silagem de grão de milho triturado e reidratado contendo ... · avaliou-se o efeito de inoculante...

78
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA Silagem de grão de milho triturado e reidratado contendo glicerina bruta e inoculante microbiano Mircéia Angele Mombach Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia. Área de concentração: Zootecnia. Sinop, Mato Grosso Março de 2014

Upload: nguyenthu

Post on 03-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

Silagem de grão de milho triturado e reidratado contendo

glicerina bruta e inoculante microbiano

Mircéia Angele Mombach

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação

em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso,

Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências

para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia.

Área de concentração: Zootecnia.

Sinop, Mato Grosso

Março de 2014

ii

MIRCÉIA ANGELE MOMBACH

Silagem de grão de milho triturado e reidratado contendo

glicerina bruta e inoculante microbiano

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação

em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso,

Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências

para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia.

Área de concentração: Zootecnia.

Orientador: Prof. Dr. Dalton Henrique Pereira

Sinop, Mato Grosso

Março de 2014

iii

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

iv

v

Aos meus pais, Adair e Lucinde, por me darem todo a apoio e auxílio para enfrentar

mais este desafio.

Ao meu irmão, Luis, que se espelha em mim como exemplo de profissional que ele

deseja ser.

Ao meu esposo, Marcelo, por toda compreensão, apoio e paciência.

DEDICO.

vi

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, ser de superioridade incontestável, que permitiu que

concluísse mais um objetivo em minha vida.

Aos meus pais, Adair e Lucinde, e ao meu irmão Luis, por todo carinho,

encorajamento, apoio e auxilio para que eu realizasse mais esse sonho.

Ao meu esposo, Marcelo, companheiro fiel e meu maior incentivador. Você merece

muitos agradecimentos. É o amigo mais verdadeiro e meu grande amor.

À Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Sinop, pela oportunidade de

realização do curso de mestrado.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo

financiamento deste trabalho e pela concessão da bolsa de estudos.

Ao professor D.Sc. Dalton Henrique Pereira por me orientar durante todos esses anos,

pela confiança em mim depositada e pelos ensinamentos transmitidos que foram fundamentais

para meu crescimento pessoal e profissional.

Ao professor D.Sc. Douglas do Santos Pina, pela co-orientação e principalmente pela

ajuda incondicional ao longo de todo o mestrado. Serei eternamente grata por toda a

colaboração. Muito Obrigada!

Ao professor D.Sc. Odilon Gomes Pereira pela disposição de me receber em Viçosa-

MG, pela colaboração e gentileza.

Ao professor D.Sc. Bruno Carneiro e Pedreira, pelo exemplo de profissional e pelas

valiosas sugestões.

Ao professor D.Sc. André Soares de Oliveira, pela boa vontade e pelos

esclarecimentos prestados.

A empresa Kera Nutrição Animal pelo fornecimento do inoculante microbiano.

vii

A Cooperativa de Biocombustível – COOPERBIO pelo fornecimento da glicerina

bruta.

As minhas amigas Dheyme e Patrícia pelo auxílio, amizade e principalmente por toda

força que me deram.

Aos estagiários Heloísa, Hozane, Isadora, Raul, Rafael e Taise, pela ajuda na

condução do experimento e das análises laboratoriais. Muito Obrigada!

Agradeço em especial a estagiária Denise por toda ajuda e auxílio nas análises

laboratoriais, mas principalmente por sua disposição nos momentos mais difíceis. Sem a sua

ajuda seria impossível à apresentação deste trabalho em tempo hábil. Serei eternamente grata.

A todos os colegas de mestrado que compartilharam de seu tempo e convivência ao

longo destes dois anos.

Ao funcionário do Laboratório de Nutrição e Animal e Forragicultura, Célio, pela

ajuda e pelos momentos de descontração vividos.

A funcionária do Laboratório de Tecnologia de Alimentos, Franciele, pela

disponibilidade nos momentos de necessidade.

Aos demais funcionários que colaboraram para as análises laboratoriais.

Enfim, a todos que em algum momento e de alguma forma contribuíram para a

realização de mais este trabalho.

viii

BIOGRAFIA

MIRCÉIA ANGELE MOMBACH, filha de Adair Jorge Mombach e Lucinde

Bernardete Mombach, nasceu em Iturama, Minas Gerais, em 07 de Julho de 1989.

Em Fevereiro de 2012, conclui o Curso de Bacharel em Zootecnia pela Universidade

Federal de Mato Grosso/Campus Sinop. Iniciou em março de 2012, o Curso de mestrado em

Zootecnia, pela mesma instituição, na área de Produção Animal, submetendo-se à defesa de

dissertação em 10 de Março de 2014.

ix

RESUMO

MOMBACH, Mircéia Angele. Dissertação de Mestrado (Zootecnia), Universidade Federal de

Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, Março de 2014, 78f. Silagem de grão de

milho triturado e reidratado contendo glicerina bruta e inoculante microbiano.

Orientador: Prof. D.Sc. Dalton Henrique Pereira. Coorientador: Prof. D.Sc. Douglas do

Santos Pina.

Avaliou-se o efeito de inoculante microbiano e de diferentes níveis de glicerina bruta sobre a

composição química, perfil fermentativo e população microbiana de silagens de grão de milho

triturado e reidratado. O grão seco de milho foi moído a 5 mm e, reidratado com água e

glicerina bruta em diferentes níveis para manter o teor de umidade em 32,5%, conferindo a

adição de 0; 7,5; 15,0 e 22,5% de glicerina bruta (na matéria natural). O material foi ensilado

em silos experimentais de PVC (0,1 m de diâmetro e 0,35 m de comprimento), providos de

válvulas do tipo “Bunsen”. Os períodos de fermentação foram: 4, 8, 16, 32 e 64 dias. O

experimento foi conduzido em esquema fatorial (2x4x5) segundo o delineamento inteiramente

casualizado com três repetições por tratamento. A inclusão de glicerina bruta na silagem de

grão de milho seco reidratado promoveu reduções lineares nos teores de PB, EE e CS (g/kg

MS). Contudo, aumentaram as perdas por efluente e matéria seca total (g/kg MS) e reduziram

as perdas por gás (g/kg MS). Os valores de pH aumentaram linearmente com a inclusão de

glicerina bruta, mas não influenciaram os teores de N-NH3 (% NT). As populações

microbianas reduziram com o incremento nos níveis de glicerina bruta. Independente do uso

do inoculante microbiano, o aumento no nível de inclusão de glicerina bruta nas silagens de

milho grão seco reidratado aumentam as perdas e o pH no processo de ensilagem, reduz a

população de bactérias ácido lático e promove poucas alterações sobre a composição química

da mesma.

Palavras-chave: aditivo, água, concentrado, conservação, ensilagem

x

ABSTRACT

MOMBACH, Mircéia Angele. Dissertação de Mestrado (Zootecnia), Universidade Federal de

Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, Março de 2014, 78p. Grinded and

rehydrated corn grain silage containing crude glycerin and microbial inoculate. Adviser:

Prof. Dr. Dalton Henrique Pereira. Co-adiviser: Prof. Dr. Douglas do Santos Pina.

The objective was to evaluate the effect of the use microbial inoculation and different

inclusion levels of water and crude glycerin on the chemical composition, dynamics and

microbial fermentation of grinded and rehydrated corn grain silage. After disintegration in

mill with sieves of 5 mm, the dry corn grain was rehydrated with water and crude glycerin

different levels to keep the moisture content of 32.5%, giving the addition of 0, 7.5, 15.0 and

22.5% crude glycerin (natural matter). The material was ensiled into PVC silos (0.1 m

diameter and 0.35 of length), containing "Bunsen" valves. The opening times were: 4, 8, 16,

32, 64 days. The experiment was conducted factorial (2x4x5) in a completely randomized

design with three replicates for each treatment, totaling 120 experimental silos. The inclusion

of crude glycerin of on reconstituted dry corn grain silage, with and without inoculant

promoted linear increments in of CP, EE and SC content (g/kg DM). However, increased the

effluent losses and total dry matter losses (g/kg DM) and decreased gas losses (g/kg DM). The

pH values linearly increased with the inclusion of crude glycerin, but did not influence the

levels of NH3-N (% TN). Microbial populations decreased with the increase in levels of crude

glycerin. Regardless of the use of microbial inoculant, the increase in the inclusion of crude

glycerin grinded and rehydrated dry corn grain silage increases losses and pH in the ensiling

process, reduces the population of lactic acid bacteria and promotes few changes on the

chemical composition of this.

Keywords: additive, concentrated, conservation, ensilage, water

xi

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Capacidade estática de armazenamento de produção de grãos do Brasil.............05

FIGURA 2. Fluxograma do processo de obtenção do Biodiesel.............................................07

FIGURA 3. (a) Reação global e (b) Reações consecutivas de transesterificação de

triglicerídeos..............................................................................................................................08

FIGURA 4. Superfície de resposta para efeito de perda de efluente da silagem de grão de

milho reidratado com inoculante com diferentes níveis de glicerina bruta e períodos de

fermentação...............................................................................................................................53

FIGURA 5. Superfície de resposta para efeito de perda de matéria seca da silagem de grão de

milho reidratado com inoculante com diferentes níveis de glicerina bruta e períodos de

fermentação...............................................................................................................................55

xii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. Área, produção e produtividade do milho no mundo dos últimos cinco

anos...........................................................................................................................................03

TABELA 2. Matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel no Brasil nos últimos cinco

anos......................................................................................................................... ..................09

TABELA 3. Perdas de energia no processo de ensilagem e fatores causativos.......................16

TABELA 4. Perdas calculadas de energia e matéria seca (MS) no processo de

fermentação..................................................................................................................... ..........17

TABELA 5. Concentrações típicas de produtos finais da fermentação em várias

silagens......................................................................................................................................20

TABELA 6. Populações epifíticas (UFC/g forragem) de grupos de bactérias e fungos em

plantas antes da ensilagem........................................................................................................26

TABELA 7. Composição química da glicerina bruta..............................................................44

TABELA 8. Teores médios de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta

(PB), extrato etéreo (EE), carboidrato total (CHOT), carboidrato não fibroso (CNF),

carboidrato solúvel (CS) e nutrientes digestíveis totais (NDT) do grão de milho reidratado

com diferentes níveis de inclusão de glicerina bruta (GB), antes da ensilagem.......................49

TABELA 9. Populações médias bactérias ácido lático (BAL), enterobactérias (ENT), fungos

e leveduras (MOFO), poder tampão (PT) e coeficiente de fermentação (CF) do grão de milho

triturado e reidratado com diferentes níveis de inclusão de glicerina bruta (GB), antes da

ensilagem..................................................................................................................................49

TABELA 10. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função da

glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para matéria seca (MS),

matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), carboidrato total (CHOT),

carboidrato não fibroso (CNF) e carboidrato solúvel (CS) da silagem de grão de milho

reidratado..................................................................................................................................50

TABELA 11. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função da

glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para perda de efluente

(PEFLT), perda por gás (PGAS) e perda de matéria seca total (PMST) da silagem de grão de

milho reidratado........................................................................................................................52

TABELA 12. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função da

glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para pH, acidez titulável

xiii

(AT), poder tampão (PT) e nitrogênio amoniacal (N-NH3) da silagem de grão de milho

reidratado..................................................................................................................................56

TABELA 13. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função da

glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para bactérias ácido lático

(BAL), enterobactérias (ENT) e fungos e leveduras (MOFO) na silagem de grão de milho

reidratado..................................................................................................................................58

xiv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL................................................................................................................... 1

REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................................... 3

1. MILHO - IMPORTÂNCIA ECONÔMICA .................................................................................... 3

2. GLICERINA BRUTA ............................................................................................................... 5

3. SILAGEM ............................................................................................................................. 12

3.1 Processo de ensilagem .................................................................................................... 12

3.2 Perdas durante a ensilagem ........................................................................................... 15

3.3 Critérios para a avaliação da qualidade da silagem ........................................................ 19

3.3.1 Ácidos Orgânicos ................................................................................................................... 19

3.3.2 Potencial Hidrogeniônico e Acidez Titulável .......................................................................... 21

3.3.3 Poder Tampão ....................................................................................................................... 23

3.3.4 Nitrogênio amoniacal ............................................................................................................ 24

4. MICROBIOTA DA SILAGEM .................................................................................................. 25

4.1 Bactérias Ácido Lático ................................................................................................... 26

4.2 Enterobactérias .............................................................................................................. 27

4.3 Clostrídios ...................................................................................................................... 28

4.4 Bacilos ........................................................................................................................... 29

4.5 Leveduras ....................................................................................................................... 29

4.6 Fungos ........................................................................................................................... 30

4.7 Bactérias Ácido Acético .................................................................................................. 31

5. USO DE INOCULANTE MICROBIANOS ................................................................................... 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 34

CAPÍTULO 1 .................................................................................................................................. 41

RESUMO ..................................................................................................................................... 41

ABSTRACT ................................................................................................................................. 42

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 43

2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 44

3. RESULTADOS .................................................................................................................. 48

4. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 60

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 60

1

INTRODUÇÃO GERAL

O Brasil, devido a sua extensão territorial, com grande quantidade de terras

agricultáveis, e boa diversidade climática possui uma alta produção agrícola e pecuária.

A estimativa da produção de grãos para a safra 2013/2014 é de 195,90 milhões de

toneladas, superior em 4,8% à safra recorde de 2012/2013 (CONAB, 2013).

Em função da sua grande participação no cenário agrícola nacional como

produtor de grãos, o estado de Mato Grosso chama a atenção para as possibilidades de

produção e uso de ingredientes alternativos na alimentação animal, principalmente os

co-produtos do biodiesel, como tortas, farelos e glicerina bruta. Contudo, este estado

enfrenta problemas com armazenamento da produção de grãos, em especial a de milho

safrinha, que tem apresentado crescimento linear nos últimos anos. Diante disso, boa

parte da safra que é colhida está sujeito às intempéries naturais por falta de armazéns.

Como grande parte do milho produzido no Brasil destina-se à alimentação

animal, uma das alternativas para minimizar o problema da dificuldade de

armazenamento no período da safra seria a utilização do processo de ensilagem. A

adoção dessa técnica justifica-se pelo fato de que a armazenagem dos grãos na forma de

silagem, em condições de manejo adequado, permite eliminar ou reduzir drasticamente

o desenvolvimento de fungos e, por consequência, evitar a contaminação da ração com

micotoxinas, que é um dos graves problemas que acomete o milho em armazéns (Reis et

al., 2001) e causam grandes prejuízos à pecuária nacional. Além disso, para o médio e

pequeno produtor, essa técnica permite reduzir e, ou, eliminar custos com taxas,

impostos, transporte, frete e armazenamento, bem como reduzir perdas por ataques de

insetos e roedores, o que é muito comum no armazenamento.

Apesar do potencial, infelizmente observa-se que a literatura é escassa de

estudos desenvolvidos para avaliar a ensilabilidade do grão de milho triturado e

2

reidratado. Neste sentido, surge também a oportunidade de avaliar o uso de aditivos

microbiológicos nesta silagem. De acordo com Kung Jr. et al. (2003), objetiva-se com

uso desse aditivos, dentre outros, inibir o crescimento de microrganismos indesejáveis,

como enterobactérias, clostrídios, leveduras, listeria, bacilos, etc.; acrescentar

microrganismos benéficos para dominar a fermentação e, com isso, formar produtos

finais que não inibam o consumo e a produção do animal, além de contribuir para

melhorar a recuperação de matéria seca do material conservado.

Entretanto, o uso de aditivos microbiológicos pode ser desnecessário se não

houver substrato suficiente para estes microrganismos, como ocorre no milho. Nesse

contexto, espera-se que a utilização de glicerina bruta no processo de ensilagem de

milho grão triturado e reidratado possa contribuir para potencializar o processo

fermentativo e, por consequência, produzir alimento de qualidade com menores perdas.

Contudo, há poucas informações na literatura a respeito do uso de glicerina no processo

de ensilagem.

Diante do exposto, objetiva-se avaliar o efeito da inclusão de diferentes níveis de

glicerina, com ou sem inoculante microbiano, sobre as populações microbianas,

composição química e perfil fermentativo de silagens de grão de milho triturado

grosseiramente e reidratado. O presente artigo foi formatado de acordo com as normas

da Revista Caatinga.

3

REVISÃO DE LITERATURA

1. Milho - Importância Econômica

O milho é um dos cereais mais cultivados do mundo e sua importância

econômica está relacionada com sua diversidade de utilização, desde a alimentação

animal e humano até a indústria de alta tecnologia. Entretanto, a maior parte da

produção de milho se destina para a produção de ração para aves, suínos e bovinos, os

quais compõem setores de extrema importância econômica e social, tanto no âmbito

nacional, como mundial. Diante do exposto, justifica-se a alta produção dos últimos

cinco anos que atingiu uma média de 874,56 milhões de toneladas (Tabela 1).

Tabela 1. Área, produção e produtividade do milho no mundo dos últimos cinco anos.

Safra Área Produção Produtividade

(milhões de ha) (milhões t) (t/ha)

2009/10 158,8 825,449 5,2

2010/11 164,3 834,210 5,1

2011/12 171,5 885,987 5,2

2012/13 176,3 862,880 4,9

2013/14* 176,7 964,282 5,5 *Estimativa

Fonte: USDA (2013)

O Brasil ocupa o terceiro lugar na produção mundial de milho, atrás dos Estados

Unidos e China (USDA, 2013). Por causa de sua imensa extensão territorial e áreas

altamente agricultáveis, o milho é plantado em praticamente todo o território brasileiro,

havendo registro de produção de milho em 97% dos municípios brasileiros entre 2004 e

2008 (IBGE, 2010). De acordo com a CONAB (2013), para a safra 2013/2014 a

estimativa de área a ser plantada para a produção de milho é de 15,42 milhões hectares

o que poderá resultar em uma produção nacional deste cereal de 78,78 milhões de

toneladas.

4

Devido à grande produção de cereais, a agropecuária avançou significativamente

nos últimos anos, período em que o cerrado brasileiro consolidou a sua alta capacidade

produtiva. Mato Grosso se destaca nesse cenário, pela vastidão de seu território e por

suas extensas áreas de solos com topografia plana.

As primeiras estatísticas sobre a produção de milho no estado de Mato Grosso

não apresentavam informações para produção desta cultura. De acordo com Duarte et al.

(2007) a produção de milho 2ª safra (“safrinha”), só começou a se desenvolver no

estado a partir da safra 1991/92, alguns anos depois do uso deste sistema no Paraná.

Segundo levantamento do IBGE (2013) a produção de milho “safrinha” no ano

2013 foi de aproximadamente 46,2 milhões de sacas, um recorde de produção que

superou a do ano de 2012 em 21,4%, em uma área plantada 20,5% maior, estimada em

8,9 milhões de hectares. Este foi o segundo ano que a produção de milho safrinha foi

maior que a de 1ª safra.

O estado de Mato Grosso é o maior produtor de milho safrinha do Brasil, com

uma produção de 19,7 milhões de toneladas no ano de 2013 (IBGE, 2013). Contudo,

este estado enfrenta muitos problemas relacionados com o armazenamento. Observa-se

na Figura 1 que apesar de serem crescentes, os investimentos em infraestrutura de

armazenagem no Brasil não tem acompanhado o dinamismo da agricultura. Segundo

recomendações da FAO, o número mínimo de armazéns existentes em cada região,

devem suportar completamente a safra produzida mais um acréscimo de 20% para que

não ocorram déficits gerados por superprodução. A capacidade estática de

armazenamento da safra de grãos no Mato Grosso é de 29,64 milhões t, porém, a

estimativa da produção de grãos para este estado é de 46,43 milhões t, gerando um

déficit de 16,79 milhões t. Provavelmente boa parte da safra, principalmente de milho

5

serão estocadas nos pátios de armazéns como é frequentemente demonstrado na mídia

(Jornal Globo Rural, 2012 e 2013).

Figura 1. Capacidade estática de armazenamento de produção de grãos do Brasil. Fonte: IEA (2012)

Apesar do aumento das exportações ao longo dos últimos anos, a principal forma

de uso do milho no Brasil é a para a produção animal. Nesse sentido, dados da Pesquisa

Pecuária Municipal (IBGE, 2011) apontam que o estado de Mato Grosso é responsável

pelo efetivo do rebanho de 29,26; 4,63 e 1,95 milhões de cabeças de bovinos, aves e

suínos, respectivamente, o que representa 13,8; 3,65 e 4,97% da produção nacional que

consomem boa parte do milho produzido no estado.

2. Glicerina Bruta

Devido ao aumento crescente por fontes de energia renováveis e a preocupação

mundial com o meio ambiente, o biodiesel vem se tornando o centro das atenções,

despertando interesses de países e indústrias que buscam aumentar suas produtividades,

mas com sustentabilidade.

O biodiesel é definido tecnicamente como um combustível composto de mono

alquil éster de ácidos graxos de cadeia longa e, segundo Rodrigues & Rondina (2013),

6

pode ser obtido de quatro formas a partir de triglicerídeos: uso direto de óleos vegetais,

microemulsões, craqueamento térmico (pirólise) ou transesterificação, sendo essa a

mais utilizada.

O processo de transesterificação é a substituição do glicerol da molécula por um

álcool primário de cadeia curta, geralmente o metanol ou etanol, para produzir ésteres e

glicerol na presença de catalisador, cujo objetivo é acelerar a velocidade da reação

(Figura 2). O catalisador a ser utilizado pode ser ácido, básico ou enzimático, porém, o

mais empregado pelas indústrias para obtenção do biodiesel a partir de plantas é o

hidróxido de sódio, por ser encontrado com facilidade no mercado e possuir menor

valor comercial (Menten et al., 2009). Para cada 90 m³ de biodiesel produzido pela

reação de transesterificação de óleos vegetais, são gerados aproximadamente 10 m³ de

glicerina bruta (Gonçalves et al., 2006).

A equação global do processo de transesterificação é apresentado na Figura 3a,

onde são necessários três moles de álcool por cada mol de triglicerídeo utilizado. Esta

reação global é consequência de um número de reações reversíveis e consecutivas

(Figura 3b). A primeira consiste na conversão de triglicerídeos em diglicerídeos,

seguida da conversão destes diglicerídeos em monoglicerídeos, e finalmente de

glicerídeos a glicerol, rendendo uma molécula de éster de álcool por cada glicerídeo em

cada etapa da reação (Rivaldi et al., 2007).

No final da etapa de transesterificação, o glicerol e ésteres formam uma massa

líquida de duas fases, que são facilmente separáveis por decantação ou centrifugação. A

fase superior, a mais leve ou menos densa, contém os ésteres metílicos ou etílicos

constituintes do biodiesel. A fase inferior ou pesada é composta de glicerol bruto e

impurezas.

7

Figura 2. Fluxograma do processo de obtenção do Biodiesel. Fonte: Adaptado de Sebrae, 2007.

8

Figura 3. (a) Reação global e (b) Reações consecutivas de transesterificação de

triglicerídeos. R1, R2, R3 e R representam grupos alquilas. Fonte: Rivaldi et al., 2007

Existem várias matérias primas utilizadas na produção de biodiesel que podem

ser divididas nos grupos de óleos vegetais, gordura animal, além de óleos e gorduras

residuais (Lofrano, 2008). As principais fontes para extração do óleo vegetal, com

potencial de uso para produção de biodiesel são a soja (Glycine max), algodão

(Gossypium ssp. L.), amendoim (Arachis hypogaea), canola (Brassica napus), girassol

(Helianthus annuus), mamona (Ricinus communis) e o dendê (Elaeis guineensis).

Contudo, em algumas regiões específicas do país outras culturas também são utilizadas

para a extração de óleo como o coco de babaçu, coco da praia, maracujá, linhaça,

abacate, oiticica e nabo forrajeiro (Raphanus sativus). Entre as gorduras animais,

destacam-se o sebo bovino, os óleos de peixes, o óleo de mocotó, a banha de suíno,

entre outros.

9

De acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

(ANP, 2013) de todas as matérias primas utilizadas para a produção de biocombustíveis,

o óleo de soja, algodão e gordura animal foram os mais utilizados (Tabela 2).

Tabela 2. Matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel no Brasil nos últimos

cinco anos.

Matérias

Primas

Matérias-primas utilizadas na produção do Biodiesel (B-100) m³

2008 2009 2010 2011 2012

TOTAL 1.177.638 1.614.834 2.387.639 2.672.771 2.719.897

Óleo de soja 967.326 1.250.590 1.980.346 2.171.113 2.105.334

Óleo de algodão 24.109 70.616 57.054 98.230 116.736

Gordura animal¹ 154.548 255.766 302.459 358.686 458.022

Outros materiais

graxos² 31.655 37.863 47.781 44.742 29.805

¹Inclui gordura bovina, gordura de frango e gordura suína. ² Inclui óleo de palma, óleo de amendoim, óleo de nabo-forrageiro, óleo de girassol, óleo de mamona, óleo de sésamo, óleo de fritura usado e outros

materiais graxos.

Fonte: ANP/SPD (2013)

Desde a implantação do plano Pró-álcool, criado em 14 de novembro de 1975

pelo Decreto n°76.593, visando estimular a produção de álcool e o atendimento das

necessidades do mercado e por meio do Programa Nacional de Produção e Uso de

Biodiesel, que autorizou em 2008 a adição de 3% deste combustível ao óleo diesel e,

que a partir do ano de 2010 passou a ser 5%, a produção de biodiesel teve aumentos

crescentes.

Segundo dados da ANP (2013), a produção de biodiesel no Brasil no ano de

2012 foi de aproximadamente 2,7 milhões m³, o que representa 36,1% da capacidade

total do país. A Região Centro-Oeste foi a maior produtora, com um volume de 1,2

milhões de m³, equivalente a 42,8% da produção nacional.

Todavia, mesmo a produção nacional de biodiesel estando abaixo do potencial, o

volume deste combustível produzido em 2012 gerou a produção de 275 mil m³ de

glicerina, trazendo a preocupação a respeito do seu destino, já que não existe legislação

10

específica para seu descarte. É válido ressaltar que desse total de glicerina, 129 mil m³

são produzidas na Região Centro-Oeste.

A glicerina, resultado do processo de transesterificação de um triglicerídeo,

denominada também glicerina bruta, contém normalmente entre 40 a 85% de glicerol,

sendo o restante composto por água, catalisador (alcalino ou ácido), álcool (não

reagido), impureza dos reagentes, ésteres, propanodióis, monoésteres, oligômeros de

glicerina e polímeros (Oliveira et al.,2010).

Entre os possíveis usos da glicerina bruta, pode-se destacar sua aplicação na

alimentação animal. A utilização da glicerina bruta, principalmente na formulação de

rações para aves e suínos desperta interesse imediato por se constituir em um produto

rico em energia (4.320 kcal de energia bruta por kg para o glicerol puro) e com alta

eficiência de utilização pelos animais. Além de servir como fonte de energia, o glicerol,

principal constituinte da glicerina, também pode ter efeitos positivos sobre a retenção de

aminoácidos ou nitrogênio, conforme resumido por Cerrate et al. (2006).

Segundo DeFrain et al. (2004) a glicerina também pode aliviar os sintomas de

cetose quando administrada, via oral, pois gera um substrato glicogênico, aliviando o

complexo de cetose/fígado gorduroso, para melhorar a lactação.

Os trabalhos sobre efeito da glicerina no consumo e desempenho animal

mostram uma limitação no uso a partir de quantidades superiores a 10%. Parsons et al.

(2009) avaliando o efeito de 0, 2, 4, 8, 12 e 16% na matéria seca de glicerina na dieta de

novilhas mestiças verificaram que acima de 12% de inclusão deste ingrediente houve

redução no ganho de peso e na eficiência alimentar. Schröder e Südekum (1999)

verificaram também que até 10% de glicerina substituindo o amido na dieta de vacas

leiteiras alimentadas não deprimiu o consumo, a digestibilidade ruminal, síntese

microbiana e digestibilidade total dos nutrientes.

11

Apesar de todos esses benefícios o uso da glicerina bruta na alimentação animal

pode apresentar algumas limitações. Segundo o código de regulamentação federal

(C.F.R 582.1320) da Food and Drug Administration (2013) a glicerina pode ser

utilizada na alimentação animal quando o resíduo do metanol na glicerina não

ultrapassar 150 mg/kg de glicerina. Isso porque este composto no organismo animal

pode ser oxidado no fígado a formaldeído e este a ácido fórmico que é uma substância

tóxica. Um aspecto que deve ser salientado é que o potencial efeito prejudicial do

metanol incorporado às rações pode ser desprezado quando a ração for peletizada, uma

vez que a temperatura atingida na peletização é mais alta que a temperatura de

vaporização do metanol (Lammers et al. 2008).

Outra limitação da utilização da glicerina bruta na alimentação animal é o

resíduo do catalisador, que dependendo de qual for utilizado, hidróxido de sódio ou

hidróxido de potássio, ocorrerá à geração de uma glicerina bruta com níveis

diferenciados de Na ou K, que devem ser avaliados para possível utilização da glicerina

nas formulações de rações animais (Penz Junior e Gianfelice, 2008).

Outra forma de utilização da glicerina bruta seria como aditivos em silagens.

Segundo Sousa Filho et al. (2012), o glicerol, principal constituinte da glicerina bruta,

pode ser utilizado como fonte de carbono para a fermentação anaeróbia pelos

microrganismos. Vários compostos químicos de relevância comercial podem ser

gerados a partir do glicerol por fermentação microbiana como 1,3-propanodiol, etanol, e

diversos ácidos orgânicos (lactacto, succinato, acetato, etc) (Franco, 2011). Além disso,

o glicerol pode servir de fonte de energia para os microrganismos fermentativos,

podendo servir como substituinte de diversos carboidratos.

12

3. Silagem

3.1 Processo de ensilagem

O processo de ensilagem pode ser dividido em várias etapas, desde a escolha da

espécie forrageira ou material a ser ensilado, plantio e condução da cultura, seu corte,

desintegração e transporte, até o enchimento, compactação e vedação do silo.

A escolha da espécie forrageira deve priorizar materiais que contenham elevados

teores de matéria seca (MS), acima de 30 a 35% (Muck, 1987), no momento da

ensilagem, bom níveis de carboidratos solúveis (6 – 8%) (McDonald et al., 1991) e

baixa capacidade tamponante. As etapas de corte e desintegração são feitas para

disponibilizar os carboidratos solúveis presentes no material e facilitar a compactação.

Em caso de ensilagem de forrageiras, geralmente essas etapas ocorrem quando a planta

a ser ensilada atinge o estádio de maturação, que varia entre as espécies. O tamanho

adequado da partícula que permite uma boa compactação varia de 1 a 2 cm, porém,

quanto maior for o teor de MS da forrageira ensilada, menor deverá ser o tamanho da

partícula. Já a etapa de enchimento, deve ser o mais breve possível para estabelecer

rapidamente a condição de anaerobiose.

A compactação e a vedação são etapas primordiais para o sucesso do processo

de ensilagem. A primeira reduz o espaço entre as partículas da forragem evitando que

fiquem espaços com a presença de oxigênio que favorece o desenvolvimento de

microrganismos indesejáveis. Já a vedação, evita a exposição total da massa ensilada ao

oxigênio criando uma condição de anaerobiose que é essencial para o processo de

fermentação.

Segundo Pereira e Santos (2006) o processo de fermentação é muito complexo,

sendo considerada uma metabiose, pois ocorre o desenvolvimento simultâneo e

sucessivo de microrganismos de diversos gêneros e espécies que dependem

13

principalmente do pH, do potencial de oxirredução e do tipo e quantidade de substratos

presentes no meio.

Após a vedação do silo tem início o processo de fermentação da silagem

envolvendo quatro fases (Muck e Pitt, 1993; Oude Elferink et al., 1999; Kung Jr.,

2002): fase aeróbia, fase de fermentação ativa, fase estável e fase de descarga (retirada

da silagem). Essas fases apresentam diferentes durações e intensidades e, portanto, não

podem ser separadas precisamente uma da outra (Pereira e Santos, 2006).

A primeira fase é de curta duração e ocorre durante o enchimento do silo

estendendo-se até algumas horas após o fechamento do mesmo. Nessa fase, as células

da planta ensilada e microrganismos aeróbicos obrigatórios e facultativos ainda

permanecem vivos e respirando ativamente. Isso leva ao consumo de oxigênio

reduzindo sua concentração na massa ensilada. Excesso de oxigênio provocado por

falhas na compactação ou pelo tamanho irregular de partículas pode levar a degradação

indesejável de proteína, produção excessiva de calor e ainda pode promover o

crescimento indesejável de alguns fungos e leveduras. Esta fase termina com a exaustão

de oxigênio dentro do silo, dando inicio à fase de fermentação ativa (segunda fase).

A segunda fase de fermentação pode ser subdividida em duas etapas com uma

duração variando de uma a quatro semanas, dependendo das propriedades da cultura

ensilada e das condições de ensilagem e tem início com a proliferação das bactérias

produtoras de ácido lático (BAL) heterofermentativas e com as bactérias produtoras de

ácido acético, também denominadas de enterobactérias. Essas bactérias produzem

alguns ácidos, como o ácido acético e lático e outros produtos como o etanol e o CO2,

utilizando glicose, frutose, xilose e ribose como substratos.

A produção de ácido lático durante o processo de fermentação leva a uma queda

de pH, que ao atingir 5,0 promove uma inibição das BAL heterofermentativas dando

14

início a segunda etapa desta fase onde há o predomínio das BAL homofermentativas

(McAllister e Hristov, 2000). Essas bactérias predominantes na segunda etapa, por

produzirem principalmente ácido lático, promovem uma queda maior no pH. Esta fase

se prolonga até que o pH seja reduzido para, aproximadamente, 3,8 a 4,2, o suficiente

para inibir as BAL homofermentativas, iniciando-se a fase de estabilização.

Na terceira fase, também conhecida como fase estável, várias espécies de

leveduras ácido-tolerantes, segundo Pereira e Santos (2006), sobrevivem em estádio

inativo, juntamente com bacilos e clostrídios que estão dormentes na forma de esporos.

Se acontecer nesse período fermentações secundárias, que estão associadas à deficiência

de carboidratos fermentescíveis, ou a uma lenta produção de ácido lático que leva a uma

ineficiência na inibição da flora deterioradora, como as bactérias do gênero Clostridium,

pode ocorrer à deterioração da silagem.

As bactérias do gênero Clostridium têm efeito pronunciado na qualidade da

silagem se os valores de pH não forem suficientemente baixos para inibir o seu

desenvolvimento. Este grupo estritamente anaeróbio fermenta açúcares, ácido lático e

aminoácidos produzindo ácido butírico e aminas. Este tipo de fermentação representa

significativa perda de matéria seca, pois seus produtos reduzem a aceitabilidade das

silagens, decrescendo o consumo de matéria seca.

Na última fase, chamada de fase de descarga, ocorre à abertura do silo e, em

geral, acontece após a estabilização do material ensilado. Para algumas culturas como o

milho e sorgo, o tempo de estabilização ocorre em média por volta dos 21 dias após a

ensilagem. Porém, costuma-se adotar um tempo médio de 30 dias para todas as culturas.

Para alguns materiais como grão úmido, o período de queda do pH, seguido do tempo

de estabilização ocorre por volta de 7 dias após a ensilagem (Ítavo et al., 2006;

McDonald et al., 1991).

15

Após a abertura do silo, a silagem é previamente exposta ao oxigênio. A

presença deste gás na silagem favorece a atividade de microrganismos indesejáveis, tais

como fungos, leveduras e bactérias produtoras de ácido acético. Estes microrganismos,

segundo Pereira e Santos (2006), utilizam substratos residuais e produtos da

fermentação para seu crescimento, resultando em deterioração da silagem, pois ocorre

um aumento do pH com consequente aumento de temperatura. A união de temperaturas

mais elevadas com um aumento significativo no pH ativam os esporos dormentes e as

leveduras.

Os fungos tem um pequeno efeito na deterioração aeróbica das silagens. O

principal problema da atividade de fungos em silagens é a possível produção de toxinas

que resulta em perdas econômicas significativas para os criadores, uma vez que afetam

a saúde dos animais, reduzem a produtividade e podem até levar a morte.

De um modo geral, os principais indicadores de deterioração das silagens são a

produção de calor e CO2, que são gerados pela respiração celular, diminuição da

concentração de ácido lático e aumento no pH, assim como decréscimo substancial no

valor nutricional.

3.2 Perdas durante a ensilagem

A origem das perdas no processo de ensilagem pode estar relacionada a diversos

fatores, como respiração residual, fermentação, produção de efluente no silo e

deterioração aeróbia (McDonald et al., 1991). Basicamente existem duas categorias de

perdas de nutrientes durante a ensilagem e que são classificadas como evitáveis e

inevitáveis. As perdas evitáveis incluem as perdas com a produção de efluente, de

fermentações secundárias e deterioração aeróbica. As perdas inevitáveis incluem perdas

no campo e aquelas oriundas da respiração das plantas e da fermentação principal

16

(Bolsen, 1995) e representam somente de 5 a 15% do total de perdas. Na Tabela 3

encontra-se uma classificação das perdas que podem ocorrer durante o processo de

ensilagem, junto com seus fatores causativos.

Tabela 3. Perdas de energia no processo de ensilagem e fatores causativos

Processo Tipo de

Perda

Perda %

(MS) Agentes Causais

Respiração Inevitável 1 a 2 Enzimas da Planta

Fermentação Inevitável 2 a 4 Microrganismos

Efluente (In) evitável 5 a 7 Umidade

Emurchimento Inevitável 2 a 5 Clima, técnica, planta

Fermentações

Secundárias Evitável 0 a 5 Planta, ambiente no silo, umidade

Deterioração

anaeróbica no

armazenamento

Evitável 0 a 10 Tempo de enchimento, densidade,

vedação, planta, umidade

Deterioração

anaeróbica no

descarregamento

Evitável 0 a 15 Densidade, umidade, ténica, época

do ano

Perdas Totais - 7 a 40 - Fonte: Adaptado de McDonald et al. (1991).

As perdas no processo de ensilagem tem início na colheita. As três principais

causas de perdas de matéria seca (MS) nessa etapa ocorrem devido a fatores mecânicos

e bioquímicos (McDonald et al., 1991). As perdas mecânicas surgem como resultado do

manejo da cultura durante o período de secagem. As perdas bioquímicas acontecem

principalmente devido a respiração, por microrganismos aeróbicos e por outros

processos enzimáticos que ocorrem na planta após a colheita. Quanto mais longo for o

período de exposição do material ao ar maior será a perda dos carboidratos solúveis,

causando limitações na eficiência da fermentação e alterações de temperatura

controlados por fatores químicos e físicos, como a concentração de oxigênio (Guim et

al., 2002) e também maiores serão as perdas de nutrientes e redução do valor nutritivo

da silagem (McDonald et al., 1991).

17

Durante a fase anaeróbia da ensilagem, as perdas são promovidas pela

fermentação e por efluentes. As perdas decorrentes do processo de fermentação

dependem dos nutrientes fermentados e dos organismos responsáveis. Isso porque

vários produtos da fermentação apresentam um valor bruto de energia maior do que os

substratos (McDonald et al., 1991) e, por isso, as perdas de MS são maiores do que as

perdas de energia durante o processo de fermentação (Tabela 4).

Tabela 4. Perdas calculadas de energia e matéria seca (MS) no processo de fermentação.

Organismo Rota Substrato Produto Perdas (%)

Energia MS

BAL Homo1 Glicose 2 lactato 3,1 0

BAL Hetero² Glicose 1 lactato + 1

acetato 20,4 17

BAL Hetero² Glicose 1 lactato + 1

etanol 2,8 17

Leveduras Glicose 2 etanol 2,6 49

Clostrídios Glicose 1 butirato 22,1 34

Enterobactérias 2 Glicose 1 lactato + 1

acetato + 1 etanol 11,1 17

1 - Homofermentativas; ² - Heterofermentativas

Fonte: Adaptado de McDonald et al. (1991).

Observa-se na tabela que as menores perdas são ocasionadas pelas bactérias

homofermentativas que utilizam glicose como substrato para a síntese de lactato (via

glicolítica anaeróbia). Entretanto, o produto da degradação da glicose por bactérias

heterofermentativas, enterobactérias e leveduras produz um álcool, acarretando em

um aumento considerável das perdas (McDonald et al., 1991).

Goodrich et al. (1975) avaliando a silagem de grão de milho colhido com 27,5%

de umidade e a silagem de grão de milho seco reconstituído para 27,5% de umidade

verificaram que as menores perdas de matéria seca foram obtidas para o milho

reconstituído (3,5% MS) do que para o milho ensilado logo após a colheita (4,5% MS).

18

A produção de efluentes durante o processo de ensilagem é influenciado por

vários fatores como o conteúdo de MS da cultura ensilada, tipo de silo, grau de

compactação e pré-tratamento da cultura. Destes, o teor de MS é o fator mais

importante, isto porque, quanto maior o teor de MS da massa ensilada, menor é o teor

de umidade contido nesta e, portanto, menores serão as perdas por efluente. Segundo

Pereira e Bernardino (2004), a quantidade mínima de efluente geralmente é produzida

quando se utilizam plantas com teor de matéria seca a partir de 29 a 30%.

Contudo, mesmo ao final do processo de ensilagem podem ocorrer perdas. Estas

são ocasionadas pela exposição da massa de forragem a ensilar ou que foi ensilada ao

ar, por exemplo, durante o fornecimento. Segundo Velho et al. (2006), as principais

perdas após a abertura do silo são a oxidação dos açucares solúveis e degradação do

ácido lático produzido durante a fermentação, resultando em maior proporção de parede

celular e menor valor nutritivo e de matéria seca. Ainda, segundo esses autores, se mal

manejado após a abertura, a silagem poderá ter perdas variando de 2 a 19%.

As perdas ocorridas durante a deterioração aeróbia, ocasionada pela exposição

da massa ensilada ao ar, são provocadas pela atividade microbiana de leveduras, fungos

e bactérias. Destes, as leveduras, na maioria dos materiais ensilados, são os

microrganismos responsáveis pelo início da deterioração aeróbia (Woolford, 1990;

Pahlow et al., 2003) e os fungos filamentosos tem papel secundário, pois seu

desenvolvimento ocorre em sucessão ao crescimento de leveduras (McDonald et al.,

1991).

Andrade Filho et al. (2010) avaliando o efeito do uso de Lactobacillus

plantarum e do nível de reconstituição (20, 30 e 40% de umidade final na massa

ensilada) de grãos de milho sobre a qualidade da silagem verificou que o uso deste

inoculante reduziu as perdas por gases durante o processo de fermentação, mas o nível

19

de reconstituição não teve efeito significativo, sendo o maior valor de perda por gás de

1,91% para silagem reidratada para 20% de umidade sem inoculante. Já Basso (2009)

avaliando os efeitos de doses de Lactobacillus buchneri sobre as características

fermentativas de silagens de grãos úmidos de milho (34% umidade) não encontrou

diferença significativa para as perdas por gases entre as doses do inoculante, obtendo

valores próximos a 1,90%, similar ao experimento anterior.

Ítavo et al. (2006) avaliando padrão de fermentação e a composição química de

grãos úmidos de milho (64% umidade), com ou sem o uso de inoculante microbiano,

em função do tempo após a ensilagem, observou que as perdas de matéria seca

chegaram a 0,81% aos 64 dias após a ensilagem.

3.3 Critérios para a avaliação da qualidade da silagem

Como qualidade da forragem é definida como o potencial desta em produzir as

respostas animais desejadas (Nave, 2007), o parâmetro mais consistente para avaliar sua

efeito seria o desempenho animal. No entanto, experimentos desta natureza são

onerosos e demandam tempo para a obtenção dos resultados.

Entretanto, ao longo dos anos, estabeleceram-se diversos parâmetros para avaliar

o valor nutricional da silagem como o teor de ácidos orgânicos, potencial

hidrogeniônico, acidez titulável, poder tampão e o nitrogênio amoniacal. Estes critérios

que definem o valor nutricional da silagem juntamente com a qualidade da forragem

imprime o potencial forrageiro que influência diretamente a produção animal.

3.3.1 Ácidos Orgânicos

Existem vários ácidos que são produzidos durante o processo de fermentação,

como o lático, acético, butírico, isobutírico, propiônico, valérico, isovalérico, succínico

20

e fórmico (McDonald et al., 1991). Porém, os principais ácidos identificados nas

silagens são o acético, butírico e lático, pois representam a maior concentração dos

ácidos (Tabela 5) (Kung e Shaver, 2001).

Tabela 5. Concentrações padrões de produtos finais da fermentação em várias silagens.

Produto Final Silagem de

Leguminosa (300 a 400 g/kg MS)

Silagem de

Capim (300 a 500 g/kg MS)

Silagem de

Milho (300 a 400 g/kg MS)

Ácido Lático¹ 70 – 80 60 -100 40-70

Ácido Acético¹ 20 – 30 10 – 30 10-30

Ácido Butírico¹ <5 0 0

Ácido Propiônico¹ <5 <10 <10

N amoniacal (g/kg PB) 100 – 150 <120 <10 ¹- g/kg MS

Fonte: Adaptado de Kung e Shaver (2001)

O ácido lático é um dos maiores indiciadores do processo de fermentação e deve

aparecer em porcentagem superior aos demais, pois, apesar de todos os ácidos formados

na fermentação contribuírem para redução do pH da silagem, o ácido lático é o principal

responsável nesse processo por apresentar menor constante de dissociação (3,86) que os

demais. Porém, em relação aos outros ácidos, o ácido butírico, quando presente, deve

aparecer em pequena quantidade, já que sua presença revela intensa degradação das

proteínas. Além disso, o conteúdo deste ácido reflete a extensão da atividade

clostridiana sobre o material ensilado e está relacionado a menores taxas de decréscimo

e maiores valores finais de pH nas silagens (Fisher e Burns, 1987).

Apesar de o ácido lático ser o principal ácido da fermentação presente em

silagens de boa qualidade, pequenas quantidades de ácido acético podem aparecer

devido à ação em maior escala das enterobactérias e das bactérias láticas e em menor

escala pela ação dos clostrídios. Altas concentrações deste ácido, superior a 40 g/kg

pode ser um indicativo de fermentação prolongada, enchimento lento do silo ou silo mal

vedado (Kung e Shaver, 2001).

21

Em experimento realizado por Jobim et al. (1999) a silagem de grão úmido de

milho (35% de umidade) apresentou valores de 0,76; 0,12; 0,011 e 0,002% na MS para

os ácidos lático, acético, propiônico e butírico, respectivamente. Também em

experimento realizado por Rezende et al. (2013), o milho colhido com 14% de umidade

e reidratado com água ou soro ácido até os níveis de 30, 35 ou 40% de umidade,

inoculado ou não com inoculante bacteriano associado a enzimas celulolíticas e

proteolíticas apresentou valores de 0,179; 0,12 e 1,38% na MS para os ácidos acético,

propiônico e lático, respectivamente, para a silagem reidratada com soro ácido. Estes

valores foram maiores para esta silagem do que para a silagem reidratada com água. A

silagem com inoculante também apresentou os maiores valores destes ácidos em relação

a silagem não inoculada, porém os valores foram iguais estatisticamente a silagem

reidrata com soro ácido. Já em relação ao teor de umidade, as silagens com 30 e 35% de

umidade apresentaram os maiores valores para estes ácidos.

Carneiro et al. (2013) avaliando a silagem de milho (com 4 níveis de glicerina

(0, 5, 10 e 15% na MS) verificaram que a adição de glicerina causou uma redução linear

de 0,3; 0,35 e 0,12% sobre os ácidos lático, acético e butírico, respectivamente, para

cada 1% de inclusão de glicerina.

3.3.2 Potencial Hidrogeniônico e Acidez Titulável

A silagem é um processo de conservação em ácido e por isso a rápida queda de

pH é fundamental para a qualidade final da massa ensilada, garantindo redução da

atividade proteolítica e reduzindo o crescimento de microrganismos indesejáveis,

particularmente, enterobactérias e clostrídios.

No passado, o valor de pH em silagens era considerado um importante indicador

da qualidade de fermentação, sendo inclusive possível classificar as silagens em termos

22

de qualidade. Nesse contexto, Van Soest (1994) afirmou que o pH final considerado

ideal para uma silagem situa-se entre 3,8 a 4,2. No entanto, essa variável passou a ser

usada com mais critério para fazer inferências à qualidade de fermentação, haja vista

que silagens de materiais com baixo teor de umidade (silagem de forragem

emurchecida) invariavelmente apresentam valores de pH elevados, acima de 4,2, valor

anteriormente utilizado para classificar uma silagem como de qualidade pobre (Jobim et

al., 2007). Outro fator que contribui para essa modificação de classificação refere-se à

velocidade da queda do pH, isso porque geralmente, baixo pH final não garante que a

atividade clostridiana foi inibida durante o processo. De acordo com Woolford (1984), o

pH isoladamente não pode ser considerado como critério seguro para a avaliação das

fermentações, pois seu efeito inibidor sobre as bactérias depende da velocidade do

declínio da concentração iônica e do grau de umidade do meio.

Oliveira (2009) avaliando os efeitos do Lactobacillus plantarum, Lactobacillus

buchneri e benzoato de sódio, bem como a associação desses inoculantes sobre a

redução das perdas quantitativas e qualitativas das silagens de grãos úmidos de milho

verificaram que após 112 dias de armazenamento a silagem tratada com L. buchenri

apresentou o maior valor de pH, provavelmente devido ao fato desta bactéria ser

heterofermentativa, produtora de ácido acético, reduzindo a capacidade de diminuição

do pH.

Lopes et al. (2005) verificaram valores de pH variando de 4,25 a 4,29 para

silagens de grão de milho (33% de umidade) submetidas a diferentes tratamentos de

reconstituição. Rezende et al. (2013) encontraram valores de pH semelhantes (4,12;

4,25 e 4,06) para a silagem de milho reidratada com água ou soro ácido com 30, 35 e

40% de umidade, respectivamente.

23

Segundo Lindgren (1999), o indicador mais adequado para julgar qualidade de

fermentação das silagens é a concentração de ácidos orgânicos indissociados, pois estes

ácidos penetram a membrana celular e acumulam-se no citoplasma das células

tornando-se dissociados, possibilitando assim a liberação de prótons que abaixam o pH

e ocasionam a destruição das células (Jobim et al. 2007). Sendo assim a acidez titulável

seria um conceito mais apropriado para julgar a fermentação e com isso o conceito de

pKa seria, de fato, mais importante que o pH propriamente dito.

De acordo com Silva e Queiroz (2002) a importância de se determinar a acidez

titulável baseia-se no fato de o pH não guardar perfeita correlação com o teor de ácido

lático da silagem que deveria contribuir para baixá-lo. Entretanto, existem outros íons e

ingredientes comumente adicionados durante a ensilagem, como a ureia e calcário, que,

por certo, interferem na relação do pH e ácido lático, explicando assim, a não

proporcionalidade entre esses dois parâmetros.

Além disso, a análise de acidez titulável permite obter indicação de pureza e

qualidade em produtos fermentados, por analisar os ácidos formados durante esse

processo, que influenciam o sabor, odor, cor, estabilidade e a manutenção da qualidade

da forragem conservada (Nussio et al., 2001).

3.3.3 Poder Tampão

O poder tampão (PT) é definido como a capacidade da massa de forrageira em

resistir as alterações de pH (Jobim et al., 2007). Segundo estes mesmos autores, o

conhecimento da PT da massa a ser ensilada é importante, pois fornece informações em

relação à velocidade de abaixamento do pH. De acordo com Cherney e Cherney (2003),

quando a massa a ser ensilada apresenta alta PT a velocidade de queda do pH é lenta,

24

aumentando as perdas durante o processo de ensilagem que por consequência reduz a

qualidade do material final.

Silva et al. (2010) verificaram valores de PT variando de 42 a 44 e.mg/100 g MS

para silagens de grãos úmidos de milho (com 47% de umidade) com diferentes

inoculantes bacterianos. Já Ítavo et al. (2006) encontraram valores de PT de 22,52 e

22,67 e.mg/100 g MS para silagens de grão úmido de milho (36% umidade) com e sem

inoculante (L. plantarum), respectivamente.

Não há muitos trabalhos na literatura para a análise do poder tampão em silagens

de grãos reconstituídos, por isso, esse tipo de análise para o material que está se

propondo é de extrema importância.

3.3.4 Nitrogênio amoniacal

O conteúdo de amônia das silagens, expresso como percentagem do nitrogênio

amoniacal (N-NH3) em relação ao nitrogênio total é amplamente utilizado na avaliação

da qualidade de silagens e, juntamente com o pH, fornece uma indicação da forma como

se processou a fermentação. Na forragem verde, de 75 a 90% do nitrogênio total (NT)

estão sob a forma de proteína, e o restante, chamado nitrogênio não proteico (NNP),

consiste principalmente de aminoácidos livres e amidas, com menor proporção de

ureídeos, aminas, nucleotídeos, clorofila, peptídeos de baixo peso molecular e nitratos

(Jobim et al., 2007).

Após o corte da forrageira, tem início uma extensa hidrólise de proteínas, com

aumento do NNP para aproximadamente 40% do NT, nas primeiras 24 horas de

ensilagem. Foi demonstrado que a proteólise inicial é mediada, principalmente, por

enzimas da planta, enquanto as degradações subsequentes de aminoácidos ocorrem pela

ação de microrganismos. Quanto maior for o teor de nitrogênio amoniacal, como

25

porcentagem do nitrogênio total, pior será a qualidade da silagem, pois indica

degradação de compostos proteicos. A amônia formada nesse processo, além de inibir o

consumo da silagem e apresentar pouca eficiência na utilização do nitrogênio para

síntese proteica pelos microrganismos do rúmen, altera o curso da fermentação,

impedindo a rápida queda do pH da massa ensilada (Mckersie, 1985). De acordo com

Van Soest (1994), nas silagens onde o nitrogênio amoniacal representa menos de 10%

do nitrogênio total, indica que não ocorreu quebra excessiva de proteína em amônia e os

aminoácidos constituem a maior parte do nitrogênio não proteico, já nas silagens onde o

nitrogênio amoniacal representa mais de 15% do nitrogênio total ocorreu quebra

considerável de proteína e tais silagens são menos consumidas pelos animais.

Andrade Filho et al. (2010) avaliando o efeito da reconstituição da umidade (20,

30 e 40%) de grãos de milho maduros e secos com e sem inoculante microbiano,

verificou que os teores de N-NH3 aumentaram com a elevação da umidade chegando a

0,66 (% N) para a silagem com 40% de umidade. Entretanto, Ítavo et al. (2006)

encontraram valores de N-NH3 de 0,012% na MS para silagens de grão úmido de milho

(36% umidade) com 64 dias de ensilagem.

Já Huck et al. (1999) avaliando a silagem de sorgo reconstituído com água para

atingir os valores de 25, 30 ou 35% de umidade com 90 dias de ensilagem verificaram

que os menores valores de N-NH3 foram obtidos para a silagem com 25% de umidade

(0,25% MS), mas semelhantes para as silagens com 30 (0,52) e 35% de umidade

(0,48% MS).

4. Microbiota da silagem

O sucesso do resultado do processo de conservação depende de vários fatores,

como teor de MS da cultura no momento da ensilagem, quantidade de carboidrato

26

solúvel, capacidade de tamponamento da cultura e, principalmente, da microbiota da

silagem que pode ser dividida em dois grupos de microrganismos, desejáveis e

indesejáveis.

Os microrganismos desejáveis são aqueles necessários para a produção de uma

boa silagem, ou seja, os produtos finais de sua fermentação são essenciais para que uma

silagem de boa qualidade seja obtida. Compreendem esta classe as bactérias ácido

lático. Os indesejáveis são aqueles que podem causar a deterioração anaeróbia (por

exemplo, clostrídios e enterobactérias) ou a deterioração aeróbica (bacilos, listeria e

bolores) (Oude Elferink et al.,1999). A Tabela 6 mostra um resumo dos principais

grupos microbianos e respectivas populações encontradas em plantas antes da ensilagem

e observa-se que a classe de microrganismos dominantes são aeróbios ou aeróbios

facultativos, enquanto que as bactérias ácido lático que são responsáveis por preservar a

cultura estão presentes em menor magnitude e com grande variação.

Tabela 6. Populações epifíticas (UFC/g forragem) de grupos de bactérias e fungos em

plantas antes da ensilagem.

Grupo Populações

Bactérias aeróbicas totais > 10.000.000

Bactérias ácido lático 10 - 1.000.000

Enterobactérias 1.000 - 1.000.000

Leveduras 1.000 - 100.000

Fungos 1.000 - 10.000

Clostrídios (endosporos) 100 - 1.000

Bacillus (endósporos) 100 - 1.000

Bactérias ácido acético 100 - 1.000

Bactérias ácido propiônico 10 - 1000 Fonte: Adaptado de Pahlow et al. (2003)

4.1 Bactérias Ácido Lático

As bactérias ácido lático (BAL) são organismos gram-positivos, catalase

negativos e não formam esporos. Compreendem os gêneros Lactobacillus, Pediococcus,

27

Lactococcus, Enterococcus, Streptococcus e Leuconostoc (Pawlow et al., 2003)

pertencentes à microbiota epifítica do material e tem como principal produto final da

fermentação de açúcares, o ácido lático, mas outros compostos podem ser produzidos,

como ácido acético, etanol e dióxido de carbono (CO2) (Muck, 2010). Com base no

metabolismo de açúcar as BAL podem ser classificadas como homofermentativas

obrigatórias, heterofermentativas facultativas ou heterofermentativas obrigatórias.

As bactérias homofermentativas obrigatórias produzem mais de 85% de ácido

lático a partir de hexoses, como a glicose, mas não podem degradar pentoses, como a

xilose, pois não possuem a enzima fosfoquetolase (Muck, 2010). As bactérias

heterofermentativas facultativas também produzem ácido lático a partir de hexoses,

mas, além disso, são capazes também de fermentar pentoses a outros produtos, como

ácido acético. Por sua vez, as heterofermentativas obrigatórias fermentam tanto hexoses

como pentoses formando ácido lático, etanol (ou ácido acético) e CO2 (Oude Elferink et

al., 1999). Compreendem espécies de BAL homofermentativas Lactobacillus

plantarum, L. casei, L. acidophilus, Pediococcus pentosaceus, P. acidilactici,

Lactobacillus ssp. e Enterococcus faecium, já as BAL heterofermentativas são, por

exemplo, L. brevis. L. buchneri e Propionibacterium (Muck, 2010; Zopollato et al.,

2009).

Segundo Woolford (1984), as BAL tem uma ampla faixa de tolerância ao pH, ao

redor de 4,0 a 6,8 e também uma amplitude muito variável de temperatura, existindo

crescimento numa faixa de 5 – 50ºC, sendo a temperatura de 30ºC considerado ideal.

4.2 Enterobactérias

As enterobactérias são anaeróbias facultativas, gram-negativos e muitos dos seus

efeitos negativos na silagem ocorrem em condições anaeróbias. De acordo com Muck

28

(2010), várias espécies de enterobactérias usam nitrato como aceptor de elétrons no

lugar do oxigênio, reduzindo nitrato para nitrito ou óxido de nitrogênio que volatilizam

computando as principais perdas por gás no silo.

As enterobactérias são as principais competidoras com as BAL pelos açúcares

disponíveis e o produto final de sua fermentação é o ácido acético e não o lático. Outros

compostos também são produzidos a partir da fermentação realizada por enterobactérias

como ácido succínico e 2,3-butanodiol (Muck, 2010).

A presença de enterobactérias é também um indicativo de proteólise. Esta

degradação de proteínas não só causa uma redução no valor nutricional da silagem, mas

também podem levar à produção de compostos tóxicos, tais como aminas biogênicas,

que são conhecidas por ter um efeito negativo sobre aceitabilidade da silagem, e os

ácidos graxos ramificados (Woolford, 1984; McDonald et al., 1991).

4.3 Clostrídios

Os clostrídios são anaeróbios obrigatórios, porém, sua presença na silagem

geralmente é resultado da contaminação de solo, pois nas plantas sua concentração é

baixa (Woolford, 1984). As espécies mais comuns encontradas nas silagens são

divididas em dois grupos: a) clostrídios proteolíticos que fermentam primeiramente

aminoácidos (Clostridium sporogenes); b) clostrídios sacarolíticos que fermentam

carboidratos (C. butyricum) e que fermentam ácidos orgânicos, principalmente o ácido

lático (C. tyrobutyricum) (Muck, 2010; McDonald et al., 1991). Já o C. perfringens é

uma exceção, pois possui as duas características.

Segundo Oude Elferink et al. (1999) uma silagem com típica atividade

clostridiana é caracterizada por altas concentrações de ácido butírico (>5 g/kg MS), alto

pH (> 5), baixos teores de MS e alto teor de amônia e amina.

29

O principal problema das silagens que sofreram fermentações clostrídicas é a

instabilidade aeróbia. O uso dessas silagens na ração pode diminuir o consumo de

matéria seca e comprometer a ecologia ruminal pelos compostos produzidos (Muck e

Pitt, 1993).

4.4 Bacilos

Esse grupo de microrganismos são aeróbios ou anaeróbios facultativos e assim

como os clostrídios também formam esporos. Alguns bacilos (anaeróbios facultativos)

podem fermentar açúcares e ácidos orgânicos no silo, porém, sua atividade nestas

condições é considerada de baixa importância.

O principal efeito desses microrganismos na silagem está relacionado ao avanço

na deterioração aeróbia da silagem. Segundo Muck (2010) depois da atuação de

leveduras e bactérias ácido acético que elevam o pH e temperatura para valores >4,5 e ±

40ºC, respectivamente, uma segunda onda de aquecimento ocorre, aumentando as

temperaturas para >50ºC, sob responsabilidade dos bacilos.

4.5 Leveduras

As leveduras são aeróbias e anaeróbias facultativas. Sua presença independente

da situação (aerobiose ou anaerobiose) é indesejável. Na ausência do oxigênio e com

carboidrato solúvel remanescente, elas fermentam açúcares a etanol e CO2 (Oude

Elferink et al., 1999). Isso ocorre, pois em pH menor que 4,0 a atividade de muitas BAL

são inibidas, mas as leveduras continuam ativas.

Já na presença de oxigênio, durante o armazenamento ou na descarga da

silagem, esse grupo de microrganismos são um dos primeiros a se desenvolver. Isso

ocorre, pois as leveduras são capazes de crescer em pH baixos (3,5). Fungos também

30

são capazes de se desenvolver nestas condições, contudo devido a menor taxa de

crescimento há um predomínio da população de leveduras (Muck 2010). Nessas

condições de aerobiose, essas espécies de leveduras utilizam como substrato o ácido

lático, promovendo um aumento do pH o que favorece o desenvolvimento de outros

microrganismos deterioradores.

As leveduras, por crescerem na presença do oxigênio, são consideradas um dos

principais grupos envolvidos na instabilidade aeróbia, e são divididos em dois grupos de

acordo com o local em que crescem: a) sedimentares: que crescem na base do silo e

fermentam açúcares, mas não decompõe ácido lático e; b) película: que crescem no topo

do silo e degradam principalmente ácido lático (Woolford, 1984).

4.6 Fungos

Fungos são microrganismos eucariotos, estritamente aeróbios. A presença destes

microrganismos na silagem é facilmente detectada pela presença de grandes estruturas

filamentosas e esporos coloridos (Oude Elferink et al. 1999). Embora eles cresçam em

vários compostos, a presença de fungos filamentosos raramente são aparentes e quando

detectável sua polução na maioria das vezes não é suficiente para causar grandes

alterações na qualidade da silagem (Muck, 2010).

Os fungos presentes na deterioração da silagem são representados por muitos

gêneros como Monascus, Geotrichum, Bissochlamys, Mucor, Monilia, Aspergillus,

Penicillum e Fusarium (McDonald et al, 1991). Contudo, em comparação com outros

microrganismos, estes são o de crescimento mais lento (Muck, 2010).

A principal preocupação com os fungos é a produção de micotoxinas, que

geralmente ocorre quando os fungos são submetidos a situações de estresse ambiental.

Segundo Woolford (1990) os principais fatores que estimulam a produção de

31

micotoxinas são estágio de desenvolvimento da cultura, tipo de solo e principalmente a

presença de oxigênio no silo. Entretanto, para a preservação da cultura no silo a

produção de micotoxinas não é um problema sério, mas o motivo de maior preocupação

é em relação à saúde dos animais.

As micotoxinas de maior impacto na nutrição animal são produzidas por fungos

dos gêneros Aspergillus, Penicillum e Fusarium e seus problemas na saúde podem

variar de distúrbios digestivos, problemas com fertilidade, redução da função

imonológica (Oude Elferink et al., 1999) e contaminação de produtos de origem animal,

como o leite.

4.7 Bactérias Ácido Acético

As bactérias ácido acético, pertencentes principalmente ao gênero Acetobacter,

são aeróbias obrigatórias e ácido-tolerante, crescendo em baixo valores de pH. O

principal produto gerado no processo de fermentação é o ácido acético a partir do

etanol. Uma vez que o etanol tenha sido esgotado ou não esteja presente no material

ensilado, esse grupo de microrganismo pode crescer em ácido acético, produzindo CO2

e água, isto irá aumentar o pH e permitir que outras bactérias aeróbias cresçam (Oude

Elferink et al., 1999; Muck, 2010).

Devido a essas características, esse tipo de microrganismo é considerado

iniciador da deterioração aeróbica, principalmente em silagens de milho, que apresenta

baixa capacidade de tamponamento e altas concentrações de açúcares o que permite a

produção de elevadas concentrações de etanol (Muck, 2010).

32

5. Uso de inoculante microbianos

Os inoculantes microbianos são os aditivos mais comuns utilizados em silagens.

Estes contêm bactérias ácido lático para suplementar esta mesma categoria encontrada

no material de origem e sua finalidade é produzir ácido lático que permita a rápida

queda de pH, com eficiente fermentação do material ensilado (Weinberg e Muck, 1996).

Apesar deste tipo de aditivo ser adotado em todo o mundo, a sua eficiência

depende da quantidade e da qualidade da bactéria adicionada à cultura a ser ensilada, da

presença de substrato adequado, da capacidade de tamponamento e principalmente da

população epífita da forragem (Zopollatto et al., 2009; Vilela, 1998).

Os inoculantes microbianos empregados como aditivos são constituídos por

bactérias homofermentativas, heterofermentativas, a combinação destas e em alguns a

presenças de enzimas celulolíticas ou proteolíticas. De acordo com Muck (2010), o

principal tipo de inoculante microbiano empregado em silagens há décadas é formado

por uma ou mais espécies homofermentativas, como L. plantarum, L. casei,

Enterococcus faecium, Pediococcus ssp., entre outros. Estas cepas são mais empregadas

por apresentar rápido crescimento e dominação da fermentação na silagem em ampla

condição de umidade e temperatura (Muck e Kung Jr, 1997).

Philip e Fellner (1992) realizaram um experimento para determinar o efeito da

inoculação bacteriana sobre a qualidade da fermentação e estabilidade aeróbia da

silagem de espiga de milho com umidade de 35% na MS. Os tratamentos consistiram de

silagem inoculada ou não com L. plantarum, Bacillus subtilis, Serratia rubidaea,

Streptococcus thermophilus, e as associações destes inoculantes. Os autores concluíram

que as silagens com aditivos em associação tiveram os maiores valores de ácido lático

em relação as silagem com inoculante individual e que o teor de ácido lático destas não

33

foi diferente do tratamento controle (sem inoculante). Entretanto, a silagem inoculada

com L. plantarum foi a única que apresentou o menor valor de pH (3,87).

Silva et al. (2010) ao avaliarem a influência do inoculante microbiano (L. casei e

Streptococcus faecalis) e o complexo enzimático (α-galactosidase e β-mananase) sobre

a microbiota e qualidade nutricional da silagem de grão úmido de milho (47% de

umidade), observaram que a silagem inoculada em associação ao complexo enzimático

apresentou maior quantidade de Bacillus (18 UFC/g amostra) do que a silagem controle

(sem aditivo) e as silagens com inoculante ou complexo enzimático apenas. Porém, o

inoculante e o complexo enzimático, individualmente ou em associação, não tiveram

efeito sobre o pH da silagem.

Morais et al. (2012) também não observaram efeito significativo na silagem de

grão úmido de milho (34,21% de umidade) não inoculada ou inoculada com inoculante

microbiano composto de L. plantarum (mesófilo e termófilo), Pediococcus acidófilo e

Propionibacterium acidófilo para os teores de N-NH3 (1,20 e 1,18 % N-total), perdas de

MS (1,18 e 1,19 % MS) e pH (3,91 e 3,91), respectivamente para a silagem não

inoculada e inoculada.

Atualmente, com o avanço nas técnicas de fermentação, de liofilização e

encapsulamento de cepas selecionadas tem surgido no mercado novos produtos

comerciais como os inoculante heterofermentativos, que incluem as espécies L.

burchneri, P. cereviseae, Propionibacterium shermani e P. acidipropionici que

reduzem os efeitos negativos da fermentação homolática (Kung Jr., 2009), uma vez que

o ácido lático é utilizado como substrato na deterioração aeróbia (Muck e Kung Jr.,

1997). Além disso, busca-se por microrganismos que consigam minimizar a

instabilidade das silagens na fase de desabastecimento, visto que as perdas são

pronunciadas nessa fase do processo fermentativo (Oliveira et al., 2011).

34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS

– ANP. [2013]. Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis. 236p. Disponível em: < http://www.anp.gov.br/?pg=69132&

m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1389886494253> Acessado em 11

dez.de 2013.

ANDRADE FILHO, R.; REIS, R.B.; PEREIRA, M.N. et al. Degradabilidade ruminal in

situ de grãos de milho maduros do tipo flint ou dentado, secos ou reconstituídos e

ensilados. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE

ZOOTECNIA, 42., Salvador: BA, 2010. Anais... Salvador: BA, 2010.

BASSO, F.C. 2009. Estabilidade aeróbia de silagens de planta e de grãos úmidos de

milho. Dissertação (M.Sc.). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias –

UNESP, Jaboticabal.

BOLSEN, K.K. Silage: basic principles. In: Forages: The science of grassland

agriculture, 5 ed., v.2, p.163-176, 1995.

CARNEIRO, J.C.; OLIVEIRA, J.S.; LIMA, J.C.F. et al. Effects of the inclusion of

glycerin on organic acids production in corn silage. In: INTERNACIONAL

SYMPOSIUM ON FORAGE QUALITY AND CONSERVATION, 3., Campinas.,

2013.

CERRATE, S.; YAN, F.; WANG, Z.; COTO, C. et al. Evaluation of glycerine from

biodiesel production as a feed ingredient for broilers. International Journal of

Poultry Science, Faisalabad, v.5, n.11, p.1001-1007, 2006.

CHERNEY, J.H.; CHERNEY, D.J.R. Assessing Silage Quality.In: BUXTON, D.R.;

MUCK, R.E.; HARRISON, J.H. (Eds.). Silage Science and Technology. 1 ed.

Madison: American Society of Agronomy,. p.141-198, 2003

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. [2013].

Acompanhamento da Safra Brasileira. v.1, n.3,77p. Disponível em: <

http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/14_01_10_10_12_36_boleti

m_portugues_dezembro_2013.pdf> Acessado em: 11 dez. de 2013.

CONAB - http://sisdep.conab.gov.br/capacidadeestatica/

DeFRAIN, J.M.; HIPPEN, A.R.; KALSCHEUR, K.F. et al. Feeding glycerol to

transition dairy cows: Effects on blood metabolites and lactation performance.

Journal Dairy Science, 87:4195–4206, 2004.

DUARTE, J.O.; CRUZ, J.C.; GARCIA, J.C. A evolução da produção de milho no

Mato Grosso: a importância da safrinha. Embrapa Milho e Sorgo. 6p. 2007.

35

FISHER, D.S.; BURNS, J.C. Quality analysis of summer-annual forages. II. Effects of

carbohydrate constituents on silage fermentation. Agronomy Journal, v.79, n.2,

p.242-248, 1987.

FOOD AND DRUG ADMINISTRATION. [2013]. Disponível em:

<http://www.fda.gov/default.htm> Acessado em: 10 dez. de 2013. (C.F.R 582.1320) da

Food and Drug Administration (2013)

FRANCO, P. F. Biodiesel, glicerol e micro-organismos. 2011. Disponível em:

<http://www.embrapa.br/imprensa/artigos/2011/biodiesel-glicerol-e

microorganismos-1> Acesso em: 13 de mar. de 2014.

GONÇALVES, V.L.C.; PINTO, B.P.; MUSGUEIRA, L.C. et al. Biogasolina: produção

de ésteres da glicerina. In: CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE

TECNOLOGIA DE BIODIESEL, 1., 2006, Brasília. Anais... Brasília: Ministério da

Ciência e Tecnologia: Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa

Tecnológica. p.14-19, 2006.

GOODRICH, R.D.; BYERS, F.M.; MEISKE, J.C. Influence of moisture content,

processing and reconstitution on the fermentation of corn grain. Journal of Animal

Science, v. 41, n.3, p.876-881, 1975.

GUIM, A.; ANDRADE, P.; ITURRINO-SCHOCKEN, R. P. et al. Estabilidade aeróbica

de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Shum) emurchecido e tratado com

inoculante microbiano. Revista Brasileira de Zootecnia, vol.31, n.6, p.2176-2185,

2002.

HUCK, G.L.; KREIKEMEIER, K.K.; BOLSEN, K.K. Effect of reconstituting field-

dried and early-harvested sorghum grain on the ensiling characteristics of the grain

and on growth performance and carcass merit of feedlot heifers. Journal Animal

Science, 77:1074-1081, 1999.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍESTICA - IBGE. [2013].

Levantamento Sistemático da Produção Agrícola: pesquisa mensal de previsão

e acompanhamento das safras agrícolas no ano civil. v.26, n.10. 80p. Disponível

em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?

id_pesquisa=15. Acessado em 11 dez. 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍESTICA - IBGE. [2010].

Pesquisa Agrícola Municipal, 1990 a 2008. 98p. Disponível em:

<http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acessado em: 11 dez. 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. [2011].

Produção da Pecuária Municipal. v.39. 60p. Disponível em: < ftp://ftp.ibge.gov.br

/Producao_Pecuaria/Producao_da_Pecuaria_Municipal/2011/ppm2011.pdf>

Acessado em: 11 dez. de 2013.

INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA – IEA [2013]. Pontos Críticos da

Armazenagem de grãos no Brasil. Disponível em: < http://www.iea.sp.gov.br/out/

LerTexto.php?codTexto=12111> Acessado em: 13 mar. De 2014.

36

ÍTAVO, C.C.B.F.; MORAIS, M.G.; ÍTAVO, L.C.V. et al. Padrão de Fermentação e

composição química de silagens de grãos úmidos de milho e sorgo submetidas ou

não a inoculação microbian. Revista Brasileira de Zootecnia. v.35, n.3, p.655-664,

2006.

JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, R.A. et al. Avanços metodológicos na avaliação da

qualidade da forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p. 101-

119, 2007.

JOBIM, C.C.; REIS, R.A.; SHOCKEN-ITURRINO, R.P. Desenvolvimento de

microrganismos durante a utilização de silagens de grãos úmidos de milho e espigas

de milho sem brácteas. Acta Scientarium, v.21, n.3, p.671-676, 1999.

JORNAL GLOBO RURAL [2012]. Falta espaço em MT para armazenar a produção de

milho. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia

/2012/07/falta-espaco-em-mt-para-armazenar-producao-de-milho.html> Acessado

em: 13 mar. de 2014.

JORNAL GLOBO RURAL [2013]. Agricultores enfrentam problema para estocar

milho safrinha em MT. Disponível em:< http://g1.globo.com/economia/

agronegocios/noticia/2013/07/agricultores-enfrentam-problema-para-estocar-milho-

safrinha-em-mt.html> Acessado em: 13 mar. De 2014.

KUNG JR., L. [2002]. A review on silage additives and enzymes. Disponível em:

<http://ag.udel.edu/anfs/faculty/kung/articles/a_review_on_silage_additives_and.ht

m> Acessado em: 31 out. de 2012.

KUNG JR., L. Effects of microbial additives in silages: facts and perspectives. In:

ZOPOLLATTO, M.; MURARO, G.B.; NUSSIO, L.G. (Eds.). International

symposium on forage quality and conservation, São Pedro, 2009.

Proceedings…Piracicaba: FEALQ, v. 1, p.7-22, 2009.

KUNG JR., L.; SHAVER, R. Interpretation and use of silage fermentation analysis

reports. Focus on Forage, v.3, n.13, p.1-5, 2001.

KUNG JR., L.; STOKES, M.R.; LIN, C.J. Silage additives. In: BUXTON, D.R.;

MUCK, R.E.; HARRISON, J.H. (Eds.) Silage science and technology. Wisconsin:

ASA; CSSA; SSSA, p.305-360, 2003.

LAMMERS, P.; KERR, B.J.; WEBER, T.E. et al. Growth performance , carcass

characteristics, meat quality, and tissue histology of growing pigs fed crude glycerin

–supplemented diets. Journal of Animal Science, 86:2962-2970, 2008.

LINDGREN, S. Can HACCP Principles be applied for silage safety? In:

INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 7. Uppsala, 1999. Proceedings...

Uppsala: Swedish University of Agricultural Science, p.51-66, 1999.

LOFRANO, R.C.Z. Uma revisão sobre biodiesel. Revista Científica do UNIFAE, v.2,

n.2, 2008.

37

LOPES, A.B.R.C., BIAGGIONNF, M.A.M., BERTO, D.A. et al.. Método de

reconstituição da umidade de grãos de milho e a composição química da massa

ensilada. Biosci. J. 21, n.1, pp. 95-101, 2005

McALLISTER, T.A.; HRISTOV, A.N. The fundamentals of making good quality

silage. Dairy Tchnology, v.12, p.381, 2000.

McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage.

2ed. Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.

McKERSIE, B.D. Effect of pH on proteolysis in ensiled legume forage. Agronomy

Journal, v.77, n.1, p.81-86, 1985.

MENTEN, J.F.M.; MIYADA, V.S.; BERECHTEIN, B. Glicerol na alimentação

animal. [2009] Disponível em: <http://www.agrolink.com.br/downloads/glicerol_

2009-03-13.pdf>. Acessado em: 15 dez. de 2013.

MORAIS, M.G.; ÍTAVO, C.C.B.F.; ÍTAVO, L.C.V. et al. Inoculação de silagens de

grãos úmidos de milho, em diferentes processamentos. Revista Brasileira de Saúde

e Produção Animal, v.13, n.4, p.969-981, 2012.

MUCK, R.E. Dry matter level effect on alfalfa silage quality. I. Nitrogen

transformations. Transactions of the ASAE, v.30, p.7-14, 1987.

MUCK, R.E. Silage microbiology and its control through additives. Revista Brasileira

de Zootecnia, v.39, p.183-191, 2010 (supl. especial).

MUCK, R. E.; KUNG Jr., L. Effects of silage additives on ensiling. In: Silage: Field to

Feedbunk. New Yorkpg, 187-199, 1997.

MUCK, R.E.; PITT, R.E. The role of silage additives in making quality silage. In:

SILAGE PRODUCTION FROM SEED TO ANIMAL. New York. Proceedings…

New York: NRAS, n.67, p.57-66, 1993.

NAVE, R.L. Produtividade, valor nutritivo e características físicas da forragem do

capim-Xaraés [Brachiaria brizantha (Hochst ex. A. RICH.) STAPF.] em

resposta a estratégias de pastejo sob lotação intermitente. 2007. Dissertação

(M.Sc.) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/Universidade de São

Paulo, Piracicaba.

NUSSIO, L.G.; SIMAS, J. E C.; LIMA, M. L.M. Determinação do ponto de maturidade

ideal para colheita do milho para silagem. In: NUSSIO, L. G.; ZOPOLLATO,

M.; MOURA, J.C. (Eds). Milho para a silagem. Piracicaba: FEALQ, p.11-26,

2001.

OLIVEIRA, R.V. Avaliação e utilização de silagens de grão úmido de milho sobre o

desempenho e características de carcaça de caprinos. 2009. Tese (D.Sc.) – Faculdade

de Ciências Agrárias e Veterinárias/Universidade Federal Paulista, Jaboticabal.

38

OLIVEIRA, M.R.; NEUMANN, M.; OLIBONI, R. et al. Uso de aditivos biológicos na

ensilagem de forrageiras. Revista Ambiência Guarapuava. v.7, n.3, p.589-601,

2011.

OLIVEIRA, A.S.; PINA, D.S.; CAMPOS, J.M.S. Co-produtos do biodiesel na

alimentação de ruminantes. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA

PASTAGEM. 5., Viçosa: UFV, 2010. Anais... Viçosa: UFV, p. 419-461, 2010.

OUDE ELFERINK, S.J.W.H.; DRIEHUIS, F.; GOTTSCHAL, J.C. et al. Silage

Fermentation process and their manipulation. In: ELETRONIC CONFERENCE ON

TROPICAL SILAGE, 1999.

PAHLOW, G.; MUCK, R.E.; DRIEHUIS, F. et al. Microbiology of ensiling. In:

BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H. (Eds.) Silage Science and

Techonology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, p. 31-94, 2003.

PARSONS, G.L.; SHELOR, M.K.; DROUILLARD, J.S. Performance and carcass traits

of finishing heifers fed crude glycerin. Journal of Animal Science. 87:653-657,

2009.

PENZ JUNIOR, A. M.; GIANFELICE, M. O que fazer para substituir os insumos que

podem migrar para a produção de biocombustível. Acta Scientiae Veterinariae.

36(Supl 1): p.107-117, 2008.

PEREIRA, O.G.; BERNARDINO, F.S. Controle de efluentes na produção de silagem.

In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA PASTAGEM. 2., Viçosa;

UFV, 2004. Anais... Viçosa: UFV, p.509-545, 2004.

PEREIRA, O.G.; SANTOS, E.M. Microbiologia e o processo de fermentação em

silagens. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA PASTAGEM. 3.,

Viçosa: UFV, 2006. Anais... Viçosa: UFV, p. 393-430, 2006.

PHILLIP, L.E.; FELLNER, V. Effects of bacterial inoculation of high-moisture ear corn

on its aerobic stability, digestion, and utilization for growth by beef steers. Journal

of Animal Science, 70:3178-3187, 1992.

REIS, W.; JOBIM, C.C.; MACEDO, F.A.F. et al. Características da carcaça de

cordeiros alimentados com dietas contendo grãos de milho conservados em

diferentes formas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, p1.308-1315, 2001.

REZENDE, A.V.; RABELO, C.H.S.; RABELO, F.H.S et al., Chemical composition

and organic acids profile of high-moisture corn silages inoculated with latic

acid bacteria and rehydrated with water or acid whey. In: INTERNACIONAL

SYMPOSIUM ON FORAGE QUALITY AND CONSERVATION, 3., Campinas.,

2013.

RIVALDI, J. D.; SARROUB, B.F.; FIORILO, R. et al. Glicerol de biodiesel.

Biotecnologia Ciência de Desenvolvimento, n.37, p.45-51, 2007.

39

RODRIGUES, F.V.; RONDINA, D. Alternativas de uso de subprodutos da cadeia do

biodiesel na alimentação de ruminantes: glicerina bruta. Acta Veterinaria

Brasilica, v.7, n.2, p.91-99, 2013.

SCHRÖDER, A.; SÜDEKUM, K.H.Glycerol as a by-product of biodiesel production

in diets for ruminants. In: INTERNACIONAL RAPESSED CONGRESS, 1999,

Camberra. Disponível em: < http://www.regional.org.au/au/gcirc/1/241.htm >

Acessado em 10 dez. de 2013.

SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. [2007] Manual

SEBRAE. Disponível em: <http://www.biodiesel.gov.br/docs/Cartilha_Sebrae. pdf>

Acessado em: 15 dez. de 2013.

SILVA, J.M.; CARNAÚBA, J.P.; SILVA, I.O. et al. Influência de inoculante

bacteriano-enzimático sobre a microbiota e qualidade nutricional de silagens de

grãos úmidos de milho. Ciência Animal Brasileira, v.11, n.1, p.62-72, 2010.

SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análises de alimentos: métodos químicos e biológicos.

3.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 235p.

SOUSA FILHO, L. M.; ROCHA, J. A.; SARAIVA, L. S.; ROCHA, J. R.; SOUSA, N.

D. C.; GUIMARÃES, I. F.; OLIVEIRA, R. R.; LUZ JÚNIOR, G. E.; LIMA, F. L.

Seleção de linhagens de microrganismos capazes de crescer em altas

concentrações de glicerol. Disponível em: <http://www.uespi.br/prop/XSIMPOSIO

/TRABALHOS/INICIACAO/Ciencias%20da%20Natureza/SELECAO%20DE%20

LINHAGENS%20DE%20MICRORGANISMOS%20CAPAZES%20DE%20CRES

CER%20EM%20ALTAS%20CONCENTRACOES%20DE%20GLICEROL.pdf>

Acesso em: 13 de mar. de 2014.

UNITED STATES DEPARTAMENT OF AGRICULTURE – USDA. [2013] Grain:

world markets and trade. Circular Series. 55p. Disponível em: <

http://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/grain.pdf> Acessado em: 11 dez. de

2013.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2ed. Ithaca, New York:

Cornell University Press, 1994. 476p.

VELHO, J. P.; MÜHLBACH, P. R. F.; GENRO, T. C. M. et al. Alterações

bromatológicas nas silagens de milho submetidas a crescentes tempos de exposição

ao ar após “desensilagem”. Revista Ciência Rural, v.36, n.3, p.916-923, 2006.

VILELA, H., NOGUEIRA, A.C., BARBOSA, F.A, RODRIGUEZ, N. Produção de

matéria seca e valor nutritivo do Capim Elefante . In: REUNIÃO ANUAL DA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Anais... Botucatu, 1998,

p.300-301.

WOOLFORD, M.K. The detrimental effects of air on silage. Journal of Applied

Bacteriology, v.68, p.101-116, 1990.

WOOLFORD, M. K. The silage fermentation. New York, 1984. 305p

40

ZOPOLLATTO, M.; DANIEL, J.L.P.; NUSSIO, L.G. Aditivos microbiológicos em

silagens no Brasil: revisão dos aspectos da ensilagem e do desempenho de animais.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.170-189, 2009 (supl. especial)

41

CAPÍTULO 1

SILAGEM DE GRÃO DE MILHO TRITURADO E REIDRATADO

CONTENDO GLICERINA BRUTA E INOCULANTE MICROBIANO

RESUMO - Avaliou-se o efeito de inoculante microbiano e de diferentes níveis de

glicerina bruta sobre a composição química, perfil fermentativo e população microbiana

de silagens de grão de milho triturado e reidratado. O grão seco de milho foi moído a 5

mm e, reidratado com água e glicerina bruta em diferentes níveis para manter o teor de

umidade em 32,5%, conferindo a adição de 0; 7,5; 15,0 e 22,5% de glicerina bruta (na

matéria natural). O material foi ensilado em silos experimentais de PVC (0,1 m de

diâmetro e 0,35 m de comprimento), providos de válvulas do tipo “Bunsen”. Os

períodos de fermentação foram: 4, 8, 16, 32 e 64 dias. O experimento foi conduzido em

esquema fatorial (2x4x5) segundo o delineamento inteiramente casualizado com três

repetições por tratamento. A inclusão de glicerina bruta na silagem de grão de milho

seco reidratado promoveu reduções lineares nos teores de PB (g/kg MS) e reposta

quadrática nos teores de CS (g/kg MS). Contudo, aumentaram as perdas por efluente e

matéria seca total (g/kg MS) e reduziram as perdas por gás (g/kg MS). Os valores de pH

aumentaram linearmente com a inclusão de glicerina bruta, mas não influenciaram os

teores de N-NH3 (% NT). As populações microbianas reduziram com o incremento nos

níveis de glicerina bruta. Independente do uso do inoculante microbiano, o aumento no

nível de inclusão de glicerina bruta, nas silagens de milho grão seco reidratado

aumentam as perdas e o pH no processo de ensilagem, reduz a população de bactérias

ácido lático e promove poucas alterações sobre a composição química da mesma.

Palavras-chave: aditivo, água, concentrado, conservação, ensilagem

42

GRINDED AND REHYDRATED CORN GRAIN SILAGE CONTAINING

CRUDE GLYCERIN AND MICROBIAL INOCULATE

ABSTRACT - The objective was to evaluate the effect of the use microbial inoculation

and different inclusion levels of water and crude glycerin on the chemical composition,

dynamics and microbial fermentation of grinded and rehydrated corn grain silage. After

disintegration in mill with sieves of 5 mm, the dry corn grain was rehydrated with water

and crude glycerin different levels to keep the moisture content of 22.5%, giving the

addition of 0, 7.5, 15.0 and 32.5% crude glycerin (natural matter). The material was

ensiled into PVC silos (0.1 m diameter and 0.35 of length), containing "Bunsen" valves.

The opening times were: 4, 8, 16, 32, 64 days. The experiment was conducted factorial

(2x4x5) in a completely randomized design with three replicates for each treatment,

totaling 120 experimental silos. The inclusion of crude glycerin of on reconstituted dry

corn grain silage, with and without inoculant promoted linear increments in of CP, EE

and SC content (g/kg DM). However, increased the effluent losses and total dry matter

losses (g/kg DM) and decreased gas losses (g/kg DM). The pH values linearly increased

with the inclusion of crude glycerin, but did not influence the levels of NH3-N (% TN).

Microbial populations decreased with the increase in levels of crude glycerin.

Regardless of the use of microbial inoculant, the increase in the inclusion of crude

glycerin grinded and rehydrated dry corn grain silage increases losses and pH in the

ensiling process, reduces the population of lactic acid bacteria and promotes few

changes on the chemical composition of this.

Keywords: additive, concentrated, conservation, ensilage, water

43

1. INTRODUÇÃO

O Brasil devido à vasta extensão territorial com grandes quantidades de terras

agricultáveis e diversidade climática ocupa a terceira posição no ranking mundial de

produção de grãos (USDA, 2013). O milho é o segundo cereal mais cultivado no país,

com estimativa de produção nacional para a safra 2013/2014 de 78,78 milhões de

toneladas (CONAB, 2013).

Dentre os estados do Brasil, o Mato Grosso é um dos estados de maior

participação no cenário agrícola nacional e chama a atenção para as possibilidades de

uso de ingredientes alternativos na alimentação animal, como os co-produtos do

biodiesel, em especial a glicerina bruta. Contudo, este estado enfrenta problemas com

armazenamento da produção de grãos, em especial a de milho safrinha, que tem

apresentado crescimento linear nos últimos anos. Diante disso, boa parte da safra que é

colhida está sujeito às intempéries naturais por falta de armazéns (FERREIRA, 2013;

SODRÉ, 2013).

Como grande parte do milho produzido no Brasil destina-se à alimentação animal,

uma das alternativas para minimizar o problema da dificuldade de armazenamento no

período da safra seria a utilização do processo de ensilagem, após triturar e reidratar o

material até o teor adequado de umidade para este método de conservação. Porém,

infelizmente observa-se que a literatura é escassa de estudos desenvolvidos para avaliar

a ensilabilidade do grão de milho triturado e reidratado.

Devido à escassez de informações a respeito da silagem do grão de milho

triturado e reidratado, surge a oportunidade também de se avaliar o efeito de aditivos

microbiológicos sobre este material. De acordo com Kung Jr. et al. (2003), objetiva-se

com uso desse aditivos, dentre outros, inibir o crescimento de microrganismos

indesejáveis, como enterobactérias, Clostrídios, leveduras, Listeria, bacilos, etc...;

acrescentar microrganismos benéficos para controlar a fermentação e, com isso, formar

produtos finais que não inibam o consumo e a produção do animal, além de contribuir

para melhorar a recuperação de matéria seca do material conservado.

Entretanto, o uso destes aditivos pode ser desnecessário se não houver carboidrato

solúvel suficiente para estes microrganismos. Nesse contexto, espera-se que a utilização

de glicerina bruta no processo de ensilagem de milho grão triturado e reidratado possa

contribuir para potencializar o processo fermentativo e, por consequência, produzir

alimento de qualidade com menores perdas, pois o glicerol, principal constituinte da

glicerina bruta, pode ser utilizado como fonte de carbono para a fermentação anaeróbia

44

pelos microrganismos na silagem (SOUSA FILHO et al., 2012). Porém, praticamente

não há informações na literatura a respeito do uso de glicerina no processo de

ensilagem, principalmente do material que se está propondo.

Diante do exposto, objetivou-se com este estudo avaliar o efeito da inclusão de

diferentes níveis de glicerina, com ou sem inoculante microbiano, sobre as populações

microbianas, composição química e perfil fermentativo de silagens de grão de milho

triturado grosseiramente e reidratado.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal e Forragicultura

do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal de Mato

Grosso, no município de Sinop, Mato Grosso, entre os meses de julho de 2013 a Janeiro

de 2014.

O grão de milho seco, foi grosseiramente desintegrado em moinho adaptado com

peneiras de crivo de 5 mm. Antes da ensilagem, o milho moído foi submetido aos

diferentes tratamentos: com e sem inoculante microbiano, reidratado com água e

glicerina bruta (g/kg de matéria natural) na proporção de: 125 e 0; 125 e 75; 125 e 150;

125 e 225, respectivamente, de forma a manter constante o teor de umidade de 32,5%

em todos os tratamentos, conferindo níveis de inclusão de glicerina de 0; 7,5; 15,0 e

22,5% na Matéria Natural (MN). O inoculante microbiano utilizado foi o KERA-SIL

Grão úmido (Kera Nutrição Animal) composto de Lactobacillus plantarum KN3500

(30x109 UFC/g), Propionibacterium acidipropionici KN7300 (20x10

9 UFC/g) e lactose

P.A e a glicerina bruta, cuja composição é apresentada na Tabela 7.

Tabela 7. Composição química da glicerina bruta.

Parâmetro Resultado Valores máximos especificados

Teor de água 79,85 g/kg MAX.:100 g/kg

Massa específica a 20ºC 1290 kg/m³ MIN.: 1290 kg/m³

Teor de glicerol 82,00% (m/m) MIN.: 80,00% (m/m)

pH 6,00 4,5 – 8,0

Metanol 0,52% (m/m) MAX.: 1,00% (m/m)

Mineral 70,34 g/kg MS

45

As silagens foram confeccionadas em silos de PVC, com 0,1 m de diâmetro e 0,35

m de altura, com um volume de 2,75 x 10-3

m3, providos de válvulas do tipo “Bunsen”

para permitir o livre escape dos gases da fermentação.

Os silos experimentais foram mantidos em área coberta, à temperatura ambiente, e

abertos em diferentes períodos (4, 8, 16, 32 e 64 dias) após o fechamento dos mesmos.

Foi utilizado o esquema fatorial (2x4x5), no delineamento inteiramente casualizado

(DIC) com três repetições por tratamento, sendo os mesmos constituídos por: adição ou

não de inoculante bacteriano, quatro níveis de glicerina bruta (0; 7,5; 15,0 e 22,5% da

MN) e cinco períodos de fermentação (4; 8; 16; 32 e 64 dias).

As perdas por efluente, gases e matéria seca total foram quantificadas segundo

equações propostas por Jobim et al. (2007). A medição da produção de efluente foi

realizada por meio da diferença de pesagens do conjunto silo e saquinho de TNT com

areia, antes e depois da ensilagem, em relação à quantidade de matéria natural de

amostra ensilada (MNens). Após ser retirado todo o material do silo experimental, foi

pesado o conjunto (silo + tampa + TNT com areia úmida + tela) e, subtraindo-se deste o

peso do mesmo conjunto antes da ensilagem, efetuando-se a estimativa da produção de

efluente drenado para o fundo do silo, conforme a equação:

Pefluente (% da MNens) = (PCabert – PCens)/ (MNens) x 100

Onde:

P efluente= perda por efluente (% da MN ensilada);

PC abert = peso do conjunto (silo + tampa + TNT com areia úmida + tela) na abertura;

PC ens = peso do conjunto (silo + tampa + TNT com areia seca + tela) na ensilagem;

MVA ens = massa verde de amostra na ensilagem

A perda de MS decorrente da produção de gases foi determinada pela diferença

entre o peso bruto de MS na ensilagem (MSens) e na abertura (MSabert), em relação à

quantidade de MS ensilada (MSens), descontando-se do peso total do conjunto ensilado

(PTCens – amostra + silo + tampa + TNT com areia seca + tela) o peso do conjunto na

ensilagem (PCens) e na abertura (PCabert), conforme a equação:

Pgases = [(PTCens - PCens)xMSens]-[(PTCabert - PCens)xMSabert]/[(PTCens - PCens)xMSens] x100

Onde:

Pgases= perda de gás calculado em função da matéria seca ensilada (%);

46

PTCens = peso total do conjunto na ensilagem (amostra + silo + tampa + TNT com areia

seca + tela);

PTCabert = peso total do conjunto na abertura (amostra + silo + tampa + TNT com úmida

seca + tela);

PCens = peso do conjunto na ensilagem (silo + tampa + TNT com areia seca + tela);

MSens = % de matéria seca da amostra na ensilagem;

MSabert = % de matéria seca da amostra na abertura;

A perda de MS total foi determinada pela diferença entre o peso bruto de MS na

ensilagem (MSens) e na abertura (MSabert), em relação à quantidade de MS ensilada,

conforme a equação:

PMST = [(PTCens - PCens)xMSens]-[(PTCabert – PCabert)xMSabert]/[(PTCens – PCens)xMSens] x100

Onde:

PMST= perda total de matéria seca em função da matéria seca ensilada (%);

PTCens = peso total do conjunto na ensilagem (amostra + silo + tampa + TNT com areia

seca + tela);

PTCabert = peso total do conjunto na abertura (amostra + silo + tampa + TNT com areia

úmida seca + tela);

PCens = peso do conjunto na ensilagem (silo + tampa + TNT com areia seca + tela);

PCabert = peso do conjunto na abertura (silo + tampa + TNT com areia úmida + tela);

MSens = % de matéria seca da amostra na ensilagem;

MSabert = % de matéria seca da amostra na abertura;

Antes da ensilagem e em cada período de abertura foram coletados

aproximadamente 500 g de amostra de silagem destinadas à análise da composição

química. Estas amostras foram pré-secas em estufa com ventilação forçada de ar a 55ºC

e posteriormente moídas em moinho de facas com peneira de porosidade de 1 mm de

diâmetro. As análises de matéria seca (MS) foram determinadas pelo método nº 934.01

(AOAC, 1990), a matéria mineral (MM) de acordo com a método nº. 924.05 (AOAC,

1990), a proteína bruta (PB) obtida pela determinação do nitrogênio total, de acordo

com o método de micro Kjedahl, método nº 920.87 (AOAC, 1990), utilizando um fator

de conversão de 6,25, o extrato etéreo (EE) determinado gravimetricamente após

extração com éter de petróleo, num aparelho de Soxhlet, método nº 920.85 (AOAC,

1990). Os carboidratos totais (CHOT) das amostras foram calculados segundo metódo

47

descrito por Sniffen et al. (1992), em que CHOT(%) = 100 - (%PB + %EE + %Cinzas).

A quantificação dos carboidratos não fibrosos (CNF) foi feita de acordo com a equação

adaptada por Hall (2000). As determinações de carboidratos solúveis (CS) foram

realizadas por meio de espectrofotometria utilizando o espectrofotômetro Bioespectro

SP-220 com leitura em 490 nm conforme técnica descrita por Johnson et al. (1966).

O pH e a acidez titulável (AT) foram determinados segundo técnica descrita por

Silva e Queiroz (2002) e o poder tampão (PT) segundo método proposto por Playne e

McDonald (1966) utilizando um potenciômetro de mesa. A partir do teor de matéria

seca, do poder tampão e do teor de carboidratos solúveis das amostras de forragem

fresca, foi calculada a capacidade de fermentação, segundo equação proposta por

Weissbach & Honig (1996), citados por Oude Elferink et al. (2000).

A avaliação do N-NH3 foi realizada pelo método proposto por Chaney e Marbach

(1962) em amostra de silagem diluída em água e ácido tricloroacético (10%) utilizando

um espectrofotômetro (Bioespectro SP-220) com leitura no comprimento de onda de

625 nm.

Para a enumeração dos microrganismos da silagem foi utilizada a técnica proposta

por Cherney e Cherney (2003). A quantificação de BAL foi realizada por meio do

plaqueamento em MRS Agar (Fluka Anylitcal) sendo as placas incubadas a 35ºC por

72h. O número de enterobactérias foi determinado pelo plaqueamento em Violet Red

Bile Glucose Agar (Fluka Anylitcal), incubadas a 35ºC, por 48h. Fungos e Leveduras

foram determinados por meio do plaqueamento em Potato Dextrose Agar (Acumedia),

acidificado com ácido tartárico 10% (p/v), após a autoclavagem. Estas placas foram

incubadas a 25ºC pelo tempo de 5 dias.

Em uma amostra de 25 g de silagem foram adicionados 225 mL de solução

ringer’s e homogeneizadas em liquidificador industrial por 1 minuto, obtendo-se a

diluição 10-1

. Em seguida, diluições sucessivas foram realizadas, objetivando-se obter

diluições variando de 10-1

a 10-7

e o cultivo foi realizado em placas de Pétri estéreis. Foi

adotado o plaqueamento em pour-plate e foram consideradas passíveis de contagem, as

placas com valores entre 30 e 300 unidades formadoras de colônias (UFC).

Todas as variáveis foram submetidas à análise de variância e de regressão (PROC

REG – SAS), considerando o seguinte modelo estatístico:

Yijk = µ + Ii + Gj + Ii*Gj + Pk + Ii*Pk + Gj2 + Ii*Gj

2 + Pk

2 + Ii*Pk

2 + Gj*Pk + eijk.

Onde:

48

Yijk = resposta observada no tempo k, do nível de glicerina j, submetido ao

inoculante i; µ = média geral observada; Ii = efeito do inoculante i, i = (Sem; Com); Gj e

Gj2

= efeito do nível de glicerina j, j = (0; 7,5; 15,0 e 22,5); Pk e Pk2

= efeito do período

de fermentação (4; 8; 16; 32; 64); Ii*Gj e Ii*Gj2 = efeitos da interação entre inoculante e

nível de glicerina; Ii*Tk e Ii*Tk2

= efeitos da interação entre inoculante e período de

fermentação; Gj*Pk = efeitos da interação entre nível de glicerina e período de

fermentação e eijk = erro aleatório associado a cada observação.

O efeito de inoculante foi considerado como variável “dummy” e para as variáveis

repostas onde o mesmo não foi significativo, foi construído o modelo de superfície de

resposta considerando apenas o nível de glicerina e o período de fermentação. Caso

contrário foi construído um modelo de superfície de resposta para a variável em cada

um dos níveis de inoculante (PROC RSREG – SAS). Para todos os modelos avaliados

foi considerado um nível de significância de 0,05 para o erro tipo I.

3. RESULTADOS

Na Tabela 8 podem ser observados os valores médios da composição química do

grão de milho reidratado com diferentes níveis de inclusão de glicerina bruta.

Tabela 8. Teores médios de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta

(PB), extrato etéreo (EE), carboidrato total (CHOT), carboidrato não fibroso (CNF),

carboidrato solúvel (CS) e nutrientes digestíveis totais (NDT) do grão de milho

reidratado com diferentes níveis de inclusão de glicerina bruta (GB), antes da

ensilagem.

Níveis de GB

(% da MN) MS¹ MM² PB² EE² CHOT² CNF² CS²

0 669,73 14,77 91,54 71,16 822,52 652,52 230,5

7,5 693,24 21,95 78,02 69,06 830,96 705,23 198

15 687,79 28,2 74,68 57,72 839,39 715,76 176,5

22,5 695,75 32,73 65,74 46,03 855,49 762,12 211,5

¹g/kg; ²g/kg de MS

Houve um aumento nos teores de MM do grão de milho reidratado com o

incremento nos níveis de glicerina bruta devido ao alto teor de mineral, 70,34 g/kg MS,

49

deste composto, o que aumentou proporcionalmente o teor de mineral nos tratamentos

com maior nível de inclusão de glicerina bruta. Entretanto, os valores de PB reduziram

com o incremento nos níveis de glicerina bruta, provavelmente por efeito de diluição.

Constata-se também redução nos teores de EE do grão de milho reidratado com o

incremento nos níveis de glicerina bruta, porém os teores de CHOT e CNF aumentaram

com a inclusão de glicerina bruta.

Na Tabela 9 são apresentados os valores médios para as populações de

microrganismos, o poder tampão (PT) e o coeficiente de fermentação (CF) do grão de

milho reidratado com diferentes níveis de inclusão de glicerina bruta.

Tabela 9. Populações médias bactérias ácido lático (BAL), enterobactérias (ENT),

fungos e leveduras (MOFO), poder tampão (PT) e coeficiente de fermentação (CF) do

grão de milho triturado e reidratado com diferentes níveis de inclusão de glicerina bruta

(GB), antes da ensilagem.

Níveis de GB

(% da MN) BAL¹ ENT¹ MOFO¹ PT

2 CF

0 5,3 6,06 5,58 3,55 118,95

7,5 5,24 5,23 4,17 4,2 107,21

15 5,59 3,85 3,92 4,15 102,80

22,5 6,23 4,96 3,62 4,05 111,35

¹Log UFC/g silagem; 2 e.mg HCl/100 g MS;

A população de BAL variou de 5,3 a 6,23 para o grão de milho com diferentes

níveis de glicerina bruta, sem grandes alterações nessas populações. Contudo, as

populações de ENT e MOFO reduziram com o incremento nos níveis de glicerina bruta.

O CF calculado para estas silagens são superiores aos valores indicados por

Weissbach & Honig (1996), citados por Oude Elferink et al. (2000). Segundo estes

autores, materiais ensilados com baixo teor de MS ou teores insuficientes de

carboidratos solúveis apresentam baixo CF (<35) o que pode acarretar fermentações

inadequadas com a produção de uma silagem de baixo valor nutricional.

Os teores de MS não apresentaram equação ajustada para o modelo de superfície

de resposta, mas apresentou um teor médio de 686,63% de MS (Tabela 8).

50

Com relação às variáveis da composição química, somente a MM foi influenciada

pelo inoculante microbiano. Os teores desta variável foram explicados pelos modelos de

superfície de resposta, com valores mínimos de 12,29 e 12,46 g/kg MS, sem e com

inoculante, respectivamente, em 0% de glicerina bruta (Tabela 10).

Tabela 10. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função

da glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para matéria

seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), carboidrato

total (CHOT), carboidrato não fibroso (CNF) e carboidrato solúvel (CS) da silagem de

grão de milho reidratado.

+Sem inoculante; ++Com inoculante; ¹g/kg de MS; ²% da MN; ³Dias; *Significativo a

5% de probabilidade pelo teste F.

Os teores de PB apresentaram ponto de mínimo segundo o modelo de superfície

de resposta, apresentando o valor mínimo de 64,77 g/kg MS com a inclusão de 22,5%

de glicerina bruta e no período de fermentação de 64 dias. As reduções nos teores de PB

ocorreram por efeito de diluição devido à ausência desse composto na constituição da

glicerina bruta. Mesmo comportamento foi observado para o teor de EE, o qual

Parâmetros MM¹+ MM¹++ PB¹ EE¹ CHOT¹ CNF¹ CS¹

Intercepto 16,77* 14,02* 91,75* 80,15* 813,31* 654,37* 205,53*

GB 0,69* 0,86* -1,91* -1,34* 2,40* 4,57* -11,44*

PF -0,238 -0,079 -0,06 -0,66 0,85* 1,16* -1,63

GB² 0,0052 0,0025 0,051* 0,011 -0,063* -0,039 0,511*

PF² 0,0032 0,0010 0,0012 0,0081 -0,011* -0,014* 0,015

GBxPF -0,0019 -0,0012 -0,007 -0,0009 0,0095 0,011 -0,035

Mínimo GB² 0 0 22,5 22,5 11,2

PF³ 38,66 39,5 64 42,37 64

Máximo GB² 22,5 22,5

PF³ 47,85 12,95

Sela GB²

PF³

Valor da Variável 12,29 12,46 64,77 41,08 860,36 753,35 73,50

P modelo <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001

R² 0,96 0,95 0,88 0,82 0,77 0,91 0,42

51

apresentou valor mínimo estimado de 41,08 g/kg MS no nível de glicerina de 22,5% e

no período de fermentação de 42,37 dias. As reduções nos teores de EE não eram

esperadas, pois a glicerina bruta apresenta em sua composição um teor médio de

lipídeos totais de 7,8%, como descrito por Oliveira et al. (2013). Contudo, na análise do

EE de materiais como o milho, podem ocorrer perdas de pigmentos, como caroteno, que

são extraídos com éter e superestimam os valores de gordura, como ocorrido para o

tratamento com 0% de glicerina (BERGAMASCHINE et al., 2006).

No entanto, os valores de CHOT e CNF apresentaram ponto de máximo com a

inclusão de glicerina bruta e ao longo do período de fermentação. Os valores máximos

de 860,36 e 753,35 g/kg de MS para CHOT e CNF, respectivamente, foram estimados

com a inclusão de 22,5% de glicerina bruta, e aos 47,85 dias para CHOT. Os aumentos

nestes teores refletem os efeitos negativos sobre os teores de PB e EE, uma vez que os

mesmos são obtidos por diferença.

Os teores de CS também apresentaram ponto de mínima de acordo com o modelo

de superfície de resposta, apresentando valor mínimo de 73,5 g/kg MS com a adição de

11,2% de glicerina bruta e no período de fermentação de 64 dias. Alterações nos teores

de CS estão relacionadas à utilização destes carboidratos pelas bactérias do processo de

fermentação, como substrato para seu crescimento levando a síntese de ácido lático

(MUCK, 2010). Outro fator que contribuiu para a redução nos teores de CS são as

perdas por efluente que carreiam para fora do silo substâncias altamente digestíveis,

como estes carboidratos. Os valores de CS deste experimento são menores do que os

observados por Phillip & Fellner (1992) que obtiveram valores de 44 a 30 g/kg de MS

para silagem de grão úmido de milho (25% de umidade) com diferentes inoculantes

como Lactobacillus plantarum, Serratia rubidae, Streptococcus thermophilus e suas

combinações.

Todas as perdas analisadas neste experimento foram influenciadas pelo inoculante

microbiano e as variáveis com pontos de sela apresentam as equações ajustadas

correspondentes ao efeito que foi significativo (Tabela 11).

As PEFLT sem inoculante microbiano apresentaram ponto de sela segundo o

modelo de superfície de resposta, assim foi realizado o estudo dos parâmetros que se

apresentaram significativos neste modelo e o ajuste do modelo de regressão linear

simples foi realizado em função dos níveis de glicerina bruta, apresentando um aumento

de 2,44 g/kg de MS de perdas por efluente para cada 1% de inclusão de glicerina bruta.

Entretanto, as PEFLT com a adição de inoculante apresentaram ponto de mínimo

52

segundo o modelo de superfície de resposta ajustado (Figura 4), com o valor mínimo

estimado com a adição de 1,78% de glicerina bruta no período de fermentação de 21,5

dias. Valor este, muito próximo do nível zero de inclusão de glicerina.

Tabela 11. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função

da glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para perda de

efluente (PEFLT), perda por gás (PGAS) e perda de matéria seca total (PMST) da

silagem de grão de milho reidratado.

Parâmetros PEFLT¹+ PEFLT¹++ PGAS¹+ PGAS¹++ PMST¹+ PMST¹++

Intercepto -4,30* -0,22* 9,76* 5,79* 2,15* 29,26*

GB 2,40* 0,75* -1,67* -0,76* 7,01* -2,37*

PF 0,12 -0,13 0,50 0,26 1,45 1,03

GB² 0,0070 0,073* -0,051* 0,020 -0,23* 0,24

PF² -0,0003 0,0026 -0,0046 -0,0016 -0,016 -0,016

GBxPF -0,0043 0,0011 -0,0070 -0,0009 -0,025 0,021

Mínimo GB² 1,78

PF³ 21,5

Máximo GB² 13,26

PF³ 34,20

Sela GB² 0 19,08 20,03 3,36

PF³ 42 40,02 62,50 34,96

Valor da Variável 0 0 3,87 6,48 73,40 43,32

P modelo <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 0,005 <0,0001

R² 0,88 0,93 0,61 0,49 0,27 0,48

Variável Níveis de GB (% MN)

Equação P-valor R² 0 7,5 15 22,5

PEFLT¹+ 1,34 8,73 43,70 51,04 Y= -1,914+2,441*G <0,0001 0,88

PGAS¹+ 16,98 5,18 1,97 1,22 Y= 17,958- 1,962*G+0,055*G² <0,0001 0,51

PGAS¹++

10,32 5,14 3,44 2,74 Y= 9,082-0,327*G 0,0002 0,22

PMST¹++

41,52 45,69 75,86 103,38 Y= 24,499+3,493*G <0,0001 0,37

+Sem inoculante; ++Com inoculante; ¹- g/kg de MS; ²- % da MN; ³- Dias; *-Significativo

a 5% de probabilidade pelo teste F.

53

Observa-se no modelo que o maior nível de glicerina bruta (22,5%) apresentou

PEFLT próximo a 55 g/kg MS para o tratamento inoculado, valor este muito próximo

ao valor de 51,04 g/kg de MS, obtido para o tratamento sem inoculante. Desta forma, a

inoculação não alterou os níveis máximos de perdas por efluente na ensilagem do milho

grão seco triturado e reidratado com água, nos diferentes níveis de inclusão de glicerina.

Basso et al. (2012) encontraram valores de perda por efluente variando de 4,19 a 5,45

g/kg MS para silagem de milho com 37,78% de umidade inoculada com diferentes

doses de Bacillus subtilis.

0

10

20

30

40

50

60

10

20

30

40

50

60

70

0

510

1520

Per

da

de

Efl

uen

te (

g/K

g d

e M

S)

Períod

o de

Fer

men

taçã

o

(Dia

s)

Nível de Glicerina Bruta

(% da Matéria Natural)

0

10

20

30

40

50

60

Figura 4. Superfície de resposta para efeito de perda de efluente da silagem de grão de

milho reidratado com inoculante com diferentes níveis de glicerina bruta e períodos de

fermentação.

O aumento das PEFLT, sem e com inoculante microbiano, com o incremento nos

níveis de glicerina bruta provavelmente ocorrem pela forma física como se apresenta a

glicerina bruta e ao alto teor de MS desse composto, o que facilita o carreamento da

umidade contida no milho acarretando em maiores PEFLT.

As PGAS apresentaram ponto de sela segundo os modelos de superfície de

resposta ajustados, assim foi realizado o estudo dos parâmetros que se apresentaram

significativos nestes modelos e o ajuste dos modelos de regressão quadrático e linear

simples foram realizados em função dos níveis de glicerina bruta, para os tratamentos

sem e com a adição de inoculante microbiano, respectivamente. Sem a adição de

54

inoculante microbiano foi obtido valor mínimo para a PGAS de 3,87 g/kg MS, o qual

ocorreu com a adição de 19,80% de glicerina bruta. Porém, as PGAS com a adição de

inoculante microbiano apresentaram comportamento linear decrescente em função dos

níveis de glicerina bruta, com valor mínimo de 2,74 g/Kg de MS para o nível de 22,50%

de glicerina bruta, muito próximo ao nível de 19,80 % de inclusão de glicerina sem a

adição de inoculante. Assim, de forma geral o nível de inclusão de glicerina reduziu a

PGAS na ensilagem de do milho grão seco triturado e reidratado com água, nos

diferentes níveis de inclusão de glicerina.

Os menores valores de glicerina bruta resultaram nas maiores PGAS, mas ainda

permaneceram dentro do limite considerado aceitável para silagens (1 a 2% das perdas

totais de energia), já que este tipo de perda é considerado inevitável durante o processo

de ensilagem (McDONALD et al., 1991). Os valores de PGAS deste experimento são

menores do que os verificados por Ribeiro et al. (2009) que encontraram valores de 6,3

e 3,6% para a silagem controle de capim marandu (25,4% umidade) e contendo L.

plantarum e Pediococcus acidilactici, respectivamente.

As PMST apresentaram ponto de sela e de máximo segundo os modelos de

superfície de resposta ajustados para os tratamentos com e sem a adição de inoculante

microbiano, respectivamente. Assim foi realizado o estudo dos parâmetros que se

apresentaram significativos para o tratamento com a adição de inoculante microbiano e

o modelo de regressão linear simples foi ajustado em função dos níveis de glicerina. Os

valores de PMST apresentaram ponto de máximo para o tratamento sem a adição de

inoculante, com valor máximo de 73,40 g/kg MS estimado com a adição de 13,26% de

glicerina bruta e 34,5 dias de fermentação (Figura 5).

Houve aumento linear nas PMST com a adição de inoculante microbiano em

função dos incrementos nos níveis de glicerina bruta. Com o maior valor 103,33 g/kg de

MS para a adição de 22,5% de glicerina bruta. Os aumentos nas PMST sem e com

inoculante são justificados pelas PEFLT e PGAS, uma vez que estas perdas influenciam

as PMST. Morais et al. (2012) verificaram valores de perdas de MS de 1,18 e 1,19% na

MS, para a silagem de grão úmido de milho (34,21% de umidade) não inoculada e

inoculada com inoculante microbiano composto de L. plantarum, Pediococcus acidófilo

e Propionibacterium acidófilo, respectivamente.

55

0

20

40

60

80

100

120

10

20

30

40

50

60

70

0

510

1520P

erda

de

Mat

éria

Sec

a (g

/Kg d

e M

S)

Períod

o de

Fer

men

taçã

o

(Dia

s)

Nível de Glicerina Bruta

(% da Matéria Natural)

0

20

40

60

80

100

120

Figura 5. Superfície de resposta para efeito de perda de matéria seca da silagem de grão

de milho reidratado sem inoculante com diferentes níveis de glicerina bruta e períodos

de fermentação.

Observa-se na Tabela 12 que somente a variável N-NH3 foi influenciada pelo

inoculante. As demais variáveis do perfil fermentativo não foram influenciadas.

O pH apresentou ponto de sela segundo o modelo de superfície de resposta, assim

foi realizado o estudo dos parâmetros que se apresentaram significativos nestes modelos

e o ajuste do modelo de regressão linear simples foi realizado em função dos níveis de

glicerina bruta. Foi obtido um valor máximo 6,86 com a inclusão de 22,5% de glicerina

bruta o que provavelmente ocorreu devido ao elevado teor de pH da glicerina bruta

(Tabela 7), menor produção de ácidos, evidenciado pela acidez titulável (AT), e também

pelos maiores valores de poder tampão (PT) nas silagens com maiores teores de

glicerina bruta (Tabela 12). Os valores de pH deste experimento são inferiores ao valor

de 4,04 encontrado por Ítavo et al. (2010) para a silagem de capim-elefante (65% de

umidade) inoculada com L. plantarum e menores do que os observados por Lopes et al.

(2005) que verificaram valores de pH variando de 4,25 a 4,29 para silagens de grão de

milho (33% de umidade) submetidas a diferentes tratamentos de reconstituição.

Tabela 12. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função

da glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para pH, acidez

56

titulável (AT), poder tampão (PT) e nitrogênio amoniacal (N-NH3) da silagem de grão

de milho reidratado.

Parâmetros pH AT¹ PT² N-NH33+ N-NH3

3++

Intercepto 5,93* 1,20* 7,58* 0,68* 3,66*

GB 0,05* -0,08* -0,47* 0,39 0,25

PF -0,07 0,19 0,29 0,23* 0,09*

GB² -0,0002 0,0023 0,014* -0,013 -0,011

PF² 0,0007 -0,0009 -0,0021 -0,0006 0,0007

GBxPF 0,0007 -0,0056 -0,0067 -0,0074 -0,0047

Mínimo GB

4

PF5

Máximo GB

4

PF5

Sela GB

4 22,5 22,5 22,5 22,5 11,32

PF5 4 7,5 15 4 4

Valor da Variável 6,86 1,03 6,14 2,79 5,06

P modelo <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001

R² 0,74 0,78 0,90 0,79 0,79

Variável Níveis de GB (% MN)

Equação P-valor R² 0 7,5 15 22,5

pH 5,13 5,16 6,08 6,10 Y= 4,919+0,061*G <0,0001 0,43

AT1 3,81 3,55 1,11 1,03 Y= 4,813-0,173*G <0,0001 0,33

PT2 10,69 8,19 6,16 6,14 Y= 12,635-0,667*G+0,014*G² <0,0001 0,61

Variável PF (dias) Equação P-valor R²

4 8 16 32 64

N-NH33+

2,15 3,95 4,84 5,79 9,01 Y= 2,798+0,098*PF <0,0001 0,46

N-NH33++

3,97 5,00 5,59 5,90 9,65 Y= 3,938+0,085*PF <0,0001 0,49

+Sem inoculante; ++Com inoculante; 1- Expresso em mL de NaOH 0,1N até atingir pH 7,0;

2-

e.mg HCl/100 g MS; 3- % do NT;

4- % da MN;

5- Dias.; *-Significativo a 5% de

probabilidade pelo teste F.

Os valores de AT também apresentaram ponto de sela segundo o modelo de

superfície de resposta, sendo realizado o estudo dos parâmetros que se apresentaram

significativos nestes modelos e o ajuste do modelo de regressão linear simples foi

57

realizado em função dos níveis de glicerina bruta. Observa-se que os valores de AT

reduziram linearmente com a inclusão de glicerina bruta com valor mínimo de 1,03 g/kg

de MS com a adição de 22,5% de glicerina bruta. As reduções na produção de ácidos

podem estar relacionadas com uma menor população de microrganismos com o

aumento da glicerina bruta.

Os valores de PT apresentaram ponto de sela segundo os modelos de superfície

de resposta ajustados, assim foi realizado o estudo dos parâmetros que se apresentaram

significativos nestes modelos e o ajuste dos modelos de regressão quadrático e linear

simples foram realizados em função dos níveis de glicerina bruta, com valor mínimo de

6,14 obtido com a adição de 22,5% de glicerina bruta. As reduções nos valores de PT

podem ser explicadas pela redução dos teores de N-NH3 (Tabela 12), considerado um

dos principais fatores que influenciam o PT, juntamente com aminoácidos livres e bases

inorgânicas como K e P (Van Soest, 1994). Contudo, os valores obtidos neste

experimento são menores do que os 25 e.mg/100g de MS da silagem do milho,

considerada como silagem padrão (McDONALD, 1981). Ítavo et al. (2006)

encontraram valores de PT de 22,52 e 22,67 e.mg/100 g MS para silagens de grão

úmido de milho (36% umidade) com e sem inoculante (L. plantarum), respectivamente.

E Silva et al. (2010) verificaram valores de PT variando de 42 a 44 e.mg/100 g MS para

silagens de grãos úmidos de milho (com 47% de umidade) com diferentes inoculantes

bacterianos.

Os teores de N-NH3 apresentaram ponto de sela segundo os modelos de superfície

de resposta ajustados, assim foi realizado o estudo dos parâmetros que se apresentaram

significativos nestes modelos e o ajuste dos modelos de regressão lineares foram

realizados em função dos períodos de fermentação, para os tratamentos sem e com a

adição de inoculante microbiano. Foram obtidos teores mínimos para os tratamentos

sem e com inoculante microbiano de 2,15 e 3,97 %NT, respectivamente, com 4 dias de

período de fermentação. Os aumentos nos teores de N-NH3 com em função dos períodos

de fermentação indicam que houve a atuação de proteases, que agem em meios cujo pH

é maior do que 5,0, como neste trabalho e acabam degradando a proteína com a

liberação de amônia. Verifica-se que a degradação foi mais intensa no tratamento com

22,5%, mas a degradação está abaixo do limite de 10% considerado adequado para

silagens (VAN SOEST, 1994). Os dados do nosso experimento diferem dos observados

por Rodrigues et al. (2004) que verificaram valores de N-NH3 variando de 4,01 a 4,29%

58

NT para a silagem de milho tratada com diferente inoculantes microbianos comerciais

após 106 dias de ensilagem.

As populações de microrganismos não foram influenciadas pelo inoculante

microbiano. Observa-se na Tabela 13 que a população de bactérias ácido lático (BAL)

apresentou ponto de sela segundo o modelo de superfície de resposta. Assim foi

realizado o estudo dos parâmetros que se apresentaram significativos neste modelo e o

ajuste do modelo de regressão linear simples foi realizado em função dos níveis de

glicerina bruta com valor mínimo estimado de 1,01 UFC/g silagem com a inclusão de

22,5% de glicerina bruta e com 64 dias de período de fermentação.

Tabela 13. Estimativa dos parâmetros dos modelos de superfície de resposta em função

da glicerina bruta (GB - % MN) e períodos de fermentação (PF - Dias) para bactérias

ácido lático (BAL), enterobactérias (ENT) e fungos e leveduras (MOFO) na silagem de

grão de milho reidratado.

Parâmetros BAL¹ ENT¹ MOFO¹

Intercepto 8,74* 8,06* 5,50*

GB -0,31* -0,22* -0,0005*

PF -0,06 -0,07 -0,0020

GB² 0,00005 0,0026 -0,0032*

PF² -0,0004 -0,0008 -0,0004

GBxPF 0,0023 0,0020 0,0018

Mínimo GB²

PF³

Máximo GB² 0

PF³ 4

Sela GB² 22,5 22,5

PF³ 64 4

Valor da Variável 1,01 3,34 5,5

P modelo <0,0001 <0,0001 <0,0001

R² 0,56 0,65 0,63

Variável Níveis de GB (% MN)

Equação P-valor R² 0 7,5 15 22,5

59

BAL1 6,24 5,99 2,60 1,10 Y= 6,829-0,249*G <0,0001 0,39

ENT1 4,99 4,94 3,36 3,34 Y= 5,357-0,107*G 0,0009 0,09

¹- Log UFC/g silagem; ²- % da MN; ³- Dias; *-Significativo a 5% de probabilidade pelo

teste F.

O efeito inibitório sobre a população de BAL ocorreram provavelmente pelo

aumento do pH com o incremento nos níveis de glicerina bruta (Tabela 12) ou pela

influência negativa de algum composto da glicerina bruta sobre seu desenvolvimento.

De acordo com Pahlow et al. (2003) as espécies de BAL requerem para o seu

crescimento estéres de ácido oleico. O’Leary (1962) afirma que bactérias gram-

positivas são mais sensíveis a todos os tipos de ácidos graxos do que bactérias gram-

negativas, mas os ácidos graxos de cadeia longa (C12 a C18), na sua forma cis, são

estimuladores do crescimento. Não há relatos sobre a composição de ácidos graxos

presentes na glicerina, mas talvez há a presença de algum que possa afetar o

desenvolvimento destas bactérias. Silva et al. (2010) ao avaliarem a influência do

inoculante microbiano (L. casei e Streptococcus faecalis) e o complexo enzimático (α-

galactosidase e β-mananase) sobre a microbiota da silagem de grão úmido de milho

(47% de umidade), observaram que a silagem inoculada apresentou quantidade de

bactérias totais (7,4 UFC/g amostra), valores superiores a este experimento.

Contudo, este efeito inibitório da glicerina bruta não é tão evidente para a

população de ENT que também apresentaram ponto de sela segundo o modelo de

superfície de resposta, sendo realizado o estudo dos parâmetros que se apresentaram

significativos neste modelo e o ajuste do modelo de regressão linear simples foi

realizado em função dos níveis de glicerina bruta, apresentando redução de 0,11 UFC/g

de silagem para cada 1% de inclusão de glicerina bruta. A redução nas populações de

ENT podem ser explicadas também pelo elevado teor de pH com o aumento da inclusão

de glicerina bruta.

Os valores observados neste experimento para ENT são superiores ao valor de

aproximadamente 5 log UFC/g encontrado por Santos et al. (2013) para a silagem de

milho inoculada com cepas de BAL após 60 dias de ensilagem e superior ao valor

aproximado de 3,3 log UFC/g encontrado por Penteado et al. (2007) para a silagem de

capim-mombaça inoculada com L. plantarum epifítico (106 UFC/g) após 28 dias de

ensilagem.

60

As populações de MOFO apresentaram ponto de máxima segundo o modelo de

superfície de resposta com valores máximos estimados de 5,5 UFC/g silagem sem a

adição de glicerina bruta e com 4 dias de fermentação. Uma justificativa para a redução

na população de MOFO é a competição com as BAL e ENT por carboidratos solúveis,

já que fungos e leveduras não são fortemente influenciados pelo pH.

Os resultados na literatura para a quantidade de fungos e leveduras variam muito

em função do material. Jobim et al (1999) avaliando a silagem de grão úmido (34,3%

umidade) após 65 dias de ensilagem, encontrou valores de 6,4 e 0,6 log UFC/g silagem

para leveduras e fungos, respectivamente. Esses valores são superiores ao encontrado

neste experimento. Já Hassanat et al. (2007) verificaram valores para leveduras e fungos

inferiores a 2 log UFC/g forragem na silagem de milheto (75% de umidade) inoculada

com inoculante comercial Pioneer (L. plantarum e Enterococcus faecium) após 45 dias

de ensilagem.

4. CONCLUSÕES

Independente do uso do inoculante microbiano, o aumento no nível de inclusão de

glicerina bruta nas silagens de milho grão seco reidratado aumentam as perdas e o pH

no processo de ensilagem, reduz a população de bactérias ácido lático e promove poucas

alterações sobre a composição química da mesma.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AOAC, Official Methods of Analysis, (15th edn.). Association of Official Analytical

Chemists, Arlington, VA. 1990.

BASSO, F.C. et al. Características da fermentação e estabilidade aeróbia de silagens de

milho inoculadas com Bacillus subtilis. Revista Brasileira de Saúde e Produção

Animal, v.13, n.4, p. 1009-1019, 2012.

BERGAMASCHINE, A.F. et al. Qualidade e valor nutritivo de silagens de capim-

marandu (B. brizantha cv. Marandu) produzidas com aditivos ou forragem

emurchecida. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1454-1462, 2006.

61

CHANEY, A.L.; MARBACH, E.P. Modified reagents for determination of urea and

ammonia. Clinical Chemistry, v.8, n.2, 1962.

CHERNEY, J.H., CHERNEY, D.J.R. Assessing silage quality. In: BUXTON, D.R.,

HARRISON, J. (Eds.). Silage science and technology. Wisconsin: ASA; CSSA; SSSA.

Madison. p. 141-198, 2003.

CONAB. 2013. Acompanhamento da safra de grãos, v.1, n.3. 77p.

FERREIRA, B. Produtores de milho segunda safra de Mato Grosso enfrentam

dificuldades para armazenar o grão e problema pode crescer com a proximidade do

plantio de soja. Revista Globo Rural. 2013

HALL, M.B., 2000. Calculation of non-structural carbohydrate content of feeds

that contain non-protein nitrogen. University of Florida, p. A-25 (Bulletin 339),

2000.

HASSANAT, F., MUSTAFA, A.F., SEGUIM, P. Effects of inoculation on ensiling

characteristics, chemical composition and aerobic stability of regular and brown mibrid

millet silage. Animal Feed Science Technology, v.139, p.125-140, 2007.

ÍTAVO, C.C.B.F. et al. Padrão de Fermentação e composição química de silagens de

grãos úmidos de milho e sorgo submetidas ou não a inoculação microbiana. Revista

Brasileira de Zootecnia, v.35, n.3, p.655-664, 2006.

ÍTAVO, L.C.V. et al. Composição química e parâmetros fermentativos de silagens de

capim-elefante e cana-de-açúcar tratadas com aditivos. Revista Brasileira de Saúde e

Produção Animal, v.11, n.3, p. 606-617, 2010.

JOBIM, C.C. et al. Desenvolvimento de microrganismos durante a utilização de

silagens de grãos úmidos de milho e de espigas de milho sem brácteas. Acta

Scientiarum, v.21, n.3, p. 671-676, 1999.

62

JOBIM, C.C. et al. Avanços metodológicos na avaliação da qualidade da forragem

conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p. 101-119, 2007.

JOHNSON, R.R. et al.. Corn plant maturity. II. Effect on in vitro cellulose digestibility

and soluble carbohydrate content. Journal of Animal Science, v.25, p. 617-623, 1966.

KUNG JÚNIOR, L., STOKES, M.R., LIN, C.J. Silage additives. In: BUXTON, D.R.;

MUCK, R.E.; HARRISON, J.H. (Eds.) Silage science and technology. Wisconsin:

ASA; CSSA; SSSA, p. 305-360, 2003.

LOPES, A.B.R.C. et al. Método de reconstituição da umidade de grãos de milho e a

composição química da massa ensilada. Bioscience Journal, v.21, n.1, p. 95-101, 2005.

McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: John Wiley, 1981. 207p.

McDONALD, P., HENDERSON, A.R., HERON, S.J.E., The Biochemistryvof Silage.

Second edition. Chalcombe Publications, Aberystwyth, 1991.

MORAIS, M.G. et al. Inoculação de silagens de grãos úmidos de milho, em diferentes

processamentos. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.13, n.4, p. 969-

981, 2012.

MUCK, R.E. Silage microbiology and its control through additives. Revista Brasileira

de Zootecnia, v.39, p.183-191, 2010.

O'LEARY, W.M. Department of Microbiology and Immunology. Cornell University

Medical College, New York, Journal Bacteriology, v.84, n.5. p. 967-972, 1962

OLIVEIRA, J.S. et al. Composição química da glicerina produzida por usinas de

biodiesel no Brasil e potencial de uso na alimentação animal. Ciência Rural, v.43, n.3,

p. 509-512, 2013.

OUDE ELFERINK, S.J.W.H. et al. Silage fermentation processes and their

manipulation. In: Fao Eletronic Conference On Tropical Silage, 1999, Rome. Silage

63

making in the tropics with emphasis on smallholders. Procedings... Rome: FAO, p.17-

30, 2000.

PAHLOW, G. et al. Microbiology of ensiling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.;

HARRISON, J.H. (Eds.) Silage Science and Techonology. 1 ed. Madison: American

Society of Agronomy, p. 31-94, 2003.

PLAYNE, M.J.; McDONALD, P. The buffering constituints of herbage and silage.

Journal of Science Food and Agriculture, v.17, p. 262-268, 1966.

PENTEADO, D.C.S. et al. Inoculação com Lactobacillus plantarum da microbiota em

silagem de capim-mombaça. Archivos Zootecnia, v.56, p. 191-202, 2007.

PHILLIP, L.E., FELLNER, V. Effects of Bacterial Inoculation of High-Mois ture Ear

Corn on Its Aerobic Stability, Digestion, and Utilization for Growth by Beef Steers.

Journal of Animal Science, v.70, p. 3178-3187, 1992.

RIBEIRO, J.L. et al. Efeitos de absorventes de umidade e de aditivos químicos e

microbianos sobre o valor nutritivo, o perfil fermentativo e as perdas em silagens de

capim-marandu. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p. 230-239, 2009.

RODRIGUES, P.H.M. et al. Avaliação do uso de inoculantes microbianos sobre a

qualidade fermentativa e nutricional da silagem de milho. Revista Brasileira de

Zootecnia, v.33, n.3, p. 538-545, 2004.

SANTOS, A.O., ÁVILA, C.L.S., SCHWAN, R.F. Selection of tropical lactic acid

bacteria for enhancing the quality of maize silage. Journal of Dairy Science. v.96, p.

7777-7789, 2013.

SILVA, D.J., QUEIROZ, A.C. Análises de alimentos: métodos químicos e biológicos.

3.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 235p.

64

SNIFFEN, C.J et al. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets.

II. Carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science, v.70, n.11,

p.3562-3577, 1992.

SODRÉ, M., Milho: problema de armazenagem se agrava. Jornal A Tribuna Mato

Grosso Digital, 2013.

SOUSA FILHO, L. M. et al. Seleção de linhagens de microrganismos capazes de

crescer em altas concentrações de glicerol. Disponível em: <http://www.uespi.br/prop/

XSIMPOSIO/TRABALHOS/INICIACAO/Ciencias%20da%20Natureza/SELECAO%2

0DE%20LINHAGENS%20DE%20MICRORGANISMOS%20CAPAZES%20DE%20

CRESCER%20EM%20ALTAS%20CONCENTRACOES%20DE%20GLICEROL.pdf>

Acesso em: 14 mar. 2014.

USDA. United States Departament of Agriculture. Grain: world markets and trade.

Forage Agricultural Service. Circular Series. FG 12 -13, 55p, 2013.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2ed. Ithaca, New York:

Cornell University Press, 1994, 476p.