dissertaÇÃo diversidade de fungos filamentosos termófilos em

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DIVERSIDADE DE FUNGOS FILAMENTOSOS TERMÓFILOS EM COMPOSTO PARA CULTIVO DE Agaricus brasiliensis THIAGO PEREIRA SOUZA 2010

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Page 1: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

DIVERSIDADE DE FUNGOS FILAMENTOSOS

TERMÓFILOS EM COMPOSTO PARA CULTIVO DE Agaricus brasiliensis

THIAGO PEREIRA SOUZA

2010

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THIAGO PEREIRA SOUZA

DIVERSIDADE DE FUNGOS FILAMENTOSOS TERMÓFILOS EM COMPOSTO PARA CULTIVO DE Agaricus brasiliensis

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola, área de concentração em Microbiologia Agrícola, para a obtenção do título de “Mestre”.

Orientador

Prof. Eustáquio Souza Dias

LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL

2010

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Souza, Thiago Pereira. Diversidade de fungos filamentosos termófilos em composto para cultivo de Agaricus brasiliensis / Thiago Pereira de Souza. – Lavras : UFLA, 2010.

37 p. : il. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2010. Orientador: Eustáquio Souza Dias. Bibliografia. 1. Compostagem. 2. Identificação de fungos. 3. DGGE. I.

Universidade Federal de Lavras. II. Título. CDD – 589.222

Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA

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THIAGO PEREIRA SOUZA

DIVERSIDADE DE FUNGOS FILAMENTOSOS TERMÓFILOS EM COMPOSTO PARA CULTIVO DE Agaricus brasiliensis

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola, área de concentração em Microbiologia Agrícola, para a obtenção do título de “Mestre”.

APROVADA em 8 de março de 2010.

Profa. Dra. Cristina Ferreira Silva e Batista UFLA

Prof. Dr. Marcos Rogério Tótola UFV

Prof. Dr. Estáquio Souza Dias

UFLA (Orientador)

LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL

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Aos meus pais: Walmir Salvados de Souza e Janice

Almeida Pereira Souza, exemplos de garra e coragem, enfim, exemplos. A minha avó

Dejanira Fernandes, bússola para uma vida inteira. A meus

irmãos, Michelle Pereira Souza, Marcelle Pereira Souza e

Gabriel Salvador de Souza Neto, parte de mim, amo vocês. A

Carolina Gusmão, minha amorosa companheira.

Dedico

A Deus, pela graça, força, paz, serenidade e presença

nesta jornada.

Ofereço

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores da Microbiologia que me ensinaram e

motivaram rumo a esse microcosmo.

Agradeço também ao Prof. Dr. Eustáquio Souza Dias, pela confiança,

disposição e boa vontade em minha orientação e também por viabilizar esse

sonho e outros que estão por vir.

Agradeço aos meus queridos amigos que estiveram comigo durante

todo ou parte do meu mestrado: Jessé, Luana, Fabiana, Alessandra, Cristiane,

Maryeimy, Charles, Romário, Moises, Claudinelli, Cintinha, Cintião e Claudia.

Aos amigos do laboratório dos cogumelos comestíveis, Paulinho,

Emerson, Pedro, Rochelle e Sandra. Obrigado a todos pela ajuda e,

principalmente, por me mostrarem o que é “por a mão na massa”.

Aos colegas do Laboratório de Micologia do Departamento de

Fitopatologia, especialmente ao Prof. Dr. Ludwing Heinrich Pfenning e ao

Edinho, meus sinceros agradecimentos.

À Universidade Federal de Lavras e aos departamentos de Biologia e

Fitopatologia, que me permitiram realizar este trabalho. À Capes, pelo apoio

financeiro, por meio da concessão da bolsa de estudos e também à Fapemig,

pelo financiamento do projeto.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS.................................................................................. i LISTA DE FIGURAS................................................................................... ii RESUMO...................................................................................................... iii ABSTRACT.......................................................................................... iv 1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 1 2 REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................... 3 2.1 Composto e compostagem...................................................................... 3 2.2 Microbiota da compostagem................................................................... 7 2.3 Aplicações do composto......................................................................... 8 2.3.1 Cobertura e estabelecimento de vegetação em acostamentos e estradas.......................................................................................................... 9 2.3.2 Supressor de doenças........................................................................... 10 2.3.3 Biorremediação com uso de composto................................................ 11 2.3.4 Biofiltros.............................................................................................. 11 2.3.5 Substrato para cogumelos.................................................................... 12 2.4 DGGE – Eletroforese em Gel com Gradiente Desnaturante................... 12 3 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 14 3.1 Substrato................................................................................................. 14 3.2 Contagem e isolamento........................................................................... 14 3.3 Extração de DNA.................................................................................... 15 3.4 Amplificação da região ITS via NESTED – PCR.................................. 16 3.5 PCR – DGGE (Denaturing Gradient Gel Electrophoresis)………… 16 3.6 Sequenciamento……………………………………………………….. 17 3.7 Análise estatística……………………………………………………… 17 4 RESULTADO E DISCUSSÃO…………………………………………. 18 4.1 Densidade da comunidade fúngica……………………………………. 18 4.2 Análise por espalhamento............................................................ 20 4.3 Análise por plaquamento de partículas.......................................... 23 4.4 Caracterização molecular.............................................................. 25 5 CONCLUSÕES............................................................................... 29 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................ 30

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Fungos termófilos isolados através da técnica de espalhamento em cinco momentos diferentes e incubados a 45°C por até cinco dias.................................................... 21

TABELA 2 Fungos termófilos em partículas de composto lavadas

uma vez a partir de amostras obtidas durante a fase II da compostagem.................................................................. 24

TABELA 3 Fungos termófilos em partículas de composto lavadas três

vezes a partir de amostras obtidas durante a fase II da compostagem................................................................... 24

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ii

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1

Esquema de processo de compostagem............................... 03

FIGURA 2

Teia alimentar em pilha de composto.................................. 04

FIGURA 3 Diagrama de zonas em pilha de compostagem.................... 05 FIGURA 4 Esquema de filtro de composto para águas pluviais............ 11 FIGURA 5 Região ribossomal normalmente amplificada para técnica

de DGGE............................................................................. 13 FIGURA 6 Mudanças de temperatura na meda durante a compostagem. 19 FIGURA 7 Contagem de unidades formadoras de colônias de fungos

durante a fase II da compostagem........................................ 19 FIGURA 8 Perfil de bandas correspondentes a região ITS de fungos

obtidos por eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE), em diferentes momentos da fase II da compostagem....................................................................... 26

FIGURA 9 Riqueza de amplicons (Se) da região ITS de fungos

presentes em composto, em diferentes momentos durante a fase II................................................................................... 27

FIGURA 10 Agrupamento hierárquico da região ITS de fungos presentes

em composto para produção de Agaricus brasiliensis.......... 27 FIGURA 11 Bandas relacionadas a espécies identificadas através do

Blastn...................................................................................... 28

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iii

RESUMO

SOUZA, Thiago Pereira. Diversidade de fungos filamentosos termófilos em composto para cultivo de Agaricus brasiliensis. 2010. 37p. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Agrícola) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.*

A compostagem é um processo biológico de degradação da matéria orgânica, realizada por microrganismos em condições controladas, levando à mineralização e à humificação parcial das substâncias orgânicas nela presentes. Dentre as diversas aplicações possíveis para o composto, como adubo, biofiltro e biorremediação, um de seus usos mais tradicionais é na produção de cogumelos. O estudo da microbiota presente nesse substrato pode gerar valiosas informações que contribuam para o aprimoramento da técnica de compostagem e o aumento de produtividade no cultivo de cogumelos. O sucesso na colonização e no uso do composto pelo Agaricus brasiliensis depende das propriedades ecológicas do substrato, usualmente referidas como "seletividade do composto". Tendo em vista a baixa quantidade de informações disponíveis em condições locais, de realidade mais rústica, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de conhecer a dinâmica dos fungos filamentosos durante a fase II da compostagem para a produção do cogumelo A. brasiliensis, nas condições brasileiras. Para isso, foi avaliada a densidade fúngica em cinco diferentes momentos, por meio de isolamento e identificação de fungos filamentosos utilizando técnicas de plaqueamento de partículas lavadas e espalhamento. A diversidade também foi analisada por meio da técnica de eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE) e sequenciamento. Os resultados mostraram a microbiota fúngica dominante formada pelas espécies Thermomyces ibadanensis (espécie descrita pela primeira vez em composto), Thermomyces lanuginosus e, principalmente, Scytalidium thermophilum (isolado pela primeira vez em compostos brasileiros). Dados dos isolamentos, juntamente com os de DGGE, mostraram diminuição da diversidade fúngica, ao longo da fase II da compostagem. Palavras-chave: Compostagem, Agaricus brasiliensis, Identificação de fungos, DGGE ______________________ Orientador: Dr. Eustáquio Souza Dias – UFLA

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ABSTRACT SOUZA, Thiago Pereira. Diversity of termophilic filamentous fungi into compost for breeding of Agaricus brasiliensis. 2010. 37p. Dissertation (Masters in Agricultural Microbiology) – Universidade Federal of Lavras, Lavras, MG.* Composting is a biological process of degradation of organic matter carried by microorganisms under controlled conditions, leading to the mineralization and partial humification of organic substances. Among the various possible applications for compost, like organic fertilizer, biofilter and bioremediation, one of its more traditional uses is the production of mushrooms. The study of the compost microbiota can generate valuable information that contributes to the refinement of the technique of composting and increased productivity in the mushroom cultivation. The success in colonization and use of the compost by Agaricus brasiliensis depends on the ecological properties of the substrate, usually referred to as "selectivity of the compost". In Brazil, besides differences about climate and biodiversity, phase II of composting is carried out in a very simple way. Therefore, this work aimed to understand the dynamics of filamentous fungi during phase II of compost for A. brasiliensis production in Brazilian conditions. The fungal density was analysed at five different times by isolation and identification of filamentous fungi using techniques plating of washed particles and scattering. The diversity was also analyzed by electrophoresis on denaturing gradient gel (DGGE) and sequencing. Scytalidium thermophilum was the dominant species, followed by Thermomyces lanuginosus and Thermomyces Ibadannesis, being the last one the first report in compost. DGGE analysis showed reduced fungal diversity along the phase II of composting. Key words: Composting, Agaricus brasiliensis, Identification of fungi, DGGE ___________________________ Major Professor: Dr. Eustáquio Souza Dias – UFLA

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1 INTRODUÇÃO

Os resíduos sempre foram um grande problema que acompanha o

crescimento da população humana mundial. As estimativas apontam para um

aumento de até 3 bilhões de habitantes no planeta, até o ano de 2050.

Nas zonas rurais são gerados resíduos culturais que comumente não têm

destino útil (Oliveira et. al., 2005). A compostagem é um processo controlado de

aceleração da decomposição da matéria orgânica, realizado espontaneamente por

microrganismos, levando à disponibilização de substâncias mineralizadas e

humificadas no ambiente, resultando em um substrato que é quimicamente e

fisicamente diferente do material inicial (ABES, 1999; Chang & Milles, 2004).

O uso mais comum do composto é na horticultura e na agricultura, para

estimular o crescimento das plantas, atuando como fonte de matéria orgânica,

macronutrientes e micronutrientes, melhorando a estrutura física do solo, de

maneira a diminuir o escoamento de água e, consequentemente, a erosão.

Outros benefícios também associados ao uso do composto são a

estabilização do pH no solo, o aumento da capacidade de retenção de nutrientes

disponíveis para as plantas, o estabelecimento de uma microbiota benéfica e a

redução da necessidade de fertilizantes e pesticidas (Pearson, 2003). Além

dessas, outras aplicações menos tradicionais têm sido propostas, como cobertura

e estabelecimento de vegetação em acostamento de estradas, supressor de

doenças, biorremediação, biofiltros e substrato para a produção de cogumelos.

Muitos trabalhos têm descrito a microbiota e os métodos de

compostagem na América do Norte e na Europa, onde há disponibilidade de

recursos financeiros e tecnológicos. Mas, pouco tem sido pesquisado em nossas

condições e clima, em que, normalmente, a compostagem, principalmente para a

produção de cogumelos, ocorre em condições menos tecnificadas e mais

manuais.

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Nesse contexto, este trabalho foi realizado com o objetivo de conhecer a

dinâmica populacional dos fungos filamentosos termófilos durante a fase II da

compostagem para a produção do cogumelo Agaricus brasiliensis. Para isso,

foram utilizados dois diferentes métodos de plaqueamento para a avaliação da

densidade fúngica com posterior identificação dos fungos encontrados. A

diversidade também foi analisada por meio da técnica molecular de eletroforese

em gel com gradiente desnaturante (DGGE).

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Composto e compostagem

O processo de decomposição da matéria orgânica ocorre naturalmente,

sendo regido, principalmente, por microrganismos. A compostagem é um

processo de decomposição acelerada, que ocorre de maneira controlada, com o

objetivo de mineralizar e humificar substâncias presentes nas matérias-primas

empregadas, resultando em um substrato que é quimica e fisicamente diferente

do material inicial (Chang & Milles, 2004; ABES, 1999) (Figura 1).

FIGURA 1 Esquema de processo de compostagem. FONTE: Fialho (2007).

O composto apresenta cadeia alimentar de três níveis, a saber: os

consumidores de primeiro nível, considerados decompositores verdadeiros,

representados pelos microrganismos como as bactérias, actinobactérias e fungos.

Há pelo menos mais dois níveis de consumidores na pilha de compostagem,

como os protozoários, vermes e insetos (Stoffella & Kahn, 2001) (Figura 2).

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4

A compostagem é praticada desde a antiguidade de forma empírica.

Somente a partir de meados da década de 1920 o assunto passou a ser objeto de

pesquisas científicas.

A compostagem é, comumente, dividida em fases. O tempo e as fases do

processo de compostagem variam de acordo com os ingredientes que compõem

a pilha e a finalidade do produto/composto. Para a obtenção de húmus, o

processo pode levar de semanas a meses, existindo quatro fases descritas. No

início, tem-se a fase mesofílica (10°C -42°C), que pode durar poucas horas ou

poucos dias, a qual é seguida da fase termofílica (45°C-70°C), que pode durar

poucos dias, muitas semanas (restos alimentares) ou, ainda, meses (resíduos de

madeira). Posteriormente ocorre uma segunda fase mesofílica, não raro com

microrganismos diferentes da primeira fase mesofílica colonizando a pilha. A

FIGURA 2 Teia alimentar em pilha de composto. FONTE: Stoffella & Kahn (2001).

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quarta fase segue com a estabilização do composto, podendo durar de semanas a

meses (Toumela, 2000).

Para a produção de cogumelos, a compostagem normalmente é dividida

em duas fases distintas, a I e a II (Chang & Milles, 2004). Na fase I, os

substratos que formam o composto são misturados regularmente, umedecidos e

deixados em ambiente aberto. Durante esta etapa, o composto apresenta forte

odor, dada a grande liberação de amônia (NH3). Os substratos mais utilizados

são resíduos vegetais, sendo os principais componentes a celulose, a

hemicelulose e a liginina. Os dois primeiros, por conterem carboidratos, podem

ser transformados em açúcares simples que rapidamente são utilizados por

bactérias e fungos. Por outro lado, a lignina é mais complexa e resistente à

degradação microbiana (Epstein, 1997; Selar & Aneja, 2007).

Na pilha de compostagem existem quatro zonas relacionadas com

distribuição de temperatura, aeração e ação microbiana (Lambert & Davis,

1934). Nesta fase (fase I), o reviramento é muito importante para a obtenção de

aeração e condições microbiológicas adequadas em todo o volume do material

em decomposição (Figura 3).

FIGURA 3 Diagrama de zonas em pilha de compostagem. Zona 1: temperatura aproximada de 35°C, bem aerado, seco e em decomposição; Zona 2:temperaturas entre 55°C e 60°C, bem aerado, decomposto, manchasbrancas de fungos claramente visíveis; Zona 3: temperaturas entre 70°C e 80°C, aeração restrita; Zona 4: temperatura aproximada de 35°C, amarelo, fétido e anaerobiose.

Zona 1

Zona 2 Zona 3

Zona 4

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6

A fase II, por sua vez, ocorre em ambiente fechado e com temperatura

controlada. O objetivo é o de eliminar insetos e pestes, como também destruir

esporos e contaminantes ao A. brasiliensis que possam ter resistido à fase I.

Outro objetivo é manter o composto em temperatura constante (45°C-55°C) para

favorecer o seu condicionamento, caracterizado pela assimilação de amônia,

principalmente por actinobactérias (Silva et al., 2009).

Uma série de fatores influencia o processo de compostagem, tais como

temperatura, umidade, relação C/N, aeração, pH e estrutura física das matérias-

primas utilizadas. Dentre eles, a temperatura funciona como o indicador mais

importante de eficiência do processo de compostagem (Imbeah, 1998). A

temperatura ideal possibilita a redução de perdas de nutrientes e a inativação de

agentes patogênicos (Larney et al., 2003; Larney & Blackshaw, 2003; Hanajima

et al., 2006; Zhang & He, 2006; Larney & Hao, 2007).

Segundo Stemtiford (1996), temperaturas entre 45°C e 55°C

propiciaram o máximo de biodegradação, enquanto temperaturas entre 35°C e

40°C resultaram em aumento da diversidade microbiana no composto. Acima de

40°C, os processos de nitrificação, desnitrificação e assimilação são inibidos, em

decorrência da interrupção da atividade dos nitrificantes. Para uma eficiente

inativação de patógenos, a temperatura no composto deve permanecer em torno

de 55°C, durante 15 dias (Brito et al., 2008).

O entendimento da ação dos microrganismos presentes e a dinâmica de

suas populações durante o processo de compostagem podem ajudar a garantir

um composto de alta qualidade. Problemas com composto imaturo resultam, por

exemplo, em mau cheiro, atração de insetos e poluição ambiental (Steger et al.,

2007).

Page 18: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

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2.2 Microbiota da compostagem

A compostagem é um processo de autoaquecimento aeróbico conduzido

pelos microrganismos presentes na matéria orgânica. A compostagem pode ser

interpretada como uma sucessão de microrganismos que continuamente se

adaptam à oferta de nutrientes que, por sua vez, alteram as condições ambientais

(temperatura, umidade, dióxido de carbono, oxigênio, concentração de amônia,

etc.) (Toumela et al., 2000).

Inicialmente, organismos decompositores mesofílicos dominam e

utilizam as fontes de carbono facilmente degradáveis. A intensa atividade

metabólica desses microrganismos gera calor, resultando em um aumento rápido

da temperatura e provocando a redução da comunidade mesofílica e a ascensão

da termofílica. Termófilos desempenham papel importante na quebra de

substâncias complexas, como polissacarídeos e lignina. No final, durante a

maturação, microrganismos mesofílicos reaparecem e formam uma nova

comunidade microbiana (Székely et al., 2008).

A sucessão microbiana durante a compostagem e a sua diversidade têm

sido estudadas em diferentes estágios e por vários métodos. Isolamentos de

microrganismos a partir de compostos ainda quentes e em amadurecimento

recuperaram principalmente Bacillus e actinobactérias (Strom, 1985; Dees &

Ghiorse, 2001), mas cultivos em altas temperaturas (75°C) revelaram a presença

de Thermus thermophilus (Beffa et al., 1996) e Scytalidium thermophilum

(Straatsma et al., 1994a), este último apresentando relação positiva com o

rendimento na produção de cogumelos, enquanto, em cultivos a partir do final da

fase termofílica da compostagem, mesófilos, como Pseudomonas e

Xanthomonas, foram encontrados (Peters et al., 2000).

A alternância das comunidades microbianas nas diferentes etapas da

compostagem foi detectada por técnicas independente de cultivo, perfis

Page 19: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

8

fisiológicos de comunidades (Sharma et al., 1998), análises de ácidos graxos

(Hanajima et al., 1997) e amplificação de DNA (Dees & Ghiorse, 2001).

Na fase II de compostagem, o composto passa por um tratamento

térmico curto “indoor” (maturação), obtendo propriedades físico-químicas,

bioquímicas e ecológicas, usualmente referidas como “seletividade do

composto”, ficando pronto para o cultivo do cogumelo. A comunidade

microbiana das etapas iniciais da compostagem também exerce efeito

significativo na produção de cogumelos, uma vez que são esses microrganismos

que direcionam a biodegradação que resultará na composição final do composto.

A compostagem sofre também grande influência das alterações sazonais e

qualidade das matérias-primas (Székely et al., 2008).

Determinar o grau de maturação e estabilização do composto não é

tarefa fácil, uma vez que os parâmetros para tal não estão bem definidos. Têm

sido propostos vários testes químicos e biológicos, como fitotoxicidade, grau de

degradação da matéria orgânica, razão C/N, teor de nitrogênio, ácidos húmicos,

dentre outros, mas ainda não há um índice de maturidade que possa ser utilizado

(Fialho, 2007). Outra consideração que pode ser feita é a coloração do material

após o processo da compostagem, que deve apresentar coloração escura,

amarronzada e textura macia (Atkey & Wood, 1983).

2.3 Aplicações do composto

Comumente, o composto tem sido utilizado na horticultura e na

agricultura para melhorar a estrutura do solo e estimular o crescimento das

plantas, atuando como fonte de matéria orgânica, macronutrientes como N, P, K,

Ca e Mg e muitos micronutrientes, cuja quantidade depende da matéria-prima

empregada (Oliveira et. al., 2004). Outros benefícios também estão associados

ao uso do composto, como estabilização do pH no solo, aumento da capacidade

de retenção de nutrientes disponíveis para as plantas, estabelecimento de uma

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9

microbiota benéfica, redução da necessidade de fertilizantes e pesticidas e

liberação lenta de nitrogênio (Pearson, 2003).

O objetivo principal do uso do composto em agricultura/horticultura é

promover o crescimento e o aumento da qualidade das plantas. Entretanto, outra

importante atribuição do composto é melhorar a estrutura física do solo, de

maneira a diminuir o escoamento de água e, consequentemente, a erosão. Outras

características que devem ser consideradas são a estabilidade e a concentração

de sais solúveis. Um composto instável pode esgotar o nitrogênio de um solo,

enquanto altas concentrações de sais podem causar fitotoxicidade (Epstein,

1997).

Além da utilização tradicional do composto para o cultivo de cogumelos

e na agricultura, outras aplicações menos tradicionais têm sido propostas, como

descrito a seguir.

2.3.1 Cobertura e estabelecimento de vegetação em acostamentos de

estradas

Para a cobertura e o estabelecimento de vegetação em acostamentos de

estradas, o composto atua melhorando a estrutura física do solo, aumentando a

porosidade, permitindo melhor circulação de água a gases e reduzindo a erosão.

O composto, por meio da granulação de seus componentes, aumenta a

capacidade de retenção de água e de agregação de partículas, principalmente em

solos arenosos. Essa atividade é possibilitada pelo húmus que atua como uma

“cola” que mantém as partículas do solo juntas, o que o torna mais resistente às

intempéries. Com a capacidade de manutenção de água aumentada, o composto

faz com que a água se desloque no solo de maneira mais homogênea,

diminuindo a necessidade de irrigações, facilitando o estabelecimento da

vegetação e diminuído também os custos de manutenção desses canteiros

(Environmental Protection Agency - EPA, 2008; Pearson, 2004).

Page 21: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

10

2.3.2 Supressor de doenças

Como supressor de doenças, o composto é utilizado como medida

preventiva e não curativa, não eliminando os agentes patogênicos, mas sim

diminuindo sua população ou evitando seu impacto econômico negativo na

cultura. Essa supressão pode ser geral ou específica. A supressão geral ocorre

quando, coletivamente, diferentes grupos de microrganismos competem com os

fitopatógenos por carbono, energia e nutrientes, como o nitrogênio, de forma que

nenhum organismo isoladamente responde pela supressão. Por outro lado, na

supressão específica, um ou mais microrganismos atuam como antagonistas ao

fitopatógeno em algum momento de seu ciclo de vida.

Comumente, a supressão geral é a que mais ocorre. Os mecanismos

biológicos de supressão de doenças se enquadram em quatro grandes grupos:

antagonismo – que se refere à capacidade de um microrganismo específico

benéfico de produzir antibióticos que podem matar organismos patogênicos e

competição por nutrientes e energia – em muitos casos, patógenos são

competidores ruins em relação aos micróbios benéficos. Nestes casos, os

micróbios benéficos colonizam o substrato e estressam os esporos não

germinados dos fitopatógenos, consumindo os nutrientes e a energia presentes

no substrato; competição pela colonização da raiz – este é pertinente para

patógenos de raiz. Alguns microrganismos benéficos têm a habilidade de

colonizar as raízes das plantas antes dos patógenos, protegendo-as; resistência

sistêmica induzida (RSI) ou resistência sistêmica adquirida (RSA) – este é o

mecanismo pelo qual genes repressivos de doenças são ativados por meio da

microbiota presente no composto, dando condições à planta de se defender de

microrganismos causadores de doença. Na maioria dos casos, mais de um

mecanismo atua simultaneamente na supressão das doenças (Alexander, 2006;

EPA, 1997b; Ressetti et al., 2000).

Page 22: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

11

2.3.3 Biorremediação com uso de composto

Esta abordagem refere-se ao uso de um sistema biológico de

microrganismos em compostos maturados ou crus para sequestrar ou degradar

contaminantes na água ou no solo. Os microrganismos consomem os

contaminantes do solo, de águas subterrâneas e superficiais, e do ar. Os

contaminantes são digeridos, metabolizados e transformados em húmus e

subprodutos inertes, como dióxido de carbono, água e sal. Biorremediação por

meio de composto tem provado ser efetiva em degradar ou alterar muitos tipos

de contaminantes, como hidrocarbonetos clorados e não clorados, conservantes,

solventes, metais pesados, pesticidas, derivados de petróleo e explosivos. Os

compostos utilizados em biorremediação são adaptados ou desenvolvidos

segundo problemas específicos (EPA, 1997a; Coker, 2006; Marín et al., 2006).

2.3.4 Biofiltros

Os biofiltros são, normalmente, utilizados para filtrar água de chuva que

possa carrear contaminantes perigosos, como óleo, metais, pesticidas,

fertilizantes e outros. O filtro de composto para águas pluviais (compost

stormwater filter ou CSF), um tipo de biorremediador, é uma grande caixa de

alvenaria com três defletores que permitem o fluxo de água para dentro da caixa,

que é filtrada por uma camada de composto depositada no fundo (Figura 4).

FIGURA 4 Esquema de filtro de composto para águas pluviais.

Page 23: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

12

O CSF é projetado para remover detritos flutuantes, espumas de

superfície, contaminantes químicos e sedimentos de águas pluviais, permitindo

que a água passe através de camadas de composto especialmente preparado. A

estrutura porosa do composto filtra os detritos físicos enquanto degrada os

contaminantes químicos (EPA, 1997a; Epstein, 1997).

2.3.5 Substrato para cogumelos

Como organismos heterotróficos, os fungos não têm habilidade de

formar moléculas orgânicas para seu crescimento a partir de carbono

atmosférico, como os vegetais. Suas necessidades nutricionais são supridas pelo

substrato/composto, que deve apresentar condições para o crescimento e o

desenvolvimento micelial, antes ou depois do processo de compostagem. O

substrato/composto para cogumelos pode ser definido como um tipo de material

lignocelulósico que suporta o crescimento, o desenvolvimento e a frutificação de

micélio de cogumelos (Chang & Milles, 2004).

2.4 Eletroforese em gel com gradiente desnaturante ou DGGE

O monitoramento dos microrganismos durante o processo de

compostagem é importante, uma vez que eles desempenham papéis chaves na

degradação e na maturação do composto. Vários trabalhos de descrição da

microbiota durante a compostagem já foram realizados com a abordagem

clássica de isolamento, identificação e caracterização de microrganismos

presentes no composto (Silva et. al., 2009; Salar & Aneja, 2007a; Salar & Aneja,

2007b; Lyons et. al., 2000; Straatsma et. al., 1994b). No entanto, por meio da

metodologia tradicional não se podem detectar as espécies não cultiváveis e

existe a possibilidade de que microrganismos de difícil cultivo sejam

predominantes no processo, sobretudo no final da compostagem, quando as

moléculas de fácil metabolização já foram utilizadas, restando apenas as de

Page 24: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

13

difícil degradação (Ishii et. al., 2000). Neste contexto, metodologias que

detectem microrganismos, independentemente de cultivo, são importantes para o

melhor acompanhamento da microbiota presente durante a compostagem.

A técnica de Denaturing gradient gel electrophoresis (DGGE) aparece

neste contexto como uma ferramenta muito utilizada para estudos de diversidade

de microrganismos não cultiváveis (Peters et. al., 2000). Esta técnica é utilizada

para a análise de amostras ambientais (solo, material vegetal e composto), por

meio da amplificação (PCR) das regiões ribossomais dos genomas presentes

(Figura 5) e posterior separação dos fragmentos amplificados, em função da sua

composição nucleotídica, por meio de um gradiente de desnaturação formado

por ureia e formamida (Figura 6). A técnica de DGGE foi primeiramente

descrita, para análise de diversidade microbiana, por Muyzer et al. (1993),

enquanto que Kowalchuk et al. (1997) foram os primeiros a usarem a técnica

para análises de comunidades fúngicas causadoras de podridão de raízes em

gramíneas. A partir de então, a técnica de PCR-DGGE tornou-se uma ferramenta

amplamente utilizada para a detecção de espécies, independente de cultivo e

caracterização de populações fúngicas em amostras ambientais.

FIGURA 5 Região ribossomal normalmente amplificada para técnica de DGGE.

Regiões com variação de sequências são mostradas em preto. A região V4 é uma das mais variáveis

Regiões com variações de sequências são mostradas em preto. As regiões D2 e D8 são as mais variáveis.

Page 25: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

14

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Substrato

O experimento foi realizado utilizando-se uma pilha de compostagem

(aproximadamente 1 m de largura, 1,5 m de altura e 5 m de comprimento)

montada em pátio aberto. A pilha foi composta por bagaço de cana [Saccharum

officinarum L.] (1.000 kg) e capim-coast-cross [Cynodon dactylon (L.) Pers]

(1.000 kg), e suplementada, ao quarto dia, com farelo de trigo (154 kg), calcário

(30 kg), gesso agrícola (30 kg) e uréia (26 kg). O composto foi revirado de dois

em dois dias, manualmente, e a umidade avaliada, adicionando-se água sempre

que necessário para mantê-la entre 65% e 70%. A temperatura máxima

alcançada durante a fase II da compostagem foi de 70°C e o pH final do produto

final foi 6,7.

3.2 Contagem e isolamento

Para a amostragem, a pilha de compostagem foi dividida em cinco

segmentos. De cada um deles foi retirada uma amostra composta (cinco pontos

aleatórios misturados em uma única amostra), totalizando, por amostra, cinco

pacotes que foram nomeados de acordo com o dia amostrado (1º. dia: 1.1, 1.2,

1.3, 1.4, 1.5; 2º. dia: 2.1, 2.2, 2.3, 2.4, 2.5; ... 5.5) (Figura 7). As análises de

isolamento e caracterização molecular foram realizadas somente na fase II de

compostagem, considerando-se somente os dias finais. A compostagem durou

28 dias no total. A fase I compreendeu os 19 primeiros dias e a fase II, do 20°

até o 28°. As amostragens foram realizadas em dias alternados, durante a fase II

da compostagem, começando no 20° dia.

As contagens e isolamentos dos fungos foram realizados por diluições

seriadas e também por plaqueamento de partículas lavadas depositadas sobre

Page 26: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

15

meio sólido. Para o isolamento por diluição, uma porção de 10 g de composto

foi suspendida em 180 ml de água peptonada 0,1% e agitada por dois minutos.

As diluições de 10-2 e 10-3 foram plaqueadas (0,1 ml por placa) em triplicata em

meio ágar malte 2% (20 g de malte, 17 g de ágar e 1000 ml de água destilada),

acrescido de rosa de bengala (50mg/L) para retardar o crescimento dos fungos e

permitir o isolamento (Anastasi et al., 2005; Salar & Aneja, 2007a). As placas

foram incubadas a 45°C para o crescimento dos termófilos, resultando em 15

placas por amostra e 75 placas no total. O número de unidades formadoras de

colônias por grama (UFC/g) para cada amostra foi determinado.

O isolamento por partículas foi feito de duas maneiras: lavando-se três

vezes o composto, plaqueando-se os fragmentos retidos na peneira de 0,21mm e

lavando-se uma vez o composto e plaqueando-se as partículas retidas na

primeira peneira de 0,7 mm. Para isso, 10 g de composto foram suspendidos em

180 ml de água destilada e agitados, manualmente, por 10 minutos, substituindo-

se a água três vezes em um dos experimentos e uma vez em outro. As partículas

foram colocadas em meio MA 2% acrescido de rosa de bengala e cloranfenicol

com posterior incubação, a 45°C, por até 5 dias.

Os fungos foram identificados convencionalmente, de acordo com suas

características macroscópicas e microscópicas, depois da determinação do

gênero (Ellis, 1971; Barnet & Hanter, 1987; Straatsma, 1993; Salar & Aneja,

2007b; Domsch et al., 1980; Hawksworth et al., 1995).

3.3 Extração de DNA

Porções de aproximadamente 2 g, originadas de composto armazenados

a -20°C, foram maceradas em cadinho de porcelana com nitrogênio líquido até a

obtenção de um pó fino. Uma porção de 300 mg do macerado foi acondicionada

em microtubos, procedendo-se à extração do DNA com a utilização do kit PSP®

Page 27: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

16

Spin Stool DNA kit (Invitek), o qual foi purificado por meio do kit MSB® Spin

PCRapace (Invitek), obedecendo às especificações do fabricante.

3.4 Amplificação da região ITS via NESTED – PCR

Regiões ITS dos genomas fúngicos foram amplificadas por PCR,

utilizando-se os iniciadores ITS1F (CTTGGTCATTTAGAGGAAGTAA) e

ITS4 (TCCTCCGCTTATTGATATGC) (1° round) e, posteriormente, o par

ITS1F-GC (CTTGGTCATTTAGAGGAAGTAA. 40pb GC) e ITS4 (2° round),

visando alcançar o maior número possível de taxa quanto possível (Anderson et

al., 2003). As reações de PCR foram realizadas em termociclador Master

Gradient Eppendorf, usando reações com volume de 25µl contendo,

aproximadamente, 150 ng de DNA alvo, 4 pmol de cada iniciador, 2 mM

MgCl2, 250 µM de cada dNTP (dATP, dCTP, dGTP e dTTP), tampão a 10x e

2,5 U de taq polimerase (Fermentas®). A reação para o segundo round do

NESTED-PCR foi realizada como descrito acima, adicionando-se 1,5 µl da

reação 1 (1º round) aos demais reagentes. A reação de amplificação foi realizada

nas seguintes condições: 94°C, por 10 minutos, seguido por 35 ciclos de 94°C,

por 30 segundos, 58°C por 30 segundos e 72°C por 30 segundos, com extensão

final de 72°C, por 5 minutos. Controles negativos (sem DNA) foram feitos para

todas as reações.

Todos os produtos de amplificação foram analisados por eletroforese em

gel de agarose 1% e, posteriormente, corados com Syber Green e fotografados

em transiluminador.

3.5 Eletroforese em gel com gradiente desnaturante (PCR–DGGE)

A DGGE foi realizada em equipamento DCodeTM Universal Mutation

Detection System (Bio-Rad Laboratories, Hercules, CA, USA), com a utilização

de 20 µl de cada produto de PCR (100-200 ng de DNA), misturados a 5 µl de

Page 28: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

17

tampão de carregamento para posterior aplicação no gel. Os amplicons para

análise foram gerados utilizando-se os pares de iniciadores ITS1F/ITS4 (1°

round) e ITS1F-GC /ITS2 (2° round). A corrida ocorreu em gel de

poliacrilamida 8%, preparado com gradiente de 10% [ureia 0,7 M – formamida

4% (v/v)] a 55% [ureia 3,85 M – formamida 22% (v/v)]. A eletroforese ocorreu

à temperatura constante de 60°C, a 75V, em TAE 1X por 16 horas. O gel foi

corado em brometo de etídio por 20 minutos, observado em transiluminador e

analisado visualmente.

3.6 Sequenciamento

Bandas escolhidas para o sequenciamento foram removidas do gel de

DGGE e colocadas em microtubos contendo TE e mantidas, a 4°C, por 12 horas.

O DNA purificado foi amplificado utilizando-se os primers ITS1-F e ITS2 (sem

o grampo GC) e submetidos ao sequenciamento. Sequências obtidas das

amostras de compostagem foram comparadas por meio do Genbank database

usando o programa BLAST (Altschuk et al., 1997). As sequências foram

editadas e alinhadas utilizando-se os programas Bioedit (Hall, 1999) e Systat 11

(2004).

3.7 Análise estatística

Foi realizada análise das médias encontradas para as unidades

formadoras de colônia (UFC), pelo método de Scott-Knott, a 1% de

probabilidade.

Page 29: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

18

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Densidade da comunidade fúngica

As amostras analisadas apresentaram baixas populações de fungos, da

ordem de 104 UFC/g. Em outros trabalhos há relatos de populações entre 106 e

108 UFC/g (Straatsma et. al.,1994; Silva et al., 2009; Dias et al., 2009) em

composto para a produção de cogumelos e matérias-primas frescas. Este fato

pode ser explicado pelas altas temperaturas desenvolvidas nas Fases I e II da

compostagem (Figura 6).

Na fase I, as temperaturas variaram entre 60°C e 76°C, baixando para

54°C no tempo zero da fase II. Uma vez dentro do túnel, é esperado que a

temperatura do composto chegue a 60°C e se mantenha por um dia

(pasteurização). Para o composto em estudo, a temperatura atingiu 70°C,

permanecendo nesse patamar por dois dias. Essa elevação foi seguida de uma

nova queda (45°C), seguida de elevação nos dois dias seguintes para 64°C.

Segundo Metting (1993), fungos não são encontrados a temperaturas acima de

60°C na forma vegetativa. Existe, portanto, a possibilidade de que as elevadas

temperaturas observadas durante a compostagem tenham apresentado efeito

supressor sobre a comunidade fúngica presente, uma vez que a temperatura ideal

para a fase II está no intervalo entre 45°C e 55°C, após a pasteurização a 60ºC

(Butler, et. al., 2001; Chang & Milles, 2004; Silva et al., 2009).

A densidade da comunidade fúngica apresentou crescimento crescente a

partir do primeiro tempo amostrado até o último, representando 22,8% dos

microrganismos isolados a partir do composto estudado. Houve crescimento, em

placa de Petri, para todos os tempos amostrados, tendo os dois últimos

apresentado diferenças significativas em relação aos três primeiros (Figura 7).

Page 30: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

19

FIGURA 7 Unidades formadoras de colônias de fungos durante a fase II da

compostagem. Amostras correspondem aos dias de compostagem: 20°(1), 22°(2), 24°(3), 26°(4) e 28°(5). Médias seguidas das mesmas letras não diferem ente si, pelo teste Scott-Knott, a 1% de probabilidade.

FIGURA 6 Variação da temperatura durante as fases I e II da compostagem.Coletas realizadas nos dias 20°(1), 22°(2), 24°(3), 26°(4) e 28°(5).Início da fase II no 20° de compostagem.

Fase I Fase II

Page 31: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

20

4.2 Análise por espalhamento

O isolamento de fungos por meio do método de espalhamento mostrou

espécies já esperadas em composto para cultivo de Agaricus bisporus e outros

(Metting, 1993; Epstein, 1997), exceto pela espécie Thermomyces ibadanensis,

para a qual não há relato (Tabela 1)

Foram observados diferentes morfotipos para algumas das espécies

encontradas. Para os isolados pertencentes à espécie Scytalidium thermophilum,

foram observados quatro morfotipos. Nas três primeiras amostras, foram

observados de um a dois morfotipos e, nas duas últimas amostras, foram

encontrados até quatro morfotipos. Para fungos do gênero Penicillium, foram

observados três morfotipos. Foram ainda encontrados representantes de T.

lanuginosus, T. ibadanensis, Aspergillus e outros não identificados (Tabela 1).

Os fungos encontrados, ao serem plaqueados, tomaram as placas em poucos

dias, sendo possível contar até 100 colônias por placa. As colônias, quando

novas, se assemelharam muito e, por isso, foi preferido o isolamento aleatório,

considerando também o fato de crescerem muito rapidamente (Straatsma et

al.,1994).

Algumas espécies apareceram somente em amostras iniciais, enquanto

outras só foram detectadas em amostras no meio do período da fase II, como os

fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium sp2.

A microbiota fúngica descrita como participante do processo de

compostagem inclui mais de 35 espécies descritas (Epstein, 1997) e todas elas

contribuem significativamente para a qualidade final do composto. Seus efeitos,

juntamente com os de bactérias e de actinobactérias (Ryckeboer et, al., 2003)

sobre o crescimento micelial e sobre a produção de cogumelos, têm sido

descritos em três níveis: (i) decrescendo a concentração de amônia no composto,

substância que inibe o crescimento do micélio do cogumelo; (ii) imobilizando e

estocando nutrientes em forma aparentemente disponível para o micélio do

Page 32: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

21

cogumelo e (iii) promovendo o crescimento micelial do cogumelo, como

demonstrado para vários fungos termófilos, mas, principalmente, para o fungo

Scytalidium thermophilum (Salar & Aneja, 2007b). TABELA 1 Fungos termófilos isolados por meio da técnica de espalhamento em cinco momentos diferentes e incubados a 45°C, por até cinco dias. Total de 263 isolados obtidos.

Amostras Fungos 1 2 3 4 5

Scytalidium thermophilum 21 31 27 63 62

Thermomyces lanuginosus 8 8 1 --- ---

Thermomyces ibadanensis 6 5 --- --- ---

Penicillium sp1. --- 3 12 --- ---

Penicillium sp2. --- --- 2 --- ---

Penicillium sp3. 1 --- --- --- ---

Aspergillus sp. --- --- 11 --- ---

Zigomycota 1 --- --- --- ---

Não identificados 1 --- --- --- ---

Os isolamentos mostraram predominância do fungo Scytalidium

thermophilum, como observado também por Lyons et al. (1998), principalmente

no final da compostagem, no período de condicionamento do composto. Sua

presença em grande quantidade pode ser utilizada como indicador de qualidade

do composto, uma vez que sua atividade e presença estão diretamente

relacionadas com sua seletividade, além de ter efeito promotor de crescimento

para o micélio de cogumelos do gênero Agaricus (Lyons et. al., 2000; Straatsma

et.al., 1989). Os isolados de S. thermophilum apresentaram esporos do tipo II

Page 33: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

22

(Straatsma et. al., 1993), possuindo esporos em longas cadeias e micélio e

conídios aéreos bastante queratinizados (Salar & Aneja, 2007a).

Os fungos mais frequentes e persistentes após o S. thermophilum foram

os do gênero Thermomyces. Os fungos deste gênero são termófilos, distribuídos

em quatro espécies: T. ibadanensis Apinis & Eggins (1966), T. lanuginosus

Tsiklinsky (1899), T. stellatus (Bunce) Apinis (1963) e T. verrucosus (Pugh et

al., 1964).

A espécie T. lanuginosus é um saprófita comumente encontrado no solo

e em restos culturais, como palha de milho e bagaço de cana. Esse fungo é um

importante produtor de enzimas, dentre as quais se destacam: xilanase (Pedersen

& Broadmeadow, 2000), glicoamilase termoestável (Rao et. al., 1981; Mishra et

al., 1996), protease, amilase; fitiase, trealase e β-glicosidase, entre outras

(Maheshwari et. al., 2000).

Apesar de ser capaz de produzir essa variedade de enzimas, T.

lanuginosus não está relacionado com degradação de celulose e hemicelulose.

Sua ocorrência foi relatada em associação com fungos celulolíticos, como

Chaetomium thermophile, se desenvolvendo a partir de açúcares liberados

durantes a hidrólise da hemicelulose (Maheshwari et. al., 2000). A liberação

intensa de enzimas degradadoras de polissacarídeos e a simultânea absorção e

catabolismo dos carboidratos contribuem para o aquecimento da pilha de

compostagem, tornando o ambiente favorável ao desenvolvimento de outros

termófilos (Maheshwari et. al., 2000).

Outra espécie de Thermomyces com ocorrência frequente foi o T.

ibadanensis, originalmente descrito por Apinis & Eggins (1966) em óleo de

palmeira, na Nigéria. Em toda a literatura consultada, não há relatos de sua

ocorrência em composto, podendo ser esse o primeiro relato da espécie em

compostagem baseada em bagaço de cana e capim-coast-cross.

Page 34: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

23

Os demais fungos encontrados nesta pesquisa (Zigomicetos, Aspergillus

sp. e Penicillium sp.) já foram relatados por outros pesquisadores como

participantes ativos no processo, sendo os mesmos isolados dos mais diferentes

substratos (Metting, 1993).

4.3 Análise por plaqueamento de partículas

Os isolamentos de fungos por meio da técnica de plaqueamento de

partículas lavadas apresentaram resultados semelhantes ao obtido com o

espalhamento. Os fungos encontrados apresentaram crescimento rápido, sendo

esta uma característica comum entre as espécies presentes em composto

(Straatsma et al., 1994).

As análises de partículas lavadas mostraram diferença entre as

metodologias. Nas placas inoculadas com partículas que passaram por apenas

uma etapa de lavagem, foram encontradas, predominantemente, três espécies de

fungos, sendo elas: Scytalidium thermophilum, Thermomyces lanuginosus e

Thermomyces ibadaenses. Foram encontrados também fungos do gênero

Penicillium e um representante do filo Zygomycota. Isolados correspondendo a

9,5% (22 isolados), dentre todos os fungos isolados, não foram identificados,

mas encontram-se armazenados para futura identificação (Tabela 2). Nas placas

inoculadas com partículas lavadas por três vezes, foi observada menor

diversidade de fungos, sendo encontradas somente três espécies, Scytalidium

thermophilum, Thermomyces lanuginosus e Thermomyces ibadanensis (Tabela

3).

É conhecido que elevadas densidades de fungos específicos,

principalmente o fungo S. thermophilum, são importantes para a colonização do

substrato pelo micélio do cogumelo, resultando em um substrato seletivo

(Straatsma et al., 1989). A obtenção de baixa diversidade nessas condições

indica que o plaqueamento de partículas lavadas três vezes representa uma boa

ferramenta para avaliar as espécies predominantes no composto, sobretudo para

Page 35: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

24

o fungo S. thermophilum, o qual é apontado como uma das espécies mais

importantes no processo de compostagem para o cultivo de cogumelos Agaricus

(Straatsma et al., 1994).Portanto, com a utilização desta técnica, seria possível o

monitoramento deste fungo durante a fase II, de maneira rápida e segura, uma

vez que essa metodologia facilita o isolamento e a identificação deste fungo.

TABELA 2 Fungos termófilos em partículas de composto lavadas uma vez a partir de amostras obtidas durante a fase II da compostagem (total de 273 isolados obtidos).

Dia de amostragem Fungos 20o 22 24 26 28

Scytalidium thermophilum 14 16 18 35 25

Thermomyces lanuginosus 10 17 9 47 3

Thermomyces ibadanensis 1 3 9 34 ---

Penicillium sp. 3 1 --- --- 1

Zygomycota 4 --- --- --- 1

Não identificados 8 5 5 4 ---

Amostras correspondem aos dias de compostagem: 20°(1), 22°(2), 24°(3), 26°(4) e 28°(5). TABELA 3 Fungos termófilos em partículas de composto lavadas três vezes a

partir de amostras obtidas durante a fase II da compostagem (total de 128 isolados obtidos).

Amostragem Fungos 1 2 3 4 5

Scytalidium thermophilum 15 41 10 ND 17

Thermomyces lanuginosus 1 7 12 ND 6

Thermomyces ibadanensis 2 3 12 ND 2

Não identificados --- --- --- ND ---

ND: Não determinado, as culturas perderam viabilidade após estocagem.

Page 36: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

25

4.4 Caracterização molecular

A separação dos amplicons da região ITS de fungos filamentosos por

DGGE (Figura 8) permitiu a detecção de 12 bandas com diferentes mobilidades

no gel de poliacrilamida. A riqueza dos amplicons (Se) para os fungos foi

diferenciada em cinco momentos, durante a fase II da compostagem (Figura 9),

mostrando uma diminuição no número de amplicons nos últimos dias de

condicionamento do composto. O agrupamento hierárquico (Figura 10) resultou

na obtenção de dois grupos, separando as três primeiras amostras das duas

últimas, mostrando diferenças entre elas.

Os resultados mostram diminuição da diversidade fúngica à medida que

a fase II avança. Em seu trabalho, Straatsma (1994) encontrou somente

Scytalidium thermophilum no final da fase II. Fato similar ocorreu neste trabalho

(Tabela 3).

Foi realizado sequenciamento de bandas obtidas do DGGE, utilizando-

se os primers ITS1F e ITS2. As sequências, quando comparadas às depositadas

no GenBank com o auxílio do Blastn, apresentaram similaridades com as

sequências de espécies dos gêneros Scytalidium thermoplilum, Phaeoisariopsis

griseola, Candida tropicalis, fungo de composto não cultivável e Myceliophtora

sp., obtendo-se, respectivamente, 99%, 98%, 97%, 90% e 88% de identidade.

O fungo Phaeoisariopsis griseola é o agente etiológico da mancha-

angular do feijoeiro, que pode ter chegado ao composto junto com a matéria-

prima utilizada. De maneira similar, foi observada a presença da levedura

Candida tropicallis. Entretanto, os amplicons desses fungos desaparecem logo

nos primeiros dias da fase II, evidenciando o poder supressor de patógenos que a

compostagem possui (Epstein, 1997). Bandas relacionadas com o fungo

Myceliophtora sp. também foram observadas, sendo sua presença no composto

apontada como causadora de queda na produção do cogumelo (Coutinho, 2000).

A banda com maior intensidade, durante toda a fase II e presente no final na

Page 37: DISSERTAÇÃO Diversidade de fungos filamentosos termófilos em

26

compostagem, foi identificada como sendo correspondente a Scytalidium

thermophilum (Figura 11), o que está de acordo com os resultados dos

isolamentos realizados neste trabalho (Tabela 1).

FIGURA 8 Perfil de bandas correspondentes à região ITS de fungos obtidos por

eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE), em diferentes momentos da fase II da compostagem. Linhas 1 e 2 correspondem à primeira amostra; 3 e 4 à segunda; 5 e 6 à terceira; 7 e 8 à quarta e 9 e 10 à quinta amostra.

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FIGURA 9 Riqueza de amplicons (Se) da região ITS de fungos presentes em

composto, em diferentes momentos, durante a fase II de compostagem, com base no número de bandas obtidas por eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE). Os dados apresentam a média de duas repetições.

FIGURA 10 Agrupamento hierárquico da região ITS de fungos presentes emc

composto para a produção de Agaricus brasiliensis.

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FIGURA 11 Bandas relacionadas a espécies identificadas por meio do Blastn. St

– Scytalidium thermophilum, Pg – Phaeoisariopsis griseola, Ct – Candida tropicalis, FN – fungo não cultivável e Msp – Miceliophtora sp.

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5 CONCLUSÕES

Os isolamentos mostraram predominância de três espécies de fungos

filamentosos na fase II de compostagem, sendo elas Thermomyces lanuginosus,

Thermomyces ibadanesis e, principalmente, Scytalidium thermophillum.

Existe relação inversa entre os números de lavagens e espécies

recuperadas no isolamento por plaqueamento de partículas.

Análises de DGGE mostraram diminuição da diversidade fúngica com o

avanço da fase II da compostagem.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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