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UFPE UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Centro de Ciências Exatas e da Natureza Pós-Graduação em Ciência de Materiais Dissertação de Mestrado Simulação Computacional da Adsorção de Metano em Novos Materiais Metal-Orgânicos (MOFs) Ênio Dikran Vasconcelos Bruce Recife-PE Brasil Fevereiro / 2011

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  • UFPE

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    Centro de Ciências Exatas e da Natureza

    Pós-Graduação em Ciência de Materiais

    Dissertação de Mestrado

    Simulação Computacional da Adsorção de

    Metano em Novos Materiais Metal-Orgânicos

    (MOFs)

    Ênio Dikran Vasconcelos Bruce

    Recife-PE Brasil

    Fevereiro / 2011

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

    PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE MATERIAIS

    Simulação Computacional da Adsorção de

    Metano em Novos Materiais Metal-Orgânicos

    (MOFs)

    Ênio Dikran V. Bruce*

    Dissertação apresentada ao Programa de

    Pós-Graduação em Ciência de Materiais

    da UFPE como parte dos requisitos para

    a obtenção do título de Mestre em

    Ciência de Materiais.

    Área de concentração: Físico-Química

    Orientador: Prof. Dr. Ricardo Luiz Longo

    Co-orientadora: Profa. Dra. Elisa Soares Leite

    *Bolsista CAPES

    Recife-PE Brasil

    Fevereiro / 2011

  • Catalogação na fonte

    Bibliotecária Joana D’Arc L. Salvador, CRB 4-572

    Bruce, Ênio Dikran Vasconcelos.

    Simulação computacional da adsorção de metano em novos materiais metal orgânicos / Ênio Dikran

    Vanconcelos Bruce. - Recife: O Autor, 2011.

    114 f.: fig. tab.

    Orientador: Longo Ricardo Luiz.

    Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. CCEN. Ciência de Materiais, 2011.

    Inclui bibliografia.

    1.Físico-química. 2.Adsorção. 3.Monte Carlo, Método de. 4.Metano. I.Longo, Ricardo Luiz (orientador).

    II. Título.

    541.3 (22.ed.) FQ 2011-013

  • Dedico estas páginas à minha família.

  • Agradecimentos

    Agradeço primeiramente a Deus pelas coisas boas que ele pôs em minha vida, pelas conquistas e

    pelas derrotas, pelos acertos e pelos erros. Afinal de contas aprendemos com tudo, e nada é por

    acaso.

    A meus pais e minha irmã que sempre me apoiaram durante minha carreira acadêmica não deixando

    que eu me abatesse nas horas mais difíceis, dando sempre a força necessária para que eu continuasse

    minha jornada.

    Ao meu orientador Prof. Ricardo Luiz Longo, que ficou ao meu lado durante o mestrado,

    esclarecendo muitas duvidas, dando respostas a questões que pareciam não ter solução, um exemplo

    de pesquisador, professor e acima de tudo amigo. Além de depositar uma confiança no meu trabalho

    permitindo algumas intervenções ao longo do projeto e ter uma paciência enorme comigo.

    A Professora Elisa Leite pelo apoio e informações transmitidos a mim, bem como a disposição.

    Quero agradecer especialmente a Dra. Juliana Angeiras pela ENORME ajuda em me auxiliar na

    correção da dissertação, pela disposição, pela amizade, por tudo.

    A meus amigos do LQTC que faz com que o ambiente não fique sacal, ficam sempre descontraindo,

    criando realmente laços de amizade a qual quero levar para o resto da minha vida, são eles: Coruja,

    Pequeno, Diego, Carol, Zamorano, Charles, Castro, Marconi, Karina,enfim,todos que compõe o

    LQTC.

    À todos os professores do Departamento de Química Fundamental e de Ciência de Materiais que

    contribuíram para minha formação acadêmica.

    Às Agências Financiadoras CNPq, FACEPE, CAPES e RENAMI pela ajuda financeira.

  • “Se você faz o que sempre fez, conseguirá

    o que sempre conseguiu”. (Anônimo)

  • Resumo

    Recentemente uma nova classe de materiais nano- e meso-porosos foi desenvolvida

    baseada em redes metal-orgânicas (MOFs), que, por manterem sua porosidade e estrutura

    cristalina, tem provocado mudanças significativas no campo de armazenamento e separação de

    gáses, catálise e química em espaços confinados. O desenvolvimento de novos materiais é

    indispensável para eliminar alguns problemas no armazenamento de gás natural, tais como alta

    pressão (acima de 182 atm), o que acarreta altos custos e risco. A adsorção e dessorção do gás

    natural em materiais porosos sólidos podem resolver esse problema.

    Devido à grande área superficial, porosidade e versatilidade (facilidade para realizar

    modificações nos espaçadores orgânicos), MOFs e suas classes isoreticulares (IRMOFs) são

    materiais de grande potencial para fins de armazenamento de gás. De fato, IRMOFs têm a

    mesma estrutura reticular, mas podem ter uma grande variedade de grupos funcionais, podendo

    então ser utilizadas do desenvolvimento racional de materiais sorventes para aplicações

    específicas. As IRMOFs possuem a unidade de construção OZn4(OOC)6 em cada vértice do

    cubo, que são conectados por espaçadores orgânicos dicarboxilatos.

    Realizamos simulações computacionais de Monte Carlo Grã-Canônico (GCMC) para

    obter as isotermas de adsorção absolutas do metano para diversas IRMOFs. As estruturas das

    IRMOFs foram obtidas com o método quântico semi-empírico AM1 e foram mantidas rígidas

    durante as simulações GCMC, sendo as moléculas de metano modeladas como esferas rígidas e

    interagindo entre si e com a IRMOF por um potencial de Lennard-Jones. Os parâmetros deste

    potencial de interação intermolecular foram obtidos do campo de força universal (UFF) e

    condições periódicas foram empregadas. Uma nova metodologia foi proposta para determinar a

    quantidade adsorvida de excesso e efetiva, e assim viabilizar a comparação com os resultados

    experimentais. Elas consistem em simulações das isotermas de adsorção do gás hélio e do

    metano sem interações com a IRMOF nas mesmas condições termodinâmicas.

    Dentre as quinze IRMOFs estudadas, a que teve maior quantidade adsorvida de metano,

    240 cm3(CNTP)/cm

    3, foi a IRMOF-993-4S que consiste de um anel antraceno modificado com

    átomos de enxofre. As metodologias para determinar as quantidades adsorvidas de excesso e

    efetiva são simples, sistemáticas e propensas a cancelamento de erros. Entretanto, requerem o

    dobro de simulações, mas dada a rapidez das simulações esta não é uma limitação muito severa e

    as metodologias parecem ser adequadas para fornecer, pelo menos, tendências semiquantitativas

    e servir como ferramenta para a seleção rápida de potenciais adsorventes de gases.

    Palavras-chave: Adsorção, Monte Carlo Grã-Canônico, Excesso, MOFs, Metano

  • Abstract

    Recently a new class of nano-and meso-porous materials was developed based on metal-

    organic frameworks (MOFs), which, by keeping its porosity and crystalline structure, has caused

    significant changes in gas storage, gas separation, catalysis and chemistry in confined spaces.

    The development of new materials is essential to overcome some problems in the storage of

    natural gas, such as high pressure (over 182 atm), which entails high costs and risk. The

    adsorption and desorption of natural gas in porous solids can solve this problem.

    Due to the large surface area, porosity and versatility (easy to make modifications in

    organic linkers), MOFs and their isoreticulares classes (IRMOFs) are materials of great potential

    for gas storage. In fact, IRMOFs have the same reticular structure, but may have a wide variety

    of functional groups, which can then be used the rational development of adsorbent materials for

    specific applications. The IRMOFs have the OZn4(OOC)6 unit at each corner of the cube, which

    are connected by dicarboxylate organic linkers.

    We performed Grand-Canonical Monte Carlo (GCMC) computer simulations to obtain

    the absolute adsorption isotherms of methane on several IRMOFs. The IRMOFs structures were

    obtained with the AM1 semiempirical quantum chemical method and kept rigid during

    simulation, with the methane molecules being modeled as rigid spheres that interact among

    themselves and with the IRMOF through a Lennard-Jones potential. The parameters of the

    intermolecular potential were obtained from the universal force field (UFF) and periodic

    conditions were employed. New methodologies were proposed to determine the excess and

    effective adsorbed amounts and thus make it possible the comparison with experimental data.

    They involve GCMC simulations of helium gas and methane without interaction with IRMOF

    adsorption isotherms at the same thermodynamic conditions and using the same simulation

    protocols and potential parameters.

    Among the fifteen IRMOFs studied, IRMOF-993-4S was the most efficient for methane

    adsorption, 240 cm3(STP)/cm

    3, which consists of an modified anthracene ring with four sulfur

    atoms. The methodologies for determining the excess and effective adsorbed amounts are

    simple, systematic and prone to error cancelling. However, they require double the simulations,

    but since the simulations are quite fast this is not a very severe limitation and the methodologies

    seem to be adequate to provide at least semiquantitative trends and are useful tools for fast

    screening of gas adsorbents potential.

    Keywords: Adsorption, Monte Carlo Grand Canonical, Excess, MOFs, Methane

  • Lista de Abreviaturas

    AM1 - Austin-Model 1

    AMBER - Assisted Model Building with Energy Refinement

    B3LYP - Funcional de Becke e Lee-Yang-Parr com três parâmetros universais ajustáveis

    BDC - benzene dicarboxylate (benzeno dicarboxilato)

    BET - Brunauer-Emmett-Teller

    CHARMM - Chemistry at HARvard Macromolecular Mechanics

    CNTP - Condições Normais de Temperatura e Pressão

    CSD - Cambridge Structure Database (banco de dados estrutural de Cambridge)

    Cu-BTC - cobre(II) benzeno-1,3,5-tricarboxilato

    DFT - Teoria do Funcional de Densidade

    DOE - Department of Energy (departamento de energia dos EUA)

    DREIDING - a generic force field for molecular simulations (um campo de força genérico para

    simulações moleculares)

    ELV - Equilíbrio Líquido/Vapor (ELV)

    GCMC – Grand-Canonical Monte Carlo (Monte carlo Grã-Canônico)

    GN - Gás Natural

    GNA - Gás Natural Adsorvido

    GNC - Gás Natural Comprimido

    GNL - Gás Natural Liquefeito

    GGA – Generalized Gradient Approximation (aproximação do gradiente generalizado)

    IRMOF - Isoreticular Metal-Organic Framework (rede metal-orgânica isoreticular)

    IUPAC - International Union of Pure and Applied Chemistry (união internacional de química

    pura e aplicada)

    KS - Kohn-Sham

    LJ - Lennard-Jones

    MOF - Metal-Organic Framework (Rede Metal-Orgânica)

    OPLS - Optimized Potentials for Liquid Simulations (potenciais otimizados para as simulações

    de líquidos)

    SBU - Secondary Building Units (unidade de construção secundária)

    UFF - Universal Force Field (campo de força universal)

  • Lista de Figuras

    página

    Figura 1 Exemplos de Unidades de Construção Secundárias (SBUs). 3

    Figura 2 Série isoreticular cúbica de MOFs construídas por espaçadores

    dicarboxilatos e centros inorgânicos Zn4O.

    4

    Figura 3 Estrutura da IRMOF-1 (MOF-5). (a) Unidade cúbica em que cada

    vértice do cubo é composto por cluster metálico. (b) Cluster

    metálico. (c) Os clusters são ligados por moléculas orgânicas

    denominadas espaçadores (no caso, 1-4-benzenodicarboxilato),

    formando as arestas do cubo.

    5

    Figura 4 Percentual de volume livre da série de IRMOF-1 a 16. 6

    Figura 5 Estrutura da MOF-177, Zn4O(BTB)2, com o C60 na sua cavidade e

    em detalhe (BTB) benzeno tribenzoato.

    6

    Figura 6 Rede cristalina da PCN-14, com os átomos de cobre em roxo, de

    carbono em cinza e de oxigênio em vermelho.

    7

    Figura 7 Ilustração das IRMOF-1 (A), IRMOF-6 (B) e IRMOF-8 (C). 8

    Figura 8 Unidades orgânicas formadoras das IRMOFs (-1, -8, -11, -18). 9

    Figura 9 Isotermas de adsorção de hidrogênio em IRMOF-1, -8, -11 e MOF-

    177.

    9

    Figura 10 Isotermas de adsorção de nitrogênio em MOF-2, MOF-5 e MOF-

    177.

    10

    Figura 11 Isotermas de adsorção de Ar experimental e calculadas com

    diferentes campos de forças para a MOF Cu-BTC em 87,3 K.

    11

    Figura 12 Ilustração típica da relação entre a quantidade adsorvida e a pressão

    da fase fluida para conjunto de isotermas de equilíbrio de adsorção.

    14

    Figura 13 Tipos de isotermas de adsorção e de dessorção. 16

    Figura 14 Visão esquemática das adsorções absoluta, excesso e efetiva. 19

    Figura 15 Densidade energética relacionada à gasolina. 30

    Figura 16 Comparação da eficiência de armazenamento de GNA e GNC num

    mesmo reservatório.

    30

    Figura 17 Carga e descarga de um vaso de adsorção de gás natural. 33

  • Figura 2.1 Reservatório com volume contendo dentro do volume

    que podem trocar partículas com o sistema contido pelo

    volume V com N moléculas.

    52

    Figura 2.2 Quantidade adsorvida absoluto de metano na IRMOF-1 (A),

    Quantidade adsorvida absoluta de hélio (B) e Quantidade adsorvida

    de excesso do metano na IRMOF-1, dado pela quantidade absoluta

    de metano na IRMOF-1 menos a adsorvida de hélio, sem

    consideração do efeito de adsorção (C).

    56

    Figura 2.3 Quantidade absoluto de metano na IRMOF-1 menos as moléculas

    de metano que ocupariam o espaço vazio das cavidades sem a

    presença IRMOF-1 resultando na quantidade efetiva do metano na

    IRMOF-1.

    57

    Figura 3.1 Espaçadores utilizados nas IRMOFs. 65

    Figura 3.2 Ilustração esquemática das etapas de obtenção das estruturas das

    IRMOFs.

    70

    Figura 3.3 Ilustração esquemática da obtenção das estruturas das caixas de

    simulação apropriadas para o programa Big_Mac com condições

    periódicas.

    70

    Figura 4.1 Estruturas previstas das IRMOFs, inclusive as inéditas, em que a

    dimensão é dada entre parênteses.

    73

    Figura 4.2 Ilustrações das estruturas dos espaçadores das IRMOFs e de seus

    tamanhos conforme indicado (d) para a IRMOF-1.

    75

    Figura 4.3 Estrutura da IRMOF-1. A esfera azul representa o volume livre do

    poro (cavidade).

    80

    Figura 4.4 Isotermas de adsorção de excesso de metano obtidas utilizando-se

    os campos de força UFF e OPLS e o resultado experimental para a

    IRMOF-1 (MOF-5, benzeno).

    80

    Figura 4.5 [-] Potencial L J para e no ponto central; [-] Potencial LJ para

    e Potencial LJ para + 20% e e [-] Potencial LJ

    para e utilizou-se um fator multiplicativo 0,05 para

    o potencial de LJ para facilitar a visualização.

    82

    Figura 4.6 Caixas de simulação da IRMOF-1 com diferentes formatos e

    tamanhos: CUB-1 (a), CUB-2 (b), e CUB-3 (c).

    84

  • Figura 4.7 Isotermas de adsorção de excesso do metano na IRMOF-1 obtidas

    com as diferentes caixas computacionais CUB-1, CUB-2, CUB-3

    utilizando o campo de força UFF.

    85

    Figura 4.8 Isotermas de adsorção de excesso para a IRMOF-1 (a) e IRMOF-6

    (b) com fins de análise da presença ou não dos átomos de

    hidrogênio nas IRMOFs com potencial UFF.

    86

    Figura 4.9 Isotermas de excesso (metodologia com gás hélio) e efetiva

    (metodologia com εij=0) para IRMOF-1 (a) e IRMOF-6 (b).

    88

    Figura 4.10 Isotermas de adsorção absolutas (a) e de excesso (b) para as

    IRMOF-6, IRMOF-6SS e IRMOF-6PP.

    90

    Figura 4.11 Isotermas de adsorção absoluta e excesso para as IRMOF-1

    (calculada e experimental), IRMOF-6 (calculada e experimental),

    IRMOF-1-4N, IRMOF-1-4P e IRMOF-6SS.

    93

    Figura 4.12 Isotermas de adsorção absoluta (a) e de excesso (b) para as

    IRMOF-993 (antraceno) e pelas IRMOF-993-2S, -993-2O, -993-

    4S, -993-4O e -993-2CH.

    96

    Figura 4.13 Isotermas de adsorção absoluta e de excesso para as IRMOF-

    1(calculada e experimental), IRMOF-20, IRMOF-6SS e IRMOF-1-

    4S (carboditióico).

    98

    Figura 4.14 Isotermas de adsorção absoluta e de excesso para as IRMOFs

    (tetrabromo e antraceno) na conformação plana e rotacionada de

    90º.

    100

    Figura 4.15 Análise conformacional do anel benzênico na célula unitária da

    IRMOF-1 saturada com grupos -CH3 calculada com o método

    ONIOM(B3LYP/6-31G:AM1) (linha cheia) e a conformação do

    anel benzênico calculada com o método B3LYP/6-31G mantendo a

    posição relativa do grupo dicarboxilato fixa (linha tracejada).

    101

    Figura 4.16 Isotermas de adsorção de excesso e absoluta para as IRMOF-1,

    IRMOF-6, IRMOF-6SS e IRMOF-1-4S.

    103

  • Figura 4.17 Isotermas de adsorção de excesso de todas IRMOFs propostas neste

    trabalho.

    106

    Figura 4.18 Isotermas efetivas de todas IRMOFs propostas neste trabalho. 106

  • Lista de Tabelas e Gráficos

    página

    Tabela 1 Propriedades físicas do metano. 25

    Tabela 2 Condições e propriedades de diferentes modos de armazenamento

    de metano.

    27

    Tabela 3 Projeção de vendas de gás natural para 2005 no Brasil. 28

    Tabela 4 Densidade volumétrica energética (MJ/L) para combustíveis usados

    em transporte.

    32

    Tabela 3.1 Parâmetros do campo de força UFF dos átomos/grupos utilizados

    neste trabalho.

    67

    Tabela 3.2 Parâmetros do campo de força UFF para os termos cruzados para o

    metano.

    69

    Tabela 3.3 Parâmetros do campo de força UFF para os termos cruzados para o

    hélio.

    69

    Gráfico 4.1 Correlação do tamanho da aresta com o tamanho do espaçador. O

    coeficiente angular da reta do ajuste é 0,9758 e R2 = 0,997 (N =

    15).

    74

    Gráfico 4.2 Relação entre as quantidades adsorvidas absolutas em 40 kPa com

    as dimensões da aresta e do espaçador das IRMOFs.

    76

    Gráfico 4.3 Relação entre as quantidades adsorvidas de excesso em 40 kPa com

    as dimensões da aresta e do espaçador das IRMOFs.

    77

    Gráfico 4.4 Relação entre as quantidades adsorvidas efetiva em 40 kPa com as

    dimensões da aresta e do espaçador das IRMOFs.

    78

  • Sumário

    Resumo

    Lista de Abreviaturas

    Lista de Figuras, Gráficos e Tabelas

    Capítulo 1

    1. Introdução 1

    1.1 Adsorção de gás em IRMOFs 8

    1.2 Aplicações de redes metalorgânicas 12

    1.3 Fundamentos e Aspectos gerais da adsorção em gases 13

    1.4 Teorias da adsorção 16

    1.4a Teoria de Langmuir 21

    1.4b Teoria de Freudlich 22

    1.4c Teoria de BET 23

    1.5 Gás Natural 24

    1.6 Transporte e Armazenamento de gás natural 25

    1.7 Materiais para tecnologia GNA 28

    1.8 Desafios da tecnologia GNA 32

    1.9 Efeito da densidade do adsorvente na capacidade de armazenamento 34

    Capítulo 2

    2. Monte Carlo 36

    2.1 A integração com método Monte Carlo 37

    2.2 O método Monte Carlo e as propriedades físicas 39

    2.2.1 O método Monte Carlo com algorítimo de Metropolis 44

    2.2.2 O método Monte Carlo aplicado a simulação de sistemas químicos 46

  • 2.2.3 Ensemble e sistemas ergódicos 49

    2.3 Monte Carlo Grã-Canônico 49

    2.31 Cálculo da isoterma de adsorção de excesso 55

    2.4 Campo de força 58

    2.4.1 Campo de força Universal (UFF) 59

    2.4.2 Regras de combinação 59

    2.5 Austin-Model 1 (AM1) 60

    2.6 Teoria do Funcional de Densidade (DFT) 60

    Capítulo 3

    3. Procedimento Computacional 64

    3.1 Obtenção das estruturas das IRMOFs 66

    3.2 Obtenção das isotermas 67

    Capítulo 4

    4. Resultados e Discussões 71

    4.1 Estruturas previstas das IRMOFs 71

    4.2 Validação da caixa de simulação e o campo de força 79

    4.3 Validação da remoção dos hidrogênios das caixas de simulação 85

    4.4 Validação da metodologia de excesso 87

    4.5 Isotermas de adsorção das IRMOFs propostas 89

    Conclusões 107

    Perspectivas 109

    Referências 110

  • 1

    Capítulo 1

    Introdução

    A instabilidade no mercado de combustíveis derivados do petróleo, além do

    aumento dos interesses pelas questões ambientais, estimulou as busca de combustíveis

    alternativos (Matranga et al., 1992). Neste âmbito, ressalta-se o gás natural (GN) como

    recurso natural não renovável ainda disponível em grandes quantidades, subutilizado em

    seu potencial energético e ecologicamente mais atrativo devido a sua queima mais

    limpa.

    De fato, o Brasil e o mundo passaram a investir mais no consumo de GN, mas

    para que sua utilização em larga escala seja factível, é necessário que o mesmo seja

    armazenado de forma segura, prática e econômica. Um sistema bastante promissor

    consiste no armazenamento de gás natural em baixas pressões (< 40 bar) na sua forma

    adsorvida, a qual é capaz de estabelecer boa relação entre o custo de compressão e

    capacidade de armazenamento comparado ao gás natural comprimido (CNG --- do

    inglês Compressed Natural Gas) (Mota et al., 1997a).

    Uma alternativa interessante para CNG é o gás natural adsorvido (ANG do

    inglês--- Adsorbed Natural Gas), que é usualmente armazenado em nanotubo de

    carbono de parede única (Muris et al., 2001), zeólita (Dunn et al., 1996), e carvão

    ativado (Quinn et al., 1992). Para promover a aplicação veicular do metano, por

  • 2

    exemplo, o Departamento de Energia dos Estados Unidos fixou uma meta para o

    armazenamento do metano de 180 cm3(CNTP)/cm

    3, na temperatura ambiente e pressão

    equivalente ao volume do metano por volume do material adsorvente abaixo de 35 bar.

    No valor desta meta, a densidade energética do gás natural adsorvido (GNA) é

    comparável ao gás natural comprimido (GNC) usado atualmente. (Burchell et al.,

    2000).

    Para estes fins, o desenvolvimento de novos materiais com propriedades

    específicas obtidos de blocos de estruturas moleculares bem definidas (O’Keeffe et al.,

    2000) tem se tornado um procedimento e técnica robusta e rápida. Copolimerizações de

    uma ampla gama de moléculas orgânicas com complexos polinucleares podem resultar

    na formação de redes metal-orgânicas (MOFs -- do inglês Metal Organic Framework)

    (Yaghi et al., 2003, Schlichte et al., 2004, Rosi et al., 2002, Chui et al., 1999, Rowsell

    et al., 2004, Eddaoudi et al., 2001) que são consideradas uma nova classe de polímeros

    de coordenação. MOFs com suas unidades de conexão inorgânicas (baseados em

    complexos de metal de transição ou agregados - clusters) e suas variedades de

    espaçadores orgânicos são materiais promissores, pois possuem tamanho do poro

    uniforme e monodispersividade em escala nanométrica.

    O espaçador e o agregado metálico são projetados para fornecer redes

    tridimensionais (3D) abertas. De fato, as unidades orgânicas e inorgânicas são

    denominadas de unidades de construção secundárias (SBUs – do inglês Secondary

    Building Units) e as suas geometrias, em princípio, devem definir a estrutura do sólido.

    Alguns exemplos de SBUs estão ilustradas na figura 1.

  • 3

    Figura 1: Exemplos de Unidades de Construção Secundárias (SBUs). Cores dos átomos: vermelho

    = oxigênio, verde = nitrogênio, preto = carbono. Nas unidades inorgânicas o poliedro metal-

    orgânico está em azul e o polígono ou poliedro definido pelos átomos de carbono do carboxilato

    estão em vermelho. Nas SBUs orgânicas os polígonos ou poliedros dos anéis aromáticos que se

    ligam as SBUs inorgânicas para formar as MOFs que são mostrados em verde. Adaptada da

    referência (Yaghi et al., 2003).

    Unidades Inorgânicas SBUs Unidades Orgânicas SBUs

  • 4

    A forma de conexão entre os blocos de construção na MOF é tão importante

    quanto suas unidades moleculares (Yaghi et al., 2003, Eddaoudi et al., 2001). Para uma

    dada topologia do conector (unidade inorgânica), por exemplo, o cluster octaédrico

    Zn4O(CO2)6 (figura 1d) obteve-se uma série isoreticular com 16 diferentes redes metal-

    orgânicas, denominadas de MOFs isoreticular (IRMOFs – do inglês Isoreticular Metal

    Organic Framework), que estão ilustradas na figura 2 (Eddaoudi et al., 2002a). Esta

    série é muito representativa, pois usando diferentes espaçadores orgânicos pode-se

    variar sistematicamente o tamanho do poro sem alterar a topologia cúbica da rede. A

    MOF básica (sem substituintes) desta série é a IRMOF-1, cuja estrutura está

    apresentada na figura 3a. Esse sistema pode ser considerado como sendo composto por

    unidades estruturais distintas: o conector octédrico representado pelo agregado de óxido

    de zinco (figura 3b), com uma unidade 4-oxo, e o espaçador orgânico benzeno (figura

    3c), resultando em uma rede porosa cúbica 3D.

    Figura 2: Série isoreticular cúbica de MOFs construídas por espaçadores dicarboxilatos e centros

    inorgânicos Zn4O. Adaptada da referência (Eddaoudi et al., 2002a).

  • 5

    Figura 3: Estrutura da IRMOF-1 (MOF-5). (a) Unidade cúbica em que cada vértice do cubo é composto

    por cluster metálico. (b) Cluster metálico. (c) Os clusters são ligados por moléculas orgânicas

    denominadas espaçadores (no caso, 1-4-benzenodicarboxilato), formando as arestas do cubo.

    Surgindo como um novo tipo de material poroso, as MOFs (Eddaoudi et al.,

    2001) tornaram-se um campo emergente de pesquisa na última década devido a suas

    diversidades estruturais e potenciais aplicações (Seo et al., 2000(a)). Em particular, sua

    grande área superficial (Chae et al., 2004), uniformidade de tamanho do poro (Eddaoudi

    et al., 2001) e as paredes do poro funcionalizáveis (Kitagawa et al., 2004) fazem com

    que as MOFs sejam explorada no armazenamento do metano e de inúmeras outras

    aplicações. As MOFs exibem propriedades exclusivas da rede tais como

    interpenetração, transformação dinâmica cristal-cristal e quiralidade. As propriedades de

    tais sistemas podem ser modificadas seguindo os procedimentos: i) troca do espaçador

    benzeno (MOF-5) por outras moléculas orgânicas; ii) substituição do conector,

    mudando o átomo metálico; iii) pela troca simultânea do espaçador e conector; iv)

    modificação pós-síntese do espaçador e/ou da unidade inorgânica. Outras propriedades

    das MOFs tais como raio da cavidade, densidade e volume livre, podem ser amplamente

    variadas, chegando-se a ter 91% de volume livre (IRMOF-16), sendo o material

    cristalino de menor densidade (Eddaoudi et al., 2002) como apresentado na figura 4. Os

    avanços nesta área são notáveis: uma nova MOF foi sintetizada atingindo área

    superficial de 4500 m2 g

    –1, em contraste com a zeólita Y, por exemplo, que possui 904

    m2 g

    –1. Esta estrutura foi denominada MOF-177 (Figura 5), a qual combina a

    excepcional área superficial, com uma estrutura ordenada e estável, que possui poros

    capazes de adsorver moléculas orgânicas grandes como C60 e corantes (Chae et al.,

    2004).

    (a) (b) (c)

  • 6

    % Volume livre

    Figura 4: Percentual de volume livre da série de IRMOF-1 a 16. Adaptado da

    referência (Eddaoudi et al., 2001).

    Figura 5: Estrutura da MOF-177, Zn4O(BTB)2, com o C60 na sua cavidade e em detalhe (BTB) benzeno tribenzoato.

    Adaptada da referência (Chae et al., 2004).

  • 7

    Várias MOFs porosas têm sido construída para armazenamento de metano, mas

    nenhuma delas atingiu ainda a meta do Departamento de Energia Norte-americano

    (Kitagawa et al., 2004(a), Noro et al., 2000).

    Recentemente, uma proposta teórica/computacional de MOF (IRMOF-993)

    baseada no espaçador 9,10-antraceno-dicarboxilato (adc) (esquema 1) prevê uma

    capacidade de adsorção do metano de 181 cm3 (CNTP)/cm

    3, excedendo a meta do DOE

    (EPAct, 1992). No entanto, experimentos utilizando antraceno-dicarboxilato tem levado

    a uma MOF ultramicroporosa (PCN-13 do inglês Porous Coordination Network) com

    limitado armazenamento de metano (Ma et al., 2008). Entretanto, a PCN-13 exibe

    adsorção seletiva de hidrogênio e oxigênio maior do que nitrogênio e monóxido de

    carbono devido ao tamanho dos poros (~3,5 Å) (Ma et al., 2007). Para sanar tal

    limitação, foi feita a ampliação do tamanho do poro usando o espaçador 5,5’-(9,10-

    anthracenediyl)di-isophthalate (adip) (esquema 1), originando a PCN-14 (figura 6), e

    acredita-se que esse material possa armazenar uma quantidade de metano de

    aproximadamente 230 cm3 (CNTP)/cm

    3, a qual é naturalmente maior que a meta de 180

    cm3 (CNTP)/cm

    3.

    Esquema 1: Espaçadores de carboxilatos que originam as redes PCN-13 e PCN-14.

    Figura 6: Rede cristalina da PCN-14, com os átomos de cobre em roxo, de carbono em cinza e

    de oxigênio em vermelho. Adaptada da referência (Ma et al., 2008).

  • 8

    1.1 Adsorção de gás em IRMOFs

    A IRMOF-1 (ou MOF-5) possui porosidade e área superficial maiores que as

    zeólitas, o que foi verificado experimentalmente através de isotermas de adsorção com

    gás Ar e vapores orgânicos tais como CH2Cl2, CHCl3, CCl4, C6H6 e C6H12. A área

    superficial aparente de Langmuir foi estimada em 2900 m2

    g–1

    , em contraste com as

    zeólitas que apresentam áreas superficiais de aproximadamente 500 m2

    g–1

    . As

    moléculas adsorvidas podem ser facilmente trocadas ou removidas sem perda de

    integridade estrutural da MOF.

    (A) (B) (C)

    Figura 7: Ilustração das IRMOF-1 (A), IRMOF-6 (B) e IRMOF-8 (C). Adaptada da referência

    (Eddaoudi et al., 2002a)

    A IRMOF-6 (Figura 7-B) apresenta adsorção de metano correspondente a 240 mg

    (CNTP)/g nas condições padrão de temperatura e pressão (CNTP) por grama de

    material. As IRMOF-1 e IRMOF-3 (R = NH2) apresentam adsorção de metano

    correspondentes a 135 e 120 cm3(CNTP)/cm

    3, respectivamente. Isto demonstra a

    dependência da adsorção com a natureza do substituinte e do ambiente químico da

    cavidade. Devido à alta área superficial e volume livre observado para as IRMOFs,

    associado com o design apropriado para a cavidade, a IRMOF-6 torna-se uma candidata

    importante para a estocagem de metano (Burchell et al., 2000). No que se refere à

    adsorção de hidrogênio, estudos comparativos entre IRMOF-1, -8, -11 e -18 (Figura 8) e

    MOF-177 indicam que a IRMOF-11 possui grande afinidade por H2.

  • 9

    Figura 8: Unidades orgânicas formadoras das IRMOFs (-1, -8, -11, -18).

    As diferenças nas unidades orgânicas se refletem no comportamento da adsorção.

    As isotermas de adsorção das IRMOF-n são reversíveis do tipo I, sem histereses,

    características de materiais microporosos (Figura 9).

    Figura 9: Isotermas de adsorção de hidrogênio em IRMOF-1, -8, -11 e MOF-177. Adaptada da referência

    (Rowsell et al., 2004).

    .

    IRMOF-1

    BDC

    IRMOF-11

    HPDC

    IRMOF-18

    TMBDC

    IRMOF-8

    NDC

  • 10

    Conforme ilustrado na Figura 10, um considerável progresso nos valores das

    quantidades adsorvidas em MOFs tem sido observado em poucos anos, a saber, MOF-2

    (1998), MOF-5 (1999) e MOF-177 (2004) (Rowsell et al., 2004) apresentam máximos

    para adsorção de N2 iguais a aproximadamente 100, 800 e 1400 mg g–1

    ,

    respectivamente. A área superficial calculada pela isoterma de nitrogênio da IRMOF-

    177 é particularmente notável, sendo uma das maiores já registradas para os materiais

    cristalinos (Vishnyakov et al., 2003).

    Figura 10: Isotermas de adsorção de nitrogênio em MOF-2, MOF-5 e MOF-177. Adaptada da

    referência (Rowsell et al., 2004).

    Existem poucos trabalhos do ponto de vista teórico-computacional que tratam da

    adsorção de metano e gás natural em sistemas como as MOFs, dentre ele destacam-se

    as simulações computacionais com o método de Monte Carlo Grã-canônico. Estas

    simulações foram empregadas no estudo da adsorção de Ar em cobre (II) benzeno-

    1,3,5-tricarboxilato MOF (Cu-BTC), permitindo comparações com experimentos de

    alta resolução de adsorção em baixas pressões.

  • 11

    Os resultados da simulação concordaram quantitativamente com as isotermas

    experimentais como mostrado na Figura 11.

    Figura 11: Isotermas de adsorção de Ar experimental e calculadas com diferentes campos de forças para

    a MOF Cu-BTC em 87,3 K. Adaptada da referência (Sarkisov et al., 2004).

    Outro trabalho relacionado (Sarkisov et al., 2004) trata das simulações

    computacionais com Monte Carlo Grã-Canônico e dinâmica molecular para

    hidrocarbonetos em IRMOF-1, que forneceram isotermas de adsorção e coeficientes de

    difusão, respectivamente. Os resultados obtidos sugerem a existência de sistemas com

    mesoporo, o que contradiz os resultados experimentais (Burchell et al., 2000) que a

    partir de estudos de adsorção de N2 apontam características de microporos para

    IRMOFs. Esta contradição pode advir do fato da simulação empregar parâmetros de

    Lennard-Jones oriundos de um campo de força genérico (DREIDING), não específicos

    para sistemas como as IRMOFs.

    Estes materiais metal-orgânicos já promoveram um impacto na ciência de novos

    materiais, portanto, o desenvolvimento de tecnologias específicas requer um

    entendimento de suas propriedades em escala molecular. A modelagem molecular

    destes sistemas possibilita o entendimento de suas propriedades peculiares.

    Ad

    so

    rçã

    o (

    cc

    ST

    P/g

    )

    experimento

    P, atmP (atm)

  • 12

    1.2 Aplicações de redes metalorgânicas

    As aplicações às quais polímeros metalorgânicos se destinam são aquelas já

    conhecidas para outros materiais porosos, e incluem a adsorção e armazenamento de

    gases, uso como peneiras moleculares e como catalisadores organometálicos (Snurr,

    2004).

    Como adsorventes as MOFs podem ser utilizadas nas aplicações tradicionais de

    retenção de poluentes gasosos em exaustão industrial, com a vantagem da maior

    porosidade desses materiais em relação àqueles utilizados tradicionalmente, como

    carvão ativado. Outra aplicação de grande expectativa para as novas redes

    metalorgânicas é o armazenamento de gases combustíveis, como gás natural, metano e

    hidrogênio molecular, com vantagens econômicas, energéticas e principalmente de

    segurança devido às baixas pressões. Aplicações em descontaminação e eliminação de

    resíduos tóxicos in vivo, com inserção de materiais porosos no trato gástrico, por

    exemplo, é um novo desafio à substituição de materiais tradicionais com vantagens na

    massa e volume de material utilizado, mas ainda exigem estudos inéditos de

    estabilidade, produtos de degradação e metabolismo biológico resultantes do uso de

    uma nova tecnologia em seres vivos.

    No aspecto catalítico, o controle do volume das cavidades de uma MOF através

    do comprimento da unidade orgânica, como o ácido 4,4'-bibenzóico em lugar do ácido

    1,4-benzenodicarboxílico, permite uma maior seletividade de tamanho do que aquela

    observada em zeólitas, e o emprego em catálise têm perspectivas que vão além daquelas

    disponíveis atualmente, fatos que também se aplica à propriedade de peneira molecular

    desses materiais. A funcionalização através da síntese orgânica ou de reações orgânicas

    do ligante antes ou após a síntese dos polímeros é também uma possibilidade inédita a

    outros materiais, dando às MOFs grande robustez.

    Esquema 1: Espaçadores Carboxilatos

  • 13

    1.3 Fundamentos e Aspectos Gerais da Adsorção de Gases

    A adsorção consiste no aumento da densidade (ou concentração) de um fluido

    nas vizinhanças de uma interface. Conforme a natureza das forças que regem o

    fenômeno, podemos classificá-la como adsorção física ou adsorção química. Num

    processo de adsorção química há formação de ligações químicas entre o soluto e o

    sólido, formando-se uma única camada de moléculas adsorvidas - monocamada. O calor

    de adsorção, por envolver ligações químicas, é da mesma ordem de grandeza dos

    calores de reação (entre 200 e 840 kJ/mol (Foust et al., 1980)). Já em um processo de

    adsorção física as forças envolvidas são forças do tipo van der Waals. Não há alteração

    química das moléculas adsorvidas, podem formar-se camadas moleculares sobrepostas e

    o calor de adsorção é pequeno (entre 2 e 20 KJ/mol, (Foust et al., 1980)).

    Conhecida desde a antiguidade, a adsorção ainda exerce importante papel na

    área tecnológica. Amplamente utilizada nas áreas de catálise, purificação de água,

    dessalinização, remoção de odores, dentre vários processos de separação de misturas;

    ganhou notoriedade dentro do conjunto de processos unitários, especialmente como uma

    alternativa em situações onde a destilação convencional se revela ineficiente e/ou

    onerosa.

    Denomina-se de adsorvente, o substrato (sólido ou líquido) sobre o qual ocorre o

    fenômeno; adsortivo, o fluido em contato com o adsorvente; e adsorbato, a(s) espécie(s)

    química(s) retida(s) pelo adsorvente.

    Quando um gás entra em contato com um sólido adsorvente, as forças de atração

    intermoleculares gás-sólido criam uma região próxima à superfície sólida onde a

    densidade local e composição do adsorbato são diferentes daquelas na fase gasosa

    (bulk). A região é chamada de fase adsorvida e pode se estender a uma distância de

    vários diâmetros de moléculas de adsorbato da superfície sólida. A criação de tal fase

    gera a base prática de todos os processos de separação e purificação de gases por

    adsorção (Sircar, 1999).

    O tamanho e a estrutura da fase adsorvida assim como os valores de densidade e

    composição do adsorbato dentro da fase adsorvida são muito difíceis de serem medidos

    experimentalmente. Estas propriedades são funções desconhecidas da pressão,

    temperatura e composição da fase gasosa.

  • 14

    Para melhor compreender as características do equilíbrio de adsorção, muitos

    esforços foram voltados para a procura de explicações fenomenológicas que pudessem

    expressar de forma eficaz as relações entre diversos sistemas adsorvente/adsorbato em

    condições distintas. Vários modelos baseados na termodinâmica foram sendo propostos,

    evoluindo dentro de uma escala de complexidade desde sistemas monocomponentes em

    sólidos homogêneos a sistemas multicomponentes em sólidos heterogêneos.

    Normalmente, os dados de equilíbrio de adsorção de gases são apresentados na

    forma de isotermas, relacionando a quantidade adsorvida com a pressão parcial do

    adsorbato na fase (Figura 12) em qual, a quantidade adsorvida é expressa em gramas do

    adsorbato (gás natural) por grama ou miligrama do adsorvente (carvão ativado). Muitas

    vezes, esta relação de massas é transformada em volume/massa ou volume/volume.

    Baseada na equação de estado do gás em rede ideal (“lattice-ideal”), desenvolvida

    especificamente para um adsorbato, a isoterma de Langmuir é um exemplo clássico que,

    apesar de ser limitada à cobertura de superfícies por apenas uma camada (monocamada)

    de adsorbato, ainda encontra aplicações em diversos ramos da ciência. Foi o primeiro

    modelo coerente para a adsorção em uma superfície plana e homogênea.

    A lei de Henry da adsorção é um exemplo bastante simples e limitado que surge

    neste contexto da modelagem do equilíbrio da adsorção.

    Figura 12: Ilustração típica da relação entre a quantidade adsorvida e a pressão da fase fluida

    para conjunto de isotermas de equilíbrio de adsorção. Adaptada da referência (Smith et al., 2000).

  • 15

    As isotermas de adsorção de maior utilidade prática são geralmente expressas

    por equações empíricas envolvendo os mesmos parâmetros presentes na equação de

    Langmuir, (Do, 1998).

    1bP

    em que representa a fração da superfície que está coberta, P é a pressão do gás

    e b é uma constante.

    Embora várias tentativas tenham sido feitas para estimar teoricamente os dados

    de equilíbrio de adsorção, utilizando técnicas de Monte Carlo (Vuong et al., 1996; Yin

    et al., 2000; Steele, 2002) e dinâmica molecular, a determinação experimental das

    isotermas é ainda, um primeiro e fundamental passo em qualquer estudo para um novo

    sistema adsorbato/adsorvente.

    Da informação obtida a partir da isoterma de adsorção, é possível estimar a

    quantidade total de adsorvente necessária para um determinado processo e,

    conseqüentemente, as dimensões dos equipamentos a serem utilizados considerando os

    efeitos do processo adsortivo. Assim, a determinação acurada dos dados de equilíbrio

    no início de quaisquer estudos visando o uso comercial da adsorção constitui um

    procedimento de fundamental importância.

    (1.3)

  • 16

    1.4 Teorias da adsorção

    Em sistemas simples pode-se traçar uma curva de concentração do soluto na fase

    sólida em função da concentração da fase fluída. Essas curvas dependentes da

    temperatura são denominadas de isotermas de adsorção.

    A isoterma de adsorção é a característica mais utilizada dos estados de equilíbrio

    de um sistema de adsorção e pode fornecer informações úteis sobre este processo. A

    partir dela é possível determinar a área superficial do adsorvente, o volume dos seus

    poros, sua distribuição e o calor de adsorção. Muitas equações teóricas ou semi-

    empíricas foram desenvolvidas para interpretar ou ajustar as isotermas experimentais.

    As equações de Langmuir, Freundlich e a equação de Brunauer-Emmett e Teller

    (BET) são as mais utilizadas no estudo da adsorção de gases e vapores sobre

    substâncias porosas. No caso da adsorção de soluções, as duas primeiras equações são

    as mais empregadas.

    A primeira classificação de isotermas foi proposta por Brunauer et al., 1940, que

    as dividiu em cinco tipos. Um sexto tipo, identificado muito posteriormente por Sing,

    1982, foi inserido às isotermas hoje reconhecidas pela IUPAC - International Union of

    Pure and Applied Chemistry, conforme mostra a figura 13, onde se tem a pressão

    relativa, na abscissa, e a quantidade de massa adsorvida, na ordenada.

    Figura 13: Tipos de isotermas de adsorção e de dessorção. Adaptada da referência (Gregg et al., 2002).

  • 17

    Isotermas do tipo I são caracterizadas pela elevada taxa de adsorção em baixa

    pressão relativa e uma posterior saturação em pressões elevadas. Essas isotermas são

    bem representadas pela equação de Langmuir (Langmuir, 1918), apesar desse modelo

    não considerar que o calor de adsorção varie com a cobertura superficial, o que acontece

    em muitos casos de isotermas do tipo I. Essas isotermas normalmente são obtidas para

    sólidos microporosos com uma superfície externa relativamente pequena (carvão

    ativado, certas zeólitas e alguns óxidos porosos). O que limita a adsorção é a

    acessibilidade ao microporo e não à superfície interna do poro. Pares adsortivos que

    apresentam uma isoterma do tipo II, por sua vez, após um crescimento acentuado em

    baixa pressão relativa, ao invés de se estabilizar em um platô, como a do tipo I, continua

    crescendo, criando as multi-camadas. Em pressões elevadas, quando os poros estão

    praticamente saturados, o processo da condensação capilar se inicia, o que incrementa

    novamente a taxa de adsorção. O modelo de BET (Brunauer et al., 1938) trata

    justamente de multi-camadas e se ajusta a esse tipo de isoterma. Normalmente, os

    adsorventes dessa isoterma são mesoporosos.

    As isotermas do tipo III apresentam uma forma convexa em toda a faixa de

    pressão relativa. Isotermas desse tipo não são comuns, e o exemplo mais conhecido é a

    adsorção de vapor d’água em carvão não poroso, altamente macroporoso. A equação de

    Freundlich se ajusta a esse tipo de isoterma. A forma convexa pode ser explicada pelo

    fato de que as interações entre o adsorbato e o adsorvente são menos significativas que a

    interação entre as partículas do próprio adsorbato. Isso explica a baixa taxa de adsorção

    a baixas pressões e um relativo aumento, à medida que a pressão relativa aumenta,

    devido ao início da interação com o sólido. Essa é inclusive, a mesma explicação para o

    início da isoterma tipo V (Sing, 1982).

    A característica principal da isoterma do tipo IV é a histerese, que é associada à

    condensação capilar em mesoporos e à formação de um segundo platô que delimita a

    máxima concentração adsorvida a altas pressões. A parte inicial, antes de se iniciar a

    histerese, possui o mesmo comportamento da isoterma do tipo II. As isotermas do tipo

    IV são obtidas por uma vasta gama de adsorventes industriais mesoporosos, como as

    sílicas e as aluminas. A equação de Brunauer, Emmett e Teller (1938) se ajusta a essa

    isoterma.

    A isoterma do tipo V é bem incomum. Ela se comporta como uma combinação

    da isoterma do tipo I e III. Pode ser observada na interação entre vapor de água e carvão

    ativado. Comparando com o tipo III, o adsorvente é mais poroso, mas o par adsortivo

  • 18

    possui uma interação ainda fraca. Assim como a isoterma do tipo IV, essa isoterma

    também apresenta histerese.

    O tipo VI representa as isotermas de adsorção em multi-camadas de gases

    nobres sobre sólidos altamente uniformes. Cada camada é adsorvida em uma

    determinada faixa de pressão relativa. No gráfico, isso é observado pela formação de

    dois ou três platôs. Trata de processos de adsorção cooperativos, que contribuem para

    que cada camada atue positivamente na formação da camada seguinte, mediante

    interações laterais entre as moléculas. Como a maioria dos adsorventes são

    heterogêneos, essas isotermas são raras. Como exemplo, pode-se citar a adsorção de

    criptônio ou argônio sobre papyex ou graphoil (tipos de grafites) à temperatura de

    nitrogênio líquido.

    Para selecionar qual material tem boa capacidade de armazenamento de gás

    natural, existem duas formas de se definir a quantidade adsorvida em um sistema gás-

    sólido: adsorção absoluta e adsorção de excesso (Sudibandriyo et al., 2003).

    Recentemente, autores acreditam que uma nova grandeza denominada isoterma efetiva

    seja mais determinante perante as outras duas mencionadas (Wei Zhou et al., 2007).

    A maioria dos dados de adsorção experimentais publicados na literatura são as

    isotermas de adsorção de excesso, que é a quantidade absoluta de gás nas cavidades do

    material poroso menos a quantidade de gás que estaria presente nos poros na ausência

    das forças intermoleculares atrativas gás-sólido. A adsorção absoluta é a quantidade

    total de gás introduzido no recipiente menos a quantidade do lado de fora do recipiente

    na fase gás. Além da adsorção absoluta e de excesso, há outra quantidade de adsorção

    de grande utilidade, denominada adsorção efetiva, que é basicamente a diferença da

    quantidade do gás no recipiente com e sem a presença do material poroso. Dessa forma,

    a adsorção efetiva pode até ser negativa, o que indica que o adsorvente não compensa o

    espaço que ele próprio ocupa e que adsorve. Essas três definições de adsorções

    (absoluta, excesso e efetiva) estão ilustradas na figura 14.

  • 19

    Figura 14: Visão esquemática das adsorções absoluta, excesso e efetiva. Adaptada da referência

    (Wei Zhou et al., 2007).

    A isoterma de excesso é medida experimentalmente através de procedimentos

    que utilizam métodos gravimétricos ou volumétricos. O primeiro método trata-se de um

    método simples e com obtenção direta das isotermas de equilíbrio de adsorção. As

    quantidades de amostras utilizadas durante os experimentos são geralmente

    minimizadas pelo uso de uma balança de precisão, podendo ser utilizado sob duas

    formas: estático (sob vácuo) e dinâmico (com fluxo de gás inerte). No método

    gravimétrico estático obtêm-se um alto vácuo e depois fazemos a regeneração do

    adsorvente com o aumento da temperatura. Tendo feito essa etapa, e já na temperatura

    do experimento, injeta-se controladamente o adsorbato até uma pressão próxima a

    desejada e acompanha-se o ganho em massa do adsorvente por meio de uma

    microbalança adequadamente conectada a um sistema de aquisição de dados. Os pontos

    da isoterma de equilíbrio são obtidos após a estabilização do sinal da microbalança a

    uma dada pressão de equilíbrio lida no manômetro. Já o método gravimétrico dinâmico

    segue praticamente os mesmos passos do estático, com exceção da regeneração do

    adsorvente que é feita com gás inerte (normalmente com gás hélio para corrigir os

    efeitos do empuxo nas medidas de adsorção) a altas temperaturas, e durante o

    experimento a concentração do adsorvato no fluido é dada pela pressão parcial do

    mesmo na corrente gasosa que passa através do sistema da microbalança. Essa pressão

  • 20

    parcial é determinada pela pressão de vapor na temperatura do banho termostatizado

    através do qual o adsorbato é levado ao interior da microbalança.

    O método volumétrico consiste no acompanhamento da curva de adsorção ou

    dessorção para uma pequena amostra de adsorvente submetida a presença do gás. A

    pressão é mantida constante durante o experimento usando uma bureta de gás para

    variar o volume do sistema à medida que a adsorção progride, no qual um dos volumes

    é preenchido com gás hélio (inerte) para determinar o volume que o material poroso

    contido no recipiente ocupa e o outro com gás adsorbato. A diferença desses volumes

    nos fornecerá a quantidade adsorvida a uma determinada pressão.

    Post (1991) lista as vantagens e desvantagens deste método, quando comparado

    ao método gravimétrico da seguinte maneira:

    equipamento típico para as medidas volumétricas é bastante simples e fácil

    de operar, além de exigir um investimento financeiro menor que o

    requerido para a aquisição da microbalança de vácuo de alta precisão;

    A alta sensibilidade e estabilidade do medidor de pressão, juntamente com

    a rápida resposta do sistema, permitem volume constante, e medida de

    pressão variável com uma pequena quantidade de adsorvente, o que

    diminui o risco de difusão intercristalina e os efeitos do calor de adsorção;

    A variação da pressão do adsorvato, durante o experimento, complica a

    solução analítica da equação de difusão. Os experimentos podem envolver

    casos não ideais onde a difusão intercristalina (macroporo) e os efeitos do

    calor estão envolvidos, ou casos onde as amostras são cristais com uma

    larga distribuição de tamanho.

  • 21

    1.4.a TEORIA DE LANGMUIR

    A teoria de Langmuir (Tipo I) foi a primeira equação teórica desenvolvida com

    vistas a explicar as isotermas de adsorção e utiliza o conceito dinâmico do equilíbrio de

    adsorção que estabelece a igualdade nas velocidades de adsorção e dessorção. Na

    dedução da equação são utilizadas as seguintes aproximações:

    A adsorção de uma única camada (monocamada);

    A superfície é completamente uniforme sob o ponto de vista energético;

    Não existe interação entre as partículas adsorvidas;

    A adsorção é localizada e ocorre por colisão de moléculas com sítios

    vazios.

    A equação de Langmuir pode ser aplicada tanto para sistemas em fase gasosa

    como em fase líquida, conforme as Equações (1.1) e (1.2) respectivamente, em que Va é

    a quantidade de gás adsorvido na pressão P; Vm a quantidade de gás adsorvido quando

    toda a superfície está coberta por uma camada molecular; q a quantidade de soluto

    adsorvido por unidade de massa do adsorvente em equilíbrio com o soluto de

    concentração Ce; qm a constante equivalente ao valor de saturação da monocamada e

    não depende da temperatura na ausência de interferência do solvente e b a constante que

    relaciona a adsorção específica (q/qm) com a concentração na faixa de concentração

    muito diluída.

    bP

    bPVV ma

    1

    e

    e

    m bC

    bC

    q

    q

    1

    As Equações (1.1) e (1.2) podem ser escritas nas formas lineares que é a mais utilizada

    para se verificar a aplicabilidade da teoria, conforme demonstram as Equações (1.3) e

    (3.4).

    mma V

    P

    bVV

    P

    1

    m

    e

    m

    e

    q

    C

    bVq

    C

    1

  • 22

    1.4.b TEORIA DE FREUNDLICH

    A teoria de Freundlich admite que a energia de adsorção não seja constante,

    devido à heterogeneidade da superfície. Em conseqüência, a velocidade do aumento do

    volume adsorvido Va diminui à medida que aumenta a pressão P de equilíbrio do gás

    adsorvido. O volume adsorvido é proporcional a pressão P elevada a uma potência, e

    sendo é a constante de Freundlich, dependente da temperatura e n a constante que

    também depende da temperatura.

    nFa PKV

    1

    A aplicabilidade da equação é verificada em sua forma linearizada, Equação (3.6).

    Pn

    KV Fa1

    loglog

    Quando os dados experimentais se ajustam à equação de Freundlich, um gráfico

    de log Va em função de log P resulta em uma reta. A constante é utilizada como

    uma medida relativa da capacidade de adsorção e conseqüentemente, da área

    superficial.

    Nos casos de adsorção em fase líquida, a equação de Freundlich vem sendo

    utilizada sob a forma descrita a seguir, em que é a quantidade de soluto adsorvido

    por unidade de peso do adsorvente e é a concentração residual do soluto na solução.

    neFe CKQ

    1

    Na forma linear a Equação (1.7) pode ser escrita como a Equação (1.8).

    eFe Cn

    KQ log1

    loglog

    Um gráfico de log Qe versus log Ce deve ser linear. É também importante

    examinar o valor de 1/n, pois quanto menor, maior será a afinidade de adsorção

    (Pelekanic et al., 2000).

  • 23

    1.4.c TEORIA DE BET

    O termo BET é originário do sobrenome dos seus autores Brunauer, Emmett e

    Teller e baseia-se na teoria de Langmuir ampliada para considerar adsorção em

    multicamadas.

    Na sua dedução, as forças que atuam na adsorção de camadas além da 1ª camada

    são as mesmas que atuam na condensação dos vapores. Apenas a primeira camada de

    moléculas adsorvidas está ligada por forças de adsorção. As moléculas da segunda

    camada em diante têm as mesmas propriedades do estado líquido e o calor de adsorção

    das mesmas é igual ao calor de condensação da substância adsorvida.

    A equação de BET se ajusta às isotermas dos tipos I, II e III da Figura 13, e está

    na forma da Equação (1.9), em que: C é uma constante; P é igual a pressão de equilíbrio

    do gás adsorvido; P0 a pressão de saturação do gás; Va o volume de gás adsorvido na

    pressão P e Vm o volume de gás adsorvido quando toda a superfície está coberta por

    uma monocamada.

    0

    0 11P

    PCPP

    CPVV ma

  • 24

    1.5 Gás Natural

    O Gás Natural (GN) é um recurso natural não-renovável ainda disponível em

    grandes quantidades e subutilizado em seu potencial energético. Suas reservas, para o

    nível de demanda atual são estimadas em 60 anos, o dobro dos cerca de 30 anos,

    estimados para o petróleo. É uma mistura constituída em sua maior parte de metano.

    Tem normalmente pouco enxofre, que pode ser facilmente removido. Como

    conseqüência, é um combustível ecologicamente preferível aos demais combustíveis

    fósseis.

    No Brasil, a descoberta tardia de reservas fez do uso do GN uma prática bem

    recente. Somente nos últimos 20 anos, a produção e a oferta interna dessa fonte de

    energia vêm apresentando um crescimento mais significativo, em boa parte, por conta

    de uma série de vantagens que ele apresenta, como por exemplo: é um combustível

    ecologicamente preferível, sua disponibilidade é ampla e crescente, possibilita maior

    vida útil dos equipamentos, entre outras.

    Para fins práticos, o GN pode normalmente ser representado por seu componente

    de maior concentração (geralmente superior a 90% em volume), o metano, cujas

    propriedades são mostradas na Tabela 1. Dos compostos parafínicos, o metano é o de

    menor temperatura normal de ebulição (-161ºC) e é também aquele mais difícil de ser

    adsorvido. Sua temperatura crítica é relativamente baixa (-82ºC), de forma que

    apresenta comportamento semelhante ao de um gás ideal em temperatura ambiente,

    mesmo em pressões elevadas. Com simetria tetraédrica, não apresenta momento dipolo

    ou quadrupolo, ao contrário de adsorbatos comumente estudados como N2 e CO2, que

    têm apreciáveis momentos quadrupolos. Em virtude disto, as forças de van der Waals,

    responsáveis por sua adsorção em suportes apolares, fazem com que o metano não tenha

    preferência por sítios de adsorção.

  • 25

    Ponto Normal de

    Ebulição (K)

    Temperatura

    Crítica (K)

    Pressão Crítica

    (kPa)

    Densidade Crítica

    (g/cm3)

    112 191 4,6 0,16

    Além de ser bem mais barato, o GN é um combustível ecologicamente preferível

    aos demais combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel, por apresentar queima

    relativamente mais limpa. Como conseqüência, sua queima pode reduzir algumas

    emissões prejudiciais ao meio ambiente, entre as quais podemos citar (Carslaw et al.,

    1995):

    • vapores tóxicos como o benzeno em até 100%,

    • compostos orgânicos voláteis em até 92%,

    • dióxido de enxofre em até 83%,

    • monóxido de carbono em até 25%,

    • NOx em até 10% e

    • partículas sólidas em até 90% quando comparado ao diesel.

    O aumento na utilização do GN como combustível tem, portanto, potencial

    capacidade de diminuir emissões, especialmente em áreas urbanas onde a qualidade do

    ar se tornou motivo de preocupação para a saúde pública.

    1.6 Transporte e Armazenamento de Gás Natural

    Apesar das diversas vantagens, o GN tem uma característica desvantajosa bem

    destacada – o elevado custo de transporte – que se dá por conta da dificuldade em se

    armazenar o GN em recipientes. Atualmente existem duas alternativas práticas para o

    transporte de GN, restringindo sua versatilidade em relação ao petróleo. Estas duas

    formas de transporte são através de gasodutos ou mediante tanques metaneiros. Ambas

    as formas de transporte requerem tecnologia específica e geralmente de alto custo, pois,

    para escoar GN nos dutos é preciso manter uma pressão constante ao longo da linha

    mediante estações de compressão. Além disso, gasodutos requerem diâmetros maiores

    para movimentar a mesma quantidade de energia equivalente em petróleo (um oleoduto

    pode transportar 15 vezes mais energia que um gasoduto do mesmo diâmetro). Quanto

    ao transporte por tanques criogênicos, esta é uma tecnologia muito cara por requerer

    Tabela 1: Propriedades físicas do metano (Lozano-Castelló et al., 2002a).

  • 26

    estações de liquefação e gaseificação nos pontos de envio e recepção, respectivamente.

    Trata-se do transporte de gás natural liquefeito (transporte por metaneiros), onde a

    construção de estações de pressurização nos pontos de embarque e desembarque, além

    da necessidade de tanques de armazenamento eleva o seu custo.

    Mesmo nos países com uma rede de gasodutos mais ampla e desenvolvida, tanto

    o carvão quanto o petróleo (concorrentes diretos do GN) beneficiam-se de escalas de

    produção e transporte com dimensões planetárias (suas infra-estruturas são antigas). No

    caso do petróleo, apesar de mais complexa, a atividade de refino resulta em uma gama

    de produtos ainda mais diversificada do que aquela obtida pelo processamento do GN e,

    além disso, seus derivados podem ser condicionados em botijões, barris e tanques,

    vendidos seja por litro ou por tonelada, com uma flexibilidade que permite atender a

    praticamente qualquer demanda, onde ela ocorrer, ou seja, o custo de distribuição é

    baixo comparado ao do GN. Isso explica de certa forma, a ainda baixa utilização do GN

    na matriz energética brasileira e também mundial.

    Outro ponto a se destacar é que, o investimento na construção de gasodutos é

    elevado, só se justificando para grandes demandas, o que impede atualmente a entrada

    do GN em mercados com uma demanda reduzida, porém potencial.

    Além dos problemas envolvidos pelos custos relacionados ao transporte, em

    condições normais de temperatura e pressão (CNTP), a densidade energética (definido

    como o calor de combustão por unidade de volume) do gás natural é somente 0,038

    MJ/L o que corresponde a 0,11% da gasolina (Lozano-Castelló et al., 2002a). Sob o

    ponto de vista energético, isto também é um fator negativo para a ampliação do seu

    mercado.

    Ainda com todos estes problemas, a preocupação atual com emissões de

    veículos movidos a combustíveis fósseis e o intenso aumento dos preços destes

    combustíveis vêm estimulando um notável crescimento da procura por gás natural

    comprimido (GNC) em pressões da ordem de 20 MPa.

    Nessas condições, sua densidade é cerca de 230 vezes a do GN em CNTP,

    geralmente referida como 230 cm3(CNTP)/cm

    3. Isto implica que o GNC a 20 MPa e

    25ºC tem uma densidade energética de cerca de 8,8 MJ/L (25% da gasolina). Apesar

    disso, a tecnologia GNC também apresenta desvantagens. O peso do cilindro de GNC

    (aproximadamente 1 kg/L para vasos de aço), suas restrições de geometria (tipicamente

    cilíndricos) e seu custo de confecção, além do elevado custo das instalações e operação

  • 27

    de compressão a alta pressão, são fatores determinantes para o uso ainda pouco

    disseminado do gás natural.

    O Gás Natural Liquefeito (GNL) é geralmente armazenado à sua temperatura

    normal de ebulição (112 K) em um vaso criogênico à pressão de 0,1 MPa. O GNL pode

    atingir densidade de armazenamento bastante significativa (cerca de 600 vezes maior

    que o GN em condições padrões de temperatura e pressão, 25ºC e 1 atm), conforme

    mostrado na Tabela 2, porém com altos custos operacionais.

    Uma alternativa relativamente recente para o transporte de GN que está sendo

    amplamente estudada é transportá-lo na forma adsorvida em materiais porosos, como o

    carvão ativado, por exemplo. A utilização desta tecnologia pode possibilitar o

    armazenamento de maiores quantidades de GN no mesmo volume de recipiente do que

    o volume comprimido armazenado na mesma pressão e que possam atender justamente

    a esses mercados emergentes (Tabela 3).

    Se o gás natural for armazenado na forma adsorvida (GNA), a pressão atingida

    no reservatório pode ser consideravelmente menor (cerca de 3,5 MPa), o que implica

    em menor custo com materiais de confecção do vaso e com a compressão, além de

    maior segurança (Wegrzyn et al., 1996). Outro uso potencial da tecnologia GNA é

    como forma de transporte para regiões não servidas por gasodutos, onde há um enorme

    mercado potencial de consumo de gás natural.

    Temperatura

    (K)

    Pressão (MPa) Densidade

    (g/cm3)

    Densidade

    Relativa

    GNL 113 0,1 0,4 600

    GNC 298 20 0,15 230

    GNC 298 3,5 0,0234 36

    GNA 298 3,5 0,13 150

    Gás 298 0,1 0,00065 1

    Tabela 2: Condições e propriedades de diferentes modos de armazenamento de metano (Lozano-Castelló et

    al., 2002a).

  • 28

    Setores 2002

    Milhões de m3/dia

    2005

    Milhões de m3/dia

    Crescimento ao

    ano (%)

    Transporte automotivo 2,4 4,8 28,0

    Redutor siderúrgico 0,42 0,80 24,0

    Petroquímico 0,90 1,40 15,9

    Residencial &

    comercial

    0,91 3,60 58,2

    Industrial 16,00 28,00 20,5

    Térmico 6,37 41,40 86,6

    Total 27,00 80,00 43,6

    O desempenho de um sistema de armazenamento de GN por adsorção pode ser

    avaliado através de um parâmetro conhecido como “disponibilidade” (delivery),

    comumente usado na literatura. Este parâmetro é definido como o volume de gás

    liberado por unidade de volume do vaso de armazenamento e é designado pela unidade

    cm3(CNTP)/cm

    3. Especificamente, é a quantidade de gás natural que é liberada do

    adsorvente quando a pressão é reduzida para a pressão atmosférica. É evidente que,

    como o processo de dessorção é endotérmico, o uso de calor ou de vácuo pode melhorar

    a quantidade de gás liberada e conseqüentemente, a relação v/v.

    Para ser comercialmente viável, o Departamento de Energia dos Estados Unidos

    (DOE) estabeleceu uma capacidade mínima de 180 cm3(CNTP)/cm

    3 a uma pressão de

    3,5 MPa e 25ºC. A pressão sugerida se deve ao fato de existirem normas de projeto e

    construção para vasos de armazenamento de gás nesta pressão.

    1.7 Materiais para a Tecnologia GNA

    Uma vez que a eficiência dessa tecnologia está estreitamente ligada às

    características do sólido adsorvente, a procura por materiais porosos adequados quer em

    termos de capacidade de armazenamento de GNA por unidade de volume quer em

    termos de custo do adsorvente para essa finalidade, é atualmente uma área ativa de

    pesquisa. Até agora, foram publicadas várias revisões que comparam os resultados

    obtidos por diferentes pesquisadores (Menon et al.,1998; Lozano-Castelló et al., 2002a).

    Tabela 3: Projeção de vendas de gás natural para 2005 no Brasil (Rede Gás Energia, 2003).

  • 29

    Estes estudos fazem referência aos adsorventes com elevadas disponibilidades, alguns

    deles com valores maiores que aquele estabelecido pelo DOE de 180 v/v (Parkyns et

    al.,1995; Menon et al.,1998). É importante ressaltar, no entanto, o fato de que essas

    comparações são muitas vezes feitas baseadas em valores de difícil comparação.

    Relacionado a isto, é importante distinguir entre um valor encontrado

    experimentalmente e um valor calculado a partir de dados de isoterma de equilíbrio e de

    densidade de empacotamento (relação entre a massa e o volume ocupado de uma

    amostra de sólidos), o que faz normalmente a maioria dos autores.

    Qualquer material com diâmetro de poros menor que 2 nm (microporos de

    acordo com a definição da IUPAC - International Union of Pure and Applied

    Chemistry) é capaz de adsorver gases acima de sua temperatura crítica numa quantidade

    proporcional ao volume de microporos. A grande maioria das publicações na literatura

    aponta o carvão ativado como o mais adequado tipo de adsorvente sólido microporoso

    para a adsorção de metano. Alguns estudos têm mostrado que as zeólitas (Menon et

    al.,1998), embora tenham densidades de empacotamento relativamente altas

    (comparadas com carvões ativados), têm menores volumes de microporos. Além disso,

    as zeólitas são hidrófilas e podem perder a capacidade de adsorção de metano devido à

    adsorção preferencial da umidade. Carvões ativados, em virtude da grande quantidade

    de volume de microporos, têm se mostrado mais adequados, tornando-os mais utilizados

    nas pesquisas de GNA (Parkyns et al.,1995; Alcañiz-Monge et al.,1997a; Menon et

    al.,1998).

    Normalmente, os carvões ativados são disponibilizados em três morfologias e

    seus desempenhos para armazenamento de gás natural têm sido estudados: fibras de

    carbono ativadas (Alcañiz-Monge et al., 1997a; Alcañiz-Monge et al.,1997b; Menon et

    al.,1998; Murata et al. 2002); carvões ativados granulados ou em pó (Matranga et

    al.,1992; Quinn et al., 1992; Chen et al., 1997; Sun et al., 1997; Menon et al.,1998),

    dentre os quais alguns são utilizados úmidos (Wegrzyn et al., 1996; Perrin et al., 2004);

    e monólitos de carvões ativados (Menon et al.,1998; Rubel et al., 2000; Biloé et al.,

    2001a; Inomata et al., 2002; Lozano-Castelló et al., 2002b), preparados a partir de

    diferentes precursores.

    A Figura 15 mostra a relação da densidade de várias formas de armazenamento

    de gás natural em relação à gasolina. No caso do GNA dois valores são apresentados: o

    valor correspondente à quantidade máxima teórica que pode ser disponibilizada em

    25ºC e 3,5 MPa para carvões ativados, 213 cm3(CNTP)/cm

    3 (Parkyns et al., 1995) e o

  • 30

    valor correspondente à uma disponibilidade de 120 cm3(CNTP)/cm

    3, que na prática já

    tem sido alcançada e até excedida para alguns adsorventes (Lozano-Castelló et al.,

    2002b).

    O aumento da capacidade de armazenamento de gás por adsorção ocorre quando

    A densidade de armazenamento global é maior quando comparada com a

    densidade normal do gás a uma determinada temperatura e pressão. A Figura 16

    apresenta o comportamento típico da capacidade de um vaso de adsorção de metano

    (GNA) comparado com a capacidade do vaso vazio pressurizado até de 4 MPa.

    Figura 16: Comparação da eficiência de armazenamento de GNA e GNC num mesmo reservatório.

    Adaptada da referência (Lozano-Castelló et al., 2002a).

    Figura 15: Densidade energética relacionada à gasolina. Adaptada da referência (Lozano-Castelló

    et al., 2002a).

  • 31

    Pode ser observado que a capacidade de adsorção de metano do vaso com

    adsorvente (carvão ativado) é muito mais elevada que a do vaso vazio. Isso ocorre

    porque a fase adsorvida tem uma densidade muito maior que a fase gasosa em

    equilíbrio. Por conseguinte, até esta pressão, há um aumento na capacidade de

    armazenamento em um sistema de volume fixo porque a quantidade de gás adsorvida é

    maior que a quantidade de gás deslocada pelo adsorvente.

    Na aplicação de carvões ativados em vasos de armazenamento de gás natural, há

    necessidade de se obter o máximo volume de gás armazenado por unidade de volume

    (cm3(CNTP)/cm

    3). A partir de vários estudos (Parkyns et al., 1995; Matranga et al.,

    1992; Quinn et al., 1992; Alcañiz-Monge et al., 1997a; Chen et al., 1997; Menon et

    al.,1998), conclui-se que as principais exigências para um bom adsorvente de GNA são:

    i. elevada capacidade de adsorção;

    ii. elevadas taxas cinéticas de adsorção/dessorção;

    iii. predominantemente microporoso, com poros entre 0,8 nm (maior que o diâmetro de

    duas moléculas de metano e tamanho ótimo de acordo com simulações) e 1,5 nm (para

    facilitar a cinética de adsorção), e para maximizar a disponibilidade à pressão ambiente

    (Sun et al., 2001);

    iv. densidade de empacotamento elevada, para assegurar que a capacidade de

    armazenamento e a densidade de energia em base volumétricas sejam elevadas;

    v. baixo calor de adsorção e um elevado calor específico para minimizar os efeitos de

    variações na temperatura do adsorvente durante os processos de adsorção e dessorção;

    vi. propriedades de transferência de massa adequadas;

    vii. hidrofóbico, para evitar o acúmulo de água nos poros, e;

    viii. barato.

  • 32

    1.8 Desafios da Tecnologia GNA

    O principal objetivo visado nas aplicações do GNA é aumentar sua densidade de

    energia, de forma a torná-lo competitivo com os combustíveis líquidos. A Tabela 4 lista

    alguns valores típicos da densidade energética de alguns combustíveis utilizados em

    transportes. Como pode ser notado, o diesel e a gasolina são os que apresentam maiores

    densidades de energia, observando-se também a baixa densidade energética do metanol.

    Já o GNL tem uma densidade energética relativamente elevada, mas o perigo em sua

    utilização e manipulação dificulta a difusão do seu uso, pelo menos para os veículos

    leves. A percepção do potencial de utilização do GNL como combustível demonstra a

    necessidade de se conseguir desenvolver carvões para uso de GNA.

    Tabela 4: Densidade volumétrica energética (MJ/L) para combustíveis usados em transporte (Parkyns et

    al.,1995).

    Esta meta (6 MJ/L) foi alcançada somente em alguns casos isolados nos quais

    um precursor de carbono de alta densidade é tratado para criar elevados volumes de

    microporos e com isto, uma elevada capacidade de adsorção por unidade de volume.

    Para esta meta ser alcançada, a conclusão geral a que se chega é que o carvão ativado

    deva estar na forma de monólitos ou de fibras, que, quando carregados no vaso de

    armazenamento, maximizem o volume de microporos sem afetar negativamente a

    permeabilidade do leito.

    A pesquisa em desenvolvimento de materiais adsorventes para gás natural tem

    demonstrado que vários outros problemas afetam a tecnologia do GNA. O primeiro

    problema que surge é a quantidade de gás que é retida na pressão de descarga, ou seja,

    quando um vaso de gás natural adsorvido é descarregado. A capacidade de metano

    disponível se o processo fosse isotérmico seria cerca de 90 a 85% da capacidade de gás

    armazenada. Além disso, como a adsorção é um processo exotérmico, ocorre um

    aumento na temperatura durante a carga, que resulta numa menor capacidade de metano

    armazenada em condições dinâmicas. Da mesma forma, na descarga ocorre uma

    Combustíveis

    Líquidos

    Gás Natural

    GNL GNC GNA (3.5 MPa)

    Diesel Gasolina Metanol GNL 2 MPa 10 MPa 20 MPa Atual Futuro

    37 34,8 16 23 0,8 5,6 8,8 3,8 6

  • 33

    diminuição de temperatura que concorre para diminuir a quantidade de gás

    disponibilizada pelo adsorvente.

    Estes efeitos térmicos dependem do calor de adsorção, das propriedades de

    transferência de calor do leito de adsorvente e também do calor trocado através das

    paredes do vaso e o ambiente. Estudos experimentais e de simulação mostram que a

    perda de capacidade pode chegar a 35% para um vaso isolado. A queda de temperatura

    correspondente pode chegar a 70°C. As velocidades de carga e descarga são os

    principais fatores que influenciam o comportamento do vaso.

    Por conseguinte, o desempenho e, conseqüentemente, a viabilidade de um

    sistema de GNA dependem não só das características microporosas do adsorvente,

    como também do calor de adsorção e das propriedades de transferência de calor e

    massa.

    Sendo a adsorção um fenômeno exotérmico, prevê-se que o leito adsorvente se

    aqueça durante a carga e se resfrie durante a descarga (Figura 17). Se não houver

    condições adequadas de transferência de calor, é possível que o acúmulo transiente de

    energia térmica venha a comprometer a capacidade de armazenamento do reservatório

    (Sircar 1996).

    Figura 17: Carga e descarga de um vaso de adsorção de gás natural.

    Adsorção é exotérmica;

    Capacidade de adsorção diminui com o aumento da temperatura;

    Durante a carga, a capacidade diminui.

    Dessorção é endotérmica;

    Capacidade de dessorção aumenta com o aumento da temperatura;

    Durante a descarga, a capacidade do vaso aumentará.

  • 34

    1.9 Efeito da Densidade do Adsorvente na Capacidade de

    Armazenamento (Parkyns et al.,1995)

    A discussão anterior enfatizou a importância do volume de microporos na

    capacidade de adsorção de metano em temperatura ambiente. Entretanto, como

    previamente comentado, também há uma necessidade de se maximizar a capacidade por

    unidade de volume de leito.

    É, portanto, necessário considerar as diferentes contribuições volumétricas do

    leito adsorvente. Num vaso devidamente cheio de carvão, o volume total pode ser

    considerado como sendo a soma de quatro parcelas: o volume específico ocupado pelas

    moléculas de carbono Vs, o volume específico de microporos Vmic, o volume específico

    de macro e meso poros Vm e o volume interparticular específico Vin, como mostrado na

    Equação 1.10.

    Em que V é o volume por unidade de massa de adsorvente e é a densidade do

    empacotamento. Vin e Vm podem ser agrupados, pois eles não contribuem para adsorção

    de metano, mas somente para armazenar metano em fase gasosa. Vs praticamente não

    varia de um carvão para outro, uma vez que a microestrutura desse material é

    aproximadamente grafítica. A densidade de um simples cristal de grafite é 2,25 g/cm3,

    de forma que 2,2 g/cm3 é um valor razoável como dado de trabalho. Portanto, o volume

    associado ao sólido (carbono), Vs, será admitido como o inverso de 2,2 g/cm3, ou seja

    0,45 cm3/g. Assim, a equação para o volume de um grama de leito de carvão tem a

    seguinte forma:

    inmmicb

    VVVV 45,01

    Os valores de volume de vazios podem ser determinados de diferentes maneiras.

    A densidade do empacotamento é calculada pela razão entre a massa de carvão no vaso

    de armazenamento e o volume ocupado por esta massa. A densidade de um “pellet” de

    carvão é obtida através da imersão da partícula em mercúrio a 1 atm, o que nos fornece

    a densidade do carvão, incluídos poros menores que 12 µm. Quando a pressão do

    mercúrio é aumentada para 414 MPa, o mesmo passa a penetrar em todos os poros de

  • 35

    diâmetro maiores que 3 nm. Então, o procedimento conduzido em alta pressão fornece a

    densidade do carvão incluindo poros de diâmetro menores que 3 nm. Desta forma,

    temos para cada grama de carvão:

    45,0

    1

    Hg

    micV

    Hgpellet

    mV

    11

    pelletb

    inV

    11

    Esta definição de microporo não segue estritamente a definição da IUPAC

    (tamanhos de poro < 2 nm), mas é conveniente, uma vez que segue a divisão imposta

    pela porosimetria de mercúrio.

    A densidade do metano adsorvido a 25ºC e pressão infinita é admitida como

    sendo a do metano líquido em seu ponto normal de ebulição. De acordo com isto, a

    capacidade de armazenamento de um vaso cheio com carvão depende da fração de

    volumes de microporos. Um carvão com alta densidade, grande volume de microporos e

    baixo volume de macroporos tenderá a ser, portanto, o ideal para armazenar gás natural.

    Entretanto, como os volumes interpartículas podem representar uma grande

    percentagem do volume total, os carvões devem ter uma forma geométrica que permita

    minimizar os volumes vazios. Carvões na forma de fibras, monólitos ou outra forma que

    permita ser arranjado no leito de modo a encher eficientemente todo o reservatório,

    minimizando os vazios, devem ser preferíveis em relação a pós ou “pellets”.

    Apesar de o carvão ativo ser um dos principais materiais porosos utilizados em

    GNA, a busca de materiais alternativos é importante para a viabilização econômica e

    maior utilização do gás natural. Entretanto, os custos para o desenvolvimento de tais

    materiais são elevados, pois envolvem sínteses, preparações e medidas experimentais

    demoradas. Logo, a utilização de ferramentas computacionais, tais como, simulação

    computacional de Monte Carlo Grã-Canônico podem permitir a seleção rápida de

    materiais promissores que então poderão ser preparados e testados. Este é um dos

    principais objetivos desta dissertação. No próximo capítulo serão apresentadas e

    descritas a metodologia teórica e os procedimentos computacionais. No capítulo 4 os

    resultados serão apresentados e discutidos, seguido das conclusões e perspectivas.

  • 36

    Capítulo 2

    O Método Monte Carlo

    O método Monte Carlo (MC) é utilizado em simulações estocásticas com

    diversas aplicações em áreas como a química, ciência de materiais, física, matemática,

    biologia, economia, dentre outras. O método de Monte Carlo tem sido utilizado há

    bastante tempo como forma de obter aproximações numéricas de funções complexas.

    Este método tipicamente envolve a geração de observações de alguma distribuição de

    probabilidade e o uso da amostragem obtida para aproximar a função de interesse. As

    aplicações mais comuns são em computação numérica para avaliar integrais. A ideia do

    método é escrever a integral que se deseja calcular como um valor esperado.

    Avanços no conhecimento de estados microscópicos estão sendo obtidos com o

    entendimento da estrutura e energética de sistemas moleculares, propiciado pela

    mecânica quântica e técnicas experimentais, em conjunto com formulações da

    termodinâmica estatística de Boltzmann e Gibbs. Entretanto, a complexidade

    matemática das equações envolvidas restringe a utilização de metodologias analíticas na

    abordagem de uma variedade de sistemas, nos quais as moléculas interagem via

    potenciais (simples). Em décadas recentes, o desenvolvimento de novas técnicas

    http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%ADsicahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Matem%C3%A1ticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Biologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Integral

  • 37

    computacionais e experimentais permitiu uma nova abordagem qualitativa e

    quantitativa para o estudo de sistemas moleculares complexos. Historicamente,

    podemos relacionar o início dessa nova etapa com publicações dos trabalhos pioneiros

    que introduziram os métodos de Monte Carlo (Metropolis et al., 1953) e de Dinâmica

    Molecular (Alder et al., 1957, 1959). Estes métodos fornecem informações

    termodinâmicas, estruturais e, no caso de dinâmica molecular (MD – Molecular

    Dynamics), dinâmicas de fluidos, a partir de modelos moleculares de suas interações.

    Em ambos os casos, cria-se uma caixa de simulação contendo entre 102 e 10

    4

    moléculas, geralmente cúbica, e se utiliza condiç