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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 6794
A MODA BELLE ÉPOQUE E A FORMAÇÃO EM COSTURA NOS CONFINS DE MINAS GERAIS
Maristela Novaes1
Introdução
O estudo de uma blusa à luz dos métodos de análise do objeto (JULES PROWN, 1994),
próprios da cultura material, traz o registro de informações inerentes aos materiais que a
constituem e à sua construção. A blusa, um spencer, de concepção francesa, em estilo Belle
Époque, foi usada em 1912 em Villa Platina, hoje Ituiutaba, região do Triângulo Mineiro,
Minas Gerais. O spencer que comunha o vestido de cerimônia de casamento de Maria
Umbelina Novaes, Inhazinha,2 provavelmente foi também manufaturado no local e apresenta
materiais têxteis elaborados e uma complexa morfologia (modelagem e costura). Partindo do
objeto, esse estudo se apoia no protocolo de investigação historiográfica estabelecido por
Ferdnand Braudel (1979) para o estudo da história da moda, objetivando com isso, uma
compreensão do contexto da cultura de construção de roupas que circulou nos confins de
Minas.
Nesse sentido torna-se fundamental compreender a formação dos profissionais da
manufatura de roupas na sociedade platinense a partir da Instauração da República, em
1889, até o ano de 1915, período que corresponde, parciamente, ao que na política é
nominado Primeira República e nas artes de Belle Époque. O estudo objetiva apreender a
relação entre o Estado brasileiro, a educação informal, a educação confessional, a educação
laica, a educação profissional feminina e os impressos da editora Lombaerts, na formação da
cultura da manufatura de roupas desse período.
Analisamos a legislação educacional republicana implantada com a Lei Benjamin
Constant, a reforma Afonso Pena e a de João Pinheiro que foram adotadas pelos nascentes
1 É doutoranda no programa de Storia Cultura Civiltà, endereço em História, da Università di Bologna-Itália. É professora Asssistente no Curso de Design de Moda da Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia. E-mail: <[email protected]>.
2 O spencer de Inhazinha pertence ao acervo pessoal da autora e é a base material da pesquisa histórica à qual este artigo é vinculado: La costruzione di uno spencer Liberty ai confini di Minas Gerais (A construção de um spencer Liberty nos confins de Minas Gerais), orientado pela Profª Maria Giuseppina Muzzarelli, professore ordinário no Dipartimento di Storia Culture Civiltà da Università di Bologna, Itália. Co-orientado pelo Prof. Noé Freire Sandes, professor titular da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás.
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Grupos Escolares no Estado de Minas Gerais. Anterior à implantação dessas escolas, fêz-se
presente a educação confessional no Colégio Nossa Senhora das Dores em Uberaba, porta de
entrada do Triânglo Mineiro, e que atendia a educação das filhas da oligarquia rural e de uma
parcela de “meninas orphans e ingenuas”.3
Educação confessional e laica previam disciplinas e atividades de trabalhos de
agulha e de economia doméstica, ambas para o sexo feminino. A revista de moda A Estação
(LOMBERTS, 1875-1904), de ampla difusão no território brasileiro, reforça o discurso de
educação feminina presente na legislação ao mesmo tempo em que informa e qualifica
tecnicamente costureiras e afins.
Embasado na pesquisa documental e bibliográfica, o estudo se estrutura como
descrição e interpretação historiográfica através de operações como contextualização,
associação, comparação, análise e ampliação. O referencial teórico-metodológico articula a
dimensão nacional, regional e local, todos eles permeados pelas informações divulgadas pelos
impressos da editora citada. As fontes de pesquisa incluíram: o artefato têxtil, uma fotografia,
documentos oficiais, as leis sopracitadas, a revista de moda, os manuais técnicos e diversos
jornais regionais e nacionais.
Os resultados incluem a construção de uma compreensão mais sistemática e
fundamentada do processo de formação da cultura de construção de roupas evidente na
morfologia do artefato e nas roupas documentadas na fotografia do coletivo social platinense
na inauguração do primeiro grupo escolar de Villa Platina. O processo de alfabetização em sí,
vinculados à diversas displinas impostas pela legislação, favoreceria a leitura e a absorção de
morfologias de roupas e de técnicas de costura concebidos nos centros criadores na passagem
do século XIX para o século XX.
A circulação da informação na imprensa e o “saber ler e escrever” em Villa Platina
A moda era um dos filões no qual a imprensa brasileira, em expansão na primeira
década de 1900, se especializava, direcionando-se ao sexo feminino. Além da imprensa
nacional, circulavam pelo país desde a transferência da família real portuguesa para o Brasil,
em 1808, revistas e periódicos de moda europeus, em especial franceses. O sertão de Minas,
que foi povoado a partir da década de 1820, foi ligado diretamente à São Paulo pela Estrada
de Ferro Mogiana, que em 1889 chegou a Uberaba, cidade vizinha à Villa Platina. A partir daí
pessoas, produtos e informações chegariam à “Boca do Sertão” com uma velocidade até então
3 Filhas de escravas libertas pela Lei do Ventre Livre de 1871.
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inédita. Da estação de Uberaba em diante, penetrariam a região no lombo de cavalos ou nos
carros de bois. Livros, revistas, jornais e manuais técnicos seriam cada vez mais acessíveis à
população circunvizinha.
No entanto, a disponibilidade física dos impressos não seria o suficiente para
proporcionar a leitura aos triangulinos. A prioridade da educação formal, quando havia, era
privilégio masculino, ficando a mulher relegada às atividades domésticas e à educação “no
seio da família” (LARA, 2012). Villa Platina, que em 1901 se emancipou da cidade do Prata,
no ano de 1904 fez um resenceamento (ITUIUTABA, 1904) fundamental para o
entendimento das características de sua população. De um total de 13.237 pessoas registadas
pelo resenceador, padre Angelo Tardio Bruno (ITUIUTABA, 1912), estudamos 9.446
indivíduos nos quatro livros sobreviventes4. Dessa população, 1.450 pessoas eram
alfabetizadas enquanto 7.935 eram analfabetas e os outros não preencheram o campo “saber
e escrever”. Isso nos possibilita concluir que no momento em que os platinenses tomaram
para si a administração da vila, se deram conta de que somente 15,35% da população
recenseada era alfabetizada. Além disto, o recenseamento revelava que 57,20% dessa
população era constituída de menores de idade.
Provavelmente foi este o fator que determinou uma conjunção de esforços, por parte
da administração municipal e da comunidade local, para resolver a questão da educação. Isto
porque, posteriormente ao recenseamento, entre as deliberações da administração pública
municipal, a construção de um edifício que fosse adequado ao ensino primário, foi prioridade
e inaugurou a instrução formal na vila. O grupo, criado com o Decreto Lei n° 2.327 de 22
dezembro de 1908 e inaugurado dois anos após a construção do edifício, foi a primeira escola
pública do município, a terceira no Triângulo Mineiro, e inaugurou o ensino republicano que
garantiria a formação primária, livre, gratuíta e laica aos cidadãos platinenses.
A fotografia do coletivo platinense: um testemunho da circulação da moda Belle
Époque nos confins de Minas
A inauguração pomposa do Grupo Escolar Villa Platina contou com discursos, fogos
de artifícios, banda de música e a presença da comunidade em geral, de autoridades e de
pessoas notáveis da vila (CHAVES, 1984, p. 391).
4 Do conjunto de livros do recenseamento, sobreviveram quatro: Livro I, Livro III, Livro VI e um livro “Sem Ordem.” (ITUIUTABA, 1904).
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A fotografia (Figura 1) feita no dia 21 janeiro de 1910 é um documento histórico de
grande importância para a sociedade platinense porquê nela podemos visualizar o coletivo, a
clara hirerquia desta sociedade e o seu modo de se apresentar. No centro da foto a presença
do padre italiano Angelo Tardio Bruno, “o benfeitor da vila”, que há 27 anos era figura central
na condução das ações religiosas, políticas e organizativas, em colaboração constante com os
políticos representantes da oligarquia rural local. Em primeiro plano, estão presentes os
cidadãos de destaque social que, na compostura da linha e no cuidado com os detalhes,
exprimem os elementos distintivos da classe social a que pertenciam: a dos dirigentes locais
que podiam se permitir vestir roupas tão elaboradas, imponentes e em uma postura fisica
rígida e incompatível com o trabalho agropecuário, base da economia local. Sobre a
vestimenta masculina do dia, Chaves (1994, p. 391) escreve: “a elite platinense, de terno preto
ou escuro, de colarinho da ponta virada, de black-tie...” A Banda de Música Lira
Congressista, em seu impecável uniforme branco e posicionada à esquerda do padre,
também sugere o uso de roupas fora da rotina (RIBEIRO, 2003).
Figura 1. Inauguração do Grupo Escolar Villa Platina, em 1910.
Fonte: Fundação da Casa de Cultura de Ituiutaba, Coleção Família Rodolfo Oliveria Leite.
Professores e alunos da escola republicana personalizaram o evento. Aqui estão no
centro da foto, próximos ao padre. À frente, o diretor da escola, o Prof. Benedito Chagas Leite
e as professoras: Alzira Alves Villela, Minervina Candida de Oliveira e Ana da Silva
(RIBEIRO, 2003). Em meio aos adultos, à direita do padre, encontram-se muitos meninos
com terninhos fechados na frente, alguns usam também a gravata. É visível um grupo de
meninas à esquerda do padre: a maioria apresenta cabelos longos e soltos, ou parcialmente
presos e ornamentados con fitas, usam vestidos brancos ou de cores muito claras. No fundo
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estão moças, mulheres e homens adultos e anônimos. Sobre o evento diz Chaves (1984, p.
392):
As moças e senhoras presentes, muito elegantes, de penteado em moda da época, cabelos levantados e arrematados em coque. Usavam vestidos longos, de cassa branca, gorgurão e cambraia, de cintura fina, rodados e arrematados com rendas e bordados, de golas altas e rentes ao pescoço, mangas longas.
Usar cores brancas impecáveis, mangas longas, sobreposições de roupas em duas ou
três peças, saias compridas até os tornozelos, golas até o queixo, expostos ao barro ou à
poeira da terra vermelha, debaixo de un sol escaldante dos dias de verão dos trópicos, são
sacrifícios que se faz para bem aparentar. Na análise da fotografia e do comentário de Chaves,
podemos visualizar na moda masculina, na infantil, e na de parte das mulheres platinenses, a
característica geral do estilo Belle Époque, “a moda da época” (Idem.), importada dos centros
criativos, sobretudo de Paris.
Mas o fato de ver um figurino francês em uma revista de moda nacional ou importada,
em geral, não torna possível a materialização de uma roupa. Além da presença da matéria-
prima adequada para fazê-la, as costureiras e os alfaiates, deveriam ser também capazes
tecnicamente de realizá-los, ou seja de terem conhecimentos básicos das técnicas de
modelagem e de costura. Isso nos coloca diante de algumas questões: 1. Qual era a formação
e as competências técnicas das costureiras e dos alfaiates da vila? 2.Como se formavam
aqueles que se ocupavam da manufatura de roupas em Villa Platina? 3.Esses profissionais
liam as revistas e os jornais em circulação no país? 4. Que contribuição a imprensa deu à
formação técnica desses profissionais? 5.Que conhecimentos são necessários para
compreender e utilizar os conteúdos de uma revista de moda?
As habilidades dos profissionais da manufatura de roupas no contexto Belle Époque
O desenvolvimento das habilidades que torna possível a materialização de uma roupa,
ou seja, aquelas necessárias à formação de profissionais como alfaiates e costureiras, num
ambiente constantemente inundado por informações textuais e figurativas, impressas em
jornais e revistas, implicam: a leitura, o raciocínio e a percepção dos elementos do espaço, a
manualidade, mas também o desenvolvimento da criatividade. Sendo assim, as disciplinas de
“Leitura”, “Escripta”, “Ligua patria”, “Arithmética”, “Systema Metrico”, “Geometria e
Desenho” e “Trabalhos Manuaes”, recorrentes na legislação educacional da Primeira
República no Brasil, eram a base para se alcançar o domínio das técnicas de costura
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“modernas” difundidas pelos centros criadores de tecnologia como Paris, Inglaterra e Estados
Unidos.
Os novos métodos de modelagem, masculina e feminina, desenvolvidos ao longo do
século XIX eram embasados na geometria e associados ao uso do sistema métrico. Na sua
concepção, eram orientados pelo cientificismo e pelo positivismo (TECNICUS, [1948?]). Os
inúmeros métodos de modelagem resultados dessa técnica eram criados, sobretudo na
França, na Inglaterra, e em pequena parte, na Itália, e disseminados no país sobretudo na
imprensa de moda e nos manuais técnicos. A técnica de modelagem geométrica, como é
designada, foi aquela que primeiro se adequou aos métodos de produção industrial
(TECNICUS, [1948?]) e tornou-se hegemônica no Brasil. Por se embasar no desenho
geométrico e no sistema métrico, ela exigia, como pré-requisitos, as operações básicas da
matemática que orientava a prática do traçado dos moldes personalizados que eram
executados com o manuseio de instrumentos específicos e “modernos” como esquadros e a
fita métrica. Esses utensílios agilizavam a mensuração e proporcionavam a precisão das
dimensões das roupas, colaborando com a elevação da qualidade dos artefatos. Mas o uso
desses utensílios implicava o conhecimento dos conteúdos básicos da matemática.
Compreender os conteúdos de um figurino, impresso em uma revista ou em um
periódico de moda, pronto para ser realizado, implicava possuir uma capacidade de ler as
informações textuais e figurativas ali impressas. Isto é, demandava ser capaz de ler um texto
escrito, de interpretar o desenho de uma roupa em três dimensões — que nos permita ver o
todo — mas também ler o desenho das partes componentes da totalidade, o que quer dizer,
ser capaz de ler ou de traçar os moldes.
No entanto, se as revistas e os periódicos de moda usavam texto e desenho, em duas
modalidades, para comunicar o objeto e as explicações para realizá-lo, os alfaiates e as
costureiras deveriam possuir uma formação prévia em costura e uma grande capaciadade
criativa para encontrar as soluções, tanto para a modelagem e montagem das formas, quanto
para as técnicas de costura. Isto porque forma, materiais e técnicas estavam sempre em
desenvolvimento decorrente do crescimento industrial dos países dos quais irradiavam as
propostas estilisticas, as matérias primas, os equipamentos e as informações técnicas.
A costura que transforma o material têxtil, era tradicionalmente realizada com
técnicas manuais, com pontos usando fio e agulha. Muitos desses pontos são comuns com a
atividade de bordado. A atividade de costura, na metade do século XIX sofreu uma grande
inovação tecnológica: a invenção da costura mecânica, cujos pontos e movimentos foram
inspirados na costura manual, otimizados pelo processo mecânico. A eficiência da ditribuição
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comercial da Singer, por exemplo, pode ser evidencada folheando o Almanak Laemmerts, no
período de 1907 à 1911 (ALMANAK LAEMMERTS, 1907-1911). Alí podemos ver inúmeros
anúncios das lojas Singer Sewing Machine Company. Essa loja era presente, inclusive,
naquela considerada “a Boca do Sertão”, ou seja, na cidade de Uberaba onde se
comercializava o “moderno” mecanismo de costura (MARTINS, 1913).
A costura mecânica, por exemplo, aquela que se faz na máquina Singer, é uma
atividade complexa na medida em que a costureira ou o alfaiate deve desenvolver a
coordenação motora para, contemporaneamente, operar a máquina e manipular o tecido.
Nesse contexto, são muitas e novas as habilidades e conhecimentos a serem
adquiridos. No entanto, nem todas as situações encontradas no processo de integração
desses elementos, eram previstas pelas revistas de moda e pelos manuais técnicos, uma vez
que à estes elementos se somavam os corpos dos clientes, diferentes entre eles. Sendo assim,
além de conhecimento, a criatividade era fundamental para que o alfaiate ou a costureira
encontrassem as soluções técnicas no processo de adaptação da forma à diversidade de
materias primas e às conformações físicas dos corpos.
Hegemonia francesa: ideologia, moda, e educação na Primeira República
A influência francesa permeou várias camadas da vida sociocultural do Brasil no
século XIX. A orientação ideologica positivista da República, por exemplo, se evidencia na
frase “Ordem e Progresso”, elemento central na composição da bandeira nacional (RIBEIRO,
2003). Mas para além da ideologia positivista, que não se restrinjiu aos ideiais republicanos,
a França exerceu uma imensa atração como centro cultural, com un significativo capital
simbólico para a elite da época fazendo com que este pudesse “ser considerado un século de
francofonia, por excelência, onde a nossa cultura absorveu tudo, ou quase tudo, aquilo que se
produzia” naquele país (BASTOS, 2000, p. 80). Na moda e na área da educação, a influência
francesa foi extremamente signaificativa. Mourão (1962) afirma que a França influenciava
decisivamente a ideologia e a metodologia de ensino utilizada em Minas Gerais, pelo menos
em grande parte do período imperial (1962, p. 13). De fato, o período que corresponde à
decadência da monarquia brasileira e à instauração da ordem republicana, que vai de 1870
até 1889, transcorreu com base “numa longa maturação ideológica na qual as principais
referências são a França das Luzes, a Revolução Francesa e as correntes de pensamento em
voga na Europa, especialmente o positivismo” (CARELLI, apud. BASTOS, 2000, p. 81).
No entanto, estas influências prosseguiram, uma vez que a reforma da educação
republicana de 1890, de Benjamin Constant (BRASIL, 1890) — que inaugurou a ação
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republicana na instrução no país — segundo Mourão, “veio das ilusórias e infecundas
orientações positivistas” de Auguste Comte (1798-1857). Com a instauração da nova forma de
governo, é elaborada a primeira Constituição republicana que separou formamalmente
Estado e Igreja (católica) no Brasil (RIBEIRO, 2003) e esta separação marcará
profundamente os rumos da educação no país.
Além da Reforma Benjamin Constant, no estado de Minas Gerais, duas outras
reformas do ensino primário e um decreto foram determinantes para a educação republicana
(MOURÃO, 1962): a de 1892, chamada Afonso Pena, que se efetivou através da Lei n° 41 de 3
de agosto de 1892, e, posteriormente, a de João Pinheiro que passou a vigorar pela Lei n° 439
de 28 de setembro, e o decreto n° 1947 de 30 de setembro, estes dois últimos de 1906. A
ideologia, a metodologia e as disciplinas das reformas seguiram as orientações europeias,
inclusive no tocante às atividades de costura e de “trabalhos de manuaes”, como conteúdos
da instrução formalizada.
De uma série de leis e decretos, a Reforma Benjamein Constant no âmbito federal, a
de Afonso Pena e a de João Pinheiro, no âmbito do Estado de Minas Gerais, são importantes
para este estudo pois, elas tratam do ensino feminino, e propõem as disciplinas que
oferecerão os conhecimentos de base àqueles que se ocuparão da manufatura de roupas,
fruindo os conteúdos de livros, revistas e jornais de moda, manuais técnicos de modelagem,
de costura e de trabalhos manuais, com os quais, a partir de então, seria possível a realização
dos figurinos propostos pelos centros criadores.
A educação e a formação adequada a este sistema envolve conteúdos disciplinares e
didáticos propostos pela legislação, mas também exige equipamentos específicos, ou seja
“modernos”, para a formação escolar republicana. Este complexo processo de organização
educativa envolvia a federação, o estado, incluindo o de Minas Gerais, e o município. A
Reforma João Pinheiro, onde a influência positivista teve continuidade, será analisada com
mais rigor, uma vez que ela daria impulso ao ensino formal no âmbito municipal, como no
Grupo Escolar Villa Platina.
Alfabetização e formação nos confins de Minas Gerais
O recenseamneto de Villa Platina em 1904 (ITUIUTABA, 1904), registra a presença de
seis professores no município: dois na zona rural e 4 no espaço urbano. Os registros
informam que residiam nesses espaços, mas certamente trabalhavam também alí. No
entanto, esses professores foram esquecidos pelos memorialistas e historiadores locais.
Muito citados nos documentos e nas narrativas são os professores que deram início ao
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processo de educação local quando a vila ainda era um distrito chamado de São José do
Tijuco: padre Angelo Tardio Bruno, José Antonio Jannuzzi, João Teixeira, chamado Maestro
Teixeira, Benedito Chagas Leite e Laurindo José de Oliveira, todos da iniciativa privada, sem
a participação do Estado.
A instrução nas escolas públicas, grupos escolares, mudou o curso da história da
educação pública primária no Brasil. Estas escolas que foram criadas na Europa e nos
Estados Unidos foram implantadas no país a partir do estado de São Paulo (1881) e
posteriormente difundidas no território brasileiro. Esta modalidade de ensino traz consigo
muitas inovações: 1. Organização curricular e administrativa embasada na instrução
sequencial, 2. Distruição homogênea dos estudantes sob a orientação de um professor, 3.
Controle da escola, pelo estado, através de diversos mecanismos, 4. A administração da
escola pela figura do diretor e 5. Estrutura arquitetônica que representasse essa nova
realidade, 6. Currículo unificado.
Estas escolas públicas nasceram do ideal republicano com “o objetivo de promover
modificações e inovações, contribuindo para uma nova cultura de escolarização no espaço
urbano (CLARK, s/d). De uma parte esta educação objetivava formar mão de obra para a
industrialização do país, e de outra, foi almejada pelos políticos, interessados em alfabetizar
os eleitores cujo direito de voto não estava mais vinculado ao poder econômico, como
anteriormente, mas à alfabetização (Idem.).
Neste novo conexto, os republicanos mineiros consideravam a instrução uma
prioridade no Estado de Minas Gerais. No entanto a ação educativa republicana que teve
início com Reforma Benjamin Constant (BRASIL, 1890), adentra Vila Platina em 1910 com a
Reforma de João Pinheiro, Lei N° 439 (MINAS GERAIS, 1906). Com essa reforma, o
governador, republicano e positivista, imprimiu substanciais modificações na instrução
primária, normal e superior no Estado e garantiu particular atenção às disciplinas e aos
programas de instrução das escolas primárias com a emissão do Decreto N° 1947 (MINAS
GERAIS, 1906).
A redação do decreto lei se inicia com o título “Instrucção”, para a didática das
disciplinas, e detalha as 12 matérias do programa de ensino primário, distribuídas em 4 anos.
A lei, que mais parece um manual didático que orienta a prática de ensino, desaprova o
método de ensino “silábico” em desuso e universalmente condenado pelo ensino “moderno”.
No método de alfabetização proposto para as escolas públicas de Minas Gerais, “a creança
começará [...] ligando desde logo a idéia expressa pela palavra ao corpo de letras que a
formam.” A lei estabelecia: “e’ conveniente que as primeiras palavras estudadas representem
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cousas concretas” e somente depois sejam introduzidas um certo número de palavras
simples, assim “os alunnos acharão facilidade e até diversão em decompôl-as (sic.) para a
formação de novas” (Idem.).
Para a ‘Escripta” a lei especificava a tipologia de “letra vertical” e curva, vulgarmente
nominada “em pé,” fácil de ser adotada, “rápida, econômica e higiênica.” Estabelecia que “as
creanças [...] ao traçarem as primeiras letras; devem ter a mão educada no modo de pegar a
penna e manejal-a. (sic.) de accordo com o typo de letra adoptado.” Prosseguia dizendo que
“no primeiro semestre desta disciplina, os alumnos usarão ardosias ou lapis e papel, em vez
de penna, porque assim vencerão melhor as difficuldades mechanicas da primeira
aprendizagem” (Idem, p. 6).
A instrução para a disciplina de “Lingua patria”, muito valorizada pela lei, previa: “as
regras grammaticaes serão deduzidas dos exercicios. Nunca aprendidos de cór sem terem
sido antes applicadas” (Idem, p. 6). O mesmo procedimento se extendia à “Arithmetica,” para
a qual a lei previa um grande desempenho para a memória, determinando que se iniciasse
com cálculo de dados concretos até a abstrção. O conhecimento do sistema métrico decimal
no programa previsto pela lei, diferente das leis precedentes, para o qual determinava uma
disciplina específica, passa a ser apenas conteúdo, uma vez que foi inserido na matéria de
“Arithmetica”.
Na disciplina de “Geometria e desenho” a lei instruía que “o desenho tenderá
especialmente a habilitar o alumno à reprodução de objectos, a princípio por linhas rectas,
depois por curvas, augmentando-se gradualemente as difficuldades” sendo que para isto “as
noções devem basear-se em cousas concretas, utilizando-se os objectos da classe, dos
angulos, das extensões lineares, quadradas e cubicas etc.” (Idem, p. 9).
As disciplinas de “Trabalhos manuaes” até o terceiro ano, compreendiam a costura
para as meninas e para os meninos o trabalho com o ferro e a madeira. Para ambos os sexos a
lei determinava: “exercicio do trabalho methodico, familiarizando-os ainda com peças e
instrumentos de que tenham de fazer uso, no curso de Ensino Techinico Primario”. No que
diz respeito à formação das meninas a lei ditava: “I. Familiarizam-se [...] desde o primeiro
dia, com os utensílios do trabalho doméstico. Ensinando-lhes, somente o que for util e
pratico”. Ressaltamos aqui a insistência em direcionar o lhar das alunas para o âmbito
doméstico, pois a lei continu: “os trabalhos de phantasia devem ser banidos, ficando esses
aos cuidados da familia. II. Faça-se com que a menina, ao deixar a escola, possa se servir
pelas proprias mãos. na execução das peças de vestuário e mais trabalhos communs da vida
domestica para ser desde logo util a si e á familia. Assim visualizamos com clareza o discurso
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da legislação educativa na formação em costura no período Belle Époque nos confins de
Minas Gerais: foi direcionado para o lar e sem “fantasia”.
Desenvolver procedimentos de costura servindo-se das próprias mãos, compreendia
a aquisição de habilidades para as quais o treinamento implica o exercício dos
Músculos dos dedos, manejando a agulha numa sucessão de pontos de bordados e costura. A persistência facilitava a incorporação dos movimentos, num processo educativo, envolvendo extensa e rígida sequência, por meio de ritmos harmoniosos que ampliavam progressivamente a flexibilidade das mãos e aumentavam a rapidez na execução dos trabalhos. Segurar a agulha entre os dedos polegar e indicador da mão direita, sem apertá-la em demasia, mas com firmeza, exigia um treinamento que deveria ser iniciado logo nos primeiros anos da infância (MALERONSKA, 2007, p. 52).
Através desse árduo aprendizado o mérito era alcançado pela exatidão na execução
dos pontos que deveriam ser regulares na direção, na forma e na precisa tensão dos fios
(Idem.).
Como complemento à disciplina de “Trabalhos manuaes”, as meninas recebiam
noções de economia doméstica. Mas se nas leis da instrução republicana podemos constatar
uma preocupação com a formação feminina, seu objetivo era claro: seriam preparadas para a
vida doméstica e os meninos para o trabalho público. Além disto, o programa propunha a
costura só para as meninas, os homens que por acaso desejassem uma formação em
alfaiataria não a encontraria nas escolas públicas.
O programa da disciplina “Trabalhos manuaes” proposto na instrução primária,
compreendia quatro anos de formação (MINAS GERAIS, 1906, p. 09-43). O aprendizado era
gradual e começava no primeiro ano com atividades de dobraduras de papel e de tecidos, com
a introdução dos primeiros pontos de costura para culminar no “uso da máquima de costura
a pedal e à mão” no quarto ano escolar. O programa previa o desenvolvimento das
capacidades motoras para as atividades mecânicas no uso da máquina de costura. A didática
para essa formação, era introduzida com a costura em pedaços de papel pautado, com agulha
sem fio, e na sequência passava à costura de partes simples para então, avançar para ao
ensino de “Cortes e preparo de saias e camisolas de creanças”, ou seja, para o trabalho com
peças mais complexas.
O “bordados em lenços e roupas de cama” previstos no quarto ano escolar nos
possibilita pensar que, ao longo de três anos de estudo, as estudantes teriam adquirido o
conhecimento dos pontos mais complexos que são, em larga medida, úteis também à costura
manual e à hibridização dessas técnicas na manufatura de roupas. Embora os métodos de
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modelagem se alterassem pelas transformações que se adequavam às novas morfologias de
roupas, a costura manual conservou os pontos básicos que são os mesmos até hoje.5
O Decreto N° 1947 (MINAS GERAIS, 1906) instruía não só os conteúdos, mas
também o método didático para a instrução, ou seja aquele denominado “intuitivo”. Segundo
D’Esquivel, inspirado no pensamento de Pestalozzi, o ensino intuitivo fundamentava-se na
premissa de que, a partir dos objetos do cotidiano, “as coisas” do mundo real, a intuição
infantil seria capaz de construir e expressar ideias (2015, p. 372). A nova concepção
educacional regeitaria a memorização como método de ensino.
Este método foi introduziodo no Brasil por Rui Barbosa que na sua ocupação com a
questão da “instrução”, “previu a necessidade de um manual pedagógico através do qual os
professores brasileiros pudessem conhecer a teoria e a prática das técnicas de Pestalozzi”
(BASTOS, 2000, P. 86). O livro de Calkins, Primary Objec Lessons for training (1870), fui
traduzido para o português por Rui Barbosa em 1881. Bastos (2000, p. 85) sustenta que esse
livro, em virtude da tradução de Rui Barbosa, tornou-se “o manual para professores mais
difundido no Brasil, durante os anos finais do Império e grande perte da Primeira República
(1889-1930)”.
O método “intuitivo” foi adotado pela reforma Reforma Benjamin Constant (BRASIL,
1890) para toda a federação e proguiu em diversas reformas de instrução no âmbito federal e
estadual. Ele concebia a instrução partindo do concreto para o abstrato, do fenômeno ao seu
termo designante e utilizando os cinco sentidos.
No entanto, no programa de ensino previsto por esse decreto lei, embasado em
Lessons for training (1870) e seu método “intuitivo”, não encontramos preocupação para
com o desenvolvimento da criatividade na formação institucional. Para a disciplina de
“Geometria e desenho” a lei é explícita em orientar somente a reprodução dos objetos, o que
confirmaria esta hipótese. Entendemos que o exercício de “dobramento de papel e peças de
roupas” proposto no início da formação em “Trabalhos manuaes”, poderia ter como
referência os exercícios das páginas 130-132 do livro de Calkins (Idem.), que envolvem o
conhecimento dessas dobraduras. No capítulo Lessons to develop the idea of a cub and a
cubical forms e Lessons to develop the idea of phyramids desse livro, vemos o objeto sólido e
sua projeção no plano o que poderia inspirar os trabalhos para a criação dos objetos
tridimensionais a partir das partes bidimensionais (FIG. 3).
5 A última classificação de pontos e costuras foi feita pela International Organization for Standardization–ISO. Nela os pontos são classificados, pela ISO 4915:1991, em 8 classes: 100, 200, 300, 400, 500, 600, 700 e 800. Os inúmeros pontos de costura manual estão nominados na classe 200. Já as costuras são classificadas pela norma ISO 4916:1991 também em 8 classes: 100, 200, 300, 400, 500, 600, 700 e 800.
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Figura 3. Primary Objec Lessons for training the senses and developing the faculties of children. Página
131-132.
O método “intuitivo,” expresso na proposta de Calkins, que nas escolas brasileiras era
referência para os docentes, poderia ser também um estímulo à criação, no entanto, a
exclusão do trabalho de “fantasia” no âmbito da escola e a orientação à “reprodução” de
objetos na disciplina de “Geometria e desenho” eram práxis que certamente não estimulavam
o desenvolvimento da criatividade das estudantes, inclusive as platinenses. O exercício da
criatividade na disciplina de“Geometria e desenho”, uma vez aprendido na escola poderia ser
transferido, por analogia, à roupa, e poderia lhes proporcionar emancipação e autonomia na
projeção de novas morfologias. Esta transferência seria uma colaboração ao desenvolvimento
de novas formas, uma vez que a roupa é um objeto tridimensional que pode ser construído
com partes bidimensionais (FIG. 4). Mas a reprodução era a orientação para a disciplina.
Figura 4. Figurino em vista frontal e traseira e os moldes correspondentes.
Fonte: Lombaerts (1886, p. 90).
As habilidades desenvolvidas em uma disciplina podem potencializar o
desenvolvimento de outras capaciades necessárias a outras matérias. Nessa linha de
raciocínio “a educação das maõs” na disciplina de “Escripta”, prevista pelo decreto, era um
procedimento de desenvolvimento de coordenação motora que poderia favorecer a
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manualidade necessária à formação de costureiras e de alfaiates. O conteúdo do programa da
disciplina de “Trabalhos manuaes,” “modos de separar e manejar a agulha,” é uma evidência
de que os redatores da lei eram conscientes da complexidade do desenvolvimento da
manualidade inerente à atividade de costura.
A formação em costura, na instrução republicana, teria como material didático o
manual intitulado “Tratado sobre o ensino do corte das vestes para ambos os sexos,” da
autora Agda’, editado pela Casa Editora Lombaerts, que também editava a revista de moda
feminina “A Estação: Jornal illustrado para a familia” (LOMBAERTS, 1875-1904). O manual
era anunciado como sendo o primeiro trabalho do gênero no país e era destinado ao uso nas
escolas primárias para o sexo feminino. Essa recomendação foi documentada no depoimento
de Joaquim José Menezes Vieira, diretor do museu republicano dedicado à educação: o
Pedagogium (1890-1919).
A revista A Estação foi um potente veículo de publicidade cuja distribuição cobria
todo o país, iclusive Minas Gerais e foi considerada uma das instituições que instaurou a
influência e o prestígio da França no Brasil (BASTOS, 2000, p. 80). A revista que foi editada
no país até o ano de 1904, num total de 29 anos, foi uma instituição comercial que soube
vender o estilo de vida e a moda francesa à burguesia brasileira, mas vendeu também
figurinos, manuais (de corte, de costura e de trabalhos de agulha), além de utensílios básicos
de costura (carretilha, fitas métricas e papel de moldes), ou seja, comercializou um modo de
fazer roupas. Portanto a revista “A Estação” e sua Casa Editora Lombaerts formavam uma
instituição autônoma na concepção de un conceito de moda e de formação técnica na
manufatura de roupas na passagem do século XIX para o XX no Brasil. A proposta da
educação republicana com a educação básica e o especial programa da disciplina de
“Trabalhos Manuaes”, será propulsora da formação de novas costureiras no Estado de Minas,
incluindo Villa Platina.
A oralidade e o ensino institucional: entre a tradição e a modernidade no sertão
No início do processo de população do Sertão da Farinha Podre, a alfabetização no
“seio da família” era uma prática que sobreviveria até meados do século XX, assim como
sobreviveu também a difusão informal do conhecimento adquirido na escola formal
(CHAVES, 1984, p. 383). A aquisição do conhecimento de novas técnicas de costura pode ser
correlata ao processo de alfabetização em que o conhecimento adquirido por um membro da
família em uma instutuição educacional pode ser repassado à outros no âmbito familiar.
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A fotografia de inauguração do Grupo Escolar Villa Platina é um testemunho de que em
1910 a Belle Époque já era moda na vila. Na análise deste panorama deduzimos que a
formação de base e o conhecimento das técnicas de manufatura de roupas era uma realidade
na região e chegou através de diversos mecanismos de ensino: a educação oral no “seio da
família”, as escolas particulares e o ensino institucional e religioso da escola católica.
A análise do recenseamento de Villa Platina em 1904 (ITUIUTABA, 1904), como fonte
de pesquisa para o levantamento das profissões em geral e daquelas ligadas à manufatura do
vestuário em particular, nos oferece um vazio abissal no âmbito das profissões da população,
em especial das mulheres. Fazer uma roupa implica a disponibilidade de conhecimentos e o
recenseamento não registra as profissões e as habilidades dos habitantes da vila sertaneja,
embora as raízes da região do Sertão da Farinha Podre, sendo o resultado da mistura cultural
das províncias de São Paulo, Goiás e Minas Gerais, tenha as habilidades da manufatura do
vestuário como herança cultural (LARA, 2012). Na primeira metade do século XIX
“reuniram-se condições que conduziram ao enorme crescimento da produção doméstica
têxtil, uma herança do passado colonial de Minas” (libby, 1988, p. 186). Lara (2012),
analizando testamentos, encontrou diversos testemunhos de que as atividades de tecelagem e
de costura penetraram a região de São José do Tejuco quando de seu povoamento. Como
testemunha Chaves (1984), ainda que tenham entrado em decadência no final do século XIX,
perdendo sua significativa contribuição econômica ao Estado de Minas, essas atividades
permaneceram vivas até meados do século XX.
Como testemunho desta presença, o Recenseamento de 1904 (ITUIUTABA, 1904)
relaciona três tecelãs analfabetas e irmãs entre si. A mais nova residia na vila e as outras duas
residiam em fazendas de uma mesma região do município, ou seja, no ambiente rural. Estes
dados nos sugeram que os procedimentos da tecelagem, mais rudimentares, poderiam ser
oriundos de conhecimentos embasados sobretudo na tradição oral e em família, e por isso
dispensavam a alfabetização.
No mesmo recenseamento, de 15 profissionais ligados à costura, a costureira mais
velha do grupo, declarou ser analfabeta. Todos os outros 14 profissionais da costura
declararam “saber ler e escrever”. Além deste dado, 7 costureiras residiam no meio rural. É
significativo que sete costureiras e três tecelãs residissem no meio rural no início do processo
de urbanização da vila, pois o dado sugere a reminiscência da unidade de produção rural de
um passado até então vivo e comprova a permanencia da tecelagem ainda que num momento
em que a atividade era dizimada pela entrada de tecidos importados e pela nascente indústria
brasileira (LIBBY, 1998).
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No grupo citado, podemos ver o registro de 3 costureiras, filhas de José Bernardino de
Oliveira. Portanto, como no exemplo das duas tecelãs em outra família, estas são evidências
de que o conhecimento destas profissões poderiam ser adquiridos “no seio da família,” ou
seja, através da cultura oral.
Do grupo de costureiras, a mais velha, sendo analfabeta, talvez fosse a única impedida
de fruir consideravelmente as informações impressas nas revistas de moda e, portanto, mais
dependente da tradição corrente da manufatura de roupas, estas defasadas em relação à
moda. Por outro lado poderia ser ela limitada à confecção de peças mais simples. Em
contraposição, o restante do grupo, “sabe ler e escrever”, possivelmente estivessem mais
aptos a acompanhar as modas e as novas técnicas de costura em circulação na imprensa, ou
seja, teriam eles mais condições de fruir o conteúdo de revistas de moda e de manuais
técnicos de manufatura de roupas. Acompanhar modas e atualizar técnicas os tornariam mais
aptos a competir no mercado de trabalho.
Costura e bordado nas escolas religiosas e laicas sertão
O Colégio N. S. das Dores de Uberaba, de origem francesa, foi a primeira escola
feminina dominicana no Brasil, pioneira nesse filão no Sertão da Farinha Podre. A escola que
foi aberta em 1885, iniciou seu trabalho educacional no âmbito da educação elementar, e em
1906 inaugurou a sua escola normal, na qual até mesmo o ensino de “trabalhos manuaes”
seria mais completo (BICHUETTE, 1986).
A proposta formativa da escola seguia a legislação escolar de então (Idem.). Se
consideramos que a formação de base implicava quatro anos de estudo, os altos custos da
formação confirmam a proposta de ensino elitista, declarada pela própria escola:
Tem por fim este Collegio a formação de boas mães de famílias ou de criadas e servas que possam vantajosamente substituir as escravas. Receberá pois o Collegio as meninas das famílias ricas, orphans e ingenuas no internato e no externato em divisões bem distintas” (SILVA, 1885, p. 3).
Estes altos custos sugerem que a educação era acessível somente às meninas
pertencentes à oligarquia rural e comercial da cidade e da região. Além disso a escola
expressa direfenças segundo as modalidades de ensino direcionados às alunas internas,
externas e “orphans e ingenuas,” sendo estas últimas as mais limitadas, uma vez que
deveriam cumprir tarefas domésticas para se manterem no colégio. As mais beneficiadas
seriam as filhas da oligarquia rural e de comerciantes, alheias ao mundo do trabalho como
fonte de renda própria.
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Na relação de disciplinas da “escola primária” e de disciplinas da “escola normal”
oferecida por Bichuette (1986), podemos ver a relação de disciplinas como “Arithmetica,
Systema metrico e Lingua Franceza”. A escola oferece “também Trabalhos manuaes próprios
de uma senhora como: costura, crochê, borbado, etc.” (SILVA, 1885, p. 3). Além da
alfabetização, estas disciplinas citadas poderiam facilitar o acesso aos conhecimentos das
novas técnicas de manufatura das roupas impressas nas revistas de moda nacionais e
internacionais, como por exemplo: A Estação, filha da francesa La Saison e La Mode
Illustrée, ambas traduzidas em muitas línguas. Essas revistas circulavam no país, inclusive na
região sertaneja.
Uma disciplina que se ocupava exclusivamente do sistema métrico, é uma evidência das
dificuldades do processo de adoção deste sistema de medidas (MAIOR, 1978), que foi
inventado na França e adotado pelo Império do Brasil, em 1862 (BRASIL, 1862). A partir de
então, podemos ver que em todas as leis escolares, este sistema di mensuração ocupou uma
disciplina tanto na educação oferecida pelo estado como nas escolas privadas e religiosas. Em
1906 ele passa de disciplina a conteúdo.
Deduzimos que a complexidade das novas técnicas de modelagem requeressem um
grau mínimo de alfabetização para que o exercício de costura como profissão, se envolvendo
a modelagem personalisada. Este fator limitou a formação das costureiras, pois como vimos,
a clientela feminina das escolas católicas no país tinha como objetivo a educação para o
casamento e à submissão da mulher ao poder masculino tanto paterno quanto matrimonial.
Deste quadro podemos deduzir que tanto a formação escolar republicana ofertada nos
grupos escolares, portanto laica, quanto a católica e particular pensavam a educação
feminina, mas sempre com o objetivo de servir à família. Sair deste propósito, em geral, seria
possível somente às mulheres que precisavam se sustentar com seu próprio trabalho, isto é,
aquelas pobres, “orphas e ingênuas.” Deve-se consider que
O grau de habilidade será condicionado al ritmo e ao tempo do aprendizado que permetirão também o adestramento e a prática com os utensílios de trabalho, em sequências distintas, incluindo também o conhecimento dos instrumentos, dos aviamentos e dos tecidos.
Diante dessa afirmação, podemos deduzir que dificilmente as estudantes pobres,
“orphas e ingênuas” sairiam de uma escola católica com a mesma formação que a de uma
aluna que poderia dedicar-se somente aos estudos das disciplinas oferecidas, tanto no
processo de alfabetização quanto na formação em costura e em bordado.
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Conclusão
Jornais e livros eram comercializados em Villa Platina na primeira década de 1900
(MARTINS, 1913). No entanto os mais significativos testemunhos de que os platinenses
tinham acesso à moda e às técnicas de manufatura de roupas da Belle Époque que circulavam
em impressos no Brasil são: o artefato têxtil — o spencer de Inhazinha, que nos permite
visualizar a roupa em sua verdadeira materialidade — e a fotografia do coletivo platinsense
na inuguração do Grupo Escolar Villa Platina. Ainda que não tenhamos registros de que essa
moda fosse adotada na integridade proposta pelas revistas de moda, como por exemplo, com
o uso de chapéus e corsets, podemos visualisar nos documentos citados a ambiguidade e a
convivência da tradição e do “moderno”, que se refletiam nas propostas estilisticas e na
manufatura de roupas da sociedade platinense. Isso comprova que as informações de moda e
de técnicas eram absorvidas por diversos meios e, provavelmente, adaptados de diversas
formas às várias qualificações tanto dos profissionais da moda quanto pela manufatura
caseira.
A Primeira República foi palco de disputa entre o velho e o “moderno”, entre o rural e
o urbano, entre o poder e a democracia e, consequentemente, da redefinição do papel da
mulher que entrava no mercado de trabalho. Apesar do discurso republicano da educação da
mulher para a vida doméstica, no contexto restritivo do trabalho, a atividade de costura foi
uma das poucas vias a possibilitar a subsistência feminina (MALERONSKA, 2007). Em Villa
Platina a costura como profissão será desenvolvida no âmbito doméstico, de modo informal e
entre os limites do público e do privado.
O arcabouço da formação básica do período será adquirido “no seio da família” ou
pelas escolas rurais, urbanas e católicas, todas elas particulares, e, posteriormente, pela
educação republicana gratuíta. Já a formação específica à manufatura de roupas pela
costureira, seria adquirida “no seio da família” e nas escolas católicas que atendiam uma elite
oligarquica e uma parcela de meninas pobres, “ingenuas e orphans” e, posteiromente, na
nascente escola republicana. Esse conhecimento seria repassado pelo ensino informal ou
simplesmente pela confecção de produtos, que colocavam estilo e técnica em circulação na
região. Ao alfaiate, restava a formação na oficina e na medida em que desenvolvia o trabalho.
A formação básica oferecida por essas escolas permitiam a fruição de conhecimentos
gerais e específicos que permitiam a leitura e incorporação de morfologias de roupas e de
manuseio de utensílios, de máquinas e de técnicas adequadas à moda Belle Époque, como as
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que circularam por 29 anos através da revista “A Estação” e dos manuais técnicos impressos
pela Casa Editora Lombaerts.
Villa Platina, assim como o Brasil, se caracteriza também por ser uma sociedade com
diferenças culturais e econômicas abissais. A transmissão de conhecimentos e de habilidades
na produção de roupas define as diferenças entre as várias classes sociais (MALERONKA,
2007). Para o historiador Fernand Braudel (1979, p. 282), a história das roupas “nos coloca
todos os problemas: das matérias primas, dos procedimentos de fabricação, dos custos, das
imobilidades culturais, das modas, das hierarquias sociais.” Vimos aqui que o contexto de
formação escolar e profissional espelha essas hierarquias. Sendo assim, se pudéssemos ver as
roupas da fotografia da inauguração do Grupo Escolar Villa Platina nas suas verdadeiras
dimensões, ou seja, se elas tivessem sobrevivido como aconteceu com o spencer de
Inhazinha, na integridade de suas materialidades, hoje poderíamos ver as diferenças e
especificidades das formações em costura na qualidade de suas manufaturas.
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