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95, Mestrado Profissional em AgroecossistemasA FORMAO TERICO-PRTICA DO TCNICO EM AGROECOLOGIA NA ESCOLA 25 DE MAIO DE FRAIBURGO/SC.Mestrando: Paulo Davi JohannOrientadora: Prof. Dr Marlene Ribeiro - UFRGSCo-Orientadora: Prof.. Dr. Sandra Luciana Dalmagro - UFSC Florianpolis/SCMaro 2015UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC CENTRO DE CINCIAS AGRRIASPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGROECOSSISTEMASMestrado Profissional em AgroecossistemasA FORMAO TERICO-PRTICA DO TCNICO EM AGROECOLOGIA NA ESCOLA 25 DE MAIO DE FRAIBURGO/SC.Mestrando: Paulo Davi JohannDissertao apresentada como pr-requisito para a obteno do grau de Mestre em Agroecossistemas sob a orientao da Dr Marlene Ribeiro e a co-orientao da Dr Sandra Luciana Dalmagro. Florianpolis/SCMaro - 2015RESUMOEssa pesquisa tem o objetivo de estudar a formao tcnica em agroecologia de nvel mdio realizada pela Escola 25 de Maio em vista de localizar articulaes e desarticulaes entre a formao terica e prtica, e dessa forma contribuir para o avano da qualificao destes profissionais/militantes. O referencial terico que embasa a pesquisa materialismo histrico dialtico. Nessa perspectiva procuramos analisar a educao/formao humana no processo histrico do desenvolvimento da sociedade humana. Buscamos compreender a relao teoria e prtica na educao a partir do trabalho. Como procedimento metodolgico utilizemos a entrevista com sujeitos envolvidos no processo de formao dos tcnicos em agroecologia oferecida pela Escola 25 de Maio, assim como a observao dos espaos pedaggicos da referida escola e a leitura documental. A partir disso procuramos compreender como aparece a relao teoria e prtica na referida Escola. Partimos do pressuposto que o ser humano se forma no e pelo trabalho na atividade prtica-terica, ou seja, pela prxis enquanto atividade especificamente humana. Nesse sentido procuramos compreender a agroecologia que se produz no trabalho agrcola como matriz produtiva e tecnolgica, que, alm de se contrapor a matriz produtiva do agronegcio, potencializa unir trabalho manual e trabalho intelectual que a sociedade de classe dividiu em campos opostos. A partir desse referencial trilhamos o caminho da anlise dos dados fornecidos pelos instrumentos metodolgicos utilizados. Diante dos dados analisados chegamos a algumas concluses que nos permitam momentaneamente afirmar que a Escola/Curso estudado, por ser uma escola vinculada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tem possibilidades de avanar na formao dos educandos no sentido da omnilateralidade. Porm essa Escola/Curso por ser uma escola pblica apresenta limites que precisam ser superadas para atingir o objetivo pela qual ela foi construda. Os limites encontrados se referem a questes relacionadas a formao poltico pedaggica dos professores/educadores no que se refere a compreenso do trabalho como princpio educativo, trabalho que abre possibilidade para unir teoria e prtica na formao dos sujeitos do processo educativo, pois a compreenso de trabalho que a Escola/Curso tem no passa do trabalho como princpio pedaggico, ou seja, aquele trabalho que contribuiu no aprendizado do contedo. Ou seja no fazer para aprender. Outro grande limite encontrado na parte da contratao dos professores/educadores qualificados para trabalhar uma educao emancipatria, principalmente os da rea tcnica. Pela constante rotatividade dos professores, pela falta de professores da rea tcnica que se possam dedicar exclusivamente a esta escola. A no compreenso na sua totalidade da auto-organizao dos estudantes, embora a escola/Curso tenha a auto-organizao dos estudantes como princpio educativo, da forma como esta aparece na escola carece de maior significado, pois esta fica restrita aos momentos formais institudos, no se concebe que esta dever perpassar todos os espaos de vida da escola. Palavras chaves: relao teoria e prtica, formao tcnica, agroecologia, trabalho. MST.RESUMENEsta investigacin tiene como objetivo estudiar la formacin tcnica en agroecologa de nivel medio en poder de la Escuela 25 de mayo con el fin de localizar las articulaciones y dislocaciones entre la teora y la prctica, y de este modo contribuir a la promocin de la cualificacin de estos profesionales / activistas. El marco terico que apoya la investigacin es el materialismo histrico dialctico. En esta perspectiva analizamos la educacin / desarrollo humano en el proceso histrico del desarrollo de la sociedad humana. Buscamos entender la relacin entre la teora y la prctica en la educacin de la obra. Como un procedimiento metodolgico utilizamos la entrevista con los sujetos que intervienen en el proceso de formacin de tcnicos en agroecologa ofrece la Escuela 25 de mayo, as como la observacin de los espacios pedaggicos de la escuela y la lectura documental. A partir de este buscamos entender como aparece la relacin entre la teora y la prctica en esa escuela. Suponemos que el ser humano se forma en y por medio del trabajo en la prctica y la actividad terica, es decir, la prctica como especficamente la actividad humana. En este sentido buscamos entender la agroecologa que se produce en el trabajo agrcola como matriz productiva y tecnolgica, que, adems de contrarrestar la matriz de produccin del agronegocio, mejora unir trabajo manual e intelectual que la sociedad de clases divide en bandos opuestos. A partir de esta referencia recorrer el camino de anlisis de los datos proporcionados por las herramientas metodolgicas utilizadas. Antes de que los datos analizados proceden a algunas conclusiones que nos permitan afirmar brevemente que la Escuela / Curso estudi, siendo una escuela vinculada al Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra, es probable que avanzar en la educacin de los estudiantes hacia omnilaterality. Pero esta Escuela / Curso para ser una escuela pblica tiene unos lmites que se deben superar para lograr el objetivo para el que fue construido. Los lmites de refieren a cuestiones relacionadas con la formacin pedaggica poltica de profesores / educadores en cuanto a la comprensin del trabajo como principio educativo, el trabajo que se abre la posibilidad de vincular la teora y la prctica en la formacin del proceso educativo, como la comprensin de la obra que la Escuela / Curso no tiene ms trabajo como principio pedaggico, es decir, que el trabajo que contribuy a los contenidos de aprendizaje. Es decir, para aprender a hacer. Otra limitacin importante se encuentra en la contratacin de profesores / educadores calificados para trabajar una educacin emancipadora, especialmente el rea tcnica. Por la rotacin de maestros constante, la falta de rea tcnica de profesores que puedan dedicarse exclusivamente a esta escuela. No entender en su totalidad la auto-organizacin de los estudiantes, aunque la escuela / curso tiene la auto-organizacin de los estudiantes como principio educativo, la forma en que aparece en la escuela necesita una mayor importancia ya que este se limita a los momentos formales establecidos, es inconcebible que este debe impregnar todas las reas de la vida escolar.Palabras clave: relacin entre la teora y la prctica, la capacitacin tcnica, la agroecologa, el trabajo.LISTA DE SIGLASABEEF- Associao Brasileira Estudantes de Engenharia Rural. ASCAR/RS- Associao Sulina de Crdito Rural do Rio Grande do Sul.ACT- Admisso por Contrato Temporrio.ATER_ Assistncia Tcnica e Extenso Rural.CADCR- Centro de Apoio e Desenvolvimento Comunitrio Rural.CIMI- Conselho Indigenista Missionrio.CPT- Comisso Pastoral da TerraEMATER/RS- Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Rio Grande do Sul FEAB- Federao dos Estudantes de Agronomia do BrasilGO- Grupo Orgnico.INCRA- Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria.MAB- Movimento Atingidos Por Barragens.MMC- Movimento de Mulheres Camponesas.MPA- Movimento dos Pequenos Agricultores.MSP- Movimentos Sociais Populares.MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.NB- Ncleo de Base.PJR- Pastoral da Juventude Rural.PPP- Projeto Poltico Pedaggico.PRONERA- Programa Nacional de Educao em reas de Reforma Agrria.PRV- Pastoreio Racional Voizin.SED-SC Secretaria Estadual de Educao de Santa Catarina.SISCAL- Sistema de Criao ao Ar Livre.TE- Tempo Escola.TC- Tempo comunidadeSUMRIOHYPERLINK \l "_Toc411360858" INTRODUO9HYPERLINK \l "_Toc411360859" I CAPTULO A RELAO TEORIA E PRTICA NA EDUCAO21HYPERLINK \l "_Toc411360860" 1. 1 O trabalho e a formao humana.22HYPERLINK \l "_Toc411360861" 1. 2 Unidade teoria e prtica para a educao emancipatria28HYPERLINK \l "_Toc411360862" 1. 3 Unidade teoria e prtica na educao escolar32HYPERLINK \l "_Toc411360863" II CAPTULO A FORMAO EM AGROECOLOGIA NO MST E A RELAO TEORIA E PRTICA NA FORMAO DO TCNICO EM AGROECOLOGIA.43HYPERLINK \l "_Toc411360864" 2.1 Agroecologia e o processo de formao humana45HYPERLINK \l "_Toc411360866" 2.2- Agroecologia no MST e a formao tcnica59HYPERLINK \l "_Toc411360874" 3.3- A relao da teoria e prtica na Escola 25 de Maio89HYPERLINK \l "_Toc411360875" HYPERLINK \l "_Toc411360877" HYPERLINK \l "_Toc411360891" 3.4 A realidade do Curso Tcnico em Agroecologia na Escola 25 de Maio99HYPERLINK \l "_Toc411360892" 3.5 O desafio da Escola 25 de Maio na formao do Tcnico em Agroecologia110HYPERLINK \l "_Toc411360893" ALGUMAS CONSIDERAES FINAIS115HYPERLINK \l "_Toc411360894" Referncias124HYPERLINK \l "_Toc411360895" ANEXOS130INTRODUOA pesquisa aqui apresentada aborda a formao terico-prtica a partir da relao entre trabalho e educao, trabalho manual e trabalho intelectual, como unidade dialtica necessria formao do Tcnico em Agroecologia. Esta pesquisa, em particular a sua abordagem acima especificada, justifica-se pela contribuio que poder oferecer s escolas do campo de modo geral, e, de modo especial, s escolas de formao tcnica para avanar, no s no sentido estritamente tcnico, mas, principalmente, na oferta de uma formao que contemple a totalidade do ser humano. A problemtica da formao tcnica est presente nas discusses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em suas diferentes instncias. Como militante do MST e no sentido de poder colaborar na qualificao desse debate, escolhi, como tema, a articulao da teoria com a prtica, ou do trabalho manual com trabalho intelectual, na formao do Tcnico em Agroecologia, na Escola 25 de Maio, que est localizada no Assentamento Vitria da Conquista, no municpio de Fraiburgo, no estado de Santa Catarina. A Escola 25 de Maio, que oferece a formao tcnica em Agroecologia integrada ao Ensino Mdio, vincula-se, por um lado, rede estadual de educao de Santa Catarina, e, por outro lado, tem um vnculo orgnico com o MST. No seu Projeto Poltico Pedaggico (PPP) ela incorpora o vnculo da teoria com a prtica, tendo o trabalho como princpio educativo alm de instrumento didtico pedaggico para auxiliar no aprendizado.A educao ligada ao mundo do trabalho no pode ficar alheia s exigncias complexas dos processos produtivos e a ao educativa deve refletir sobre estas questes selecionando contedos vinculados ao mundo do trabalho e acompanhando experincias de trabalho educativo. O trabalho torna-se, tambm um recurso pedaggico ao provocar, atravs, de sua prtica, necessidades de aprendizagem, bem como pela sua condio de construtor das relaes de classe (PPP, 2013, p. 7-8). A formao do Tcnico em Agroecologia, vinculada ao MST, muito discutida nesse Movimento, em particular nos setores de Educao e Produo. A discusso que o MST est fazendo est relacionada a esta formao de tcnicos em Agroecologia, de modo que possam se apropriar dos elementos tcnicos vinculados aos elementos polticos, ou ainda, realizar a articulao terico-prtica. Em outras palavras, a questo : como a Escola poder formar este Tcnico em Agroecologia, com capacidade tcnica e compromisso poltico para atuar junto aos camponeses e contribuir, tanto no aumento da produo de base agroecolgica, como na organizao dos camponeses, enquanto classe, para a luta pela construo do paradigma da agroecologia em contraposio ao paradigma do agronegcio. Nesse sentido, a formao tcnica pensada pelo MST procura aliar os elementos tcnicos aos elementos polticos. Mas, a partir da, podem ser formuladas novas questes como: possvel numa sociedade de classes, que separa o trabalho manual do intelectual e que produz uma educao escolar divorciada do processo produtivo, aliar a teoria prtica como uma unidade dialtica? Ou ainda: formar simultaneamente para o trabalho manual e o trabalho intelectual? E como fazer isso na prtica do cotidiano escolar? O MST tem, como um dos seus princpios, que a escola dever trabalhar a formao omnilateral do ser humano. Esta formao segundo Marx (2001) s se torna possvel a partir da unio da educao com o trabalho. Trata-se, portanto, de uma educao que articula a teoria com a prtica, no sentido da prxis. A prxis inerente formao do ser humano omnilateral, ou seja, formao nas dimenses fsica, moral, espiritual, artstica, etc. Nessa concepo, o trabalho deixa de ser uma atividade puramente prtica para se converter em atividade terico-prtica. uma atividade em que se articulam o pensar e o fazer como uma unidade dialtica. esta unidade dialtica, fazer e pensar, prtica e teoria que, no caso de uma formao omnilateral, sustenta a ao educativa da escola. Mas, apesar disso, pela convivncia como agricultor assentado, e como liderana do MST, com alguns dos tcnicos em agroecologia egressos, muitas vezes acompanhando-os no trabalho junto aos agricultores, nas reunies de planejamento das atividades que iriam desenvolver, assim como de tcnicos egressos dessa escola que foram assentados, percebia-se, a existncia de um conhecimento superficial a respeito das tcnicas agroecolgicas, tanto prtico como terico, mas por outro lado, tem um discurso poltico sobre agroecologia bastante avanado. Pode-se tambm perceber no trabalho desses tcnicos a dificuldade em relacionar a atividade prtica relacionada assistncia tcnica com o conhecimento poltico-organizativo, no sentido de uma melhor compreenso da unidade do conhecimento prtico com o conhecimento terico. Este poderia ser um caminho estratgico em contraposio ao agronegcio, e, ao mesmo tempo, para a construo do paradigma da Agroecologia, como instrumento na luta pela construo de uma sociedade em que a diviso de classes possa ser superada. O objetivo da Educao do Campo projetada pelos movimentos sociais populares do campo, unificados na Via Campesina Via Campesina uma organizao social do campo formado pelo Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Federao dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), Comisso Pastoral da Terra (CPT), Associao Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF), Conselho Indigenista Missionrio (CIMI) e Pescadores e Pescadoras Artesanais. de forma geral, e de modo particular pelo MST, a compreenso articulada prtica da educao como instrumento de emancipao humana. Por isso, a Educao do Campo se articula luta pela Reforma Agrria, com a terra para os que nela trabalham e vivem deste trabalho, e por um projeto popular de sociedade, que penso seja socialista. Mas, para que a Educao do Campo possa cumprir com esta funo necessrio trabalhar a formao do ser humano em todas as suas dimenses, ou seja, segundo Marx e Engels (1978), uma educao omnilateral em oposio educao unilateral do liberalismo. A partir da compreenso do trabalho como princpio educativo e da forma pedaggica de estabelecer a relao entre a teoria e prtica, trabalho manual e trabalho intelectual na educao escolar, que esta pode contribuir no avano da formao tcnica, no sentido de formar tcnicos, no s comprometidos com os Movimentos Sociais Populares (MSP), que lutam pela terra de trabalho no/do campo, mas tambm com capacidade tcnica e poltica de contribuir na construo de processos de mudana social e cultural do campons, incidindo sobre a produo agropecuria. Em outras palavras: contribuir na construo de processos de converso da agricultura oriunda da revoluo verde A revoluo verde foi concebida como um pacote tecnolgico insumos qumicos, sementes de laboratrio, irrigao, mecanizao, grandes extenses de terra conjugado ao difusionismo tecnolgico, bem como a uma base ideolgica de valorizao do progresso (PEREIRA, Mnica, 2012, p. 685). Este era um amplo programa idealizado pelo capital para aumentar a produo agrcola no mundo por meio da introduo de melhorias genticas em sementes, uso intensivo de insumos industriais (agrotxicos), mecanizao e reduo do custo de manejo com a promessa de acabar com a fome no mundo. para a agricultura com base orgnica, preservando e respeitando a natureza e compreendendo o homem como parte da natureza. E, ainda, organizando-se de forma solidria para definir alternativas de defesa deste trabalho, e da sociedade humana que o exige.A escolha do tema articulao teoria e prtica na educao escolar, tendo o trabalho como mediao na formao do tcnico em Agroecologia se deu em virtude da necessidade da formao de tcnicos agrcolas com capacidade terico-prtica, de modo que possam contribuir com os camponeses para a construo de processos agroecolgicos de produo. A formao exigida pelos MSP do campo no sentido da formao unitria, que decorre de uma formao tcnica aliada formao humanista (GRAMSCI, 1982). Esta proposta est fundamentada em documentos do MST, em que foram definidas as linhas polticas para a construo da Agroecologia Agroecologia, mais do que simplesmente tratar sobre o manejo ecologicamente responsvel dos recursos naturais, constitui-se em um campo do conhecimento cientfico que, partindo de um enfoque holstico e de uma abordagem sistmica, pretende contribuir para que as sociedades possam redirecionar o curso alterado da coevoluo social e ecolgica, nas suas mais diferentes inter-relaes e mtua influncia (CAPORAL, 2009, p.4)., como paradigma de desenvolvimento do campo em contraposio ao agronegcio Consiste o agronegcio numa articulao empresarial voltada exportao de produtos primrios, ou que agregam pequena parcela de tecnologia, tratando-se, principalmente, de minrios e gneros agrcolas que so produzidos em larga escala e comercializados no Brasil e no exterior. Envolve o setor de mquinas (tratores, ceifadeiras, colheitadeiras, etc.), a produo agrcola, as tecnologias associadas a esta produo, a industrializao dos produtos, o setor de distribuio e servios e o setor bancrio, responsvel pelo financiamento da produo. Com isso, gera pequena quantidade de postos de trabalho. A definio do Brasil, no plano econmico nacional e internacional, como produtor e exportador de produtos primrios, est associada ao poder, importncia e fortuna dos empresrios do agronegcio, grandes proprietrios de terras que se articulam com o sistema financeiro tanto para financiar a produo quanto para aplicar lucros no mercado de aes (RIBEIRO, 2013, p. 674).. Portanto, a escolha da Escola 25 de Maio, como objeto de minha pesquisa, explica-se pelo fato de ela estar organicamente vinculada ao MST. A Escola 25 de Maio tem, por objetivo, a formao omnilateral do tcnico em Agroecologia, no sentido de capacitar seus educandos tcnica e politicamente para contribuir na construo da Agroecologia como paradigma de desenvolvimento do campo, em contraposio ao paradigma hegemnico do agronegcio. Em outras palavras, a formao do tcnico deve contribuir na luta pela transformao no s do campo, mas de toda sociedade, ou seja, na construo de uma sociedade sem classes, em que seja superada a dicotomia trabalho manual e trabalho intelectual. Os objetivos que deixam esta afirmao mais clara constam nos princpios filosficos e organizativos das escolas do MSTPrincpios filosficos: 1) educao para a transformao social; 2) educao para o trabalho e a cooperao; 3) educao voltada para as vrias dimenses da pessoa humana; 4) educao com/para valores humanistas e socialistas; e 5) educao como um processo permanente de formao/transformao humana. Princpios pedaggicos: 1) relao entre prtica e teoria; 2) combinao metodolgica entre processos de ensino e de capacitao; 3) a realidade como base da produo do conhecimento; 4) contedos formativos socialmente teis; 5) educao para o trabalho e pelo trabalho; 6) vnculo orgnico entre processos educativos e processos polticos; 7) vnculo orgnico entre processos educativos e processos econmicos; 8) vnculo orgnico entre educao e cultura; 9) gesto democrtica; 10) auto-organizao dos/das educandos; 11) criao de coletivos pedaggicos e formao permanente dos educadores/das educadoras; 12) atitude e habilidades de pesquisa; e 13) combinao entre processos pedaggicos coletivos e individuais (MST, 1999, p 04). .Agroecologia o estudo de processos econmicos e de agroecossistemas, como tambm, um agente para as mudanas sociais e ecolgicas complexas que necessitam ocorrer no futuro a fim de levar a agricultura para uma base verdadeiramente sustentvel (BALEM; SILVEIRA, 2002, p. 4).Na definio de Agroecologia dada por Balem e Silveira, na obra citada, pode-se perceber como se faz necessrio formar tcnicos agrcolas que no s se capacitem, ou se formem tecnicamente, mas tambm politicamente para poderem contribuir na interveno da complexa realidade do campo. Na Escola 25 de Maio, segundo Mohr e Ribas (2010, p. 2), desde o princpio de sua fundao, esto presentes os ideais da pedagogia socialista, de Makarenko (s/d) e Pistrak (2000), pedagogia esta que considera a organizao coletiva e o trabalho como princpios educativos. Na luta pela mudana do paradigma de desenvolvimento do campo, empreendida pelos MSP do campo, de forma geral e, em particular pelo MST, a educao, formao/capacitao fazem parte desta luta. nesse intuito que o MST luta por escolas de forma geral e, em especfico, por escolas tcnicas para formar os sujeitos que vivem nos assentamentos. A formao que as escolas vinculadas ao MST pretendem oferecer s pessoas que vivem nos assentamentos a formao omnilateral, como afirmado antes. Formao esta que possibilite ao estudante compreender no s a Agroecologia, mas tambm a agricultura convencional e como este modelo contribui para o desequilbrio da natureza, afetando o clima, a flora e a fauna, mas, acima de tudo, sendo concentrador da terra, de renda, e excluindo, cada vez mais, um nmero maior de camponeses. A compreenso de que o educando no seu processo de formao na escola deva incorporar conhecimentos que possam contribuir na construo do novo, fundamental. Novo, aqui, significa a mudana do paradigma de desenvolvimento do campo. Ou seja, a construo de uma matriz produtiva com tecnologias de base agroecolgicas. E na escola que o estudante deve aprender estes conhecimentos tcnicos cientficos e articulando-os com seus conhecimentos emprico-populares enquanto filho de camponeses. A articulao entre conhecimento o cientfico e o conhecimento emprico-popular vai se dando, no na teoria, mas na prxis social. Penso que apreender este conhecimento fundamental para o tcnico que pretende atuar junto aos camponeses, sejam eles assentados ou no.Compreendendo a importncia do trabalho como prxis social na vida do ser humano que as escolas ligadas ao MST incorporam o trabalho nos seus objetivos pedaggicos. Esta incorporao se d porque atravs das prxis (Engels,1999) se forma o ser humano. Prxis social aqui entendida como trabalho, pois no ato de trabalhar, quando o trabalho livre, que se mesclam a teoria com a prtica. Pois, foi assim que, durante milhes de anos, o ser humano foi se produzindo a partir do trabalho. A relao dialtica entre o ato do fazer, a prtica do trabalho e, por sua vez, o ato de pensar sobre o trabalho, ou seja, a prxis social precisa estar presente na educao escolar. A esta questo voltaremos adiante no primeiro captulo. Passo, agora, apresentao do problema que d origem s questes de pesquisa as quais orientam a escrita desta dissertao. Assim, neste meu trabalho de pesquisa, cujo tema a formao terico-prtica na formao do tcnico em Agroecologia, tenho as seguintes indagaes: de que forma a Escola 25 de Maio vincula o trabalho educao? Ou melhor, como a referida Escola estabelece o vnculo entre o trabalho e educao escolar? Que lugar a escola d s atividades de trabalhos manuais realizadas pelos estudantes? Ou ainda, como articula teoria e prtica, estudos tericos e trabalhos manuais? E, em base a estas indagaes, formulo a seguinte questo de pesquisa: como a escola 25 de Maio articula estudos tericos e trabalho prtico na formao do Tcnico em Agroecologia?Estas questes, ou interrogaes, me despertaram o interesse em estudar para poder contribuir com a Escola, com a formao dos tcnicos em Agroecologia, e com o MST, na discusso sobre a relao trabalho-educao no processo de formao para a emancipao humana. Estas, a meu ver, so questes que implicam no alcance ou no dos objetivos da educao qual o MST discute em suas instncias organizativas, objetivos estes que esto direcionados emancipao humana. E a partir das questes suscitadas foram formulados os objetivos de modo a definir os caminhos que foram trilhados nesta pesquisa, atravs da qual me propus a averiguar se os estudos tericos esto, de fato, articulados aos trabalhos prticos desenvolvidos pelos estudantes da Escola 25 de Maio, considerando que esta Escola pretende formar tcnicos em Agroecologia, orientada pelos princpios e mtodos do MST. Para isso, foi necessrio identificar o lugar do trabalho prtico efetuado na e pela Escola 25 de Maio; analisar a concepo de educao e de formao tcnica associadas formao poltica, alm de refletir sobre os limites e as possibilidades que a Escola apresenta no que concerne formao tcnica em Agroecologia. Assim, com o estudo sistematizado nesta Dissertao pretendo estar contribuindo para a formao do tcnico militante, com capacidade para intervir junto agricultura camponesa, visando fortalecer a produo agroecolgica.Para desenvolver esta Dissertao sero apresentados alguns elementos da relao entre trabalho e educao, a partir da teoria marxista. Nesse sentido, tentarei trazer uma viso histrica de como esta relao foi se distanciando do mundo da produo, durante determinado tempo, na medida em que os seres humanos iam organizando a produo de modo a organizar, tambm, a sociedade de classes sociais em contradio e que, portanto, se contrapem. Da emerge a pergunta: como que a unio entre o trabalho e a educao poder contribuir na formao humana em todas suas dimenses, incluindo a luta pela emancipao, quando estamos imersos nesta sociedade de classes? Esta a questo que orientou o estudo aqui desenvolvido sobre a formao do Tcnico em Agroecologia efetuado pela Escola 25 de Maio.A pesquisa que fundamenta a Dissertao foi desenvolvida na Escola de Educao Bsica 25 de Maio, que oferece, tambm, a formao tcnica em Agroecologia, situada em Fraiburgo/SC, mais especificamente, com turmas de estudantes ingressados nos anos de 2012 e 2013, no curso Tcnico em Agroecologia, tendo como sujeitos de pesquisa: professores, estudantes, integrantes do Conselho Escolar, pais de alunos e lideranas locais do MST, com o qual a escola tem vnculo orgnico. Para isso, adotou-se uma metodologia de carter predominantemente qualitativo. Os dados obtidos atravs de entrevistas, observaes, leituras de documentos, foram analisados com base no referencial do materialismo histrico-dialtico, onde o real se apreende a partir da anlise do fenmeno, partindo do emprico (abstrato) para o concreto (apropriao do concreto em nossa mente), considerando as relaes que se estabelecem entre o fenmeno particular com o geral-universal. Segundo Marx (2006) o concreto concreto por que expressa as mltiplas relaes que o determinam. Ou seja, o fenmeno no se se deixa conhecer pela aparncia, mas pela essncia que ocultada na sua aparncia por um invlucro produzido pela diviso do trabalho na sociedade de classes. Kosik (1976) aprofunda esta questo proposta por Marx, na obra citada, ao apontar que a essncia desta forma de organizao injusta, que histrica, se mostra como aparncia, ocultando a real explorao/expropriao da classe trabalhadora e, com isso, dificulta a percepo da sociedade que no como se mostra.Nesse sentido, busquei compreender o fenmeno a ser estudado a partir das informaes coletadas pela observao in loco, pelas entrevistas, leituras de documentos produzidos pela Escola 25 de Maio, tentando captar o fenmeno e como este se manifesta e por ela manifestado, o que exigiu uma anlise capaz de ir alm das aparncias, para penetrar na essncia. E, para isso, ou seja, para chegar essncia do fenmeno torna-se necessrio, em primeiro lugar, buscar as relaes que se estabelecem entre o fenmeno a ser conhecido como totalidade, ou seja, com a forma como a sociedade se organiza para produzir a vida. E, em segundo lugar, no se pode analisar o fenmeno em si desconsiderando as relaes internas e externas que o fazem ser tal como . Assim, s possvel conhecer verdadeiramente os fenmenos sociais, quando se utiliza um mtodo e uma abordagem que vo para alm das aparncias. Este mtodo o materialismo histrico dialtico, que sustenta esta abordagem substancialmente qualitativa.Para realizao deste estudo foram utilizados os seguintes procedimentos metodolgicos: pesquisa bibliogrfica, pesquisa documental, e pesquisa de campo. Na pesquisa bibliogrfica realizei leituras de livros, revistas, artigos, dissertaes de mestrado, teses de doutorado, assim como pesquisei em stios da rede mundial de comunicao, buscando compreender como que, historicamente, o tema da relao teoria e prtica, do trabalho manual e trabalho intelectual, vem se configurando na educao, de forma geral, e, em especfico, na educao escolar, sobretudo, na relao ensino e trabalho Em relao pesquisa documental procurei ler documentos produzidos pela Escola 25 de Maio tais como: atas do Conselho Escolar desde a criao da Escola 25 de Maio, que somam quase uma centena; o Projeto Poltico Pedaggico, o planejamento anual de 2013 e 2014 que cada um dos professores elaborou em suas reas de atuao, ou as disciplinas que desenvolvem. A pesquisa de campo foi realizada a partir de entrevistas e observaes in loco. Para as entrevistas foi usado um roteiro com perguntas semiestruturadas. Num universo de vinte e quatro estudantes, entrevistei sete, ou seja, trs ingressos no ano de 2012 e quatro ingressos no ano de 2013. Alm dos estudantes, entrevistei quatro professores, incluindo o diretor. As entrevistas foram assim distribudas: alm do diretor, trs professores que trabalham disciplinas da rea tcnica, num universo de oito professores, assim como um representante do Conselho Escolar e uma liderana regional do MST. Para cada categoria de entrevistados foi utilizado diferenciado. Ou seja, as perguntas construdas para a entrevista com professores, pais de alunos, concelho escolar e alunos eram diferentes umas das outras. A escolha do roteiro de entrevistas foi formulada de forma que pudessem fornecer informaes necessrias para responder a questo central da questo de pesquisa. Para que pudesse apreender todos os significados das respostas as entrevistas foram gravadas e transcritas na integra. J as observaes foram feitas em trs momentos, atravs de visitas Escola, perfazendo um total de vinte e sete dias. As visitas aconteceram no ms de agosto de 2013, abril de 2014 e outubro de 2014. A primeira e a segunda visita foram de dez dias cada uma e a terceira visita foi de sete dias. Nas visitas foram observados os seguintes aspectos: a) Em relao s aulas ministradas pelos professores: Abordagem dos aspectos pedaggicos dos contedos do currculo, alm da abordagem didtica, ou seja, como se processou a articulao entre teoria e prtica no trabalho do/a professor/a, seja em sala de aula ou no trabalho de campo; Como que o princpio da Escola, ou seja, o trabalho aparecia, enquanto articulao teoria e prtica, no planejamento do professor, no seu trabalho pedaggico; Se havia ou no a articulao da teoria e prtica na escola como um todo, ou eram s algumas disciplinas que trabalhavam esta relao; Como que se mostrava a relao teoria e prtica no trabalho escolar; Como que o/a professor/a abordava, em sala de aula, o trabalho prtico realizado pelos estudantes; Como se processava o vnculo das disciplinas tcnicas em relao s disciplinas do Ensino Mdio; Como aparecia o vnculo entre teoria e prtica nas disciplinas tcnicas e nas disciplinas tericas do Ensino Mdio; Se, de fato, existia, uma relao dos contedos tericos com os trabalhos prticos realizados pelos alunos; Quais os procedimentos didticos metodolgicos que o/a professor/a utilizava nas atividades pedaggicas; Como se dava o processo de interao entre o/a professor/a e os estudantes em sala de aula; Como que o processo de planejamento das atividades da escola, realizado pelos alunos, era abordado em sala de aula; Como que o professor estabelecia o vnculo da teoria com o trabalho concreto.b) Em relao ao trabalho prtico realizado pelos estudantes: conforme os princpios da educao das escolas vinculadas ao MST os estudantes realizam trabalhos prticos. Foi, ento, observado, se a Escola 25 de Maio aplicava este princpio em relao aos trabalhos prticos:Estudantes se envolviam na limpeza do ambiente de convivncia, ou seja, sala de aula, alojamento, refeitrio, recolher o lixo, cuidar dos animais, etc., Como que os estudantes percebiam este trabalho; Este trabalho expressava vnculo com a formao procurada pela escola; Como que os estudantes aplicavam a relao teoria e prtica nos espaos de sua auto-organizao, como Ncleos de Base (NB), ou nos encontros destes Ncleos.c) Em relao ao coletivo de professores e grupo orgnico da Escola: Como era abordada a relao teoria e prtica no coletivo de professores e no grupo orgnico;E como estes coletivos compreendiam esta relao. d) Em relao organizao da Escola 25 de Maio:Se a forma de organizao do trabalho escolar era condizente com o projeto poltico pedaggico da Escola; Como que se mostrava a relao teoria e prtica na organizao Escola; O Conselho Escolar era ou no parte constitutiva da Escola, Como este Conselho era percebido por estudantes e professores/as.Para registrar os dados coletados atravs da observao, utilizei um caderno de campo para anotar as percepes dos fatos, do que era observado. Este registro foi efetuado durante o processo de observao, ou seja, durante a observao foi anotado tudo o que dizia respeito aos aspectos acima descritos, assim como eram feitas reflexes em torno do observado. Para anlise dos dados e informaes coletadas buscarei utilizar o mtodo dialtico. Este mtodo consiste em compreender o fenmeno a ser estudado a partir das determinaes e relaes que se estabelecem entre este com o todo do processo. Ou seja, determinaes e relaes existentes entre trabalho e educao que ocorrem na escola a ser estudada, em relao ao que se estabelece entre trabalho e educao na sociedade burguesa. O ponto de partida para o mtodo dialtico na pesquisa a anlise crtica do objeto a ser pesquisado, o que significa encontrar as determinaes que o fazem ser o que . Tais determinaes tm que ser tomadas pelas suas relaes, pois a compreenso do objeto dever contar com a totalidade do processo, na linha da intencionalidade do estudo, que estabelecer as bases tericas para sua transformao. (WACHOWICZ, 2001, p. 01).Segundo a mesma autora, o mtodo dialtico se caracteriza pela contextualizao do problema a ser pesquisado. Podendo efetivar-se mediante respostas s questes: quem faz pesquisa, quando, onde e para que? (WACHOWICZ, 2001). Nesse sentido, o mtodo dialtico requer que o objeto de pesquisa seja analisado dentro do contexto histrico poltico-social, em que est inserido. Nesse sentido, historicismo, totalidade e contradio foram categorias que acompanharam todo processo de anlise dos dados, materiais, informaes coletadas acerca do fenmeno. Alm dessas categorias metodolgicas da dialtica, tambm foi possvel utilizar categorias simples do contedo, conforme o tema investigado. Por isso utilizei as categorias trabalho, educao, alienao, prxis, e emancipao.Os dados obtidos atravs de entrevistas, observaes, leituras de documentos, foram analisados com base no referencial do materialismo histrico-dialtico, onde o real se apreende a partir da anlise do fenmeno, partindo do emprico (abstrato) para o concreto (apropriao do concreto em nossa mente), considerando as relaes que se estabelecem entre o fenmeno particular com o geral-universal. Segundo Marx (2006) o concreto concreto por que expressa as mltiplas relaes que o determinam. Ou seja, o fenmeno no se se deixa conhecer pela aparncia, mas pela essncia que ocultada na sua aparncia por um invlucro produzido pela diviso do trabalho na sociedade de classes. Kosik (1976) aprofunda esta questo proposta por Marx, na obra citada, ao apontar que a essncia desta forma de organizao injusta, que histrica, se mostra como aparncia, ocultando a real explorao/expropriao da classe trabalhadora e, com isso, dificulta a percepo da sociedade que no como se mostra.Nesse sentido, busquei compreender o fenmeno a ser estudado a partir das informaes coletadas pela observao in loco, pelas entrevistas, leituras de documentos produzidos pela Escola 25 de Maio, tentando captar o fenmeno e como este se manifesta e por ela manifestado, o que exigiu uma anlise capaz de ir alm das aparncias, para penetrar na essncia. E, para isso, ou seja, para chegar essncia do fenmeno torna-se necessrio, em primeiro lugar, buscar as relaes que se estabelecem entre o fenmeno a ser conhecido como totalidade, ou seja, com a forma como a sociedade se organiza para produzir a vida. E, em segundo lugar, no se pode analisar o fenmeno em si desconsiderando as relaes internas e externas que o fazem ser tal como . Assim, s possvel conhecer verdadeiramente os fenmenos sociais, quando se utiliza um mtodo e uma abordagem que vo para alm das aparncias. Este mtodo o materialismo histrico dialtico, que sustenta esta abordagem substancialmente qualitativa.Para responder a questo central da pesquisa nos levou a organizar a presente dissertao em trs captulos. No primeiro captulo abordo a relao teoria e prtica na educao, tendo por base o processo histrico que aponta o vnculo terico prtico na formao humana, considerando a unidade teoria e prtica na educao emancipatria e como esta unidade pode ser possvel ou no, na educao escolar. A relao entre a formao humana e a Agroecologia ser o tema do segundo captulo, no qual aprofundarei esta questo ao incluir a educao desenvolvida pela Escola 25 de Maio, mais propriamente, a formao do Tcnico em Agroecologia. No terceiro captulo, abordo a unidade entre teoria e prtica na formao do Tcnico em Agroecologia que feita pela Escola acima identificada, situada em Fraiburgo, no estado de Santa Catarina. Para isso, trago a histria da luta para a conquista desta Escola, como espao de uma formao de tcnicos em Agroecologia demandada pelo MST, ao qual esto vinculados os estudantes. Ainda nesse capitulo caracterizo a Escola 25 de Maio como uma escola que por um lado est vinculada ao MST, e por outro lado a Secretaria Estadual de Educao de Santa Catarina SED-SC. Ainda nesse captulo apresento a anlise que vai responder a pergunta inicial da questo da pesquisa. Por ltimo nas consideraes finais a partir do estudo realizado, das anlises feitas tecemos algumas consideraes sobre quais questes ainda permanecem que precisam ser aprofundadas e quais as contribuies que ficam para o MST apontamos os limites e as possibilidades dessa escola para avano na formao do tcnico em agroecologia. I CAPTULO A RELAO TEORIA E PRTICA NA EDUCAOO objetivo central desse capitulo compreender a relao da teoria e prtica na educao de forma geral e em particular na educao escolar. Para isso, buscarei na histria da formao da sociedade humana como o trabalho se constitui no elemento central na formao/educao do ser humano. Para compreender esta relao buscarei a fundamentao, principalmente, nas obras de: Karl Marx; Friedrich Engels, Antnio Gramsci, Istvn Mszros, Gaudncio Frigotto, Ivo Tonet, Mario Alighiero Manacorda, Demerval Saviani, Accia Kuenzer, entre outros. E para compreender a relao entre trabalho agrcola e educao escolar, acrescento: Moisey M. Pistrak, Anton S. Makarenko, Clia Vendramini, Marlene Ribeiro, Moacir Gadotti, entre outros.As questes apresentadas nesse capitulo se constituem no referencial terico pelo qual est embasada esta dissertao. Questes que procuram compreender o trabalho como fator fundamental na formao do ser humano no processo histrico de sua existncia. Se o trabalho foi essencial na formao humana na sociedade sem classes sociais, porque nele estava a possibilidade de essencialmente formadora, pois ele no estava dividido. Nesse sentido teoria e prtica se encontrava em unidade. J sob a sociedade de classes, e principalmente sob o modo capitalista o trabalho (Marx 1968) o trabalho aparece dividido sob a forma de trabalho manual e trabalho intelectual. Essa diviso fruto da diviso da sociedade em classes sociais. Nessa sociedade o trabalho tambm assume um duplo carter de positividade e negatividade.Compreender que o trabalho, sob a sociedade de classes, diga-se sociedade capitalista, assume esse duplo carter, nos possibilita entender que ele pode ser formador e deformador. Nesse sentido este capitulo na primeira parte abordar o trabalho como princpio formativo/educativo do ser humano no processo histrico da formao da sociedade. Nessa abordagem ser visto como o trabalho de pura positividade na sociedade sem classe social passa a ter um duplo carter de positividade e negatividade, formador e deformador. Na segunda parte ser discutido o trabalho como elemento que possibilita a educao emancipatria. Se possvel sob a sociedade de classes onde o trabalho aparece dividido este ser elemento que contribui para a formao/educao que contribua com a emancipao humana. Ou ainda, como o trabalho poder ser elemento que une teoria e prtica na formao/educao no sentido emancipatrio do ser humano. A questo da unidade da teoria e prtica na educao escolar tendo o trabalho como princpio educativo, assim a compreenso do que o trabalho como princpio educativo e o trabalho como princpio pedaggico e como este aparece na educao escolar ser abordado na terceira e ltima parte.1. 1 O trabalho e a formao humana. O conceito de trabalho, segundo a acepo marxista, a ao do ser humano sobre a natureza para transformar esta natureza em coisas teis de modo a satisfazer suas necessidades. O trabalho, ao modificar a natureza para a produo de coisas para satisfazer a necessidade do homem, tambm produz modificaes nele prprio. Nesse sentido d para dizer que o trabalho cria/recria o prprio homem. Ou seja, nas palavras de Marx (1968, p. 202) trabalho : (...) um processo de que participam homem e a natureza. Processo em que o ser humano com sua prpria ao, impulsiona, regula e controla seu intercambio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas foras. Pe em movimento as foras naturais de seu corpo, braos e pernas, cabea e mos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhe forma til vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a ao mesmo tempo modifica sua prpria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domnio o jogo das foras naturais.Ou ainda, conforme Engels (1999, p. 05): a condio bsica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, at certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o prprio homem. Se o trabalho uma eterna necessidade humana de produzir coisas para atender as necessidades por ele criadas, permite ao ser humano se criar/recriar continuamente como humano. Ento, foi atuando sobre a natureza, produzindo coisas teis para satisfazer suas necessidades, ou seja, foi trabalhando que o homem se educou e se humanizou. Nesse sentido, pode-se dizer que existe uma relao de origem entre trabalho e educao. Dito de outra forma, o ser humano foi se educando no processo do trabalho. Trabalho este compreendido como a unidade dialtica teoria e prtica, ou trabalho manual e trabalho intelectual, pensar e fazer, conceber e aplicar. nessa compreenso que trabalho e educao nascem juntos.Para compreender como o trabalho foi se configurando no processo histrico da existncia humana, ou seja, como o trabalho que, na sua origem, criou o prprio homem e no processo histrico da existncia humana foi se transformando em algo que levou e leva o ser humano desumanizao, preciso pesquisar sobre como a sociedade foi se constituindo. Isto quer dizer, compreender como os seres humanos foram organizando o processo produtivo e estabelecendo relaes entre si e com a natureza, para produzir a sua existncia.O conhecimento perdido sobre o processo de produo por parte dos trabalhadores parciais se concentra no capital, com o qual se confrontam. um produto da diviso manufatureira do trabalho se opor-lhes as foras intelectuais do processo material de produo como propriedade alheia e poder que os domina. Esse processo de dissociao comea na cooperao simples, em que o capitalista representa em face dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho. O processo desenvolve-se na manufatura, que mutila o trabalhador, convertendo-o em parcial. Ele se completa na grande indstria, que separa do trabalho a cincia como potncia autnoma de produo e a fora a servir ao capital (MARX, ENGELS 1978, p. 283-284).Na sociedade primitiva em que no havia diviso de classes e nem diviso social e tcnica do trabalho, os seres humanos se educavam no e pelo trabalho. Em um determinado momento histrico a sociedade se divide em classes sociais, entre proprietrios dos meios de produo e no proprietrios. Esta diviso da sociedade em classes condiciona a diviso do trabalho. A diviso da sociedade em classes e a consequente diviso do trabalho que possibilita aos proprietrios dos meios de produo, at o modo de produo feudal, viver sem trabalhar com isso cria para si um espao prprio para se educar chamada de escola. Por outro lado, a classe que vive do trabalho, a no proprietria, continua se educando no e pelo trabalho. A diviso do trabalho que se inicia com a diviso sexual do trabalho, depois, com a gerao de excedentes a diviso ocorre entre aqueles que gestam/administram e aqueles que realizam o trabalho manual. Neste processo vo se constituindo as classes sociais que, na sua forma de organizao, do origem diviso social do trabalho, entre trabalho manual e intelectual, que perpassa desde a sociedade escravista, feudal e burguesa, depois tambm se expressa numa diviso internacional do trabalho. Para efetivao da diviso do trabalho, ou melhor, para que a diviso do trabalho pudesse se consumar era preciso separar os homens entre os que pensam o processo produtivo e os que o fazem acontecer. Ou seja, separar o trabalho intelectual do manual, do pensar e do fazer. Nesse sentido, a diviso do trabalho em manual e intelectual produz um ser humano parcial que no consegue mais compreender o todo, tornando-o unilateral.A diviso do trabalho s surge efetivamente a partir do momento em que se opera uma diviso entre o trabalho material e intelectual. A partir deste momento, a conscincia pode supor-se algo mais do que a conscincia da prtica existente, que representa a de fato qualquer coisa sem representar algo de real (MARX; ENGELS. 1978, p. 16, em itlico no original).Sendo a diviso da sociedade em classes que condiciona a diviso do trabalho, essa s pode se realizar no momento em que se separa trabalho manual do intelectual. Nesse sentido, a diviso da sociedade em classes, em ltima instncia, produto da diviso entre trabalho manual e trabalho intelectual. O modo capitalista de produo revolucionou as relaes de produo, primeiro com a manufatura e depois sob a grande indstria, destruindo as antigas formas de propriedade camponesa, libertando o servo da terra, assim como provocou a destruio das antigas formas artesanais de produo, transformando, com isso, o campons e o arteso em trabalhadores livres livres sob todos os aspectos. Ou seja, livres da propriedade e livres para vender sua fora de trabalho. Neste sentido, a inveno das mquinas proporcionou um aumento extraordinrio de industrializao e isto condicionou a um aumento da diviso do trabalho. O aumento da diviso do trabalho propiciou a cooperao no processo de produo. Isso porque a diviso social do trabalho e a incorporao da mecanizao no processo produtivo necessitam da cooperao. Esta nova forma de organizao do processo produtivo aumenta a produtividade do trabalho, assim como produz o homem dividido. Esta diviso se apresenta como trabalho manual e intelectual. Referindo-se obra de Marx, afirma Manacorda (2010, p. 83):A diviso do trabalho condiciona a diviso da sociedade em classes e, com ela, a diviso do homem; e como esta se torna verdadeiramente tal apenas quando se apresenta como diviso entre trabalho manual e trabalho mental, assim as duas dimenses do homem dividido, cada uma das quais unilateral, so essencialmente as do trabalhador manual, operrio, e as do intelectual. A diviso da sociedade em classes sociais, condicionada pela diviso do trabalho, se mostra sob a diviso do trabalho manual e trabalho intelectual transformando o trabalhador em trabalhador parcial. Isto quer dizer que este perde o conhecimento sobre o todo do processo produtivo. Ou seja, o trabalhador parcial no mais consegue compreender o porqu, para que e para quem produz. Nesse sentido, ao no compreender o processo de produo o trabalho torna-se algo estranho a ele. Em vez de ser a sua autorrealizao torna-se algo penoso, fadigoso. Em outras palavras, o trabalho perante os trabalhadores um sacrifcio, uma tortura, algo alheio a ele, que, em vez de trazer satisfao traz insatisfao. As potncias intelectuais da produo ampliam sua escala por um lado porque desaparecem por muitos lados. O que os trabalhadores parciais perdem, concentra-se no capital com que se confrontam. um produto da diviso manufatureira do trabalho opor-lhes as foras intelectuais do processo material de produo como propriedade alheia e poder que os domina. Esse processo de dissociao comea na cooperao simples, em que o capitalista representa em face dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho. O processo desenvolve-se na manufatura, que mutila o trabalhador, convertendo-o em trabalhador parcial. Ele se completa na grande indstria, que separa do trabalho a cincia como potncia autnoma de produo e a fora a servir ao capital. Com o advento da sociedade burguesa o capital no s se apropria do conhecimento historicamente produzido pela humanidade pelo e no trabalho, mas tambm expropria do trabalhador o produto do seu trabalho. Ao efetuar esta dupla explorao do conhecimento e do trabalho, promove e intensifica, cada vez mais, uma maior diviso de trabalho. Todas estas condies impostas aos trabalhadores resultam numa maior acumulao de capital, que aumenta na proporo em que a maquinaria utilizada reparte as tarefas produtivas at ao extremo de fazer do trabalhador apenas um apndice das mquinas. Assim, o aumento da diviso do trabalho por um lado, e por outro, a acumulao do capital, produzem uma dependncia cada vez maior do trabalhador para com o capital (MARX. 1996, p. 475). Outro elemento que contribui para o aumento da diviso do trabalho a incorporao de novas tcnicas de produo, condicionando cada vez mais a simplificao do trabalho. Dessa forma exige cada vez menos uso das capacidades intelectuais do trabalhador, transformando-o em complemento da mquina, como afirmado no pargrafo anterior. Com a introduo da produo mecanizada e a inveno de tcnicas de produo exige uma maior diviso do trabalho e, ao mesmo tempo, simplifica o trabalho. O trabalho torna-se mais simples e exige cada vez menos uso das capacidades intelectuais do trabalhador, transformando o trabalhador em apndice da mquina. Nesse sentido, o trabalho de uso de capacidades espirituais e fsicas transformado em trabalho puramente mecnico. Em outras palavras, o capital transforma o trabalho em pura atividade corporal em que s se usam os braos, as pernas, o corpo ara sua execuo. Ou seja, um trabalho unilateral. O acmulo do capital aumenta a diviso do trabalho e a diviso do trabalho aumenta o nmero de trabalhadores; mutuamente, o nmero crescente de trabalhadores aumenta a diviso do trabalho e a diviso crescente intensifica a acumulao do capital. Como resultado da diviso do trabalho, por um lado, e da acumulao do capital, por outro, o trabalhador torna-se mesmo mais inteiramente dependente do trabalho e de um tipo de trabalho particular, demasiadamente unilateral, automtico. Por este motivo, assim como ele se v diminudo espiritual e fisicamente condio de uma mquina e se transforma de ser humano em simples atividade abstrata e em abdmen (MARX, 2006, p. 68). Este tipo de trabalho (re)produzido pelo modo de produo capitalista que, alm de separar trabalho intelectual e manual, o pensar do fazer, a teoria da prtica, nega ao trabalhador a apropriao do fruto do seu trabalho, nega tambm o direito de ele se reproduzir enquanto humano pelo trabalho. Pois, o salrio que lhe pago pelo empresrio capitalista serve apenas para que se reproduza enquanto trabalhador e no enquanto ser humano. Alm disso, cria uma dependncia deste trabalhador e de sua famlia em relao ao capital, pois se ficar desempregado no tem a garantia de sua reproduo como trabalhador e nem como ser humano. Nesse sentido, para Marx (2006), o modo de produo capitalista transforma o trabalho em algo estranho a si prprio, pois o trabalhador no se realiza pelo trabalho. Mas, pelo contrrio, o trabalho se torna algo penoso. Assim, sob o modo de produo capitalista o trabalho, que no processo histrico da constituio do homem o humanizou (Engels, 1999), agora deforma o ser humano tornando-o apenas um apndice da mquina, aniquilando-o como humano, uma vez que se torna mercadoria. Nesse sentido:A produo no produz somente o homem como uma forma mercadoria, a mercadoria humana, o homem sob a forma de mercadoria; de acordo com tal situao, produz ainda a ele como um ser espiritual e fisicamente desumanizado Imoralidade e deformidade dos trabalhadores e capitalistas... O seu produto a mercadoria autoconsciente e ativa... A mercadoria humana (MARX, 2006, p 124).O capital no s se apropria do conhecimento historicamente produzido pela humanidade pelo e no trabalho, mas tambm expropria do trabalhador o produto do trabalho. Ao efetuar esta dupla explorao do conhecimento e do trabalho, condiciona cada vez a uma maior diviso de trabalho. Todos estes fatores combinados resultam em uma maior acumulao de capital. O aumento da diviso do trabalho por um lado, e por outro lado, a acumulao do capital, produz uma dependncia cada vez maior do trabalhador para com o capital. Dessa forma, de produtor de coisas para satisfazer as necessidades humanas e de autor da realizao do ser humano, o trabalho passa a ser um fardo, deixando de ser um instrumento de humanizao. De produtor de produtos para sua realizao ou do trabalho livre, voluntrio, o trabalhador passa ao trabalho forado, que no lhe pertence mais, que no lhe permite a realizao enquanto humano, inibindo, portanto, a sua capacidade de (re)criao da realidade. Ou seja, de produtor da sua humanizao passa a (re)produzir a sua prpria desumanizao. Com isso, o trabalhador se sente estranho em relao ao produto do seu trabalho, ao processo de produo, em relao aos outros homens e em relao a si mesmo.Este tipo de trabalho produzido pelo modo de produo capitalista que, alm de separar trabalho intelectual e manual, nega ao trabalhador a apropriao do fruto do seu trabalho, nega, tambm, o direito de ele se reproduzir enquanto humano pelo trabalho. Isso porque o salrio que a empresa capitalista paga ao trabalhador serve para ele se reproduza enquanto trabalhador e no enquanto ser humano. Alm disso, cria uma dependncia deste trabalhador e de sua famlia em relao ao capital, pois se ficar desempregado no tem a garantia a sua reproduo como trabalhador e nem como ser humano.(...) o trabalhador se relaciona com o produto do seu trabalho como a um objeto estranho. Com base nesse pressuposto, claro que quanto mais o trabalhador se esgota a si mesmo, mais poderoso se torna o mundo dos objetos, que ele cria diante de si, mais pobre ele fica na sua vida interior, menos pertence a si prprio (MARX, 2006, p 112).Ao produzir o trabalhador sob a forma mercadoria, o capital tambm aliena o trabalhador do produto do seu trabalho, que ele no mais reconhece como seu. Sob esta forma, ao trabalhador produtor de toda riqueza negado o direito de se apropriar da riqueza por ele produzida. Esta negao causa ao trabalhador uma estranheza em relao ao produto produzido por ele, pois o produto no lhe pertence. No s alienado em relao ao produto por ele produzido, mas tambm em relao ao processo de produo e aos demais seres humanos com os quais reparte as condies de vida e de (re)produo.E esta realidade da separao do trabalhador do produto do seu trabalho que vai determinar a organizao da escola na sociedade capitalista, na qual se produz uma educao dualista separando, assim, a formao intelectual da formao prtica, ou educao e trabalho. De produtor de produtos para sua realizao ou do trabalho livre, voluntrio, o trabalhador passa ao trabalho forado que no lhe pertence mais, que no lhe permite a realizao enquanto humano, inibindo, portanto, a sua capacidade de (re)criao da realidade. Ou seja, de produtor da sua humanizao passa a (re)produzir a sua prpria desumanizao. Com isso, o trabalhador se sente estranho em relao ao produto do seu trabalho, ao processo de produo, em relao aos outros homens e em relao a si mesmo.Nesse sentido sob o modo capitalista de produo o trabalho assume um duplo carter. Alm de produtor de valor de uso que segundo Marx (1968) uma eterna necessidade do ser humano para produo de coisas necessrias para satisfazer suas necessidades para se produzir e reproduzir como humano, produz valor de troca. E este duplo carter do trabalho por um lado enquanto produtor de valor de uso que ele se apresenta como formador do ser humano, e, por outro lado enquanto produtor de valor de troca (mercadoria) este se apresenta como deformador do ser humano. Isto quer dizer que o trabalho segundo Marx (1968) apresenta tanto a positividade quanto a negatividade,1. 2 Unidade teoria e prtica para a educao emancipatriaA partir do conceito de trabalho elaborado por Marx, pode-se dizer que existe uma relao de origem entre trabalho e educao. Ou seja, o ser humano foi se educando no processo do trabalho. Portanto teoria e prtica, trabalho manual e trabalho intelectual, trabalho e educao nascem juntos. Porm, na sociedade capitalista, que divide, separa e contrape as classes sociais, coloca-se a diviso entre trabalho manual e trabalho intelectual, que aparece na escola sob a forma de diviso entre trabalho e educao. Isso porque, sendo a escola um produto desta sociedade dividida em classes, ela tambm reproduz esta sociedade. Portanto, diviso do trabalho e diviso entre trabalho e educao tem relao direta. A educao, que antes da diviso do trabalho acontecia no e pelo trabalho no processo de produo, agora, sob a sociedade de classes e o trabalho dividido, se afastou do processo original de produo/formao humana. Isto quer dizer, formao omnilateral no sentido da emancipao humana, em contraposio formao unilateral que se d nas relaes de produo capitalista, e que se reflete na maioria das escolas, onde se reproduz a separao do trabalho manual do trabalho intelectual, em que a teoria separada da prtica, gerando o trabalho de forma alienada. Dessa forma, reproduz a sociedade de classes e a diviso do trabalho que se materializa na sociedade burguesa.A prtica do cotidiano escolar para a educao voltada formao omnilateral numa sociedade de classes, como a atual, que separa o trabalho manual do trabalho intelectual, o fazer do pensar, a teoria da prtica, est sendo estudada por diversos pesquisadores crticos da rea da educao e tambm da sociologia. Sobre esta problemtica j se tem produzido diversas teses, dissertaes, artigos cientficos, assim como livros. Os autores que abordam as questes relacionadas ao trabalho como princpio educativo, a relao trabalho manual e trabalho intelectual, teoria e prtica como uma unidade dialtica, partem do pressuposto marxista de que o ser humano produziu-se como humano, no e pelo trabalho, ou seja, foi se educando no processo produtivo, na ao prtica de atuar sobre a natureza produzindo coisas para satisfazer suas necessidades. Dessa forma, o ser humano foi transformando a natureza e transformando, tambm, a si mesmo. Se o trabalho base da educao do ser humano, e, se desde a sociedade primitiva, trabalho e educao, teoria e prtica, trabalho manual e trabalho intelectual, pensar e fazer esto articulados, com o surgimento da sociedade dividida em classes, e, mais especificamente com a sociedade burguesa que divide trabalho manual do intelectual, a educao tambm sofre a separao em relao ao trabalho e a teoria em relao prtica. Desta forma, torna-se impossvel alcanar a emancipao a qual pressupe a relao dialtica entre trabalho-educao como base da formao humana (MARX; ENGELS, 1978).A sociedade burguesa sob o modo capitalista de produo ao produzir o trabalhador parcial, que separa trabalho manual e intelectual, necessita de outro espao para fazer a educao, que se chama escola. Esta educao se d fora do processo de trabalho. Nesse sentido no capitalismo a escola torna-se espao principal de educao, e nela se materializa a separao entre a teoria (conhecimento) e a prtica (trabalho).O modo como a sociedade se organiza para a produo da vida que condiciona o tipo de educao e o espao que ela ocupa como principal, pois, nos diversos modos de produo, cada uma tinha um tipo e um espao privilegiado para a educao. Nesse sentido, para compreender a escola e como ela determina a educao preciso historicizar esta escola e olhar as mltiplas determinaes que a configuraram, no seu processo de constituio, nos diversos modos de produo. Isto quer dizer, olhar o desenvolvimento da instituio escolar no processo do desenvolvimento histrico da sociedade humana, e perceber como ela foi-se constituindo e se distanciando em relao ao mundo do trabalho, at um dado momento em que ela se reaproxima, novamente, do trabalho. Segundo Manacorda (1989, p. 10), a origem da escola como espao especfico de educao dos filhos da classe dominante remonta ao antigo Imprio Egpcio, por volta do quarto milnio A.C. A escola desde o seu surgimento no processo histrico de sua constituio, vai passando por transformaes a partir das transformaes que ocorrem na base material da produo da vida. Nesse sentido, desde a sua origem at os nossos dias, a escola passou por profundas mudanas nas formas de organizao, assim como nos mtodos de ensino e nos contedos a serem trabalhados. Ou seja, conforme o processo de produo da vida do ser humano vai se transformando, a educao tambm vai se modificando para formar o ser humano que a sociedade necessita e, ao mesmo tempo, a educao vai se condicionando s mudanas nas formas de organizao da produo da vida. O processo de mudana na organizao da escola condicionada pela transformao da base material da produo da vida no acontece de forma linear e continuada. Isto se pode perceber ao ler a obra de Mario Alighiero Manacorda: A histria da Educao: da Antiguidade aos nossos dias (1989). Nos processos de mudana h continuidades com descontinuidades, tanto modificaes como permanncias. Ou seja, nesse processo h incorporao de elementos novos com a permanncia de elementos antigos. Nesse sentido, h uma relao dialtica entre educao e forma de organizao da base material da vida. Isto quer dizer que a educao, tanto condicionada a ser instrumento de manter a forma de organizao social para a produo da vida, quanto ela poder condicionar a mudana dessa forma em outra forma superior. Nas sociedades de classes que antecederam a sociedade burguesa, a educao escolar se dava desvinculada do trabalho, pois esta educao era destinada classe dominante que vivia fora do processo produtivo, ou seja, classe que vivia sem trabalhar, que vivia do trabalho alheio. A classe que vivia do trabalho se educava do processo produtivo. Ou seja, nessas sociedades a educao dava-se de forma principal no e pelo trabalho. Era no espao do trabalho onde a grande maioria das pessoas se educava para poder trabalhar e, assim, sobreviver. Ou seja, o filho do arteso, o aprendiz se educava na oficina do arteso junto ao processo produtivo. Segundo Manacorda (2010, p. 127), nessas sociedades s a classe dominante tinha um espao especifico para a formao das futuras geraes, espao este que foi chamado de escola. J a classe dominada no conhecia este espao. Nesse sentido, nas sociedades de classes, anteriores sociedade burguesa, segundo o mesmo autor, a oposio de classe, quanto educao, no se dava em torno da escola do trabalho e escola de formao geral, mas em torno de escola e no escola. A escola se coloca frente ao trabalho como no trabalho e o trabalho se coloca frente escola como no escola (MANACORDA, 2010, p. 127). A oposio entre escola do trabalho e escola de formao geral, ou escola desinteressada e escola profissional, comea a surgir com a revoluo industrial quando a escola torna-se acessvel para todos. Na sociedade burguesa, diferentemente das sociedades de classes anteriores onde a classe dominante vivia do no trabalho, o trabalho torna-se necessidade de toda sociedade, porm, nessa sociedade, aprofunda-se o divrcio entre o trabalho manual do trabalho intelectual. A separao entre trabalho manual e intelectual cria uma escola tambm dividida entre educao geral para a classe burguesa e educao profissional para a classe trabalhadora. Superar este dualismo na educao s possvel se for superado na sua totalidade, ou seja, quando superada a sociedade de classes, e com ela, a superao do trabalho dividido.Se nas sociedades pr-capitalistas h um profundo divrcio entre educao escolar e educao pelo trabalho, na sociedade burguesa, com a revoluo industrial, comeam a se organizar as escolas para o produtor, trabalhador, pois a sociedade emergente passa a necessitar de trabalhadores que tenham um mnimo de conhecimento para poder operar novas tecnologias em constante desenvolvimento. Nesse sentido, a educao escolar se vincula ao trabalho. Porm, este vnculo se d de forma abstrata ou de forma prtica. Ou seja, tendencialmente ensina-se teoria sem prtica, ou o contrrio, a prtica sem teoria, ou ainda, a escola educa de uma forma unilateral. Isso quer dizer que a escola concentra-se na formao de apenas uma das dimenses do ser humano, ou formao para o trabalho intelectual ou formao para o trabalho manual.Ainda segundo Manacorda (2010), Marx discute a questo do trabalho em vrios dos seus escritos, dentre os quais pesquisamos para esta Dissertao: Manifesto do Partido Comunista (s/d), Manuscritos Econmicos e Filosficos (2006), O Capital (1968), que o germe da educao do futuro est na unio entre o trabalho e a educao. Isso porque o trabalho historicamente determinado na sociedade burguesa, em que ele aparece dividido entre manual e intelectual, no s negatividade, ou trabalho alienado, unilateral, desumanizador, produo de misria fsica e espiritual. Apesar de significar a desumanizao completa do homem, o trabalho tambm apresenta aspectos positivos, pois: sendo a atividade vital humana, ou manifestao de si, uma possibilidade universal de riqueza no trabalhador tambm est contida tambm uma possibilidade humana universal, conforme Marx, segundo Manacorda (2010, p. 68).O duplo carter do trabalho apresentado por Marx negatividade-positividade. inerente a sociedade burguesa. Compreender esta dupla face do trabalho mister, pois isto nos permite dizer que o trabalho apesar de desumanizar tambm tem a possibilidade de humanizar. O trabalho sob a forma capitalista de organizar a sociedade para produzir a vida divide no s a sociedade em classes, mas tambm divide o trabalho em manual e intelectual, e, com isso, divide o trabalho em sua representao assumindo aspectos negativos enquanto alienao, deformando o ser humano, produzindo por um lado a riqueza para os que concebem a produo, e por outro lado, produzindo a misria para os que produzem com o trabalho prtico.Pelo fato de conter no trabalho a possibilidade universal de riqueza no trabalhador est contida a possibilidade universal da humanizao. A partir disso pode-se afirmar que mesmo no modo de produo capitalista possvel pensar uma educao para alm do Capital que possa unir teoria e prtica (Mszros 2010). Esta possibilidade no se torna possvel realizar no mundo da produo, mas sim na compreenso da classe trabalhadora de como o modo capitalista de produo a partir da diviso da sociedade em classes divide o trabalho entre concepo e execuo. E que a diviso do trabalho produz seres humanos unilaterais deformando-os, desumanizando-os. Nesse sentido torna-se necessrio lutar para construir uma outra sociedade que no seja mais dividida em classes, como forma de unir trabalho manual e trabalho intelectual, concepo e execuo, teoria e prtica. Dessa forma o trabalho no mais dividido possa assumir seu papel na formao do ser humano emancipado. 1. 3 Unidade teoria e prtica na educao escolarNa sociedade burguesa, onde o trabalho aparece dividido entre trabalho manual e trabalho intelectual, cria-se uma escola em que a educao tambm se d de forma dividida entre educao de formao geral e educao profissional, ou melhor, educao do conhecimento terico cientfico e educao do conhecimento prtico. Nesse sentido, a educao produto da forma como a sociedade se organiza para produzir a vida. Ou seja, a educao aparece dividida tal qual como a sociedade tambm aparece dividida. Em outras palavras, assim como a sociedade burguesa divide o trabalho manual e trabalho intelectual, na escola se divide e separa a educao que fornece o conhecimento geral e a educao que forma o profissional pelo conhecimento prtico. Em outras palavras, a educao escolar reproduz a sociedade dividida entre os que pensam o processo produtivo e os que fazem o trabalho prtico, todos direcionados para a reproduo do capital. Esta diviso est ligada diviso da sociedade entre proprietrios dos meios de produo a terra, os bens materiais, as mquinas e as tecnologias avanadas aplicadas na produo e os no proprietrios, ou seja, os que vivem do seu trabalho (ANTUNES, 2003). Isto quer dizer que, na sociedade capitalista, destina-se aos proprietrios dos meios de produo a funo de pensar a organizao do processo de produo e aos no proprietrios as funes de execuo das tarefas. Nesse sentido, para compreender a educao de forma geral, e a educao escolar em particular, preciso buscar compreender a forma como se realiza o trabalho sob o modo de produo capitalista. Como vimos anteriormente, o modo de produo capitalista, comeando pela manufatura e se complexificando sob a grande indstria, condiciona, cada vez mais, a uma maior diviso do trabalho. Esta diviso transforma o trabalhador em trabalhador parcial. Este processo produz a alienao do trabalhador diante do produto do seu trabalho e do processo de produo. Pois, a realidade social em que o ser humano est inserido, ou seja, a forma social da organizao do trabalho e do processo de produo, que determinam a forma de pensar e de agir.O primeiro pressuposto de toda existncia humana naturalmente a existncia de indivduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar , pois, a organizao corporal destes indivduos e, por meio disto, sua relao dada com o resto da natureza. [...] Tal como os indivduos manifestam sua vida, assim so eles. O que eles so coincide, portanto com sua produo, tanto com o que produzem, como com o modo como produzem. O que os indivduos so, portanto, depende das condies materiais de sua produo (MARX; ENGELS, 1986, p.27-28). Admitindo que as condies reais de produo determinem a forma de ser e de pensar do ser humano, torna-se necessrio criar escolas que ultrapassem a viso liberal de articular trabalho e educao, sob a forma de estgios, nas empresas. Nessa viso, a unio da educao ao trabalho meramente uma questo do aprendizado das tcnicas para aumentar a produtividade do trabalho e, dessa forma, o trabalhador se integrar ao mercado de trabalho com melhor qualificao, possibilitando aumentar a produo de mais valia ao capital. Portanto, a unio entre educao e trabalho pode ser funcional ao capital. Esta viso no possibilita uma formao omnilateral, mas, ao contrrio, ao reproduzir a sociedade dividida em classes, mantm dividido o homem entre trabalhador manual e trabalhador intelectual. Portanto reproduz um ser humano unilateral.A viso marxista de unio da educao com trabalho na escola a possibilidade de formar um ser humano que compreenda que foi o trabalho que o produziu. Nesse sentido, permite a este ser humano compreender o processo histrico de sua (de)formao. Em outras palavras, deixa claro como que o trabalho que produziu o humano, sob a sociedade de classes foi se desumanizando pela diviso do trabalho. Isto quer dizer, compreender que a diviso do trabalho foi produzindo uma sociedade de classes e esta, sob a diviso do trabalho entre trabalho manual e trabalho intelectual, foi produzindo um homem parcial, unilateral. Ou seja, que foi a sociedade de classes, fruto da diviso social do trabalho, que dividiu aquilo que unido formou o ser humano, o trabalho manual e o trabalho intelectual o fazer, o pensar e o agir.Nesse sentido, a escola no muda aquilo que produzido nas relaes de produo. Para se mudar as relaes de produo indispensvel a luta revolucionria da classe trabalhadora. Nessa perspectiva, com certeza a escola tem uma funo importante, que a de formar corpos/sentimentos/conscincias dos homens e das mulheres sobre a necessidade de revolucionar as relaes de produo, para que possam se produzir efetivamente como seres humanos. Pois o humano est na unio do trabalho manual com o trabalho o intelectual. E isto s ser verdadeiramente possvel numa sociedade sem classes, pois na sociedade de classes, fruto da diviso do trabalho, a separao do trabalho manual do intelectual parte integrante, essencial, como vimos mostrando at aqui. Sem a diviso do trabalho e com ele o humano parcial, unilateral, deformado, desumano, sem isso a sociedade de classes no subsiste. O homem omnilateral, emancipado, completo, s ser possvel numa sociedade sem classes sociais antagnicas que se contraponham, como o caso da sociedade forjada pelo capitalismo. Segundo Marx (1968), no modo de produo capitalista o aparato escolar surge como aparelho ideolgico do Estado burgus, no s pelas funes temtica e explicitamente ideolgicas implicadas na organizao escolar, mas tambm pela criao de um marco em que a alienao da fora de trabalho vista como algo natural, e, ainda, por que ela reproduz a diviso do trabalho, uma necessidade que advm da diviso da sociedade em classes sociais. ...atravs da diviso do trabalho torna-se possvel aquilo que se verifica efetivamente: que a atividade intelectual e material, o gozo e o trabalho, a produo e o consumo, caibam a indivduos distintos; ento a possibilidade que esses elementos no entrem em conflito reside unicamente na hiptese de acabar de novo com a diviso do trabalho (MARX, 1968, p. 16, em itlico no original).Neste sentido, para que a educao possa ser instrumento na luta pela emancipao humana, que ultrapasse os limites da emancipao social, torna-se necessrio, de alguma forma, mudar a estrutura organizacional da escola. Nesse sentido, no basta mudar os contedos curriculares, pois a forma de organizao do trabalho escolar educa, de certo modo, muito mais do que os componentes curriculares. Isso porque, segundo Marx (1968) no a conscincia que determina o ser social, mas, pelo contrrio, o ser social que determina a conscincia.A formao omnilateral como necessidade para emancipao humana proposta por Marx e Engels (2011) e Gramsci (1982) implica em unir trabalho e educao, trabalho manual e trabalho intelectual no s no sistema educacional, mas, sobretudo, nas bases materiais da produo. Ou seja, superar a sociedade de classes e com ela o homem dividido entre trabalho manual e trabalho intelectual. O rompimento da escola dual, em que se trabalha a formao propedutica, a formao geral com conhecimentos da cultura universal para a classe dominante e a formao para o trabalho para a classe trabalhadora, fundamental quando se pensa a educao voltada para a formao integral do ser humano. Pois a educao unilateral criticada por Marx (2011) e por Gramsci (1982) contribui para a manuteno do modo de produo capitalista, reproduzindo a diviso entre trabalho intelectual e manual e, consequentemente, a alienao. E, com isso, a desumanizao.Para a democratizao da educao do atual sistema educacional, de modo a superar a educao dual, ou seja, educao profissional para a classe trabalhadora e educao geral para a classe dominante preciso transformar todo sistema de ensino, desde a questo dos contedos at a forma de organizao do funcionamento das escolas. Caso contrrio, a democratizao anunciada pelo Estado no passa de uma falcia. Na escola atual, em funo da crise profunda da tradio cultural e da concepo da vida e do homem, verifica-se um processo de progressiva degenerescncia: as escolas de tipo profissional, isto , preocupadas em satisfazer interesses prticos imediatos, predominam sobre a escola formativa, imediatamente desinteressada. O aspecto mais paradoxal reside em que este novo tipo de escola aparece e louvado como democrtico, quando na realidade, no s destinado a perpetuar as diferenas sociais, como ainda a cristaliz-las em formas chinesas (GRAMSCI, 1982, p. 136).Na obra de Gramsci (1982) encontra-se uma crtica escola dual existente na Itlia, no sculo passado. Esta dualidade expressa na separao entre uma escola de formao geral, para a elite dirigente (escola desinteressada) e uma escola de formao para o trabalho, para a classe trabalhadora. (escola interessada). Nessa crtica, o autor usa o conceito de escola imediatamente desinteressada para designar a escola em que os educandos aprendem contedos relacionados aos conhecimentos gerais, da cultura universal e das cincias humanas e fsico-naturais. caracterizada como desinteressada por no ter uma finalidade prtica imediata. O conceito de escola imediatamente interessada aquela em que os educandos aprendem somente como operar os instrumentos de trabalho para produzir mais valia ao capital. imediatamente interessada porque serve para o trabalho imediato, ou tem uma finalidade prtica. Podemos estender esta crtica ao sistema educacional brasileiro, pois, na essncia, este no se diferencia muito daquela escola existente na Itlia, na poca de Gramsci. Sobre isso assim se manifesta Kuenzer (1991, p. 13-14):O fato da dualidade estrutural no ter sido resolvido no interior do sistema de ensino, apesar da tentativa feita pela Lei n 5.6 92/71, no deve causar espanto, na medida em que ela apenas expressa a diviso que est posta na sociedade brasileira, enquanto separa trabalhadores intelectuais e trabalhadores manuais e exige que se lhes d distintas formas e quantidades de educao. Ao mesmo tempo, essa impossibilidade revela, mais uma vez, a ingenuidade das propostas que pretendem resolver, atravs da escola, problemas que so estruturais nas sociedades capitalistas. Neste sentido, a escola brasileira, antes de resolver a dicotomia educao/trabalho no seu interior, referenda, atravs do seu carter seletivo e excludente, esta separao, que uma das condies de sobrevivncia das sociedades capitalistas, uma vez que determinada pela contradio fundamental entre capital e trabalho. Para a superao da escola dual existente no modo de produo capitalista preciso articular a luta pela mudana no sistema de ensino, no s na rea dos contedos escolares, mas tambm na forma de organizao escolar junto luta pela transformao social. Abrir espaos, no sentido de propor mudanas no atual sistema de ensino significa transformar a educao escolar, que reproduz no seu interior a sociedade de classes, a diviso do trabalho e a alienao, em uma educao que possa ser instrumento da emancipao humana. Para isso, Gramsci (2001, p. 33) prope a escola unitria que se contrape escola dual como forma de superao da dicotomia trabalho manual e trabalho intelectual, de modo a formar todos os seres humanos como dirigentes ou com a capacidade de serem dirigentes. Escola () de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre de modo justo o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual. Nesse sentido, no pensamento de Gramsci a construo da escola unitria teria por finalidade a formao da classe trabalhadora para a construo de uma nova cultura se contrapondo cultura burguesa.O desafio era o de pensar uma escola socialista, que articulasse ensino tcnico-cientfico ao saber humanista. Esta seria uma chave para que os trabalhadores pudessem perseguir a sua autonomia e desenvolver uma nova cultura, antagnica quela da burguesia. A luta dos trabalhadores para garantir e aprofundar a cultura e para se apropriar do conhecimento, traria consigo o esforo e o empenho para assegurar a sua autonomia em relao aos intelectuais da classe dominante e ao seu poder desptico (ROIO, 2006, p. 312).A escola nica, proposta por Gramsci (2001), tem o trabalho como princpio educativo. Nessa escola, o trabalho executado deveria ter articulao com os contedos estudados. O trabalho no seria uma coisa parte. Esta relao entre trabalho produtivo e as cincias possibilitaria a superao de uma viso ingnua, desarticulada, folclrica da realidade. Nesse sentido para Gramsci (Apud NASCIMENTO, et alii, 2008, p. 289): (...) o processo de trabalho como princpio educativo imprescindvel na formao de novos intelectuais orgnicos para a classe trabalhadora que, organizada, concretize o ideal de uma sociedade emancipadora, onde tanto o trabalho material quanto o trabalho imaterial absorva uma viso crtica da realidade, uma viso coerente e unitria, que leve em conta a racionalidade, a totalidade e a historicidade das relaes sociais.A educao entendida dessa forma possibilita unir trabalho intelectual e trabalho manual, que a sociedade burguesa, sob o modo de produo capitalista, separou. Este divrcio entre trabalho manual e trabalho intelectual, trabalho e educao, produziu uma ruptura entre a teoria e a prtica, transformando, dessa forma, o trabalho enquanto produto e produtor do ser humano, em trabalho alienado e no qual este ser humano resta desumanizado. Superar a dicotomia trabalho manual e trabalho intelectual, ou seja, trabalhar a educao integral do ser humano imprescindvel na educao que pensa ser instrumento de emancipao humana. Segundo Tonet (2006), na sociedade burguesa, mesmo que o discurso seja que a educao deve formar o ser humano integral, isto no possvel de ser realizado na sua totalidade. Mas poder ser construda uma educao com perspectivas de emancipao humana atravs da realizao de atividades que se movam nessa direo.Esta impossibilidade de se ter uma educao voltada para emancipao humana na sua totalidade se d pelo fato de existir a contradio entre o discurso e a realidade objetiva, onde se pode verificar que, de fato, apenas um discurso. Ou seja, o avano do desenvolvimento das foras produtivas que possibilitam a superao da separao entre trabalho manual e intelectual, o acesso a todos dos bens produzidos e uma educao para a emancipao humana so impedidos, travados pelas relaes sociais baseadas na propriedade privada. Esta contradio decorre da contradio fundamental entre capital versus trabalho, presente no modo de produo capitalista. Contudo, o pleno desabrochar dessas possibilidades bloqueado e pervertido pelas relaes sociais fundada na propriedade privada. Vale dizer, a diviso social do trabalho intensificada; o acesso a educao cada vez mais dificultado; os prprios contedos so cada vez mais fragmentados e alienados; o processo educativo sempre mais submetido s regras do mercado. Disso tudo resulta uma formao dos indivduos cada vez mais unilateral, deformada e empobrecida. Destaca-se, porm, que isto se d ao mesmo tempo em que se torna sempre mais amplo o fosso entre a realidade e o discurso. Enquanto aquela vai no sentido da fragmentao, da oposio entre os indivduos, da guerra de todos contra todos, da excluso social, do aumento das desigualdades sociais, este intensifica o apelo por uma educao humanista, solidaria, integral, cidad democrtica e participativa (TONET, 2005, p.134).No sentido de se contrapor a uma educao desumanizadora e desenvolver atividades que possam contribuir para que a educao venha a se tornar, de fato, um instrumento de emancipao humana, torna-se necessrio compreender a forma como o capital explora a fora de trabalho e, com isso, aliena o trabalhador do que este produz. Caso contrrio, o discurso mostra que, cada vez menos, se compreende a relao da educao com a forma como a sociedade se organiza para produzir sua existncia. Ivo Tonet (2005, p. 134) nos auxilia a entender melhor esta questo:Ora, este discurso no s no uma forma correta de fazer frente aos aspectos desumanizadores do capitalismo atual, como muito mais um sintoma do agudo extravio da conscincia. A nosso ver, ele est a indicar que a conscincia no compreende mais a lgica do processo social e por isso onde se encontra a matriz dele. Est a indicar tambm que admite que o sujeito no tem condies de atacar as bases materiais, que so o fundamento da sociabilidade, limitando-se a apontar o dedo acusador para os seus efeitos. O resultado que quanto menos compreendida e atacada a realidade prtica desumanizadora, tanto mais forte o discurso dito humanista, critico, etc. Para que a educao possa se constituir como instrumento de emancipao humana necessita que se compreenda que a dissociao entre a base material de produo da vida e a educao precisa ser superada. No compreender que a educao, sob a sociedade burguesa, um instrumento que naturaliza a sociedade de classes e a diviso social do trabalho e, dessa forma, ser instrumento do capital para a reproduo material e ideolgica dessa sociedade, contribuir para manuteno da sociedade desumanizada. Nesse sentido, fundamental compreender que trabalho e educao, como confirma Ciavatta e Frigotto (2006), nascem juntos, portanto tm uma relao de identidade. Esta relao de identidade se rompe com o surgimento da sociedade de classes. Ao romper a identidade entre trabalho e educao na sociedade de classes, em que aparece a diviso do trabalho e, com isso, vai se separando tambm trabalho manual e intelectual, produz-se, deste modo, um ser humano alienado e desumanizado.Como vimos anteriormente, para que a educao possa ser uma ferramenta que venha a contribuir na superao da dissociao entre trabalho manual e intelectual extremamente necessrio compreender que essa educao, numa sociedade de classes, instrumento para contribuir na reproduo desta sociedade. Mas, por outro lado, como a luta de classes tambm se expressa no interior da escola, abrem-se possibilidades de introduzir atividades que possam unir trabalho manual e intelectual, no sentido da emancipao humana. Por isso, quando se fala que a unidade entre trabalho e educao meio de transformao social e instrumento de formao moral e fsica, compreende-se que esta unidade devolve ao ser humano o trabalho como atividade criadora, e, portanto, humanizadora. Isso possibilita a compreenso do trabalho sob a sociedade de classes e a diviso do trabalho como alienador e desumanizador. Dessa forma, para que haja um processo de humanizao e desalienao do trabalho preciso construir outra sociedade em que no haja a diviso do trabalho. Sociedade onde o ser humano possa assumir o trabalho como produtor de coisas teis para satisfazer suas necessidades e, ao mesmo tempo, que se reproduza como mais humano. Ainda segundo Gadotti (1997, p. 54) A integrao entre ensino e trabalho constitui-se na maneira de sair da alienao crescente, reunificando o homem com a sociedade. Assim o trabalho como princpio educativo pode ser identificado na afirmao de que a unio entre trabalho e ensino servir de motivao para a formao tcnico-cientifico e cultural. Esta facilmente identificada na pedagogia burguesa. Pois, esta tambm propala a integrao de trabalho e educao, mas esta integrao fica muito mais numa relao genrica, abstrata, na qual a escola se liga ao ensino, vida, relao entre o estudo e o mundo natural. A pedagogia burguesa tambm havia se preocupado em estabelecer a relao entre a escola e a atividade prtica. Entretanto, fundada na filosofia idealista, s podia entender essa relao genericamente, e abstratamente como uma relao entre a escola e a vida, entre estudo e meio natural (GADOTTI, 1997, p.53).Sob a teoria marxiana de educao, a escola possibilitar trabalhar de forma unida aquilo que a sociedade de classes separou, ou seja, o trabalho manual e trabalho intelectual. Isto , trar a possibilidade da formao do ser humano nas vrias de suas dimenses, fsicas, espirituais e polticas. Esta escola pode articular trabalho manual e trabalho intelectual como duas faces de um mesmo ser e no como opostos que a sociedade de classes impe. Ou seja, os estudantes sendo educados de forma a articular trabalho manual e trabalho intelectual, como uma unidade dialtica, tero elementos para compreender a sociedade de classes, como ela, durante processo histrico, foi se constituindo, se transformando, e, dessa forma transformando o trabalho. E, com isso, compreender que as formas divididas e separadas de trabalho so frutos do processo histrico da sociedade de classes. Este um elemento fundamental para se compreender a relao entre o trabalho e a educao, sob o atual estgio de desenvolvimento do capitalismo. E tambm para se pensar como a formao bsica e tcnica podero ser organizadas e funcionar, de modo a contribuir para articular trabalho e educao, apontando caminhos para que se possa superar este modelo de desenvolvimento