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Dissertação Mestrado

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  • UNIVERSIDADE DE UBERABA PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAO

    CARLA ALESSANDRA DE OLIVEIRA NASCIMENTO ESTGIO OBRIGATRIO: AS REPRESENTAES SOCIAIS DOS ALUNOS

    CONCLUINTES DE CURSOS DE LICENCIATURA NA REGIO DO TRINGULO MINEIRO

    UBERABA-MG 2013

  • CARLA ALESSANDRA DE OLIVEIRA NASCIMENTO

    ESTGIO OBRIGATRIO:AS REPRESENTAES SOCIAIS DOS ALUNOS CONCLUINTES DE CURSOS DE LICENCIATURA NA REGIO DO TRINGULO

    MINEIRO

    Dissertao apresentada ao Programa de Mestrado em Educao da Universidade de Uberaba- UNIUBE como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Educao, sob a orientao da Prof. Dr. Vnia Maria de Oliveira Vieira.

    UBERABA-MG 2013

  • Catalogao elaborada pelo Setor de Referncia da Biblioteca Central UNIUBE

    Nascimento, Carla Alessandra de Oliveira.

    N17e Estgio obrigatrio: as representaes sociais dos alunos concluintes de cursos de licenciatura na regio do Tringulo Mineiro / Carla Alessandra de Oliveira Nascimento. Uberaba, 2013.

    212 f. : il. color. Dissertao (mestrado) Universidade de Uberaba. Programa

    de Mestrado em Educao, 2013. Orientadora: Prof. Dr. Vnia Maria de Oliveira Vieira

    1. Ensino. 2. Ensino superior - Estgios. 3. Licenciatura. 4. Formao de professores. 5. Representaes sociais. I. Universidade de Uberaba. Programa de Mestrado em Educao. II. Ttulo.

    CDD 371.102

  • CARLA ALESSANDRA DE OLIVEIRA NASCIMENTO

    ESTGIO OBRIGATRIO:AS REPRESENTAES SOCIAIS DOS ALUNOS CONCLUINTES DE CURSOS DE LICENCIATURA NA REGIO DO TRINGULO

    MINEIRO

    Dissertao apresentada ao Programa de Mestrado em Educao da Universidade de Uberaba - UNIUBE como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Educao, sob a orientao da Prof. Dr. Vnia Maria de Oliveira Vieira.

    Aprovado em __/__/__

    BANCAEXAMINADORA

    ____________________________________ Prof. Dr.Vnia Maria de Oliveira Vieira Universidade de Uberaba - UNIUBE _____________________________________ Prof. Dr. Betnia de Oliveira Laterza Ribeiro Universidade Federal de Uberlndia - UFU _____________________________________ Prof. Fernanda Telles Mrques Universidade de Uberaba - UNIUBE

  • Aos meus pais, Silvrio de Oliveira e Maria Corra de Oliveira,

    pelos valores, pelo amor incondicional, pelo exemplo de vida e pelos

    ensinamentos dados por duas pessoas cujos bancos de escola mais

    conhecidos foram as agruras da vida.

    Ao filho Victor Loureno e ao esposo Loureno Jnior, pelo

    apoio, pelo cuidado dirio e pelo amor constante.

    O amor no um lao que se mostra forte apenas nos momentos

    felizes, ele nos acompanha nas dificuldades e nos cobre como telhado

    em noite de chuva.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos professores fica a gratido pelo carinho e pela pacincia em conduzir meus

    passos. A generosidade de quem ensina no deve jamais ser esquecida, mesmo que nossos

    passos deixem de caminhar um ao lado do outro.

    querida orientadora, Vnia Maria de Oliveira Vieira, pelos ensinamentos, pela

    compreenso, pelo acolhimento, o olhar terno e o sorriso doce sempre presentes.

    Aos amigos e familiares, pela ateno, pelo carinho e pela pacincia nesse perodo de

    ausncias.

    Aos colegas do IFTM, pelo apoio e pelo auxlio nas horas mais difceis.

    Uma realizao no se faz s. Em todo bom trabalho, mos e coraes se unem.

    Famlia, professores, amigos, colegas, todos os que de alguma forma contriburam para que o

    resultado fosse alcanado so partcipes e deveriam ter seus nomes inscritos nestas pginas.

    Agradeo a Deus por estar sempre em meu corao e manter minha f inabalvel. Que

    Ele ilumine o caminho dos que aqui estiveram em meu auxlio, ainda que com lembranas,

    oraes ou palavras.

    Em tudo o que se faz deixa-se um pouco de si. E permaneceremos em nossas obras,

    mesmo que o tempo nos leve. E permaneceremos nas palavras ditas a quem nos escutar.

  • Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sobre a face neutra

    e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrvel, que lhe deres: trouxeste a chave?

    Carlos Drummond de Andrade

  • RESUMO

    Em razo do desenvolvimento social e tecnolgico, a sociedade brasileira atual apresenta grandes desafios aos professores, tanto para os formadores como para os que esto em formao. Os formadores tm o desafio de ensinar a lidar com situaes que, muitas vezes, no vivenciaram. Essa situao decorre, em grande parte, da democratizao da educao, do desenvolvimento de projetos de incluso e insero escolar, que desencadearam o aumento do nmero de estudantes com problemas de aprendizagem, psicolgicos, emocionais e comportamentais nas escolas. Assim sendo, quando vo escola bsica para realizar o estgio, muitos estagirios encontram dificuldades no desenvolvimento dessa etapa curricular, o que tem gerado um discurso negativo em relao ao estgio. Tambm questes de ordem curricular, institucional, legal e burocrtica contribuem com esse entendimento. A transformao desse discurso perpassa as representaes sociais dos estagirios. Nesse sentido, este estudo pretende dar voz aos licenciandos e objetiva compreender as representaes sociais construdas pelos alunos concluintes dos cursos de Licenciatura de instituies de ensino superior da regio do Tringulo Mineiro sobre a realizao do estgio obrigatrio. O estgio supervisionado um componente importante para a formao docente, pois oferece a oportunidade de atuao concomitante educao profissional. Identificar as representaes sociais dos estagirios pode contribuir para a melhoria do estgio, da formao de professores e da escola de ensino bsico. Esta pesquisa procura descrever como esto estruturadas e organizadas as representaes sociais em estudo, com uma abordagem qualiquantitativa. O grupo de sujeitos participantes foi composto por 89 alunos concluintes de quatro instituies de ensino superior, sendo uma pblica e trs privadas, compreendendo as Licenciaturas em Biologia, Cincias Sociais e Pedagogia. O referencial terico-metodolgico baseou-se nos estudos sobre Estgio Supervisionado, com foco nas obras de Pimenta, na Teoria das Representaes Sociais, desenvolvida por Moscovici e Jodelet, na subteoria do Ncleo Central, de Abric e S, e na Anlise de Contedo de Bardin, alm de outros autores que contriburam para fundamentar o desenvolvimento da pesquisa. Para coletar os dados, foram usados duas entrevistas de grupo focal e um questionrio com 34 questes, das quais uma foi direcionada tcnica da associao livre de palavras. A anlise foi feita com base nos pressupostos e tcnicas da Anlise de Contedo, principalmente a categorizao; e com a utilizao do software EVOC para anlise das evocaes. O resultado encontrado foi um deslocamento nas representaes dos licenciandos acerca do estgio supervisionado, uma vez que sua organizao dispe no centro das representaes, dentre outros elementos, o conhecimento e a experincia, amparadas por elementos perifricos como aprendizagem teoria e prtica, o que descaracteriza a prevalncia da concepo instrumental e ratifica a integrao entre teoria e prtica, entendendo-se que aquela se constitui a partir desta e ambas compem a formao docente. Palavras-chave: Estgio obrigatrio. Licenciaturas. Representaes Sociais. Formao de professores.

  • ABSTRACT

    Due the development social and technological, the Brazilian actual society presents huge challenges to the teachers, as to the trainers as the ones that is in formation. The trainers have the challenge to teach dial if the situation that, sometimes, didn't won. This situation stems, largely, of the democratization of the education, of the development of projects of inclusion and insertion in school, that triggered the increase the number of students if problems of learning, behavioral, psychological and emotional in the schools. Thus, when they go to school to do the basic stage, many trainees encounter difficulties in the development of this curriculum step, that has generated negative discourse in relation to the stage. Also questions of a curriculum, institutional, legal and bureaucratic contribute to this understanding. The transformation of this discourse pervades the social representations of trainees. In this sense, this study pretend give voice to undergraduates and aims to understand the social representations build by the graduating students of undergraduate courses in the Tringulo Mineiro region. The supervised training is an important component of teacher education; it offers the opportunity of activity concomitant to professional education. Identify the social representations of the trainees can contribute to the improvement of the stage, the training of teachers and secondary school. This research want describe how are structured and organized the social representations in study with a qualitative and quantitative approach. Participate of this surveyed 89 students graduating from four institutions of higher education been one public and three privates in the undergraduates Biology, Social Sciences and Education. The theoretical and methodological framework was based on studies on Supervised, focusing on the works of Pimenta, on the Theory of Social Representations, by Moscoviciand and Jodelet, in Central Nucleus Sub theory, of Abric and S, and Content Analysis of Bardin, and other contributors to support the development of research. For data collection, there were utilized Focus Group interviews and a questionnaire whit 34 questions, one of the questions was directed to the technique of free association of words. The analysis was based on the assumptions and techniques of Content Analysis, especially the categorization, and using the software to analyze the EVOC evocations. The result found was a shift in the representation of undergraduates about supervised phase, once your organization has in the center of the representations, among other elements, "knowledge" and "experience", supported by peripheral elements as "learning" "theory" and "practice," which pits the prevalence of instrumental conception and ratifies the integration of theory and practice, understanding that that is founded upon and this comprise both teacher training. Keywords: Obligatory Phase. Undergraduate. Social Representation. Teachers formation.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Programas que compem o software EVOC................................................... 83

    Figura 2 Quadrantes gerados pelo software EVOC....................................................... 157

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Percentual de estagirios por gnero feminino/ masculino.............................. 112

    Grfico 2 Percentual de estagirios por faixa etria............................................................ 113

    Grfico 3 Percentual de estagirios por escolaridade dos pais............................................ 113

    Grfico 4 Percentual de estagirios pela escolaridade das mes......................................... 114

    Grfico 5 Percentual de ocupao funcional dos pais dos estagirios................................ 115

    Grfico 6 Percentual de ocupao funcional das mes dos estagirios............................... 115

    Grfico 7 Percentual de estagirios que trabalham e dos que no trabalham...................... 116

    Grfico 8 Percentual de ocupao funcional dos estagirios.............................................. 117

    Grfico 9 Percentual de carga horria semanal de trabalho dos estagirios........................ 117

    Grfico 10 Percentual da renda familiar dos estagirios....................................................... 118

    Grfico 11 Percentual dos meios de informao dos estagirios.......................................... 119

    Grfico 12 Percentual de atividades realizadas pelos estagirios nas horas vagas............... 120

    Grfico 13 Percentual de motivos que levaram o estagirio a escolher um curso de

    licenciatura..................................................................................................................

    121

    Grfico 14 Indicao e apoio das IES aos estagirios dos cursos em Licenciatura...................... 127

    Grfico 15 Aulas e encontros de estgio...................................................................................... 128

    Grfico 16 Responsabilidade do orientador com o desenvolvimento do estgio......................... 131

    Grfico 17 Comparecimento do orientador na escola campo....................................................... 132

    Grfico 18 Viabilizao da socializao do estgio pelo orientador............................................ 134

    Grfico 19 Contribuies do estgio............................................................................................ 144

    Grfico 20 Compreenso do estagirio sobre a escola e o cotidiano escolar............................... 145

    Grfico 21 Reflexos da atuao do estagirio na escola campo................................................... 146

    Grfico 22 Concepes dos estagirios sobre o estgio............................................................... 148

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Codificao das instituies e dos cursos participantes da pesquisa......................... 87

    Quadro 2 Levantamento da caracterizao dos estgios supervisionados nos PPCs das IESs

    investigadas................................................................................................................

    186

    Quadro 3 Levantamento dos registros sobre acompanhamento, orientao e avaliao dos

    estgios nas IES pesquisadas: 01P, 01B, 02S, 04P....................................................

    188

    Quadro 4 Distribuio do nmero de participantes por curso e por IES................................... 79

    Quadro 5 Questo n 13 do questionrio................................................................................... 82

    Quadro 6 Programas do software EVOC usados na pesquisa e suas funes........................... 83

    Quadro 7 Diviso dos sujeitos da pesquisa por gnero.............................................................. 193

    Quadro 8 Diviso do nmero de sujeitos da pesquisa por faixa etria...................................... 193

    Quadro 9 Diviso do nmero de sujeitos da pesquisa por escolaridade dos pais e das mes............................................................................................................................

    193

    Quadro 10 Diviso do nmero de sujeitos da pesquisa por profisso dos pais............................ 193

    Quadro 11 Diviso do nmero de sujeitos da pesquisa por profisso das mes.......................... 195

    Quadro 12 Quantidade e porcentagem de alunos que trabalham................................................. 195

    Quadro 13 Diviso do nmero de sujeitos da pesquisa por profisso dos estagirios ................ 195

    Quadro 14 Diviso do nmero de sujeitos da pesquisa por carga horria semanal de

    trabalho.......................................................................................................................

    197

    Quadro 15 Diviso do nmero de sujeitos da pesquisa por renda mensal familiar..................... 197

    Quadro 16 Diviso do nmero de referncias aos meios de informao utilizados pelos

    estagirios...................................................................................................................

    197

    Quadro 17 Diviso do nmero de referncias s atividades realizadas pelos estagirios nas

    horas vagas.................................................................................................................

    197

    Quadro 18 Diviso do nmero de referncias aos motivos dados opo dos sujeitos pelo

    curso de licenciatura...................................................................................................

    198

    Quadro 19 Justificativas para uma nova escolha, ou no, do curso de licenciatura.................... 198

    Quadro 20 IES indicao e apoio para a realizao do estgio................................................. 202

    Quadro 21 IES Aulas e encontros para socializao do conhecimento sobre

    estgio.........................................................................................................................

    202

    Quadro 22 Orientador responsabilidade em relao ao acompanhamento e orientao do

    estgio.........................................................................................................................

    202

    Quadro 23 Orientador realizao de encontros com os estagirios para socializao dos

    conhecimentos............................................................................................................

    202

    Quadro 24 Orientador Comparecimento escola campo.......................................................... 203

  • Quadro 25 Escola campo Recepo dos estagirios pelos profissionais envolvidos................ 137

    Quadro 26 Supervisor Procedimentos em relao aos estagirios............................................ 203

    Quadro 27 Supervisor Satisfao em relao profisso docente............................................ 142

    Quadro 28 Contribuies para a formao profissional do estagirio......................................... 204

    Quadro 29 Imagens dos estagirios sobre a escola e o cotidiano escolar.................................... 204

    Quadro 30 Efeitos da participao e atuao do estagirio na escola campo.............................. 205

    Quadro 31 Concepes dos estagirios sobre estgio.................................................................. 205

    Quadro 32 Aspectos significativos do estgio............................................................................. 205

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Identificao das caractersticas do estgio nos PPCs dos cursos 01P, 01B, 02S, 03P,

    04P ................................................................................................................................

    88

    Tabela 2 Identificao dos aspectos relacionados ao acompanhamento e orientao do

    estgio nos PPCs 01P, 01B, 02S, 04P...........................................................................

    99

    Tabela 3 Identificao dos aspectos relacionados avaliao do estgio nos PPCs 01P, 01B,

    02S, 04P.........................................................................................................................

    106

    Tabela 4 Justificativa dos estagirios que no repetiriam a escolha por um curso de

    licenciatura.....................................................................................................................

    122

    Tabela 5 Justificativa dos estagirios que repetiriam a escolha por um curso de

    licenciatura.....................................................................................................................

    124

    Tabela 6 Identificao dos aspectos significativos do estgio positivos................................... 150

    Tabela 7 Identificao dos aspectos significativos do estgio negativos.................................. 153

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CEP Comit de tica na Pesquisa

    CNE Conselho Nacional de Educao

    CP Conselho Pleno

    EVOC Ensemble L'analyse des programmes des evocations Permettant de Verges

    FNF Faculdade Nacional de Filosofia

    IES Instituio de Ensino Superior

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    OME Ordem Mdia de Evocao

    PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia

    PPC Projeto Pedaggico do Curso

    S.M. Salrio Mnimo

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    TICs Tecnologias da Informao e da Comunicao

    TNC Teoria do Ncleo Central

    TRS Teoria das Representaes Sociais

  • SUMRIO

    INTRODUO.......................................................................................................

    18

    1 BREVE HISTRICO DOS PRECEITOS LEGAIS SOBRE O ESTGIO NO BRASIL ............................................................................................................

    27

    1.1 ESTGIO: DO PROFISSIONAL AO CURRICULAR........................................... 27

    1.2 O ESTGIO NA FORMAO DE PROFESSORES NO BRASIL ......................

    32

    2 ESTGIO OBRIGATRIO: UMA PROPOSTA ALM DO DILOGO ENTRETEORIA E PRTICA .............................................................................

    42

    2.1 UMA ANLISE CONCEITUAL: CONCEPES DE ESTGIO .......................

    43

    2.1.1 O estgio como conhecimento de modelos para imitao ...................................

    43

    2.1.2 A perspectiva tcnica e o estgio instrumental: geradores da concepo crtica........................................................................................................................

    44

    2.1.3 O estgio como a parte prtica do curso de formao de professores ..............

    46

    2.1.4 O estgio com reflexo ...........................................................................................

    47

    2.1.5 O estgio como objeto e espao de pesquisa ........................................................

    49

    2.2 O ESTGIO E A FORMAO DE PROFESSORES ...........................................

    51

    3 CAMINHO TERICO-METODOLGICO ......................................................

    56

    3.1 A TEORIA DAS REPRESENTAES SOCIAIS .................................................

    57

    3.1.1 A natureza das representaes ..............................................................................

    57

    3.1.2 Caractersticas e abrangncia das representaes sociais ..................................

    60

    3.1.3 Por que criamos as representaes sociais?..........................................................

    62

    3.1.4 Os geradores das representaes sociais ..............................................................

    64

    3.1.5 Causalidades e representaes sociais ..................................................................

    66

    3.1.6 As representaes sociais e a pesquisa em educao............................................

    67

    3.2 A TEORIA DO NCLEO CENTRAL ....................................................................

    69

    3.2.1 Para entender o ncleo central .............................................................................

    70

    3.2.2 Para entender o sistema perifrico........................................................................

    70

    3.2.3 A TNC como aporte metodolgico da TRS...........................................................

    71

    3.2.3.1 Mtodos de levantamento ........................................................................................ 72

  • 3.2.3.1.1 Constituio de pares de palavras e comparao pareada......................................

    72

    3.2.3.1.2 Constituio de conjuntos de palavras.....................................................................

    73

    3.2.3.1.3 A evocao ou associao livre................................................................................

    73

    3.2.3.1.4 A hierarquizao de itens..........................................................................................

    74

    3.2.3.1.5 A anlise de dados....................................................................................................

    74

    3.2.3.2 Mtodos de identificao..........................................................................................

    75

    3.2.3.2.1 Induo por cenrio ambguo...................................................................................

    75

    3.2.3.2.2 Esquemas cognitivos de base....................................................................................

    76

    3.3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS..............................................................

    77

    3.3.1 Caracterizao da populao de estudo................................................................

    78

    3.3.2 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados...............................................

    79

    3.3.2.1 Anlise dos PPCs......................................................................................................

    79

    3.3.2.2 Questionrio..............................................................................................................

    80

    3.3.2.3 Entrevista de Grupo Focal.........................................................................................

    80

    3.3.3 Procedimentos de Anlise de dados.......................................................................

    81

    3.3.3.1 Associaes livres EVOC......................................................................................

    82

    3.3.3.2 A Anlise de Contedo ............................................................................................

    84

    3.3.3.2.1 Pr-anlise................................................................................................................

    85

    3.3.3.2.2 Explorao do material.............................................................................................

    85

    3.3.3.2.3 Tratamento dos resultados........................................................................................

    86

    4 O ESTGIO NA PERSPECTIVA DAS INSTITUIES PESQUISADAS: AS PROPOSTAS DOS PROJETOS PEDAGGICOS......................................

    87

    4.1 CARACTERIZAO DO ESTGIO: A CATEGORIZAO DAS

    CARACTERSTICAS DE ESTGIO ENCONTRADAS NOS PPCS DOS CURSOS INVESTIGADOS .........................................................................

    88

    4.2 AORGANIZAO DO ESTGIO NOS PROJETOS: ACOMPANHAMENTO, ORIENTAO E AVALIAO ............................................................................

    98

    5 ANLISE DOS DADOS.........................................................................................

    111

    5.1 PERFIL DOS SUJEITOS......................................................................................... .

    111

  • 5.2 REALIZAO DO ESTGIO................................................................................

    125

    5.2.1 Instituio formadora - IES ..................................................................................

    125

    5.2.2 Professor orientador do estgio ............................................................................

    129

    5.2.3 Escola campo...........................................................................................................

    135

    5.2.4 Professor supervisor de estgio..............................................................................

    137

    5.2.5 Contribuies do estgio.........................................................................................

    142

    5.3 ASPECTOS SIGNIFICATIVOS DO ESTGIO DE ACORDO COM AS PERCEPES DOS ESTAGIRIOS......................................................................

    148

    5.4 ASSOCIAES LIVRES EVOC..........................................................................

    155

    CONSIDERAES FINAIS.................................................................................

    162

    REFERNCIAS......................................................................................................

    167

    APNDICE A..........................................................................................................

    178

    APNDICE B..........................................................................................................

    179

    APNDICE C..........................................................................................................

    180

    APNDICE D..........................................................................................................

    184

    APNDICE E..........................................................................................................

    185

    APNDICE F..........................................................................................................

    186

    APNDICE G..........................................................................................................

    193

    APNDICE H..........................................................................................................

    202

  • 18

    INTRODUO

    O desenvolvimento da sociedade atual requer dos professores constante atualizao de

    saberes, o que influencia diretamente na formao desses futuros profissionais. Ao professor

    dessa nova sociedade cabe lidar com aspectos antes estranhos docncia, como a incluso, a

    violncia, a diversidade, o bullying, entre outros. No percurso dessa formao, h formadores

    de professores com dificuldades de direcionar seus ensinamentos para atender a essa realidade

    e at mesmo de transformar sua prpria ao docente.

    Nesse contexto, muitos estudantes dos cursos de licenciatura encontram problemas

    para concatenar os ensinamentos recebidos de seus formadores e a realidade encontrada nas

    escolas de ensino bsico. Essa dificuldade percebida, principalmente, por ocasio da

    realizao do estgio supervisionado, quando ocorre a imerso do estudante na profisso e no

    ambiente profissional.

    Caracterizando-se como o incio de uma carreira docente, o estgio deve oferecer ao

    estudante-professor a oportunidade de alicerar os valores profissionais apreendidos, bem

    como de identificar, na atividade prtica, os princpios e procedimentos estudados,

    compreendendo que o estgio tambm constitudo pela teoria e que essa gera a prtica e

    por ela gerada, em um movimento mtuo e consensual de troca e de gerao de

    conhecimento. Alm disso, essa etapa curricular contribui de modo expressivo para a

    composio da identidade do futuro docente, que pode, pela natureza de sua profisso, atuar

    como elemento social transformador, uma vez que a docncia constitui um campo especfico

    de interveno profissional na prtica social (PIMENTA; LIMA, 2011). Assim sendo, mais

    que um momento de aprendizagem, o estgio obrigatrio nos cursos de licenciatura apresenta-

    se como uma oportunidade real de formao de agentes transformadores, capazes de intervir e

    modificar a realidade social.

    Por ter vivenciado essa experincia mais de uma vez, compreendemos que o estgio

    um momento mpar, no apenas de prtica, mas de construo de conhecimentos essenciais ao

    exerccio competente da profisso docente. Ressalta-se que toda nossa trajetria profissional

    foi desenvolvida em escolas, tendo iniciado como auxiliar de escritrio, perpassando os

    cargos de telefonista, recepcionista e auxiliar de biblioteca, sempre buscando em outros

    profissionais com os quais convivamos e com nossos prprios professores um exemplo a ser

    seguido, algum que fosse capaz de orientar o aprendizado do estudante e avali-lo sem que

    isso fosse sinnimo de sofrimento, ou quase tortura. Encontramos essas pessoas e uma delas

    deu-nos a honra de t-la como orientadora desta pesquisa. Um importante fator que nos levou

  • 19

    a estudar o estgio nos cursos de licenciatura foi o aceite dado proposta de assumir o cargo

    de Coordenadora de Estgio de uma Instituio de Ensino Superior (IES) que,

    concomitantemente aos estudos de Mestrado cujos resultados aqui apresentamos, ofertou

    cursos de Licenciatura, os quais, necessariamente, deveriam perpassar as etapas e

    procedimentos de realizao do estgio obrigatrio.

    Atualmente, o estgio obrigatrio regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Brasileira LDB, n 9394/96; Lei federal n 11.788, de 25 de setembro de 2008;

    Resolues do Conselho Nacional de Educao que estabelecem as Diretrizes Curriculares

    especficas de cada Licenciatura; Resoluo CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002,

    Resoluo CNE/CP 2, de 19/02/2002.Essa etapa curricular exerce um papel importante na

    formao de professores, configurando-se como um momento em que o estudante do curso de

    licenciatura vivencia a docncia e todos os procedimentos que a envolve, podendo contar com

    a orientao de seus prprios professores e dos profissionais do campo de estgio.

    O estgio supervisionado dos cursos de licenciatura tem passado por diferentes

    perodos de desenvolvimento. Em sua histria, possvel identificar pocas em que consistia

    em mera observao e reproduo de modelos, perpassando o estgio como a parte prtica do

    curso de formao e como cumprimento de procedimentos burocrticos, at a mais recente

    tendncia, o estgio como espao, instrumento e objeto de pesquisa. Dentre os autores do

    tema que nos acompanharam na fundamentao deste estudo, destacamos Selma Garrido

    Pimenta, cujos estudos nortearam toda a pesquisa. Dentre seus trabalhos ressaltamos os livros

    O Estgio na Formao de Professores: unidade teoria e prtica? (2012) e Estgio e Docncia

    (2011), o ltimo tambm de autoria de Maria Socorro Lucena Lima, autora de Estgio e

    Aprendizagem da Profisso Docente (2012).

    Tambm Maria da Assuno Calderano nos oferece uma importante fonte de pesquisa

    sobre estgios na organizao da coletnea Estgio Curricular: concepes, reflexes terico-

    prticas e proposies (2012). A autora reuniu 12 trabalhos de grande relevncia aos que

    pretendem estudar o estgio curricular e seu desenvolvimento: O Estgio Supervisionado no

    Contexto da Formao de Professores, de Regina Coeli Barbosa Pereira e Rosilene de

    Oliveira Pereira; La Prctica Preprofesional Docente en La Facultad de Educacin de La

    Pontificia Universidad Catlica del Per, de Diana Mercedes Revilla Figueroa; Formao

    Docente e Currculo na Perspectiva de Estagirios de uma Licenciatura em Qumica, de

    Heron Laiber Bondiman e Murilo Cruz Leal; Mmrias de Formao no Relato de Futuros

    Professores: O Estgio como Espao de Ressignificao, de Hilda Micarello; Estranhamento:

    O Trabalho com Leituras de Textos Diferenciados na Disciplina de Estgio Supervisionado

  • 20

    em Qumica na UFJF, de Cristhiane Cunha Flr e Wallace Alves Cabral; Colgios de

    Aplicao e Formao de Professores: Um Dilogo com os Estgios como Esferas

    Formadoras, de Daniela Motta de Oliveira e Rosngela Veiga Jlio Ferreira; Estgio

    Supervisionado a distncia: A Experincia do Curso de Pedagogia UAB/UFJF, de Juliana

    Neves de Souza e Paula Batista Lessa; O Papel do Professor Orientador na Efetiva-Ao do

    Estgio: Mltiplas Vises, de Francisca Cristina de Oliveira e Pires; Professor Orientador de

    Estgio Curricular Pr-profissional: processo de socializao e conhecimentos mobilizados,

    de Paula Gaida Winch; Formao Profissional Prtica Especfica do Professor: Reflexes

    sobre um Modelo Colaborativo de Estgio Curricular Supervisionado, de Paulo Henrique

    Dias Menezes; Estgio Curricular: Formao Inicial, Trabalho Docente e Formao Contnua

    e O Estgio Curricular e os Cursos de Formao de Professores: Desafios de uma Proposta

    Orgnica, ambos de Maria da Assuno Calderano, quem, nesse ltimo, aponta que entre

    1998 e 2009, foram disponibilizados no portal da Capes 1.100 ttulos de dissertaes de

    mestrado pelos Programas de Ps-Graduao sobre formao de professores e destes apenas

    38 sobre estgio, o que ratifica a importncia desta pesquisa.

    O trabalho de Anna Maria Pessoa de Carvalho, Os Estgios nos Cursos de

    Licenciatura (2012), ainda que, em alguns momentos, apresente-se como um manual de

    realizao do estgio, em vrios outros traz discusses sobre o tema e apresenta possibilidades

    de realizao, inclusive do estgio por meio de Projetos de Pesquisa, recente, porm

    importante tendncia de concepo de estgio. Outra contribuio importante tambm

    ofereceu Elizeu Clementino de Souza, no livro O Conhecimento de Si: Estgios e Narrativas

    de Formao de Professores (2006), resultado de sua Tese de Doutorado apresentada

    Universidade Federal da Bahia. Alm disso, destacamos a coletnea organizada por Amlia

    Maria Jurmendia e Solange Utuari em Formao de Professores e Estgios Supervisionados:

    fundamentos e aes (2009), textos do grupo de professores e estudantes do Ncleo de

    Formao e Educao Profissional da Universidade Cruzeiro do Sul.

    Lzara Cristina da Silva e Maria Irene Miranda reuniram, em Estgio Supervisionado

    e Prtica de Ensino: Desafios e Possibilidades (2008), alguns trabalhos sobre a temtica em

    estudo, como Ensino e Pesquisa: O Estgio como Espao de Articulao, de Maria Irene

    Miranda; Prtica de Ensino e Estgio Supervisionado: O Dilogo entre as Discusses Tericas

    e a Prtica Cotidiana, de Lzara Cristina da Silva; Estgio na Formao Inicial de Professores:

    Aguando o Olhar, Desenvolvendo a Escuta Sensvel, de Geovana Ferreira Melo; Estgio

    Supervisionado: Espao de Ter-lugar do Olhar e de Dar a Voz, de Elenita Pinheiro de Queiroz

  • 21

    Silva; Estgios: Um estudo Emprico Luso-brasileiro, de Rejane Maria Ghisolfi da Silva e

    Roseli Pacheco Schnetzler.

    Outra coletnea sobre estgios a ser destacada a organizada por Marileide de

    Oliveira Gomes, Estgios na Formao de Professores: Possibilidades Formativas entre

    Ensino, Pesquisa e Extenso (2011). Prefaciado por Selma Garrido Pimenta, o livro destaca-se

    por reunir um grande nmero de trabalhos sobre o estgio como pesquisa e traz: Residncia

    Pedaggica: Dilogo Permanente entre a Formao Inicial e a Formao Contnua de

    Professores e Pedagogos, de Clia Maria B. Giglio et.al; O Estgio com Pesquisa na

    Formao do Professor-pesquisador para o Ensino de Cincias numa Experincia Campesina,

    de Evandro Ghedin e Wasgthon Aguiar de Almeida; Deslocamentos, Aproximaes,

    Encontros: Estgio Docente na Educao Infantil, de Luciana Esmeralda Ostetto; A

    Brinquedoteca como Espao Ldico e de Pesquisa para a formao de Professores: Desafios e

    Possibilidades, de Claudia Panizzolo; O Estgio Curricular em Colaborao, a Reflexo e o

    Registro Reflexivo dos Estagirios: um dilogo entre a Universidade e a Escola, de Maria

    Socorro Lucena Lima e Kalline Pereira Aroeira; A Dimenso Ontolgica da Trilogia Ensino,

    Pesquisa e Extenso no Estgio Supervisionado, de Adauto Lopes da Silva Filho, Ftima

    Maria Nobre Lopes e Maria Marina Dias Cavalcante; Sentidos e Significados dos Estgios

    Curriculares Obrigatrios: A Fala do Sujeito Aprendente, de Magali Aparecida Silvestre;

    Estgio: Memria e Produo de Conhecimento, de Marilena Nakao e Marli Pinto

    Ancassuerd; Portflios de Aprendizagem: Autonomia, Corresponsabilizao e Avaliao

    Formativa na Formao de Professores, de Elmir de Almeida, Marineide de Oliveira Gomes e

    Lcia S. Tins.

    Embora haja elementos indicadores da transformao das concepes do estgio, seu

    avano ainda esbarra em um discurso negativo decorrente da recorrncia das falhas no

    processo e da incompatibilidade entre o direcionamento recebido na escola de formao e a

    realidade encontrada na escola de ensino bsico, onde o futuro professor exercer sua

    profisso. Esse discurso e sua transformao perpassam as representaes sociais dos

    licenciandos acerca da realizao do estgio supervisionado nos cursos de licenciatura.

    Assim sendo, a pesquisa foi desenvolvida com o respaldo da Teoria das

    Representaes Sociais, desenvolvida por Serge Moscovici, com a contribuio de Denise

    Jodelet. Tambm a Teoria do Ncleo Central, de Jean Claude Abric, tem um papel importante

    nesta pesquisa, assim como os estudos de Celso Pereira de S sobre a mesma teoria.

    A escolha da Teoria das Representaes Sociais est relacionada especificidade de

    que cada ser humano tem sua viso do mundo e dos acontecimentos que vivencia. E cada

  • 22

    grupo de seres humanos tem suas impresses acerca desse universo, sendo essas impresses

    afetadas pelo ambiente, pelos costumes, pelas interaes sociais e mediado pela linguagem.

    Essa teoria prope estudar a realidade constituda a partir das representaes que os

    integrantes dos grupos sociais edificam, com a autoridade que o senso comum outorga.

    Nesse cenrio, estudar essas representaes justifica-se por identificar a possibilidade

    de transformao ou a permanncia das concepes de estgio at ento reconhecidas; e essa

    identificao permite conhecer as perspectivas dos estudantes em relao ao estgio

    supervisionado nos cursos de licenciatura, que importncia os estagirios atribuem a ele, que

    contribuies esse componente curricular oferece formao de professores, que sentimentos

    e impresses so gerados a partir da realizao do estgio enquanto componente curricular

    obrigatrio para a concluso desses cursos.

    Por meio de suas representaes sociais a respeito do estgio, os estudantes

    apresentam as impresses coletivas do grupo a que pertencem sobre os aspectos significativos

    dessa etapa do curso de licenciatura e como ela atua em sua formao. Assim sendo, esta

    pesquisa tem como objeto as representaes sociais dos alunos concluintes de cursos de

    licenciatura na regio do Tringulo Mineiro sobre a realizao do estgio supervisionado.

    O recorte concluintes de cursos de licenciatura deve-se inferncia de que esses j

    realizaram ou esto nas etapas finais do estgio, uma vez que, conforme Resoluo CNE/CP2,

    de 19 de fevereiro de 2002, este deve ser realizado a partir da segunda metade dos cursos. A

    escolha pela regio do Tringulo Mineiro deveu-se necessidade de um nmero significativo

    de sujeitos para a pesquisa, cujo referencial terico-metodolgico a Teoria das

    Representaes Sociais. Foram selecionadas quatro Instituies de Ensino Superior (IES),

    sendo uma pblica e trs privadas, com nmero expressivo de estudantes nos cursos de

    licenciatura que concluram ou estavam concluindo o estgio, sendo uma na cidade de Monte

    Carmelo, uma em Uberlndia e duas em Uberaba. Os cursos investigados foram: Pedagogia,

    Cincias Biolgicas e Cincias Sociais, totalizando 89 (oitenta e nove) sujeitos.

    Com o propsito de apurar os aspectos significativos do estgio supervisionado nos

    cursos de licenciatura e integrar a reformulao do discurso vigente pergunta-se: Quais so as

    representaes sociais dos alunos concluintes dos cursos de licenciatura das instituies de

    ensino superior na regio do Tringulo Mineiro?A hiptese inicial de que h uma mudana

    na concepo a respeito do estgio. Os estudantes j no o compreendem mais apenas como a

    parte prtica do curso. E essa transformao pode ser demonstrada por meio da organizao

    de suas representaes sociais em relao objeto de pesquisa.

  • 23

    A busca pela resposta a essa pergunta perpassa as seguintes questes norteadoras: de

    que modo as orientaes postas nos projetos pedaggicos dos cursos de licenciatura das

    instituies de ensino da regio do Tringulo Mineiro podem influenciar na constituio das

    representaes sociais dos estagirios concluintes acerca da realizao do estgio obrigatrio?

    Como as caractersticas scio-econmico-culturais dos estagirios supracitados influenciam

    na construo de suas representaes sobre o estgio obrigatrio? De que orientao e a

    superviso dos estgios obrigatrios influenciam na construo das representaes sociais dos

    sujeitos sobre a realizao do estgio obrigatrio? Como estruturada a organizao interna

    das representaes sociais dos referidos sujeitos sobre a realizao do estgio obrigatrio?

    Que elementos integram o ncleo central e o sistema perifrico dessas representaes? A

    partir da identificao e anlise das representaes sociais dos sujeitos pesquisados sobre o

    estgio obrigatrio, que contribuies podem ser indicadas para a melhoria do processo de

    formao docente?

    A resposta pergunta de pesquisa remete a seu objetivo geral que compreender as

    representaes sociais construdas pelos alunos concluintes dos cursos de Licenciatura de

    instituies de ensino superior da regio do Tringulo Mineiro sobre a realizao do estgio

    obrigatrio.

    E, ao responder s questes norteadoras, a pesquisa visa alcanar os seguintes

    objetivos especficos: mostrar como o perfil scio-econmico e cultural do estudante

    estagirio influencia na construo de suas representaes sobre o estgio obrigatrio; apontar

    como as orientaes postas nos projetos polticos pedaggicos dos cursos das instituies de

    ensino da regio do Tringulo Mineiro influenciam a constituio das representaes sociais

    dos estudantes-estagirios concluintes acerca da realizao do obrigatrio; revelar como a

    orientao e a superviso dos estgios obrigatrios influenciam na construo das

    representaes sociais dos sujeitos sobre a realizao do estgio obrigatrio; identificar o

    Ncleo Central e o sistema perifrico das representaes sociais dos estudantes-estagirios

    sobre a realizao do estgio obrigatrio; identificar a organizao interna das representaes

    sociais dos referidos sujeitos sobre a realizao do estgio obrigatrio; contribuir para

    qualificar o processo de formao docente a partir da identificao e anlise das

    representaes sociais dos sujeitos pesquisados sobre o estgio obrigatrio.

  • 24

    Esta uma pesquisa descritiva, que procura descrever como esto estruturadas e

    organizadas as representaes sociais em estudo. Tem uma abordagem qualiquantitativa, pois

    utiliza tanto procedimentos quantitativos como qualitativos, combinando-os (FLIK, 2009)1.

    Na coleta de dados, usamos um questionrio com 34 questes divididas em duas

    partes: perfil e realizao do estgio. Alm disso, foram realizadas duas entrevistas de grupo

    focal em instituies diferentes. Ambos os instrumentos foram aplicados mediante

    autorizao dos participantes e com garantia documental de sigilo, por meio do Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido.

    Para analisar os dados, recorremos s tcnicas da Anlise de Contedo, de Lawrence

    Bardin, que visa anlise do material verbal obtido nas pesquisas. Por meio dela, possvel

    calcular frequncias e extrair estruturas traduzveis em modelos. Para garantir a objetividade

    necessria ao estudo cientfico, o mtodo requer a organizao da anlise, a codificao do

    material e a categorizao dos componentes das mensagens. Organizar a anlise compreende

    imprimir uma ordem cronolgica no desenvolvimento dos procedimentos: realizar uma pr-

    anlise, explorar o material e tratar os resultados. A codificao permite transformar os dados

    brutos do texto em unidades passveis de descrio exata das caractersticas do contedo e a

    categorizao consiste em classificar os elementos de um conjunto diferenciando-os e, em

    seguida, reagrup-los segundo os critrios definidos pelo pesquisador em relao

    investigao realizada. A interpretao dos dados controlada por meio da inferncia.

    O estudo sobre as representaes sociais dos estudantes estagirios dos cursos de

    licenciatura justifica-se como instrumento capaz de identificar aspectos significativos da

    realizao do estgio obrigatrio nos cursos de licenciatura, os quais serviro como subsdios

    para planejar e executar aes que promovam transformaes e melhorias tanto nas escolas-

    campo como nas escolas formadoras de professores. E a caracterstica especfica dessas

    representaes que elas corporificam ideias em experincias coletivas e interaes em

    comportamento. (MOSCOVICI, 2010, p. 48). Assim sendo, a partir da identificao das

    representaes acerca da realizao do estgio obrigatrio nos cursos de licenciatura, ser

    possvel engendrar esforos para a corporificao ou descorporificao dessas ideias e o

    desenvolvimento de comportamentos que ressaltem os aspectos significativos do estgio

    obrigatrio nos cursos de licenciatura. Dessa forma, a realizao do estgio estar

    1 importante ressaltar que esta investigao foi aprovada pelo Comit de tica na Pesquisa (CEP) da Universidade de Uberaba, cujo Termo de Aprovao no anexamos para preservar a identidade das instituies de ensino que participaram deste estudo, estando o mesmo registrado na Plataforma Brasil

  • 25

    funcionando como mecanismo de melhoria da educao e da escola, no se atendo apenas ao

    diagnstico, e sim colaborando para solucionar os problemas educacionais, j to

    evidenciados.

    A busca pela resposta s questes aqui apresentadas resultou nesta dissertao, que, a

    fim de proporcionar uma leitura clara e para melhor entendimento do interlocutor, foi

    organizada em cinco captulos.

    O primeiro captulo apresenta um breve histrico do estgio na formao de

    professores no Brasil, com foco nos preceitos legais.

    O segundo captulo oferece uma anlise conceitual das concepes de estgio,

    perpassando o estgio como conhecimento de modelos para imitao, a perspectiva tcnica, o

    estgio instrumental, a concepo crtica, o estgio como a parte prtica do curso de formao

    de professores, com reflexo e como objeto e espao de pesquisa. Nesse captulo tambm so

    apresentadas as relaes entre estgio e formao de professores.

    O terceiro captulo discorre sobre o percurso metodolgico trilhado na pesquisa.

    Abordamos a Teoria das Representaes Sociais, a Teoria do Ncleo Central, a Anlise de

    Contedo e suas especificidades. Descrevemos os instrumentos de coleta e anlise de dados,

    as tcnicas e os mtodos cientficos usados para o desenvolvimento da pesquisa e para a

    anlise dos resultados.

    No quarto captulo, so apresentadas as propostas de estgio constantes nos Projetos

    Pedaggicos dos Cursos. Recorremos tcnica da categorizao, da Anlise de Contedo,

    para apurar como os Projetos de Curso caracterizam o estgio realizado nos cursos

    investigados. Tambm foram categorizados e discutidos os aspectos relacionados

    orientao, superviso e avaliao do estgio presentes nos projetos pedaggicos dos cursos

    de licenciatura.

    No quinto captulo, apresentamos e discutimos os resultados encontrados por meio do

    questionrio, das entrevistas de grupo focal e da utilizao do software EVOC na tcnica de

    evocao das palavras. Primeiramente, so abordados os dados levantados a respeito do perfil

    dos participantes da pesquisa e da opo que fizeram pelo curso e sua justificativa. Depois,

    abordamos os aspectos relacionados instituio de ensino superior e professor orientador de

    estgio; em seguida, aos relacionados escola onde foi realizado o estgio e ao professor

    supervisor. Posteriormente, tratamos da realizao do estgio e de seus aspectos significativos

    de acordo com as concepes dos estagirios. Por ltimo, analisamos os resultados oferecidos

    pelo EVOC, apresentamos e discutimos a organizao das representaes sociais dos

    concluintes dos cursos de licenciatura sobre a realizao do estgio supervisionado.

  • 26

    Ao final, apresentamos nossas consideraes finais a respeito dos resultados

    alcanados, das representaes explicitadas a respeito do estgio e de sua influncia no

    estabelecimento e transformao das concepes de estgio e de sua importncia para a

    formao de professores.

  • 27

    1 BREVE HISTRICO DOS PRECEITOS LEGAIS SOBRE O ESTGIO NO

    BRASIL

    O estgio na formao de professores, atualmente, regido pela Resoluo n1 do

    Conselho Nacional de Educao (CNE), aprovada pelo Conselho Pleno (CP), e homologada

    em 18 de fevereiro de 2002, o qual institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

    Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura, de

    graduao plena, e pela Resoluo CNE/CP n 2, de 19 de fevereiro de 2002, que institui a

    durao e a carga horria dos cursos de licenciatura, de graduao plena, de formao de

    professores da Educao Bsica em nvel superior.

    Porm h outros dispositivos legais que tratam do estgio de um modo geral e aos

    quais o estgio na formao de professores tambm est subordinado, em especial a Lei

    11.788, de 25 de setembro de 2008, que dispe sobre o estgio de estudantes. Assim sendo,

    abordaremos, primeiramente, o histrico geral do estgio e, em seguida, o do estgio na

    formao de professores.

    1.1 ESTGIO: DO PROFISSIONAL AO CURRICULAR

    Apesar de o Decreto-lei 1.190, de 4 de abril de 1939, que d organizao Faculdade

    Nacional de Filosofia, abordar, no 2 do art. 402, a realizao de aulas prticas em

    laboratrios, gabinetes e museus, foi no Decreto-lei 4073, de 30 de janeiro de 1942, Lei

    Orgnica do Ensino Industrial, que se encontrou o primeiro preceito legal a abordar o estgio

    profissional: Art.48 Consistir o estgio em um perodo de trabalho, realizado por aluno, sob o controle da competente autoridade docente, em estabelecimento industrial. (Renumerado pelo Decreto-Lei n8.680, de 1942) Pargrafo nico. Articular-se- a direo dos estabelecimentos de ensino com os estabelecimentos industriais cujo trabalho se relacione com os seus cursos, para o fim de assegurar aos alunos a possibilidade de realizao de estgios, sejam estes ou no obrigatrios. (BRASIL, 1942)

    2Art. 40. O ensino ser ministrado em aulas tericas, em aulas prticas e em seminrios. [...] 2 As aulas prticas, que se realizaro em laboratrios, gabinetes ou museus, visaro a aplicao dos conhecimentos desenvolvidos nas aulas tericas. (BRASIL, 1939)

  • 28

    Como o prprio ttulo indica, essa legislao trata do ensino industrial e do estgio de

    uma forma geral, sem especificar como devem ser organizados o controle da autoridade

    docente e a articulao dos estabelecimentos de ensino com os estabelecimentos industriais.

    Foi em 1967, que o Ministro de Estado dos Negcios do Trabalho e Previdncia

    Social, Jarbas Gonalves Passarinho, por meio da Portaria 1002, de 29 de setembro,

    disciplinou as relaes entre estagirios e empresa: Art. 1- Fica instituda nas empresas a

    categoria de estagirio a ser integrada por alunos oriundos das Faculdades ou Escolas

    Tcnicas de nvel colegial. (BRASIL, 1967). Essa legislao previu um contrato o qual

    deveria contemplar uma bolsa de complementao educacional, a vigncia e o horrio de

    realizao do estgio e o pagamento pela empresa contratante de um seguro contra acidentes

    pessoais em favor do estagirio, alm da emisso pelo Ministrio do Trabalho e Previdncia

    Social da Carteira Profissional de estagirio.

    Portaria acima referida soma-se a Lei Federal 5.692, de 11 de agosto de 1971, que

    em seu artigo 6 previu:

    Art. 6 As habilitaes profissionais podero ser realizadas em regime de cooperao com as empresas. Pargrafo nico. O estgio no acarretar para as empresas nenhum vnculo de emprego, mesmo que se remunere o aluno estagirio, e suas obrigaes sero apenas as especificadas no convnio feito com o estabelecimento.

    Essa legislao tratava apenas dos estgios de estudantes oriundos do ensino

    tcnico(Portaria 1002/67)e do ensino de 2 grau de carter profissionalizante (Lei

    5.692/1971).Os estgios para estudantes do sistema de ensino superior foram tratados pelo

    Decreto n 66.546, de 11 de maio de 1970, o qual implementou o programa de estgios

    prticos para estudantes do ensino superior de reas prioritrias:

    Art. 1 Fica instituda a Coordenao do "Projeto Integrao", com o objetivo de implementar programa de estgios destinados a proporcionar a estudantes do sistema de ensino superior de reas prioritrias, especialmente as de engenharia, tecnologia, economia e administrao, a oportunidade de praticar em rgos e entidades pblicos e privados o exerccio de atividades pertinentes s respectivas especialidades. (BRASIL, 1970)

    J em 1972, o Decreto 69.927, de 18 de janeiro de 1972, instituiu o Programa Bolsa de

    Trabalho, cuja finalidade era proporcionar a estudantes de todos os nveis de ensino

    oportunidades de exerccio profissional em rgos ou entidades pblicas ou particulares,

    (BRASIL, 1972).

  • 29

    Outro preceito que compe o histrico do estgio no Brasil o Decreto 75.778, de 26

    de maio de 1975, o qual dispe sobre o estgio de estudantes de estabelecimento de ensino

    superior e de ensino profissionalizante de 2 grau no Servio Pblico Federal.

    O caminho trilhado pela legislao de estgio perpassa a Lei 6.494, de 7 de dezembro

    de 1977, que dispe sobre os estgios de estudantes de estabelecimentos de ensino superior e

    de ensino profissionalizante do 2 grau e supletivo. Essa Lei consolidou a identidade do

    estagirio e exps os subsdios necessrios para uma formao tcnica do profissional com

    maior qualidade. (ANDRADE, 2009, p. 29). Reafirma tambm a necessidade de se propiciar

    ao estudante uma experincia prtica que complemente a aprendizagem e permite que o

    estgio seja realizado em outros espaos alm da escola, desde que esta seja o campo oficial e

    funcione como mediadora do aprendizado.

    A Lei 6.494/77 manteve a obrigatoriedade do seguro contra acidentes pessoais em

    favor do estagirio e a obrigatoriedade do contrato nominado Termo de Compromisso, o qual,

    alm das condies de realizao do estgio, estabelecia a inexistncia de vnculo

    empregatcio entre a instituio concedente de estgio e o estudante e a obrigatoriedade da

    intervenincia da instituio de ensino. Esse preceito preocupou-se ainda com o desempenho

    acadmico do estagirio e determinou que houvesse conciliao de horrios entre a realizao

    do estgio e as aulas. Essa Lei foi regulamentada pelo Decreto 87.497, de 18 de agosto de

    1982, o qual apresenta a terminologia estgio curricular:

    Art. 2 Considera-se estgio curricular, para os efeitos deste Decreto, as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participao em situaes reais de vida e trabalho de seu meio, sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurdicas de direito pblico ou privado, sob responsabilidade e coordenao da instituio de ensino. (BRASIL, 1982)

    O artigo em questo deixa claro que o estgio uma atividade de aprendizagem, no

    pode, portanto servir de pretexto para lograr mo de obra barata e iseno de impostos. Outro

    ponto importante que o estgio no deve se resumir ao aspecto profissional e sim considerar

    ainda os aspectos social e cultural, o que remete ao entendimento de que, durante sua

    realizao, possvel aprender muito mais do que os conhecimentos relativos s tcnicas,

    mtodos e instrumentos de cada profisso; depreende-se que o aprendizado alcana as

    interaes sociais e a cultura desenvolvida em um determinado contexto histrico-espacial.

    Em 1994, a Lei Federal 8.859, de 23 de maro de 1994, ao modificar alguns

    dispositivos da Lei 6.494/77, garantiu que os alunos da educao especial pudessem participar

  • 30

    das atividades de estgio, o que determinou a incluso de estudantes com necessidades

    especficas nessas atividades; essa determinao certamente ratificou a concepo do estgio

    como uma atividade de ensino-aprendizagem. A Lei 6.494/77 tambm foi modificada pela

    Medida Provisria 2.164-41, de 24 de agosto de 2001, a qual incluiu dentre os estudantes com

    direito realizao do estgio os do ensino mdio, atendendo, dessa forma, ao disposto no

    artigo 82 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da

    educao nacional (LDB).

    Em 2008, a Lei 11.788, de 25 de setembro, revogou a 6494/77 e incluiu como

    estagirios os alunos dos anos finais do ensino fundamental na modalidade profissional da

    educao de jovens e adultos.

    Art. 1o Estgio ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa preparao para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqentando o ensino regular em instituies de educao superior, de educao profissional, de ensino mdio, da educao especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educao de jovens e adultos. (BRASIL, 2008).

    Ao definir o estgio como ato educativo escolar, a lei pressupe o estgio como

    campo de conhecimento em que se desenvolvem prticas educativas; diz ainda que tal ato

    educativo deve ser supervisionado, o que indica a existncia de interao entre a escola e o

    campo de estgio alm de discusses sobre as atividades desenvolvidas.

    A Lei 11.788/2008 trouxe diversas mudanas no sentido de garantir que a realizao

    do estgio no seja concedida a um profissional j formado e sim o de compor o

    conhecimento e o aprendizado de um estudante em formao. Estabelece a Lei o pagamento

    pecunirio de bolsa-auxlio e a concesso de vale-transporte ao estagirio por ocasio da

    realizao do estgio no obrigatrio, ou seja, aquele cuja carga horria no compe o

    currculo do curso e acrescido ao estgio obrigatrio, mas que deve estar previsto como

    possvel no Projeto Pedaggico do Curso (PPC) e cuja durao no deve exceder a dois anos(

    exceto para os estudantes com necessidades especficas), com apresentaes de relatrios a

    cada seis meses; essas determinaes inibem a prtica de substituir a contratao de egressos

    pela de estagirios e ratifica o carter educativo do estgio.

    A Lei 11.788/2008 cuida ainda que o estudante realize o estgio com a tranquilidade

    necessria construo do conhecimento. Para tanto determina a compatibilidade de horrios

    entre as atividades dessa etapa curricular e as demais atividades acadmicas, estipula carga

  • 31

    horria mxima a situaes especficas3 e a reduz pela metade nos perodos de avaliao, o

    que aloca o estgio como componente do processo ensino-aprendizagem e prioriza a

    concepo educativa.

    Outro aspecto significativo da norma a obrigatoriedade de o estagirio ser

    acompanhado tanto por um professor orientador quanto por um profissional da concedente,

    alm de solicitar ao estagirio a elaborao de um planejamento de estgio cujas atividades

    constantes sejam compatveis com as previstas no curso e o qual deve ser aprovado por ambos

    profissionais. Esses preceitos, alm de confirmar a concepo educativa do estgio,

    favorecem a articulao e a interao entre escola, comunidade (concedente) e estudante e

    promovem a discusso a respeito de suas atuaes e da influncia que exercem, ou podem

    exercer, e que sofrem na composio da sociedade em que vivem, considerando os aspectos

    histricos, culturais, profissionais e sociais de um modo geral.

    A referida Lei manteve a determinao de que o estgio no cria vnculo empregatcio,

    mas somente quando cumpridas as determinaes nela contidas. Alm das j citadas, pode-se

    destacar tambm: a concesso ao estagirio de recesso proporcional ao tempo de estgio, at,

    no mximo, trinta dias, que devem, preferencialmente, coincidir com as frias escolares e ser

    remuneradas se o estudante receber bolsa-auxlio; a possibilidade de profissionais liberais

    contratarem estagirios; a limitao do nmero de estagirios proporcionalmente ao nmero

    de funcionrios contratados, a indicao de um profissional da concedente para supervisionar

    cada dez estagirios.

    Ao entrar a vigor, a Lei 11.788/2008 causou grandes incertezas aos sujeitos envolvidos

    no processo de estgio. Muitos estudantes tiveram dificuldades em conseguir e at manter

    seus estgios e muitas concedentes deixaram de contratar estagirios at que se adequassem e

    se sentissem seguros em relao nova normativa. Porm, passados quatro anos de sua

    3Art. 10. A jornada de atividade em estgio ser definida de comum acordo entre a instituio de ensino, a parte concedente e o aluno estagirio ou seu representante legal, devendo constar do termo de compromisso ser compatvel com as atividades escolares e no ultrapassar: I 4 (quatro) horas dirias e 20 (vinte) horas semanais, no caso de estudantes de educao especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educao de jovens e adultos; II 6 (seis) horas dirias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de estudantes do ensino superior, da educao profissional de nvel mdio e do ensino mdio regular. 1o O estgio relativo a cursos que alternam teoria e prtica, nos perodos em que no esto programadas aulas presenciais, poder ter jornada de at 40 (quarenta) horas semanais, desde que isso esteja previsto no projeto pedaggico do curso e da instituio de ensino. 2o Se a instituio de ensino adotar verificaes de aprendizagem peridicas ou finais, nos perodos de avaliao, a carga horria do estgio ser reduzida pelo menos metade, segundo estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante.

  • 32

    vigncia e aps vivenciar tais dificuldades durante o exerccio da coordenao de estgio de

    uma instituio de ensino bsico, tcnico e tecnolgico, entendemos que a Lei implementa o

    estgio como campo de conhecimento e indica que ele vai alm da realizao da parte prtica

    da formao profissional; ela remete reflexo e ao debate ao mesmo tempo em que valoriza

    a integrao entre a escola e a sociedade; alm disso aponta que concedentes de estgio,

    instituies de ensino e estudantes tm responsabilidades sociais que vo alm do treinamento

    profissional e perpassam as caractersticas de composio e funcionamento da prpria

    sociedade, com suas representaes e seus significados.

    1.2 O ESTGIO NA FORMAO DE PROFESSORES NO BRASIL

    Segundo Andrade (2009), a histria do estgio nos cursos de formao de professores

    remonta a reforma do ensino pblico municipal no Rio de Janeiro, em 1897, quando se passou

    a exigir dos estudantes da Escola Normal a realizao de prticas durante seis meses em

    escola primria. O prximo passo em favor da relao entre teoria e prtica na formao de

    professores foi dado em 1914, quando a Escola de Aplicao passou a ser subordinada

    Escola Normal, e, em 1916, aquela passou a ser responsvel pela eficincia da prtica escolar.

    Andrade (2009, p.38) afirma que foram nas dcadas de 20 e 30 do sculo XX que se

    promoveram mudanas na estrutura das Escolas Normais e que a prtica passou a ser assunto

    de interesse. Nota-se que o termo estgio, apesar da referncia apontada pela autora em

    relao ao ensino pblico municipal no Rio de Janeiro, em 1897, permanece silenciado.

    No Parecer apresentado pela Comisso de Ensino Normal na I Conferncia Nacional

    de Educao em 19414, consta o termo estgio, porm com o sentido de perodo de

    experincia e no na concepo de aprendizagem.

    Procurando seguir uma ordem cronolgica, pesquisamos a Lei Orgnica do Ensino

    Normal, Decreto-Lei n 8.530, de 2 de janeiro de 1946. Pimenta (2001) apud Andrade (2009)

    ensina que a Lei mantinha a impreciso quanto s disciplinas Metodologia e Prticas de

    Ensino e explicitava a necessidade dessa prtica na formao do professor.

    4Num Parecer apresentado pela Comisso do Ensino Normal, propunha-se o estabelecimento de normas que, mediante a exigncia de provas complementares ou estgios, garantissem: a) a transferncia de alunos entre os estabelecimentos oficiais de ensino normal do mesmo tipo ou de tipo equivalente; b) o registro no Ministrio de Educao dos diplomas dos atuais professores normalistas por escolas oficiais ou reconhecidas a fim de adquirirem tais diplomas validade para o exerccio da profisso em qualquer parte do territrio nacional. (BRASIL, 1946, p. 67-68).

  • 33

    Apesar de no fazer referncia ao estgio, a Lei Orgnica do Ensino Normal

    estabelecia a existncia de escolas anexas aos estabelecimentos de Ensino Normal que eram

    destinadas prtica de ensino:

    Art. 47. Todos os estabelecimentos de ensino normal mantero escolas primrias anexas para demonstrao e prtica de ensino. 1 Cada curso normal regional dever manter, pelo menos, duas escolas primrias isoladas. 2 Cada escola normal manter um grupo escolar. 3 Cada instituto de educao manter um grupo escolar e um jardim de infncia. Art. 48. Alm das escolas primrias referidas no artigo anterior, cada escola normal e cada instituto de educao dever manter um ginsio, sob regime de reconhecimento oficial. (BRASIL, 1946)

    importante ressaltar que, pouco tempo depois, em 12 de maro de 1946, o Decreto-

    Lei 9.053 determinou a criao dos Ginsios de Aplicao nas Faculdades de Filosofia do pas

    destinados prtica docente dos alunos matriculados no curso de Didtica. Neles, alunos e

    professores assistentes sob a orientao do professor catedrtico de Didtica de cada

    Faculdade eram encarregados do curso ginasial. O diretor de cada Ginsio, que era o

    professor catedrtico de Didtica, podia contratar professores licenciados para as cadeiras

    didticas para as quais no houvesse alunos matriculados ou as quais no estivessem em

    funcionamento na Faculdade. Por ocasio da implantao do primeiro ginsio de aplicao,

    em 1948, na Faculdade Nacional de Filosofia (FNF)5, adotou-se a nomenclatura Colgio de

    Demonstrao, o qual, posteriormente, foi denominado Colgio de Aplicao.

    Ensina Frangella (2000, p.7) que

    A gesto da idia desse colgio de demonstrao inspirada pelas proposies escola novistas e pelo pragmatismo de Dewey, tendo como principal objetivo a criao de um espao de formao docente que se desse atravs da prpria experincia do trabalho, o que permitiria tambm a experimentao de novas orientaes tcnicas e metodolgicas.

    5 A Faculdade Nacional de Filosofia foi organizada englobando as reas de Cincias, Filosofia, Letras e Pedagogia. O aluno fazia trs anos de curso na rea especfica, o que lhe conferia o diploma de Bacharel e cursava mais um ano no curso de didtica, o que lhe conferia o diploma de Licenciado e permitiria o exerccio do magistrio. Assim, viam-se privilegiadas no curso de Didtica as disciplinas de formao pedaggica: fundamentos da educao, didtica geral e especial. O curso investia-se do objetivo de equipar o professor de conhecimento tcnico que permitisse a boa realizao do ofcio de ensinar. (FRANGELLA, s/d, p.7)

  • 34

    Havia um esprito inovador no pensamento de nossos educadores e uma corrente

    educacional progressista. As ideias renovadoras permeavam a criao dos Colgios de

    Aplicao, que identifica-se com a discusso da reforma do Ensino Mdio e, principalmente,

    de como esta reforma se daria a partir da formao de professores. Alm disso, teria o

    objetivo de propiciar um campo de aplicao e desenvolvimento de novas metodologias.

    (SILVA, 2006, p.35). Porm o momento histrico-poltico era de organizao e controle,

    influenciado pela deposio do ento Presidente Getlio Vargas pelas Foras Armadas,

    consumada por meio do golpe de 29 de outubro de 1945, que lhe imps a renncia, e pela

    eleio do general Eurico Gaspar Dutra para a presidncia do Brasil em 2 de dezembro do

    mesmo ano. Embora no governo Dutra tenha sido promulgada a quinta Constituio

    brasileira, o perodo foi caracterizado por violentas aes repressivas, a fim de obter um

    controle oficial sobre as organizaes sindicais operrias (SAVIANI, 2008).Nesse contexto, a

    vivncia dos futuros professores de ensino secundrio em situaes reais de ensino

    necessitava de circunstncias mais favorveis formao pedaggica que, at ento, era

    apenas de complementao.

    Segundo Silva (2006, p. 36), o professor Luiz Alves de Mattos, catedrtico Interino de

    Didtica Geral e Especial da Faculdade Nacional de Filosofia, em seu discurso na instalao

    do Colgio de Demonstrao dessa Faculdade, revela que a necessidade de implantao dos

    referidos Colgios respalda-se no fato de que as prticas de ensino do modo como estavam

    sendo realizadas cerceavam demasiadamente as possibilidades de uma observao

    sistemtica e deu ma prtica eficaz, tolhendo-nos toda a iniciativa e liberdade de ao,

    justamente na fase culminante e doce: o eixo de formao para o magistrio que a Prtica de

    Ensino.At ento, as prticas eram realizadas em salas cedidas a ttulo de favor pelo Colgio

    Pedro II e pelos colgios particulares. Nos relatrios do Instituto Nacional de Estudos

    Pedaggicos (INP) constavam anotaes a respeito da pouca durao do perodo de prticas

    realizadas pelos estudantes e de problemas com a superviso dessas prticas.

    As prerrogativas do Ginsio de Demonstrao da FNF, atual Colgio de Aplicao da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, eram: 1. A Prtica de Ensino dos alunos mestres do curso de magistrio em quatro etapas: anlise das classes; observao sistemtica; prtica dirigida; direo autnoma de classes. 2. O aperfeioamento dos licenciandos regentes a partir de: seminrios coletivos; conferncias individuais de orientao metodolgica; participao na crtica e julgamento da prtica. 3. A pesquisa psicopedaggica e experimentao metodolgica. (SILVA, 2006, p.38)

  • 35

    Apesar de o treinamento, a experimentao e a preparao para o ofcio de professor

    ser o foco dos Colgios de Aplicao, tais prerrogativas j indicavam o caminho para a

    aplicao da pesquisa na prtica de ensino e, consequentemente, no espao fsico-temporal

    dedicado realizao dos estgios nos cursos de Licenciatura. Fica evidenciada tambm a

    importncia da socializao da vivncia da realidade escolar em todas as suas dimenses, uma

    vez que a crtica e o julgamento da prtica no podem ocorrer desconsiderando o contexto

    histrico-social em que esta acontece.

    Atualmente, o Brasil conta com 17 (dezessete) Colgios de Aplicao.6As opinies a

    respeito desses so controversas. H os que dizem que a tnica vigente a do isolamento e

    da ausncia de projetos consistentes de divulgao cientfica e que os Colgios de

    Aplicao no tm sido objeto de interesse nem mesmo das universidades, conforme

    encontramos no artigo de Jareta (2011).Segundo o autor, a despeito das tentativas de mudana

    do cenrio, houve o abandono do esprito de inovao e renovao metodolgica que

    permeavam esses colgios por ocasio de sua criao.

    Entretanto artigo assinado por Scapaticio (2012, p.2),expe dados obtidos pelos alunos

    das escolas de aplicao em 2009 do ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    (Ideb)bem acima da mdia dos municpios em que esto, destacando-se o Colgio de

    Aplicao da Universidade Federal de Pernambuco, cuja mdia dos alunos do 9 ano no Ideb

    foi 8.0 e a mdia no municpio foi 2.0. Ela afirma que O problema que a excelncia fica

    restrita aos muros das escolas. Poucas iniciativas levam as metodologias para fora das

    instituies. (SCAPATICIO, 2012, p.1); j no ttulo do artigo Colgios de Aplicao so

    ilhas de excelncia, possvel identificar a necessidade de disseminao do trabalho

    realizado nessas escolas para as demais escolas do pas, principalmente as pblicas.

    A LDB de 1961, Lei 4.024 de 20 de dezembro, usou em seu texto o termo estgio nos

    artigos 637, 648 e pargrafo nico do artigo 689, porm a terminologia tambm no tinha a

    acepo de perodo de aprendizagem e sim de perodo de experincia.

    6 Instituies Federais de Ensino que contam com escolas de aplicao: UFPA, UFRN, UFPE, UFS, UFJF, UFV, UFU, UFRJ, UFRGS, UFSC (CAp), UFMG, UFG, UFMA,UFSC (NDI), UFRR, UFF, UFAC. Fonte: CONDICAp Conselho Nacional dos Dirigentes das Escolas de Educao Bsica vinculadas s Instituies Federais de Ensino Superior. 7Art. 63. Nas faculdades de filosofia ser criado, para a formao de orientadores de educao do ensino mdio, curso especial a que tero acesso os licenciados em pedagogia, filosofia, psicologia ou cincias sociais, bem

  • 36

    Conforme consta em Andrade (2009, p.40), foi o Parecer 292 do CNE, de 14 de

    novembro de 1962 que definiu a prtica de ensino sob a forma de Estgio Supervisionado e

    este como componente mnimo curricular obrigatrio nos cursos de formao de professores.

    A partir desse Parecer, a prtica no seria mais realizada nos Colgios de Aplicao e sim nas

    escolas da rede de ensino de um modo geral, onde o futuro professor poderia aplicar seus

    conhecimentos.

    O Parecer 292/62 foi de grande importncia para a histria do estgio e da formao

    de professores, uma vez que as prticas a serem realizadas nos Colgios de Aplicao no

    eram obrigatrias e, quando realizadas, eram de curta durao. Alm disso, quando no havia

    possibilidade do futuro professor realizar a prtica em uma escola de aplicao, muitas vezes,

    dependia de favores dos dirigentes das escolas particulares, os quais nem sempre entendiam

    sua importncia; porm o dispositivo legal ainda no contemplava a construo dos saberes,

    constitua-se mais em um treinamento para utilizao de tcnicas de ensino, no existindo,

    necessariamente, uma relao com as teorias que compunham o curso de formao de

    professores.

    A partir de 1964, quando ocorreu o Golpe Militar, evidenciou-se o modelo de

    educao tecnicista e houve a obrigatoriedade de que o ensino de segundo grau fosse

    profissionalizante. Em 1969, o parecer 627/69 determinou que o estgio supervisionado

    integralizasse 5% da carga horria do curso, o que, de certo modo, imprimia mais importncia

    ao estgio, dando-lhe status de muito necessrio e relevante para a formao de professores.

    O modelo tecnicista de educao trouxe mudanas no Ensino Normal: o ensino de

    segundo grau poderia ter trs ou quatro anos de durao conforme a habilitao profissional.

    A habilitao para o Magistrio poderia ter trs anos para lecionar da 1 4 srie do 1 grau

    ou quatro anos para lecionar at a 6 srie do primeiro grau ou at a 8 onde no houvesse

    professores habilitados para essas sries (Lei 5692/71). Nessa perspectiva, o Parecer

    como os diplomados em Educao Fsica pelas Escolas Superiores de Educao Fsica e os inspetores federais de ensino, todos com estgio mnimo de trs anos no magistrio. 8Art. 64. Os orientadores de educao do ensino primrio sero formados nos institutos de educao em curso especial a que tero acesso os diplomados em escolas normais de grau colegial e em institutos de educao, com estgio mnimo de trs anos no magistrio primrio. 9Art. 68. Os diplomas expedidos pelas universidades ou pelos estabelecimentos isolados de ensino superior oficiais ou reconhecidos sero vlidos em todo o territrio nacional. Pargrafo nico. Os diplomas que conferem privilgio para o exerccio de profisses liberais ou para a admisso a cargos pblicos ficam sujeitos a registro no Ministrio da Educao e Cultura, podendo a lei exigir a prestao de exames e provas de estgio perante os rgos de fiscalizao e disciplina das profisses respectivas. (BRASIL, 1961)

  • 37

    CFE349/72 estabeleceu que a Metodologia do Ensino fosse fundamentada pela Didtica e

    conduzida Prtica de Ensino, devendo com ela identificar-se sob a forma de estgio

    supervisionado, e a Prtica de ensino, por sua vez, deveria respeitar a teoria adquirida na

    Metodologia. Ainda aqui h uma clara diviso entre a teoria e a prtica, uma vez que a prtica

    deve respeitar a teoria e esta atender quela e no dela se originar ou se estabelecer ou se

    transformar.

    Em relao aos avanos da educao, a dcada de 80 foi marcada pelo movimento dos

    educadores em busca da legitimao da escola enquanto espao de prticas sociais e como

    mecanismo de insero social. Houve ampliao do acesso escola pela populao at ento

    excluda, o que originou o desafio de formar professores que pudessem entender e trabalhar

    com eficcia essa e nessa nova realidade. Em relao ao estgio, de acordo com Andrade

    (2009), os esforos empreendidos resumiram-se a discusses em seminrios promovidos pelo

    Ministrio da Educao com o objetivo de estimular a participao das instituies

    formadoras de professores.

    Na dcada de 90, marcada pela ebulio da sociedade do conhecimento10,muitos

    professores, que j participava da luta por uma nova concepo de escola e de educao,

    passaram a compreender melhor a importncia de seu papel na constituio dessa sociedade e

    esperava-se um ligeiro aumento das atenes formao de professores. Entretanto no

    podemos deixar de lembrar que nessa dcada foram inseridas as polticas neoliberais; em

    relao educao, as orientaes do Banco Mundial induziram as reformas, estabelecidas

    pelo Plano Decenal de Educao para Todos (1993-2003), de acordo com o iderio capitalista.

    No se falava mais em o Estado assegurar, nas escolas, a preparao da mo de obra para

    ocupar os postos de trabalho em um mercado que os oferecia. A mudana de contexto social,

    poltico e econmico originou uma mudana educacional e repassou ao indivduo a

    responsabilidade de adquirir os meios que o tornasse competitivo para disputar as vagas cada

    vez mais escassas no mercado de trabalho. Foram oferecidos cursos em nveis diversos e de

    diferentes tipos para que o indivduo se tornasse mais empregvel e, caso no conseguisse,

    assumia integralmente a responsabilidade pelo fato. Configura-se assim a pedagogia da

    excluso (SAVIANI, 2008), que, certamente, influenciou a formao de professores.

    10 Entende-se por sociedade do conhecimento, uma nova organizao que est se formando e que tem por base o capital humano e intelectual. A caracterstica marcante dessa sociedade que os conhecimentos tericos e os servios baseados no conhecimento tornam-se componentes principais de qualquer atividade econmica. (ANDRADE, 2009, p.43).

  • 38

    A Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, enfatizou a educao escolar como prtica

    social e estabeleceu, no artigo 61, que a formao de profissionais da educao deve ter como

    fundamento a associao entre teorias e prticas e, no artigo 82, que os sistemas de ensino

    devem estabelecer as normas para a realizao dos estgios dos alunos do ensino mdio e

    superior em cada jurisdio. A norma tambm determinou a durao mnima de trezentas

    horas para a prtica de ensino.

    Embora tenha trazido princpios e indcios importantes para a transformao da

    educao no Brasil, em relao prtica profissional e, especialmente, em relao ao estgio,

    essa LDB ainda no ofereceu preceitos, princpios e fundamentos para a construo dos

    saberes necessrios e suficientes formao do professor. A relao entre teoria e prtica

    ainda est por conta apenas do futuro professor, que no encontra respaldo de como, onde,

    quando, para quem e por que deve estabelecer essa relao. como seguir uma norma sem

    compreend-la, sem atribuir-lhe sentido, o que afasta a formao de professores da criticidade

    e da cidadania para as quais o futuro docente deve preparar seus alunos. Dessa forma, as

    prticas de ensino eram cumpridas no necessariamente nas escolas, as quais devem ser, ao

    mesmo tempo, campo de produo e de recepo de aprendizagem no que diz respeito

    formao do professor.

    Para tentar suprir as lacunas existentes, em 08 de maio de 2001, o Parecer CNE/CP

    9/2001 apresentou uma Proposta de Diretrizes para a Formao de Professores da Educao

    Bsica, em cursos de nvel superior, para licenciaturas de graduao plena. No relatrio que

    justifica a proposta, constata-se a necessidade de que, no estgio, haja um tempo de

    planejamento comum aos profissionais da escola e aos da instituio formadora e que esse

    planejamento deve apoiar-se nas reflexes desenvolvidas nos cursos de formao. Outro

    aspecto importante que a prtica no deve estar restrita aos momentos de estgio e sim ser

    objeto de reflexo e discusso e ser compreendida como importante fonte de contedos de

    formao; por outro lado, a prtica deve considerar a teoria como instrumento de seleo e

    anlise contextual.

    Relata o Parecer que a avaliao da prtica no deve estar restrita ao

    professor/orientador/supervisor do estgio, deve contar com a participao de toda equipe de

    formadores, constituindo-se em um momento propcio reflexo crtica da teoria e da

    estrutura curricular do curso. Alm disso, o tempo de estgio deve ser organizado em um

    perodo contnuo, de forma a proporcionar o acompanhamento do desenvolvimento das

    propostas, a dinmica do curso e da prpria escola. O Parecer relata ainda que a ida dos

    professores escola onde acontecem os estgios deve perpassar todo o perodo de formao e

  • 39

    no apenas o final, pois, se assim for, no haver tempo suficiente para abordar as diferentes

    dimenses do trabalho de professor e possibilitar um processo progressivo do aprendizado.

    Ressalta-se a ideia de que a teoria deve tratar da prtica e esta deve questionar aquela.

    Por meio da aprovao do projeto de resoluo que institua a durao e a carga

    horria dos cursos de formao de professores da educao bsica, em nvel superior, pelo

    Parecer CNE/CP 21/2001, de 6 de agosto de 2001, a carga horria de estgio passou a ser de

    400 horas obrigatrias. Essa carga horria deveria ser concentrada ao final do curso, o que

    contraria o Parecer CNE/CP 9/2001, cuja orientao indicava que o estgio fosse realizado

    desde o incio do curso. O relatrio do Parecer CNE/CP 21/2001 expe ainda a necessidade

    de articulao do estgio, 400 horas, com as atividades de trabalho acadmico, com carga

    horria de 2.000 horas divididas em 1.800 horas dedicadas s atividades clssicas de

    ensino/aprendizagem em sala de aula e as demais 200 horas para outras formas de atividades

    de enriquecimento didtico, curricular, cientfico e cultural; e com as prticas de ensino, as

    quais passaram a integralizar tambm 400 horas.

    Assim, estabeleceu-se a distino entre a Prtica de Ensino e o Estgio

    Supervisionado. O Parecer props a realizao do estgio como elemento de formao

    profissional e de aproximao da realidade, alm de constitutivo da construo do saber do

    professor junto prtica de ensino e s atividades de trabalho acadmico, buscando relacionar

    continuamente teoria e prtica. H que se considerar, porm, que as aulas de Prtica de Ensino

    nem sempre so destinadas a refletir o que o licenciando vivenciou no estgio; no raras

    vezes, o professor orientador do Estgio e o professor de Prtica de Ensino no articulam seus

    saberes e ensinamentos, o que enfraquece tanto