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Cálculo da Atenuação numa Ligação Rádio Via-Ionosfera Inês Martins Manique Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Orientador: Prof. António Luís Campos da Silva Topa Júri Presidente: Prof. José Eduardo Charters Ribeiro da Cunha Sanguino Orientador: Prof. António Luís Campos da Silva Topa Vogal: Prof. António José Castelo Branco Rodrigues Julho 2015

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Cálculo da Atenuação numa Ligação Rádio Via-Ionosfera

Inês Martins Manique

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Orientador: Prof. António Luís Campos da Silva Topa

Júri

Presidente: Prof. José Eduardo Charters Ribeiro da Cunha Sanguino

Orientador: Prof. António Luís Campos da Silva Topa

Vogal: Prof. António José Castelo Branco Rodrigues

Julho 2015

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II

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III

Aos meus pais

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IV

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V

Agradecimentos

Gostaria, em primeiro lugar, de deixar um profundo agradecimento ao professor Dr.

António Luís Campos da Silva Topa pela simpatia, disponibilidade, ajuda e confiança que em

mim depositou ao ter aceite orientar a minha dissertação de mestrado.

Aos meus pais, Carmo Manique e Luís Manique, por terem estado sempre presentes,

pela incansável motivação e apoio que me deram durante o meu percurso académico.

À minha irmã Rita. Pelo incentivo que sempre me deu.

À minha avó Bálbina, tios e primos, também um obrigado.

Ao meu namorado, pelo encorajamento que me deu a melhorar o meu desempenho

académico.

Por fim, à memória dos meus avós já falecidos, que teriam certamente muito orgulho em

presenciar o final deste importante capitulo da minha vida.

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VI

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VII

Resumo

A maior parte dos serviços fixos de rádio de longa distância baseia-se nas comunicações

via satélite e cabos de fibra ótica, tanto para aplicações civis como para aplicações militares.

Não obstante, mantêm-se ainda operacionais os circuitos HF (onda curta), na medida em que é

necessário prover meios alternativos de comunicação que sejam independentes de terceiros.

As comunicações em onda curta propagam-se até grandes distâncias através de saltos

sucessivos por reflexão nas camadas da ionosfera e no solo. Assim, a ionosfera é largamente

utilizada como meio alternativo de comunicações, atuando como sistema de emergência dos

sistemas convencionais. Estes fatores garantem e justificam a continuação do investimento nas

comunicações ionosféricas.

Este trabalho consiste no estudo de alguns fenómenos de propagação relevantes nas

comunicações via ionosfera. É feito o cálculo da atenuação sofrida pelo sinal numa

comunicação HF entre dois pontos da superfície terrestre. Ao longo do trabalho recorre-se

frequentemente a simulações para a representação e análise de alguns parâmetros.

Palavras-Chave

Telecomunicações; Radiopropagação; Ligações HF; Onda curta; Ionosfera.

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VIII

Abstract

Most of the fixed long-distance radio services are based on satellite communications and

fiber optic cables for both civilian and military applications. Nevertheless, HF (short wave)

circuits still remain operational to the extent that is necessary to provide alternative methods

of communication that are independent third parties. Communications in short wave

propagate to large distances through successive jumps by reflection on the ionosphere and on

the rough ground. Thus, the ionosphere is widely used as an alternative mean of

communications, acting as an emergency reflective system for the main conventional systems.

These factors guarantee and justify the continued investment in ionospheric communications.

This work consists in the study of some relevant propagation phenomena in

communications via the ionosphere. The main object of study is the calculation of the overall

attenuation of a signal in a HF communication between two points on the earth's surface.

Throughout the work, some simulations are made for the representation and analysis of some

parameters.

Keywords

Telecommunications; Propagation; HF links; Short wave; Ionosphere.

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IX

ÍNDICE

Lista de Figuras ............................................................................................................................. XI

Lista de Tabelas .......................................................................................................................... XIII

Lista de Símbolos ......................................................................................................................... XV

Lista de Acrónimos ..................................................................................................................... XIX

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento................................................................................................................... 1

1.2 Motivação e objetivos ......................................................................................................... 4

1.3 Estrutura .............................................................................................................................. 4

1.4 Contribuições ...................................................................................................................... 5

2. DISPERSÃO EM SUPERFICIES RUGOSAS .................................................................................... 7

2.1 Propagação em espaço livre................................................................................................ 7

2.1.1 Portência transmitida entre duas antenas ................................................................... 7

2.1.2 Intensidade de campo .................................................................................................. 9

2.2 Reflexão especular .............................................................................................................. 9

2.3 Reflexão difusa - Scattering ............................................................................................... 13

2.3.1 Critério de Rayleigh .................................................................................................... 14

2.3.2 Potência dissipada pelo terreno rugoso..................................................................... 14

2.3.3 Secção eficaz de dispersão por unidade de área ....................................................... 15

2.3.3.1 Simplificações ...................................................................................................... 16

2.3.4 Área efetiva de dispersão ........................................................................................... 17

2.3.5 Potência dispersa pelo terreno .................................................................................. 21

2.3.6 Simulações numéricas ................................................................................................ 23

3. COMUNICAÇÕES VIA IONOSFERA ........................................................................................... 27

3.1 Estrutura da ionosfera ....................................................................................................... 28

3.1.1 Camada D ................................................................................................................... 28

3.1.2 Camada E .................................................................................................................... 29

3.1.3 Camada F2 .................................................................................................................. 29

3.1.4 Camada F1 .................................................................................................................. 29

3.2 Plasma ionosférico ............................................................................................................ 30

3.2.1 Densidade de eletrões ................................................................................................ 30

3.2.1.1 Modelos teóricos ................................................................................................. 31

3.2.2 Frequência de plasma ................................................................................................ 35

3.3 Propagação na ionosfera ................................................................................................... 37

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X

3.3.1 Constante de propagação num plasma ionosférico ................................................... 38

3.4 Parâmetros característicos da ionosfera ........................................................................... 41

3.4.1 Altura Virtual .............................................................................................................. 41

3.4.2 Frequência crítica ....................................................................................................... 42

3.4.3 Máxima frequência utilizável ..................................................................................... 42

4. CÁLCULO DA ATENUAÇÃO NUMA LIGAÇÃO VIA IONOSFERA ................................................. 45

4.1 Ângulo de fogo .................................................................................................................. 46

4.1.1 Simulação de ψ .......................................................................................................... 47

4.2 Atenuação em espaço livre ............................................................................................... 48

4.3 Atenuação nas camadas da ionosfera ............................................................................... 49

4.4 Atenuação no solo ............................................................................................................. 53

4.5 Atenuação total ................................................................................................................. 56

5. DESVANECIMENTO EM LIGAÇÕES VIA IONOSFERA ................................................................ 61

5.1 Fading lento ...................................................................................................................... 62

5.2 Fading rápido .................................................................................................................... 64

5.2.1 Fading rápido pouco intenso ..................................................................................... 65

5.2.2 Fading rápido muito intenso ...................................................................................... 67

5.3 Cálculo das margens de fading ......................................................................................... 68

6. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 71

6.1 Principais conclusões......................................................................................................... 71

6.2 Trabalhos Futuros.............................................................................................................. 72

LISTA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 73

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XI

Lista de Figuras

Figura 1.1 – Modos básicos de propagação ................................................................................ 2

Figura 1.2 – Sistema de comunicação via satélite ....................................................................... 4

Figura 2.1 – Reflexão especular ................................................................................................. 11

Figura 2.2 – Reflexão em polarização vertical e horizontal ....................................................... 12

Figura 2.3 – Raio direto e raio refletido ..................................................................................... 12

Figura 2.4 – Reflexão difusa ....................................................................................................... 15

Figura 2.5 – Elemento de superfície 𝛿𝑆...................................................................................... 16

Figura 2.6 – Área efetiva de dispersão ...................................................................................... 19

Figura 2.7 – Representação de f(u), com parâmetro t ............................................................... 25

Figura 2.8 – Representação de 𝜎(𝑢)

𝜎𝑀⁄ , com parâmetro t .................................................... 26

Figura 3.1 – Propagação via reflexão na ionosfera .................................................................... 28

Figura 3.2 – Estratificação da ionosfera ..................................................................................... 29

Figura 3.3 – Representação de plasma ...................................................................................... 31

Figura 3.4 – Densidade de eletrões para as várias camadas da ionosfera ................................ 32

Figura 3.5 – Ângulo 𝑋 relativo à vertical ................................................................................... 33

Figura 3.6 – Densidade de eletrões linear ................................................................................. 34

Figura 3.7 – Densidade de eletrões exponencial ....................................................................... 35

Figura 3.8 – Densidade de eletrões parabólica ......................................................................... 36

Figura 3.9 – Confinamento das partículas carregadas por um campo magnético .................... 36

Figura 3.10 – Variação da frequência de plasma em função da altitude e hora do dia ............ 38

Figura 3.11 – Altura virtual de uma camada ionosférica ........................................................... 42

Figura 3.12 – Representação do ângulo 𝜃 ................................................................................. 44

Figura 4.1 – Ondas ionosféricas, representação dos saltos ....................................................... 46

Figura 4.2 – Representação da reflexão na ionosfera, considerando um salto ......................... 47

Figura 4.3 – Geometria da trajetória da onda que reflete na ionosfera .................................... 48

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XII

Figura 4.4 – Ângulo de fogo 𝜓 ................................................................................................... 49

Figura 4.5 – Representação da reflexão no solo em superfície rugosa e na ionosfera,

considerando dois saltos ........................................................................................................... 54

Figura 5.1 – Fading .................................................................................................................... 62

Figura 5.2 – Fading lento. Absorção do sinal nas camadas da ionosfera .................................. 63

Figura 5.3 – Distribuição log-normal, função distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥) .................... 65

Figura 5.4 – Efeito multipercurso. Representação de 3 caminhos diferentes, provenientes do

mesmo emissor ......................................................................................................................... 66

Figura 5.5 – Distribuição de Rice, função distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥) .......................... 67

Figura 5.6 – Distribuição de Rayleigh, função distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥) ................... 69

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XIII

Lista de Tabelas

Tabela 4.1 – Valores da altura virtual ℎ′ para diferentes camadas da ionosfera ....................... 48

Tabela 4.2 – Valores de 𝐴0 para um alcance de 2000km e três valores de frequência ............. 50

Tabela 4.3 – Valores de 𝜘 para as diferentes camadas da ionosfera ......................................... 51

Tabela 4.4 – Valores de 𝑁𝑒 e 𝜗 para as diferentes camadas da ionosfera ................................ 52

Tabela 4.5 – Valores de 𝛼 para as várias camadas da ionosfera, para três valores de

frequência.................................................................................................................................. 52

Tabela 4.6 – Valores de 𝐴𝑖 para as várias camadas da ionosfera, para três valores de

frequência.................................................................................................................................. 53

Tabela 4.7 – Valores da atenuação total sofrida na ionosfera para um reflexão na camada F2,

para três valores de frequência.................................................................................................. 54

Tabela 4.8 – Valores do coeficiente de Fresnel, para polarização horizontal e polarização

vertical, para três valores de frequência ................................................................................... 55

Tabela 4.9 – Valores de 𝑔, para três valores de frequência ...................................................... 56

Tabela 4.10 – Valores de 𝐴𝑠, para três valores de frequência ................................................... 57

Tabela 4.11 – Valores da atenuação sofrida na ionosfera, supondo reflexão na camada F2 e um

alcance de 1000km, para três valores de frequência ................................................................ 58

Tabela 4.12 – Valores da atenuação total 𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 para um e dois saltos, para três valores de

frequência e para um alcance de 2000km................................................................................. 59

Tabela 4.13 – Valores da atenuação total 𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙, para vários saltos e vários alcances, para três

valores de frequência................................................................................................................. 60

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XIV

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XV

Lista de Símbolos

𝐴0 Atenuação em espaço livre

𝐴𝑒 Abertura da antena

𝐴𝑖 Atenuação nas camadas da ionosfera

𝐴𝑠 Atenuação da reflexão em superfície rugosa

𝑐 Velocidade da luz no vácuo

𝑑 Distância entre antenas

𝐷 Fator de divergência

𝑑𝑒 Distância do emissor ao obstáculo

𝑑𝑛 Distância para o qual ocorrem os extremos do campo elétrico

𝑑𝑟 Distância do recetor ao obstáculo

𝐸 Campo elétrico total

𝐸𝑑 Campo elétrico do raio direto

𝐸𝑟 Campo elétrico do raio refletido

𝑓 Frequência

𝑓𝑐 Frequência crítica

𝑓𝐷 Fator direcional da antena

𝑓𝑝 Frequência de plasma

𝐹(𝑥) Função densidade de probabilidade

𝐺𝑒 Ganho da antena de emissão

𝐺𝑟 Ganho da antena de receção

ℎ Altura

ℎ𝑒 Parâmetro da rugosidade do terreno

𝐻 Campo magnético

ℎ′ Altura virtual

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XVI

𝐼0 Função de Bessel modificada

ℎ1,2 Altura da antena de emissão/receção

ℎ𝑒 Altura equivalente

ℎ𝑚 Altura correspondente a 𝑁𝑒𝑚𝑎𝑥

ℎ𝑚𝑎𝑥 Altura máxima que o raio pode atingir

𝑘 Constante de propagação

𝐿𝑓𝑠 Atenuação em espaço livre

𝐿𝑃 Valor mediano das perdas de transmissão

𝑚𝑒 Massa do eletrão

𝑛 Índice de reflexão do solo em relação ao ar

𝑁𝑒 Densidade de eletrões

𝑁𝑒𝑚𝑎𝑥 Densidade de eletrões máxima

𝑃𝑒 Potência emitida

𝑃𝑟 Potência recebida

𝑞 Carga do eletrão

𝑟𝑑 Raio direto

𝑟𝑖 Direção de incidência

𝑟𝑟 Raio refletido

𝑟𝑠 Direção de dispersão

𝑠 Rugosidade do terreno

𝑆 Densidade do fluxo de potência (intensidade do vetor de Poynting)

𝑥𝑙 Dimensão longitudinal da AED

𝑦𝑡 Dimensão transversão da AED

𝑍0 Impedância característica de onda em espaço livre

𝛼 Constante de atenuação

Γ Coeficiente de Fresnel

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XVII

𝛿𝑃𝑀 Potência recebida máxima devido a 𝛿𝑆

𝛿𝑃𝑆 Potência recebida devido a 𝛿𝑆

𝛿𝑆 Elemento de superfície

Δ Espessura da camada da ionosfera

Δ𝜙 Diferença de fase entre raio direto e raio refletido

Δ𝑟 Diferença de trajetos entre raio refletido e raio direto

휀0 Constante dielétrica do ar

휀𝑒𝑞 Constante dielétrica equivalente

휀𝑟 Constante dielétrica relativa do solo

휀𝑠′ Constante dielétrica complexa do solo

θ Colatitude

θ𝑑 Colatitude do raio direto

θ𝑟 Colatitude do raio refletido

𝜆 Comprimento de onda

σ Secção eficaz de dispersão

σ𝑀 Valor máximo da secção eficaz de dispersão

𝑋 Ângulo que o sol faz com a vertical da Terra

𝜓 Ângulo de fogo

𝜔 Frequência angular

𝜔𝑝 Frequência de plasma

𝜘 Distância percorrida na ionosfera

𝜗 Frequência de colisão

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XVIII

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XIX

Lista de Acrónimos

𝐻𝐹 High Frequency

𝑀𝑈𝐹 Maximum usable frequency

𝑂𝑊𝐹 Optimum working frequency

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XX

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Enquadramento

As ondas rádio são vitais para a comunicação no mundo atual. A nossa civilização

depende fortemente das comunicações a longa distância, que se baseiam principalmente nas

comunicações via satélite e cabos de fibra ótica. No entanto, estes sistemas não são infaliveis.

Num cenário catastrófico como o de guerra ou de desastre natural podemos ficar desprovidos

de todos estes meios de comunicação. Torna-se portanto necessário prover um recurso

alternativo de comunicações de emergência que seja independente de terceiros, como é o

caso das comunicações via ionosfera. É por isso relevante o estudo de alguns mecanismos de

propagação e os seus efeitos nas comunicações.

A Radiopropagação consiste no estudo das ondas rádio quando são emitidas ou

propagadas de um ponto na terra para outro entre várias partes da atmosfera. Existem três

modos básicos de propagação, a partir dos quais podem ocorrer subdivisões. Os modos podem

ser compreendidos através do seguinte diagrama

Figura 1.1 – Modos básicos de propagação.

O modo de propagação das ondas ionosféricas é o principal objeto de estudo deste

trabalho, abordando também as ondas terrestres, nomeadamente o fenómeno da reflexão.

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2

Os primeiros estudos no âmbito da transmissão via rádio começaram no final do século

XIX, pela mão de alguns importantes nomes da Física. Estes ficaram para sempre conhecidos

como os fundadores da indústria das telecomunicações.

Uma das descobertas importantes para o começo do desenvolvimento desta área foi

feita por Michael Faraday que desenvolveu alguns trabalhos experimentais que estabeleceram

que um campo magnético variável produz um campo elétrico. Com base nestes e noutros

trabalhos experimentais desenvolvidos na área, em 1861 James Clerck Maxwell estabeleceu

um conjunto de equações diferenciais que, poucos anos mais tarde, vieram a demonstrar que

qualquer perturbação elétrica ou magnética criada em espaço livre podia ser emitida através

do espaço como uma onda eletromagnética, propagando-se à velocidade da luz.

No final do Século XIX, Heinrich Hertz realizou várias experiências baseadas na teoria de

Maxwell, experiências essas que explicaram a reflexão, refração e polarização das ondas

eléctricas.

O matemático e fisico alemão Carl F. Gauss foi, em 1839, a primeira pessoa a sugerir a

existência da ionosfera, afirmando que a variação do campo eletromagnético resultava da

existência de correntes eletricas na atmosfera.

Em 1864, Guglielmo Marconi levou a cabo um conjunto de investigações para

demonstrar que um sinal eletromagnético poderia ser transmitido entre dois locais

relativamente distantes. Em 1901, Marconi conseguiu que sinais radiotelegráficos emitidos a

partir de Inglaterra fossem ouvidos claramente em St. John’s no Canada, atravessando todo o

Atlântico norte. Esta descoberta gerou na altura grande controvérsia entre a comunidade

cientifica, uma vez que se desconhecia a existência de uma camada na atmosfera capaz de

refletir as ondas eletromagnéticas.

Em 1902, dois cientistas, Arthur Kenelly e Oliver Heaviside, sugeriram de forma

independemente teorias sobre a atmosfera superior terrestre, defendendo que seria

composta por uma região condutora elétrica. Defenderam ainda que teria sido esta camada a

responsavél pela deflexão dos rádio das experiências transtlânticas de Marconi um ano antes.

Foram no entanto necessárias mais duas décadas para que essa hipótese fosse verificada

experimentalmente, através de ionosondas desenvolvidas por Edward Appleton. Ficou assim

comprovada a existência da ionosfera.

Comunicações em alta frequência (HF) foram realizadas pela primeira vez em 1920,

quando o primeiro sistema rádio foi instalado na Europa. O desejo de ir para altas frequências

deveu-se à necessidade de se obter um maior alcance e maior largura de banda. Os sistemas

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3

por cabo utilizados até então eram muito limitativos e enviar mensagens era extremamente

caro. Operando em altas frequências, as comunicações transatlânticas tornaram-se mais

rápidas, com maior capacidade e mais baratas.

Deste ponto até à atualidade, as tecnologias rádio cresceram exponencialmente. Técnicas

de transmissão de rádio têm sido difundidas nas aplicações práticas de comunicação de dados

e também na detecção de alvos.

Os progressos durante a guerra levaram ainda ao desenvolvimento de sistemas rádio VHF

(very high frequency) e UHF (ulta high frequency). Com estes sistemas, apareceu a ideia de

sistemas em linha de vista e sistemas de dispersão troposférica.

Com a chegada do programa espacial, os engenheiros de rádio observaram que era

possível obter comunicações de longo alcance em muito alta frequência usando satélites como

estações de retransmissão de rádio. Assim, deu-se o desenvolvimento dos sistemas de

comunicações via satélite. Hoje em dia praticamente todas as comunicações de longo alcance

são feitas através de satélite. É de referir que as comunicações via satélite são afetadas pelas

propriedades da ionosfera, uma vez que neste tipo de comunicação o sinal atravessa a

ionosfera, como ilustrado na Figura 1.2.

Figura 1.2 – Sistemas de comunicação via satélite.

As comunicações rádio modificaram-se marcadamente nos últimos séculos. Ainda assim,

ainda há muito por conhecer, pelo que a investigação nesta área continua.

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4

1.2 Motivação e objetivos

A ionosfera, não sendo hoje em dia utilizada como meio de comunicação, é ainda

estudada para comunicações militares e de emergência. É um meio alternativo aos meios de

comunicação usuais em caso de falha. Na eventualidade de um desastre natural, atentado

terrorista ou qualquer outro evento que condicione os sistemas de comunicação

convencionais, recorre-se às comunicações via ionosfera a fim de restabelecer as

comunicações. Assim sendo, a fenomenologia associada à ionosfera bem como a maneira

como esta afeta o sinal, continuam a ser objeto de estudo.

A presente dissertação tem como objetivo o cálculo da atenuação sofrida pelo sinal numa

ligação entre dois pontos da Terra, quando ocorrem sucessivas reflexões nas camadas da

ionosfera e no solo, supondo terreno rugoso.

1.3 Estrutura

Esta dissertação encontra-se dividida em 5 capítulos, onde se apresentam não só as

bases teóricas, bem como algumas simulações gráficas e cálculos.

No capítulo 1 é feita a introdução, a par de um enquadramento histórico das

transmissões via rádio. São também traçados os objetivos do trabalho.

No capítulo 2, numa primeira abordagem, é considerada apenas a propagação em espaço

livre. Numa segunda fase, são demonstrados os efeitos das reflexões das ondas no solo. Por

ultimo, demonstra-se a reflexão em superficie rugosa e como esta influencia o sinal obtido na

receção.

O capítulo 3 recai sobre a propagação via ionosfera, estudando o seu modelo de

camadas, a constituição do plasma ionosférico e ainda as medidas que caracterizam a

propagação na ionosfera.

No capítulo 4 são aplicados os pressupostos teóricos dos capitulos 2 e 3, no cálculo da

atenuação numa comunicação entre dos pontos, em que o sinal, ao propagar-se, sofre

sucessivas reflexões na ionosfera e no solo.

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5

Por último, no capítulo 5, aborda-se o fenomeno do desvanecimento (fading) aplicado à

ionosfera, apresentando os seus diferentes tipos e a sua influência na transmissão do sinal,

bem como o tratamento adequado a cada um destes, fazendo uso de distribuições estatísticas.

No capítulo 6 são apresentadas as conclusões e considerações finais, bem como algumas

perspectivas de trabalho futuro.

1.4 Contribuições

As contribuições principais desta dissertação são:

O cálculo sistemático da atenuação sofrida por um sinal na reflexão na ionosfera;

O cálculo da atenuação sofrida por cada reflexão no solo;

O cálculo da atenuação devida ao fading devido às camadas ionosféricas;

A comparação da atenuação numa ligação com um salto e com dois saltos.

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6

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7

2. DISPERSÃO EM SUPERFICIES RUGOSAS

A transmissão entre dois pontos pode fazer-se por ondas guiadas através de linhas ou por

ondas em espaço livre. No caso geral, a propagação é um processo complexo, não se limitando

apenas a simples onda esférica emitida da antena emissora e interceptada pela abertura da

antena receptora. É necessário ter em conta alguns fenómenos, como é o caso da reflexão no

solo, na qual terão de ser levados em consideração fatores como a natureza do terreno,

abordados no decorrer deste capítulo.

Para se poder chegar a resultados úteis, há que decompor o processo em fenómenos

separados e de tratamento mais simples.

Nos sistemas de comunicações via ionosfera a longas distâncias, é frequente a

comunicação fazer-se através de sucessivas reflexões entre a ionosfera e a superfície da Terra.

Desta forma torna-se necessário estudar as características refletoras, não só da ionosfera

(capítulo 3) como da superfície da Terra.

Neste capítulo analisam-se as propriedades refletoras do solo, nomeadamente quando a

superfície é rugosa, caso em que é necessário corrigir os fatores de reflexão.

2.1 Propagação em espaço livre

Como primeira abordagem, considera-se apenas a propagação em espaço livre, isto é,

fora da presença de quaisquer obstáculos e num meio uniforme, homogéneo e isotrópico.

Admite-se que se tem uma onda esférica TEM centrada na antena emissora (zona distante da

antena).

2.1.1 Portência transmitida entre duas antenas

Seja 𝑃𝑒 a potência emitida pelo emissor. A densidade de fluxo de potência, em 𝑊𝑚−2, na

direção radial à distância 𝑑 é dada por

𝑆 = 𝑃𝑒

1

4𝜋𝑑2 (2.1)

Page 28: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

8

A potência, em 𝑊, recebida por uma antena de abertura 𝐴𝑒 vem dada por

𝑃𝑟 = 𝑃𝑒

𝐴𝑒

4𝜋𝑑2 (2.2)

Seja agora o ganho 𝐺𝑟 da antena de receção. Tem-se que

𝐺𝑟 = 4𝜋

𝐴𝑒

𝜆2 (2.3)

Supondo que a antena de emissão tem um ganho 𝐺𝑒, a potência recebida 𝑃𝑟 será dada

pela formula de Friis,

𝑃𝑟 = 𝑃𝑒𝐺𝑒𝐺𝑟

1

(4𝜋)2(𝜆

𝑑)2

(2.4)

em que 𝑃𝑒 é agora a potência entregue pelo emissor à respectiva antena.

A relação entre a potência recebida e a potência emitida, expressa em dB, é dada por

𝑃𝑟

𝑃𝑒[𝑑𝐵𝑊]= 𝐺𝑒[𝑑𝐵𝑖]

+ 𝐺𝑟[𝑑𝐵𝑖] − 21.984 + 20 log (𝜆

𝑑)

(2.5)

No caso de haver uma atenuação suplementar 𝐿𝑃 (absorção na atmosfera, chuva, etc),

vem

𝑃𝑟[𝑑𝐵𝑊] = 𝑃𝑒[𝑑𝐵𝑊] + 𝐺𝑒[𝑑𝐵𝑖] + 𝐺𝑟[𝑑𝐵𝑖] − 𝐿𝑓𝑠[𝑑𝐵]

− 𝐿𝑃[𝑑𝐵]

(2.6)

Page 29: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

9

2.1.2 Intensidade de campo

Nas condições anteriores, o fluxo de potência é dado, para um ganho de 𝐺𝑒 na direção do

recetor, por

𝑆 = 𝑃𝑒𝐺𝑒

1

4𝜋𝑑2=

1

2 𝐸𝐻 (2.7)

onde 𝐸 e 𝐻 são, respectivamente, as amplitudes do campo eléctrico e do campo magnético da

onda esférica TEM. Entre estes existe a relação

𝐸 = 𝑍0𝐻 (2.8)

em que 𝑍0 é a impedância de onda no ar (𝑍0 = 120𝜋 [Ω]), que se assume idêntica à do vazio,

para um meio em que o índice de refracção é n = 1. Então

𝐸 =

√60𝑃𝑒𝐺𝑒

𝑑=

1

𝑑

√𝑃𝑒𝐺𝑒

240𝜋 (2.9)

2.2 Reflexão especular

A reflexão no solo é um fenómeno que pode alterar fortemente o sinal recebido na

antena de receção, quando comparado com o sinal recebido em espaço livre. Neste ocorre a

interferência dos raios diretos com os raios refletidos, o que provoca oscilações no campo

elétrico. No caso da reflexão especular considera-se neste caso que o terreno como sendo liso,

tal como um espelho plano, em que todos os raios que incidirem com a mesma direção serão

refletidos com esse mesmo ângulo. A reflexão em superfícies lisas denomina-se reflexão

especular, representada na Figura 2.1.

Page 30: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

10

Figura 2.1 – Reflexão especular.

Para uma análise mais simples, considera-se a aproximação da terra plana.

Tem-se que:

O raio incidente, o raio refletido e a normal à superfície estão num mesmo plano;

𝜓 corresponde ao ângulo de chegada da onda incidente, denominado ângulo de fogo;

O ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência;

O índice de reflexão do solo em relação ao ar, 𝑛, é dado por 𝑛 = √ 𝑠′

0 , onde:

휀𝑠′ = 휀𝑠 − 𝑗

𝜎𝑠

𝑤 (constante dielétrica complexa do solo);

휀0 = 8,85 × 10−12 (permitividade elétrica do ar tomada igual à do vácuo);

Para o estudo da reflexão no solo é habitual decompor qualquer onda nas suas

componentes TE e TM em relação à superfície. Essas componentes podem também ser

designadas por vertical e horizontal, ou ainda, perpendicular e paralela em relação ao plano de

incidência (ver Figura 2.2).

Figura 2.2 – Reflexão em polarização vertical e horizontal (adaptado de [1]).

Page 31: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

11

A relação entre os campos incidente e refletido é dada pelos coeficientes de Fresnel, que

têm as seguintes expressões:

𝑃𝐻: Γℎ =

𝐸𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑜

𝐸𝑖𝑛𝑐𝑖𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒=

𝑠𝑖𝑛 𝜓 − √𝑛2 − 𝑐𝑜𝑠2𝜓

𝑠𝑖𝑛 𝜓 + √𝑛2 − 𝑐𝑜𝑠2𝜓 (2.10)

𝑃𝑉: Γ𝑣 =

𝐻𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑜

𝐻𝑖𝑛𝑐𝑖𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒=

𝑛2𝑠𝑖𝑛 𝜓 − √𝑛2 − 𝑐𝑜𝑠2𝜓

𝑛2𝑠𝑖𝑛 𝜓 + √𝑛2 − 𝑐𝑜𝑠2𝜓 (2.11)

O campo total é dado pela soma do campo do raio direto com o campo do raio refletido,

conforme ilustrado na Figura 2.3.

Figura 2.3 – Raio direto e raio refletido.

O campo total pode assim ser expresso através de

𝐸 = 𝐸𝑑 + 𝐸𝑟 = 𝐸𝑑[1 + |𝛤|exp (𝑗𝛥𝜙)] (2.12)

onde 𝛥𝜙, que representa a diferença de fase entre o raio direto e o raio refletido, sendo dado

por

𝛥𝜙 = 𝑎𝑟𝑔[𝛤] − 2𝜋

𝛥𝑟

𝜆 (2.13)

Page 32: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

12

com

𝛥𝑟 = 𝑟𝑟 − 𝑟𝑑 (2.14)

𝑟𝑑 = [𝑑2 + (ℎ2 − ℎ1)

2]12 (2.15)

𝑟𝑟 = [𝑑2 + (ℎ2 + ℎ1)

2]12 (2.16)

O campo direto em espaço livre 𝐸𝑑, em valor eficaz (r.m.s), é dado por

𝐸𝑑 =

√30𝑃𝑒𝐺𝑒

𝑑 (2.17)

Para polarização vertical, a expressão do campo total (2.12) é apenas válida na situação

usual em que ℎ1, ℎ2 ≪ 𝑑, uma vez que, neste caso, a soma das duas componentes deve ser

vectorial.

É possível verificar que o valor do campo total varia entre um máximo e um mínimo,

dados por

𝑀á𝑥𝑖𝑚𝑜𝑠: (

𝐸

𝐸𝑑)𝑚𝑎𝑥

= 1 + |Γ|, 𝑛 𝑝𝑎𝑟 (2.18)

𝑀í𝑛𝑖𝑚𝑜𝑠: (

𝐸

𝐸𝑑)𝑚𝑖𝑛

= 1 − |Γ|, 𝑛 𝑖𝑚𝑝𝑎𝑟 (2.19)

Os máximos e mínimos ocorrem quando exp(𝑗𝛥𝜙) = 1 ou exp(𝑗𝛥𝜙) = −1,

respetivamente. Os extremos do campo são dados por

2𝜋𝛥𝑟

𝜆− arg[𝛤] = 𝑛𝜋

(2.20)

Page 33: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

13

Desenvolvendo um pouco a expressão, obtém-se a distância para a qual os máximos

ocorrem

𝑑𝑛 =

4ℎ1ℎ2

(𝑛 − 1)𝜆 𝑐𝑜𝑚 𝑛 = 2, 3, … (2.21)

2.3 Reflexão difusa - Scattering

Em 2.2 analisou-se a reflexão considerando o terreno liso. No entanto, numa situação

realista, o terreno apresenta-se normalmente acidentado. Assim, ao atingirem uma superfície

não lisa, os raios electromagnéticos podem sofrer desvios, conforme ilustrado na Figura 2.4,

fenómeno a que se dá o nome de scattering.

Figura 2.4 – Reflexão difusa.

Quando a superfície é irregular, o ângulo de reflexão continua a ser igual ao de

incidência, porém uma vez que a normal muda ao longo da superfície, os raios são refletidos

em diferentes ângulos para quem olha a partir da superfície.

O estudo da dispersão por superfícies rugosas tem grande importância, uma vez que a

forma como um terreno dispersa a energia é característica da natureza desse próprio terreno,

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14

sendo fundamental na caracterização de terrenos feita à distância, como por exemplo, a partir

de aviões ou satélites.

O estudo deste fenómeno nem sempre é simples, principalmente em casos de terreno

fortemente irregular. Os métodos que existem atualmente classificam-se em duas classes:

Métodos perturbacionais – aplicáveis a terrenos de pouca rugosidade;

Métodos de Kirchoff – aplicáveis a terrenos com ondulação lenta.

Este capítulo incide apenas sobre os métodos perturbacionais.

2.3.1 Critério de Rayleigh

O critério de Rayleigh permite averiguar a possibilidade de interferência entre si de raios

paralelos provenientes da reflexão de uma onda plana nas várias irregularidades do terreno.

Este critério diz que o terreno é liso sempre que se verificar a seguinte condição

4𝜋

𝜆ℎ𝑒 sin𝜓 ≪ 𝜋 (2.30)

em que 4𝜋

𝜆ℎ𝑒 sin𝜓 = 𝑔, definido como parâmetro de Rayleigh, traduz a diferença de fase

referente a quaisquer dois pontos do terreno. O parâmetro ℎ𝑒 corresponde à rugosidade do

terreno. Em suma, segundo o critério de Rayleigh, um terreno comportar-se-á como liso se a

amplitude das suas rugosidades for pequena em termos de comprimento de onda.

Assim, partindo da expressão do campo (2.12) e corrigindo para o caso da superfície ser

rugosa, obtem-se

𝐸 = 𝐸𝑑[1 + |𝛤|𝑒−𝑔2𝑒𝑗∆𝜙] (2.31)

2.3.2 Potência dissipada pelo terreno rugoso

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15

Considere-se no terreno um elemento de superfície 𝛿𝑆, conforme representado na Figura

2.5.

Figura 2.5 – Elemento de superfície 𝛿𝑆.

Pode calcular-se a potência recebida no ponto de observação devida ao elemento de

superfície 𝛿𝑆 do terreno rugoso iluminado por uma fonte 𝐸. Esta é então dada por,

𝛿𝑃𝑠 = 𝑃𝑒𝐺𝑒(𝑒)

1

4𝜋𝑟𝑖2𝜎(𝑖, 𝑠)𝛿𝑆

1

4𝜋𝑟𝑠2𝐴𝑟(𝑟) (2.32)

onde 𝜎(𝑖, 𝑠) é a secção eficaz de dispersão por unidade de área.

A potência total recebida no ponto de observação devida à dispersão no terreno rugoso,

pode ser obtida por integração ao longo de uma certa área A, podendo ser simbolicamente

expressa através de

𝑃𝑠 = ∫ 𝛿𝑃𝑠

𝐴

(2.33)

2.3.3 Secção eficaz de dispersão por unidade de área

A determinação desta secção não é um processo simples, dependendo de um conjunto

de fatores que devem ser definidos à priori. Dada a natureza complexa do cálculo, no presente

trabalho apresentam-se apenas os resultados obtidos por Barrick [11], válidos apenas nas

seguintes circunstâncias:

Conhecida a descrição estatística da altura do terreno 𝑧(𝜌);

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16

Os desníveis do terreno são pequenos, havendo apenas dispersão de primeira ordem;

A frequência é suficientemente elevada (𝜆 ≪) para que se possam utilizar os

resultados da ótica geométrica sem grande erro.

A secção eficaz de dispersão vêm então dada por

𝜎(𝑖, 𝑠) =

𝑠𝑒𝑐4𝛾

𝑠2𝑒𝑥𝑝 [−

𝑡𝑎𝑛2𝛾

𝑠2] |Γ𝜉𝜂(𝑖)|

2 (2.34)

onde,

𝑠 =2ℎ𝑒

𝑙, define a rugosidade do terreno (s ≪ suave, s ≫ acidentado);

𝑡𝑎𝑛2𝛾 =

𝑠𝑖𝑛2𝜃𝑖 + 𝑠𝑖𝑛2𝜃𝑠 − 2𝑠𝑖𝑛𝜃𝑖𝑠𝑖𝑛𝜃𝑠𝑐𝑜𝑠∅𝑠

(𝑐𝑜𝑠𝜃𝑖 + 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑠)2

; (2.35)

|Γ𝜉𝜂(𝑖)|:módulo dum coeficiente de reflexão resultante da combinação linear dos coef. F PV e PH;

∅𝑠: ângulo de azimute.

2.3.3.1 Simplificações

A fim de obter uma expressão simplificada da secção eficaz de dispersão, adotam-se

algumas simplificações:

O terreno é plano, isotrópico e uniforme;

As antenas emissora e receptora estão à mesma altura;

A distância entre as antenas é muito superior à sua altura (𝑑 ≫ ℎ);

As expressões do campo distante são utilizáveis quer para os campos radiados pelas

antenas quer para os campos dispersados no terreno.

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17

Admitindo ainda que

|Γ𝜉𝜂| ≃ 1 (2.36)

e, uma vez que 𝜎 só toma valores apreciáveis quando

𝑡𝑎𝑛2𝛾~ 𝑠2 (2.37)

tem-se, para o caso em que o terreno é pouco rugoso

𝑡𝑎𝑛2𝛾 ≪ 1 (2.38)

e, portanto

𝑠𝑒𝑐2𝛾 = 1 + 𝑡𝑎𝑛2𝛾 ≃ 1 (2.39)

A expressão simplificada para o cálculo da secção eficaz de dispersão vem então dada por

𝜎 ≃

1

𝑠2𝑒𝑥𝑝 [−

𝑡𝑎𝑛2𝛾

𝑠2] (2.40)

2.3.4 Área efetiva de dispersão

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18

A área efetiva de dispersão (AED) delimita o terreno que efetivamente contribui para a

potencia recebida na antena receptora por dispersão. Na Figura 2.6 representa-se de forma

esquemática essa área.

Figura 2.6 – Área efetiva de dispersão.

O parâmetro 𝛿𝑃𝑀 corresponde à contribuição máxima para a potência recebida. Para o

caso em que se as alturas das antenas são iguais, esse valor corresponde ao centro do sistema

de eixos da Figura 2.6.

Importa então determinar os parâmetros 𝑦𝑡 e 𝑥𝑡 que delimitam a área. No seu cálculo,

considera-se um terreno pouco rugoso (s<<).

Começando por determinar a dimensão transversal da área efetiva de dispersão, 𝑦𝑡,

define-se a AED como a área do terreno dentro da qual se tem

𝛿𝑃𝑠

𝛿𝑃𝑀 ≥ 𝑒𝑥𝑝[−𝜏2] (2.41)

para um determinado valor de 𝜏.

Partindo de (2.35) e sabendo que 𝜃𝑠 = 𝜃𝑖, tem-se

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19

𝑡𝑎𝑛2𝛾 = 𝑡𝑎𝑛2𝜃𝑖

1 − 𝑐𝑜𝑠∅𝑠

2 (2.42)

Tendo em conta que ∅𝑠 = 2𝑏, cos∅𝑠 é dado por

cos∅𝑠 = cos2 𝑏 − sen2 𝑏 (2.43)

em que

cos 𝑏 =

𝑑2⁄

√(𝑑2)2

+ 𝑦2

(2.44)

sen𝑏 =𝑦

√(𝑑2)

2

+ 𝑦2

(2.45)

Logo, substituindo em (2.43), vem

cos∅𝑠 = [1 − (𝑦

𝑑2⁄)

2

]

2

≈ 1 − 2(𝑦

𝑑2⁄)

2

(2.46)

Substituindo ainda este resultado em (2.42) e sabendo que 𝑡𝑎𝑛2𝜃𝑖 = (𝑑

2⁄

ℎ)2

, vem

𝑡𝑎𝑛2𝛾 =(𝑑 2⁄ )

2

ℎ2

𝑦2

(𝑑 2⁄ )2 = (

𝑦

ℎ)2

(2.47)

Page 40: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

20

Recorrendo agora a (2.32), tem-se então

𝛿𝑃𝑠

𝛿𝑃𝑀= 𝑔′

𝑒 𝑔′𝑟

(𝑑 2⁄ )4

𝑟4𝑒𝑥𝑝 [−

1

𝑠2(𝑦

ℎ)2

] (2.48)

Comparando esta expressão com a (2.41), conclui-se que

𝜏 =

1

𝑠

𝑦

ℎ ⟹ 𝑦𝑡 = 𝑠 𝜏 ℎ (2.49)

Passando agora ao cálculo da dimensão longitudinal da AED, 𝑥𝑡, considera-se novamente

a expressão (2.41). Neste caso, tendo ∅𝑠 = 0, a expressão de 𝑡𝑎𝑛2𝛾 é dada por

𝑡𝑎𝑛2𝛾 =

sin𝜃𝑖 + sin𝜃𝑠

(𝑐𝑜𝑠𝜃𝑖 + 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑠)2

(2.50)

Procedendo a um conjunto de manipulações da expressão através da observação da

Figura 2.12, à semelhança do que foi feito para 𝑦𝑡 , vem

𝑡𝑎𝑛2𝛾 =

ℎ 𝑥

(𝑑2)

2

− 𝑥2

(2.51)

Recorrendo a (2.32) para obter 𝛿𝑃𝑠

𝛿𝑃𝑀 e comparando com a expressão (2.41), obtém-se

𝑥𝑙 = −ℎ

2 𝜏 𝑠+ √(

2 𝜏 𝑠)2

+ (𝑑

2)2

(2.52)

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21

Se ℎ

2 𝜏 𝑠≫ 𝑑 , o terreno é quase liso. A expressão de 𝑥𝑙 vem então

𝑥𝑙 = 𝜏 𝑠 (

𝑑

2)2

(2.53)

Se ℎ

2 𝜏 𝑠≪ 𝑑 , o terreno é pouco liso. A expressão de 𝑥𝑙 vem então

𝑥𝑙 =

𝑑

2−

2 𝜏 𝑠 (2.54)

2.3.5 Potência dispersa pelo terreno

Após a obtenção das expressões anteriores, é possível finalmente calcular a potência

total recebida por dispersão no terreno, dada pela expressão (2.33).

Uma vez que se pretende fazer uma estimativa da perturbação introduzida pelo terreno

na propagação entre duas antenas, faz todo o sentido calcular a relação 𝑃𝑠

𝑃𝑑⁄ . 𝑃𝑑 é a potência

associada ao raio direto, dada pela expressão (2.4). Por sua vez, a potência dispersa pelo

terreno, 𝑃𝑠, é dada por

𝑃𝑠 =

𝑃𝑒

(4𝜋)3𝜆2 ∫𝐺𝑒 𝐺𝑟 𝜎

1

𝑟𝑖2

1

𝑟𝑠2𝛿𝑆 (2.55)

A relação 𝑃𝑠

𝑃𝑑⁄ vem então

𝑃𝑠

𝑃𝑑=

𝑑2

4𝜋∫

1

𝑟𝑖2 𝑟𝑠

2 𝜎 𝛿𝑆 (2.56)

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22

Definindo as seguintes funções auxiliares

𝑑+ =𝑑

2+ 𝑥 ; 𝑑− =

𝑑

2− 𝑥

𝑟𝑖2 = (𝑑+)2 + ℎ2 ; 𝑟𝑠

2 = (𝑑−)2 + ℎ2

ℎ ≪ 𝑑+, 𝑑−

𝑟𝑖 ≃ 𝑑+ ; 𝑟𝑠 ≃ 𝑑−

(2.57)

resulta,

1

𝑟𝑖2 𝑟𝑠

2=

1

((𝑑2)

2

− 𝑥2)

2 (2.58)

Substituindo na expressão (2.56), vem

𝑃𝑠

𝑃𝑑

= 𝑑2

4𝜋

1

𝑠2∫

1

((𝑑2)

2

− 𝑥2)

2

𝑥𝑙

−𝑥𝑙

𝑒𝑥𝑝

[

−1

𝑠2

ℎ2𝑥2

((𝑑2)

2

− 𝑥2)

2

]

𝑑𝑥 . ∫ 𝑒𝑥𝑝 [−1

𝑠2(𝑦

ℎ)

2

]𝑦𝑡

−𝑦𝑡

𝑑𝑦 (2.59)

O integral em 𝑦 pode ser substituído por

∫ 𝑒𝑥𝑝 [−𝑤

𝑎2]+∞

−∞𝑑𝑤 = √𝜋𝑎 = √𝜋 𝑠 ℎ (2.60)

Considerando ainda dois parâmetros adimensionais

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23

𝑢 =𝑥

𝑑2⁄ ; 𝑡 =

1

𝑠

ℎ𝑑

2⁄ (2.61)

em que o parâmetro 𝑡 representa um indicador do nível de rugosidade do terreno, uma vez

que este é inversamente proporcional a 𝑠. Obtém-se finalmente uma expressão simplificada

da relação 𝑃𝑠

𝑃𝑑⁄

𝑃𝑠

𝑃𝑑=

𝑡

√𝜋∫

𝑒𝑥𝑝 [−𝑡2𝑢2

(1 − 𝑢2)2]

(1 − 𝑢2)2

1

−1

𝑑𝑢 (2.62)

2.3.6 Simulações numéricas

Nesta secção realizam-se duas simulações numéricas, apresentadas nas figuras que se

seguem. A primeira estuda a contribuição das diferentes regiões do terreno para a potência

dispersa, que está longe de ser uniforme. Na realidade, a distribuição dessa contribuição varia

com a rugosidade do terreno. Para a obtenção de resultados práticos, simulou-se a função

integrada de (2.62),

𝑓(𝑡, 𝑢) = 𝑡

√𝜋

𝑒𝑥𝑝 [−𝑡2𝑢2

(1 − 𝑢2)2]

(1 − 𝑢2)2

(2.63)

onde se fez variar o valor do parâmetro 𝑡 (2.61), tomando os valores 0.25, 0.5, 1, 2 e 5. Os

resultados encontram-se representados na Figura 2.7.

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24

Figura 2.7 – Representação de f(u), com parâmetro t.

A segunda simulação é referente a 𝜎(𝑢)

𝜎𝑀⁄ , em que 𝜎𝑀 corresponde ao valor máximo

da secção eficaz de dispersão. Por inspecção de (2.40) é fácil verificar que 𝜎 toma o seu valor

máximo quando 𝑡𝑎𝑛 𝛾 = 0. Então, 𝜎(𝑢)

𝜎𝑀⁄ vem dado por

𝜎(𝑢)

𝜎𝑀 = 𝑒𝑥𝑝 [−

𝑡2𝑢2

(1 − 𝑢2)2] (2.64)

onde o parâmetro 𝑡 toma os valores 0.25, 1 e 5. Os resultados desta simulação encontram-se

apresentados na Figura 2.8.

Page 45: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

25

Figura 2.8 – Representação de 𝜎(𝑢)

𝜎𝑀⁄ , com parâmetro t.

Analisando a Figura 2.7 observa-se que, para valores elevados de 𝑡 (terreno liso), as

contribuições para o integral (2.62) centram-se no ponto 𝑢 = 0, que corresponde ao ponto

especular. Para o caso de valores de 𝑡 < 1, a região que está na vizinhança das antenas é a que

mais contribui para o integral. Com base neste resultados pode então classificar-se os terrenos

em dois tipos, consoante os valores te 𝑡, terreno refletor (𝑡 > 1) e terreno difusor (𝑡 < 1).

Conclui-se ainda que, mesmo que o ponto especular não seja visível e uma das antenas, pode

ter-se uma interferência do solo por dispersão do terreno na vizinhança das duas antenas.

O mesmo se conclui no caso da Figura 2.8, concentração da contribuição do terreno em

torno do ponto especular quando o terreno é liso e junto das antenas quando o terreno é mais

rugoso.

Está-se agora em condições de estudar as características refletoras da ionosfera, que se

fará no capítulo seguinte.

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27

3. COMUNICAÇÕES VIA IONOSFERA

O objetivo principal desta dissertação são as comunicações rádio a longa distância via

ionosfera. As ondas rádio, sobretudo as denominadas ondas curtas, são essenciais para

comunicar a grandes distâncias. A propagação destas ondas pode porém ser afetada pela

ionosfera, uma região da atmosfera terrestre que se estende da altitude de aproximadamente

50 km até cerca de 1000 km. O nome desta região tem origem na existência de iões nessa

região da atmosfera. No entanto, os principais responsáveis pelos efeitos da ionosfera nas

transmissões eletromagnéticas são os eletrões livres, presentes em quantidades iguais às dos

iões.

A ionosfera tem a capacidade de refletir e de absorver as ondas eletromagnéticas,

dependendo da frequência destas e do grau de ionização da região. Em termos de

comunicações rádio, a característica mais importante da ionosfera é a sua capacidade de

refletir as ondas rádio. Entre o emissor e o receptor, a onda pode refletir-se nas camadas da

ionosfera e na superfície da Terra ao longo de milhares de quilómetros, possibilitando a

transmissão intercontinental de ondas curtas. A absorção é um dos principais responsáveis

pela redução da amplitude de um sinal rádio ao atravessar a ionosfera.

Figura 3.1 – Propagação via reflexão na ionosfera.

Page 48: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

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3.1 Estrutura da ionosfera

A ionosfera pode ser estruturada em camadas, como ilustrado na Figura 3.2. Estas

camadas são individualizadas pela densidade de eletrões e pela frequência de colisões.

Considerando que o sol e a principal fonte de ionização, observa-se na Figura que as camadas

variam do dia para a noite.

Figura 3.2 – Estratificação da ionosfera (adaptado de [12]).

Nesta secção estudam-se as principais camadas da ionosfera.

3.1.1 Camada D

A mais baixa de todas as camadas da ionosfera, situando-se entre os 50 km e os 80 km, é

a camada D. Esta camada é a que apresenta maior absorção de ondas rádio HF e MF durante o

período da sua existência, praticamente apenas durante as horas diurnas, desaparecendo com

o por do sol. É também a mais desconhecida de todas as camadas ionosféricas e a que menos

grau de ionização apresenta.

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3.1.2 Camada E

A camada E existe a uma altitude entre os 80 km e os 100-140 km. Esta camada só existe

durante as horas diurnas, no entanto, embora muito raramente, podem observar-se vestígios

seus durante a noite. O máximo de atividade da camada acontece quando os raios solares

incidem perpendicularmente à superfície da mesma, ou seja, por volta do meio dia.

Esta camada é conhecida por possibilitar comunicações em frequências acima de 50MHz

a distâncias que podem ultrapassar facilmente os 2000Km. Assim, estamos na presença de

uma camada E esporádica. Este fenómeno acontece quando, durante determinado período de

tempo (especialmente na altura da primavera), existem zonas fortemente ionizadas por

condições anómalas de atividade solar, possibilitando a reflexão de sinais de frequências muito

elevadas. A altitude a que se situa a nuvem ionizada e a densidade da ionização determinam a

distância do salto para um determinado ângulo de incidência. Um dos sinais de que estamos

perante uma E esporádica é o aparecimento de estações de rádio em FM que estão localizadas

por vezes a mais de 1500km.

3.1.3 Camada F2

A mais alta das camadas ionosféricas, existindo entre os 200 km e os 400 km, é a camada

F2. Esta camada representa o principal meio de reflexão ionosférica para comunicações em

ondas curtas a distancias muito elevadas, distância esta que pode variar ao longo do dia, com a

época do ano e ainda com o ciclo solar. Estas variações são provocadas pelo grau de ionização

assim como também com a altitude da camada. A camada F2 aparece ao nascer do sol quando

a camada F se decompõe para dar origem às camadas F1 e F2. Nesse momento é notório um

aumento brusco da frequência critica de trabalho, que como se verá adianta, é a frequência a

partir da qual deixa de haver reflexão. As propriedades refletoras atingem o seu máximo

aproximadamente quando o sol atinge a máxima elevação no horizonte, altura em que depois

se inverte a tendência e começam a diminuir por via de uma diminuição da ionização, que

ocorre até a camada F2 se fundir com a camada F1 e dar origem a uma só camada, a "F" como

já referido.

3.1.4 Camada F1

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30

A camada F1 ocorre logo abaixo da camada F2 e também só existe durante as horas

diurnas. Por vezes esta camada pode servir de refletora a determinadas frequências, mas

normalmente as ondas electromagnéticas que atravessam a camada E também atravessam

esta, acabando por se refletir na camada F2. Habitualmente esta camada provoca uma

absorção adicional nos sinais que atravessam a camada E antes de se refletirem na F2.

3.2 Plasma ionosférico

A ionosfera é composta por um plasma maioritariamente frio. Este plasma apresenta

variações na densidade de eletrões, dependendo da quantidade de energia eletromagnética

recebida do sol. Assim sendo, como já referido, a hora do dia, estação do ano e ciclo solares

são fatores determinantes no estado do plasma. O ciclo solar designa a alteração periódica na

atividade solar, podendo provocar alterações no clima e nas transmissões via ionosfera.

Figura 3.3 – Representação de plasma.

3.2.1 Densidade de eletrões

A ionização dos átomos neutros da ionosfera dá-se basicamente através de duas

fontes, dos fotões da radiação solar e das partículas de alta energia provenientes do cinturão

de Van Hallen, sendo a primeira a mais importante. Conhecendo o fluxo solar, a absorção e a

eficiência de ionização dos vários constituintes, é possível calcular as densidades de iões e

eletrões na ionosfera.

A Figura 3.4 ilustra como variam os valores da densidade de eletrões em função da

altitude.

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31

Figura 3.4 – Densidade de eletrões para as várias camadas da ionosfera [19].

É possível observar na figura que a densidade de eletrões é um parâmetro que

contribui fortemente para a estratificação da ionosfera em camadas.

3.2.1.1 Modelos teóricos

A determinação da densidade de eletrões da ionosfera 𝑁𝑒 tem sido alvo de grandes

estudos teóricos e práticos. As variações sofridas por este parâmetro durante o dia tornam

difícil o seu cálculo preciso.

Existem vários modelos para a determinação de uma expressão analítica que descreva

𝑁𝑒. Uma das maiores contribuições neste âmbito foi desenvolvida por Chapman,

estabelecendo uma expressão matemática baseada na variação da densidade de eletrões em

função da altura e inclinação do sol. Seguiram-se a este outros modelos a fim de simplificar a

expressão matemática, dos quais se destacam o modelo linear, o modelo parabólico e o

modelo exponencial.

3.2.1.1.1 Modelo de Chapman

No modelo de Chapman, a densidade de eletrões 𝑁𝑒 é dada por

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𝑁𝑒 = 𝑁𝑒𝑚𝑎𝑥

𝑒(1−𝜉−sec(𝑋)𝑒−𝜉

2 )

(3.1)

em que

𝑁𝑒𝑚𝑎𝑥: densidade de eletrões máxima [eletrões/cm3];

𝑋: ângulo que o sol faz com a vertical da terra;

𝜉 =ℎ − ℎ𝑚

𝐻;

ℎ: altura;

ℎ𝑚: altura correspondente a 𝑁𝑒𝑚𝑎𝑥;

𝐻 =𝑅𝑇

𝑀𝑔;

𝑅: constante universal dos gases;

𝑇(ℎ): função da temperatura com a altura [o𝐾];

𝑀:massa de um quilograma − mol;

𝑔: aceleração gravitica.

A Figura 3.5 ilustra a obtenção do ângulo 𝑋

Figura 3.5 – Ângulo 𝑋 relativo à vertical (adaptado de [17]).

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Este modelo tem em conta os seguintes pressupostos:

Atmosfera é composta apenas por um gás;

A radiação emitida pelo sol é monocromática;

A densidade atmosférica diminui exponencialmente com a altura;

A radiação solar é exponencialmente atenuada;

A Terra é plana, a fim simplificar a geometria.

3.2.1.1.2 Modelo Linear

No sentido de simplificar o modelo de Chapman, é frequente recorrer-se ao modelo

linear. O perfil deste modelo está representado na Figura 3.6.

Figura 3.6 – Densidade de eletrões linear (adaptado de [1]).

A densidade de eletrões é dada pela expressão

𝑁𝑒 − 𝑁0 = 𝑎(ℎ − ℎ0) (3.2)

em que

𝑎: declive de altura constante de N;

ℎ0: altura onde se inicia a ionosfera [𝑘𝑚].

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3.2.1.1.3 Modelo Exponencial

Um outro modelo simplificado, embora mais realista, é o modelo exponencial. Considera-se este

com o perfil representado na Figura 3.7.

Figura 3.7 – Densidade de eletrões exponencial.

A densidade de eletrões é dada pela expressão

𝑁𝑒 = 𝑁𝑟𝑒

±ℎ−ℎ𝑟2𝐻 (3.3)

em que ℎ𝑟 corresponde à altura em que 𝑁𝑒 = 𝑁𝑟, como se pode ver na figura. O sinal +

representa a base da ionosfera e o sinal – o topo desta.

3.2.1.1.4 Modelo Parabólico

Finalmente, considera-se o modelo parabólico. Quando 𝑋 e 𝜉 tomam valores muito

pequenos, a expressão da densidade de eletrões toma a forma parabólica representada na

Figura 3.8.

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35

Figura 3.8 – Densidade de eletrões parabólica (adaptado de [1]).

A distância da base ao nível da densidade máxima é 𝑦𝑚 = 2𝐻. A densidade de eletrões é

dada expressão seguinte

𝑁𝑒 = 𝑁0𝑒

12(12𝜉2)

= 𝑁0 {1 − (ℎ − ℎ0

2𝐻)2

} (3.4)

3.2.2 Frequência de plasma

Quando há uma separação de eletrões livres e iões, ou seja, quando se dá a ionização das

partículas dos gases eletricamente neutros que constituem a ionosfera, origina-se uma

frequência de oscilação, designada por frequência de plasma. Esta está intimamente

relacionada com as características refletoras das camadas, quanto maior a frequência de

plasma, maior a capacidade de reflexão.

Figura 3.9 – Confinamento de partículas carregadas por um campo magnético [21].

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A frequência de plasma é dada por

𝜔𝑝 = √𝑞2𝑁𝑒

𝑚𝑒휀0 (3.5)

ou seja

𝑓𝑝 =𝜔𝑝

2𝜋=

1

2𝜋√

𝑞2𝑁𝑒

𝑚𝑒휀0 (3.6)

em que

𝑞 = −1,59 × 1019𝐶 (carga do eletrão);

𝑚𝑒 = 9,107 × 10−31𝐾𝑔 (massa do eletrão);

휀0 =1

36𝜋× 10−9 𝐹 𝑚⁄ (constante dielétrica do meio).

(3.7)

Uma vez que esta expressão só depende de 𝑁𝑒, pode utilizar-se a seguinte aproximação

𝑓𝑝 =𝜔𝑝

2𝜋= √80.55𝑁𝑒 (3.8)

A frequência de plasma pode ser medida recorrendo ao uso de ionosondas, dispositivos

cuja função é mapear as camadas da ionosfera. A Figura 3.10 ilustra a variação de frequência

de plasma em função da altitude e da hora do dia, durante o mês de Abril de 2015, medido

pela ionosonda do observatório de Ebro em Espanha [16].

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Figura 3.10 – Variação da frequência de plasma em função da altitude e hora do dia [16].

Analisando a figura é possível verificar que, no período das 07:00 às 21:00

sensivelmente, e para uma altitude de 300 km, a frequência de plasma toma os seus valores

mais elevados, oscilando entre os 7 MHz e os 9 MHz. Esta altitude corresponde à camada F2,

que atinge o valor máximo das suas características refletoras por volta das 12:00, como se

pode verificar na figura.

De notar ainda as regiões em branco do lado esquerdo e direito, que correspondem às

horas noturnas das camadas D, E e F1. Nestas duas zonas não existe nenhuma frequência de

plasma medida, pois para estas altitudes o processo de ionização deixa de se fazer sentir

durante a noite.

3.3 Propagação na ionosfera

Ao atravessar a interface entre duas camadas ionosféricas, as ondas eletromagnéticas

irão sofrer refração. Depois de várias camadas atravessadas ocorre uma curvatura de tal forma

que se dá o retorno do raio para a terra. Este corresponde ao mecanismo que possibilita a

transmissão de sinais a longa distância. Quando o comprimento de onda e muito grande,

praticamente não há penetração de energia na ionosfera. Nesta situacao, a propagacao

processa-se no guia de ondas formado pela superfície da terra e o limite inferior da ionosfera

(camada D).

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As ondas transferem aos eletrões uma quantidade considerável de energia. Esta energia

faz com que os componentes do plasma ionosférico em movimento continuo sejam afetados

por um processo de colisão entre os eletrões e partículas mais pesadas. Nas camadas de maior

altitude há um maior grau de ionização e uma densidade mais baixa, pelo que o número de

colisões é menor, o que se traduz em fracas perdas por atravessamento das camas superiores.

Quanto maior a frequência de colisão 𝜗, maior a atenuação.

3.3.1 Constante de propagação num plasma ionosférico

Para a obtenção da constante de atenuação 𝛼, considerar-se-á inicialmente um modelo

muito simples, em que se despreza a ação do campo magnético e as perdas por colisão, sendo

a força devido ao campo elétrico a única a exercer atenuação sobre os eletrões.

A equação fundamental da dinâmica dos eletrões é dada por

𝑚𝑒

𝑑𝑣𝑒

𝑑𝑡= 𝑞𝐸 (3.11)

em que 𝑚𝑒 e 𝑞 tomam os valores referidos em (3.7).

A densidade de corrente de convecção, em 𝐴𝑚−2, criada nas moléculas de gases é dada

por

𝐽 = 𝑁𝑞𝑣𝑒 (3.12)

em que 𝑁 representa a densidade de eletrões do plasma, expressa em 𝑒𝑙𝑒𝑡𝑟õ𝑒𝑠/𝑚3.

Substituindo (3.12) em (3.11), retirando a velocidade, tem-se

𝐽 = −𝑗𝐸

𝑁𝑒2

𝜔𝑚𝑒 (3.13)

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Tem-se agora a equação de Maxwell

∇ × H = 𝐽 + 𝑗𝜔휀0𝐸 (3.14)

Substituindo (3.13) em (3.14), obtém-se

∇ × H = 𝑗𝜔휀0𝐸 (1 −

𝑁𝑒2

𝜔2𝑚𝑒휀0 − 𝑗𝜗𝜔𝑚𝑒휀0) (3.15)

A partir da equação (3.15), é possível definir a constante dielétrica equivalente para o

plasma ionosférico, dada por

휀𝑒𝑞 = 휀0 (1 −

𝑁𝑒2

𝜔2𝑚𝑒휀0 − 𝑗𝜗𝜔𝑚𝑒휀0) (3.16)

Uma vez que a frequência de plasma é dada por (3.5), tem-se para 휀𝑒𝑞 a seguinte

expressão

휀𝑒𝑞 = 휀0 (1 −

𝜔𝑝2

𝜔(𝜔 − 𝑗𝜗)) (3.17)

Sabendo que 휀𝑒𝑞 = 휀𝑟휀0 e que a constante de propagação é dada por

𝑘 = 𝜔√𝜇0휀𝑟휀0 (3.18)

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substituindo (3.17) em (3.18) obtém-se a correspondente constante de propagação para um

plasma ionosférico

𝑘 =𝜔

𝑐√1 −

𝜔𝑝2

𝜔(𝜔 − 𝑗𝜗) (3.19)

De notar que:

Se 𝜔 > 𝜔𝑝, 𝑘 é real, ou seja, ao penetrar na camada ionosférica a onda irá propagar-

se sem ser atenuada;

Se 𝜔 < 𝜔𝑝, 𝑘 toma valores imaginários, tendo-se portanto uma onda evanescente;

Se 𝜔 = 𝜔𝑝, 𝑘 = 0. A esta situação dá-se o nome de frequência crítica. Para 𝑘 = 0 não

há propagação dentro da camada ionosférica. A onda é então refletida para a

superfície terrestre.

A expressão de 𝑘 no do plano complexo é dada por 𝑘 = 𝛽 − 𝑗𝛼, em que 𝛽 é a

componente real e corresponde à variação de fase e 𝛼 é a componente imaginaria e

corresponde à constante de atenuação da ionosfera.

Partindo da equação (3.19), tem-se agora

𝑘 =𝜔

𝑐√1 −

𝜔𝑝2(𝜔2 + 𝑗𝜔𝜗)

𝜔4 + 𝜔2𝜗=

𝑤

𝑐√1 −

𝜔𝑝2

𝜔2 + 𝜗2− 𝑗

𝜔𝑝2𝜗

𝜔(𝜔2 + 𝜗2) (3.20)

Usando o desenvolvimento em série de Taylor de √1 + 𝑥 com a forma √1 + 𝑥 ≈ 1 +𝑥

2−

𝑥2

8, e recorrendo à aproximação de primeira ordem, tem-se:

𝑘 =𝜔

𝑐√1 −

𝜔𝑝2

2(𝜔2 + 𝜗2)− 𝑗

𝜔𝑝2𝜗

2𝜔(𝜔2 + 𝜗2)= 𝛽 − 𝑗𝛼 (3.21)

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41

A constante de atenuação 𝛼 é então dada por

𝛼 =

𝜔𝑝2𝜗

2𝑐(𝜔2 + 𝜗2) (3.22)

3.4 Parâmetros característicos da ionosfera

Utilizando um sinal rádio é possível realizar medidas que permitem caracterizar a

ionosfera. Estas medidas são muito úteis para comunicações de onda curta, uma vez que

possibilitam a previsão do trajeto do sinal emitido. Existem vários parâmetros para caracterizar

a ionosfera, nomeadamente a altura virtual ℎ′, a frequência critica 𝑓𝑐 e a máxima frequência

utilizável 𝑀𝑈𝐹.

3.4.1 Altura Virtual

No estudo da propagação na ionosfera, o traçado dos raios é uma ferramenta muito

usada e de grande utilidade. Uma onda na banda de frequências HF, enquanto não penetra a

ionosfera, pode-se considerar-se que se propaga praticamente em linha reta. Como já foi

referido, quando as ondas eletromagnéticas penetram a ionosfera sofrem uma curvatura

devido às variações da densidade de eletrões do plasma ionosférico. Essa trajetória encontra-

se ilustrada na Figura 3.11.

Figura 3.11 – Altura virtual de uma camada ionosférica (adaptado de [19]).

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A reflexão ocorre num plano, a uma altura maior do que a que realmente é atingida pela

onda. Extrapolando linearmente as trajetórias da onda incidente e refletida, estas convergem

num ponto (𝐴) à altitude de reflexão aparente ℎ′, designada por altura virtual da camada

ionosférica. Esta altura pode ser obtida medindo o tempo de trânsito ∆𝑡 de um impulso

eletromagnético emitido verticalmente e devolvido à Terra por reflexão na camada

ionosférica. Uma vez que o sinal da onda rádio viaja à velocidade da luz, a altura virtual ℎ′

pode ser calculada através da expressão

ℎ′ =

3 × 108 × ∆𝑡

2 (3.23)

3.4.2 Frequência crítica

A frequência crítica 𝑓𝑐 representa o limite superior da frequência de uma onda rádio que

resulta no seu regresso à Terra. É portanto a frequência a partir da qual uma determinada

camada da ionosfera deixa de refletir um sinal, para uma incidência perpendicular à superfície

da Terra. Se a frequência do sinal emitido for maior que a frequência crítica, a onda não

retorna para a Terra, seguindo para o espaço.

Esta frequência é dada por

𝑓𝑐 = √80.55𝑁𝑒𝑚𝑎𝑥

(3.24)

3.4.3 Máxima frequência utilizável

A máxima frequência utilizável (𝑀𝑈𝐹) é definida como sendo a maior frequência que

permitirá a operação aceitável de um serviço rádio entre dois terminais em determinado

instante do tempo, ou seja, é o valor máximo da frequência na qual uma onda se pode

propagar por reflexão na ionosfera. Esta é dada pela expressão

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𝑀𝑈𝐹 = 𝑓𝑐 sec 𝜃 (3.25)

em que 𝜃 é o ângulo de incidência da onda curta estabelecido entre o raio desta e o ângulo de

zénite, representado na Figura 3.13.

Figura 3.12 – Representação do ângulo 𝜃.

Existe ainda a frequência ótima de trabalho (𝑂𝑊𝐹), que geralmente é expressa por

𝑂𝑊𝐹 = 0.85𝑀𝑈𝐹 (3.26)

Neste capitulo abordou-se um conjunto de tópicos necessários ao estudo de uma ligação

via ionosfera. Nos próximos capítulos procede-se ao cálculo da atenuação de um sinal quando

se reflete na ionosfera.

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4. CÁLCULO DA ATENUAÇÃO NUMA LIGAÇÃO VIA IONOSFERA

Apesar de já pouco utilizada, a transmissão de sinal via ionosfera é ainda um tema com

interesse de estudo, uma vez que em caso de catástrofe natural em que todos os outros meios

de comunicação falhem, a ionosfera é sempre um meio viável de comunicação. É ainda

bastante utilizada em cenário militar.

Como já foi mencionado no capítulo anterior, numa ampla faixa de frequências de ondas

curtas, a ionosfera age como um espelho refletor para as ondas rádio. Para transmitir um sinal

a longas distâncias, como requerido nas comunicações rádio, a onda deve deixar a antena

transmissora com um ângulo tal que a onda alcance a ionosfera de maneira oblíqua. O ângulo

de fogo apropriado, bem como a frequência ótima a ser usada dependem de vários fatores,

incluindo a altura da camada refletora e a distância entre os locais de emissão e recepção.

Figura 4.1 – Ondas ionosféricas, representação dos saltos.

Na Figura 4.1 encontram-se representadas ondas eletromagnéticas, que estabelecem

ligação entre dois pontos da Terra. A onda emitida pela antena emissora é refletida pela

camada da ionosfera, retornando à Terra, a que se dá o nome de salto. Uma vez retornada à

Terra, a onda pode refletir no solo e voltar à ionosfera. Assim, ocorrem várias reflexões

sucessivas da onda, produzindo 𝑛 saltos, que permitem que o sinal alcance grandes distâncias.

Estas reflexões sucessivas provocam atenuações no sinal, que sofre quer a atenuação em

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espaço livre, como a atenuação ao atravessar as camadas da ionosfera, e ainda a atenuação ao

refletir-se na superfície terrestre, devido ao carácter rugoso do solo.

No presente capítulo faz-se o cálculo da atenuação total que o sinal sofre, numa

comunicação via ionosfera entre dois pontos da superfície terrestre. Admite-se que se quer

estabelecer uma comunicação com um alcance de 2000 km e que a reflexão na ionosfera será

sofrida na camada F2. O cenário descrito encontra-se representada na Figura 4.2.

Figura 4.2 – Representação da reflexão na ionosfera, considerando um salto.

Uma vez que a propagação de onda curta na ionosfera se faz normalmente entre os 3

MHz e os 30 MHz, vão ser consideradas três frequências, 5 MHz, 15 MHz e 30 MHz.

4.1 Ângulo de fogo

Para caracterizar com precisão os percursos de ondas ionosféricas, é necessário

determinar a relação entre a distância de salto 𝑑, a altura virtual ℎ′ e o ângulo de incidência 𝜓

(ângulo de fogo).

Irá utilizar-se a aproximação da Terra plana para estimar o ângulo de fogo 𝜓, a uma dada

a distância de salto 𝑑 e frequência de operação f, a partir da altura virtual da camada

ionosferica.

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A Figura 4.3 mostra a geometria da trajetória da onda que reflete na ionosfera, de onde

se pode obter a expressão de 𝜓.

Figura 4.3 – Geometria da trajetória da onda que reflete na ionosfera.

A expressão que permite calcular o ângulo 𝜓 é então dada por

𝜓 = tan−1

2ℎ′

𝑑 (4.1)

4.1.1 Simulação de 𝜓

As alturas virtuais consideradas para cada camada encontram-se discriminados na Tabela

4.1, tomando como referência para valores de ℎ′ os referenciados em [1].

ℎ′

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐷 80 𝑘𝑚

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐸 100 𝑘𝑚

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹1 250 𝑘𝑚

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹2 350 𝑘𝑚

Tabela 4.1 – Valores da altura virtual ℎ′ para as diferentes camadas da ionosfera.

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A Figura 4.4 representa uma simulação feita para obtenção dos valores do ângulo de

fogo. Consideraram-se na simulação as quatro alturas virtuais expressas na Tabela 4.1.

Consideram-se ainda distâncias entre os 1000 km e os 4000 km.

Figura 4.4 – Ângulo de fogo 𝜓.

Como se pode observar na Figura 4.4, o ângulo de fogo decresce monotonamente com a

distância, sendo a sua variação maior para distâncias pequenas.

4.2 Atenuação em espaço livre

As ondas eletromagnéticas, ao propagarem-se na atmosfera, sofrem uma oposição

diretamente proporcional à distância que percorrem. Esta oposição é denominada atenuação

em espaço livre (𝐴0), e é dada com base na a fórmula de Friis (2.4). Considerando as antenas

isotrópicas (𝐺𝑒 = 𝐺𝑟 = 0), a expressão da atenuação 𝐴0 expressa em dB é dada por

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𝐴0 = 32,5 + 20 log(𝑑[𝑘𝑚]) + 20 log(𝑓(𝑀𝐻𝑧)) [𝑑𝐵] (4.2)

Tendo em conta o alcance e as frequências escolhidas, os valores obtidos para 𝐴0

encontram-se expressos na Tabela 4.2.

𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

𝐴0 112,50 𝑑𝐵 122,04 𝑑𝐵 128,06 𝑑𝐵

Tabela 4.2 – Valores de 𝐴0 para um alcance de 2000 km e três valores de frequência.

É possível concluir que, para distância fixa, existe uma pequena variação da atenuação

com a frequência.

4.3 Atenuação nas camadas da ionosfera

Uma onda rádio sofre atenuação ao atravessar as várias camadas da ionosfera. Neste

trabalho, considera-se que a estratificação das camadas da ionosfera é plana.

A atenuação sofrida pelas ondas rádio nas camadas da ionosfera é dada por

𝐴𝑖 = 𝑒−2∝𝜘 (4.3)

em que 𝜘 corresponde à distância percorrida pela onda dentro da ionosfera e 𝛼

(constante de atenuação) é dada pela expressão (3.22).

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A cada camada da ionosfera corresponderá uma atenuação, uma vez que estas

apresentam características diferentes e consequentemente produzem atenuações diferentes

no sinal.

A distância percorrida pela onda dentro da ionosfera é obtida para cada camada através

da adaptação do segundo teorema de Martin sobre a absorção. Este teorema diz que,

considerando estratificação plana, a absorção de uma onda incidente na ionosfera com

determinado ângulo ∅0, complementar ao ângulo 𝜓, está relacionada com a absorção da onda

vertical equivalente, com uma frequência 𝑓 cos∅0. Considerando uma geometria baseada na

Figura 4.3, em que neste caso o parâmetro ℎ′ dá lugar à espessura da camada em questão (Δ)

e adaptando o teorema para o ângulo 𝜓, a expressão para 𝜘 é então dada por

𝜘 =

Δ

sin𝜓 (4.4)

Aplicando a expressão anterior, consultando a Figura 4.4 para a obtenção dos ângulos

das quatro camadas correspondentes a um alcance de 2000 km, e considerando as espessuras

das camadas D, E, F1 e F2 como 30 km, 50 km, 70 km e 200 km, respetivamente, chega-se a

valores de 𝜘, que se encontram discriminados na tabela 4.3.

𝜘

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐷 376,52 𝑘𝑚

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐸 502,56 𝑘𝑚

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹1 288,54 𝑘𝑚

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹2 605,42 𝑘𝑚

Tabela 4.3 – Valores de 𝜘 para as diferentes camadas da ionosfera.

Page 71: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

51

No cálculo de 𝛼, para a densidade de eletrões 𝑁𝑒 e para o número de colisões 𝜗, foram

tomados como valores de referência os indicados em [1]. A tabela 4.4 explicita esses valores,

para as quatro camadas da ionosfera.

𝑁𝑒 𝜗

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐷 1010 106

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐸 1011 104

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹1 1012 103

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹2 1012 103

Tabela 4.4 – Valores de 𝑁𝑒 e 𝜗 para as diferentes camadas da ionosfera.

Os valores apresentados são valores típicos para cada uma das camadas consideradas.

A Tabela 4.5 apresenta aos valores de 𝛼 obtidos para 𝑓 = 5𝑀𝐻𝑧, 𝑓 = 15𝑀𝐻𝑧 e 𝑓 =

30𝑀𝐻𝑧, utilizando a expressão (3.22).

𝛼 𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐷 5,36 × 10−5 [𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 5,97 × 10−6[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 1,49 × 10−6[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚]

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐸 5,37 × 10−6[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 5,97 × 10−7[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 1,49 × 10−7[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚]

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹1 5,37 × 10−6[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 5,97 × 10−7[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 1,49 × 10−7[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚]

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹2 5,37 × 10−6[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 5,97 × 10−7[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚] 1,49 × 10−7[𝑛𝑒𝑝𝑒𝑟/𝑚]

Tabela 4.5 – Valores de 𝛼 para as várias camadas da ionosfera, para três valores de frequência.

Page 72: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

52

É possível verificar que os valores de 𝛼 decrescem fortemente entre 5 e 15 MHz, mas que

de 15 a 30 MHz sofrem pouca variação.

Através da expressão (4.3) calculam-se os valores das atenuações correspondentes às

diferentes camadas, para as três frequências. Os resultados obtidos encontram-se expressos

na Tabela 4.6.

𝐴𝑖 𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

[𝑑𝐵] [𝑑𝐵] [𝑑𝐵]

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐷

7,4995

× 10−18

𝟏𝟕𝟏, 𝟐𝟓

0,0125

𝟏𝟗, 𝟎𝟓

0,3341

𝟒, 𝟕𝟔

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐸

0,0045

𝟐𝟑, 𝟐𝟓

0,5490

𝟐, 𝟔𝟎

0,8608

𝟎, 𝟔𝟓

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹1

0,0451

𝟏𝟑, 𝟒𝟔

0,7087

𝟏, 𝟓𝟎

0,9175

𝟎, 𝟑𝟕

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹2

0,0015

𝟐𝟖, 𝟐𝟒

0,4856

𝟑, 𝟏𝟒

0,8348

𝟎, 𝟕𝟖

Tabela 4.6 – Valores de 𝐴𝑖 para as várias camadas da ionosfera, para três valores de frequência.

Da Tabela 4.6 conclui-se que os valores da atenuação dependem fortemente da camada

considerada e exibem uma grande dependência com a frequência.

Calculadas as atenuações correspondentes a cada camada, a atenuação total sofrida na

ionosfera será a soma das atenuações das camadas anteriores à camada onde ocorre a

reflexão, neste caso na F2. A Tabela 4.7 expressa esse resultado, para três valores de

frequência.

Page 73: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

53

𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

𝐴𝑖𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑥ã𝑜_𝐹2

= 𝐴𝑖𝐷+ 𝐴𝑖𝐸

+ 𝐴𝑖𝐹1

207,96 𝑑𝐵

23,15 𝑑𝐵

5,78 𝑑𝐵

Tabela 4.7 – Valores da atenuação total sofrida na ionosfera para um reflexão na camada F2, para três

valores de frequência.

Verifica-se uma grande influência da frequência nos valores da atenuação, sendo que

para frequências mais altas, a atenuação será menor, resultado que se encontra em

concordância com a teoria mencionada anteriormente.

4.4 Atenuação no solo

Até agora considerou-se apenas um salto na propagação do sinal via ionosfera. No caso

em que se pretendem mais saltos, o sinal irá refletir-se na superfície da Terra. Há que levar

então em conta uma atenuação suplementar, a atenuação que o sinal sofre ao refletir-se no

solo, considerando terreno rugoso. Toma-se agora a situação esquematizada na Figura 4.5 em

que se consideram dois saltos, considerando que se pretende alcançar a mesma distância.

Figura 4.5 – Representação da reflexão no solo em superfície rugosa e na ionosfera, considerando dois saltos.

Page 74: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

54

A potência 𝑃𝑟 resultante da reflexão no solo, vem dada por

𝑃𝑟 = |Γ|2𝑒−𝑔2𝐷𝑃𝑖 (4.5)

em que 𝐷 é o fator de divergência associado à terra esférica.

A atenuação sofrida pelo sinal ao refletir-se em superfície rugosa corresponde a

𝐴𝑠 = |Γ|2𝑒−𝑔2𝐷 (4.6)

Quando se utiliza a aproximação à terra plana, o fator de divergência é considerado 𝐷 =

1. É o caso dos exemplos tratados nesta dissertação.

Os coeficientes de Fresnel para polarização horizontal Γℎ e polarização vertical Γ𝑣 são

calculados, respetivamente, através da expressão (2.10) e (2.11). Neste cálculo, considera-se

ε𝑠 = 15 e σ𝑠 = 0,005 [𝑚ℎ𝑜/𝑚], valores típicos para um solo dito normal. O ângulo de fogo

toma o valor 𝜓 = 34,99o, conforme a Figura 4.4, para um alcance de 1000 km e para uma

altura virtual de 350km (camada F2). Os resultados obtidos para os módulos dos coeficientes

de Fresnel encontram-se expressos na tabela 4.8.

𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

Γℎ 0,8060 0,7505 0,7406

Γ𝑣 0,5182 0,4130 0,3953

Tabela 4.8 – Valores do coeficiente de Fresnel, para polarização horizontal e polarização vertical, para três

valores de frequência.

Page 75: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

55

Como visto anteriormente, o parâmetro de Rayleigh é calculado através da seguinte

expressão

𝑔 =

ℎ𝑒

𝜆sin𝜓 (4.7)

Admitindo um valor típico de ℎ𝑒 = 20, chega-se aos valores de 𝑔 expressos na tabela 4.9.

𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

𝑔 0,19114 0,57343 1,1469

Tabela 4.9 – Valores de 𝑔, para três valores de frequência.

Os valores da atenuação, utilizando a expressão (4.6), são então dados pela tabela 4.10.

𝐴𝑆 𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

Page 76: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

56

[𝑑𝐵] [𝑑𝐵] [𝑑𝐵]

𝑝𝑜𝑙𝑎𝑟𝑖𝑧𝑎çã𝑜 ℎ𝑜𝑟𝑖𝑧𝑜𝑛𝑡𝑎𝑙

0,626

𝟐, 𝟎𝟑𝟐

0,405

𝟑, 𝟗𝟐𝟏

0,147

𝟖, 𝟑𝟐𝟏

𝑝𝑜𝑙𝑎𝑟𝑖𝑧𝑎çã𝑜 𝑣𝑒𝑟𝑡𝑖𝑐𝑎𝑙

0,259

𝟓, 𝟖𝟔𝟗

0,123

𝟗, 𝟏𝟎𝟗

0,042

𝟏𝟑, 𝟕𝟕𝟑

Tabela 4.10 – Valores de 𝐴𝑆, para três valores de frequência.

Analisando os valores da Tabela 4.10, conclui-se que a polarização vertical tem mais

impacto na atenuação no solo. Verifica-se ainda que o valor da atenuação é tanto maior

quanto maior a frequência.

4.5 Atenuação total

Calcula-se finalmente a atenuação total sofrida pelo sinal numa comunicação via

ionosfera entre dois pontos da superfície terrestre, separados por 2000km, considerando um

salto e dois saltos.

A atenuação total da ligação, no caso em que só há um salto, havendo apenas reflexão na

ionosfera, vem dada por

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙1𝑠𝑎𝑙𝑡𝑜= 𝐴0 + 𝐴𝑖𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑥ã𝑜_𝐹2

(4.6)

Para o caso em que há dois saltos, e portanto além de reflexão na atmosfera há também

reflexão no solo, a atenuação total vem dada por

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙2𝑠𝑎𝑙𝑡𝑜𝑠= 𝐴0 + 2𝐴𝑖𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑥ã𝑜_𝐹21000

+ 𝐴𝑠 (4.7)

Page 77: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

57

sendo que a atenuação total sofrida na ionosfera terá um valor diferente do calculado

anteriormente, uma vez que neste caso o alcance será de 1000 km e portanto o ângulo de fogo

será mais elevado. Procedendo aos mesmos cálculos da secção 4.3, obtém-se os resultados

indicados na tabela 4.11 para a atenuação 𝐴𝑖𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑥ã𝑜_𝐹21000.

𝝒

𝑨𝒊 𝑨𝒊𝒓𝒆𝒇𝒍𝒆𝒙ã𝒐_𝑭𝟐𝟏𝟎𝟎𝟎

𝑓 = 5𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 5𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30𝑀𝐻𝑧

C𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐷

189,89 𝑘𝑚

88,48 𝑑𝐵

9,84 𝑑𝐵

2,46 𝑑𝐵

107,67 𝑑𝐵

11,97 𝑑𝐵

2,99 𝑑𝐵

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐸

254,95 𝑘𝑚

11,89 𝑑𝐵

1,32 𝑑𝐵

0,33 𝑑𝐵

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹1

156,50 𝑘𝑚

7,30 𝑑𝐵

0,81 𝑑𝐵

0,20 𝑑𝐵

𝐶𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝐹2

348,78 𝑘𝑚

16,26 𝑑𝐵

1,81 𝑑𝐵

0,45 𝑑𝐵

Tabela 4.11 – Valores da atenuação sofrida na ionosfera, supondo reflexão na camada F2 e um alcance de

1000km, para três valores de frequência.

Os resultados finais para a atenuação total numa ligação entre dois pontos da terra,

considerando um e dois saltos, encontram-se expressos na tabela 4.12.

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

Page 78: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

58

𝟏 𝒔𝒂𝒍𝒕𝒐

320,46 𝑑𝐵

145,19 𝑑𝐵

133,84 𝑑𝐵

𝟐 𝒔𝒂𝒍𝒕𝒐𝒔

𝑃𝐻 𝑃𝑉 𝑃𝐻 𝑃𝑉 𝑃𝐻 𝑃𝑉

329,87 𝑑𝐵

333,71 𝑑𝐵

149,90 𝑑𝐵

155,09 𝑑𝐵

142,36 𝑑𝐵

147,81 𝑑𝐵

Tabela 4.12 – Valores da atenuação total 𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 para um e dois saltos, para três valores de frequência e

para um alcance de 2000km.

Analisando os resultados gerais verifica-se que, para frequências mais baixas, o valor da

atenuação total é bastante mais elevado face às frequências altas. A polarização vertical

regista valores mais elevados de atenuação, em relação à polarização horizontal. De um modo

geral, os valores das atenuações para ambos os casos são bastante próximos, pelo que se

podem tirar duas conclusões. A primeira sendo que a diferença entre as atenuações sofridas

na ionosfera para 1 salto e 2 saltos acaba por não ser consideravelmente grande para se

preferir claramente um caso em detrimento do outro. A segunda conclusão é que a atenuação

correspondente à reflexão no terreno rugoso tem pouco impacto face à atenuação na

ionosfera. Conclui-se que não haverá grande vantagem em preferir um caso em detrimento do

outro, para uma mesma distância (2000km), em termos de atenuação. Poderá haver

vantagem em termos do ângulo de fogo, uma vez que um valor mais elevado deste pode

traduzir benefícios em determinadas situações.

A utilização de dois ou mais saltos poderá sim ser vantajosa na situação em que se

pretende alcançar grandes distâncias, que só com um salto não seriam fáceis de alcançar. Ou

seja, considerando saltos de 2000 km, com dois saltos poderá atingir-se uma distância de 4000

km, com três saltos uma distância de 6000 km e por aí em diante, podendo utilizar-se 𝑛 saltos.

A atenuação neste caso vem dada por

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑛𝑠𝑎𝑙𝑡𝑜𝑠= 𝐴0 + 𝑛𝐴𝑖𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑥ã𝑜_𝐹2

+ 𝐴𝑠 (4.8)

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59

Os resultados da aplicação da expressão (4.8) para 2, 3 e 6 saltos, valores a título de

exemplo, encontram-se expressos na Tabela 4.13

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑓 = 5 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 15 𝑀𝐻𝑧 𝑓 = 30 𝑀𝐻𝑧

𝑃𝐻 𝑃𝑉 𝑃𝐻 𝑃𝑉 𝑃𝐻 𝑃𝑉

𝒏 = 𝟐 530,45 𝑑𝐵 534,29 𝑑𝐵 172,26 𝑑𝐵 177,45 𝑑𝐵 147,94 𝑑𝐵 153,39 𝑑𝐵

𝒏 = 𝟑 738,41 𝑑𝐵 742,25 𝑑𝐵 195,41 𝑑𝐵 200,60 𝑑𝐵 153,72 𝑑𝐵 159,17 𝑑𝐵

𝒏 = 𝟔 1362,30 𝑑𝐵 1366,13 𝑑𝐵 264,86 𝑑𝐵 270,05 𝑑𝐵 171,06 𝑑𝐵 176,51 𝑑𝐵

𝒏 = ⋯ ... ... ... ... ... ...

Tabela 4.13 – Valores da atenuação total 𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙, para vários saltos e vários alcances , para três valores de

frequência.

Conclui-se então que, apesar de se produzirem atenuações compreensivelmente mais

elevadas, no caso em que se queiram alcançar elevadas distâncias, será proveitoso fazer-se o

uso de mais do que um salto.

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60

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61

5. DESVANECIMENTO EM LIGAÇÕES VIA IONOSFERA

Dos muitos efeitos adversos à propagação ionosférica, o desvanecimento de sinal é um

dos mais difíceis de eliminar, devido à sua natureza aleatória. Desvanecimento, ou fading, é

uma flutuação de amplitude do sinal entre o emissor e o receptor, causada por variações do

meio onde se propagam as ondas eletromagnéticas. A ionosfera causa muitas vezes perda de

qualidade do sinal, devido a alterações nas propriedades das suas camadas. Como já

anteriormente mencionado, estas propriedades dependem de vários fatores, como altura do

dia, estação do ano e variam de camada para camada. Há ainda a variação cíclica solar, de

aproximadamente 11 anos de duração, que é considerada o fenómeno que maior impacto

produz no estado da ionosfera. Esta variação depende do nível de atividade das manchas

solares, a qual varia constantemente, durante o decorrer do ciclo. No limite, pode acontecer o

total desvanecimento do sinal, quando a sua amplitude de entrada cair abaixo do nível mínimo

de detecção do receptor. Estes particularidades da ionosfera fazem com que as comunicações

na ionosfera tenham vindo a ser substituídas por outros sistemas de comunicação mais

robustos.

Figura 5.1 – Fading.

Nas comunicações via ionosfera, o fading pode ser classificado em dois tipos:

Fading lento: quando o sinal sofre perturbações atmosféricas, quer na baixa altitude

(troposfera) quer na ionosfera.

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62

Fading Rápido: quando se dá o efeito de multipercurso, isto é, cada raio chega ao

recetor provindo de diferentes caminhos.

No projeto de um sistema de comunicação, o valor do sinal recebido está tipicamente

dimensionado para a mediana, isto é, 50% do tempo está acima do sinal original e outros 50%

está a baixo desse valor.

No presente capítulo são ilustrados três gráficos, de maneira a auxiliar a análise dos

fenómenos de fading na propagação.

5.1 Fading lento

Ao atravessar a ionosfera, a onda de rádio perde um pouco de sua energia para os iões e

eletrões livres da ionosfera, gerando uma diminuição da intensidade do sinal. A maior

absorção do sinal na ionosfera ocorre nas regiões inferiores desta, onde a densidade de

ionização é maior.

Figura 5.2 – Fading lento. Absorção do sinal nas camadas da ionosfera.

Para a descrição do comportamento do fading lento, utiliza-se a distribuição log-normal,

cuja função densidade de probabilidade é dada por

Page 83: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

63

𝑓(𝑥) =

1

𝜎√2𝜋

1

𝑥𝑒𝑥𝑝 [−

1

2(𝑙𝑛(𝑥) − 𝜇

𝜎)

2

]

(5.1)

com

𝑥 > 0

−∞ < 𝜇 < ∞

𝜎 > 0

Para a obtenção do gráfico da função de distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥), sabe-se que

𝑓(𝑥) =

𝑑𝐹(𝑥)

𝑑𝑥

(5.2)

então, 𝐹(𝑥) é dado por

𝐹(𝑥) = 1 −1

2{1 + 𝑒𝑟𝑓 [

ln (𝑥𝑥𝑚

)

√2𝜎]} (5.3)

Na Figura 5.3, apresenta-se o gráfico da função de distribuição de probabilidade (5.3)

para a distribuição log-normal.

Page 84: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

64

Figura 5.3 – Distribuição log-normal, função de distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥).

No gráfico estão apenas representadas as variâncias 𝜎 = 10𝑑𝐵, 𝜎 = 15𝑑𝐵, 𝜎 = 20𝑑𝐵 e

𝜎 = 30𝑑𝐵. Por vezes, a representação da função de distribuição de probabilidade log-normal

é apresentada em escala log-log, em que as curvas da Figura 5.3 adquirem a forma de rectas. O

valor de 𝑆 𝑁⁄ para qualquer variância pode ser obtido marcando um ponto conhecido no

gráfico que nos permita traçar a recta correspondente à variância pretendida.

5.2 Fading rápido

Ao percorrer os vários caminhos possíveis entre o emissor e o receptor, multipercurso, os

raios sofrem diferente reflexão na superfície da Terra e refração na ionosfera. Da interferência

entre os vários raios resulta uma degradação da qualidade do sinal na receção.

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65

Figura 5.4 – Efeito multipercurso. Representação de 3 caminhos diferentes (C1, C2 e C3), provenientes do

mesmo emissor.

Os sinais, ao percorrerem caminhos diferentes, podem chegar ao receptor em instantes

de tempo diferentes. Assim, estes podem ou não estar em fase um com o outro. Os que são

recebidos em fase reforçam-se mutuamente e produzem um sinal mais forte na recepção. Por

outro lado, aqueles recebidos oposição de fase produzem um sinal fraco. Ou seja, pequenas

diferenças no caminho de transmissão podem mudar a relação de fase dos dois sinais, fazendo

com que haja desvanecimento.

Este tipo de fading varia com a frequência, dado que cada frequência atinge o receptor

através de um percurso diferente. Assim sendo, para tentar minimizar o desvanecimento do

sinal e garantir uma comunicação com elevada fiabilidade é necessário empregar alguma

forma de diversidade, por exemplo através da utilização de várias antenas convenientemente

espaçadas (diversidade espacial) ou de várias portadoras com frequências distintas

transmitidas em simultâneo (diversidade espectral).

Dentro do fading rápido podemos ainda distinguir o fading muito intenso do pouco

intenso.

5.2.1 Fading rápido pouco intenso

No caso do fading pouco intenso, verifica-se que um dos sinais do efeito multipercurso é

preponderante em relação aos outros. Este fenómeno comporta-se de acordo com a

distribuição de Rice, desde que:

Page 86: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

66

a distribuição das amplitudes dos sinais aleatórios seja normal, com média nula (𝜇 =

0);

a distribuição das fases seja uniforme.

A função densidade de probabilidade da distribuição de Rice é dada por

𝑓(𝑥) =1

𝑥𝑒𝑓2𝑒𝑥𝑝 [−

𝑥2 + 𝑥02

2𝑥𝑒𝑓2

] 𝐼0 (𝑥 𝑥0

𝑥𝑒𝑓2)

(5.4)

em que

𝑥0: valor constante;

𝐼0: Função de Bessel modificada (ordem 0);

𝑥𝑒𝑓: valor rms de x.

O gráfico da função de distribuição de probabilidade (5.4) para a distribuição de Rice,

tendo em conta (5.2) , é apresentado na figura 5.5.

Figura 5.5 – Representação da função de distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥), para a distribuição de Rice.

Page 87: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

67

O gráfico é usado da mesma forma que no caso do fading lento.

5.2.2 Fading rápido muito intenso

Considera-se fading rápido muito intenso quando o receptor e o emissor não estão em

linha de vista. Neste caso, o fading é caracterizado pela distribuição de Rayleigh, que

pressupõe :

número de percursos elevado;

distribuição normal das amplitudes dos sinais, com média nula (𝜇 = 0);

distribuição de fases uniforme.

A função densidade de probabilidade da distribuição de Rayleigh é dada por

𝑓(𝑥) =

𝑥

𝜎2𝑒𝑥𝑝 [−

𝑥2

2𝜎2]

(5.5)

em que

𝑥 ≥ 0, 𝜎 > 0

média: 𝜎√𝜋2⁄

moda: 𝜎

A função de distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥), tendo em conta (5.2), é então dada por

𝐹(𝑥) = 1 − 𝑒𝑥𝑝 [−

𝑥2

𝑥𝑚2𝑙𝑛(2)]

(5.6)

em que 𝑥𝑚 corresponde à mediana.

Page 88: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

68

A Figura 5.6 apresenta o gráfico da função de distribuição de probabilidade (5.6) da

distribuição de Rayleigh.

Figura 5.6 –Distribuição de Rayleigh, função de distribuição de probabilidade 𝐹(𝑥).

O gráfico é usado da mesma maneira que nos dois casos anteriores. Note-se que a

distribuição de Rayleigh é um caso particular da distribuição de Rice.

Os gráficos das funções densidade de probabilidade na caracterização do fading são

bastante convenientes na medida em que, dada uma determinada mediana da relação sinal-

ruído, permitem conhecer o valor desta assegurado durante uma determinada percentagem

de tempo. Se o valor 𝑆 𝑁⁄ encontrado estiver abaixo do valor correspondente à mediana, é

considerado um mau resultado, o que acontece na maioria das vezes.

5.3 Cálculo das margens de fading

Nesta secção, calculam-se das margens de fading em duas situações hipotéticas.

Supondo que estamos perante uma situação de fading rápido muito intenso, pretende saber-

se a relação sinal-ruído assegurada 99% do tempo, supondo que a mediana do valor da relação

Page 89: Dissertação para obtenção do grau de Mestre em · Tabela 4.3 – Valores de para as diferentes camadas da ionosfera ..... 51 Tabela 4.4 – Valores de e para as diferentes camadas

69

sinal-ruído é 𝑆𝑁⁄ = 30 𝑑𝐵. Recorrendo ao gráfico da Figura 5.6, retira-se o valor

correspondente a 1%, que é 18 dB. Assim, calculando o valor de 𝑆 𝑁⁄ pretendido, tem-se

𝑆𝑁⁄ = 30 − 18 = 12 𝑑𝐵

(5.7)

Este é considerado um mau resultado, uma vez que 12 𝑑𝐵 se encontra abaixo do valor da

mediana.

Admite-se agora que se quer calcular, nas mesmas condições, a degradação da relação

sinal-ruído devido a fading lento de 1%, ou seja, o nível de sinal que é excedido 99% do tempo.

Admitindo uma variância 𝜎 = 15 dB, consultando o gráfico da figura 5.3 obtém-se o valor

correspondente a 99%, neste caso, -35 dB. Calculando o valor de 𝑆 𝑁⁄ pretendido, tem-se

𝑆𝑁⁄ = 30 − 35 = −5 𝑑𝐵

(5.8)

Novamente, este é considerado um péssimo resultado, uma vez que o valor obtido está

bastante abaixo do valor da mediana. Uma maneira de corrigir estes valores a fim de melhorá-

los seria, por exemplo, aumentar a potência de emissão, o que por vezes se torna bastante

dispendioso. Uma outra solução seria, como já foi referido anteriormente, introduzir

diversidade espacial ou espectral.

É possível também calcular a potência necessária a instalar no emissor para a relação

sinal-ruído pretendida. Para tal, usa-se a formula de Friis (2.5). Supondo que se tem um ganho

das antenas de 36 dB, uma potência de ruído no receptor de 𝑁 = − 110 dB, consegue-se

facilmente obter o valor de 𝑃𝑒 . Considera-se ainda uma frequência de 15MHz e uma distância

de 200 km.

𝑆𝑁⁄ = 30 ⇔ 𝑆 = 30 − 110 = −80 𝑑𝐵𝑊

(5.9)

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Substituindo (5.10) em (2.5) obtém-se

𝑃𝑒 = −80 − 36 − 36 + 21.984 + 20 log (200×103

3×108

15×109

) = 10 𝑑𝐵𝑊 = 10 𝑊

(5.10)

Assim, no projeto de ligações via ionosfera, os valores das margens de fading calculadas

devem ser adicionados aos valores das atenuações calculadas no capitulo 4.

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6. CONCLUSÃO

6.1 Principais conclusões

O objetivo deste trabalho prendia-se com o cálculo da atenuação sofrida pelo sinal numa

ligação entre dois pontos da Terra, quando ocorrem sucessivas reflexões nas camadas da

ionosfera e no solo, supondo terreno rugoso. Para a visualização e melhor compreensão dos

fenómenos influentes na situação descrita, foram feitas algumas demonstrações gráficas e

também cálculos para se chegar a resultados concretos.

Primeiramente, abordou-se teoricamente o fenómeno da reflexão difusa, ou seja

dispersão em superfícies rugosas, passando também pela reflexão especular. Fizeram-se

denotar as diferenças entre ambas as reflexões e procedeu-se a duas simulações referentes à

reflexão difusa, uma demonstrando os efeitos que as diferentes regiões do terreno irregular

provocam na potência dispersa. Com base nos resultados obtidos, verifica-se que para o

parâmetro adimensional 𝑡 > 1 o terreno é considerado reflector e para 𝑡 < 1 o terreno é

considerado diffusor.

Passou-se depois as comunicações via ionosfera, onde foi feita uma abordagem teórica

ao tema, nomeadamente à sua constituição bem como as medidas que caracterizam a

propagação ionosférica. Estruturou-se a ionosfera de acordo com o seu modelo de camadas.

Quanto à sua composição, foram referidos alguns modelos teóricos da densidade dos eletrões

constituintes do plasma ionosférico. Foram também evidenciadas algumas medidas

importantes, tais como frequência de plasma, frequência critica, altura virtual e máxima

frequência utilizável. Obteve-se ainda a expressão da constante de atenuação, imprescindível

para o cálculo da atenuação total sofrida pelo sinal.

No tópico seguinte passou-se ao cálculo da atenuação numa ligação via ionosfera, com

base nos estudos teóricos feitos nos dois tópicos anteriores. Foram estudados dois cenários, o

primeiro considerando apenas um salto e o segundo considerando dois saltos, para três

valores de frequência, 5MHz, 15 MHz e 30 MHz e para uma distância entre as antenas de

2000km. No caso em que ocorre apenas um salto, ocorre apenas uma reflexão na ionosfera,

considerada como sendo na camada F2. No caso em que ocorrem dois saltos, ocorre também

uma reflexão no solo assim como uma segunda reflexão na ionosfera. Após terem sido

calculados todos os parâmetros necessários ao cálculo da atenuação total para os dois casos,

obteve-se os resultados finais (Tabela 4.12). Verifica-se que, de um modo geral, os valores das

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atenuações para ambos os casos são bastante próximos, pelo que se pode concluir que a

diferença entre as atenuações sofridas na ionosfera para 1 salto e 2 saltos acaba por não ser

consideravelmente grande para se preferir claramente um caso em detrimento do outro e que

a atenuação correspondente à reflexão no terreno rugoso tem pouco impacto na atenuação

total. A utilização de dois ou mais saltos poderá sim ser vantajosa em situações onde seja

benéfico um maior ângulo de fogo e ainda quando se pretendem alcançar elevadas distâncias,

dificilmente alcançáveis com apenas um salto.

Por último, fez-se uma abordagem ao fenómeno de fading, associado à propagação na

ionosfera. Foram referidos os dois tipos de fading que podem ocorrer na propagação do sinal,

o fading lento (perturbações atmosféricas) e o fading rápido (multipercurso). Dentro deste

ultimo pode dar-se o fading rápido pouco intenso, quando as antenas se encontram em linha

de vista, e o fading rápido muito intenso. Para caracterizar o seu comportamento, foram feitos

três gráficos para traduzir as três situações de fading, com recurso a distribuições estatísticas

(log-normal, Rice e Rayleigh). Estes gráficos foram consultados para o cálculo de margens de

fading, a fim de prever a fiabilidade de uma ligação.

6.2 Trabalhos Futuros

Como perspectivas de trabalho futuro, apresenta-se o seguinte:

Comparação dos resultados teóricos com medições experimentais;

Influência das antenas na mitigação da atenuação ionosférica;

Aplicação às comunicações NVIS (near vertical incidence skywave);

Melhoria da largura de banda em links ionosféricos.

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LISTA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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3.pdf [5] Wikipedia, Heinrich Hertz,

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[16] http://obsebre.es/ca/variabilitat-dia-a-dia [17] Mateus, Alexandre C., “Solucões W.K.B para o cálculo da intensidade de campo na

baixa ionosfera”, Dezembro 2007 [18] Silva, Henrique José Almeida da, “Propagacao na atmosfera”, Maio 2001

http://www.sarmento.eng.br/Documentos/ondas.pdf [19] http://mtc-m17.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtcm17@80/2007/12.17.13.41/doc/

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“Fading in the HF ionospheric channel and the role of irregularities”, Istituto Nazionale di Geofisica, April 2013

http://www.researchgate.net/profile/Michael_Pezzopane/publication/257108684_Fading_in_the_HF_ionospheric_channel_and_the_role_of_irregularities/links/00463524bbffca0712000000.pdf