o caderno de davi

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Aos 23 anos, David morre vítima de um câncer. Deixa aos cuidados da mãe um caderno, com o intuito de ajudar o companheiro a aceitar sua sexualidade. Nele, há pensamentos que discorre assuntos como homossexualismo, família, religiosidade e amor ao próximo. Léo ao perder o companheiro, sente-se frágil. É descoberto pela família e humilhado em praça pública. Sai da cidade, deixando filhos e emprego. Um ano após, um grupo de jornalistas descobre uma poesia escrita por ele, destinada a David. Imediatamente pede para que ele retorne. Enfrentando a revolta da família, Léo é desafiado a escrever sua própria história. Mas para isso será preciso enfrentar seus próprios preconceitos.

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são paulo - 2010

editora

Page 4: O Caderno de Davi

© Editora Lexia Ltda, 2010. São Paulo, SPCNPJ 11.605.752/0001-00

www.editoralexia.com

Editores-responsáveisFabio Aguiar

Alexandra Aguiar

Projeto gráficoFabio Aguiar

Diagramação e capaEquipe Lexia

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Agradecimentos

Aos meus amigos e familiares que acreditaram em minha obra. Aos que sofrem preconceitos diversos e, especialmente, a Deus por permitir transferir meus pensamentos, desenhando-os em letras. Meus sinceros agradecimentos.

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Prefácio

Aos 23 anos, David morre vítima de um câncer. Deixa aos cuidados da mãe um caderno, com o intuito de ajudar o com-panheiro a aceitar sua sexualidade. Nele, há pensamentos que discorre assuntos como homossexualismo, família, religiosidade e amor ao próximo. Léo ao perder o companheiro, sente-se frágil. É descoberto pela família e humilhado em praça pública. Sai da cidade, deixando filhos e emprego. Um ano após, um grupo de jornalistas descobre uma poesia escrita por ele, destinada a David. Imediatamente pede para que ele retorne. Enfrentando a revolta da família, Léo é desafiado a escrever sua própria história, mas para isso será preciso enfrentar seus próprios preconceitos.

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Sumário

Capítulo I ........................................................................ 11

Capítulo II ....................................................................... 21

Capítulo III ...................................................................... 31

Capítulo IV ..................................................................... 41

Capítulo V ........................................................................ 51

Capítulo VI ....................................................................... 61

Capítulo VII ...................................................................... 71

Capítulo VII ...................................................................... 81

Capítulo IX ...................................................................... 91

Capítulo X ..................................................................... 101

Capítulo XI .................................................................... 111

Capítulo XII ................................................................... 121

Capítulo XIII ................................................................. 133

Capítulo XIV .................................................................. 143

Capítulo XV .................................................................... 153

Page 9: O Caderno de Davi

Capítulo XVI ................................................................. 165

Capítulo XVII ................................................................ 175

Capítulo XVIII ............................................................... 185

Capítulo XIX ................................................................. 195

Capítulo XX ................................................................... 205

Capítulo XXI ................................................................. 215

Capítulo XXII ................................................................ 225

Capítulo XXIII ............................................................... 235

Capítulo XXIV ............................................................... 245

Capítulo XXV ................................................................. 255

Capítulo XVI .................................................................. 265

Capítulo XVII ................................................................. 275

Capítulo XVIII ............................................................... 285

Capítulo XXIX ................................................................ 295

Capítulo XXX ................................................................. 305

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Capítulo I

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O Bilhete

Tarde nublosa. Frio intenso. Vazio marcante. Quarto fecha-do, paredes que sustentavam retratos pendurados, imagem de um passado não muito distante. A senhora Alice, embora triste pela partida do filho, decidira deixar Léo a sós com suas lembranças, sua dor e um bilhete, atendendo o último pedido de David.

Querido Léo,

Sei que teus olhos choram agora por mim. Não quero que fique assim, mesmo porque sei que em al-gum lugar nos reencontraremos. Hoje ao acordar, per-cebi que seria meu último dia de vida, então resolvi escrever para ti, e dizer em letras o que, muitas vezes, desejei, mas com a descoberta do câncer e todos os úl-timos acontecimentos, não o fiz. Há um caderno que deixei com minha mãe... Nele, escrevi ao longo de todos

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esses três anos, tudo o que senti desde o instante que o conheci. Acredito que irá fazê-lo enxergar que não é tão mal assim ter se apaixonado por outro homem... Que embora você acredite que tenha desistido de mim, eu jamais o vi desta forma. Não se culpe pelo o que não tenha me dito, mesmo porque teus olhos, muitas vezes, revelaram-me o que teus lábios negaram. E quanto a minha partida, encare-a como um pedido meu, como um basta a minha dor e ao sofrimento daqueles que, como você e minha mãe, me amaram.

Com muito carinho,

David.

Ao terminar de ler o bilhete, Léo entregou-se ao mais pro-fundo choro. Nenhum acontecimento na Terra é mero acaso do destino. Sabemos que a vida, muitas vezes, prega-nos peças das quais acreditamos que tudo está perdido, mas quase sempre, o aproveitamento de passarmos por tais experiências, nos puncio-na de forma positiva a uma realidade mais evolutiva.

Léo passou a mão nos cabelos. De um lado para outro, andou pelo quarto com pensamentos conflitantes. Continuou chorando. Como pode ter sido tão preconceituoso e tão peque-no diante de tamanho sentimento? Aos seus trinta e seis anos, percebeu que a vida e o mundo pareciam pequenos e insigni-ficantes diante da partida daquele rapaz de apenas vinte e três anos que o ensinou a amar. Agora estava ali, preso a sua culpa, sendo refém de seus sentimentos, que não valiam de nada mais, visto que o cocriador já não se encontrava entre eles.

Alice voltou ao quarto, com o intuito de ajudar Léo:

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– Você está bem? – forjando um sorriso tímido.– Como pude, Alice, ser tão cego e ausente na fase em que teu

filho mais precisou de mim? – disse Léo, com a voz embargada.– O David era um menino de ouro. Não pense assim, que-

rido. Durante esses últimos meses, nós conversávamos muito e falávamos, também, sobre vocês. Ele nunca o viu dessa forma. – aproximando-se de Léo, abraçando-o com ternura, continuou: – O que vai fazer?

– Ainda não sei. Talvez eu vá embora para Capital.– E quanto a Sara, sua esposa? – perguntou Alice.– Vou conversar com ela. Terminar o que já deveria ter

terminado. Dizer aos meus filhos que vou continuar amando-os... Preciso de um tempo, colocar as ideias em ordem.

– Se quiser passar uns dias aqui em casa, antes de tomar qualquer decisão, sinta-se a vontade.

– Obrigado, Alice. Não sei como agradecer. Eu deveria estar consolando-a pela morte de David, e é você que assim me faz.

Abraçaram-se. Léo já estava partindo, quando se lembrou do caderno mencionado no bilhete.

– Alice, David mencionou um caderno.– Sim, querido. Eu o separei para você. Está junto com

alguns pertences dele que estou deixando com você. Só peço que não o leia agora. Você está muito abalado para isso.

O caderno foi entregue e Léo e Alice despediram-se. Não querendo chegar em casa, Léo caminhou por horas. Não sabia ao certo qual seria o destino de sua vida, mas tinha certeza que algo havia mudado. O peito doía. As lágrimas escorriam pela face. Léo era um homem simples, mas com uma condição finan-ceira estável. Tinha talento pela escrita, mas raramente escrevia algo. Resolveu transportar seu sofrimento para o papel. Parou em uma lanchonete. Pediu uma xícara de expresso puro, uma

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folha de papel e uma caneta. Fechou os olhos. Abriu novamente. Pensou em David e na certeza que não mais o veria. Em poucas palavras, desenhou em letras, em forma de poesia o que sentia naquele instante:

Te Amar Dói,Te amar dóiNão por fechar os olhos e enxergar vocêE tão pouco pela ânsia de cada dia desejar te ter

Te amar dóiNão pela ausência que corrói minha alegriaNão pelo meu descaso que não percebi no dia-a-dia

Ainda que fosse este o motivo, a dor seria amenaNão doeria tanto quanto dói em meu peitoA dor que se sente carregada por uma alma serena

Te amar dóiNão por ter perdido noites e noites de sono pensando em vocêOu pelas longas caminhadas que fiz tentando te es-quecer

Não pelos sonhos invadidos que me faz sem pedir li-cençaE pelo desespero que sinto quando acordo, não sentin-do sua presença

Te amar dóiNão por poder ver o brilho dos teus olhos expresso

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agora apenas em retratoOu por sentir tua voz em minha lembrança, com meu coração amargurado

Te amar dóiNão por saber que não tive coragem de lutar por este amorOu pela minha incompreensão, agora me causando ainda mais dor

Dói pela vida que em ti se apagouPelo desespero de um calado grito de perdãoDói por agora ser uma simples lembrança que em mim ficou

Léo Braga

Ao terminar a poesia, Léo soltou a caneta, quase sem for-ças, quando foi surpreendido pela garçonete:

– Senhor, açúcar ou adoçante?– Como? – perguntou surpreso.– Eu disse açúcar ou adoçante? – repetiu a moça, com

olhar cansado, em fim de expediente.– Açúcar, por favor.Léo tomou o café, não percebendo, esqueceu a poesia so-

bre a mesa. Levantou-se e dirigiu-se ao carro. Pensou no cami-nho como faria para conversar com sua esposa Sara e seus filhos, Luis, de quinze anos, e Layla, de dezessete. Começou a relembrar os acontecimentos de sua vida até este momento. Por muito Léo viveu uma vida simples, regrada a rotina de uma cidade peque-na. Trabalhava como Gerente de uma Agência bancária. Casou-

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se cedo com Sara. Tiveram filhos e construíram um lar. Os anos passaram e Léo sentia-se vazio, como se faltasse algo em sua vida. Lembrou-se que quando completara trinta e três anos, um jovem rapaz foi ao banco pedir emprego. Léo o recebeu e con-cedeu a ele uma vaga de atendente. Seu nome era David, jovem de boa aparência e excelente educação. Em poucos meses, Léo se viu encantado por ele. Preocupou-se com seus sentimentos, mas o envolvimento foi inevitável. Tudo o que tinha vivido até aque-le momento, caíra por terra. Entrou em conflito com conceitos religiosos, com sua própria sexualidade, com seu “eu interior”. Três anos se passaram rápido. E ali estava ele, sem saber qual seria o próximo passo a tomar. Chegou em casa. Estacionou o carro e permaneceu parado frente à garagem por aproximada-mente trinta minutos. Abriu a porta da sala e entrou. O cômodo estava escuro. Todos dormiam. Dirigiu-se a cozinha e bebeu um copo de água. Puxou uma cadeira e resolveu sentar-se. Olhou o relógio. Passara das onze da noite. Ouviu passos na escada. A luz acendeu. Percebeu a presença de Sara. Abraçou-a e sendo acolhido pela esposa, entregou-se em soluços.

– O que houve? – questionou Sara.– Me perdoe, mas não vou suportar continuar esconden-

do isso de você. – Léo respondeu ainda em soluços.– Esconder o que meu querido? Se abra comigo.– Eu me apaixonei por outra pessoa.Sara empalideceu. Largou-se em uma cadeira. Um silên-

cio nunca visto naquela casa tomara conta da cozinha. – Quem é ela? – questionou, com medo do que viria

pela frente.– Não é ela, Sara. É ele.– Como? Como assim ele, Léo? O que está me dizendo?– Eu me apaixonei por um rapaz...

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Silêncio. Pensamentos e julgamentos conflitantes toma-ram conta de Sara.

– Quando isso aconteceu? – perguntou a esposa.– Há três anos. – respondeu Léo.– Você está me traindo há três anos com um cara? Pelo

amor de Deus, me diga que isso não é verdade... – Sara entre-gou-se as lágrimas.

– Me perdoe, querida, mas...– Não me chame de querida... Você é nojento.– Eu vou embora. Vou subir e arrumar minhas roupas.– Antes me diga quem é ele. – quis saber Sara, com revolta

nos olhos.– David.– Aquele seu funcionário que morreu? Que fomos ao en-

terro hoje pela manhã?– Sim.– Santo Deus, Léo. O que está me dizendo?– Eu vou embora. Só peço para não dizer nada as crianças.Sara hesitou por um instante. Pensativa, fitou Léo nos

olhos e prosseguiu: – Não vá agora. Fique pelo menos por hoje. Conversare-

mos amanhã com calma. Estou muito confusa com tudo isso com o que acabou de me dizer. Durma na sala. Vou trazer co-bertas. Amanhã pela manhã Layla tem uma apresentação na escola. Quero que vá com ela. Não tenho cabeça para ir. Não merecia passar por isso.

– Me perdoe. Não queria passar por isso também. – disse com olhar triste.

Léo dormiu vencido pelo cansaço. Sara foi para o quarto e chorou muito. A noite custara a passar. Estaria Léo doente? Precisaria de auxílio de um psiquiatra? Muitas perguntas sem

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