distribuiÇÃo de nutrientes e carboidratos nos frutos de ... · material foi triturado em moinho...

4
DISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES E CARBOIDRATOS NOS FRUTOS DE PUPUNHEIRA Raúl René Valle 1 , Fábio Santos Barreto 2 , Waldemar de Sousa Barretto 1 , Kátia Curvelo 1 , Maria das Graças C. Parada C. Silva 1 1 Cepec/Ceplac, km 22, Rod. Ilhéus/Itabuna, Ilhéus-BA e-mail: [email protected] 2 Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPQ/Ceplac. Faculdade de Tecnologia e Ciências, e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A pupunha (Bactris gasipaes), da família das Palmáceas, foi inicialmente cultivada pelos ameríndios pré-colombianos na região neotropical úmida. Atualmente, encontra-se distribuída desde Honduras até a Bolívia. Ocorre na costa Atlântica das Américas Central e do Sul, até o Maranhão, e também ao longo da costa do Pacífico, e sul da Costa Rica. Além de ser ecologicamente desejável, o cultivo dessa espécie para produção de palmito vem sendo substituído pelo corte predatório de espécies de palmeiras espontâneas do gênero Euterpe (E. oleracea Mart. e E. edulis Mart.) em matas tropicais. Algumas características agronômicas importantes, como precocidade, produtividade, adaptabilidade, capacidade de perfilhamento ao longo dos anos, além de produzir palmito de boa qualidade e possuir elevado potencial produtivo, contribuiu para a difusão dessa espécie em diferentes regiões do Brasil (FERNANDES et al., 2003), aumentando consideravelmente o número de áreas cultivadas no Pará, Acre, Rondônia, Mato Grosso, São Paulo e Bahia. Os frutos da pupunheira apresentam forma, tamanho e cor variáveis. Quando maduros, podem ter a casca vermelha, amarela, alaranjada ou totalmente verde. Quanto à forma podem ser globosos, ovóides ou cônico-globosos e o tamanho varia de 1 a 1,5 cm de diâmetro nos frutos sem semente e até 7 cm nos frutos com semente. Após a polinização, os cachos podem conter entre 50 e 1000 frutos. Fatores como nutrição, polinização deficiente, estiagem, competição e ataque de insetos e doenças podem causar aborto e contribuir para o baixo peso médio do cacho. Dependendo da variedade, o fruto da pupunheira é rico em nutrientes, carboidratos, caroteno (precursor da vitamina A), e pode ser utilizado tanto na alimentação humana quanto animal. No entanto, Não deve ser consumido in natura devido à presença de cristais de oxalato de cálcio (ácido oxálico) que irritam a mucosa da boca e inibem a digestão de proteínas, especialmente em crianças. Normalmente é consumido cozido com água e sal, podendo ser acompanhado de manteiga, maionese, mel e geléia. Pode ser usado em ensopados, sopas, entre outros. Como farinha, é usada nos feitios de diversas iguarias domésticas (SILVA et al., 2004). Pela diversidade de utilização do fruto da pupunheira para consumo humano e animal é necessário que trabalhos sejam realizados no intuito de obter conhecimento sobre os reais benefícios nutricionais e possível utilização em larga escala desse produto na alimentação, podendo ser consumido pela população de baixa renda e servir de auxílio em comunidades onde existam carências nutricionais. Portanto, caracterizar os teores de nutrientes e carboidratos em frutos de pupunheira verdes e maduros foi o objetivo desse trabalho. MATERIAL E MÉTODOS Foram coletados cachos (Fig. 1) de três pupunheiras adultas plantadas em área experimental do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec) com densidade de 400 plantas/ha. Os frutos foram separados dos cachos, pesados, partidos e separados das sementes. Cinco amostras representativas de cada cacho foram selecionadas, determinando-se o peso da matéria seca dos frutos depois de secagem em estufa de ventilação forçada a 65°C até peso constante. O

Upload: buidan

Post on 10-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES E CARBOIDRATOS NOS FRUTOS DE ... · material foi triturado em moinho de facas tipo Willye, coletando-se amostras do material seco para a determinação

DISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES E CARBOIDRATOS NOS FRUTOS DE

PUPUNHEIRA

Raúl René Valle1, Fábio Santos Barreto

2, Waldemar de Sousa Barretto

1, Kátia Curvelo

1,

Maria das Graças C. Parada C. Silva1

1 Cepec/Ceplac, km 22, Rod. Ilhéus/Itabuna, Ilhéus-BA e-mail: [email protected]

2 Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPQ/Ceplac. Faculdade de Tecnologia e Ciências,

e-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

A pupunha (Bactris gasipaes), da família das Palmáceas, foi inicialmente cultivada pelos

ameríndios pré-colombianos na região neotropical úmida. Atualmente, encontra-se distribuída

desde Honduras até a Bolívia. Ocorre na costa Atlântica das Américas Central e do Sul, até o

Maranhão, e também ao longo da costa do Pacífico, e sul da Costa Rica. Além de ser

ecologicamente desejável, o cultivo dessa espécie para produção de palmito vem sendo

substituído pelo corte predatório de espécies de palmeiras espontâneas do gênero Euterpe (E.

oleracea Mart. e E. edulis Mart.) em matas tropicais. Algumas características agronômicas

importantes, como precocidade, produtividade, adaptabilidade, capacidade de perfilhamento

ao longo dos anos, além de produzir palmito de boa qualidade e possuir elevado potencial

produtivo, contribuiu para a difusão dessa espécie em diferentes regiões do Brasil

(FERNANDES et al., 2003), aumentando consideravelmente o número de áreas cultivadas no

Pará, Acre, Rondônia, Mato Grosso, São Paulo e Bahia.

Os frutos da pupunheira apresentam forma, tamanho e cor variáveis. Quando maduros, podem

ter a casca vermelha, amarela, alaranjada ou totalmente verde. Quanto à forma podem ser

globosos, ovóides ou cônico-globosos e o tamanho varia de 1 a 1,5 cm de diâmetro nos frutos

sem semente e até 7 cm nos frutos com semente. Após a polinização, os cachos podem conter

entre 50 e 1000 frutos. Fatores como nutrição, polinização deficiente, estiagem, competição e

ataque de insetos e doenças podem causar aborto e contribuir para o baixo peso médio do

cacho. Dependendo da variedade, o fruto da pupunheira é rico em nutrientes, carboidratos,

caroteno (precursor da vitamina A), e pode ser utilizado tanto na alimentação humana quanto

animal. No entanto, Não deve ser consumido in natura devido à presença de cristais de

oxalato de cálcio (ácido oxálico) que irritam a mucosa da boca e inibem a digestão de

proteínas, especialmente em crianças. Normalmente é consumido cozido com água e sal,

podendo ser acompanhado de manteiga, maionese, mel e geléia. Pode ser usado em

ensopados, sopas, entre outros. Como farinha, é usada nos feitios de diversas iguarias

domésticas (SILVA et al., 2004). Pela diversidade de utilização do fruto da pupunheira para

consumo humano e animal é necessário que trabalhos sejam realizados no intuito de obter

conhecimento sobre os reais benefícios nutricionais e possível utilização em larga escala

desse produto na alimentação, podendo ser consumido pela população de baixa renda e servir

de auxílio em comunidades onde existam carências nutricionais. Portanto, caracterizar os

teores de nutrientes e carboidratos em frutos de pupunheira verdes e maduros foi o objetivo

desse trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletados cachos (Fig. 1) de três pupunheiras adultas plantadas em área experimental

do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec) com densidade de 400 plantas/ha. Os frutos foram

separados dos cachos, pesados, partidos e separados das sementes. Cinco amostras

representativas de cada cacho foram selecionadas, determinando-se o peso da matéria seca

dos frutos depois de secagem em estufa de ventilação forçada a 65°C até peso constante. O

Page 2: DISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES E CARBOIDRATOS NOS FRUTOS DE ... · material foi triturado em moinho de facas tipo Willye, coletando-se amostras do material seco para a determinação

material foi triturado em moinho de facas tipo Willye, coletando-se amostras do material seco

para a determinação de minerais, amido, açúcares solúveis totais (AST) e gordura. Os

minerais foram determinados por via úmida, com uma solução digestora de ácido nítrico e

ácido perclórico na proporção 1:5 para a determinação de macro e micronutrientes

(SANTANA et al., 1977). O fósforo foi determinado pelo método do molibdato, a leitura foi

feita com auxilio de um espectrofotômetro a 725 nm de comprimento de onda

(MALAVOLTA, 1997). Potássio foi determinado utilizando fotômetro de chama, Ca, Mg, Fe,

Zn Cu, e Mn por espectrofotometria de absorção atômica com chama de etileno, O nitrogênio

foi determinado após digestão sulfúrica utilizando a metodologia de micro Kjeldahl. A

determinação de amido e AST foram realizadas por espectrofotometria a 620 nm através do

método de antrona em ácido sulfúrico a 28N (DISCHE, 1962). Os resultados foram

analisados utilizando um desenho experimental completamente casualisado. As médias foram

comparadas utilizando o teste t de Student a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

O peso médio dos frutos maduros e verdes por cacho foi de 11.3 e 2.5 kg, respectivamente.

Figura 1. A) Palmeira adulta de pupunha para produção de sementes. B) Cachos com frutos de

pupunha maduros e verdes.

Os teores observados dos macronutrientes nos frutos da pupunheira adulta (Fig. 2), plantada

para produção de sementes, mostrou quantidades estatisticamente superiores nos frutos verdes

que nos maduros (teste t, p> 0,05). As maiores quantidades foram de N (17,6 g kg-1

) e K (11,5

g kg-1

) e as menores de P (2,5 g kg-1

). Nos frutos maduros também N e K tiveram as maiores

concentrações (8,0 g kg-1

) sendo o menor valor (1,0 g kg-1

) encontrado no Mg (Fig. 2).

Figura 2. Teores de macronutrientes nos frutos de pupunheira.

Page 3: DISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES E CARBOIDRATOS NOS FRUTOS DE ... · material foi triturado em moinho de facas tipo Willye, coletando-se amostras do material seco para a determinação

Os teores observados de micronutrientes foram estatisticamente (teste t, p> 0,05) maiores nos

frutos verdes que nos maduros nas pupunheiras adultas. Os maiores teores foram os de Fe

(74,6 mg kg-1

), seguido de Mn, Zn e Cu (18,4 mg kg-1

). No fruto maduro as maiores

quantidades foram de Fe (22,4 mg kg-1

), seguido de Cu (cerca de 17,5 mg kg-1

) e Zn e Mn

apresentando os menores valores (1,5 mg kg-1

) (Fig. 3).

Yuyama et al. (1997), trabalhando com determinação dos teores de nutrientes em alimentos

convencionais e não convencionais da Amazônia, encontraram valores expressivos de K no

fruto da pupunheira, assim como, teores significativos de Ca, Zn e Fe.

Figura 3. Teores de micronutrientes em frutos verdes e maduros de pupunheira.

A concentração de açúcares de armazenamento (amido) e de transporte (açúcares solúveis

totais, AST) nos frutos verdes e maduros de pupunheira está apresentada na Figura 4. A

concentração de amido foi significativamente maior (teste t, p> 0,05) nos frutos maduros

(251mg kg-1

) que nos verdes (195 mg kg-1

) com concentrações similares (cerca de 22 mg kg-1

)

de AST em ambas classes de frutos.

Figura 4. Concentração de amido e açúcares solúveis totais (AST) em frutos verdes e maduros

de pupunheira.

Os resultados obtidos mostram que tanto a pupunheira madura como verde podem ser

utilizada para fabricação de rações (na forma de farinhas, por exemplo) para consumo

humano ou animal. No entanto, em uma ração balanceada se utilizariam tanto fruto verde,

Page 4: DISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES E CARBOIDRATOS NOS FRUTOS DE ... · material foi triturado em moinho de facas tipo Willye, coletando-se amostras do material seco para a determinação

pela maior concentração de minerais, como fruto maduro devido ao seu maior conteúdo de

carboidratos.

Os frutos verdes apresentam concentrações de macro e micronutrientes elevadas com

relação aos frutos maduros;

Tanto os frutos verdes quanto os maduros mostraram concentrações de N e K elevadas e

baixas concentrações para o P;

A concentração de Fe foi elevada nos frutos verdes e maduros quando comparada aos

demais micronutrientes determinados; a menor concentração em frutos maduros foi a de Zn e

em frutos verdes foi a de Cu;

A concentração de amido foi significativamente superior nos frutos maduros que nos

verdes. Em ambos os tipos de frutos a concentração de AST foi estatisticamente igual.

AGRADECIMENTOS

À Ceplac, órgão financiador, e a equipe do Laboratório da Seção de Fisiologia Vegetal do

Cepec.

REFERÊNCIAS

DISCHE, Z. General color reactions. In: WHISTLER, R. L.; WOLFRAM, M. L.

Carbohydrate chemistry. New York: Academic Press, 1962. p. 477-512.

MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das

plantas: princípios e aplicações. 2 ed. Piracicaba/SP: Potafos, 1997. p.319.

Manual de Normas Analíticas do instituto Adolfo Lutz: métodos químicos e físicos para

análises de alimentos. 3.ed. São Paulo:IMESP, 1985. p.177-178.

SANTANA, S. O.; ARAUJO, Q. R.; MENDONÇA, J. R. et al. Remapeamento dos solos do

município de Valença-BA, In: XXIX Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. Ribeirão

Preto, São Paulo. Sbcs/Unesp – Viçosa. 13 a 16 de julho, 1997. 3p. CD Rom.

SILVA, M. G. C. P. C.; BARRETTO, W. S.; SERÔDIO, M. H. Caracterização Química da

polpa dos frutos de juçara e de açaí. In: XVIII Congresso Brasileiro de Fruticultura.

Florianópolis, Santa Catarina, 22 a 26 de novembro de 2004. Anais... CD ROOM,

Florianópolis, SC, 2004.

YUYAMA, L. K. O; AGUIAR, J. P. L; MACEDO, S. H. M. et al. Determinação dos teores

de elementos minerais em alimentos convencionais e não convencionais da região da

Amazônia pela técnica de análise por ativação com nêutrons instrumental. ACTA Amazônica,

V. 27 n 3, p. 183-196. 1997.

FERNANDES, A. R; CARVALHO, J. G. De; CURI, N. et al. Crescimento de mudas de

pupunheira (Bactris gasipaes H.B.K.) sob diferentes níveis de salinidade. Ciência

Agrotécnica. Lavras. V. 27 n. 2, p. 278-284. 2003.