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Dissertação de Mestrado em Medicina Artigo de Revisão Bibliográfica INSTABILIDADE PATELOFEMORAL Cátia Daniela Casal Lírio 2013

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Dissertação de Mestrado em Medicina

Artigo de Revisão Bibliográfica

INSTABILIDADE PATELOFEMORAL

Cátia Daniela Casal Lírio

2013

2  

INSTABILIDADE PATELOFEMORAL

Cátia Daniela Casal Lírio

Dissertação de Candidatura ao grau de

Mestre em Medicina submetida ao

Instituto de Ciências Biomédicas de

Abel Salazar da Universidade do Porto.

Orientador – Doutor José Fernando

Souzellas da Costa e Castro

Categoria – Professor Associado de

Ortopedia no Centro Hospitalar do Porto,

Hospital de Santo António

Afiliação – Instituto de Ciências Biomédicas

Abel Salazar da Universidade do Porto.

 

3  

RESUMO

A instabilidade patelofemoral é um problema comum na população jovem

feminina e é definida como a incapacidade de manter a rótula no sulco troclear nos

movimentos de flexão e extensão do joelho. A sintomatologia dos doentes com esta

patologia pode ser dividida em dois grupos: os que apresentam um primeiro episódio

de luxação traumática aguda e os que têm sintomas crónicos de instabilidade ou

episódios recidivantes de luxação. Nos doentes do grupo agudo encontra-se dor,

edema e hemartrose. No grupo crónico a principal queixa é a dor.

Sendo a instabilidade patelofemoral uma situação clínica multifatorial, a história

clínica com uma anamnese cuidada, tendo em atenção os fatores de risco, é de

extrema importância para a orientação da atitude terapêutica mais adequada. O

exame físico cuidado de todo o membro inferior, com especial ênfase no joelho, ajuda

a estabelecer o diagnóstico diferencial. O estudo imagiológico, nomeadamente o

raio-X e a tomografia computorizada, com avaliação de todos os parâmetros

fornecidos, é um precioso auxiliar do exame clínico.

Assim para cada doente, o médico deverá tentar compreender o mecanismo

lesional subjacente, tendo em atenção todas as alterações encontradas, de modo a

poder selecionar o tratamento mais adequado. Segundo Merchant, a instabilidade

patelofemoral pode ser tratada com sucesso sem cirurgia em 90% dos casos. O

tratamento cirúrgico está reservado aos casos de insucesso do tratamento

conservador e aos casos em que a recorrência da patologia provoca limitação

funcional evidente.

Palavras-chave: instabilidade patelofemoral, luxação da rótula, ligamento

patelofemoral medial, tratamento conservador, tratamento cirúrgico

 

4  

ABSTRACT

The patellofemoral instability is a common problem in young women and is

defined as the inability to keep the patella at trochlear groove in flexion and knee

extension. The symptoms of patient with this pathology can be divided in two groups:

those with a first episode of acute traumatic luxation and those with chronic symptoms

of instability or recurrent episodes of luxation. For the acute group patients there are

pain, swelling and hemarthrosis. On the chronic group the main complain is pain.

Being patelofemoral instability a multifactorial clinical situation, the clinical

history with a careful history, taking into account the risk factors, it is of extreme

importance to guide the most appropriate therapeutic attitude. A careful examination of

the entire lower extremity with special emphasis on the knee helps to establish

differential diagnosis. The imaging study, including X-ray and computerized

tomography, with evaluation of all parameters provided, is a precious auxiliary to

clinical examination.

As such for each patient, doctors should try to understand the mechanism

behind lesion, taking into account all changes found, in order to select the most

appropriate treatment. According to Merchant, patellofemoral instability can be

successfully treated without surgery in 90% of cases. Surgical treatment is reserved for

cases of conservative treatment failures and in cases where the recurrence of the

pathology causes functional limitation evident.

Keywords: patellofemoral instability, patellar luxation, medial patellofemoral ligament,

conservative treatment, surgical treatment  

 

5  

Lista de abreviaturas   CCA – Cadeia cinética aberta

CCF – Cadeia cinética fechada

ELHS – Síndrome de hiperpressão lateral excessiva LPFM – Ligamento patelofemoral medial

PFM – Mau alinhamento patelofemoral

PFPS – Síndrome da dor patelofemoral

NGF – Fator de crescimento neural

TAT – Tuberosidade anterior da tíbia

TC – Tomografia computorizada

VL – Vasto lateral

VMO – Vasto medial oblíquo

 

6  

ÍNDICE INTRODUÇÃO 7

ANATOMIA DA ARTICULAÇÃO PATELOFEMORAL 8

DOR ANTERIOR DO JOELHO 10

AVALIAÇÃO CLÍNICA 11

ESTUDO IMAGIOLÓGICO 16

TRATAMENTO CONSERVADOR 19

TRATAMENTO CIRÚRGICO 21

CONCLUSÃO 26

REFERÊNCIAS 27

 

7  

INTRODUÇÃO

A instabilidade patelofemoral é uma patologia frequente no quotidiano do

ortopedista e tem sido estudada e debatida há vários séculos. Todavia, só nos últimos

anos foi possível conhecê-la de forma mais precisa, devido ao desenvolvimento da

acuidade dos exames imagiológicos, que permitiram uma melhor compreensão da

articulação patelofemoral.

Esta condição clínica apresenta-se em consequência de uma alteração

anatómica da articulação patelofemoral e do sistema musculo-tendinoso do joelho e é

definida como a incapacidade de manter a rótula no sulco troclear nos movimentos de

flexão e extensão do joelho.1

Calcula-se que a instabilidade patelofemoral afete cerca de 7 pessoas em cada

100 000, sendo mais comum na população feminina.2,3 No entanto, no grupo dos 10

aos 17 anos a incidência aumenta para 29 pessoas em 100 000.2,3 Estudos mostram

que 17% dos doentes que sofrem o primeiro episódio de luxação da rótula vão voltar a

ter novas luxações nos próximos 2 a 5 anos e cerca de 33% dos doentes vão

apresentar sintomas de dor e instabilidade após o primeiro episódio de luxação.1,4

Podemos referir-nos à instabilidade patelofemoral como sendo aguda ou

crónica. A instabilidade aguda refere-se a um episódio primário traumático e é uma

lesão complexa que é causada por uma combinação de uma força valgo com um pé

plantado e uma rotação interna do fémur ou uma rotação externa da tíbia.2,3 A

instabilidade crónica caracteriza-se por luxações recorrentes.

Relativamente aos sintomas, alguns doentes descrevem apenas dor no joelho,

outros têm sensação de insegurança ao realizar as atividades quotidianas,

especialmente aquelas que exigem rotação externa da tíbia associada à flexão do

joelho e outros referem um ou mais deslocamentos da rótula.5 Este facto é causa de

limitação funcional e de grande descontentamento. Assim, podemos dividir os doentes

que apresentam sintomas nesta articulação em três grandes grupos: os doentes com

instabilidade objetiva, sendo estes os que apresentam alterações anatómicas e pelo

menos um episódio de luxação da rótula (pode ser uma luxação habitual, recidivante

ou traumática); os doentes com instabilidade potencial, que normalmente apresentam

dor na face anterior do joelho e têm alterações anatómicas mas não têm história de

luxação; e os doentes com instabilidade subjetiva, que apresentam dor no joelho mas

não têm alterações anatómicas ou história de instabilidade.1

São vários os fatores que contribuem para a instabilidade patelofemoral, pelo

que a compreensão desses é determinante na orientação terapêutica médica ou

cirúrgica. A história clínica, com uma anamnese cuidada é essencial, e o exame físico

8  

de todo o membro inferior, com ênfase no joelho, ajuda a estabelecer o diagnóstico

diferencial. O estudo imagiológico é um precioso auxiliar para confirmar ou excluir o

problema do doente e auxiliar a escolha do melhor tratamento.

Compreender o mecanismo lesional subjacente é importante de modo a

selecionar o tratamento mais adequado. A instabilidade patelofemoral pode ser tratada

com sucesso sem cirurgia.6 O tratamento cirúrgico está reservado aos casos de

insucesso do tratamento conservador e aos casos em que a recorrência da patologia

provoca limitação funcional evidente. No geral, o tratamento clássico para o primeiro

episódio de luxação da rótula é o conservador, apesar de alguns autores sugerirem o

tratamento cirúrgico primário com reparação das estruturas mediais do joelho. O

objetivo primário do tratamento conservador consiste na redução do edema e da dor,

bem como a restauração do arco de movimento. Nos casos em que os sintomas são

crónicos e a instabilidade é a principal queixa do doente a correção das alterações

anatómicas pode estar indicada. Entre as opções cirúrgicas encontramos

procedimentos de realinhamento proximal e distal do mecanismo extensor,

reconstrução do LPFM (ligamento patelofemoral medial) e a trocleoplastia. Dificilmente

estes procedimentos são indicados de forma isolada sendo que a combinação de

métodos apresenta melhores resultados.

ANATOMIA DA ARTICULAÇÃO PATELOFEMORAL

O joelho é composto por duas articulações, a femorotibial e a patelofemoral. A

articulação patelofemoral é formada pela extremidade distal e anterior do fémur, a

rótula e as estruturas de suporte. A rótula, o maior osso sesamoide do corpo, tem

como funções primárias distribuir a força de compressão do fémur e ampliar a

eficiência dos músculos do quadríceps na extensão do joelho.

A rótula está inserida no interior do tendão do quadríceps e articula-se com a

tróclea femoral de maneira distinta à medida que ocorre a flexão do joelho. Aos 10-20°

de flexão do joelho, a parte inferior da rótula inicia o contato com a porção lateral da

tróclea e com o aumento da flexão, em torno dos 30-45°, a rótula centraliza-se no

sulco troclear. Com o aumento da flexão do joelho, em torno dos 90°, apenas a porção

superior da rótula está em contato com a tróclea. Durante a flexão máxima, em torno

dos 135°, a maior parte do contato ocorre entre o sulco e a porção superolateral da

faceta lateral e uma porção da faceta medial da rótula.6

A superfície articular da rótula possui uma crista vertical que a divide em

facetas lateral e medial. A faceta lateral é mais longa e mais inclinada para coincidir

com o côndilo femoral lateral.2 Relativamente às facetas articulares, as rótulas podem

9  

ser classificadas em três tipos, conforme a classificação de Wiberg. O tipo I apresenta

as facetas articulares medial e lateral iguais, no tipo II, a mais frequente, a faceta

lateral é maior que a medial e no tipo III a faceta medial é quase inexistente.6

Os músculos do quadríceps inserem-se na rótula e realizam a extensão do

joelho. O componente mais importante deste músculo para a estabilidade

patelofemoral é o VMO (vasto medial oblíquo).1,7,8 Apesar de este ser incapaz de

realizar essa extensão, é extremamente importante no sentido de conferir à articulação

uma contenção dinâmica contra forças que poderiam deslocar a rótula

lateralmente.2,6,7 Isso ocorre, pois existem conexões entre as fibras do LPFM e do

VMO, auxiliando o ligamento na estabilização da rótula durante a contração do

quadríceps. Estudos mostraram que o VMO possui a sua maior atividade entre os 0° e

os 30° de flexão do joelho.9

A anatomia da face medial do joelho foi originalmente descrita por Warren e

Marshall. Eles descreveram três camadas distintas, a mais importante das quais é a

segunda.10 Esta camada contém o LPFM, que tem sido tema de muitos estudos

recentes e várias técnicas de reconstrução e reparação. O LPFM situa-se

profundamente ao VMO e origina-se na face posterior do epicôndilo medial e insere-se

no bordo supero medial da rótula.6 O LPFM tem uma largura média na origem femoral

de 15 mm e uma largura média na inserção rotular de 17 mm.11 O comprimento é de,

aproximadamente, 55 mm.12 Desio et al. relataram que o LPFM contribui com 60% da

força de restrição total contra o deslocamento lateral da rótula.13 Deste modo, o LPFM

é uma estrutura com grande importância na estabilização medial da articulação

patelofemoral, atuando principalmente até aos 30°-45° de flexão do joelho.6

O ângulo do quadríceps, ou ângulo Q, desempenha um papel importante no

controlo da articulação patelofemoral e foi descrito pela primeira vez por Brattström.5 A

medição clínica deste ângulo é obtida através da medição da interseção de uma linha

traçada entre a espinha ilíaca ântero-superior à rótula com a de uma segunda linha

traçada a partir da tuberosidade tibial à rótula.1-14 Para esta medição, a rótula deve

estar centrada na tróclea. Nos homens, o ângulo Q médio é de aproximadamente 10°

e nas mulheres é de aproximadamente 15°, mais ou menos 5°.2,8,14,15 Mizuno et al.

demonstraram que um aumento do ângulo Q pode levar ao aumento das pressões de

contacto laterais ou à luxação lateral da rótula, portanto quanto maior for o ângulo Q,

maior será a força lateral resultante, tendendo a deslocar a rótula lateralmente.14 Os

fatores que podem aumentar o ângulo Q são: joelho valgo, aumento da anteversão

femoral, rotação externa da tíbia, pronação do pé e retração da fáscia lata.8 Qualquer

um destes fatores que aumentam o ângulo Q pode contribuir para a instabilidade

patelofemoral recorrente.

10  

DOR ANTERIOR DO JOELHO

A dor anterior do joelho, diagnosticada como síndrome da dor patelofemoral

(PFPS), foi relacionada com a presença de mau alinhamento patelofemoral (PFM).16,17

Define-se PFM como uma anormalidade na restrição do deslocamento lateral da

rótula, inclinação lateral da rótula ou ambas, em extensão que reduz com a flexão.1

Durante muitos anos, o PFM foi amplamente aceite como uma explicação para a

génese da PFPS nos jovens e teve uma grande influência sobre os cirurgiões

ortopédicos, que desenvolveram vários procedimentos cirúrgicos para corrigir o

desalinhamento. Há doentes nos quais o PFM é a principal causa da PFPS, mas eles

representam apenas uma pequena percentagem.16 O grande problema do conceito de

PFM é que nem todos são sintomáticos e doentes com alinhamento patelofemoral

normal na tomografia computorizada (TC) também podem sofrer de dores no joelho.1

De acordo com Grelsamer, o PFM é um fator predisponente que requer um

intermediário ainda desconhecido para desencadear a dor.18 Nem todos os joelhos mal

alinhados apresentam sintomas, o que não é surpreendente, pelo que o PFM não é

condição suficiente para o início dos sintomas e não é crucial para a génese da PFPS,

dado que há muitos doentes com PFPS sem PFM. Portanto, biomecanicamente a

teoria do desalinhamento não conseguiu explicar a presença de PFPS em muitos

doentes e, por isso, não é universalmente aceite.

Dye et al., sugeriram a teoria da homeostase dos tecidos.19 Segundo estes, a

perda da homeostase dos tecidos ósseo e mole da região peri rotular é mais

importante na génese da PFPS do que as características biomecânicas/estruturais. De

acordo com esta teoria, o uso excessivo ou a sobrecarga cíclica da superfície dos

tecidos ósseos ou moles pode explicar a PFPS em alguns doentes.

Com base em estudos histológicos foi desenvolvido um “Modelo Neural" como

uma explicação para a génese PFPS no doente jovem.1,20-22 A dor anterior do joelho

não pode ser imputada a um único fator, mas a uma multiplicidade de fatores. A

origem da dor pode estar no retináculo lateral, retináculo medial, gordura infra rotular,

membrana sinovial ou osso subcondral.20,23 Além disso, temos que considerar também

alguns fatores, como a sobrecarga, instabilidade, fatores psicológicos e género. Os

estudos sobre a fisiopatologia da PFPS têm sido focados no retináculo lateral porque

acredita-se que esta estrutura desempenha um papel fundamental na génese da

PFPS.1,21,24 De acordo com Fulkerson, em doentes com PFM há um encurtamento

adaptativo do retináculo lateral como uma consequência do deslocamento lateral da

rótula.1 Com a flexão do joelho, a rótula migra medialmente na tróclea femoral, o qual

11  

produz uma tensão recorrente no já curto retináculo lateral, que pode causar

alterações nervosas, tais como neuromas e degeneração neural mixóide.1,21

Fulkerson et al. descreveram pela primeira vez lesões nervosas

(desmielinização e fibrose) no retináculo lateral em doentes com dor patelofemoral

intratável que necessitaram de libertação do retináculo ou realinhamento da

articulação patelofemoral.1,23 As alterações observadas por estes autores

assemelhavam-se à imagem histopatológica do neuroma de Morton. Mais tarde, Mori

et al. encontraram neuropatia degenerativa no retináculo lateral em doentes com

PFPS.1 Sanchis-Alfonso observou uma clara relação entre a presença de neuromas e

a dor anterior do joelho. No entanto, não foi encontrada nenhuma relação entre

degeneração neural mixóide e dor.20

Jerosch e Prymka revelaram uma redução altamente significativa na

propriocepção do joelho após a luxação da rótula, explicada pela lesão das fibras

neuroproprioceptivas.25 Os estudos atuais mostram a importância da informação

propriocetiva dos mecanorrecetores na função do joelho e, até um certo ponto, a

instabilidade em doentes com PFPS depende não só de fatores mecânicos, mas

também de fatores neurais. Jensen et al. demonstraram uma função sensorial anormal

no joelho doloroso e não doloroso em alguns indivíduos com PFPS de longa

duração.26 Sanchis-Alfonso refere a hiperenervação do retináculo lateral como uma

possível causa da PFPS e demonstrou uma associação da hiperenervação com a

libertação do fator de crescimento neural (NGF).1,20,22 A libertação de NGF pode ser

induzida pela isquemia e alguns estudos demonstraram alterações histológicas do

retináculo lateral associadas a hipóxia e dor anterior no joelho.1 Em situações de

inflamação pós-traumática ou de sobre-uso há produção de citocinas que estimulam

as terminações nervosas resultando na perceção de dor.22

AVALIAÇÃO CLÍNICA

A avaliação clínica cuidada do doente com instabilidade patelofemoral é

essencial para um diagnóstico correto. A história clínica deve basear-se: na queixa; no

início do problema; na natureza da causa (se foi após um trauma ou uma pequena

torção); no grau de incapacidade; na repetição do problema (o que pode diferenciar

luxação habitual de luxação recidivante); na dor (com as suas diversas formas e

características); na crepitação e no derrame (frequência e intensidade).5,8

Na luxação aguda da rótula, ocorre lesão dos tecidos moles da articulação do

joelho. De acordo com a literatura, a lesão combinada do retináculo medial e do LFPM

está presente em, aproximadamente, 65% dos casos.1 As lesões dos tecidos moles

12  

predispõe para episódios subsequentes de luxação ou subluxação da rótula e,

eventualmente, alterações degenerativas na articulação do joelho. Assim, a

sintomatologia dos doentes pode ser dividida em dois grupos: os que apresentam um

primeiro episódio de luxação aguda e os que têm sintomas crónicos de instabilidade

ou episódios recidivantes de luxação. Na luxação aguda da rótula, encontra-se dor,

edema e hemartrose. No grupo crónico a principal queixa é a dor.

A dor é o sintoma mais comum e o mais incapacitante. Na ausência de um

evento traumático, a dor começa insidiosamente e, na maioria das vezes, a dor é mal

localizada e o doente localiza a área da dor colocando a mão sobre a região anterior

do joelho. Contudo a dor pode ser medial, lateral ou poplítea.1 A dor agrava com o

movimento, melhora com o repouso, raramente é constante e os períodos

assintomáticos são frequentes. A dor é tipicamente exacerbada por certas atividades

da vida diária como, levantar de uma cadeira, subir ou descer escadas, após estar

sentado durante um longo período de tempo, ajoelhar, ou pôr-se de cócoras,

melhorando com a extensão do joelho.8,27

Na instabilidade, os doentes podem queixar-se de episódios de “giving way”.1

Existem dois tipos principais, a luxação e a subluxação. Na luxação, a forma mais

grave, a rótula sai da sua posição normal e exige uma força externa para a recolocar,

a subluxação caracteriza-se por um deslocamento temporário e parcial e a rótula volta

à sua posição normal ativamente durante o movimento. A direção do deslocamento é,

na maior parte das vezes, lateral.

Múltiplos fatores anatómicos podem predispor a instabilidade patelofemoral,

como por exemplo, variações do alinhamento do membro inferior, displasia troclear,

anteversão do fémur, torção tibial externa, patela alta, joelho valgo, joelho recurvatum,

pronação do pé, atrofia do VMO, hipertrofia do músculo vasto lateral (VL), frouxidão

ligamentar generalizada, aperto do retináculo lateral.1-4

Os doentes podem também apresentar crepitação ou uma sensação de

moagem da rótula que piora com o exercício, subir ou descer escadas, posição de

joelhos e posição de cócoras. 27 No entanto, a crepitação pode ter outras causas como

lesões na cartilagem articular, membrana sinovial ou outros tecidos moles. A artrite

patelofemoral isolada é uma condição rara e o fator anatómico mais importante é a

displasia troclear.

Uma história cuidadosa deve apontar para a presença de dor anterior do joelho

ou instabilidade patelofemoral, descrito como episódios de “giving way”, subluxação ou

luxação da rótula. Muitas vezes, dor e instabilidade coexistem e o exame físico ajuda-

nos a definir a causa da dor e/ou o grau de instabilidade.

13  

Um exame clínico sistemático deve incluir uma avaliação regular do doente em

pé, a análise da marcha, posição sentada, exame dos membros inferiores enquanto

deitado, e exame da articulação patelofemoral usando testes específicos para

identificar áreas dolorosas e confirmar ou excluir instabilidade patelofemoral.

Em pé

É possível observar o alinhamento dos membros, constatando-se a presença

ou ausência de desvios do eixo (joelho varo, valgo, flexo ou recurvato) e desvios

rotacionais do fémur e tíbia (anteversão do fémur ou rotação tibial externa). Observa-

se também a orientação da rótula (convergente, divergente ou neutra) e a posição do

pé (pronação).

A simetria da marcha, a orientação da rótula e o alinhamento varo/valgo deve

ser também observada durante um pequeno ciclo de marcha.

Sentado

Com o doente sentado na mesa de observação com as pernas pendentes,

pedimos-lhe para fazer a flexão e a extensão do joelho. Na presença de instabilidade

pode-se ver a rótula centrada na tróclea em flexão e uma subluxação lateral perto da

extensão completa, sugerindo uma tensão exagerada no retináculo lateral. Este

deslocamento lateral constitui o chamado “J-sign”.1,28,29

Nesta posição devemos também avaliar o VMO quando a perna é estendida

contra a gravidade, entre os 15° e os 45°, observando a presença ou não de atrofia do

VMO, que pode sugerir uma redução da estabilidade medial.1,30

O “tubercle-sulcus angle” pode ser avaliado medindo o ângulo Q com o joelho

em 90° de flexão. O ângulo é medido entre uma linha perpendicular ao eixo trans-

epicondilar e uma segunda linha que passa pelo centro do rótula e o centro da

tuberosidade da tíbia. O valor normal foi definido como 0° e quando esse valor é >10°,

significa que há uma lateralização excessiva da tuberosidade tibial anterior.30 Esta

medida é mais precisa do que o ângulo Q em extensão, uma vez que a rótula é

centrada na tróclea.1

Decúbito dorsal

Com o doente em decúbito dorsal, o médico pode observar, palpar, e testar a

estabilidade e mobilidade articular do joelho.

A palpação do retináculo medial pode provocar dor ou pode ser detetado um

defeito do retináculo medial, o que pode indicar uma rotura do LPFM ou do retináculo

medial.

14  

O derrame pode ser detetado pelo “ice cube test”. Com as duas mãos

elevamos a rótula e se, em seguida, a pressionarmos contra o sulco troclear, ela vai

comportar-se como um cubo de gelo flutuando num líquido.1,28

O “passive patellar tilt test” avalia a tensão do retináculo lateral. A manobra é

feita com o joelho em 30° de flexão e o quadríceps relaxado e consiste na tentativa de

elevar a faceta lateral da rótula. Normalmente a faceta lateral da rótula deve elevar-se

0° a 20° acima do bordo medial. Se a elevação da faceta lateral é menor que 0° pode

originar dor patelofemoral e indicar uma retração no retináculo lateral.28,29,31

O “passive patellar glide test” é útil para avaliar as restrições medial e lateral da

rótula. Em extensão, a rótula está acima do sulco troclear e à medida que o joelho é

fletido a 20-30° a rótula desloca-se para o centro no sulco troclear. A distância entre o

centro da rótula e os epicôndilos medial e lateral deve ser igual com o joelho em 20-

30° de flexão.29,31

O “patellofemoral grinding test” é realizado com os joelhos estendidos. A rótula

é movida inferiormente sobre o sulco troclear e, de seguida, pede-se ao doente para

fazer a contração do quadríceps. A presença de dor faz com que o teste seja positivo

e supostamente associada à presença de PFPS. Contudo o teste também foi positivo

em joelhos assintomáticos, o que significa que este teste é certamente limitado.1,32

No “engagement sign” o joelho está em extensão completa, o polegar é

colocado firmemente na extremidade da rótula e, em seguida, o joelho é fletido a 20°.

O teste é positivo se o contato entre a rótula e a tróclea é doloroso.1

O “apprehension test” determina se a rótula está sujeita a luxação lateral e é

um sinal patognomónico de instabilidade patelofemoral. Neste teste o joelho está em

flexão de 20°-30° e pede-se ao doente para estender o joelho enquanto o examinador

empurra lateralmente a rótula. O teste é positivo quando o doente se queixa de dor e

oferece resistência com a extensão do joelho, recolocando a rótula na posição

neutra.1,29,31

Outro teste usado é o “lateral pull sign”. O vetor resultante do mecanismo

extensor é estimado pela direção seguida pela rótula quando o quadríceps é contraído

com o joelho em extensão completa. Em caso de deslocamento lateral da rótula, o

teste é positivo e significa que há uma excessiva tração lateral do quadríceps.1,31

No “Bassett sign” positivo há sensibilidade sobre o epicôndilo medial do fémur

podendo representar uma lesão no LPFM contribuindo, desta forma, para uma

estabilidade medial reduzida da rótula.1,33,34

O “Clark’s sign test” sugere disfunção patelofemoral. Com o joelho em

extensão e o quadríceps relaxado, o sinal é pesquisado pedindo ao doente que faça a

contração do quadríceps enquanto se exerce uma leve pressão no polo superior da

15  

rótula no sentido distal contra o sulco troclear. Se o teste provoca dor e o doente não

consegue manter a contração o teste é positivo.1

O ângulo Q é medido nesta posição. A sua medição faz-se com os joelhos em

extensão e o quadríceps relaxado, através do ângulo formado por uma linha que une a

espinha ilíaca ântero-superior com o centro da rótula e a linha que vai da tuberosidade

anterior da tíbia (TAT) ao centro da rótula. Um ângulo Q aumentado pode aumentar a

força lateralmente dirigida do mecanismo extensor, predispondo a mau alinhamento da

rótula e instabilidade.1,33,34

Decúbito ventral

Esta posição é mais usada para detetar rotação femoral e tibial. A anteversão

do fémur é avaliada através da medição da rotação interna e externa da anca com o

joelho em 90° de flexão.29 A maior rotação interna do que externa aponta para um

aumento da anteversão femoral.1 A torção tibial externa é obtida medindo o ângulo

entre o plano bi maleolar e o eixo longitudinal do fémur.1,30

A PFPS tem sido frequentemente associada a deficits de flexibilidade dos

membros inferiores, demonstrando associação com a tensão no quadríceps. Vários

estudos retrospetivos têm demonstrado essa relação em atletas.1 Para medir a tensão

do quadríceps estabiliza-se a pelve e vai-se fletindo o joelho trazendo o calcanhar o

mais próximo quanto possível das nádegas.31

Decúbito lateral

Esta última posição avalia a retração da banda iliotibial através do “Ober test”.29

Neste teste o doente deita-se sobre o lado que não vai ser testado. O joelho é

colocado em 90° de flexão e é abduzido. Uma banda iliotibial apertada impede a

adução do quadril quando o membro é solto nesta posição.30

O exame clínico deve ser sistemático e deve permitir identificar áreas dolorosas

e confirmar ou excluir a presença de instabilidade patelofemoral. Guiados por uma

história clínica completa, o diagnóstico pode ser confirmado ou complementado com

os testes clínicos. Alguns desses testes têm um forte valor de diagnóstico, enquanto

outros são de menor uso, por isso, é imperativo ter conhecimento sobre cada teste

clínico, nomeadamente da sua sensibilidade, especificidade e limitações.34 A

interpretação inadequada de alguns destes testes pode levar a tratamentos cirúrgicos

desnecessários. Todavia, o exame clínico é, certamente, a melhor ferramenta para

determinar o estudo imagiológico adicional e escolher o tratamento mais adequado.

16  

ESTUDO IMAGIOLÓGICO

Depois de uma colheita cuidada da história clínica e de um exame físico

minucioso segue-se o estudo pela imagem, de modo a confirmar ou excluir o problema

do doente e auxiliar o ortopedista a planear o tratamento.

A avaliação radiológica inicial baseia-se no raio-X do joelho para excluir a

presença de fraturas e lesões associadas e avaliar a presença de alguns fatores de

risco para a instabilidade patelofemoral. A TC é o melhor método para avaliar alguns

dos fatores de risco.

A ressonância magnética tem a vantagem de não ter radiação ionizante e a sua

boa resolução foi considerada útil para avaliar os tecidos moles e a superfície da

cartilagem articular.2,8 Apesar de ter vantagens adicionais na avaliação da disfunção

patelofemoral comparativamente à TC, o elevado custo não justifica o seu uso.

A cintigrafia óssea é um método sensível que usa o Tc99 metileno difosfonato

e reflete as primeiras mudanças fisiológicas da articulação, tal como o aumento da

atividade metabólica óssea.1 No entanto, não é um exame de rotina.

Raio-X

O raio-X é o primeiro exame a pedir para toda a patologia do joelho.

A incidência antero-posterior (AP) é de uso limitado. Esta incidência pode

revelar uma degeneração articular, uma impressão inicial sobre a posição da rótula em

relação ao fémur, uma rótula bipartida, que é uma variante do normal e,

ocasionalmente, fraturas osteocondrais.5

A incidência lateral é a mais importante e é essencial ter uma sobreposição

perfeita entre os dois côndilos posteriores.35 O raio X é feito com um ângulo de flexão

entre os 15°-20°.36

Através desta incidência é possível avaliar:

- A tróclea

A linha de sulco segue a linha Blumenstat. Num joelho normal esta linha

mantém-se posterior à linha do côndilo, significando que a tróclea é profunda e

congruente. Dejour descreveu, o "crossing sign" que caracteriza a displasia troclear,

ou seja, perante uma displasia troclear haverá "crossing sign" entre a linha do sulco e

o côndilo lateral, o que significa que a tróclea é plana.36,37 O mesmo autor descobriu

que 96% dos doentes com deslocamento da rótula tinha evidência de displasia

troclear.1,2,37 Inicialmente a displasia troclear foi classificada em 3 tipos, de acordo com,

o nível do "crossing sign", a profundidade da tróclea medida em diferentes ângulos e o

“bump”, o qual foi definido pela distância entre uma linha paralela ao cortéx anterior do

17  

fémur e o ponto mais alto da tróclea (patológico se >5mm).1 No entanto, esta

classificação tinha algumas limitações como foi corroborado pelo trabalho de François

Gougeon, Frank Remy e Henri Migaud.1 Posto isto, Dejour propôs uma nova

classificação com 4 graus de displasia troclear, à qual foi adicionada dois novos sinais,

o “supratrochlear spur” e o “double contour”. O "crossing sign" e o “supratrochlear

spur” são os sinais mais reprodutíveis.

- A altura da rótula

Os principais índices utilizados na literatura são: o de Caton-Deschamp, o de

Insall-Salvati e o de Blackburne e Peel.1,30,37 O Índice de Caton-Deschamps é a razão

entre a distância entre o bordo inferior da rótula e o prato tibial (AT) e o comprimento

da superfície articular da rótula (AP). Se AT/AP for <0,6 indica uma patela baixa, se for

>1,2 indica uma patela alta. O Índice de Insall-Salvati é a razão entre o comprimento

do tendão rotuliano (LT) e o maior diâmetro sagital da rótula (LP). Esta proprção,

normalmente, é igual a 1, mas se LT/LP for <0.8 indica patela baixa e se for >1,2

indica uma patela alta. O Índice de Blackburne e Peel é a relação entre a distância

medida a partir de uma linha tangencial entre a superfície articular da tíbia e a parte

inferior da superfície articular da rótula (A) e o comprimento da superfície articular da

rótula (B). O valor normal é de 0,8, se A/B for <0,5 indica uma patela baixa, se for >1

indica uma patela alta. De acordo com Bruderer et al., este índice é o mais

conveniente na investigação clínica.1

A incidência axial tem sido descrita em diversos ângulos.

- A vista de Merchant é obtida com o doente em decúbito dorsal com o joelho

a 45° de flexão. Avalia a subluxação da rótula através do ângulo de congruência e a

displasia troclear através do ângulo do sulco.2,36 O ângulo do sulco é o ângulo formado

pelas duas linhas que ligam o ponto mais profundo da tróclea e o ponto mais alto dos

côndilos do fêmur. O valor médio é de 138° ± 6°, se o ângulo for >145° é indicativo de

displasia troclear.2,5,8 O ângulo de congruência articular é medido pela bissetriz do

ângulo do sulco e uma linha para o ápice da rótula. Se a linha traçada a partir do ápice

da rótula é lateral à linha de referência do ângulo diz-se que é positivo. O valor de

referência médio é de -6° ± 11°.1,2,5

- A vista de Laurin é obtida com o doente sentado e o joelho em 20° de flexão.

Avalia a inclinação da rótula através do ângulo patelofemoral lateral e pode ainda ser

medido o índice patelofemoral. O ângulo patelofemoral lateral é formado por uma linha

tangente aos côndilos femorais e uma segunda linha tangente à faceta lateral da

rótula.2,8 Uma inclinação excessivamente elevada sugere a presença de tensão no

18  

retináculo lateral.5 O índice patelofemoral é a relação entre a espessura do espaço

articular medial e lateral, tendo como valor de referência 1,6 ou menos.37

- Nesta vista é também possível avaliar a forma da rótula e classificá-la

segundo Wiberg. O tipo mais freqüente é o tipo II e, em casos de displasia

patelofemoral de alto grau, será o tipo III.6 Rótula bipartida ou multipartida são o

resultado de uma fusão incompleta do centro de ossificação, e também pode ser

observado.

Tomografia Computorizada

A TC permite uma análise mais detalhada da articulação patelofemoral e uma

melhor avaliação dos parâmetros medidos pelo raio-X, podendo ser útil para detetar

alterações mais subtis. O doente está em decúbito dorsal, com os joelhos em

extensão completa e os pés fixos com 15° de rotação externa.1

Com a TC podemos avaliar:

- A TT-TG que corresponde à distância entre a TAT e o sulco troclear,

permitindo quantificar o alinhamento do mecanismo extensor que é mais segura que a

determinação do ângulo Q.5,30 O valor normal é de 12 mm e o limiar patológico é de 20

mm, valor a partir do qual poderá ser proposto a medialização da tuberosidade tibial.1

- O ângulo do sulco troclear de forma mais precisa

- A inclinação da rótula que resulta do ângulo formado pela interceção de uma

linha paralela aos côndilos femorais posteriores com outra que passa nos bordos

medial e lateral da rótula. De acordo com o protocolo de Lyon, a inclinação é medida

com e sem contração do quadríceps, dando informações dinâmicas sobre a

estabilidade da rótula.37 No estudo de Dejour, 83% do grupo com luxação objetiva

tinha inclinação da rótula >20°.1 Recentemente, foi demonstrado uma relação entre

displasia troclear e inclinação da rótula, isto é, quanto maior a displasia troclear maior

a inclinação da rótula.37

- A anteversão femoral que é medida através de uma linha que une o centro da

cabeça e do colo femoral e outra linha que passa nos côndilos posteriores. Um ângulo

de 15,6 ± 9° é sugestivo de instabilidade patelofemoral.1

- A torção tibial externa que é medida através de uma linha tangente à face

posterior do prato tibial e outra linha no eixo bi maleolar. O ângulo médio nos doentes

com instabilidade foi de 33°.1

19  

TRATAMENTO CONSERVADOR

A instabilidade patelofemoral pode ser tratada com sucesso sem cirurgia e

segundo Merchant este tratamento tem uma taxa de sucesso em 90% dos casos.38

Sendo uma situação clínica multifatorial, é necessário uma abordagem

adequada a cada caso, tendo em atenção a causa e os fatores de risco. Não há um

tratamento padrão, pelo que o tratamento deve ser individualizado, porque o mesmo

tratamento em doentes diferentes produz efeitos diferentes. O período de tratamento é

longo, pelo que o doente deve ser devidamente informado, nomeadamente, em

relação às expectativas do tratamento. O objetivo primordial do tratamento é a

obtenção de um joelho indolor e funcional com uma amplitude total de movimento.39

O tratamento não cirúrgico é preferível quando os deslocamentos da rótula são

isolados, infrequentes ou não habituais e, mais importante ainda, quando os

mecanismos de estabilização da rótula estão presentes e são capazes de acomodar o

processo de reabilitação.30 Deste modo, doentes com dor anterior do joelho e sem

qualquer desalinhamento dos membros inferiores serão tratados de modo

conservador.

O tratamento deve focar-se na redução do edema e da dor, no fortalecimento

muscular, principalmente dos estabilizadores dinâmicos da articulação patelofemoral,

no alongamento das estruturas encurtadas e no “taping” para contenção lateral da

rótula.2,30,40 Posto isto, o objetivo da fase inicial do tratamento é reduzir o edema e

recuperar a mobilidade do joelho. Ultrapassada esta fase, os doentes deverão iniciar o

fortalecimento do quadríceps (especialmente o VMO), visando o reequilíbrio das forças

musculares, e iniciar exercícios simples de cadeia cinética fechada (CCF).5,30,41

Um exercício de CCF existe quando o segmento terminal ou distal está fixo e

mostra-se bastante eficiente devido aos movimentos funcionais da extremidade inferior

através da contração excêntrica e concêntrica da anca, joelho e tornozelo. Os

exercícios de cadeia cinética aberta (CCA) são isotónicos e isométricos e têm o

objetivo de trabalhar um determinado grupo muscular, com o segmento distal livre. Se

for utilizada de forma correta e na fase adequada do tratamento, a CCA minimiza as

alterações impostas no mecanismo extensor, desde que existam discrepâncias nítidas

nos grupos antagonistas em termos de flexibilidade.30,40,41 O tratamento através de

exercícios de CCA é eficiente a curto prazo. Passada a fase de dor, deve iniciar-se os

exercícios de CCF, pois dificilmente se consegue manter o doente no programa inicial

apenas com os exercícios de CCA, uma vez que os mesmos são repetitivos e

monótonos. A utilização de exercícios de CCF é uma solução não cirúrgica eficiente e,

ao mesmo tempo, estimula o doente a continuar a reabilitação.40,41

20  

Num estudo de 20 mulheres, Cabral et al. concluíram que não há diferença

significativa entre a realização de exercícios de CCA e CCF, e mesmo sem diferença

significativa, o grupo tratado com exercícios de CCA relatou melhoria dos parâmetros

da dor e da flexibilidade.41

Outros métodos incluem o uso de joelheira e o uso de “taping”, com o objetivo

de diminuir o deslocamento excessivo da rótula. McConnell propôs o uso de “taping”

que exerce uma força sobre a rótula de modo a melhorar o seu alinhamento,

reduzindo a dor.1,39,41 Finestone et al., não encontraram vantagens entre o uso de

“taping” ou joelheira elástica.41 Frequentemente implicada na etiologia da PFPS é a

ativação relativa do VMO e VL. Teoricamente, o início de ação atrasado do VMO cria

uma atração preferencial do VL, deslocando a rótula lateralmente. Alguns estudos,

mostram que o uso de “taping” parece melhorar a ativação temporal do VMO durante a

subida e descida de escadas.2 No entanto, Ng e Wong concluíram que o “taping” tinha

um efeito potencialmente prejudicial sobre a contração do VMO, ao demonstrarem que

apesar de não haver diferenças significativas na ativação temporal do VMO e VL, o

VMO tinha uma amplitude significativamente menor em indivíduos com “taping”.42

O uso de ortóteses no calçado no tratamento da PFPS ainda não foi

amplamente estudado como o uso de joelheira e “taping”.1 No entanto, Vicenzino et

al., criaram uma regra para o uso de ortótese que consiste na presença de três de

quatro variáveis que englobam considerações importantes como, as características

dos doentes (idade >25 e altura <165 cm), morfometria do pé e a dor.1,41,43 No entanto,

os autores não encontraram diferenças significativas entre o uso de ortóteses e o

tratamento fisiátrico, uma vez que ambos apresentaram melhoria da dor.41,43 No geral,

recomenda-se ortótese no calçado em situações de pronação do pé.1

A instabilidade patelofemoral recorrente ocorre em cerca de 15% a 48% dos

doentes tratados do modo conservador.5,8 Dada a alta taxa de recorrência, muitos

investigadores recomendam a cirurgia precoce.5 Toby et al, na meta-análise de estudo

do tratamento não-cirúrgico versus cirúrgico da luxação da rótula, concluíram que o

tratamento cirúrgico está associado a um risco mais alto de osteoartrose da

articulação patelofemoral mas, reduzem o risco subsequente de luxações quando

comparado com o tratamento conservador.44 Todavia, com base em dados obtidos a

partir de cinco estudos, não foram encontradas diferenças significativas entre o

tratamento cirúrgico e não-cirúrgico para o risco de luxação recidivante.45

21  

TRATAMENTO CIRÚRGICO

O tratamento cirúrgico está reservado aos casos sintomáticos com insucesso

do tratamento conservador, situações em que a recorrência da patologia provoca

limitação funcional evidente ou para o tratamento inicial de doentes com luxação

aguda com uma lesão concomitante, como fragmentos osteocondrais soltos, rotura do

menisco, rotura do VMO ou avulsão do LPFM.5,8

Foram descritos mais de 100 procedimentos cirúrgicos para o tratamento da

instabilidade patelofemoral. Não há uma técnica cirúrgica que possa ser usada em

todos os casos pois cada detalhe anatómico deve ser avaliado e, se preciso corrigido.

A multiplicidade de procedimentos cirúrgicos implica uma escolha adequada, tendo em

conta a patologia do doente, a idade, o nível de atividade física e o estado da

articulação.

Entre os procedimentos cirúrgicos mais usados estão:

Libertação do retináculo lateral – “Lateral release” (LR)

Historicamente, este procedimento foi realizado porque pensava-se que um

retináculo lateral apertado podia predispor à luxação. Atualmente, a LR isolada tem um

papel insignificante, pelo que perante um doente com instabilidade deve associar-se

um procedimento de realinhamento.

Panni et al., concluiram que a LR isolada é um procedimento inicial satisfatório

quando estamos perante um doente que não respondeu ao tratamento conservador e

que apresenta uma síndrome de hiperpressão lateral excessiva (ELHS), que se

caracteriza por um aperto do retináculo lateral e uma diminuição da inclinação da

rótula por hipertrofia do retináculo lateral.46 Ricchetti et al., publicaram uma revisão

sistemática de 14 estudos onde estavam incluídos 467 joelhos, onde concluiram que

22  

os resultados a longo prazo de uma LR isolada são inferiores quando comparados

com um procedimento cirúrgico que combina a LR com um procedimento de

realinhamento.1,47 Nos doentes com osteoartrose patelofemoral, a LR foi bem sucedida

no alívio temporário da dor nas primeiras fases, no entanto, a longo prazo foi

observado um grande número de recaídas.1,48 A literatura recente não incentiva o uso

de LR, pois pode aumentar a instabilidade patelofemoral.49 Hiperfrouxidão ligamentar

com hipermobilidade da rótula é uma contra-indicação absoluta para LR (isolada ou

em associação).1

Reparação dos estabilizadores mediais – “Medial reefing”

A técnica de “medial reefing”, envolve a reparação de danos do retináculo

medial e promove a fixação do VMO à rótula distal e lateral. Está indicada quando há

defeitos do retináculo medial e/ou no LPFM nos casos de falha do tratamento

conservador em doentes com instabilidade potencial.8,49-51 Halbrecht descreveu o

“medial reefing” artroscópico em doentes com luxação ou subluxação da rótula em que

93% dos doentes apresentaram melhoria significativa.2,52 Nam et al., relataram

resultados de 95% de satisfação com “medial mini-reefing” associada a LR

artroscópica no tratamento da recorrência do deslocamento da rótula.53 No entanto,

alguns autores acreditam que nos casos de instabilidade potencial a LR pode agravar

a instabilidade.1

Reparação/Reconstrução do LPFM

Estudos feitos em joelhos de cadáveres, revelaram que o LFPM é a estrutura

mais importante para limitar o movimento lateral da rótula.1 Hautamaa et al.,

concluíram que o realinhamento proximal deve sempre incluir a reparação do LFPM

pois é suficiente para restaurar a mobilidade normal da rótula.1,5 Como resultado desta

pesquisa, surgiu um crescente número de estudos clínicos sobre restauração do

LFPM.

O simples facto de poder ocorrer danos no LPFM na luxação inicial da rótula

não constitui por si só indicação para cirurgia. A reconstrução do LPFM está indicada

nos casos de instabilidade objetiva devida a frouxidão excessiva dos estabilizadores

mediais, principalmente do LPFM, e nos casos que não melhoraram com o tratamento

conservador.49 Deve ter-se em atenção que este procedimento não diminui a dor do

joelho pelo que não tem indicação na dor do joelho isolada. Artrite é uma contra-

indicação relativa porque a cirurgia vai aumentar a restrição da rótula, podendo

aumentar a carga sobre as superfícies danificadas.

23  

Cossey e Paterson avaliaram 21 joelhos submetidos a combinação de LR,

medialização da TAT e reconstrução do LPFM com um enxerto de retináculo medial. O

follow-up de 23 meses não revelou subluxação ou luxação recorrente pós-operatório.55

Ma et al. num estudo retrospetivo de 70 pacientes com instabilidade patelofemoral

recorrente, acompanhados por um período médio de 40 meses, concluíram que a

reconstrução do LPFM poderá alcançar bons resultados clínicos e que o “medial

reefing” poderia produzir resultados semelhantes.56

Deie et al. avaliaram 46 joelhos com luxação habitual e com luxações

traumáticas submetidos LR e reconstrução do LPFM utilizando a transferência do

músculo semitendinoso. O follow-up de 5 anos relatou 4 joelhos com subluxação.57

Gomes et al. avaliaram 16 joelhos com instabilidade crónica submetidos a

reconstrução do LPFM com enxerto do músculo semitendinoso. O follow-up de 5 anos

não relatou luxação ou subluxação da rótula.58 Shottle et al. avaliaram 15 joelhos

submetidos a reconstrução do LPFM com enxerto do músculo semitendinoso. No

follow-up de 4 anos, houve registo de 1 luxação e não encontraram diferenças entre

doentes com e sem displasia troclear.59 Raghuveer e Mishra avaliaram 13 joelhos

submetidos a reconstrução do LPFM usando o tendão semitendinoso. O follow-up de

42 meses não relatou luxações, mas 2 pacientes tiveram teste de apreensão positivo,

2 tiveram dor patelofemoral e 2 apresentaram sensibilidade à palpação profunda.60

Nomura et al. avaliaram 27 joelhos submetidos a reconstrução do LPFM com

enxerto sintético. No follow-up de 71 meses, apenas um doente apresentou

subluxação.61

Várias técnicas têm sido descritas com pequenas variações, mas as etapas-

chave de cada técnica são as mesmas. O primeiro passo, o passo-chave, é a

determinação do ponto isométrico para a fixação do enxerto no fémur, uma vez que

enxertos mal posicionados podem provocar dor, problemas com a amplitude do

movimento e alterações degenerativas articulares.8,62 Smirk e Morris, nos estudos em

cadáveres, determinaram o ponto mais isométrico no fémur (1 cm distal ao epicôndilo

medial e 5 mm posterior a este).63 Pontos ligeiramente distais ou ligeiramente

posteriores a este também foram considerados aceitáves. Thaunat e Erasmus

publicaram um estudo retrospetivo de avaliação de 23 joelhos submetidos a

reconstrução não isométrica do LPFM com gracílis. No follow-up de 2 anos não

obtiveram nenhuma subluxação nem sinal de apreensão positivo e não encontraram

diferenças significativas nos diferentes subgrupos em que existia patela alta ou

displasia troclear. Deste modo, demonstraram que a isometria do enxerto não é

necessária para a estabilidade patelofemoral.64

24  

Parikh et al. relataram, em um total de 179 joelhos submetidos a reconstrução

LPFM, complicações em 16,2% das cirurgias, incluindo instabilidade recorrente (8

pacientes), rigidez no movimento do joelho com défice na flexão (8 pacientes), fraturas

da rótula (6 pacientes) e artrose/dor patelofemoral (5 pacientes). No entanto, 47% das

complicações foram secundárias a fatores técnicos da cirurgia e foram considerados

evitáveis.65 Elizabeth et al. num estudo retrospetivo de 55 joelhos, com análise dos

resultados da reparação/reinserção do LPFM nas luxações crónicas, obtiveram 22

joelhos sem luxação da rótula e 19 joelhos com ocorrência de luxação.1 Os autores

concluíram que a reinserção do LPFM na sua inserção femoral tem elevada taxa de

falência.

Trocleoplastia

Doentes com displasia da tróclea estão sujeitos a deslocamento lateral e

inclinação da rótula, especialmente durante a contração muscular. Às vezes

é obrigatório corrigir o ângulo do sulco se houver um elevado grau de displasia troclear

(tipo B e D).1 Há dois tipos de cirurgia para estes casos, a trocleoplastia proximal ou o

aprofundamento da trocleoplastia de forma a criar um novo sulco troclear.

Na trocleoplastia proximal, a faceta lateral da rótula é levantada. O objetivo

desta técnica é a de reconstituir o sulco troclear e estabilizar a rótula durante a flexão

inicial, sem interferir muito com a congruência tróclea patelar.1 Verdonk et al.

submeteram a trocleoplastia 13 doentes com luxações recorrentes ou dor persistente

devido a displasia da tróclea. Os resultados foram bons em 77% dos casos, pelo que

eles sugerem que esta técnica pode ser uma alternativa válida em casos de franca

displasia troclear associada a dor persistente ou luxações recorrentes da rótula.2,5,66

Von Knoch et al. realizou um estudo em 45 joelhos, com um follow-up de cerca de 8

anos, submetidos a trocleoplastia e “medial reefing”, com ou sem reconstrução do

LPFM. Nenhum doente teve luxação no pós-operatório, mas um doente teve

subluxação. Embora a trocleoplastia tenha sido eficaz na prevenção de luxações, não

interrompeu a progressão da artrite patelofemoral, pois 10 joelhos apresentaram

alterações osteoartríticas.67

A cirurgia de aprofundamento da trocleoplastia é recomendada apenas em

casos graves, inclusive na luxação habitual e nos casos em que há um deslocamento

anormal da rótula durante flexão e extensão passiva e ativa. Além disso, está indicada

quando o estudo imagiológico revela alto grau de displasia troclear (tipos B e D).1,2

Nelitz et al. avaliaram 23 pacientes com instabilidade patelofemoral e displasia troclear

grave submetidos a trocleoplastia combinada com reconstrução do LPFM. No follow-

25  

up de 2,5 anos não ocorreu nenhuma luxação no pós-operatório, houve melhoria

significativa da função do joelho e 95,7% dos pacientes ficaram satisfeitos com o

procedimento.68

Frequentemente há outras alterações anatómicas associadas. Por conseguinte,

a trocleoplastia raramente é realizada como um procedimento isolado, podendo ser

associada a uma reconstrução do LPFM, distalização da TAT para corrigir uma patela

alta ou a uma medialização da TAT para corrigir uma distância excessiva TT-TG.

Realinhamento distal

Historicamente, o procedimento de Hauser envolvia a transferência da TAT

para uma posição mais medial e posterior, mas embora a curto prazo a estabilidade

patelofemoral tenha sido restaurada, a longo prazo foi demonstrada uma degeneração

articular significativa.8 Hoje em dia existem duas técnicas cirúrgicas principais

utilizadas pela maioria dos cirurgiões para o realinhamento distal: a medialização da

TAT – técnica de Elmslie-Trillat (ET) - e a anteromedialização da TAT - osteotomia de

Fulkerson. A técnica ET comparada com osteotomia de Fulkerson requer menos força

na fratura da tíbia, ou seja, é menos agressiva, permitindo uma recuperação pós-

operatória mais rápida.1,2

O procedimento ET tem como objetivo restaurar o alinhamento patelofemoral e

foi originalmente descrito por Roux e mais tarde popularizada por Elmslie e publicado

pela Trillat.1,5,8 Trata-se de uma combinação de procedimentos que envolve a LR,

“medial reefing”, bem como uma osteotomia e deslocamento medial da TAT.1,69 A

intenção da cirurgia era diminuir o ângulo Q e corrigir o alinhamento lateral da rótula.5

Cox refere que as indicações para o procedimento ET incluem: subluxação

recorrente ou luxação com um ângulo Q anormal ou patela alta; dor patelofemoral com

desalinhamento do mecanismo extensor; e luxação aguda em adultos com patologia

intra-articular e desalinhamento do mecanismo extensor.1,5 Segundo Zorzi, as

indicações para a técnica de ET são restritas à instabilidade patelofemoral em jovens

(<30 anos) sem alterações degenerativas, sem dor no joelho e com uma distância TT-

TG >20 mm.1 Marcacci et al. encontraram um efeito suplementar na altura da rótula

com uma normalização do índice de Insall-Salvati, e Brown e Shelbourne et al.

relataram excelentes resultados em doentes com patela alta.1,69

Para evitar uma carga potencial da faceta medial da rótula ou para aliviar o

dano potencial da cartilagem articular em luxações recorrentes, alguns autores

defendem a anteromedialização da TAT. Maquet e Bandi introduziram pela primeira

vez este procedimento que foi posteriormente modificado por Fulkerson et al.5 Este

procedimento corrige o ângulo Q com medialização da TAT e alivia a articulação

26  

patelofemoral com anteriorização da TAT.2 Fulkerson et al. relataram bons resultados

em 93% dos casos.5 Palmer et al. num estudo de 84 doentes com um follow-up de

cerca de 5 anos também relataram resultados satisfatórios.2,70

A decisão entre a medialização e anteromedialização deve basear-se na

presença ou ausência de lesão condral, uma vez que a degeneração da faceta medial

é uma contra-indicação para o procedimento ET.8,71 Um estudo recente de Ramappa

et al. em cadáveres avaliou as pressões de contato na articulação patelofemoral em

dois grupos, um submetido a medialialização da TAT e outro a anteromedialização.

Ambos os procedimentos corrigiram as elevadas pressões de contato, mas o grupo

submetido a anteromedialização da TAT apresentou pressões de contato menores.72

27  

CONCLUSÃO

A instabilidade patelofemoral é mais frequente na população jovem feminina e

é um problema comum no quotidiano dos ortopedistas. Há um elevado número de

fatores predisponentes e um efeito cumulativo da presença de mais de um fator.

Todavia, a compreensão de todos os fatores que contribuem para o seu aparecimento

é ainda um enigma.

É imperativo compreender a causa da instabilidade recorrente para cada

doente. Assim, uma história clínica detalhada e um exame físico minucioso são fulcrais

para a orientação do diagnóstico. Adicionalmente, a informação do exame

radiográfico, nas incidências de perfil e axial, é de primordial importância. Nos casos

em que o exame radiográfico não fornece informação suficiente ou quando há

discrepância entre os achados clínicos e radiológicos deve ser pedida a tomografia

computorizada para avaliar e quantificar com maior detalhe as alterações anatómicas.

A instabilidade patelofemoral é uma entidade clínica difícil de tratar e requer

uma profunda compreensão da anatomia e biomecânica da articulação do joelho. Os

grandes avanços na compreensão nestas áreas, com atenção especial no ligamento

patelofemoral medial, permitiu perceber o porquê de muitos dos procedimentos

históricos não terem sido completamente bem sucedidos.

Não há tratamentos padrões. O tratamento deve ser individualizado tendo em

conta o resultado dos estudos efetuados e deve considerar-se o risco versus o

benefício. O tratamento conservador é eficaz e tem uma taxa elevada de sucesso. O

tratamento inicial deve ser dirigido ao controlo da dor e à melhoria da amplitude de

movimento do joelho. Para situações de insucesso do tratamento conservador, há uma

multiplicidade de gestos cirúrgicos que corrigem a biomecânica da articulação

patelofemoral, mas que devem ser utilizados com cautela. Estão incluídos

procedimentos proximais e distais que praticados isoladamente ou em associação

estão associados a bons resultados.

28  

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