distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de...

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MARIANA SILVA BEZERRA Distribuição espaço-temporal da prevalência de Insegurança Alimentar associada às condições de vulnerabilidade social no Brasil Natal/RN 2017 www.posgraduacao.ufrn.br/ppgscol [email protected] 55-84-3342-2338 CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

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Page 1: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

MARIANA SILVA BEZERRA

Distribuição espaço-temporal da prevalência de

Insegurança Alimentar associada às condições de

vulnerabilidade social no Brasil

Natal/RN

2017

www.posgraduacao.ufrn.br/ppgscol [email protected] 55-84-3342-2338

CENTRODECIÊNCIASDASAÚDEPROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMSAÚDECOLETIVA

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MARIANA SILVA BEZERRA

Distribuição espaço-temporal da prevalência de

Insegurança Alimentar associada às condições de

vulnerabilidade social no Brasil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências

da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, como requisito para a obtenção do título

de Mestre em Saúde Coletiva.

Orientador: Profª. Dra. Clélia de Oliveira Lyra

Natal/RN

2017

Page 3: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos - ­Departamento de

Odontologia

Bezerra, Mariana Silva.

Distribuição espaço-temporal da prevalência de Insegurança

Alimentar associada às condições de vulnerabilidade social no

Brasil / Mariana Silva Bezerra. - 2018.

75f.: il.

Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde,

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Natal, 2018.

Orientador: Profª. Drª. Clélia de Oliveira Lyra.

1. Segurança Alimentar - Dissertação. 2. Vulnerabilidade

Social - Dissertação. 3. Determinantes Sociais da Saúde -

Dissertação. I. Lyra, Clélia de Oliveira. II. Título.

RN/UF/BSO BLACK D585

313/15 – HADASSA DANIELE SILVA BULHOES

Page 4: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

Àqueles que acreditam e torcem por mim

(família, amigos, amor).

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AGRADECIMENTOS

Á Deus, por toda proteção, força e coragem para que as dificuldades fossem enfrentadas.

Aos meus pais José Inácio e Ivone, por terem me ensinado princípios e valores que foram

fundamentais para que eu pudesse concluir essa tarefa.

Ao meu noivo Felipe, meu principal incentivador, obrigada por me fazer acreditar no meu

potencial e a enxergar a vida e seus desafios de uma forma mais leve.

Aos meus amigos e familiares, pelos afetos e carinho em todas as etapas de minha vida, vocês

foram essenciais para que esses anos fossem mais tranquilos e prazerosos.

A minha orientadora e mestre Clélia de Oliveira Lyra por ter me acolhido mesmo a toda

conturbação. Agradeço todo o aprendizado, paciência e motivação, seu apoio foi crucial para

que eu chegasse até aqui.

Aos colegas de mestrado (Adriano, Brunna, Tatiana, Hellyda, Eva, Layanne, Lídia e Ingrid)

pelo convívio e conhecimentos partilhados, exemplos de profissionais e alunos.

Aos professores colegas de trabalho e alunos, pela compreensão diária na minha árdua tarefa

de conciliar o mestrado com a sala de aula.

As professoras Maria Ângela e Michelle Medeiros pelas excelentes contribuições, as quais me

fizeram acreditar na importância e relevância do meu trabalho.

Ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/ UFRN pela oportunidade de aprendizado

com grandes mestres.

Page 6: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

“Cada dia a natureza produz o suficiente para

nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe

fosse necessário, não havia pobreza no mundo

e ninguém morreria de fome.”

Mahatma Gandhi

Page 7: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

RESUMO

O objetivo foi analisar a distribuição espaço-temporal da insegurança alimentar e sua correlação

com indicadores de vulnerabilidade social, condições socioeconômicos e mortalidade infantil,

no Brasil. Estudo ecológico, com dados de dois inquéritos nacionais, a Pesquisa Nacional

Amostra de Domicílios (2004, 2009 e 2013) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e

o Altas Brasil do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010). Foi realizada uma análise

descritiva das variáveis no software Statistical Package for the Social Science Statistics (SPSS)

para cálculo das prevalências de insegurança alimentar considerando os pesos amostrais e efeito

do desenho. Para análise temporal da distribuição espacial das prevalências de insegurança

alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013, foi realizada a divisão em quartis dos dados de 2004,

por ser considerado o primeiro ano de análise e o que encontra-se com maiores prevalências e,

utilizou-se esses valores como pontos de corte para distribuição das prevalências nos três anos.

Na análise espacial bivariada, para analisar o padrão de distribuição espacial e a intensidade

dos aglomerados (cluster, aleatório ou disperso), foi utilizado o Índice de Moran, considerando

como significância estatística o valor de p<0,05. A ocorrência de aglomerados e a significância

estatística desses aglomerados foram demonstrados pelo MoranMap e pelo LisaMap. As

prevalências de insegurança alimentar diminuíram nos anos analisados e apresentaram

correlação espacial negativa e moderada com o IDH (-0,643; p<0,05); positiva e moderada com

% de extremamente pobres (0,684; p<0,05), mortalidade infantil (0,572; p<0,05), índice de

vulnerabilidade social (0,654; p<0,05), índice de vulnerabilidade social capital humano (0,636;

p<0,05); positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho (0,716; p<0,05)

e positiva e fraca com índice de vulnerabilidade social infraestrutura (0,273; p<0,05). Conclui-

se que houve diminuição da prevalência de IA de 2004 a 2013 e que o território brasileiro

apresentou dois padrões distintos, um com territórios com maiores prevalências de IA e piores

condições de renda, trabalho e saúde infantil nas regiões Norte e Nordeste e outro com menores

prevalências de IA e menor vulnerabilidade de acordo com os indicadores analisados em UF

nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Palavras-chave: Segurança Alimentar; Vulnerabilidade social; Determinantes Sociais da Saúde.

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ABSTRACT

This study aimed to evaluate the temporal and spatial distribution of food insecurity and its

correlation with indicators of social vulnerability, socioeconomic conditions and infant

mortality in Brazil. Ecological study, with data from two national surveys, the Brazilian

National Household Survey (2004, 2009 and 2013) from the Brazilian Institute of Geography

and Statistics, and Altas Brasil from the Institute of Applied Economic Research (2010). A

descriptive analysis of the variables was performed in the software Statistical Package for the

Social Science Statistics (SPSS) to calculate the prevalence of food insecurity considering

sample weights and design effect. For the temporal analysis of the spatial distribution of food

insecurity prevalence in 2004, 2009 and 2013, a division into quartiles of the 2004 data was

performed, since it was considered the first year of the analysis and the one with the highest

prevalence rates, thus these values were used as cut-off points for the distribution of prevalence

rates in the three years. In the bivariate spatial analysis, to analyze the spatial distribution pattern

and the intensity of the clusters (cluster, random or dispersed), Moran’s Index was used,

considering p <0.05 as the statistical significance. The occurrence of clusters and their statistical

significance were demonstrated by MoranMap and LisaMap. The prevalence of food insecurity

decreased in the years analyzed and showed a negative and moderate spatial correlation with

HDI (-0.643; p<0.05); positive and moderate with % of extremely poor (0.684; p<0.05), infant

mortality (0.572; p<0.05), social vulnerability index (0.654; p<0.05), social vulnerability index

- human capital (0.636; p<0.05); positive and strong with social vulnerability index – income

and labor (0.716; p<0.05) and positive and weak with social vulnerability index – infrastructure

(0.273; p<0.05). It is concluded that the Brazilian there was a decrease in the prevalence of FI

from 2004 to 2013 and Brazilian territory presented two distinct patterns, one with territories

with higher prevalence of FI and worse conditions of income, work and child health in the North

and Northeast regions, and another one with a lower prevalence of FI and lower vulnerability

according to the indicators analyzed in federative units of the Central-West, Southeast and

South regions.

Keywords: Food Security; Social vulnerability; Social Determinants of Health.

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LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS

Quadro 1 - Indicadores de Insegurança Alimentar e Nutricional..........................................................27

Quadro 2 – Variáveis do estudo............................................................................................................38

Quadro 3 – Descrição da situação de segurança alimentar de acordo com classificação da EBIA......40

Quadro 4 – Pontuação para classificação dos domicílios, com e sem menores de 18 anos de idade,

segundo EBIA.........................................................................................................................................41

Quadro 5 – Questionário EBIA.............................................................................................................41

Quadro 6 – Descrição e peso dos indicadores que compõem o Índice de Vulnerabilidade Social.......44

Figura 1 – Linha do tempo da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil

................................................................................................................................................................23

Figura 1 – Prevalências de Insegurança Alimentar domiciliar no Brasil, em 2004, 2009 e

2013.............................................................................................................................. .............62

Figura 2 – Distribuição espacial das prevalências de insegurança alimentar, por Unidades da Federação,

Brasil, 2004, 2009 e

2010........................................................................................................................................................63

Figura 3 - Distribuição dos clusters da correlação espacial bivariada LISA das prevalências de

insegurança alimentar com variáveis socioeconômicas e demográficas, nas Unidades Federativas do

Brasil, 2009-2010....................................................................................................................................66

Figura 4 - Distribuição dos clusters da correlação espacial bivariada LISA das prevalências de

insegurança alimentar com o Índices de Vulnerabilidade Social, nas Unidades Federativas do Brasil,

2009-2010...............................................................................................................................................67

Tabela 1 - Prevalência de domicílios em situação de insegurança alimentar e variáveis socioeconômicas

e demográficas, por Unidades da Federação, Brasil,

2009/2010.................................................................................................................... ...........................64

13

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BA Banco de Alimentos

CAISAN Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional

CNAN Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição

CNSA Conferência Nacional de Segurança Alimentar

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar

DHAA Direito Humano à Alimentação Adequada

EBIA Escala Brasileira de Medida de Segurança Alimentar

EMBRATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural

FAO Food and Agriculture Organization

FBSAN Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

HFSSM Household Food Security Survey Module

IA Insegurança Alimentar

IAN Instituto de Alimentação e Nutrição

INSAN Insegurança Alimentar e Nutricional

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LISA Local Indicators of Spatial Association

LOSAN Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional

MESA Ministério Extraordinário da Segurança Alimentar e Combate à Fome

PAA Programa Aquisição de Alimentos

PIDESC Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

PNAD Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição

PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

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PBF Programa Bolsa Família

PFZ Programa Fome Zero

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RDPC Renda Domiciliar Percapita

RP Restaurante Popular

SA Segurança Alimentar

SAN Segurança Alimentar e Nutricional

SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados

SIG Sistemas de Informação Geográficas

SISAN Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional

TR Transferência de Renda

UF Unidade de Federação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................13

2 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................................15

2.1 HISTÓRICO, CONCEITOS, POLÍTICAS E INTERVENÇÕES DA SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL .........................................................................................................................................15

2.2 MENSURAÇÃO DA (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL ..................................23

2.3 PREVALÊNCIAS E DETERMINANTES DA (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

............................................................................................................................. ................................................27

3 OBJETIVOS .........................................................................................................................................35

3.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................................35

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..........................................................................................................35

4 MÉTODO ..............................................................................................................................................36

4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA ...........................................................................................36

4.2 PLANO AMOSTRAL ....................................................................................................................36

4.3 VARIÁVEIS ..................................................................................................................................37

4.4 PROCESSAMENTO DOS DADOS ................................................................................................39

4.4.1 Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) ....................................................................39

4.4.2 Atlas Brasil (PNUD) .......................................................................................................................41

4.4.3 Atlas de Vulnerabilidade Social ......................................................................................................42

4.5 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................................44

5 ARTIGO PRODUZIDO .......................................................................................................................46

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................68

7 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................69

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1 INTRODUÇÃO

No início da década de 2000, 55 milhões de brasileiros viviam na pobreza, com metade

de um salário mínimo mensal per capita, dentre os quais 24 milhões viviam com menos de ¼

de um salário mínimo, em condições de pobreza extrema (FAO, 2015). Esse cenário, constitui

uma realidade da estrutura econômico-social do país, que figura dentre as nações com maior

desigualdade de renda de todo o mundo. Como forma de diminuir essa desigualdade surge a

necessidade de formulação e implantação de políticas de Segurança Alimentar e Nutricional

(SAN) mais abrangente e eficazes (AMARAL; BASSO, 2016).

Em 2003, com início da gestão do presidente Luís Inácio Lula da Silva, a SAN entrou

como eixo prioritário nas ações governamentais, com vistas a combater o quadro de fome e

miséria no país. O conceito de SAN se consagrou pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e

Nutricional (LOSAN) definida pela realização do direito de todos os cidadãos ao acesso a

alimentos de maneira regular e saudável, de modo que a garantia desse direito não afete as

demais necessidades essenciais, respeitando a diversidade cultural e que seja sustentável do

ponto de vista ambiental, econômico e social (BRASIL, 2006).

Isso foi possível por meio de processos históricos e sociais vastos que assumiram uma

dinâmica bastante particular do caso brasileiro, caracterizado por um conceito ampliado e

desafiador. Foi a partir de diversas organizações da sociedade civil, instituições e movimentos

sociais que se constituíram redes de políticas nessa temática (BRASIL, 2006). A perspectiva

ampliada da LOSAN, não se restringe à temática da fome, da produção, do consumo ou ainda,

do alimento seguro. Outras questões foram incorporadas, tais como o componente nutricional;

a dimensão da sustentabilidade dos sistemas produtivos; os aspectos culturais e simbólicos; as

desigualdades e a promoção de práticas alimentares saudáveis (ANJOS, BURLANDY, 2010).

Em 2004 foi então incorporado a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) à

Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) com intuito de mensurar a Insegurança

Alimentar (IA) no Brasil e compreender a sua problemática. Foi diagnosticado que 34,8% da

população brasileira vivia em algum grau de IA em, deste percentual, na região Nordeste 12,4%

apresentava IA grave. Em 2009 e 2013 esses dados foram novamente coletados e notou-se uma

redução dos níveis de IA em âmbito nacional para 30,2% e 22,6%, respectivamente (IBGE,

2010; IBGE, 2014).

A medição da IA por meio da EBIA é um indicador que reflete a desigualdade social,

pois indica o não cumprimento dos direitos essenciais de um indivíduo e repercute

negativamente na qualidade de vida de uma população. Na análise da IA deve-se identificar

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seus determinantes, e com isso, tornar possível identificar quais os grupos mais vulneráveis,

facilitando o direcionamento das práticas a serem realizadas e a formulação de ações que

possam solucionar ou amenizar este problema (ANTUNES; SICHIERI; SALLES-COSTA,

2010).

Além disso, conhecer o comportamento espacial da IA pelo território brasileiro permite

uma perspectiva singular para melhor compreensão dos processos que permeiam a ocorrência

desse agravo. Essas técnicas de análise espacial de dados, permite a identificação de possíveis

padrões no território, que neste estudo procurou-se, investigar como esses padrões alimentares

e nutricionais se comportam ao longo do tempo e se organizam nos espaços geográficos. Esta

análise permite entender os fatores econômicos, sociais, políticos e culturais contribuintes para

a ocorrência de IA (FARIA; BORTOLOZZI, 2009).

Essa importância, se deve ao fato de ser uma realidade ainda encontrada nos domicílios

brasileiros, em que essas privações e instabilidade de acesso aos alimentos, do ponto de vista

tanto qualitativo quanto quantitativo, decorrente de uma exclusão social, podem ocasionar

graves consequências ao bem-estar e saúde dos indivíduos. Então, conhecer esses territórios

afetados permitirá um planejamento de políticas públicas que tenham impacto na redução da

pobreza e das prevalências de IA, com garantia de SAN e Direito Humano à Alimentação

Adequada (DHAA).

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15

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 HISTÓRICO, CONCEITOS, POLÍTICAS E INTERVENÇÕES DA SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Em âmbito mundial, o conceito de Segurança Alimentar (SA) foi introduzido na Europa

a partir da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Sua origem esteve ligada à ideia de segurança

nacional e à capacidade dos países em produzir o seu próprio alimento e formação de estoques,

de modo que não dependessem de motivação política ou militar. Nesse período, ficou claro que

um país poderia exercer domínio sobre o outro através do controle do fornecimento de

alimentos. Com isso, a alimentação tornou-se uma importante arma de interesse,

principalmente, pelos países desenvolvidos (MALUF, 2011).

Depois desse período, principalmente após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), o conceito

de SA passou por evoluções sucessivas, incorporando-se outros aspectos importantes

relacionados à disponibilidade estável e adequada de alimentos, além do acesso e qualidade,

inserindo-se como estratégia de alcance da SA a redistribuição de recursos materiais, da renda

e da redução da pobreza (LIMA; SAMPAIO, 2015).

No Brasil, esses debates sobre a fome tiveram seu início em 1930 quando Josué de Castro

(1908-1973) escreveu seu primeiro ensaio sobre a dimensão e gravidade da fome no país. O

autor identificou que a fome era um fenômeno socialmente determinado e que, portanto,

requeria soluções sociais e políticas. Mais tarde, o grande apogeu da obra de Josué de Castro

foi a Geografia da fome, publicada em 1953, deu destaque ao conceito de “fome oculta, na qual

pela falta permanente de determinados elementos nutritivos, em seus regimes habituais, grupos inteiros

de populações se deixam morrer lentamente de fome, apesar de comerem todos os dias”, daí a

importância de políticas, programas e ações por parte do estado para promover e proteger o

Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Esse autor entendia o problema da

alimentação como um complexo de manifestações simultaneamente biológicas, econômicas e

sociais (MALUF, 2007; MALUF; REIS, 2013).

Em meados da década de 80, surgiram no Brasil uma série de movimentações sociais em

busca da ampliação dos direitos e melhores condições de vida, com ênfase na redução da

desigualdade social. O surgimento do termo “Segurança Alimentar” no país ocorreu bem

posteriormente, marcado por dois eventos da década de 80: a proposta, por indivíduos ligados

ao Ministério da Agricultura, da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(PNSAN), a qual visava o abastecimento alimentar para populações em vulnerabilidade; e a

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realização da I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição (I CNAN) em 1986 com foco

de tornar a alimentação um direito de todos (AMARAL, BASSO, 2016).

Durante esse desenvolvimento histórico do debate acerca da fome e miséria, surgiram

diferentes conceitos empregados a SAN, portanto, nota-se que é um conceito em permanente

construção, em que a inserção do adjetivo “Nutricional” à formulação tradicional “Segurança

Alimentar” foi característico do caso brasileiro desde à década de 90, interligando os enfoques

socioeconômicos e de saúde, os quais estiveram na base da noção de SAN (MALUF, 2007).

Elucida-se que nesse período, essa consolidação do conceito de SAN no País, ocorreu

entendendo-se que a SA está além da abordagem técnica da “segurança dos alimentos” referente

às condições higiênico-sanitárias. Foi compreendido que, de fato, o Brasil passou por mudanças

alimentares, que repercutiram no perfil nutricional da população, em que passou a predominar

a má nutrição ou Insegurança Alimentar e Nutricional (INSAN), expresso não apenas pelo

baixo peso, mas também pelo sobrepeso e obesidade em diversos seguimentos da sociedade

(LIMA; SAMPAIO, 2015).

Contrário ao cenário de reinvindicações visualizado nas décadas de 80 e 90, o Brasil foi

caracterizado por uma hegemonia política neoliberal, composta por uma fragmentação, além

de paralisia e retrocesso nas políticas sociais. Durante o governo do presidente Fernando Collor

de Mello (1990-1992), instituições relacionadas à SAN, como a Empresa Brasileira de

Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e o Instituto de Alimentação e Nutrição

(INAN) foram extintas ou desestruturadas, assim como diversos outros programas ligados à

alimentação (IPEA, 2014).

Em 1991, foi divulgada a proposta para implementação de uma Política de SAN buscando

uma maior descentralização, imprescindível para obtenção da SA. Inicialmente teve um restrito

impacto, porém, em 1993 foi aceita no governo de Itamar Franco como uma das

fundamentações para instalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA),

proporcionando contribuições através da introdução dos temas agroalimentar e fome como

prioridades no contexto nacional (MALUF; MENEZES; VALENTE, 1996).

O CONSEA o qual é um órgão de assessoramento imediato à Presidência da República,

que integra o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), é um espaço

institucional para o controle social e participação da sociedade na formulação, monitoramento

e avaliação de políticas públicas de SAN, com vistas a promover a realização progressiva do

Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), em regime de colaboração com as demais

instâncias do SISAN (MANIGLIA, 2009).

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17

A operacionalização de uma política de SAN, de acordo com a LOSAN, deve

proporcionar a articulação das dimensões alimentar (produção, comercialização e consumo) e

nutricional (utilização do alimento pelo organismo e sua relação com a saúde). Os princípios e

diretrizes da política atuam como norteadores das ações a partir dos dois grandes pilares: DHAA

e soberania alimentar (BURLANDY; MAGALHÃES; FROZI, 2013).

De acordo com a LOSAN, os princípios norteadores de uma política de SAN são:

universalidade, autonomia, respeito à dignidade humana, participação social e transparência, e

as diretrizes se referem à promoção da intersetoralidade, descentralização, monitoramento,

conjunção de medidas de caráter emergencial e estrutural, articulação entre gestão e orçamento

e ao estímulo ao desenvolvimento de pesquisas. Cabe, com isso, analisar como esses princípios

e diretrizes são concebidos nesse arcabouço legal (BRASIL, 2006).

Esse período de movimento de ação da cidadania iniciou uma grande sensibilização na

sociedade brasileira em relação à fome e a miséria. Com isso, ganhou adesão social e

institucional, culminando com a formação de diversos comitês de solidariedade e combate à

fome (estimativas apontam que, no final de 1995, existiam mais de cinco mil comitês operando

em todo o país), os quais atuavam na implantação de inúmeras capacitações, gerando trabalho

e renda. (TURPIN, 2008).

Nesse contexto, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais -

PIDESC, adotado pela XXI Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 19 de

dezembro de 1966, e promulgado no Brasil, pelo Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992,

estabeleceu, que os estados deveriam reconhecer o direito de todo indivíduo possuir condições

de vida adequadas, incluindo a alimentação. Para cumprir com tais objetivos, os estados

assumiram compromissos de difundir os princípios da educação nutricional, assegurando

divisão equitativa dos recursos alimentícios de acordo com as necessidades de cada País

(FARIA; SILVA, 2016).

Em 1998 teve início o processo de formulação da Política Nacional de Alimentação e

Nutrição (PNAN) e, em 1999 ela foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde como elemento

integrante da Política Nacional de Saúde. Os eixos de ação, definidos na I Conferência Nacional

de Segurança Alimentar (CNSA) em 1995, foram estratégicos para a construção da PNAN, são

eles: produção e acesso a uma alimentação de qualidade; necessidade de programas de

alimentação e nutrição para grupos populacionais nutricionalmente vulneráveis; controle de

qualidade dos alimentos; promoção de hábitos alimentares e estilos de vida saudável (BRASIL,

1999). Além disso, a PNAN inova ao firmar a promoção do DHAA como fundamento de suas

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ações e apontar para a necessidade de criação de uma política abrangente de SAN

(VASCONCELOS, 2005).

Ainda, no final desse mesmo ano, cerca de 50 entidades da Sociedade Civil criaram o

Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN), atualmente Fórum Brasileiro

de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, que procurou estimular a criação de

Conselhos Estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional nos estados brasileiros (FARIA;

SILVA, 2016).

Com a virada do milênio, a mobilização nacional a respeito do combate à fome e pobreza

se intensificaram, com isso, teve destaque as reinvindicações por políticas de SAN mais

eficazes, as quais culminaram com a vinculação do Programa Fome Zero (PFZ) ao plano de

governo do candidato à presidência da república Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) eleito em

2002. Os programas de Transferência de Renda (TR) podem ter papel relevante na melhoria

das condições sociais da população, especialmente entre aqueles em extrema pobreza.

Considerando que a renda é um preditor, ainda que não o único, da SAN, é de supor que os

ganhos em rendimento tenham, também, contribuído para a redução da INSAN e da fome.

(AMARAL; BASSO, 2016; SEGALL-CORRÊA et al., 2008).

Somado aos programas já existentes, em 2003, foi criado o Programa de Aquisição de

Alimentos (PAA) com uma concepção intersetorial da SAN, o qual integra as demandas de

acesso aos alimentos pela população em vulnerabilidade social às necessidades de mercado da

agricultura familiar. Esse programa adquire gêneros alimentícios, sem necessidade de licitação,

dos agricultores familiares e os repassa para os equipamentos públicos da área de alimentação

e nutrição (restaurantes populares, bancos de alimentos e cozinhas comunitárias), organizações

sociais, dentre outros. Com isso, oportuniza a inserção nos mercados com a criação de canais

de comercialização e geração de trabalho e renda, além de possuir um amplo espectro de

atuação, agindo simultaneamente na tríade produção-comercialização-consumo (GRISA;

ZIMMERMANN, 2014; BECKER; ANJOS, 2010).

Um dos programas integrados à rede de ações e programas desenvolvidos pelo PFZ, além

do PAA, é o Restaurante Popular (RP) que têm como princípios essenciais a produção e a

distribuição de refeições saudáveis, com alto valor nutricional e também com preços acessíveis

originadas de processos seguros e da agricultura familiar, em local confortável e de fácil acesso.

Esses restaurantes devem ser implantados em regiões de grande movimentação diária de

trabalhadores de baixa renda ou ainda em regiões periféricas onde há maior concentração de

indivíduos em vulnerabilidade social (PORTELLA; BASSO; MEDINA, 2013).

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19

Outra importante estratégia de combate a IA é o Banco de Alimentos (BA) que atuam na

arrecadação e distribuição de alimentos. Os gêneros alimentícios são recebidos, selecionados,

embalados e distribuídos gratuitamente à entidades assistenciais, as quais se encarregam de

distribuir para as populações mais vulneráveis. Em contrapartida, as entidades beneficiadas

participam de atividades de capacitação e educação alimentar e nutricional desenvolvidas pelo

BA (COSTA, et al, 2014).

Além disso, o Programa Nacional de apoio à captação de água de chuva e outras

tecnologias sociais (Programa Cisternas) financiado pelo Ministério do Desenvolvimento

Social (MDS) desde 2003, porém instituído apenas em 2013 pela Lei nº 12.873 foi criado com

o objetivo de promover o acesso a água para consumo humano e para produção de alimentos

por meio da implementação de tecnologias simples e de baixo custo para famílias rurais de

baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de água (BRASIL, 2013)

Em 2004 é criado o Programa Bolsa Família (PBF) pela Lei nº 10.836, o qual apesar de

não constituir o primeiro programa de TR desenvolvido no País, destaca-se por dois aspectos:

(1) reconhecimento do seu sucesso na melhoria das condições sociais do país e do combate à

fome, e (2) possibilidade de enfrentamento simbólico e moral da condição de pobreza. Além

disso, relaciona-se com avanços no processo emancipatório dos brasileiros, considerando que

a pobreza é vista como além da escassez de recursos, e se articula com conceitos de

incapacidade pessoal para o trabalho, o que impõe uma realidade de exclusão também no

sentido moral (SILVA; DEL GROSSI; FRANÇA, 2010; FARIA; SILVA, 2016).

Uma característica desse programa é a vinculação dos beneficiários ao atendimento de

requisitos que reforçam o acesso das famílias à saúde e à educação. Quanto à saúde, os

beneficiários têm o compromisso de levar as crianças menores de sete anos para tomar as

vacinas recomendadas e fazer acompanhamento de crescimento e desenvolvimento, enquanto

que as gestantes devem fazer o pré-natal. Em relação ao âmbito educacional, devem matricular

as crianças e os adolescentes de seis a 17 anos na escola e responder a uma frequência escolar

mínima exigida. Isso contribui para o desenvolvimento saudável das crianças e melhores

condições educacionais para vencer o ciclo da pobreza (FARIA; SILVA, 2016).

Além disso, existem repercussões na autonomia e cidadania dos beneficiários, de modo

que, de acordo com Rego e Pinzani (2014), dentre as mudanças significativas na vida dessas

famílias, há um início da superação da cultura da resignação de uma morte por fome ou doenças

decorrentes da pobreza. O PBF possibilita também a aquisição de crédito para seus

beneficiários, seja econômico ou simbólico. Há, portanto, um estímulo a um vínculo de

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20

pertencimento a uma comunidade política, além de favorecer a liberdade de escolha e decisão

relacionada à disponibilidade de algum dinheiro.

Cotta e Machado (2013) em sua revisão sobre o impacto do PBF na SAN concluíram que

o programa promove às populações em vulnerabilidade social, um aumento no acesso

alimentar, com consequente diminuição na INSAN. Por outro lado, há um aumento no consumo

de alimentos de alta densidade energética e baixa qualidade nutricional, constituindo em um

fator de risco para sobrepeso, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. Ainda assim, o

PBF além de ter melhorado o acesso aos alimentos em quantidade e variedade, favoreceu uma

melhora no estado nutricional das crianças. Nesse sentido, ressalta-se a importância de políticas

de educação alimentar em atuação conjunta com as de transferência de renda.

Além disso, no governo Lula foi recriado o CONSEA e criado o Ministério Extraordinário

da Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA), além de outros programas com relação

direta à SAN (AMARAL; BASSO, 2016). O CONSEA buscando desempenhar suas funções,

realizou em 2004 a II CNSA, dando encaminhamento a uma das suas principais propostas,

dentre elas a criação da PNSAN a partir da Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional

em 2006. Esta criou ainda, o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) com

objetivo de promover ações baseadas na universalidade e equidade do acesso a uma alimentação

adequada com participação de todas as esferas de governo (CONSEA, 2004; PINHEIRO,

2009).

A LOSAN institucionalizou, o conceito de SAN como:

A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso

regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer

o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras

de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e

socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006).

No que se refere ainda aos avanços das políticas de SAN, outras duas importantes

iniciativas merecem destaque. Em 2006, foi aprovada a “Lei da Agricultura Familiar” (Lei nº

11.326), responsável por caracterizar os agricultores familiares, conferindo-lhes

reconhecimento legal, aspecto indispensável para o avanço de suas políticas públicas. Anos

depois, em 2009, foi aprovada a Lei nº 11.947, a qual ampliou o Programa Nacional de

Alimentação Escolar (PNAE) a toda a rede pública de educação básica, e obrigou os gestores

públicos a empregarem, no mínimo, 30% dos recursos financeiros repassados pelo Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na compra de gêneros alimentícios

diretamente da agricultura familiar. Essas duas leis reforçaram o vínculo da agricultura familiar

com a alimentação escolar e a SAN (AMARAL; BASSO, 2016).

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21

Ainda em 2006, foi criada a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(PNSAN) por meio do Decreto nº 7272 no governo do presidente Lula com o objetivo de

promover a soberania e a SAN, e assegurar o DHAA para todo o território nacional. Mesmo

antes da institucionalização da PNSAN, foi em torno do tema da fome, da possibilidade

concreta e da urgência ética de sua superação, que o Brasil começou a desenhar os seus mais

importantes programas de combate à pobreza, conseguindo uma melhora nas condições sociais

da população, o que ocasionou impactos positivos na SAN do país (BRASIL, 2010; CAISAN,

2011).

Posteriormente, em 2010, a alimentação foi incluída no 6º artigo da atual Constituição

Federal de 1988 como direito social, por meio da Emenda Constitucional nº64/2010. “São

direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,

a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na

forma desta Constituição” (BRASIL, 2010).

A partir dessas conquistas, surgiram os Planos Nacionais de Segurança Alimentar e

Nutricional (PLANSAN) 2012-2015 e 2016-2019, os quais buscam consolidar e expandir essas

ações. Elaborados pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional

(CAISAN) integram dezenas de ações voltadas para a produção, fortalecimento da agricultura

familiar, abastecimento alimentar e promoção da alimentação saudável e adequada para o

determinado período plurianual, além de ser um instrumento de monitoramento das metas para

superação da extrema pobreza no país (CAISAN, 2011; CAISAN, 2016).

Em 2014 foi um dos maiores marcos da superação da fome e pobreza no Brasil, o país foi

citado como caso de sucesso no esforço mundial ao sair do mapa da fome. Houve uma redução

de 82% na população considerada em situação de subalimentação entre 2002 e 2013. Isso foi

possível devido os programas de erradicação da extrema pobreza, a agricultura familiar e as

redes de proteção social como medidas de inclusão social no Brasil (FAO, 2014).

Em síntese, está apresentada a linha do tempo quanto ao histórico da Segurança Alimentar

e Nutricional no Brasil. A figura demonstra claramente a importância das políticas instituídas

em um curto intervalo de tempo e o quanto as ações desenvolvidas a partir de 2004 alavancaram

a execução de intervenções públicas objetivando a redução da IA.

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Figura 1 - Linha do tempo do histórico da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil

Fonte: Autoria Própria.

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23

2.2 MENSURAÇÃO DA (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

A questão alimentar e nutricional se relaciona com diversos aspectos, sejam os sociais,

culturais, políticos e econômicos. Estes envolvem fragilidades, seja as relacionadas ao

componente alimentar, que se refere à produção, disponibilidade, comercialização, acesso e

consumo alimentar adequado e saudável, como também ao componente nutricional, relativo às

práticas alimentares e ao aproveitamento biológico desses nutrientes, as quais podem ser

avaliados por meio de indicadores antropométricos, bioquímicos e clínicos (PRADO et al.,

2010). Devido à complexidade do entendimento da INSAN e seus determinantes, há uma certa

dificuldade na mensuração e entendimento dessa situação. Em vista disso, vários são os

procedimentos e parâmetros utilizados (MALUF; REIS, 2013; KEPPLE; SEGALL-CORRÊA,

2011).

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura

(FAO) existem pelo menos sete dimensões que influenciam a SA: eficiência e eficácia;

igualdade e justiça; responsabilidade; capacidade de resposta; transparência; participação e

estado de direito. O desafio é encontrar a forma adequada de se enquadrar no contexto político

de cada país, bem como nas necessidades específicas de cada população. Em termos

operacionais essas dimensões são úteis para apontar mecanismos que permitam melhorar o

sistema alimentar (FAO, 2011).

No Brasil, visando atender a função do SISAN, o Grupo Técnico (GT) elaborou uma

proposta de indicadores para o monitoramento da realização do DHAA no país, a qual possui

sete dimensões, selecionadas a partir do estudo de modelos teóricos dos determinantes da SAN:

produção de alimentos; disponibilidade de alimentos; renda e despesas com alimentação; acesso

à alimentação adequada; saúde e acesso aos serviços de saúde; educação e; políticas públicas e

orçamentos relacionados a SAN. O Decreto nº 7.272/2010 adotou essas dimensões para

monitoramento da PNSAN (CONSEA, 2010).

No entanto, persistem desafios históricos para a plena realização do DHAA no País, como

a concentração de terra, as desigualdades (de renda, étnica, racial e de gênero), a INSAN dos

povos indígenas e comunidades tradicionais, entre outros (CONSEA, 2010). Logo, para um

maior compreensão acerca disso, dividiu-se alguns dos principais indicadores indiretos de SAN

em dois componentes: alimentar e nutricional, elucidados a seguir.

Quanto ao componente alimentar, um dos indicadores para medir se uma família que

encontra-se em IA é a renda domiciliar per capita, a qual relaciona-se ao valor monetário

mínimo necessário para a compra de uma cesta básica de alimentos, além de outros itens

Page 24: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

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essenciais para adequadas condições de vida, como saúde, educação, transporte e vestuário, e

que, portanto, passam a constituir um valor de rendimento a partir do qual estaria garantido aos

indivíduos um consumo calórico adequado (KEPPLE; SEGALL-CORRÊA, 2011). Esses

indicadores de renda são importantes, principalmente na identificação dos beneficiários de

programas sociais, entretanto podem identificar falsos resultados considerando que existem

indivíduos que mesmo estando abaixo da linha da pobreza não se apresentam em INSAN

(SEGALL-CORRÊA, 2007).

Além disso, a disponibilidade domiciliar de alimentos também é uma importante

preditora de IA. Para isso, utiliza-se um inquérito domiciliar, o qual é aplicado em um único

dia e os moradores informam os alimentos disponíveis no domicílio referente aos últimos 30

dias. A família relata as quantidades a partir da produção para consumo, bem como os alimentos

comprados, trocados ou beneficiados (ANJOS; SOUZA; ROSSATO, 2009).

A verificação de quanto da disponibilidade de alimentos para consumo, no domicílio,

supre a necessidade da família é feita realizando-se o cálculo de energia diária disponível

considerando a estimativa de necessidades energéticas de todos os membros da família, de

acordo com metodologia proposta pela FAO. Cada item alimentar é convertido para

quilocalorias e divididos pelos 30 dias de um mês e, posteriormente, pelo número de pessoas

no domicílio, a fim de avaliar a suficiência de energia disponível para atender as necessidades

alimentares de todos os membros da família, possibilitando a classificação das famílias quanto

à situação de Segurança ou Insegurança Alimentar (LEVY-COSTA et al, 2005).

Outra forma de compreender o grau de IA de um indivíduo é por meio do seu consumo e

hábitos alimentares, em um contexto em que a terra, a saúde, o corpo e o alimento se configuram

como mercadorias são criados perfis de desejos e necessidades em torno da comercialização e

do consumo, o que culmina com hábitos alimentares inadequados. Essa escolha inadequada na

alimentação, ocasiona ora fornecimento insuficiente de determinados nutrientes necessários

para uma adequada nutrição, ora a ingestão excessiva de algumas substâncias, contribuindo

para sobrepeso, obesidade e doenças crônicas (SILVA, et al. 2012).

Em relação ao componente nutricional, há os indicadores antropométricos, os quais são

indicadores indiretos da IA, considerando que por muito tempo, os indivíduos em

vulnerabilidade social e IA apresentavam déficits de peso e estatura (principalmente crianças)

(SEGALL-CORRÊA, 2007). Entretanto, os dados antropométricos, especialmente os de

estatura, se reflete de forma tardia como consequência de privações alimentares crônicas.

Portanto, aceitar que a ausência de déficits antropométricos significa ausência de fome, implica

em um erro, pois desconsidera adaptações biológicas, comportamentais e sociais. Esses

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elementos têm permitido associações da IA inclusive com obesidade (BURLANDY; COSTA,

2007).

Ainda sobre os aspectos nutricionais, os indicadores clínico-biológicos, apesar de não

medirem a INSAN, podem ser utilizados para aferição de particularidades em situações de

INSAN, pois a deficiência em nutrientes é resultado da pobreza e IA, principalmente em

crianças, com destaque para a anemia e hipovitaminose A, diagnosticadas por exames clínicos

e bioquímicos específicos. O abandono precoce do aleitamento materno associado a uma

alimentação complementar inadequada com baixo teor de ferro e vitamina A soma efeito

multiplicador no aumento do risco dessas carências nutricionais, o que reflete na violação do

direito ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficientes

(OLIVEIRA et al., 2010; ZUFFO et al., 2016).

A partir de 1990 novos indicadores de IA foram criados para obtenção de informações

sobre a condição de segurança alimentar. Como a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar,

a qual é um indicador direto do estado de IA através de um questionário aplicado ao responsável

da família com a finalidade de adquirir informações específicas e estatísticas confiáveis a partir

de uma adequação a um instrumento criado nos Estados Unidos da América, o Household Food

Security Survey Module (HFSSM) capaz de mensurar a magnitude do problema da IA na

população, por meio da sua classificação em níveis. Como parte do esforço para combate à IA

e vulnerabilidade social, e visando também compreender melhor a problemática desse tema no

Brasil, o IBGE, incluiu, pela primeira vez na PNAD de 2004, a EBIA em suas pesquisas

nacionais (SEGALL-CORRÊA, 2007; ROMÃO, 2010; SEGALL-CORRÊA; MARIN-LEON,

2009).

Um argumento forte em favor desse indicador é exatamente a sua capacidade de

contemplar não apenas a mensuração da dificuldade de acesso familiar aos alimentos, mas

também as dimensões psicológicas e sociais da IA. A EBIA é usada como recurso e método

quantitativo para medir um fenômeno de natureza social, sendo especialmente útil para o

entendimento dos fatores que condicionam ou determinam a IA (KEPPLE; SEGALL-

CORRÊA, 2011). Além disso, a EBIA é capaz de identificar diferentes graus de acesso aos

alimentos caracterizando os indivíduos em quatro categorias: em segurança alimentar ou em

diferentes graus de inseguranças alimentar (leve, moderada ou grave) (SEGALL-CORRÊA et

al., 2004).

Em agosto de 2010, por meio da Oficina Técnica para Análise da Escala Brasileira de

Medida Domiciliar de Insegurança Alimentar, a qual contou com a participação dos principais

pesquisadores e órgãos da área, foi realizada uma atualização da EBIA. Tendo em vista as

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tendências recentes de aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade da população, os

aprimoramentos consistiram na exclusão da associação da perda de peso com a IA e exclusão

de item repetitivo. O questionário da pesquisa passou a ter 14 perguntas sobre a situação

alimentar vivenciada no domicílio nos últimos 90 dias que antecederam a entrevista (IBGE,

2014).

Posteriormente, Santos et. al. (2014) propuseram versão curta da EBIA, uma composta

por cinco e outra por sete questões, as quais mostraram alta sensibilidade e especificidade

quando comparados à EBIA. Foi visto que os modelos propostos apresentaram precisão ao

medirem a prevalência de IA, mostrando resultados semelhantes àqueles encontrados pelo

padrão de referência, a versão original. A utilização de versões mais curtas pode facilitar a

mensuração da IA em estudos cujos recursos ou tempo são insuficientes para aplicação da

escala completa. É importante destacar que o intuito desses modelos curtos não é de substituir

a EBIA, já que não medem os graus de intensidade da IA, não detectando famílias que vivem

em situação de fome.

Diante disso, indicadores de saúde e acesso aos serviços de saúde trazem um panorama

das condições de má nutrição e INSAN de populações, além dos indicadores antropométricos,

parâmetros como baixo peso ao nascer e mortalidade infantil são considerados importantes na

predição de vulnerabilidades. A taxa de mortalidade infantil (menores de 1 ano) reflete

condições mais amplas, como desenvolvimento socioeconômico, infraestrutura ambiental,

acesso e a qualidade dos recursos para a atenção à saúde materna e infantil disponíveis

(CONSEA, 2010).

Esses indicadores indiretos de SAN (Quadro 2) e a EBIA como indicador direto são

capazes de elucidar os principais determinantes desse estado, apontar sua magnitude, as

características da população afetada e, ainda, expor os efeitos da IA e da fome sobre a saúde, a

nutrição e qualidade de vida das pessoas, além de servirem como instrumentos para

acompanhamento e avaliação de ações e políticas no âmbito do combate à fome (KEPPLE;

GUBERT; SEGALL-CORRÊA, 2016).

Quadro 1. Indicadores Indiretos de Segurança Alimentar e Nutricional.

Indicadores Descrição Limitações

Componente

Alimentar

Renda Domiciliar

Percapita

É um indicador

indireto de acesso aos

alimentos, uma vez

que na ausência de

recursos financeiros a

Podem identificar

falsos resultados

considerando que

existem indivíduos

que mesmo estando

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27

compra de alimentos

estará comprometida.

abaixo da linha da

pobreza podem estar

em SAN.

Disponibilidade

domiciliar de

alimentos

Busca avaliar a

presença física do

alimento a ser

disponibilizado para

consumo familiar e se

esse supre as

necessidades

nutricionais da

família.

Analisa a

disponibilidade no

domicílio e não

necessariamente o

consumo dos

alimentos e sua

distribuição

intrafamiliar.

Consumo Alimentar São considerados

medidas diretas de

segurança alimentar,

métodos que avaliam

o consumo alimentar

individual, por meio

da frequência

semanal ou do

recordatório de 24h.

Dificuldade de

verificação da

adequação do

consumo alimentar às

necessidades ideias de

muitos nutrientes, o

que gera dificuldade

no estabelecimento de

deficiência ou

excesso.

Componente

Nutricional

Antropométricos Indicador indireto da

segurança alimentar e

nutricional que reflete

os impactos das

carências

nutricionais.

Pode indicar um falso

resultado, já que pode

haver indivíduos em

insegurança alimentar

e nutricional com peso

adequado ou em

sobrepeso/ obesidade.

Fonte: Autoria própria.

2.3 PREVALÊNCIAS E DETERMINANTES DA (IN)SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Evidencia-se que as condições de saúde de uma população estão relacionadas com o

contexto social e ambiental em que esta vive. A pobreza, as precárias condições de moradia, o

inadequado ambiente urbano, impróprias condições de trabalho são fatores que afetam de forma

negativa as condições de saúde de uma população. Esse estado de vulnerabilidade social,

dificulta o acesso adequado a alimentos seguros e nutritivos, contribuindo para a IA

(BARRETO, 2017).

As desigualdades causadas pelo sistema econômico e ao processo produtivo,

principalmente de alimentos, são fatores determinantes da fome. Para superação da fome é

preciso torna-la parte das políticas mundiais que garantam direitos, de condições de vida,

educação, saúde, trabalho, lazer, incluindo a qualidade sanitária e nutricional dos alimentos, ou

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28

seja, faz-se necessário controlar os riscos provenientes de uma produção, comercialização e/ou

consumo inadequados (BURLANDY; COSTA, 2007).

Kepple e Segall-Corrêa (2011) observaram que a fome se revela como um fenômeno com

aspectos tanto físicos quanto psicológicos e sociais. Para cada nível, domiciliar ou individual,

identificaram-se os componentes relacionados à quantidade e à qualidade dos alimentos, além

de um componente psicológico que inclui a preocupação e sensação de privação. Há ainda, um

componente social ligado à maneira pela qual os alimentos são obtidos, padrões de alimentação

rompidos, ou seja, quando a situação financeira precária já não permite manter os hábitos

alimentares tradicionais da família.

A partir disso, houve a apropriação do direito dos povos decidirem sobre suas estratégias

de produção e consumo dos alimentos de que necessitam, ou seja, ter soberania plena para

decidir o que cultivar e o que comer. Essa Soberania Alimentar foi definida no Fórum Mundial

sobre Soberania Alimentar, realizado em Havana (Cuba), em 2001 como:

O direito dos povos definirem suas próprias políticas e estratégias

sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam

o direito à alimentação para toda a população, com base na pequena e média

produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade dos modos

camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agropecuária, de

comercialização e gestão dos espaços rurais, nos quais a mulher desempenha

um papel fundamental (…). A soberania alimentar é a via para se erradicar

a fome e a desnutrição e garantir a segurança alimentar duradoura e

sustentável para todos os povos (FÓRUM MUNDIAL SOBRE

SOBERANIA ALIMENTAR, 2001).

É nesse sentido que emerge um novo paradigma com formas mais sustentáveis e

equitativas de produção e comercialização de alimentos com atenção especial aos grupos sociais

mais vulneráveis à fome e a desnutrição. Com isso, as ações e políticas de SAN participam da

difícil tarefa de associar dinamismo econômico, promoção de equidade social e melhoria

sustentável da qualidade de vida, como exemplo as políticas de TR, as quais se caracterizam

como estratégia para diminuição da miséria, auxiliando no combate à INSAN (MALUF; REIS,

2013).

Logo, com o intuito de conhecer a prevalência de IA no Brasil e seus fatores

determinantes, de acordo com uma metanálise realizada no ano de 2014, os estudos analisados

foram utilizadas diversas variáveis demográficas e socioeconômicas. A variável que apresentou

maior associação com a IA foi a pior renda familiar. A seguir, a escolaridade do chefe do

domicílio em 60% dos estudos. Também foram relevantes as variáveis: região geográfica, com

pior situação para a zona rural; número de indivíduos no domicílio, sendo maior a probabilidade

de IA em domicílios com maior quantidade de indivíduos; tipo de moradia precária;

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participação em programas de transferência de renda e/ou doação de alimentos (BEZERRA;

OLINDA; PEDRAZA, 2017).

A escolaridade da mãe, a idade da mãe, o local do domicílio, a coleta de lixo no domicílio

e o abastecimento de água no domicílio foram também variáveis que apresentaram associação

com a IA familiar. Além disso, foi observado maiores prevalências de IA entre as populações

em iniquidades sociais, em que a chance desses indivíduos estar em IA foi 18,67 vezes maior,

principalmente IA moderada e grave (BEZERRA; OLINDA; PEDRAZA, 2017).

Pesquisa recente realizada em assentamentos da zona rural de Sergipe encontrou 88,8%

de IA, em que 15,1% foi do tipo grave, com restrição quantitativa inclusive para crianças. Foi

encontrada associação positiva entre IA e baixa renda familiar per capita, baixa ingestão do

grupo alimentar carnes e ovos, intervalo entre as refeições maior ou igual a quatro horas e

alimentação pouco variada. Destaca-se que nestes assentamentos as terras são destinadas

principalmente para a agricultura, apenas uma pequena parte para a pecuária, o que quando

associada a baixa renda, favorece um menor acesso a alimentos proteicos e uma menor

variedade alimentar (ALMEIDA, et. al, 2017).

Somado a isso, um estudo também na zona rural, dessa vez de um município localizado

na região metropolitana de Fortaleza, Ceará, buscou avaliar a IA em pré-escolares (três a seis

anos de idade) e encontrou semelhante prevalência de IA (88%), sendo 24,5% grave, 28,5%

moderada e 35% leve, e apenas 12% das crianças em SAN. Foi verificada associação

estatisticamente significante com a prevalência de (in) segurança alimentar e a escolaridade do

responsável, o número de moradores do domicílio e a renda familiar mensal, não sendo

significativa a relação com estado civil, trabalho fora de casa e número de filhos em idade pré-

escolar (AIRES, et al., 2012).

Souza, Pedraza e Menezes (2012) avaliaram a (in) segurança alimentar em crianças de

uma creche no município de João Pessoa e, revelou que 40,4% das famílias das crianças

analisadas foram classificadas em SAN, predominando, portanto, a situação de IA (59,6%),

sendo 9,2% grave, 18,0% moderada e 32,4% leve. As crianças com estatura e peso normal

apresentaram maior proporção de SAN, já as crianças com déficit de estatura e excesso de peso

tiveram expressiva proporção de IA leve: 42,0% e 43,8%, respectivamente.

Em creches públicas no Estado da Paraíba a prevalência de IA foi de 62,0%, com 33,4%

em IA leve, 16,9% moderada e 11,7% grave. Em que foram encontrados maiores prevalências

deste agravo em crianças amamentadas por menos tempo, baixa estatura materna e idade da

mãe inferior a 20 anos, piores condições de habitação, renda per capita menor que meio salário

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mínimo e ser beneficiário do programa bolsa família (PEDRAZA; QUEIROZ; MENEZES,

2013).

Ademais, pesquisas realizadas coma crianças no Nordeste brasileiro encontraram altas

prevalências de IA nessa população. Na zona da mata foi encontrado uma prevalência de 90%

das famílias em IA sendo a forma grave a mais prevalente chegando a 43,8% na zona urbana.

No semiárido a IA foi presente em 87% das famílias, prevalecendo a forma moderada (40,2%)

(OLIVEIRA et. al., 2010; OLIVEIRA, et al., 2009).

Lopes et. al. (2012) estudaram a prevalência de IA em 523 adolescentes de baixa renda

com faixa etária de 12 a 18 anos. A prevalência de IA foi de 36% e 24% relataram IA moderada

ou grave, a qual foi associada a características socioeconômicas desfavoráveis e, inversamente

associada a ingestão alimentar de proteína e cálcio. Entretanto, não houve associação entre IA

e excesso de peso, evidenciando a complexidade dessa questão.

Percebe-se então que a renda familiar disponível influencia de forma significativa no

consumo alimentar, em que quando há uma situação de redução da renda, a primeira atitude da

família é consumir alimentos mais baratos, para que a quantidade não seja comprometida,

enquanto que a qualidade é. Uma vez se tenha uma retração mais drástica dessa renda, a

quantidade de alimentos consumidos se reduz. Essa realidade alerta para o fato de que a fome

pode ser uma realidade mesmo na ausência de sinais clínicos específicos (BURLANDY;

COSTA, 2007).

Pedraza e Sales (2014) trataram sobre a importância da condição socioeconômica como

determinante da INSAN, apontada principalmente pelo benefício dos programas de TR, como

o PBF. Possibilita-se, assim, explicar os resultados encontrados em seu estudo, onde as maiores

chances de níveis de severidade de INSAN grau II e III, foram encontradas nas famílias de mães

com baixa estatura, nas famílias de mães com cuidados inadequados durante a gravidez e nas

famílias beneficiárias do PBF. De acordo com os autores, avaliar a severidade de INSAN

possibilita retratar de forma mais completa o risco sobre a continuidade do acesso aos

alimentos, resultando em critério de desigualdade. Isto constitui um elemento de grande

utilidade para planejamento de intervenções efetivas.

Sabe-se que em situações de vulnerabilidade socioeconômica há associação com baixos

níveis de condições de saúde. Assim, o crescimento das desigualdades sociais influencia na

saúde e no acesso e/ou consumo de alimentos. É conhecido que nos grupos de menor renda que

encontra-se as maiores prevalências de IA. Esta é 10 vezes maior em famílias que receberam

menos de dois salários mínimos àquelas que receberam mais que quatro salários (SANTOS;

GIGANTE; DOMINGUES, 2010; GREGÓRIO et al., 2014).

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31

Considerando os grupos em vulnerabilidade socioeconômica, encontra-se a mulher, fruto

de uma discriminação e violência praticadas historicamente desde o modelo patriarcal, de que

o homem estava no centro e controlava as mulheres, culminando com uma desigualdade

inclusive no mercado de trabalho. A partir disso, tem sido adotadas medidas protetivas às

mulheres, por meio da criação de programas como o Bolsa Família e Mulheres Rurais, os quais

proporcionaram maior autonomia e soberania alimentar, necessário para o alcance da SAN

(LIMA; LIMA; SILVA, 2016).

Uma pesquisa realizada com mulheres sexualmente ativas no Brasil observou que a IA

severa com a presença de fome foi associada a redução da probabilidade do uso de preservativos

e aumento da probabilidade de doenças sexualmente transmissíveis. Foi concluído então que

intervenções visando a promoção da SAN podem ter implicações benéficas para prevenção de

doenças como HIV (TSAI; HUNG; WEISER, 2012).

Comunidades quilombolas são também populações com alto grau de vulnerabilidade.

Com o objetivo de identificar a prevalência de IA nessa população Silva et. al. (2017)

investigaram este desfecho de acordo com a residência (quilombolas ou não quilombolas) no

Nordeste brasileiro e encontrou 52,1% de IA, sendo 64,9% entre quilombolas e 42% entre os

demais. A IA foi associada a ser quilombola, nível econômico mais baixo, ser beneficiário do

programa bolsa família e ter quatro ou mais residentes no domicílio. Ribeiro, Morais e Pinho

(2015) identificaram 83,3% de prevalência de IA em quilombolas de Minas Gerais com

associações semelhantes.

No Brasil, os povos indígenas também estão expostos a transformações ambientais e

socioeconômicas, que os colocam em situação de alta vulnerabilidade frente a problemas de

ordem alimentar e nutricional, o que contribui para maiores prevalências de IA nessa população.

Uma pesquisa realizada com famílias indígenas encontrou 75,5% de IA, sendo 20,4% IA grave.

Além disso, na análise do consumo alimentar viu-se que apenas 11,1% dos indígenas em IA

moderada/grave apresentaram dieta adequada (FÁVORO et. al., 2007).

Nota-se então que a diminuição na disponibilidade de alimentos, acaba por comprometer

a qualidade e quantidade que compõem as cestas básicas das famílias em situação de IA.

Quando este quadro se associa ao perfil infantil percebe-se um comprometimento do aporte

calórico e de nutrientes, refletindo em déficits no crescimento e desenvolvimento dessas

crianças, isso contribui para maiores prevalências de mortalidade infantil nessas populações

(SALLES-COSTA et. al., 2008).

Programas de TR podem ainda, contribuir muito para uma diminuição da mortalidade

infantil em geral e, em particular, para as mortes atribuíveis a causas relacionadas à pobreza,

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32

como desnutrição e diarreia, em um país de grande renda média, como o Brasil (RASELLA, et

al., 2013). Isso se deve, porque ao exemplo do PBF, uma família inscrita deve cumprir

condições específicas de educação e saúde, como imunização e acompanhamento do

crescimento e desenvolvimento, além de frequência na escola dependendo da idade da criança.

As mulheres grávidas e em lactação devem participar do pré-natal e visitas pós-natal e saúde e

atividades educativas (BRASIL, 2013).

Facchini et. al. (2015) buscaram estudar IA e condições socioeconômicas de domicílios

com crianças menores de sete anos na região Nordeste e Sul encontrando diferenças marcantes.

Nos domicílios do Nordeste, a cor da pele materna predominante foi parda/mestiça (72,6%),

apenas 22,1% das famílias tinham renda per capita superior a R$300,00 e 47,4% recebiam bolsa

família. Na região Sul, a maioria dos domicílios apresentava mães com a cor da pele branca

(70%), 62,8% das famílias possuíam renda per capita mensal maior que R$300,00 e 16,3%

eram contempladas com bolsa família. A IA foi observada em 54,2% dos domicílios do

Nordeste e em 27,3% dos domicílios do Sul, isto destaca o papel fundamental da renda na

determinação da IA e de iniquidades em sua ocorrência.

Estudo realizado com beneficiários dos programas de transferência de renda em uma

Unidade Básica de Saúde no Rio de Janeiro avaliaram 172 famílias, das quais 27, 9% foram

classificadas em SAN, em que houve prevalência da forma leve de IA (45,3%), seguida da

insegurança moderada (14,5%) e grave (12,2%). Foi verificado que 58,7% dos entrevistados

alegaram ter a preocupação de que a comida acabasse antes que tivessem condições de comprar

mais comida e 11% destes referiram perder peso por não ter o que comer (DIAS, et. al., 2012).

De forma semelhante, Anschau, Matsuo e Segall-Corrêa (2012) avaliaram 421 famílias

beneficiárias residentes em Toledo no Paraná e encontraram 74,6% de IA entre os domicílios,

sendo 5,9% do tipo grave. Encontrou-se associação entre IA e a renda per capita, classe

econômica D ou E, presença de menores de 18 anos, 7 ou mais membros no domicílio, baixa

escolaridade, desemprego ou trabalho informal do chefe.

Pesquisa similar realizada com beneficiários dos programas de transferência de renda foi

realizada em Petrópolis no Rio de Janeiro com 274 famílias em que a prevalência de IA foi de

78,3%, sendo 50,4% leve, 21,3% moderada e 6,6% grave. Percebeu-se nesses casos uma maior

equivalência à situação do Norte e Nordeste, pois as regiões Sudeste e Sul apresentaram

prevalências médias inferiores de IA (MAGRANI, et. al., 2012).

Em famílias assistidas pela Estratégia de Saúde da Família em Teresina no Piauí, foi

encontrada uma prevalência de IA leve de 35,6%, moderada de 16,1% e grave de 13,3%. Houve

associação entre IA leve e residência de alvenaria acabada; IA moderada e menor renda per

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33

capita, maior número de cômodos e ser beneficiário do bolsa família e IA grave com renda

familiar per capita inferior a um salário mínimo. Famílias beneficiárias do PBF, quando

comparadas àquelas que não recebiam o benefício, tiveram 4,10 vezes maior chance de IA grave

(SABÓIA; SANTOS, 2015).

Em Alagoas foi encontrada prevalência de IA em 63,7% das famílias, sendo que a

prevalência de IA grave foi de 14,2%. Essa proporção foi ainda maior em famílias que

apresentavam menores de 18 anos quando comparadas àquelas que não possuíam indivíduos

nessa faixa etária. As variáveis que se associaram positiva e significativamente com a IA foram:

escolaridade do chefe de família inferior a quatro anos, ser beneficiário do PBF, número de

membros no domicílio superior a quatro, apresentar condições insatisfatórias de água para beber

(FERREIRA, et.al., 2014).

Outra discussão que vem ganhando força nos últimos anos é o aspecto da qualidade

alimentar e nutricional, a qual apresenta relação direta com a sustentabilidade envolvida da

produção até o consumo. Com isso, torna-se necessário pensar a alimentação não só pela ótica

da regularidade e quantidade, como também pelos aspectos nutricionais que devem ganhar cada

vez mais importância na alimentação atual e futura, passando a ser, definitivamente, uma

preocupação permanente das políticas públicas de produção, distribuição e consumo (VILLA

REAL, 2011).

De acordo com o relatório da Food and Agriculture Organization (FAO) (2015), o Brasil

alcançou as metas estabelecidas pelas Nações Unidas em relação à fome nos objetivos do

desenvolvimento do milênio e nos objetivos de desenvolvimento sustentável. Destaca ainda que

entre os principais motivos que levaram o Brasil a conquistar as metas estabelecidas pela ONU

estão: prioridade política da agenda de erradicação da fome e da desnutrição; compromisso com

a proteção social consolidado por meio de programas de TR; crescimento econômico; e fomento

à produção agrícola via compras governamentais.

Ainda assim, promover a SAN em um país com dimensões continentais como o Brasil, é

um desafio, pois o país é caracterizado por grandes desigualdades sociais, com presença de

setores da sociedade que ainda têm dificuldades em discutir temas como a fome e a pobreza.

Acredita-se que a saída do Brasil do mapa mundial da fome em 2014, possa contribuir para um

debate mais rico, menos reducionista e preconceituoso, muitas vezes ainda presente nas

discussões que envolvem essa questão (AMARAL; BASSO, 2016).

O ponto de vista ampliado da SAN estabelece modificações radicais para o enfrentamento

dessas desigualdades, com vistas a uma sustentabilidade econômica, social e ambiental com

direitos humano e a uma alimentação adequada e saudável. Com isso, o enfrentamento aos

Page 34: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

34

determinantes da fome muda de acordo com as mudanças de enfoque sobre o tema. Ou seja,

não adianta superar a fome se isso for feito a partir de violação de direitos fundamentais, dessa

forma não se pode dizer que a SAN foi garantida (BURLANDY; COSTA, 2007).

Page 35: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

35

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a distribuição espaço-temporal da prevalência de insegurança alimentar e sua

relação com indicadores de vulnerabilidade social no Brasil.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Analisar a prevalência de insegurança alimentar nos anos de 2004, 2009 e 2013;

b) Verificar a correlação espacial entre a insegurança alimentar (2009) e indicadores de

vulnerabilidade social, condições socioeconômicas e mortalidade infantil (2010), por

UF no Brasil.

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36

4 MÉTODO

4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA

Trata-se de um estudo ecológico, exploratório e analítico, cujas unidades de análise de

área foram constituídas pelas 27 UF brasileiras. Foram utilizados inquéritos populacionais do

IBGE: Suplemento Segurança Alimentar das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios

(PNAD) 2009, para coleta da variável dependente, Insegurança Alimentar. Já as variáveis

independentes – Índices de Vulnerabilidade Social (IVS) e suas dimensões, extrema pobreza,

mortalidade infantil e IDHM, foram coletadas no Atlas Brasil, sistematizados pelo Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA), em 2010. A população considerada é a representada nos inquéritos.

Todos os dados utilizados foram secundários, sem identificação pessoal e de domínio

público, por isso o estudo não foi submetido à aprovação do comitê de ética em pesquisa,

conforme a Resolução nº 510/2016 - CONEP.

4.2 PLANO AMOSTRAL

A PNAD foi realizada por meio de uma amostra probabilística de domicílios obtida em

três estágios de seleção: unidades primárias - municípios; unidades secundárias - setores

censitários; e unidades terciárias – unidades domiciliares (domicílios particulares e unidades de

habitação em domicílios coletivos). Na seleção das unidades primárias e secundárias

(municípios e setores censitários) das três pesquisas foram adotadas a divisão territorial e a

malha setorial vigentes nas datas de referência dos Censos Demográficos 2000 (PNAD 2003-

2004 e 2008-2009) e 2010 (PNAD 2012-2013) (IBGE, 2010; IBGE 2014).

O tamanho amostral final da PNAD em 2004 foi de 399.354 pessoas e 139.157 unidades

domiciliares; em 2009, 399.387 pessoas e 153.837 unidades domiciliares e em 2013, 362.555

pessoas e 148.697 unidades domiciliares selecionadas. Nos três estudos as unidades

domiciliares estavam distribuídas por todas as Unidades de Federação (IBGE 2010; IBGE

2014).

Para os dados retirados do Atlas Brasil, a metodologia utilizada para o plano amostral é

semelhante a utilizada pela PNAD, sendo a mesma do Censo demográfico, ou seja, foi feita

uma seleção de domicílios particulares e de unidades domiciliares em domicílios coletivos,

independentemente em cada setor censitário, o que equivale a um plano de amostragem

estratificada, onde os estratos são os setores, e a seleção de domicílios é feita com

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37

equiprobabilidade em cada estrato, sendo que a investigação é feita para todas as pessoas

moradoras nos domicílios selecionados para a amostra (IBGE, 2016).

4.3 VARIÁVEIS

As variáveis do estudo buscam expressar propriedades de cada uma das cinco

macrorregiões, das 27 UF brasileiras e do Brasil. Neste estudo, para responder ao primeiro

objetivo específico, a variável utilizada foi a prevalência de insegurança alimentar nos três anos

analisados pela PNAD (2004, 2009 e 2013). Enquanto que para responder ao segundo objetivo

específico, a variável dependente foi a prevalência de insegurança alimentar no ano de 2009 e

as variáveis independentes foram: IVS e suas dimensões (IVS infraestrutura urbana, IVS capital

humano e IVS renda e trabalho), IDHM, percentual de extrema pobreza e mortalidade infantil

do ano de 2010 (Quadro 2).

Quadro 2. Variáveis do estudo

Variável Descrição Tipo Origem

Prevalências

de Insegurança

Alimentar (%)

Proporção de domicílios permanentes

em situação de insegurança alimentar

(leve, moderada ou grave), dentre

todos os domicílios avaliados.

Quantitativa

Contínua

Suplementos da

PNAD 2004/ 2009

e 2013.

IDHM (Índice

de

Desenvolvime

nto Humano

Municipal)

Média geométrica dos índices das

dimensões Renda, Educação e

Longevidade, com pesos iguais.

IDHM-R (Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal

- Dimensão Renda) Índice da

dimensão Renda que é um dos 3

componentes do IDHM. É obtido a

partir do indicador Renda per capita,

através da fórmula: [(valor observado

do indicador) - (valor mínimo)] /

[(valor máximo) - (valor mínimo)],

onde os valores mínimo e máximo são

R$ 8,00 e R$ 4.033,00 (a preços de

agosto de 2010).

IDHM-L (Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal – Dimensão

Longevidade): Índice da dimensão

Longevidade que é um dos 3

Quantitativa

Contínua

Atlas Brasil (2010)

Page 38: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

38

componentes do IDHM. É obtido a

partir do indicador Esperança de vida

ao nascer, através da fórmula: [(valor

observado do indicador) - (valor

mínimo)] / [(valor máximo) - (valor

mínimo)], onde os valores mínimo e

máximo são 25 e 85 anos,

respectivamente.

IDHM-E (Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal – Dimensão

Educação): Índice sintético da

dimensão Educação que é um dos 3

componentes do IDHM. É obtido

através da média geométrica do

subíndice de frequência de crianças e

jovens à escola, com peso de 2/3, e do

subíndice de escolaridade da

população adulta, com peso de 1/3.

Proporção de

extremamente

pobres (%)

Proporção de indivíduos sem

rendimentos ou com rendimento de

até R$ 70,00 e/ou sem acesso a

serviços básicos no domicílio dentre

os indivíduos avaliados.

Quantitativa

Contínua

Atlas Brasil (2010)

Mortalidade

Infantil

Número de óbitos de menores de um

ano de idade, por mil nascidos vivos,

em determinado espaço geográfico,

no ano avaliado.

Quantitativa

Contínua

Atlas Brasil (2010)

IVS (Índice de

Vulnerabilidad

e Social)

O IVS é o resultado da média

aritmética dos subíndices: IVS

Infraestrutura Urbana, IVS Capital

Humano e IVS Renda e Trabalho,

cada um deles entra no cálculo do IVS

final com o mesmo peso. Cada

indicador teve seu valor normalizado

numa escala que varia entre 0 a 1, em

que 0 corresponde à situação ideal, ou

desejável, e 1 corresponde à pior

situação.

Quantitativa

Contínua

Atlas Brasil (2010)

Fonte: Autoria Própria.

Page 39: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

39

4.4 PROCESSAMENTO DOS DADOS

A origem e coleta primárias dos dados foram descritas visando expor os procedimentos

metodológicos utilizados em cada um dos inquéritos, os quais originaram dados de interesse

para construção das variáveis do presente estudo.

4.4.1 Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD)

Com o objetivo de estimar a magnitude da IA nos domicílios brasileiros, foi aplicada pela

PNAD a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) para identificação e classificação

das unidades domiciliares de acordo com os graus de severidade com que o fenômeno é

vivenciado pelas famílias residentes no País, a partir da percepção da experiência do domicílio

nos últimos 90 dias (Quadro 3) (IBGE, 2014).

Quadro 3. Descrição da situação de segurança alimentar de acordo com classificação da EBIA.

Situação de Segurança

Alimentar

Descrição

Segurança alimentar

Os moradores dos domicílios têm acesso regular e

permanente a alimentos de qualidade, em quantidade

suficiente, sem comprometer o acesso a outras

necessidades essenciais.

Insegurança alimentar Leve

Preocupação ou incerteza quanto acesso aos

alimentos no futuro; qualidade inadequada dos

alimentos resultante de estratégias que visam não

comprometer a quantidade de alimentos.

Insegurança alimentar Moderada

Redução quantitativa de alimentos entre os adultos

e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da

falta de alimentos entre os adultos.

Insegurança alimentar grave

Redução quantitativa de alimentos entre as crianças

e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da

falta de alimentos entre as crianças; fome (quando

alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de

dinheiro para comprar alimentos)

Fonte: IBGE, 2014.

Na pesquisa, a análise da EBIA foi baseada em um gradiente de pontuação final resultante

do somatório das respostas afirmativas as questões. Esta pontuação se enquadra nos pontos de

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corte, que equivalem aos constructos teóricos acerca da segurança alimentar: Segurança

Alimentar, Insegurança Alimentar Leve, Insegurança Alimentar Moderada e Insegurança

Alimentar Grave (Quadro 4) (IBGE, 2014).

Quadro 4 - Pontuação para classificação dos domicílios, com e sem menores de 18 anos de

idade, segundo EBIA.

Classificação Pontos de corte para domicílios

Com menores de 18 anos Sem menores de 18 anos

Segurança alimentar 0 0

Insegurança alimentar leve 1-5 1-3

Insegurança alimentar moderada 6-9 4-5

Insegurança alimentar grave 10-14 6-8

Fonte: IBGE, 2014.

Durante a oficina técnica para análise da Escala Brasileira de Medida Domiciliar de

Insegurança Alimentar, esses algarismos foram atualizados. O grupo técnico presente na oficina

aprovou algumas modificações na EBIA, as quais consistiram na exclusão da associação da

perda de peso com a IA e na exclusão de item repetitivo. Com estas modificações, a EBIA

passou a contar com 14 perguntas. Desde a edição da PNAD 2008-2009, a PNAD traz estas

alterações (Quadro 5) (IBGE, 2014).

Quadro 5. Questionário da EBIA.

1 Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de

que os alimentos acabassem antes de poderem comprar mais comida?

2 Nos últimos três meses, os alimentos acabaram antes que os moradores desse

domicílio tivessem dinheiro para comprar mais comida?

3 Nos últimos três meses, os moradores desse domicílio ficaram sem dinheiro para

ter uma alimentação saudável e variada?

4 Nos últimos três meses os moradores deste domicílio comeram apenas alguns

alimentos que ainda tinham porque o dinheiro acabou?

5 Nos últimos três meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade deixou de

fazer alguma refeição porque não havia dinheiro para comprar a comida?

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41

6 Nos últimos três meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade, alguma vez,

comeu menos do que achou que devia porque não havia dinheiro para comprar

comida?

7 Nos últimos três meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade, alguma vez,

sentiu fome, mas não comeu porque não havia dinheiro para comprar comida?

8 Nos últimos três meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade, alguma vez,

fez apenas uma refeição ao dia ou ficou um dia inteiro sem comer porque não tinha

dinheiro para comprar comida?

9 Nos últimos três meses, algum morador com menos de 18 anos de idade, alguma

vez, deixou de ter uma alimentação saudável e variada porque não havia dinheiro

para comparar comida?

10 Nos últimos três meses, algum morador com menos de 18 anos de idade, alguma

vez, não comeu quantidade suficiente de comida porque não havia dinheiro para

comprar comida?

11 Nos últimos três meses, alguma vez, foi diminuída a quantidade de alimentos das

refeições de algum morador com menos de 18 anos de idade, porque não havia

dinheiro para comprar comida?

12 Nos últimos três meses, alguma vez, algum morador com menos de 18 anos de

idade deixou de fazer alguma refeição porque não havia dinheiro para comprar a

comida?

13 Nos últimos três meses, alguma vez, algum morador com menos de 18 anos de

idade sentiu fome, mas não comeu porque não havia dinheiro para comprar

comida?

14 Nos últimos três meses, alguma vez, algum morador com menos de 18 anos de

idade fez apenas uma refeição ao dia ou ficou sem comer por um dia inteiro porque

não havia dinheiro para comprar comida?

Fonte: PNAD, 2013.

4.4.2 Atlas Brasil – PNUD

Os dados socioeconômicos e demográficos foram coletados do Atlas do Desenvolvimento

Humano no Brasil, disponível em: <http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/>. O Atlas é uma

plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), percentual

de extrema pobreza, mortalidade infantil e mais 200 indicadores de demografia, educação,

renda, trabalho, habitação e vulnerabilidade, com dados extraídos dos Censos Demográficos de

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42

1991, 2000 e 2010, de 5.565 municípios brasileiros, 27 UF, 20 Regiões Metropolitanas (RM) e

suas respectivas Unidades de Desenvolvimento Humano (UDH). Para essa pesquisa foram

utilizados os dados de 2010 (PNUD, 2013).

4.2.3 Atlas de Vulnerabilidade Social

A fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) com foco na importância de

se localizar espacialmente as áreas que concentram os segmentos populacionais mais

vulneráveis, os quais devem ser os alvos prioritários das políticas públicas e intervenções

estatais, criou o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social em São Paulo, o qual se tornou

amplamente utilizado para detecção de áreas de programas de TR, e teve seu uso diversificado

posteriormente (IPEA, 2015).

Com base nessa experiência exitosa, a fundação Seade propôs no âmbito do IPEA a

elaboração de um IVS de base intramunicipal para as demais regiões metropolitanas brasileiras

que permita desvendar as desigualdades sociais e identificar territórios prioritários para

intervenções públicas. Para isso, foi utilizado indicadores do bloco de vulnerabilidade social

do Atlas de Desenvolvimento Humano (ADH), o qual traz 16 indicadores estruturados em três

dimensões (infraestrutura urbana, capital humano e renda e trabalho), com a finalidade de

realizar um mapeamento singular da exclusão e da vulnerabilidade social, com pretensão de

sinalizar o acesso, a ausência ou a insuficiência de alguns “ativos” em áreas do território

brasileiro. Optou-se pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais

precisamente os dados dos censos demográficos, por permitirem um recorte municipal (Quadro

4) (IPEA, 2015).

O subíndice que contempla a vulnerabilidade de infraestrutura urbana procura refletir as

condições de acesso aos serviços de mobilidade urbana e saneamento básico, os quais são

aspectos que se relacionam ao lugar de domicílio das pessoas e que impactam

significativamente seu bem-estar. Foram escolhidos para compor esse subíndice indicadores

sobre a presença de redes de abastecimento de água, de serviços de esgotamento sanitário e

coleta de lixo no território, além do indicador de tempo gasto no deslocamento entre moradia e

o local de trabalho pela população ocupada de baixa renda (IPEA, 2015).

Em relação ao subíndice referente ao capital humano, envolve aspectos que determinam

as perspectivas (atuais e futuras) de inclusão social dos indivíduos: saúde e educação. Foi

adotado para isso, indicadores de mortalidade infantil; da presença de crianças e jovens que não

frequentam a escola; da presença de mães precoces; de mães chefes de família, com baixa

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43

escolaridade e filhos menores; da ocorrência de baixa escolaridade entre os adultos; e da

presença de jovens que não trabalham e não estudam (IPEA, 2015).

A vulnerabilidade de renda e trabalho, medica por esse subíndice, agrupa indicadores de

insuficiência de renda presente, além de outros fatores que, associados ao fluxo de renda,

configuram um estado de insegurança de renda: a desocupação de adultos; a ocupação informal

de adultos pouco escolarizados; a dependência com relação à renda de pessoas idosas; assim

como a presença de trabalho infantil (IPEA, 2015).

O IVS é elaborado a partir da média aritmética dos subíndices: IVS infraestrutura urbana,

IVS capital humano e IVS Renda e Trabalho, cada um com o mesmo peso, em que cada

indicador teve seu valor normalizado em uma escala que varia entre 0 e 1, em que 0 corresponde

a situação desejável, e 1 corresponde a pior situação, ou seja, maior vulnerabilidade social

(IPEA, 2015).

IVS entre 0 e 0,200 classifica o município com muito baixa vulnerabilidade social; entre

0,201 e 0,300 indicam baixa vulnerabilidade social; aqueles com IVS entre 0,301 e 0,400 são

de média vulnerabilidade social; enquanto que, entre 0,401 e 0,500 são considerados de alta

vulnerabilidade social; por último, os valores entre 0,501 e 1 indica que o município possui

muito alta vulnerabilidade social (IPEA, 2015).

Quadro 6. Descrição e peso dos indicadores que compõem o Índice de Vulnerabilidade Social.

Dimensão Indicador Peso

IVS

Infraestrutura

Urbana

Percentual de pessoas em domicílios com abastecimento de água e

esgotamento sanitário inadequados.

0,300

Percentual da população que vive em domicílios urbanos sem

serviço de coleta de lixo.

0,300

Percentual de pessoas que vivem em domicílios com renda per

capita inferior a meio salário mínimo e que gastam mais de uma

hora até o trabalho no total de pessoas ocupadas, vulneráveis e que

retornam diariamente do trabalho.

0,400

IVS Capital

Humano

Mortalidade até um ano de idade 0,125

Percentual de crianças de 0 a 5 anos que não frequentam a escola 0,125

Percentual de pessoas de 6 a 14 anos que não frequentam a escola 0,125

Percentual de mulheres de 10 a 17 anos de idade que tiveram filhos 0,125

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44

Percentual de mães chefes de família, sem fundamental completo e

com pelo menos um filho menor de 15 anos de idade, no total de

mães chefes de família

0,125

Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais de idade 0,125

Percentual de crianças que vivem em domicílios em que nenhum

dos moradores tem o ensino fundamental completo

0,125

Percentual de pessoas de 15 a 24 anos que não estudam, não

trabalham e possuem renda domiciliar per capita igual ou inferior

a meio salário mínimo (2010), na população total dessa faixa etária

0,125

IVS Renda e

Trabalho

Proporção de pessoas com renda domiciliar per capita igual ou

inferior a meio salário mínimo (2010)

0,200

Taxa de desocupação da população de 18 anos ou mais de idade 0,200

Percentual de pessoas de 18 anos ou mais sem fundamental

completo e em ocupação informal

0,200

Percentual de pessoas em domicílios com renda per capita inferior

a meio salário mínimo (de 2010) e dependentes de idosos

0,200

Taxa de atividade das pessoas de 10 a 14 anos de idade 0,200

Fonte: IPEA, 2015.

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

Foi utilizado o software Statistical Package for the Social Science Statistics (SPSS) para

análise descritiva dos dados da PNAD. Inicialmente foi realizada estatística descritiva para

cálculo das prevalências de insegurança alimentar considerando os pesos amostrais e efeito do

desenho.

Quanto as variáveis coletadas pelo Atlas Brasil e Atlas de Vulnerabilidade, o IDH e os

IVS foram apresentados pelos respectivos valores da média aritmética referente aos três

subíndices/dimensões. A extrema pobreza foi apresentada em percentual, enquanto que a

mortalidade infantil pelo número de óbitos de menores de um ano de idade, por mil nascidos

vivos. Todas as variáveis foram descritas por UF e foram de 2010, dados disponíveis do último

censo, por isso, devido a aproximação do período de coleta, optou-se por utilizar os dados de

IA de 2009, embora tivesse dados mais recentes (2013).

Foram utilizadas técnicas de análise espacial de dados de área a partir das malhas digitais

brasileiras por UF, com o uso dois softwares de Sistemas de Informação Geográficas (SIG).

Em todas as análises as variáveis incluídas foram de natureza contínua. A análise espacial

Page 45: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

45

descritiva das prevalências de insegurança alimentar foi realizada pelo software Terra View

4.1.0 (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; http://www.dpi.inpe.br/terraview).

Para análise temporal da distribuição espacial das prevalências de IA nos anos de 2004,

2009 e 2013, foi realizada a divisão em quartis da IA no ano de 2004, por ser considerado o

primeiro ano de análise e o que encontra-se com maiores prevalências de IA e, utilizou-se esses

valores como pontos de corte para distribuição das prevalências nos três anos.

Enquanto que a análise espacial bivariada entre a variável dependente (insegurança

alimentar) e cada uma das variáveis independentes (percentual de extremamente pobres, IDHM,

mortalidade infantil, índice de vulnerabilidade social e seus subíndices – IVS infraestrutura,

capital humano e renda e trabalho), foi utilizado o software GeoDa 0.9.9.10 (Spatial Analysis

Laboratory, University of Illinois, Urbana-Champaign, Estados Unidos).

Para analisar o padrão de distribuição espacial e a intensidade dos aglomerados (cluster,

aleatório ou disperso), foi utilizado o Índice de Moran Local (li) (que varia de -1 a 1), com 99

permutações, ambos considerando como significância estatística o valor de p<0,05. A

ocorrência de aglomerados e a significância estatística desses aglomerados foram demonstrados

pelo MoranMap e pelo LisaMap (BRASIL, 2007).

Na correlação espacial bivariada, a interpretação dos aglomerados espaciais (clusters)

pode ser de cinco tipos: não significativo (territórios que não entraram na formação de clusters,

devido suas diferenças não terem sido significativas); alto-alto (regiões formadas por UF com

altas frequências da variável dependente, altas frequências da variável independente); baixo-

baixo (regiões formadas por UF com baixas frequências da variável dependente, baixas

frequências da variável independente), alto-baixo (regiões formadas por UF com altas

frequências da variável dependente, baixas frequências da variável independente), e baixo-alto

(regiões formadas por UF com baixas frequências da variável dependente, altas frequências da

variável independente).

Page 46: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

46

ARTIGO PRODUZIDO

O artigo intitulado “Distribuição espaço-temporal da prevalência de Insegurança

Alimentar associada às condições de vulnerabilidade social no Brasil” foi submetido para

publicação no periódico “Cadernos de Saúde Pública” que possui fator de impacto (2014-2015)

0.9742 e Qualis (2013-2016) A2 da CAPES para área de Saúde Coletiva.

Normas de publicação da revista: http://www.scielo.br/revistas/csp/pinstruc.htm#002

Page 47: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

47

DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA PREVALÊNCIA DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR ASSOCIADA ÀS CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE SOCIAL NO

BRASIL

RESUMO

O objetivo foi analisar a distribuição espaço-temporal da insegurança alimentar e sua correlação

com indicadores de vulnerabilidade social e mortalidade infantil, no Brasil. Estudo ecológico,

com dados da Pesquisa Nacional Amostra de Domicílios e do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística e o Altas Brasil do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Foi realizada uma

análise temporal da distribuição espacial das prevalências de insegurança alimentar nos anos de

2004, 2009 e 2013. Na análise espacial bivariada, foi utilizado o Índice de Moran, considerando

como significância estatística o valor de p<0,05. A ocorrência de aglomerados e a sua

significância estatística foram demonstrados pelo MoranMap e pelo LisaMap. As prevalências

de insegurança alimentar diminuíram nos anos analisados e apresentaram correlação espacial

negativa e moderada com o IDH (-0,643; p<0,05); positiva e moderada com % de extremamente

pobres (0,684; p<0,05), mortalidade infantil (0,572; p<0,05), índice de vulnerabilidade social

(0,654; p<0,05), índice de vulnerabilidade social capital humano (0,636; p<0,05); positiva e

forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho (0,716; p<0,05) e positiva e fraca

com índice de vulnerabilidade social infraestrutura (0,273; p<0,05). Conclui-se que houve

diminuição da prevalência de IA nos anos analisados e que o território brasileiro apresentou

dois padrões distintos: territórios com maiores prevalências de IA e piores condições de renda,

trabalho e saúde infantil nas regiões Norte e Nordeste; e territórios com menores prevalências

de IA e menor vulnerabilidade de acordo com os indicadores analisados em UF nas regiões

Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Palavras-chave: Segurança Alimentar; Vulnerabilidade social; Determinantes Sociais da Saúde.

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48

INTRODUÇÃO

No início da década de 2000, 55 milhões de brasileiros viviam na pobreza, com metade

de um salário mínimo mensal per capita, dentre os quais 24 milhões viviam com menos de ¼

de um salário mínimo, em condições de pobreza extrema 1. Esse cenário, constitui uma

realidade da estrutura econômico-social do país, que figura dentre as nações com maior

desigualdade de renda de todo o mundo 2. Esse estado de pobreza, consequentemente de

vulnerabilidade social, dificulta o acesso adequado a alimentos seguros e nutritivos,

constituindo um cenário de alta prevalência de Insegurança Alimentar (IA) 3.

A partir da sua política, a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) passou a ser eixo

prioritário no Brasil com vistas a combater o quadro de fome e miséria. O conceito de SAN se

consagrou pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) definida pela

realização do direito de todos os cidadãos ao acesso a alimentos de maneira regular e saudável,

de modo que a garantia desse direito não afete as demais necessidades essenciais, respeitando

a diversidade cultural e que seja sustentável do ponto de vista ambiental, econômico e social 4.

Em 2004 a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) foi incorporada à Pesquisa

Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) como um instrumento para avaliar a situação de

SAN no Brasil com representatividade nacional. Foi diagnosticado que 34,8% da população

brasileira vivia com algum nível de IA. Na região Nordeste 12,4% da população apresentava

IA grave. Em 2009 e 2013 a pesquisa foi repetida e notou-se uma redução da prevalência de IA

em âmbito nacional para 30,2% e 22,6%, respectivamente 5,6,7.

É importante conhecer o comportamento espacial da IA pelo território brasileiro pois

permite uma perspectiva singular para melhor compreensão dos processos que permeiam a

ocorrência desse agravo. Essas técnicas de análise espacial de dados, possibilita a identificação

de possíveis padrões nesse território. A investigação de como esses padrões alimentares e

nutricionais se comportam ao longo do tempo e se organizam nos espaços geográficos

proporciona a compreensão dos fatores econômicos, sociais, políticos e culturais contribuintes

(FARIA; BORTOLOZZI, 2009). Isso permite a identificação de grupos mais vulneráveis,

facilitando o direcionamento das políticas públicas8.

Além disso, a IA é uma realidade ainda encontrada nos domicílios brasileiros, em que

essas privações e instabilidade de acesso aos alimentos, do ponto de vista qualitativo e

quantitativo, decorrente de uma exclusão social, podem ocasionar graves consequências ao

bem-estar e saúde dos indivíduos. Portanto, o conhecimento dos territórios mais afetados

Page 49: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

49

permitirá um planejamento de políticas públicas que tenham impacto na redução da pobreza e

das prevalências de IA, com garantia de SAN e Direito Humano à Alimentação Adequada

(DHAA).

Este artigo analisa a distribuição da IA em domicílios nas Unidades de Federação (UF)

brasileiras e procura compreender como as condições de vulnerabilidade social se

correlacionam espacialmente com esse agravo, e contribuem para a magnitude do problema,

buscando identificar territórios de maior contraste no país.

MÉTODOS

Estudo transversal do tipo ecológico, exploratório e analítico, cujas unidades de análise

de área foram constituídas pelas 27 Unidades de Federação (UF) brasileiras. Foram utilizados

inquéritos populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Suplemento

Segurança Alimentar das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD) 2004, 2009

e 2013 para coleta da variável dependente, Insegurança Alimentar. Já as variáveis

independentes (Índices de Vulnerabilidade Social (IVS) e suas dimensões, percentual de

extremamente pobres, mortalidade infantil e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

(IDHM), foram coletadas no Atlas Brasil, sistematizados pelo Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (PNUD) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em

2010.

A PNAD foi realizada por meio de uma amostra probabilística de domicílios obtida em

três estágios de seleção: unidades primárias - municípios; unidades secundárias - setores

censitários; e unidades terciárias – unidades domiciliares (domicílios particulares e unidades de

habitação em domicílios coletivos). Na seleção das unidades primárias e secundárias

(municípios e setores censitários) foram adotadas a divisão territorial e a malha setorial vigentes

nas datas de referência dos Censos Demográficos 2000 (PNAD 2008-2009). O tamanho

amostral final da PNAD em 2009 foi de 399.387 pessoas e 153.837 unidades domiciliares,

distribuídas por todas as Unidades de Federação 6. Para os dados retirados do Atlas Brasil, a

metodologia utilizada para o plano amostral foi a mesma do Censo Demográfico 9.

A IA foi identificada através da EBIA, a qual classifica um domicílio em segurança ou

em insegurança alimentar em leve, moderada ou grave, de acordo com os pontos de corte do

escore. O domicílio foi considerado em Segurança Alimentar quando houve acesso regular e

permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. A IA leve encontra-se

presente quando há uma preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro e

Page 50: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

50

a qualidade é inadequada. Na IA moderada existe redução quantitativa de alimentos entre os

adultos e, por último, a IA grave caracteriza-se por redução quantitativa de alimentos entre as

crianças e fome entre adultos e/ou crianças da família 7.

Quanto as variáveis independentes coletadas no Atlas Brasil, o IDHM e os IVS foram

apresentados pelos respectivos valores da média aritmética referente aos três

subíndices/dimensões. A extrema pobreza foi apresentada em percentual, enquanto que a

mortalidade infantil pelo número de óbitos de menores de um ano de idade, por mil nascidos

vivos. Todas as variáveis foram descritas por UF relativas ao ano de 2010, dados disponíveis

do último censo, por isso, devido a aproximação do período de coleta, optou-se por utilizar os

dados de IA de 2009, embora tivesse dados mais recentes (2013).

O IVS traz 16 indicadores com a finalidade de realizar um mapeamento singular da

exclusão e da vulnerabilidade social, com pretensão de sinalizar o acesso, a ausência ou a

insuficiência de alguns “ativos” em áreas do território brasileiro. Optou-se pelos dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais precisamente os dados dos censos

demográficos, por permitirem um recorte municipal 10.

O subíndice que contempla vulnerabilidade de infraestrutura urbana procura refletir as

condições de acesso aos serviços de mobilidade urbana e saneamento básico. Em relação ao

subíndice referente ao capital humano, envolve aspectos que determinam as perspectivas (atuais

e futuras) de inclusão social dos indivíduos: saúde e educação. Já a vulnerabilidade de renda e

trabalho, agrupa indicadores de insuficiência de renda presente, além de outros fatores que,

configuram um estado de insegurança de renda 10.

O IVS foi elaborado a partir da média aritmética dos subíndices: IVS infraestrutura

urbana, IVS capital humano e IVS Renda e Trabalho, cada um com o mesmo peso, em que cada

indicador teve seu valor normalizado em uma escala que varia entre 0 e 1, em que 0 corresponde

a situação desejável, e 1 corresponde a pior situação, ou seja, maior vulnerabilidade social 10.

Foi realizada uma análise descritiva das variáveis no software Statistical Package for the

Social Science Statistics (SPSS) para cálculo das prevalências de insegurança alimentar

considerando os pesos amostrais e efeito do desenho. Quanto as variáveis coletadas pelo Atlas

Brasil, o IDH e os IVS foram apresentados pelos respectivos valores da média aritmética

referente aos três subíndices/dimensões. A extrema pobreza foi apresentada em percentual,

enquanto que a mortalidade infantil pelo número de óbitos de menores de um ano de idade, por

mil nascidos vivos. Todas as variáveis foram descritas por UF e foram de 2010, dados

disponíveis do último censo, por isso, devido a aproximação do período de coleta, optou-se por

utilizar os dados de IA de 2009, embora tivesse dados mais recentes (2013).

Page 51: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

51

Foram utilizadas técnicas de análise espacial de dados de área a partir das malhas digitais

brasileiras por UF, com o uso dois softwares de Sistemas de Informação Geográficas (SIG).

Em todas as análises as variáveis incluídas foram de natureza contínua. A análise espacial

descritiva das prevalências de insegurança alimentar foi realizada pelo software Terra View

4.1.0 (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; http://www.dpi.inpe.br/terraview). Para

análise temporal da distribuição espacial das prevalências de IA nos anos de 2004, 2009 e 2013,

foi realizada a divisão em quartis da IA no ano de 2004, por ser considerado o primeiro ano de

análise e o que encontra-se com maiores prevalências de IA e, utilizou-se esses valores como

pontos de corte para distribuição das prevalências nos três anos.

Enquanto que a análise bivariada entre a variável dependente (insegurança alimentar) e

cada uma das variáveis independentes (percentual de extremamente pobres, IDHM,

mortalidade infantil, índice de vulnerabilidade social e seus subíndices – IVS infraestrutura,

capital humano e renda e trabalho), foi utilizado o software GeoDa 0.9.9.10 (Spatial Analysis

Laboratory, University of Illinois, Urbana-Champaign, Estados Unidos).

Para analisar o padrão de distribuição espacial e a intensidade dos aglomerados (cluster,

aleatório ou disperso), foi utilizado o Índice de Moran Local (li) (que varia de -1 a 1), com 99

permutações, ambos considerando como significância estatística o valor de p<0,05. A

ocorrência de aglomerados e a significância estatística desses aglomerados foram demonstrados

pelo MoranMap e pelo LisaMap 11.

Na correlação espacial bivariada, a interpretação dos aglomerados espaciais (clusters)

pode ser de cinco tipos: não significativo (territórios que não entraram na formação de clusters,

devido suas diferenças não terem sido significativas); alto-alto (regiões formadas por UF com

altas frequências da variável dependente, altas frequências da variável independente); baixo-

baixo (regiões formadas por UF com baixas frequências da variável dependente, baixas

frequências da variável independente), alto-baixo (regiões formadas por UF com altas

frequências da variável dependente, baixas frequências da variável independente), e baixo-alto

(regiões formadas por UF com baixas frequências da variável dependente, altas frequências da

variável independente) 11.

RESULTADOS

A prevalência de IA, seja leve, moderada ou grave, sofreu redução com o passar dos anos

(Figura 1). Nota-se que em 2004 haviam 7 Estados brasileiros com prevalências acima de 54%

de algum grau de IA e, em 2009 e 2013 apenas dois Estados permaneceram nessa condição

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52

(Piauí e Maranhão). Percebe-se ainda que em 2004, sete Estados apresentavam prevalência de

IA inferior a 28%, em 2009 tornaram-se oito Estados e em 2013 eram 13 Estados (Figura 2).

Na análise descritiva, as maiores prevalências de IA foram encontradas nas regiões Norte

e Nordeste, sendo as maiores nos estados do Maranhão (64,6%) e do Piauí (58,6%) e as menores

em Rondônia (31,7%) e Amazonas (33,1%). Enquanto que nas regiões Centro-Oeste, Sul e

Sudeste as maiores prevalências de insegurança alimentar se encontraram em Goiás (37,8%) e

Mato Grosso do Sul (30,5%) e as menores em Santa Catarina (14,8%) e Rio Grande do Sul

(19,2%) (Tabela 1).

Em relação ao IDHM, nas regiões Norte e Nordeste os valores concentraram-se entre

0,631 (Alagoas) e 0,708 (Amapá); enquanto que nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste os

valores foram entre 0,725 (Mato Grosso) e 0,824 (Distrito Federal) (Tabela 1). Na análise de

correlação espacial bivariada, pôde-se observar correlações moderadas e negativas entre a

prevalência de IA e o IDHM (IML = 0,643), o que significa que as unidades com maiores

prevalências de IA possuíam menores valores de IDHM, e aquelas com maiores valores de

IDHM, menores prevalências de IA (Figura 3a).

No que diz respeito ao percentual de extremamente pobres, o Maranhão apresentou

maior percentual (22,47%), seguido do Piauí (18,77%) nas regiões Norte e Nordeste. Enquanto

que nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, as maiores prevalências foram no Mato Grosso

(4,41%) e Mato Grosso do Sul (3,55%). A menor proporção de extremamente pobres foi

encontrada em Santa Catarina (1,01%) (Tabela 1). A correlação espacial bivariada verificou

correlações moderadas e positivas entre a IA e o percentual de extremamente pobres (IML =

0,684) com aglomerados do tipo alto-alto formados por estados do Norte e do Nordeste com

altas prevalências de IA e extremamente pobres e aglomerados do tipo baixo-baixo com baixas

prevalências de IA e extremamente pobres nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São

Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul (Figura 3b).

Nas regiões Norte e Nordeste, maior mortalidade infantil foi encontrado em Alagoas

(28,04/1.000 nascidos vivos) e Maranhão (28,03/1.000 nascidos vivos) e menores nos estados

de Amapá (15,14/1.000 nascidos vivos) e Roraima (16,11/1.000 nascidos vivos). Na medida

que nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste as maiores prevalências foram encontradas em

Mato Grosso do Sul (18,14/1.000 nascidos vivos) e Mato Grosso (16,80/1.000 nascidos vivos),

enquanto que as menores no Rio Grande do Sul (11,54/1.000 nascidos vivos) e Santa Catarina

(12,38/1.000 nascidos vivos) (Tabela 1). Na correlação espacial (bivariada) entre essa variável

e a IA, formaram-se clusters com correlações moderadas e positivas (IML = 0,572) do tipo alto-

alto nos estados de Pernambuco, Alagoas e Piauí, ou seja, alta mortalidade infantil e alta

Page 53: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

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prevalência de IA. Contrário a isso, formaram-se aglomerados do tipo baixo-baixo em estados

do Centro-Sul, com baixas prevalências de mortalidade infantil e IA (Figura 3c).

No que se refere ao IVS total os maiores valores concentraram-se entre 0,521 a 0,403,

nos estados do Maranhão, Amazonas, Pará, Alagoas, Acre, Pernambuco, Amapá, Piauí e Bahia,

todos localizados nas regiões Norte e Nordeste, por ordem decrescente. Enquanto que os

menores valores de IVS foram entre 0,192 a 0,297, nos estados de Santa Catarina, Rio Grande

do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Distrito

Federal e São Paulo, em ordem crescente (Tabela 1). Na correlação espacial bivariada

formaram-se clusters com correlação moderada e positiva (IML = 0,654) do tipo alto-alto nos

estados de Piauí e Amapá, alta vulnerabilidade social e alta prevalência de IA, enquanto que

nos estados da região Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul se formaram clusters do tipo baixo-

baixo, com baixa vulnerabilidade social e baixa prevalência de IA (Figura 4a).

No que concerne as frações de IVS, o de infraestrutura apresentou maiores valores no

Maranhão (0,526) seguido de Amazonas (0,515) nas regiões Norte e Nordeste, e nos estados

do Goiás (0,331) e Rio de Janeiro (0,323) nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (Tabela 1).

A correlação espacial bivariada foi fraca e positiva (IML = 0,273) com aglomerado do tipo alto-

alto em Roraima, o que significa alto IVS infraestrutura e alta prevalência de IA, e do tipo

baixo-baixo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Figura 4b).

Nos estados de Acre (0,564) e Alagoas (0,563) o IVS capital humano apresentou maior

valor quando comparado aos demais estados do Norte e Nordeste. Já para Sul, Sudeste e Centro-

Oeste foram os estados de Mato Grosso do Sul (0,369) e Mato Grosso (0,359) (Tabela 1). Na

análise de correlação espacial com a variável dependente, insegurança alimentar, houve

correlação moderada e positiva (IML = 0,636) com aglomerados do tipo alto-alto em

Pernambuco e Sergipe, com alto IVS infraestrutura e alta prevalência de IA, e do tipo baixo-

baixo em estados do Centro-Sul do País (Figura 4c).

Ainda sobre os IVS, o de renda e trabalho nas regiões Norte e Nordeste variou entre

0,325 (Rondônia) e 0,503 (Maranhão) e nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste entre 0,194

(Santa Catarina) e 0,295 (Minas Gerais) (Tabela 1). Na correlação espacial (bivariada) foram

encontrados aglomerados com correlações fortes e positivas do tipo alto-alto em Pernambuco,

Alagoas, Sergipe, Ceará e Piauí, com altos valores de IVS renda e trabalho e altas prevalências

de IA, enquanto que em estados do Centro-Sul observaram-se aglomerados do tipo baixo-baixo,

com valores inferiores de IVS renda e trabalho e de prevalências de IA (Figura 4d).

Page 54: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

54

DISCUSSÃO

A distribuição espacial das prevalências de IA no Brasil foram diminuídas no decorrer

dos anos analisados e demonstraram-se desiguais, com a formação de dois padrões: um com

maiores prevalências de IA em UF das regiões Norte e Nordeste e outro com menores

prevalências em UF das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

A análise temporal realizada no estudo mostra que houve uma diminuição das

prevalências de IA de 2004 a 2013 no Brasil 5-7. Ao se considerar que a política nacional de

Segurança Alimentar foi implementada com a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e

Nutricional (LOSAN) em 2006, Pinheiro 12 afirma que apesar dessa lei representar um avanço

nos direitos sociais, não garante sozinha a Segurança Alimentar. De acordo com essa autora há

um longo percurso para operacionalização dos princípios dessa lei para conseguir impactos

significativos em todo território brasileiro marcado por grandes desigualdades e

heterogeneidade.

Não obstante, políticas de alimentação e nutrição como o Programa Fome Zero lançado

em 2003 e depois atualizado para Programa Bolsa Família, assim como os programas aquisição

de alimentos, restaurantes populares, banco de alimentos, programa cisternas, dentro outros,

foram concebidos em eixos de acesso aos alimentos, fortalecimento da agricultura familiar,

geração de renda, articulação, mobilização e controle social. Isso foi importante para

consolidação das políticas de Segurança Alimentar como políticas de Estado e não de governos

13.

Os resultados mostraram ainda, correlação espacial negativa entre a prevalência de IA e

o IDHM, o que atesta a relação entre piores condições socioeconômicas com maior

probabilidade de IA no domicílio, como em estudos que mostram associação entre a IA com

menor escolaridade do responsável/mãe 14,15,16,17,18 e menor renda domiciliar per capita 14, 15, 16,

18, 19, 20, 21, 22.

No presente estudo, verificou-se que o percentual de extremamente pobres teve

autocorrelação espacial positiva e moderada com a prevalência de IA, com formação de um

aglomerado espacial nos Estados do Pernambuco, Maranhão e Piauí da região Nordeste e do

Pará na região Norte. Essa situação nestes territórios pode ocorrer, devido grande parte da

população encontrar-se em iniquidade social, com isso, possuírem maior possibilidade de IA

moderada e grave, e isso pode ser justificado pelo contexto de ausência de acesso à terra, a

água, a condições dignas de moradia e trabalho, além do acesso e consumo de alimentos de

maneira adequada 23.

Page 55: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

55

Nota-se então que a diminuição na disponibilidade, acesso e/ou consumo de alimentos,

acaba por comprometer a qualidade, quantidade e a regularidade que compõem a alimentação

básica das famílias em situação de IA. Quando este quadro se associa ao perfil infantil percebe-

se um comprometimento do aporte calórico e de nutrientes, refletindo em déficits no

crescimento e desenvolvimento dessas crianças, isso contribui para maiores prevalências de

mortalidade infantil nessas populações 24. Programas de TR podem ainda, contribuir muito para

uma diminuição da mortalidade infantil em geral e, em particular, para as mortes atribuíveis a

causas relacionadas à pobreza, como desnutrição e diarreia, em um país de grande desigualdade

de renda, como o Brasil 25. Isso se deve, porque a exemplo do Programa Bolsa Família (PBF),

uma família inscrita deve cumprir condições específicas de educação e saúde, como imunização

e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, além de frequência na escola

dependendo da idade da criança. As mulheres grávidas e em lactação devem participar do pré-

natal e visitas pós-natal, acompanhamento de saúde e de atividades educativas 26.

No que se refere a vulnerabilidade social, avaliada nas três dimensões: infraestrutura,

capital humano e renda e trabalho, observou-se que o índice de vulnerabilidade social total

estava desigualmente distribuído no território brasileiro, com formação de aglomerados

espaciais nos Estados de Roraima e Piauí. A situação de vulnerabilidade social da família pobre

se encontra diretamente ligada à miséria estrutural, agravada pela crise econômica que lança o

homem ou a mulher ao desemprego ou subemprego. Além disso, uma precária situação

socioeconômica contribui para uma desestruturação familiar, repercutindo diretamente nos

mais vulneráveis: os filhos, vítimas de injustiça social se veem com seus direitos violados. A

pobreza, a miséria e a falta de perspectiva para melhoria de condições de vida, impõe toda

família a uma luta desigual e desumana pela sobrevivência 27.

Verificou-se ainda, no que concerne ao IVS infraestrutura urbana, o qual avaliou

indicadores referentes ao abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e baixa

renda, houve correlação positiva e fraca com a prevalência de IA, e formação de um aglomerado

espacial no Estado de Roraima na região Norte do País. Garcia e Matos28 também encontraram

municípios com elevada vulnerabilidade urbana na região Norte, entretanto, diferente deste

estudo, especialmente nos Estados de Pará e Tocantins. Isso provavelmente aconteceu por ter

sido avaliado através de um índice construído com indicadores diferentes.

No que tange o IVS capital humano, o qual se relaciona principalmente as condições de

escolaridade do domicílio, nesse estudo formaram-se aglomerados espaciais nos Estados de

Pernambuco e Sergipe. Bezerra, Olinda e Pedraza 29 em uma revisão sistemática com

metanálise encontraram que dos dez estudos que objetivaram associar a IA com escolaridade

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56

do chefe do domicílio, seis apresentaram associação significativa (60% dos estudos). Em estudo

comparativo a respeito das condições socioeconômicas e a IA entre as regiões Nordeste e Sul

foi encontrado que em ambas as regiões a renda média per capita foi duas vezes menor se a

escolaridade materna era de até quatro anos, comparada com a escolaridade materna de nove

anos ou mais 30.

Em uma revisão sistemática dos determinantes socioeconômicos da IA, a variável que

apresentou maior associação com a IA foi a pior renda familiar 29. Considerando que a renda é

um preditor, ainda que não o único, da segurança alimentar, é de supor que os ganhos em

rendimento possam, também, contribuir para a redução da IA e da fome 31. Neste sentido, a

renda familiar disponível influencia de forma significativa no consumo alimentar, em que

quando há uma situação de redução da renda, a primeira atitude da família é consumir alimentos

mais baratos, para que a quantidade não seja comprometida, independente da qualidade

nutricional. Uma vez se tenha uma retração mais drástica dessa renda, a quantidade e

regularidade de alimentos consumidos se reduz. Essa realidade alerta para o fato de que a fome

pode ser uma realidade mesmo na ausência de sinais clínicos específicos 32. No presente estudo

foi verificado uma correlação espacial forte e positiva do IVS renda e trabalho com as

prevalências de insegurança alimentar em Estados da região Nordeste, isso pode ser explicado

pelas piores condições de emprego, renda e escolaridade das famílias nesse território.

A mortalidade infantil e as prevalências de IA tiveram correlações espaciais positivas e

moderadas em UF menos desenvolvidas, no Nordeste (Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Piauí).

Apesar da pobreza e vulnerabilidade social já ser conhecida nas regiões mais historicamente

subdesenvolvidas do país, como a região Nordeste, a prevalência de IA ter sido correlacionada

espacialmente com a mortalidade infantil nesses territórios, como corroboram os achados desta

pesquisa, demonstra que além das desigualdades sociais já conhecidas, há também

desigualdades nos fatores produtores de saúde: materiais, biológicos, psicossociais e

comportamentais que impactam na saúde infantil 33.

Como estudos que mostraram que a ocorrência de IA está associada à amamentação por

período inferior a 24 meses 20, amamentação exclusiva por menos que 6 meses 20, asma na

infância 34, desnutrição infantil 35, menor consumo de energia, proteínas e ferro pela criança 36

e as piores situações de estado nutricional infantil, como os déficits ponderais, estaturais e

pondero-estaturais 19.

Verifica-se então que a execução das políticas de Segurança Alimentar tem atendido à

alguns aspectos isolados, o que dificulta a realização do Direito Humano a Alimentação

Adequada (DHAA). Existe ainda, uma falta de articulação entre os níveis de federação e

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57

ausência de comprometimento com a erradicação da fome e miséria no País37. Vecchio et al. 38

evidenciaram a necessidade de implantação de políticas públicas de DHAA em nível municipal

que visem implementar ações práticas considerando as realidades locais e com isso, apresentem

impactos mais significativos na diminuição da IA.

É importante pesquisas que possam dar continuidade a esse estudo temporal das

prevalências de IA iniciado neste artigo, considerando o atual cenário de instabilidade e

conflitos políticos, econômicos e sociais, caracterizado por um retrocesso nas políticas públicas,

em especial nas políticas sociais que visam fortalecimento da agricultura familiar, transferência

de renda, redistribuição de terra e integralidade das ações de saúde, as quais podem impactar

diretamente na IA das populações afetadas.

As limitações do estudo relacionam-se a própria metodologia utilizada, em que devido a

um possível viés de agregação ou falácia ecológica, seus resultados precisam ser interpretados

com precaução. Por se tratar de um estudo ecológico, a observação de uma relação existente

entre duas variáveis no nível agregado não implica, necessariamente, que essa relação se

empregue em nível individual. O estudo apresentou uma boa validade interna, pois os dados

são provenientes de inquéritos populacionais com amostra complexa e foram representativos

aos estratos geográficos analisados.

Um dos aspectos fortes desse estudo foi o fato de ter relacionado a distribuição territorial

da IA com diferentes condições de vulnerabilidade social, encontrando dois padrões distintos,

um com territórios com maiores prevalências de IA e piores condições de renda, trabalho e

saúde infantil nas regiões Norte e Nordeste e outro com menores prevalências de IA e menor

vulnerabilidade de acordo com os indicadores analisados em UF nas regiões Centro-Oeste,

Sudeste e Sul.

Ademais, destaca-se o rigor metodológico no tratamento dos dados e a importância da

análise de três dimensões que se relacionam com as prevalências de insegurança alimentar:

infraestrutura, capital humano e renda e trabalho. Os achados contribuíram para conhecimento

de determinantes da IA e sua distribuição territorial, o que poderá auxiliar no planejamento e

implementação de políticas e programas mais efetivos, resolutivos e específicos para os espaços

geográficos prioritários, contribuindo para melhores condições de vida e segurança alimentar

em âmbito domiciliar.

Conclui-se que a ocorrência de IA sofreu redução com o passar dos anos analisados (2004

a 2013) e foi desigualmente distribuída no território brasileiro e foi associada inversamente ao

IDHM. Em contrapartida, apresentou associação direta com o percentual de extremamente

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58

pobres, a maior ocorrência de mortalidade infantil, e maior vulnerabilidade associada às piores

condições de renda e trabalho.

Page 59: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

59

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62

Ilustrações do artigo

Figura 1. Prevalências de Insegurança Alimentar domiciliar no Brasil, em 2004, 2009 e 2013.

Fonte: PNAD 2004, 2009 e 2013.

IA: Insegurança Alimentar; IAL: Insegurança Alimentar Leve; IAM: Insegurança Alimentar Moderada; IAG:

Insegurança Alimentar Grave.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

IA IAL IAM IAG

2004 2009 2013

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63

Figura 2: Distribuição espacial das prevalências de insegurança alimentar, por Unidades da Federação,

Brasil, 2004, 2009 e 2010.

2a) 2004

2b) 2009

2c) 2013

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64

Tabela 1. Prevalência de domicílios em situação de insegurança alimentar e variáveis socioeconômicas e demográficas, por Unidades da Federação,

Brasil, 2009/2010.

UF

Prevalência

de

Insegurança

Alimentar*

(%)

IDHM** Extremamente

Pobres**

Mortalidade

Infantil** IVS**

IVS

Infraestrutura

Urbana**

IVS Capital

Humano**

IVS Renda e

Trabalho**

Brasil 30,2 0,727 6,62 16,7 0,326 0,295 0,362 0,32

Região Norte 40,3 0,684 12,88 18,45 0,404 0,342 0,476 0,394

Roraima 47,6 0,707 15,66 16,11 0,366 0,245 0,483 0,37

Acre 47,5 0,663 15,59 23,01 0,443 0,36 0,564 0,405

Amapá 45,5 0,708 9,93 15,14 0,404 0,373 0,451 0,388

Tocantins 43,4 0,699 10,21 19,56 0,336 0,212 0,418 0,378

Pará 43,2 0,646 15,90 20,29 0,469 0,457 0,494 0,457

Amazonas 33,1 0,674 16,43 17,01 0,488 0,515 0,516 0,433

Rondônia 31,7 0,690 6,39 18,02 0,319 0,231 0,4 0,325

Região Nordeste 46,1 0,659 14,90 22,72 0,412 0,299 0,475 0,461

Maranhão 64,6 0,639 22,47 28,03 0,521 0,526 0,534 0,503

Piauí 58,6 0,646 18,77 23,05 0,403 0,265 0,471 0,474

Ceará 48,3 0,682 14,69 19,29 0,378 0,263 0,438 0,434

Rio Grande do Norte 47,1 0,684 10,33 19,70 0,349 0,217 0,42 0,411

Pernambuco 42,1 0,673 12,32 20,43 0,414 0,318 0,46 0,463

Bahia 41,2 0,66 13,79 21,73 0,403 0,276 0,455 0,478

Paraíba 41,0 0,658 13,39 21,67 0,385 0,225 0,469 0,462

Sergipe 40,3 0,665 11,70 22,22 0,393 0,28 0,467 0,431

Alagoas 37,1 0,631 16,66 28,04 0,461 0,324 0,563 0,495

Região Sudeste 23,3 0,754 2,33 14,31 0,294 0,319 0,299 0,263

Espírito Santo 27,8 0,74 2,67 14,15 0,274 0,217 0,319 0,285

Minas Gerais 25,5 0,731 3,49 15,08 0,282 0,228 0,323 0,295

Page 65: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

65

São Paulo 22,4 0,783 1,16 13,86 0,297 0,407 0,263 0,222

Rio de Janeiro 21,9 0,761 1,98 14,15 0,323 0,427 0,292 0,251

Região Sul 18,7 0,756 1,65 12,33 0,226 0,172 0,284 0,222

Paraná 20,4 0,749 1,96 13,08 0,252 0,217 0,298 0,241

Rio Grande do Sul 19,2 0,746 1,98 11,54 0,234 0,17 0,3 0,231

Santa Catarina 14,8 0,774 1,01 12,38 0,192 0,128 0,253 0,194

Região Centro-Oeste 30,1 0,753 2,87 15,72 0,298 0,302 0,332 0,260

Goiás 37,8 0,735 2,32 13,96 0,331 0,385 0,334 0,274

Mato Grosso do Sul 30,5 0,729 3,55 18,14 0,289 0,224 0,369 0,273

Mato Grosso 22,1 0,725 4,41 16,80 0,277 0,185 0,359 0,288

Distrito Federal 21,2 0,824 1,19 14,01 0,294 0,412 0,265 0,204

Fontes: * PNAD 2009; ** PNUD 2010.

IDHM: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal; IVS: Índice de Vulnerabilidade Social; IVS infraestrutura urbana: Índice de Vulnerabilidade Social infraestrutura

urbana; IVS capital humano: Índice de vulnerabilidade social capital humano; IVS Renda e Trabalho: Índice de Vulnerabilidade Social renda e trabalho.

Page 66: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

Distribuição Espaço-Temporal da Insegurança Alimentar e Nutricional no Brasil: aspectos socioeconômicos e

demográficos 66

Figura 3. Distribuição dos clusters da correlação espacial bivariada LISA das prevalências de

insegurança alimentar com variáveis socioeconômicas e demográficas, nas Unidades Federativas do

Brasil, 2009-2010.

3a) Insegurança Alimentar (%) X IDH

3b) Insegurança Alimentar (%) X Extremamente

pobres (%)

3c) Insegurança Alimentar (%) X Mortalidade Infantil

IML: Índice de Moran Local

IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

IML = - 0,643

p < 0,05 IML = 0,684

p < 0,05

IML = 0,572

p < 0,05

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Distribuição Espaço-Temporal da Insegurança Alimentar e Nutricional no Brasil: aspectos socioeconômicos e

demográficos 67

Figura 4. Distribuição dos clusters da correlação espacial bivariada LISA das prevalências de

insegurança alimentar com o Índices de Vulnerabilidade Social, nas Unidades Federativas do Brasil,

2009-2010.

4a) Insegurança Alimentar (%) X IVS

4b) Insegurança Alimentar (%) X IVS Infraestrutura

4c) Insegurança Alimentar (%) X IVS Capital Humano

4d) Insegurança Alimentar (%) X IVS Renda e Trabalho

IML: Índice de Moran Local

IVS: Índice de Vulnerabilidade Social (2a);

IVS Infraestrutura: Índice de Vulnerabilidade Social Infraestrutura (2b);

IVS Capital Human: Índice de Vulnerabilidade Social Capital Humano (2c);

IVS Renda e Trabalho: Índice de Vulnerabilidade Social Renda e Trabalho (2d).

IML = 0,654

p < 0,05 IML = 0,273

p < 0,05

IML = 0,636

p < 0,05

IML = 0,716

p < 0,05

Page 68: Distribuição espaço-temporal da prevalência de ... · ... positiva e forte com índice de vulnerabilidade social renda e trabalho ... PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar

Distribuição Espaço-Temporal da Insegurança Alimentar e Nutricional no Brasil: aspectos socioeconômicos e

demográficos 68

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados dessa dissertação visualizaram que a ocorrência de insegurança alimentar

sofreu diminuição nos anos analisados e foi desigualmente distribuída no território brasileiro e

foi associada inversamente ao índice de desenvolvimento humano. Contrário a isso, apresentou

associação direta com o percentual de extremamente pobres, a mortalidade infantil, o índice de

vulnerabilidade social total e suas três dimensões: infraestrutura urbana, capital humano e renda

e trabalho.

Os achados contribuíram para conhecimento dos determinantes da insegurança alimentar

e sua distribuição territorial, o que poderá auxiliar no planejamento e implementação de

políticas e programas mais efetivos, resolutivos e específicos para os espaços geográficos

prioritários, contribuindo para segurança alimentar em âmbito domiciliar e exigibilidade do

direito humano a uma alimentação mais adequada.

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Distribuição Espaço-Temporal da Insegurança Alimentar e Nutricional no Brasil: aspectos socioeconômicos e

demográficos 69

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