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UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DE FEIRA DE SANTANA COMUNICAÇÃO SOCIAL DELMER VINICIUS DA SILVA LISBOA DISNEY O PEQUENO PASSO À ALIENAÇÃO DO HOMEM GRANDE

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UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DE FEIRA DE SANTANACOMUNICAÇÃO SOCIAL

DELMER VINICIUS DA SILVA LISBOA

DISNEYO PEQUENO PASSO À ALIENAÇÃO DO HOMEM GRANDE

Feira de Santana2012

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DELMER VINICIUS DA SILVA LISBOA

DISNEYO PEQUENO PASSO À ALIENAÇÃO DO HOMEM GRANDE

Ensaio apresentado à disciplina Teorias da Comunicação, do Curso Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda, Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana, como requisito parcial para aprovação no semestre 2012.1.

Professor(a): Profa. Dra. Rosane Vieira

Feira de Santana2012

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DISNEY: O PEQUENO PASSO À ALIENAÇÃO DO HOMEM GRANDE

Autor: Delmer Vinicius da Silva Lisboa¹

Resumo:

Este ensaio consiste em problematizar a temática da indústria cultural infantil, especificamente a

Disney, como tal indústria e mostrar um processo bastante utilizado por esta empresa, chamado de

reciclagem de frames segundo o ponto de vista da escola de Frankfurt. Ele mostra de forma imparcial

a manipulação que as crianças sofrem cotidianamente e a que são, por vezes, conduzidas a fazer diante

das suas situações de vivência. Conclui-se que a sociedade se torna alienada pela forma, não só, mas

também, que a Disney conduz seus roteiros e a mesmice dos seus episódios e filmes. Este ensaio se

dirige a alunos de qualquer nível acadêmico, professores, pais e jovens com interesses de

esclarecimento sobre alguns dos pontos negativos desta potencia mundial em entretenimento infantil.

Sua abordagem é bastante dinâmica e compreensível, não se tornando uma leitura complexa e não

muito exigente de conhecimento prévio, está recomendada também a qualquer pessoa que desperte

interesse sobre o assunto.

Palavras-chave: Massificação. Frames. Disney. Alienação. Indústria.

Introdução

Com a tecnização dos meios culturais passou-se a difundir cultura com o simples propósito de

obtenção de fins lucrativos. A quebra da originalidade e a degradação da aura da obra de arte

dão lugar ao crescimento a industrialização da cultura, a chamada cultura de massa. Esse

procedimento traz inúmeros malefícios a sociedade quanto à um bem comum. A alienação do

homem para com o homem, a degradação do intelecto humano, a quebra do ser natural em

condição humana, além do óbvio empobrecimento cultural da sociedade. Meu objeto de

estudo neste ensaio é a grande empresa de entretenimento infantil, a Disney, que está presente

em todos os países do mundo com uma força exorbitante sobre as crianças de todas as partes.

A magia gerada por tal empresa, causa todos os malefícios anteriormente citados, mas de

modo mais brutal e inconsciente nas crianças, por não terem um mínimo discernimento de

interpretação do que veem, além das formas subliminares como as cenas se apresentam no

intelecto destas. Estas crianças, por sua vez, são as futuras criaturas pertencentes do meio

social capitalista, que através do senso comum reproduzem informações impostas em suas

mentes imaturas e dão cada vez mais espaço para o crescimento da indústria de miséria

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cultural da modernidade. É com este intuito que viso o esclarecimento do leitor para que não

se deixe enganar pela magia do projeto alienação da Disney.

Disney

A Walt Disney Company, empresa que tem início das atividades no ano de 1923, é a mais

conhecida empresa de entretenimento infantil do mundo. Fundada pelos irmãos Walt e Roy

Disney se tornou uma das maiores indústrias culturais de Hollywood, vindo a ser conhecida e

possuindo sedes em todo o território mundial. Atualmente comanda através do seu quartel-

general os estúdios de filmes  Walt Disney Pictures, Touchstone Pictures, Disneynature,

Pixar, além das emissoras de TV  American Broadcasting Company, Disney

Channel o Disney XD e a família de canais de esporte ESPN.

A pesar de toda esta abrangência de conteúdo, a Disney se mantém exposta pelos principais

objetos de trabalho, que são os desenhos animados. Muitos dos seus personagens estão

estampados em campanhas publicitárias e revistas ou são usados em recepções infantis de

qualquer espécie, isto por que a força da empresa é tão grande que o efeito psicológico nas

crianças é de magia instantânea e absoluta. Pessoalmente nunca encontrei uma criança que

não demonstrasse se sentir energizada pela magia desta empresa. Mas existem muitas

controvérsias em toda essa magia. Com o advento da tecnologia muitas pessoas passaram,

curiosamente, a bisbilhotar o outro lado da toda poderosa. Mensagens sobre sexualidade e

homossexualidade subliminares, além das incógnitas nunca resolvidas e que sempre se leva e

traz de volta a discusão a respeito destes fenômenos.

Mais a frente vamos problematizar um dos conceitos de produção desta empresa que visa

além de usar uma formula pré-pronta de movimentações dos personagens criados para atrair o

público infantil, como também a redução de custos de produção com um custo elevado de

repasse para o consumidor final. Este conceito de produção se chama, vulgarmente falando,

Reciclagem de Frame ou Reciclagem de Quadros.

Frames

Frame é um termo em inglês que quer dizer quadro. Uma câmera filmadora capta vários

frames por segundo, ou seja, vários quadros por segundo para que tenhamos sensação de

movimento. Basicamente os vídeos são um conjunto de fotografias captadas em sequência e

quando essas fotografias são passadas em alta velocidade vemos reproduzido na tela o

movimento dos personagens. O padrão mínimo para se ter a sensação de movimento é de

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22fps ou 22 frames por segundo, porém este padrão é variável de acordo com a necessidade

do uso do cinegrafista, diretor ou cartunista para que haja variação de qualidade, podendo se

chegar à 5000fps ou mais. Quanto maior a quantidade de quadros captados em um segundo,

maior a qualidade da reprodução, maior a sensação de movimento e desta forma cria-se a

possibilidade de várias técnicas de reprodução deste uma menos importante que é a aceleração

até a quase total desaceleração. Esta técnica de desaceleração é chamada Slowmotion, técnica

bastante usada em transmissões esportivas, pois destaca em câmera super lenta os

movimentos dos atletas trazendo imagens impressionantes ao telespectador que humanamente

está impossibilitado de obter tais detalhes a olho nu.

Nos antigos desenhos animados este processo que vou chamar de “frameficação” era

construído através de desenhos manuais feitos em papéis comuns e posteriormente scaneados

e reproduzidos em película cinematográfica. A primeira manifestação dessa técnica, que se

tem conhecimento, foi em 1829, inventada pelo físico Joseph Plateau com intuito de

demonstrar sua teoria de Persistência da Retina. Este aparelho consistia em um disco com

vários desenhos iguais, porém em posições diferentes. O disco quando girado, através de um

aparelho de leitura, tinha-se a sensação de movimento. 70 anos depois  James Stuart Blackton

fotografou 3 mil desenhos em diferentes posições em sequência e criou o primeiro desenho

animado da historia, Humorous Phases of Funny Faces. Depois adotada por cartunistas de

todo o mundo, e especialmente através dos irmãos Disney, os desenhos animados ganharam

popularidade global abrindo seu espaço em horários bem específicos na TV aberta da metade

do século XX e atualmente no século XXI.

O desenho como introdução ao capitalismo

É bastante óbvia toda a preocupação das grandes empresas de mídia infantil a introdução da

criança, como estado de ser humano, ao capitalismo para que quando venham a se tornar

adultos estejam adaptadas as regras da sociedade em que vivemos. A atenção dada pela Minie

aos produtos de beleza, perfume e maquiagem conduz as crianças à um pensamento de capital

que eles ainda nem tem consciência do que significa. O Mickey compra presentes pra Minie e

chega com um carro esportivo disfarçado por placas de madeira pintada em torno, para

disfarçar a máquina velha que ele dirige. Ao mesmo tempo em que a animação mostra a

condição de pobre coitado do pequeno camundongo, ele passa a grande importância de ter um

carro belo e de possuir produtos caros, fora das condições financeiras da maior parte grande

massa. Para, além disto, também vemos a demonstração de comidas não comuns, as chamadas

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fastfoods em desenhos animados. Milkshakes, hamburgers, presuntos são as mais comuns. É

como se ficasse subliminar um grande contrato entre a Disney e o Mc Donald’s por exemplo.

Outros personagens servem para afirmar de forma violenta o lugar do homem comum na

podridão de vida estabelecida pelo Estado à grande massa da maioria dos países. Donald e

Pateta são o carro chefe dessa violência moral. Por um lado um pato que sofre ataques

constantes de esquilos, burros, peixes ou até mesmo insignificantes abelhas. Estes

representam o que a vida cotidiana traz ao homem comum como dificuldade diária. Sejam

elas no trabalho ou na vida pessoal. Segundo Adorno (1987, p. 176) estes métodos tem como

finalidade martelar em todo cérebro humano sua condição de vida na sociedade. “O prazer da

violência contra o personagem transforma-se em violência contra o espectador, o

divertimento converte-se em tensão” (ADORNO, HORKHEIMER, 1987). Já o pateta é

sempre o homem fraco. Pobre coitado das historias é sempre demitido dos lugares onde

trabalha, ou vive comprando as formulas milagrosas da televisão de como se tornar um

fisiculturista, e aí entra o padrão de beleza imposto pela grande mídia, ou quando compra

video aulas de como aprender qualquer outra atividade como jogar futebol, cozinhar, etc.

Sendo assim, trazemos desde criança a imposição do capitalismo sobre nossas vidas, que são

entrelaçadas pela historia assistida na tela onde o personagem se personifica no ser, no eu do

homem. E o homem não está programado a ter discernimento crítico e autocrítico sobre o que

costuma sofrer, pois assim funciona o estado aliado ao capital, na grande dominação do

homem para geração e obtenção de lucros financeiros.

A decadência da arte e o afastamento do interesse social

A arte, criada com intuito mágico, tem seus primeiros relatos na idade das cavernas, quando

os homens pintavam ou talhavam em pedras suas experiências vividas na caça, na descoberta

de um lugar ou animal novo, na descoberta do fogo, entre outras situações. O fato é que o

homem não tinha raciocínio suficiente para pensar em futuro ou como seus pictogramas

seriam vistos por seus descendentes. Sugere-se que a ideia do homem que viveu nesta era,

seria a pintura para contemplação da pintura por outros homens ou para a comunicação entre

eles e outros deles que passassem por aquele local, como uma espécie de repasse de

informação importante. Após isto quando se obteve as obras de arte propriamente ditas, estas

eram construídas para fins mágicos, teológicos ou ritualísticos. Na era da arte como arte, era

importante apenas que a arte existisse e não que se tivesse conhecimento da sua existência.

Nas grandes catedrais várias obras estão expostas nos seus tetos, distantes o suficiente pra que

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não sejam vistas a olho nu, e de fato não eram vistas em nenhuma hipótese, levando em

consideração a falta de tecnologia da época para que fossem vislumbradas pelos seguidores

das diversas religiões, especialmente da igreja católica. A obra de arte necessita de ser única

em sua forma original. Os grandes artistas tinham suas obras reproduzidas por seus alunos,

porém esta reprodução era positiva, pois serviam para difundir as obras. É como se cada um

desses alunos guardasse pra si a influência, os traços, o “feeling” do seu mestre e

consequentemente transpusessem esses detalhes nas suas obras posteriores. Com o advento da

fotografia e posteriormente do cinema, entramos numa era de reprodutibilidade técnica,

segundo Walter Benjamin. Essa reprodutibilidade técnica consiste em copiar em larga escala

estas obras para exibição em massa. Segundo minha problemática, essa massa são as crianças

de todo o mundo que assistem os desenhos da Disney inocentemente nas suas casas sendo

bombardeadas por informações malévolas de domínio cerebral, a exemplo do filme O Rei

Leão que em uma cena mostra estrelas no céu formando a palavra “SEX”, traduzida para o

português “sexo”. Esta banalidade aparente gera no psicológico das crianças, talvez a difusão

sexual tão criticada, porém tão aceita, no século XXI. Nas telenovelas, nos filmes

Hollywoodianos e em tantos outros só o que vemos é o grande apelo sexual para com os

personagens que se transformam, ali na tela, no homem comum. Esta personificação do

homem na tela traz inconscientemente ao espectador a sensação de poder, de ser, de se sentir

o personagem. Toda a cena gira em torno do coito, da masculinidade do homem sobre a

mulher e da submissão desta sob o homem, do padrão de tempo que se deve durar uma

relação sexual. Essa prisão humana a uma realidade não-humana faz do homem, como ser,

como raça humana, criar uma expectativa que ele nunca vai alcançar. Ao mesmo tempo o ator

é violentado ao terminar a gravação e voltar à sua condição do ser e ter plena consciência do

seu papel frente à sociedade.

Ora, qual seria a consequência desses procedimentos? Não existe uma palavra no vocabulário

português latino para melhor descrever tal procedimento que: Alienação. O culto do belo pelo

belo afasta o homem das ideologias sociais, além de afastar o homem da sua própria condição

de existência. O homem se torna um eterno colonizador dos estereótipos de perfeição. Arte

passa a não ter espaço nenhum na sua vida. Quando tem espaço, esta é usufruída com

propósito único e fiel ao entretenimento, sem que exista qualquer preocupação com a

importância das obras de arte, seu cunho social ou teológico, sem respeito à sua historia, sem

respeito à sua aura.

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A reciclagem de frames Disney

Na produção de um filme ou animação são necessárias, além de toda parafernália técnica,

toda uma equipe de produção. Primeiramente se estabelece um roteiro com tema,

desenvolvimento e finalidade. Feito isto o roteirista elabora os diálogos e o desenrolar da

historia. Após estruturado o texto e o contexto da historia entra a equipe responsável por

tornar a historia visível. Desenhistas, locutores, diretores, publicitários, entre outros, se

desdobram a tornar a historia escrita em uma historia auto narrativa e popular. Nos primeiros

desenhos animados do inicio do século XX, antes do advento do computador, eram

elaborados manualmente, quadro por quadro, escaneados de um por um e transformados em

película. Este processo massivo, por vezes se tornava muito caro, ao demandar muitos

profissionais e muito tempo de produção, pois uma animação de 7 minutos chegava a ter 200

mil unidades de desenho. E é aí que entra a reciclagem dos frames.

Desenhos de princesas como Branca de Neve e Os Sete Anões e Cinderela dividem da mesma

cena ao dançar uma valsa. Mogli e o Ursinho Pooh também compartilham da mesma cena

onde um personagem joga uma pedra no rio, enquanto segura um galho de duas folhas na

outra mão. Elefantes, macacos, gatos dançam freneticamente a mesma dança em Dumbo,

Golliath II, Robin Hood, The Jungle Book, Branca de Neve e Os Sete Anões e Os 101

Dálmatas.

Para cada obra cinematográfica criada existe uma prévia de cifras a serem gastas e obtidas.

Esta é a regra do capital da indústria cultural. O único propósito de obtenção de lucros cria

toda a manifestação anti-artística. O valor de exposição supera o valor de culto e as produções

geram lucros astronômicos à suas empresas. Não é por um acaso que a Disney é a maior e

mais poderosa empresa de entretenimento infantil do mundo. O público infantil,

inocentemente, está exposto a esta bomba de capitalismo sem que se possa tomar qualquer

atitude repressiva por parte dos responsáveis. A venda de entretenimento infantil gera bilhões

a indústria cultural, ainda que estas não se preocupem em criar novos enredos. Não há nem

mesmo a preocupação de esconder tais procedimentos. É mais do que óbvio a mesmice dos

filmes infantis, com princesas e seus salvadores, bichos descontrolados na selva e o pobre

conteúdo cultural apresentado às crianças.

“A atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural de hoje não tem

necessidade de ser explicada em termos psicológicos. Os próprios produtos, desde o mais

típico, o filme sonoro, paralisam aquelas faculdades pela sua própria constituição objetiva.

Eles são feitos de modo que a sua apreensão adequada se exige, por um lado, rapidez de

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percepção, capacidade de observação e competência específica, por outro lado é feita de modo

a vetar, de fato, a atividade mental do espectador, se ele não quiser perder os fatos que,

rapidamente, se desenrolam à sua frente.” (HORKHEIMER, ADORNO, 1987, p. 165).

Tornamos-nos cada vez mais ignorantes à medida em que nos deixamos levar pelas

manifestações culturais da atualidade. O homem na condição de humano não está preparado

para lidar com a bomba de informações da atualidade. Hoje o humano não tem mais tempo

em que se dividir por causa da grande demanda de tempo que é exigida burguesia, pela

relação de opressão imposta por ela. Os personagens tidos como divertidos da Disney

programam inconscientemente o homem a, desde a sua infância, ser o mesmo pateta

conformado com sua vida de miserável. A Disney coloca sua própria clientela no seu lugar

pré-estabelecido na sociedade. E para os mais afortunados, que podem além de sonhar, um

passeio, caro, na Disneyland ajuda a alimentar a ideia do seu lugar acima da sociedade

comum. A desigualdade social gerada na infância que faz com que uma criança zombe da

outra por que seus pais fazem parte da classe opressora e tem fundos financeiros de sobra pra

comprar artigos do Mickey, enquanto uma outra criança da mesma faixa etária bate na janela

do seu carro pedindo esmola.

Outro ponto que não deve ser desprezado na reciclagem de frames, além da economia de

custos de produção, é a magia criada no psicológico. Estudos comprovam o poder da

mensagem subliminar contida nas entonações e nas expressões corporais dos atores nas telas,

bem como dos personagens dos desenhos animados. É extremamente perceptível a magia que

envolve a criança ao assistir um desenho da Disney. Esta reciclagem de frames não está para

isto como uma mera coincidência. É o poder do sublimado por trás das cenas. Suas formulas

de texto e de expressão são repetidas infinitamente como uma formula infalível para o puro

divertimento sem qualquer intuito de desenvolvimento cognitivo, bem como desenvolvimento

intelectual ou social. E ao contrário disso, sim, o apodrecimento do intelecto. Por vezes estas

crianças perdem interesse pela escola e preferem, e até se contrapõem às repressões dos pais

ao manda-los fazer suas atividades escolares. Estas massificações empobrecem o

desenvolvimento intelectual das crianças, trazendo a longo prazo, à tona, uma sociedade

alienada, desligada das causas sociais e políticas do seu país. Formam-se adultos

vislumbrados com o crescimento capital, e a grande repetição do trabalho massificante, ou

caso venha a se tornar patrão, massificar o trabalho dos seus empregados em busca do tão

sonhado futuro financeiro.

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A Disney e a Sociedade Capitalista

O crescimento exacerbado da tecnologia foi a chave que abriu as portas da comunicação

massiva nos tempos atuais. A sociedade capitalista se moldou através dos tempos para fazer

do homem um ser de tempo insuficiente para com tudo que está à parte do mercado de

trabalho. Nos tempos em que vivemos o homem trabalha num circulo padrão mínimo de 8

horas diárias, dorme outras 8 horas e tem 8 horas para alimentar-se, cuidar dos afazeres

domésticos, reunir-se com a família e ter acesso a cultura. O capital exige tanto do homem

moderno, que não deixa margem para que ele tenha acesso a cultura artística. Os filmes são

projetados com um enredo que o bombardeia de informações constantemente e, se ele se

distrair, se der a si o prazer de pensar sobre a cena perde o foco do próximo ato e fica perdido

no contexto do enredo. Em contraponto, a arte natural demanda tempo de observação, de

internalização, de conhecimento prévio a respeito do autor e até mesmo se faz necessária

sensibilidade para compreensão. Sensibilidade que ele não foi treinado a desenvolver por que

nas escolas da nossa sociedade o homem é programado a não pensar, a não sentir. A

hierarquia dos professores escolares deixa o homem incapacitado de pensar, de questionar

determinado ensinamento ao contrario do ensino acadêmico que poucos tem acesso e que por

vezes também se torna falho quando a graduação é escolhida por motivos de retorno

financeiro e não intelectual. As faculdades intelectuais do homem são vetadas de

desenvolvimento desde sempre, em quase tudo em prol do modelo de sucesso estabelecido na

sociedade movida exclusivamente pelo capital. Não. O capitalismo não é indispensável.

Porém é preciso dar mais atenção ao conhecimento de mundo, mas o conhecimento de

mundo com suas peculiaridades e diferenças. O ser humano é um ser pensante por natureza.

Logo cada meio, cada sociedade, cada grupo social, estará disposto mais a um pensamento e

outra respectivamente a outro.

A tecnização da cultura está cada vez mais disposta ao capitalismo e cada vez mais o homem

a segue cegamente estes princípios, deixando de lado seu estado natural do ser, do ser

humano. Chegar a uma resolução só é possível através de uma alteração no modelo de

sociedade em que vivemos através da educação. O senso comum precisa ficar de lado nesse

processo. Os primeiros contatos das crianças com a cultura precisam ser coordenados de

forma responsável pelos pais e professores, especialmente os professores, pois para que os

pais sejam educados nesses métodos eles precisam ser crianças educadas nesses métodos.

Através deste processo a indústria cultural, e mais especificamente este objeto de estudo,

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deverá se moldar à sociedade para atingi-la de forma honesta e quiçá cultural, ao invés de

moldar a sociedade segundo suas necessidades capitais de obtenção de lucro.

Considerações finais

Não espero da sociedade a completa abstração do entretenimento por simples diversão, nem

defendo esta ideia. O homem precisa ser dono do seu próprio eu. Seu âmago está embebido

naturalmente de si, de suas opiniões e valores morais, religiosos. E como defendi

anteriormente as diferenças de opiniões precisam ser respeitadas mutuamente. Para os autores

citados neste ensaio não há método eficaz para a resolução do problema social em que nos

encontramos e certamente estes quando vivos ainda não faziam nem ideia do quanto as coisas

mudariam até agora. Porém não vejo motivo para defesa de tal pessimismo, visto que

sociedades muito menos desenvolvidas que a minha, tem feito revoluções, derrubado

ditadores de décadas em seus países, usando justamente os meios de comunicação em massa,

especialmente as redes sociais da internet. Por tanto, fica claro que para que exista

conscientização é preciso haver informação, especialmente uma informação escolar mais

coerente, que não obtenha único propósito de formar profissionais mecânicos, robóticos, e

sim, pensadores.

Referencias:

HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor W. A indústria cultural: O iluminismo como

mistificação de massas. In: Cohn, Gabriel. Comunicação e indústria cultural. São Paulo, T. A.

Queiroz, 1987.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, 2ª Ed. 1955. In.

GRÜNNEWALD, José Lino. A idéia do cinema. Civilização Brasileira. 1ª Ed. Rio de

Janeiro, 1969.

Site Disponível em: < http://en.wikipedia.org/wiki/The_Walt_Disney_Company >. Acesso

em: Jun. 2012.

Site Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=hjmaOj3_sKk > Acesso em: Jun.

2012