagonizadapelosmovimentoscooperativosdaInglaterraedaFrança, que em conjunto com os da Alemanha,Itália e Bélgica podem ser considerados como oseuterrenodeorigem.Tendonascidoquaseexclu‑sivamente confinada à Europa, foi‑se abrindopaulatinamente às Américas e à Ásia. Com a des‑colonização, desencadeada no início da segundametade do século xx, tornou‑se mais plena a suamundialidadeaoestender‑seàÁfricaeaocomple‑tarasuaimplantaçãoasiática,universalizando‑se,assim, verdadeiramente.

Umsignificativosinaldaimportânciadocoope‑rativismomundialéadimensãoeorelevodaACI,que representa cerca de um bilião de membrosindividuais, distribuídos por 98 países, aos quaispertencem as 273 instituições cooperativas que aintegram 1.Segundoainformaçãomaisrecente 2,ospaísesligadosàACIcommaiornúmerodecoope‑radores são a Índia (242 milhões), a China (160)

1 Todasasinformaçõesetodososdadosestatísticosaquiapresen‑tadosrespeitantesaopanoramacooperativomundialbaseiam‑seempublicaçõesouempáginaswebdaACI.Háumagrandedifi‑culdade em conseguir estatísticas globais fiáveis e atualizadasrespeitantesaouniversocooperativo.Porisso,todososnúme‑rosmencionadosnaspáginasseguintespretendemapenasdarumaideiageraldaimportânciaedaevoluçãodofenómenocoo‑perativo,comotaldevendoserencarados.Têmfontesdiversas,emboratodaselascomorigemnaACI,estandoemcertoscasosdistanciadas no tempo ou estruturadas de maneira diferente.

2 A página web correspondente à «Global Business Ownership 2012».

Cooperativas.indd 24 10-01-2013 18:37:02

Page 26: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 25

e os EUA (120). Como vimos, ao todo, no planomundial,existematualmentecercadeumbiliãodecooperadores,oquerepresentaaproximadamenteotriplodaspessoasquesãotitularesdeparticipa‑ções sociais em sociedades comerciais.

Hácercadeumadécada,quandoonúmeroesti‑madodecooperadoreseradecercade800milhões,à Europa eram atribuídos cerca de 118 milhões;à Ásia e Pacífico 415 milhões; à África cerca de9 500 000; às Américas à volta dos 182 milhões 3.

Observando‑se a evolução destes números, aolongodosanos,podever‑sequeháumaapreciávelvariabilidadedemuitosdeles.Semprejuízodeissoresultar, nalguns casos, de uma real variação nonúmero de cooperativas e de cooperadores, emmuitos outros traduz novas filiações de organiza‑çõescooperativas,atéaíexterioresàACI;ou,pelocontrário, a circunstância de haver cooperativasque entretanto a abandonaram. Por isso, todosestes grandes números devem valer apenas comoindíciosdaimportânciadofenómenocooperativoenão como um espelho rigoroso da sua dimensão.

A ACI adota uma tipologia cooperativa queconsagra os seguintes ramos (setores na sua ter‑minologia): agricultura, consumo, crédito, pesca,habitação, indústria, seguros e multissetoriais. Ascooperativas não integráveis em qualquer dessascategorias ficam incluídas num conjunto residualque lhes serve de mero recipiente.

O ramo com maior número de cooperadores éo do crédito, seguindo‑se o do consumo e depois

3 EstesdadosforamextraídosdapáginadaACInaInternet.

Cooperativas.indd 25 10-01-2013 18:37:02

Page 27: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 26

odascooperativasmultissetoriais.Tomandocomoreferênciaonúmerodecooperativas,oramoagrí‑cola é o primeiro; o do crédito é o segundo; o dahabitação, terceiro. No que concerne ao númerode membros, os setores menos significativos sãoo das pescas e o industrial. Quanto ao número decooperativas,osmenosrelevantessãoodossegu‑ros e o das pescas. A categoria residual comporta5,4%dototaldoscooperadorese3,1%donúmerode cooperativas 4.

Comoilustraçãoexemplificativadestebrevepa‑norama,podemserrecordadosmaisalgunsdados 5.Noplanodacriaçãodeemprego,emFrança,21000cooperativas geravam, em 2010, mais de 1 milhãode empregos, ou seja, 3,5 % da população ativaocupada.NoQuénia,63%dapopulaçãovaibuscaracooperativasmeiosdesubsistência,havendoem2009, 250 000 quenianos que trabalhavam emcooperativas. Na Indonésia, as cooperativas gera‑vam, em 2004, 288 589 empregos. Nos EstadosUnidos, 30 000 cooperativas suscitam mais de2milhões de empregos.

Quanto à importância económica das coope‑rativas, também podem lembrar‑se alguns dados.No Japão, as cooperativas agrícolas, segundoinformação de 2007, atingiram então 90 milhõesde dólares de vendas e abrangem 91% de todosos agricultores. Nas Ilhas Maurícias, 50% dosplantadores de cana‑de‑açúcar agrupam‑se em

4 EstesdadosforamobtidosempublicaçõesoficiaisdaACI.5 Oselementosinformativosqueaseguirsemencionamconstam

depáginaswebpertencentesaouniversodaACI.

Cooperativas.indd 26 10-01-2013 18:37:03

Page 28: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 27

cooperativas,asquaisdesempenhamtambémumpapelderelevonoutrostiposdeatividadeagríco‑la, tais como legumes, fruta, flores, leite, carne epeixe. Na Costa do Marfim, segundo informaçãode 2004, as cooperativas investiram 26 milhõesdedólaresnacriaçãodeescolas,naconstruçãodeestradasruraisenacriaçãodeclínicasmaternais.Na Nova Zelândia, de acordo com dados de 2007,22% do produto interno bruto é gerado por em‑presascooperativas,cabendoàscooperativas95%domercadoquerdoslaticínios,querdoslaticíniospara exportação.

Indicadoacimaonúmerodecooperadoresquese estima existirem no mundo atual, vale a penamencionarograudepenetraçãodascooperativasno conjunto da população de alguns países. NoCanadá, 4 em cada 10 habitantes são membrosde, pelo menos, uma cooperativa, enquanto issoacontececom70%dapopulaçãonaprovínciafran‑cófonadoQuebec.NaMalásia,6780000pessoas,isto é, 27% de toda a população, são membros decooperativas. Na Noruega há 2 milhões de coope‑radores, o que significa mais de 40% do total dapopulação. Em Espanha, em 2008, 15% da popu‑lação, correspondendo a 6,7 milhões de pessoas,integrava uma cooperativa.

3.2As  cooperativas  na  União  Europeia

AlgunsdosatuaismembrosdaUniãoEuropeia,comovimos,foramoslugaresonde,noséculoxix,despontou o movimento cooperativo. Entre eles,

Cooperativas.indd 27 10-01-2013 18:37:03

Page 29: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 28

Inglaterra, França, Itália, Bélgica e Alemanha sãoosquemerecemmaiordestaque.Tambémporisso,umapresençarelevantedofenómenocooperativona Europa de hoje é algo de natural.

Se tivermos em conta os 27 países da UniãoEuropeia, de acordo com a última informaçãodisponível,existemneles108milhõesdecoopera‑doresqueintegram137milcooperativas,gerando4milhõese700milempregos 6.SenosreportarmosaoconjuntodospaísesdaEuropa,numtotalde37 7,os números sobem para quase 123 milhões decooperadores,onúmerodecooperativasaproxima‑‑se de 158 mil e os empregos gerados atingem os5milhões e 300 mil 8.

Estesdadosapenaspretendemtornarevidentea importância do fenómeno cooperativo no planoeuropeu.Devem,noentanto,serconsideradossemqueseesqueçaqueoscooperadoresdeváriosdosramos cooperativos, sem prejuízo da inequívocapertença a pelo menos um deles, desenvolvem asua principal atividade produtiva noutros tiposdeorganizações.Defacto,aintegraçãoemgrandepartedosramosdosetorcooperativonãosignificauma imersão plena numa vivência cooperativa

6 Se quisermos referir números precisos, devemos falar em137 157 cooperativas, em 108 015 993 cooperadores e em4722048empregos.

7 Os10paísesemcausasão:Rússia,Bielorrússia,Croácia,Geórgia,Moldávia, Noruega, Sérvia, Suíça, Turquia e Ucrânia. ApenasquantoàGeórgianãoforamdifundidosdados.

8 Se,umavezmais,quisermosreferirnúmerosprecisos,devemosfalarem157606cooperativas,em122858410cooperadoreseem5357246empregos.

Cooperativas.indd 28 10-01-2013 18:37:03

Page 30: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 29

quotidiana, embora implique necessariamentealgum contacto com ela.

3.3As  cooperativas  em  Portugal

No caso português, as cooperativas são o polodominantedeumsetordepropriedadedosmeiosdeprodução,osetorcooperativoesocial,colocadopelaConstituiçãodaRepúblicaPortuguesa(CRP)ao lado dos setores público e privado. O CódigoCooperativo aplica‑se a todas as cooperativas,consagrando a existência de 12 ramos, cada umdosquaiséobjetodeumdiplomalegalespecífico.

Paraavaliarmelhorosignificadodaatualden‑sidade cooperativa, talvez valha a pena compararos números que presentemente a refletem comos de épocas anteriores, tomando como pontosde referência alguns dos anos mais marcantes dahistória portuguesa dos últimos 120 anos. Destemodo, refira‑se que em 1900 existiam em Por‑tugal 17 cooperativas, enquanto os mais recentesdadosoficiaisdaCASESapontampara3109(31dedezembro de 2010) 9. Valorizando‑se como datas

9 NoâmbitodoProjeto«Contasatélitedaeconomiasocialde2010»levadoacabopeloINEepelaCASES,foicuidadosamentefiltradooroldascooperativasexistentes,tendo‑seapenasemcontaasqueseencontravamematividade.Onúmeroaquesechegou,sendomaismodesto,étalvezmaissignificativo:2232.Mas,nãohaven‑dotermosdecomparaçãoanteriores,comoíndicedasuaevolução,continuaafazersentidoavalorização,paraefeitoscomparativos,dos dados antes fornecidos pelo INSCOOP e agora pela CASES.

Cooperativas.indd 29 10-01-2013 18:37:03

Page 31: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 30

intermédias, as correspondentes aos aconteci‑mentos mais relevantes da evolução da sociedadeportuguesa no século xx, podem apontar‑se a daImplantação da República, a do golpe de Estadofundador do salazarismo e a do 25 de Abril. Poisbem, em 1910 existiam 62 cooperativas; em 1926,o seu número era de 400; em 1974, de 950.

Comparando‑a com o ritmo da evoluçãoanterior,aexpansãodesencadeadapelo25deAbrilde1974foiexplosiva.Atéaofimde1976,1000novascooperativas se legalizaram. Em 1978, o totalpassou a barreira dos 3000, tendo o seu númerocontinuado a aumentar até ter atingido 3917 em1985. Estes números eram, contudo, exagerados,emvirtudedafaltadeumaverificaçãorigorosadainatividade, e mesmo da mortalidade, das coope‑rativas, o que num período socialmente dinâmicosuscita rapidamente apreciáveis discrepâncias.

Seja como for, só em 1987, a publicação de uminquérito realizado pelo INSCOOP permitiu terdisponíveisdadosmaisconformescomarealidade.Em31dedezembrode1986,deacordocomessesnúmeros,existiamemPortugal2867cooperativas.Três anos depois, em 31 de dezembro de 1989,o total de cooperativas ascendia a 3475, o queglobalmente evidenciava uma expansão relativa‑mentemoderada.Mas,posteriormente,atendênciainverteu‑se:em1990,foramdadascomoexistentes3412 cooperativas; em 1991, 3249; em 1992, 3102;em 1993, 3065; em 1994, 3024; em 1995, 2949.Onúmerodecooperativasreduziu‑se,assim,apro‑ximadamente, ao nível atingido em 1986.

A tendência para a diminuição do númerode cooperativas, que já se verificava desde 1989,

Cooperativas.indd 30 10-01-2013 18:37:03

Page 32: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 31

inverteu‑seem1996.Defacto,em31dedezembrode 1996, estavam recenseadas em Portugal, peloINSCOOP, 2965 cooperativas, o que representaumligeiroaumentorelativamenteaoanoanterior.No entanto, os dados correspondentes a 31 dedezembrode1997mostravamqueatendênciaparao decréscimo do número de cooperativas pareciaestar de regresso, já que nessa data foram recen‑seadas2820cooperativas.Contudo,deacordocomosdadosde31dedezembrode1998,duranteesseano o número de cooperativas voltou a aumentarpara 2878, tendo essa tendência continuado aafirmar‑se nos anos seguintes: 1999: 2949 coope‑rativas;2000:3036;2001:3077;2002:3121;2003:3128; 2004: 3144; 2005: 3184; 2006: 3260; 2007:3297. Esta série de 10 anos de lento crescimentodo número de cooperativas inverteu‑se em 2008(3288),tendocontinuadonumalinhadescendentenos anos seguintes: 2009: 3128; 2010: 3109.

Também neste caso, a simples comparaçãonumérica pode ser ilusória, devendo, por isso, serapenas encarada como um indício entre outros,quanto ao modo como evolui o setor cooperativo.Naverdade,hácasosemqueadiminuiçãodonú‑merodecooperativastraduzofracassodealgumasdelas,masháoutroscasosemqueadiminuiçãodonúmerodecooperativasrefleteumareestruturaçãodo respetivo ramo, significando um progresso enão um retrocesso.

Observe‑seagoraacooperaçãodegrausuperior.ExistiamemPortugal,em31dedezembrode2010,72 uniões, bem como 25 federações e confedera‑çõescooperativas,umagrandepartedasquaisper‑tencente ao ramo agrícola. A cada um dos outros

Cooperativas.indd 31 10-01-2013 18:37:03

Page 33: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 32

ramoscorresponde,pelomenos,umafederaçãodeâmbitonacional,dispondoalgunsdelesdeuniõesregionais. O ramo agrícola é o mais solidamenteestruturado. Nos outros, a cooperação de 2.º graudesenvolveu‑se, mas é ainda apreciável o númerode cooperativas de 1.º grau não‑filiadas. O nívelde intercooperação tende a subir, especialmente,quando se lançam processos de reestruturação.

Existem em Portugal duas confederações coo‑perativas.AsfederaçõesagrícolaseadascaixasdecréditoagrícolamútuoconstituíramaCONFAGRI(ConfederaçãoNacionaldasCooperativasAgrícolasedoCréditoAgrícoladePortugal).ACONFECOOP(ConfederaçãoCooperativaPortuguesa)temcomoâmbito potencial o conjunto dos outros ramos.

O número de cooperadores é um bom índiceda repercussão social do fenómeno cooperativo.Neste campo, contudo, a fiabilidade dos dadosé das mais reduzidas e as tentativas de, mesmoassim,osobtersãorecentes,oquenosimpededecomparar os números atuais com os de outrora 10.Tomando‑se como próximos da realidade os ele‑mentos estatísticos difundidos pela ACI nos anosmaisrecentes,Portugaltematualmente2milhõese 135 000 cooperadores.

10 Na verdade, embora ainda longe do rigor desejável, só algunsanosdepoisdo25deAbrilsereuniramdadosestatísticoscon‑cernentesaonúmerodecooperadores.Comosesabe,umadasmaioresdificuldadesdestetipodedadosresultadofactodemui‑toscooperadoresseremmembrosdemaisdeumacooperativa.

Cooperativas.indd 32 10-01-2013 18:37:03

Page 34: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 33

4A  identidade  cooperativa

4.1Abordagem  introdutória

Ouniversocooperativoébalizadoporumcon‑junto de parâmetros normativos que encaradosglobalmenteconsubstanciamumaidentidade.Elaéoresultadodeumasedimentaçãodeexperiênciassucessivamenteprojetadas,aolongodoseutrajetohistórico, em reflexões teóricas que simultanea‑menteasforamexprimindoerobustecendo.Hoje,envolvetrêsaspetos,entresiarticulados,quenatu‑ralmentesópodemserplenamentecompreendidosatravésdeumaadequadavalorizaçãodoslaçosqueosunemerelacionam.Estouareferir‑meànoçãode cooperativa, aos princípios cooperativos e aosvalores cooperativos.

A identidade cooperativa nesta tripla dimen‑são só foi formalmente reconhecida como tal noCongresso do Centenário da Aliança CooperativaInternacional,realizadoemManchester,em1995.Antes,anoçãodecooperativanãoeramuitomaisdoqueumaidentificaçãoatraçogrosso,essencial‑mente vocacionada para a ajudar a decidir quais

Cooperativas.indd 33 10-01-2013 18:37:03

Page 35: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 34

as organizações que cabiam na ACI. Os valorescooperativos vagueavam nas reflexões teóricasdos doutrinadores ou na ambição educativa doscooperativistas. Só os princípios cooperativos seassumiamcomooelementoidentificadordecisivoda cooperatividade. Não é por isso de estranharquenaidentidadecooperativasejamosprincípioscooperativososeuaspetonuclearemaisclaramen‑tediferenciador,oseuelementoverdadeiramenteestruturante. Falemos um pouco acerca deles.

4.2A  origem  dos  princípios  cooperativos e  sua  atualidade

A origem dos princípios cooperativos está emRochdale, pequena localidade inglesa, da regiãode Manchester. Aí, quando se aproximava do seutermooanode1844,umgrupodetecelõesfundouumacooperativadeconsumocomambiçõespoliva‑lentes,aRochdaleSocietyofEquitablePioneers.Oprojetoqueosanimavanãofoiobjetodequalquerproclamaçãosolene,tendo‑selimitadoaimpregnaros estatutos da nova organização.

Foi grande a variedade dos objetivos que sepropuseram atingir. Os princípios que viriam aserdifundidosportodoomundonãoseassumiamcomo tais através de um elenco explícito, masquasetodosmarcavamasuapresençaaolongodoarticuladodosestatutos.Combinandosabiamenteuma grande sensibilidade perante os problemaspráticos que dia a dia tinham de enfrentar, comuma generosa carga utópica, os «Pioneiros de

Cooperativas.indd 34 10-01-2013 18:37:03

Page 36: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 35

Rochdale» estabeleceram um conjunto de regrasque muito viriam a contribuir para o desenvolvi‑mento do fenómeno cooperativo.

Ébom,todavia,nãoesquecerqueosprincípioscooperativos, atualmente reconhecidos pela ACI,estão longe de ser uma reprodução fixista e acrí‑tica de qualquer conjunto de regras elaboradasemRochdalenoséculoxix.Naverdade,quernosanos 30, quer nos anos 60 do século xx, quer nodecorrerdoprocessoqueculminounoCongressode Manchester, em setembro de 1995, a tradiçãode Rochdale foi passada pelo crivo de exigentesprocessos de reexame e reflexão.

Desse modo, tudo o que, sendo originário deRochdale, ainda hoje subsiste foi consideradoatual,querem1937,querem1966,querem1995.Nessestrêsprocessosrepercutiram‑seexperiên‑cias de muitas cooperativas de todos os ramos eparticiparammovimentosdetodososcontinentes.Os cooperativistas que os lideraram tinham ori‑gens diversificadas e não se circunscreveram aomeroconjugardeelaboraçõesteóricas.Portanto,o que merece destaque é o facto de ter resistidomaisdeumséculoemeiooessencialdapropostados«PioneirosdeRochdale»,tendo‑seestendidoatodososramosetendoalargadoasuaesferadeinfluênciaatodoomundo.Aidentidadecoopera‑tiva, fixada pela ACI em 1995, é, portanto, frutode um processo de sedimentação longamenteamadurecido e profundamente enraizado naexperiência vivida de muitos cooperadores e demuitas cooperativas.

JáseviuqueoconjuntodeprincípiosradicadoemRochdaleera,emprimeirolugar,flexível,dado

Cooperativas.indd 35 10-01-2013 18:37:03

Page 37: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 36

teratravessadotrêsexigentesreformulações,semse descaracterizar, sem perder o cerne da suaprimeira identidade. Em segundo lugar, comoresulta dos seus próprios estatutos, a «Coopera‑tiva dos Pioneiros de Rochdale» foi concebida, àpartida,comoumprojetocooperativopolivalentee integrado, embora na prática tenha funcionadoprincipalmente como cooperativa de consumo,tendo daí advindo quase toda a sua notoriedade.Ouseja,osprincípiosimplícitosnoprojetoinicialcorrespondiamaumaambiçãocooperativaglobal,nãosereduzindoportantoaumprojetodecoope‑rativismo de consumo. Em terceiro lugar, a expe‑riênciadeRochdalenãofoiapenasumaconstruçãode fundadores iluminados. A sua indesmentívelcriatividade foi alimentada por um cuidadosoexamedemuitasexperiênciasfalhadas,demuitasiniciativascongéneresprecedentes.Alertadosparaoriscoinerenteavárioscaminhosantesseguidos,souberam escolher o que se viria a mostrar comomaisfecundo.Osentidoglobaleestratégicoqueosanimavanãolhesembotouasensibilidadeperanteos diversos tipos de problemas práticos que seimpunhaqueevitassem.Porúltimo,osprincípiosde Rochdale inscreviam‑se numa dinâmica socialderesistênciaeeventualsuperaçãodocapitalismo.Eeraessalógicaprofunda,aindaquedifusa,queosimpregnava.Traduziamtambém,écerto,críticasaaspetospontuais,respostasaacertosconjunturaisdo sistema, ânimo para se enfrentarem questõesparticulares, mas estavam marcados por valoresdiferentes daqueles que emergiam do capitalis‑mo. Portanto, pode dizer‑se que, globalmente, no

Cooperativas.indd 36 10-01-2013 18:37:03

Page 38: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 37

essencial, não refletiam uma imagem positiva docapitalismo, não aderiam à sua lógica 1.

Não têm, por isso, consistência as críticasque sustentam a caducidade dos princípios coo‑perativos, amarrando‑os a uma fase inicial docapitalismo, bem como as que os consideramexcessivamentepresosàcooperaçãodeconsumo.Do mesmo modo, também não é convincente ocontraponto entre um conjunto normativo nove‑centista que os princípios seriam e uma espiralevolutiva da sociedade que irremediavelmenteosteriatornadocaducos.Defacto, jáseverificouqueoconjuntonormativoemcausafoireavaliadopor três vezes, durante o século xx, a última dasquais em 1995.

Já parecem mais consistentes as questões quegiram em torno da problemática da aplicação dosprincípios às cooperativas de grau superior e dadificuldade da sua plena adequação a contextossocioculturais extraeuropeus, onde o subdesen‑volvimento é mais marcante.

1 Mesmoqueestalógicaalheiaaocapitalismonãosejasubjeti‑vamente assumida por todos os cooperadores, ela impregnaobjetivamenteosentidodapráticacooperativa.Entreoutrasvozesconvergentes,recorde‑seadeGeorgesLasserre:«A con‑cepção cooperativa da empresa é, em primeiro lugar, uma recusa radical do capitalismo, de qualquer privilégio ou soberania aos detentores de títulos de capital enquanto tais.»(1967:295).Expressivamente,RogerRamaekersafirmanomesmosentidoque nas cooperativas «a detenção do capital não é fonte de poder, nem de lucro», acrescentando que «o projecto coopera‑tivo é um projecto de contra‑sociedade: anticapitalista, anties‑tatista»(1985:252).

Cooperativas.indd 37 10-01-2013 18:37:03

Page 39: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 38

4.3Noção  de  cooperativa  e  valorescooperativos  na  atualidade

A ACI celebrou em 1995, em Manchester, oseu primeiro centenário. O objetivo central desseseu 31.º Congresso, bem como da respetiva as‑sembleia geral, que se lhe seguiu de imediato, foia reformulação dos princípios cooperativos. Elaveio alterar a versão vigente desde o Congressoda ACI, realizado em 1966, em Viena, a qual, porsua vez, alterara o primeiro texto dos princípioscooperativosaprovadoformalmentecomotal,em1937, no Congresso de Paris.

ComadecisãotomadaemManchester,chegouao fim um processo desencadeado pela ACI emEstocolmo, em 1988, e que teve um momento deespecial relevo no Congresso que decorreu emTóquio,em1992.Duranteesseprocesso,sublinhe‑‑se,foramauscultadososmovimentoscooperativosdetodoomundo,sucederam‑seosdebates,oscon‑frontos de textos e de propostas. Constituíram‑segruposdetrabalhoeaproveitou‑seacompetênciaindividual de muitos especialistas. Enfim, foi umprocesso amadurecido, onde se procurou incor‑porar a experiência vivida pelas cooperativas, emtoda a sua riqueza e diversidade.

Otextoaprovadonãofugiuaoessencialdatra‑dição cooperativa, tendo continuado fiel à matrizde Rochdale. Agora, tal como em 1937 e em 1966,a ACI não renegou esse código genético.

São sete os princípios cooperativos que comotaispassaramavaler,apartirde23desetembrode

Cooperativas.indd 38 10-01-2013 18:37:03

Page 40: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 39

1995.Mas,comoseviu,aACI,destavez,integrounomesmodocumentoumanoçãodecooperativa,bemcomoaexpressamençãodosvaloresprópriosda cooperatividade, aprovando tudo isso em con‑junto com os sete princípios.

Recordemos a noção consagrada: «Uma coo‑perativa é uma associação autónoma de pessoas unidas voluntariamente para prosseguirem as suas necessidades e aspirações comuns, quer económicas, quer sociais, quer culturais, através de uma empresa comum e democraticamente con‑trolada.»

Estava razoavelmente difundida, até então, aideiadequeaidentidadecooperativasebaseavanumconjuntodevaloresqueafinalosprincípioscooperativos vigentes procuravam refletir semcompleto êxito. E ao misturarem esse reflexoimperfeito com algumas regras práticas, natu‑ralmente dotadas de uma energia conformadoramuito menos relevante, originavam um terri‑tório normativo heterogéneo, no seio do qualconviviam algumas fugidias sombras de valoresde grande carga ética com indicações práticasde natureza pragmática, bem mais próximas dodia‑a‑diadasorganizações.Estaheterogeneidadealeatória acabava por abrir, de algum modo, aporta a uma perda da energia normativa dosprincípios.

Talvez por isso, a ACI tenha decidido expli‑citar em Manchester quais os valores coopera‑tivos que reconhece como aspetos da identidadecooperativa, que podem afinal funcionar comoestruturaéticadosprincípioscooperativos,comoatmosfera que lhes permite uma permanente

Cooperativas.indd 39 10-01-2013 18:37:03

Page 41: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 40

respiração qualificante. Eis a formulação queassumiram: «As cooperativas baseiam‑se nos va‑lores de autoajuda, responsabilidade individual, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Fieis à tradição dos seus fundadores, os membros das cooperativas assumem os valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e altruísmo.» Como se vê, são diferenciados doisconjuntos de princípios. O primeiro destina‑se,emprimeiramão,aimpregnaraatividadedascoo‑perativascomoorganizações.Osegundodirige‑seao comportamento individual dos cooperadoresenquanto tais.

Mas a identidade cooperativa deve ser enca‑radacomoumespaçoconceptual,ondecadaumdos seus três aspetos (princípios, noção e valo‑res) tem uma importância e um papel próprios,que se completam ao conjugarem‑se. De modonenhum,podemosconcebê‑lacomoumterritó‑rio conceptual, em que cada uma das suas trêscomponentes concorra com as outras, podendocontradizê‑las ou anulá‑las. Particularmente,não podemos deixar de continuar a considerarosprincípioscooperativoscomooeixodaiden‑tidade cooperativa, cabendo aos valores coope‑rativos um papel que pode clarificar o sentidodosprimeiros,masquenãopodeservirdebase,ou de justificação, para que se lhes desobedeça,invocandoqualquerdessesvalores.Seassimnãofosse, estaríamos a enveredar por um caminhoconfusoeilógico;eestaríamosadaràrevisãodosprincípios, concluída em 1995, um significadoque, no processo que a antecedeu, nem sequerfoi sugerido.

Cooperativas.indd 40 10-01-2013 18:37:04

Page 42: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 41

4.4Os princípios cooperativos na atualidade

4.4.1Dosseteprincípiosaprovados,comoter‑ceiroelementodaidentidadecooperativa,doissãonovos,emborasepossadizerqueestavamparcialeimplicitamentecontidosnaformulaçãode1966—odaautonomiaeindependênciaeodacolaboraçãocomacomunidade.Oatualprincípioreguladordaparticipaçãoeconómicadosmembrosrepresentaafusãodosanterioresprincípiosreferentesaosjuroseaosexcedentes,aomesmotempoqueapontaparaumnívelmínimodeirrepartibilidadedasreservas.

Pode, por isso, dizer‑se que, apesar de contermúltiplas alterações, o texto aprovado não repre‑sentaumaruturacomoessencialdasformulaçõesanteriores. Percorramos rapidamente o elenco deprincípios aprovados em Manchester:

1.º Princípio: Adesão voluntária e livre

As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e dispostas a assumir as responsabilidades de membro, sem discriminações de sexo, sociais, políticas, raciais ou religiosas.

Mantém‑se o tradicional princípio da portaaberta, com base no qual a ninguém pode ser re‑cusadaaentradanumacooperativasemumarazãoobjetiva.Razãoquesejaobjetivamenteimpossívelde corresponder a uma qualquer discriminação.Do mesmo modo, a voluntariedade continuaassegurada, não podendo ninguém ser obrigadoa entrar para uma cooperativa ou a permanecer

Cooperativas.indd 41 10-01-2013 18:37:04

Page 43: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 42

nela contra a sua vontade, do mesmo modo quenãopodeserdelaexcluídosemumarazãoobjetivacomprovada, expressa e previamente prevista emtermos genéricos.

2.ºPrincípio:Gestão democrática pelos membros

As cooperativas são organizações democráticas geridas pelos seus membros, os quais participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres que exerçam funções como representantes eleitos são responsáveis perante o conjunto dos membros que os elegeram. Nas cooperativas do primeiro grau, os membros têm iguais direitos de voto (um membro, um voto), estando as cooperativas de outros graus organizadas também de uma forma democrática.

Esteprincípiocontinuaaconsagrarumaintrín‑secademocraticidadedascooperativas,impregnadapelaideiadanecessidadedeparticipaçãodoscoope‑radores.Porisso,semantémexplicitamentearegrade «um homem—um voto» para as cooperativasdo1.ºgraueseimpõequeascooperativasdegrausuperiorseorganizemdeformademocrática.Nãoépoispossívelrespeitaresteprincípioe,simultanea‑mente, aceitar qualquer forma de voto plural nascooperativas de 1.º grau, isto é, aceitar que qual‑quercooperadortenhadireitoamaisdeumvoto.

3.º Princípio: Participação económica dos membros

Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam‑no de‑

Cooperativas.indd 42 10-01-2013 18:37:04

Page 44: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 43

mocraticamente. Pelo menos parte deste capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os cooperadores, habitualmente, recebem, se for caso disso, uma remuneração limitada, pelo capital subscrito como condição para serem membros.

Os cooperadores destinam os excedentes a um ou mais dos objetivos seguintes: desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da cria‑ção de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível; benefício dos membros na proporção das suas transações com a cooperativa; apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.

O 3.º princípio rege a participação económicadosmembros.Reúneosprincípios,anteriormentevigentes, respeitantes aos juros e aos excedentes,mantendo o mesmo conteúdo, no essencial. Per‑maneceassimaideiadequeosjurospelocapital,correspondente aos respetivos títulos que cadacooperador subscreve, deverão ser limitados nocaso de serem pagos, o que não é indispensável,dependendoapenasdavontadedoscooperadores.Por outro lado, mantêm‑se as regras por que sepauta a distribuição dos excedentes.

Consagra‑se também a necessidade de umacontribuição equitativa de cada cooperador parao capital, com o imperativo dela se articular como seu controle democrático. Sugere‑se um juízofavorávelquantoàeventualidadedessecapitalserpropriedadecoletivadacooperativa,garantindo‑seque,pelomenos,umaparteoseja.Admite‑se,comosesalientou,queocapitalsubscritopelosmembrosorigine uma compensação limitada. Dentro dalógicaapontada,aoseventuaisexcedentesfixam‑setrêspossíveisdestinos:desenvolveracooperativa,

Cooperativas.indd 43 10-01-2013 18:37:04

Page 45: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 44

paraoqueseconsagraapossibilidadedesecons‑tituírem reservas, caso em que pelo menos umaparte deverá ser indivisível; distribuição peloscooperadores proporcionalmente às operaçõesrealizadas com a cooperativa; apoio a outrasatividades que os membros aprovem.

Tenha‑se pois em atenção que, como se vê, osexcedentesnãosedestinamaremunerarostítulosdecapitalrealizadosporcadacooperador,depen‑dendo apenas das operações ocorridas entre cadacooperador e a cooperativa durante um exercício.Não são por isso um outro nome dado aos lucrospor razões ideológicas, mas sim algo que deles sedistingue estruturalmente.

4.º Princípio: Autonomia e independência

As cooperativas são organizações autónomas de entreajuda controladas pelos seus membros. No caso de entrarem em acordos com outras orga‑nizações, incluindo os governos, ou de recorrerem a capitais externos, devem fazê‑lo de modo a que fique assegurado o controle democrático pelos seus membros e se mantenha a sua autonomia como cooperativas.

Este novo princípio ocupa‑se da autonomia eda independência das cooperativas. Através delepretendegarantir‑se,porumlado,queasrelaçõesdascooperativascomoEstadonãoconduzamàsuainstrumentalização; por outro, quer assegurar‑seque a entrada de capitais provenientes de fontesexternas não ponha em causa nem a autonomia,nemocontroledemocráticodascooperativaspelosseus membros.

Cooperativas.indd 44 10-01-2013 18:37:04

Page 46: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 45

Parece não ser compatível com o respeitopor este princípio a sujeição das cooperativas adiretivas de natureza obrigatória emitidas pelopoder político. Tal como o não é a integração dascooperativasempessoascoletivasprivadas,noseiodas quais não detenha uma posição maioritária,como será, por exemplo, o caso de uma coopera‑tivaconstituiremconjuntocomoutrasentidadesuma sociedade comercial, sem garantir a maioriadas ações 2.

5.ºPrincípio:Educação, formação e informação

As cooperativas promovem a educação e a for‑mação dos seus membros, dos representantes eleitos, dos dirigentes e dos trabalhadores, de modo que possam contribuir eficazmente para o desenvolvi‑mento das suas cooperativas. Elas devem informar o grande público, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.

O 5.º princípio mantém o imperativo de ascooperativasasseguraremaeducaçãoeaformação,querdosseusmembros,querdostitularesdosseusórgãoseleitos,querdosseusadministradores,quer

2 Nãoparecequecontrarieesseprincípioofactodeumacooperati‑vaseintegrarnumasociedadecomercialcujoobjetoéumsimplesinstrumentodaatividadenucleardacooperativa.Porexemplo,uma cooperativa agrícola integra‑se numa sociedade comer‑cial,cujofiméacompraporgrossodesementes.Estapertençadacooperativaaessetipodesociedadeéapenasummeioparadiminuiroscustosdassementes,nãointerferindodiretamenteno modo como decorre a atividade principal da cooperativa.

Cooperativas.indd 45 10-01-2013 18:37:04

Page 47: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 46

dosseusempregados.Abrangetambémodeverdeinformaropúblicosobreanaturezaeosbenefíciosdacooperação.Éesteumprincípioverdadeiramenteestratégico, da maior importância como fatorde legitimação social da cooperatividade e comoelemento de divulgação das experiências em quese materializa.

6.º Princípio: Intercooperação

As cooperativas servem os seus membros mais eficazmente e dão mais força ao movimento coopera‑tivo, trabalhando em conjunto, através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais.

O6.ºprincípiopreconizaaintercooperaçãonosplanos locais, nacionais, regionais e internacio‑nais, reproduzindo o conteúdo do texto de 1966,no qual este princípio surgiu pela primeira vez,mas parecendo menos feliz no que diz respeitoà formulação adotada. Se as cooperativas o nãopuserememprática,dificilmenteosetorcoopera‑tivo poderá desenvolver‑se no plano nacional,sendoimprovávelqueomovimentocooperativosetorne mais relevante no plano internacional.

7.º Princípio: Interesse pela comunidade

As cooperativas trabalham para o desenvolvi‑mento sustentável das suas comunidades, através de políticas aprovadas pelos membros.

Por último, o 7.º princípio, também ele umanovidade, implica as cooperativas no desenvol‑vimento sustentável das respetivas comunida‑des, por intermédio de políticas aprovadas pelos

Cooperativas.indd 46 10-01-2013 18:37:04

Page 48: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 47

cooperadores. Ou seja, o envolvimento do movi‑mento cooperativo no seu contexto social passa aser um imperativo inscrito na própria identidadecooperativa, embora caiba aos cooperadores aescolha das políticas, através das quais esse en‑volvimento há de ser concretizado. E não deveignorar‑se a menção expressa à sustentabilidadequedevecaracterizarodesenvolvimentoalmejado,oqueinscrevenocernedacooperatividadeapreo‑cupaçãocomasalvaguardaecológicadasociedadeem que as cooperativas se integram.

4.4.2  Por imperativo constitucional, são estesos princípios a que têm de obedecer, não só ascooperativas e os cooperadores portugueses, mastambém os diversos órgãos do poder político.

Umolharatentosobrearealidadecooperativafar‑nos‑á ver que os princípios enunciados nãotolhemnemacriatividadenemaeficáciasolidáriadomovimentocooperativo.Porisso,emsiprópriosenoseuconjunto,mostramcredenciaissuficientespara serem encarados como sinais de esperançaantecipadores de tempos novos.

Sublinhe‑se que o próprio movimento, queneles reconhece o essencial da sua identidade,tem absorvido a problemática ambiental, cadavez mais ciente da necessidade de se conseguirdesencadear com urgência um processo global deverdadeiro desenvolvimento sustentável. E assimrevelatambémconfiançanopotencialregeneradordasdinâmicasreformistasqueprocuramnofuturomaisdoqueasombradopresente.Enãoseráesseocaminhoaseguir,numtempoemqueaglobaliza‑çãoeconómicadematrizcapitalistaparecetrazerconsigo a generalização dos pesadelos sociais?

Cooperativas.indd 47 10-01-2013 18:37:04

Page 49: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 48

Tantomaisque,aomesmotempo,aomnipotênciae exclusividade do Estado, como via salvadora eúnica, parece esboroar‑se.

Os princípios cooperativos visam práticasquotidianas aparentemente modestas, mas opragmatismo que os impregna nunca deixou deser solidário, tal como nunca virou as costas àutopia. E nisso está, provavelmente, o segredo dasua perenidade e da sua força.

Cooperativas.indd 48 10-01-2013 18:37:04

Page 50: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 49

5A  ordem  jurídicado  cooperativismo  em  Portugal

5.1Enquadramento  introdutório

Aprimeiraleicooperativaportuguesafoipubli‑cada em 1867. A sua vigência foi curta, já que em1888ascooperativaspassaramaserregidasporumnovoCódigoComercial,tendopassadoaserencara‑dascomoumtipoparticulardentrodassociedadescomerciais.Duranteasdécadasseguintes,tempodemonarquia,depoisderepúblicademocráticaemaistardededitadurasalazarista,foiessaamatrizjurí‑dicaquesubsistiu,emboraalgunsdosramoscoope‑rativostenhamsidoobjetodelegislaçãoespecífica.

Com a revolução de abril de 1974, as coope‑rativas viram‑se livres do garrote político e doconstrangimento jurídico que lhes tolhiam osmovimentos,tendoreassumidocomnaturalidadeum lugar próprio na nova ordem democrática.Em1976,aConstituiçãodaRepúblicaPortuguesa(CRP) 1 diferenciou a ordem jurídico‑económica

1 Apartirdeagora,parafalarnaConstituiçãodaRepúblicaPortu‑guesa,usareiasiglaCRP.

Cooperativas.indd 49 10-01-2013 18:37:04

Page 51: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 50

com base na propriedade dos meios de produção,gerando uma perspetiva tripolar com um setorcooperativo encarado em pé de igualdade com ossetores público e privado.

Projetandonalegislaçãocomumesseimpul‑soconstitucional,em1980,entrouemvigorumCódigoCooperativo(CC) 2.Nosanosimediatos,foram publicadas leis complementares corres‑pondentes aos diversos ramos cooperativosprevistos nesse código. Foi também publicadoumdiplomalegalquesedestinouexclusivamen‑te a regular as régies cooperativas, designadasem Portugal por cooperativas de interessepúblico.

Uma das características mais marcantes daordem jurídica do cooperativismo português éa outorga de força jurídico‑constitucional aosprincípios cooperativos consagrados pela ACI.Efetivamente,  em Portugal, os princípios coope‑rativosestãoconsagradospelaprópriaCRP,sendoimperativa a sua observância, ao mesmo tempoque o CC inclui um artigo onde estão expressa‑mente consignados. É, portanto, uma presençaforte,comaespecificidadedeosprincípiosseremacolhidos, não só no plano da legislação comum,mastambémaonívelconstitucional.OCC acatoupor completo o conteúdo da formulação de 1995da ACI, reproduzindo integralmente o respetivotexto.

2 A partir de agora, para falar no Código Cooperativo usarei asiglaCC.

Cooperativas.indd 50 10-01-2013 18:37:04

Page 52: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 51

5.2A  Constituição  da  RepúblicaPortuguesa  (CRP)

5.2.1Introdução

5.2.1.1Aoutorgadeforçajurídico‑constitucionalaosprincípioscooperativosobrigaaumareflexãosobre o facto de a CRP os mencionar, sem osespecificar, nem identificar, não dando tambémqualquerindicaçãoexpressaquedissolvaobjetivaeinequivocamentequalquerdúvidaquantoaessaidentificação. Por isso mesmo, é através de umaatividade interpretativa e integradora do textoconstitucionalqueessaquestãosepoderesolver. Efoiessaatividadequegerouumaposiçãodoutriná‑riapraticamenteunânime,aqualconsideraqueosprincípios cooperativos a que a CRP se refere sãoosdaACI.Naverdade,paraalémdeoutrasrazões,se assim não fosse, o legislador constitucionalteriadeindicarexpressamentequaisosprincípioscooperativos que consagrava. Não o ter feito éum forte indício do acerto da posição dominante,quando sustenta que os constituintes só não tor‑naramexpressooquejulgaramseróbvio.Assim,élegítimodar‑secomocertoqueaCRP,aoreferir‑seaosprincípioscooperativos,estáaapontarinequi‑vocamente para os que a ACI consagra 3.

3 No decorrer do processo de revisão constitucional concluí‑do em 1997, foi reiterada essa posição, na medida em que se

Cooperativas.indd 51 10-01-2013 18:37:04

Page 53: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 52

Este condicionalismo não pode ser ignoradonos debates que em Portugal se travem em tornodos princípios cooperativos, já que se é certo queé no plano da decisão política que cabe qualquerajustamento na tradução dos princípios em solu‑ções concretas, é matéria só alcançável por umarevisão constitucional tudo o que represente umdesafiofrontaleinequívocoaosprincípioscoope‑rativos consagrados pela ACI 4.

5.2.1.2 É também importante recordar quefoi através das revisões constitucionais de 1989 ede 1997 que o setor cooperativo previsto na CRPde 1976 se converteu no atual setor cooperativoe social. Na verdade, o inicial setor cooperativoconverteu‑senumsubsetoraoqualsejuntaram,em1989,ossubsetoresautogestionárioecomunitário(antesintegradosnosetorpúblico),bemcomoem1997umsetornovo,osubsetorsolidário.Ascoope‑rativaspassaramassimaserencaradascomoumaparte, conquanto nuclear, deste terceiro setor, aoqual a doutrina dominante tem vindo a designar,no caso português, por economia social.

De facto, no seu âmbito atual, o setor coope‑rativoesocialcorresponde,quaseporcompleto,à

considerousupérfluoestatuirexpressamentequeosprincípioscooperativos,referidosnaCRPeramosdaACI,dadonãohaverqualquerdúvidaquantoaisso.

4 Osproblemasdearticulaçãodaordemjurídicainternacomasregras comunitárias, ou os que resultam de uma ideia de uni‑formização ou harmonização jurídicas em matéria cooperati‑va,noquadrodaUE,têmdeteremcontaque,aocontráriodoqueocorrenosoutrospaíses,emPortugalosprincípiosdaACIadquiriramforçaconstitucional.

Cooperativas.indd 52 10-01-2013 18:37:04

Page 54: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 53

economiasocial 5.Todoelefazpartedela;eapenasalguns tipos residuais de entidades da econo‑mia social não cabem conceitualmente no setorcooperativo e social, tal como a CRP o concebe.Poderemos, por isso, afirmar que, à luz da ordemjurídicaportuguesa,aconstelaçãocooperativafazparte da galáxia da economia social.

5.2.2O setor cooperativo e social

O estatuto constitucional do fenómeno coo‑perativo tem a sua base no artigo 82.º da CRP. Oalcancedestepreceitosofreuonaturalimpactodamutação ocorrida na Constituição económica noseu todo, bem como de alterações do seu própriotexto,ocorridasnosprocessosderevisãode1982,1989 e 1997.

Naverdade,senaversãode1976daCRPosetorcooperativoeraumdoseixosdodesenvolvimentodapropriedadesociale,nessamedida,umaparceladaáreapropulsoradatransiçãoparaosocialismo,em 1989 passa a ser apenas um dos elementos deumaeconomiamistaestruturalmenteestabilizada.Semruturas,passou‑sedeumaeconomiamarcadapela ideia de uma transição para o socialismo

5 Podedizer‑seque,noessencial,anoçãodeeconomiasocialemPortugalcoincidecomaqueéconsagradaemEspanha,naFrança,na Itália, na Bélgica e na União Europeia. As pequenas dife‑rençasquepodemexistirtêmmaisavercomparticularidadesnacionais do que com diferenças substanciais nas perspetivasadotadas.

Cooperativas.indd 53 10-01-2013 18:37:04

Page 55: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 54

paraumaeconomiamista,consubstanciadanumaheterogeneidade que, em termos estruturantes,incorporava as cooperativas. Implicitamente, asaídadocapitalismodeixoudeserumcaminhoquedevesse ser necessariamente percorrido, emboranão fosse excluída essa possibilidade.

Oartigo82.ºpassouaconsagraracoexistênciade três setores de propriedade dos meios deprodução, no que se manteve fiel às formulaçõesanteriores à revisão de 1989, mas o texto entãoaprovado envolveu, quer alterações sistemáticas,quer de terminologia.

Dois subsetores que antes integravam o setorpúblico(ocomunitárioeoautogestionário)foramsomar‑se ao que antes era o setor cooperativo,constituindoosetorcooperativoesocial.Narevi‑sãode1997,foi‑lheintroduzidomaisumsubsetorque se pode designar por solidário. Assim, atual‑mente, no setor cooperativo e social converge osubsetor solidário com o que, antes da revisão de1989, era a base de desenvolvimento da proprie‑dade social.

A própria formulação do n.º 1 do preceito emanálise sugere que estamos perante uma normadegarantia,oquenaverdadeacontece 6.Garantiade que existirão sempre os três setores de pro‑priedade dos meios de produção mencionados,os quais coexistirão entre si. A segmentação dotecidoeconómico‑socialemsetoresdepropriedade

6 Naverdade,otextodon.º1doartigo82.ºéoseguinte: «É garan‑tida a coexistência de três sectores de propriedade dos meios de produção.»

Cooperativas.indd 54 10-01-2013 18:37:04

Page 56: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 55

valorizou a centralidade dos meios de produçãocomoobjetosdedireitos,oquesecompreendeporestaremcausaocernedaConstituiçãoeconómicae a própria estrutura do processo produtivo, bemcomootipodelógicaquecorrespondeacadaumadas suas partes. Salientem‑se pois os três vetorescom base nos quais se estrutura o artigo 82.º: éuma norma de garantia, assegura a coexistênciados setores, o seu eixo é a propriedade dos meiosde produção.

O setor cooperativo e social é, como indicia asua própria designação, um conjunto complexo,compreendendo «especificamente» quatro sub‑setores, repartidos pelas duas vertentes que têmexpressãodiretanoseupróprionome.Àvertentecooperativa corresponde o respetivo subsetor; avertentesocialdesdobra‑senossubsetorescomu‑nitário, autogestionário e solidário.

O subsetor cooperativo abrange «os meios de produção possuídos e geridos por cooperativas em obediência aos princípios cooperativos»[artigo82.º,n.º4,alíneaa)].Narevisãode1997,acrescentou‑sea esta caracterização básica do subsetor, a qualnão sofreu alteração, o seguinte inciso: «[...] sem prejuízo das especificidades estabelecidas por lei para as cooperativas com participação pública, justificadas pela sua especial natureza».

Este acrescento justifica‑se pela necessidadede permitir que as cooperativas de interesse pú‑blico (ou régies cooperativas) possam fazer partedo setor cooperativo e social, consagrado na CRP.De facto, dado que este tipo de organizações nãorespeitatodososprincípioscooperativos,porcausadocarácterpúblicodealgunsdosseusmembros,só

Cooperativas.indd 55 10-01-2013 18:37:05

Page 57: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 56

aCRPpodiaestatuirque,nestecasoeapesardessadesobediência,ascooperativasdeinteressepúblicopertencem ao setor cooperativo e social 7.

O subsetor comunitário abrange «os meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais» [artigo 82.º, n.º 4, alíneab)].Osubsetorautogestionáriocompreende«os meios de produção objecto de exploração colectiva por tra‑balhadores»[artigo82.º,n.º4,alíneac)].Osubsetorsolidárioenvolve«os meios de produção possuídos e geridos por pessoas colectivas, sem carácter lucrati‑vo, que tenham como principal objectivo a solidarie‑dade social, designadamente entidades de natureza mutualista» [artigo 82.º, n.º4, alínea d)].

Em síntese, esquematicamente, pode dizer‑seque, nos termos do artigo 82.º da CRP, quando apropriedadeeagestãopertencemaomesmosujei‑tojurídico,integramosetorpúblicoseosujeitoépúblico,integramosetorprivadoseeleéprivado,integramosetorcooperativoseeleéumacoopera‑tiva 8.Seospoderescorrespondentesaessasfigurasestãorepartidosporentidadesquepotencialmenteosconexionamcomsetoresdiferentes,sendoestes

7 Noartigo61.ºdaCRP,em1997,foiintroduzidodenovooatualn.º4,quenosdiz:«A lei estabelece as especificidades organiza‑tivas das cooperativas com participação pública.»Estepreceitosótemsentidoconjugadocomaalíneaa)don.º4doartigo82.º,emborativessesidopreferívelterusadoumúnicopreceitoparaveicular o conteúdo normativo que resulta da conjugação dosdoisartigos.

8 Onormaléqueissoaconteça,quepropriedadeegestãoseinte‑gremnomesmosetor,pertençamàmesmaentidade.Daíqueaepígrafedoartigo82.ºsejaaqueé.

Cooperativas.indd 56 10-01-2013 18:37:05

Page 58: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 57

setoresopúblicoeoprivado,pertencemaoúltimo.Quantoaosmeiosdeproduçãopossuídosegeridosporcooperativas,elespertencemsempreaosetorcooperativo,sejaqualforotipodetitularidadequesobre eles incida.

5.2.3Outros preceitos da CRP com incidência direta nas cooperativas

Comecemospeloartigo80.º,preceitoquemaisdiretamente se articula com o artigo 82.º, parareferirmos o lugar ocupado, entre os princípiosfundamentais da organização económica, pelosque incidem diretamente nas cooperativas. Nostermos do artigo 80.º, entre os seis princípios emquea«organização económico‑social assenta»,doisincidemnosetoremcausa:«Coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social de propriedade dos meios de produção»; e«Protecção do sector cooperativo e social de pro‑priedade dos meios de produção».

Osdoisgrandesvetoresdessacoexistênciasãoa garantia da subsistência de cada um deles, porum lado, e a sua complementaridade, por outro.Oníveldessasubsistênciaeoperfildessacomple‑mentaridade dependerão das políticas praticadas,noquadrodalegítimadiscricionariedadedopoderpolítico, constitucionalmente balizada.

A importância da garantia de perenidade dossetores transparece inequivocamente da alíneaf)do artigo 288.º, que menciona, entre os limitesmateriaisdarevisãoconstitucional:«A coexistência

Cooperativas.indd 57 10-01-2013 18:37:05

Page 59: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 58

do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social de propriedade dos meios de produção». Como índice da importância desteúltimosetor,podeaindadestacar‑seainclusãodo«regime dos meios de produção integrados no sector cooperativo e social de propriedade» [artigo165.º,n.º 1, alínea x)] entre as matérias que cabem nareserva relativa de competência legislativa daAssembleia da República.

A liberdade de iniciativa cooperativa é reco‑nhecida expressamente pelo artigo 61.º da CRP.O n.º 2 consagra «o direito à livre constituição de cooperativas, desde que observados os princípios cooperativos»,acrescentandoon.º3que:«As coo‑perativas desenvolvem livremente as suas activida‑des no quadro da lei e podem agrupar‑se em uniões, federações e confederações e em outras formas de organização legalmente previstas.» Esta formu‑lação resulta de uma alteração introduzida pelarevisão constitucional de 1997, a qual se traduziunaexpressaadmissãodapossibilidadedeexistiremoutrostiposdecooperativasdegrausuperiorparaalém dos três expressamente previstos na CRP.É, portanto, garantida às cooperativas uma liber‑dadequesedesdobraemtrêsaspetosprincipais:adeseconstituírem,adedesenvolveremarespetivaatividade e a de se organizarem em cooperativasde grau superior. É assim evidente, à luz do arti‑go61.º, a inconstitucionalidade de todos os diplo‑mas legais que vedarem às cooperativas o acessoa qualquer tipo de atividade económica aberta àiniciativa privada, dado que não há zonas da ati‑vidadeeconómicaconstitucionalmentereservadasa esta última.

Cooperativas.indd 58 10-01-2013 18:37:05

Page 60: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 59

A proteção do setor cooperativo, que a Cons‑tituição económica incorpora como um dos seusprincípiosfundamentais[artigo80.º,alíneaf)],estámaterializadanasdiretivasqueeladirigeaoEstadonos n.os 1 e 2 do artigo 85.º Aí estatui o dever doEstadoestimulareapoiar«a criação e a actividade de cooperativas»,paradepoisprecisarqueatravésda lei hão de ser definidos, não só «os benefícios fiscais e financeiros das cooperativas»,mastambém«condições mais favoráveis à obtenção de crédito e auxílio técnico». Os detentores do poder políticopodemassimdecidiraintensidadedosestímulos,as medidas de fomento cooperativo a tomar, massó ao arrepio da CRP podem desfavorecer, dequalquer modo, as cooperativas. O governo podedecidiraimportânciadosbenefíciosfiscaisoutor‑gados às cooperativas, mas não tem legitimidadeconstitucional para lhos retirar por completo, omesmo se passando quanto a medidas de apoiono plano técnico e no do crédito.

A CRP contém ainda um pequeno leque dereferênciasàspotencialidadesdascooperativasemdiversas áreas de atividade. É na política agrícolaque são mais destacadas essas virtualidades. Noartigo 94.º, estatui‑se acerca da eliminação doslatifúndios,sendoindicadosostiposdeentidadesàs quais podem ser entregues as terras expro‑priadas.Entreessasentidadescontam‑seas«coo‑perativas de trabalhadores rurais ou de pequenos agricultores». No artigo seguinte, a CRP ocupa‑sedo «redimensionamento do minifúndio». Afixado orespeito pelo direito de propriedade, comina‑se odever do Estado redimensionar «as unidades de exploração agrícola com dimensão inferior» à que

Cooperativas.indd 59 10-01-2013 18:37:05

Page 61: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 60

politicamente se considera adequada, através deincentivosdeváriaordem.Procura‑se,dessemodo,a «integração estrutural ou meramente económica, designadamente cooperativa» dessas unidades. Oartigo97.º,dispondosobreo«auxílio do Estado»noâmbitodapolíticaagrícola,édosmaisexpressivosno que diz respeito à valorização da cooperati‑vidade. No seu n.º 1, ao mencionar quem deveráserapoiado«preferencialmente»,referem‑se,quercooperativas de trabalhadores agrícolas, quer depequenos e médios agricultores. No seu n.º 2, aoseremdadosexemplosdeapoiosaconceder,asuaalínead)mencionaos «estímulos ao associativismo dos trabalhadores rurais e dos agricultores, nomea‑damente, à constituição por eles de cooperativas de produção, de compra, de venda, de transformação e de serviços».Porúltimo,ascooperativasbeneficiamtambém do disposto no artigo 98.º: «Na definição da política agrícola é assegurada a participação dos trabalhadores rurais e dos agricultores através das suas organizações representativas.»

Merecetambémalgumrelevoopapelatribuídoàs cooperativas de consumo pelo artigo 60.º, noâmbito da salvaguarda dos direitos dos consumi‑dores. De acordo com o respetivo n.º 3, elas «têm direito, nos termos da lei, ao apoio do Estado e a ser ouvidas sobre as questões que digam respeito à defesa dos consumidores».

Oartigo65.ºasseguraconstitucionalmenteodi‑reitoàhabitação,paraoqueenunciaumasériedeincumbênciasdoEstado,entreasquaisincluiade«incentivar e apoiar as iniciativas das comunidades locais e das populações tendentes [...] a fomentar a criação de cooperativas de habitação [...]».

Cooperativas.indd 60 10-01-2013 18:37:05

Page 62: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 61

Por último, no seu artigo 43.º, n.º 4, dispõe aCRPque«é garantido o direito de criação de escolas particulares e cooperativas» e no artigo 75.º, apósestatuiracercadoensinopúblico,diznoseun.º2: «O Estado reconhece e fiscaliza o ensino particular e cooperativo nos termos da lei.»

5.2.4Conclusão

Em conclusão, pode dizer‑se que ficou bemmarcadaaideiadequeaexistênciadeváriosseto‑resdepropriedadedosmeiosdeproduçãosignificajuridicamente que o legislador constitucional en‑carou cada um deles como um território jurídicoautónomodotadodeumafisionomiaprópria.Mas,nocasodosetorcooperativoesocial,aprópriaes‑colhadeumadesignaçãocompósitasinalizouumaheterogeneidade estrutural legitimadora do reco‑nhecimento de cada um dos subsetores como umespaçojurídico‑normativodiferenciável.Defacto,seja qual for a proximidade das esferas jurídico‑‑normativascorrespondentesacadasubsetornãoparecelegítimonemútilconfundi‑losnumespaçode direito indiferenciado 9.

9 Pode aqui confirmar‑se a ideia de que nada de substancial sealterou quanto ao setor cooperativo, pelo facto de ser agoraapenasumadasvertentesdosetorcooperativoesocial.Éoqueresultaquerdoprocessoderevisãoconstitucionalde1989noseutodo,querdoquesedisseatéagorarelacionadocomessaquestão. No próprio termo de aprovação do texto constitu‑cional revisto, fizeram questão de expressamente o salientar

Cooperativas.indd 61 10-01-2013 18:37:05

Page 63: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 62

Mas esta zona jurídica específica não corres‑ponde a um amontoado aleatório de preceitosconstitucionais, apenas pensáveis em comum porincidiremnomesmoobjeto.Pelocontrário,háumalógica, um sentido normativo global do conjuntodas normas constitucionais que incidem nas coo‑perativas.Eamelhormaneiradecompreendermosessalógicaéaidentificaçãodoconjuntodeprincí‑piosemqueseconsubstancia,doseixosnormativosque estruturam esse território jurídico.

Estes princípios constitucionais 10 correspon‑dem aos eixos normativos com base nos quaisse estruturam os preceitos que na CRP, de umamaneiraoudeoutra,seocupamdascooperativas.Anima‑os,noseutodo,umcertosentidonormativoplasmadonumconjuntodediretivas.Atravésdelesarticulam‑seconceitualmenteosconteúdosnorma‑tivosdeumconjuntodepreceitosconstitucionais.

Comecemospeloprincípiodacoexistência,sobreoqualjáfalámos.Atravésdeleestágarantidaaexis‑tênciadecadaumdossetoresdepropriedadedosmeiosdeproduçãoeasuaconvivênciacomosoutros.

Falemos depois de uma das matrizes iden‑tificadoras da nossa constituição cooperativa: a

representantesdoPSD,doPSedoPCP.Nodecursodoprocessoderevisãoconstitucionalquedeuorigemàrevisãode1997essaideianãofoitambémpostaemcausa.

10 Não se confundam estes princípios constitucionais com osprincípioscooperativosconsagradospelaACI,aosquaisaCRPdáforçajurídicanoquadrodaordemjurídicaportuguesa.Umdaquelesconsiste,precisamente,naconformidadecomosprin‑cípioscooperativosdaACI,osquaistêmosignificadoqueatrásdetalhadamentereferimos.

Cooperativas.indd 62 10-01-2013 18:37:05

Page 64: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 63

conformidadecomosprincípiosdaACI.Estacon‑formidadeéimperativa,implicandoumacompletaabsorçãopelonossosistemajurídicodosprincípioscooperativos atrás referidos 11.

Oprincípioda autonomiatraduz‑senaseparaçãodosetorcooperativoesocialdorestodaáreanão‑‑pública,queentrenóscorrespondeaosetorprivado.Nofundo,trata‑sedenãoincluirascooperativasnosetorprivado,oquesignificaqueadicotomiapúblico‑‑privado não é a única juridicamente relevante.

Nostermosdoprincípiodaunidade,ascoope‑rativas são encaradas pela CRP como um bloco,cuja valorização o abrange como um todo. Istosignifica que não tem relevância estruturante, noplano constitucional, a diferenciação por ramosno seio do setor cooperativo. Todos têm umarelevância constitucional idêntica. Na verdade, asreferências da CRP que dizem apenas respeito aumdosramosnãocontrariamesteprincípio,jáquecorrespondem a uma referência, especificamentedirigidaacertotipodepráticascooperativas,feitano âmbito de uma regulação genérica de certaspolíticas setoriais, relacionadas com cada umdesses ramos. É esse o caso da política agrícola,dapolíticadahabitação,dapolíticaeducativaedapolítica de defesa dos consumidores.

O princípio da proteção envolve a garantia dequeosetorcooperativoesocialdeveserespecial‑

11 Estamospoisperanteumprincípioconstitucionaldaconformi‑dadecomosprincípioscooperativosconsagradospelaACI,sendoevidente,comoatrásseexplicou,queotermo«princípios»éusa‑doemdoissentidosdiferentes,queénecessárionãoconfundir.

Cooperativas.indd 63 10-01-2013 18:37:05

Page 65: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 64

menteprotegidoeestimuladopeloEstado,devendoestediscriminá‑lopositivamentenosplanosfiscal,financeiro, creditício e técnico.

O princípio da liberdade, sendo uma projeçãoinequívocadavisãodaACI,éafirmadocommuitaforça pelo texto constitucional. Materializa‑se naexpressa garantia às cooperativas da liberdade deconstituição, da liberdade de funcionamento e daliberdade de organização.

Oprincípiodaaberturaradica‑senofactodeosetor cooperativo e social ser, em si próprio, umaconjugaçãodaconstelaçãocooperativacomoutrasquecomelaformamagaláxiadaeconomiasocial.

Por último, o princípio da intercooperação,paraalémdeserumdosqueaACIexpressamenteconsagra,éimplicitamentesublinhadoemalgumasdas normas constitucionais atrás referidas.

Estamos, portanto, perante um edifício lógico,perante uma multiplicidade agregada de eixosestruturantes, que vale simultaneamente peloque significa cada um dos seus aspetos e pelo seusignificado global.

5.3O  Código  Cooperativo

5.3.1Introdução

O Código Cooperativo, na sua primeira ver‑são, surgiu através do Decreto‑Lei n.º 454/80, de9 de outubro. Cedo foi objeto de críticas, tendo

Cooperativas.indd 64 10-01-2013 18:37:05

Page 66: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 65

sofrido algumas modificações e ajustamentos nosprimeiros anos da sua vigência. Em setembro de1995,pelovetodoPresidentedaRepública,MárioSoares, frustrou‑se um conjunto de significativasalteraçõesqueogovernodirigidoporCavacoSilvaapressadamentequeriarealizar,àbeiradaseleiçõesque viriam a afastar o PSD do poder.

Noiníciode1996,aquestãodoCódigoCoope‑rativo voltou à Assembleia da República, a partirde dois projetos de lei, um do PSD e outro do PS,tendo sido possível que a versão final do novoCódigo Cooperativo tivesse sido aprovada porunanimidade.Entrouemvigorem1dejaneirode1997, tendo desde então sofrido apenas pequenasalterações, induzidas por necessidades de ajusta‑mento a modificações de contexto.

Vamoscomentarbrevementealgunsdosaspe‑tos do Código Cooperativo que melhor ilustramo seu sentido normativo geral e que mais podemcontribuirparaacompreensãodofenómenocoo‑perativo.

5.3.2Noção de cooperativa e sua natureza jurídica

Anoçãolegaldecooperativa,nocasoportuguês,corresponde no essencial à que a ACI consagroucomoumdosaspetosdaidentidadecooperativa 12.

12 Recorde‑sequeaidentidadecooperativa,talcomoaACIacon‑sagrou,assentaemtrêspilares:umanoção,umlequedevaloreseumconjuntodeprincípios.

Cooperativas.indd 65 10-01-2013 18:37:05

Page 67: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 66

Na verdade, as modificações jurídicas suscitadaspela revolução democrática de 1974 colocaramas cooperativas fora das sociedades comerciais,fazendo com que deixassem de ser, como até aí,sociedades comerciais de um tipo particular. Oprópriodireitosocietárioevoluiu,acentuandoesseafastamento. Uma das características essenciaisde todas as sociedades é a repartição dos lucros(encarados como acréscimos patrimoniais) entreos sócios. Ora, entre as características das coope‑rativas que expressamente constam da lei está asua não‑lucratividade. Não se perceberia assimque as cooperativas pudessem ser consideradascomo sociedades 13.

Foi por isso que alguma doutrina achou deverqualificá‑las juridicamente como associações, oque, sendo uma hipótese mais aceitável, não pa‑receaindaassim amaisconvincente.Na verdade,se a cooperativa é essencialmente uma síntese deassociação e de empresa, qualificá‑la, no planojurídico,comoassociaçãoimplicariaobjetivamentedesconsiderar a sua vertente empresarial.

E,umavezquenãofazestruturalmentesentidoconsiderá‑las como fundações, já que estas são apersonalizaçãodeumpatrimónioenquantoascoo‑perativas(talcomoassociedadeseasassociações)são a personalização de um coletivo de pessoas, omelhor é encará‑las juridicamente como um tipolegal autónomo e específico. Assim, o caminho

13 Porissomesmo,nocasoportuguês,nemassociedadescomer‑ciaissepodemtransformaremcooperativas,nemascooperati‑vasemsociedadescomerciais.

Cooperativas.indd 66 10-01-2013 18:37:05

Page 68: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 67

mais fecundo parece ser o de alargar o conjuntodos tipos legais de pessoas coletivas, fazendo‑oabranger, ao lado das fundações, das associaçõese das sociedades, as cooperativas, deste modoencaradas como um quarto tipo legal autónomode pessoas coletivas. E deve notar‑se que com aconsagração desta categoria jurídica nova nem seconstrangenemamputaarealidadesocialquelheestá subjacente 14.

É,aliás,estalinhadepensamentoqueserefletena noção de cooperativa acolhida no artigo 2.º,n.º 1, do CC: «As cooperativas são pessoas colec‑tivas autónomas, de livre constituição, de capital e composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles.»

Milita no mesmo sentido o facto de haverumaconsideraçãojurídico‑constitucionalautó‑noma das cooperativas, independentementedo ramo a que pertençam, e um código que seocupadascooperativasnoseutodo,mostrando

14 No âmbito da doutrina jurídica portuguesa, não há divergên‑ciasquantoaseremconsideradoscomotiposlegaisdepessoascoletivasassociedades,asassociaçõeseasfundações,emborahajaumatradicionalclivagemdoutrináriaentreosqueenten‑demquesóassociedadescomerciaistêmpersonalidadejurídi‑caeosqueestendemessapersonalidadeatodasassociedades,ouseja,osqueaestendemtambémàssociedadescivis.Masjánão é completamente pacífica a perspetiva que aponta para aexistênciadeumquartotipolegaldepessoascoletivas,corres‑pondenteàscooperativas.

Cooperativas.indd 67 10-01-2013 18:37:05

Page 69: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 68

que no direito português se dá uma relevânciaautónoma e específica à cooperatividade, em siprópria.

Voltando, ao artigo 2.º, sublinhemos algunsdos seus aspetos. O primeiro é a qualificação dascooperativas apenas como pessoas coletivas, oque, reconhecendo‑lhes personalidade jurídica,nãoasincluiemqualquerdostiposlegaisdepes‑soas coletivas tradicionalmente consagrados naordem jurídica portuguesa. As cooperativas sãoexpressamente consideradas como autónomas, oque,sublinhandooqueacabadesedizer,nãodeixatambém de ampliar a valorização da autonomiadas cooperativas.

Amençãododireitodelivrementesepoderemconstituir reflete um dos traços identificadoresdo modo com as cooperativas são acolhidas naordemconstitucional.Étambémexplicitadacomosubstância da prática cooperativa a «cooperação e entreajuda dos seus membros», sublinhando‑seassimqueofenómenocooperativomodernoéumdos mais relevantes afloramentos da cooperaçãoentre os homens.

Os objetivos enunciados desdobram‑se emtrês aspetos: «satisfação das necessidades [...] eco‑nómicas, sociais ou culturais» dos seus membros.Ficaassimbemclaroqueascooperativasnãotêmapenasfinalidadeseconómicas,oqueasabreparao conjunto da vida social e cultural.

O preceito em análise integra também, nestaidentidade legal das cooperativas, a ausência de«fins lucrativos». Poder‑se‑á apenas discutir osentido desta expressão, não cabendo contudoao intérprete excluir a sua existência. Este é

Cooperativas.indd 68 10-01-2013 18:37:05

Page 70: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 69

um dos sinais de rutura com o universo jurídico‑‑conceptual anterior ao Código de 1980, natural‑menteemconsonânciacomoutrosaspetosdonovocontextojurídico‑cooperativoportuguêsposteriorao 25 de Abril de 1974.

TalcomoacontecenaCRP,émencionadonesteartigo o imperativo de obedecer aos princípioscooperativos. Não foi esquecida a referência aofactodeascooperativasteremcapitalecomposiçãovariáveis,duascaracterísticasestruturaisque,em‑boraeticamenteneutras,serepercutememmuitosdos aspetos da vida das cooperativas.

Comocontextoclarificadordopreceitoanteriorecomoviaparaumaverdadeirasinergialegislativa,o artigo 3.º transcreve os princípios cooperativosaprovados pela ACI, em setembro de 1995, emManchester, que assim ficam diretamente incor‑porados no Código Cooperativo.

5.3.3Âmbito da atividade das cooperativas

Nãohánenhumalimitaçãoimpostaporleiqueimpeça uma cooperativa de levar a cabo qualqueratividade lícita, a não ser indiretamente a queresultadaexistênciadeumdomíniopúblico.Pelocontrário,oCCgarantequenãopodemservedadasàs cooperativas quaisquer atividades que possamserexercidas,querporsociedadescomerciais,querpor associações (artigo 7.º). Do mesmo modo, adimensãodascooperativasnãotemlimitemáximoquanto ao número de membros, ao capital socialou ao volume de negócios. Há no entanto limites

Cooperativas.indd 69 10-01-2013 18:37:05

Page 71: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 70

mínimosgeraisquantoaonúmerodecooperadoresequantoaocapitalsocial,bemcomolimitesespe‑ciais para alguns dos ramos cooperativos.

5.3.4Ramos cooperativos

O Código Cooperativo consagra a existênciade 12 ramos distintos: consumo; comercialização;agrícola;crédito;habitaçãoeconstrução;produçãooperária;artesanato;pescas;cultura;serviços;ensi‑no;solidariedadesocial(artigo4.º,n.º1).Onúmeroseguinteadmiteaindaaexistênciadecooperativasmultissetoriais.Osaspetosparticularesdecadaumdestes ramos são regulados, como já foi dito, poruma lei específica.

Estatipologiacooperativalegalmenteestabele‑cida, a partir do referido artigo, envolve os ramosmencionados,emboraadmitaqueoutros«venham a ser legalmente consagrados». Uma parte dessesramostinhatradiçãoemPortugal,comoaconteciacom o do consumo, o agrícola, o de crédito, o dahabitação e o da produção operária. Outra partetinha, em 1980, raízes mais recentes, ou uma im‑portância social mais reduzida, como era o casoda comercialização, do artesanato, das pescas,da cultura, dos serviços e do ensino.

Nãoéestaaúnicaarrumaçãotipológicapossí‑vel.Umoutrocritério,bastantedifundido,valorizaadicotomiaentreascooperativasdeprodutoreseasdeutentes,suscitando‑seumatipologiadetrêsvertentes, já que às duas referidas se acrescentauma categoria mista, para abranger os casos em

Cooperativas.indd 70 10-01-2013 18:37:06

Page 72: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 71

que as duas posições se combinam no seio deuma mesma cooperativa. Mais recentemente, aomesmo tempo que se caminha para se destacar,comoeixoespecífico,otrabalhoassociado,surgiuaideiadeoptarporumavariantedocritérioante‑rior.Variantequeconsistenodesdobramentodascooperativas de produtores em dois blocos: o dascooperativasdetrabalhadoreseodascooperativasde empresários.

5.3.5Operações com terceiros

Talcomodispõeon.º2doartigo2.ºdoCC,asoperações com terceiros não são proibidas: «As cooperativas, na prossecução dos seus objectivos, podem realizar operações com terceiros, sem pre‑juízo de eventuais limites fixados pelas leis próprias de cada ramo.»

Noentanto,estetipodeoperaçõeséregidopornormasespeciais.Porexemplo,noartigo73.º,n.º1,excluem‑se da possibilidade de retornarem aoscooperadores os excedentes anuais líquidos pro‑venientesdasoperaçõesrealizadascomterceiros.On.º2doartigo70.ºdispõequerevertem,paraa«reserva para educação e formação cooperativas»,«os excedentes anuais líquidos provenientes das operações realizadas com terceiros que não forem afectados a outras reservas». Por último, nostermos do artigo 72.º do CC: «Todas as reservas obrigatórias, bem como as que resultem de exce‑dentes provenientes de operações com terceiros, são

Cooperativas.indd 71 10-01-2013 18:37:06

Page 73: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 72

insusceptíveis de qualquer tipo de repartição entre os cooperadores.»

5.3.6Espécies de cooperativas

Naordemjurídicaportuguesaháduasespéciesde cooperativas: as do primeiro grau e as de grausuperior.Asprimeirassãoconstituídasporpessoassingulares ou coletivas. Como as cooperativastambém são pessoas coletivas pode haver coo‑perativas do primeiro grau integradas por outrascooperativas.Assegundassãouniões,federaçõeseconfederações de cooperativas (artigo 5.º do CC).

5.3.7Capital social

Ascooperativastêmumcapitalsocialvariável,masosestatutospodemfixarummontantemínimoinicial. No entanto, esse montante mínimo nãopode ser inferior a 2500 euros, a não ser que nasleisespeciaisecomplementares,correspondentesacadaumdosramos,sejafixadooutrolimitemí‑nimo (artigo 18.º).

Cada cooperador não pode subscrever menosde três títulos de capital, todavia, respeitado estelimite mínimo, a legislação complementar aplicá‑vel a cada um dos ramos do setor cooperativo ouos estatutos podem fixar as entradas mínimas decapital a subscrever (artigo 19.º).

Ostítulosrepresentativosdocapitalnascoope‑rativastêmumvalornominalmínimode5euros,

Cooperativas.indd 72 10-01-2013 18:37:06

Page 74: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 73

mas podem também ter um valor em euros cor‑respondenteaummúltiplode5.Sãonominativose têm que incluir diversas menções obrigatórias,podendo«ser representados sob a forma escritural» (artigo 20.º).

5.3.8Estrutura orgânica das cooperativas

Nos termos dos artigos 39.º a 68.º, a estruturaorgânica das cooperativas, em regra, resulta daarticulação de uma assembleia geral com umadireção e um conselho fiscal (artigo 39.º, n.º 1).Mas nos termos do número seguinte do mesmoartigo: «Os estatutos podem ainda consagrar outros órgãos, bem como dar poderes à assembleia geral ou à direção para constituírem comissões especiais, de duração limitada, destinadas ao desempenho de tarefas determinadas.»Deve,noentanto,salientar‑‑sequeoCCconsagra,comohipótesepadrão,umregime‑regra aplicável às cooperativas com maisde20membros.Paraascooperativasquetenhamaté20cooperadores,instituiuumregimeespecialsimplificado, que permite que os órgãos tenhamum menor número de elementos.

5.3.9Direito subsidiário

Aescolhadodireitosubsidiárioaqueserecorrepara colmatar as lacunas de um diploma legalé uma indicação decisiva para se compreender

Cooperativas.indd 73 10-01-2013 18:37:06

Page 75: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 74

o lugar desse diploma ou da área jurídica a quepertence no sistema jurídico.

No caso do CC, para se saber qual o direitosubsidiário,deveseguir‑seodispostonoartigo9.º:«Para colmatar as lacunas do presente Código que não o possam ser pelo recurso à legislação com‑plementar aplicável aos diversos ramos do sector cooperativo, pode recorrer‑se, na medida em que se não desrespeitem os princípios cooperativos, ao Código das Sociedades Comerciais, nomeadamente aos preceitos aplicáveis às sociedades anónimas.»

Ficaassimclaroque,nocasoportuguês,arela‑tivaautonomiadodireitocooperativonãoimpededeserecorreraodireitocomercialparasecolma‑tarem as lacunas que nele possam existir.

Cooperativas.indd 74 10-01-2013 18:37:06

Page 76: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 75

6Epílogo — para uma simplificação do  futuro

6.1 As cores da esperança têm vindo a perderforçacomotonalidadesdofuturo,masestãolongede se terem apagado por completo. E entre asfontes de energia que continuam a alimentá‑lasdestacam‑se todas as organizações e todas aspráticas que projetam no dia‑a‑dia uma lógica deprevalênciadaspessoasemdetrimentodascoisas,de instrumentalização do capital pelo trabalho.Ou seja, destacam‑se também organizações queintegram a economia social e solidária e, dentrodessa galáxia, a constelação cooperativa.

No entanto, mesmo os caminhos auspiciosos,através dos quais podemos procurar com êxito ofuturo, não estão livres de dificuldades. Pelo con‑trário,muitasvezesseentrelaçamunsnosoutros,ou são envolvidos por neblinas de ocultação, emambos os casos nos confundindo e levando‑nosmais ao desespero do que à esperança. Por isso, éimportante valorizar caminhos claros e soluçõessimples.

Cooperativas.indd 75 10-01-2013 18:37:06

Page 77: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 76

E um futuro que valha a pena será mais facil‑menteatingidose aprendermosaprocurá‑locomsimplicidade, se soubermos inscrevê‑lo no hori‑zonte da esperança como um objetivo desenhadocom nitidez ao qual nos liguem caminhos quecompreendemos e que podemos percorrer comnaturalidade e, portanto, com simplicidade. Masa sabedoria das respostas simples nem sempreé fácil de atingir. Muitas são as vezes em que sediluinasneblinasideológicasquenosqueremverparalisados.

6.2 Quem vive numa época de transição temmuitasvezesdificuldadeemavaliar,comexatidão,em que medida está a sair de um mundo que vaideixar de ser e a caminhar rumo a um outro queainda está por vir. E essa dificuldade aumentaquando, como atualmente acontece em muitosaspetos,omundoemquevivemos,sendocadavezmais uno, não deixa de comportar uma multipli‑cidadededestinos.Aunidadenãoapagaadiversi‑dade. A vida da diversidade está em larga medidanapartilhadeumcaminhoqueaamadureça,maséadiversidadequeevitaqueaunidadeseconvertanuma uniformidade estagnada.

Aliás,nacriseatual,hádificuldadeseesperançasque são globais, mas pode haver outras que seconcentram mais num país ou numa região. Sóassimsecompreendequeacriseeuropeiae,numoutroregisto,acriseeuro‑norte‑americananãoserepercutamemtodoomundo,nemcomamesmaintensidade, nem da mesma maneira.

O drama do capitalismo na Europa não seestende com a mesma densidade nem aos EUA,nemaorestodomundo.Eestadiversidadetalvez

Cooperativas.indd 76 10-01-2013 18:37:06

Page 78: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 77

reflita, por si própria, a passagem de um mundohegemonizado pela Europa em pareceria com osEUAparaummundomultipolaremqueaEuropatenderá a não ser mais do que um entre váriospolos.Umapartedeumaorquestradecivilizaçõese não o paradigma único da civilização. A Europatem, por isso, necessariamente, que assumir umaatitude nova. A força das coisas vai pressioná‑laa renunciar aos seus velhos tiques hegemónicos,possivelmente,parapoderserparteintegrantedeumanovarededecivilizações,articuladasportec‑nologias e lógicas organizativas tendencialmenteuniversais.

Épossível,masnãoécerta,essametamorfose,cujo êxito, aliás, dependerá muito do reforço dasvirtudescoletivasestrategicamentemaisimportan‑tes e do esbatimento das atitudes individualistassocialmentemaisestéreis.Assim,aindaépossívelabrir na Europa um novo tempo, embora perma‑neça o risco de ela deslizar para uma melancólicasubalternidade, que poderá ser paga duramentepelos povos europeus. E, na minha perspetiva, oriscodeocorreropiortemcomofatorprincipaloprolongamentoartificialeestérildeumcapitalis‑mo cristalizado na sua versão neoliberal. A espe‑rança de se conseguir o melhor robustece‑se peloacelerar de uma metamorfose humanizante queabra a porta a um pós‑capitalismo, onde vicejemas lógicas cooperativas, mutualistas e solidárias.Lógicasque,sendohojesubalternaseresistentes,antecipam um amanhã por que vale a pena lutar.

6.3 Na sequência do que se vem escrevendo,recuemos algumas décadas, até aos anos 80 do

Cooperativas.indd 77 10-01-2013 18:37:06

Page 79: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 78

séculoxx,paraalicerçarmosmelhoroquequere‑mos dizer como conclusão deste texto.

Nofimdadécadade80doséculoxx,omodelosoviéticovigentenaprópriaUniãoSoviéticaeemdiversospaísesdaEuropaOrientaldesmoronou‑se.Oquepareciaprotagonizaraúnicanarrativadirigi‑daaofuturocapazdeconcorrerglobalmentecomanarrativacapitalistarevelou‑seafinalumatalhodahistóriaquedesembocounodramáticofalhançodamaissólidatentativadesuperaçãodocapitalismo.ÉcertoqueforadaEuropasobreviveramalgumasvariantes do modelo soviético. Mas, com exceçãodaChina,nãotêmdimensãonemforçaeconómicaou militar para serem protagonistas no xadrezpolítico global.

Écerto que aChina, pelasuaevolução,pareceter‑seincorporadonosistemacapitalistamundial,mas conserva uma clara independência políticaestratégicaecontinualideradapeloPartidoComu‑nistachinêsnumregimedepartidoúnico.Seráporissoprudentedeixaremabertoumainterrogaçãoacerca do futuro do protagonismo chinês à escalamundial, encarando‑o como uma particularidaderelevante no mundo pós‑guerra‑fria. Essa inter‑rogação, embora relevante, não diminui a impor‑tância histórica do desmoronamento soviético.Uma importância especialmente marcante noplano europeu, bem como por ter indiretamenteconduzidoaumperíodoprolongadodehegemonianorte‑americana, à escala mundial.

Por isso mesmo, não é de estranhar quealgunsexpoentesideológicosdocapitalismo,talvezsurpreendidos e extasiados pela facilidade comque viram desaparecer o principal adversário, se

Cooperativas.indd 78 10-01-2013 18:37:06

Page 80: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 79

tenhamungido,semcautela,deumailusãodeeter‑nidade.Embrulharam,semobjetividadenemrigor,ocapitalismonaideiadedemocracia,ficcionaramainseparabilidadeentreumeoutra,tentaramsempudor fazê‑la absorver por aquele, amputando‑adas vertentes que ele pudesse digerir pior.

Os«chiens de garde»docapitalprocuraramdeses‑peradamentecolarorótulodecríticosdademocra‑ciaaoscríticosdocapitalismo,desembainhando‑acomo bandeira que fosse exclusivamente sua.Travestindo‑sedeseusamigosíntimos,sugeriramqueadefesadademocraciaeraamaiorrazãoparadefenderem o capitalismo. Procuravam assimconvertê‑lonomododeserdademocracianoplanoeconómico. E assim julgaram ter ganho legitimi‑dadeparaenvolveremocapitalismonumangélicomantodevirtudes.Aessepassedemagiaideológicachamaram solenemente o fim da história.

Mas se o ilusionismo ideológico pode hipno‑tizar os mais desprevenidos, nada pode contrao irremovível peso da realidade. Pode, quandomuito, estancar por algum tempo a sua marcha,mas não pode travar para sempre o seu ímpetodeprosseguir.Defacto,apesardedecretadoofimda história, os excluídos não desapareceram e osprivilegiadoscontinuamfirmementeinstaladosnafruiçãodassuasvantagens.Osaparelhosideológi‑cossabiamenteusadosporsofisticadoscapatazes,semprefiéisaointeressedosrespetivossenhores,podem fazer com que o sistema vá funcionandomenos mal, escapando aos abismos verdadeira‑mente irremediáveis, mas não estão em posiçãode contribuir para o mudar. Podem ir adiando oseu fim, mas não podem torná‑lo eterno.

Cooperativas.indd 79 10-01-2013 18:37:06

Page 81: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 80

É pois evidente que os conflitos sociais nãosó não desapareceram como nem sequer foramestancados.Ospovosinquietam‑se,angustiam‑se,começamarebelar‑se.Agrandenarrativaquenospropunha um capitalismo eterno perde verosimi‑lhança. Foi‑se arrastando de tropeço em tropeço,atéquaseseteresvaídocomaatualcrise.Caminhaassim a contragosto para o museu das narrativashistóricas esgotadas, onde a já espera uma outramuito mais breve, a narrativa soviética. É aindadifícil saber‑se com exatidão quando lá chegará,massabe‑sequeparalácaminhainexoravelmente.Mortasasnarrativasquenoslevavamparaofutu‑ro, deverá ele ser dado como desaparecido?

Os cidadãos e os povos vão mostrando comcrescenteclarezaquenãoaceitamsercondenadosdóceis a esse dramático vazio, a esse angustianteconfiscodetodaaesperança.Todasasresistênciasaessesombriodestinosão,porisso,cadavezmaispreciosossinaisdevida,antecipaçõesdeumfuturoque não se pode deixar morrer.

6.4 Embora esbatidos pela neblina com que aideologiadominanteosenvolve,nestetempodifícilda nossa contemporaneidade, há novos atores nopalcodahistória,assimcomoacordamoutrosquepareciamdealgummodoadormecidos.Entreestesúltimos, contam‑se as cooperativas.

Naverdade,esseartefactodesurdaresistênciaao capitalismo, movido pela cooperação comosua energia criadora, historicamente assinaladono seu código genético pela sua pertença ao mo‑vimento operário, ganhou amplitude mundial.Alfobre consistente de futuros, mostrou na suaexpressão moderna, ao longo dos dois últimos

Cooperativas.indd 80 10-01-2013 18:37:06

Page 82: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 81

séculos, a sua vocação para responder com agili‑dade a desafios imediatos, pela sua proximidadecomosproblemasepeloseuenraizamentodiretonas pessoas. Impregnado por uma lógica distintada que constitui o cerne do capitalismo, ou seja,da lógica do lucro como motor da acumulaçãodo capital, o cooperativismo ilustra, pela simplesexistência de cooperativas, como pode dar frutosuma via que se traduza na instrumentalizaçãodo capital, dessa maneira colocado ao serviço dacriação de utilidades, em vez de se servir delaspara se reproduzir.

A subalternidade do fenómeno cooperativono contexto capitalista, graças ao seu envolvi‑mento com o futuro, resultante da sua inscriçãono horizonte pós‑capitalista, é profundamenteimpregnada por uma atitude de resistência. Nãoé pois uma subalternidade conformada, uma vezque incorpora a irredutível ambição de deixar deo ser. Por isso, as cooperativas incorporam comoelemento nuclear da sua natureza, como marcagenéticaindisfarçável,essegrãodeutopiaquelhestransmite uma energia futurante.

Vem de longe a República Cooperativa deCharles Gide ou a Comunidade Cooperativa dosfabianos ingleses ou a ideia de um setor coo‑perativo viabilizador de uma vida cooperativacompleta, mesmo em contexto capitalista, comosustentavaAntónioSérgio.Mas,atéaocolapsoouaodescréditodasgrandesnarrativasdoséculoxx,essasvisõesdefuturopareciamirremediavelmentecondenadasaumestatutomuseológico,encaradascomo imaginações irrealistas cunhadas por umaaparente impossibilidade histórica.

Cooperativas.indd 81 10-01-2013 18:37:06

Page 83: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 82

6.5Hoje,acooperatividade,afirmando‑setam‑bémcomoumpresentequejáenvolvemilhõesdesereshumanos,projeta‑senofuturocomohorizonte.Masessaambiçãoprospetivanãoestáencasulada,convivendoecompetindocomaprocuradeoutroshorizontes, sejam eles os que projetam no pós‑‑capitalismo a ideia de um socialismo renovado,sejamosqueencaramaeconomiasocialesolidáriacomogaláxiaqueantecipaofuturoenosestimulaa caminhar para ele. Horizonte cooperativo que,para além de se poder conceber como específico,não foge a uma interação permanente comhorizontesvizinhosrumoaumaglobalizaçãoqueenvolva todos eles, proposta como rosto de umpós‑capitalismo desejável.

É importante dizer‑se que a valorização dacooperatividade como horizonte implica pôr emrelevo a cooperação como fator qualificante dasociedadeevernascooperativasumeixorelevantedo desenvolvimento social. Mas o facto de se darcentralidadeaumfenómenouniversalqueétam‑bém vivência de laços de solidariedade significa,pornaturalsinergia,encorajá‑lanasrelaçõesentreos povos.

A fase atual do capitalismo acelerou o tempoe tornou os vários lugares do mundo muito maispróximos uns dos outros, através de um processousualmente designado como globalização. Estaglobalizaçãoénoessencialpredatória,opressivaeexploradora, mas engloba também vertentes queonãosão.São,comovimos,vertentessubalternasque resistem às dominantes. Vivem de práticase estruturas de natureza emancipatória, liberta‑doraehumanizante.Édentrodelasquesesituao

Cooperativas.indd 82 10-01-2013 18:37:06

Page 84: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 83

movimento cooperativo. Precisamente por isso, aideiadeumhorizontecooperativoevidenciatam‑bémacomplexidadecontraditóriadoprocessodeglobalização, mostrando como faz sentido pugnarpelo robustecimento dos seus aspetos emancipa‑tórios,demodoacontribuirparaachegadadeumtempo em que deixem de ser subalternos.

Ascooperativascorrespondem,porisso,aumapráticasocialintrinsecamentefuturante,contando‑‑seentreosfocosdeumaresistênciaativaaoquehá de anti‑humano nas sociedades do presente.A sua especificidade radica‑se naturalmente naidentidadecooperativa,mastambémnasuapulsãorumo a um horizonte próprio.

Vimos que elas estão impregnadas por umalógica empresarial particular, bem diferente dalógica do lucro. Nessa medida, são um relevantefator de diversidade na paisagem empresarial,uma vez que, embora agindo no mercado, em vezde se estruturarem para maximizar lucros, visamprimordialmente a excelência dos serviços queconstituemoobjetivodarespetivaatividade.Visamo interesse geral, apesar de não se situarem nointerior da esfera pública.

Essamesmalógica,quetranscendeaprocuradolucro,estende‑seporváriostiposdeorganizações,quesecongregamnoquesimbolicamentepodemosconsiderar como a galáxia de toda a economiasocial, movida por múltiplos objetivos e gerandoum vasto leque de oportunidades de trabalho.Estagrandegaláxiadaeconomiasocial,apesardeheterogénea, tem, como elemento unificador, emparalelocomoqueocorrecomaconstelaçãocoo‑perativa,quandoencaradaautonomamente,ofacto

Cooperativas.indd 83 10-01-2013 18:37:06

Page 85: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 84

de ser constituída por organizações que visam,primordialmente, com o máximo de qualidade, aprestação de um certo serviço ou a realização deumacertaatividadepelautilidadequedaíresulteparaosseusmembrosouparaterceirosenãopararentabilizar capital.

Aapostanumhorizontecooperativoharmoniza‑‑se bem com a valorização estratégica dos pro‑cessos de desenvolvimento local, não só porquepotenciamenormementeaconsistênciadasredesde cooperativas, mas também porque, simetrica‑mente,ascooperativassãoparceirosadequadoseinsubstituíveis nesses processos. E essa sinergiaganha ainda mais força e relevância uma vez quea robustez dos poderes locais é uma importanteinstância de luta contra os aspetos predatórios eopressivos da atual globalização.

6.6 A energia futurante do movimento coope‑rativo,asuacapacidadeparaprojetarasrealidadesdehojenumhorizontequeaspotencie,vivemuitodafacilidadecomqueabsorvatodasasexperiênciasetodosossonhosoriundosdofenómenocoopera‑tivo. Mas, não podendo ser um reduto dogmático,alérgicoanovosdesafioseanovosestímulos,nãopode também ser uma caravana sem rumo quese esqueça da sua identidade e das balizas do seucaminho.

Porisso,adesejávelcriatividadedaimaginaçãocooperativa não pode confundir‑se com qualquerpermissividadequeconduzaaoesquecimentodosrespetivos valores e que aceite conviver com aadulteração dos princípios cooperativos.

O caminho imaginado não é fácil, mas as di‑ficuldades que vão ter nas suas vidas milhões de

Cooperativas.indd 84 10-01-2013 18:37:06

Page 86: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 85

sereshumanos,seocapitalismoforoseuprópriofuturo,serãobemmaioresdoqueaquelasqueterãoospovosqueempreendamumasaídaordenadadocapitalismo.Ocaminhoquesealmejaécomplexo,maspodeserdrasticamentesimplificadoseapren‑dermos a ler todos os sinais que no presente sãojáafinalpremoniçõesdoquehádevir.Eentreasorganizações cuja lógica futurante é mais visívelecujasimplicidadeémaisclaraestãoascoopera‑tivas. Por isso nos podem ajudar a compreenderem que medida a imaginação de um futuro quevalha a pena ser vivido é bem mais simples doque procurar esperança na perpetuação de umsistema capitalista capturado pelo fundamenta‑lismo neoliberal.

Cooperativas.indd 85 10-01-2013 18:37:07

Page 87: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Cooperativas.indd 86 10-01-2013 18:37:07

Page 88: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 87

Bibliografia

AA.VV.,Cooperativismo e Socialismo, Coimbra,Centelha,1973.ANDRADE, Inácio Rebelo de, O Itinerário Cooperativo Portu‑

guês, Évora, Universidade de Évora, 1990.BARROS, Henrique de, Cooperativismo: Discursos Políticos,

Lisboa, INSCOOP, 1978.BASTOS,JoãoCarlosPereira,Cooperativas depois de Abril — Uma

Força dos Trabalhadores, Coimbra, Centelha, 1977.BÖÖK, Sven Åke, Co‑operative Values in a Changing World,

Genebra, ICA, 1992.CORREIA,J.M.Sérvulo,«Osectorcooperativoportuguês»,in

Boletim do Ministério da Justiça, n.º 196, Lisboa, 1970.COSTA, Fernando Ferreira da, As Cooperativas e a Economia

Social, Lisboa, Livros Horizonte, 1986.DESROCHE, Henri, Le Projet Coopératif, Paris, Les Éditions

Ouvrières, 1976.DIVAR,Javier,La Alternativa Cooperativa,Barcelona,Ediciones

CEAC, 1985.DRIMER,AliciaKaplandeeDRIMER,Bernardo,Las Coopera‑

tivas — Fundamentos — Historia — Doctrina,2.ªed.,BuenosAires, INTERCOOP, 1975.

FAUQUET, Georges, O Sector Cooperativo, Lisboa, LivrosHorizonte, 1979.

FAVREAU,Louis,Mouvement Coopératif — Une Mise en Perspec‑tive, Québec, Presses Universitaires du Québec, 2010.

GIDE, Charles, O Programa Cooperatista, Lisboa, Seara Nova,1937.

GONÇALVES, Bento, O Estado e as Cooperativas, Lisboa,INSCOOP, 1983.

LAIDLAW, Alexander Fraser, As Cooperativas no Ano 2000,Lisboa, INSCOOP, 1983.

LASSERRE,Georges,«Signification Économique et Morale des Règles de Rochdale», in Les Principes Coopératifs — Hier, Aujourd’hui, Demain, Paris, Institut des Études Coopéra‑tives, 1967.

LEITE, João Salazar, Cooperação e Intercooperação, Lisboa,Livros Horizonte, 1982.

____, Enquadramento Histórico‑Social do Movimento Coopera‑tivo, Lisboa, INSCOOP, 1994.

Cooperativas.indd 87 10-01-2013 18:37:07

Page 89: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

© 88

MACPHERSON,Ian,Princípios Cooperativos para o Século XXI,Lisboa, INSCOOP, 1996.

MEIRA,DeolindaAparício,O Regime Económico das Cooperati‑vas no Direito Português, Porto, Vida Económica, 2009.

NAMORADO, Rui, Os Princípios Cooperativos, Coimbra, Forado Texto, 1995.

____, Introdução ao Direito Cooperativo, Coimbra, Almedina,2000.

____, Horizonte Cooperativo, Coimbra, Almedina, 2001.____, Cooperatividade e Direito Cooperativo, Coimbra, Alme‑

dina, 2005.OIT, Recommandation 127, Genebra, OIT, 1966.PINHO, Diva Benevides, A Doutrina Cooperativa nos Regimes

Capitalista e Socialista, São Paulo, Livraria Pioneira Edi‑tôra, 1966.

RAMAEKERS, Roger, «Analyse Critique des Principes Coopé‑ratifs», in Les Principes Coopératifs — Hier, Aujourd’hui, Demain?, Le Mans, Univ. du Maine, 1985.

RODRIGUES, José António, Código Cooperativo — Anotado e Comentado e Legislação Cooperativa, 4.ª ed., actualizada eaumentada, Lisboa, Quid Juris, 2011.

SÉRGIO, António, Alocução aos Socialistas, Lisboa, EditorialInquérito, 1947.

____, Confissões de Um Cooperativista, Lisboa, Editorial In‑quérito, 1948.

____,«Quadrogeraldocooperativismoedosectorcooperativo»,in O Cooperativismo — Objectivos e Modalidades, Lisboa,Edição do Autor, 1958a.

____, Sobre o Espírito do Cooperativismo, Lisboa, Edição doAutor, 1958b.

TORRESYTORRESLARA,Carlos,Cooperativismo — El Modelo Alternativo, Lima, Universidad de Lima, 1983.

VIENNEY,Claude,Socio‑Économie des Organisations Coopéra‑tives, Paris, CIEM, 1980.

VROUTSH[colectivo],Cooperativas: Socialismo ou Regressão?,Coimbra, Centelha, 1977.

WATKINS,WilliamPascoe,Co‑operative Principles — Today & Tomorrow, Manchester, Holyoake Books, 1986.

Cooperativas.indd 88 10-01-2013 18:37:07

Page 90: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

O  Essencial  sobre

1  Irene  Lisboa Paula Morão

2  Antero  de  Quental Ana Maria A. Martins

3  A  Formação da  Nacionalidade

Ana Maria A. Martins

4  A  Condição  Feminina  Maria Antónia Palla

5  A  Cultura  Medieval  Portuguesa (Sécs. XI e XIV) Maria Antónia Palla

6  Os  Elementos Fundamentais  da  Cultura

Jorge Dias

7  Josefa  D’Óbidos Vítor Serrão

8  Mário  de  Sá  Carneiro Clara Rocha

9  Fernando  Pessoa Maria José de Lancastre

10  Gil  Vicente Stephen Reckert

11  O  Corso  e  a  Pirataria Ana Maria P. Ferreira

12  Os  «Bebés-proveta» Clara Pinto Correia

13  Carolina  Michaëlis  de  Vasconcelos Maria Assunção Pinto Correia

14  O  Cancro José Conde

15  A Constituição Portuguesa Jorge Miranda

16  O  Coração Fernando de Pádua

17  Cesário  Verde Joel Serrão

18  Alceu  e  Safo Albano Martins

19  O Romanceiro Tradicional J. David Pinto‑Correia

20  O  Tratado  de  Windsor Luís Adão da Fonseca

21  Os  Doze  de  Inglaterra A. de Magalhães Basto

22  Vitorino  Nemésio David‑Mourão Ferreira

23  O  Litoral  Português Ilídio Alves de Araújo

24  Os  Provérbios  Medievais Portugueses

José Mattoso

25  A  Arquitectura  Barroca  em  Portugal Paulo Varela Gomes

26  Eugénio  de  Andrade Luís Miguel Nava

27  Nuno  Gonçalves Dagoberto Markl

28  Metafísica António Marques

29  Cristóvão  Colombo e  os  Portugueses

Avelino Teixeira da Mota

Cooperativas.indd 89 10-01-2013 18:37:07

Page 91: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

30  Jorge  de  Sena Jorge Fazenda Lourenço

31  Bartolomeu  Dias Luís Adão da Fonseca

32  Jaime  Cortesão José Manuel Garcia

33  José  Saramago Maria Alzira Seixo

34  André  Falcão  de  Resende Américo da Costa Ramalho

35  Drogas  e  Drogados Aureliano da Fonseca

36  Portugal  e  a  Liberdade dos  Mares

Ana Maria Pereira Ferreira

37  A  Teoria  da  Relatividade António Brotas

38  Fernando  Lopes  Graça Mário Vieira de Carvalho

39  Ramalho  Ortigão Maria João L. Ortigão

de Oliveira

40  Fidelino  de  Figueiredo A. Soares Amora

41  A História das Matemáticas em  Portugal

J. Tiago de Oliveira

42  Camilo João Bigotte Chorão

43  Jaime  Batalha  Reis Maria José Marinho

44  Francisco  de  Lacerda J. Bettencourt da Câmara

45  A  Imprensa  em  Portugal João L. de Moraes Rocha

46  Raul  Brandão A. M. B. Machado Pires

47  Teixeira  de  Pascoaes Maria das Graças Moreira de Sá

48  A  Música  Portuguesa para  Canto  e  Piano

José Bettencourt da Câmara

49  Santo  António  de  Lisboa Maria de Lourdes Sirgado

Ganho

50  Tomaz  de  Figueiredo João Bigotte Chorão

51/  Eça  de  Queirós52 Carlos Reis

53  Guerra  Junqueiro António Cândido Franco

54  José  Régio Eugénio Lisboa

55  António  Nobre José Carlos Seabra Pereira

56  Almeida  Garrett Ofélia Paiva Monteiro

57  A  Música  Tradicional Portuguesa

José Bettencourt da Câmara

58  Saúl  Dias/Júlio Isabel Vaz Ponce de Leão

59  Delfim  Santos Maria de Lourdes Sirgado

Ganho

60  Fialho  de  Almeida António Cândido Franco

61  Sampaio  (Bruno) Joaquim Domingues

Cooperativas.indd 90 10-01-2013 18:37:07

Page 92: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

62  O  Cancioneiro  Narrativo Tradicional

Carlos Nogueira

63  Martinho  de  Mendonça Luís Manuel A. V. Bernardo

64  Oliveira  Martins Guilhermed’OliveiraMartins

65  O  Teatro  Luso-Brasileiro Duarte Ivo Cruz

66  Almada  Negreiros José‑Augusto França

67  Eduardo  Lourenço Miguel Real

68  D. António Ferreira Gomes Arnaldo de Pinho

69  Mouzinho  da  Silveira A. do Carmo Reis

70  O  Teatro  Luso-Brasileiro Duarte Ivo Cruz

71  A  Literatura  de  Cordel Portuguesa

Carlos Nogueira

72  Sílvio  Lima Carlos Leone

73  Wenceslau  de  Moraes Ana Paula Laborinho

74  Amadeo de Souza-Cardoso José‑Augusto França

75  Adolfo  Casais  Monteiro Carlos Leone

76  Jaime  Salazar  Sampaio Duarte Ivo Cruz

77  Estrangeirados no  Século  XX

Ana Paula Laborinho

78  Filosofia Política Medieval Paulo Ferreira da Cunha

79  Rafael  Bordalo  Pinheiro José‑Augusto França

80  D.  João  da  Câmara Luiz Francisco Rebello

81  Francisco  de  Holanda Maria de Lourdes Sirgado

Ganho

82  Filosofia Política Moderna Paulo Ferreira da Cunha

83  Agostinho  da  Silva Romana Valente Pinho

84  Filosofia  Política  da  Antiguidade  Clássica Paulo Ferreira da Cunha

85  O  Romance  Histórico Rogério Miguel Puga

86  Filosofia  Política  Liberal e  Social

Paulo Ferreira da Cunha

87  Filosofia  Política Romântica

Paulo Ferreira da Cunha

88  Fernando  Gil Paulo Tunhas

89  António  de  Navarro Martim de Gouveia e Sousa

90  Eudoro  de  Sousa Luís Lóia

91  Bernardim  Ribeiro António Cândido Franco

92  Columbano  Bordalo Pinheiro

José‑Augusto França

Cooperativas.indd 91 10-01-2013 18:37:07

Page 93: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

93  Averróis Catarina Belo

94  António  Pedro José‑Augusto França

95  Sottomayor  Cardia Carlos Leone

96  Camilo  Pessanha Paulo Franchetti

97  António  José  Brandão AnaPaulaLoureirodeSousa

98  Democracia Carlos Leone

99  A  Ópera  em  Portugal Manuel Ivo Cruz

100  A  Filosofia  Portuguesa (séculos  xix  e  xx)

António Braz Teixeira

101/ O  Padre  António  Vieira102 Aníbal Pinto de Castro

103  A História da Universidade Guilherme Braga da Cruz

104  José  Malhoa José‑Augusto França

105  Silvestre Pinheiro Ferreira José Esteves Pereira

106  António  Sérgio Carlos Leone

107  Vieira  de  Almeida Luís Manuel A. V. Bernardo

108 Crítica  Literária Portuguesa  (até  1940)

Carlos Leone

109  Filosofia  Política  Contemporânea (1887-1939) Paulo Ferreira da Cunha

110  Filosofia  Política  Contemporânea  (desde  1940) Paulo Ferreira da Cunha

111  O  Cancioneiro Infantil  e  Juvenil de  Transmissão  Oral

Carlos Nogueira

112  Ritmanálise Rodrigo Sobral Cunha

113  Política  de  Língua Paulo Feytor Pinto

114  O  Tema  da  Índia no  Teatro  Português

Duarte Ivo Cruz

115 A  I  República e  a  Constituição  de  1911

Paulo Ferreira da Cunha

116  O  Capital  Social Jorge Almeida

117  O Fim do Império Soviético José Milhazes

118  Álvaro  Siza  Vieira Margarida da Cunha Belém

119  Eduardo  Souto  Moura Margarida da Cunha Belém

120  William  Shakespeare Mário Avelar

Cooperativas.indd 92 10-01-2013 18:37:07

Page 94: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Cooperativas.indd 93 10-01-2013 18:37:07

Page 95: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Olivroo essencial sobrecooperativaséumaediçãoda

imprensa nacional-casa da moedatemcomoautorrui namorado

comdesignecapadoateliersilvadesigners

revisãoepaginaçãoincm

temoisbn978-972-27-2149-3edepósitolegal353 648/13.

Aprimeiraediçãode1000exemplaresacaboudeserimpressanomêsdejaneiro

doanodois mil e treze.cód.1019303

www.incm.ptwww.facebook.com/INCM.Livros

[email protected]

Cooperativas.indd 94 10-01-2013 18:37:07

Page 96: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Cooperativas.indd 95 10-01-2013 18:37:07

Page 97: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A … · numa doutrina que orienta o respetivo proselitis‑ mo, quer à reflexão teórica que ajuda a pensá‑las, quer ao tipo particular

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. NÃO É PERMITIDA A COMERCIALIZAÇÃO.

©

Cooperativas.indd 96 10-01-2013 18:37:07