diretrizes sager: equidade de sexo e gÊnero na …...internacional da mulher, a editora elsevier...
TRANSCRIPT
1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
DIRETRIZES SAGER: EQUIDADE DE SEXO E GÊNERO NA PESQUISA,
REDAÇÃO E PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA
Leila Posenato Garcia1
Resumo: Diferenças de sexo e gênero são muitas vezes negligenciadas no desenho das pesquisas
científicas, na implementação dos estudos e na redação de artigos científicos, bem como na
comunicação científica em geral. A Associação Europeia de Editores Científicos convocou um
grupo de especialistas para desenvolverem a fundamentação lógica para um conjunto internacional
de diretrizes para encorajar uma abordagem mais sistemática para o relato de sexo e gênero na
pesquisa em diversas áreas do conhecimento. Este trabalho culminou na produção das diretrizes
sobre Equidade de Sexo e Gênero em Pesquisa (SAGER), que incluem um conjunto de
recomendações para o relato de informações sobre sexo e gênero no desenho do estudo, na análise
de dados, nos resultados e na interpretação dos achados de pesquisas científicas. As diretrizes
SAGER destinam-se principalmente a orientar os pesquisadores e autores no delineamento dos
estudos e na preparação de seus manuscritos, mas também são úteis para os editores e editoras de
periódicos, para integrarem a avaliação de sexo e gênero em todos os manuscritos como parte
integrante do processo editorial. Esta comunicação tem como objetivo apresentar as diretrizes
SAGER, publicadas em 2016, bem como exemplos de sua aplicação, visando a sensibilizar
acadêmicos, pesquisadores, editores de periódicos, revisores de periódicos e sociedades científicas a
adotarem uma abordagem mais sistemática que incentive o relato de sexo e gênero na pesquisa.
Palavras-chave: Sexo; Gênero; Diretrizes SAGER; Pesquisa científica; Publicação científica
Introdução
Embora nao existam dúvidas a respeito da centralidade da consideração do sexo e do gênero
na ampla maioria pesquisas científicas, ainda se observam importantes lacunas e baixa
conscientização de grande parte do meio acadêmico e científico sobre esta consideração em
distintas etapas das investigações, desde o planejamento até a publicação dos resultados. Em muitas
áreas, a hegenomia ou supremacia do masculino é uma realidade no meio científico, o que, em
grande medida, implica na reprodução das desigualdades de sexo e gênero na investigação, com
participação de pesquisadores de ambos os sexos e gêneros diversos.
1 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília, Brasil.
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
No próprio meio de pesquisa, as desigualdades são marcantes. Em 2017, para celebrar o Dia
Internacional da Mulher, a Editora Elsevier (ELSEVIER RESEARCH INTELLIGENCE, 2017)
lançou um relatório sobre as desigualdades de sexo na pesquisa e na publicação científica, com base
em mais de 62 milhões de documentos da base bibliográfica Scopus, cobrindo um período de 20
anos, 12 países e 27 áreas temáticas. O documento fornece informações úteis para subsidiar
políticas de promoção da igualdade de gênero para governos, financiadores e instituições em todo o
mundo. Entre os principais resultados destaca-se que, embora a proporção de mulheres entre
pesquisadores tenha aumentado ao longo do tempo, em todos os países e regiões de comparação,
elas continuam sendo a minoria na maioria dos países. Brasil e Portugal se destacaram como os
países mais próximos da igualdade. Nestes países, no período de 2011 a 2015, as mulheres
corresponderam a 49% dos autores da produção científica publicada e indexada na base Scopus.
Além disso, foram evidenciadas diferenças entre as áreas de pesquisa. Entre os pesquisadores, as
mulheres tendem a se especializar nas áreas biomédicas os homens nas ciências físicas. Nas
engenharias, os homens tendem a aparecer como primeiro autor ou autor correspondente em uma
proporção maior de sua produção acadêmica do que as mulheres. Na enfermagem, o oposto é
verdadeiro para a maioria dos comparadores.
Não obstante os avanços alcançados, desigualdades importante permanecem. Entre os
pesquisadores, em comparação com os homens, as mulheres tendem a ter uma produção acadêmica
inferior, em média, mas a produção científica de ambos tem impacto semelhante, em termos de
quantidade de citações e downloads de arquivos. A proporção de patentes com pelo menos uma
mulher nomeado como inventora tende a ser superior a proporção de mulheres entre inventores,
apontando a produtividade feminina. Quanto à distribuição de sexos na liderança, colaboração,
interdisciplinaridade, e mobilidade em pesquisa, as mulheres são menos propensas do que os
homens a colaborar internacionalmente em trabalhos de pesquisa. As mulheres são um pouco
menos propensas do que os homens a colaborar em trabalhos de pesquisa com coparticipação dos
setores corporativo e acadêmico. Em geral, pesquisas altamente interdisciplinares representam uma
proporção um pouco maior da produção acadêmica das mulheres do que os homens. Entre os
pesquisadores, as mulheres geralmente apresentam menos mobilidade internacional do que os
homens.
As diferenças de sexo e gênero na pesquisa não se restringem à composição do meio
acadêmico e à distribuição da produção científica, e têm reflexos importantes. É frequente a
desconsideração do sexo feminino e, de maneira geral, dos gêneros não-masculinos, na pesquisa
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
científica. Este viés, ou hiato de gênero, com subrepresentação do feminino, pode trazer
consequências adversas. Por exemplo, indivíduos de um determinado sexo podem ter risco maior de
efeitos adversos de um medicamento, quando os ensaios clínicos não incorporam amostras
suficientes de sujeitos de cada um dos sexos para a realização de análises estratificadas. Outro
exemplo clássico é maior risco de lesões em chicote cervical entre mulheres ocupantes de carros em
comparação com homens, pois estudos deenvolvidos sobre equipamentos de proteção em veículos
desconsideram diferenças na fisiologia e na anatomia de homens e mulheres.
Elaboração das diretrizes SAGER
Considerando que estas questões são muitas vezes negligenciadas no desenho das pesquisas
científicas, na implementação dos estudos e na redação de artigos científicos, bem como na
comunicação científica em geral, a Associação Europeia de Editores Científicos convocou um
grupo de especialistas para desenvolverem a fundamentação lógica para um conjunto internacional
de diretrizes para encorajar uma abordagem mais sistemática para o relato de sexo e gênero na
pesquisa em diversas áreas do conhecimento. Em 2012, foi criado o Comitê de Política de Gênero,
composto por treze especialistas (oito mulheres e cinco homens), de nove países. Em sua maioria,
os membros do Comitê eram editores sênior de diversas revistas biomédicas. O Comitê foi
encarregado de desenvolver um conjunto de orientações para o relato de Equidade de Sexo e
Gênero na Pesquisa (SAGER) (HEIDARI et al, 2016).
A primeira etapa do trabalho do Comitê consistiu de uma pesquisa por internet com editores
de revistas, cientistas e outros membros da comunidade editorial internacional. A pesquisa que foi
conduzida inicialmente coletou informações acerca de políticas sobre sexo e gênero existentes, e
evidenciou a necessidade do desenvolvimento de tais políticas. Por meio de reuniões presenciais
durante as Conferências da Associação Europeia de Editores Científicos, e uma série de
teleconferências, o Comitê trabalhou por três anos. A versão preliminar das diretrizes foi submetida
a apreciação por um conjunto de especialistas, que opinou sobre seu conteúdo. Por fim, as diretrizes
SAGER foram publicadas em maio de 2016, na revista Research Integrity and Peer Review, um
periódico de acesso aberto que faz parte da família BioMed Central (HEIDARI et al, 2016).
O que são as diretrizes SAGER e a quem se destinam?
As diretrizes SAGER constituem uma ferramenta para padronizar o relato sistemático de
sexo e gênero em publicações científicas, sempre que apropriado. As Diretrizes SAGER podem ser
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
usadas como um instrumento prático na avaliação de artigos científicos e outros produtos de
pesquisa, sendo de particular interesse a pesquisadores, autores de artigos científicos, editores e
revisores de periódicos. Também podem ser usadas como um veículo para o aumento da
conscientização sobre questões de sexo e gênero no meio científico, de modo geral, incluindo não
somente aqueles envolvidos na publicação científica, mas também a outros investigadores,
instituições de pesquisa e finaciadores.
Como princípio geral, as diretrizes SAGER recomendam o uso cuidadoso das palavras sexo
e gênero, a fim de se evitar confusão entre esses termos. São adotadas as seguintes definições:
a) Sexo refere-se a um conjunto de atributos biológicos em seres humanos e animais que estão
associados com características físicas e fisiológicas, incluindo cromossomos, expressão gênica,
função hormonal e anatomia reprodutiva/sexual [1]. O sexo é geralmente categorizado como
feminino ou masculino, embora haja variação nos atributos biológicos que constituem sexo e no
modo como esses atributos são expressos.
b) Gênero refere-se aos papéis socialmente construídos, comportamentos e identidades de pessoas
do sexo feminino, do sexo masculino e de gêneros diversos.1 Influencia como as pessoas percebem
a si mesmas e umas às outras, como elas se comportam e interagem, e a distribuição de poder e
recursos na sociedade. Geralmente, o conceito de gênero é incorretamente conceituado como um
fator binário (feminino/masculino). Na realidade, existe um espectro de identidades e expressões de
gênero que definem como os indivíduos se identificam e expressam seu gênero.
O Quadro abaixo apresenta as diretrizes SAGER.
Quadro - Diretrizes para Equidade de Sexo e Gênero na Pesquisa (SAGER)
Princípios gerais
Os autores devem usar os termos sexo e gênero cuidadosamente, para se evitar confundir ambos os
termos.
Nos casos em que os sujeitos da pesquisa compreendam organismos capazes de diferenciação por
sexo, a pesquisa deve ser delineada e conduzida de forma que possa revelar diferenças
relacionadas aos sexos nos resultados, mesmo que estes não fossem inicialmente esperados.
Quando os sujeitos também podem ser diferenciados por gênero (moldado pelas circunstâncias
sociais e culturais), a pesquisa deve ser conduzida de forma semelhante nesse nível adicional de
distinção.
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Recomendações por seção do artigo
Título e
resumo
Se apenas um sexo estiver incluído no estudo, ou se os resultados do estudo forem
aplicáveis a apenas um sexo ou gênero, o título e o resumo deverão especificar o
sexo dos animais ou de quaisquer células, tecidos e outros materiais derivados
destes, e o sexo e gênero dos participantes humanos.
Introdução
Os autores devem relatar, quando relevante, se diferenças de sexo e/ou gênero
podem ser esperadas.
Métodos
Os autores devem relatar como o sexo e o gênero foram levados em consideração
no desenho do estudo, se eles asseguraram uma representação adequada de
indivíduos dos sexos masculino e feminino, e justificar as razões para qualquer
exclusão de indivíduos do sexo masculino ou feminino.
Resultados
Quando apropriado, os dados devem ser rotineiramente apresentados desagregados
por sexo e gênero. As análises de sexo e gênero devem ser relatadas
independentemente do desfecho positivo ou negativo. Nos ensaios clínicos, os
dados sobre as desistências e os abandonos devem também ser reportados
desagregados por sexo.
Discussão
As implicações potenciais do sexo e do gênero nos resultados e nas análises do
estudo devem ser discutidas. Se uma análise de sexo e gênero não foi conduzida, a
justificativa deve ser dada. Os autores devem discutir ainda as implicações da falta
de tal análise na interpretação dos resultados.
Exemplos de aplicação das diretrizes SAGER na revisão de artigos científicos
A seguir, serão apresentados alguns exemplos de aplicação das orientações contidas nas
diretrizes SAGER, em artigos científicos, publicados em periódicos científicos da área da saúde.
Exemplo 1 – Artigo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia
Prevalência de diabetes mellitus: diferenças de gênero e igualdade entre os
sexos. (GOLDENBERG, SCHENKMAN, FRANCO, 2003)
Resumo: O presente estudo tem como propósito caracterizar a prevalência de Diabetes Mellitus
(DM) em São Paulo, segundo diferenciais sociais e de gênero, constituindo um desdobramento do
inquérito domiciliar realizado em nove capitais brasileiras (Estudo Multicêntrico de Prevalência de
Diabetes Mellitus no Brasil). Este levantamento envolveu duas etapas de investigação: numa
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
primeira fase, foi rastreada a glicemia capilar de jejum (GCJ) em 2.007 indivíduos, na faixa etária
de 30 a 69 anos; numa segunda fase, foi realizada a determinação da glicemia capilar após 2 horas
de sobrecarga com 75g de glicose em todos os indivíduos com GCJ maior ou igual a 100mg/dl e em
1/6 dos indivíduos com GCJ menor que 100mg/dl. Realizada a expansão dos resultados obtidos na
segunda fase da investigação para a amostra original, foram estudadas as prevalências de DM pré e
recém diagnosticados, relacionando-as com idade, sexo, ocupação, escolaridade, naturalidade, bem
como com a distribuição por área. Ancorada na oposição e complementaridade das relações de
gênero, a presente proposta se organiza norteada pela hipótese de que o DM recém-diagnosticado
aumentaria na população masculina e nos segmentos mais pobres da população, diante da busca
ativa, como contraponto dos resultados referenciados ao DM pré- diagnosticado ou auto-referido.
Os resultados encontrados confirmaram as referidas hipóteses, ressaltando o desaparecimento das
diferenças entre os sexos. A elevada proporção da doença decorrente da busca ativa, duplicando a
prevalência observada entre os pré-diagnosticados, chamou a atenção para a relevância da
consideração socialmente diferenciada na detecção dos novos casos. A identificação de
diversificadas injunções sociais junto às populações masculina e feminina, associadas à ocorrência
do diabetes, reforçaram a necessidade da realização de estudos específicos sobre a obesidade, com
vistas à melhor compreensão das situações de risco e prevenção da doença.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus; Inquérito domiciliar; Prevalência; Condições sociais; Gênero.
Observações: O artigo é muito interessante, pois traz simultaneamente as abordagens de sexo e
gênero e discute como estas duas dimensões se articulam enquanto fatores associados à prevalência
de diabetes mellitus. O uso dos termos sexo e gênero está adequado no artigo.
Título e resumo: Está claro que foram incluídos indivíduos de amobos os sexos no estudo e que são
abordadas questões de sexo e gênero dos participantes.
Palavras-chave: Faltou incluir o descritor “Sexo”.
Introdução: Os autores mencionam a importância de considerar a categoria “gênero”,
complementarmente à classe social: “Ampliando a abrangência da investigação, e incluindo os
casos recém-diagnosticados como produto de uma busca ativa, seria lícito esperar, de um lado, que
desapareceriam os diferenciais de gênero e, de outro, que aumentaria a prevalência do diabetes
mellitus nos segmentos de níveis sócio-econômicos mais desfavorecidos, particularmente na
população masculina.”
Métodos: Foi considerado o sexo no desenho amostral, ademais, foram realizados ajustes
estatísticos para compensar a maior proporção de perdas entre indivíduos do sexo masculino,
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
visando a garantir a representatividade da amostra: “além de ajustes para as recusas de 1,16 (sexo
masculino) e de 1,12 (sexo feminino), também foram necessários fatores de correção populacional
para reconstituição da amostra original, com base na razão população/participantes de 10,0 para o
sexo masculino e de 6,5 para o sexo feminino. Diante destas medidas a amostra expandida integrou
1.900 indivíduos, sendo 867 do sexo masculino e 1.033 do sexo feminino.”
Resultados: Foram apresentados com estratificação por sexo:
Discussão: Foram discutidas as implicações potenciais do sexo e do gênero nos resultados e nas
análises do estudo: “A busca ativa evidenciou elevada prevalência de diabetes na população
masculina, revertendo a primazia feminina observada na prevalência do diabetes pré-diagnosticado.
Este resultado veio confirmar a hipótese norteadora deste estudo, bem como a assertiva
complementar que previa o desaparecimento das diferenças de prevalência total entre os sexos.”
Exemplo 2: Artigo publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria
A prática de exercícios físicos regulares como terapia complementar ao tratamento de mulheres
com depressão. (VIEIRA, PORCU, ROCHA, 2007)
RESUMO: OBJETIVO: Analisar a efetividade do exercício físico como complemento terapêutico
no tratamento da depressão. MÉTODOS: Este ensaio clínico teve a participação de pacientes
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
mulheres atendidas pelo SUS no Hospital Universitário de Maringá em tratamento com
antidepressivos (n = 18: GC = 9; GE = 9). O delineamento do estudo foi elaborado com duas
sessões de hidroginástica/semana, durante 12 semanas. O instrumento utilizado foi a Escala de
Hamilton para Depressão, aplicado ao início, após 12 semanas de intervenção e após 6 meses de
finalização do ensaio clínico. Para análise estatística, utilizaram-se os Testes de Wilcoxon e de
Mann-Whitney. RESULTADOS: Os escores de depressão reduziram-se no grupo experimental
após 12 semanas (32,66 ± 3,12 para 24,88 ± 2,13 pontos, p = 0,007*) e não ocorreu diferença
estatisticamente significativa no grupo controle (31,11 ± 3,51 para 30,22 ± 3,04 pontos, p = 0,059).
Após 6 meses, não houve diferenças estatisticamente significativas para o grupo controle (31,11 ±
3,51 para 30,22 ± 2,81 pontos, p = 0,201). No entanto, o grupo experimental regressou aos níveis
iniciais de depressão (32,66 ± 3,12 para 29,66 ± 1,22 ponto, p = 0,027*). CONCLUSÃO: Neste
estudo preliminar, as pacientes submetidas à prática de exercícios físicos associada ao tratamento
convencional para depressão evidenciaram melhora significativa em relação àquelas que não
praticaram exercícios físicos. Os efeitos dos exercícios físicos sobre os sintomas depressivos
desapareceram com a interrupção dos exercícios físicos na avaliação do seguimento de 6 meses.
Palavras-chaves: Depressão, exercícios físicos, complemento terapêutico.
Título e resumo: Está claro que foram incluídas somente mulheres.
Palavras-chave: Faltou incluir o descritor relacionado ao sexo feminino.
Introdução: Não foi justificada a consideração exclusiva das mulheres, nem se diferenças entre
sexos ou gêneros poderiam ser esperadas.
Discussão: Não foram discutidas as implicações de sexo e gênero sobre o tema do estudo.
Exemplo 3: Artigo publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva
Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. (PINHEIRO et al, 2002)
RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar o perfil de morbidade referida, acesso e uso de
serviços de saúde em homens e mulheres no Brasil, segundo idade e região urbana e rural. Os dados
da PNAD/98 mostram que as diferenças de gênero na morbidade variam com a idade: desfavoráveis
aos meninos até os 10 anos e desfavoráveis às mulheres a partir dos 15 anos, aumentando até os 64
anos e reduzindo após esta idade. A alta prevalência de atendimento indica que as barreiras de
acesso dos que procuram serviços de saúde são pequenas. No entanto, o elevado percentual de não
procura face às necessidades percebidas sugere que as barreiras de acesso são anteriores e
dependem da oferta. A cobertura por planos de saúde é bem maior na região urbana, mas não há
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
diferenças de gênero significantes nas regiões. As diferenças entre homens e mulheres nas taxas de
uso curativo são pequenas, se comparadas com as de uso preventivo, maiores para as mulheres,
assim como as taxas de internação, mesmo excluindo os partos. O financiamento das internações
não foi diferente entre homens e mulheres, ao contrário do financiamento de outros tipos de
atendimento: maior cobertura por planos para mulheres na região urbana; na região rural, maior uso
do SUS para as mulheres e maior desembolso de recursos próprios para os homens.
Palavras-chave: Gênero, Morbidade referida, Acesso, Utilização de serviços de saúde
Título e resumo: Há uso incorreto do termo “gênero”, em vez de “sexo”.
Palavras-chaves: faltou incluir descritor Sexo.
Introdução: É destacada a importância da análise segundo sexos: “A presença de fatores de risco
associados a problemas de saúde varia segundo sexo”.
Resultados: São apresentados com estratificação por sexo.
Discussão: Foi discutida a relevância da análise considerando sexo, por exemplo: “O perfil de
morbidade é diferenciado entre os homens e as mulheres, seja do ponto de vista das doenças
crônicas ou dos problemas agudos, o que por sua vez se reflete em distintos padrões de utilização."
Contudo, repetiu-se a confusão entre os termos sexo e e gênero: “Não foram observadas diferenças
de gênero no financiamento das internações.”
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Uso e divulgação das diretrizes SAGER
As diretrizes SAGER foram publicadas em acesso aberto e estão disponíveis, em sua versão
original em inglês, no site da revista Research Integrity and Peer Review2, bem como no portal da
Rede EQUATOR (Enhancing the QUAlity and Transparency Of health Research).3 A Rede
EQUATOR é uma iniciativa internacional que busca melhorar a confiabilidade e o valor da
literatura científica em saúde, por meio da promoção de relatos transparentes e precisos das
pesquisas. Seu portal contém centenas de guias de redação científica tem contribuído para melhorar
os relatos, bem como incrementar a qualidade metodológica das pesquisas. A versão em português
foi publicada, em acesso aberto, na Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde4 e também está
disponível no portal da Rede EQUATOR.
O documento das diretrizes SAGER também incorpora uma lista de verificação para autores
quanto ao relato sensível ao gênero, que inclui considerações sobre abordagens de pesquisa,
perguntas e hipóteses de pesquisa, revisão da literatura, métodos da pesquisa e considerações éticas.
O documento traz, ainda, um fluxograma para fornece uma sequência de perguntas que poderiam
ser usadas para orientar a triagem inicial dos manuscritos submetidos a periódicos científicos. Os
editores devem introduzir questões específicas na lista de verificação usada para triar as submissões
iniciais, como um esforço para sistematizar a avaliação consciente de gênero dos manuscritos pela
equipe editorial. São exemplos de perguntas que podem ser introduzidas nos formulários de revisão
por pares: “Sexo e gênero são relevantes para a pesquisa em questão?” e “Os autores abordaram
adequadamente as dimensões sexo e gênero ou justificaram a ausência de tal análise?”.
Recomenda-se que os editores de periódicos endossem as diretrizes SAGER e as adaptem às
necessidades de seus periódicos e suas áreas particulares de pesquisa e publicação, incluindo
exemplos de boas práticas para cada um dos itens de relato. A revistas que publicam artigos com
resultados originais de pesquisas devem solicitar nas suas instruções aos autores que todos os
documentos apresentem dados desagregados por sexo e gênero e, quando aplicável, expliquem
adequadamente as diferenças ou similaridades de sexo e de gênero.
Também é importante a divulgação das diretrizes SAGER em congressos e demais tipos de
encontros de natureza científica, para que as boas práticas relacionadas à investigação sensível ao
sexo e ao gênero sejam incorporadas de forma mais rápida por pesquisadores em diferentes meios e
áreas de atuação. Somente com a ampla divulgação, a consideração do sexo e do gênero poderá ser
2 https://researchintegrityjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s41073-016-0007-6 3 https://www.equator-network.org/reporting-guidelines/sager-guidelines/ 4 http://www.scielo.br/pdf/ress/2017nahead/2237-9622-ress-s1679-49742017000300025.pdf
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
incorporada desde as etapas iniciais do desenvolvimento das pesquisas científicas, não sendo
somente um mero cumprimento de requisitos para a submissão de artigos a periódicos.
Como exemplo, o X Congresso Brasileiro de Epidemiologia (Florianópolis, 7 a 11 de
outubro de 2017) adotou, pela primeira vez nessa edição, a perspectiva de e, buscando promover a
equidade de gênero e a excelência na pesquisa epidemiológica, a Comissão Científica endossou e
incentivou a utilização da diretriz SAGER, tomando em conta que a consideração de sexo e gênero
nos estudos e na comunicação científica visa não somente a adoção de melhores práticas científicas,
mas também a geração de subsídios para intervenções e oportunidades baseadas em evidências, para
pessoas de ambos os sexos e todos os gêneros.
Considerações finais
As diretrizes SAGER constituem-se uma ferramenta para auxiliar a padronização do relato
de sexo e gênero em publicações científicas. Elas foram concebidas por um grupo multidisciplinar
instituído no âmbito da Associação Europeia de Editores Científicos. Seus objetivos são contribuir
para melhorar o relato de sexo e gênero na pesquisa científica, servir como guia para autores e
revisores, ser suficientemente flexíveis para acomodar uma ampla gama de áreas de pesquisa e
disciplinas e melhorar a comunicação dos resultados da pesquisa.
Contudo, as diretrizes não incorporam recomendações explícitas sobre populações com
diversidade de gêneros, devido à limitação inerente do escopo dos estudos conduzidos com seres
humanos na atualidade, que não são dotados de estratégias que permitam detectar diferenças nos
efeitos para populações com diversidade de gêneros, como transgêneros, especialmente em países
onde essa diversidade é desconhecida. No entanto, recomenda-se que os pesquisadores realizem
esforõs para considerar as populações com diversidade de gêneros em suas investigações, sempre
que pertinente.
As diretrizes Sager são uma iniciativa que, embora tenha partido dos editores de periódicos
científicos, merece ser incorporada e divulgada por toda a comunidade científica, uma vez que a
ciência tem um grande potencial para fomentar a transformação tecnológica, mas também política e
social. A questões de sexo e gênero são presentes e sensíveis em todas as sociedades humanas, e o
alcance da equidade de sexo e gênero é uma meta de que deve ser perseguida por todos e todas.
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Referências
ELSEVIER RESEARCH INTELLIGENCE. Gender in the global research landscape. Elsevier,
2017. Disponível em:
<https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0008/265661/ElsevierGenderReport_final_for-
web.pdf>. Acesso em: 15 de maio, 2017.
GALVAO, Taís Freire; SILVA, Marcus Tolentino; GARCIA, Leila Posenato. Ferramentas para
melhorar a qualidade e a transparência dos relatos de pesquisa em saúde: guias de redação
científica. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília , v. 25, n. 2, p. 427-436, jun. 2016 .
GOLDENBERG, Paulete; SCHENKMAN, Simone and FRANCO, Laércio Joel. Prevalência de
diabetes mellitus: diferenças de gênero e igualdade entre os sexos. Rev. bras. epidemiol. [online].
2003, vol.6, n.1, pp.18-28.
HEIDARI S; BABOR TF; DE CASTRO P,TORT S, CURNO M. Sex and Gender Equity in
Research: rationale for the SAGER guidelines and recommended use. Research Integrity and Peer
Review, V. 2, N. 1, 2016.
PINHEIRO, Rejane Sobrino et al . Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no
Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 7, n. 4, p. 687-707, 2002 .
VIEIRA, José Luiz Lopes; PORCU, Mauro and ROCHA, Priscila Garcia Marques da. A prática de
exercícios físicos regulares como terapia complementar ao tratamento de mulheres com
depressão. J. bras. psiquiatr. 2007, vol.56, n.1, pp.23-28.
SAGER guidelines: Sex and Gender Equity in Research, scientific writing and publishing
Astract: Sex and gender differences are often neglected in the study design, implementation, in the
writing of scientific articles, as well as in scientific communication in general. The European
Association of Scientific Editors convened a group of experts to develop the rationale for an
international set of guidelines to encourage a more systematic approach to sex and gender reporting
in several fields of knowledge. This work culminated in the production of the Sex and Gender
Equity in Research (SAGER) Guidelines, which include a set of recommendations for the reporting
of information about sex and gender in the study design, data analysis, results and interpretation of
the findings of scientific research. SAGER guidelines are primarily intended to guide researchers
and authors in the design of studies and in the preparation of their manuscripts, but are also useful
for journal editors and publishers to integrate sex and gender assessment in all manuscripts as part
of the editorial process. This communication aims to present the SAGER Guidelines, published in
2016, and examples of its use, in order to encourage academics, researchers, journal editors, peer
reviewers, and scientific societies to take a more systematic approach to reporting sex and gender in
research.
13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Keywords: Sex; Gender; Guidelines; SAGER; Scientific research; Scientific publishing