dissertaÇÃo de mestrado - comum.rcaap.pt · Índice das ilustraÇÕes e quadros ... um milhão e...
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
FACTORES DETERMINANTES NA ESCOLHA DE PRODUTOS PELAS
CRIANÇAS E SUA INFLUÊNCIA NA OPÇÃO DE COMPRA PELO ADULTO
AUTORA: Daniela Pinheiro dos Reis Faria
ORIENTADORA: Doutora Mafalda Ferreira
ESCOLA SUPERIOR DO PORTO, JULHO, 2012
Daniela Faria nº 4521
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AGRADECIMENTOS
Cântico Negro (excerto)
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
...
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
José Régio
Daniela Faria nº 4521
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O excerto deste poema exprime a minha resiliência face a posições de algum
ceticismo quando me propus adoptar uma metodologia que se desviava da ortodoxia
dos métodos habitualmente seguidos predominantemente quantitativos. Porém,
houve quem acreditasse em mim e apoiasse na minha difícil decisão de quebrar
barreiras, e me incentivasse de variadas formas. Seria, obviamente, uma injustiça não
referir em particular a Doutora Mafalda Ferreira que sempre mostrou disponibilidade
para ajudar os seus alunos e, no que particularmente me diz respeito, me incutiu
força e depositou confiança, manifestando entusiasmo e interesse pelo trabalho que
eu desenvolvia.
Chegado a esta fase do meu percurso académico agradeço, ainda, à minha
família, ao meu marido Daniel, que me apoiou sempre, dando-me incentivo para
recomeçar os estudo desde a Licenciatura ao Mestrado, e pela paciência e
compreensão reveladas ao longo destes anos.
Às minhas filhas Lia e Lara, por todos os momentos que não pude nem
consegui prestar-lhes a atenção que mereciam e pela aceitação triste das minhas
negações aos pedidos de “Mãe vem brincar connosco!”.
Aos meus pais, pelo apoio incondicional que me deram, desde a minha mãe a
cuidar das minhas filhas, às sábias criticas construtivas do meu pai em tudo o que
faço, levando-me a desenvolver e a amadurecer pensamentos...
Aos meus colegas da licenciatura e mestrado pelo companheirismo.
Refiro ainda os professores e colaboradores do IPAM, sem excepção, que me
têm acompanhado desde a licenciatura até ao presente, pela partilha e proximidade.
Finalmente, às famílias que prescindiram da sua privacidade afim de
permitirem o desenvolvimento do meu trabalho.
Obrigada!
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RESUMO
Utilizando como metodologia o paradigma etnográfico, a nossa investigação
desenvolveu-se a partir do acompanhamento de sete famílias aquando das suas
deslocações a espaços comerciais para efectuarem compras.
Destas observações resultou a constituição de um quadro de categorias
subjacentes ao processo argumentativo desenvolvido pelo consumidor infanto-
juvenil no ato de influência do adulto na decisão de compra.
Ressalta o preço do produto como categorias com mais ocorrências de
observação cujas crianças utilizam como s suportes de argumentação. Intimamente
ligado ao preço estão as marcas do distribuidor que são sistematicamente escolhidas
pelas crianças, utilizadas também como instrumento argumentativo.
Surpreendentemente, conclui-se que a intervenção do consumidor “tweens”,
não se limita aos produtos de consumo pessoal.
Palavras-chave: Crianças, influência, decisão de compra, preço.
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ABSTRACT
Using the paradigm of ethnography as methodology, our research has
developed from the monitoring of seven families during their visits to business
premises to carry out purchases.
These observations led to the establishment of a framework of categories
underlying the argumentative process developed by the consumer in the juvenile act
of adult influence in purchasing decisions.
It emphasizes the price of the product categories and more occurrences of
observation whose children's media use as argument. Closely linked to the price tags
are the distributor that are systematically chosen by children, also used as an
instrument argumentative.
Surprisingly, it is concluded that the intervention of the consumer "tweens," is
not limited to products for personal consumption.
Keywords: Children, influence purchasing decisions, price
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ÍNDICE
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................... 1
RESUMO .......................................................................................................................................... 3
ABSTRACT ...................................................................................................................................... 4
ÍNDICE.............................................................................................................................................. 5
ÍNDICE DAS ILUSTRAÇÕES E QUADROS ............................................................................... 7
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 8
1. DOMÍNIO E FOCO DA TESE ........................................................................................... 10
2. QUADRO TEÓRICO .......................................................................................................... 13
2.1. Teorias do comportamento do consumidor .......................................... 13
2.2. Processo de tomada de decisão de compra do consumidor ............ 15
2.4. O desenvolvimento cognitivo da criança e a sua relação com o
processo de socialização como consumidor .................................................................... 16
2.3. A Intervenção das crianças nas decisões da família ........................... 19
2.4. Influências das crianças na tomada de decisão de compra no setor
alimentar....... ............................................................................................................................... 21
2.5. O impacto da embalagem no processo de compra das crianças ..... 25
2.6. Funcionalidade das embalagens ................................................................ 25
3. METODOLOGIA ................................................................................................................. 27
3.1. Paradigma e Metodologia de Pesquisa .................................................... 27
3.2. Planeamento do trabalho de campo ......................................................... 30
3.3. Amostra e Procedimentos de Amostragem ........................................... 32
3.3.1. Caracterização da amostra ................................................................................. 34
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3.4. Métodos e técnicas de análise dos dados ................................................ 35
4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .......................................................................... 36
4.1. Análise de conteúdo ....................................................................................... 52
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................................... 60
5.1. Preço .................................................................................................................... 60
5.2. Promoções ......................................................................................................... 61
5.3. Informação nutricional ................................................................................. 62
5.4. Validade do produto....................................................................................... 62
5.5. Características intrínsecas do produto ................................................... 63
5.6. Embalagem e funcionalidade ...................................................................... 64
5.7. Produto em destaque ..................................................................................... 64
CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 66
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 68
ANEXOS ......................................................................................................................................... 73
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ÍNDICE DAS ILUSTRAÇÕES E QUADROS
Ilustrações
Ilustração 1 – Modelo de Socialização do Consumidor ........................................................... 17
Ilustração 2 – Modelo do Processo de socialização de uma familia na compra de
alimentos.... ................................................................................................................................................ 23
Quadros
Quadro 1 – Caracterização das famílias ......................................................................................... 34
Quadro 2 – Registo das observações da família nº1 ................................................................ 36
Quadro 3 – Registo das observações da família nº2 ................................................................. 39
Quadro 4 – Registo das observações da família nº3 ................................................................. 42
Quadro 5 – Registo das observações da família nº4 ................................................................. 44
Quadro 6 – Registo das observações da família nº5 ................................................................. 48
Quadro 7 – Registo das observações da família nº6 ................................................................. 50
Quadro 8 – Registo das observações da família nº7 ................................................................. 52
Quadro 9 – Categorias de análise de informação ....................................................................... 54
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INTRODUÇÃO
Cada vez mais os gestores vêm-se apercebendo da necessidade de conhecer
melhor os consumidores, o seu padrão de compra habitual, as suas preferências assim
como quais as informações melhor assimiladas para que as suas estratégias atinjam
os níveis de sucesso pretendido.
Como tal, o presente estudo visa conhecer de que forma são assimiladas as
informações e mensagens transmitidas como factores de influência exercida no
consumidor infantil.
O consumidor é o indivíduo que, sendo capaz de sentir vontades e
preferências, ao procurar satisfazê-las faz uma escolha e uma compra, avaliando o
produto e suas alternativas (Peter, 1996).
Esta constatação criou um campo de estudo emergente sobre o papel da
criança como consumidora e, até ao final do século XX, um grande volume de
pesquisas acumulou-se sobre este tópico. As crianças das sociedades ocidentais, de
condição social mais favorável, são qualificadas como um importante mercado
primário. Por outro lado, as crianças também constituem um mercado futuro, pois já
foi demonstrado que desenvolvem fidelidade a marcas em idade precoce, e as
atitudes favoráveis em relação a certas marcas tendem a durar até a idade adulta.
Finalmente, as crianças são influenciadoras importantes, opinando sobre as compras
diárias nos lares. (Alves, 2003 e McNeal 1992)
Nos últimos anos, o poder económico e a influência das crianças sobre as
decisões familiares aumentaram ainda mais: as crianças exercem influência
considerável sobre as compras da família em várias categorias de produtos, tais como
brinquedos, roupas, electrodomésticos e alimentos - principalmente cereais matinais,
lanches e guloseimas. (Rose, 2002), também Pettersson e Fjellstrom (2006) referem
que as crianças têm grande poder como clientes tornando-se grandes influenciadores
nas decisões familiares.
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No mesmo sentido, Soares (2009), refere que o mercado infantil representa,
em Portugal, 18 por cento da população ou seja, aproximadamente, um milhão e
oitocentos mil portugueses. Estas crianças têm menos de 15 anos. Estes pequenos
consumidores exercem ainda assim uma grande parcela de influência no nosso
mercado. O nível de influência das crianças nas compras familiares em Portugal
constitui uma realidade que não pode ser ignorada.
Na literatura sobre o comportamento do consumidor, diversos
investigadores procuram estudar a influência das crianças na decisão de compra dos
adultos mas na sua grande generalidade apenas têm em conta a influência exercida
pelos média nesse processo, não tendo em consideração aspectos relacionados com a
facilidade de transporte e local de consumo dos produtos, embalagem, aspectos
relacionados com o preço assim como qualidade do produto a nível nutricional.
Esta pesquisa vai no alinhamento de recomendações de um artigo
apresentado no 6ºSeminário Marketing Infantil,1 uma vez que não só sugere
continuar a investigação que até então era apenas exploratória, como também propõe
estabelecer uma tipologia dos diferentes tipos de mensagens nas embalagens usadas
por marcas de produtos para crianças e avaliar as mais eficientes em imagens de
construção de uma marca nutricional na embalagem, associando as representações
sociais de “saúde” entre as crianças. Estas representações sociais proporcionariam
riqueza de elementos textuais e visuais que a maioria das crianças tenderia a associar
“saúde”, o que poderia ser usado para enriquecer a embalagem, desenvolvendo
associações positivas para as marcas dirigidas a crianças. Semelhantes
recomendações faz Norgaard et al (2007) que sugere uma investigação no consumo
infantil, embora ligada a alimentos específicos a fim de descobrir quais os argumentos
que as crianças utilizam para influenciar os pais nas compras.
1 Realizado a 6 de Abril de 2011 na Casa da Música – Porto. Children, packaging and on-pack nutritional information: an exploratory study.
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1. DOMÍNIO E FOCO DA TESE
O Domínio da presente investigação insere-se na área do Comportamento do
Consumidor, especificamente centralizado nas crianças, sendo o foco, o conjunto de
factores/mensagens que influenciam as crianças na escolha de determinados
produtos e a sua repercussão na decisão de compra, dos adultos.
O problema da investigação envolve, essencialmente, uma dimensão
académica/teórica propondo-se este estudo contribuir para perceber quais as
representações e associações positivas ou negativas desenvolvidas pela criança, sob o
enfoque das seguintes características do produto:
Aspectos relacionados com a informação nutricional.
Aspectos relacionados com o preço/poupança/ gestão orçamental.
Características intrínsecas do produto (sabor, textura).
Aspectos relacionados com informação de protecção do meio
ambiente.
Características da embalagem
Estes serão os vectores de análise para a investigação.
As crianças são, segundo McNeal (1992), um público com crescente poder de
influência na tomada de decisão de compras. Assim sendo, torna-se necessário
conhecer melhor quais os factores mais valorizados neste público, a fim de as
empresas segmentarem, adequarem e comunicarem melhor os produtos com o
objectivo de aumentar a probabilidade de sucesso das vendas.
As crianças, na presente investigação, terão uma idade compreendida entre
os 7 e os 12 anos, os designados “tweens”, tendo em conta que não são crianças nem
adolescentes mas que, segundo Lindstrom (2003), se caracterizam por exercerem
uma enorme influência nos pais, já possuírem algum dinheiro para compras pessoais,
desenvolverem-se muito rapidamente e estarem muito conectados com as novas
tecnologias.
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Também Jonh (1999) refere que muitas mudanças acontecem quando a
criança passa do estágio perceptivo ao analítico (7- 12 anos), sendo o período que
acontece o maior desenvolvimento em termos de aprendizagem sobre
comportamento e habilidades de consumo.
Há um conhecimento mais sofisticado sobre as atividades do mercado,
marcas e publicidade. A criança consegue também analisar diversos aspectos ou
atributos de uma marca ou produto, como também fazer generalizações de acordo
com uma experiência vivenciada. Com isso a tomada de decisão torna-se mais
minuciosa, com estratégias que analisam um conjunto maior de informações. As
crianças nessa faixa etária são também mais flexíveis, porém a habilidade de se
adaptarem e de considerar o ponto-de-vista de terceiros, permitem que sejam mais
astutas na sua persuasão
Numa perspectiva empresarial, esta investigação poderá ser pertinente tendo
em conta que ajudará os gestores a conhecer melhor os consumidores, neste caso as
crianças, ajudando-os a melhorar a comunicação da marca e a desenvolvê-la de
acordo com as características que estas consideram importantes, utilizando-as para
persuadir os pais na compra.
De acordo com Solomon (2007), o estudo do comportamento do consumidor
permite às empresas um melhor conhecimento das necessidades dos clientes.
Também Alves (2003:21), menciona que “A necessidade de compreender os
fenómenos que levam a criança a exercer uma influência, implica o estudo dos
determinantes desta influência”.
Segundo Brée (1993), a criança desempenha um importante papel no
processo de decisão de compra dos pais. Porém, existe uma grande limitação na
maioria dos estudos pois as crianças não foram inquiridas.
O estudo da criança como grande influenciadora é bastante pertinente, uma
vez que as crianças são uma potencialidade do mercado, formando-se como
consumidores de todos os tipos de produtos. De acordo com McNeal (2000), as
crianças estão no mercado primário uma vez que gastam o seu próprio dinheiro
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directamente em alguns produtos mas também influenciam os pais na forma de
consumir, utilizando diversos motivações para os persuadir.
Em consonância está Henriques, (1999: 20), quando refere que as crianças
“São consumidores de palmo e meio, mas cada vez têm maior poder de influência junto
dos pais.” Num estudo efectuado por Agante (2000), este nível de influência atingia
uma dimensão que se traduzia em valores situados entre 180 a 270 milhões de contos
(em moeda da altura).
Esta pesquisa poderá ainda ampliar o quadro de referência dos motivos que
as crianças utilizam para influenciar os pais a comprar determinados tipos de
produtos, constituindo-se como uma nova contribuição teórica. Além do mais,
desenvolvendo-se no IPAM de Matosinhos este mestrado em Comportamento do
Consumidor, será um modo de projectar esta ciência numa realidade local, criando-se
assim saberes teóricos que se enraizarão na realidade e quiçá ajudará alguma marca a
modificar e melhorar a sua comunicação.
Esta investigação inicia-se com a definição de um suporte teórico que
contemplará o desenvolvimento da investigação em vários autores na área de
comportamento do consumidor em geral e na área do comportamento do consumidor
Infanto-juvenil.
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2. QUADRO TEÓRICO
2.1. Teorias do comportamento do consumidor
Existem diversas teorias do comportamento do consumidor:
De acordo com Pinheiro (2005), a teoria da racionalidade económica aborda
a relação custo benefício e é o início das teorias sobre o comportamento do
consumidor. A base desta teoria está apoiada na ideia de que a opção do consumidor
por um produto ou serviço tem como padrão a procura do maior benefício pelo
menor custo. Esta teoria é um pouco limitada no estudo do comportamento do
consumidor, tendo em conta que nela não estão identificados os factores psicológicos.
Posteriormente, vem a teoria comportamental que, de acordo com Pinheiro
(2005), já tem em consideração a influência do ambiente no momento da compra,
analisando os estímulos gerados para produzir reações positivas ou negativas em
relação aos produtos disponíveis, enfatizando o papel da aprendizagem e do
ambiente, mediante os estímulos que maximizam a intenção de compra.
Também existe a teoria antropológica do comportamento do consumidor,
que tem como alicerce de estudo o consumo como um processo social, analisando os
padrões de consumo relacionados com acontecimentos históricos, sociais e culturais
(ídem).
Actualmente, uma teoria bastante utilizada pelos profissionais de marketing,
é a cognitivista, que contempla o consumo como um processo de tomada de decisão,
baseado no processamento de informações provenientes do indivíduo, da cultura e do
meio ambiente. Ao estudar o conhecimento do ser humano através da cognição, esta
teoria integra o consumidor, o produto e o ambiente, concebendo o consumo como
um processo de tomada de decisão.
Esta será porventura a teoria mais relevante para o estudo, tendo em conta
que será a mais completa e aplica os factores internos e externos que afectam a
decisão da criança quer a nível de influências sociais quer situacionais.
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Os consumidores assumem vários papéis, desde a criança que pede à mãe um
brinquedo correspondente a um de um determinado desenho animado, até a um
executivo de uma multinacional que decide sobre a aquisição de um sistema de
computadores. Às vezes pensamos no consumidor como aquela pessoa que identifica
a sua necessidade ou desejo, e efectua a compra do produto determinado pelas várias
etapas do consumo. De acordo com Solomon (2007), o comprador e o utilizador do
produto podem não ser a mesma pessoa. Muitos exemplos podem servir para ilustrar
tal situação: a mãe que compra uma roupa para o filho, a filha que adquire fraldas
geriátrica para a mãe/ avó idosa, a dona de casa que compra iogurtes para a família.
O comportamento de consumo é definido como um comportamento de
procura, de compra, de uso e avaliação dos produtos ou serviços. Esse
comportamento pode ser descrito como uma atividade física, mental e emocional
realizada na escolha, compra e uso dos produtos ou serviços para satisfação das
necessidades e desejos. Conforme Schiffman e Kanuk (2000), o comportamento do
consumidor é uma ciência interdisciplinar que investiga as atividades dos indivíduos
relacionadas ao consumo.
Para Karsaklian (2000) o comportamento é frequentemente afetado por
aqueles com quem nos associamos estreitamente. Esse facto não torna possível
avaliar o consumidor apenas como uma única pessoa física. Assim sendo, a forte
ligação da criança com os pais, é de extrema importância na influência da decisão de
compra.
Na compreensão de Solomon (2007), para entender o comportamento de
consumo é necessário ter o conhecimento da cultura relacionada do grupo
pesquisado; ainda mais: é preciso saber que a cultura não é estática, está em
constante mutação.
Para Dias (2003) as mudanças iniciadas há três décadas, nos cenários
demográfico e tecnológico, também interferiram no estilo de vida dos indivíduos, os
quais passaram a ter uma procura maior por produtos e serviços com mais qualidade
e valor extra. Ainda na visão do autor, existem, também, as influências internas que
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atuam sobre o comportamento de cada indivíduo tais como a motivação, a
personalidade e as atitudes. Essa propensão acentua-se fortemente no consumidor
infantil e, talvez pela escassez de conhecimento das influências internas, as empresas
e profissionais de marketing têm investido predominantemente em influências
externas.
De acordo com American Marketing Association, o comportamento do
consumidor é definido como “interação dinâmica entre afectos e cognição,
comportamentos e envolvência, através da qual os seres humanos conduzem as suas
vidas”. Conforme esta definição, Peter et al (1996), destacam três aspectos basilares
no entendimento do comportamento do consumidor:
1. Envolve troca entre seres humanos;
2. Envolve interações entre afeto, cognições e comportamentos;
3. É dinâmico tendo em conta que está em constante mutação.
2.2. Processo de tomada de decisão de compra do consumidor
No processo de compra de um bem ou serviço, diversos são os aspectos
relacionados com a decisão de compra do consumidor. Geralmente a tomada de
decisão de compra está relacionada com uma resposta a partir de um estímulo inicial.
As decisões de compra de um consumidor estão directamente relacionadas
com as características do comprador, estímulos existentes e com os seus processos de
decisão, (Kotler, 2000).
Desta forma criaram-se modelos explicativos de comportamento de compra,
modelos estes que são os pilares de toda a teoria do comportamento do consumidor e
a sua importância ultrapassa, pois, a simples abordagem quanto à sua capacidade de
predição de uma situação ou outra.
Compreender o processo de tomada de decisão do indivíduo em relação ao
consumo e poder prevê-lo é tarefa muito complexa e talvez impossível, tendo em
conta que há fatores que não são previstos, tais como o ambiente de loja, a conjuntura
económica do momento, mais especificamente ligada ao consumidor, os estilos de
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vida, as crenças e religiões, os estados emocionais, assim como as novas tecnologias.
(Alves, 2003)
2.4. O desenvolvimento cognitivo da criança e a sua relação com o processo
de socialização como consumidor
Pode-se perceber claramente um grande aumento em acções publicitárias,
com o objetivo de atingir o consumidor infantil, devido à grande ascensão deste
segmento de mercado nos últimos anos. Por outro lado, segundo McNeal (2000), as
crianças são consideradas consumidores futuros aos quais os produtos deverão ser
apresentados, fazendo com que ocorra fidelidade desde cedo.
Sendo o consumo uma característica marcante da sociedade actual, a criança
desenvolve um certo tipo de socialização enquanto consumidora. Assim, recebe
influência dos meios de comunicação, dos grupos de pares, da família, do meio em
que vive e até do ambiente escolar que frequenta (Oliveira, 2003).
A análise do comportamento de consumo da criança requer que a
assumamos, desde logo, como possuidora de funções cognitivas complexas. O seu
desenvolvimento cognitivo foi descrito, de acordo com Piaget e Freud, como
decorrente ao longo de estádios que se sucedem e vão estruturando a sua
personalidade. Segundo as suas teorias, a criança vive até aos seis anos auto-
centrada, sendo o egocentrismo a sua característica principal (Solomon, 2007;
Dubois, 2000; Alves, 2002). A partir dessa idade, a imitação do outro, nomeadamente
dos que lhe estão próximos, pais, irmãos, professores, amigos, colegas, heróis, passa a
afirmar-se como o meio fundamental de construção da sua realidade através do qual
se vê a ela própria como elemento da sociedade que integra. As brincadeiras
começam a aproximar-se mais das atividades realizadas pelos adultos como forma de
preparação para os desafios da idade adulta. Surgem então mil e uma brincadeiras do
faz-de-conta que vão desde experimentar as maquilhagens das mães, as roupas, os
sapatos de salto alto, em querer também ter um telemóvel, em querer um carro igual
ao do pai. Hoje, nos supermercados assistimos, numerosas vezes, a episódios de
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escolha pelas crianças e jovens, ou influência na escolha dos produtos comprados
pelos pais.
Quando se estuda o comportamento de consumo infantil, parte-se do
pressuposto de que as suas acções são sempre influenciadas por algum contexto,
grupo social etc., que é o que irá socializar a criança para o consumo. Apesar de a
família ser um agente social importantíssimo, não é o único. De acordo com Mowen et
al (2003), existem outros agentes:
Ilustração 1- Modelo de socialização do consumidor
Fonte: Mowen, John C.; MINOR, Michael S, Comportamento do consumidor, p. 277.
A socialização do consumidor não se dá de forma independente. Conforme
Bree (1995), existem vários fatores que a condicionam, destacando o papel da família,
da escola, dos amigos e dos meios de comunicação de massa. Essa socialização
consiste na aquisição de capacidades, conhecimentos e atitudes relevantes para
funcionarem no mercado. Na mesma linha, McNeal (2000) refere que a aprendizagem
feita pelas crianças sobre o que é ser consumidor, é mais circunstancial do que
propriamente planeada ou mesmo intencional. Basicamente esta aprendizagem é
feita com os pais e também com os responsáveis de marketing.
Com os pais, este é um processo mais complexo através do qual a criança
aprende qual o seu estatuto na sociedade e como deve desempenhar cada um dos
Fatores de contexto
Nível socioeconómico
Sexo
Idade
Classe social
Religião
Meios de comunicação
Membros da família
Colegas
Professores
Agentes de
socialização
Mecanismos de
aprendizagem
Resultado
Modelagem
Reforço
Estágio de desenvolvimento cognitivo
Consumidor
Socializado
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seus papeis, seja o de filho, de aluno, de neto e também de consumidor. Do lado dos
responsáveis de marketing, o crescente interesse demonstrado por este mercado
multiplica as suas intervenções no processo de aprendizagem das crianças.
O desenvolvimento cognitivo da criança está, de acordo com McNeal (2000)
relacionado com o processo de socialização no âmbito de consumo, dividido em fases
separadas por intervalos etários.
McNeal (2000) propõe que a socialização do consumidor seja dividida em
cinco etapas: O primeiro estágio de observação inicia-se aos dois meses de idade, ou
seja quando vai passear nos estabelecimentos comerciais (levada pelos familiares). O
estágio seguinte, é a partir dos dois anos, quando a criança começa a pedir aos pais os
produtos que observa. De seguida, pelos três anos e meio, a criança já começa a
remover os produtos da prateleira seleccionando-os. A compra assistida dá-se por
volta dos cinco anos e meio. Nesta fase a criança começa a realizar algumas compras
com ajuda dos pais ou de algum adulto. A partir dos oito anos inicia-se o estágio de
compra independente.
Já John (1999) desenvolve uma teoria que tem como base o desenvolvimento
cognitivo proposto por Piaget dividindo-a em três etapas. A criança dos três aos sete
anos (idade segundo o autor de entrada na escola) tem em conta as situações do
consumo, de uma forma imediata e concretamente observável. O estado posterior,
designado por analítico é compreendido entre os sete e os onze anos, no qual a
criança passa a utilizar símbolos para compreensão mais sofisticada das relações de
consumo e empregar, de uma maneira mais estruturada, estratégias de negociação a
fim de conseguir os produtos que deseja. Nesta altura as crianças também já realizam
algumas compras de forma independente, principalmente de alimentos, utilizando a
relação dos pares como referência, tendo estes um papel estratégico de influência na
compra. Este é o estádio que iremos analisar. O estádio seguinte, designado por
reflectivo inicia-se aos doze anos e é caracterizado por diversas mudanças ao nível
cognitivo e social que conduzem o jovem a ter um processamento mais complexo na
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decisão de compra; aqui o jovem não tem só as características inerentes ao produto
mas também o preço e a marca.
No presente estudo a idade escolhida para a investigação são crianças entre
os 7 e os 12 anos, uma vez que segundo Acuff (1997), é nesta fase que as crianças
começam a “desligar” da família e se abrem a novas experiências de relacionamento
com o mundo exterior, começando a fazer parte de clubes ou organizações, e
aumentam o seu interesse por novas tecnologias, tal como computadores, internet.
2.3. A Intervenção das crianças nas decisões da família
A maior transformação atribuída ao novo modelo de família foi o acréscimo
de status dos filhos no agregado familiar. Novas dinâmicas estabeleceram-se nos
círculos familiares, criando uma nova relação de poder. Os pais não tomam mais as
decisões isolados, desenvolvendo-se uma relação bidirecional, onde pais e filhos se
influenciam mutuamente.
No novo modelo, as crianças representam uma parte valiosa da estrutura e
crescem acreditando que devem participar de todas as decisões que envolvam o
núcleo familiar. Muitas famílias acreditam que excluir os filhos das decisões
familiares significa privá-los do desenvolvimento de competências importantes para
a maturidade (Sutherland; Thompson, 2003).
Esta liberalidade das novas famílias, no entanto, não deve ser confundida
com permissividade. Os pais modernos acreditam que é importante ouvir os filhos,
mas ponderam a opinião da criança em relação à importância da decisão (Sutherland;
Thompson, 2003).
Engel, Blackwell e Minard (2000), destacam que a influência do consumidor
infantil nas compras domésticas varia de acordo com a utilidade e a classe de
produto.
As crianças tendem a ter uma maior influência nas decisões de compra que
envolvam produtos de seu próprio uso, ao passo que a sua influência é considerada
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limitada quando envolve produtos de alto risco e mais caros. As crianças exercem
influência directa sobre o gasto dos pais, quando solicitam marcas ou produtos
específicos (Foxman e Tansuhaj, 1998).
A família é um grupo de referência, cujos valores, normas, atitudes ou crenças
são usados por uma pessoa como um guia de comportamento. Para esta pesquisa, o
aspecto mais importante da família é, sem dúvida, o processo decisório de consumo.
Outro aspecto bastante importante da influência infantil nas decisões
familiares é que, à medida que as crianças crescem, as suas fontes de observação e
conhecimento aumentam, deixando de estar tão dependentes dos pais. “No exercício
de sua identidade individual, quando suas preferências diferem das de seus pais, as
crianças começam a influenciar o que é comprado para o consumo da família” (Sheth et
al, 2001, p. 553).
Segundo McNeal (1992) a influência que as crianças têm sobre a decisão de
compra dos pais é muito grande. Essa influência pode ser dividida em três áreas:
1. Itens para as crianças. Nessa área encontram-se compras como
lanches, roupas e produtos electrónicos.
2. Itens para a casa. As crianças hoje em dia também influenciam os pais
na compra de objectos e móveis para a casa. Como, também, na
compra do último modelo de televisão, aparelhos de som, comida, etc.
3. Itens para os membros da família que não são para a casa. Estes itens
são férias, carros e restaurantes.
Para McNeal (2000) a influência do público infantil nos gastos dos pais vem
crescendo a cada ano até terem a capacidade de promoverem os seus próprios gastos.
Os pais querem que os filhos tenham tudo que as outras crianças possuem
“de bom”. Logo, os pais dão-lhes mais dinheiro, mais coisas, mais poder na decisão de
compra da família.
Daniela Faria nº 4521
21
Existem duas formas das crianças influenciarem os pais a gastarem o
dinheiro, segundo McNeal (2000). A primeira maneira é a influência directa que
descreve os pedidos das crianças, demandas e dicas, como: “ Eu quero um vestido”. A
influência directa também referencia as decisões feitas conjuntamente, quando a
criança participa activamente com outro membro da família no processo de compra.
Esta é a diferença da influência indirecta, por vezes chamada de influência passiva.
No caso da influência indirecta, os pais sabem quais os produtos e as marcas
que os filhos preferem e compram-nos sem que estes as tenham pedido.
Por outro lado, de acordo com Fiates et al, (2006), apesar de a família receber
um elevado destaque nos estudos que retratam o consumo na infância, não podemos
deixar de referir a importância da escola no papel de socialização da criança, sendo
também responsável pela formação de valores e práticas sociais. No que se refere às
práticas de consumo, é nesse ambiente que a criança começa a efectuar as primeiras
trocas, principalmente de alimentos, conhecendo novos produtos, começando a
realizar as suas escolhas de uma maneira mais autónoma, passando, dessa forma, a
ter outros influenciadores na escolha de produtos, conduzindo a novos hábitos de
consumo.
Um aspecto ineterssante a referir é que de acordo com Karsaklian (2008) “na
cabeça das crianças existem apenas duas coisas para fazer com o dinheiro: ou gasta-se
tudo de uma vez ou guarda-se o dinheiro que se tem. As crianças não conseguem ver a
economia como forma de investimento para uma compra futura”. Ou seja as crianças
ainda não estão sensibilizadas par um equilíbrio nas compras de uma forma
sustentável.
2.4. Influências das crianças na tomada de decisão de compra no setor
alimentar
Para Bleil (1998), a alimentação é algo mais do que apenas uma reacção
sensorial, sendo que as emoções e os afetos estão intimamente ligados. Existe uma
Daniela Faria nº 4521
22
grande diferença entre o comer, ato social, ou nutrir-se, ato biológico. A escolha dos
alimentos revela, por vezes, a relação de status e identidade com o grupo a que se
quer pertencer ou seja, o significado não está propriamente ligado às características
intrínsecas do produto, mas também às suas características tangíveis. Muitas vezes o
consumo de determinado alimento está relacionado com as crenças que foram
construídas por uma sociedade ao longo da história (Monteiro et al 2005).
De acordo com Ishimoto & Nacif (2001), a alteração da rotina familiar, as
modificações na sua estrutura e a crescente inserção da mulher no mercado de
trabalho, originam mudanças significativas nos hábitos alimentares das crianças. Tais
mudanças também se devem às inovações tecnológicas e ao desenvolvimento
crescente de produtos alimentares que dão resposta aos novos estilos de vida.
De acordo com Norgaard et al (2007) uma das áreas onde as crianças
exercem uma maior influência é a área alimentar tendo em conta que a comida tem
um papel central na família e nas suas rotinas. Além do mais, os pais querem
assegurar que os seus filhos comem o que gostam, tentando aprovar uma alimentação
saudável.
Bourdenaudhuij e Van (1998) in Norgaard et al (2007) referem que quanto
maior é a influência das crianças na decisão de compra de alimentos, maior é o hábito
nessas famílias de comer alimentos pouco saudáveis.
Karsaklian (2008:235) sugere ainda que as crianças não decidem apenas os
produtos destinados à sua faixa etária: “A criança, hoje, possui poder de decisão em
produtos que extrapolam o mundo dos brinquedos e guloseimas, influenciando as
decisões de compra de toda a família. É um segmento dinâmico. É preciso estar
constantemente em sintonia com as transformações que estão ocorrendo nos núcleos
familiares e a forma como isso tem influenciado as relações das crianças com o mundo”.
A criança que influencia os pais é muitas vezes dominada pelo marketing. Tal
domínio é fácil pelo facto de a criança ainda estar em processo de formação de
valores e crenças, sobretudo pelo que lhe é exposto. Segundo Aquino e Phillipi (2002),
Daniela Faria nº 4521
23
no que diz respeito aos alimentos, os mais publicitados são os que contêm mais
açúcar, gordura, sal e com alto valor energético, ou seja os alimentos não saudáveis.
Também Norgaard et al (2007) mencionam que as crianças têm maior
influência sobre decisões sobre as refeições de fácil preparo, tal como o pequeno-
almoço e os lanches.
Ilustração 2. Modelo do processo de decisão de compra de alimentos numa familia
Fonte: Norgaard et al (2007). Children’s influence on and participation in the family decision process
during food buying. Young Consumers , 8, pp. 202.
Rotinas diárias da família
Processo de compra Processo de compra
Gerador
de ideias
Influência
de preço
Influência da
experiência
Influência
do sabor
Influência
do ato de
cozinhar
Influência
do ato de
comer
Iniciação Decisão geral
Decisão de escolha a)
Ato de compra
Alimentação Cozinha
Influência
na saúde
Recolha de
informação
Influência por
conveniência
Compra por
influência
Formação da experiência
Estilos de vida ligados à
alimentação da família
Competências das crianças
como consumidoras
Interesse das
influências das crianças
Variáveis
demográficas
NOTA: a) Este quadro foi elaborado, usando os tradicionais modelos do Comportamento do Consumidor.
Teorias da ação e teorias do comportamento planeado para cada participante de cada membro da família no processo de decisão de compra.
Daniela Faria nº 4521
24
Este modelo contém seis fases de decisão (a tracejado) que têm o objetivo de
descobrir quando e qual a relação das crianças na participação do processo de
compra e qual a de maior influência em torno das diferentes etapas, Norgaard et al
(2007).
O objectivo desta investigação era:
Verificar se as crianças tinham maior influência no processo de
compra para produtos do seu próprio consumo;
Verificar se as crianças tinham maior influência no processo de
compra para produtos de fácil preparo;
Verificar que as crianças exercem uma maior influência em produtos
menos saudáveis;
Verificar qual a participação infantil nas compras;
A idade das crianças neste trabalho estava compreendida entre os 10 e os 13
anos.
Norgaard et al (2007) através deste modelo, verificaram a veracidade de
todas as afirmações salientando que a tomada de decisão para a compra de alimentos,
é um processo conjunto da familia e que as crianças exercem influência em todas as
fases de decisão no processo de compra.
Neste trabalho é sugerida uma investigação do processo de tomada de
decisão da familia, de modo a ampliar o conhecimento existente, assim como também
é sugerida uma investigação do processo de decisão de compra e da influência a
produtos mais especificos, a fim de descobrir se os resultados vão ao encontro de
uma alimentação mais saudável ou não. Uma outra sugestão destes autores foi a de
pesquisar qual ou quais os factores que as crianças utilizam mais para influenciar os
pais (gosto, saúde, conveniência, preço, etc.). É esta a vertente que nos ocupou.
Daniela Faria nº 4521
25
2.5. O impacto da embalagem no processo de compra das crianças
De acordo com Faria. M (2008), as embalagens têm funções objetivas
(tangíveis) e subjetivas (intangíveis); as objetivas seriam as funções básicas de
conservar e proteger os produtos e as subjetivas seriam as que funcionam como
ferramenta de Marketing, ou seja: comunicar; criar a identidade do produto; criar
imagem; divulgar; despertar curiosidade; expressar o atributo do conteúdo; encantar;
despertar simpatia; agregar valor ao produto; atrair (como por exemplo as
embalagens para produtos infantis); provocar; despertar interesse e impressionar.
Esse conjunto de funções tangíveis e intangíveis funciona como poderosa ferramenta
de marketing no ponto de venda, que é onde se dá o encontro efectivo do consumidor
com o produto. E hoje, com o uso do computador e da televisão como ponto de venda,
a embalagem é o atributo que mais deve impressionar o consumidor, pois o acesso é
somente visual e essa impressão visual é que irá levar o mesmo ao ato da compra.
Para Baxter M. (1998) quando se fala de um produto atrativo, raramente se
refere ao seu som, cheiro ou tato. A visão tem vasto domínio sobre a percepção
humana, facto que garante a importância dada à embalagem e ao rótulo dos produtos
garantindo a sua atratividade.
Também, de acordo com Kotler et al (2000), a embalagem é um dos meios
utilizados por marcas de crianças para comunicar sobre nutrição, através de
alegações nutricionais, fornecimento de informações relativas aos ingredientes do
produto, bem como aconselhamento nutricional. Algumas dessas mensagens
nutricionais são dirigidas às crianças, que podem ser expostas a elas quando lêem os
pacotes na hora do pequeno-almoço ou durante o lanche da tarde.
2.6. Funcionalidade das embalagens
As empresas alimentares incorporaram a estética à funcionalidade das
embalagens. As formas tornaram-se mais arrojadas e os tamanhos mais reduzidos,
facilitando o transporte e o consumo. As atuais embalagens individuais de sumos
naturais, refrigerantes e bebidas lácteas, prontas para o consumo, são facilmente
Daniela Faria nº 4521
26
transportadas na bolsa ou na mochila escolar das crianças e dos adolescentes, Pontes
T. et al (2009).
É notório o empenho das empresas alimentares, já que elas costumam
renovar a linha de seus produtos no sentido de atender às novas procuras. Contudo, a
sociedade vem, de forma progressiva, renegando refeições nutritivas e adequadas à
saúde em nome da funcionalidade e da comodidade proporcionada pela introdução
de novas embalagens (Idem).
Essa mesma funcionalidade poderá ser um factor importante na decisão de
compra das crianças, tendo em conta o transporte e o local de consumo, porém
segundo a embalagem poderá ir muito além da sua funcionalidade pois esta torna-se
um elemento importante na comunicação de posicionamento e branding como parte
de um sistema integrado de marketing, (McNeal e Ji, 2003) que referem que a
embalagem é o “vendedor silencioso”.
Daniela Faria nº 4521
27
3. METODOLOGIA
3.1. Paradigma e Metodologia de Pesquisa
Só compreenderemos verdadeiramente o fenómeno do consumo se
captarmos os mecanismos que o estruturam no contexto de inserção do consumidor.
Assim sendo, tendo elegido para o nosso estudo, a criança como o agente de consumo,
desenvolveremos a nossa investigação nos espaços comerciais onde se desenrola a
“trama” da decisão de compra.
Como paradigma de pesquisa adoptamos a etnografia que consideramos um
modelo privilegiado para a compreensão holística da realidade em foco.
Para que se possa compreender o consumidor, neste caso as crianças, é
necessário investigar no seu contexto, usando como instrumento de pesquisa a
etnografia, uma vez que é um modelo que privilegia essa compreensão de uma forma
holística.
De acordo com Hammersley e Atkinson (2003) o pesquisador necessita de,
por longos períodos de tempo, participar, observar e recolher informação que possa
vir a resolver o problema da pesquisa. Nesse sentido, o uso da etnografia pode ser
considerado o modelo mais fiel de interpretação da realidade quando comparado com
outros métodos qualitativos, tais como Focus Group ou entrevistas em profundidade.
A influência do pesquisador é menor quando estudamos o consumidor no seu
contexto natural. (Malhotra, 2006).
O método etnográfico desenvolvido especificamente nesta pesquisa apoiar-
se-á em encontros pré-agendados com as famílias em ambientes de compra. A grande
vantagem deste instrumento é vivenciar a situação em que o consumidor, neste caso
as crianças, está a relacionar-se com os produtos, obtendo-se, desta forma, uma
informação extremamente genuína.
A opção pelo método etnográfico deve-se ao facto de este, como estudo do
comportamento do consumidor, ter vindo a usufruir de uma crescente aceitação, uma
Daniela Faria nº 4521
28
vez que se obtêm uma compreensão mais profunda do alvo pois este está no seu
ambiente natural. (Denny, 2003).
Este tipo de metodologia vai ao encontro do que muitos críticos, que estudam
o comportamento em marketing, vêm argumentando (Beckman e Elliot, 2000; Sherry,
1991).
Até muito recentemente, a ferramenta qualitativa mais utilizada na
investigação de mercado era o Focus Group (Denny, 2003). A etnografia atualmente, é
descrita como uma melhoria desta mesma ferramenta, tanto mais que, de acordo com
Kozinets, (2010) este método é o preferível para estudar comunicações e interacções
remotas, designando-se então netnografia.
De acordo com Valtonen (2006), o pesquisador etnógrafo observa
acontecimentos quotidianos, as interacções, as conversas e o uso de objectos em
contextos sociais ao longo do tempo. Centra-se na observação de ocorrências e
comportamentos sistemáticos. No entanto, o mesmo autor refere que o etnógrafo
deve adotar o ponto de vista de um estranho profissional que traz uma abordagem
analítica ao fenómeno cultural em questão. Em qualquer caso, uma das tarefas
centrais de um etnógrafo é a de administrar a tensão entre as posições de “insider” e
de estranho.
A presente investigação é de cariz empírico, sendo que a pesquisa adotada é
essencialmente de metodologia qualitativa. Assim sendo, tratando-se do estudo do
comportamento do consumidor, iremos utilizar com elevada relevância o
interpretativismo.
A instituição gradual do interpretativismo e portanto do marketing cultural e
pesquisa do consumidor começou, talvez, a partir de um projecto de pesquisa que
vem sendo conhecido como a “Odisseia do Comportamento do Consumidor”
(Kassarjian, 1987). A pesquisa começou no verão de 1986, quando cerca de duas
dezenas de pesquisadores académicos atravessaram os Estados Unidos de costa a
costa, de carro, desenvolvendo uma pesquisa qualitativa sobre o consumo norte-
americano. Ao longo da viagem foram documentando vários comportamentos do
Daniela Faria nº 4521
29
consumidor in-situ, por vídeos, entrevistas com consumidores e fotografias. O
objetivo era obter um arquivo para mais tarde ser usado para fins pedagógicos e de
investigação.
Russell Belk, 1991 in (Valtonen, 2006) caracteriza “Odisseia do
Comportamento do Consumidor” como uma jornada épica que contrariava todas as
tradições de pesquisa, procurando novas maneiras de adquirir conhecimento sobre o
domínio e a natureza do consumidor.
A observação será uma observação participante. De acordo com Arnould e
Wallendorf (1994), na observação participante o pesquisador está presente na
definição e participa ativamente nas atividades ao fazer as observações. Por exemplo,
o etnógrafo participa nas festas de Acção de Graças e faz observações detalhadas
delas.
A observação participante tende a ser central na etnografia,
uma vez que, como já dito anteriormente, permite que o etnógrafo se torne um insider
e, ao fazê-lo, dê acesso ao ‘backstage’.
Assim, a presente investigação, de carácter exploratório, com recurso à
etnografia que como anteriormente fica dito é uma ferramenta muito rica na recolha
de informação, tem como objetivos de pesquisa descrever a interação entre as
crianças e as informações referentes aos produtos e recolher informação do
quanto essas interações podem ser influenciadoras dos processos de decisão de
compra das famílias.
Diversos são os autores que se referem à pertinência de seguir uma
abordagem exploratória quando o investigador verifica a escassez de bibliografia
sobre o tema em estudo (McDaniel e Gates, 2004; Zikmund, 2000; Mattar, 1994a; Yin,
1994; Churchill, 1992).
Segundo Zikmund (2000: 102), “a pesquisa exploratória é conduzida com
expectativa de que a pesquisa subsequente será necessária para proporcionar evidência
conclusiva.” A pesquisa exploratória deverá ser utilizada para “cristalizar um
problema e identificar necessidades de informação relevantes para pesquisa futura”.
Daniela Faria nº 4521
30
Esta investigação não tem como pretensão ser caracterizada como uma
Odisseia, contudo, por vezes foi uma aventura estudar o comportamento e os seus
padrões acompanhando algumas famílias nas suas compras.
3.2. Planeamento do trabalho de campo
Os momentos de observação etnográficos das famílias foram aquando das
suas idas às compras em super e hipermercados. Iniciávamos a nossa observação,
assim que entrássemos no espaço comercial, o pesquisador acompanhava, tirava
notas e fotografias, tentando estar o mais próximo das famílias afim de visualizar e
ouvir todos os momentos relevantes para o estudo em questão.
A marcação era apenas feita pelas famílias (local, hora e loja) quando estas
sentissem necessidade de efectuarem compras. Contudo, nem sempre acontecia,
obrigando o pesquisador constantemente a ligar às famílias a relembrar o estudo em
que estavam inseridas e a perguntar quando é que iriam às compras afim de poder
acompanhá-las.
As observações cingiram-se a estes momentos pelo facto de serem estes os
mais indicados para observar o momento primordial e espontâneo do manuseamento
dos produtos por par te das crianças.
Em relação à frequência da recolha de dados, no ponto de venda não foram
efectuadas recolhas diárias, uma vez que as famílias não fazem compras todos os dias.
Foram feitas observações, com registos e fotografias a várias famílias
durante as compras em supermercados e hipermercados. Compras estas, de caris
variado, pois tanto podiam ser de alimentos, livros, plantas, etc.
Efetuámos 15 observações durante as compras.
Daniela Faria nº 4521
31
A recolha dos dados foi levada a cabo por observação participante uma vez
que, segundo Sprandley (1980), ao juntarmo-nos à família como agente de consumo
em tarefas comuns como as compras no super mercado, observamos aspectos
específicos de cada situação recolhendo uma elevada informação.
De acordo com Sprandley (1980,) a recolha das informações começa com
observações descritivas gerais numa tentativa de traçar uma perspectiva. Depois de
registar e analisar as informações iniciais recolhidas, a pesquisa afunila-se
começando por fazer observações focalizadas e específicas.
O instrumento através do qual se registaram as observações foi o Diário de
Campo. Neste Diário, segundo Sprandley (1980), são anotados, da forma mais
pormenorizada possível os acontecimentos ocorridos em campo, assim como as
impressões subjetivas decorrentes destes acontecimentos. Ao registar-se impressões
subjetivas e sentimentos, deve-se ter o cuidado de fazê-lo de forma distinta dos
acontecimentos em si, para que possa haver uma avaliação posterior tanto dos
acontecimentos quanto dos sentimentos e impressões.
No Diário de Campo foram também registadas, observações teóricas, para
serem mais desenvolvidas ao longo da pesquisa. Geralmente, o Diário de Campo
resulta numa enorme quantidade de dados a serem analisados.
Após a pesquisa inicial e registo do diário de campo, o pesquisador regressa
aos dados e testa as reflexões e as análises, fazendo novas perguntas e, se necessário,
novas observações.
Posteriormente, a análise dos resultados da pesquisa etnográfica do Diário de
Campo, foi realizada através da análise de conteúdo, que define com descrição
objetiva, sistemática e quantitativa o conteúdo da observação. (Malhotra, 2006).
A análise de conteúdo é definida por Aaeker et al (2004) como uma técnica
especial para analisar material escrito. Na presente investigação, este resultou de um
registo objectivo e sistemático de procedimentos expressos pelos consumidores,
crianças e pais, por meio de regras cuidadosamente aplicadas. As unidades de análise
podem ser palavras, reacções, medidas de tempo do manuseamento do produto, essas
Daniela Faria nº 4521
32
descrições das acções foram agrupadas, desenvolvendo-se categorias analíticas para a
classificação destas unidades. Para Bauer (2004), a análise de conteúdo é um método
de análise de texto que culmina em descrições quantitativas de características do
corpo do texto, como por exemplo, número de vezes em que determinado tema é
referido. Desta forma, a análise de conteúdo faz uma ponte entre um formalismo
estatístico e a análise qualitativa dos materiais.
Recolha de dados no espaço comercial:
Questões a explorar:
Elencar os produtos em que as crianças têm uma maior intervenção
no processo de decisão de compra.
Identificar quais as características extrínsecas dos produtos que mais
atraem as crianças.
Perceber de que forma as crianças usam as características por eles
identificadas nos produtos para influenciar os pais.
3.3. Amostra e Procedimentos de Amostragem
Amostra em estudo é não probabilística, uma vez que representa-se a si
própria não se procurando com o estudo uma generalização, ou seja, não permite
estudar hipóteses nem dar tratamento estatístico, porém permite a descoberta de
alguns fenómenos ou até mesmo o fornecimento de informação para a compreensão
dos mesmos.
De acordo com Aaeker et al (1995) as amostras por conveniência podem ser
facilmente justificadas numa pesquisa exploratória, como uma base para a criação de
hipóteses e insights para pesquisas futuras, estando esta pesquisa canalizada nesse
sentido.
Daniela Faria nº 4521
33
O método utilizado para a recolha da amostra foi o de bola de neve em que,
segundo Goodman (1961), um individuo (neste caso uma pessoa próxima do
investigador), indica outras pessoas do seu relacionamento para participar na
amostra e assim sucessivamente, ficando salvaguardada a garantia de distanciação
afectiva entre o agregado familiar e o pesquisador.
Porém, para que as famílias pudessem participar no estudo era necessário
reunir alguns critérios:
Residirem nos concelhos próximos da cidade do Porto, para que
devido à proximidade com a segunda cidade mais importante do país,
Porto, esses concelhos sejam representativos de uma população com
características muito similares à das grandes cidades;
Efetuarem compras em conjunto, pais e filhos e cujos filhos, pelo
menos um, tivesse idade compreendida entre os 7 e os 12 anos;
Disponibilizarem-se para serem acompanhadas e autorizarem o
registo escrito e fotográfico dos procedimentos em observação.
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34
3.3.1. Caracterização da amostra
Quadro 1- caracterização das famílias
Idade Zona de residência Habilitações literárias Profissão
Família nº 1
Mãe (Isabel) 36
Vila do Conde
Mestrado Professora de Inglês
Pai (Luís) 38 Licenciatura Técnico de vendas
no sector automóvel
Filho (David) 8 2º ano Não se aplica
Filha (Nádia) 5 Não se aplica Não se aplica
Família nº 2
Mãe (Nazaré) 34
Vila do Conde
12ºano Administrativa
Filha (Mara) 11 6º ano Não se aplica
Filha (Márcia) 4 Não se aplica Não se aplica
Família nº 3
Mãe (Anabela) 36
Vila do Conde
Licenciada Educadora de
infância
Pai (Pedro) 37 Curso técnico Bancário
Filha (Maria João) 8 3º ano Não se aplica
Filha (Mariana) 29 Meses Não se aplica Não se aplica
Família nº 4
Mãe (Manuela) 42
Vila do Conde
12º ano Auxiliar no
Infantário D. Vitória
Pai (Lourenço) 45 7º ano Serralheiro
Filho (André) 16 11º ano Não se aplica
Filha 11 6º ano Não se aplica
Família nº 5
Mãe (Susana) 40
Leça da Palmeira
Licenciada Técnica de Formação
Pai (Pedro) 36 Licenciado Gestor
Filho (Tomás) 8 3º ano Não se aplica
Filha (Maria Miguel)
4 Meses Não se aplica Não se aplica
Família nº 6
Mãe (Margarida) 36
Vila do Conde
Licenciada Eng.ª. Civil
Pai (Pedro) 37 Licenciado Eng.º Civil
Filha (Mafalda) 7 1º ano Não se aplica
Filha (Francisca) 3 Não se aplica Não se aplica
Família nº 7
Mãe (Isabel) 42
Póvoa de Varzim
Licenciada Enfermeira
Pai (Ismael) 46 12º Ano Técnico de Instalações
elétricas
Filho (Pedro) 15 9º ano Não se aplica
Filho (Vasco) 10 5º ano Não se aplica
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3.4. Métodos e técnicas de análise dos dados
O processo de análise de dados qualitativos e interpretação não é um
procedimento simples mecânico, mas uma interpretação bastante complexa, cujo
método requer bastante criatividade e capacitação técnica, Valtonen (2006).
Conforme Susan Spiggle (1994), este método só produzirá insigts criativos com
um grande e sistemático trabalho de rotina, uma vez que a velocidade e urgência são
inimigos deste tipo de pesquisa. Citando Joost van Loon (2001: 281), in Valtonen
(2006) “It requires patience to be surprised”.
O tratamento dos dados, na vertente qualitativa, utilizou a técnica de análise de
conteúdo.
A análise de conteúdo “é o conjunto de técnicas de análise das comunicações,
visando obter, por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores que permitem a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção destas mensagens”,Bardin, (2004:42).
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4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Foram feitas observações, com registos e fotografias a sete famílias durante
as compras em supermercados e hipermercados. Compras estas, de caris variados.
Efetuámos 15 observações entre os dias 28 de Janeiro e 27 de Abril.
A descrição das observações não está na íntegra, estão referenciadas apenas
as situações mais importantes referentes às crianças.
Quadro nº2- Registo das observações da família nº1
Observações Atitudes e comportamentos
do David
Reacções dos pais
1ª Observação O David, após ver as
amêndoas em destaque
lembra-a que é necessário
comprar: _“ò mãe, não te
esqueças de comprar
amêndoas para dar!
Na zona da Padaria o David
pediu à mãe se podiam fazer
hambúrgueres no pão,
colocando o pão de
hambúrguer no carrinho.
O David escolheu o seu
champô, Ultra Suave da
Garnie, (é o Champô
habitual).
O David, pelo facto de
A mãe colocou 5 sacos de
amêndoas no carrinho das
compras.
A mãe permitiu
O pai deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe não permitiu,
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estarem na lista já queria
trazer duas embalagens de
bolachas cobertas de
No corredor dos cereais, o
David ficou indeciso sobre
quais os que havia de levar
mas rapidamente optou por
levar uns que já conhecia,
Golden Grahms com sabor a
canela.
O David escolheu os iogurtes
habituais, mas comentou que
deviam estar mais baratos
porque diziam “Super preço”!
Verificou o prazo de validade
e, como era longo, disse ao pai
que ia levar dois packs: “Pai!
os iogurtes dizem super preço!
Estão mais baratos… levamos
dois?”
O David lembrou à mãe que o
leite também estava na lista
de compra, mas o prazo de
validade era curto: “O prazo
está a acabar, levamos?
(compram leite do dia)
referindo que era só uma,
até mesmo porque a
embalagem tinha 5
pacotinhos que era para
os cinco dias que ia estar
em casa da avó, acabando
a mãe por permitir face à
insistência da irmã.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
O pai permitiu
A mãe optou por não
levar.
2ª Observação O David comprou pão A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
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38
rústico e um saco de
cacetinhos.
Comprou champô Ultra
Suave da Garnie dizendo
que já era normal ser
aquele.
Comprou pasta de dentes,
explicando que usa pasta
de dentes de adulto:
“Agora uso desta, já não
gasto a de crianças!”
Por indicação da mãe o
David foi buscar as coxas
de frango enquanto ela
via o resto da carne.
Porque estava na lista, o
David foi escolher maçãs
e peras, verificando os
vários preços, trazendo
ambos os produtos
embalados da marca “e´”
(os mais baratos).
O David foi buscar Activia
Smothies) e iogurte
líquido Mimosa.
O David pediu à mãe Tuc
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe no início não
autorizou mas com a
insistência do David
acabou por autorizar.
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Quadro nº3- Registo das observações da família nº2
Observações Atitudes e comportamentos
da Mara
Reações da mãe
1ª Observação A Mara pediu croissants
frescos mas embalados.
“Mãe, leva estas! (bolachas
cobertas de chocolate) posso
levar para a escola, estão em
saquinhos e têm poucas por
isso não engorda muito!”
A mãe não permitiu
A mãe leu… e concordou
em levar.
2ª Observação
A Mara ao pegar numas
bolachas de chocolate branco,
argumentava que “para além
de serem da marca Continente,
eram baratas e de leite!”… (As
bolachas não eram de leite,
mas sim de chocolate branco).
A Mara pediu brioches pré-
embalados para levarem para
a escola.
A Mara lembrou à mãe que
era preciso o spray para o
cabelo e foram à zona dos
produtos de higiene pessoal
procurar. A Mara ajudou a
mãe a escolher.
A mãe não permitiu.
A mãe permitiu.
A mãe aceitou a opinião.
Daniela Faria nº 4521
40
A Mara foi buscar iogurtes.
Não hesitou na escolha e
trouxe iogurtes marca
Modelo, de aromas.
A Mara foi buscar um saco de
laranjas e de maçãs. A fruta já
estava embalada (era a mais
barata)
A Mara, sem perguntar à mãe,
colocou no carrinho Kinder,
pelo facto de estes estarem
em destaque.
Mara foi procurar o azeite,
comentado que sabia que
tinha que escolher o mais
barato (trouxe marca “E”).
A Mara pediu à mãe sumos
individuais para levar para a
escola, trazendo da marca
Modelo.
Na caixa registadora a Mara
pediu pastilhas elásticas.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe ficou zangada e
ordenou que a Mara
retira-se o produto do
carrinho.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe autorizou e deu-lhe
autonomia de escolha.
A mãe não autorizou.
3ª Observação
A Mara foi à zona do pão
trazendo pão embalado que ia
colocando no carrinho das
compras.
A Mara depois de arrumar o
pão no lugar pegou numa
A mãe não autorizou.
A mãe viu, e não disse
nada.
Daniela Faria nº 4521
41
Quadro nº 4- Registo das observações da família nº3
Observações Atitudes e comportamentos
da Maria João
Reações da mãe
1ª Observação A Maria João escolheu uma
flor natural para dar à
madrinha, mas perguntou à
mãe se era caro.
A mãe autorizou
caixa de folhados de
chocolate e colocou-os no
carrinho.
A Mara pediu à mãe Donuts
que estavam num topo,
argumentado: “… Estão em
promoção! Vês?”
A Mara pediu à mãe cereais
argumentando: “não são caros
mãe! São da marca Dia… vá
lá!”
A Mara foi buscar Ice Tea,
marca Dia. (não comparou
preços)
A Mara pediu bolachas à mãe
argumentando que: “não
gosto de morangos mas gosto
dos doces de morangos, vá lá
mãe… não é caro, é da marca
Dia”.
A mãe não autorizou
A mãe autorizou
A mãe autorizou e deu-lhe
autonomia de escolha.
A mãe autorizou.
Daniela Faria nº 4521
42
A Maria João após ter
lembrado a mãe de que era
necessário comprar legumes
foi buscá-los.
A Maria João, foi buscar
iogurtes de aroma (indicação
da mãe) mas teve atenção ao
preço: “Levamos sempre os
mais baratos; são para juntar
ao leite na máquina…” e
verificou o prazo de validade.
Com autorização da mãe a
Maria João foi buscar Ice Tea:
“Quero Ice Tea de pêssego da
marca Pingo Doce porque é o
mais barato e bom!”
A Maria João foi ao linear das
massas, mas não trouxe as
habituais, porque não
chegava !!!
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe foi trocar pelas
habituais
2ª Observação
A Maria João foi buscar pão
de forma (o mais barato)
Pediu à mãe Filipinos
A Maria João escolheu cebolas
e Couve-flor
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe autorizou
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
3ª Observação A Maria João foi buscar pão A mãe deu-lhe autonomia
Daniela Faria nº 4521
43
de forma (marca mais barata)
A Maria João comprou alface
e numa caixa de morangos
A Maria João pediu à mãe
Nugets.
A Maria João pegou numa
embalagem de guardanapos e
colocou-a no carrinho.
Maria João foi buscar
cotonetes e soro fisiológico
para a irmã. Encontrou os
cotonetes mas o soro não.
Teve que ser a mãe a
procurar.
A Maria João pegou num pack
de iogurte de aromas da
marca Mimosa, viu o prazo de
validade e colocou no
carrinho.
de escolha
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A loja não tinha senão a
mãe dava.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
Quadro nº5- Registo das observações da família nº4
Observações Atitudes e comportamentos
da Rita
Reações da mãe
Daniela Faria nº 4521
44
1ª Observação A Rita comprou pão sem
indicação da mãe.
a Rita e a prima foram
escolher os cereais para o
pequeno-almoço.
A Rita, sem grande hesitação
pegou nos cereais Fitness
embora tenha comentado que
preferia os Chocapic só que
estava de dieta e a mãe não
deixava.
A Rita pediu lasanha à mãe. E
Foi buscar.
A Rita foi escolher sozinho
um champô para ela. Abriu
vários champôs para cheirar.
Quando gostou de um Herbal
Essences acabou por não o
trazer… pois não havia
amaciador com o mesmo
cheiro. (A Rita não escolhia o
champô pela adequação ao
tipo de cabelo,
Pelo caminho a Rita
comentou que faltava papel
higiénico e rolos de cozinha,
colocando-os imediatamente
no carrinho. (só havia uma
marca)
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
Escolha condicionada pela
mãe.
A mãe autorizou.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
2ª Observação
a Rita foi para o corredor de
higiene pessoal. Esteve a ver
os vários champôs mas
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
Daniela Faria nº 4521
45
acabou por não levar
nenhum.
A Rita foi comprar gel de
banho. Trouxe “Skino”; era o
mais barato. Posteriormente
foram comprar pasta de
dentes: trouxeram a Colgate
(a marca habitual).
a Rita escolheu as maçãs
sozinha.
A mãe, por aconselhamento
da Rita, trouxe farinha Branca
de Neve pois, segundo ela, ia
experimentar uma nova
recita: “não queremos arriscar
na qualidade e por isso
levamos esta”!
A Rita foi buscar feijão.
Trouxe da marca Pingo Doce.
Pelo caminho a Rita viu num
topo, Kinder Bueno em
promoção (pague dois leva 3)
e pediu argumentando que
estava muito mais barato
(1,99€) e que assim o irmão
também comia.
a Rita foi comprar iogurtes.
Trouxe iogurtes de aromas
marca Pingo Doce. (Não
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe acolheu a sugestão
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe no inicio não
concordou mas acabou
por levar.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
Daniela Faria nº 4521
46
esteve a comparar preços,
pegou de imediato)
Enquanto a mãe foi para a
caixa a Rita foi procurar
ervilhas. Trouxe da marca
Pingo Doce. (não comparou
preços, apenas perguntou à
mãe se eram aquelas)
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
3ª Observação
A Rita logo à entrada colocou
no carrinho uma baguete que
ainda estava quente.
Comprou Ice Tea, marca Lidl.
Comprou bananas, pegou
num saco de maçãs e, ao
fundo estava a charcutaria e
comida pré cozinhada
Também pegou numa lasanha
Comprou vários produtos de
mercearia, arroz, massa,
azeite, óleo todos da marca
Lidl. (comparou preços)
Comentou que era preciso
comprar atum mas só levava
duas porque têm um vale de
50% do Modelo e por isso
ficava muito mais barato: “...
não levamos muito atum
porque temos um vale a
descontar no Modelo de 50% e
A mãe advertiu-a mas
autorizou.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
Daniela Faria nº 4521
47
sai ainda mais barato, mas só
pode ser para a semana!”
Rita pediu se podia comprar
chocolate.
A Rita trouxe uma embalagem
de Kit Kat mini (contém
vários chocolates) dizendo
que assim também o irmão
não ficava a resmungar.
Estava na lista comprar
champô, mas a Rita lembrou à
mãe que havia algum, embora
não fosse muito, mas que
tinham um vale de desconto
do Modelo para o champô e
por isso era melhor esperar.
A Rita trouxe uma embalagem
de leite magro Mimosa (a
pedido da mãe) mas também
uma de leite achocolatado
(um pack de 3 pacotes).
A mãe resmungou
dizendo que estava a
comer muitos doces, mas
acabou por ceder.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha.
A mãe aceitou a decisão.
Compra condicionada
pela mãe.
Quadro nº6- Registo das observações da família nº5
Observações Atitudes e comportamentos
do Filipe
Reações dos pais
Daniela Faria nº 4521
48
1ª Observação O Filipe lembrava os pais de
alguns produtos a comprar
para a irmã; um deles foi uma
mola de suporte de chupetas.
o Filipe é que dizia quais os
produtos que faltavam (mas
apenas os dele) gel de banho
e champô (2 em 1) para
colocar na mochila da piscina,
champô para ter em casa, era
ele que também os escolhia
em função do cheiro.
À medida que os pais
escolhiam as frutas e os
legumes o Filipe ia pesá-los.
Não ligava aos preços.
O Filipe pegou no paio e
tentou ler “Paio York”, lia a
palavra Paio mas não
conseguia ler o resto… a mãe
leu York e o Filipe perguntou
o que era isso… ela respondeu
que era de Nova York. Ele
disse logo para levar...
O Filipe pegou numas
bolachas de chocolate que
estavam em destaque
(pareceu-me Oreo).
Eles acabaram por
comprar.
Os pais deram-lhe
autonomia de escolha.
Os pais deram-lhe
autonomia de escolha.
Rejeição da escolha
2ª Observação
O Filipe, a pedido do pai foi
comprar cebolas. Trouxe as
que estavam embaladas. Não
Autonomia de escolha
Daniela Faria nº 4521
49
ligou ao preço.
O Filipe pediu à mãe se podia
levar iogurtes Gregos da
Danone e que esse ia comer:
“Mãe gosto destes! … posso
levar os Gregos que eu
prometo que como.”
O Filipe foi comprar fiambre.
Ao pedir, a senhora
perguntou se “era da pá ou da
perna”. Ele não sabia
responder. Perguntou ao pai e
este disse que era da perna. O
Filipe comprou e não ligou ao
preço.
A mãe autorizou
Escolha condicionada
Quadro nº 7- Registo das observações da família nº6
Observações Atitudes e comportamentos
da Mafalda
Reações da mãe
1ª Observação A Mafalda queria comprar um
livro para oferecer e optou
por um que ela já tinha e
gostava bastante. Era um
livro que tinha cheiro a
baunilha.
Pediu à mãe se podia levar o
de cheiro a chocolate para
ela: “Mamã, posso levar o de
chocolate para mim? E
fazemos a coleção toda
A mãe aceitou
A mãe aceitou
Daniela Faria nº 4521
50
depois?
Por indicação da mãe a
Mafalda foi buscar
gurdanapos de folha dupla,
mas teve liberdade de escolha
quanto à marca. Acabando
por trazer marca Pingo Doce.
A pedido da Mãe a Mafalda
trouxe queijo.
A Mafalda pegou nas batatas
ligh e pediu à mãe se podia
levar, argumentando: “…as
batatas são as light, não têm
muita gordura posso levar?
Estas não fazem mal!”
A Mafalda no corredor das
bolachas foi buscar uma caixa
de Oreo. (estas bolachas
estavam em destaque).
Fazendo sinal ao pesquisador
para não dizer nada à mãe
colocou-as no carrinho.
A Mafalda por indicação da
mãe foi buscar bolachas das
Winks mas como não chegava
teve que pedir ajuda.
Autonomia na escolha da
marca
Escolha condicionada.
A mãe autorizou
Não houve reação
imediata da mãe porque
não viu. Na altura de
pagar autorizou.
Escolha orientada
Quadro nº8- Registo das observações da família nº7
Observações Atitudes e comportamentos Reacções dos pais
Daniela Faria nº 4521
51
do Vasco
1ª Observação Enquanto a mãe escolhia as
frutas o Vasco dava opinião.
O Vasco escolheu as escovas a
levar em função do preço. Viu
as escovas que tinham
desconto em cartão,
(Aquafres) viu as escovas que
tinham o dentífrico de oferta,
assim como as escovas
Colgate 2+1 grátis. Optou por
levar as últimas porque: “ levo
as que uso habitualmente,
estas (Aquafres) são muito
caras e a mãe não me deixa
levar, e as que têm a pasta de
dentes de oferta também não
levo porque tinha que comprar
duas escovas e depois tenho
que levar duas pastas…!”
O Vasco teimou em levar um
detergente da loiça novo com
cheiro tropical: “gosto deste, o
cheiro é diferente!”
A pedido da mãe o Vasco foi
comprar sal para a máquina
da loiça, contudo sem
advertência da mãe, o Vasco
comparou os preços e as
quantidades, acabando por
trazer o produto com o preço
Quase total liberdade na
escolha
Embora a mãe quisesse
levar o detergente
habitual aceitou a escolha
do Vasco.
A mãe deu-lhe autonomia
de escolha da marca.
Daniela Faria nº 4521
52
mais baixo, marca Modelo.
O Vasco comentou que,
embora não estivessem na
lista, as bolachas Maria
estavam a acabar e adiantou-
se a ir buscar. Pegou nas
bolachas de marca
Continente, mas viu que havia
umas com o preço mais
reduzido, e perguntou à mãe:
“…as do Continente são mais
caras que as “E” quais
levamos? As mais baratas?”
O Vasco foi comprar Nestum e
pegou na embalagem de
300g. Reparou que também
havia de 750g e que (o pai
esteve a fazer as contas a
pedido do Vasco) saía
ligeiramente mais barato
acabando por trazer.
A mãe concordou em
levar as mais baratas
Liberdade de escolha
4.1. Análise de conteúdo
Após as observações, foram criadas categorias de acordo com o número de
frequências em que as informações foram referenciadas como um factor de influência
na escolha do produto e persuasão dos pais.
Quadro nº9- Categorias de análise de informação
Atitudes e comportamentos das crianças
Daniela Faria nº 4521
53
Categorias de
Análise de
informação
David
(8 anos)
Mara
(11 anos)
Maria João
(8 anos) Rita (11
anos) Filipe (8
anos) Mafalda
(7 anos) Vasco (10
anos)
Preço
(19
ocorrências)
-“Pai! os
iogurtes
dizem super
preço!
Estão mais
baratos…
levamos
dois?”
- O David
trouxe
maçãs e
peras
marca
“e”,as mais
baratas,
depois de
ter
comparado
os preços.
-“os produtos,
são mais
baratos e bons
na mesma”.
-...“para além
de serem da
marca -
Continente, são
baratas e são
de leite!”…
-...trouxe
iogurtes marca
Modelo de
aromas.
-A Mara trouxe
um saco de
maçãs e
laranjas das
mais baratas já
embaladas.
-Mara foi
procurar o
azeite (marca
E), comentou
que sabia que
tinha que
escolher o
mais barato.
“não são caras
Ao
escolher
um vaso
para dar à
madrinha
perguntou
à mãe se
não estava
caro!
“Levamos
sempre os
mais
baratos
(iogurtes)
são para
juntar ao
leite na
máquina…”
Trouxe gel
de banho
“Skino”, era
o mais
barato.
a Rita foi
buscar
feijão.
Trouxe da
marca
Pingo Doce.
(mais
barato)
A Rita viu
num topo
Kinder
Bueno em
promoção
(pague dois
leva 3) e
pediu à
mãe,
argumentou
que estava
muito mais
barato
(1,99€).
“ levo as
escovas
Colgate 2+1
porque são as
que uso
habitualmente,
estas
(Aquafres) são
muito caras e a
mãe não me
deixa levar, e
as que têm a
pasta de
dentes de
oferta também
não levo
porque tinha
que comprar
duas escovas e
depois tenho
que levar duas
pastas…!”
Comparou os
preços e as
quantidades,
acabando por
trazer o
produto com o
preço mais
baixo.
- “…as
bolachas do
Continente são
mais caras que
Daniela Faria nº 4521
54
(bolachas)
mãe! São da
marca Dia… vá
lá!”.
“Quero Ice Tea
de pêssego da
marca Pingo
Doce porque é
o mais barato e
bom!”.
as “E” quais
levamos? As
mais baratas?”
Quando foi
comprar
Nestum de
300g, reparou
que também
havia de 750g
e que saía
ligeiramente
mais barato,
optando por
levá-lo.
Promoções
(3 ocorrências)
“os iogurtes
dizem super
preço!”
No corredor
estava um topo
com Donuts.
As duas filhas
pediram à mãe
para levar,
argumentando:
“… Estão em
promoção!
Vês?”
A Rita viu
num topo
Kinder
Bueno em
promoção
(pague dois
leva 3) e
pediu à
mãe,
argumentou
que estava
muito mais
barato
(1,99€).
Inf. Nutricional
(2 ocorrências)
“para além de
serem da
marca
Continente, são
baratas e são
de leite!”
”…as
batatas são
as light,
não têm
muita
gordura
posso
levar?
Estas não
fazem
mal!”
Informação da
validade do
produto
“-O prazo
(do leite do
dia) está a
-A Maria
João
verificou o
Daniela Faria nº 4521
55
(3 ocorrências) acabar,
levámos?”
prazo de
validade
dos
iogurtes
Pegou num
pack de
iogurte de
aromas da
marca
Mimosa,
viu o prazo
de validade
Características
Intrínsecas do
produto (sabor,
textura, cheiro
(5 ocorrências)
Escolheu
Golden
Grahms
pelo sabor
a canela
A Rita não
escolhia o
champô
pela
adequação
ao tipo de
cabelo, mas
apenas pelo
cheiro!
Dizia aos
pais quais
os
champôs
que queria
ver, estes,
tiravam os
produtos
do linear,
dava-nos a
cheirar e
ele dizia se
gostava ou
não.
Optou por
um que
tinha
cheiro a
baunilha e
outro com
cheiro a
chocolate:
“Mamã,
posso levar
o de
chocolate
para mim?
E fazemos
a coleção
toda
depois?”
O Vasco
teimou em
levar um
detergente da
loiça novo com
cheiro
tropical:
“gosto deste, o
cheiro é
diferente!”
Embalagem:
funcionalidade
(1 ocorrência)
“Mãe, leva
estas! … posso
levar para a
escola, estão
em saquinhos e
têm poucas por
isso não
engorda
muito!”
Produto em
destaque
(3 ocorrências )
Estavam
pastilhas
elásticas no
expositor junto
Pediu
bolachas
Oreo que
estavam
Colocou
bolachas
Oreo sem
pedir à
Daniela Faria nº 4521
56
às caixas
registadoras, a
Mara pediu se
a mãe
comprava
em
destaque
ao pai
mãe. As
bolachas
estavam
em
destaque.
A categoria preço foi a que mais se evidenciou durante as observações de
compra. Surpreendeu-nos a sua emergência até porque nos estudos consultados ela
não surgiu como objecto de análise.
Interessante é verificarmos que nesta faixa etária, ainda muito jovem, 7-12
anos a preocupação com o preço/ gestão orçamental assume relevância para as
crianças. São diversas as situações em que as crianças tentam e conseguem persuadir
os pais quer a comprar os produtos que desejam: “Quero Ice Tea de pêssego da marca
Pingo Doce porque é o mais barato e bom!”. (Mara, 11 anos), quer a auxiliá-los na
gestão orçamental no que se refere a promoções “... Não levamos muito atum porque
temos um vale a descontar no Modelo de 50% e sai ainda mais barato, mas só pode ser
para a semana!” (Rita, 11 anos); “Pai! os iogurtes dizem super preço! Estão mais
baratos… levamos dois?” (David 8 anos). Relacionado com o preço também estão
bastantes observações em que as crianças fazem referência às marcas próprias: “não
são caros, mãe! São da marca Dia… vá lá!” (Mara, 11 anos), mesmo até quando vão
comprar produtos não só para consumo individual mas também para toda a família
tal como fruta (previamente embalada), artigos de mercearia.
Um procedimento que retrata muito bem a preocupação geral das crianças na
gestão do orçamento familiar, foi quando o Vasco de dez anos teve a preocupação de
levar bolachas Maria Marca Continente (supondo que era as mais baratas por serem
marca própria), mas logo de seguida vê umas ainda com preço mais reduzido,
perguntando aos pais quais as que deveria levar: - “…as do Continente são mais caras
que as “E” quais levamos? As mais baratas?”. Também observámos outros momentos,
em que as crianças escolhem os produtos em função do valor, optando pelos mais
económicos: “levo as escovas Colgate 2+1 porque são as que uso habitualmente, estas
Daniela Faria nº 4521
57
(Aquafres) são muito caras e a mãe não me deixa levar, e as que têm a pasta de dentes
de oferta também não levo porque tinha que comprar duas escovas e depois tenho que
levar duas pastas…!”. Outra ocasião foi quando o Vasco, a pedido da mãe, foi escolher o
sal para a máquina da loiça: comparou os preços e trouxe o que tinha o preço mais
baixo.
Por variadíssimas vezes constatámos que as crianças procuram produtos de
marca própria mesmo sem indicação dos pais, e utilizam o argumento que os
produtos que querem são de marca própria, partindo do princípio que são os mais
baratos para persuadir os pais a comprar os produtos pretendidos -“...não são caros,
mãe! São da marca Dia… vá lá!” (Mara, 11 anos); - “Quero Ice Tea de pêssego da marca
Pingo Doce porque é o mais barato e bom!” (Mara, 11 anos).
Um outro factor de relevância para análise é que a maioria das promoções
que mais suscita a atenção das crianças, são as que estão mais uma vez relacionadas
com o preço, levando-as a persuadir os pais com o argumento que vale a pena
comprar os produtos porque estão mais baratos. Quando por exemplo a Rita viu num
topo Kinder Bueno em promoção (pague dois leva 3) e pediu à mãe, argumentando de
que estava muito mais barato (1,99€).
A categoria promoção, tem alguma relevância na persuasão dos pais pelas
das crianças, sendo que, neste estudo, na maioria dos casos, as promoções que
suscitam a atenção estão diretamente relacionadas com o preço, ou com mais
produtos pelo mesmo valor (caso do Nestum).
Os produtos em destaque, embora houvessem bastantes nos pontos de
venda, não surtiramefeito nas crianças, embora tenham ocorrido algumas situações:
Por exemplo a Mafalda (7 anos) ao ver as bolachas Oreo em destaque colocou-as no
carrinho sem que a mãe se apercebesse, assim como o Filipe (8 anos) exatamente
com o mesmo produto. Com a Mara (11 anos) o produto que lhe suscitou interesse
foram as pastilhas elásticas junto das caixas registadoras.
No que diz respeito à categoria da informação nutricional, pouco há a
referir das observações. Nas compras existem apenas duas referências em que uma
Daniela Faria nº 4521
58
das crianças (Mara, 11 anos), tenta persuadir a mãe a comprar bolachas de chocolate
branco, dizendo que era bolachas de leite “para além de serem da marca Continente,
são baratas e são de leite!”, (referindo mais uma vez que também são de marca
própria). Um outro caso é com a Mafalda de sete anos que para convencer a mãe a
comprar batatas fritas refere que as batatas são light significando que têm menos
gordura logo não fazem mal: “…as batatas são as light, não têm muita gordura posso
levar? Estas não fazem mal!”.
Uma outra categoria em análise é a informação na embalagem, mais
especificamente o prazo de validade. Esta categoria foi referida algumas vezes mas
apenas em duas crianças, a Maria João de oito anos e o David também de oito anos.
Interessante é verificarmos que em mais nenhum caso essa informação do
prazo de validade, suscitou interesse nas crianças em verificá-la.
A escolha dos produtos em função das suas características intrínsecas é
uma categoria que por diversas vezes foi observada. As crianças, na maioria das
vezes, escolhiam os produtos, em especial produtos de higiene pessoal, para uso
próprio em função do cheiro. Por exemplo a Rita não escolhia o champô pela
adequação ao tipo de cabelo mas apenas pelo cheiro, ou o Filipe que pedia aos pais
para lhe darem os diferentes champôs a cheirar para escolher.
Também existem outras observações de escolhas relacionadas com a
categoria características do produto: a Mafalda que escolhe um livro para dar de
presente não apenas pelo conteúdo, mas pelo aroma que ele deita, e escolhe outro
para ela pedindo à mãe para fazer a coleção “Mamã, posso levar o de chocolate para
mim? E fazemos a coleção toda depois?”; e o Vasco que pede à mãe que leve um
detergente para lavar a loiça com cheiro diferente porque gosta de experimentar
cheiros novos!
Referente à categoria embalagem, a funcionalidade é a principal referência e
preocupação predominantemente por parte dos pais. Contudo, relacionada com a
embalagem, houve uma observação em que a Mara de 11 anos teve o cuidado de
escolher as bolachas em pacotinhos para as levar para a escola. Certo é que a
Daniela Faria nº 4521
59
justificação da Mara não é tanto pela funcionalidade, mas mais pelo controlo que os
“pacotinhos” tinham nela, ou seja pelo facto de haver poucas bolachas nos pacotes ela
iria comer também poucas bolachas: “Mãe, leva estas!… posso levar para a escola,
estão em saquinhos e têm poucas por isso não engorda muito!” utilizando esse
argumento para convencer a mãe. Esse argumento faz sentido, tendo em conta que no
final de uma das observações, a Mara comeu sozinho um pacote inteiro num curto
espaço de tempo.
Daniela Faria nº 4521
60
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1. Preço
Segundo John (1999), crianças desenvolvem dois tipos de conhecimentos
acerca dos preços: em primeiro lugar reconhecem que os preços estão presentes no
mercado de consumo, ou seja, sabem que os produtos têm preços e sabem onde
procurar informação sobre esses preços; posteriormente começam a associar os
preços ao valor dos produtos, e conseguem saber quanto custam determinados itens,
começando pelos itens de compra mais frequente, e alargando progressivamente esse
leque de produtos .
MacNeal (1992), no seu estudo com desenhos, com crianças do 2º ao 4º ano,
encontrou 40% dos desenhos com referências a marcas, contra apenas 10% de
referências a preços. Contudo nesta pesquisa, o preço é a categoria de excelência
utilizada pelas crianças nas nossas observações como factor de persuasão dos pais.
Este é um dado bastante interessante tendo em consideração que após uma exaustiva
investigação verificou-se uma escassez de informação desta categoria como fator de
influência utilizado diretamente pelas crianças.
Não é de estranhar que a preocupação dos adultos com o preço a pagar pelos
produtos seja um factor de destaque, porém em crianças tão novas é um dado
bastante relevante traduzindo a preocupação das mesmas pelos preços. Essa
preocupação poderá ser devida à influência exercida quer pelos pais, quer pela
própria sociedade, comunicação social, escola, amigos etc. Dada a situação económica
que o país atravessa.
Essa grande influência possivelmente exercida pelos pais, poderá ser
explicada se acordo com Karsaklian (2008) uma vez que a forte ligação da criança
com os pais, é de extrema importância na influência da decisão de compra. O
comportamento é frequentemente afectado por aqueles com quem nos associamos
estreitamente.
Daniela Faria nº 4521
61
5.2. Promoções
A categoria promoção também registou bastantes ocorrências. Estando estas
promoções muitas vezes ligadas à preocupação com “a poupança”. Uma vez que
existem duas situações, ou seja a promoção relacionada com a redução de preço e a
promoção associada à oferta de mais produto, assim sendo, as promoções foram por
diversas vezes utilizadas pelas crianças nas persuasões dos pais. Esta categoria em
análise, vai ao encontro do estudo realizado por Norgaard (2007) uma vez que as
promoções estão diretamente relacionadas com os factores que influenciam o
processo de compra. De acordo com Lindon et al (1999,389), “a promoção consiste em
associar a um produto uma vantagem que se destina a facilitar ou a estimular a sua
utilização, a sua compra e/ou distribuição”. Assim sendo, a promoção é entendida
pelas crianças como uma razão justificativa de compra e persuasão, estando esta na
maioria dos casos associada a produtos tidos como “pouco saudáveis” como os Donuts
ou o Kinder Bueno, embora também haja nos iogurtes. Esta observação, corrobora um
estudo de Muratore (1999) em que este refere que as crianças tendem a influenciar
os pais não somente nas promoções em que existe uma oferta de um presente ou de
um jogo, o que nas nossas observações não se verificou, mas também nas promoções
do tipo de redução do preço ou oferta de mais produto, sendo estas as de grande
destaque.
É surpreendente verificar mais uma vez a importância e o interesse das
crianças em ajudar os pais a economizar nas compras.
Certo é que as crianças crescem e tornam-se adolescentes, ganhando mais
conhecimentos dos produtos e paralelamente com o aumento do seu
desenvolvimento cognitivo demonstram desde logo mais sensibilidade para os
conceitos económicos (Piaget, 1993).
Daniela Faria nº 4521
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5.3. Informação nutricional
A categoria informação nutricional, segundo um Josion M. (2001) num estudo
exploratório1 refere que as crianças (condicionadas a um local limitado), quando
questionadas sobre determinados produtos e suas informações, nem sempre
conseguem perceber qual a informação nutricional que a embalagem transmite, não
sendo esta um motor importante na influência de compra dos produtos.
No nosso estudo, e porque as crianças não estão condicionadas a produtos
específicos nem a locais limitados, ou seja as crianças estão no local natural de
compras e sujeitas a diferentes estímulos, simplesmente não escolhem os produtos
pelas suas características nutricionais, nem tão pouco se interessam procurar em lê-
las até mesmo porque Kotler et al (2000), refere que a embalagem é um dos meios
utilizados por marcas de crianças para comunicar sobre nutrição, através de
alegações nutricionais, fornecimento de informações relativas aos ingredientes do
produto, bem como aconselhamento nutricional.
Este poderia porventura ser um fator decisório na compra. Tendo em conta
que os níveis de obesidade infantil estão a aumentar, designando-se mesmo por
“epidemia” a informação nutricional poderia suscitar algum interesse uma vez que
actualmente nas escolas decorre um programa desenvolvido pela ARS Norte em
parceria com a DREN (Direção Regional Educação Norte) que se designa por “PASSE”
Programa Alimentação Saudável em Saúde Escolar.
5.4. Validade do produto
As observações referentes à categoria validade do produto, poderão dever-se
ao facto de na Área Curricular Estudo do Meio do segundo ano de escolaridade do
ensino público, ser dada importância à verificação dos prazos de validade dos
produtos. O David estava no segundo ano durante as observações e a Maria João já no
1 Realizado a 6 de Abril de 2011 na Casa da Música - Porto (Children, packaging and on-pack nutritional information: an exploratory study.
Daniela Faria nº 4521
63
terceiro. Contudo não foi uma categoria com grande relevância para o estudo assim
como as características intrínsecas do produto.
5.5. Características intrínsecas do produto
Verificamos que a grande maioria das situações que as crianças faziam
referência às características intrínsecas do produto estavam relacionadas com o
cheiro, e interessante foi verificar que essas características não estavam intimamente
ligadas à funcionalidade do produto. Vejamos: a Mafalda pede o livro à mãe não pelo
prazer da leitura ou até pelas gravuras, mas pelo odor que ele inala; os champôs
foram escolhidos por duas crianças diferentes não pelas características que eles
continham para a sua funcionalidade, mas sim pelo cheio; o Vasco insistiu com a mãe
para esta levar um determinado detergente da loiça pela novidade do cheiro e não
pela eficácia da limpeza. Estas características estão ligadas aos sistemas sensoriais e
na sua grande maioria ao odor.
Os odores “podem despertar emoções ou criar uma sensação de tranquilidade.
Podem invocar recordações ou aliviar o stress. (...) as nossas reações a aromas resultam
de associações iniciais que invocam sensações boas ou más.” (Solomon, 2007).
“O odor é processado pelo nosso sistema límbico, a parte mais primitiva do
cérebro e o lugar aonde as nossas emoções imediatas são vivenciadas” (Idem).
Assim sendo não será de estranhar que as crianças tenham maior atenção aos
estímulos sensoriais mais especificamente ao olfacto que pode criar emoção e
despertara a sensação de tranquilidade. A Mafalda ao optar pelo livro com cheiro a
chocolate e outro com cheiro a baunilha deve-se à satisfação e à emoção processado
pelo sistema límbico.
Não podemos deixar de referir que categoria da informação da embalagem,
cruzada com a categoria característica do produto, dá-nos uma informação muito
interessante: é que, embora os champôs tenham a informação na embalagem sobre as
especificidades para cada tipo de cabelo, as crianças não ligam a essa informação, mas
sim ao cheiro que é uma característica intrínseca do produto.
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5.6. Embalagem e funcionalidade
Embora Pontes et al (2009) refira que as empresas cada vez mais se
empenham em inovar e renovar as embalagens atendendo às necessidades de
procura e McNeal e Ji (2003) corroborem da mesma opinião referindo que a
embalagem é o “vendedor silencioso” sendo a funcionalidade um fator de decisão de
compra das crianças, tendo em consideração o transporte e o local de consumo, esta
categoria foi praticamente inutilizada como factor de persuasão, ocorreu apenas uma
situação e a criança (Mara 11 anos) não refere a funcionalidade da embalagem como a
facilidade de transporte e o local de consumo mas apenas pelo facto de as bolachas ao
estarem doseadas acabava por limitá-la positivamente no seu consumo, uma vez que
se tratava de bolachas.
5.7. Produto em destaque
Foi interessante verificar-mos, embora as crianças tenham estado expostas a
imensas situações de destaque do produto, somente ocorreram três situações em que
as crianças quiseram e pediram ou colocaram sem pedir o produto por este estar
destacado.
Em suma, verificamos que ao longo das várias observações os pais ouvem e
acatam muito a opinião dos filhos; aliás delegam algumas compras para o consumo
familiar. Esse facto vai ao encontro de Sutherland; Thompson (2003) que refere que
os pais modernos acreditam que é importante ouvir os filhos, ponderando contudo a
opinião da criança em relação à importância da decisão.
Outro facto que embora não tenha sido constituído como categoria é a
elevada tendência que as crianças têm em comprar produtos de marca própria.
Segundo AC Nielsen (2010) o consumo de marcas próprias em Portugal tem
crescido exponencialmente ao longo dos últimos anos. De acordo com Mullick-
Kanwar (2010), a definição de marca própria tem evoluído significativamente ao
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longo do tempo. Tradicionalmente, definem-se como produtos de marca própria o
conjunto de artigos genéricos comercializados sobre a alçada da insígnia que as
distribui e que competem com as marcas de fabricante através da sua proposta de
boa relação entre preço e qualidade, conseguindo os produtos de marca própria na
sua maioria ter um preço inferior aos das marcas de fabricante. Cada vez mais os
consumidores estão a fidelizar-se a estas marcas, muito embora a sua notoriedade
ainda não seja tão forte como as marcas de fabricante (Pinto, 2010).
Com a inflação a aumentar, os salários reais a descer, o aumento dos
impostos e dos preços dos bens alimentares, o poder de compra das famílias tem
vindo a diminuir (Faria A., 2008) as famílias estão a optar por alternativas de
consumo mais económicas, comprando produtos de marca própria. Por esse motivo,
como já referido anteriormente, de acordo com Karsaklian (2008) as crianças sofrem
uma grande influência exercida pelos pais aquando o processo de decisão de compra.
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CONCLUSÃO
Este trabalho reforça a conclusão de que cada vez mais a criança se vem
afirmando como um forte ator de consumo pela influência que exerce sobre o adulto.
A influência deste grupo etário 7-12 anos na compra, ultrapassa os produtos
de consumo pessoal estendendo-se a outros produtos de consumo familiar.
Surpreendentemente, não ressalta do comportamento das crianças uma distensão
exagerada para produtos fora da esfera do consumo habitual das famílias. Por certo,
não será alheia a este facto a situação económica que o país atravessa e que, por
certamente, comentada no seio familiar vem sendo interiorizada pela criança. Tal
facto foi de extrema importância dado o número de observações relacionadas com o
factor preço, quer na preocupação da gestão orçamental desde a escolha de produtos
de marca própria, quer na argumentação do pedido aos pais de determinados
produtos.
É evidente, nestas observações, a flexibilidade dos adultos para aceitarem a
argumentação da criança, tendo em vista a persuasão do adulto para a aquisição do
produto que lhe interessa.
Surpreendeu-nos, ainda, a autonomia dada à criança pelo adulto, permitindo-
lhe ter iniciativa de procurar produtos em lista ou sugerir outros, o que se verificou
com mais frequência nas crianças mais velhas. Observou-se em diversas situações
que as crianças não só eram detentoras de autonomia de escolha como da precepção
da falha de produtos em casa, principalmente no que se refere a frutas e legumes.
Fica-nos a convicção de que esta problemática merece uma continuidade de
investigação que a aprofunde, não só pelos seus resultados, como também tendo em
conta algumas limitações identificadas, por exemplo, desconhecemos se as crianças
teriam sido industriadas pelos pais a terem contenção nos comportamentos aquando
das observações. Uma outra limitação foi a de, embora as famílias se terem
comprometido no início a, pelo menos, três observações, nem todas, ao longo do
processo de recolha de dados se disponibilizaram para as três ou mais observações.
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Deparamo-nos ainda com alguma relutância por parte da gestão dos espaços
comerciais no consentimento de desenvolvermos a nossa investigação no interior do
espaço loja.
Não obstante reconhecermos o âmbito limitado em que se desenvolveu este
trabalho, consideramos que os seus resultados são de interesse para posteriores
desenvolvimentos.
Não esteve nos objectivos desta dissertação a consecução de um trabalho
globalizador da problemática em questão. A sua pretensão foi somente descortinar
num processo exploratório campos de análise suscetíveis de suportarem
investigações de maior folgo. Assim, nele não estão contidas algumas vertentes
necessárias a uma investigação mais profunda a saber:
Correlacionamento do procedimento argumentativo do consumidor
infanto-juvenil face ao adulto, considerando:
a) Extrato social familiar.
b) Contextos regionais.
c) Educação da criança para o consumo em contexto familiar e
institucional escolar.
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Pedido de autorização para acompanhar as famílias durante as compras
e tirar fotografias às crianças das famílias em estudo.
Vimos por este meio solicitar a autorização para acompanhar-vos durante as
compras assim como tirar fotografias às crianças.
Este estudo enquadra-se na dissertação de Mestrado em Comportamento do
Consumidor do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM) e tem por
objectivo identificar quais os factores determinantes na escolha de produtos pelas
crianças e sua influência na opção de compra pelo adulto.
As observações decorrerão entre Janeiro e Abril, sendo o local de compra e
observação escolhido pelas famílias.
Os dados das observações e respetivas fotografias serão tratadas com total
confidencialidade e só serão utilizadas no âmbito deste estudo.
As famílias serão identificadas por números e os nomes que constarão na
dissertação serão fictícios.
Assim sendo, agradecemos desde já a vossa disponibilidade e pedimos uma
rubrica como prova de autorização.
Com os melhores cumprimentos,
Janeiro, 2012
Daniela Pinheiro dos Reis Faria
(Aluna do Mestrado)