direitos humanos utopia distante - artigo de agosto de 2011
TRANSCRIPT
-
7/29/2019 Direitos Humanos Utopia Distante - Artigo de Agosto de 2011
1/1
DIREITOS HUMANOS: UTOPIA DISTANTE
Ontem visitei pela ensima vez o antigo Cepaigo. Ainda a caminho do presdio falava
para as duas jovens estagirias da promotoria, curiosas e vidas por conhecimento e que meacompanhariam naquele ato de rotina, que assim procedo desde 1995. Numa dessas idas quase
no voltei, verdade. Na rebelio liderada pelo famoso Leonardo Pareja, em 1996, fiquei uma
semana preso.
Uma constatao quase absurda, nesses 16 anos, a de que no h nada to ruim que no
possa piorar um pouco mais. Os direitos humanos caminham, nos presdios goianos, na
contramo da histria. Onde h menos de duas dcadas havia 500 homens, hoje h 1500.
Ocupando os mesmos espaos, em prdios que h muito gritam silenciosamente para serem
jogados ao cho.
No diferente, porm, o trato com os direitos humanos do lado de fora da priso. A
polcia, do lado de c dos muros, chamada a resolver a qualquer custo as deficincias da
segurana pblica, torna-se truculenta, trabalha em guerra. Grave erro, pois dessa guerra retrica
s restam vtimas civis.
A plateia, que nunca se incomoda com a violncia oficial a no ser quando a vtima est
muito prxima, se diverte com o espetculo monstruoso, inerte, aptica e insensvel. Policiais
suspeitos da prtica do extermnio tornam-se heris, a exemplo do nada fictcio personagem
Capito Nascimento. Defensores de direitos humanos, alguns convivendo diuturnamente sob
ameaa de morte (minha solidariedade, Pe. Geraldo!), so ridicularizados por pseudojornalistas
que se banham em sangue em frente s cmeras de televiso. Cad os direitos humanos? o
que sempre perguntam, como se quisessem mesmo a resposta do passivo telespectador.
Gosto muito da noo de utopia de que fala Boaventura de Sousa Santos, fadada a
acontecer, desde que haja a vontade dos homens, pois a humanidade tem o direito de desejar e
lutar por algo radicalmente melhor. S no percebo vontade de mudana em Gois. Com tantas
atrocidades cometidas pelo Estado dentro e fora do crcere, no sei se d para acreditar em dias
melhores para os direitos humanos. Talvez Ceclia e Flvia, aquelas duas meninas que comigo
ontem conheceram a penitenciria, possam mostrar alguma luz.
HAROLDO CAETANO DA SILVAPROMOTOR DE JUSTIA