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Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial Colégio Militar de Fortaleza 3º ano do Ensino Médio 1 Professor Vinícius Vanir Venturini [email protected] Revisado ________ TC Jean Cid (coord. de disciplina) Nota de aula 05 - Estruturação e desenvolvimento do comércio mundial Conferência de Berlim Como a ocupação do continente africano pelas potências europeias aconteceu de maneira intensa e desordenada, uma série de conflitos diplomáticos por questões territoriais ocorreu, sobretudo na questão que envolvia o Congo ocupado pelos belgas. Então, foi sugerida por Portugal uma conferência internacional que debatesse essas questões. Essa ideia foi levada à frente por Otto von Bismarck, que realizou na Alemanha, entre 1884 e 1885, a chamada Conferência de Berlim com o intuito de organizar a divisão e ocupação do continente africano. Ao todo, participaram treze nações: Alemanha, Reino Unido, França, Portugal, Espanha, Bélgica, Holanda, Suécia, Áustria-Hungria, Itália, Dinamarca, Estados Unidos e Império Otomano. Essa conferência, portanto, determinou a divisão territorial da África entre os países europeus. Mais de 90% do continente foi dominado pelos europeus, e, desse processo colonizatório, foi implantada uma exploração predatória da África que resultou na morte de milhões de pessoas. Obs.: um dos resultados da ocupação desenfreada do continente africano foi o crescimento das rivalidades e divergências entre as potências europeias, o que foi um dos motivos a levar à deflagração da Primeira Guerra Mundial alguns anos depois; O historiador Eric Hobsbawm aponta que durante o ciclo neocolonialista, cerca de 25% das terras do planeta foram ocupadas por alguma potência imperialista. Hobsbawm também estipula, em dados estatísticos, quanto de território algumas das potências imperialistas conquistaram: a Inglaterra - aumentou seu território em 10 milhões de km 2 , a França - aumentou seu território em 9 milhões de km 2 , a Alemanha - aumentou seu território em 2,5 milhões de km 2 , e Bélgica, como a Itália - aumentaram seu território em cerca de 2 milhões de km 2 . Consequências do Imperialismo O Imperialismo foi muito intenso entre 1884 e 1914, mas até a segunda metade do século XX existiam colônias europeias nos continentes mencionados. Entre as consequências deixadas pelo Imperialismo, destacam-se: ●demarcação de fronteiras artificiais que atualmente é motivo de tensão entre diversos países. Além disso, a criação de nações artificiais contribuiu para sua instabilidade política após conquistarem sua independência; problemas étnicos surgidos por conta da política imperialista nesses locais. Destaca-se o caso de tutsis e hutus, no antigo Congo Belga e atual Ruanda, e que resultou em um massacre em Ruanda, em 1994; ● e a exploração intensa dos recursos humanos e naturais que legou a África uma pobreza severa, com grande atraso nas áreas estruturais da sociedade, como da economia. Belle Époque O período conhecido pela expressão francesa Belle Époque, “Bela Época”, em português, compreende cerca de quarenta e três anos, tendo início após a Guerra Franco-Prussiana, de 1870-71, que resultou na unificação da Alemanha, e terminando com o advento da Primeira Guerra Mundial, em julho de 1914. Como veremos abaixo, a Belle Époque foi uma era efusiva em que a crença no progresso civilizacional e no desenvolvimento tecnocientífico dava a tônica do momento. Belle Époque e modernidade: entusiasmo e euforia com o progresso Sabemos que o processo de industrialização na Europa e no Norte dos Estados Unidos começou a ter um amplo desenvolvimento ainda durante a primeira metade do século XIX. Esse desenvolvimento possibilitou a mecanização do trabalho, antes manual e manufaturado, e a consequente produção em larga escala de bens de consumo (comida e vestimentas em geral), transportes (trens e navios a vapor, bondes elétricos, automóveis) e bens de produção (maquinários de diversas ordens). Nessa esteira, na segunda metade do século XIX e nos primeiros anos do século XX, maiores avanços tecnocientíficos foram conseguidos, como o advento da medicina higienista de Louis Pasteur e da microbiologia.

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Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial Colégio Militar de Fortaleza

3º ano do Ensino Médio

1 Professor Vinícius Vanir Venturini

[email protected]

Revisado

________ TC Jean Cid

(coord. de disciplina)

Nota de aula 05 - Estruturação e desenvolvimento do comércio mundial

Conferência de Berlim Como a ocupação do continente africano pelas potências europeias aconteceu de

maneira intensa e desordenada, uma série de conflitos diplomáticos por questões territoriais ocorreu, sobretudo na questão que envolvia o Congo ocupado pelos belgas. Então, foi sugerida por Portugal uma conferência internacional que debatesse essas questões.

Essa ideia foi levada à frente por Otto von Bismarck, que realizou na Alemanha, entre 1884 e 1885, a chamada Conferência de Berlim com o intuito de organizar a divisão e ocupação do continente africano. Ao todo, participaram treze nações: Alemanha, Reino Unido, França, Portugal, Espanha, Bélgica, Holanda, Suécia, Áustria-Hungria, Itália, Dinamarca, Estados Unidos e Império Otomano.

Essa conferência, portanto, determinou a divisão territorial da África entre os países europeus. Mais de 90% do continente foi dominado pelos europeus, e, desse processo colonizatório, foi implantada uma exploração predatória da África que resultou na morte de milhões de pessoas. Obs.: um dos resultados da ocupação desenfreada do continente africano foi o crescimento das rivalidades e divergências entre as potências europeias, o que foi um dos motivos a levar à deflagração da Primeira Guerra Mundial alguns anos depois;

O historiador Eric Hobsbawm aponta que durante o ciclo neocolonialista, cerca de 25% das terras do planeta foram ocupadas por alguma potência imperialista. Hobsbawm também estipula, em dados estatísticos, quanto de território algumas das potências imperialistas conquistaram: a Inglaterra - aumentou seu território em 10 milhões de km2, a França - aumentou seu território em 9 milhões de km2, a Alemanha - aumentou seu território em 2,5 milhões de km2, e Bélgica, como a Itália - aumentaram seu território em cerca de 2 milhões de km2.

Consequências do Imperialismo O Imperialismo foi muito intenso entre 1884 e 1914, mas até a segunda metade do século

XX existiam colônias europeias nos continentes mencionados. Entre as consequências deixadas pelo Imperialismo, destacam-se: ●demarcação de fronteiras artificiais que atualmente é motivo de tensão entre diversos países. Além disso, a criação de nações artificiais contribuiu para sua instabilidade política após conquistarem sua independência; ●problemas étnicos surgidos por conta da política imperialista nesses locais. Destaca-se o caso de tutsis e hutus, no antigo Congo Belga e atual Ruanda, e que resultou em um massacre em Ruanda, em 1994; ● e a exploração intensa dos recursos humanos e naturais que legou a África uma pobreza severa, com grande atraso nas áreas estruturais da sociedade, como da economia.

Belle Époque O período conhecido pela expressão francesa

Belle Époque, “Bela Época”, em português, compreende cerca de quarenta e três anos, tendo início após a Guerra Franco-Prussiana, de 1870-71, que resultou na unificação da Alemanha, e terminando com o advento da Primeira Guerra Mundial, em julho de 1914. Como veremos abaixo, a Belle Époque foi uma era efusiva em que a crença no progresso civilizacional e no desenvolvimento tecnocientífico dava a tônica do momento.

Belle Époque e modernidade: entusiasmo e euforia com o progresso Sabemos que o processo de industrialização na Europa e no Norte dos Estados Unidos

começou a ter um amplo desenvolvimento ainda durante a primeira metade do século XIX. Esse desenvolvimento possibilitou a mecanização do trabalho, antes manual e manufaturado, e a consequente produção em larga escala de bens de consumo (comida e vestimentas em geral), transportes (trens e navios a vapor, bondes elétricos, automóveis) e bens de produção (maquinários de diversas ordens). Nessa esteira, na segunda metade do século XIX e nos primeiros anos do século XX, maiores avanços tecnocientíficos foram conseguidos, como o advento da medicina higienista de Louis Pasteur e da microbiologia.

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Tudo isso provocava uma euforia com o progresso, uma fé na ciência e na tecnologia que dava à população da época a nítida certeza de que vivia um período exuberante e frenético. O mundo começava também a se integrar globalmente em razão de invenções como o telégrafo transcontinental. O historiador Philip Blom, em sua obra Anos vertiginosos: mudança de cultura no Ocidente - 1900 a 1914, mostra claramente a sensação que era percebida naquela época:

Velocidade e euforia, angústia e vertigem eram temas recorrentes entre 1900 e 1914, quando as cidades explodiram em suas dimensões e as sociedades foram transformadas, a produção em massa entrou para a vida cotidiana, os jornais tornaram-se impérios das comunicações, o público de cinema contava-se às dezenas de milhões e a globalização trazia aos pratos dos britânicos carne da Nova Zelândia e cereais do Canadá, aniquilando a venda de velhas classes fundiárias e promovendo a ascensão de novos tipos: engenheiros tecnocratas, as classes urbanas. [1]

Para Blom, o caráter vertiginoso desses anos de Belle Époque exprimia também a própria essência do que era ser moderno, no sentido de ruptura com as bases da cultura tradicional do Ocidente. Segundo esse historiador:

[…] A modernidade não emergiu virgem nas trincheiras de Somme. Muito antes de 1914, já se afirmava solidamente nas mentes e nas vidas da Europa. A primeira Guerra não funcionou como elemento gerador, mas catalisador, forçando velhas estruturas a ruir mais rapidamente e novas identidades a se afirmar mais facilmente. [2]

Sociedades de massa, arte moderna e transformação dos sentidos O grande símbolo dessa atmosfera de modernização que caracterizou a Belle Époque foi

a chamada Exposição Universal (Exposition Universelle, em francês), realizada em 1900, em Paris. Essa exposição consistia em uma feira aberta de mostras tecnológicas e culturais que ocorria em vários pontos da capital francesa. O objetivo era render homenagens e fazer demonstrações do que havia sido inventado, dos aparatos técnicos da última leva, da nova moda de vestimentas, novos monumentos públicos e a nova arte (geralmente no estilo Art nouveau) etc. Os principais centros urbanos e culturais dessa época, além de Paris, eram Viena, Berlim e Londres.

A formação desses centros urbanos inundados de inovações tecnológicas, como o telégrafo, o automóvel, os trens e bondes elétricos, o fonógrafo e gramofone, o telefone, a fotografia e, principalmente, o cinema, acabou por modelar também o comportamento e os sentidos humanos. Isso teve uma repercussão muito grande na arte. Movimentos das artes plásticas, como o impressionismo e o expressionismo, nasceram da necessidade de se representar a realidade de modo a captar algo diverso do que a fotografia já era capaz de fazer.

Outras formas de arte tipicamente modernistas, como o cubismo de Picasso, buscavam recursos das culturas primitivas de outros continentes, como a África. A própria aura tecnológica foi um modelo imitado pela pintura, no caso dos futuristas, como Giacomo Balla, que procurava passar a impressão de velocidade em seus quadros.

Contudo, esse entusiasmo da Belle Époque teve os seus críticos, que, de um modo ou de outro, previram certos efeitos que seriam colhidos com a grande catástrofe que foi a Primeira Guerra Mundial. Um deles foi o psiquiatra austríaco Sigmund Freud, que percebeu os problemas que as sociedades de massa, integradas pelos meios de comunicação e pelo alto desenvolvimento industrial, poderiam provocar. A rivalidade entre as nações, pautada no ressentimento de conflitos e divergências passados, foi um desses problemas. Notas [1] BLOM, Philip. Anos vertiginosos: mudança de cultura no Ocidente - 1900-1914. trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2015. pp. 15-16. [2] Ibid. p. 16. Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/belle-epoque.htm

Belle Époque no Brasil A Belle Époque, no Brasil, difere de outros países, seja pela duração, seja pelo avanço

tecnológico, que se deu, principalmente, nas regiões mais prósperas do país na época: a região do ciclo da borracha (Amazonas e Pará), a região cafeeira (São Paulo e Minas Gerais) e as três principais cidades coloniais brasileiras (Recife, Rio de Janeiro e Salvador).

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1ª Guerra Mundial (1914 - 1918)

A Grande Guerra, como foi chamada por seus contemporâneos, antes de acontecer a Segunda Guerra Mundial, envolveu países de diversos continentes. A disputa era liderada por dois blocos que se enfrentaram: a Tríplice Aliança, composta por Alemanha, Áustria e Itália e; a Tríplice Entente formada por França, Inglaterra e Rússia.

A Primeira Guerra Mundial ocorreu em diversos pontos ao redor do mundo, mas, em sua maioria, no continente europeu. Na parte ocidental da Europa, há os alemães contra a França e Reino Unido e, na parte oriental, a Alemanha luta contra a Sérvia e a Rússia.

As motivações para o desencadeamento da Primeira Guerra Mundial aconteceram ao longo do século XIX e XX e foram se somando até que o conflito eclodiu de fato.

Entre o final do século XIX e início do século XX, o mundo encontrava-se dividido e explorado pelas grandes potências europeias e os Estados Unidos. Em todos os cinco continentes havia dominação imperialista e as grandes potências brigavam para expandir seus territórios (disputa de mercado e de áreas fornecedoras de matéria-prima).

Devido ao desenvolvimento das indústrias e da economia de forma geral, o Império Alemão chegou a superar a Inglaterra em vários setores. Os alemães tomaram o mercado antes dominados pelos ingleses na Europa e no Oriente. A consagrada marinha inglesa se via ameaçada pelo grande crescimento da marinha alemã e temia a perda da sua hegemonia.

Em 1870, a Alemanha já tinha ganhado outro inimigo ao vencer a França na Guerra Franco-Prussiana, conquistando a região da Alsácia-Lorena. Com a derrota, os franceses tiveram que entregar a região rica em jazidas de ferro e carvão mineral. Nos anos seguintes os franceses sentiram-se humilhados por terem que importar carvão dos alemães.

Enquanto os germânicos começavam a colecionar inimigos, o governo e a imprensa tentavam convencer a população de que uma guerra seria benéfica. Junto ao crescimento econômico, o discurso inflamado e a propaganda, a tensão entre as nações europeias estava prestes a explodir.

Por ter chegado atrasada* na distribuição das colônias na Ásia e na África, a Alemanha e a Itália ficaram apenas com as “migalhas do banquete imperialista”. Para conseguir mais colônias, uma solução apontada pelo governo germânico era atacar e dominar os países já colonizados. *formação, consolidação de Estado no final do século XIX.

Enquanto todos esses eventos aconteciam na Europa ocidental, no lado oriental do continente a Rússia, governada por um Cezar (imperador), tinha interesses em estender seu território na região dos Bálcãs. O problema é que o Império Austro-Húngaro pretendia a mesma coisa.

Como o Império Austro-Húngaro era formado por vários povos, entre eles os tchecos, eslovacos, croatas, poloneses e sérvios, a Rússia pretendia criar um Estado único para unir todos os povos eslavos, o que ficou conhecido como pan-eslavismo. Para isso, começou a estimular a revolta anti-austríaca.

Diante de tantas tensões e faíscas, os países europeus começam a criar alianças para que houvesse apoio entre ambas caso uma delas fossem atacadas. Além disso, as alianças envolviam acordos políticos, militares e financeiros secretos.

As alianças foram divididas da seguinte forma: ● Tríplice Aliança: formada em 1882 por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha (mais tarde a Itália entra para a Tríplice Entente). ● Tríplice Entente: formada em 1907 por Rússia, Grã-Bretanha e França.

Com toda essa situação crítica, a Europa tornou-se um barril e pólvora. O pavio desse barril foi aceso quando o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, resolveu visitar Sarajevo, capital da Bósnia. Enquanto o futuro rei da Áustria desfilava em carro aberto pelas ruas de Sarajevo, um terrorista da organização mão-negra disparou contra Ferdinando.

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A Áustria acusou a Sérvia de estar envolvida no atentado e a troca de insultos culminou na troca de tiros em 1914. A Rússia declara guerra à Áustria e a Alemanha se junta às nações contra a Rússia. A França, ligada aos russos, mobiliza tropas contra os alemães. No dia 3 de agosto de 1914, o mundo está em guerra. Outras nações tomam parte dela em seguida: o Reino Unido alia-se à França; a Turquia, do lado dos alemães, ataca os portos russos no mar Negro; e o Japão, interessado nos domínios germânicos no Extremo Oriente, engrossa o bloco contra a Alemanha.

Ao lado da Entente entram outras 24 nações, estabelecendo uma ampla coalizão, conhecida como os países Aliados. Já a Alemanha recebe a adesão do Império Turco-Otomano, rival da Rússia e da Bulgária, movida pelos interesses nos Bálcãs. A Itália, embora pertencente à Tríplice Aliança, fica neutra no início, mas troca de lado em 1915, sob promessa de receber parte dos territórios turco e austríaco. Na frente ocidental, a guerra entre França e Alemanha não tem vitoriosos até 1918. Na frente oriental, os alemães abatem o Exército da Rússia.

Já fragilizado pela derrota na Guerra Russo-Japonesa, o povo russo atinge o ponto máximo de insatisfação com o conflito, o que gera condições favoráveis para a Revolução Russa. Com a derrota militar russa consumada e o risco de a Alemanha avançar pela frente oriental e atacar a França, os Estados Unidos entram na guerra e decidem o confronto. O objetivo do país na luta é preservar o equilíbrio de poder na Europa e evitar uma possível hegemonia alemã.

A Primeira Guerra Mundial pode ser dividida em três fases. A primeira fase é conhecida como Guerra de Movimento (1914), a segunda fase é a Guerra de Trincheiras (1915 - 1917) e, por fim, a Segunda Guerra de Movimento ou Fase Final (1918).

Nos primeiros meses as tropas tiveram como estratégia a movimentação e a ocupação dos fronts. Os alemães se movimentaram rapidamente e em poucas semanas já estavam próximo de Paris.

A partir de 1915, a segunda fase tinha como estratégia tentar conservar as posições dos fronts sem perder território para os inimigos. As trincheiras eram complexos de túneis, valas e abrigos. Ali os soldados lutavam, dormiam e comiam. Contudo, estavam expostos aos ataques aéreos, armas químicas e doenças. Os fronts eram protegidos com cercas de arames, colunas de ferros e sacos de areia.

A Guerra de Trincheira foi o período mais sangrento dessa batalha. Os conflitos aconteciam, quase sempre, nas áreas rurais e as conquistas territoriais eram lentas. Nesse período os dois blocos estavam equilibrados e a guerra ainda não apontava um vencedor.

A terceira e última fase foi marcada pela entrada de novas armas e um contingente grande de soldados enviados pelos Estados Unidos para o bloco da Entente. Em 1917, devido a um processo revolucionário (a Revolução Russa), a Rússia deixou a guerra.

Ao longo da guerra, o uso de novas armas, aperfeiçoadas pela indústria, aliado a novas invenções como o avião e os tanques, deu aos combates uma característica de impotência por parte dos soldados. Milhares de homens morreram instantaneamente em bombardeios ou envoltos em imensas nuvens de gás tóxico. Essa característica produziu um alto impacto na imaginação das gerações seguintes à guerra. Escritores como Erich Maria Remarque, Ernst Jünger e J. J. R. Tolkien, que combateram na Primeira Guerra, extraíram dela muitos elementos para composição de suas histórias.

A guerra notabilizou grandes combates. Destacando o alemão Manfred Von Richthofen, o Barão Vermelho, um dos maiores pilotos de caça de todos os tempos.

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No final de 1918, já com sinais de fracasso, o povo alemão pressionou o rei Guilherme II que abdicou do trono. Em seguida foi instaurada a república no país e a Alemanha teve sua derrota decretada na Primeira Guerra Mundial. A paz só foi de fato estabelecida em 1919, depois da assinatura do Tratado de Versalhes.

Dentre as principais consequências da Primeira Guerra Mundial, podemos destacar cerca de milhões de mortos entre civis e militares o que provocou uma mudança no mapa da Europa. Os países derrotados entraram em grandes crises, problemas sociais como o desemprego, fome, pobreza e grande instabilidade política e social, fato que favoreceu o surgimento de regimes totalitários anos depois na Europa.

Além disso, é fundamental compreender o Tratado de Versalhes assinado em 1919, na qual a Alemanha foi considerada responsável pela guerra e

deveria pagar indenização aos países vitoriosos. Neste tratado a região da Alsácia-Lorena foi reincorporada à França e os alemães foram proibidos de continuar com a produção de armamento.

Por fim, houve a criação da Liga das Nações, uma organização internacional com objetivo de reunir as potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial para negociar acordo de paz e evitar novos conflitos mundiais. Sua criação foi baseada nos 14 pontos do presidente americano Woodrow Wilson, em que consistia em bases fundamentais para a reorganização ordem mundial no pós-guerra.

Brasil na 1ª Guerra Mundial A participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial foi tímida e aconteceu apenas no

último ano, a partir 1917. Não houve envio de soldados brasileiros para as batalhas. Após o ataque de um navio brasileiro carregado de café por navio alemães, o Brasil declarou guerra à Tríplice Aliança.

A participação brasileira se deu através do envio de equipes médicas, de armamentos e equipamentos de soldados, além da exportação de produtos agrícolas como café, borracha, açúcar e demais gêneros aos aliados da Entente. Fonte: https://www.stoodi.com.br/blog/2018/07/02/primeira-guerra-mundial/, acessado em 25 de maio de 2020.

Tratado de Versalhes O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências

europeias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. O principal ponto do tratado determinava que a Alemanha aceitasse todas as responsabilidades por causar a guerra e que, sob os termos dos artigos 231-247, fizesse reparações a um certo número de nações da Tríplice Entente.

Os termos impostos à Alemanha incluíam a perda de uma parte de seu território para um número de nações fronteiriças, de todas as colônias sobre os oceanos e sobre o continente africano, uma restrição ao tamanho do exército e uma indenização pelos prejuízos causados durante a guerra.

A República de Weimar também aceitou reconhecer a independência da Áustria. O ministro alemão do exterior, Hermann Muller, assinou o tratado em 28 de junho de 1919. O tratado foi ratificado pela Liga das Nações em 10 de janeiro de 1920. Na Alemanha o tratado causou choque e humilhação na população, o que contribuiu para a queda da República de Weimar em 1933 e a ascensão do Nazismo. Obs.: no tratado foi criada uma comissão para determinar a dimensão precisa das reparações que a Alemanha tinha de pagar. Em 1921, este valor foi oficialmente fixado em 33 milhões de dólares. Os encargos a comportar com este pagamento são frequentemente citados como a principal causa do fim da República de Weimar e a subida ao poder de Adolf Hitler, o que inevitavelmente levou à eclosão da Segunda Guerra Mundial apenas 20 anos depois da assinatura do Tratado de Versalhes;

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Liga (ou Sociedade) das Nações A Liga das Nações, ou Sociedade das Nações, criada ao término da Primeira Guerra

Mundial (1914-1918), com sede em Genebra, na Suíça, foi a primeira organização internacional de escopo universal em bases permanentes, voluntariamente integrada por Estados soberanos com o objetivo principal de instituir um sistema de segurança coletiva, promover a cooperação e assegurar a paz futura.

Os 26 artigos do Pacto da Liga foram incorporados à primeira parte do Tratado de Versalhes, tratado de paz entre as potências aliadas e associadas, de um lado, e a Alemanha derrotada, de outro, assinado em Versalhes em 28 de junho de 1919.

A organização praticamente deixou de funcionar com a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939, e foi oficialmente desativada em abril de 1946.

Obs.: foi no interior da Liga que se fundou a Corte Permanente de Justiça Internacional, com sede em Haia, nos Países Baixos, que se transformou na atual Corte Internacional de Justiça, o principal órgão de justiça da Organização das Nações Unidas, ONU;

Crise de 1929 Além do excesso de produção

A Crise de 1929, também conhecida como Grande Depressão, foi uma forte recessão econômica que atingiu o capitalismo internacional no final da década de 1920. Marcou a decadência do liberalismo econômico, naquele momento, e teve como causas a superprodução e especulação financeira.

Antes da crise de 1929 estourar, os Estados Unidos já ocupavam o posto de maior economia do mundo. Antes mesmo da Primeira Guerra Mundial, a economia americana já apresentava índices que comprovavam essa supremacia, e os eventos da guerra só acentuaram a posição de potência econômica internacional dos Estados Unidos.

Em virtude do rápido crescimento da economia americana após a 1ª Guerra Mundial, a década de 1920 foi um período de grande euforia econômica, o qual ficou conhecido como Roaring Twenties (traduzido para o português como Loucos Anos Vinte). Esse momento da história americana ficou marcado principalmente pelo avanço do consumo de mercadorias, consolidando o American way of life, o estilo de vida americano.

O avanço da economia americana tornou o país responsável pela produção de 42% de todas as mercadorias feitas no mundo. A nação também era a maior credora do mundo e emprestava vultuosas somas de dinheiro para as nações europeias em processo de reconstrução (após a 1ª Guerra Mundial). No quesito importação, os Estados Unidos eram responsáveis por comprar 40% das matérias-primas vendidas pelas quinze nações mais comerciais do mundo.

Essa euforia econômica refletia-se na população a partir de um consumismo acelerado, levando as pessoas a comprarem carros e artigos eletrodomésticos de maneira desenfreada. Esse consumismo ancorava-se, em parte, na expansão do crédito que acontecia no país sem nenhum tipo de regulação ou intervenção estatal. A expansão do crédito também cumpria importante papel no financiamento de diferentes atividades econômicas.

Com esse quadro, os Estados Unidos viviam um momento de pleno emprego e rápido crescimento industrial. Entre 1923 e 1929, os Estados Unidos possuíam uma taxa média de desemprego de 4%, a produção de automóveis no país aumentou 33%, o número de indústrias instaladas no país aumentou por volta de 10% e o faturamento do comércio quintuplicou.

Por causa do boom econômico e da onda de euforia, as pessoas passaram a investir de maneira intensa no mercado financeiro, disparando a especulação monetária. Durante a década de 1920, os investimentos nas ações das empresas na bolsa de valores de Nova Iorque tiveram saltos consideráveis.

O sentido de especulação financeira aqui está relacionado com pessoas que compravam ações na bolsa, esperando que estas se valorizassem para logo em seguidas revendê-las. Esse processo fazia com que os valores das ações aumentassem - pois havia muitos compradores - e criava uma falsa sensação de prosperidade. A continuidade desse falso cenário de prosperidade financeira e a superprodução resultaram na quebra da economia americana.

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Quebra da bolsa de Nova Iorque Toda essa prosperidade estava amparada em bases extremamente frágeis. O crédito

desregulado e o crescimento da especulação financeira criaram uma bolha de falsa prosperidade que estava à beira do precipício. A sociedade tornou-se incapaz de perceber o que estava prestes a acontecer. Esse processo foi explicado por Hobsbawm da seguinte maneira:

O que acontecia, como muitas vezes acontece nos booms de mercados livres, era que, com os salários ficando para trás, os lucros cresceram desproporcionalmente, e os prósperos obtiveram uma fatia maior do bolo nacional. Mas como a demanda da massa não podia acompanhar a produtividade em rápido crescimento do sistema industrial nos grandes dias de Henry Ford, o resultado foi superprodução e especulação. Isso, por sua vez, provocou o colapso [1].

A questão salarial que foi mencionada no trecho acima é muito importante para entendermos uma das facetas da crise: a superprodução. Na década de 1920, a indústria dos Estados Unidos expandiu-se e a produtividade do trabalhador aumentou. Esse aumento na produção, no entanto, não foi acompanhado de aumentos salariais, pois os salários permaneceram estagnados. Assim, o mercado não tive condições de absorver a quantidade de mercadorias que eram produzidas (nem o mercado americano nem outros países conseguiam absorver essas mercadorias). Isso abalou a esperança de rápida prosperidade de muitos que tinham ações de empresas americanas.

Milhares de pessoas resolveram vender as suas ações no dia 24 de outubro de 1929, no que ficou conhecido como Quinta-feira Negra. Nesse dia, mais de 12 milhões de ações foram colocadas à venda, o que deixou o mercado em pânico. Essa situação se estendeu por dias e na segunda, dia 28, mais 33 milhões de ações foram colocadas à venda. Imediatamente o valor das ações despencou, e bilhões de dólares desapareceram. A economia americana quebrou.

Consequências da Crise de 1929 Os efeitos da crise para a economia dos Estados Unidos foram imediatos e espalharam-

se pelo país como um efeito dominó. O período mais crítico foi de 1929 a 1933; logo após, os efeitos da crise foram enfraquecendo-se, principalmente por causa da intervenção do Estado na economia com o New Deal (Novo Acordo).

Observe alguns dados que evidenciam o impacto da crise na economia dos Estados Unidos: PIB (Produto Interno Bruto) nominal dos Estados Unidos caiu aproximadamente 50%, o desemprego disparou e alcançou 27% (era 4% anteriormente da crise), importações caíram 70%, exportações caíram 50% (claro reflexo na balança comercial, agora deficitária), diminuíram em 90% os empréstimos internacionais, a produção industrial caiu, no ao menos 30%, a produção de automóveis foi reduzida em 50%, salário médio na indústria caiu 50% e a falência de milhares de empresas e bancos.

Milhares de pessoas perderam instantaneamente todo seu patrimônio, uma vez que ele estava investido em valores da especulação que haviam desaparecido com a quebra da bolsa. Os efeitos da crise espalharam-se pelo mundo, por isso, a economia de diversos países entrou em recessão, e o desemprego disparou mundo afora.

A situação era tão crítica que o desemprego alcançou níveis altíssimos, destacando os seguintes países: Grã-Bretanha: 23%, Bélgica: 23%, Suécia: 24%, Áustria: 29%, Noruega: 31%, Dinamarca: 32%, e Alemanha: 44%.

A maioria desses países teve dificuldade em reduzir esses índices mesmo após 1933. Vale dizer também que esses dados nos dão uma pista do motivo pelo qual o fascismo e os ideais de extrema-direita tiveram tanta repercussão nos quadros políticos da Europa durante a década de 1930. Ao todo, o comércio internacional foi reduzido em aproximadamente 1/3.

Consequências da Crise de 1929 no Brasil O Brasil também sentiu os impactos da Crise de 1929. A área que sofreu mais com a

recessão econômica foi a de produção do café - o principal produto de exportação do país. O Brasil era responsável por cerca de 70% do café comercializado no mundo, e o principal

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consumidor da nossa mercadoria eram os Estados Unidos (compravam cerca de 80% do nosso café).

Com a recessão, o café estagnou-se no mercado brasileiro, e o preço do produto despencou. Os cafeicultores tiveram prejuízos gigantescos. No auge dessa crise, o país enfrentou transformações políticas profundas com o acontecimento da Revolução de 1930. O novo governo teve Getúlio Vargas como presidente provisório.

A mudança política em si que aconteceu nesse período já é levantada pelos historiadores como uma consequência indireta da recessão sobre o nosso país. Além disso, as exportações do café brasileiro reduziram-se por volta de 60%, e o preço do café no mercado internacional caiu cerca de 90%. Com isso, o governo resolveu agir.

A medida de Vargas na economia foi a de proteger o principal produto do país. Para isso, foi criado o Conselho Nacional do Café (CNC) em 1931. Para conter a queda no valor do café, o governo decidiu realizar a compra das sacas que estavam paradas para aumentar o valor do café no mercado internacional. As sacas que foram compradas pelo governo eram incendiadas. Essa prática estendeu-se durante treze anos, resultando na destruição de 78,2 milhões de sacas de café. Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/crise29.htm, acessado em 26 de maio de 2020.

Totalitarismo Ao longo do século XX, uma série de regimes totalitários surgiram, sobretudo no continente europeu. Os regimes

totalitários destacados foram: nazismo, fascismo e stalinismo.

O totalitarismo é um sistema político caracterizado pelo domínio absoluto de uma pessoa ou partido político sobre uma nação. Dentro do totalitarismo, a pessoa ou partido político no poder controla todos os aspectos da vida pública e da vida privada por meio de um governo abertamente autoritário.

O totalitarismo também é marcado pela forte presença de um militarismo na sociedade e é acompanhado por ações do regime com o objetivo de promover sua ideologia por meio de um sistema de doutrinação da população. Os regimes totalitários utilizam-se do terror como arma política para conter e perseguir seus opositores políticos, e a propaganda política é usada de maneira consistente para que a população seja convencida das medidas extremas tomadas por esses regimes (fake news).

O autoritarismo começou a ganhar força como solução política para as crises que o mundo enfrentava no pós-guerra, conseguindo adeptos mundo afora.

A ascensão do autoritarismo marcou a queda dos valores do liberalismo, que são definidos, da seguinte maneira, pelo historiador Eric Hobsbawm:

Esses valores eram a desconfiança da ditadura e do governo absoluto; o compromisso com um governo constitucional com ou sob governos e assembleias representativas livremente eleitos, que garantissem o domínio da lei; e um conjunto aceito de direitos e liberdades dos cidadãos, incluindo a liberdade de expressão, publicação e reunião.|1|

O termo “totalitarismo” surgiu durante a década de 1920 para referir-se ao fascismo italiano. Esse sistema político, inclusive, surgiu com o próprio fascismo italiano, regime que alcançou o poder na Itália em 1922, quando Mussolini tornou-se primeiro-ministro do país. Ao longo da década de 1920, a tendência política mundial pendia para o autoritarismo, e o totalitarismo ganhou considerável força após a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha.

Características dos regimes totalitários O consenso entre os historiadores determina que as características básicas do

totalitarismo se inspiram em três regimes: fascismo, nazismo (de extrema direita) e stalinismo (de extrema esquerda). Existe um intenso debate entre esses profissionais sobre se outros regimes, como o Khmer Vermelho, no Camboja, e o atual regime norte-coreano, encaixam-se dentro do conceito de totalitarismo. Apesar desse debate, neste texto levaremos em consideração apenas o nazismo, o fascismo e o stalinismo. As características básicas do totalitarismo são: culto ao líder, os três regimes, totalitários destacados, possuíam um forte culto ao líder, e sua imagem era espalhada em todos os locais possíveis, como escolas, por exemplo; unipartidarismo, todos os totalitarismos suprimiam a existência dos partidos, e somente o partido do governo tinha a permissão de funcionar; doutrinação, a população dos regimes totalitários era alvo de intensa doutrinação, que se iniciava com o ensino infantil (hegemonia cultural), essa doutrinação visava propagar a ideologia do governo; centralização do poder, o poder político no totalitarismo é centralizado no líder e/ou no partido; uso do terror, o terror era uma arma dos regimes totalitários para amedrontar seus opositores e perseguir grupos enxergados como “inimigos do Estado”; censura, a censura era

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uma prática comum a jornais e à população em geral, regimes totalitários não aceitavam críticas, denúncias e não aturavam a existência de uma oposição; militarização, exaltação do exército e militarização da sociedade, criação de inimigos internos e/ou externos, esse mecanismo era utilizado como distração ou justificativa para explicar as ações e o autoritarismo do regime; e nacionalismo exacerbado (ufanismo), o nacionalismo no totalitarismo assumia um viés extremista que pregava a exclusão e perseguição de outros povos ou etnias.

Regimes totalitários na Europa Fascismo

O fascismo surgiu na Itália em 1919, quando Benito Mussolini criou a Fasci Italiani di Combattimento, grupo que, posteriormente, passou a chamar-se Partido Nacional Fascista. A ascensão do fascismo ao poder na Itália aconteceu em 1922, quando foi organizada a Marcha sobre Roma.

Durante esse evento, milhares de fascistas de toda a Itália marcharam em direção à Roma, capital do país, para pressionar o rei Vitor Emanuel III a fim de que ele nomeasse Benito Mussolini como primeiro-ministro italiano. A nomeação de Mussolini aconteceu e, em 1925, o primeiro-ministro italiano autoproclamou-se ditador da Itália.

O fascismo italiano é considerado o precursor do nazismo na Alemanha e, por conta disso, existem inúmeras semelhanças entre essas duas vertentes totalitárias. Entre as características do fascismo italiano estão: antiliberalismo; imposição de um sistema unipartidário no país; desprezo pelo marxismo; exaltação de valores tradicionais; negação de valores modernos; e controle total do Estado sobre a economia, política e cultura.

O fascismo governou a Itália de 1922 e 1945 e, durante o período entreguerras, aliou-se com a Alemanha. Quando a Segunda Guerra Mundial se iniciou, em 1939, italianos e alemães fizeram parte do Eixo, grupo que lutou contra os Aliados.

Nazismo O nazismo surgiu na Alemanha, com o nome de Partido Nacional-Socialista dos

Trabalhadores Alemães, em 1919. O grande líder do partido foi Adolf Hitler, austríaco nomeado primeiro-ministro da Alemanha em 1933. O crescimento do Partido Nazista na Alemanha foi resultado da crise que se instalou no país após a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão.

Os nazistas organizaram tropas de assaltos (SA) que atuavam para intimidar os opositores do partido, principalmente, os social-democratas e os comunistas. A ideologia do nazismo foi articulada por Hitler em um livro chamado Minha Luta (Mein Kampf, em alemão), escrito durante o período em que esteve preso.

A ideologia nazista incorporava elementos como o antissemitismo, isto é, o ódio aos judeus que foi manifestado durante o Holocausto, genocídio responsável pela morte de, aproximadamente, seis milhões de judeus. Além do antissemitismo, outras características do nazismo eram o nacionalismo extremado e o racismo que deram origem à ideia dos germânicos como raça “pura” e “superior” (chamados pelos nazistas de “arianos”). O nazismo também incorporava o antimarxismo, o antiliberalismo, o militarismo, a exaltação da guerra etc.

O nazismo governou a Alemanha de 1933 a 1945, período no qual conduziu esse país à guerra. Nesse momento, uma verdadeira ditadura foi instalada, e Hitler preparou seu país, que havia sido derrotado na Primeira Guerra Mundial, para uma guerra contra as potências europeias que haviam participado do combate anterior e vencido a Alemanha. Ao longo da década de 1930, esse último país desrespeitou os termos do Tratado de Versalhes e foi expandindo seu território pela Europa.

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Stalinismo O stalinismo é usado para referir-se ao período em que a União Soviética foi

governada por Josef Stalin. A aplicação da noção de totalitarismo para o stalinismo não é consenso, pois historiadores, como Eric Hobsbawm|2|, afirmam que esse não foi um regime totalitário, enquanto outros, como Hannah Arendt|3| e Timothy Snyder|4| |5|, afirmam o contrário.

Josef Stalin assumiu o poder da União Soviética logo após o falecimento de Vladimir Lênin em 1924, mas considera-se o ponto de partida para o stalinismo o ano de 1929, momento em que Stálin tornou-se líder supremo da União Soviética. Manteve-se no poder de maneira tirânica até 1953, quando acabou falecendo.

O governo de Stálin é entendido como a experiência totalitária da extrema-esquerda e ficou marcado por perseguições de opositores, expurgos, crise de fome etc. Entre as características do stalinismo, estão: exclusão da religião da vida pública; coletivização da economia; fim da propriedade privada; censura; unipartidarismo; centralização do poder; perseguição de opositores; militarização da sociedade etc.

Ao longo dos anos em que esteve no poder, o governo de Stalin foi responsável pela execução de milhares de pessoas enxergadas como inimigas do Estado. Além disso, milhões de pessoas foram enviadas para gulags - campos de trabalho forçados -, e milhões também morreram de fome durante o processo de coletivização da terra que ocorreu na década de 1930.

Regimes totalitários no Brasil No Brasil não existiu nenhum governo totalitário, mas existiram governos

autoritários. Entre os governos autoritários que estiveram no poder em nosso país, estão o Estado Novo, que aconteceu entre 1937 e 1945, e a Ditadura Militar, que aconteceu entre 1964 e 1985. Os dois períodos ficaram marcados pela ausência de liberdades individuais, censura, perseguição, tortura, execução de opositores etc. Nota |1| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 113. [2| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. |3| ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. |4| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stálin. Rio de Janeiro: Record, 2012. |5| SNYDER, Timothy. Sobre a Tirania: vinte lições do século XX para o presente. Companhia das Letras: São Paulo, 2017. Fonte: https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/totalitarismo.htm, acessado em 26 de maio de 2020.

2ª Guerra Mundial (1939 - 1945)

Historiadores entendem que esse conflito foi um desdobramento da Primeira Guerra Mundial. Eles destacam que o Tratado de Versalhes, assinado ao final do primeiro conflito, exigiu da Alemanha o pagamento de impostos rígidos e altos.

O pagamento dessas taxas afetou a economia alemã. A elevação exagerada da inflação prejudicou a qualidade de vida da população. Essas condições criaram fatores essenciais para o surgimento do governo nacionalista de Hitler.

O conflito se iniciou em setembro de 1939, quando o exército alemão invadiu a Polônia, sob o comando de Adolf Hitler. França e Inglaterra se posicionaram contra o governo da Alemanha e declararam guerra ao país.

O conflito dividiu o mundo em dois grupos: ● o Eixo composto pelos países da, Itália, (Roma), Alemanha (Berlim) e Japão (Tóquio); ● e os Aliados eram a Inglaterra, União Soviética (URSS), França e Estados Unidos. Obs.: assim como na 1ª Guerra Mundial, novamente Estados Unidos e a Rússia, União Soviética, são aliados militares;

Outros países se envolveram na guerra, porém, sempre sob o comando dessas forças principais. A Segunda Guerra Mundial também pode ser dividida em três fases:

As vitórias do Eixo (1939-1941): nesse período, o grupo conseguiu conquistar o norte da França, a Polônia, Ucrânia, Iugoslávia, Noruega e o norte da África, o equilíbrio das forças (1941-1943): após o bombardeio a Pearl Harbor, os americanos passaram a lutar junto aos aliados. Isso promoveu um equilíbrio entre as forças, a princípio, e depois reverteu a situação da

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guerra, e a vitória dos Aliados (1943-1945), o Eixo entrou em uma fase de sucessivas derrotas, que levou à vitória dos Aliados e à assinatura da rendição.

Não existe uma única batalha decisiva na Segunda Guerra Mundial. No entanto, algumas delas foram importantes porque deram origem a eventos decisivos. Alguns exemplos são: ● Invasão da Polônia por Hitler, em setembro de 1939, deu início à guerra; ● Campanha da França (1940), o Eixo conseguiu vencer o Reino Unido, Polônia, Bélgica e Países Baixos; ● Ataque do Japão à base americana de Pearl Harbor, provocando a união dos Estados Unidos com os Aliados; ● Cerco a Leningrado (1941 a 1944), forças do Eixo tentaram vencer a Rússia, mas não tiveram sucesso; ● Invasão da Normandia (1944): também conhecida como Dia D, marcou uma importante reação dos Aliados contra o Eixo; ● Batalha de Stalingrado (1942 a 1945), forças do Eixo tentaram derrotar a Rússia, a URSS, mas foram vencidas pelo inverno russo.

Antissemitismo Hitler afirmava que a raça ariana era superior às outras, as melhores espécies da

humanidade. Por outro lado, classificava os judeus, deficientes, negros, homossexuais como seres inferiores e os responsabilizava pelos fracassos do país no período seguinte à Primeira Guerra.

Desde o começo de seu governo, implementou medidas que discriminavam os judeus na Alemanha. Em 1935, mesmo antes da guerra, assinou a Lei de Nuremberg (legitimação do racismo, xenofobia etc.), que segregava esse povo e os proibia de trabalhar em agências governamentais, serem atendidos em hospitais, obter cidadania alemã, entre outras formas de opressão.

Com a conquista de outros territórios, a perseguição se espalhou pela Europa. Campos de concentração

Eram locais para onde o governo nazista enviava judeus, inimigos políticos e doentes mentais. Lá, as pessoas eram submetidas a trabalhos forçados, condições subumanas e privação de alimentos. Muitos morriam de fome e doenças, enquanto outros eram mortos deliberadamente.

Depois, o governo nazista construiu campos de extermínio. Nesses locais, eles realmente matavam não só judeus, mas também socialistas, ciganos, religiosos (testemunhas de Jeová) pacifistas e prisioneiros eslavos.

Bombardeio nuclear Um dos mais chocantes eventos foi a destruição das cidades japonesas de Hiroshima

e Nagasaki. Elas foram bombardeadas pelos Estados Unidos, que utilizou bombas atômicas nessa ofensiva. Esse ataque foi uma resposta ao Japão por terem devastado Pearl Harbor.

O ataque aconteceu depois que o Japão já havia assinado o tratado de rendição, o que tornou o acontecimento ainda mais inaceitável para as outras nações.

Participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial No início da Segunda Guerra o Brasil se mantinha em neutralidade, pois o país tinha

relações e acordos econômicos com a Alemanha, mas esse fato foi rompido após pressões norte-americanas para conseguir apoio do Brasil na guerra.

A reação da Alemanha em saber que o Brasil se juntaria com os Aliados, não foi das melhores. A Alemanha enviou submarinos que afundaram navios brasileiros, causando a morte de cerca de 500 pessoas. No mesmo mês do ataque, no ano de 1944, o Brasil declarou guerra à Alemanha.

A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, com Getúlio Vargas na presidência do país, teve início em 1944 enviando cerca de 25 mil soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar ao lado dos aliados. Eles permaneceram em combate por sete meses, em que a FEB contabilizou três mil feridos e 450 mortos.

Contudo, a participação no Brasil teve a sua importância. Os soldados conseguiram tomar cidades importantes que estavam em comando dos alemães, como Turim, Monte Castelo, entre outras. Além disso, o Brasil ajudou os EUA na libertação da Itália, que se encontrava em domínio da nação alemã.

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Consequências da 2ª Guerra Mundial A Segunda Guerra Mundial deixou marcas que duraram décadas. Em um primeiro

momento, as nações sentiram o grande impacto da destruição de fábricas, cidades arrasadas por bombardeios, redução da produção industrial e agrícola, necessidade de reconstruir toda a infraestrutura de transporte, entre outras.

A Inglaterra, que até então ocupava um espaço central na política mundial, perdeu esse espaço para os Estados Unidos e a Rússia, União soviética. No entanto, esses países não estabeleceram uma posição de liderança conjunta. Eles polarizaram o mundo em dois blocos, iniciando uma corrida armamentista conhecida como Guerra Fria.

No campo humano, ocorreram as maiores perdas. A estimativa é de que 55 milhões de pessoas morreram devido ao conflito. Para evitar outros acontecimentos como esse, em 1945 foi criada a ONU - Organização das Nações Unidas. Seu objetivo é mediar os conflitos que surgem entre os países e tomar as medidas necessárias para promover e manter a paz mundial.

Conferência (acordo) de Bretton Woods As negociações para o estabelecimento de um Sistema Monetário Internacional

(SMI) começaram, entre os Estados Unidos da América e o Reino Unido, ainda no decorrer da Segunda Guerra Mundial, em julho de 1944. Os dois países tentaram estabelecer um padrão comum, perante o qual seriam definidos os valores das moedas nacionais.

Chegando a um acordo, definiram o ouro-dólar como esse padrão. O ouro era um metal precioso cujo valor não sofria grandes flutuações e o dólar foi escolhido porque, no final da guerra, a economia norte-americana era considerada a mais estável.

O acordo assentava em três bases fundamentais: a convertibilidade de todas as moedas que participam no SMI, a paridade das moedas e o equilíbrio das balanças de pagamentos.

O acordo ainda previa a não menos importante criação de instituições financeiras mundiais que se encarregariam de dar o sustento necessário ao modelo que estava sendo criado, que seriam: "Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento", mais tarde renomeado para Banco Mundial, que funciona até hoje como uma espécie de Agência de Crédito tamanho família, destinada a fornecer capitais para políticas e projetos de desenvolvimento no mundo todo. Além desta seria criado o FMI (Fundo Monetário Internacional), uma espécie de "caixinha" de todos os países, que poderiam fazer movimentações de dinheiro do caso necessitassem de injeção de capitais em sua economia, respeitando, claro, alguns preceitos de disciplina fiscal a serem ditados pelos dirigentes do fundo. Obs1.: o sistema de Bretton Woods funcionou com sucesso até dos anos 60, momento em que surgiram os primeiros problemas. A principal causa da crise foi a desvalorização do dólar norte-americano. Em 1970, a crise econômica e política dos EUA levou ao colapso definitivo do sistema instituído em Bretton Woods. A decadência do dólar ocorre relacionada a corrida espacial, corrida armamentista, envolvimento na Guerra do Vietnã, e, em especial, devido as sucessivas crises do petróleo na década de 70; Obs2.: entre os fatos relacionados a consolidação da hegemonia norte-americana pós-Segunda Guerra Mundial, destacam-se: a Conferência de Bretton Woods, em 1944, pela qual ficou estabelecido que o dólar passaria a ser a principal moeda de reserva mundial, a crescente participação das transnacionais norte-americanas no exterior, em especial na Europa e em alguns países subdesenvolvidos, como Brasil, México, etc, expansão dos bancos norte-americanos, com a transnacionalização de sua moeda (dólar), e a descolonização da Ásia e da África, que criou dificuldades econômicas para os países europeus e abriu oportunidades para os Estados Unidos;

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Evolução do capitalismo Debate entre Keynes - intervencionista e Hayek - liberal

O debate entre Hayek e Keynes foi o mais fundamental na Economia Monetária do século XX. Keynes apresentava argumentos de intervenção governamental se utilizando da linguagem do Liberalismo, algo que lhe rendeu a insígnia de “salvador do Capitalismo”, quando na verdade ele era defensor da inflação e da centralização de poder (estatal) na economia. Fato é que o Keynesianismo se tornou cada vez mais popular durante o século XX, e as contribuições de Hayek foram sendo renegadas. Mas Hayek encontrou o problema fundamental da economia de Keynes: sua incapacidade de compreender o papel desempenhado pelas taxas de juros e pela estrutura de capital na economia de mercado.

Hayek - liberal e a fundamentação da totalitarismo inerente ao socialismo Quando a comunidade intelectual foi se tornando cada vez mais socialista, com a promessa de justiça social creditando o Socialismo como sistema econômico justo, Hayek era visto como um reacionário perdedor dos debates. Ele não se deu por vencido, e em 1944 publicou “O caminho da servidão”, com as observações que havia feito na Alemanha Nazista e que começavam a aparecer na Grã-Bretanha. Além da impossibilidade técnica do cálculo econômico sob o Socialismo, Hayek fez os socialistas enfrentarem também o inevitável totalitarismo consequente. Afinal, a centralização de poder para decidir o que e como os indivíduos podem produzir, vender e consumir significa controle para ferir liberdades e negar direitos. O século XX está cheio de episódios de derramamento de sangue das vítimas de experimentos socialistas, tendo eles sido feitos por Stalin, Hitler, Mao, Pol Pot, e outros que cometeram crimes hediondos contra a humanidade em nome das variantes do Socialismo, um exemplo é o Holodomor. Hayek mostrou que o totalitarismo não é um acidente advindo de más escolhas de líderes que deturparam o Socialismo, e sim o resultado lógico da ordem institucional de seu planejamento.

Organização das Nações Unidas – ONU Criada ao término da 2ª Guerra Mundial, a Organização das

Nações Unidas - ONU, tem como objetivo principal garantir a paz no mundo através do bom relacionamento entre os países. E, embora não tenha atingido seus objetivos em alguns casos, apresenta fundamental importância na tentativa de amenizar as desigualdades sociais no mundo.

O horror causado pelas duas grandes guerras foi o principal motivo da fundação da ONU em 24 de outubro de 1945. Criada na Conferência de San Francisco (Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional), a ONU contava a princípio com 51 estados membros. Atualmente (2019) ela conta com 193 Estados soberanos e com diversos organismos autônomos, sendo constituída por seis órgãos principais e ela vinculados.

A ONU tem o poder de discutir e tomar medidas necessárias para questões enfrentadas pela sociedade, além da paz mundial, tais como: as mudanças climáticas, o desenvolvimento sustentável, os direitos humanos, o desarmamento, o terrorismo, a igualdade de gênero, a produção de alimentos, as emergências de saúde etc.

A sede encontra-se nos Estados Unidos, em Nove Iorque, sendo considerada um território internacional. No entanto, há outras sedes em demais localidades do mundo, como na Suíça, Áustria, Beirute, Santiago, entre outras.

A ONU possui uma bandeira própria, bem como correios e selos postais. Os idiomas oficiais que permitem que todos os membros possam estabelecer comunicação são seis: inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo.

Os seis órgãos principais são: ●Assembleia Geral - órgão deliberativo máximo que tem como atribuições principais discutir, iniciar estudos e deliberar sobre qualquer questão que afete a paz e segurança em qualquer âmbito, exceto quando a mesma estiver sendo debatida pelo Conselho de Segurança; receber e apreciar os relatórios do Conselho de Segurança e demais órgãos da ONU e eleger membros do Conselho de Segurança, do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela. ●Conselho Econômico e Social (ECOSOC) - coordena o trabalho econômico e social da ONU e das demais instituições integrantes, além de formular recomendações relacionadas a diversos setores como direitos humanos, economia, industrialização, recursos naturais e etc.

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●Conselho de Tutela - esse conselho foi criado com o propósito de auxiliar os territórios sob tutela da ONU a constituir governos próprios e, após anos de atuação, foi extinto em 1994 quando Palau (no Pacífico), o último território sob tutela da ONU, tornou-se um Estado soberano. ●Corte Internacional de Justiça (Tribunal de Haia) - órgão jurídico máximo da ONU que através de convenções ou costumes internacionais, princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas, jurisprudência e pareceres ou mesmo através de acordos; tem o poder de decisão sobre qualquer litígio internacional, seja ele parte integrante de seu estatuto ou solicitado por qualquer país membro ou não membro (apenas países, não indivíduos), desde que, no último caso, obedeça alguns critérios. ●Secretariado - presta serviços a outros órgãos da ONU e administra os programas e políticas que elaboram, além de chamar a atenção do Conselho de Segurança sobre qualquer assunto a ele pertinente. ●Conselho de Segurança - embora outros conselhos possam deliberar sobre questões de segurança, este é o único que toma as decisões que os países membros são obrigados a cumprir. Ele foi criado para manter a paz e a segurança internacionais, além de examinar qualquer situação que possa provocar atritos entre países e recomendar soluções ou condições para a solução.

Obs.: o Conselho de Segurança é composto por 15 Estados-membros, sendo cinco membros permanentes - China (após romper relações com a URSS, em 1971), França, Rússia (herdeira da ex-URSS), Reino Unido e Estados Unidos - e dez membros temporários. Os cinco membros permanentes têm o poder de veto sobre as resoluções do Conselho, mas não processual; isto é, um membro permanente pode impedir a adoção, mas não é capaz de bloquear o debate de uma resolução inaceitável por ele;

Destacam-se na ONU diversas organizações, tais como: ●OIT - Organização Internacional do Trabalho ●FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação ●UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura ●OMS - Organização Mundial de Saúde ●Banco Mundial (BIRD, Banco Internacional de Desenvolvimento) ●IDA - Associação de Desenvolvimento ●CFI - Corporação Financeira Internacional ●AGMF - Agência de Garantia Multilateral de Financiamento ●CIRDF - Agência Internacional para a Resolução de Disputas Financeiras (CIRDF) ●FMI - Fundo Monetário Internacional ●ICAO - Organização da Aviação Civil Internacional ●UPU - União Postal Universal ●ITU - União Internacional de Telecomunicações ●OMM - Organização Meteorológica Mundial ●IMO - Organização Marítima Internacional ●OMPI - Organização Mundial da Propriedade Intelectual ●FIDA - Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola ●UNIDO - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial ●OMT - Organização Mundial do Turismo ●AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica ●OPAQ - Organização para a Proibição de Armas Químicas ●CTBTO - Organização Preparatória para o Tratado de Proibição de Testes Nucleares ●UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento ●PMA - Programa Mundial de Alimentos ●Alguns programas são criados especificamente para determinadas regiões, como por exemplo: ●PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento ●UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

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●PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ●ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados Obs.: a crise mundial, especialmente europeia, relacionada ao grande número de refugiados - pessoas que são provocadas a emigrarem de seu país de origem, é a maior problema humanitário enfrentado pela ONU, atualmente. Entre as causas dessa emigração estão relacionados os diversos conflitos, inúmeras guerras (destacando os continentes africano e asiático - Oriente Médio), o terrorismo, a vulnerabilidade socioeconômica, etc. A crise dos refugiados provoca questionamentos diplomáticos e humanitários, especialmente na Europa, e nos Estados Unidos, pelo crescente pensamento xenofóbico, associado a recessão econômica mundial, uma vez que a acolhida desses desterrados não mitiga a origem do problema, e o fluxo de emigrantes não diminui; ●UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas ●UN-Habitat - Programa das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos ●UNIFEM - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulher ●UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids ●UNODC - Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime ●UNRWA - Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos Além de todos estes organismos e programas especializados a ONU conta ainda com a ●Universidade das Nações Unidas (UNU), o ACNUDH - Alto Comissariado das Nações ●Unidas para os Direitos Humanos e diversas outras instituições de pesquisa e treinamento.

OMC - Organização Mundial do Comércio1,2,3 1Obs.: a OMC sucedeu ao GATT na regulação do comércio mundial, tendo sido o principal resultado da Rodada Uruguai2. É muito comum que países se envolvam em disputas comerciais contra práticas protecionistas. Essas disputas são encaminhadas para resolução na Organização Mundial do Comércio (OMC). Países em desenvolvimento,

como Índia, Brasil, Argentina e algumas nações da África e da Ásia, acabam perdendo parte importante de suas vantagens produtivas (disponibilidade de terras, modernização e elevação da produtividade) em razão da política excessivamente protecionista praticada pelos países desenvolvidos. Além de impor uma série de barreiras alfandegárias e não alfandegárias, como as sanitárias e trabalhistas, às mercadorias agrícolas oriundas de países pobres, os países ricos oferecem muitos subsídios a seus produtores, como a política de preço mínimo, que lhes confere importantes vantagens; 2Rodada do Uruguai (1986 - 1994): criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) e incorporação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (conhecido como GATT) em sua estrutura, entre outros acordos; 3Rodada de Doha (2001 - ?): visa diminuir as barreiras comerciais, com foco no livre comércio para os países em desenvolvimento. Os subsídios agrícolas são o principal tema de controvérsia nas negociações internacionais entre países. Obs1.: em 2015, a OMC chegou a um acordo sobre o fim dos subsídios à exportação de produtos agrícolas que eram praticados por países como França, Alemanha e Espanha. A medida foi comemorada pelo mercado brasileiro: com os subsídios, produtores menos eficientes eram subsidiados pelo governo para venderem produtos no mercado internacional, o que tornava os preços artificialmente baixos e prejudicava produtores mais competitivos; Obs2.: em 2017, entrou em vigor o Protocolo de Emenda ao Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPs), para facilitar as condições de acesso de países em desenvolvimento a medicamentos essenciais; Obs3.: o presidente americano, Donald Trump, já criticou diversas vezes a política comercial da China e o papel da OMC, e logo no início de seu mandato afirmou que o país deverá dar preferência a acordos bilaterais e pode até ignorar decisões da OMC contrárias a seus interesses. O documento da agenda comercial enviado ao Congresso americano contém argumentos legais para ignorar as regras da organização e afirma que setores importantes da economia global são prejudicados por subsídios dos governos, manipulação da moeda e práticas desleais, e que o sistema é incapaz de responsabilizar esses países; Obs4.: a efetivação de um acordo multilateral, é necessária a concordância de todos os países. Se um único país tem uma posição contrária, o acordo é reprovado. Portanto, é muito mais fácil costurar um acordo bilateral ou com menos países ou mesmo um acordo entre blocos. Sendo assim, em um cenário em que os acordos bilaterais ganham cada vez mais importância e se sobrepõem aos acordos multilaterais, a OMC vem sendo esvaziada e enfrenta muitos desafios, como fica evidente na relação da organização com os Estados Unidos;

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Evolução do eixo econômico mundial

Desafios para a OMC em 2018 (e além) O sistema multilateral de comércio criado sob os auspícios da Organização Mundial do

Comércio (OMC) há pouco mais de duas décadas está ameaçado. Concomitantemente à crise na OMC, o mundo está passando por mudanças significativas na economia global, críticas severas são atribuídas à globalização, e mudanças de paradigmas envolvendo o aumento da relevância de economias emergentes e avanços tecnológicos acelerados impactam diretamente os questionamentos direcionados à efetividade da Organização.

Liberalização de comércio tem sido uma característica do sistema multilateral de comércio desde o final da Segunda Guerra Mundial. A criação da OMC em 1995 institucionalizou um sistema que tem sido o pilar de sustentação das regras que regem as trocas comerciais multilaterais desde então, e que promoveu segurança jurídica e previsibilidade para as relações comerciais entre os Membros através de um amplo pacote de Acordos Multilaterais em Bens, propriedade intelectual, investimentos e solução de controvérsias.

Para se tornar Membro da OMC os países passam por processos criteriosos de análise de suas economias (que devem ser market-oriented) e muitas vezes são necessárias reformas significativas nas orientações legislativas e econômicas dos países para que o processo de acessão seja considerado e concluído (a exemplo da China). Hoje, a Organização conta com 164 Membros e mais de 20 países iniciaram seu processo de acessão nos últimos dois anos, o que indica uma cobertura quase global das trocas comerciais que acontecem diariamente no mundo.

A relevância do sistema multilateral é indiscutível. Não há dúvidas sobre os ganhos sistêmicos para os Membros que aderiram à OMC, e não à toa o número de acessões não parou de crescer ao longo dos anos. Para além do extremamente bem-sucedido sistema de solução de controvérsias construído no âmbito da Organização, a OMC contabiliza ganhos em outras áreas individuais ao longo dos anos.

Com efeito, a despeito da paralisação e das críticas à Rodada Doha, logrou-se eliminar os subsídios às exportações agrícolas na Conferência de Nairóbi (2015) e, em fevereiro de 2017, entrou em vigor o Acordo de Facilitação de Comércio, firmado da Conferência Ministerial de Bali (2013), que tem a intenção de promover reformas significativas no comércio internacional através de implementação de revisão das normas e da diminuição de barreiras ao comércio.

Mas é verdade que a inabilidade dos Membros da OMC em concluir a Rodada Doha tem dado espaço para o questionamento cada vez mais frequente sobre a efetividade do sistema

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multilateral de comércio e, consequentemente, tem afetado negativamente o comprometimento do Membros para com a Organização. Somado a isso, a eleição de um presidente norte-americano com preferências explícitas por acordos bilaterais, e o referendo a favor do BREXIT no Reino Unido, acirraram as dúvidas em relação aos ganhos de se permanecer apostando na OMC.

Ademais, as críticas em relação à importância da OMC acirraram-se no final do último ano, em razão da finalização da Rodada Ministerial de Buenos Aires sem nenhum acordo substantivo assinado; com destaque para o posicionamento declaradamente unilateral dos Estados Unidos durante as negociações, que contribuiu para o bloqueio de boa parte da agenda prevista, como já era de se esperar.

Realmente, ao longo do ano de 2017, os Estados Unidos deram sinais claros de seu o posicionamento negativo perante a OMC, dentre os quais: (i) o país até hoje não nomeou um Embaixador em Genebra para a OMC e (ii) o governo norte- americano bloqueou todas as indicações de juízes para o Órgão de Apelação e ameaça seriamente o funcionamento do sistema de solução de controvérsias.

Neste contexto, o interessante é notar que os Estados Unidos tem sido, e ainda são, os maiores beneficiários do sistema multilateral de comércio no âmbito da OMC. Em razão de seu histórico como economia aberta nos últimos 70 anos (desde a criação do GATT 1947), ademais de se beneficiar das intensas trocas comerciais com muitos dos 164 Membros da OMC, cada vez que novos países acedem à Organização os Estados Unidos beneficiam-se significativamente.

A título de exemplo, um estudo recente publicado pelo Peterson Institute for International Economics por Caroline Freund (“The United States Wins from Trade Agreements”) comenta o caso da China. A fim de aceder à OMC, a China foi obrigada a abrir a sua economia, enquanto os demais Membros da Organização não tiverem alterações em seus impostos de importação. As tarifas da China caíram de 17% em 2000 para menos de 10% agora. Toda China obteve em troca o seguro de que o país seria tratado como um parceiro normal, algo que os Estados Unidos já faziam há mais de uma década.

As regras do comércio multilateral foram escritas pelos Estados Unidos, e não há dúvida que o país e todos os demais Membros da OMC se beneficiam enormemente do livre comércio internacional. As regras do comércio multilateral, para além de liberalizar mercados, também contribuíram para unir a economia mundial, promovendo a paz e a prosperidade entre as nações.

Em que pese o alegado fracasso com a Rodada Doha que, note-se, reflete um enorme pacote de ambições com interesses muito diferentes em jogo, e o insucesso da última Conferência Ministerial em Buenos Aires, é inconcebível pensar que o sistema multilateral de comércio deixará de ser o melhor fórum para negociar liberalização de comércio. Ademais, a OMC é ainda o único foro de comércio multilateral capaz de emanar regras e decisões horizontais para praticamente todos os players do mundo.

É também um equívoco o entendimento de que se tem que priorizar acordos bilaterais (atual discurso norte-americano), regionais, ou os famosos “mega-acordos” em detrimento das negociações na OMC. Não há necessidade de escolher entre uma frente e outra, quando se pode fazer tudo paralelamente.

Com efeito, já se demonstrou em diversas oportunidades que decisões tomadas em acordos de menor escala facilitam, em muito, as decisões a serem tomadas na OMC pelos seus Membros, que já chegam alinhados em discussões de temas que são tratados no âmbito da Organização. Contudo, negociar em várias frentes alavanca o poder de barganha dos países negociadores, de forma que não há desvantagem.

Com o recrudescimento do protecionismo nos últimos anos, um dos grandes desafios da OMC parece ser ajustar as dificuldades da realidade de um cenário muito menos otimista do que aquele da década de 1990 e começo dos anos 2000 às expectativas e anseios atuais dos seus Membros. Ademais, a participação mais ativa de países em desenvolvimento e economias emergentes nas negociações multilaterais tornaram as discussões muito mais complexas em função, inclusive, da sua maior participação no comércio mundial.

A importância da manutenção do sistema é inquestionável, e a inabilidade dos Membros de chegarem a uma conclusão da Rodada Doha ou ausência de Declaração Ministerial em Buenos Aires não significa uma diminuição da importância da OMC para o comércio internacional.

No entanto, a fim de assegurar a manutenção efetiva do sistema multilateral de comércio e sua relevância para os próximos anos, é necessário que os Membros estejam dispostos a uma

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profunda reflexão sobre alternativas mais flexíveis, abrangentes e criativas a fim de evitar uma desintegração completa da economia global. Fonte: https://www.comexdobrasil.com/desafios-para-a-omc-em-2018-e-alem/, acessado em 24 de maio de 2020;

O Comércio Mundial: multilateralismo, regionalismo e bilateralismo A partir da expansão marítima, o comércio mundial se consolida, desenvolvendo

importantes fluxos de mercadorias entre países de continentes diferentes (vide nota de aula 04 - evolução da Divisão Internacional do Trabalho). Contudo, somente em meados do século XX, após o final da Segunda Guerra Mundial, que se estruturaram as bases do comércio entre países, que seriam consolidadas posteriormente, ressaltando os avanços tecnológicos, especialmente das diferentes formas de transporte, e do avanço das telecomunicações, como as transformações políticas oriundas do fim da Guerra Fria. É possível identificar três principais formas de trocas comerciais, comércio entre países: o multilateralismo, o regionalismo e o bilateralismo. Respectivamente os acordos multilaterais são realizados em escala global, sob a supervisão de entidades como a Organização Mundial do Comércio - OMC, já os acordos regionais são feitos por blocos de países, respeitando a legislação pré-estabelecida pelo bloco, ou organização econômica, ou ainda entre blocos diferentes, também sob regulamentos pré-estabelecidos (como é o caso do recente Acordo de Associação do Mercosul com a União Europeia), e os acordos bilaterais são realizados entre dois países. Observe o fluxo do comércio mundial, no mapa abaixo (2014).

A compreensão do comércio internacional preconiza o reconhecimento do papel da OMC e das diversas organizações multilaterais, o conhecimento da importância dos diferentes blocos econômicos regionais (mais ou menos agregados), e o entendimento entre os processos de liberalização e de protecionismo comercial; somados a percepção que os acordos bilaterais podem muitas vezes ameaçar as relações de agregação dos blocos econômicos, ou ainda os acordos multilaterais.

Os blocos econômicos ou organizações regionais de comércio ganharam força principalmente a partir da década de 1990, com o desenvolvimento da Nova Ordem Mundial e a expansão dos fluxos globais e do comércio entre os países. Por mais antagônico que pareça, frente a internacionalização comercial, cada vez mais países buscam se fortalecer política e economicamente através da integração comercial regional.

Protecionismo Protecionismo é uma forma de doutrina responsiva, que, em teoria, valoriza muito mais o produto interno, e,

consequentemente, a economia interna

O protecionismo é uma política interventora do Estado na economia com a pretensão de resguardar a indústria, produtores ou vendedores internos de concorrentes externos, o que pode ser feito em instância municipal, estadual ou nacional, embora seja mais comum como uma medida nacional. Em outras palavras, o Estado privilegia alguns em detrimento de outros baseando-se unicamente no critério da origem dos privilegiados. Não raro, justifica-se o protecionismo na economia com o nacionalismo. Protecionismo significa uma doutrina econômica responsiva (responde de forma rápida), que trata de um conjunto de medidas tomadas com ênfase no favorecimento às atividades econômicas internas, de modo a valorizar o produto interno, nacional.

Dessa maneira, há uma valorização e uma reserva interna em relação ao produto estrangeiro similar. Reduz-se ao máximo a importação (compra ou ingresso) de produtos, bem como a concorrência. Medidas protecionistas são usadas comumente por quase todos os países do mundo, seja em grande escala ou pequena escala.

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Medidas protecionistas não precisam ter duração permanente. Elas podem surgir como forma a auxiliar ou combater crises, sobressair-se no mercado e evitar competições comerciais desnecessárias com parceiros.

Exemplos de medidas protecionistas: adoção de tarifas mais altas e normas específicas para verificação de qualidade (fora do padrão internacional) dos produtos estrangeiros, reduzindo o acesso ao mercado ou lucro; subsidiar a produção agropecuária ou industrial nacional com investimentos públicos, a fim de incentivar o desenvolvimento da produção e consumo de produtos internos, visa incentivar determinadas áreas econômicas que são consideradas estratégicas para o governo, justificando-se pela necessidade de desenvolvimento do país; impor quotas fixas de produção, o que limita o número de produtos, a quantidade de serviços de fora no mercado interno, de modo a garantir proteção até mesmo do acionário estrangeiro que possa atingir a empresa valorizada nacionalmente.

Existem ainda as barreiras não tarifárias para a proteção do mercado local, como a alta burocracia para importar produtos, o que encarece e dificulta a entrada de produtos importados, tornando mais fácil para as empresas locais venderem seus produtos aos consumidores que não podem ou são desencorajados a arcarem com os altos gastos e dificuldades de importar.

De acordo com os dados do Banco Mundial, o Brasil é o segundo país mais fechado do mundo para o comércio exterior, estando atrás apenas do Myanmar. Os altos impostos de importação e exportação seriam a maior causa desse engessamento. De 2009 a 2015, houve apenas 24% de participação do comércio exterior na soma do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Embora o objetivo do governo com suas medidas protecionistas seja a proteção do mercado local, nacional, a redução da concorrência pode promover diversos abusos econômicos e oferta de produtos e serviços com menor qualidade, quando relacionado a ambientes de livre concorrência.

Evolução histórica do protecionismo O protecionismo era uma das medidas mais utilizadas na Europa no período de ascensão

do mercantilismo, ao longo dos séculos XVII e XVIII. Reis absolutistas costumavam criar barreiras econômicas e alfandegárias, adotando alta carga de impostos para importação.

A medida dificultava a venda de produtos estrangeiros, uma vez que a ideia era sempre apresentar um melhor preço dos produtos nacionais, gerando maior consumo e maior lucratividade.

Após o fim da Antiga Ordem Mundial a prática protecionista enfraqueceu, sobretudo pelo aprofundamento da globalização econômica. Barreiras alfandegárias diminuíram, e o comércio multilateralista passou a ser estimulado.

Nações que apresentaram maior dificuldade para abrir sua economia, seu mercado, apresentaram menor crescimento econômico no período imediato a fragmentação da União Soviética.

Balança comercial e produto interno bruto O conceito de balança comercial faz referência à diferença entre as exportações e as

importações por parte de um país em um dado período. É um importante indicador para a análise econômica e serve de parâmetro de comparação entre diferentes nações.

Em geral, os Países do Norte exportam produtos com alto valor agregado, como veículos, medicamentos, aparelhos eletrônicos e outros produtos de alta tecnologia, enquanto os Países do Sul vendem produtos primários, resultantes das atividades econômicas do Setor Primário, como a agricultura, a pecuária e o extrativismo (mineral, vegetal, e ou animal).

A balança comercial de um país tem relação direta com o Produto Interno Bruto (que é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano, e praticamente todos os países calculam o seu PIB nas suas respectivas moedas). À medida que aumenta a produção e exportação de um país, o seu PIB acompanha esse crescimento e, quando as exportações passam por declínio, ocorre queda no Produto Interno Bruto do país.

Exemplificando, quando uma empresa brasileira vende seus produtos no exterior, o comprador estrangeiro paga em dólar, que é a moeda internacional de troca. Como por lei a única moeda corrente no Brasil é o Real, a empresa brasileira que recebeu o pagamento do comprador estrangeiro precisará trocar seus dólares por reais. Quem compra esses dólares da empresa são os bancos, através de suas corretoras. Os bancos venderão esses dólares para os importadores, que usarão esta moeda internacional de troca para comprar produtos estrangeiros. Em resumo, as exportações permitem as importações.

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●déficit - é o termo que define o saldo negativo da balança comercial. Nesse caso, as importações superaram as exportações, ou seja, o país comprou mais do que vendeu no período estabelecido. ● superávit - é o termo que define o saldo positivo da balança comercial. Nesse caso, as exportações de um país superaram as importações, ou seja, no período de apuração, entrou mais dinheiro no país do que saiu.

Fluxos comerciais Após a Segunda Guerra Mundial houve um aumento da internacionalização da economia

e das empresas transnacionais no mundo, sobretudo norte-americanas, europeias e japonesas. Essas empresas contribuíram para o processo de globalização, interligando países e continentes. Entre os fatores que corroboraram para o incremento do comércio internacional, além da transnacionalização da economia, estão os avanços nos meios de comunicação e a evolução nos meios de transportes (rodoviário, ferroviário, hidroviário, aeroviário e principalmente marítimo); favorecendo maior mobilidade de matéria-prima e de produtos.

O fluxo de mercadorias em âmbito internacional ocorre, majoritariamente, por meio do transporte marítimo, que movimenta cerca de 75% do volume de cargas no mundo. Esse meio de transporte apresenta elevada capacidade de carga, além do baixo custo por tonelada transportada. Em média, um navio cargueiro pode transportar cerca de 100 mil toneladas.

Principais fluxos de transporte mundial

Obs.: principais portos do mundo são: 1º - Xangai (China), Ningbo-Zhoushan (China), Cingapura (Cingapura), Rotterdam (Holanda), Tianjin (China), Guangzhou (China), Qingdao (China), Porto Qinhuangdao (China), Hong Kong (China) Porto de Jebel Ali, Dubai (Emirado dos Árabes Unidos) e Busan (Coréia do Sul);

O meio de transporte aéreo vem ganhando espaço, contribuindo para acelerar o fluxo de mercadorias internacionais. Destacando seu uso, especialmente, nos casos que o produto é perecível ou há uma urgência na entrega. Obs.: principais aeroportos do mundo são: aeroporto internacional de Atlanta - Hartsfield-Jackson (EUA), aeroporto

internacional de Pequim (Beijing Capital Airport - China), aeroporto internacional de Dubai (Emirado dos Árabes Unidos), aeroporto internacional de Los Angeles EUA), aeroporto internacional de Tóquio (Aeroporto de Haneda - Japão), aeroporto internacional de Chicago O'Hare (EUA), aeroporto internacional de Londres Heathrow (Inglaterra), aeroporto de Hong Kong (china), aeroporto de Pudong - Xangai (China), aeroporto internacional de Paris Charles de Gaulle (França), aeroporto de Amsterdã Schiphol (Holanda), e o aeroporto internacional Indira Gandhi (Índia);

O processo de globalização está diretamente ligado a evolução dos meios de comunicação e gerência remota, como aos meios de transportes, que permitiram a mobilidade de capital, serviços, pessoas e mercadorias.