diretor do dpep - ipcfex.eb.mil.br · individuai básica (iib), fase inicial de instrução para os...

70

Upload: nguyenduong

Post on 09-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

MARCELO
Text Box
Diretor do DPEP

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

7

COMPARAÇÃO DE DOIS MÉTODOS DE TREINAMENTONEUROMUSCULARES, ESPECÍFICOS PARA FLEXÃO NA

BARRA FIXA

Edson AitaRoberto Rodrigues Gomes Júnior

Guilherme Faria da SilvaAlexandre Santa Rosa

Rafael Mello de OliveiraLeonardo Pereira de Almeida

Márcio Ribeiro PereiraWagner Siqueira Romão

Joel Cajazeira FilhoMarcelo Lucena de Almeida

Marcelo Eduardo de Almeida MartinsMarco Antônio de Mattos La Porta Júnior

Rafael Soares Pinheiro-DaCunha

Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) – Rio de Janeiro – Brasil

7-14

Resumo

O Exército Brasileiro (EB) submete seusquadros, três vezes por ano, a um Teste de AvaliaçãoFísica (TAF), a fim de verificar o padrão dedesempenho físico individual. A flexão de braços nabarra fixa (FBBF), uma das provas do TAF, avalia asqualidades físicas de força e de resistência muscularlocalizada de membros superiores (Brasil, 1997) etem sido uma das causas dos resultados deinsuficiência do TAF. O objetivo deste estudo foicomparar o método de séries múltiplas com ométodo piramidal decrescente de treinamentoneuromuscular, específicos para a flexão na barrafixa. Participaram do estudo 58 militares do Centrode Preparação de Oficiais da Reserva do Rio deJaneiro (CPOR-RJ), fisicamente ativos, do sexomasculino. Foi realizado um pré-teste de repetiçõesmáximas de FBBF com toda a amostra. Com basena performance, os indivíduos foram divididos, deforma intencional e estratificada, em dois gruposhomogêneos, conforme o teste de Levene (F = 0, 58,para p = 0,45). O primeiro grupo, séries múltiplas

(GS), com idade de 18,29 ± 0,53 anos, massacorporal de 62,85 ± 8,18 Kg, estatura de 1,72 ± 0,07 me percentual de gordura (G%) de 8,72 ± 3,78 %,realizou o treinamento, que consistiu na realizaçãode três séries a 75% do número de repetiçõesobtidas no pré-teste, arredondados para baixo,apresentando o resultado do pré-teste de 6,00 ± 1,76repetições. O segundo grupo, piramidal decrescente(GD), com idade de 18,53 ± 0,78 anos, massacorporal de 63,62 ± 9,22 Kg, estatura de 1,72 ± 0,06 me percentual de gordura (G%) de 7,43 ± 4,27 %,realizou o treinamento decrescente, com três sériesa 90, 75 e 60%, respectivamente, das repetiçõesalcançadas no pré-teste, arredondados para baixo,apresentando resultado de 5,96 ± 1,77 repetições.Em ambos os casos, a densidade corporal foiavaliada pelo protocolo de três dobras cutâneas(Jackson & Pollock, 1978) e o percentual de gordura(G%) calculado pela Equação de Siri (1961). Ointervalo entre as séries, em ambos os grupos, foide dois minutos. Os treinamentos foram realizadostrês vezes por semana. Após a terceira semana detrabalho, foi realizado um teste intermediário, nasmesmas condições anteriores, a fim de realizar asobrecarga, baseada na nova performance. Após a

__________Recebido em 20/11/2004. Aceito em 14/02/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

8 7-14

sétima semana de treinamento, foi realizado o pós-teste, em condições idênticas ao pré-teste, comresultado de 10,06 ± 2,65 para o GS e de 10,35 ±2,28 para o GD. Foi utilizado o teste estatísticoANOVA two way, que apresentou diferençassignificativas entre os grupos (F = 37,29, para p =0,00). Utilizou-se o teste de Tukey para constatarentre quais grupos foi verificada a diferença.Verificou-se que entre os pré e pós-testes, intra-grupos, houve diferença significativa (p = 0,00) e,entre os pós testes, inter-grupos, não houvediferença significativa (p = 0,956). Os métodos de

treinamento neuromusculares aplicadosmostraram-se eficazes, em relação ao pré-teste,para a amostra considerada, não apresentandodiferença significativa entre os grupos de estudo nopós-teste. Sugere-se a inclusão de tais métodos noManual de Treinamento Físico Militar (C 20-20), comoatividade complementar ao treinamentoneuromuscular, visando a melhor performance naFBBF do TAF.

Palavras Chaves: Condicionamento Físico, Militares,Teste de Avaliação Física.

COMPARISON OF TWO METHODS OFNEUROMUSCULAR TRAINING, SPECIFICALLY

FOR FIXED-BAR FLEXIONS

Abstract

The Brazillian Army submits its militarypersonnel to a Physical Assessment Test (PAT) threetimes a year, to check individual physical standards.The pull-up on the fixed-bar, a test of PAT, assessesthe physical qualities of strength and localizedmuscular endurance of the upper limbs (Brasil, 1997),and it has been one of the causes of insufficiencyresults in PAT. The aim of this study was to comparethe multiple sets method with the decreasingpyramidal sets method of neuromuscular training,specifically for the pull-up exercise. Taking part in thisstudy were 58 male, physically active militarypersonnel from the Reserve Officers PreparationCenter of Rio de Janeiro (CPOR-RJ). A pre-test ofmaximum pull-up repetitions with all the sample wasrealized. Based on performance, the individuals weresplit into two homogeneous groups, according to theLevene Test (F= 0,55 to p= 0,45). The first group (GS),aged 18,29 ± 0,53 years, body mass 62,58 ± 8,18 Kg,height 1,72 ± 0,07 m and body fat percentual (G%)6,72 ± 5,03, performed training of three sets, thatconsisted of making three sets at 75% of the numberof repetitions done in the pre-test, rounded down,presenting pre-test results of 6,00 ± 1,76 repetitions.The second group (GD), aged 18,53 ± 0,78 years,body mass 63,62 ± 9,22 Kg, height 1,72 ± 0,06 m andbody fat percentual (G%) 8,01 ± 4,33, realized

decreasing training, with three sets at 90, 75 and 60%of the number of repetitions done in the pre-test,rounded down, presenting pre-test results of 5,96 ±1,77 repetitions. In both cases body density wasevaluated by the three skinfold protocol (Jackson &Pollock, 1978), and body fat (G%) was evaluated bySiri's equation (1961). The rest time between sets wastwo minutes, and the training was realized three daysa week. After the third week of training, an intermediatetest was realized, with the same conditions as thepre-test, to carry out the overloading evaluation basedon the new performance. After the seventh week oftraining, a post-test was realized, with the sameconditions as the pre-test, with a result of 10,06 ± 2,65for GS and of 10,35 ± 2,28 for GD. The two way ANOVAstatistic test was used and presented significantdifferences between the groups (F= 37,29 to p= 0,00).The Tukey test was used to check which groupsshowed significant difference. It was seen thatbetween pre-test and post-test, intra-groups,significant differences did not occur (p= 0,956). Bothapplied neuromuscular training methods seemedeffective for the sample considered, according to thepre-test, not presenting significant differences in thepost-test. It is suggested that both methods beincluded in the Manual of Military Physical Training (C-20-20), as a complementary activity to neuromusculartraining, in order to obtain a better performance in thepull-up exercise in the PAT.

Keywords: Neuromuscular training, pull-up exercise,localized muscular endurance.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

97-14

INTRODUÇÃO

A evolução ocorrida no treinamento físico épercebida ao observarmos a participação multidisciplinarnos modernos programas de treinamento em usoatualmente, desde o esporte de alto rendimento até asatividades lúdicas, passando, inclusive, pelos métodosutilizados por grupos específicos, como é o caso dosmilitares.

No Exército Brasileiro (EB), em consonância comas Forças Armadas nos mais diversos países domundo, o treinamento físico tem por fim manter osmilitares em condições físicas que os tornem aptos parao serviço ativo. O EB submete seus quadros, três vezespor ano, a um Teste de Avaliação Física (TAF), a fim deverificar o padrão de desempenho físico individual. Aflexão de braços na barra fixa (FBBF), uma das provasdo TAF, avalia as qualidades físicas de força e deresistência muscular localizada (RML) de membrossuperiores (Brasil, 1997) e tem sido uma das causasdos resultados de insuficiência do TAF.

Os militares, com idade entre dezoito e vinte ecinco anos, devem realizar, no mínimo, seis FBBF paraque atinjam o padrão básico de desempenho (PBD),que os habilita à realização das atividades rotineiras. OPBD deve ser atingido pelos recrutas ao final da instruçãoindividuaI básica (IIB), fase inicial de instrução para osrecém incorporados no EB, tendo duração de setesemanas práticas de treinamento físico militar (TFM).Após o término da IIB, tem início a segunda fase,denominada instrução individual de qualificação (IIQ),onde os mesmos militares são submetidos a novosíndices. Sendo assim, deverão realizar, no mínimo, noveFBBF para que atinjam o padrão avançado dedesempenho (PAD) (Brasil, 1997), nas organizaçõesmilitares (OM) operacionais.

A principal finalidade dos testes de avaliaçãofísica aplicados em militares é medir a habilidadedestes em mover seus corpos eficientemente,relacionando suas capacitações físicas com a suasaptidões para as atividades militares em combate(Knapik, 1989:326-9). A inclusão do teste de flexãona barra fixa, principalmente para o sexo masculino,é uma constante em pelo menos cinco das principaisbaterias de testes de aptidão física geralconsagradas e em uso no mundo (Matsudo, 1980).

Justifica-se a aplicação desse teste específicocomo parâmetro de apreciação de força muscular e deRML de membros superiores. A qualidade física de força,atributo da forma física desenvolvida em trabalhos de

base na quase totalidade dos programas racionais detreinamento físico, é importante para realizar asatividades cotidianas com conforto e segurança (Powers& Howley, 2000). Destaca-se que a força muscular demembros superiores é essencial para as ações decombate (Knapik, 1990), pois propicia ao militarautonomia para suportar e erguer o peso do própriocorpo que, em atividades simuladas ou reais, podemser fatores essenciais em situações de grande risco(Silva, 1999). No meio militar, a força muscular demembros superiores é necessária para diversas tarefasde campanha, já que o militar, muitas vezes, é exigidoem ações em que é necessário erguer e suportar opróprio peso corporal (La Porta Junior et al., 2002).

Além do interesse do Exército no bomcondicionamento físico de sua tropa, existe o interessemilitar pela Valorização do Mérito, maneira que o EButiliza para classificar seus integrantes, dos maispontuados para os menos pontuados. Esta classificaçãoengloba vários itens de conduta e desempenho militar,sendo o TAF um destes itens de avaliação. Estaclassificação influencia nas promoções, transferênciase missões no exterior (Brasil, 2002).

O Manual de Treinamento Físico Militar (C 20-20)prevê o treinamento neuromuscular (TN) para odesenvolvimento e manutenção das qualidades físicasde força, coordenação e RML. Fazem parte destetreinamento a ginástica básica (GB), atividade calistênicaque trabalha resistência muscular do militar por meiode exercícios localizados e de efeito geral, e a pista detreinamento em circuito (PTC), atividade física comimplementos que permitem o desenvolvimento dosistema neuromuscular por meio da execução deexercícios, intercalados a períodos de repouso (Brasil,2002).

Em relação aos demais métodos de TN previstos(GB e PTC), foi verificado que ambos não influenciamsignificativamente no desempenho da FBBF comométodo de treinamento para um período de seissemanas (Petersen et al., 2003).

Estudos realizados, anteriormente, constatarama ineficácia dos diversos métodos de treinamentoestabelecidos no C 20-20 como forma de treinamentopara obtenção de resultado de "suficiência" na tarefa deFBBF constante do TAF (Lippert et al., 2003).

Outrossim, o objetivo do presente estudo foicomparar os métodos de treinamento neuromuscularde séries múltiplas e piramidal decrescente, para aproficiência da FBBF, visando a adoção de modelo detreinamento complementar ao previsto no C 20-20.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

10 7-14

METODOLOGIA

Sujeitos

Para a realização do presente estudo foiempregado o contingente de recrutas, nascidos em1985 e recém-incorporados ao EB, integrantes daCompanhia de Comando e Serviços (CCSv) doCentro de Preparação de Oficiais da Reserva do Riode Janeiro (CPOR-RJ).

Compuseram o universo de militaresvoluntários 125 soldados, sendo descartados aquelesque apresentaram performance de FBBF igual ouinferior a duas repetições, bem como superior a noverepetições. No caso específico dos militares comdesempenho abaixo do previsto no estudo, aaplicação dos métodos de treinamento resultaria emprogramas semelhantes, fugindo ao objetivo doestudo. Já para os militares com índice superior anove barras, a exclusão justifica-se pela "suficiência"do TAF já alcançada, cabendo a manutenção dopadrão de desempenho.

Participaram do estudo 58 militares, com idadede 18,4 ± 0,68 anos, estatura de 1,72 ± 0,07 m,massa corporal de 64,4 ± 8,2 Kg, percentual degordura (G%) de 8,09 ± 4,04% e índice de massacorporal (IMC) de 21,8 ± 2,3 Kg/m².

Procedimentos

Os voluntários foram submetidos à anamnese,avaliação antropométrica e teste de repetiçõesmáximas (TRM) do exercício de FBBF.

A avaliação antropométrica seguiu o protocolo detrês dobras cutâneas (Jackson & Pollock, 1978), paraestimar a densidade corporal, com utilização da Equaçãode Siri (1961) para o cálculo do G%. Foram, ainda,mensuradas a estatura, a massa corporal e o IMC.

Para a aferição das medidas antropométricasforam utilizados os seguintes instrumentos: balançaclínica médica, da marca Filizola, de fabricação nacional,modelo personal e com precisão de 100 gramas, paraa determinação da massa corporal; estadiômetro damarca Filizola, de fabricação nacional, modelo personale com precisão de 0,1 centímetros; adipômetro, marcaLange Skinfold Caliper, de fabricação norte-americana,com precisão de 0,5 mm; e fita métrica da marca Sannycom precisão de 0,1 centímetros.

Flexão na barra fixa

O teste de FBBF foi realizado de acordo como protocolo do TAF (Brasil, 1997). Ao comando de"ligar", o militar empunhou a barra com os punhosem pronação e os braços estendidos. Ao comandode "iniciar", executou o máximo de repetições,elevando seu corpo até ultrapassar a barra com oqueixo e estendendo os cotovelos ao abaixar(FIGURA 1). Não foram permitidos movimentosabdominais ("galeios") e "pedaladas" paraimpulsionar o tronco (Brasil, 2002). Toda a amostrajá era familiarizada com o exercício em questão,tendo realizado regularmente nas semanasanteriores, durante as instruções de TFM.

FIGURA 1A execução da FBBF é realizada em 3 fases (extensão-

flexão-extensão), configurando 1 repetição.

Na avaliação preliminar da amostra (pré-teste),foi efetuado um TRM (Fleck & Kraemer, 1999) comos indivíduos realizando sucessivas FBBF até o limiteda resistência (Brasil, 1997), alcançando, assim, afadiga. ( Weineck, 1991).

Apesar da padronização de execução e decontagem, visando el iminar a var iávelinterveniente da subjetividade dos avaliadores, foiverificada a confiabilidade na determinação deresul tados na FBBF. Cada um dos cincoavaliadores contabilizou, simultaneamente, onúmero de repetições realizado por vinte recrutas,um após o outro, sendo, poster iormente,comparadas as avaliações. Foi verificada aconfiabilidade entre os avaliadores, podendoquaisquer deles ser empregados.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

117-14

Programas de treinamento

Com base no desempenho apresentado no pré-teste, foi realizada a seleção da amostra, de formaintencional e estratificada (Thomas & Nelson, 2002). Osindivíduos foram divididos em dois grupos homogêneosem relação às variáveis de estudo. O primeiro grupo deséries múltiplas (GS), com idade de 18,29 ± 0,53 anos,massa corporal de 62,85 ± 8,18 Kg, estatura de 1,72 ±0,07 m, G% de 8,72 ± 3,78 % e resultado no pré-teste de6,00 ± 1,76 repetições, realizou treinamento de três sériescom um número constante de repetições, equivalente a75% do valor obtido TRM, arredondado para o valor inteiroinferior. A TABELA 1 apresenta o programa de treinamento(número de repetições por série) para o GS.

TABELA 1:Programa de treinamento inicial para o GS.

O segundo grupo, com idade de 18,53 ± 0,78anos, massa corporal de 63,62 ± 9,22 Kg, estaturade 1,72 ± 0,06 m, G% de 7,43 ± 4,27 % e resultado nopré-teste de 5,96 ± 1,77 repetições, realizou otreinamento piramidal decrescente (GD), constituídopor três séries de repetições equivalentes a 90, 75 e60%, respectivamente, dos valores alcançados noTRM, arredondados para os valores inteiros inferiores.A TABELA 2 apresenta o programa de treinamento(número de repetições por série) para o GD.

TABELA 2:Programa de treinamento inicial para o GD

Após a terceira semana de trabalho, foi realizadoum teste intermediário nas mesmas condiçõesanteriores, a fim de realizar a sobrecarga, baseada nanova performance. Os valores para proficiências iguaisou superiores a nove repetições, para ambos osgrupos, estão expostos na TABELA 3.

TABELA 3:Programa de treinamento com sobrecarga

Análise dos dados

Foram utilizadas as estatísticas descritiva einferencial. Os testes estatísticos usados foram o deKolmogorov Smirnov (K-S), para verificar a normalidadedas variáveis; Levene, para verificar a homogeneidade;ANOVA two way, para verificar as diferenças entre osgrupos; e o teste Post Hoc de Tukey.

RESULTADOS

Verificou-se a normalidade das variáveis por meiodo teste K-S, apresentando distribuição normal (GSinicial = 0,941, para p = 0,338 e GD inicial= 0,847, parap = 0,469; GS final = 0,605, para p = 0,858 e GD final =0,587, para p = 0,881). Os resultados dos testes deflexão na barra fixa, no pré-teste, no teste intermediárioe no pós-teste, são apresentados na TABELA 4.

TABELA 4:Resultados dos testes de FBBF em diferentes

fases do treinamento

Verificou-se que entre os pré e pós-testes, intra-grupos, houve diferença significativa (p = 0,00), e entreos pós-testes, inter-grupos, não houve diferençasignificativa (p = 0,956).

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

12 7-14

DISCUSSÃO

Seguindo o TN do C 20-20 (GB e PTC),Lippert et al. (2003) verificaram que durante operíodo de nove semanas, com a freqüência dequatro sessões semanais de treinamento, houveaumento significativo no desempenho da FBBF.No entanto, 33% do efetivo, que apresentavamresultados não-suficientes, permaneceram semalcançar a suficiência, ressaltando a possívelineficácia para aqueles com baixo rendimento naFBBF.

Petersen et al. (2003) verificaram que, numperíodo de seis semanas, não só a PTC, comotambém a GB, não inf luenciaramsignificativamente o desempenho na FBBF.

Foi selecionado um número de três sériesde repetições como forma de permitir o empregodos dois diferentes programas de TN utilizadosno presente estudo. Outros estudos acerca detreinamento de força objetivaram comparar oganho de força entre treinamentos com variadosnúmeros de séries de repetições, concluindo queexistem di ferenças signi f icat ivas entretreinamentos com duas e três séries, a favor desteúltimo, que apresentou ganhos aproximadamente6% superiores ao de duas séries de repetições(Carpinel l i & Otto, 1998). Três sessões detreinamento por semana resul tam em umaumento signif icativo de ações muscularesvoluntárias máximas de um músculo (Fleck &Kraemer, 1999).

Existem claras evidências que um protocolode séries múlt iplas, principalmente quandopotencializado por uma periodização acerca desobrecarga, produziu resultados superioresquando comparado ao protocolo de uma sériesingular (Willoughby, 1993; Fleck & Kraemer,1999). Segundo Kraemer (1995), somente oprotocolo de sér ies múlt ip las permit iu umsignificativo ganho de força ao longo do tempo,conforme apresentado no encontro anual doAmerican College of Sports Medicine (ACSM) de1990 (Borst, 1998).

No estudo de Lincoln (2004) observou-se o"fenômeno de teto", ou seja, quanto maior ocondicionamento, menor é o ganho percentual. Oefeito do trabalho de repetições máximas realizado

três vezes (24,3%), quando comparado aotrabalho de repetições máximas realizado uma vez(21%), não nos permite concluir que este últimotenha um efeito similar ao de repetições por trêsvezes, visto que o grupos têm amostras diferentesquanto ao número de repetições iniciais.

Há que se considerar, além de todos osaspectos citados anteriormente, a influêncianegat iva de trabalhos concorrentes dedesenvolvimento de força e de potência aeróbicasobre o ganho de força, quando comparado aoganho de força proporcionado por treinamento deforça realizado isoladamente (Docherty & Sporer,2001). Embora o mecanismo dessa interferêncianão seja ainda totalmente conhecido, dados derecentes estudos sobre treinamento concorrentesrealizados com soldados sugerem que mudançasnos tamanhos das fibras musculares podemdiminuir o ganho de força muscular ocasionadopelo TN, quando comparado ao ganho que poderiaadvir do TN quando realizado isoladamente(Tanaka & Swensen, 1998). Como os modelos detreinamento sugeridos pelo C 20-20 prevêem arealização de treinamentos concorrentes de forçae potência aeróbica, é prática comum os recrutasrealizarem TN e treinamentos cardiovasculares emdias subseqüentes, ou mesmo em uma mesmasessão de treinamento (Brasil, 2002), o quepoderia ser um fator interveniente a ser isoladoem estudos futuros através do emprego de gruposde controle, por exemplo.

CONCLUSÃO

O estudo apresentou, como ponto forte, oresultado final do trabalho, ou seja, uma melhorade 66% na performance da FBBF com apenassete semanas de treinamento, tanto para o grupoque realizou o trabalho com o método de sériesmúltiplas, quanto para o grupo que realizou otreinamento com o método piramidal decrescente.

Sugerem-se estudos futuros com opropósito de apresentar métodos de treinamentopara indivíduos com performances inferiores a trêsFBBF, uma vez que, segundo relatos das OM, háum grande número de militares nesta situação.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

137-14

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINEPOSITION STAND. The recommended quantityand qual i ty of exercise for developing andmaintaining cardiorespiratory and muscularfitness, and flexibility in healthy adults. Med SciSports Exerc 1998; 30( 6): 916-20.

BERGER RA. Effect of varied weight trainingprograms on strength. Res Q 1962; 33(2): 168-81.

______. Comparative effects of three weighttraining programs. Res Q 1963; 34(3):396-8.

BORST S, DeHOYOS D, LOWENTHAL D. Six monthhigh- or low- volume resistance training increasescirculating insulin like growth factor (ABSTRACT). MedSci Sports Exerc1998; 30(5): 274.

BRASIL. Portaria Ministerial Nr. 739 – Diretriz parao treinamento físico militar e a sua avaliação.Brasília: EGGCF, 1997.

BRASIL. Estado Maior do Exército. C 20-20 –Manual de treinamento físico militar. Brasília:EGGCF, 2002.

BRASIL. Estado Maior do Exército. PortariaMinisterial Nr. 765 de 26 de dezembro de 2002.Brasília, 2002.

CARPINELLI RN, OTTO RM. Strength training.Single versus multiple sets. Sports Med 1998;26(2): 74-84.

DOCHERTY D, SPORER B. A proposed modelfor examining the interference phenomen betweenconcurrent aerobic and strength training. SportsMed 2001; 30(6): 386-94.

FERNANDES FILHO J. A prática da avaliaçãofísica. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

FLECK SJ, KRAEMER WJ. Fundamentos dotreinamento de força muscular. Porto Alegre:Artmed, 1999.

JACKSON AL, POLLOCK ML. General izedEquations for Predicting Body Density of Men.British Journal Nutrition 1978; 40: 497-504.

KNAPIK J. The army physical test (APFT): Areview of the literature. Military Medicine 1989;154(6): 326-9.

KRAEMER WJ, NEWTON RV, BUSH J. Variedmultiple resistance training produce greater gainsthan single set program. Med Sci SportsExerc1995;7(5):195-99.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Da análise dos resultados, concluiu-se que osmétodos de TN aplicados mostraram-se eficazes, emrelação ao pré-teste, para a amostra considerada, nãoapresentando diferença significativa entre os mesmosno pós-teste. Sugere-se a inclusão de tais programasde treinamento no método de TN constante do C 20-20, como atividade complementar ao TFM, visando amelhor performance na FBBF do TAF.

Endereço para correspondência:Rafael Soares Pinheiro-DaCunha

Av. João Luiz Alves s/nº (Forte São João)Urca - Rio de Janeiro (RJ) - BRASIL

CEP 22291-090Tel: (21) 2543-3323

e-mail: [email protected]

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

14

LA PORTA JÚNIOR MAM, FERNANDES FILHOJ, NOVAES JS. Eficácia do teste de flexão eextensão de braços, corrigido pelo índice demassa corporal, na determinação da resistênciamuscular localizada absoluta em mulheres doExército Brasi leiro. Fitness & PerformanceJournal 2002; 1( 2):29-39.

LINCOLN AT. Treinamento de exaustão de flexãona barra fixa. in press.

LIPPERT MAM, ARAÚJO JR FTC, MENDONÇA CP,SOSTER H, CARNEIRO EC, SILVA ELP, COSTA FA,NASCIMENTO SS, PINHEIRO-DaCUNHA RS, LAPORTA JÚNIOR MAM, SILVA EB. Treinamentoneuromuscular e testes de flexão de braços e puxadana barra fixa de militares recém incorporados aoExército Brasileiro. Revista de Educação Física 2003;127:104.

MATSUDO VKR. Bateria de testes de aptidão físicageral. Revista Brasileira de Ciências do Esporte1980; 2(1): 36-40.

MATVEEV L. Fundamentos do treino desportivo.Lisboa: Livros Horizonte, 1986.

PETERSEN A, CAMPOS JP, SILVA PC, ZANETTIDWS, ROLA DC, VIEIRA JL, MORAES CV,VILELA FM, LA PORTA JÚNIOR MAM, SILVA EB.Eficácia da pista de treinamento em circuito e aginástica básica como treinamento de forçamuscular para realização da puxada na barrafixa. Revista de Educação Física 2003; 127: 98.

POWERS SK, HOWLEY ET. Fisiologia doexercício: teoria e aplicação ao condicionamento eao desempenho. São Paulo: Manole, 2000.

S ILVA EB. E fe i tos da f reqüênc ia de

treinamento, r i tmo e pegada na puxada na

barra sobre a força muscular e creatina quinase

em conscritos do Exército Brasileiro. Rio de

Janeiro. Dissertação de mestrado, Universidade

Gama Filho, 1999.

SILVA EB, GOMES PSC. Confiabilidade do teste de

campo “puxada na barra” em militares com 18 anos

de idade”. Artus – Revista de Educação Física e

Desportos (UGF)1999; 19( 1)

SIRI WE. Body composition from fluid spaces and

densi t iv. Techiniques for measuring body

composition. Washington (DC): National Academy

of Science 1961; 233-244.

TANAKA H, SWENSEN T. Impact of resistence training

on endurance performance. A new form of cross-

training? Sports Med 1998; 25( 3):191-200.

THOMAS JR, NELSON JK. Métodos de pesquisa

em atividade física. Porto Alegre: Artmed, 2002.

WEINECK J. Biologia do esporte. São Paulo:

Manole,1991.

WILLOUGHBY DS. The effects of mesocycle,

lenght weight t ra in ing programs involv ing

periodization and partially equated volumes on

upper and lower body strenght. Journal of

Strenght and Condit ioning Research 1993;

6,(4):75-86.

7-14

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

1515-21

COMPARAÇÃO DA FLEXIBILIDADE DE TRONCO ENTRECADETES DO 1º ANO E DO 4º ANO DA ACADEMIA MILITAR

DAS AGULHAS NEGRAS

Bruno Tadeu Bezerra PaivaJéferson Nascimento Aquilar Pey

Daniel PeriusLeonardo de Oliveira Carvalho

Raney Martins de AlmeidaPaulo José de Oliveira Mello

Rodrigo Simões SeitoAndré Justino de Carvalho

Charleston de Oliveira FernandesMarcelo Eduardo A. Martins

Rafael Soares Pinheiro-DaCunhaMarco Antônio de Mattos La Porta Júnior

Escola de Educação Física do Exército (EsEFx) - Rio de Janeiro - Brasil

Resumo

A Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),Resende-RJ, é uma instituição militar de ensinosuperior em ciências militares que tem por objetivoformar, em quatro anos de curso, os oficiais de carreirado Exército Brasileiro. As atividades físicas realizadaspelos cadetes exigem uma boa preparação damusculatura lombar e posterior da coxa e, diante disto,é necessário que os cadetes desenvolvam níveissatisfatórios de flexibilidade de tronco. Esta qualidade,flexibilidade, é uma aptidão física estabelecida peloAmerican College of Sports Medicine (ACSM, 1998) eestá intimamente relacionada à saúde e ao bem estarcorporal. Além disto, o US Departament of Health andHuman Services (2000) considera que um melhorestado de flexibilidade está associado a um menor riscopara o surgimento de doenças, lesões articulares e/ou de incapacidade funcional. O objetivo deste estudofoi comparar os índices de flexibilidade linear de troncoentre os cadetes do 1º e do 4º ano da AMAN.Participaram da pesquisa 194 cadetes, do sexo

masculino, sendo 102 do 1º ano, com idade de 19,18± 1,18 anos, com estatura de 1,76 ± 0,06 m e massacorporal de 69,3 ± 6,89 kg, e 92 cadetes do 4º ano,com idade de 21,95 ± 1,11 anos, estatura de 1,76m ±0,06 m e massa corporal de 72,28 ± 8,46 kg. Os sujeitosforam selecionados de forma aleatória e submetidosao teste de "sentar e alcançar", conforme protocolo doCanadian Standardized Test of Fitness (1987), sendoregistrado o melhor resultado das três tentativasconsecutivas. Foi utilizado o teste t de Student paraamostras independentes, o qual apresentou t = 0,839,para p = 0,404. O resultado do teste de "sentar ealcançar" apresentou, para o 1º ano, uma média nosíndices de flexibilidade de tronco de 40,95 ± 6,34 e,para o 4º ano, uma média de 40,51 ± 6,84. Da análisedos resultados, conclui-se que não houve diferençasignificativa entre os índices de flexibilidade de troncoentre os cadetes do 1º e do 4º ano da AMAN. Sugere-se que sejam realizados novos estudos queclassifiquem os cadetes quanto aos níveis deflexibilidade.

Palavras Chave: Flexibilidade; "sentar e alcançar";Exército; alongamento; cadetes.__________

Recebido em 16/12/2004. Aceito em 10/02/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

16 15-21

INTRODUÇÃO

A Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),Resende - RJ, é uma instituição militar de ensinosuperior em ciências militares que tem por objetivoformar, em quatro anos de curso, os oficiais decarreira do Exército Brasileiro. No aspecto psicomotor,os cadetes da AMAN são condicionados a adquiriruma forma física que os habilite a executar açõesoperacionais de combate inerentes à rotina militar.

A qualidade física "flexibilidade" possui relevanteimportância para obtenção de um bomcondicionamento físico e, juntamente com aresistência cardiorrespiratória, a composiçãocorporal, a resistência e força musculares, é umaaptidão física estabelecida pelo American College ofSports Medicine (ACSM, 1998), estando todasintimamente relacionadas à saúde e ao bem estarcorporal. E, ainda, o melhor estado em cada umdestes componentes e, em especial, da flexibilidade,está associado a um menor risco para o surgimentode doenças, lesões articulares e/ou incapacidade

funcional, posicionamento ratificado pelo USDepartment of Health and Human Services (2000).

Dantas (1995) define flexibilidade como"qualidade física responsável pela execução voluntáriade um movimento de amplitude angular máxima, poruma articulação ou conjunto de articulações dentrodos limites morfológicos, sem o risco de provocarlesão". O desenvolvimento da flexibilidade vem sendoprescrito, com êxito, para alívio de tensõesneuromusculares generalizadas e lombalgias (Foss& Keteyian, 2000).

Ter bons níveis de flexibilidade nas principaisarticulações, em conjunto com trabalho muscularlocalizado, pode proporcionar maior resistência alesões (Dantas, 1999:78); menor propensão quantoà incidência de dores musculares, principalmente nasregiões dorsal e lombar (ACSM, 1987); e prevençãocontra problemas posturais (Achour Junior, 1994).Estes benefícios ainda são controversos no ínterimda literatura científica. Assim como outros autores jácitados, Dantas (1999), pela sua experiência pessoal,apóia a prevenção de lesões pela flexibilidade.

COMPARISON OF TRUNK FLEXIBILITYBETWEEN 1st & 4th YEAR CADETS AT THEMILITARY ACADEMY OF AGULHAS NEGRAS

Abstract

The Military Academy of Agulhas Negras, AMAN, inResende - RJ, is a military institution and a college inmilitary science that aims to graduate career officersin the Brazilian Army after four years of college. Thephysical activities undertaken by the cadets demandan excellent preparation of lumbar muscles andposterior thigh muscle, and, in fact, it is necessarythat the cadets develop satisfactory levels of trunkflexibility. This physical quality - flexibility, is a physicalskill ordered by the American College of SportsMedicine (ACMS, 1998), and is intimately related tocorporal health and well being. In addition, the USDepartment of Health and Human Services (2000)considers that a better state of flexibility is associatedwith a smaller risk of disease appearing, of articulationinjury and or functional incapacity in general. The aimof this study was to compare the linear flexibility

indexes among first and four year cadets of AMAN.Participating in this research were 194 male cadets: 102of the first year, with 19,18 ± 1,18 years of age, with 1,76± 0,06 m high and 69,3 ± 6,89 Kg weight, and 92 of thefourth year, with 21,95 ± 1,11 years of age, with 1,76 ±0,06 m high and 72,28 ± 8,46 Kg weight. The sample,selected in a random way, and was submitted to a "sitand reach" test in accordance with ACSM protocol, thebetter result being registered of three consecutiveattempts. The t test of students was used for independentsamples, which showed t = 0,839 for p = 0,404. Theresults of the "sit and reach" test showed a trunk flexibilityof 40,95 ± 6,34 for first year cadets, and 40,51 ± 6,84 forfourth year cadets of AMAN. The analysis resultsconcluded that there was no significant differencebetween the trunk flexibility of first and fourth year cadetsof AMAN. Further tests, that classify the cadets in trunkflexibility levels, are suggested.

Key words: Flexibility; "Sit-and-Reach"; Army;lengthening; cadets.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

1715-21

Possuir bons níveis de flexibilidade pode ajudaros militares a executarem tarefas inerentes à vidacastrense, tais como o levantamento, ocarregamento, a escalada, o pára-quedismo, acorrida e o rappel, com grande eficiência, diminuindoos riscos de lesões (Estados Unidos, 1992), além dedar condições de realizá-los de forma harmônica ecom menor consumo energético (Dantas, 1999).

Para a mensuração do nível de flexibilidadelinear de tronco dos cadetes da AMAN foi utilizado oteste de "sentar e alcançar", com o banco de Wells,pois este é um dos testes lineares que mensuram,satisfatoriamente, a flexibilidade do quadril, dorso emúsculos posteriores dos membros inferiores(Fernandes Filho, 2003). Weineck (2000) e AchourJúnior (1996) também aprovam o referido teste, porser uma maneira prática e rápida de averiguar aqualidade física flexibilidade. Este teste possui um "r"de 0,94 para fidedignidade e um "r" de 0,99 paraobjetividade (Fernandes Filho, 2003). Mota & Cattelan(2002) posicionam que, de maneira geral, o teste como banco de Wells visa conhecer a flexibilidade dacoluna vertebral e dos músculos isquiotibiais.

Outrossim, ter um nível de flexibilidade acimado desejado não diminui o risco de distensãomuscular, propicionando um aumento napossibilidade de luxações (Dantas, 1995; Krivickas &Feinberg, 1996; Twellaar, Verstappen, Huson &Vanmechelen, 1997). Existe um nível ótimo deflexibilidade para determinado esforço e para cadapessoa. Com isso, para se alcançar níveis ideais deflexibilidade, deve-se respeitar a individualidadebiológica e o grau de esforço para cada atividade -especificidade.

A prática do treinamento físico militar (TFM) éregulamentada para todos os militares do ExércitoBrasileiro pelo manual de campanha C20 - 20 - TFM.Dentre os objetivos que norteiam este manual, cita-se o desenvolvimento, a manutenção e a recuperaçãoda aptidão física necessária para o desempenho defunções, e contribuição para manutenção da saúdedo militar (Brasil, 2002). Os exercícios dealongamento prescritos por este regulamento visamdesenvolver a flexibilidade. Achour Júnior (1995)acredita que a manutenção e o desenvolvimento dosníveis de flexibilidade possam ser obtidos através deexercícios de alongamento, e Dantas (1995) afirmaque a realização de alongamentos visa apenas a

manutenção dos níveis de flexibilidade obtidos, e, não,o seu desenvolvimento integral.

Diante desta realidade, é de relevanteimportância que, durante os quatros anos de cursona AMAN, os cadetes desenvolvam níveis deflexibilidade satisfatórios que os auxiliem na execuçãodos movimentos mais exigidos na atividade militar.Dentre as articulações e musculaturas que sofremuma exigência considerável nas ações militares,destacam-se a região lombar da coluna vertebral e amusculatura posterior dos membros inferiores(Estados Unidos, 1992).

A flexibilidade pode ser mensurada de formadinâmica ou estática. A flexibilidade estática mede aamplitude dos movimentos limitados pelaextensibilidade das unidades músculo-tendinosas quecercam as junções articulares (Knudson, Magnusson& McHugh, 2000). É bem verdade que as medidasde avaliação da flexibilidade estática são menosobjetivas que as medidas de avaliação da flexibilidadedinâmica. Contudo, há uma grande complexidade emmensurar esta última (Dantas, 1999).

Este estudo, portanto, teve como objetivocomparar os níveis de flexibilidade linear de troncoentre os cadetes do 1º e do 4º ano da AMAN.

METODOLOGIA

Seleção dos sujeitos

Amostra

As amostras de cadetes do 1o e 4o anosrepresentam, respectivamente, 21,79% e 25,41% decada universo em questão.

A seleção da amostra do 1º e 4º anos foi obtidaa partir da escolha aleatória dos nomes dos cadetes,contidas nas respectivas relações de turmas de aulas.Os cadetes do 1o ano da AMAN apresentaram idadede 19,18 ± 1,18 anos, representando um n de 102cadetes, e os do 4o ano, 21,95 ± 1,11 anos, 92 cadetes,todos do sexo masculino.

Critérios de inclusão

Ser cadete do 1º ano ou do 4º ano da AMAN,realizar todas as atividades comuns aos cadetes e nãoestar dispensado de realizar o treinamento físico militar.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

18 15-21

Critérios de exclusão

Os sujeitos excluídos desta amostra nãopoderiam realizar exercício de flexibilidadecomplementar além do que prescreve o C 20-20, nãopoderiam possuir lesões na região lombossacra e noquadril, nem possuir lombalgias e alteraçõesmusculares, tais como estiramento e contraturas damusculatura de membros inferiores. Estes critérioseram detectados através de pergunta direta aoparticipante.

Procedimento experimental

Primeiramente, foi remetido um ofício aocomando da AMAN, com a finalidade de apresentar aproposta da referida pesquisa, ressaltar a relevânciapara a evolução do TFM e solicitar a amostra decadetes.

Todos os sujeitos foram esclarecidos sobre opropósito e a natureza da pesquisa, e todosassinaram o Termo de Participação Consentida,conforme as Normas para a Realização de Pesquisasem Seres Humanos, do Conselho Nacional de Saúde.

Protocolo

A coleta de dados foi realizada em quatro diasconsecutivos. O horário para coleta foi compreendidoentre 16 e 17h, para o controle dos agentes exógenos,que são fatores externos que influenciam nos índicesde flexibilidade de um indivíduo, variando durante asdiferentes horas do dia (Dantas, 1999).

Como protocolo, foram utilizadas as diretrizesdo Canadian Standardized of Fitness Test - CSFT(1987). Inicialmente, a amostra realizou um curtoalongamento dos músculos anterior e posterior decoxa, lombar e gastrocnêmios (exercícios dealongamento previstos no C20-20), sendo seguido deforma padronizada. O participante realizou o testedescalço.

O teste foi realizado com uma caixa de "sentare alcançar" (banco de Wells). O participante devesentar-se com as pernas estendidas e com as regiõesplantares contra a caixa.

A amostra foi orientada a projetar-sevagarosamente com ambas as mãos postadas umaem cima da outra, até onde fosse possível, mantendo

esta posição momentaneamente. Mantiveram as suasmãos paralelas, sendo certificado que os cadetesavançaram com as duas mãos. As pontas dos dedosdevem ficar sobrepostas e devem empurrar a porçãomedidora da caixa de "sentar e alcançar".

O melhor dos três escores (ponto mais distantealcançado pela ponta dos dedos, dado em centímetros)deve ser registrado para cada sujeito. Foi permitidoaos participantes expirar e colocar a cabeça entre osbraços ou projetar-se para frente na tentativa dealcançar o ponto mais distante. Os examinadorescertificaram-se de que os joelhos dos participantesficaram estendidos, não sendo empurrados para baixo.Não foi permitido durante o teste prender a respiraçãoou dar empurrões na porção medidora da caixa, comintuito de obter maior escore.

Os índices que normatizam o teste com a caixa de"sentar e alcançar" podem ser verificados na TABELA 1.

TABELA 1Classificação dos índices de flexibilidade de tronco,

para homens, utilizando o teste de "sentar ealcançar" com o banco de Wells (cm)

Fonte: CSTF, 1987

Instrumentação

Para todas as mensurações de índices deflexibilidade foi utilizada a caixa de "sentar e alcançar"- banco de Wells.

A caixa de "sentar e alcançar" possuidimensões de 30,5 x 30,5 x 50,6 (cm), com umarégua em milímetros e uma marcação comdeslizamento específico.

Análise dos dados

Foram utilizadas as estatísticas descritiva einferencial. Os testes estatísticos usados foram oKolmogorov-Smirnov (K-S), para verificar a

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

1915-21

normalidade das variáveis, e teste "t" para amostrasindependentes, para verificar se houve diferençasignificativa entre os grupos.

RESULTADOS

Foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov(K-S), o qual constatou que as variáveisapresentavam distribuição normal no 1º ano (K-Scom Z = 0,959 para p = 0,317) e no 4º ano (K-S comZ = 0,788 para p = 0,564). Foi utilizado o teste t deStudent para amostras independentes, o qualapresentou t = 0,839, para p = 0,404. Os resultadosdos testes de "sentar e alcançar" estão descritosna TABELA 1, abaixo:

TABELA 1Resultados da média e desvio padrão dos níveis de

flexibilidade entre os anos

As amostras apresentam médias e desviospadrão muito próximos (40,95 ± 6,34cm para o 1º anoe 40,51± 6,84cm para o 4º ano), caracterizando asemelhança dos níveis de flexibilidade entre oscadetes do 1º e 4º Anos da AMAN.

Os intervalos entre os índices de flexibilidademínimo e máximo para as amostras do 1º e 4º anospodem ser verificados abaixo, na TABELA 2:

TABELA 2Resultados dos valores mínimos e máximos de

flexibilidade de tronco entre os anos

Os dados da tabela acima mostram asvariações dos índices de flexibilidade dos cadetes do1º ano, que foram de 26 cm a 56 cm e, do 4º ano, queapresentaram índices de 24 cm a 57cm.

O intervalo de confiança com mais de 95% decerteza é observado na FIGURA 1:

FIGURA 1Média e intervalo de confiança da flexibilidade de

tronco dos cadetes da AMAN

DISCUSSÃO

Dentre a amostra de cadetes do 1º e 4º anosda AMAN que foi avaliada, constatou-se que trêscadetes (1,55%) foram excluídos e não avaliados emníveis de flexibilidade, pois dois destes possuíamlesões na região lombar e um já realizava exercíciosde flexibilidade além dos alongamentos previstos pelomanual de TFM, o C20-20.

A carência de estudos que abordem aflexibilidade entre militares brasileiros é considerávele nos restringe pesquisar sobre esta importanteaptidão física, intimamente relacionada aocondicionamento físico ideal.

Em semelhante estudo (Borlina et al, 2003), foiverificado o nível de flexibilidade de tronco nos alunosda Escola de Comando e Estado Maior do Exército(ECEME), em amostra composta de oficiaissuperiores, do sexo masculino, com idades entre 35e 40 anos. Utilizaram protocolos semelhantes, pelosquais foi verificado que 44,7% dos militares,selecionados aleatoriamente, possuíam níveis deflexibilidade menores que a média preconizada peloteste realizado. Diante disto, suspeitou-se quepudesse ocorrer uma perda dos níveis de flexibilidadejá na AMAN, local de formação de oficiais de carreirado Exército Brasileiro.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

20 15-21

Percebe-se que os cadetes estão mantendo osíndices de flexibilidade durante os quatro anos daAMAN, através de atividades físicas contidas noprograma de treinamento físico militar desta escola deformação. Esta manutenção de índices de flexibilidadesatisfatórios nos faz concluir que a deficiência destaaptidão física durante a ECEME é fruto do programade treinamento realizado após a AMAN.

Contudo, não se pode considerar que estesresultados encontrados sejam enquadrados comoníveis ideais para os cadetes da AMAN, já que osreferidos militares realizam atividades evidenciadaspelo esforço físico, característico da atividade militar.Cabe ressaltar, ainda, que não há estudo estipulandoníveis adequados de flexibilidade para militares do EB.

Deve-se apresentar, como limitações de estudo,a utilização de um parâmetro de índices ideais deflexibilidade para pessoas sedentárias ou que praticamatividades físicas normais. As atividades de marcha,pára-quedismo, escalada, rappel, dentre outras, todasvoltadas para as ações militares, exigem parâmetrosde níveis de flexibilidade diferentes.

CONCLUSÃO

O propósito deste trabalho caracterizou-sepor verificar que, de maneira geral, os cadetesque cursam o 1º ano possuem níve is deflexibilidade semelhantes aos cadetes do 4º ano.Diante d is to , parece não haver perda daqual idade f ís ica f lexibi l idade, e, s im, umamanutenção dos índices durante os quatro anosde curso, já que não há diferença significativaentre os níveis.

Endereço para correspondência:Rafael Soares Pinheiro-DaCunha

Escola de Educação Física do ExércitoAv. João Luiz Alves s/nº (Forte São João)

Urca - Rio de Janeiro (RJ) - BRASILCEP 22291-090

Tel: (21) 2543-3323e-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACHOUR JÚNIOR A. Flexibilidade. Revista daAssociação dos Professores de Educação Física deLondrina 1994;.9(6):43-52.

______. Alongamento e aquecimento: aplicabilidadeda performance atlética. Revista da Associação dosProfessores de Educação Física de Londrina 1995;10(18):50-65.

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. TheRecommended quantity and quality of exercise fordeveloping and maintaining cardiorespiratory andmuscular fitness, and flexibility in healthy adults.Medicine & Science in Sports & Exercise1998;30(6):975-91.

______. Guia para teste de esforço e prescriçãode exercício. 3ª ed. Rio de Janeiro: Medsi,1987.

BORLINA MF, ZAPANI AKM, AMÁDIO AA, OLIVEIRAPFM, OLIVEIRA FQQ, ARAÚJO LCF, LA PORTAJÚNIOR MAM, SILVA EB. Flexibilidade de tronco emoficiais alunos da Escola de Comando e Estado Maiordo Exército. Revista de Educação Física2003;127:89-106.

BRASIL, Estado-Maior do Exército. C 20-20 -Treinamento Físico Militar. 3 ª ed. Brasília:EGGCF,2002.

CANADIAN MINISTRY OF STATE, FITNESS ANDAMATEUR SPORT. Canadian Standardized Test ofFitness. Autority of the Minister of State, Fitness andAmateur Sport. Operation's Manual. 3ª ed. 1987.

DANTAS EHM. Flexibilidade: Alongamento &Flexionamento. 3ª ed. Rio de Janeiro: Shape,1995.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

21

______. Flexibilidade: Alongamento & Flexionamento.4ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 1999.

______. A flexibilidade no treinamento do atleta dealto rendimento. Rio de Janeiro, 1999. CD multimídiade planejamento do treinamento, 2000.

ESTADOS UNIDOS. Headquarters, Departament ofthe US Army. Physical fitness training - FM21-20.Chapter 4, 1992.

FERNANDES FILHO J. A Prática da avaliação física.2ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

FOSS ML, KETEYIAN SJ. Fox. - Bases fisiológicasdo Exercício e do Esporte. Trad. Giuseppe Taranto.6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

KNUDSON DV, MAGNUSSON P, McHUGH M.Edições atuais na aptidão da flexibilidade. ThePresident's Council on Physical Fitness and SportResearch Digest 2000; 10.

KRIVICKAS LS, FEINBERG JH. Lower-extremityinjuries in college athletes - relation betweenligamentous laxity and lower-extremity muscletightness. Archives of Physical Medicine andRehabilitation 1996;77 (11):1139-43.

TWELLAAR M, VERSTAPPEN FTJ, HUSON, A,VANMECHELEN W. Physical characteristics as risk-factors for sport injuries - a 4-year prospective-study.International Journal of Sport Medicine 1997;18(1)66-71.

US DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMANSERVICES. Physical activity and health: a report ofthe surgeon general. Atlanta (GA): US DEPARTMENTOF HEALTH AND HUMAN SERVICES, Centers ofDisease Control and Prevention, National Center forChronic Disease Prevention and Health Promotion,2000.

WEINECK EJ. Futebol total: o treinamento físico nofutebol. São Paulo: Phorte, 2000.

PROPAGANDA

15-21

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

22 22-28

INFLUÊNCIA DO VO2 MÁX NO ESTRESSE OXIDATIVO EMSUJEITOS SUBMETIDOS A TRABALHO AERÓBICO.

Adriano Teixeira PereiraAndré Gustavo Albuquerque Cunha

Carlos Jean Jacques GuedesFabiano Sousa da Rosa

Leonardo Schiller CechinMarcones dos Santos Silveira

Michel Firmino AzevedoPaulo Cavalcanti de Araújo Júnior

Rossano Pacheco Assumpção MachadoKelmerson Henri Buck

Elenilda J. PereiraElis C. A. Eleuthério

Marcelo Eduardo de Almeida MartinsRafael Soares Pinheiro-DaCunha

Marcos Antônio de Mattos La Porta Júnior.

Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) - Rio de Janeiro - Brasil

Resumo

O corpo humano, quando submetido a umaatividade física, aumenta a velocidade da respiraçãomitocondrial nos músculos ativos, o que leva a umextravasamento de elétrons das mitocôndrias e àformação de espécies ativas de oxigênios (EAO)/radicais livres de oxigênio (RLO), provocando odesenvolvimento de doenças, fadiga e lesões dostecidos, que podem ser medidos indiretamente pelaperoxidação lipídica (PL). O objetivo do estudo foicomparar o estresse oxidativo, através da PL, entreindivíduos com níveis de VO2máx abaixo da média eexcelente, quando submetidos a uma corridacontínua de 40 minutos a 67,5% do VO2máx.Participaram da amostra 18 indivíduos divididos em02 (dois) grupos: G1 (considerados abaixo damédia) composto por 10 indivíduos; e o G2(considerados excelente) composto por 8(oito)indivíduos. Utilizou-se o teste de 12 minutos deCooper para pré-selecionar a amostra e o teste de

Léger-Boucher para mensurar e separar a amostraquanto ao VO2máx. No dia seguinte, os indivíduosrealizaram a corrida contínua de 40 minutos a 67,5%do VO2máx. Foram analisadas amostras do plasmano pré e pós-exercício. Apesar dos resultadosmostrarem que, estatisticamente, não houve umadiferença significativa intergrupos e intragrupos(F = 1,2417 para p = 0,28161), há indícios deexistir diferença entre os grupos. Foi constatado quea PL apresentou distribuição normal. Foi verificadahomogeneidade das amostras, que apresentaram(p = 0,10) para peroxidação lipídica. Foi utilizado oteste ANOVA two way, não apresentando diferençasignificativa entre o pré e pós-exercício, intragrupose intergrupos (F = 1,2417 para p = 0,28161) para avariável peroxidação lipídica. Da análise dosresultados, concluiu-se que não houve diferençasignificativa intergrupos e intragrupos para PL, ouseja, após o exercício, o G1 e o G2 apresentaramos mesmos níveis de estresse oxidativo.

Palavras Chave: Peroxidação lipídica; Estresseoxidativo; Radicais Livres; Corrida contínua.

__________Recebido em 25/11/2004. Aceito em 17/01/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

2322-28

INTRODUÇÃO

O consumo de oxigênio no corpo humano éaumentado muitas vezes quando o indivíduoencontra-se em intensa atividade física (Rokitzkiet al., 1994; Sies et al., 1992). A utilização deoxigênio pelos músculos esqueléticos, duranteesforços físicos intensos, pode aumentar emcerca de 100 a 200 vezes, quando comparadoscom o consumo na situação de repouso (Davieset al ., 1982; Sjodin et al ., 1990). Existemafirmações de que, com o aumento no consumode oxigênio, no exercício físico, por exemplo, tem-se um aumento no fluxo de elétrons devido aocrescimento da velocidade da respiraçãomitocondrial no músculo ativo, podendo levar a umaumento do extravasamento de elétrons e,conseqüentemente, a uma maior formação deespécies reativas de oxigênios.

Das espécies comumente citadas comoradicais livres temos: peróxido de hidrogênio, ânionsuperóxido, oxigênio singlet e hidroxila. Apenas o

THE INFLUENCE OF OXIDATIVE STRESS INSUBJECTS SUBMITTED TO AEROBIC EXERCISE

Abstract

The human body, when submitted to physicalactivity, increases the speed of the mitochondrialbreathing in the active muscles, which leads to anelectron extravasation of the mitochondrias and to theformation of active species of oxygen (EAO)/radicalsfree of oxygen (RLO). provoking the development ofillnesses, fatigue and injuries of the tissues, that canbe measured indirectly by lipid peroxidation (LP). Theobjective of the study was to compare oxidativestress, through LP, between individuals with levels ofVO2 Max considered below average and excellent,when submitted to a continuous race of 40 minutes67.5% of the VO2 Max. 18 individuals divided into 02(two) groups participated in the sample: G1(considered below average) composed for 10 (ten)individuals; and G2 (considered excellent) composedfor 08 (eight) individuals. The Léger-Boucher test wasused to measure and separate the sample in terms

of VO2 Max. On the following day, the individuals ran acontinuous race of 40 minutes 67.5% of the VO2 Maxand samples of plasma were analyzed before andafter exercise. Despite the results showing thatstatistically there was not a significant difference inter-groups and intra-groups (F = 1,2417 for p = 0.28161),there were indications that differences existedbetween the groups. It was evident that LP presentednormal distribution. The homogenity of the sampleswas verified, which presented (p = 0,10) for lipidperoxidation. The ANOVA two way test was usedwhich did not present significant difference betweenbefore exercise and after exercise, intra-groups andinter-groups (F = 1,2417 for p = 0.28161) for lipidperoxidation. From the analysis of the inter-group andintra-group results it was concluded that there wasnot significant difference for LP, or that after exerciseG1 and G2 presented the same levels of oxidativestress.

Key words: Lipid Peroxidation; Oxidative Stress; FreeRadicals; Continuous race.

ânion superóxido e a hidroxila possuem uma realestrutura de radical l ivre, com um elétrondesemparelhado na camada de valência. As demaissão consideradas espécies intermediárias, que, pormecanismos de reações diferentes, originam osradicais. (Signorini, Signorini, 1995).

O alto rendimento energético da respiração sóé possível pela alta capacidade oxidativa do oxigênio.No entanto, estratégias especiais de proteção foramoferecidas aos seres aerobiantes que conseguemtolerá-lo. Esse controle sobre a reatividade do O2 éexercido, mais eficazmente, por uma enzima dacadeia respiratória mitocondrial, a citocromo-oxidase. Porém, o processo de oxidação namitocôndria é muito dinâmico e a citocromo-oxidasenão consegue conduzir o mecanismo redutivo atodas as moléculas que adentram o espaço internoda célula. Cerca de 5% de todo o O2 que nelapermeia são, assim, desviados de sua rotaenzimática principal e acabam sendo reduzidosmonoeletronicamente, originando os Radicais Livresde Oxigênio (RLO). (Signorini, Signorini, 1995).

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

24 22-28

Têm-se, então, os fatores ditos exógenos e osendógenos envolvidos no combate aos RLO, ou seja,que neutralizam a ação dos RLO (antioxidantes).Dentre os fatores endógenos, encontram-se trêsenzimas: superóxido dismutase (SOD, inativadora doânion superóxido), a glutationa peroxidase (GPO,inativadora dos peróxidos lipídicos e peróxido dehidrogênio) e a catalase (CAT, inativadora do peróxidode hidrogênio). No rol dos fatores exógenos,encontram-se substâncias como as vitaminas A, E,C, B2, B3, B8, beta caroteno e outras moléculasaparentadas dos carotenóides (Signorini, Signorini,1995). Quando a formação de RLO/ EAO supera acapacidade antioxidante do corpo, gera-se o estresseoxidativo - EO (Fiamoncini, 2002).

Durante o estresse oxidativo descontrolado,ocorre a deteriorização dos ácidos graxos existentesna membrana plasmática, que acaba sendo lesadaem virtude de uma série de eventos em cadeia querecebem a designação de peroxidação lipídica(McArdle, 1998). Este processo está associado como aparecimento e o aumento da gravidade de diversasdoenças (Arnes et al., 1993; Guterridge, 1993).

Alguns autores afirmam haver uma relaçãodireta entre o aumento de RLO gerado durante oexercício e alguns danos causados ao organismo,dentre os quais o aumento da peroxidação lipídica(Meydane et al., 1993).

Mas há grandes controvérsias se o EO e seussubseqüentes danos ao organismo estãoverdadeiramente associados com o exercício físico.Os estudos realizados apresentam variações naintensidade, duração e tipo de atividade físicaescolhida. Somando-se a isso, variações no nível decondicionamento físico dos indivíduos e nosprotocolos utilizados para avaliar os danos oxidativostêm contribuído para a inconsistência das pesquisas.Juntos, estes fatores têm corroborado para a falta deconsenso com relação ao exercício-indução doestresse oxidativo. (Mastaloudis et al., 2001).

Surge, então, o questionamento: haveriadiferença na produção de radicais livres entreindivíduos com níveis de VO2máx consideradosabaixo da média e excelente, respectivamente(segundo o Canadian Standardized Test of Fitness -CSTF - Operations Manual) quando submetidos auma corrida contínua de 40 minutos a 67,5% doVO2máx., que, segundo Achten et al. (2002) e

Jeukendrup et al. (2003), tal valor encontra-se dentroda faixa de consumo de oxigênio onde se têm amáxima oxidação de gorduras.

METODOLOGIA

Tipo de pesquisa

É uma pesquisa tipo comparação de caráterexperimental e quantitativa, "antes e depois", ondeforam analisadas as variáveis relacionadas aoestresse oxidativo em elementos fisicamente ativos,após carga de exercícios aeróbicos.

Amostra

A amostra foi composta por 18 indivíduos dosexo masculino, praticantes de atividades físicasdiversas, divididos em 02(dois) grupos: G1, compostopor 10 indivíduos, e G2, composto por 08(oito)indivíduos.

Coleta de dados

A primeira etapa se constituiu da avaliação dasmedidas antropométricas, massa corporal, estaturae a realização do teste de 12 minutos de Cooper, oqual serviu de parâmetro para a seleção dos indivíduosque fariam parte da amostra. A segunda etapa foi aaplicação do teste de Léger-Boucher (1980) paraclassificar a amostra em dois grupos com relaçãoao VO2máx. O G1 com VO2máx 46,24 ± 2,71 ml/kg.min e o G2 com VO2máx 61,99 ± 2,25 ml/kg.min.Na terceira etapa, os indivíduos foram submetidos auma corrida contínua de 40 (quarenta) minutos a 67,5% do VO2máx. Foram analisadas amostras do plasmano pré e pós-exercício para se verificar os níveis deperoxidação lipídica, pelo método TBARS de Jain, ecomparar os resultados intergrupos e intragrupos. Asegunda e a terceira etapa foram realizadas na pistade atletismo na Escola de Educação Física doExercito (EsEFEx) - Rio de Janeiro - RJ.

Medidas Antropométricas

Foram mensurados o peso corporal e aestatura. Estas medidas seguiram as seguintespadronizações:

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

2522-28

Massa Corporal: Com o indivíduo em pé sobrea plataforma da balança, previamente tarada, registra-se o peso no nível do 0,1 Kg mais próximo (Lohman,1988).

Estatura: O indivíduo em pé, na posiçãoortostática, mantendo as bordas mediais dos pés emum ângulo de 60o. A cabeça é mantida no planohorizontal de Frankfurt (Lohman, 1988).

Instrumentação

Balança: Foi utilizada uma balança clínica damarca Filizola (Brasil), modelo Personal nº 3201/01digital, para a determinação da massa corporal total.A precisão do equipamento é de 100 gramas e ospesos máximo e mínimo são, respectivamente,180 kg e 0,1 kg.

Estadiômetro: Para aferição da estaturacorporal, foi utilizado o estadiômetro da marcaFilizola (Brasil), com escala de 80 a 200 cm eprecisão de 0,1 cm.

Trena métrica: Para mensuração das distânciasverificadas nos testes de campo, foi utilizada umatrena em fibra de vidro flexível e inelástica da marcaStanley (Brasil), com escala de 0 a 50 metros eprecisão de 0,1 cm.

Bicicleta calibrada: Para mensuração dasdistâncias verificadas nos testes de campo foiutilizada uma bicicleta calibrada, modelo RR3MCarded Compact Whell e marca Keson Road Runner(USA).

Cronômetro: Foi utilizado um cronômetromanual digital da marca Seiko Quartz Cal S120 emodelo Digital (Digital Stopwatch), com precisão de1(um) por 100 segundos, para controlar o tempo decada volta dos sujeitos, executado na pista deatletismo, durante os 40 minutos de corrida contínua.

Termohigrômetro: Foi utilizado um termômetro/higrômetro digital da marca Microzelle (Qualitats-Erzuginis), modelo Thermo Kromel CR 203, paramedir a umidade.

Pista de atletismo: Foi utilizada uma pista oficialde atletismo, ou seja, com 400 m de comprimento ecom pavimentação sintética, sendo a corrida semprerealizada no sentido anti-horário.

Apito: Para a determinação dos momentosde partida, chegada e avisos diversos, nos testesde Léger-Boucher, foi utilizado um apito da marcaFOX - 40.

Análise do plasma

Foi realizada, com material esterilizado edescartável, no braço de cada indivíduo (10minutos antes do teste de esforço e cinco minutosapós o teste) diretamente em tubo a vácuo, marcaBD Vacutainer K3 EDTA 5 (cinco)ml, com eparina.O sangue coletado foi centrifugado a 4000 RPM,em centrífuga da marca Nikan, e os plasmassobrenadantes de cada indivíduo foram separadosem seis ependorfes de 1000ml (três do pré-testee três do pós-teste) e congelado a -70Cº, para asposteriores dosagens da Peroxidação Lipídica, queforam realizadas pelo método TBARS de Jain(1988).

Diretrizes para a obtenção dos dados

Para a obtenção dos dados, foram obedecidasas seguintes diretrizes:

1º) A coleta dos dados iniciou-se por volta das16 h, no Laboratório da EsEFEx. A equipe responsávelpela coleta foi constituída por dois técnicoslaboratoriais, dois farmacêuticos, acompanhados deum professor de Educação Física.

2º) Cada sujeito foi identificado, sendo oregistro das informações realizado com auxílio defichas individualizadas. Em seguida, foi entregueum termo de consentimento para cada sujeito daamostra e solicitada autorização que fosseefetuada sua leitura. Posteriormente, cada sujeitoratificou seu controle através das assinaturas,autorizando a realização da coleta e futurapublicação dos dados.

3º) Foi utilizado o teste de Léger-Boucher (1980)para separar a amostra quanto ao VO2máx. Ossujeitos foram divididos em dois grupos (G1 e G2)considerados abaixo da média e excelente,respectivamente (segundo o Canadian StandardizedTest of Fitness - CSTF - Operations Manual). O G1

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

26 22-28

foi composto por dez indivíduos com idade de 18,6± 0,5 anos, massa corporal de 78,24 ± 11,48 Kg eestatura de 1,79 ± 0,05 m, e o G2, composto poroito indivíduos com idade de 26,13 anos ± 2,59 anos,massa corporal de 68,88 ± 4,29 Kg e estatura de1,76 ± 0,05 m.

4º) Os sujeitos foram orientados a não fazeremuma suplementação alimentar para a realização dostestes.

5º) A primeira coleta de sangue foi realizadadez minutos antes da corrida contínua de 40 minutos.E a segunda coleta foi realizada cinco minutos apósa corrida continua.

RESULTADOS

As médias e os desvios padrões dos valoresobtidos, referentes à PL pré e pós-teste do G1 e G2submetidos a 40 minutos a 67,5% do VO2máx de cadaindivíduo estão representadas na FIGURA 1.

FIGURA 1Média e desvio padrão dos resultados da PL, pré epós 40 minutos de corrida contínua para o grupo 1

(abaixo da média) e grupo 2 (excelente)

Obs.: Préoxidação Lipídica em grupos comdiferentes níveis de condicionamento

Grupos por Condicionamento Aeróbico

FIGURA 2Mediana e variância dos resultados da PL, pré e

pós 40 minutos de corrida contínua para o grupo 1(abaixo da média) e grupo 2 (excelente)

Obs.: Préoxidação Lipídica em grupos comdiferentes níveis de condicionamento

Grupos por Condicionamento Aeróbico

De acordo com o teste de KolmogorovSmirnov (K-S) constatou-se que a PL apresentoudistribuição normal (G1 pré-exercício com z =0,459 para p = 0,984; G2 pré-exercício com z =0,700 para p = 0,712; G1 pós-exercício com z =0,521 para p = 0,949 e G2 pós-exercício com z =0,675 para p = 0,752). O teste de Levene verificoua homogeneidade das amostras, apresentando(p = 0,10) para a PL. Foi utilizado o teste ANOVA"two way" o qual não apresentou diferençasigni f icat iva entre os pré e pós-exercíc io,intragrupos e intergrupos (F = 1,2417 para p =0,28161) para a variável PL.

DISCUSSÃO

Apesar dos resultados mostrarem que,estatisticamente, não houve uma diferençasignificativa intergrupos e intragrupos, pode-seobservar que o coeficiente angular da reta do G2(VO2máx excelente) é maior que o coeficiente angularda reta do G1 (indivíduos com VO2máx abaixo da

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

2722-28

média). Com isso, há uma indicação de que ossujeitos do G2 teriam um estresse oxidativo maior,mas, dev ido ao número de ind iv íduos daamos t ra se r pequena , ob t i vemos umaconfiabilidade baixa. Contudo, ao utilizarmosuma quantidade maior, em torno de três ouquatro indivíduos, poderíamos provavelmenteencontrar uma significância.

Além disso, pelo fato da diferença deestresse ox idat ivo não ser s ign i f icat ivapoderíamos maximizar a diferença inicial doVO 2máx entre os grupos para queaumentássemos a d i ferença entre oscoeficientes das retas e encontrássemos umadiferença significativa.

No organismo treinado, seja em situaçãode resistência ou não, há um maior statusoxidativo na célula e, se existir uma deficiênciados antioxidantes, estes falham na missão demanter sob controle uma maior carga de radicaislivres. Sob condições de hipersolicitação física,a geração aumentada de RLO sempre é umacondição de risco à célula, e, maior ainda, noorganismo treinado, pois, neste, o estresseoxidativo pode obter uma expressividade maisintensa. (Signorini, Signorini, 1995).

Um estudo realizado por Tonkogoni et al.,2000 não demonstrou aumento na atividade deenzimas antioxidantes em indivíduos submetidosa um programa de treinamento de oito semanas,tendo tais indivíduos alcançado um aumentomédio no VO2máx de 24%. Em contrapartida,estudo real izado por Jek ins et a l ., 1984demonstrou uma correlação positiva na atividadeenzimática antioxidante a nível muscular (SODe catalase) com o VO2máx.

Embora todos tivessem corrido segundouma intensidade relativa de 67,5% do VO2máx,os sujeitos do G2 t inham uma intensidade

absoluta maior, ou seja, os componentes do G2corriam consumindo mais oxigênio que os do G1.

No es forço f ís ico in tenso, se ja emorganismos t re inados ou não-tre inados, apercentagem representativa da quantidade deoxigênio não reduzida pela citocromo-oxidaseaumenta, na mesma proporção do aumento dovolume global de O2 que é admitido por umademanda maior da célula. (Signorini, Signorini,1995).

Apesar das médias no pós-teste teremapresentado uma di ferença numér icarelativamente alta, a variância destes grupostambém foi grande, tornando a diferença nãosignificativa entre os grupos.

CONCLUSÃO

Analisando os resultados deste estudo,pode-se concluir que não houve di ferençasignificativa intergrupos e intragrupos para PL.

Apesar dos resultados não apresentaremdiferença estatisticamente significativa, pode-seident i f icar, na FIGURA1, um aumento dosresultados entre pré e pós-teste, concluindo-se ,salvo melhor juízo, que pode haver um maiorestresse oxidativo nos sujeitos com VO2máxconsiderado excelente.

Endereço para correspondência:Rafael Soares Pinheiro-DaCunha

Av. João Luiz Alves s/nº (Forte São João)Urca - Rio de Janeiro (RJ) - BRASIL

CEP 22291-090Tel: (21) 2543-3323

e-mail: [email protected]

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

28 22-28

ARNES BN, SHIGENAGA MK, HAGEN TM, Proc. Natl.Acad. Sci. 1993; USA 90: 7915 - 22.

CHEESEMAN KH, SLATER TF. An introduction tofree radical biochemistry. Br. Med. Bull .1993;49:481-493.

DAVIES KJ, QUINTANILHA AT, BROOKS GA,PACKER L. Biochem. Biophis. Res. Commun.1982;107: 1198 - 1205.

EBBELING CB , CLARKSON PM. Musc leadaptation prior to reovery following eccentricexe rc i se . Eur. J . App l . Phys io l 1974 ;37:247-8.

FIAMONCINI RL. Análise do estresse oxidativo emjogadores juniores de futebol: comparação entre prée pós-exercício aeróbio e anaeróbio. UFSC,Programa de pós-graduação em engenharia deprodução 2002.

FOXLEY A, EDWARDS RHT, JACKSON MJ.Enhanced lipid peroxidation in Duchenne dystrophymuscle may be secondary to muscle damage.Biochem. Soc. Trans.1991; 19:180S.

GUTERRIDGE JMC. Free Radical Res Commun1993; 19: 141-158.

GUYTON AC. Textbook of Medical Physiology.Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1993.

MASTALOUDIS A, LEONARD SW, TRABER MG.Oxidative Stress in Athletes During ExremeEndurance Exercise, 2001.

McARDLE WD, KATCH FL, KATCH VL. Fisiologiado exercício, energia, nutrição e desempenhohumano. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1998.

McBRIDE JM, KRAEMER WIJ, TRIPLETT-McBRIDETRABVIS, SEBASTIANELLI W. Effect of resistanceexercise on free radical production. Official Journalof the American College of Sports Medicine1998;30:67-72.

MEYDANE M, EVANS WJ, HANDELMAN G,BIDDLE L , F IELDING RA, MEYDANI SN,BURRIL J, FLATARONE MA, BLUMERG JB,CANNON, JG.American Journal Physiology1993;264: 992 - 8.

MOREIRA SB. Equacionando o treinamento: amatemática das provas longas. Rio de Janeiro: Shape,1996.

NOSAKA K, CLARCKSON PM, MCGUIGGIN ME,BYRNE JM. Time course of muscle adaptation afterhigh force ecentric exercise. Eur. J. Appl. Physiol 1991;63: 70-6.

POLI GE, ALBANO EP, BIASI F, CARINI R et al.Medical Biochemical and Chemical Aspects of FreeRadicals, Hayashi (Ed.). Amsterdam: ElsevierScience Publishing1989; 931-936.

ROKITZKI L, LOGEMANN E, SARGEDOS AN,MURPHY M, WETZEL ROTH W, KEUL J. Acta Physol1994; 151: 149 - 158.

SIGNORINI JL, SIGNORINI SL. Atividade Física eRadicais Livres: aspectos biológicos, químicos,fisiopatológicos e preventivos. São Paulo: EditoraÍcone, 1995.

SIES H, STAHL W, SUNDQUIST AR. Ann. N. Y. Acad.Sci. 1992;669:7 - 20.

SJODIN B, WESTING YH, APPLE FS. SportMed.1990; 10: 236 - 54.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

2929-37

CONDROMALACIA PATELAR: ASPECTOS ESTRUTURAIS,MOLECULARES, MORFOLÓGICOS E BIOMECÂNICOS

Fabio Alves Machado1, Álvaro Andreson de Amorin2

1 - Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal (DPEP) - RJ - Brasil2 - Policlínica Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) - RJ - Brasil

Resumo

A dor anterior do joelho é uma condição muitocomum que pode ter uma grande variedade decausas. A condromalacia, dentre outras patologias,é uma das causas da dor patelofemural. Depoisque o processo é iniciado, a síndrome da dorpatelofemural, freqüentemente, se torna umproblema crônico, levando o praticante ainterromper a prática de esporte e de outrasatividades. As alterações da cartilagem hialinatendem a evoluir rapidamente e podem levar ainaptidão funcional articular, estando entre ascausas mais freqüentes de inaptidão crônica. Oobjetivo deste trabalho é fornecer aos profissionais quetrabalham diretamente com o treinamento de atletas,e/ou praticantes de atividade física em geral, dadossobre a condromalacia patelar, utilizando para isto umarevisão da literatura especializada no assunto, de

maneira que possam desenvolver uma visão preventivae investigativa das condições posturais e biomecânicasdo joelho, como também possuir a capacidade desuspeitar da presença da doença.

O atleta com dor patelofemural exige umexame físico preciso, baseado em uma anamnesecompleta. A atividade física contribui para a melhoriada função muscular, sendo recomendada nosprogramas de prevenção e tratamento. Fato quecontempla a inclusão definitiva do Professor deEducação Física no contexto terapêutico da áreada saúde, gerando a necessidade de umconhecimento fisiopatológico mais apurado daslesões osteomioarticulares, caso contrário, oscurrículos de Educação Física tornar-se-ãodefasados em relação à sua demanda ocupacional.

Palavras Chave: Condromalacia, cartilagemarticular, joelho, patela, esporte.

PATELLAR CHONDROMALACIA: STRUCTURAL,MOLECULAR, MORPHOLOGICAL AND

BIOMECHANICAL

ABSTRACT

Anterior knee pain is a common symptom, whichmay have a large variety of causes includingpatellofomoral pathologies, chondromalacia amongother pathologies is one cause of the patellofomoral

pain. After the process is initiated, patellofomoral painsyndrome frequently becomes a chronic problem,leading to the interruption of sports practice and otheractivities. Alterations of hyaline cartilage tend to evolve,they can rapidly lead to functional disability of the jointand are among the most frequent causes of chronicdisability. The aim of this work is to supplyprofessionals who work with athletes' training and/orphysical activity practitioners, data aboutchondromalacia patellar, using for this a revision ofthe specialized literature in the subject, so that theycan develop a preventive and investigative vision of

__________Recebido em 12/11/2004. Aceito em 25/02/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

30 29-37

the posture and biomechanics of the athlete's knee,as well as capacity to diagnose the presence ofdisease in the early stages. Athletes withpatellofomoral pain demand an accurate physicalexam based on complete anamnesis. The physicalactivity contributing to the improvement of the muscularfunction is recommended in prevention and treatmentprograms. This fact contemplates definitive inclusionof Physical Education teachers in the

multiprofessional therapeutic context of the healtharea, and this generates the need for refinedphysiopathological knowledge of osteomyoarticularinjuries, otherwise the curriculum of PhysicalEducation becomes deficient regarding theoccupational demand.

key words: Chondromalacia, articulate cartilage,knee, patella, sports

INTRODUÇÃO

A síndrome da dor patelofemural (SDPF) éfreqüentemente encontrada em indivíduos fisicamenteativos e pode responder por quase 10% dosatendimentos em uma clínica de lesões esportivas(Kannus et al., 1987; Maffulli, 2001; Witvrouw et al.,2004). O termo SDPF é empregado,preferencialmente, em condições múltiplasassociadas a dor patelofemural. A dor anterior dojoelho é uma condição muito comum que pode teruma grande variedade de causas potenciais. Acondromalacia, dentre outras patologias, é uma dascausas da dor patelofemural (Elias & White, 2004). Areclamação mais importante de pacientes com aSDPF é a dor retropatelar durante atividades comocorrer, agachar, subir e descer degraus, andar debicicleta e ao saltar. Uma vez iniciado esse processopatológico, que freqüentemente se torna um problemacrônico, o indivíduo é forçado a parar com a práticade esportes e outras atividades (Witvrouw et al.,2004).

Alguns autores (Lysens et al., 1991; Milgrom etal., 1991) atribuem esta dor a fatores de riscointrínsecos e extrínsecos. Fatores de risco extrínsecossão relacionados a aspectos não ligados ao corpo,como o tipo de atividade esportiva, a maneira comque o esporte é praticado, as condições ambientaise o equipamento utilizado, enquanto os fatoresintrínsecos relacionam-se mais com ascaracterísticas físicas individuais e com ascaracterísticas psicológicas.

A cartilagem hialina é um tecido altamenteespecializado em resistir a forças de compressão,sendo sua função principal a de facilitar o movimentoentre as superfícies articulares. É, porém, facilmente

danificada pelas forças de tensão, tendo umacapacidade regenerativa limitada e estandofreqüentemente envolvida em traumas, patologiasinflamatórias e degenerativas. As alterações dacartilagem hialina tendem a evoluir e podemrapidamente levar à inaptidão funcional da articulação,estando entre as causas mais freqüentes de inaptidãocrônica (Macarini et al., 2004).

Em vista do exposto acima, torna-se evidenteque a condromalacia patelar em estágio avançado éum agente que pode contra-indicar a prática esportiva,seja qual for o nível do praticante acometido. Portanto,o objetivo deste trabalho é fornecer aos profissionaisque trabalham diretamente com o treinamento deatletas, e/ou praticantes de atividade física em geral,dados sobre a condromalacia patelar, utilizando, paraisto, uma revisão da literatura especializada noassunto. Desta maneira, poderão desenvolver umavisão preventiva e investigativa das condiçõesposturais e biomecânicas do joelho, bem comodesenvolver, também, a capacidade de suspeitar dapresença da doença.

Condromalacia Patelar

Historicamente, a condromalacia patelar era odiagnóstico dado à maioria dos pacientes comreclamações de dor na região anterior do joelho. Otermo, porém, caiu em desuso e deve ser somenteusado para descrever um específico amolecimentopatológico da cartilagem articular e, não, como umdiagnóstico clínico vago (The InternationalPatellofemoral Study Group, 1997).

A superfície articular da patela e a superfíciearticular contígua dos côndilos femurais podem serafetadas por alterações degenerativas da

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3129-37

cartilagem articular por um longo período de tempo(Soren & Fetto, 1997). Uma das patologiasdegenerativas que mais acometem o joelho é acondromalacia patelar, também conhecida como"joelho de corredor". É caracterizada por dor, edemae crepitação retropatelar, descrita como umadesconfortável sensação rangedora (Asplund,2004), assim como por um aumento dasensibi l idade local que está associada aodesequilíbrio funcional do músculo quadrícepsfemural (Moore & Dalley, 2001), especialmente coma atrofia do músculo vasto medial (Guo et al., 1996),e com o encurtamento do trato iliotibial (Post, 1998).Entretanto, os traumas esportivos, em geral, e oexcesso de atividade física, como a sobrecarga depeso ou corridas excessivas, são freqüentesagentes etiológicos da condromalacia patelar empraticantes das mais variadas modalidadesesport ivas, acometendo principalmente asmulheres e jovens (Moore & Dalley, 2001; Zhang etal., 2003; Witvrouw et al., 2004).

A condromalacia é produzida pela açãocompressiva anormal repetida sobre a cartilagemarticular. Esta compressão anormal é derivada danão congruência e da diminuição da área decontato da articulação patelofemural (APF)quando uma subluxação ou deslocamento patelarfor causado por um relacionamento anatômico e/ou biomecânico anormal (Paar & Riel, 1982; Guoet al., 1996; Ye et al., 2001), podendo também sercausada por radiculopatia lombar e pinçamentosde nervos periféricos (Post, 1998). Uma variedadede classificações desta doença foi proposta, masa classificação mais utilizada foi descrita porOuterbridge (1961).

TABELA 1Classificação dos Graus de Condromalacia

Descrita por Outerbridge (1961).

Aspectos Estruturais e Moleculares

A cartilagem articular da patela é a maisespessa no corpo e não segue o contorno do tecidoósseo subcondral. Suas facetas articulares variamde pessoa para pessoa em tamanho, natureza, enúmero (Atik & Korkusuz, 2001; Grelsamer &Weinstein, 2001).

A literatura demonstra claramente que acartilagem articular do joelho torna-se menos espessacom a idade, mesmo na ausência de patologia, e queo quanto esta cartilagem reduz difere no gênero sexuale entre os compartimentos da articulação de joelho(Schiefke et al., 1998; Hudelmaier et al., 2001). Asalterações metabólicas e morfológicas durante oenvelhecimento da cartilagem contribuem paradesordens tróficas e deterioração da função tecidual(Schiefke et al., 1998).

A habilidade da cartilagem para igualar tensõesde contato entre superfícies articulares pode sercomprometida por ondulações no tecido ósseosubcondral e por alterações na sua composiçãoquímica. Além disto, pode ser afetada por qualquerconcentração de tensão gerada pelo excesso deatrito, o que pode reduzir seu conteúdo líquido (Adamset al., 1999). Entretanto, a degradação da cartilagemnão tem correlação com a perda de densidade ósseapatelar, sugerindo uma dissociação dos mecanismospatofisiológicos (Murphy et al., 2002).

As propriedades mecânicas do tecidoconjuntivo, como, por exemplo, a habilidade pararesistir a tensões, compressões, torções eextensibilidade, são determinadas pela proporção decomponentes da matriz extracelular (MEC) (Culav etal., 1999). A função da cartilagem articular dependeda interação entre os componentes da MEC e o fluídointersticial que tem como destino as moléculas deproteoglicanos (PGs). Estando, portanto, estemecanismo de carreamento envolvido nos processosde regulação metabólica dos condrócitos edegeneração da MEC. (Eckstein et al., 1999). Istosugere que uma importante função da superfíciearticular seja prover uma baixa permeabilidade defluídos, e, assim, sirva para restringir o fluído exsudatoe aumentar a pressurização do fluído intersticial,preservando as propriedades físicas e biológicas dotecido em situações compressivas e de suporte decarga na articulação (Ye et al., 2001).

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

32 29-37

As moléculas de PGs são l igadas,covalentemente, a cadeias laterais deglicosaminoglicanos (GAGs). Todas as moléculasde GAGs apresentam carga negativa e têmpropensão para atrair íons, criando um desequilíbrioosmótico que resulta em PGs/GAGs absorvendoágua dos tecidos adjacentes (Culav et al., 1999).O mecanismo inicial de lesão na condromalaciaencontra-se na MEC da cartilagem, onde a rede decolágeno sofre rupturas, ocorrendo, a seguir, perdade PGs. Essa degradação da MEC modifica omicroambiente dos condrócitos que se torna, porum mecanismo de feed-back, degenerativos enecrosados, da camada superficial até a profunda.A camada de cart i lagem progressivamentedesaparece e o tecido ósseo subcondral prolifera.Em estágio avançado (FIGURA 1A e 1B), acartilagem estará completamente destruída,perdendo sua capacidade regenerativa(Ye et al., 2001).

FIGURA 1 A E 1 BFace Articular da Patela Apresentando Lesão

Osteocondral

Fissuras na cartilagem articular (ponta de seta: A. preta; B.branca). Perda da cartilagem articular e lesão do tecido ósseosubcondral (Asterisco). (A partir de NOMURA E, INOUE M.Cartilage Lesions of the Patella in Recurrent Patellar Dislocation.Am J Sports Med, 2004; 32(2):498-502.

Estudos realizados por Vaatainen et al.(1995 e 1998) demonstram uma gradualdesorganização e/ou desaparecimento dos feixesde colágeno da cartilagem superficial com apresença severa da condromalacia patelar, comotambém uma depleção acentuada de PGs nacartilagem articular.

Sob condições de carga estática, a deformaçãoda cartilagem se limita à camada mais superficial,enquanto nas cargas cíclicas atinge toda a espessura

da cartilagem. Após a aplicação da carga estática, arecuperação completa de toda deformação aconteceem aproximadamente 30 minutos, mas ésignificativamente mais rápida depois da carga cíclica(Kaab et al., 1998), sugerindo que a estruturamorfológica do colágeno na cartilagem articular exibeuma deformação de zona específica, sendodependente das condições de magnitude e do tipode carga a que a articulação está sujeita.

O colágeno, presente na cartilagem articular,apresenta uma maior resistência à fadiga quandosujeito a tensões aplicadas paralelamente aosentido de seus feixes no tecido articular. Entretanto,as camadas superficial e profunda dessa cartilagemsuportam melhor as tensões do que a camada média(Bellucci & Seedhom, 2001). Danos que acometamtoda a espessura da cartilagem articular e quepenetram no tecido ósseo subcondral vascularizado(FIGURA 1B) permitem o acesso local a um nãodiferenciado grupo de células mesenquimaiscapazes de formar tecido fibrocarti laginoso(carti lagem de cicatriz). A fibrocarti lagem épredominantemente composta de colágeno tipo I eé, bioquimicamente e mecanicamente, inferior àcartilagem hialina normal ou "cartilagem articular",que é predominantemente composta de colágenotipo II (Cole & Taksali, 2000). A reversão do dano dacartilagem ou a progressão para uma condromalaciaparece estar associada com muitos fatores, comoa intensidade e freqüência do trauma, o mecanismode dano, a remodelagem intrínseca da MEC dacartilagem e a capacidade de regeneração dacartilagem (Triantafillopoulos et al., 2002).

Aspectos Morfológicos e Biomecânicos

Existem seis grandes fontes estruturais de dorpatelofemural: tecido ósseo subcondral, sinóvia,retináculos, pele, músculo e nervo. Estas estruturaspodem ser afetadas por muitos fatores, inclusivedoenças sistêmicas. Na clínica esportiva, as razõesmais comuns para a dor anterior do joelho sãooveruse, trauma e malignidade patelofemural(Fulkerson, 2002).

A patela é o maior osso sesamóide do nossocorpo, encontrando-se dentro do tendão do músculoquadríceps e se articulando com a face patelar dofêmur para formar a APF. Wiberg (1941) descreveu

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3329-37

três tipos de patela baseados na morfologia desseosso durante a observação em sentido axial(FIGURA 2). Porém, o valor de tais classificaçõesem predizer a instabil idade patelar não écomprovado.

FIGURA 2Esquema das Variações Anatômicas na Morfologia

Patelar (Vista Axial)

Tipo1.Facetas medial e lateral côncavas e equiparadas notamanho.Tipo 2.Faceta medial menor e lateral maior, ambas côncavas.Tipo 3.Faceta medial menor convexa e lateral maior côncava.

No que se refere à superfície patelar do fêmur,não foram encontrados relatos de variaçõesanatômicas. Entretanto, Merchant et al. (1974) eElias & White (2004) preconizam que o ânguloformado (ângulo do sulco) pela junção das facesmedial e lateral da superfície patelar do fêmur nofundo do sulco patelar é considerado fisiológicoquando apresenta valores entre 126º e 150º(FIGURA 3).

FIGURA 3Esquema Ilustrando o Ângulo do Sulco

(Vista Axial)

A. Plano da face articular do côndilo femural lateral.B. Plano da face articular do côndilo femural medial.C. Ãngulo do sulco.

Embora um grande número de ortopedistas doséculo XX considerasse a patela inútil, e atéprejudicial, hoje, está bem estabelecido que a patelaexerce importante função biomecânica. É umacomplexa alavanca que aumenta o braço demomento do mecanismo extensor do joelho, sendoo seu padrão de movimentação uma interação entreo músculo quadríceps, os ligamentos do joelho, oângulo Q e a morfologia óssea da patela e doscôndilos femurais (Grelsamer & Weinstein, 2001).

A estimativa do padrão clínico da força lateral,grau de força em valgo transmitida à patela com acontração do mecanismo muscular extensor dojoelho, é avaliada medindo-se o ângulo do quadríceps,(ângulo Q) formado pela angulação de uma linhatraçada entre a espinha ilíaca anterior superior (EIAS),o ponto central da patela e a tuberosidade da tíbia(FIGURA 4) (Insall et al., 1976), sendo os valoresnormais 10°±5° para homens e 15°±5° para mulheres.Um ângulo Q aumentado significa força lateral maiorexercida sobre a patela. Este fato pode, então, auxiliara explicar a propensão da patela para instabilidadelateral (Elias & White, 2004).

FIGURA 4Esquema Ilustrando o Ângulo Q

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

34 29-37

Deslocando o fulcro de movimento domecanismo extensor do joelho para o fêmur, a APFproduz uma vantagem mecânica, aumentando aforça do músculo quadríceps na extensão do joelho.Por causa disto, considerável força é transmitidaatravés da APF, força esta que pode variar demetade do peso corporal durante a deambulaçãoaté 25 vezes o peso do corpo quando se ergue umdeterminado peso com os joelhos fletidos a 90º(Egund & Ryd 2002; Elias & White, 2004).

Na extensão total do joelho, a patela estáposicionada proximamente aos côndilos femuraise a crista mediana da patela, lateral ao centro dosulco patelar do fêmur. Durante a flexão, a patelaentra no sulco patelar aproximadamente aos 15° a20° de flexão. Quando a patela ocupa o sulcopatelar, a crista dos côndilos tem a função de guiae suporte para prevenir as translações da patelano sentido lateral (Fulkerson et al., 1997). A áreade contato entre a patela e os côndilos aumenta àmedida que a flexão é realizada. Movimentos levesde rotação e inclinação da patela são vistos duranteos sete cm (aproximadamente) de deslocamentoda patela entre a total flexão e extensão (Buckwalteret al., 2000).

Além da morfologia óssea, a restrição detecido mole é crítica para a estabilidade daarticulação. O ligamento patelar e os retináculosmedial e lateral formam o grupo de estabilizadorespassivos da patela. Os retináculos são divididosem camada profunda e superficial em ambos oslados (Fulkerson & Gossling, 1960; Warren &Marshall, 1979). As camadas superficiais dosretináculos estabilizam a patela e o ligamentopatelar, estendendo-se para a fáscia do sartóriomedialmente e para o fáscia do tracto iliotibiallateralmente. As camadas profundas contêmespessamentos que formam ligamentos, provendosignificante estabilização e suporte para a patela(Elias & White, 2004). No lado medial, o ligamentopatelofemural medial é um espessamento fascialda camada profunda do retináculo medial, tendo jásido demonstrado como o estabilizador passivomais efetivo na prevenção dos deslocamentoslaterais da patela (Conlan et al., 1993). Esteligamento origina-se entre o tubérculo adutor e oepicôndilo medial do fêmur e estende-se,anteriormente, até inserir-se nos 2/3 superiores da

margem medial da patela. Durante este trajeto, fixa-se em algumas fibras inferiores e profundas domúsculo vasto medial (Warren & Marshall, 1979;Desio et al., 1998). Em posição inferior ao ligamentopatelofemural medial, os ligamentos patelomeniscale patelotibial desempenham um papel secundáriona restrição medial da patela. Lateralmente, acamada profunda consiste no l igamento,transversal, que se estende do tracto iliotibial até amargem lateral da patela. Acima deste ligamento,estende-se o feixe epicondilo-patelar e, abaixo, ofeixe patelo-tibial.

Todos os quatro músculos componentes doquadríceps formam o grupo de estabilizadoresativos da patela. Particularmente, as porçõesinferiores dos músculos vasto medial e lateralformam pequenos grupos de músculos com umaorientação oblíqua distinta de suas fibras, osmúsculos vasto medial oblíquo (VMO) e o vastolateral oblíquo (VLO). Provendo forças ativas, estesmúsculos contêm a patela nas direções medial elateral, respectivamente (Elias & White, 2004), e,por este motivo, encontra-se na literatura autoresdescrevendo a musculatura do compartimentoanterior da coxa como sendo composta por seis enão mais quatro músculos. O músculo VMO é aporção mais medial do músculo vasto medial e éum estabilizador dinâmico importante. O ânguloalto de inserção do VMO no lado medial da patelagera resistência à translação lateral patológica. Aexcessiva debilidade ou lesão do VMO pode levarà instabilidade lateral da patela sendo, portanto, fatorde risco para patologias da APF (Garth et al., 1996),como, por exemplo, a condromalacia.

Biomecanicamente, a APF centraliza quatroforças divergentes do músculo quadríceps e agecomo um fulcro para aumentar a eficiência domecanismo extensor. O tendão do quadríceps e oligamento patelar exercem, principalmente, forçacompressiva posterior que mantêm a patela emcontato com o fêmur. O resultante de força reativada APF depende do ângulo de flexão do joelho eda magnitude da força no ligamento patelar etendão do quadríceps. A crescente flexão do joelhoou da força do tendão do músculo extensor,pr incipalmente agachando ou sal tando,aumentará a força compressiva (Cosgarea et al.,2002).

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3529-37

ADAMS MA, KERIN AJ, BHATIA LS, CHAKRABARTYG, DOLAN P. Experimental determination of stressdistributions in articular cartilage before and aftersustained loading. Clin Biomech 1999;14(2):88-96.

AGLIETTI P, INSALL JN, CERULLI G. Patellar pain andincongruence. Measurements of incongruence. ClinOrthop 1983;176:217-24.

ASPLUND C, PIERRE PS. Knee Pain and Bicycling.Phys Sportsmed 2004; 32(4).

ATIK OS, KORKUSUZ F. Surgical repair of cartilagedefects of the patella. Clin Orthop 2001;(389):47-50.

BELLUCCI G, SEEDHOM BB. Mechanical behaviourof articular cartilage under tensile cyclic load.Rheumatology 2001; 40(12):1337-45.

CONCLUSÕES

O desequilíbrio da relação patelofemural poderesultar de uma combinação de variáveis nageometria óssea, função ativa e passiva dos tecidosmoles, restrições e demandas funcionais. Comoresultado, temos tensões desfavoráveis e diminuiçãoda força muscular, excedendo o limite fisiológico dostecidos e podendo resultar em dano à cartilagem,alterações degenerativas, excesso de tensão nasestruturas ligamentares, falha mecânica e desviosposturais da patela.

O atleta com dor patelofemural necessita de umexame físico preciso, baseado em uma anamnesecompleta, de maneira que possibilite a elaboração deprotocolo preventivo adequado para deter a progressãodo processo degenerativo, impedindo a evolução paraum quadro de condromalacia e uma futura cirurgia.Nos casos de diagnóstico confirmado decondromalacia, dependendo do estágio da lesãocondral, o atleta provavelmente estará incapacitadopara o desporto de alto nível. Entretanto, estesindivíduos não devem desistir de sua atividade física,

pois diversos autores (Aglietti et al., 1983; Broom &Fulkerson, 1986; Fulkerson, 1997 e Witvrouw et al.,2000) afirmam que, quando bem empregada, aatividade física pode ser muito importante e contribuipara a melhoria da função muscular, sendorecomendada nos programas de prevenção etratamento. Fato que contempla a inclusão definitivado Professor de Educação Física no contextoterapêutico da área da saúde, gerando a necessidadede um conhecimento fisiopatológico mais apurado daslesões osteomioarticulares, caso contrário oscurrículos de Educação Física tornar-se-ão defasadosem relação à sua demanda ocupacional.

Endereço para correspondência:Prof. Fabio Alves Machado

Seção de Saúde - DPEPAv. João Luiz Alves s/nº (Forte São João)

Urca - Rio de Janeiro (RJ) - BRASILCEP 22291-090

Tel: (21) 2543-3323 Ramal 2061E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BROOM MJ, FULKERSON JP. The plica syndrome: A newperspective. North Am Orthop Clin 1986; 17:279-81.

BUCKWALTER JA, EINHORN TA, SIMON SR.Orthopaedic Basic Science: Biology andBiomechanics of the Musculoskeletal System, 2 ed.Rosemont, IL, American Academy of OrthopaedicSurgeons 2000;730-827.

COLE BJ, TAKSALI S. Keeping aging adults active:Operative treatment options. Phys Sports Med, SpecialReport 2000;20-30.

CONLAN T, GARTH WPJ, LEMONS JE. Evaluationof the medial soft-tissue restraints of the extensormechanism of the knee. Am J Bone Joint Surg 1993;75:682-93.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

36 29-37

COSGAREA AJ, BROWNE JA, KIM TK, MCFARLANDEG. Evaluation and Management of the UnstablePatella. Phys Sportsmed 2002;30(10).

CULAV EM, CLARCK CH, MERRILEES MJ.Connective tissues: matrix composition and itsrelevance to physical therapy. Phys Ther1999;79:308-19.

DESIO SM, BURKS RT, BACHUS KN. Soft-tissuerestraints to lateral patellar translation in the humanknee. Am J Sports Med 1998; 26:59-65.

ECKSTEIN F, TIESCHKY M, FABER S, ENGLMEIERKH, REISER M. Functional analysis of articularcartilage deformation, recovery, and fluid flowfollowing dynamic exercise in vivo. Anat Embryol 1999;200(4):419-24.

EGUND N, RYD L. Patellar and quadricepsmechanism. In: DAVIES, A. M. Imaging of the knee,1st ed. Berlin: Springer-Verlag 2002; 217-48.

ELIAS DA, WHITE LM. Imaging of patellofemoraldisorders. Clin Radiol 2004; 59(7):543-57.

FULKERSON JP. Anterolateralization of the tibialtubercle. Tech Orthop 1997; 12:165-9.

FULKERSON JP. Diagnosis and treatment of patientswith patellofemoral pain. Am J Sports Med 2002;30:447-56.

FULKERSON JP, BUUCK DA, POST WR. Disordersof the Patellofemoral Joint. 3ª ed. Baltimore: Williams& Wilkins, 1997.

FULKERSON JP, GOSSLING HR. Anatomy of theknee joint lateral retinaculum. Clin Orthop 1960;153:183-8.

GARTH WPJ, POMPHREY MJ, MERRILL K. Functionaltreatment of patellar dislocation in an athletic population.Am J Sports Med 1996; 24(6): 785-91.

GRELSAMER RP, WEINSTEIN CH. Appliedbiomechanics of the patella. Clin Orthop 2001;(389):9-14.

GUO K, YE Q, LIN J, SHEN J, YANG X. Selectivetraining of the vastus medialis muscle using electricalstimulator for chondromalacia patella. Zhongguo YiXue Ke Xue Yuan Xue Bao 1996;18(2):156-60.

HUDELMAIER M, GLASER C, HOHE J, ENGLMEIERKH, REISER M, PUTZ R, ECKSTEIN F. Age-relatedchanges in the morphology and deformationalbehavior of knee joint cartilage. Arthritis Rheum 2001;44(11):2556-61.

INSALL J, FALVO KA, WISE DW. Chondromalaciapatellae. A prospective study. J Bone Joint Surg Am1976;58:1-8.

KAAB MJ, ITO K, CLARK JM, NOTZLI HP. Deformation ofarticular cartilage collagen structure under static and cyclicloading. J Orthop Res 1998; 16(6):743-51.

KANNUS P, AHO H, JÄRVINEN M. Computerizedrecording of visits to na outpatients sports clinic. AmJ Sports Med 1987; 15:79-85.

LYSENS RJ, DE WEERDT W, NIEUWBOER A.Factors associated with injury proneness. Sports Med1991; 12:281-9.

MACARINI L, PERRONE A, MURRONE M, MARINIS, STEFANELLI M. Valutazione della condropatiarotulea con RM: confronto tra sequenze FSESPIR T2 e GE MTC. Radiol Med 2004; 108:159-71.

MAFFULLI N. Anterior knee pain: an overview ofmanagement options. In: PUDDU, G., GIOMBINI,A., SELVANETTI, A. Rehabilitation of SportsInjuries. Berl in, Germany: Springer-Verlag,2001;148-53.

MERCHANT AC, MERCER RL, JACOBSEN RH,COOL CR. Roentgenographic analysis ofpatellofemoral congruence. Am J Bone Joint Surg1974; 56:1391-6.

MILGROM C, KEREM E, FINESTONE A.Patellofemoral pain caused by overactivity. Aprospective study of risk factors in infantry recruits. JBone Joint Surg 1991;73A:1041-3.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3729-37

MOORE KL, DALLEY AF. Anatomia Orientada paraa Clínica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2001.

MURPHY E, FITZGERALD O, SAXNE T,BRESNIHAN B. Increased. Serum carti lageoligomeric matrix protein levels and decreasedpatellar bone mineral density in patients withchondromalacia patel lae. Ann Rheum Dis2002;61(11):981-5.

NOMURA E, INOUE M. Cartilage Lesions of thePatella in Recurrent Patellar Dislocation. Am JSports Med 2004;32(2):498-502.

OUTERBRIDGE R. The et io logy ofchondromalacia patellae. Br J Bone Joint Surg1961; 43B:752-7.

PAAR O, RIEL KA. Patella dislocation with specialreference to cartilage damage. Chirurg 1982;53(8):508-13.

POST WR. Patellofemoral Pain: Let the PhysicalExam Define Treatment. Phys And Sportsmed1998; 26(1):24-32.

SCHIEFKE I, WEISS J, KELLER F, LEUTERT G.Morphological and histochemical ageing changesin patellar articular cartilage of the rat. Anat Anz1998; 180(6):495-500.

SOREN A, FETTO JF. Chondropathia patellae. ArchOrthop Trauma Surg 1997; 116(6-7):362-6.

THE INTERNATIONAL PATELLOFEMORAL STUDYGROUP. Patellofemoral semantics: the Tower ofBabel. Am J Knee Surg 1997; 10(2):92-95.

TRIANTAFILLOPOULOS IK, PAPAGELOPOULOSPJ, POLITI PK, NIKIFORIDIS PA. Articular changesin experimentally induced patellar trauma. KneeSurg Sports Traumatol Arthrosc 2002; 10(3):144-53.

VAATAINEN U, HAKKINEN T, KIVIRANTA I, JAROMAH, INKINEN R, TAMMI M. Proteoglycan depletion andsize reduction in lesions of early gradechondromalacia of the patella. Ann Rheum Dis1995; 54(10):831-5.

VAATAINEN U, KIVIRANTA I, JAROMA H, AROKOSIJ, TAMMI M, KOVANEN V. Collagen crosslinks inchondromalacia of the patella. Int J Sports Med1998; 19(2):144-8.

ZHANG H, KONG XQ, CHENG C, LIANG MH. Acor re la t ive s tudy between preva lence o fchondromalacia patellae and sports injury in4068 s tudents . Ch in J Traumato l , 2003;6(6):370-4.

YE QB, WU ZH, WANG YP, LIN J, QIU GX.Preliminary investigation on the pathogeny,diagnosis and treatment of chondromalacia patella.Zhongguo Yi Xue Ke Xue Yuan Xue Bao 200123(2):181-3.

WARREN LF, MARSHALL JL. The supportingstructures and layers on the medial side of the knee:an anatomical analysis. Am J Bone Joint Surg1979;61:56-62.

WIBERG G. Roentgenographic and anatomicstudies on the femoropatellar joint. Acta OrthopScand 1941;12:319-410.

WITVROUW E, DANNEELS L, VAN TIGGELEN D,WILLEMS TM, CAMBIER D. Open Versus ClosedKinetic Chain Exercises in Patellofemoral Pain A5-Year Prospective Randomized Study. Am JSports Med 2004; 32(5):1122-30.

WITVROUW E, LYSENS R, BELLEMANS J,CAMBIER D, VANDERSTRAETEN G. Intrinsic RiskFactors For the Development of Anterior KneePain in na Athlet ic Populat ion A Two-YearProspective Study. Am J Sports Med 2000;28(4):480-9.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

2929-37

CONDROMALACIA PATELAR: ASPECTOS ESTRUTURAIS,MOLECULARES, MORFOLÓGICOS E BIOMECÂNICOS

Fabio Alves Machado1, Álvaro Andreson de Amorin2

1 - Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal (DPEP) - RJ - Brasil2 - Policlínica Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) - RJ - Brasil

Resumo

A dor anterior do joelho é uma condição muitocomum que pode ter uma grande variedade decausas. A condromalacia, dentre outras patologias,é uma das causas da dor patelofemural. Depoisque o processo é iniciado, a síndrome da dorpatelofemural, freqüentemente, se torna umproblema crônico, levando o praticante ainterromper a prática de esporte e de outrasatividades. As alterações da cartilagem hialinatendem a evoluir rapidamente e podem levar ainaptidão funcional articular, estando entre ascausas mais freqüentes de inaptidão crônica. Oobjetivo deste trabalho é fornecer aos profissionais quetrabalham diretamente com o treinamento de atletas,e/ou praticantes de atividade física em geral, dadossobre a condromalacia patelar, utilizando para isto umarevisão da literatura especializada no assunto, de

maneira que possam desenvolver uma visão preventivae investigativa das condições posturais e biomecânicasdo joelho, como também possuir a capacidade desuspeitar da presença da doença.

O atleta com dor patelofemural exige umexame físico preciso, baseado em uma anamnesecompleta. A atividade física contribui para a melhoriada função muscular, sendo recomendada nosprogramas de prevenção e tratamento. Fato quecontempla a inclusão definitiva do Professor deEducação Física no contexto terapêutico da áreada saúde, gerando a necessidade de umconhecimento fisiopatológico mais apurado daslesões osteomioarticulares, caso contrário, oscurrículos de Educação Física tornar-se-ãodefasados em relação à sua demanda ocupacional.

Palavras Chave: Condromalacia, cartilagemarticular, joelho, patela, esporte.

PATELLAR CHONDROMALACIA: STRUCTURAL,MOLECULAR, MORPHOLOGICAL AND

BIOMECHANICAL

ABSTRACT

Anterior knee pain is a common symptom, whichmay have a large variety of causes includingpatellofomoral pathologies, chondromalacia amongother pathologies is one cause of the patellofomoral

pain. After the process is initiated, patellofomoral painsyndrome frequently becomes a chronic problem,leading to the interruption of sports practice and otheractivities. Alterations of hyaline cartilage tend to evolve,they can rapidly lead to functional disability of the jointand are among the most frequent causes of chronicdisability. The aim of this work is to supplyprofessionals who work with athletes' training and/orphysical activity practitioners, data aboutchondromalacia patellar, using for this a revision ofthe specialized literature in the subject, so that theycan develop a preventive and investigative vision of

__________Recebido em 12/11/2004. Aceito em 25/02/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

30 29-37

the posture and biomechanics of the athlete's knee,as well as capacity to diagnose the presence ofdisease in the early stages. Athletes withpatellofomoral pain demand an accurate physicalexam based on complete anamnesis. The physicalactivity contributing to the improvement of the muscularfunction is recommended in prevention and treatmentprograms. This fact contemplates definitive inclusionof Physical Education teachers in the

multiprofessional therapeutic context of the healtharea, and this generates the need for refinedphysiopathological knowledge of osteomyoarticularinjuries, otherwise the curriculum of PhysicalEducation becomes deficient regarding theoccupational demand.

key words: Chondromalacia, articulate cartilage,knee, patella, sports

INTRODUÇÃO

A síndrome da dor patelofemural (SDPF) éfreqüentemente encontrada em indivíduos fisicamenteativos e pode responder por quase 10% dosatendimentos em uma clínica de lesões esportivas(Kannus et al., 1987; Maffulli, 2001; Witvrouw et al.,2004). O termo SDPF é empregado,preferencialmente, em condições múltiplasassociadas a dor patelofemural. A dor anterior dojoelho é uma condição muito comum que pode teruma grande variedade de causas potenciais. Acondromalacia, dentre outras patologias, é uma dascausas da dor patelofemural (Elias & White, 2004). Areclamação mais importante de pacientes com aSDPF é a dor retropatelar durante atividades comocorrer, agachar, subir e descer degraus, andar debicicleta e ao saltar. Uma vez iniciado esse processopatológico, que freqüentemente se torna um problemacrônico, o indivíduo é forçado a parar com a práticade esportes e outras atividades (Witvrouw et al.,2004).

Alguns autores (Lysens et al., 1991; Milgrom etal., 1991) atribuem esta dor a fatores de riscointrínsecos e extrínsecos. Fatores de risco extrínsecossão relacionados a aspectos não ligados ao corpo,como o tipo de atividade esportiva, a maneira comque o esporte é praticado, as condições ambientaise o equipamento utilizado, enquanto os fatoresintrínsecos relacionam-se mais com ascaracterísticas físicas individuais e com ascaracterísticas psicológicas.

A cartilagem hialina é um tecido altamenteespecializado em resistir a forças de compressão,sendo sua função principal a de facilitar o movimentoentre as superfícies articulares. É, porém, facilmente

danificada pelas forças de tensão, tendo umacapacidade regenerativa limitada e estandofreqüentemente envolvida em traumas, patologiasinflamatórias e degenerativas. As alterações dacartilagem hialina tendem a evoluir e podemrapidamente levar à inaptidão funcional da articulação,estando entre as causas mais freqüentes de inaptidãocrônica (Macarini et al., 2004).

Em vista do exposto acima, torna-se evidenteque a condromalacia patelar em estágio avançado éum agente que pode contra-indicar a prática esportiva,seja qual for o nível do praticante acometido. Portanto,o objetivo deste trabalho é fornecer aos profissionaisque trabalham diretamente com o treinamento deatletas, e/ou praticantes de atividade física em geral,dados sobre a condromalacia patelar, utilizando, paraisto, uma revisão da literatura especializada noassunto. Desta maneira, poderão desenvolver umavisão preventiva e investigativa das condiçõesposturais e biomecânicas do joelho, bem comodesenvolver, também, a capacidade de suspeitar dapresença da doença.

Condromalacia Patelar

Historicamente, a condromalacia patelar era odiagnóstico dado à maioria dos pacientes comreclamações de dor na região anterior do joelho. Otermo, porém, caiu em desuso e deve ser somenteusado para descrever um específico amolecimentopatológico da cartilagem articular e, não, como umdiagnóstico clínico vago (The InternationalPatellofemoral Study Group, 1997).

A superfície articular da patela e a superfíciearticular contígua dos côndilos femurais podem serafetadas por alterações degenerativas da

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3129-37

cartilagem articular por um longo período de tempo(Soren & Fetto, 1997). Uma das patologiasdegenerativas que mais acometem o joelho é acondromalacia patelar, também conhecida como"joelho de corredor". É caracterizada por dor, edemae crepitação retropatelar, descrita como umadesconfortável sensação rangedora (Asplund,2004), assim como por um aumento dasensibi l idade local que está associada aodesequilíbrio funcional do músculo quadrícepsfemural (Moore & Dalley, 2001), especialmente coma atrofia do músculo vasto medial (Guo et al., 1996),e com o encurtamento do trato iliotibial (Post, 1998).Entretanto, os traumas esportivos, em geral, e oexcesso de atividade física, como a sobrecarga depeso ou corridas excessivas, são freqüentesagentes etiológicos da condromalacia patelar empraticantes das mais variadas modalidadesesport ivas, acometendo principalmente asmulheres e jovens (Moore & Dalley, 2001; Zhang etal., 2003; Witvrouw et al., 2004).

A condromalacia é produzida pela açãocompressiva anormal repetida sobre a cartilagemarticular. Esta compressão anormal é derivada danão congruência e da diminuição da área decontato da articulação patelofemural (APF)quando uma subluxação ou deslocamento patelarfor causado por um relacionamento anatômico e/ou biomecânico anormal (Paar & Riel, 1982; Guoet al., 1996; Ye et al., 2001), podendo também sercausada por radiculopatia lombar e pinçamentosde nervos periféricos (Post, 1998). Uma variedadede classificações desta doença foi proposta, masa classificação mais utilizada foi descrita porOuterbridge (1961).

TABELA 1Classificação dos Graus de Condromalacia

Descrita por Outerbridge (1961).

Aspectos Estruturais e Moleculares

A cartilagem articular da patela é a maisespessa no corpo e não segue o contorno do tecidoósseo subcondral. Suas facetas articulares variamde pessoa para pessoa em tamanho, natureza, enúmero (Atik & Korkusuz, 2001; Grelsamer &Weinstein, 2001).

A literatura demonstra claramente que acartilagem articular do joelho torna-se menos espessacom a idade, mesmo na ausência de patologia, e queo quanto esta cartilagem reduz difere no gênero sexuale entre os compartimentos da articulação de joelho(Schiefke et al., 1998; Hudelmaier et al., 2001). Asalterações metabólicas e morfológicas durante oenvelhecimento da cartilagem contribuem paradesordens tróficas e deterioração da função tecidual(Schiefke et al., 1998).

A habilidade da cartilagem para igualar tensõesde contato entre superfícies articulares pode sercomprometida por ondulações no tecido ósseosubcondral e por alterações na sua composiçãoquímica. Além disto, pode ser afetada por qualquerconcentração de tensão gerada pelo excesso deatrito, o que pode reduzir seu conteúdo líquido (Adamset al., 1999). Entretanto, a degradação da cartilagemnão tem correlação com a perda de densidade ósseapatelar, sugerindo uma dissociação dos mecanismospatofisiológicos (Murphy et al., 2002).

As propriedades mecânicas do tecidoconjuntivo, como, por exemplo, a habilidade pararesistir a tensões, compressões, torções eextensibilidade, são determinadas pela proporção decomponentes da matriz extracelular (MEC) (Culav etal., 1999). A função da cartilagem articular dependeda interação entre os componentes da MEC e o fluídointersticial que tem como destino as moléculas deproteoglicanos (PGs). Estando, portanto, estemecanismo de carreamento envolvido nos processosde regulação metabólica dos condrócitos edegeneração da MEC. (Eckstein et al., 1999). Istosugere que uma importante função da superfíciearticular seja prover uma baixa permeabilidade defluídos, e, assim, sirva para restringir o fluído exsudatoe aumentar a pressurização do fluído intersticial,preservando as propriedades físicas e biológicas dotecido em situações compressivas e de suporte decarga na articulação (Ye et al., 2001).

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

32 29-37

As moléculas de PGs são l igadas,covalentemente, a cadeias laterais deglicosaminoglicanos (GAGs). Todas as moléculasde GAGs apresentam carga negativa e têmpropensão para atrair íons, criando um desequilíbrioosmótico que resulta em PGs/GAGs absorvendoágua dos tecidos adjacentes (Culav et al., 1999).O mecanismo inicial de lesão na condromalaciaencontra-se na MEC da cartilagem, onde a rede decolágeno sofre rupturas, ocorrendo, a seguir, perdade PGs. Essa degradação da MEC modifica omicroambiente dos condrócitos que se torna, porum mecanismo de feed-back, degenerativos enecrosados, da camada superficial até a profunda.A camada de cart i lagem progressivamentedesaparece e o tecido ósseo subcondral prolifera.Em estágio avançado (FIGURA 1A e 1B), acartilagem estará completamente destruída,perdendo sua capacidade regenerativa(Ye et al., 2001).

FIGURA 1 A E 1 BFace Articular da Patela Apresentando Lesão

Osteocondral

Fissuras na cartilagem articular (ponta de seta: A. preta; B.branca). Perda da cartilagem articular e lesão do tecido ósseosubcondral (Asterisco). (A partir de NOMURA E, INOUE M.Cartilage Lesions of the Patella in Recurrent Patellar Dislocation.Am J Sports Med, 2004; 32(2):498-502.

Estudos realizados por Vaatainen et al.(1995 e 1998) demonstram uma gradualdesorganização e/ou desaparecimento dos feixesde colágeno da cartilagem superficial com apresença severa da condromalacia patelar, comotambém uma depleção acentuada de PGs nacartilagem articular.

Sob condições de carga estática, a deformaçãoda cartilagem se limita à camada mais superficial,enquanto nas cargas cíclicas atinge toda a espessura

da cartilagem. Após a aplicação da carga estática, arecuperação completa de toda deformação aconteceem aproximadamente 30 minutos, mas ésignificativamente mais rápida depois da carga cíclica(Kaab et al., 1998), sugerindo que a estruturamorfológica do colágeno na cartilagem articular exibeuma deformação de zona específica, sendodependente das condições de magnitude e do tipode carga a que a articulação está sujeita.

O colágeno, presente na cartilagem articular,apresenta uma maior resistência à fadiga quandosujeito a tensões aplicadas paralelamente aosentido de seus feixes no tecido articular. Entretanto,as camadas superficial e profunda dessa cartilagemsuportam melhor as tensões do que a camada média(Bellucci & Seedhom, 2001). Danos que acometamtoda a espessura da cartilagem articular e quepenetram no tecido ósseo subcondral vascularizado(FIGURA 1B) permitem o acesso local a um nãodiferenciado grupo de células mesenquimaiscapazes de formar tecido fibrocarti laginoso(carti lagem de cicatriz). A fibrocarti lagem épredominantemente composta de colágeno tipo I eé, bioquimicamente e mecanicamente, inferior àcartilagem hialina normal ou "cartilagem articular",que é predominantemente composta de colágenotipo II (Cole & Taksali, 2000). A reversão do dano dacartilagem ou a progressão para uma condromalaciaparece estar associada com muitos fatores, comoa intensidade e freqüência do trauma, o mecanismode dano, a remodelagem intrínseca da MEC dacartilagem e a capacidade de regeneração dacartilagem (Triantafillopoulos et al., 2002).

Aspectos Morfológicos e Biomecânicos

Existem seis grandes fontes estruturais de dorpatelofemural: tecido ósseo subcondral, sinóvia,retináculos, pele, músculo e nervo. Estas estruturaspodem ser afetadas por muitos fatores, inclusivedoenças sistêmicas. Na clínica esportiva, as razõesmais comuns para a dor anterior do joelho sãooveruse, trauma e malignidade patelofemural(Fulkerson, 2002).

A patela é o maior osso sesamóide do nossocorpo, encontrando-se dentro do tendão do músculoquadríceps e se articulando com a face patelar dofêmur para formar a APF. Wiberg (1941) descreveu

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3329-37

três tipos de patela baseados na morfologia desseosso durante a observação em sentido axial(FIGURA 2). Porém, o valor de tais classificaçõesem predizer a instabil idade patelar não écomprovado.

FIGURA 2Esquema das Variações Anatômicas na Morfologia

Patelar (Vista Axial)

Tipo1.Facetas medial e lateral côncavas e equiparadas notamanho.Tipo 2.Faceta medial menor e lateral maior, ambas côncavas.Tipo 3.Faceta medial menor convexa e lateral maior côncava.

No que se refere à superfície patelar do fêmur,não foram encontrados relatos de variaçõesanatômicas. Entretanto, Merchant et al. (1974) eElias & White (2004) preconizam que o ânguloformado (ângulo do sulco) pela junção das facesmedial e lateral da superfície patelar do fêmur nofundo do sulco patelar é considerado fisiológicoquando apresenta valores entre 126º e 150º(FIGURA 3).

FIGURA 3Esquema Ilustrando o Ângulo do Sulco

(Vista Axial)

A. Plano da face articular do côndilo femural lateral.B. Plano da face articular do côndilo femural medial.C. Ãngulo do sulco.

Embora um grande número de ortopedistas doséculo XX considerasse a patela inútil, e atéprejudicial, hoje, está bem estabelecido que a patelaexerce importante função biomecânica. É umacomplexa alavanca que aumenta o braço demomento do mecanismo extensor do joelho, sendoo seu padrão de movimentação uma interação entreo músculo quadríceps, os ligamentos do joelho, oângulo Q e a morfologia óssea da patela e doscôndilos femurais (Grelsamer & Weinstein, 2001).

A estimativa do padrão clínico da força lateral,grau de força em valgo transmitida à patela com acontração do mecanismo muscular extensor dojoelho, é avaliada medindo-se o ângulo do quadríceps,(ângulo Q) formado pela angulação de uma linhatraçada entre a espinha ilíaca anterior superior (EIAS),o ponto central da patela e a tuberosidade da tíbia(FIGURA 4) (Insall et al., 1976), sendo os valoresnormais 10°±5° para homens e 15°±5° para mulheres.Um ângulo Q aumentado significa força lateral maiorexercida sobre a patela. Este fato pode, então, auxiliara explicar a propensão da patela para instabilidadelateral (Elias & White, 2004).

FIGURA 4Esquema Ilustrando o Ângulo Q

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

34 29-37

Deslocando o fulcro de movimento domecanismo extensor do joelho para o fêmur, a APFproduz uma vantagem mecânica, aumentando aforça do músculo quadríceps na extensão do joelho.Por causa disto, considerável força é transmitidaatravés da APF, força esta que pode variar demetade do peso corporal durante a deambulaçãoaté 25 vezes o peso do corpo quando se ergue umdeterminado peso com os joelhos fletidos a 90º(Egund & Ryd 2002; Elias & White, 2004).

Na extensão total do joelho, a patela estáposicionada proximamente aos côndilos femuraise a crista mediana da patela, lateral ao centro dosulco patelar do fêmur. Durante a flexão, a patelaentra no sulco patelar aproximadamente aos 15° a20° de flexão. Quando a patela ocupa o sulcopatelar, a crista dos côndilos tem a função de guiae suporte para prevenir as translações da patelano sentido lateral (Fulkerson et al., 1997). A áreade contato entre a patela e os côndilos aumenta àmedida que a flexão é realizada. Movimentos levesde rotação e inclinação da patela são vistos duranteos sete cm (aproximadamente) de deslocamentoda patela entre a total flexão e extensão (Buckwalteret al., 2000).

Além da morfologia óssea, a restrição detecido mole é crítica para a estabilidade daarticulação. O ligamento patelar e os retináculosmedial e lateral formam o grupo de estabilizadorespassivos da patela. Os retináculos são divididosem camada profunda e superficial em ambos oslados (Fulkerson & Gossling, 1960; Warren &Marshall, 1979). As camadas superficiais dosretináculos estabilizam a patela e o ligamentopatelar, estendendo-se para a fáscia do sartóriomedialmente e para o fáscia do tracto iliotibiallateralmente. As camadas profundas contêmespessamentos que formam ligamentos, provendosignificante estabilização e suporte para a patela(Elias & White, 2004). No lado medial, o ligamentopatelofemural medial é um espessamento fascialda camada profunda do retináculo medial, tendo jásido demonstrado como o estabilizador passivomais efetivo na prevenção dos deslocamentoslaterais da patela (Conlan et al., 1993). Esteligamento origina-se entre o tubérculo adutor e oepicôndilo medial do fêmur e estende-se,anteriormente, até inserir-se nos 2/3 superiores da

margem medial da patela. Durante este trajeto, fixa-se em algumas fibras inferiores e profundas domúsculo vasto medial (Warren & Marshall, 1979;Desio et al., 1998). Em posição inferior ao ligamentopatelofemural medial, os ligamentos patelomeniscale patelotibial desempenham um papel secundáriona restrição medial da patela. Lateralmente, acamada profunda consiste no l igamento,transversal, que se estende do tracto iliotibial até amargem lateral da patela. Acima deste ligamento,estende-se o feixe epicondilo-patelar e, abaixo, ofeixe patelo-tibial.

Todos os quatro músculos componentes doquadríceps formam o grupo de estabilizadoresativos da patela. Particularmente, as porçõesinferiores dos músculos vasto medial e lateralformam pequenos grupos de músculos com umaorientação oblíqua distinta de suas fibras, osmúsculos vasto medial oblíquo (VMO) e o vastolateral oblíquo (VLO). Provendo forças ativas, estesmúsculos contêm a patela nas direções medial elateral, respectivamente (Elias & White, 2004), e,por este motivo, encontra-se na literatura autoresdescrevendo a musculatura do compartimentoanterior da coxa como sendo composta por seis enão mais quatro músculos. O músculo VMO é aporção mais medial do músculo vasto medial e éum estabilizador dinâmico importante. O ânguloalto de inserção do VMO no lado medial da patelagera resistência à translação lateral patológica. Aexcessiva debilidade ou lesão do VMO pode levarà instabilidade lateral da patela sendo, portanto, fatorde risco para patologias da APF (Garth et al., 1996),como, por exemplo, a condromalacia.

Biomecanicamente, a APF centraliza quatroforças divergentes do músculo quadríceps e agecomo um fulcro para aumentar a eficiência domecanismo extensor. O tendão do quadríceps e oligamento patelar exercem, principalmente, forçacompressiva posterior que mantêm a patela emcontato com o fêmur. O resultante de força reativada APF depende do ângulo de flexão do joelho eda magnitude da força no ligamento patelar etendão do quadríceps. A crescente flexão do joelhoou da força do tendão do músculo extensor,pr incipalmente agachando ou sal tando,aumentará a força compressiva (Cosgarea et al.,2002).

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3529-37

ADAMS MA, KERIN AJ, BHATIA LS, CHAKRABARTYG, DOLAN P. Experimental determination of stressdistributions in articular cartilage before and aftersustained loading. Clin Biomech 1999;14(2):88-96.

AGLIETTI P, INSALL JN, CERULLI G. Patellar pain andincongruence. Measurements of incongruence. ClinOrthop 1983;176:217-24.

ASPLUND C, PIERRE PS. Knee Pain and Bicycling.Phys Sportsmed 2004; 32(4).

ATIK OS, KORKUSUZ F. Surgical repair of cartilagedefects of the patella. Clin Orthop 2001;(389):47-50.

BELLUCCI G, SEEDHOM BB. Mechanical behaviourof articular cartilage under tensile cyclic load.Rheumatology 2001; 40(12):1337-45.

CONCLUSÕES

O desequilíbrio da relação patelofemural poderesultar de uma combinação de variáveis nageometria óssea, função ativa e passiva dos tecidosmoles, restrições e demandas funcionais. Comoresultado, temos tensões desfavoráveis e diminuiçãoda força muscular, excedendo o limite fisiológico dostecidos e podendo resultar em dano à cartilagem,alterações degenerativas, excesso de tensão nasestruturas ligamentares, falha mecânica e desviosposturais da patela.

O atleta com dor patelofemural necessita de umexame físico preciso, baseado em uma anamnesecompleta, de maneira que possibilite a elaboração deprotocolo preventivo adequado para deter a progressãodo processo degenerativo, impedindo a evolução paraum quadro de condromalacia e uma futura cirurgia.Nos casos de diagnóstico confirmado decondromalacia, dependendo do estágio da lesãocondral, o atleta provavelmente estará incapacitadopara o desporto de alto nível. Entretanto, estesindivíduos não devem desistir de sua atividade física,

pois diversos autores (Aglietti et al., 1983; Broom &Fulkerson, 1986; Fulkerson, 1997 e Witvrouw et al.,2000) afirmam que, quando bem empregada, aatividade física pode ser muito importante e contribuipara a melhoria da função muscular, sendorecomendada nos programas de prevenção etratamento. Fato que contempla a inclusão definitivado Professor de Educação Física no contextoterapêutico da área da saúde, gerando a necessidadede um conhecimento fisiopatológico mais apurado daslesões osteomioarticulares, caso contrário oscurrículos de Educação Física tornar-se-ão defasadosem relação à sua demanda ocupacional.

Endereço para correspondência:Prof. Fabio Alves Machado

Seção de Saúde - DPEPAv. João Luiz Alves s/nº (Forte São João)

Urca - Rio de Janeiro (RJ) - BRASILCEP 22291-090

Tel: (21) 2543-3323 Ramal 2061E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BROOM MJ, FULKERSON JP. The plica syndrome: A newperspective. North Am Orthop Clin 1986; 17:279-81.

BUCKWALTER JA, EINHORN TA, SIMON SR.Orthopaedic Basic Science: Biology andBiomechanics of the Musculoskeletal System, 2 ed.Rosemont, IL, American Academy of OrthopaedicSurgeons 2000;730-827.

COLE BJ, TAKSALI S. Keeping aging adults active:Operative treatment options. Phys Sports Med, SpecialReport 2000;20-30.

CONLAN T, GARTH WPJ, LEMONS JE. Evaluationof the medial soft-tissue restraints of the extensormechanism of the knee. Am J Bone Joint Surg 1993;75:682-93.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

36 29-37

COSGAREA AJ, BROWNE JA, KIM TK, MCFARLANDEG. Evaluation and Management of the UnstablePatella. Phys Sportsmed 2002;30(10).

CULAV EM, CLARCK CH, MERRILEES MJ.Connective tissues: matrix composition and itsrelevance to physical therapy. Phys Ther1999;79:308-19.

DESIO SM, BURKS RT, BACHUS KN. Soft-tissuerestraints to lateral patellar translation in the humanknee. Am J Sports Med 1998; 26:59-65.

ECKSTEIN F, TIESCHKY M, FABER S, ENGLMEIERKH, REISER M. Functional analysis of articularcartilage deformation, recovery, and fluid flowfollowing dynamic exercise in vivo. Anat Embryol 1999;200(4):419-24.

EGUND N, RYD L. Patellar and quadricepsmechanism. In: DAVIES, A. M. Imaging of the knee,1st ed. Berlin: Springer-Verlag 2002; 217-48.

ELIAS DA, WHITE LM. Imaging of patellofemoraldisorders. Clin Radiol 2004; 59(7):543-57.

FULKERSON JP. Anterolateralization of the tibialtubercle. Tech Orthop 1997; 12:165-9.

FULKERSON JP. Diagnosis and treatment of patientswith patellofemoral pain. Am J Sports Med 2002;30:447-56.

FULKERSON JP, BUUCK DA, POST WR. Disordersof the Patellofemoral Joint. 3ª ed. Baltimore: Williams& Wilkins, 1997.

FULKERSON JP, GOSSLING HR. Anatomy of theknee joint lateral retinaculum. Clin Orthop 1960;153:183-8.

GARTH WPJ, POMPHREY MJ, MERRILL K. Functionaltreatment of patellar dislocation in an athletic population.Am J Sports Med 1996; 24(6): 785-91.

GRELSAMER RP, WEINSTEIN CH. Appliedbiomechanics of the patella. Clin Orthop 2001;(389):9-14.

GUO K, YE Q, LIN J, SHEN J, YANG X. Selectivetraining of the vastus medialis muscle using electricalstimulator for chondromalacia patella. Zhongguo YiXue Ke Xue Yuan Xue Bao 1996;18(2):156-60.

HUDELMAIER M, GLASER C, HOHE J, ENGLMEIERKH, REISER M, PUTZ R, ECKSTEIN F. Age-relatedchanges in the morphology and deformationalbehavior of knee joint cartilage. Arthritis Rheum 2001;44(11):2556-61.

INSALL J, FALVO KA, WISE DW. Chondromalaciapatellae. A prospective study. J Bone Joint Surg Am1976;58:1-8.

KAAB MJ, ITO K, CLARK JM, NOTZLI HP. Deformation ofarticular cartilage collagen structure under static and cyclicloading. J Orthop Res 1998; 16(6):743-51.

KANNUS P, AHO H, JÄRVINEN M. Computerizedrecording of visits to na outpatients sports clinic. AmJ Sports Med 1987; 15:79-85.

LYSENS RJ, DE WEERDT W, NIEUWBOER A.Factors associated with injury proneness. Sports Med1991; 12:281-9.

MACARINI L, PERRONE A, MURRONE M, MARINIS, STEFANELLI M. Valutazione della condropatiarotulea con RM: confronto tra sequenze FSESPIR T2 e GE MTC. Radiol Med 2004; 108:159-71.

MAFFULLI N. Anterior knee pain: an overview ofmanagement options. In: PUDDU, G., GIOMBINI,A., SELVANETTI, A. Rehabilitation of SportsInjuries. Berl in, Germany: Springer-Verlag,2001;148-53.

MERCHANT AC, MERCER RL, JACOBSEN RH,COOL CR. Roentgenographic analysis ofpatellofemoral congruence. Am J Bone Joint Surg1974; 56:1391-6.

MILGROM C, KEREM E, FINESTONE A.Patellofemoral pain caused by overactivity. Aprospective study of risk factors in infantry recruits. JBone Joint Surg 1991;73A:1041-3.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

3729-37

MOORE KL, DALLEY AF. Anatomia Orientada paraa Clínica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2001.

MURPHY E, FITZGERALD O, SAXNE T,BRESNIHAN B. Increased. Serum carti lageoligomeric matrix protein levels and decreasedpatellar bone mineral density in patients withchondromalacia patel lae. Ann Rheum Dis2002;61(11):981-5.

NOMURA E, INOUE M. Cartilage Lesions of thePatella in Recurrent Patellar Dislocation. Am JSports Med 2004;32(2):498-502.

OUTERBRIDGE R. The et io logy ofchondromalacia patellae. Br J Bone Joint Surg1961; 43B:752-7.

PAAR O, RIEL KA. Patella dislocation with specialreference to cartilage damage. Chirurg 1982;53(8):508-13.

POST WR. Patellofemoral Pain: Let the PhysicalExam Define Treatment. Phys And Sportsmed1998; 26(1):24-32.

SCHIEFKE I, WEISS J, KELLER F, LEUTERT G.Morphological and histochemical ageing changesin patellar articular cartilage of the rat. Anat Anz1998; 180(6):495-500.

SOREN A, FETTO JF. Chondropathia patellae. ArchOrthop Trauma Surg 1997; 116(6-7):362-6.

THE INTERNATIONAL PATELLOFEMORAL STUDYGROUP. Patellofemoral semantics: the Tower ofBabel. Am J Knee Surg 1997; 10(2):92-95.

TRIANTAFILLOPOULOS IK, PAPAGELOPOULOSPJ, POLITI PK, NIKIFORIDIS PA. Articular changesin experimentally induced patellar trauma. KneeSurg Sports Traumatol Arthrosc 2002; 10(3):144-53.

VAATAINEN U, HAKKINEN T, KIVIRANTA I, JAROMAH, INKINEN R, TAMMI M. Proteoglycan depletion andsize reduction in lesions of early gradechondromalacia of the patella. Ann Rheum Dis1995; 54(10):831-5.

VAATAINEN U, KIVIRANTA I, JAROMA H, AROKOSIJ, TAMMI M, KOVANEN V. Collagen crosslinks inchondromalacia of the patella. Int J Sports Med1998; 19(2):144-8.

ZHANG H, KONG XQ, CHENG C, LIANG MH. Acor re la t ive s tudy between preva lence o fchondromalacia patellae and sports injury in4068 s tudents . Ch in J Traumato l , 2003;6(6):370-4.

YE QB, WU ZH, WANG YP, LIN J, QIU GX.Preliminary investigation on the pathogeny,diagnosis and treatment of chondromalacia patella.Zhongguo Yi Xue Ke Xue Yuan Xue Bao 200123(2):181-3.

WARREN LF, MARSHALL JL. The supportingstructures and layers on the medial side of the knee:an anatomical analysis. Am J Bone Joint Surg1979;61:56-62.

WIBERG G. Roentgenographic and anatomicstudies on the femoropatellar joint. Acta OrthopScand 1941;12:319-410.

WITVROUW E, DANNEELS L, VAN TIGGELEN D,WILLEMS TM, CAMBIER D. Open Versus ClosedKinetic Chain Exercises in Patellofemoral Pain A5-Year Prospective Randomized Study. Am JSports Med 2004; 32(5):1122-30.

WITVROUW E, LYSENS R, BELLEMANS J,CAMBIER D, VANDERSTRAETEN G. Intrinsic RiskFactors For the Development of Anterior KneePain in na Athlet ic Populat ion A Two-YearProspective Study. Am J Sports Med 2000;28(4):480-9.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

38 38-44

CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE DE JUDOCASBRASILEIROS DE ALTO-RENDIMENTO

Maurício Gattás Bara Filho1

Luiz Carlos Scipião Ribeiro2

Josué Morrison de Moraes3

Félix Guillén Garcia4

1-Universidade Federal de Juiz de Fora-MG - Brasil; 2-Infoteste do Brasil-RJ - Brasil; 3-Confederação Brasileirade Judô/ Universidade Estácio de Sá-RJ - Brasil 4-Universidad de Las Palmas de Gran Canaria - Espanha

RESUMO

Os objetivos do presente estudo foramcomparar características da personalidade entrejudocas brasileiros de alto-rendimento, de ambos ossexos, e correlacionar estas características com otempo de treinamento dos atletas. O grupo amostralfoi composto por sessenta e nove atletas (n= 69, 31homens e 38 mulheres), participantes do CircuitoOlímpico da Conferação Brasileira de Judô (2003),idade média de 19,47±1,87, que se apresentaram,voluntariamente, para o estudo. Utilizou-se o FPI-R(Inventário de Personalidade de Freiburg) comoinstrumento de personalidade. Foram encontradasdiferenças significativas (p<0,05) nas variáveis auto-realização, irritabilidade, extroversão e queixas físicas

entre atletas homens e mulheres. No entanto, não seobservou nenhuma correlação significativa entre asvariáveis da personalidade estudadas com o tempode treinamento dos atletas. Conclui-se que há umacerta homogeneidade do grupo de judocas, de ambosos sexos, na maioria das variáveis psicológicasestudadas. No entanto, as diferenças estatisticamentesignificativas foram encontradas em quatro variáveis(auto-realização, irritabilidade, queixas físicas eextroversão) indicando haver distinções nas variáveisda personalidade entre os diferentes grupos (homense mulheres) de atletas judocas.

Palavras-chave: judô, personalidade, gênero, alto-rendimento.

PERSONALITY CHARACTERISTICS OF HIGH-LEVEL BRAZILIAN JUDO ATHLETES

Abstract

The present study aimed to evaluate thepersonality characteristics of high-level Brazilian judoathletes, trying to verify the existence of similaritiesand differences between male and female athletesand correlate the personality variables with the athletes'years of training. The sample was composed of sixty-nine judo athletes (31 men and 48 women) whoparticipate in the Olympic Circuit organized by theBrazilian Judo Confederation, with a mean age of

19,47±1,87 years old. The FPI-R (Freiburg PersonalityInventory) was used to evaluate personality.Significant differences (p<0,05) were found in thevariables life satisfaction, irritability, extraversion andphysical complaints between men and women.Significant differences were not observed in thecorrelation between personality variables and yearsof training. It can be concluded that there is a degreeof homogenity in the personality characteristics ofBrazilian male and female judo athletes. However,since significant differences were found in fourvariables, there are indications of distinctions inpersonality variables between the judo athletes fromboth groups.

Key-words: judo, personality, gender, high-level.__________Recebido em 16/02/2004. Aceito em 10/03/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

39

INTRODUÇÃO

O judô brasileiro é uma modalidade quesempre vem conquistando importantes medalhasem competições internacionais e colocações devulto em âmbito internacional em todas ascategorias. Entre estes dados, destaca-se o fatode ser o único esporte que ganhou medalhas nasseis últimas edições dos Jogos Olímpicos, de LosAngeles (1984) a Atenas (2004).

Entre as principais medalhas conquistadas,devem ser ressaltados os ouros olímpicos deAurélio Miguel, nos Jogos de Seul (1988), e, deRogério Sampaio, em Barcelona (1992). Estesresultados, juntamente com diversos outros,quali f icam o judô brasi leiro como uma daspotências mundiais na modalidade.

Para a conquista de resultados superiores,o treinamento desportivo vem evoluindo atravésde ciências como a f is io logia do esporte,bioquímica, medicina do exercício, biomecânica,sociologia e a psicologia do esporte. A melhoriadas qual idades técnicas, tát icas, f ís icas epsicológicas são necessidades do processo detreinamento desportivo e necessitam ser, cadavez mais, cientificamente estudadas para que osatletas tenham o maior número de benefícios eum número mínimo de malefíc ios na vidaesportiva.

A relação personalidade e esporte tem sidouma das áreas de investigação mais exploradasna psicologia do esporte. O volume de pesquisase artigos publicados sobre o tema demonstra suaimportância para pesquisadores, profissionaisenvolvidos no esporte e atletas (Hernández-Ardieta, Lopez, Dolores e Ruiz, 2002; Vealey, 1992;Weinberg e Gould, 1995).

Especialistas neste tema como Junge,Dvorak, Rosch, Graf-Baumann, Chomiak ePeterson (2000), Morris (2000), O'Connor (1996),Samulski (2002), Weinberg e Gould (1995) eWilliams e Reilly (2000) enfatizam que a relaçãoainda apresenta diversas lacunas no

conhecimento científico, não existindo evidênciascientíficas de perfis de personalidade entre gruposde atletas de determinadas modalidades, bemcomo apontam uma escassez de estudos queauxil iem na determinação de diferenças decaracterísticas psicológicas entre atletas jovense atletas de alto-rendimento.

Mais recentemente, muitos estudos têm sidopublicados sobre o tema da personalidade noesporte, objetivando traçar perfis de determinadogrupo, comparar di ferentes modal idades eresponder algumas dúvidas sobre o tema (Dineen,2003; Dunn e Syrotuik, 2003; Hughes, Case,Stuempfle e Evans, 2003, Kjormo e Halvari, 2002).

Juntamente a esses fatores, pode-se incluira dificuldade de se estabelecer os métodos einstrumentos mais adequados para o estudo dapersonalidade de atletas. Os instrumentos podemdeterminar características de determinadosindivíduos ou grupo de atletas, mas, dificilmente,explicam os comportamentos e reações deles nassituações de treinamentos e competições.

Devido à complexidade do tema, defini-lo nãose constitui em uma tarefa das mais simples.Uma definição de personalidade, que mais vemsobrevivendo aos avanços do tema durante osanos, é de Allport (1937, apud Cox, 1994: 21)preconizando que a personal idade é "aorganização dinâmica de sistemas psicofísicos doindivíduo que determinam ajustes únicos ao seuambiente"1.

Mais recentemente, Hernández-Ardieta etal. (2002:106) definiram a personalidade como"o rgan ização ma is ou menos es táve l eduradoura do ca rá te r, t emperamento ,in te l igênc ia e const i tu ição f ís ica de umapessoa que determina sua forma peculiar dese ajustar ao ambiente e interagir com ele"2.

Nota-se que ambas as definições nãocons ide ra ram somente ca rac te r í s t i caspsicológicas, incluindo, também, as físicas,denotando uma maior complexidade através dainteração de diferentes variáveis.

____________________1 "is the dynamic organization within the individual of those psychophysical systems that determine his unique ajustments to

his environment"2 "la organización más o menos estable y duradera del carácter, temperamento, inteligencia y constituición física de una

persona que determina su forma peculiar de ajustarse al ambiente e interaccionar com él"

38-44

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

40 38-44

A existência de um perfil de personalidade parao atleta competitivo tem sido um tema de muitascontrovérsias entre os estudiosos. Vealey (1992) jáafirmava que a personalidade do atleta não-existe, poisnão existem diferenças distinguíveis entre atletas enão-atletas, fato este confirmado, também, por Morris(2000).

Contrapondo os autores mencionadosanteriormente, Butt (1987) e Saint-Phard, Van Dorsten,Marx e York (1999) mencionam que o atletacompetitivo possui algumas característicaspsicológicas que o diferenciam de outras populações.Entre essas diferenças, consideram que os atletaspossuem uma maior estabilidade emocional, sãomais extrovertidos e auto-confiantes, possuindo umamaior resistência mental.

Entre os estudos que compararam ascaracterísticas da personalidade de atletas de ambosos sexos, alguns indicaram a existência de muitassemelhanças entre homens e mulheres (Cox, 1994;Cox e Liu, 1993; Hernandez-Ardieta et al., 2002;Weinberg e Gould, 1995). No entanto, outrosestudiosos como Pedersen (1997) apontaram queatletas homens se diferenciam das mulheres porapresentarem índices mais altos de agressividade,serem mais competitivos e controlados. As atletasdiferenciavam-se por serem mais organizadas e maisorientadas para o objetivo determinado. Estudosrecentes foram realizados comparando grupos deatletas homens e mulheres (Anshel e Eom, 2003;Burnik, Jug e Tusak, 2002; Pappalardo, Festuccia ePesce, 2001) e, ainda assim, os resultados não semostram consistentes.

Considerando as características demodalidades como o judô, foco do presente estudo,Backmand, Kaprio, Kujala e Sarna (2001) apontaramque atletas de lutas, de modalidades de força e deesportes coletivos são mais extrovertidos que osdemais. Ao contrário, atletas de resistência eatiradores apresentam menor tendência aoneuroticismo quando comparados aos lutadores.

Contudo, O'Sullivan, Zuckerman e Kraft (1998)indicam a escassez de estudos comparandomodalidades de contato e não-contato físico, o quedecorre do fato de existirem resultados aindainconclusivos e uma gama de variáveis estudadas,indicando a existência de uma lacuna doconhecimento sobre personalidade que estabeleçaeste tipo de comparação.

Diante do quadro exposto, o presente estudoobjetivou comparar características da personalidadeentre judocas brasileiros de alto-rendimento, de ambosos sexos, e correlacionar estas características como tempo de treinamento dos atletas.

METODOLOGIA

Amostra

Sessenta e nove judocas de ambos os sexos(n= 69, 31 homens e 38 mulheres), participantes doCircuito Olímpico da Conferação Brasileira de Judô(2003), idade média de 19,47± 1,87, apresentaram-se voluntariamente para o estudo.

A representatividade da amostra pode serexplicada pelo fato dos atletas estarem entre os oitomelhores atletas do Brasil, na categoria sub-23, noperíodo da pesquisa.

Instrumento da pesquisa

O instrumento utilizado foi o Inventário dePersonalidade de Freiburg (FPI) na sua versão revista,contendo 138 questões, com possibilidades derespostas entre concordo e não concordo, sendoaplicado uma única vez. As seguintes variáveis foramestudadas: auto-realização, espírito humanitário,empenho laboral, inibição, irritabilidade,agressividade, fatigabilidade, queixas físicas,preocupação com a saúde, sinceridade, extroversãoe emotividade.

Para o cálculo do tempo de treinamento,estabeleceu-se a data do primeiro campeonatodisputado pelo atleta nas categorias de base comofederado.

Análise Estatística

Para verificar a existência de característicasda personalidade nos atletas de judô, utilizou-se aestatística descritiva (média e desvio-padrão) parao comportamento de cada variável do estudo.Posteriormente, aplicou-se o teste "t" de Student paraverificação das diferenças entre as médias de cadacategoria por sexo e o índice de correlação dePearson para verificar as relações entre as variáveisdo instrumento e o tempo de treinamento dosjudocas.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

4138-44

RESULTADOS

A TABELA 1 e a FIGURA 1 demonstram osresultados descritivos das variáveis da personalidadedo grupo e os resultados do teste "t" de Student,separando os atletas por seu respectivo sexo,feminino e masculino.

TABELA 1Média e desvio-padrão das variáveis da

personalidade (Média ± Desvio-padrão em pontos/** p < 0,05)

FIGURA 1Média das variáveis da personalidade de atletas dossexos masculino e feminino. (AR- Auto-realizaçao;EH - Espírito Humanitário; EL- Empenho Laboral;

IN- Inibiçao; IR- Irritabilidade; AG- Agressividade; FA-Fatigabilidade; QF- Queixas Físicas; PSA-

Preocupaçao com a saúde; SI- Sinceridade; EX-Extroversao; EM- Emotividade). (***p<0,05)

Pode ser observada, na TABELA 1 e naFIGURA 1, a existência de algumas diferenças entreas médias das variáveis de persanalidade entrejudocas homens e mulheres. As características dapersonalidade que apresentaram maioresdiferenças entre as médias foram auto-realização(7,68 e 6,20 pontos para homens e mulheres,

respectivamente), queixas físicas (2,35 e 4,16pontos) e extroversão (10,97 e 9,29 pontos). Ascom menores variações médias foram empenholaboral (8,19 e 8,24 pontos para homens emulheres, respectivamente), fatigabilidade (5,68 e5,97 pontos) e preocupação com a saúde (6,26 e6,29 pontos).

As três variáveis que apresentaram maioresdiferenças - auto-realização, queixas físicas eextroversão, juntamente com irritabilidade, foram asquatro que apresentaram diferenças estatisticamentesignificativas (p<0,05) após a aplicação do teste "t"de Student. Esses resultados demonstram haverdiversas particularidades entre os sexos dos atletaspraticantes de judô.

Para completar a anál ise estat ís t ica,calculou-se o índice de correlação de Pearsonpara avaliar as relações existentes entre cadavariável da personalidade do instrumento com otempo de treinamento dos atletas, desde o iníciode suas carreiras esportivas até o momento dacoleta de dados. A TABELA 2 demonstra osresultados, observando-se não haver nenhumíndice de correlação considerável entre asvariáveis assinaladas (-0,262 < r < 0,313; p >0,05).

TABELA 2Correlações de Pearson (r) entre as variáveis do

FPI com tempo de treinamento e nível deperformance

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

42 38-44

DISCUSSÃO

Os at le tas do sexo mascul inoapresentaram-se com escores mais elevadosnas variáveis auto-realização e extroversão,caracter izando-se como mais conf iantes,extrovertidos e impulsivos que as mulheres.Estas, no entanto, apresentaram escores maisaltos nas variáveis irritabilidade e queixas físicas,caracterizando-se como mais sensíveis, menosserenas e com uma maior quantidade de queixasfísicas que o grupo masculino.

Esses resultados indicam que realmenteexistem diferenças de características psicológicasentre esses dois tipos de atletas, não sendo estaconstatação feita sem bases científicas. Todavia,estas diferenças não são muitas entre os judocas,indicando que este grupo de at letas podeapresentar algumas características que possamdescrevê-los como um todo.

Estes dados, de certa forma, estão deacordo com os estudos de Cox (1994), Cox e Liu(1993), Hernandez-Ardieta al. (2002) e Weinberge Gould (1995) que sugerem a existência depoucas diferenças entre homens e mulheres.Portanto, os dados do presente estudo secontrapõem ao estudo de Pedersen (1997) queindicava diferenças entre homens e mulheres.

A pouca correlação existente entre ascaracterísticas da personalidade e o tempo detreinamento dos judocas pode significar umaestabilidade das variáveis de personalidade,mesmo quando confrontadas a outras. Assim,estas tendem a se manter estáveis durante váriosanos. No entanto, estes dados devem ser melhoranalisados através de um coleta de dados comatletas de anos de treinamentos mais distintos,pois o tempo médio foi 8,99± 3,54 anos, o quedemonstra, de certa forma, uma homogeneidadedo grupo quando considerada esta variável.

Para que futuras comparações sejamrealizadas, a fim de executar investigações como

a de Backmand et al. (2001), que comparouatletas de lutas com praticantes de esportescoletivos, sugere-se que outras modalidades -natação, futebol, ginást ica art íst ica, GRD,basquete, vo le ibol - se jam estudadas ecomparadas com atletas de judô, bem como quesejam estabelecidas análises entre todas asmodalidades.

O presente estudo vem contribuir e auxiliara preencher uma lacuna no conhecimento dosestudos da personalidade no esporte, conformeindicado por O'Sull ivan, Zuckerman e Kraft(1998), em relação à escassez de estudos entremodalidades de contato e não-contato físico.

CONCLUSÕES

Entender o atleta de alto-rendimento e suaspeculiaridades psicológicas é uma das tarefasmais árduas para que a Psicologia do Esportepossa auxiliar a evolução do esporte, na buscaconstante de resultados cada vez mais evoluídos.Os resultados do presente estudo demonstraramuma certa homogeneidade do grupo de judocasde ambos os sexos na maioria das variáveispsicológicas estudadas. No entanto, diferençasestat is t icamente s ign i f icat ivas foramencontradas em quatro var iáveis (auto-real ização, irr i tabi l idade, queixas físicas eextroversão), indicando haver distinções entre osdiferentes grupos (homens e mulheres) deatletas judocas.

No entanto, como não foram observadasdiferenças significativas entre os grupos em oitodas doze variáveis, estes dados indicam que osjudocas possuem alguns t raços dapersonalidade semelhantes.

Considerando as baixas corre laçõesencontradas entre todas as var iáveis dapersonalidade do presente estudo com o tempode treinamento, estes resultados indicam, por umlado, que estas características psicológicas são

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

4338-44

sólidas e estáveis. Isto sugere, de certa forma,que as var iáveis ps ico lógicas podem serferramentas válidas para auxiliar no processo dedetecção de talentos esportivos.

Recomendações para futuras pesquisas:

• invest igar var iáveis ps ico lógicasdeterminantes na escolha da modalidadee na identificação de talentos esportivos,recordando, sempre, que as variáveispsicológicas constituem somente umaparte de uma avaliação deste porte,necessitando, também, da análise devariáveis físicas, fisiológicas, culturais esociais, dentre outras.

• Analisar um grupo mais heterogêneo queo do presente estudo quando se relacionaras variáveis da personalidade com osanos de treinamento dos atletas.

ANSHEL MH, EOM HJ. Exploring the dimensionsof perfectionism in sport. Int J Sports Psychol2003; 34: 255-71.

BACKMAND H, KAPRIO J, KUJALA U, SARNA S.Personality and mood of former elite athletes-adescriptive study. Int J Sports Med 2001; 22: 215-21.

BURNIK S, JUG S, TUSAK M. Personality traits ofSlovenian female and male mountain climbers.Kinesiology 2002; 34: 153-62.

BUTT DS. Personality of the athlete. In: BUTT DS,editor. The Psychology of Sport. New York: VNR,1987; 95-105.

COX RH. Sport Psychology: concepts andappl icat ions. 2nd ed. Dubuque: Brown &Benchmark, 1994.

COX RH, LIU Z. Psychological skills: a cross culturalinvestigation. Int J Sport Psychol 1993; 24: 326-40.

DINEEN R. Personality characteristic differencesof university student-athletes and non-athletes(PhD dissertation). Eugene (OR): University ofOregon; 2003.

DUNN JGH, SYROTUIK DG. An investigation ofmultidimensional worry dispositions in a highcontact sport. Psychol Sport Exer 2003; 4:265-82.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• Comparar at le tas de d i ferentesmodalidades esportivas.

Finalmente, o estudo tem como objetivomaior poder auxiliar treinadores, preparadoresfísicos, psicológos esportivos e atletas de judôcom dados científicos que possam ser úteis nostreinamentos e competições, na incessantebusca por melhores resul tados em umamodalidade que sempre nos presenteia cominúmeras medalhas em Campeonatos Mundiais,Jogos Panamericanos e Olímpicos.

Endereço para correspondência:Maurício Gattás Bara Filho

Rua São Sebastião - 1295/901Juiz de Fora - MG

CEP: 36015-410Tel: (32) 32137260

e-mail: [email protected]

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

44 38-44

HERNANDEZ-ARDIETA IP, LOPEZ JC,DOLORES M, RUIZ EJG. Persona l idad,diferencias individuales y ejecución deportiva. In:ZAFRA A, RUIZ HJ, GARCIA GN, coordenadores.Manual de Psicología del deporte. Murcia: DM,2002; 105-23.

HUGHES SL, CASE HS, STUEMPFLE KJ,EVANS DS. Personality profiles of IditasportUltra-Marathon participants. J Applied SportsPsychol 2003; 15: 256-61.

JUNGE A, DVORAK J, ROSCH D, GRAF-BAUMANN T, CHOMIAK J, PETERSON L.Psycho log ica l and Spor t -Spec i f i cCharacteristics of Football Players. Am J SportsMed 2000; 28(5): S22-S28.

KJORMO O, HALVARI H. Two ways related toperformance in elite sport: The path of self-confidence and competitive anxiety and the pathof group cohesion and group goal-c lar i ty.Percept Mot Skills 2002; 94: 950-66.

MORRIS T. Psychological characteristics andtalent identification in soccer. Sports Sci 2000;18: 715-26.

O'CONNOR PJ. Aspectos psicológicos delrendimiento de resistencia. In: SHEPHARD RJ,ASTRAND PO, editors. La Resistencia en eldeporte. Barcelona: Paidotribo, 1996; 149-56.

O'SULLIVAN D, ZUCKERMAN M, KRAFT M.Personality characteristics of male and femaleparticipants in team sports. Pers Individ Dif 1998;25:119-28.

PAPPALARDO A, FESTUCCIA E, PESCE C.Differenze di genere nel profilo internazionale diatleti praticanti pallavolo. Movimento 2001;17: 27-30.

PEDERSEN DM. Perceived traits of male andfemale athletes. Percept Mot Skills 1997 85: 547-50.

SAINT-PHARD D, VAN DORSTEN B, MARX RG,YORK KA. Self-perception in elite collegiatefemale gymnastics, cross-country runners andtrack-and-field athletes. Mayo Clin Proc 1999;74: 770-4.

SAMULSKI DM. Psicologia do esporte: teoriae aplicação prática. 2ª ed. Barueri: Manole,2002.

VEALEY RS. Persona l i t y and Spor t : acomprehensive v iew. In : Horn TS, ed i tor.Advances in Sport Psychology. Champaign:Human Kinetics, 1992; 25-59.

WEINBERG RS, GOULD D. Foundations ofSpor t and Exerc ise Psycho logy. 1s t ed .Champaign: Human Kinetics, 1995.

WILLIAMS AM, REILLY T. Talent identification insoccer. J Sports Sci 2000; 18: 657-67.

Agradec imen tos - a todos os judocasbrasileiros que participaram da coleta de dadosvoluntariamente e ao Sr. Paulo Wanderley -Presidente da Confederação Brasileira de Judô- que permitiu e incentivou que este estudofosse real izado dentro de uma competiçãooficial.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

4545-51

A DERMATOGLIFIA E A SOMATOTIPOLOGIA NO ALTORENDIMENTO DO BEACH SOCCER - SELEÇÃO BRASILEIRA

Edesio Fazolo1; Patrícia G. Cardoso1; Walter Tuche1; Iris C. Menezes1; Maria Elizabeth S. Teixeira1;Maria de Nazaré D. Portal1; Rodolfo M. A. Nunes3; Gilberto Costa; Paulo M. S. Dantas2, 3; José

Fernandes Filho1.

1. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade CasteloBranco - Rio de Janeiro - Brasil.

2. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Saúde Universidade do Rio Grande doNorte - Natal - Brasil.

3. Laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade Estácio de Sá - Niterói - Brasil

Resumo

Os resultados alcançados pela seleção brasileirade beach soccer refletem o nível de qualificação alcançadopelos praticantes desta modalidade esportiva no Brasil,apesar de seu pouco tempo de existência. Para amanutenção deste quadro pelas futuras gerações, torna-se importante conhecer, cada vez mais profundamente, amodalidade nos aspectos técnico e tático, bem como nosfuncionais e genéticos, buscando diagnosticar ascaracterísticas morfofuncionais próprias para cada posiçãode jogo, bem como selecionar aqueles dotados depotencial para atender tais exigências. Assim, o objetivodeste estudo centrou-se na identificação dascaracterísticas dermatoglíficas e somatotípicas da seleçãobrasileira de beach soccer. O estudo teve cunho descritivocom tipologia ex post facto. Os sujeitos do estudo foramos atletas do sexo masculino, de alto rendimento esportivono Brasil, N = 12, Idade 29,9 ± 4, 12, peso 74,5 ± 6,74 eestatura 176,8 ± 7,20. Foram utilizados os protocolos dedermatoglifia (Cummins & Midlo, 1942) e somatotipológicode Heath e Carter (ISAK, 2001). As característicasdermatoglíficas encontradas foram as seguintes: (A) arco0,25 ± 0,87; (L) presilha 4,9 ± 2,61; (W) verticilo 4,8± 2,76;somatório da quantidade total de linhas (SQTL) 131,4 ±32,22 e D10 14,6 ± 3,15; e as características somatotípicasdo grupo apresentaram a classificação mesomorfobalanceado. Verifica-se a aplicabilidade prática dadermatoglifia - marcador genético - na otimização deestratégias. Recomendam-se investigações sobre arelação do estado e predisposição genética.

Palavras-chave: beach soccer ; dermatoglifia esomatotipo.

DERMATHOGLYPHIA AND SOMATHOTYPOLOGY INBEACH SOCCER HIGH INCOME - BRAZILIAN TEAM

Abstract

The results reached by the Brazilian beachsoccer team reflect the qualification level of its athletes,in spite of being a new sports modality. In order to keepthis level in further generations of athletes, it is importantto study this modality tactically and technically, as wellas functionally and genetically, seeking to diagnose themorpho-functional characteristics corresponding toeach game position, as well as to select athletes whoare endowed with potential to meet those requirements.Thus, the purpose of this study was to identify thedermatoglyphical and somatotypical characteristics ofthe Brazilian beach soccer team. This was a descriptivestudy with ex post facto typology. The subjects of thisstudy were high performance male athletes N=12, age29.9±4.12 years, weight 74.5±6.74 kg and stature176.8±7.2 cm. Dermatoglyphics (Cummins and Midlo,1942) and somatotype (Heath and Carter, in ISAK,2001) protocols were used. The dermatoglyphicalcharacteristics observed were the following: (A) arch0.25±0.87; (L) loop 4.9±2.61; (W) whorl 4.8±2.76; SQTL131.4±32.22 e D10 14.6±3.15. The group'ssomatotypical characteristics were balancedmesomorph. It was possible to observe the practicalapplicability of dermatoglyphia as a genetic marker inthe development of strategies. Investigationsconcerning the relationship between state (phenotype)and genetic predisposition are recommended.

Key words: beach soccer; dermatoglyphia andsomatotype.

__________Recebido em 14/12/2004. Aceito em 03/02/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

46 45-51

INTRODUÇÃO

O beach soccer (futebol de areia) teve seu iníciono Brasil, sendo praticado por jogadores oriundos dofutebol de campo. Com aproximadamente 10 anosde prática, vem crescendo de forma admirável noBrasil e no mundo, conquistando um crescentenúmero de adeptos. Tem uma característica maisofensiva que o futebol de campo e o piso de areiaprivilegia as jogadas aéreas, o que exige grandehabilidade dos jogadores.

Dos dez campeonatos mundiais realizados, aseleção brasileira participou de todos, sendo campeãem nove, o que a faz ocupar, disparado, o 1º lugar noranking mundial. A média de 8,76 gols marcados e2,76 sofridos por jogo confirma a eficiência tanto dosjogadores de ataque como dos de defesa, denotandopossuírem o perfil ideal para esta modalidade.

A literatura nacional e internacional sugereinvestigações quanto às característicasdermatoglíficas em diversos níveis de qualificaçãoesportiva, (Abramova et al., 1995; Nikitiuk, 1988;Abramova et al., 2000; Butova e Lisova, 2001; Dantas,2001; Dantas e Fernandes Filho, 2002; Medina, 2000;Pavel e cols., 2003a; Pavel et al., 2003b).

O problema deste estudo centrou-se nanecessidade de observação das predisposiçõesgenéticas de algumas qualidades físicasdemonstradas pela dermatoglifia e somatotipia no altorendimento do beach soccer no Brasil.

Assim, este estudo objetiva identificar ascaracterísticas dermatoglíficas e somatotípicas daseleção brasileira de Beach Soccer e, desta forma,vem demonstrar sua relevância, sobretudo àcomunidade acadêmica e esportiva, através daanálise e registro do aspecto genotípico, possibilitandoa sua utilização como fonte de informação paraprescrição das tarefas de performance.

Fernandes Filho et al. (2004), em seu estudo,apresenta suas observações das característicasdermatoglíficas de modalidades de alto rendimentono Brasil e recomenda estudos sobre o processo deconstrução de alto rendimento.

Revisão da Literatura

A dermatoglifia - do latim, dermo, significando"pele"; e do grego, glypha, "gravar" - é um termo

proposto por Cummins e Midlo. Foi introduzido na 42ªSessão Anual da Associação Americana deAnátomos, realizada em abril de 1926. Recebeu aclassificação de método no ramo da Ciência Médicado estudo do relevo.

A dermatoglifia traz a utilização das impressõesdigitais como uma variável discreta caracterizando-se,portanto, como um marcador genético de amplo espectropara ser utilizado em associação com as qualidadesfísicas básicas e a tipologia de fibras (Beiguelman, 1994;Fernandes Filho, Dantas, Roquetti Fernandes, Cunha,Ribeiro, Brüch, Caruzo e Batista, 2004).

Desta forma, Fernandes Filho (1997)homologa que o modelo de Impressões Digitaisconduz a se escolher, mais adequadamente, aespecialização no esporte, com a perspectiva deotimização quanto ao talento individual. Talpressuposto é uma excelente ferramenta de que asequipes dispõem para especificar a posição dosdesportistas durante o jogo, conhecendo-se, deantemão, a sua performance.

A observação e a determinação de parâmetrosideais, pretendendo-se esta ou aquela modalidade,não são um estereótipo de exclusão por meio de umperfil de características comuns; constituem-se, aocontrário, na premência em atender às exigências decada esporte, com suas particularidades. Ser umatleta constitui-se,não em uma predisposição comuma todos os indivíduos, mas à minoria. Além disso,dentro desta minoria, o fator oportunidadedesempenha papel fundamental.

Fernandes Filho (1997) acredita que:

"a utilização das marcas genéticas naseleção prognóstica esportiva permite, com umalto grau de probabilidade na etapa precoce daorientação e da seleção esport iva inicial ,selecionar aqueles mesmos 2-3% de crianças dapopulação dotadas de capacidades para odesenvolv imento máximo de tal ou qualmanifestação funcional".

Dantas et al. (2000), em trabalho sobreavaliação de atletas de futsal de alto rendimento, fazmenção a valores relativos a dermatoglifia, como: (A)0,31, (L) 6,86, (W) 2,83, (D10) 12,52 e (SQTL) 129,83,em que destaca a utilização da dermatoglifia,associada à avaliação do perfil. O mesmo autor, em

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

4745-51

sua dissertação de Mestrado (2001), relata, para osníveis de melhor qualificação, os seguintes resultados(A) 0,0, (L) 6,5, (W) 3,5, (D10) 13,5, (SQTL) 147,4.

A maioria dos autores distingue três grupos dedesenhos: arco (A), presilha (L) e, juntamente, verticiloe S-desenho (W). A forma dos desenhos é umacaracterística qualitativa. A quantidade de linhas decada um dos dedos (QL), a somatória da quantidadetotal de linhas (SQTL) e a quantidade de cristascutâneas, dentro do desenho, constituem os aspectosquantitativos. A avaliação da intensidade dosdesenhos efetua-se, inicialmente, na presença dosdeltas, calculando o índice de deltas (D10), que podeser no mínimo "0" e no máximo "20". O valor de "zero"aparece porque o arco (A) representa o desenho semdeltas; a presilha (L), o desenho de um delta; verticiloe S-desenho (W), os desenhos de dois deltas. Paratabulação dos dados, é de praxe usar-se a seguinteclassificação: o arco é "0", a Presilha "1" e o verticiloe o S-desenho "2". Conclui-se que o desenho maissimples é o arco e os mais complexos, o verticilo e oS-desenho (Abramova, Nikitin, Ozolin, 1996).

FIGURA 1 - Tipos de Desenhos Digitais

São bastante expressivas as pesquisasefetivadas pelo Laboratório de Antropologia, Morfologiae Genética Esportiva do VNIIFK - Moscou, executadasentre 1966 e 1996. Elas rumaram em duas direções:em dermatoglifia digital, ocupando-se das qualidadesfísicas, e em dermatoglifia digital, visando ao tipo daatividade esportiva.

O baixo nível de D10, o aumento da parcela dedesenhos simples (A, L), a diminuição da parcela dedesenhos complexos (W, S) e o aumento do SQTLsão todos próprios das modalidades esportivas comalta potência e tempo curto de realização. O alto nívelde D10, a falta de arco (A), o aumento da parcela deW e o aumento do SQTL caracterizam modalidadesesportivas e as diferenças em grupos de resistência

de velocidade, ocorrendo nas modalidades de jogosa mesma tendência.

As modalidades de esporte de velocidade ede força inserem-se nos valores baixos de D10 edo SQTL; as modalidades com a propriocepçãocomplexa, no campo de valores altos, e os gruposde esportes de resistência ocupam a posiçãointermediária.

A quantidade de linhas conjuga-se com oaumento da percentagem de incidência dedesenhos (W, S), com a redução da percentagemde incidência de presi lha (L) e com odesaparecimento de arco (A). Assim, pode-se dizerque as Impressões Digitais, como marcasgenéticas, funcionam tal qual indicadores dosprincipais parâmetros de dotes e de talentosmotores. Elas diferenciam não só a dominantefuncional e a modalidade esportiva, mas, também,a justa especialização nesta modalidade.

O desenvolvimento de um desportista é oresultado da influência mútua da hereditariedade edo ambiente. O treinamento é muito importantepara a formação das capacidades motoras. Alémdisso, as particularidades da compleição e odesenvolvimento das capacidades motoras sãodeterminados pelo genótipo, o que torna defundamental importância a identificação dascapacidades motoras e a determinação do grau deinfluência dos fatores hereditários e ambientais.

A inf luência dos fatores genét icos eambientais não é a mesma em períodos etáriosdiferentes. Existem os períodos especiais,sensitivos, para os quais é própria a sensibilidadea vários fatores ambientais de ensino e detreinamento. É considerado que, para estesperíodos, há uma diminuição do nível genético euma dependência crescente dos fatores do meioambiente. Os períodos sensitivos (idade, suaduração) são próprios à idade biológica, e não àcronológica. É comprovado que odesenvolvimento das capacidades motoras e ocaráter de adaptação do organismo dosadolescentes de 12 - 16 anos de idade nãodependem somente da idade cronológica, mas,sim, dos ritmos individuais de desenvolvimento(Volkov, 1983).

Klissouras (1971) indica que o aspectogenotípico, em congruência com os fenotípicos,

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

48 45-51

quando observados os estudos com gêmeos e dehereditariedade, adaptações induzidas pelavariação da hereditariedade, justificam maiores oumenores mudanças em parâmetros fisiológicos.Exemplo disto é o maior caráter genotípico dapotência aeróbia e fenotípico da potênciaanaeróbica.

Não obstante, observar isoladamente estesresultados pode induzir a conclusões confusas,pois aspectos como a maior ou menorcoordenação, velocidade, força ou, em resumosdiferentes, qualidades físicas básicas acentuadaspela potência genética ou de estado, teriam umpoder de interveniência muito grande.

Quanto ao somatotipo, sua identificação vemde encontro à necessidade de se comparar umindivíduo com determinados padrões e perfis pré-estabelecidos. Daí a chave da procura porprocedimentos bem sucedidos na identificação eno desenvolvimento do talento no esporte(Hebbelinck, 1989).

Marins e Giannichi (1996) julgam aSomatotipologia de Heath & Carter capaz depermitir um estudo apurado sobre o tipo físico idealem relação a cada modalidade esportiva. Alémdisso, constitui-se em um excelente instrumentona descoberta de talentos, permitindo, também, acontinuada monitorização da composição corporal.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo descritivo comtipologia ex post facto. Os sujeitos do estudo foramos atletas do sexo masculino, de alto rendimentoesportivo no Brasil, N = 12, Idade 29,9 ± 4,12 anos,peso 74,5 ± 6,74kg e estatura 176,8 ± 7,20cm.Foram utilizados os protocolos de dermatoglifia(Cummins & Midlo, 1942) e somatotipológico deHeath e Carter (ISAK, 2001). Foi utilizada aestatística descritiva.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOSRESULTADOS

Na apresentação e discussão dos resultadosforam observados, para as característ icassomatotípicas, os valores referenciados naTABELA 1.

TABELA 1VALORES MÉDIOS E SEUS DERIVADOS PARA O

SOMATOTIPO.

Desta forma, de acordo com as médiasadmitidas para endomorfia de 2,7 ± 0,80, paramesomorfia de 5,3 ± 1,01 e para ectomorfia de 2,2 ±0,78, as características somatotípicas do grupoapresentaram a classificação mesomorfobalanceado.

Quanto aos resultados das característicasdermatoglíficas, foram observados os valoresconstantes das TABELAS 2 e 3, referentes àtotalidade do grupo e aos atacantes, respectivamente,e os valores apresentados individualmente, naseqüência, referentes às demais posições de jogo.

Nas TABELAS 2 e 3 são apresentados osvalores de média, desvio-padrão, mínimo e máximo,referentes aos tipos de desenho arco (A), presilha(L), verticilo (W), somatório da quantidade total delinhas (SQTL) e índice delta (D10).

TABELA 2BEACH SOCCER GRUPO TOTAL - VALORES

MÉDIOS E SEUS DERIVADOS PARA OS TIPOSDE DESENHO A, L, W, D10 E SQTL

Fórmulas digitais: ALW= 8,3%; 10L=8,3%;L=W = 16,7%, L>W= 16,7% e W>L= 50,0%.

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o grupo apresentapredisposição à resistência de velocidade, observadapela presença de L =4,9 e W = 4,8 confirmada peloSQTL = 131 e as fórmulas L=W=16,7%, L>W=16,7e W>L= 50,0%.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

4945-51

As componentes também observadas sãovelocidade e potência, observadas pela presença deALW=8,3% e 10L=8,3% e L=4,9 e A=0,25.

Ainda, excelentes níveis de coordenação,observados pelo D10 = 14,6.

Os achados são confirmados na literatura porAbramova et al. (1995), onde valores superiores a134,2 de SQTL e D10 = 13,1 indicam a coordenaçãoe resistência como pontos importantes.

TABELA 3 - BEACH SOCCER GRUPO DEATACANTES - VALORES MÉDIOS E SEUS

DERIVADOS PARA OS TIPOS DE DESENHO A,L, W, D10 E SQTL

Fórmulas digitais: L=W = 25,0%, W>L= 75,0%.Segundo a predisposição demonstrada pelas

características digitais, o grupo apresentapredisposição à resistência de velocidade, observadapelas presenças de L= 3,3, W= 6,8 e SQTL= 131,5,confirmada pela presença das fórmulas digitaisL=W = 25,0%, W>L= 75,0%.

Com grande destaque, aparece a coordenaçãoacentuada, observada pelo D10 = 16,8, o que seconstitui em mediador direto de outras qualidadescomo força, velocidade e a própria resistência, o quea mesma Abramova et al. (1995) classifica comoníveis superiores de coordenação no que se refere àpredisposição.

As demais posições de jogo, em função dopequeno número de representantes, serãoapresentadas individualmente e os jogadoresreceberão um código de letra:

Segundo a predisposição demonstradapelas características digitais, o atleta apresentapredisposição à resistência de velocidade,observada por W= 5 e L= 5 e confirmada porSQTL= 158, e, ainda, excelente predisposição àcoordenação com D10= 15 e SQTL= 158.

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o atleta apresenta predisposiçãoà velocidade, observada por L= 8 e confirmada porSQTL= 103, e, ainda, moderada predisposição àcoordenação com D10= 12.

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o atleta apresentapredisposição à velocidade e potência, observada porL= 5 e A= 3 e confirmada por SQTL= 83, e, ainda,baixa predisposição à coordenação com D10= 9.

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o atleta apresentapredisposição à resistência de velocidade, observadapor W= 6 e L= 4 e confirmada por SQTL= 157, e,ainda, excelente predisposição à coordenação comD10= 16 e SQTL= 157.

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o atleta apresentapredisposição à resistência, observada por W= 8 eL= 2 e confirmada por SQTL= 180, e, ainda,excelente predisposição à coordenação com D10=18 e SQTL= 180.

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o atleta apresenta predisposiçãoà velocidade, observada por L= 10 e confirmada porSQTL= 121, e, ainda, moderada predisposição àcoordenação com D10= 10 e SQTL= 121.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

50 45-51

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o atleta apresenta predisposiçãoà velocidade, observada por L= 8 e confirmada porSQTL= 94, e, ainda, moderada predisposição àcoordenação com D10= 12.

Segundo a predisposição demonstrada pelascaracterísticas digitais, o atleta apresentapredisposição à resistência de velocidade, observadapor W= 6 e L= 4 e confirmada por SQTL= 158, e,ainda, excelente predisposição à coordenação comD10= 16 e SQTL= 158.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.

O estudo demonstra a aplicabilidade prática dadermatoglifia - marcador genético - e da somatotipiana otimização das estratégias de intervenção, naorientação e na seleção esportiva. Não obstante,

considera-se que o meio (fenótipo) poderia interferirpositivamente ou negativamente na confirmação dosachados.

Considerando os achados neste estudo,podemos afirmar que o beach soccer necessita deníveis ótimos de resistência de velocidade ecoordenação, e que a potência pura, assim como avelocidade, são características complementares eimportantes, que têm na coordenação um mediadore, no que se refere ao aspecto morfológico, evidencia-sea prevalência do componente mesomórfico.

Recomenda-se investigações associando aavaliação do estado (fenótipo) e o potencial genético(dermatoglifia) e que estudos sobre a relação entre oestado e a predisposição genética sejamimplementados.

Endereço para correspondência:R.Claude Bernard, 551

Campo Grande - Rio de Janeiro - RJCEP 23045-820 - Brasil

e-mail: [email protected]

ABRAMOVA TF, et al. Asymmetry of signs of fingerdermatoglyphics, physical potential and physical.Gippokraf - Saint Petersburg - Russia. Morfologia2000; 118(5):56 a 59.

ABRAMOVA TF, NIKITINA TM, CHAFRANOVA EI.Impressões Dermatoglíficas - Marcas genéticas naseleção nos tipos de esporte. Atualidades napreparação de atletas nos esportes cíclicos:Coletânea de artigos científicos. Volvograd, 1995;2: 86-91.

ABRAMOVA TF, JDANOVA AG, NIKITINA TM.Impressões Dermatoglíficas e Somatotipo - marcasde constituição de diferentes níveis. Atualidadesmédicas e antropológicas nos esportes. Moscou,1990; 2: 94-5.

ABRAMOVA TF, NIKITINA TM, OZOLIN NN.Impressões Dermatoglíficas: Marcas genéticas nopotencial energético do homem. Anais científicos doano 1995. 1996; 3-13.

BEIGUELMAN B. Dinâmica dos genes nas famílias enas populações. Revista brasileira de genética. 2ª.ed. Ribeirão Preto, 1995.

BUTOVA OA, LISOVA IM. Correlation of certainparameters of human constitution. Gippokraf -Saint Petersburg - Russia. Morfologia 2001;119(2):63 - 6.

CARLSON BM. Embriologia humana e biologia dodesenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1996.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

5145-51

CUMMINS H, MIDLO CH. Palmar and plantardermatoglyphics in primates. Philadelphia, 1942; 257.

DANTAS PMS. Identificação dos perfis, genético, deaptidão física e somatotípico que caracterizam atletasmasculinos, de alto rendimento, participantes do futsaladulto, no Brasil. Dissertação de Mestrado em Ciênciada Motricidade Humana. Rio de Janeiro: UCB2001;198.

DANTAS PMS, et al. Consumo máximo de oxigênioem jogadores adultos de futsal de alto rendimento.Congresso Sul-americano FIEP 2000. Córdoba -Argentina: 2000; 01(7): 21.

DANTAS PMS, et al. XXIII Simpósio Internacional deCiências do Esporte. Atividade física, fitness e esporte.São Paulo 2000;1 (11):75.

DANTAS PMS, et al. Correlação entre dermatoglifia eaptidão física em atletas de futsal adulto masculino.Revista Brasileira de Medicina do Esporte. São Paulo2001; 7(3)11-12.

DANTAS PMS, FERNANDES FILHO J. Identificaçãodos perfis, genético, de aptidão física e somatotípicoque caracterizam atletas masculinos, de altorendimento, participantes do futsal adulto, no Brasil.Fit. & Perform.2002;1(1):28 -36.

DANTAS PMS, FERNANDES FILHO J. Correlaçãoentre dermatoglifia, VO2 máximo, impulsão vertical e%g em atletas adultos do Vasco da Gama, modalidadede futsal. Caxambu/MG 2001; 1(1):197.

FERNANDES FILHO J. Impressões dermatoglíficas- marcas genéticas na seleção dos tipos de esportee lutas (a exemplo de desportista do Brasil). Tese deDoutorado. Moscou, 1997.

FERNANDES FILHO J, et al. Dermathoglyphicscharacteristics of the Brazilian high performanceathletes of sportive modalities . Journal Of TheInternational Federation Of Physical Education, 2004;74(1):87-92.

HEBBELINCK M. Identificação e desenvolvimentode talentos no esporte: relatos cineantropométricos.Revista Brasi leira de Ciência e Movimento1989;4(1).

ISAK. The international society for advancement ofkinanthropometry. 1ª. ed. Australia: National Libraryof Australia, 2001.

KLISSOURAS V. Heritabilidade of adaptive variation.Journal of Applied Physioloy. 1971;31: 3- 7.

MARINS JCB, GIANNICHI RS. Avaliação e prescriçãode atividade física, guia prático. Rio de Janeiro:SHAPE, 1996.

MEDINA MF. Identificação dos perfis genéticos esomatotípico que caracterizam atletas de voleibolmasculino adulto de alto rendimento no Brasil.Dissertação de Mestrado em Ciência da MotricidadeHumana. Universidade Castelo Branco. Rio deJaneiro, 2000.

NIKITIUK BA. Impressões dermatoglíficas comomarcas do desenvolvimento pré-natal doectoderma. Marcas genéticas na antropologia emedicina: Anais de trabalhos científicos no Simpósio1988;133.

PÁVEL DAC, et al. Perfil dermatoglífico das nadadorasde provas de velocidade infantis e juvenis. Fiep Bulletin2003; 73( 1) 160.

______. Perfil dermatoglífico dos nadadores de provasde velocidade infantis e juvenis. Fiep Bulletin 2003;73( 1)160.

SANTOS F , JOSÉ LA. Futsal, preparação física. Riode janeiro: Sprint, 1995.

VOLKOV VMVP. Seleção esportiva. Moscou:Educação física e esporte 1983; 176.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

52 52-55

INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA PRÁTICA ESPORTIVA, NAALIMENTAÇÃO DO ESPORTISTA E NA PROPAGAÇÃO DO

MOVIMENTO OLÍMPICO

Prof. José Maurício Capinussú

Universidade Federal do Rio de Janeiro - RJ - BrasilUniversidade Gama filho - Rio de Janeiro - RJ - Brasil

Universidade Salgado de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ - Brasil

Resumo

Fato público e notório, a influência da mídia naprática esportiva, profissional ou não, nos hábitosalimentares acompanhantes desta prática e no melhorentendimento do movimento olímpico é de sumaimportância no direcionamento que estas três situaçõespodem seguir. Procedendo a uma análise do assunto,procuramos estabelecer algumas considerações sobreas vantagens da mídia no convencimento do públicoem adotar certas posturas indicadas para a preservaçãoda saúde, sobre a conveniência de seguir hábitosalimentares saudáveis e no conhecimento mais amplodo movimento olímpico, onde o foco central estárepresentado pelo atleta de alto nível, produto de umaeficaz prática esportiva aliada a uma saudávelalimentação, independentemente de outros fatores deordem moral, social e psicológica.

Palavas-Chaves: mídia, nutrição, movimentoolímpico.

THE INFLUENCE OF THE MASS MEDIA INSPORTS, ATHLETES` FEEDING HABITS AND IN

THE OLYMPIC MOVEMENT

Abstract

It is a widely known fact that mass mediainfluences greatly professional and amateur sports,athletes` feeding habits and the understanding of theOlympic movement. While analysing this subject, weintended to make some considerations about theadvantages of the mass media in persuadingspectators to adopt some habits in order to preservehealth, about the advantages of having healthy feedinghabits and about a wider understanding of the Olympicmovement, which focuses mainly high performanceathletes as a consequence of an efficient sports trainingtogether with an appropriate feeding, independently onother moral, social and psychological aspects.

Key words: mass media, nutrition, Olympicmovement.

INTRODUÇÃO

Dos cinco meios de comunicação imperantesem nosso cotidiano_ impressos (jornais e revistas) eeletrônicos (rádio, televisão e internet) - a televisãoé, indiscutivelmente, o de maior penetração emnossos lares. Sua influência no modo de agir das

pessoas é decisiva, seja no linguajar, na gesticulaçãoe, às vezes, até na mudança da personalidade, combase em certos tipos característicos das tele-novelase dos programas humorísticos.

Na prática esportiva e em qualquer outraatividade, reportando os fatos no presente, a televisãoleva sobre o rádio a vantagem da imagem e, sobre ojornal, a vantagem do tempo, divulgando o fato noinstante em que ele ocorre. O jornal, por sua vez, só

__________Recebido em 29/12/2004. Aceito em 03/02/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

5352-55

registra este mesmo fato no dia seguinte ou,dependendo da sua importância, pode fazê-lo atravésde uma edição extra. Ainda assim, algumas horasapós a ocorrência, embora tenha a disponibilidadede oferecer maior riqueza de detalhes.

Nunca é demais recordar que, há algum tempo,a televisão veiculou a campanha do "mexa-se",procurando incutir nas pessoas a necessidade depraticarem desde alguma atividade física até,periodicamente, uma atividade de caráter desportivo.O sucesso repercute até hoje, quando se observa naorla marítima, em volta do estádio do Maracanã ouem outros logradouros por esse país afora, milharesde pessoas correndo, caminhando ou passeando debicicleta. Trata-se de uma herança do "mexa-se",quando a televisão exerceu papel decisivo para suadivulgação.

Da atividade física, vamos à nutrição. Seja opraticante um atleta ou um simples esportista,necessitando sempre de hábitos alimentares sadios,a mídia pode e deve se encarregar de divulgar atravésde programas, corretamente preparados, orientaçõesao público.

Ao final deste trabalho, advogamos anecessidade da mídia em tratar o movimento olímpicocom a atenção que merece, por se constituir em umcausa que baseia a educação de um povo em seusvários aspectos.

Influência Benéfica

Dentro da influência exercida pelos meios decomunicação na prática das atividades físicas, valecitar as aulas de ginástica transmitidas pelo rádio epela televisão, onde atuaram durante muitos anos oProf. Oswaldo Diniz Magalhães, um pioneiro semprepresente com sua "Hora da Ginástica", de 1932 a1983, nas manhãs - de 06:30 às 07:30 horas - dasRádios Educadora Paulista, Mayrink Veiga , Cultura -São Paulo, Globo, MEC (Ministério da Educação) eos professores Antonio Pereira Lyra e Yara Vaz, pelatelevisão.

Nos meios de comunicação impressos, osaconselhamentos técnicos veiculados por jornais degrande penetração como "O Globo" e "Jornal doBrasil", para citarmos apenas os do Rio de Janeiro, erevistas como "Boa Forma", "Nova" e "Cláudia", entreoutras, também têm sido de grande utilidade para os

inimigos do sedentarismo, principalmente porqueestas consultorias são prestadas por renomadasautoridades no assunto.

E a nutrição? Qual a sua relação com a práticade atividades físicas? A resposta é simples. De nadaadianta uma programação intensiva de atividadesfísicas, naturalmente de acordo com o biótipo dapessoa, suas reais necessidades e seu nível deaptidão, se a alimentação não for disciplinada emtermos de conveniência ou não da ingestão deproteínas e carboidratos em quantidades condizentescom os seus objetivos, levando-se em consideraçãoo seu desgaste e a necessidade de reposição decertas calorias. Também aqui, a televisão aparececomo um maravilhoso veículo de divulgação para asvantagens proporcionadas por esta ou aquela formade se alimentar. O programa criado pela saudosaOfélia, modificado, mas ainda existente com outrosapresentadores, é um exemplo de perenidade nestecampo. Não se induz ninguém a comer isto ou aquilo.Apenas ensina-se a cozinhar de forma elegante ehonesta, sugerindo-se receitas para todos os gastose objetivos.

Presentemente, a nutrição atinge um estado degigantismo em que os meios de comunicação têmapreciável parcela de responsabilidade,principalmente devido à presença maciça dosdietéticos e dos regimes de emagrecimentopreconizados por este ou aquele veículo dedivulgação.

Chega-se, inclusive, a sugerir que a pessoadeve comer de tudo e depois ingerir determinadosprodutos capazes de diluir, em questão de minutos,aquele exagero representado por uma alimentaçãoinadequada. Isso para não falarmos na publicaçãode livros tipo "Calorias não engordam" e "Só é gordoquem quer", em que os autores advogam a causa docomer tudo sem maiores obstáculos à manutençãode um físico esbelto e sadio.

Movimento Olímpico

A necessidade de aprofundamento noconhecimento sobre o Movimento Olímpico deve sertratada após a superação de quatro aspectosbásicos, que se apresentam como fatores negativos:

1- Os Cursos de Jornalismo existentes nasEscolas de Comunicação não preparam o jovem

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

54 52-55

para encarar um mercado de trabalho atraente,como o esportivo. Muito menos, forneceminformações substanciais sobre o Olimpismo, aponto do repórter não saber quem é Ademar Ferreirada Silva, um dos poucos integrantes do seleto elencoganhador de duas medalhas de ouro em duasOlimpíadas consecutivas, em uma prova bastantedifícil como o salto triplo.

2 - No Brasil, o Movimento Olímpico só merecedivulgação compatível nos anos de Olimpíada. Aindaassim, é uma divulgação "capenga", porque os meiosde comunicação não se importam em darinformações precisas e atraentes.

3 - Os programas de televisão são repetitivos,bisando transmissões de quatro anos antes, isto é, oque foi divulgado anteriormente à última Olimpíada.Pouco se cria, pouco se renova. Não se promovemdebates com atletas olímpicos brasileiros eestrangeiros, da atualidade e do passado. Não serecorre a consultores especializados para elaboraros programas. Por que motivo? Economia? Oassunto não merece um maior investimento? Não dáretorno ao patrocinador?

4-Quando aparece uma publicaçãoespecializada em assuntos de caráter olímpico, asdificuldades de produção são enormes e o seu tempode vida é efêmero. Prefere-se promover o dirigenteenvolvido com o Olimpismo, em detrimento deeducar o povo, incutindo-lhe as idéias do Barão deCoubertin.

Procedendo a uma abordagem sobre oOlimpismo, que consideramos bastante procedente paraenriquecer este trabalho, Bourdieu (1997) afirma que:

"O conjunto do campo de produção dos JogosOlímpicos como espetáculo televisivo, ou melhor,na linguagem do marketing, como instrumento decomunicação, é o conjunto das relações objetivasentre os agentes e as instituições comprometidosna concorrência pela produção e comercializaçãodas imagens e dos discursos sobre os Jogos: oComitê Olímpico Internacional (COI),progressivamente convertido em uma grandeempresa comercial com orçamento anual de 20milhões de dólares, dominado por uma pequenacamarilha de dirigentes esportivos e derepresentantes das grandes marcas industriais(Adidas, Coca-Cola, etc), que controla a venda dosdireitos de transmissão (avaliados, para Barcelona-

92,em 633 bilhões de dólares) e dos direitos depatrocínio, assim como a escolha das cidadesolímpicas; as grandes companhias de televisão(sobretudo americanas) em concorrência (na escalada nação ou da área lingüística) pelos direitos detransmissão; as grandes empresas multinacionais(Coca-Cola, Kodak, Ricoh, Philips, etc) emconcorrência pelos direitos mundiais sobre aassociação com exclusividade de seus produtos comos Jogos Olímpicos (enquanto "fornecedoresoficiais"); e, enfim, os produtores de imagens e decomentários destinados à televisão, ao rádio ou aosjornais (em números de 10.000 em Barcelona) queestão comprometidos em relações de concorrênciacapazes de orientar seu trabalho individual e coletivode construção da representação dos Jogos, seleção,enquadramento, montagem de imagens e elaboraçãodo comentário ".

Complementando seu depoimento que enfocaum evento realizado em 1992, porém, consideradouma Olimpíada modelar devido a uma organizaçãoque se aproximou da perfeição, Bourdieu afirma que:

"seria preciso, enfim, analisar os diferentes efeitosda intensificação da competição entre as naçõesque a televisão produziu através da planetarizaçãodo espetáculo olímpico, como o aparecimento deuma política esportiva dos Estados orientada paraos sucessos internacionais, a exploraçãosimból ica e econômica das vi tór ias e aindustrialização da produção esportiva que implicano recurso ao doping e às formas autoritárias detreinamento".

CONCLUSÕES

Em vista da grande abrangência dos meios decomunicação, há que se estabelecer algumasconclusões, objetivando um aproveitamento maisapurado da influência proporcionada por estesveículos.

1 - Não há um preparo mais apurado dosespecialistas em jornalismo esportivo ou em assuntosmais específicos ligados à prática esportiva.

2 - Observa-se o acesso aos meios decomunicação de pessoas sem qualificação, que sepropõem a ministrar orientação sobre práticaesportiva e prescrição de regimes alimentares.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

5552-55

3 - Não há um controle mais rigoroso sobre apropaganda de produtos cujos efeitos são duvidosose que se destinam, hipoteticamente, a proporcionarredução de peso ou evitar distúrbios gástricos porexcesso de ingestão alimentar.

4 - A influência dos meios de comunicação émuito grande, principalmente os eletrônicos - internet,televisão.

RECOMENDAÇÕES

Quanto aos meios de comunicação, algumasrecomendações possíveis de neutralizar os aspectosnegativos abordados ao longo deste trabalho se fazemnecessárias, consubstanciando matéria já publicada nonúmero 122 (1995/1) da "Revista de Educação Física".

Vejamos o que recomendar:1 - Inclusão, por parte das escolas superiores de

comunicação, da disciplina jornalismo esportivo (oucomunicação esportiva) em seus currículos degraduação, com cargas horárias de no mínimo 30 h/aula.

2 - Realização de cursos de pós-graduação,em nível de especial ização, na área decomunicação esportiva, com aulas ministradaspor professores ligados à Comunicação e àEducação Física, portadores de formação em nívelde mestrado e doutorado, ou com titulação denotório saber.

Nesta proposta, o curso de especialização sedividiria em três setores:

INFORMAÇÃO E ESPORTE - Futebol decampo, futsal, voleibol, basquetebol, natação, pólo-

aquático, atletismo, ginástica artística, ginásticarítmica, tênis, remo, iatismo,artes marciais einformação esportiva.

FUNDAMENTOS DO ESPORTE -Epistemologia do esporte; organização eassessoramento nos esportes; sociologia do esporte;medicina esportiva.

JORNALISMO ESPORTIVO - Noticiárioesportivo; crônica esportiva; transmissão esportiva;imagem do esporte.

3 - Cursos de curta duração com a participaçãode especialistas no assunto, para repórteresesportivos, versando sobre informações básicas arespeito do Olimpismo, em sua parte filosófica eoperacional (abordagem sobre esportes e JogosOlímpicos de Verão e Inverno).

4 - Publicação de periódicos capazes deresgatar a memória olímpica em todos os seusaspectos, deixando de lado o noticiário e dandoprioridade às raízes do Movimento Olímpico,aproveitando tudo aquilo de belo que estamanifestação propicia.

5- Convém preservar a influência dos meios decomunicação em seu aspecto esportivo, utilizando-os em campanhas benéficas que divulguem políticascorretas de nutrição e da prática esportiva.

Endereço para correspondência:Av João Luiz Alves, s/n

Fortaleza de São João - Urca - Rio de Janeiro - RJCEP: 22291-090

e-mail: [email protected]

BOURDIEU P. Sur la television (suivi de L'empire dujournalisme). Paris: Liber Éditions, 1997.

CAPINUSSÚ JM. O esporte e a influência dos meiosde comunicação. Revista de Educação Física 1995;122.

FREIRE P. Pedagogia da autonomia; saberesnecessários à prática educativa. 10ª ed. São Paulo:Paz e Terra, 1999.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

56 56-66

REVELAÇÃO DE TALENTOS NO FUTEBOL BRASILEIRO: DO SENSO COMUM INSTINTIVO À METACOGNIÇÃO

Tadeu Correia da Silva

Instituto de Pesquisa da Capacitação Física do Exército

Resumo

O objetivo deste artigo foi explicitar como érevelado o "talento" no futebol brasileiro. Situando osdesportos brasileiros em relação às escolas mundiais,diagnosticou-se a produtividade do nosso futebol.Concluiu-se que o mosaico do paradigma dominantetem rupturas, via paradoxos do profissionalismo"marrom" (início do século), transformado emprofissionalismo "laranja", na atualidade, representado

Abstract

REVELATION OF TALENT IN BRAZILIAN SOCCER: COMMON INSTINCT AND INTUITION AS

OPPOSEDTO METACOGNITION

The aim of this article was to identify how "talent"is revealed in Brazilian Soccer. The productivity of oursoccer is diagnosed by relating Brazilian sports to worldschools. The conclusion emerges that there is a rupturein the dominating mosaic paradigm due to the paradoxbetween the "amateur" profession of a century ago

pelo fato de o Brasil ser o melhor futebol do mundo,mas não apresentar o melhor índice técnico-desportivo.Outrossim, os observadores técnicos (olheiros)avaliam o "talento" pelo senso comum instintivo nosmesmos moldes de décadas anteriores, semperspectivas e estratégias metacognitivas.

Palavras-chave: cognição, futebol, metacognição,motricidade, portador de altas habilidades,superdotado, talento.

INTRODUÇÃO

A existência de um programa de revelação dasaptidões e capacidades desportivas ("P.R.A.Ca.Desp.")de atletas portadores de altas habilidades ("Port.Al.Ha.")é fundamental para diagnosticar e otimizar a práticadesportiva no Brasil, especialmente no futebol. Este temapontua delimitações que vão do senso comum instintivoà metacognição intuitiva com que os observadorestécnicos ("olheiros") avaliam o talento no futebol brasileiro.

O problema pesquisado justifica-se, poispreenche e supre carências, agregando valoresao "Ente do Ser do Homem" (atleta), uma vez que:não há re latos na l i teratura bras i le i ra einternacional sobre programas que revelematletas "Port.Al.Ha." nos vários desportos,principalmente no futebol; poder-se-á corrigirfalhas e equacionar soluções, quer seja sob aópt ica adminis t rat iva, c ient í f ica, quermetodológica e pedagógica; a significância desteestudo está em agregar valores positivos aosatletas não "Port.Al.Ha.".

(when players commonly earned no salary, but werepaid "under the table" by club presidents), and the presentvery common practice of "talent spotters" making moneyby trading players who do not necessarily have any talent.Brazil has the best soccer in the world but does notpresent the best technical sporting index. Moreover the"talent spotters" evaluate talent by common instinct andintuition in the same way as in previous decades, withno strategic metacognitive perspectives.

Key Words: Cognition, metacognition, motricity, highskills owners, soccer, super gifted and talented.

__________Recebido em 12/01/2005. Aceito em 10/03/2005

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

5756-66

A fundamentação dos pressupostos teóricos éviabilizada por uma política na área de gerência dequalidade, com um programa que considere osfatores da maturação biofísicos, mentais esocioculturais dos atletas. Os autores listados aseguir focam e delimitam a essência de um programamodelo-característico:

1. Estudos realizados pelos defensoresdaqueles que acreditam ser o sucesso emOlimpíadas diretamente proporcional aosrecursos governamentais empregadosconsideram necessário um investimentomédio de oito milhões de dólaresaustralianos, sendo de $ 37 milhões o valorde uma medalha para os cofres públicos(Hogan e Norton apud Gulbin, 2003).

2. A prática e a experiência dos domínios mecânicoe cognitivo são fatores primordiais para odesenvolvimento da base construtiva do processode pensar e operacionalizar o corpo em relaçõesisoladas e integradas ao meio ambiente. Assimsendo, a construção de uma memória efetiva emexperiências e extremamente funcional emtermos de operacionalização hábil-motora podeser um potencial indicativo para uma talidentificação (Vernon, 2002).

O Brasil possui enorme potencial de craques.Qual será seu índice técnico-desportivo, gerencial e suaprodutividade? Define-se produtividade como a relaçãoentre resultados alcançados e/ou qualidade, bem comoos recursos despendidos para alcançá-los. Com isto,traçou-se o objetivo geral: identificar os motivosextrínsecos e intrínsecos que influem e/ou determinamcomo crianças, jovens e adolescentes "Port.Al.Ha." nofutebol brasileiro são avaliados em "P.R.A.Ca.Desp.".

Foi utilizado o método fenomenológico(Beresford, 2001), classificado como argumentativo.Quantitativamente, a pesquisa tem delineamentoquase experimental, seguindo a linha de pesquisaetnográfica. Existe bom equilíbrio entre a pesquisa ea participação, favorecendo o autor a utilizar a"pesquisa participante" com características de"história não-documentada".

As amostras foram os resultados da SeleçãoBrasileira de Futebol em Copas do Mundo, JogosOlímpicos e Copa América. Incluiu-se o futebololímpico, mesmo contra os argumentos de que é uma

competição com restrições, pois se entende que amesma faz parte de um continuum de preparação alongo-prazo. Excluíram-se as competições semtradição, tais como: Campeonato Pan-Americano;Copas Roca, Rio Branco, etc.

Os procedimentos experimentais buscaram, nacoleta de dados, informações que dimensionassem o"índice de técnico desportivo" do futebol brasileiro. Foramanalisadas todas as Copas do Mundo, de 1930 a 2002.

Coletaram-se os dados oficiais da FIFA obtidos pelaSeleção Brasileira de Futebol. A pesquisa etnográfica foicomplementada por coleta de dados em diversos clubes,com "olheiros", demais profissionais da área e aexperiência do pesquisador como investigadorparticipante. No tratamento estatístico, desenvolveram-se técnicas de estatística descritiva, caracterizando-se ouniverso amostral em função das variáveis selecionadassob formas de desvio padrão e média.

Apresentação e Discussão dos Resultados

Chegou-se ao objetivo geral através de trêsobjetivos intermediários (três pilares), erguidos porcinco "caminhos autênticos - valor" (FIGURA 1),estudados pela óptica de dois compartimentos:

- das homeomerias (elementos materiais queformam as diferentes coisas), que abrange o"P.R.A.Ca.Desp." em geral e no futebol (objetivos 1 e 2);

- das humanidades, que abarca o trabalho do"olheiro", delimitado pelo atleta "Port.Al.Ha." no futebolbrasileiro (objetivo 3).

Figura 1Caminhos Autênticos dos "P.R.Ca.Desp." no

Futebol

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

58 56-66

Homeomerias dos "P.R.A.Ca.Desp."

A primeira coluna (FIGURA 1) relaciona-se comprogramas modelo-característico para todos osdesportos e consolidou o 1º objetivo via o 1º caminhoautêntico, constando-se que: não existe coerênciainterna quando crianças, jovens e adolescentesportadores de altas habilidades são avaliados emprogramas padrão de revelação das aptidões ecapacidades desportivas na "escola" brasileira, emrelação às "escolas" da Alemanha, Austrália, Cuba,EUA e ex-URSS (HR01).

Escolas Desportivas Internacionais

Os "P.R.A.Ca.Desp." são programas básicospara qualquer desporto, com ênfase nas fasessensíveis do desenvolvimento motor e maturaçãobiológica. O futebol é um estágio deste programa. Arealidade mundial mostra que:

- Nas principais "escolas" desportivas, asbaterias de testes são depuradas na proporção emque são incentivadas as gerências da qualidadeadministrativa.

- A ciência dos desportos, vez por outra, sedefronta com problemas entre profissionaispráticos (administradores, comissões técnicas,treinadores, etc.), versus profissionais teóricos(pesquisadores). A busca do talento requer queestes profissionais deixem o véu do tabu e davaidade e se dispam dos preconceitos. Ospesquisadores não possuem a experiência dosprofissionais práticos, tendo o receio de seremcrit icados. Os profissionais práticos têmdif iculdades em entender e acompanhar odesenvolvimento dos modelos teóricos.

- Consoante com Hommel, Schwanbeck eSteinbach (apud Weineck, 1999; 119), "a ciência dosesportes não pode apresentar nenhum critério quepossibilite o estabelecimento de uma bateria de testesque permite a determinação exata do perfil para odesenvolvimento desportivo".

Cada país confere ao modelo-característico derevelação do talento um colorido particular:

- A Alemanha Oriental obteve os melhoresresultados, aplicando o programa e organizando-o,sendo sua literatura e resultados referência mundial.

- A ex-RDA visou à conquista política; obteveum período de supremacia mesmo com uma pequena

população, quando comparada com as grandespotências desportivas; mesmo sendo um paíscomunista onde o capital não é privado, investiupesado financeiramente em medidas especiais deapoio.

- Na ex-URSS, o acervo, diferentemente da ex-RDA, foi guardado como segredo de Estado;conforme Platonov (apud Marques, s.d.; 16 ), a faltade comunicação científica da ex-URSS com outroscentros trouxe prejuízos, pois o "insucesso" deatletas considerados talentos, treinados em Escolasde Desportos Soviéticas, foi entre 86,2% e 90,5%;buscou o bem-estar físico e o controle estatal.

- Cuba procurou o bem-estar social, o poderpolítico e a otimização da saúde pública, onde ascomunidades são ouvidas antes de formataremmodelos. Cuba aproveitou o desenvolvimentoepistêmico dos países da antiga Cortina de Ferro, emespecial da escola alemã, com uma pitada de gerênciademocrática.

- Na Austrália, o modelo-característico, segundoGulbin (2003), passa por gerência da qualidade total,legado da escola alemã;

- Nos EUA e em algumas outras nações, oobjetivo centrou-se no marketing, no lucro e naqualidade de vida. Otimizou-se o desporto escolarcomo fator de saúde. Com excelente desenvolvimentocientífico, a nação não prioriza a supremaciadesportiva como fim.

Escolas Desportivas no Brasil

Com base nos programas desenvolvidos nasmelhores "escolas" mundiais, aquilata-se melhor odesporto no Brasil, que, por ser um país continental,com uma variedade genética exuberante, mereceestudos aprofundados. O desporto brasileirosobrevive do senso comum, não possuindo umprograma de revelação de atletas "Port.Al.Ha.", tendocomo realidade: diferente de outras "escolas", oBrasil, positivamente, apóia os desportosparaolímpicos; o Ministério dos Esportes desenvolveum programa junto às universidades brasileiras(Rede CENESP): Brasília (UnB); Minas Gerais(UFMG); Paraná (UEL); Pernambuco (UPE); RioGrande do Sul (UFRGS, UFSM); Santa Catarina(UDESP); e São Paulo (USP, UNIFESP); o desporto,em geral, não se preocupa com gerênciaadministrativa.

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

5956-66

Homeomerias dos "P.R.A.Ca.Desp." no FutebolBrasileiro

A 2ª coluna e o 2º objetivo (FIGURA 1) foramconquistados por três caminhos autênticos. A faltade um programa desportivo levou-nos ao 2º caminhoautêntico: não existe coerência interna quandocrianças, jovens e adolescentes portadores de altashabilidades são avaliados em programas padrão derevelação das aptidões e capacidades desportivasno futebol brasileiro (HR02 ).

A experiência deste pesquisador orienta parafalhas de concepção metodológica e pedagógica,conduzindo a rupturas estruturais do paradigmadominante. Por exemplo, a não-observância damaturação biológica por parte dos técnicosdesportivos pode causar sérias conseqüências como:atletas com idades biológicas abaixo ou acima dacronológica podem ser avaliados inconsistentes edescartados ou aproveitados erradamente; otreinamento incorreto e fora das fases sensíveis podecriar lesões, prejudicar o crescimento e causartraumas.

Para bem planejar o treinamento a longo prazono futebol, é importante a compreensão da evoluçãofilogenética neural do futebolista, que aborda aevolução do sistema nervoso hominal em relação aosoutros vertebrados, que passaram pelos estágios dodesenvolvimento: do sistema olfativo e visceral paraos proprioceptores, os receptores à distância, osistema tátil-quinestésico, o auditivo e o visual; atéchegarem aos membros posteriores, usados,prioritariamente, para a locomoção. Foi nosconstantes embates para se defender, defender afamília e a comunidade em que vivia, que este sermergulhou em guerras. A atividade de sobrevivênciado homem e o seu instinto disseminaram as maisvariadas formas de treinamento militar. Um destestreinamentos era o futebol. Este "Ser" precisa usarcom maestria os membros inferiores na transposiçãode obstáculos naturais do terreno (acidentes eondulações) ou durante lutas corporais. Ainda hoje,nas Forças Armadas, existe a preocupação dodesenvolvimento coordenativo. É comum muitosjovens chegarem sem uma boa noção de lateralidadee direcionalidade, motivo pelo qual passam por umaverdadeira reeducação motora: instrução de ordemunida e Grupo de Combate (GC) em terrenos

inóspitos (como deitar, rolar, rastejar, caminhar à noiteutilizando mais a audição, o olfato e o tato do que avisão, engatinhar, ultrapassar obstáculos, etc);instrução de pista de Pentatlo Militar e montanhismo.

Atualmente, o futebol, evolução natural da arteda guerra, é a prática que mais possibilita trabalhar asintonia fina e desenvolver os proprioceptores dosmembros inferiores do "Ser". O futebol, em ordemcrescente de importância, tem priorizado otreinamento físico, o treinamento técnico-tático, e, porfim, o treinamento tático-técnico, o que é incoerente.A evolução ontogenética do "Ser Humano" se repetena filogênese do futebolista. Apreciando a evoluçãosociomotriz e filogenética, poder-se-á afirmar que otreinamento físico, tático e técnico do futebol necessitaser melhor aproveitado, desenvolvendo as sinapsesmotoras e neurais.

Homeomerias e o Paradoxo do Futebol Brasileiro

A falta de um programa desportivo no Brasil e aforma inconsistente com que são avaliados os atletas"Port.Al.Ha." no futebol brasileiro conduziram-nos averificar no 3º caminho autêntico, que: não existediferença significativa, a nível alfa de p < 0, 05, entreos desempenhos das equipes de futebol do Brasilem relação à equipe de futebol da Alemanha emCopas do Mundo - (H01).

Vários mitos ainda envolvem o futebol no Brasil.Um deles é atribuir a Charles Miller a paternidade dofutebol em nosso solo pátrio. Outro mito é umparadoxo que começa por um sofisma: "O Brasil épenta-campeão mundial de futebol, o Brasil é o quetem mais conquistas; logo, o Brasil é o melhor domundo". Este sofisma abre caminhos para oparadoxo: "O Brasil é o melhor futebol do mundo, masnão apresenta o melhor índice técnico-desportivo".

Muitos autores procuram com valoresquantitativos mostrar que o Brasil é o país com melhoríndice de aproveitamento técnico do mundo. Masdeixam de considerar os axiomas necessários parainferir suas conclusões. Kant, em Crítica da RazãoPura (2000;154), deixa clara a necessidade dosaxiomas, pois:

Relativamente à quantidade ("quantitas"), quer dizer,à questão de saber qual é o tamanho de uma coisa,sobre isto não há axiomas no verdadeiro sentido dapalavra, por mais que muitas destas proposições

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

60 56-66

sejam sintéticas e imediatamente certas("indemonstrabilia"). Porque, que o par aditado ao parou tirado do par dê o par, são estas proposiçõesanalíticas, posto que tenho consciênciaimediatamente da identidade da produção de umaquantidade com outra. Os axiomas, pelo contrário,devem ser princípios sintéticos "a priori". Asproposições evidentes que exprimam as relaçõesnuméricas são seguramente sintéticas, pelo que nãomerecem o nome de axiomas senão só o de fórmulasnuméricas. [...] Mas ainda que sintética, estaproposição é particular. [...] Tais proposições, pois,não podem chamar-se axiomas (pois do contráriohaveria um número infinito), mas fórmulas numéricas.

Para evitar erros no processo lógico-matemático, considerou-se a classificação de cadapaís em relação ao total de participantes, sendoconstruídos axiomas (Copas com número diferentede participantes, problemas sociopolíticos,geográficos, etc.) que confirmem a quantidade dentrodo processo de qualidade.

O Brasil e o Futebol Olímpico

O Brasil, país do futebol, teria a obrigaçãoparticipar de todas as disputas olímpicas de futebol,caso desenvolvesse, dentro de um continuum, desdeo começo, um trabalho de gerência da qualidadeadministrativa, científica, metodológica e pedagógica.Se o objetivo é mostrar o paradoxo que move o futebolbrasileiro, no futebol olímpico não é necessária grandeelucubração, pois, nas vinte disputas, o Brasil sóparticipou de dez. A Hungria de Puskas sustenta oprimeiro lugar com 20% de aproveitamento, a Iugosláviae a ex-URSS, o segundo e terceiro lugares, com18,33% e 15%, respectivamente. Com o mesmonúmero de pontos, empatados em quarto lugar, com11,67%, a Alemanha, o Brasil, a Dinamarca e a Polônia.

O Brasil e a Copa América

No cenário das Américas, o futebol brasileirotem demonstrado paradoxalmente baixo índice deaproveitamento técnico-desportivo. Para isto, bastaanalisarmos a fria estatística dos números, agravadopor axiomas como: a extensão territorial, a população,condições climáticas e cultura, que são amplamente

favoráveis ao Brasil, e, mesmo assim, outros paísessul-americanos têm melhor índice de aproveitamentorelativo em Copa América, incluindo os resultados de2004: a A Argentina 79,75%, Uruguai 76,12% e Brasil76,60%, de aproveitamento.

O Brasil e as Copas do Mundo

O potencial brasileiro no futebol mundial éindiscutível. O senso comum aceita o nosso futebolcomo o melhor do mundo, mas sua produtividade ébaixa. Principalmente pelos axiomas que podemosformar entre Alemanha e Brasil:

1º - Alemanha tem uma superfície de 357. 039Km2; o Brasil 8. 511. 965 Km2;

2º - Alemanha tem 90 milhões de habitantes; oBrasil, 170 milhões;

3º - Na Alemanha, o clima frio dificulta a práticado futebol; no Brasil, o clima quente favorece a práticado futebol.

4º - A Alemanha, segundo a FIFA, tem 6,3milhões de praticantes de futebol, sendo sua paixãonacional o esqui no gelo; o Brasil, com 30 milhões depraticantes (O Globo, 20 abril 2001), tem como paixãonacional o futebol.

A TABELA 1 foi confeccionada com resultadosgerais dos cinco melhores países que disputaram asCopas do Mundo de 1930 a 2002. Os escores foramobtidos dividindo-se a classificação (1º lugar com escoreigual ao número de participantes) desses países pelonúmero de participantes, multiplicando-se o resultadopor 100. Nos valores absolutos e relativos, calcularam-se: os valores médios obtidos da média dos pontos sónas Copas do Mundo em que o país participou; osvalores absolutos, das médias obtidas, em todas asCopas realizadas; os valores relativos que representammédias conquistadas nas Copas que participaram.

TABELA 1Estatística Descritiva do Aproveitamento em Copas

do Mundo

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

6156-66

O Brasil tem vantagem absoluta de 5,30% sobre aAlemanha. Considerando os axiomas, esta diferençanão é representativa. Relativamente a Alemanha está8,32% à frente do Brasil. O Brasil, pentacampeão eúnico país a participar de todas as Copas, tem omenor índice de aproveitamento. Na FIGURA 2, éclara a regularidade alemã sobre o Brasil em três dascinco fases. Sobretudo porque os alemães nãoparticiparam da Copa de 1930 (fase "A1") e de 1950(fase "A2"),

FIGURA 2Índice de Aproveitamento Técnico-Desportivo da

Alemanha e do Brasil

Comprovação do Paradoxo Técnico-Desportivodo Futebol Brasileiro

Os resultados da Análise de VariânciaOneway em relação aos dados das equipes Alemã eBrasileira, TABELA 2, foram: F(1,28) 0, 310 = 0,582;p> 0,05.

TABELA 2ANOVA Ranking

Apesar da diferença a favor da Alemanha,estatisticamente, a mesma não foi significante.Todavia, há de se ponderar que uma diferença médiade dois pontos ou mais, considerando os axiomas,demonstra superioridade. Vitórias olímpicas de grande

repercussão mundial têm, em várias oportunidades,sido obtidas por milésimos de segundo, comosistematicamente ocorre em natação e atletismo.

Estágios do Paradigma do Futebol Brasileiro

A falta de um programa desportivo, o paradoxotécnico-desportivo e a forma inconsistente de avaliaros atletas "Port.Al.Ha." no futebol brasileiro conduziu-nos a: - não existe coerência interna no contextoepistemológico do atual estágio do paradigmadominante no futebol brasileiro - HR03.

Trazendo para o eixo cartesiano o conjunto devariáveis que sustentam os paradigmas, chega-se àFIGURA 3. No eixo das abscissas (x) temos o lapsode tempo que dura o estágio onde cada datarepresenta um ou mais eventos, que não significamdatas exatas e sim um "entorno" de datas que podemdurar anos ou não. No eixo das ordenadas (y) estãoas soluções dos problemas a serem resolvidos.

FIGURA 3Instantâneo das Fases do Paradigma no Futebol

Brasileiro

Em qualquer paradigma, sua vida útil nãocomeça no tempo "0", mas um pouco acima no eixo"y". Isto indica que as soluções dos problemas, quejá existiam no paradigma dominante, começam a serresolvidas pelo paradigma emergente.

O paradigma foi dividido em estágios ("A","B" e "C") e subdividido em fases ("A1", "A2", "B1","B2"). O estágio "C" não será subdividido, pois sevislumbra a possibilidade de mudança de paradigmaem nosso futebol. Os conceitos paradigmáticosutilizados não são antagônicos à ciência pós-moderna. Os materiais usados para construir o gráfico

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

62

do paradigma foram os parâmetros da "Linha doTempo no Futebol Brasileiro" (Correia da Silva, 2003)e o Índice Técnico-Desportivo em Copas do Mundoapoiado (TABELA 3).

TABELA 3Índice Técnico-Desportivo em Copas do Mundo

Entornos Pré-Paradigmáticos

Pioneiros de um novo paradigma são osque adentram no estágio "A", trazendo a massa críticade cérebros, dinheiro e energia para levá-los ao estágio"B". Desta forma, em 1874, encontramos relatos emvários pontos do País sobre a prática do futebol. Oponto magno do pré-paradigma é o ano de 1882 (faixamédia do "entorno"), quando o Imperador D. Pedro IIsolicita diretamente ao então deputado pelo PartidoLiberal, Rui Barbosa, que apresente parecer sobre areforma do ensino. Rui Barbosa, "A Águia de Haia", ofaz e incentiva pesquisas nos colégios europeus. Elefoi o grande cérebro, pioneiro intelectual que, junto auma massa de entusiastas, alavancou o desporto, emespecial o futebol brasileiro, chegando-se à origemcrítica do paradigma emergente ("0"), no ano de 1895.

Estágio "A" do Continuum do Paradigma doFutebol Brasileiro

Os anos de 1895 a 1957 delimitam o estágio"A", quando são esclarecidas novas regras queorientam o paradigma emergente até suafundamentação.

Fase "A1" (1895-1938) - Conhecimento das Novas Regras

É uma fase em que são muitos os problemas

a serem resolvidos e suas soluções difíceis,resolvidas diferentemente.

Oficialmente, de 1895 até 1932, o futebol éamador e elitista no País. O marco do rudimento dasprimeiras regras foi 1902, época da organização doprimeiro campeonato do futebol brasileiro (CampeonatoPaulista). São criadas as Ligas de Futebol Paulista,Baiana, do Rio de Janeiro, etc. Em 1907, o futebolbrasileiro é palco do primeiro "tapetão", entre Botafogoe Fluminense, sendo as equipes declaradas CampeãsCariocas, em 1995. Em 1915, mesmo o futebol sendoamador, alguns jogadores começam a receberdinheiro de sócios ricos ("profissionalismo marrom").Em 1916, Lauro Muller funda a Confederação Brasileirade Desportos, a CBD. Em 1922, a CBD cria oCampeonato Brasileiro de Seleções. Em 1923, a CBDfilia-se a Fédération Internationale de Footbal (FIFA).Em 1930, o Brasil participa da primeira Copa do Mundono Uruguai, que fica com o título. Um ano depois, trintae nove dos melhores jogadores deixam o País parajogarem na Itália (episódio da "invasão italiana"). NaCopa de 1934, a Seleção brasileira é desclassificadano primeiro jogo (Espanha 3 X 0 Brasil), ficando em14º lugar, pior classificação até hoje. A causa é a gestãoamadora, pois os melhores atletas não são convocadosdevido à briga entre os "amadores" da CBD e os"profissionalistas" da FBF. Em 1937, o futebol brasileirodá um passo à frente e a FBF se filia à CBD,começando, então, a ganhar prestígio internacional,aumentando sua popularização. Em 1938, na Copada França, o Brasil fica em terceiro lugar. A SeleçãoBrasileira sofre a sua primeira derrota em camposbrasileiros: 5 a 1 para a Argentina. A TABELA 3 aponta apior fase das cinco, quando a Seleção Brasileira obteve55,65% de aproveitamento e a Alemanha, 63,7%.

Fase "A2" (1939-1957) - Nova Maneira de ResolverProblemas

Esta fase é o momento em que sefundamentam novas regras e regulamentos que irãorevolucionar o futebol. Muitas regras são conhecidase dominadas. É preciso descobrir a melhor forma decomercializar os produtos.

Em 1940, com a presença do Presidente GetúlioVargas, é inaugurado o Estádio do Pacaembu (SP).Em 1941, o governo federal cria o Conselho Nacionalde Desportos (CND), que determina a todas as

56-66

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

63

entidades estaduais filiadas e responsáveis pelo futebolserem denominadas federações e subordinadas àCBD. Também é criada, no campeonato paulista, aLei do Acesso e do Descenso. Nas décadas de 1920a 1940, sedimenta-se, aprofunda-se, democratiza-see se massifica o futebol pelo Brasil, transformando-senuma verdadeira paixão popular. Nas Copas de 1939a 1957, o Brasil teve 81,02% de aproveitamento. AAlemanha, mesmo sem participar da Copa de 1950,obteve 90,62% (TABELA 3).

Estágio "B" do Continuum do Paradigma doFutebol Brasileiro

Os anos de 1958 a 1970 delimitam o estágio"B", momento em que se está procurando a melhorforma de comercializar os "projetos". Começam asurgir indicativos da aproximação do final do estágio"A" e começo do estágio "B".

Fase "B1" (1958-1970) - Procura Eficaz deSoluções

Nesta fase, aumentam as soluções dosproblemas, pois as regras são conhecidas por todose suficientes para serem eficazes. Quanto maisproblemas resolvidos, mais harmônica é a fase.Delineados os primeiros problemas, projetados osplanejamentos, massificadas as regras com eficácia,as soluções dos problemas são alcançadas, levandoo paradigma instalado ao sucesso. Aqui, o Brasil seposiciona como potência mundial, com exuberantefutebol de rara plasticidade. Pelé se consagra comomaior jogador de futebol de todos os tempos. Em 1963,na final do Campeonato Carioca, o Maracanã recebe177.020 torcedores pagantes. Em 1969, Pelé marcao milésimo gol, consolidando-se como o melhor atletado século. É a fase do Brasil Tricampeão, teve 84,38%contra 81,25% da Alemanha (TABELA 3).

Fase "B2" (1971-1993) - A Eficiência do ParadigmaDominante

Esta é a fase ideal de intensificar a busca denovo paradigma, pois o máximo de sucessoalcançado, pelas leis naturais das coisas, tende aodeclínio. Os múltiplos concorrentes (paradigmaemergente), mesmo iluminados pela luz do

paradigma dominante, tornam-se fator complicador,pois na busca de melhor eficiência acabamvislumbrando melhores soluções do que as doparadigma dominante. É o ponto provável ondecomeçam a emergir os primeiros raios do novoparadigma, cujo formato é indesejável para muitosdo atual paradigma.

Em 1974, na Alemanha, o Brasil estabelece apior média de gols por partida (0,8) até hoje registradana história das Copas. O jornal O Estado de SãoPaulo, em 25 de agosto de 1974, faz sugestões queseriam repetidas por muitos anos: uma confederaçãosomente para o futebol; arrecadação de dinheiro paraos clubes através da loteria esportiva; pesquisa comtorcedores para saber os problemas do nosso futebol;calendário planejado com antecedência e de formamais racional, profissional, visando lucro para osclubes; punição aos jogadores violentos; adoção domodelo futebol-empresa com gerenciamento deprofissionais. Essas sugestões serão adotadas nodecorrer do tempo. Em 1977, surge a publicidade aoredor dos campos de futebol. Em 1978, o jornal OGlobo publica uma série de artigos e debates comjornalistas, dirigentes e técnicos de futebol, expondo"a decadência do futebol brasileiro". Em 23 denovembro de 1979, é criada a Confederação Brasileirade Futebol (CBF). Em 1980, acontece o terceirogrande êxodo de craques brasileiros para o exterior,êxodo que se torna maciço em 1982 e ocorre até hoje.Só em 1982 o CND aprova o uso de publicidade nosuniformes. No ano de 1987, têm início astransmissões de TV ao vivo. Surge, também, o "Clubedos 13" (Cruzeiro, Atlético Mineiro, Botafogo,Flamengo, Fluminense, Vasco, Grêmio, Internacional,Corintians, Palmeiras, Santos, São Paulo e Bahia).O Projeto Zico é aprovado em 1993, no CongressoNacional. Nesta fase, o Brasil não conquista nenhumaCopa e seu índice é de 80,42%. A Alemanha tem seumaior índice (92,08%) e conquista as Copas de 1974e 1990 (TABELA 3).

Estágio "C" do Continuum do Paradigma doFutebol Brasileiro

A estágio "C" (1994 a 200?) pode estar emsua 1ª fase ou não, pois, a qualquer momento, o "caos"pode reorganizar um novo paradigma. Na fase "C" osproblemas são maiores, pois, na fase "B2", as

56-66

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

64

questões a resolver são grandes e numerosas, sendoadiadas as soluções das piores e resolvidas as maisfáceis. Na fase "C", os problemas fáceis acabam,restando os mais difíceis, caros, sofisticados, sutis eamplos. O píncaro das satisfações nos seduz,diminuindo a solução dos problemas, o que nos prendeao paradigma dominante, dificultando mudanças(paradoxo do paradigma), momento em que se temdificuldade de enxergar novos horizontes, caindo,assim, no "efeito do paradigma", em que sóconseguimos ver o mundo através de nossos modelos.

Este mar de obstáculos instala uma crise quecomeça a chamar a atenção das pessoas. Deste"caos" provavelmente surgirá um novo paradigma.Tudo leva à necessidade de mudanças paradigmáticasno futebol brasileiro, que não ocorrem em um dia, umano, mas em um período de tempo bem maior. Otetracampeonato de futebol, em 1994, acontece depoisde 24 anos, deixando amarga saudade dos temposáureos e românticos do futebol fisicamente correto,tecnicamente artístico e taticamente profícuo emestratégias metacognitivas.

Somente em 1997 é que o jogador brasileiro seliberta da escravidão da cartolagem e pode, depois dostrinta anos de idade, obter o "passe livre". A próximavitória vem com a Lei Pelé, nº 9615, aprovada em 24 demarço de 1998. A crise da década de 1930 era doprofissionalismo "marrom" por conta dos atletas. A partirda década de 1980, vêm crises relacionadas adirigentes que, ainda hoje, conduzem o clube de futebolcomo clube social e, por vezes, em proveito próprio.Aquela crise metamorfoseou-se para o "profissionalismolaranja" (intermediário que faz transações em nome deum terceiro, cuja identidade fica oculta). Dirigentes declubes, de federações e da CBF se eternizam noscargos, construindo verdadeiros feudos.

O futebol brasileiro tem sua crise máxima em2001, com a CPI do Futebol. Estamos na fase "C1" ouna "C2"? É seguro estarmos no crepúsculo de uma novaordem, com clubes menores, que possuem melhoresíndices de aproveitamento, e clubes grandes, perdendoespaço devido à sua parca profissionalização. Em 2002,na Copa do Japão/Coréia, o Brasil torna-se o único paísdo planeta a conquistar cinco Copas do Mundo, comum futebol defensivo e matematicamente planejado, nomelhor estilo europeu. Na última fase, o Brasil, com98,96%, ganha as Copas do Mundo de 1994 e 2002, e aAlemanha, com sua estabilidade, consegue 87,15%.

AVALIAÇÃO NO FUTEBOL BRASILEIRO

A terceira coluna (FIGURA 1) leva ao 3° objetivo(5° caminho autêntico), sob a óptica dashumanidades, verificando-se que: não existecoerência interna quando crianças, jovens eadolescentes portadores de altas habilidades sãoavaliados por observadores técnicos ("olheiros")durante eventos (campeonatos, jogos, "peneiras",etc.) de revelação das aptidões desportivas no futebolbrasileiro. - (HR04 ).

"Olheiro": Instinto e Senso Comum ou IntuiçãoMetacognitiva?

A linha de produção e montagem dos"P.R.A.Ca.Desp." de atletas "Port.Al.Ha." sobrevive damatéria-prima, atletas de alto nível. Estes sãorevelados pelos "olheiros" e treinados sem critérios enormas.

Os "olheiros" têm dois perfis: os quepercebem pela sensação (os cinco sentidos); ou osque percebem pela intuição, que é uma formaindireta e utiliza o inconsciente, associando aspercepções do mundo exterior. Os "olheiros" podemjulgar, também, de duas maneiras: pelo pensamentoem sua forma analítica e racional; ou pela formamais humana, o sentimento. Estas quatropossibilidades (duas a duas) mesclam-se e,dependendo das combinações, o "olheiro" pode sermais ou menos produtivo. Por não existir uma bateriade testes padronizada, o resultado depende doavaliador: se ele for mais sensorial, menor será suacapacidade preditiva; quanto menos sensorial, maiorintuição terá. Os "olheiros" serão diferenciados namedida em que se aproximem de estágiossuperiores (metacognição). O "garimpo", em nossofutebol, tem nichos com formas históricas e culturaisde revelar "talento". O modelo é semelhante em todoo rincão nacional. Em minutos, "olheiros" batem omartelo e afirmam: "aquele atleta é craque",avaliação "simplista" que potencializa carências,privações e vacuidades nestes atletas.

Estando cientes do modo de atuação dos"olheiros", restou-nos comprovar que sua atuaçãoancora-se no senso comum. Investigou-se em umgrupo de vinte "olheiros", de diferentes clubes defutebol, a relação entre a sua capacidade cognitiva

56-66

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

65

(Teste Cognitivo dos "olheiros" - TCO), e sua condiçãotécnico-desportiva para avaliar o "talento" (Teste deConhecimento Técnico do "Olheiro" - TCTO). Estesdois instrumentos de medida foram validados poropinião de um grupo de cinco experts. Lançou-se mãoda análise correlacional (Pearson) e o resultado obtidode p<0,021 demonstrou que a capacidade cognitivade avaliação dos "olheiros" se correlacionava com oseu conhecimento técnico na hora da avaliação.Porém, ao analisar as respostas dissertativas dos"olheiros" nos referidos testes, ficou claro que acondição cognitiva de entender as valências físicas etécnico-táticas do "talento" não era congruente coma forma de avaliação. Essa questão, associada aoutras, demonstrou que o método de avaliar o"talento" está apoiado mais nas impressõesgarantidas pela repetição, do que em decorrência deuma avaliação responsiva, com critérios, parâmetrose normas. O que é compreensível, porque em suamaioria eles utilizam o senso comum. Asistematicidade de observação pode ter levado estesindivíduos a desenvolverem um feeling sobre acapacidade do jogador, como se este feeling fosseuma condição de dedução sobre uma multiplidadede fatores internos, a partir de uma apreciação"apenas do momento". Com base na experiênciadeste pesquisador, resolveu-se abandonar esta via,por ela não construir axiomas e os resultadosformarem bolsões de sofisma. No atual paradigma,é difícil comprovar o grau de eficiência dos "olheiros",onde se constata que "pseudotalentos", na idadeadulta, não "explodem", e atletas medianos, na idademadura, se tornam "craques".

É importante suprir as carências, vacuidadese privações dos atletas, sendo necessário levantarcausas que formatem um modelo matemático sob aóptica da genética (Físicas/Biológicas e Emocionais/Psicológicas), do fenótipo (Morais/Humanas;Socioculturais) e Cósmicas/Transcendentes.

CONCLUSÕES

Nas estruturas das homeomerias - aprodutividade técnico-desportiva do futebol brasileironão é coerente com sua tradição no cenário mundial;o paradoxo do futebol, no início do século XX, ficou porconta do desporto sob a égide da dupla ética, no início"profissionalismo marrom", hoje o "profissionalismo

laranja"; outro paradoxo é conseqüência dos anteriores- "ser o melhor futebol do mundo, mas não ter o melhoríndice técnico-desportivo"; falta de um programamodelo-característico com base na totalidadeantropológica; legislação desportiva precária.

Nas estruturas das humanidades - os recursoshumanos e tecnológicos pecam pela não qualificaçãodos dirigentes e equipes técnicas; "olheiros" nãopossuem conhecimentos e, a posteriori, não agregamvalor ao processo, desenvolvendo, há cem anos, omesmo modo de avaliação; o treinamento do atleta,em geral, é mecanicista e voltado para a motilidade; oatleta serve para o dirigente auferir lucros pessoais,sendo o clube lesado financeiramente; trabalhos, ditossociais, são plataformas para os interesses eleitoreirosnos clubes ou em eleições governamentais.

RECOMENDAÇÕES

- O Ministério dos Esportes desenvolva um"P.R.A.Ca.Desp." geral (base motora) a nível escolar; e"P.R.A.Ca.Desp." específico em clubes, universidadese Forças Armadas, sendo as competições municipais,estaduais e nacionais, utilizando clubes de futebol comoestratégia de incentivo. As Forças Armadas, poralcançarem todo país, trarão economia de tempo erecursos materiais e humanos.

- O MEC estude a reforma da prática daEducação Física no País, fazendo da motricidade,em suas fases sensíveis, a base pedagógica de umamatriz curricular para o desenvolvimentometacognitvo e das capacidades gerais, tornandoprático o aprendizado das matérias da educaçãoinfantil, do ensino fundamental e médio.

- A CBF e o COB desenvolvam gerência dequalidade total em todos os clubes e entidadesdesportivas, normatizando estruturas administrativase técnicas.

- Seja implementado no futebol, um"P.R.A.Ca.Desp." específico e epistêmico, utilizando-o como alavanca cultural, social e na melhoria daqualidade de vida.

Endereço para correspondência:Av João Luiz Alves s/n

Fortaleza de São João - Urca - Rio de Janeiro - RJCEP: 22291-090

e-mail: [email protected]

56-66

REVISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA - Nº 130 - ABRIL DE 2005 - PÁG.

EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

Nº 130 ABRIL DE 2005

66

BERESFORD H. Anotações em sala de aula: Ciênciada Motricidade Humana. RJ: Universidade CasteloBranco, 2001.

CORREIA DA SILVA T, SILVA VF. Programa deRevelação das Aptidões e Capacidades Desportivasde Atletas Portadores de Altas Habilidades no FutebolBrasileiro: Do Senso Comum Instintivo aMetacognição Intuitiva. (Dissertação de Mestrado). Riode Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2003.

GULBIN J. Modelos de detecção de talentos.Anotações em sala: I Congresso Internacional deTreinamento Desportivo. SP, 2003.

KANT E. Crítica da razão pura. 9ª. ed. Tradução de J.Rodrigues de Merege. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000: 220.

MARQUES A. A promoção de talentos desportivosna ex-RDA: acabou-se a mais poderosa fábrica decampeões do mundo? Porto: Universidade do Porto,(sem data).

VERNON FS. Anotações em sala de aula:Neurociência. Rio de Janeiro: Universidade CasteloBranco, 2002.

WEINECK J. Treinamento ideal: instruções técnicassobre o desempenho fisiológico - consideraçõesespecíficas de treinamento infantil e juvenil. RevisãoCientífica de BARBANTI VJ. 9ª. ed. São Paulo: Manole,1999:740.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PROPAGANDA

56-66