d. macedo costa, o sagrado e o profano na conduta das mulheres na belém da belle Époque (1877 182

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D. MACEDO COSTA, O SAGRADO E O PROFANO NA CONDUTA DAS MULHERES NA BELÉM DA BELLE ÉPOQUE (1877-1878) Autoras: Kely Regina de Sena Lemos Natallie Nazareth Alcantara Chagas Orientador: Renato A. de Oliveira Gimenes Belem-PA 2008 Faculdade Integrada Brasil Amazônia- FIBRA Curso de Licenciatura em História

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D. MACEDO COSTA, O SAGRADO E O PROFANO NA CONDUTA DAS

MULHERES NA BELÉM DA BELLE ÉPOQUE (1877-1878)

Autoras: Kely Regina de Sena Lemos

Natallie Nazareth Alcantara Chagas

Orientador: Renato A. de Oliveira Gimenes

Belem-PA2008

Faculdade Integrada Brasil Amazônia-FIBRA Curso de Licenciatura em História

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INTRODUÇÃO

A criação de regras de conduta destinadas às mulheres em seus vários estágios de vida social, pelo D. Macedo Costa, enfatizava aquilo que a Igreja Católica destacava como certo e errado, perante as mudanças pelas quais passava no final do século XIX. Buscamos entender os motivos que levaram o bispo a criar tais regras, demonstrando uma análise do seu ponto de vista no que se refere à vida mundana.

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JUSTIFICATIVA

Compreender porquê e de que forma a Igreja tentou proibir as mulheres de viverem plenamente sua sexualidade. Procura-se entender o que tanto o bispo condena, com relação a vida social das mulheres.

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OBJETIVOS

• Estudar as construções culturais e históricas sobre ser e tornar-se feminino.

• Explicitar os exemplos da conduta feminina proibida por D. Macedo Costa.

• Mostrar de que forma a sexualidade feminina se expressava no sociedade no período da Belle Époque.

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REFERENCIAL TEÓRICO

“Com as revoluções americana e francesa, as principais transformações políticas e sociais foram secularizadas. (...) Nas ideologias dos americanos e franceses, pela primeira vez na história da Europa, o cristianismo foi deixado de lado. A linguagem, o simbolismo e o costume de 1789 são puramente não-cristãos.” (HOBSBAWN, 2006, p. 307)

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Concílio de Trento (1545-49, 1551-52, 1562-63)

Sessão conclusiva do Concílio de Trento, em 1563. Pintura atribuída a Nicollo Dorigatti. Fonte: http://www.trentinocultura.net/

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A Igreja Ultramontana no ParáD. Antônio de Macedo Costa

“No final do século XIX o Diário de Belém fez uma denúncia que teve grande repercussão, dando inicio à chamada questão nazarena. Segundo o jornal, numa das noites do arraial da santa foram apresentados quadros com “representações indecorosas” (mulheres despidas). A reação das autoridades religiosas veio rápida. Em outubro de 1877, o bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa, suspendeu as funções religiosas da Festa de Nazaré e fechou a porta da ermida. O fato teve grande repercussão, na cidade e no interior, sendo a atitude do bispo duramente criticada, sobretudo pela imprensa liberal. Apesar da proibição, o povo, instigado por membros da Irmandade de Nazaré (que era responsável, na época, pela organização do Círio e da Festa), abriu por conta própria a porta da ermida, apoderando-se dos instrumentos de celebração, acendendo velas e lustres, tocando os sinos, para em seguida entoar, “com todo o recolhimento, uma ladainha que era acompanhada por grande número de pessoas, ajoelhadas até na rua” (IPHAN, 2005, p. 22)

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• Criação de colégios religiosos femininos:

Asylo de Santo Antônio (1878).• Colégio para as filhas da elite e asilo para as órfãs

desassistidas.• Educação das jovens segundo o “modelo mariano” de

mulher.

“Leitura, caligrafia, aritmética (contabilidade aplicada às necessidades da economia doméstica, objeto de grande importância na educação da mulher) (...) As prendas compreendem: coser, diversos pontos de marca, bordar a branco, matiz, ouro, escomilha e a navalha, em vidro, cera e em marfim; flores de pano, seda cera missanga e de sola; pintura oriental e outras obras de mão; desenho, pintura, piano e canto. ” (A Boa Nova, 07 nov. 1877)

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“Resumo do que há de fazer um cristão para se santificar e salvar”

“Obrigações de uma jovem:

1- Ser muito modesta em todas as suas ações.2- Andar acautelada a cada passo.3- Ser grave e sempre decente nas falas e maneiras.4- Gostar de estar em casa e ajudar a sua mãe.5- Aplicar-se de contínuo ao trabalho.6- Raras vezes sair, e só por necessidade.7- Aborrecer as vaidades nos vestidos e enfeites.8- Evitar conversações indiscretas com pessoas de diferente sexo.9- Detestar dissipações e profanos divertimentos.10-  Amar o exercício de piedade.11- Ser muito franca, leal e amorosa para com sua mãe e não ter segredos para ela.12- Edificar com bom exemplo e doutrina seus irmãozinhos menores.

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Obrigações da mulher casada: 1- Amar o marido.

2- Respeitá-lo como seu chefe.3- Obedecer-lhe com afetuosa prontidão.4- Adverti-lo com discrição e prudência.5- responder-lhe com toda a mansidão.6- Servi-lo com desvelo.7- Calar, quando o vir irritado.8- Tolerar com paciência os seus defeitos.9- Não ter olhos nem coração para outro.10- Educar catolicamente os filhos.11- Ser muito atenciosa e obediente para o sogro e a sogra.12- Benévola com os cunhados.13- Prudente e mansa, paciente e carinhosa com toda a família.

Obrigações da viúva: 1- Viver pura como as virgens.

2- Vigilante como as casadas.3- Dar exemplo de virtudes a umas e outras.4- Ser amiga do retiro.5- Inimiga dos divertimentos mundanos.6- Aplicada à oração.7- Cuidadosa pelo seu bom nome.8- Amante da mortificação.9- Zelosa pela glória de Deus.”

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METODOLOGIA

• Estudo comparativo de fontes documentais jornalísticas dos anos de 1877-78.

• Abordagem do contexto das reformas perpetradas no Pará quando do governo episcopal de D. Macedo Costa.

• Análise do ponto de vista do bispo referente à vida mundana, assim como das fontes que indicavam esse outro lado da vida social em Belém.

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Uma Belém profana (ou o que tanto D. Macedo Costa desejava evitar...)

O TEATRO

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A troppa dos bouffes que daí veio e por cuja ausência houve

quem na imprensa fluminense felicitasse as boas e distintas famílias da corte, já começou a dar aqui no teatro Chalet em Nazaré, os seus espetáculos que um espirituoso Paraense denominou lições de civilização à francesa, já se sabe.

Ninguém conhece aqui as artistas desta companhia senão pelo nome de buffas ou filósofas, o caso é que acabam de referir-me uma anedota que se deu com um dos primeiros milagres realizado por uma dessas civilizantes. Aí vai como foi; vendo a fazenda pelo custo.

Um velho, papai ou vovô antes da chegada da companhia protestou que nunca levaria a sua família ao espetáculo, e soltou um pouco a língua a esse respeito.

Ora, como língua de praga, quanto mais dobra mais paga, aconteceu que o bom homem se encontrasse inesperadamente com uma das buffas que jovialmente o cumprimentou. Quis ele fugir, mas não pôde, e a artista tais artes fez que o prendeu... pelo pé.

Protestos não valem juras. O nosso homem ficou encantado. Quando a artista retirou-se, dois amigos o interrogaram ainda uma vez, e a sua reposta foi um elogio rasgado à companhia. O homem estava convertido e civilizado! (Jornal do Commercio, 24 jul. 1870)

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A LITERATURA

Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos)

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“Os livros perversos e irreligiosos são a peste da sociedade, pelas ruínas e estragos que causam no mundo às almas. A elles se devem as innumeras heresias que tem combatido a fé, seduzindo grandes talentos, roubado à Igreja nações inteiras.

A quem se deve, nos tempos modernos, a piedade quase extincta, desterrando o podor, dominando a malicia, as paixões com a máscara da virtude, a virtude reputada uma vileza, essa universal licença do duvidar em matéria da religião, do negar, de calunniar , de ridicularisar, de sophismar sem reserva?

A quem se devem as revoluções no século presente, a anarchia da política, a impiedade no religioso, tantos systemas philosóphicos e econômicos inimigos do Christianismo?

Quem bem pensar há de necessariamente dizer: toda essa barafunda de erros, de crimes, de estragos, tem por origem os maus livros, encyclopedias, diccionarios, ensaios, folhetos, poesias, historias, romances, almanachs, jornaes e mil outras pestilentes producções, que o gênio do mal propaga por toda a parte.” (A Boa Nova, 19 maio 1877)

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A MODADécada de 1840

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Década de 1850

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Décadas de 1860-70

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CONCLUSÃO

Percebe-se que, tanto entre as paredes de sua casa quanto fora dela, a mulher tomava contato com tudo aquilo que a Igreja pregava como perigoso à sociedade. A leitura, os costumes ditados pela moda e as manifestações artísticas levam a perceber outro olhar sobre a condição feminina em Belém.

A pluralidade de representações sobre o feminino construídas no século XIX, porém enfatizadas nos anos finais de 1870, leva à percepção de que as mulheres encontraram formas de driblar e de adaptarem sua conduta àquilo que a Igreja buscava, demonstrando um novo modo de pensar e agir perante a sociedade.