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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO PROVOCADO POR INTRUSÕES BÁSICAS CENOZOICAS EM ROCHAS DA BACIA POTIGUAR, RN: INTEGRAÇÃO DE DADOS GEOLÓGICOS E PETROFÍSICOS Autor: SAMIR DO NASCIMENTO VALCÁCIO Orientador: DR. ZORANO SÉRGIO DE SOUZA Dissertação n° 161 / PPGG Natal/RN, fevereiro de 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

PIROMETAMORFISMO PROVOCADO POR INTRUSÕES BÁSICAS

CENOZOICAS EM ROCHAS DA BACIA POTIGUAR, RN: INTEGRAÇÃO DE

DADOS GEOLÓGICOS E PETROFÍSICOS

Autor:

SAMIR DO NASCIMENTO VALCÁCIO

Orientador:

DR. ZORANO SÉRGIO DE SOUZA

Dissertação n° 161 / PPGG

Natal/RN, fevereiro de 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E

GEOFÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

PIROMETAMORFISMO PROVOCADO POR INTRUSÕES BÁSICAS

CENOZOICAS EM ROCHAS DA BACIA POTIGUAR, RN: INTEGRAÇÃO DE

DADOS GEOLÓGICOS E PETROFÍSICOS

Autor:

SAMIR DO NASCIMENTO VALCÁCIO

Dissertação apresentada em 15 de

fevereiro de dois mil e dezesseis ao

Programa de Pós-Graduação em

Geodinâmica e Geofísica – PPGG, da

Universidade Federal do Rio Grande

do Norte - UFRN como requisito à

obtenção do Título de Mestre em

Geodinâmica e Geofísica, com área

de concentração em Geodinâmica

Comissão Examinadora:

Dr. Zorano Sérgio de Souza (Orientador, DG/PPGG-UFRN)

Dr. Fernando Antônio Pessoa Lira Lins (DG-UFRN)

Dr. Ricardo Ivan Ferreira da Trindade (IAG-USP)

Natal RN, fevereiro de 2016

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Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Valcácio, Samir do Nascimento. Pirometamorfismo

provocado por intrusões básicas cenozoicas em rochas da Bacia

Potiguar, RN: integração de dados geológicos e petrofísicos /

Samir do Nascimento Valcácio. - Natal, 2016. x, 55f: il.

Orientador: Prof. Dr. Zorano Sérgio de Souza.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Progama de

PósGraduação em Geodinâmica e Geofísica.

1. Pirometamorfismo. 2. Petrofísica. 3. Bacia Potiguar.

4. NE do Brasil. I. Souza, Zorano Sérgio de. II. Título.

RN/UF/CCET CDU 552.4.051

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“O homem que move

montanhas começa

carregando pequenas

pedras.”

(Provérbio Chinês)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o

Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG) e ao

Departamento de Geologia (DGeo) pela infraestrutura concedida que

oportunizaram a realização deste trabalho.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pela concessão de bolsa de Mestrado.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Zorano Sergio de Souza, pela paciência,

dedicação e o aprendizado proporcionado por sua experiência que contribuíram

nesta etapa acadêmica da minha vida e para meu trabalho.

Ao corpo docente do PPGG e DGeo, principalmente ao prof. Dr. Narendra

Kumar Srivastava, pela disponibilidade em ajudar sempre que possível nas

dúvidas sobre rochas carbonáticas, e prof. Dr. José Antônio de Morais Moreira,

pelo apoio e auxílio na aquisição e tratamento de dados petrofísicos.

A secretaria do PPGG, especialmente a Sra. Nilda Lima, pelos excelentes

serviços e sua enorme prestatividade, bem como ao servidor Francisco Canindé

pela forma profissional e responsável na condução de veículo de campo.

Aos meus amigos e colegas que ajudaram sempre que possível, direta ou

indiretamente, em especial Thuanny, Keyla, Lucas, Erlanny, Alinielly, Antomat,

Sílvia Terra e Juliana Garrido.

A minha família pelo amor, incentivo е apoio incondicional nas horas

difíceis, de desanimo e cansaço.

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RESUMO

A Bacia Potiguar, localizada na Margem Equatorial Brasileira, possui diversas

rochas sedimentares que são afetadas por intrusões ígneas básicas cenozoicas,

conhecidas como Magmatismo Macau. Dentre os efeitos mais proeminentes,

relacionados a estas intrusões, temos a formação de buchitos, rochas

pirometamórficas que ocorrem em altas temperaturas e baixas pressões, na

fácies metamórfica sanidinito. Por meio de revisão bibliográfica, observações de

campo, petrografia, petrofísica, acesso a bancos de informações de trabalhos

prévios na área e resultados da presente pesquisa, foi possível caracterizar e

estimar os efeitos termais produzidos na auréola de alguns corpos hipabissais

nesta bacia. As feições mais relevantes associadas às intrusões são:

compactação, faturamento hidráulico, fusão parcial e recristalização das rochas

encaixantes. De acordo com as ocorrências minerais registradas, interpretam-se

de 800 a 1200 °C e pressões inferiores a 0,5 kbar nos contatos dos corpos

ígneos. O modelamento térmico do plug São João registrou o efeito metamórfico

até 150 m do contato com dissipação de calor total em aproximadamente 265

mil anos. Após o pico de temperatura, seguiu-se a fase de arrefecimento

registrada com remobilização e precipitação de minerais de baixa temperatura

em falhas, fraturas e geodos, derivados de reações com rochas sedimentares e

fluidos metassomáticos / hidrotermais, com abundante silicificação e

carbonatização

Palavras-chaves: Pirometamorfismo; Petrofísica; Bacia Potiguar; NE do Brasil.

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ABSTRACT

The Potiguar Basin is located in the Brazilian Equatorial Margin and presents

sedimentary rocks affected by Cenozoic basic igneous intrusions, known as

Macau Magmatism. The most prominent effect related to these intrusions is the

formation of buchites, pyrometamorphic rocks that occur at very high

temperatures and very low pressures in the sanidinite metamorphic facies.

Through literature review, field observations, petrographic and petrophysical

data, accessing the database of previous studies and results from this research,

it was possible to characterize and estimate the effects produced in the thermal

aureole of some hypabyssal bodies in the basin. The most relevant features

associated with the intrusions are: compactation, hydraulic fracturing, partial

melting and recrystallization of country rocks. According to the observed mineral

occurrences, temperature of 800 to 1200 °C and pressure below 0,5 kbar were

estimated at the contacts of the igneous bodies. The thermal modeling of the São

João plug indicates thermal effects extending up to 150 m away from the contact

and cooling time of approximately 265,000 years. After the peak of temperature,

followed a cooling phase registered by remobilization and precipitation of

minerals at low-temperature in faults, fractures and geodes, interpreted as

derived from reactions with sedimentary rocks and metasomatic / hydrothermal

fluids with abundant carbonatization and silicification.

Keywords: Pyrometamorphism; Petrophysics; Potiguar Basin; NE Brazil.

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Sumário RESUMO ................................................................................................................................... vi

ABSTRACT .............................................................................................................................. vii

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ ix

LISTA DE TABELAS ....................................................................................................... xi

1. Introdução .........................................................................................................................1

1.1 Apresentação, Relevância e Objetivos...............................................................1

1.2 Localização da área e vias de acesso ................................................................2

1.3 Metodologia ..............................................................................................................3

2. Contextualização regional .............................................................................................5

3. Estado da arte ................................................................................................................11

3.1. Pirometamorfismo ígneo .....................................................................................11

3.2. Propriedades térmicas das rochas ...................................................................15

3.2.1. Condutividade Térmica ...................................................................................16

3.2.2. Difusidade térmica ...........................................................................................17

4. Artigo - Modelamento Termal de uma Auréola Metamórfica em torno de uma

Intrusão Básica Hipabissal Paleógena na Bacia Potiguar, NE do Brasil.................19

4.1. Introdução ...............................................................................................................20

4.2. Contexto Geológico Dos Corpos Estudados ..................................................21

4.3. Caracterização Petrográfica e Petrofísica .......................................................25

4.3.1. Corpo Básico Intrusivo ................................................................................25

4.4. Petrofísica das rochas ......................................................................................31

4.5. Discussão ................................................................................................................40

4.6. Conclusões .............................................................................................................44

4.7. Referências .............................................................................................................45

5. Discussões e Conclusões Gerais..............................................................................49

6. Referências .....................................................................................................................51

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Lista de Figuras

Capítulo 1

Figura 1.1: Mapa de localização da área de estudo (quadrado vermelho) com vias de acesso

utilizadas (modificado de Cassab, 2003, e Angelim et al., 2004). .................................................... 3

Figura 1.2: Diagramação e ordem de atividades executadas e realizadas neste trabalho. ......... 3

Capítulo 2

Figura 2.1: Esboço geológico, tectônico e limites aproximados da Bacia Potiguar, NE do Brasil

(Cremonimi et al., 1996)........................................................................................................................ 5 Figura 2.2: Localização das principais áreas de magmatismo meso-cenozóico no NE brasileiro.

(Compilado de Almeida et al., 1988). .................................................................................................. 6 Figura 2.3: Mapa de localização da área de estudo evidenciando os principais corpos

magmáticos encontrados na região. Baseado em interpretações de imagens de satélite

Landsat 5 TM, Carta geológica SB.24-X-D-III – Jandaíra (CPRM, 2011) e Santos et al. (2014) .. 8

Figura 2.4: (A) Calcário não afetado, com acamamento sub-horizontal (B) Macrofóssil

preservado de gastrópode (circulado em vermelho). Afloramento JF-1. ......................................... 9 Figura 2.5: Aspecto geral de rochas carbonáticas com maior grau de efeito atribuído ao

pirometamorfismo, em que ocorre formação de mármore (Marm). Afloramento ANC-3. .............. 9

Capítulo 3

Figura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o

ponto triplo de aluminossilicatos (compilado de Winter, 2001). ...................................................... 13

Figura 3.2 : Diagrama pressão vs. Temperatura, indicando o campo de geração de rochas

pirometamorficas (compilado de Grapes, 2011). ............................................................................. 15

Capítulo 4

Figura 4.1: Mapa geológico simplificado da porção emersa da Bacia Potiguar (modificado de

Cassab, 2003, Angelim et al., 2006). A área objeto deste trabalho está delimitada pelo

retângulo vermelho. ............................................................................................................................. 22 Figura 4.2: Mapa geológico mostrando a localização dos corpos na região do plug de São

João, alvo deste trabalho. Interpretações baseadas em dados de campo, fotografias áreas,

Santos et al. (2014) e Carta geológica SB.24-X-D-III – Jandaíra (CPRM, 2011). ........................ 24 Figura 4.3: Em (A) Aspecto macroscópico do mármore (Marm) com frentes de silicificação

associadas (F.Sil). Em (B) Porção central do plug São João com solo escuro derivado de

processos intempéricos em rochas básicas (basaltos e diabásios). Afloramentos SJ-32 e SJ37,

respectivamente................................................................................................................................... 25 Figura 4.4: Microtexturas do plug básico em nicóis paralelos. (A) Ripas de plagioclásio (à

esquerda) e amígdala com preenchimento parcial de calcita. (B) Contato de venulação de

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x

basalto (à esquerda) com microgabro, onde se destaca a textura subofítica com augita

intergranular. Amostras J107.3 (em A) e J107.8 (em B). ................................................................ 26

Figura 4.5: Aspectos petrográficos gerais de arenitos encaixantes preservados. Em (A)

fotomicrografias de arenitos sub-arcoseanos com grãos sub-angulosos de quartzo (Qz) e

cimento ferruginoso (em nicóis paralelos) ou formado (B) por calcedônia (Cld) (com

polarizadores cruzados). ..................................................................................................................... 27 Figura 4.6: Diagrama P-T para rochas de composição quartzo-feldspáticas termalmente

afetadas e assembleias mineralógicas típicas associadas (compilado de Grapes, 2011). ......... 28 Figura 4.7: Minerais e microtexturas em arenitos encaixantes. Em (A) Aspecto geral de um

buchitos claro, com surgimento de material vítreo (Vdr) (em polarizadores paralelos). Na

fotomicrografia (B) aspecto do buchito escuro, com destaque para o material vítreo castanho

englobando material carbonático (Cb) e formação de grânulos de cordierita (Crd) (em nicóis

paralelos). Em (C) possível assimilação de feldspato (Fd) em vidro (Vrd) gerado pelo processo

de fusão parcial dos arenitos (em polarizadores paralelos) e em (D) desenvolvimento de cristais

aciculares de tridimita (Trd) (em polarizadores paralelos). Amostras SJ-40A, SJ-38, SJ-23, SJ-

35, ANC-1C e ANC-1C respectivamente. ......................................................................................... 29 Figura 4.8: Componentes observados em rochas carbonáticas não afetadas termalmente. Em

(A), biointraesparito com grande quantidade de bioclastos (algas (alg), equinodermas (eqd) e

bivalves (bv)) na amostra SJ-5. Em (B), o aspecto geral de um micrito pouco afetado na

amostra SJ-35B. Fotomicrografias tiradas com polarizadores paralelos. ...................................... 30 Figura 4.9: Aspectos das rochas carbonáticas afetadas da região do plug São João

(Fotomicrografias com nicóis paralelos). (A) Mudstone pouco afetado com aparente aglutinação

por compactação do micrito. (B) calcário muito afetado com fraturas preenchidas por calcita.

(C) Aspecto microscópico do calcário transformado em mármore com megacristais de calcita e

dolomida. Amostras SJ-32, J79-3B, SJ-26 respectivamente. ......................................................... 31

Figura 4.10: Procedimento de aquisição dos dados de difusividade térmica, calor especifico e

condutividade térmica. ........................................................................................................................ 32 Figura 4.11: Dados estatísticos referente às médias de condutividade térmica, calor especifico,

difusividade térmica e mineralogia das rochas básicas estudadas. ............................................... 33 Figura 4.12: Dados estatísticos sobre as médias de condutividade térmica, calor especifico,

difusividade térmica e mineralogia das rochas carbonáticas estudadas. ...................................... 34

Figura 4.13: Dados estatísticos sobre as médias de condutividade térmica, calor especifico,

difusividade térmica e mineralogia das rochas siliciclásticas estudadas. ...................................... 35 Figura 4.14: Dados de densidade dos diversos litótipos presentes na região e o desvio padrão

encontrado. Dados cedidos por Juliana Garrido Damaceno (Mestrado em andamento –

PPGG/UFRN) e compilados de Sousa (2009). ................................................................................ 36

Figura 4.15: Perfil de fluxo térmico do entorno do corpo ígneo principal do plug São João. ........ 40

Figura 4.16: Curva de temperatura vs. tempo para arenitos de 1 até 100 m do contato com o

corpo intrusivo de São João (oeste) admitindo uma temperatura constante de 1200 °C. ........... 41 Figura 4.17: Modelamento térmico (A) e possível explicação para divergências nos dados de

isoterma e efeitos pirometamórficos na porção sudoeste, representada pela possível extensão

do corpo esférico em profundidade, observável em gravimetria, fornecendo calor local não

previsto em modelamento (B). Mapa gravimétrico cedido por Juliana Garrido Damaceno

(Mestrado em andamento – PPGG/UFRN). ..................................................................................... 42

Figura 4.18: Relação entre o modelamento térmico e texturas de calcários (adaptado de Terra,

2015) e arenitos afetados no perfil A-B do modelamento térmico realizado (Figura 4.16A). ...... 43

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xi

Lista de Tabelas

Capítulo 3

Tabela 3. 1: Tipos e gênese de rochas pirometamórficas segundo Grapes (2011). ................... 12 Tabela 3.2: Condutividade térmica em minerais anisotrópicos. Em que, λ11 e λ33 referem-se aos

valores encontrados nas faces cristalográficas 010 e 001 (Compilado de Clauser e Huenges,

1995). .................................................................................................................................................... 16 Tabela 3.3: Difusividade térmica para alguns materiais e rochas (Bunterbarth,1984; Schön,

2004). .................................................................................................................................................... 18

Capítulo 4

Tabela 4.1: Relações matemáticas para o cálculo do fluxo térmico. ............................................. 38

Tabela 4.2: Valores usados para os cálculos de fluxo térmico. ..................................................... 39

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1. Introdução

1.1 Apresentação, Relevância e Objetivos

A influência termal de corpos ígneos em bacias sedimentares tem grande

relevância para a exploração de petrolífera. O efeito do magmatismo e seu alcance

são condicionados por propriedades geométricas, volume de magma, temperatura,

profundidade de colocação de intrusões e pelo comportamento reológico das rochas

encaixantes (Jaeger, 1964; Norton e Knight, 1977; Zalán et al., 1985; Conceição et al.,

1993; Grapes, 2011).

Segundo Thomaz Filho et al. (2008), a pressão exercida unicamente pelo

soterramento sedimentar é incapaz de gerar hidrocarbonetos nas bacias

sedimentares mais rasas. Estes autores sugerem que a presença de hidrocarbonetos

nessas bacias seria o reflexo da energia térmica provinda de intrusões vulcânicas e

subvulcânicas, que propiciaria a maturação das rochas fontes.

Além disso, no contexto econômico, características importantes podem ser

destacadas neste processo geológico, como a formação de trapas petrolíferas,

redução da densidade de óleos em reservatórios, compactação por recristalização

mineral (alterando porosidade e permeabilidade), facilitação na migração por fraturas

e/ou falhas relacionadas à intrusão, além de geração de sistemas hidrotermais

ocasionando brechação por fluido remanescente ou até mesmo mineralizações

(Mizusaki et al., 2008; Thomaz Filho et al., 2008; Wang et al.,1989, Wang et al., 2012)

De acordo com revisão extensiva de Grapes (2011), as condições de alta

temperatura e baixas pressões (acima de 1100 °C e abaixo de 3 kbar), comumente

relacionadas às intrusões magmáticas em bacias sedimentares rasas, podem

ocasionar pirometamorfismo. Este processo seria marcado por surgimento de

auréolas de influência térmica com possível fusão parcial da rocha encaixante, o que

acaba gerando recristalização de novas rochas. A eventual fusão parcial de pelitos e

arenitos / siltitos arcoseanos forma rochas denominadas buchitos.

A Bacia Potiguar, situada no nordeste brasileiro, possui registro de vários

corpos vulcânicos e subvulcânicos que afloram como diques, plugs, soleiras e

pequenos derrames. Parte desses corpos ocorre intercalada em pacotes

sedimentares basais e/ou de topo da bacia (Sial, 1976, Mizusaki, 1989; Soares et al.,

2003). Tendo em vista a importância econômica e científica em reconhecer e entender

as interações térmicas em áreas sedimentares, a presente pesquisa pretende

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caracterizar e mensurar os efeitos térmicos relacionados a esses corpos. Para isto, foi

selecionada uma área com diversas ocorrências já reportadas na literatura (Paiva,

2004; Silveira, 2006; Sousa et al., 2008; Sousa, 2009; Santos, 2011; Nobre, 2012;

Terra, 2013; Medeiros, 2013; Santos et al., 2014).

A metodologia adotada no presente trabalho incluiu: (i) expedições de campo

para a caracterização de ocorrências in situ e coleta de amostras; (ii) descrição de

feições petrográficas através de microscopia de luz transmitida; (iii) criação de um

banco de dados petrofísicos, compilação e organização de informações prévias

obtidas por outros autores (Sousa, 2009, Santos, 2011; Nobre, 2012); (iv) atualização

de mapas geológicos de detalhes das intrusões básicas; (v) modelamento do fluxo

térmico.

1.2 Localização da área e vias de acesso

Os corpos pesquisados estão encaixados em arenitos e calcários

correlacionados às formações Açu e Jandaíra. Eles afloram entre os municípios de

Jandaíra e Pedro Avelino, porção setentrional do Rio Grande do Norte. A área é

geograficamente limitada pelos paralelos 5o20’S e 5o30’’S e pelos meridianos 36o10’W

e 36o30’20’’W, totalizando cerca de 440 km2. O acesso a área se dá a partir da cidade

de Natal (RN), por meio da BR-406 e BR-226, e em seguida usando-se estradas

carroçáveis para chegar aos corpos ígneos (Figura 1.1).

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Figura 1.1: Mapa de localização da área de estudo (quadrado vermelho) com vias de acesso utilizadas

(modificado de Cassab, 2003, e Angelim et al., 2004).

1.3 Metodologia

Para elaboração deste trabalho foram feitas atividades de campo e de

laboratório. O procedimento utilizado é ilustrado no fluxograma da figura 1.2.

Figura 1.2: Diagramação e ordem de atividades executadas e realizadas neste trabalho.

A etapa pré-campo consistiu na compilação de dados (através de um banco de

amostras existente da área), revisão bibliográfica e produção de mapas geológicos.

Os mapas gerados foram interpretados a partir de dados de afloramentos prévios,

Pré-Campo

• Revisão Bibliográfica

• Revisão do Banco de Dados da área

• Mapeamento Prévio

Campo

• Caracterização in situ

• Coleta de Amostras

Pós-Campo

•Descrições petrográficas em microscopia óptica

•Aquisição de dados de petrofísica em equipamento Quickline-30s

•Modelamento do Fluxo Térmico em software

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mapeamentos anteriores, fotografias aéreas (banco de dados ESRI-ArcGIS) e

imagens de satélite Landsat 5 TM, SRTM e ASTER.

A etapa de campo foi realizada em dois períodos. A primeira expedição focou

na caracterização in situ das rochas e nos efeitos térmicos macroscópicos, bem como

na coleta de amostras para confecção de lâminas delgadas. A segunda expedição foi

realizada visando aquisição de dados petrofísicos para a região do plug de São João.

O último passo foi a etapa pós-campo. Nesta etapa, foram feitas atividades de

laboratório, que incluíram: análise e descrição de laminas delgadas utilizando

microscópio petrográfico de luz transmitida, aquisição de dados de petrofísica através

do equipamento Quickline-30s, elaboração de simulações de dissipação do calor e

fluxo térmico por meio do software MatLab 8.5. Além disso, foram realizadas correções

cartográficas e integração de todos os dados obtidos para as interpretações finais.

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2. Contextualização regional

A Bacia Potiguar abrange a porção setentrional do Rio Grande do Norte e a

parte leste do Ceará. Tem origem ligada à evolução da margem equatorial Atlântica.

Sua área aproximada é de 48.000 km2, sendo apenas 21.500 km2 emersos. Seus

limites são representados a oeste pelo Alto de Fortaleza e a leste pelo Alto de Touros

(Soares et al., 2003; Pessoa Neto et al., 2007).

Na porção central da bacia, há um sistema de grabens assimétricos de direção

predominantemente SW-NE, separados por altos do embasamento, assumindo de

acordo com Bertani et al. (1987) característica de rifte intracontinental (Figura 2.1).

Por sua vez, este faz parte do sistema de riftes do trend Cariri-Potiguar (Matos, 1992).

Figura 2.1: Esboço geológico, tectônico e limites aproximados da Bacia Potiguar, NE do Brasil

(Cremonimi et al., 1996).

Segundo Chang et al. (1988) e Matos (1992, 2000), A evolução da bacia

potiguar pode ser dividida em três estágios tectônicos distintos, denominados sin-rifte

I, II e III. Já sua configuração estratigráfica pode ser agrupada em quatro seqüências

de posicionais: rifte, transicional, drifte transgressiva e drifte progradacional. A

primeira (Formação Pendência) ligada ao processo de subsidência relacionado ao

mecanismo de afinamento crustal (sin-rifte II de acordo com Matos,1992). A fase

subsequente é relacionada à deposição da sequência transicional (Formação

Alagamar), que é interrompida na fase drifte com a deposição da sequência

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transgressiva (Grupo Apodi), encerrando-se na deposição da sequência

progradacional (formações Tibau, Guamaré e Ubarana).

Durante o Meso-Cenozoico, vários eventos magmáticos de natureza básica

ocorreram no nordeste brasileiro (Figura 2.2). Originalmente foi assumido como um

único evento denominado Associação Basáltica do Rio Grande do Norte (Santos,

1964, apud Paiva, 2004). A partir de estudos geocronológicos, tomando como base

os dados compilados de Mizusaki et al. (2002), foi possível subdividi-lo em três

episódios: Cretáceo inferior (Magmatismo Rio Ceará Mirim); Cretáceo superior

(Magmatismo Serra do Cuó) e Cenozóico (Magmatismo Macau).

Figura 2.2: Localização das principais áreas de magmatismo meso-cenozóico no NE brasileiro.

(Compilado de Almeida et al., 1988).

A origem do magmatismo Macau ainda não foi bem estabelecida. Alguns

autores sugerem que sua gênese estaria relacionada à passagem por um hotspot

durante a travessia da América do Sul nas regiões de Santa Helena (Chang et al.,

1992) e Fernando de Noronha (Fodor et al., 1998). De acordo com Sial (1976a,1976b),

sua origem está ligada ao alivio de pressão na zona de arco formada durante a

abertura do oceano atlântico sul no Cretáceo. Outra hipótese seria o rearranjo interno

Page 18: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

7

da placa sul-americana neste período. De acordo com Almeida et al. (1988) a principal

causa estaria relacionada a uma possível crista térmica abaixo da crostra continental

do NE brasileiro além do controle por fraturas oceânicas.

Estudos geocronológicos mais recentes propostos por Knesel et al. (2011)

defendem que o vulcanismo não está diretamente relacionado a hotspots. Embora os

corpos possuam distribuições espacial alinhada, suas idades não apresentam um

padrão compatível com tal fenômeno. Logo, poderiam estar relacionados a células de

convecção derivadas do contraste térmico entre limites de áreas cratônicas ou

continente-oceano.

A área estudada neste trabalho engloba corpos vulcânicos e hipabissais

referentes ao magmatismo Macau, cujas idades 40Ar/39Ar se distribuem entre 50 e 7

Ma (Souza et al., 2003, 2013; Knesel et al., 2011). Os nomes conhecidos na literatura

para os corpos mapeados são (vide localização na Figura 2.3): Nova conquista,

Catanduva, João Félix, Serra Preta e São João (Paiva, 2004; Silveira, 2006; Sousa,

2009; Santos, 2011, 2013; Nobre, 2012).

Page 19: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

8

Figura 2.3: Mapa de localização da área de estudo evidenciando os principais corpos magmáticos

encontrados na região. Baseado em interpretações de imagens de satélite Landsat 5 TM, Carta

geológica SB.24-X-D-III – Jandaíra (CPRM, 2011) e Santos et al. (2014)

As rochas carbonáticas da Formação Jandaíra na área de estudo são

predominantemente calcários micriticos, que se encontram na forma de lajedos com

acamamento sub-horizontal ou blocos soltos. Localmente, podem conter

macrofósseis, em geral bivalves, gastrópodes, algas e foraminíferos, icnofosseis,

birdseyes e geodos com calcita (Figura 2.4).

Page 20: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

9

Figura 2.4: (A) Calcário não afetado, com acamamento sub-horizontal (B) Macrofóssil preservado de

gastrópode (circulado em vermelho). Afloramento JF-1.

O efeito ligado ao processo de pirometamorfismo nas rochas carbonáticas pode

ser observado em distâncias variadas, geralmente ligado ao alcance térmico do corpo

e à condutividade e anisotropia térmica da encaixante, assunto a ser abordado no

capítulo 4.

As características macroscópicas que podem ser observadas in situ se

relacionam ao grau de compactação da rocha, maior concentração de falhas

preenchidas por calcita e, em locais de temperatura mais elevada, geração de bolsões

de mármore grosso ou silicificação total da rocha (Figura 2.5).

Figura 2.5: Aspecto geral de rochas carbonáticas com maior grau de efeito atribuído ao

pirometamorfismo, em que ocorre formação de mármore (Marm). Afloramento ANC-3.

Marm

Norte

Page 21: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

10

Os arenitos da Formação Açu encontrados na região são de granulometria

média a grossa, moderadamente a mal selecionados, constituídos por grãos sub-

angulosos a arredondados de quartzo e feldspato. Em algumas regiões é possível

notar que os mesmos possuem um cimento ferruginoso. As principais características

ligadas aos efeitos térmicos nessas rochas são a compactação por recristalização e

fusão parcial, esta última consegue gerar novos litótipos na região classificados como

buchitos, cuja textura vítrea e alta compactação são similares às de obsidiana

(Grapes, 2011).

Page 22: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

11

3. Estado da arte

3.1. Pirometamorfismo ígneo

Pirometamorfismo é um termo criado por Brauns (1912, apud Grapes, 2011)

para descrever mudanças metamórficas que ocorrem em altíssimas temperaturas. Os

primeiros registros foram notados em xenólitos de xisto encontrados em magmas

traquiticos e fonolíticos, na região de Eifel (Alemanha), que apresentavam fusão

parcial e trocas de elementos (por exemplo Na2O) com as intrusões. Os indicadores

pirometamórficos que o autor cita foram: presença de vidro (quando indicador de fusão

parcial), minerais pirogenéticos e processo de substituição mineral com textura e

habito cristalinos preservados.

Em publicações posteriores, Tyrrel (1978, apud Grapes, 2011) definiu

pirometamorfismo como sendo o efeito de maior grau térmico nas rochas. O qual não

é capaz de ocasionar a fusão do material. Todavia, esta definição é incompleta já que

algumas rochas pirometamórficas tipicamente fundidas, como buchitos, não se

agrupam neste conceito.

Grapes (2011) discorre que muito das rochas pirometamórficas já

documentadas podem ser encontradas em xenólitos de corpos intrusivos rasos, em

rochas de contato direto com corpos vulcânicos ou hipabissais, assim como em

fragmentos de brechas vulcânicas e tufos. Embora o autor considere também os

efeitos ligados à combustão de camadas de carvão e propagação de relâmpagos

sobre rochas como sendo produtoras potenciais de efeitos pirometamórficos, a

Subcomissão sobre Sistemática de Rochas Metamórficas (SCMR) da União

internacional de Ciências Geológicas (IUSG) referiu-se a estas variações como

metamorfismo de combustão e metamorfismo de relâmpago respectivamente

(Smulikowski et al., 1997).

Os principais tipos de rochas geradas por processos pirometamórficos,

segundo Grapes (2011), podem ser agrupadas de acordo com a Tabela 3.1 a seguir.

Page 23: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

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Nome Características

Buchito

(Para-obsidana)

Rocha parcial ou totalmente vitrificada resultante de metamorfismo de

contato intenso. Inicialmente o termo era usado para descrever

arenitos parcialmente fundidos em contato com basaltos. Atualmente

é empregado para descrever rochas psamítico-pelíticas fundidas em

contexto de metamorfismo de contato. Quando apresenta textura

holohialina, com micrólitos de mulita e tridimita, o termo para-

obsidiana pode ser usado.

Porcelanito Rocha clara e colorida de granulação muito fina, completamente

recristalizada. Deriva de protólitos do tipo argila, marga, folhelho ou

litomarga bauxítica.

Sanidinito

Termo usado para rochas (ou xenólitos) pirometamórficas com

composição do tipo sanidina-sienito. Além disso, é comum a presença

de biotita, cordierita, ortopiroxênio, sillimanita / mulita, espinélio,

coríndon, ilmenita e Ti- magnetita. Forma-se por reação ou fusão de

um protolito rico em mica (xisto ou gnaisse) recristalizado por

annealing em alta temperatura.

Esmeril

Rocha granular dura, escura e densa, composta basicamente por

coríndon, espinelio, magnetita e/ou ilmenita - hematita. Forma-se a

partir do metamorfismo de alta temperatura de lateritos e pelitos

aluminosos em contato com magmas basálticos.

Para-lava

(“Para-basalto”)

Rocha afanítica escura, vesicular, derivada da fusão de arenitos,

folhelhos e margas. Possui aparência macroscópica de basalto e é

produzida a partir da combustão de camadas carboníferas.

Clinquer

Rocha dura semelhante ao tijolo vitrificado. O termo é usado para

denominar rochas cozidas ou parcialmente derretidas pela queima de

jazidas de carvão ou sedimentos betuminosos. Clinquers vitrificados,

são, na verdade, buchitos.

Fulgurito Apresenta estrutura irregular, vitrificada, muitas vezes tabular ou

semelhante a uma haste, produzido pela fusão de sedimentos ou

rochas por um raio.

Tabela 3. 1: Tipos e gênese de rochas pirometamórficas segundo Grapes (2011).

Page 24: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

13

As condições de pressão e temperatura que mais se enquadram nos processos

de pirometamorfose estão ligadas às fácies sanidinito. Está fácies foi adotada por

Eskola (1920, apud Grapes, 2011) para designar condições de altíssimas

temperaturas e baixas pressões, caracterizada principalmente pela presença de

sanidina (Figura 3.1). A ocorrência de rochas nestas condições é escassa quando

comparada com outras fácies metamórficas. Sua paragênese usualmente está ligada

a processos de fusão nas proximidades ou contato com rochas ígneas.

Figura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo

de aluminossilicatos (compilado de Winter, 2001).

De acordo com Grapes (2011), em pressões inferiores a 2 kbar, a diferença

entre as fácies sanidinito e piroxênio-hornfels pode ser caracterizada pela ausência

de andalusita e granada piralspita em rochas quarto-feldpáticas e grossulária em

rochas calciossilicáticas. Em rochas calcárias pouco silicosas essa transição entre as

fácies piroxênio-hornfels e sanidinito é marcada pela formação de monticelita,

diopisídio e forsterita. As transições nas rochas máficas e ultramáficas são pouco

Page 25: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

14

compreendidas ainda. Já em pressões superiores a 2 kbar, a principal diferença entre

a fácies granulito e sanidinito refere-se a sua granulometria, que é menor em rochas

geradas sob baixas pressões devido ao efeito de rápido resfriamento (Turner e

Verhoogen, 1960; Winter 2001; Grapes, 2011).

Ainda de acordo com Grapes (2011), embora a sanidina seja o principal mineral

indicador da fácies sanidinito, rochas pirometamórficas calciossilicáticas e

carbonáticas (sem K e com composições pobres em Al e Si) não contêm este mineral.

Nos buchitos, o feldpato potássico geralmente encontra-se dissolvido no liquido

gerado pela fusão. Apesar disto, dentre as fácies metamorficas principais, a fácies

sanidinito é a mais indicada para representar estas rochas.

Grapes (2011) sugeriu um campo de estabilidade para geração de associações

minerais oriundas de efeitos de pirometamorfismo. Neste campo o autor levou em

consideração as temperaturas e pressões estimadas para ocorrência de rochas

pirometamórficas já registradas e associações minerais estáveis (Figura 3.2). As

temperaturas máximas associadas com “atividades ígneas” são definidas pela

temperatura de liquidus basáltico hidratado e anidro (1190 – 1260ºC). Para rochas

derivadas da combustão de camadas carboníferas, estas temperaturas podem

superar 1500 °C. Já para rochas resultantes da fusão por raios, essas temperaturas

podem atingir valores maiores que 2000 °C.

Page 26: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

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Figura 3.2 : Diagrama pressão vs. Temperatura, indicando o campo de geração de rochas

pirometamorficas (compilado de Grapes, 2011).

3.2. Propriedades térmicas das rochas

Na crosta continental, os principais mecanismos de transferência de calor são

a condução e a convecção, sendo esta última mais eficaz em sistemas hidrotermais

(Norton e Knapp, 1977; Schön, 2004)

No fluxo por convecção o transporte de calor é proporcional ao conteúdo do

fluido (ou material viscoso) e ao seu volume, calculado através da formula Jc= c.T.�⃗⃗� ,

em que c é o calor especifico da rocha, T a temperatura e �⃗⃗� representa o

deslocamento do fluido, sua velocidade vai ser proporcional a permeabilidade e ao

gradiente de pressão da rocha (Gueguen e Palciauskas, 1994).

No fluxo por condução, o transporte de energia ocorre sem deslocamento de

massas, sendo a energia enviada através da fono-condutividade (vibração de rede)

ou eletro-condutividade (elétrons livres presentes em substâncias metálicas) e

calculado através da formula Ji = -λij.(∂T/∂xj) = - λ.∇T. Nesta última expressão, λ é a

condutividade térmica, T é a temperatura e x a distância percorrido na rocha (Gueguen

e Palciauskas, 1994).

Page 27: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

16

3.2.1. Condutividade Térmica

A condutividade térmica das rochas é uma propriedade petrofísica que pode

ser definida como a sua habilidade para condução de calor. Isto depende

principalmente de dois fatores: condutividade dos minerais constituintes da rocha e

saturação dos fluidos constituintes da mesma (Lima, 2014).

Esta propriedade nem sempre é homogênea, podendo variar com a densidade,

composição mineralógica, posicionamento dos agregados e presença de estruturas

orientadas. Quando isso ocorre denomina-se o material como anisotrópico.

Assim como as rochas, os minerais também podem ser anisotrópicos com

respeito ao fluxo de calor (por exemplo quartzo, feldspatos, micas, carbonatos, etc).

Isto implica que a quantidade de calor que irá fluir no meio dependerá do

posicionamento dos eixos cristalográficos do mineral e a fonte de calor. Em

consequência, a dissipação do calor ocorrerá com diferentes taxas dependendo de

qual eixo cristalográfico o fluxo de calor estará alinhado, adquirindo uma propriedade

distinta para cada eixo. Nos casos de minerais do sistema isométrico (a=b=c) o fluxo

de calor é o mesmo, independentemente da posição da fonte, e a condutividade pode

ser reduzida matematicamente a um escalar, nestes casos o mineral é classificado

como isotrópico.

Todavia, segundo Clauser e Huenges (1995), embora a maioria dos minerais

formadores de rochas sejam anisotrópicos (Tabela 3.2), a aleatoriedade dos cristais

no interior de algumas rochas não orientadas, pode fazer a mesma se comportar de

forma isotrópica macroscopicamente.

Mineral Simetria λ11 (W/m.K) λ33 (W/m.K)

Muscovita Monoclínico 0,84 5,1

Calcita Trigonal 3,2 3,7

Dolomita Trigonal 4,7 4,3

Quartzo Trigonal 6,5 11,3

Hematita Trigonal 14,7 12,1

Grafite Hexagonal 355 89,4

Tabela 3.2: Condutividade térmica em minerais anisotrópicos. Em que, λ11 e λ33 referem-se aos valores

encontrados nas faces cristalográficas (010) e (001) (Compilado de Clauser e Huenges, 1995).

Page 28: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

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Um método capaz de diferenciar a anisotropia é através do sensor de agulha.

Em estudos recentes, Hanz-Dieter e Ruidiger (2003) mediram a condutividade térmica

de diversas rochas ígneas e metamórficas usando o método do sensor de agulha,

como resultado dois tipos de anisotropia em rochas foram distinguidos: a mineral e a

estrutural. A primeira está ligada ao alinhamento de partículas orientadas (lineação).

A segunda refere-se a mudanças composicionais, tais como alternância de camadas

(independente se orientadas ou não). De acordo com os autores, o padrão de

desorientação mineral nas amostras, a exemplo de rochas magmáticas efusivas e

intrusivas, pode levar a um comportamento isotrópico macroscopicamente.

Em virtude disso, o método utilizado para este trabalho mede a condutividade

do volume de rocha e não a condutividade em determinada face. Vale salientar que

até mesmo em rochas formadas por apenas um único mineral isotrópico existe

variações de condutividade. Isto deve-se em razão da heterogeneidade da porosidade

intercristalina (Horai, 1971).

3.2.2. Difusidade térmica

Este parâmetro é definido pela razão entre a capacidade calorífera (C) e a

capacidade térmica do material (𝛌) e indica a velocidade com que o calor se difunde

através do meio (Gueguen e Palciauskas,1994). Logo, pode indicar a escala de tempo

para processos transientes tais como resfriamento de corpos intrusivos. Além disso,

é possível obter dados de condutividade térmica através da difusidade térmica (Schön,

2004; Gueguen e Palciauskas,1994).

De acordo com Schön (2004) a capacidade calorífica (C) do material pode ser

obtida através do produto do calor especifico sob pressão constante (cp) pela

densidade da massa (ρ). A forma comumente usada para difusividade pode ser obtida

através do seguinte cálculo: 𝑎 =λ

(ρ∗𝐶𝑝)=

λ

C

A tabela 3.3 abaixo exemplifica valores de difusividade térmica para diversos

materiais e rochas:

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Materiais e Rochas 𝒂 (m2/s)

Calcário 1,1

Arenito 1,6

Vidro 0,4

Ardósia 1,2

Água 0,13

Tabela 3.3: Difusividade térmica para alguns materiais e rochas (Bunterbarth,1984; Schön, 2004).

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4. Artigo

O artigo disposto a seguir foi produzido inteiramente por Samir do Nascimento

Valcácio com orientação, supervisão e auxilio do prof. Dr. Zorano Sérgio de Souza,

além da assistência do prof. Dr. José Antônio de Morais Moreira nas medições de

dados petrofisicos. Este trabalho foi submetido para a revista Geologia USP série

científica:

MODELAMENTO TERMAL DE UMA AURÉOLA METAMÓRFICA EM TORNO DE

UMA INTRUSÃO BÁSICA HIPABISSAL PALEÓGENA NA BACIA POTIGUAR, NE

DO BRASIL.

Thermal modelling of a metamorphic aureole around a paleogene hypabissal

basic intrusion within the Potiguar Basin, NE brazil.

Samir do Nascimento Valcácio1, Zorano Sergio de Souza1,2, José Antônio de Morais Moreira3

1Programa de Pós-graduação em Geodinâmica e Geofísica, UFRN, Avenida Senador Salgado Filho, 3000, Caixa Postal 1596,

Bairro Lagoa Nova, CEP 59078-970, Natal, RN ([email protected])

2Departamento de Geologia, UFRN, Natal, RN ([email protected])

3Departamento de Geofísica, UFRN, Natal, RN ([email protected])

RESUMO – A Bacia Potiguar é caracterizada por um volume considerável de rochas básicas

alcalinas. Os efeitos térmicos associados a essas rochas em bacias sedimentares podem

ocasionar um tipo peculiar de metamorfismo de contato capaz de fundir parcialmente as

rochas encaixantes e gerar novas rochas: o pirometamorfismo. Este trabalho reporta o efeito

térmico destas intrusões de idade cenozoica, conhecidas como magmatismo Macau, em

rochas cretáceas da Bacia Potiguar, com auxílio de dados de petrografia e petrofísica. Para

isto, foi simulado o arrefecimento térmico através de modelos matemáticos no entorno do plug

São João, na região de Pedro Avelino (RN), correlacionando-o com as mudanças

mineralógicas identificadas nas rochas encaixantes. As mudanças físicas e texturais mais

expressivas na evolução de altas para baixas temperaturas são: fusão parcial e recristalização

das rochas encaixantes, compactação, fraturamento hidráulico. A auréola metamórfica

gerada durante este processo pode atingir até 150 m do contato. Além disso, algumas

associações minerais (cordierita e vidro recristalizado) permitem estimar condições de

temperaturas mínimas próximo ao contato da ordem de 1000 °C e pressões de 0,5 kbar. O

modelamento térmico sugere que as mudanças mineralógicas e texturais foram efetivas com

temperaturas a partir de 400 °C. O tempo de resfriamento estimado para o plug São João é

de aproximadamente 265 mil anos. Tais dados são relevantes para entender o efeito do

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magmatismo na remobilização de hidrocarbonetos e sua influência nos sistemas petrolíferos

da Bacia Potiguar.

Palavras-chaves: Pirometamorfismo; Petrofísica; Bacia Potiguar; NE do Brasil.

ABSTRACT – The Potiguar Basin is characterized by a considerable volume of alkaline basic

rocks. The thermal effects associated with these rocks in the sedimentary basins can cause a

peculiar type of contact metamorphism that produces partial melting of country rocks and

generate new rocks: the pyrometamorphism. This paper discusses the thermal effects of these

Cenozoic intrusions, known as Macau Magmatism, in Cretaceous rocks of the Potiguar Basin

through petrographic and petrophysical data. We also used mathematical models to simulate

the thermal cooling in the vicinity of São João plug, located in Pedro Avelino (RN), and

correlate it with mineralogical changes in the surrounding rocks. The most significant physical

and textural changes from high to low temperatures are: partial melting and recrystallization of

country rocks, compression and hydraulic fracturing. The metamorphic aureole generated

during this process can reach 150 m away from the intrusive contact. In addition, through some

mineral assemblages (recrystallized glass and cordierite) the minimum temperature in the

contact were estimated at 1000 °C and the pressure of 0.5 kbar. The thermal modeling

suggests that the mineralogical and textural changes were effective for temperatures above

400 °C. The estimated cooling time for São João plug is about 265,000 years. These data are

relevant for understanding the effect of magmatism in the remobilization of hydrocarbons and

its influence on petroliferous systems of the Potiguar Basin.

Keywords: Pyrometamorphism; Petrophysics; Potiguar Basin; NE Brazil.

4.1. INTRODUÇÃO

A ocorrência de corpos intrusivos ígneos em terrenos sedimentares preenche

uma condição relevante para aspectos exploratórios e econômicos. O calor advindo

de tais intrusões propicia a maturação da matéria orgânica presente em rochas-fonte,

diminui a densidade do óleo e aumenta a velocidade de migração de hidrocarbonetos

para rochas-reservatório (Ujié, 1986; Chen, 1999; Thomas Filho et al., 2008; Wang et

al., 2012). Em contrapartida, o mesmo calor pode diminuir a quantidade de óleo

armazenado, gerando mais gás, minimizar a permeabilidade e a porosidade de

rochas-reservatório em decorrência da recristalização de alguns minerais e até

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mesmo destruir completamente a matéria orgânica do depósito original (Thomaz Filho

et al., 2008; Eiras e Wanderley Filho, 2003).

Na Bacia Potiguar, há vários exemplares de rochas afetadas termalmente por

pirometamorfismo ígneo em torno de intrusões básicas hipabissais (Paiva, 2004;

Silveira, 2006; Sousa, 2009; Santos, 2011, 2013; Nobre, 2012). Estas Intrusões

básicas de baixa profundidade (< 3 kbar) propiciam condições de altíssimas

temperaturas (~1150 ºC) nas unidades encaixantes em proximidade, condições estas

da fácies sanidinito. Nesta situação algumas litologias podem sofrer fusão parcial e

gerar rochas do tipo buchito ou propiciar a transformação extensiva de calcário em

mármores. No caso da área em tela, rochas siliciclásticas e pelíticas da Formação Açu

e carbonáticas da Formação Jandaíra são particularmente afetadas (Sousa, 2009;

Santos, 2011; Souza et al., 2012; Santos et al., 2014; Terra, 2015).

O trabalho ora em foco tem como objetivo a caracterização geológica detalhada

do entorno de uma intrusão cenozoica aflorante na Bacia Potiguar e, ainda, a

simulação da dissipação de calor por condução e sua relação com os processos

pirometamórficos nas rochas encaixantes.

Para atingir os objetivos acima mencionados, foram realizadas as seguintes

atividades: (i) levantamento em campo de relações de contato das intrusões e

encaixantes sedimentares; (ii) análise de sensores remotos orbitais; (iii) aquisição de

dados petrográficos e texturais de 36 lâminas delgadas (microscópio óptico Leica

DMLP; PPGG/UFRN); (iv) obtenção de dados petrofísicos, através de medições da

condutividade e difusividade térmica de 12 amostras selecionadas no campo

(diabásios, arenitos, buchitos, calcários, mármores), tendo sido usado o equipamento

Quickline-30 Thermal Properties Analyzer (Laborátorio de Propriedades Físicas das

Rochas – PPGG/UFRN)

4.2. CONTEXTO GEOLÓGICO DOS CORPOS ESTUDADOS

A área de estudo situa-se na Bacia Potiguar cuja localização está centrada na

porção extremo leste da margem equatorial Brasileira (Figura 4.1). A bacia está

inserida nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, totalizando cerca de 48.000

km2 de área, sendo 55% na parte oceânica e 45% na porção emersa (Pessoa Neto et

al., 2007).

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Figura 4.1: Mapa geológico simplificado da porção emersa da Bacia Potiguar (modificado de Cassab, 2003,

Angelim et al., 2006). A área objeto deste trabalho está delimitada pelo retângulo vermelho.

De acordo com Chang et al. (1988) e Matos (1992, 2000), a origem da Bacia

Potiguar está ligada a três estágios tectônicos, denominados sin-rifte I, II e III. Para

Matos (1992), seu arcabouço estratigráfico pode ser agrupado em quatro sequências

deposicionais: rifte, transicional, drifte transgressiva e drifte progradacional. Em

publicações mais recentes, Pessoa Neto et al. (2007) relacionam este arcabouço a

três supersequências: rifte, pós-rifte e drifte.

A formação da Bacia Potiguar, segundo Pessoa Neto et al. (2007), inicia no

período Neoberriasiano / Eobarremiano. Neste período, sob regime tectônico rúptil

distensivo, são depositados sedimentos fandeltáicos, fluvio-deltáicos e lacustres

pertencentes às formações Pendência e Pescada. O período seguinte (Neoaptiano)

corresponde ao início de uma subsidência térmica, propiciando a deposição de

sedimentos fluvio-lacustres e os primeiros registros de incursão marinha (Formação

Alagamar). A partir do Albiano, predomina um regime tectônico marcado por

subsidência térmica e deriva continental, os sedimentos depositados estão

associados a uma sequência fluvio-marinha transgressiva que correspondem as

formações Açu, Ponta do Mel, Quebradas e Jandaíra. Por fim, do período

Neocampaniano até os dias atuais, o registro estatigráfico é marcado por sequências

de ciclo regressivo caracterizado por sistemas de talude / bacia, sistemas de

plataforma rasa com borda carbonática e sistemas mistos compostos por leques

Page 34: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

23

costeiros. Os correspondentes destas sequencias são definidos pelas formações

Ubarana, Guamaré, Tibau e Barreiras.

Os principais eventos magmáticos conhecidos são identificados na Bacia

Potiguar como magmatismo Rio Ceará Mirim (131±1 Ma) Serra do Cuó (93,1±0,8 Ma)

e Macau (70 a 6 Ma) (Souza et al., 2003; Knesel et al., 2011).

O magmatismo Rio Ceará-Mirim constitui um feixe isolado de diques de

diabásio, com orientação sub-latitudinal (preferencialmente E – W) de natureza

basáltica toleítica. O magmatismo Serra do Cuó, constituído por derrames e plugs,

possui a mesma natureza. O que os difere das rochas básicas cenozoicas do

magmatismo Macau, por se tratar de basaltos e diabásio alcalinos.

A partir de imagens de satélite, radar, fotografias aéreas e expedições de

campo foi possível definir a dimensão, geometria, texturas e zonas de metamorfismo

de contato em regiões de intrusões ígneas básicas, referentes ao magmatismo Macau

na Bacia Potiguar. Os principais dados petrofísicos foram coletados no entorno do

plug São João, localizado a cerca de 13 km de Pedro Avelino (RN). Na região do plug,

dois corpos podem ser identificados. Um deles possui geometria aproximadamente

esférica com cerca de 800 m de diâmetro, enquanto que o segundo possui uma

geometria aproximadamente elipsoide alongada nas direções N-S e NW-SE, com

cerca de 700 m no seu eixo de maior dimensão (Figura 4.2). Em função de

acessibilidade, apenas o corpo de maior diâmetro foi estudado neste trabalho.

Page 35: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

24

Figura 4.2: Mapa geológico mostrando a localização dos corpos na região do plug de São João, alvo deste

trabalho. Interpretações baseadas em dados de campo, fotografias áreas, Santos et al. (2014) e Carta geológica

SB.24-X-D-III – Jandaíra (CPRM, 2011).

O plug São João está encaixado em arenitos e calcários das formações Açu e

Jandaíra, respectivamente. No seu entorno as rochas são afetadas em diferentes

graus. Essas diferenças são marcadas por aumento gradativo de granulação,

compactação e ausência fosseis (no caso dos calcários) quanto maior é a proximidade

com as intrusões. O maior registro de efeito térmico é notificado pela presença de

xenólitos de mármores, frontes de silificação e buchitos no corpo ígneo (Figura 4.3A).

Os possíveis protólitos dessas rochas seriam, respectivamente, calcários e arenitos.

Os calcários e arenitos no entrono do plug São João podem ser encontrados

como blocos soltos em meio a solos calcários e arenosos esbranquiçados, facilmente

discriminável do solo massapê formado a partir do corpo ígneo (Figura 4.3B).

Page 36: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

25

Figura 4.3: Em (A) Aspecto macroscópico do mármore (Marm) com frentes de silicificação

associadas (F.Sil). Em (B) Porção central do plug São João com solo escuro derivado de processos

intempéricos em rochas básicas (basaltos e diabásios). Afloramentos SJ-32 e SJ37,

respectivamente.

4.3. CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E PETROFÍSICA

4.3.1. Corpo Básico Intrusivo

O plug principal de São João apresenta tipos de granulação média a grossa

nas partes centrais (diabásio e microgabro), passando a diabásio fino e basalto nas

parte de borda e contato com as encaixantes. Em geral, são rochas

macroscopicamente holocristalinas, faneríticas, destacando-se por vezes ripas de

plagioclásio numa matriz granular. Localmente, ocorrem venulações de espessura

milimétrica a centimétrica de basalto cortando diabásios. (Figura 4.4a). Xenólitos de

calcário, mármore, buchitos e arenitos se concentram nas porções SW e leste do plug.

Foram descritas 9 seções delgadas do plug. A mineralogia observada nestas

compreende plagioclásio, piroxênio (série augita - Ti-Augita), olivina e minerais

opacos. Calcedônia e calcita podem ocorrer preenchendo amígdalas (Figura 4.4b) e

serpentina e acículas de apatita como minerais de alteração. Vidro vulcânico e matriz

podem ser observados em alguns casos. De acordo com os critérios de classificação

de Streckeisen (1976) esse grupo de amostras foi classificado como augita diabásio.

Marm F.Sil

A B

Norte

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26

Figura 4.4: Microtexturas do plug básico em nicóis paralelos. (A) Ripas de plagioclásio (à esquerda)

e amígdala com preenchimento parcial de calcita. (B) Contato de venulação de basalto (à esquerda)

com microgabro, onde se destaca a textura subofítica com augita intergranular. Amostras J107.3 (em

A) e J107.8 (em B).

A olivina ocorre como fenocristais e xenocristais incolores de hábito anédrico.

Os xenocristais se distinguem dos fenocristais por apresentar extinção ondulante e

bordas corroídas. O processo de alteração principal ocorre por serpentinização a partir

de fraturas ou bordas do mineral. O tamanho dos cristais pode atingir 3-5 mm em

diabásios e microgabros. Propriedades óticas (incolor, biaxial positivo e ângulo 2V

~80°) sugerem se tratar da olivina do tipo forsterita.

O clinopiroxênio ocorre como cristais incolores, castanhos claros, subédricos

prismáticos e anédricos. Pode apresentar zonação interna apresentando maior

concentração titanifera nas bordas, o que é indicado pela coloração mais acentuada

nas beiras do que no centro do mineral e, por vezes, ocorre como aglomerados com

textura esquelética e glomeroporfirítica. O tamanho dos cristais pode variar entre 0,3

mm a 5 mm, com propriedades óticas (coloração acastanhada, pleocroismo fraco,

ângulo 2V ~60°, ângulo de extinção 40° e elongação positiva) indicando ser um

piroxênio da série augita – Ti-augita.

O plagioclásio ocorre de forma ripiforme a tabular. Em regiões próximas às

bordas dos corpos ocorre textura do tipo traquitóide relacionada ao fluxo magmático.

Já na porção mais central a orientação das ripas é aleatória. Os fenocristais podem

alcançar 2 mm em diabásios e 3,5 mm em microgabros; são subédricos a anédricos,

podendo ocorrer como inclusões parciais em clinopiroxênio. O teor de anortita foi

estimado de acordo com o método de Michel-Levy em An30-40.

A B

Page 38: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

27

Minerais opacos ocorrem de forma subédrica a anédrica, geralmente

associados ao clinopiroxênio e dispersos na matriz, com tamanho até 0,25 mm. A

Apatita é incolor, encontrada em forma acicular em tamanho de até 0,2 mm. Por fim,

calcedônia e calcita podem ocorrer na matriz ou em amígdalas.

Rochas Encaixantes

Os arenitos da Formação Açu não afetados pelas intrusões na região são

compostos por quartzo mono e policristalino com extinção ondulante, intraclastos

argilosos, K-feldspato e minerais opacos. O cimento ocorre como uma massa oxidada

(Figura 4.5A), na porção leste do corpo, ou por calcedônia na porção norte e em

xenólitos no corpo (Figura 4.5B).

Figura 4.5: Aspectos petrográficos gerais de arenitos encaixantes preservados. Em (A)

fotomicrografias de arenitos sub-arcoseanos com grãos sub-angulosos de quartzo (Qz) e cimento

ferruginoso (em nicóis paralelos) ou formado (B) por calcedônia (Cld) (com polarizadores cruzados).

Para melhor detecção de variações dentro da aureola pirometamórfica, foram

utilizados parâmetros tais como: granulometria, grau de seleção, tipo de contatos,

empacotamento, maturidade textural e mineralógica compilados de diversos autores

para os arenitos (Wentworth,1922; Kahn, 1956; Pettijohn et al.,1972; Schmidt et al.,

1979; Pettijohn, 1987).

A granulometria dos arenitos varia de areia grossa a fina (1 – 0,125 mm) com

moderado grau de seleção (grau de seleção = 1, de Pettijohn et al.,1972). Seu

arredondamento e esfericidade é respectivamente subarredondado a subangular e

baixa (de acordo com classificação de Power, 1953, apud Pettijohn, 1987). Os

A B

Page 39: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

28

contatos são predominantemente flutuantes, comumente pontuais e retos e raramente

côncavo-convexo (seguindo parâmetros de Scholle, 1979). O empacotamento é

frouxo (índice de empacotamento = 35, de Kahn, 1956) e sua maturidade textural e

mineralógica é matura e alta respectivamente.

De acordo com a classificação de Folk (1968) a rocha varia entre um quartzo

arenito a um arenito subarcoseano. Os efeitos termais ligados a regiões próximas a

intrusão (< 15 m do contato) relacionam-se ao ligeiro acréscimo no índice de

empacotamento nos arenitos (passando para p=40) e em locais muito próximos (< 5

m do contato) nota-se a fusão parcial da rocha. Nesses locais forma-se vidro

recristalizado e cordierita em buchitos escuros. Estes elementos e tipo de rocha

podem ser usado como marcador de pressão-temperatura, que de acordo com

Grapes (2011) ocorrem no intervalo de 950 a 1000 °C e em pressões menores que

0,5 kbar (Figura 4.6).

Figura 4.6: Diagrama P-T para rochas de composição quartzo-feldspáticas termalmente afetadas e

assembleias mineralógicas típicas associadas (compilado de Grapes, 2011).

Nos buchitos claros do plug São João, além de apresentarem uma menor

porcentagem de vidro que os buchitos escuros (Figura 4.7A), estes não desenvolvem

minerais indicadores com granulometria acessível em microscópio petrográficos

(Figura 4.7A). Todavia, no corpo de Nova Conquista (ANC), região próxima verificada

em campo, agulhas de tridimita podem atingir 0,3 mm (Figuras 4.7C e 4.7D) marcando

pelo menos 850 °C.

B A

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29

Figura 4.7: Minerais e microtexturas em arenitos encaixantes. Em (A) Aspecto geral de um buchitos

claro, com surgimento de material vítreo (Vdr) (em polarizadores paralelos). Na fotomicrografia (B)

aspecto do buchito escuro, com destaque para o material vítreo castanho englobando material

carbonático (Cb) e formação de grânulos de cordierita (Crd) (em nicóis paralelos). Em (C) possível

assimilação de feldspato (Fd) em vidro (Vrd) gerado pelo processo de fusão parcial dos arenitos

(em polarizadores paralelos) e em (D) desenvolvimento de cristais aciculares de tridimita (Trd) (em

polarizadores paralelos). Amostras SJ-40A, SJ-38, SJ-23, SJ-35, ANC-1C e ANC-1C

respectivamente.

As amostras mais representativas de rochas carbonáticas encaixantes contêm

bioclastos e intraclastos em matriz micrítica ou esparítica formada por dolomita ou

calcita espática, sendo classificadas como grainstone e packstone segundo Dunham

(1962), ou biointraesparito e micrito (Figura 4.8A e 4.8B) de acordo com Folk (1959).

Os principais bioclastos encontrados são foraminíferos, espinhos de equinoderma,

algas e fragmentos de bivalves. Também foram observados calcários contendo

essencialmente micrito ou esparito com porosidade móldica preenchida por

romboedros de dolomita, classificados como mudstone (Dunham, 1962) ou micritos e

esparitos (Folk, 1959).

C D

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30

Figura 4.8: Componentes observados em rochas carbonáticas não afetadas termalmente. Em (A),

biointraesparito com grande quantidade de bioclastos (algas (alg), equinodermas (eqd) e bivalves (bv))

na amostra SJ-5. Em (B), o aspecto geral de um micrito pouco afetado na amostra SJ-35B.

Fotomicrografias tiradas com polarizadores paralelos.

Nas rochas foram observadas porosidades do tipo interparticula, intraparticula,

intercristalina, moldica e vugs. Além disso, pode-se encontrar sedimentos terrígenos

siliciclásticos associados a regiões proximais do contato com arenitos da Formação

Açu, geralmente sendo quartzos e feldspatos. Também foram notados birdseye,

geodos de calcita, ilmenita e possível matéria orgânica.

Os calcários afetados pelo pirometamorfismo ocorrem até 150 m do contato.

Uma das características térmicas evidentes nessas rochas é a redução gradual da

porosidade da rocha e o aparecimento de porções recristalizadas e/ou de maior

cristalinidade no micrito quanto maior é a proximidade com o corpo intrusivo (Figura

4.9A). Em regiões bastante próximas, por volta de 10 a 15 m do contato, encontram-

se rochas bastante fraturadas e preenchidas com calcita espática (Figura 4.9B). Além

disso, foram encontrados mármores com blastos centimétricos de calcita e dolomita

(Figura 4.9C).

A B

Page 42: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

31

Figura 4.9: Aspectos das rochas carbonáticas afetadas da região do plug São João (Fotomicrografias

com nicóis paralelos). (A) Mudstone pouco afetado com aparente aglutinação por compactação do

micrito. (B) calcário muito afetado com fraturas preenchidas por calcita. (C) Aspecto microscópico do

calcário transformado em mármore com megacristais de calcita e dolomida. Amostras SJ-32, J79-3B,

SJ-26 respectivamente.

4.4. Petrofísica das rochas

O ensaio de condutividade térmica, difusividade e calor especifico for realizado

através do aparelho Quickline-30 Thermal properties analyzer em condições de

temperatura controladas e constantes (21 °C). Para isso as amostras foram

confeccionadas em formato tabular de dimensão 10x10x3 cm. Esta dimensão

proporcionou 5 análises em locais distintos na amostra (Figura 4.10). As medições

foram realizadas nos vértices das amostras, obedecendo um sentido anti-horário e em

seguida fez-se uma medição no centro. Algumas amostras foram submetidas a dois

A B

C

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32

ensaios para testar e avaliar as variações e erros do equipamento para um mesmo

ponto medido. O resultado deste teste averiguou variações da ordem de centésimos,

previstas de acordo com as especificações do equipamento usado.

Figura 4.10: Procedimento de aquisição dos dados de difusividade térmica, calor especifico e

condutividade térmica.

Para o entendimento das relações entre as características petrográficas e

petrofísicas, foram consideradas fatores tais como: composição modal, fraturas

(preenchidas ou não), tamanho dos grãos, além das variações descritas devido aos

efeitos metamórficos e por alterações tardias.

Amostras de rochas vulcânicas e hipabissais não mostram grandes variações

quanto à condutividade térmica, que varia entre 1,81 e 1,84 W/mK. O baixo valor de

condutividade térmica pode ser explicado pela grande quantidade de plagioclásio

nessas rochas, que, segundo Horai (1971), possui valores de λ por volta de 2 W/mK.

Além disso, os minerais de maior condutividade térmica dessas rochas (em torno de

4,5 a 5 W/mK), representado por piroxênios e olivinas, representam pouco mais que

um quarto da porcentagem (Figura 4.11).

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33

Básicas (25 medições - 5 Amostra)

λ (W/m.K)

Média 1,83

Desvio padrão 0,027

a (m²/s)

Média 8,64E-07

Desvio padrão 1,82E-08

Composição Vulcânicas (9 Amostras)

Média Desvio Padrão

Olivina 6% 5%

Augita 22% 12%

Opacos 10% 6%

Plagioclásio 53% 9%

Matriz 8% 11%

Carbonato 1% 3%

Apatita 0,02% 0,3%

Calcedônia 0,01% 0,4%

Vidro 0,01% 0,4%

Figura 4.11: Dados estatísticos referente às médias de condutividade térmica, calor especifico,

difusividade térmica e mineralogia das rochas básicas estudadas.

Calcários e mármores apresentam condutividade variando entre 2,7 W/mK e

3,59 W/mK. Esta variação pode ser explicada por mudanças físicas e mineralógicas

associadas ao efeito térmico.

Em relação à mineralogia, a condutividade térmica nas amostras estudadas é

regida essencialmente pelas condutividades da calcita (3,57 W/mK), dolomita (5,50

W/mK) e pela porosidade, que quando preenchida por ar possui valores em torno de

0,024 W/mK, o que reduz bastante a condutividade da rocha (Horai, 1971).

Logo, é de se esperar que a condutividade aumente proporcionalmente com a

compactação da rocha, diminuindo os espaços porosos de baixa condutividade até

que este seja nulo na rocha. Porém, a recristalização e remobilização de calcita em

fraturas nas porções mais dolomíticas faz com que os valores de condutividade

diminuam com a proximidade da intrusão.

Portanto, quando se traça um perfil de condutividade das regiões menos

afetadas para as mais afetadas os valores encontrados apresentaram uma

aleatoriedade compreendida no intervalo mencionado. Logo, para os cálculos de

gradiente térmico foram usados os valores médios gerais (Figura 4.12).

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Carbonáticas (15 medições – 3 Amostras)

λ (W/m.K)

Média 3,16

Desvio padrão 0,441

a (m²/s)

Média 1,41E-06

Desvio padrão 1,1E-07

Composição Carbonáticas (9 Amostras)

Média Desvio Padrão

Bioclasto 4% 6%

Intraclasto 2% 5%

Micrito 24% 30%

Dolomita 38% 32%

Calcita 25% 29%

Opacos % 3%

Terrigenos 3% 2%

Porosidade 0,9% 1,9%

Figura 4.12: Dados estatísticos sobre as médias de condutividade térmica, calor especifico,

difusividade térmica e mineralogia das rochas carbonáticas estudadas.

As rochas siliciclásticas mostram valores médios de condutividade térmica de

4,085 W/mK. Dentre estes valores, ocorrem distinções entre arenitos e buchitos.

Enquanto que os primeiros possuem condutividade de 3,53 W/mK, as rochas

pirometamórficas possuem condutividade de 4,39 a 4,32 W/mK.

A condutividade térmica nas rochas siliciclásticas é mais elevada dentre as

amostras avaliadas em decorrência da alta porcentagem de quartzo e cimento

ferruginoso. Segundo Horai (1971), o valor de condutividade do quartzo é de 7,69

W/mK. Entretanto, a presença de porosidade diminui os valores de condutância na

rocha. Os arenitos mais distais às intrusões exibem porosidade mais elevada, e,

portanto, menor condutividade térmica em relação àqueles proximais. Tal aspecto é

decorrente dos efeitos de compactação. Em termos quantitativos nota-se uma

diminuição de porosidade de 9% para 3%, observado em laminas delgadas, em um

intervalo de 20 m de distância entre amostras.

Os buchitos analisados apresentam vidro recristalizado (formado no processo

de pirometamorfismo), porosidade inexistente e cimento preservado constituído por

calcedônia. Embora possua menor quantidade de quartzo, a ausência de porosidade

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35

garante uma maior condutividade dos buchitos em relação aos arenitos observados.

A figura 4.13 ilustra a composição e medições médias encontradas nas rochas

siliciclásticas analisadas.

Arenito Ferruginoso (5 medições - 1 Amostra)

λ (W/m.K)

Média 3,53

Desvio padrão 0,149

a (m²/s)

Média 1,81E-06

Desvio padrão 6,83E-08

Buchito Claro (10 medições - 2 Amostra)

λ (W/m.K)

Média 4,36

Desvio padrão 0,124

a (m²/s) Média 1,86E-06

Desvio padrão 4,52E-08

Composição Buchitos (3 Amostras)

Média Desvio Padrão

Quartzo 41% 36%

K-Feldspato 3% 2%

Intraclasto argiloso

3% 2%

Opacos 1% 1%

Hidróxidos 1% 1%

Calcedônia 8% 7%

Carbonato 0,3% 0,6%

Plagioclásio 2% 2%

Porosidade 0% 0%

Vidro 23% 27%

Cordierita 15% 26%

Composição Arenitos (13 Amostras)

Média Desvio Padrão

Quartzo 73% 10%

K-Feldspato 3% 2%

Intraclasto argiloso

3% 4%

Opacos 10% 9%

Hidróxidos 0% 0%

Calcedônia 5% 7%

Carbonato 2% 3%

Plagioclásio 1% 1%

Porosidade 3% 6%

Vidro 0% 0%

Cordierita 0% 0%

Figura 4.13: Dados estatísticos sobre as médias de condutividade térmica, calor especifico,

difusividade térmica e mineralogia das rochas siliciclásticas estudadas.

Sobre as densidades das rochas, percebe-se que os calcários afetados

apresentam valores de 2,95 g/cm³, o que é maior do que as médias entre 2,5 e 2,7

g/cm³ encontradas para calcários preservados da literatura (Horai, 1971),

possivelmente este incremento estaria ligado aos efeitos de compactação por

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recristalização apresentado nas rochas da região. Para os arenitos ferruginosos os

valores de densidade superam os encontrados nos buchitos, o que poderia estar

ligado a presença do cimento ferruginoso no arenito avaliado. Já arenitos arcoseanos

preservados possuem uma densidade menor e próxima a encontrada na literatura,

assim como os diabásios (Figura 4.14).

Densidade (g/cm³)

Média Desvio padrão

Calcário Afetado 2,948 0,0111

Calcário Preservado 2,710 0,09

Arenito Hornfels 2,810 0,15

Arenito Ferruginoso 2,809 0,067

Arenito Arcoseano 2,270 0,00

Buchitos 2,622 0,0349

Diabásio / Microgabro 3,015 0,0232

Figura 4.14: Dados de densidade dos diversos litótipos presentes na região e o desvio padrão

encontrado. Dados cedidos por Juliana Garrido Damaceno (Mestrado em andamento –

PPGG/UFRN) e compilados de Sousa (2009).

De acordo com Jaeger (1964), é possível gerar um perfil tempo vs. temperatura

e distancia vs. temperatura utilizando um modelo matemático de fluxo de calor. Este

modelo prevê a extensão aproximada do efeito térmico e o tempo de aporte de calor.

Além disso, quando associado com dados de petrografia é possível observar como o

calor produz mudanças litológicas nas rochas encaixantes a diferentes distâncias da

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37

intrusão. Embora as equações propostas pelo autor sejam baseadas em geometrias

intrusivas simples (por exemplo: esferas, cilindros, retângulos, etc.) o perfil de

temperatura para o plug São João pode ser facilmente estimado, por se tratar de um

corpo aproximadamente esférico com base em sua exposição superficial

relativamente circular. Para este tipo de modelo, os erros que podem estar associados

aos cálculos matemáticos de fluxo de calor consistem nas seguintes simplificações

(Jaeger, 1968, apud Esposito e Whitney, 1995):

a condutividade e difusividade para a encaixante e intrusão são

consideradas homogêneas dentro de cada tipo litológico;

as intrusões ocorreram instantaneamente em termos geológicos,

assumindo-se ausência de pré-aquecimento da encaixante;

a energia de cristalização de alguns minerais é negligenciada neste modelo,

porém, neste caso os erros inerentes à esta simplificação podem ser

corrigidos com o aumento do valor de temperatura da fonte térmica (para

fins de cálculo);

as propriedades térmicas de ambas as unidades, sedimentares e ígneas,

são consideradas independentes uma da outra;

efeitos convectivos associados não são considerados.

Este último aspecto pode introduzir os maiores erros, embora os efeitos da

temperatura sobre a difusividade e a condutividade ainda sejam pouco compreendidos

(Esposito e Whitney, 1995). A importância de vários fatores complicadores foi avaliada

por Jaeger (1964), que concluiu que os erros relativos a essas premissas surtem efeito

apenas sobre avaliações do perfil de temperatura no interior da intrusão. Fora da

intrusão, as equações gerais se mantêm com uma acurácia relativamente boa.

De acordo com o Jaeger (1964), os parâmetros espessura, tempo pós-

colocação, distância da intrusão e propriedades térmicas de encaixantes (difusividade

e condutividade) podem ser expressas em dois parâmetros adimensionais ε e τ

(Lovering, 1935). A tabela 4.1 sumariza as relações matemáticas utilizadas no cálculo

dos efeitos térmicos das intrusões propostos pelo autor e define os termos.

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38

Tabela 4.1: Relações matemáticas para o cálculo do fluxo térmico.

T Temperatura, dependente do tempo, em um dado ponto

T0 Temperatura inicial do magma

d Raio da intrusão

d1 Eixo menor de um corpo intrusivo cilíndrico

d2 Eixo maior de um corpo intrusivo cilíndrico

α Difusividade termal da rocha encaixante. Valores obtidos em laboratório

t Tempo decorrido desde a intrusão

τ Equivalente adimensional para qualquer tempo, onde:

τ =α∗t

d2 ; τ1 =α∗t

d12;τ2 =

α∗t

d22

x Distancia da intrusão

ε Equivalente adimensional para qualquer distancia da intrusão, onde:

ε =x

d; ε1 =

x

d1; ε2 =

x

d2

l Distância entre duas intrusões.

Para simplificar os cálculos de resfriamento, Jaeger (1964) expressou a integral

tripla de aquecimento por difusão na forma unidimensional:

𝑻 = 𝑇𝑜𝜃(𝛆, 𝛕) (1);

Para corpos esféricos, utiliza-se:

𝜽(𝛆, 𝛕) =1

2{ erf

𝛆+𝟏

𝟐𝛕𝟏𝟐

− 𝒆𝒓𝒇𝛆−𝟏

𝟐𝛕𝟏𝟐

−𝟐𝛕

𝟏𝟐

𝛆𝝅𝟏𝟐

[𝒆−(𝜺−𝟏)𝟐𝟒𝛕−(𝜺+𝟏)

𝟐𝟒𝛕]}, (2).

As equações (1) e (2) podem ser combinadas para calcular a temperatura em

uma distância especificada de um corpo esférico intrusivo:

𝑻

𝑇𝑜= 𝜃(𝛆, 𝛕) =

1

2{ erf

𝛆+𝟏

𝟐𝛕𝟏𝟐

− 𝒆𝒓𝒇𝛆−𝟏

𝟐𝛕𝟏𝟐

−𝟐𝛕

𝟏𝟐

𝛆𝝅𝟏𝟐

[𝒆−(𝜺−𝟏)𝟐𝟒𝛕−(𝜺+𝟏)

𝟐𝟒𝛕]} (3)

Para locais com sobreposição das ondas de calor providas pelas intrusões é

necessário combinar os efeitos das duas fontes caloríferas,

𝑇

𝑇𝑜= 𝜽(𝛆, 𝛕) = 𝜃(𝛆𝟏, 𝛕𝟏) + 𝜃(𝛆𝟐, 𝛕𝟐) (4)

onde (𝛆, 𝛕)são os parâmetros adimensionais do primeiro corpo e (𝛆𝟏, 𝛕𝟏)(𝛆𝟐, 𝛕𝟐) são

os parâmetros para o segundo, que passam a admitir o valor l, em que :

Page 50: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

39

𝛆𝟐 =(l−x)

d2 (5);

As formulas (4) e (5) não foram utilizadas devido à escassez de dados sobre o

corpo adjacente, além disso, para os locais de estudos não houveram características

que marcaram uma influência expressiva da segunda fonte de calor, tornando a

simulação para apenas um corpo viável no local de estudo.

O perfil temperatura vs. distância e tempo foi calculado usando os valores

estimados ou medidos na Tabela 4.2. Com isso foi possível obter o gradiente térmico

do plug no decorrer do tempo.

Tabela 4.2: Valores usados para os cálculos de fluxo térmico.

Variável Valor Fonte

Difusividade (α) 53,17 m2/ano

(1,69x10-6 m2/s)

Medido em Laboratório.

Temperatura Inicial (T0) 1200oC

Temperatura de liquidus de um magma

toleiítico, associações pirometamórficas da

área e em regiões próximas (Santos et al.,

2014; Terra, 2015).

Raio da intrusão (d) 300 a 500 m Controle de campo e Sensoriamento

Remoto

Os cálculos foram realizados através do software MathWorks Matlab 8.5. A

unidade de tempo usada foi o ano, que foi calculada realizando-se intervalos

logarítmicos (0,01; 0,1; 10; 100 e 1000) para plotar no perfil temperatura vs. distancia.

Como o modelo matemático assume apenas um único valor de difusividade para

encaixantes, foi utilizada a média destes valores entre os arenitos e calcários. A Figura

4.15 mostra as curvas de temperatura calculadas segundo as premissas acima.

Page 51: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

40

Figura 4.15: Perfil de fluxo térmico do entorno do corpo ígneo principal do plug São João.

4.5. DISCUSSÃO

As intrusões na região do plug São João afetaram localmente as rochas

encaixantes de forma heterogênea. As rochas siliciclásticas e carbonáticas

localizadas no entorno dessas intrusões básicas sofreram a influência do calor gerado

pelas intrusões, que gerou auréolas metamórficas com intensidades variadas.

A ocorrência de calcários silicificados e minerais carbonáticos (calcita e

dolomita) em geodos e fraturas nas porções interiores da intrusão implicam mobilidade

de cálcio, magnésio e sílica, pelo menos em pequenas distâncias (em torno de 0 a 15

m da intrusão). Estes íons podem ter sido trazidos pela liberação de fluidos durante a

intrusão ou pela dissolução de grãos nas rochas encaixantes. No caso da primeira

hipótese, Ferry e Dipple (1991) discutem que o fluxo convectivo causado por este

processo pode redistribuir calor para rocha encaixante, porém este aumento é irrisório

à taxa de transferência condutiva “regional” causada pela intrusão ígnea.

Nos calcários micríticos, é notável um aumento em sua cristalinidade em

decorrência do aumento de temperatura. Este fenômeno pode ser explicado na área

pela recristalização mineral de dolomita e calcita na matriz formando pequenos

cristais. O aumento de temperatura provoca nesses cristais uma maior taxa de

recristalização, consequentemente, aumentando a granulometria da rocha. Em

algumas regiões da aureola metamórfica é possível notar metacalcários dolomíticos

com textura cristalina grossa, com cristais atingindo 5 – 8 mm. É possível que, antes

de gerar os mármores calcíticos encontrados como xenólitos do plug básico, os

Page 52: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

41

dolomitos passem pelo processo de desdolomitização gerando novamente calcita,

porém isto não foi observado nas laminas descritas.

Através da análise dos dados petrográficos foi possível supor que próximo ao

contato (ou em xenólitos) as rochas encaixantes alcançam 850 ºC ~ 1100 ºC (Grapes,

2011) formando associações minerais características como cordierita e vidro

recristalizado a partir de rochas parcialmente fundidas (buchitos). Nota-se que em

maior parte trata-se de rochas englobadas pelo corpo básico (xenólitos). Estas rochas

indicam pressões inferiores 0,5 kbar. Além disso, é possível inferir uma elevada taxa

de arrefecimento, identificada através do material vitrificado recristalizado e pelo

tamanho dos minerais de cordierita gerados neste tipo de rocha.

Em lugares próximos da área de estudo as temperaturas das rochas

encaixantes próximas aos contatos intrusivos chegam de 1100 a 1250 ºC com

pressões de até 1 kbar. Estes lugares foram interpretados por analises de

assembleias minerais em microssonda eletrônica de varredura (Santos et al., 2014;

Terra, 2015).

De acordo com a análise petrofísica e o modelamento térmico detalhado realizado,

que simulou o alcance do metamorfismo de contato e sua dissipação de calor próximo

a intrusão, nota-se que o campo de atuação do pirometamorfismo restringe-se a 5 m

do contato, o que corresponde com os dados de campo (Figura 4.16)

Figura 4.16: Curva de temperatura vs. tempo para arenitos de 1 até 100 m do contato com o corpo

intrusivo de São João (oeste) admitindo uma temperatura constante de 1200 °C.

Page 53: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

42

Com base em modelos matemáticos de fluxo térmico propostos por Jaeger

(1964), essas condições de temperatura no entorno das intrusões podem ser

simuladas. Logo, foi possível produzir um mapa de alcance térmico e zonas

metamórficas capaz de estimar o comportamento litológico no entorno das intrusões.

No modelamento térmico efetuado, nota-se que as mudanças petrofísicas e

petrográficas ocorrem nos calcários a partir de 400 °C, até 150 m do corpo avaliado.

Mudanças para rochas moderadamente afetadas iniciam-se em 550 °C, enquanto que

as rochas muito afetadas sofrem mudanças com temperaturas a partir de 900 °C

(figura 4.17A e 4.18).

Figura 4.17: Modelamento térmico (A) e possível explicação para divergências nos dados de isoterma

e efeitos pirometamórficos na porção sudoeste, representada pela possível extensão do corpo esférico

em profundidade, observável em gravimetria, fornecendo calor local não previsto em modelamento (B).

Mapa gravimétrico cedido por Juliana Garrido Damaceno (Mestrado em andamento – PPGG/UFRN).

Comparando os dados de modelamento térmico 1D e a zona de efeito

pirometamórfico, nota-se uma pequena região a sudoeste do corpo que foge dos

Page 54: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

43

padrões de temperaturas correlacionados aos efeitos metamórficos observados

(Figura 4.17A). Dados gravimétricos sugerem que nesta região anômala uma provável

extensão do corpo ígneo é encontrada em profundidade (Figura 4.17B). Logo, este

fato poderia implicar no fornecimento mais acentuado de calor para as rochas nesta

região, que é desconsiderado no modelamento realizado, já que existe a limitação de

trabalhar apenas com geometrias simples. Todavia, fora desta região os dados se

mantêm coerentes.

Figura 4.18: Relação entre o modelamento térmico e texturas de calcários (adaptado de Terra, 2015)

e arenitos afetados no perfil A-B do modelamento térmico realizado (Figura 4.16A).

Já em arenitos, as principais mudanças ocorrem em temperaturas acima de

800 ºC, presente em xenólitos do corpo ígneo ou até 5 m do corpo principal. Além

dessas distâncias o fornecimento de calor não é suficiente para provocar mudanças

mineralógicas e texturais nas rochas no entorno das intrusões. Neste caso, fora da

aureola metamórfica, onde não há destruição de matéria orgânica, a energia térmica

poderia propiciar a catalisação do processo de maturação desta, além de diminuir a

densidade dos óleos e outros fatores benéficos a indústria petrolífera. Todavia,

modelamentos térmicos quantitativos mais detalhados devem ser feitos na Bacia

Potiguar, estes devem envolver principalmente os análogos de rochas fontes e/ou

dados em poços próximos de intrusões, para assim haver o melhor entendimento

deste fenômeno.

Page 55: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PIROMETAMORFISMO · PDF fileFigura 3.1: Diagrama pressão vs. temperatura com delimitação das fácies metamórficas e o ponto triplo de aluminossilicatos

44

4.6. CONCLUSÕES

Os dados apresentados permitem listar as conclusões abaixo.

a) O plug São João é um corpo intrusivo hipoabissal composto por diabásio e

microgabro, da borda para o centro, com geometria aproximadamente esférica e

pequenas extensões em profundidade na sua borda sudoeste.

b) Os protólitos das rochas encaixantes afetadas são arenitos ferruginosos, sub-

arcoseanos e quartzo-arenitos da Formação Açu e calcários dolomíticos e

calcíticos (do tipo mudstone, wackestone e grainstone) da Formação Jandaíra.

c) Através do modelamento térmico, feições petrográficas e texturais, é possível

estimar as condições de P-T mínimas para a formação de algumas rochas

encontradas nos contatos ígneos-sedimentares em 850-1000 °C e 0,5 kbar.

d) Rochas pirometamórficas são geradas devido ao calor do corpo do plug São João

em até 5 m a partir do contato. Todavia, os efeitos termais modificam a rocha

encaixante até 150 m (Tmax ~ 400 °C).

e) O tempo de fornecimento de calor oriundo do corpo ígneo de São João para as

rochas encaixantes foi de aproximadamente 265 mil anos.

f) Em alguns locais, as condições de sistema aberto permitiram percolação de

material oriundos provavelmente das encaixantes, gerando fraturas preenchidas

por materiais carbonáticos ou silicosos.

g) O fluxo térmico principal nos corpos da região é majoritariamente condutivo,

embora fluxos hidrotermais locais possam existir.

Agradecimentos

Os autores Samir do Nascimento Valcácio e Zorano Sérgio de Souza,

agradecem o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa (CNPq)

pelas bolsas de Mestrado e Pesquisa (processo 449616/2014-2) respectivamente,

como também ao Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG

- UFRN), ao Departamento de Geologia (DGeo. - UFRN) e ao Departamento de

Geofísica (DGeof.- UFRN) pela sua infraestrutura e serviços.

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45

4.7. REFERÊNCIAS

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49

5. Discussões e Conclusões Gerais

Os efeitos térmicos associados ao pirometamorfismo de arenitos e calcários são

caracterizados petrograficamente na região pela recristalização da fração mais fina

das rochas (matriz feldspática de arenitos e micrito em calcários). A presença de vidro

em xenólitos de buchitos no plug básico caracteriza o processo de fusão parcial de

arenitos, além de indicar uma elevada taxa de resfriamento do liquido gerado. A

cristalização de cordierita em alguns buchitos marca temperaturas mínimas de 800 °C

e pressão inferior a 1 kbar (Grapes, 2011). Tais efeitos também são reportados por

outros autores para xenólitos e rochas do entorno de plugs básicos espalhados na

Bacia Potiguar (Sousa, 2009; Santos, 2011; Santos et al., 2014; Terra, 2015). Buchitos

no corpo Serrinha (2 km a sudeste do plug São João) contêm vidro de diferentes

colorações, englobando acículas de tridimita e clinoenstatita, demonstrando que a

fusão parcial de material sedimentar atingiu cerca de 1150 °C (Santos et al., 2014).

Calcários que estão pouco afetados, localizados em regiões próximas em relação

aos analisados por este trabalho, conservam uma matriz micritica oriunda dos

calcários preservados, porém com pequenos bolsões ou aglomerados de material

recristalizado. Com o aumento de temperatura este material, constituído de dolomita,

adquire textura cristalina, assim como maior porcentagem e dimensões na rocha. De

acordo com Terra (2015), a continuidade deste processo gera a desdolomilitização

das rochas, formando novamente calcita. Em seguida, com o aumento continuo de

temperatura, a ininterrupção deste procedimento consegue gerar mármores com

cristais centímetros de calcita, observado em xenólitos no corpo ígneo.

Na região do plug São João, um possível corpo ígneo (ou extensão do corpo

aflorante) ocorre a cerca de 500 m do plug estudado. Devido ao seu difícil acesso e

escassez de dados que haviam a disposição nos bancos de dados da área, o

modelamento térmico deste corpo não foi efetuado. Além disso, nenhum dado

adquirido neste levantamento caracterizou a ação da intrusão vizinha como agente

direto do processo metamórfico das rochas estudadas.

De acordo com os dados adquiridos e interpretados, as principais conclusões

estão listadas abaixo:

Os corpos intrusivos da região entre Pedro Avelino e Jandaíra intrudiram

rochas das formações Açu e Jandaíra ocasionado pirometamorfismo ígneo.

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50

O principal efeito relacionado ao pirometamorfismo ígneo nas áreas

afetadas são: aumento do grau de cristalização em calcários, podendo gerar

mármores, e fusão parcial em arenitos, podendo gerar buchitos.

Os efeitos pirometamórficos gerados pelas intrusões conseguem chegar a

150 m de distância. Todavia, a geração de rochas relacionadas a este tipo

de metamorfismo de contato restringe-se a 5 m das intrusões.

As mudanças nas rochas carbonáticas são graduais, começando com

temperaturas próximas a 400 °C, para rochas pouco afetadas, 550 °C para

moderadas e 800 °C ~1000 °C para as muito afetadas.

A condutividade térmica dos calcários aumenta proporcionalmente com a

compactação da rocha pela recristalização, até extinguir totalmente a

porosidade. Porém, diminui com a recristalização e remobilização de calcita,

o que torna os valores variáveis ao longo da auréola pirometamórfica.

A partir dos minerais e elementos indicadores avaliados em buchitos (por

exemplo, cordierita e vidro riolitico) estima-se temperaturas para o contato

entre os corpos ígneos e sedimentares em torno de 1000 °C e pressões de

0,5 kbar, com base nos diagramas sugeridos por Grapes (2011). Este fato

é confirmado pelo modelamento térmico para a proximidade das intrusões.

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51

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