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1 ODG/CRP/2003/ PI/1 UNESCO, Paris, June 2003 Original: Portuguese ODG/CRP/2003/ PI/l UNESCO, Paris, Juin 2003 Original: Portuguese United Nalions Educational, Scientific and CuJlural Organization Organisation des Nations Unies pour I'éducation, la sclence et la culture DISCURSO DE ACEITAÇÃO E AGRADECIMENTO DE SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE KAY RALA XANANA GUSMÃO, POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA DE ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO HOUPHOUET-BOIGNY POUR LA RECHERCHE DE LA PAIX - PEACE PRIZE, UNESCO Paris/lO de Junho de 2003 Excelências Senhor Ko'ichiro Matsuura Director-Geral da UNESCO Senhor Presidente Abdou Diouf, Secretário Geral da Organização Internacional da Francofonia e Patrono do Prémio da Paz Félix Houphouet-Boigny Senhor Presidente Henry Konan Bédié, Protector do Prémio, Senhor Jean Foyer, Vice Presidente do Júri Internacional do Prémio, Amigo, Dr. Mário Soares, Distintos Membros do Júri Internacional, Distintos Convidados, Membros do Corpo Diplomático Excelências, Senhoras e Senhores, É para mim uma enorme honra estar hoje perante vós a receber o prestigiado Prémio Félix Houphouet-Boigny 'pour le Recherche de la Paix', na sede da igualmente respeitada e reconhecida UNESCO. Félix Houphouet-Boigny é uma referência para países como a jovem Nação de Timor- Leste, pelo seu humanismo, princípios, espírito reconciliador e visão de futuro e, muito em particular, o profundo sentido democrático e pluralista e a clareza de definição dos objectivos de desenvolvimento e dignificação do seu Povo. Um sábio que nos inspira nos valores universais, hoje, ainda tão mal tratados em muitos países do mundo, fazendo sofrer tanto as populações. A UNESCO representa muitas das aspirações que os Povos, como o Timorense, estão determinados a conquistar também para o seu futuro, a preservação e o respeito pela cultura e os valores identitários nacionais: o desenvolvimento do indivíduo através da

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1ODG/CRP/2003/ PI/1 UNESCO, Paris, June 2003 Original: Portuguese

ODG/CRP/2003/ PI/lUNESCO, Paris, Juin 2003

Original: Portuguese

United Nalions •Educational, Scientific and •

CuJlural Organization •

Organisationdes Nations Unies

pour I'éducation, •la sclence et la culture

DISCURSO DE ACEITAÇÃO E AGRADECIMENTO DESUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE KAY RALA XANANA GUSMÃO,

POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA DE ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO HOUPHOUET-BOIGNY POURLA RECHERCHE DE LA PAIX - PEACE PRIZE, UNESCO

Paris/lO de Junho de 2003

Excelências

Senhor Ko'ichiro Matsuura Director-Geral da UNESCO

Senhor Presidente Abdou Diouf, Secretário Geral da Organização Internacional daFrancofonia e Patrono do Prémio da Paz Félix Houphouet-Boigny

Senhor Presidente Henry Konan Bédié, Protector do Prémio,

Senhor Jean Foyer, Vice Presidente do Júri Internacional do Prémio,

Amigo, Dr. Mário Soares,

Distintos Membros do Júri Internacional,

Distintos Convidados, Membros do Corpo Diplomático

Excelências,

Senhoras e Senhores,

É para mim uma enorme honra estar hoje perante vós a receber o prestigiado PrémioFélix Houphouet-Boigny 'pour le Recherche de la Paix', na sede da igualmente respeitadae reconhecida UNESCO.

Félix Houphouet-Boigny é uma referência para países como a jovem Nação de Timor­Leste, pelo seu humanismo, princípios, espírito reconciliador e visão de futuro e, muitoem particular, o profundo sentido democrático e pluralista e a clareza de definição dosobjectivos de desenvolvimento e dignificação do seu Povo. Um sábio que nos inspira nosvalores universais, hoje, ainda tão mal tratados em muitos países do mundo, fazendosofrer tanto as populações.

A UNESCO representa muitas das aspirações que os Povos, como o Timorense, estãodeterminados a conquistar também para o seu futuro, a preservação e o respeito pelacultura e os valores identitários nacionais: o desenvolvimento do indivíduo através da

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educação e da clencia, lado a lado com o reconhecimento do património humano,material, natural e espiritual que dão forma e sentido à sua identidade nacional.

Ambos, Félix Houphouet-Boigny e UNESCO representam referências inquestionáveis doselementos determinantes que alicerçam a harmonia e estabilidade sociais, que actuamcomo ingredientes necessários para a Paz.

Para Timor-Leste, a mais jovem nação do mundo, este Prémio só pode significar que aprioridade da construção da Paz deve ser um objectivo permanente.

Timor-Leste acaba de viver o seu primeiro ano de independência após décadas de lutapara a sua afirmação.

Cada vez estamos mais convencidos de que é um caminho longo e difícil, com tremendosdesafios mormente em termos de contínuo cometimento aos princípios e ideais. Háurgente necessidade de ultrapassar alguns desses enormes desafios, para que a Paz e aindependência ganhem um significado real para o nosso Povo.

A Paz não deve ser encarada como uma mera ausência de violência ou de guerra. EmTimor-Leste, vivemos uma situação de ausência de guerra e os níveis de violência sãoconsiderados dos mais baixos de todo o mundo. Contudo, a Paz não está ainda instaladae cristalizada na nossa sociedade, porque pensamos que a Paz não é um conceitoabstracto.

Félix Houphouet-Boigny definiu a Paz como um comportamento. É este também o nossocometimento: construir uma cultura de Paz que se torne na base da tranquilidadeindividual e colectiva da sociedade timorense.

O processo de construção da Paz em Timor-Leste apresenta duas componentesdeterminantes: a reconciliação nacional e o envolvimento dos cidadãos no processo deconstrução do Estado de direito e no processo de desenvolvimento nacional.

Neste sentido, temos vindo a centrar a nossa acção em áreas estratégicas que evolvemem torno do pilar fundamental que é a participação e o envolvimento dos cidadãos,individual ou colectivamente, quer através das instituições que dão forma ao Estado queratravés de espaços menos convencionais mas que actuam como o veículo da expressãode vontades e opiniões, difíceis de ouvir noutras circunstancias.

Falo, por exemplo, da intensificação das acções com vista ao desenvolvimento davivência democrática, do respeito e da tolerância.

Da mesma forma, temos o processo de reconciliação que envolve a discussão colectivano esforço que se deve dar à matéria de sarar as feridas do passado, para se olhar comconfiança o futuro.

Outra acção diz respeito ao Diálogo Nacional enquanto iniciativa da Presidência que visao envolvimento de todos no debate aberto, mas normado nas regras democráticas, dequestões que preocupam a generalidade da população e que são estruturantes dasinstituições de Estado e da construção do Estado de Direito.

Recentemente foi realizado o Diálogo Nacional sobre o Poder Local, o seu papel,objectivo e missão. A anteceder o debate final e inclusivo de todos os sectoresrelevantes da sociedade, foi realizada uma consulta em todo o país durante dois meses.Acreditamos que a estruturação do poder local, a descentralização dos processos detomada de decisão e a responsabilização dos cidadãos na definição das necessidades eprioridades locais e na busca da solução é um poderoso meio de assegurar a participaçãodirecta na consolidação da democracia e na vivência de um comportamento de paz.Trata-se essencialmente de tornar cada cidadão no actor principal no destino do país.

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Num país como Timor-Leste, um dos mais pobres do mundo, consideramos que aconstrução da Paz é o maior contributo que podemos ofertar ao nosso povo, à região dosudeste asiático e à comunidade internacional.

É, neste sentido, que continuaremos a trabalhar activamente para forjar as melhoresrelações de cooperação com a Indonésia e, por conseguinte, com todos os vizinhos daárea. Este Prémio que hoje aceito como representante do Estado democrático de Timor­Leste, é um encorajamento para continuar nesta via.

Excelências,

Senhores e Senhoras,

Há cinco dias, Timor-Leste assinou em Londres a Constituição da UNESCO tornando-seseu membro. É mais um passo importante para o nosso país, no esforço da sua inserçãona comunidade das nações. Desejo aqui reconhecer e agradecer o apoio eencorajamento que a UNESCO nos tem dispensado mesmo antes da adesão e que, agorairemos conjuntamente implementar. Estou confiante que, sob a direcção do SenhorKo'ichiro Matsuura, a relação do mais jovem país membro da UNESCO com a organizaçãoe com os restantes membros, irá crescer e enriquecer-se.

Aos membros do Júri Internacional do Prémio da Paz Félix Houphouet-Boigny agradeçoo gesto de confiança que redimensiona a responsabilidade de Timor-Leste, e a minhaprópria, na construção da Paz essencial ao desenvolvimento e dignificação do Povo deTimor-Leste. Ao Presidente do Júri, Senhor Henry Kissinger, agradeço a honra que nosdeu com a sua mensagem apesar de não ter podido estar presente por ficar retido emLondres, em consequência da greve em curso. É um reconhecimento e adesão quepresta ao processo de Paz em Timor-Leste.

A nossa gratidão dirige-se igualmente aos ilustres convidados que nos honram, a nós e aTimor-Leste, com a Vossa presença - Presidente Abdou Diouf, Presidente Henri Bédié,Senhor Michel de Lubieres, representante de Sua Excelência o Presidente Jacques Chirac,Embaixador Teiichi Sato, em representação de Sua Excelência o Prímeiro MinistroKoisumi, do Japão, e, Excelências, os distintos representantes de Governos e da UNESCOe os membros da família de Félix Houphouet-Boigny que nos honram com a su presença.

Os meus agradecimentos vão de igual modo ao membros e staff do SecretariadoExecutivo do Prémio da Paz Félix Houphouet-Boigny e, em particular, ao seu SecretárioExecutivo, Senhor Alioune Traoré, por manter vivo o sentido humanista universal deFélix Houphouet-Boigny ao administrarem o Prémio e organizarem e garantirem ascondições de tão calorosa hospitalidade e simpatia para comigo e a delegação que meacompanha.

Ao aceitar hoje este Prémio desejo prestar homenagem e honrar a memória de FélixHouphouet-Boigny, pela visão e pelo gesto que este sábio do continente africano e doMundo demonstrou e que, anualmente se transforma numa importantíssima Mensagempela Paz Mundial.

Muito Obrigado

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