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PROF. MSC. ROBERTA SCHEIBE Discursos

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PROF. MSC. ROBERTA SCHEIBE

Discursos

Mas afinal, o que são gêneros do discurso?

COMO SE ORGANIZAM? COMO SE CARACTERIZAM?

Não se apavore...

Para responder a essas questões, seguem-se algumas informações breves a partir das idéias de Bakhtin (1929, 1953/54), em sua Teoria dos Gêneros.

Para Bakhtin, o que importa é o estudo da comunicação verbal real, incompatível com gramaticalizações. E esta comunicação real se concretiza nos gêneros textuais/discursivos.

Para Bakhtin (1953/53) os gêneros são formas relativamente estáveis de enunciados/discursos em dados contextos e situações específicas de comunicação. Assim, cada diferente contexto ou cada diferente situação de comunicação determina um gênero. É neste sentido que se afirma que há tantos gêneros quanto há atividades humanas ou esferas humanas de comunicação.

Os gêneros do discurso (orais e escritos) têm, como marca essencial, a maleabilidade e a heterogeneidade, assim como a possibilidade de se ampliarem e se multiplicarem, na medida das transformações do mundo e do homem (Barros-Mendes, 2005:.69).

Para o autor a sociedade produz gêneros primários e gêneros secundários. Os gêneros primários são aqueles que surgem de situações cotidianas e privadas. Embora predominantemente orais, abarcam entre eles também formas mais prosaicas de escrita. Um exemplo seria o bilhete ou a carta pessoal, em que traços de oralidade estão fortemente presentes na escrita.

Os gêneros secundários, próprios das esferas públicas mais complexas (arte, ciência, trabalho etc.), seriam re-elaborações dos primários (porém não exclusivamente) escritos. Dessa forma, pertenceriam aos gêneros secundários tanto os textos científicos (onde a linguagem escrita é bastante elaborada e distanciada do oral cotidiano), quanto os debates públicos que, apesar de orais, são fortemente apoiados em estruturas formais e textuais.

Os enunciados são construídos sempre em função do outro; de um interlocutor. Sempre que falamos ou escrevemos temos sempre em mente alguém; o outro para interagirmos, mesmo se falarmos conosco mesmos.Quando alguém elabora um enunciado, leva em conta, ao mesmo tempo, não só o contexto sócio-histórico em que está sendo produzido, mas , principalmente, o seu interlocutor. É neste sentido que se pode afirmar que um enunciado é elaborado já considerando as respostas que suscitará.

O interlocutor, portanto, não é um ser passivo que apenas entende o enunciado. Ele sempre adota uma atitude responsiva ativa em relação ao discurso do outro. E assim, aquele que era ouvinte (ou receptor) passa a ser o locutor. A compreensão responsiva é a forma inicial e preparatória para uma resposta.

Como se organizam os gêneros?

É fácil...

De modo simples e objetivo pode-se resumir que os gêneros textuais/discursivos se organizam por: um tema (o que se quer dizer em uma dada situação de comunicação), uma forma de composição/estrutura (como organizar e estruturar esse dizer, por exemplo, em paragrafação ou versos?) e um estilo (como se quer dizer e como se estabelecer a seleção vocabular e lingüística, para auxiliar na elaboração do sentido do querer dizer do locutor ) .Vejamos um esquema em que delineamos os gêneros textuais/discursivos dentro de algumas esferas.

Nessas esferas, os gêneros textuais/discursivos circulam, podendo circular em mais de uma esfera, ou seja, há gêneros que podem pertencer tanto à esfera jornalística como à esfera cotidiana, como a carta. No entanto, esse gênero, por sua característica heterogênea e relativamente estável, se altera dentro dessas esferas.

Uma carta de leitor (carta que o leitor envia a um jornal ou revista, posicionando-se frente a determinado assunto publicado – reportagem entrevista, por exemplo) não tem as mesmas características de uma carta familiar, (se diferenciando, sobretudo na linguagem, ou seja, no seu estilo informal).

Vejamos alguns exemplos de:

Gêneros da esfera publicitária: propaganda de produtos a serem consumidos: anúncios e publicidades de modo geral e propaganda de convencimento: publicidades de produtos não consumíveis, tais como do meio ambiente, sobre a importância da vacinação, do uso do preservativo, enfim campanhas governamentais ou de organizações (ONGS) de ações social e ambiental.

Gêneros da esfera jornalística:

Gêneros da esfera burocrática:

carta formal, ofício, memorando, editais de concursos, documentos pessoais como passaporte, carteira de identidade, título de eleitor, etc.

Gêneros da esfera religiosa:

salmos, hinos, provérbios, parábolas, epístolas etc.

Gêneros da esfera cotidiana: receita de alimentos, talões de água, energia elétrica, telefone, bilhetes, cartas pessoais, piadas etc.

  Gêneros da esfera literária: conto de amor, conto de enigma e de

aventura, contos de fadas/ infantil, romance, poema, letra de canção etc.   Gêneros da esfera científica: teses, dissertações, artigos científicos,

ensaio, resenhas, resumos, livros.   Gêneros da esfera escolar: livro didático, aula, seminário, debate,

exposições orais, questões instrucionais, atividades, exercícios etc.   Gêneros da esfera artístico-cultural: escultura, pinturas, fotografias,

literatura oral, adivinhas, provérbios, piadas, músicas etc.   Observem-se os gêneros que circulam em mais de uma esfera.

Bibliografia BAKHTIN, M. (1952/53/1979) Estética da Criação Verbal. São

Paulo: Martins Fontes, 1992. BAKHTIN, M./ VOLOCHINOV, V. N. (1929) Marxismo e filosofia

da linguagem. SP: Hucitec, 1981. BAKHTIN, M. (1953/54/1975) A estilística contemporânea e o

romance.In: BAKHTIN, M. (1975) Questões de estética e de literatura.pp.73-106.São Paulo.Hucitec,1990.

BARROS-MENDES, A.N.N (2005) Os gêneros orais formais e públicos nos livros didáticos de língua portuguesa: algumas reflexões.PUC/SP- UNIGE/SUISSE.

BRASIL . (1998) Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN/ Língua Portuguesa (3º e 4º ciclos). Brasília, MEC/SEF.

DOLZ, J & SCHNEUWLY, B (1998) Pour un enseignement de l’oral: Iniciation aux genres formels à école. Paris: ESF Editeur