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Propriedade Intelectual IBMEC LL.M. em Direito Empresarial Denis Borges Barbosa Apostila IV Direitos Autorais Direitos Conexos Software

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Page 1: Direitos Autorais - Denis Borges Barbosa · Web viewDa Carta de 1988 introduziu matéria nova no texto constitucional, ao prever que a lei ordinária assegurará, em seus termos,

Propriedade Intelectual

IBMEC

LL.M. em Direito Empresarial

Denis Borges Barbosa

Apostila IV

Direitos Autorais

Direitos Conexos

Software

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PROPRIEDADE INTELECTUAL......................................................................................................................... 1

DIREITOS AUTORAIS.......................................................................................................................................... 5

O AUTOR E SUA RÉPLICA ........................................................................................................................................ 5Legislação complementar sobre direitos autorais...........................................................................................................5

O ESTATUTO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE AUTOR ............................................................................................6CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO AUTORAL ..................................................................................................6

Expressão......................................................................................................................................................... 6Jurisprudência: Expressão e Idéia..................................................................................................................................7

Utilidade e expressão....................................................................................................................................... 7O que não é direito autoral............................................................................................................................................8

Coisa imaterial e corpus mechanicum.............................................................................................................. 9Direitos autorais, Direitos Conexos e Direitos de Arena.................................................................................10

Jurisprudência: Direitos autorais e direitos conexos.....................................................................................................11Jurisprudência: afiliação forçada ao ECAD.................................................................................................................11

Originalidade................................................................................................................................................. 11Originalidade – Parecer............................................................................................................................................... 12

OBJETO DA PROTEÇÃO ......................................................................................................................................... 12Jurisprudência: as formas de criação não são numerus clausus ....................................................................................13Projetos de Engenharia................................................................................................................................................14

A autoria e a titularidade dos direitos............................................................................................................ 14Parecer: autoria e co-autoria........................................................................................................................................15

CONTEÚDO DOS DIREITOS ..................................................................................................................................... 18LIMITES DE PROTEÇÃO ......................................................................................................................................... 19

Momento da proteção..................................................................................................................................... 19Prazo da proteção –....................................................................................................................................... 19

Parecer – O Caso do Fotógrafo Malta..........................................................................................................................19Limites territoriais da proteção...................................................................................................................... 22Fair Usage – As limitações ao direito autoral.................................................................................................22

Digitaliza o Picasso?................................................................................................................................................... 22Original ?.................................................................................................................................................................... 22Os usos permitidos...................................................................................................................................................... 23As fotografias..............................................................................................................................................................24Quem é o dono?.......................................................................................................................................................... 24Notícia: Limites do Direito..........................................................................................................................................25Fair usage – O Caso do Cristo Redentor......................................................................................................................26

Direitos morais e patrimoniais........................................................................................................................ 27Jurisprudência: Direitos Morais...................................................................................................................................28Direitos Patrimoniais...................................................................................................................................................28Jurisprudência: direito moral.......................................................................................................................................29

DO REGISTRO DE DIREITOS AUTORAIS ................................................................................................................... 30Propósito do registro...................................................................................................................................... 30

Jurisprudência: Registro não dá propriedade................................................................................................................31Qualquer um pode pedir registro?.................................................................................................................. 31Onde se registram os obra autorais................................................................................................................ 31

UTILIZAÇÃO E CESSÃO DAS OBRAS PROTEGIDAS POR DIREITO AUTORAL ..............................................................33Utilização da Obra......................................................................................................................................... 33

Da Edição.................................................................................................................................................................... 33Da Comunicação ao Público........................................................................................................................................33Da Comunicação ao Público - GRATUIDADE............................................................................................................33Arte Plástica................................................................................................................................................................ 34Obra Fotográfica......................................................................................................................................................... 34Obra Audiovisual........................................................................................................................................................ 34

Cessão............................................................................................................................................................ 34

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Cessão na Lei 9.610/98................................................................................................................................................35Cessão em Direitos Autorais e Conexos......................................................................................................................37Cessão-alienação. Como reconhecer?..........................................................................................................................37Parecer – Cessão e Edição...........................................................................................................................................38

O DIREITO AUTORAL E A EMPRESA ....................................................................................................................... 42Escritos, conferencias e palestras.................................................................................................................................42Desenhos e projetos de engenharia e arquitetura..........................................................................................................42As obras de pessoas naturais.......................................................................................................................................42As obras de contratados, pessoas jurídicas...................................................................................................................43Jurisprudência: a obra como elemento da concorrência................................................................................................43

USO DO DIREITO AUTORAL CONTRA A CONCORRÊNCIA .........................................................................................44VIOLAÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS ..................................................................................................................... 45

Proteção Física anti-cópia e Direitos Autorais.............................................................................................................45Jurisprudência: Ação Penal Pública Incondicionada....................................................................................................46Bibliografia complementar: Direito de Autor..............................................................................................................46

DIREITO DE IMAGEM ............................................................................................................................................ 50Legislação...................................................................................................................................................... 50

Doutrina...................................................................................................................................................................... 50Jurisprudência: Direito de Imagem..............................................................................................................................50Imagem empresarial – Existe?.....................................................................................................................................52

ANEXO ................................................................................................................................................................ 54Fontes Principais........................................................................................................................................... 54Outras Fontes................................................................................................................................................. 54

©       LEIS ...................................................................................................................................................................... 54©       DECRETOS .......................................................................................................................................................... 54©       CONVENÇÕES INTERNACIONAIS ...................................................................................................................55

Entidades Envolvidas..................................................................................................................................... 55

O SOFTWARE...................................................................................................................................................... 57

REGIME CONSTITUCIONAL DOS PROGRAMAS DE COMPUTADOR ...............................................................................57O O PROBLEMA ESPECÍFICO DO SOFTWARE ............................................................................................................58

O modelo brasileiro........................................................................................................................................ 59Como se protege o “software”........................................................................................................................ 61

O O QUE É PROGRAMA DE COMPUTADOR .............................................................................................................. 62Os vários tipos de programa. A questão do programa-produto.....................................................................................64

Software como Expressão............................................................................................................................... 64O problema específico do software..............................................................................................................................64Conseqüências do princípio.........................................................................................................................................65Expressão livre ou necessária......................................................................................................................................66

Software como um conjunto organizado de instruções....................................................................................67Programa e código....................................................................................................................................................... 67Estrutura, seqüência e organização..............................................................................................................................68O look and feel (jeitão)................................................................................................................................................68

A linguagem natural ou codificada................................................................................................................69Código fonte ou código objeto.....................................................................................................................................69

Expressão contida em um suporte físico de qualquer natureza........................................................................70Programa fixado em ROM/EPROM............................................................................................................................71Fugacidade dos resultados...........................................................................................................................................71

Software: de emprego necessário.................................................................................................................... 72Programas dedicados................................................................................................................................................... 72Programas aplicativos ou sistemas operacionais..........................................................................................................72

Software: destinado a máquinas automáticas de tratamento de informação....................................................72A destinação do conjunto de informações....................................................................................................................73

Software: também aplicável a dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos....................................73Programas baseado em técnica digital........................................................................................................... 73Software: programas para fazer funcionar de modo e para fins determinado..................................................73

Comportamento, e não texto........................................................................................................................................74Fins determinados....................................................................................................................................................... 75

A patente de “software”................................................................................................................................. 75

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O destino da engenharia reversa.................................................................................................................... 76O REGISTRO DO PROGRAMA .................................................................................................................................. 78

Função e eficácia........................................................................................................................................... 78Bibliografia complementar: Software..........................................................................................................................80Orientador ABES No 04/97 - Abril-Maio97I –............................................................................................................81

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Direitos Autorais

O autor e sua réplica

A partir de 1710, apareceram as primeiras leis destinadas a estimular as criações literárias, artísticas e científicas, cuja intenção não era favorecer nenhuma das indústrias então existentes. Pelo contrário, o propósito das novas legislações era, em primeiro lugar, proteger os autores do excesso de poder econômico (e técnico) dos empresários gráficos, e, em segundo lugar, promover a criatividade intelectual.

A tradição inglesa e, depois, norte-americana, enfatizou o primeiro daqueles intentos, elaborando um direito de cópia, ou copyright, pelo qual o autor - e não o editor - deteria a exclusividade de impressão. A legislação francesa subseqüente à Revolução e, até certo ponto, o direito alemão , fixaram no segundo aspecto, aperfeiçoando a proteção do autor em sua individualidade por meio do direito de autoria ou droit d’auteur.

 A primeira lei sobre direito autoral no Brasil foi a que dava aos lentes dos cursos jurídicos, em 1827, a exclusividade de seus escritos. A Lei 496 de 18 de janeiro de 1898, chamada Lei Medeiros Albuquerque restringia-se às obras nacionais. Alterada posteriormente em 1912, a lei foi superada pelos dispositivos do Código Civil de 1917, até que, em 14 de dezembro de 1973, foi editada a Lei Federal nº 5.988, a qual se aplica até 19 de junho de 1998.

Legislação complementar sobre direitos autorais Leis nºs 3.216, de 18.04.57; 5.805, de 03.10.72; 6.533, de 24.05.78; 6.615, de 16.12.78; 6.800, de 25.06.80; 6.895, de 17.12.80; 7.104, de 20.06.83; 7.123, de 12.09.83; 7.646, de 18.12.87; 7.762, de 27.04.89; 8.401, de 08.01.92; 8.635, de 16.03.93; DLs nº 3.365, de 31.06.41 e 824, de 05.09.69; Decretos nºs 4.857, de 19.11.39; 16.452, de 09.04.24 (Conv. de Portugal); 26.675, de 18.05.49 (Conv. Washington); 34.954, de 18.01.54; 43.956, de 18.01.54 (Conv. de Berna); 48.458, de 04.07.60; 51.691, de 01.02.65 (Conv. de Genebra); 57.125, de 19.10.65 (Conv. de Roma); 75.541, de 31.03.75; 75.699, de 06.05.75 (Conv. de Berna); 76.905, de 24.12.75 (Conv. de Berna); 76.906, de 24.12.75 (Conv. de Genebra); 84.134, de 30.10.79; 93.629, de 28.11.86 (CNDA); 95.744, de 23.02.88 (TVA); 96.036, de 12.05.88; Dec. Legs. nº 12, de 22.07.44; 59, de 19.11.51; 39, de 15.12.57; 12, de 30.09.59; 26, de 05.08.64; 78, de 31.10.74; 55, de 28.06.75; 59, de 30.06.75; 94, de 09.12.94.

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O estatuto constitucional do direito de autor

Art. 5º. XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;

Desde a primeira Constituição Republicana, e com exceção da Carta de 1937, os direitos de autor têm tido amparo constitucional 1. Na presente Carta, o texto relevante se espalha em dois incisos do art. 5º.

No primeiro destes (XXVII) a Carta indica que“aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”.

Aí se ancora a proteção do direito do autor, stricto sensu. Como um direito exclusivo, patrimonial, um monopólio de reprodução, utilização e publicação sujeito aos limites e condicionamentos constitucionais. Como veremos abaixo, os direitos morais, configurados até mesmo como direitos humanos, ancoram-se em outros dispositivos constitucionais e de tratados internacionais.

Já no inciso XXVIII a Constituição prevê que “são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;

A expressão dos interesses coletivos

A Carta de 1988 não só indica a tutela dos direitos subjetivos, interesses individuais, à produção autoral, mas também aponta para a existência de interesses coletivos ou societários no mesmo âmbito temático, cometendo ao Estado o dever de garantir o acesso a tais objetos culturais. Tal se dá, por exemplo, nos seguintes dispositivos da lei básica:

Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

(...)

1 Constituição de 1891, art,. 72, § 26: “Aos autores de obras literárias e artísticas é garantindo o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou por outro processo mecânico. Os herdeiros exclusivos de reproduzí-las pela imprensa ou por outro processo mecânico. Os herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo tempo que a lei determinar. Constituição de 1934, art. 113, inc. 20: “Aos autores de obras literárias, artísticas e científicas é assegurado o direito exclusivo de reproduzi-las. Esse direito transmitir-se á aos seus herdeiros pelo tempo que a lei determinar.” Constituição de 1937: Omissa. Constituição de 1946: art.141 § 19: “Aos autores de obras literárias, artísticas ou científicas pertence o direito exclusivo de reproduzi-las. Os herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo tempo que a lei fixar.

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Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Natureza dos direitos patrimoniais do inciso XVII

O legislador constitucional optou – no caso dos incisos XXVII e (por conseqüência) XXVIII do art. 5oo. – por conceder um “direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução” aos direitos do autor de obras intelectuais. Como diz J. Cretella Junior 2

Optando pela expressão “direito exclusivo”, o legislador constituinte não se vinculou a nenhuma das teorias concernentes à natureza jurídica do direito de autor .

No entanto, exclusividade que é, e, por força dos tratados em vigor no País, definido como propriedade ainda que “intelectual”, o estatuto constitucional pelo menos da parcela patrimonial do direito autoral é assimilável ao das propriedades.

Assim, ambos incisos circundam a noção de direitos exclusivos – direitos de cunho patrimonial.

Natureza dos direitos morais

A co-essência moral do direito autoral tem abrigo não nos incisos XXVII e XXVIII, mas nos dispositivos gerais da tutela da expressão (o direito de fazer pública a obra) e de resgurado da entretela moral da vida humana:

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

A rigor, a tutela dos direitos morais é estranha à Propriedade Intelectual; tematicamente afim, mas ontologicamente distinta. No entanto, a interpretação dos dispositivos constitucionais é sempre afetada pela natureza dos direitos – patrimoniais ou morais – e a extensão da personalidade protegida.

É possível direito autoral sem direito moral?

Para o Direito Americano, que restringe, no momento, os direitos morais a uma parcela das obras visuais, a questão constitucional é sempre enfatizada como equilíbrio entre interesses econômicos e a consideração do benefício coletivo, com exclusão enfática da tutela dos Direitos Humanos. Diz Paul Geller 3 quanto ao papel dos direitos autorais em sua modalidade européia (e brasileira) e a americana:

2 Comentários à Constituição de 1988, Vol. I, p.394.3 Paul Geller, Revue Internationale du Droit d'Auteur (RIDA) (Jan. 1994), no. 159, at p. 3

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While a marketplace norm only allows for fashioning copyright narrowly, an authorship norm gives it a broader scope. On the one hand, marketplace norms do not authorize legislating rights stronger than necessary for inducing the making and marketing of works. The law of the United States enumerates a closed bundle of rights, further limited by the open-ended exception of fair use which, for example, the U.S. Supreme Court invoked in excusing certain cases of home copying. On the other hand, authorship norms justify rights broad enough to make authors the masters of their self-expression, however this expression might be eventually used. The French and German laws conceptualize authors' rights in broad and flexible terms and limit them in restrictively construed, specific exceptions. The German Constitutional Court even faulted legislative exceptions as unfaithful to this approach because they were not narrow enough.

Each of these norms implies a different relation of priority between economic and moral rights. To maintain a reliable market in works, a marketplace norm avoids burdening the contractual transfer of economic rights. Anglo-American laws tend to codify previously inchoate moral rights in terms that permit authors contractually to waive invoking these rights against transferees. By contrast, to em -power authors to control the use of their works, an authorship norm leads to recognizing inalienable moral rights that authors may assert in the face of contracts to contrary effect. Consequently, French and German copyright laws both formulate such moral rights in broad terms that enable them to sur -vive contractual transfers. Suppose claims that an author transfers the economic right to adapt a work but later claims the moral right to stop adaptations that distort the work. In such cases, unlike a mar -ketplace norm, an authorship norm might well lead courts to enforcing just such rights.

Coisa inteiramente distinta do direito americano, pois, ocorre nos direitos de tradição continental, em especial o francês e o alemão. Neste último, inclusive, entende-se que o elemento pessoal prevalece a tal ponto que não se pode alienar nem sequer os direitos patrimoniais, só abertos à licença. Na tradição francesa, que se ecoa na nossa, distinguem-se os dois segmentos do direito autoral.

Quais são os direitos morais?

O primeiro e mais radical dos direitos morais é o de exprimir-se ou calar-se, o chamado direito de divulgação. A raiz deste direito, claramente, é o inciso IX da nossa declaração de direitos 4. O inciso X, embora se refira ao dano moral, não esgota de forma alguma os direitos morais do autor, que se constroem essencialmente do inciso IX.

Isso porque não se pode deixar de considerar os direitos morais acessórios à liberdade de expressão que tem o autor da obra, em face à autoria, como o direito à nominação, o de retirar a obra de circulação, o do inédito, o da integridade, e o de promover alterações.

Quanto a esse último ponto, lembra Wolgran Junqueira Ferreira 5: Além do aspecto econômico, contido na obra, o preceito Constitucional visa principalmente proteger o direito de liberdade de manifestação do pensamento, garantindo-se o direito ao autor de utilizar as obras literárias, artísticas e científicas proibir-se que a expressão de seu pensamento seja deturpada.

Mais do que proteção à propriedade, existe proteção à liberdade de pensamento. Mas, há que se ter em conta que protegido o direito à liberdade de pensamento, todos os outros direitos ligados à criação intelectual também estão protegidos.

Assim, o direito de afirmação da autoria, na contrariedade e direito de toda contrafração ou dano à obra, o direito de vedar alterações que proíbe ao dano da tela, da escultura, ou da arquitetura, alterá-las sem permissão do artista, assim como a proteção ao direito de nominação que consiste na oposição do nome do autor na obra.

4 Vide Thierry Joffrain, Deriving a Moral Right for Creators, Texas International Law Journal, Sep. 2001, p. 762. Vide também Claude Colombet, op. cit., p.1165 Comentários à Constituição de 1988, vol. 1. p. 154, Ed. Julex.

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Note-se, porém, que as legislações nacionais estabelecem balanceamentos específicos para o exercício de tais direitos, inclusive em face do direito de propriedade. Assim, não só a lei brasileira mas muitas outras condicionam o exercício do direito de retirada da obra à indenização do editor que, de boa fé, publicou a obra que será alterada.

Outras consequências do direito moral

O conceito de direito moral tem repercussões fundamentais no direito autoral, muito além do que se pode ler dos art. 24 a 27 da Lei 9.610/98. É elemento central para a questão da autoria conjunta, das obras feitas sobre encomenda, da titularidade original por pessoas jurídica, da comunicabilidade nos regimes matrimoniais, da penhorabilidade dos bens imateriais, todos esses elementos com eminente repercussão no campo dos direitos patrimoniais. Também é central na questão do direito de paródia, de comentários, e de todas outros exercícios da liberdade de expressão sobre obra pre-existente.

A opção feita pelas várias leis, na história brasileira e no direito vigente, no tocante aos direitos morais não passaram, até o momento, por uma análise significativa do parâmetro constitucional. É constitucionalmente razoável, por exemplo, a restrição da lei do software aos direitos morais dos seus autores? É constitucionalmente permissível que se prive a pessoa jurídica da autoria originária? Tais ponderaçoes não passam, evidentemente, pela simples análise da lei ordinária, em face dos tratados pertinentes.

Direitos patrimoniais e uso social da propriedade

Como vimos extensamente acima, no contexto constitucional brasileiro os direitos intelectuais de conteúdo essencialmente industrial (patentes, marcas, nomes empresariais, etc.) são objeto de tutela própria, que não se confunde mesmo com a regulação econômica dos direitos autorais. Em dispositivo específico, a Carta sujeita a constituição de tais direitos a condições especialissimas de funcionalidade (a cláusula finalística), compatíveis com sua importância econômica, estratégica e social. Não é assim que ocorre no que toca aos direitos autorais.

Certo é que, no que for objeto de propriedade (ou seja, no alcance dos direitos patrimoniais), o direito autoral também está sujeito às limitações constitucionalmente impostas em favor do bem comum - a função social da propriedade de que fala o Art. 5º., XXIII da Carta de 1988. Note-se, uma vez mais, neste contexto, que a proteção autoral, como propugna boa parte da doutrina, não se esgota na noção de propriedade, em particular pela presença dos direitos de personalidade ou direitos morais em geral.

O Art. 5º, XXII da Carta, que assegura inequivocamente o direito de propriedade, deve ser sempre contrastado com as restrições do inciso seguinte, a saber, as de que a propriedade atenderá sua função social. Também no Art. 170 a propriedade privada é definida como princípio essencial da ordem econômica, sempre com o condicionante de sua função social 6.

Direitos patrimoniais, livre concorrência, e liberdade de informação e de expressão

A relação difícil entre os interesses do autor e os da sociedade passa ainda por duas questões principais: a relação de competição no mercado, alterada pelas restrições próprias aos direitos exclusivos; e o equilíbrio da proteção em face dos interesses da liberdade de expressão e do direito à fruição dos bens do intelecto.

6 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, Ed. RT, 1989, p. 241: "a propriedade (sob a nova Constituição) não se concebe senão como função social".

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O estatuto constitucional dos direitos autorais tem outra vertente além da propriedade – o da liberdade de informação. E isso se dá de forma dupla: existe a tensão entre o direito à informação de terceiros e exclusividade legal do titular da obra, e a tensão entre a propriedade e o direito que tem um outro autor (ou qualquer um do povo) de se expressar de maneira compatível com sua própria liberdade.

Vimos, em seção acima, a elaboração do Tribunal Constitucional Alemão sobre o balanceamento de interesses entre o direito de propriedade e os direitos de informação e de expressão. Como qualquer instância de aplicação do princípio da razoabilidade, ele se faz materialmente e em cada caso. Mas, seja através da aplicação de algum dos limites legais ao direito, seja através da interpretação da lei autoral, é preciso ficar claro que a propriedade intelectual não pode coibir, irrazoável e desproporcionalmente, o acesso à informação por parte de toda a sociedade, e o direito de expressão de cada um.

Dos direitos previstos no inciso XXVIII

O inciso XXVIII do art. 5º. Da Carta de 1988 introduziu matéria nova no texto constitucional, ao prever que a lei ordinária assegurará, em seus termos, a proteção às participações individuais em obras coletivas. Tal princípio obviamente já decorreria da proteção genérica do inciso anterior, e jamais foi negado seja na história do direito brasileiro, seja no direito comparado.

A ênfase constitucional, porém, obviamente responde a uma demanda específica de reconhecimento do autor, do intérprete ou de executante, em particular no contexto de obras coletivas, que são – como diz a Lei 9.610/98 – as criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem numa criação autônoma. Assim, por imposição constitucional, em tais obras (como novelas, filmes, etc.) a fusão das participação de todos numa criação autônoma não exclui a prevalência do interesse individual, a nosso ver tanto no plano dos direitos morais, quanto nos patrimoniais.

A questão da indústria cultural

Embora tal interpretação pareça contraditória à natureza de investimento cultural tão frequente nas obras coletivas, é um mandamento da lei básica, e deverá ser observada, ainda que com enfático balanceamento de direitos, tanto na interpretação das leis autorais quanto na regulamentação das profissões artísticas.

Não será possível, provavelmente, conceder tal direito em proporção tal que cada partícipe possa exercer direitos que impeçam a exploração econômica da obra como um todo, ou numa proporção economicamente significativa. O reconhecimento de uma dessas participações individuais relativamente insignificante não poderia, num adequado balanceamento constitucional, levar à vedação da apresentação da obra, ainda que devesse ser garantido o pagamento pertinente, se previsto 7.

7 Direito Autoral. Retransmissão não autorizada de telenovela. Interpretação, nos "créditos" de telenovela, da arte de cabeleireiro e maquilador de fama. Retransmissão da peça televisiva. Necessária autorização do autor. Desde o CC a cessão dos direitos de autor, para os efeitos econômicos, pode ser parcial ou definitiva. A Lei de Direitos Autorais, por outro lado, presume que a permissão para a publicação da obra é para cada vez. Procedência do pedido de pagamento de retransmissão não autorizada previamente. Referência: Apelação Cível n° 2.476 - Rio de Janeiro - 6a. Câmara Cível do TJ/RJ - Por unanimidade, em 25/09/90 - Rel. Cláudio Lima - Arq. CDA.

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A indústria cultural tem relevância econômica de amplíssimo espectro, com repercussão crescente, e merece atenção constitucional; nas obras coletivas, a iniciativa, organização e responsabilidade merece tutela como parte da liberdade de investimento e de exploração econômica, à luz do art. 1º. e 173 da Carta, o que requer equilibrio com o dispositivo do art. 5º., inciso XXVII.

Voz e imagem. Direito de Arena. Direitos Conexos.

A tutela constitucional da reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas não tem, necessariamente, qualquer cunho autoral. Embora possa servir de substrato aos direitos conexos dos intérpretes e executantes o interesse jurídico tutelado é de caráter personalíssimo, embora com eventuais repercussões econômicas. De outro lado, tal texto ancora os direitos de arena 8 e as práticas de merchandising esportivo.

Já o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas, ainda que nada absolutamente acresça ao direito autoral historicamente praticado no Brasil, vale como suporte constitucional aos direitos conexos (ou a alguns deles), indicados na expressão “intérpretes”. Assimilados aos autores, “no que couber”, os intérpretes e titulares de direitos conexos têm interesses distintos e até contraditórios aos autores.

Conceitos fundamentais do direito autoral

Expressão

A questão fundamental do Direito de Autor é a proteção jurídica à expressão das idéias. Este ramo do Direito não protege idéias, planos, conceitos mas formas de expressão. Como disse, reiteradamente, a 1a. Câmara do Conselho Nacional de Direito Autoral:

Invenções idéias, sistemas e métodos não constituem obras intelectuais protegidas pelo Direito Autoral, porquanto a criação do espírito objeto da proteção legal é aquela de alguma forma exteriorizada. Assim, obra intelectual protegível, o sentido que lhe dá o art. 5o. da Lei 5.988/73, é sempre a forma de expressão de uma criação intelectual e não as idéias, inventos, sistemas ou métodos. (grifos do original)9.

8 LEI Nº 9.615, DE 24 DE MARÇO DE 1998, Art. 42. Às entidades de prática desportiva pertence o direito de negociar, autorizar e proibir a fixação, a transmissão ou retransmissão de imagem de espetáculo ou eventos desportivos de que participem. §1º Salvo convenção em contrário, vinte por cento do preço total da autorização, como mínimo, será distribuído, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo ou evento. §2º O disposto neste artigo não se aplica a flagrantes de espetáculo ou evento desportivo para fins, exclusivamente, jornalísticos ou educativos, cuja duração, no conjunto, não exceda de três por cento do total do tempo previsto para o espetáculo. (...).

9 Deliberações no. 41/83, Processo 440/82 (Doc. anexo 63); 40/83, Processo 438/82 (Doc. anexo 64); 39/83, Processo 439/82 (Doc. anexo 65); 33/83, Proc. 690/81 (Doc. anexo 66), Relator Conselheiro Manoel Joaquim Pereira dos Santos. Deliberações do CNDA, MEC, Brasília,1984, p. 314, 317, 321, 298. No mesmo sentido: Del.21/83, Processo 516/79, p. 264 (Doc. anexo 67). Carlos A. Villalba, em seu artigo El problema de la proteccíon de las ideas, in Propiedad Incorporal, Governo do Uruguai, 1985,

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É um princípio de alcance mundial; di-lo Claude Colombet, o maior autoralista dos nossos dias, em obra recente, de edição da UNESCO, em que examina e compara a totalidade dos sistemas jurídicos da Terra:

En effet, le droit d’auteur créant un monopole au profit du créateur, droit qui est vigoureusement sanctionné, il serait paralysant de tolérer cette mise sous tutelle des idées; les créations seraient entravées par la nécessité de requérir l’autorisation des penseurs: on imagine, par exemple, que dans le domaine scientifique, toute narration des pro-grès serait difficile puisqu’elle imposerait l’accord des savants, dont les idées auraient été à la base de découvertes (…) Aussi cette ex-clusion des idées du domaine d’application du droit d’auteur este-elle une constante universelle.

(Com efeito, criando o Direito de Autor um monopólio em proveito do criador, direito este que é sancionado com vigor, tornar-se-ía paralisante tolerar que esta tutela recaísse sobre as idéias; as criações seriam entravadas pela necessidade de requerer a autorização dos pensadores: pode-se imaginar, por exemplo, que, no domínio científico, toda narração dos progressos seria difícil por que elas imporiam a concordância dos pensadores, dos quais as idéias seriam a base das descobertas. (…) Também esta exclusão das idéias do domínio do direito do autor é uma constante universal) 10.

A conseqüência deste princípio é que “embora um artigo de uma revista, ensinando como ajustar o motor de um automóvel, seja protegido pelo Direito Autoral, esta proteção se estende somente à expressão das idéias, fatos e procedimentos no artigo, não às idéias, fatos e procedimentos em si mesmos, não obstante quão criativos ou originais eles possam ser. Qualquer um pode usar as idéias, fatos e processos existentes no artigo para ajustar um motor de automóvel, ou para escrever outro artigo sobre a mesma matéria” 11.

Jurisprudência: Expressão e Idéia Bula de Remédios Reconhecida natureza científica. Destinada à classe médica e farmacêutica e fiscalizada pelas autoridades competentes, legitima-se a simples referência ou citação de uma pesquisa científica sem ofensa aos direitos de autor, face ao CC e à Lei Especial. Aplicação dos arts. 666, I, do CC e art. 49, I e III, da Lei nº 5.988, de 14/12/73, e não incidência na espécie, do art. 25, IV, da mesma lei. Nos trabalhos científicos o direito autoral protege a forma de expressão e não as conclusões científicas ou seus ensinamentos, que pertencem a todos, no interesse do bem comum.

p. 121, narra dois casos judiciais uruguaios em que se discutiu a proteção autoral da idéia de jogos de cassinos - em ambos casos o tribunal de Montevidéu afirmou o princípio de que não cabia tal proteção. Nos Estados Unidos, o caso básico é Baker v. Selden, 101,U.S., 99 (1879), tratando exatamente da descrição de um plano de contabilidade, que levou à enfática redação da Lei americana, que exclui da proteção autoral “any idea, procedure, process, system, method of operation, principle, or discovery” não importando a forma na qual a idéia seja descrita, explicada, ilustrada ou incorporada na obra (Lei de 1976, § 102(b)). Vide Chisum e Jacobs, Understanding Intellectual Property Law, Matthew Bender, 1992, p. 4-23.10 Claude Colombet, Grands Principes du Droit d’Auteur et des Droits Voisins dans le Monde, 2a. Ed. LITEC/UNESCO, 1992, p. 10. Tal norma foi incorporada no art. 9 do recente acordo TRIPs da Organização Mundial do Comércio (promulgado no Brasil pelo Dec.1.355/94). Note-se que também o Direito da Propriedade Industrial também nega terminantemente a proteção às idéias e planos de comércio, de contabilidade, de negócios, etc., protegendo apenas as invenções de cunho tecnológico ou modelos industriais (Lei 5.772/71, art. 9, h). Vide também Colombet, Propriété Littéraire et artistique, Dalloz, 7a. Ed., 1994, p. 21; Lucas e Lucas, Traité de la Propriété Littéraire et Artistique, LITEC, 1994, p. 37, e 223; A. Lucas, La Protection des créations indus -trielles abstraites, LITEC, 1975.11 O exemplo foi traduzido e fielmente transcrito de Intellectual Property and the National Information Infaestructure, U.S. Pa -tent and Trademark Office, Setembro de 1995, p. 32.

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Referência: Recurso Extraordinário n° 88.705-9/RJ - 2a. Turma - STF - Por maioria, em 25/05/79 - Rel. Cordeiro Guerra -

Utilidade e expressão

A doutrina que prevalece desde os primeiros dias da propriedade intelectual destina as leis de patentes a proteger o conteúdo utilitário das invenções tecnológicas. O copyright ou droit d’auteur iria voltar-se à forma e não ao conteúdo das respectivas criações - muito menos, ao conteúdo utilitário.

Desta maneira, a utilização industrial de qualquer tecnologia funcionalmente equivalente àquela que foi patenteada é restrita segundo a lei pertinente, ainda que os conhecimentos técnicos intrínsecos na patente possam ser livremente utilizados em qualquer propósito intelectual, científico ou em não -industrial.

O copyright e os direitos de autor não podem ser utilizados para restringir quaisquer obras funcionalmente equivalentes: por definição, as obras literárias, artísticas ou científicas não têm qualquer funcionalidade além do seu objetivo de expressão. Tais criações são produzidas com a finalidade de expressar idéias, conceitos e sensações, todas elas com circulação livre de qualquer restrição jurídica 12.

Tais características fazem com que os sistemas relativos ao droit d’auteur ou sua vertente alemã tendam a adotar a universalidade e a simultaneidade de proteção , a inexigibilidade de exame ou registros, prazos longos, poderes especiais de caráter personalíssimo conferidos aos autores, etc. Tal modelo, que se acha consagrado na Convenção de Berna 13, implica o estímulo da função criativa por meio da proteção jurídica da personalidade do criador.

O modelo do copyright, em parte por sua característica acentuadamente econômica (pelo menos, em comparação com o droit d’auteur), adaptou-se com maior facilidade à indústria cultural do cinema, disco e derivados. O modelo cinematográfico, em particular, contribuiu para formular a solução , ensaiada nos EUA desde meados da década de 60, para a proteção do software 14.

É exatamente a partir da proteção do software que o direito autoral passa a adquirir crescente importância no âmbito da tecnologia 15. Após a generalização internacional deste tipo de proteção

12 "The purpose of a product of mind is that people other than its author should understand it and make it the possession of their ideas, memory, thinking, etc. (...) Now to what extent does the new form which turn up when something is expressed again and again transform the available stock of knowledge and in particular the thoughts of others who still retain the external property in those intellectual production of theirs, into a private mental property of the individual reproducers? (...) Thus copyright legisla -tion attains its end of securing the property rights of author and publisher only to a very restricted extent (...)" (Hegel, Philosophy of Right, Par. 69).13 De 9/9/1886, em vigor no Brasil em sua sétima versão , de 24/7/71. É significativo que os EUA tenham retardado sua adesão à Convenção de Berna, mantendo-se sempre na Convenção Universal, aliás, criada na tutela de seus interesses, especialmente da famosa manufacturing clause, 17 USC Par. 601, que, até 1/7/86, obrigava os livros protegidos a serem impressos em território americano ou no Canadá. A adesão americana a Berna se deu em 1/3/89.14 Para uma análise detalhada da proximidade dos dois regimes, especialmente na área tributária, ver Barbosa (1983).15 As mesmas facilidades e conveniências que levaram a indústria do software americana a exigir a proteção por via do copyright têm induzido certos interesses, inclusive nacionais, a sugerir seu uso para a proteção das criações biotecnológicas.

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para os programas de computador e respectiva documentação técnica, inclusive no Brasil 16. não se pode mais falar de propriedade da tecnologia sem se referir ao direito autoral.

O que não é direito autoral Lei 9.610/98

Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei:

I - as idéias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais;

II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios;

III - os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas instruções;

IV - os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais;

V - as informações de uso comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas;

VI - os nomes e títulos isolados;

VII - o aproveitamento industrial ou comercial das idéias contidas nas obras.

Coisa imaterial e corpus mechanicum

O direito autoral protege a obra imaterial, a criação autoral, e não o meio físico onde ela se incorpore:

(Lei 9.610/98) Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente qualquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei.

Assim, nota-se que, a título de exercício do direito exclusivo, descabe ao titular do direito autoral controlar as utilizações do citado corpus mechanicum da obra - por exemplo, o objeto físico, exemplar de um livro - após seu primeiro ato de disposição. Com a específica exceção do direito de distribuição, prevista no inciso VI do art. 29, toda e qualquer operação posterior com o corpus mechanicum recai no âmbito do direito comum.

A tentativa de extensão ao corpus mechanicum dos direitos exclusivos relativos à obra imaterial - por exemplo, impedindo que o comprador de um livro ou disco o revenda ou empreste, sem por em causa a utilização da obra imaterial - pode se constituir até mesmo em abuso do direito exclusivo 17. As restrições impostas após a primeira disposição apenas se justificariam nas mesmas

16 Lei 7646 de 18/12/87 e, posteriormente, a Lei 9.609/98. "After the December 1987 Software Act (Law 7646) (...) an unequiv-ocal stance was taken in favor of the copyright solution. Even though not stating that copyright is the system governing software protection, the Law comes close to that by saying that except where provided otherwise, the Copyright Law (Law 5998/73) should apply to the software creations. Special provisions of the Act deal with the term of protection (25 years ...); the status of foreign creations (reciprocity is the rule); the filing requirement (voluntary and secret); the title to the work in a employee or made-for-hire context (the employer is the sole owner instead of the fifty-fifty rule of common copyright); and the fair usage rules (somewhat stricter in the case of software). In all other cases, the common copyright statute governs, including in some very important issues like moral rights, basic licensing rules, etc. The Brazilian system may be therefore now classified within the copyright model, albeit slightly modified. It is, in this sense, much more faithful to the original XVIII Century French con -cept of Droit d'Auteur than the already mentioned new French legal standard for software (in force since 1986) itself" (Barbosa, 1989b).17 Quanto à noção de abuso dos direitos neste contexto, vide nossa dissertação de mestrado Know How e Poder Econômico, de maio de 1982.

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condições em que quaisquer restrições seriam aceitáveis após a tradição do objeto físico do direito real.

Cumpre, no entanto, notar que - apesar de claramente exceder o escopo de utilização da obra imaterial -, certos autores e decisões judiciais têm reconhecido a exclusividade na utilização dos exemplares dela, mesmo após a primeira alienação.

Por exemplo, no caso de locação de vídeo ou de discos 18, em que se notava, mesmo antes da vigência da lei 9.610/98, certa tendência a incluir tais operações no interior da exclusividade. Tal lei, em seu art. 93, II, dando aliás guarida ao que dizia o art. 184, § 2º, do Código Penal, modificado pela Lei 8.635, de 16 de março de 1993, inclui a locação de fonogramas (ou videofonogramas) entre os direitos patrimoniais exclusivos do autor. Note-se, ademais, que a restrição elaborada pela lei se restringe à locação de exemplares de fonogramas ou videofonogramas, não abrangendo outras operações realizadas a outro título jurídico com os mesmos itens.

Também no tocante ao software, inclui-se dentre os direitos assegurados o direito exclusivo de autorizar ou proibir o aluguel comercial, não sendo esse direito exaurível pela venda, licença ou outra forma de transferência da cópia do programa. Tal regra não se aplica aos casos em que o programa em si não seja objeto essencial do aluguel.

Meu entendimento, de outro lado, é que tal disposição penal e civil, em sua especialidade, sublinha a inexistência de igual direito para as obras não corporificadas em fonogramas. Ou seja, para todos outros tipos de obra, inclusive as cartográficas ou fotográficas, a primeira alienação esgota os direitos do autor sobre o corpus mechanichum 19.

Note-se, ademais, que os direitos autorais são sujeitos a limitações legais

Direitos autorais, Direitos Conexos e Direitos de Arena

A par dos direitos autorais, o direito vem reconhecendo os chamados direitos conexos (droits voisins, neighboring rights). La lei autoral, o art. 89 dispõe que “as normas relativas aos direitos de autor aplicam-se, no que couber, aos direitos dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores fonográficos e das empresas de radiodifusão”. A lei ainda precisa que a proteção aos direitos previstos neste artigo deixa intactas e não afeta as garantias asseguradas aos autores das obras literárias, artísticas e científicas.

Pelo art. 7º da Lei autoral, as músicas são obras intelectuais protegidas e em uma obra musical fixada encontra-se uma gama de direitos, de diferentes titulares:a) o(s) autor(es), de música e letra (se houver);b) os artistas intérpretes; c) os artistas executantes; e

18 Vide Costa Neto, Direito Autoral no Brasil, FTD, 1998, pg. 122 e seguintes. Vieira Manso, Direito Autoral, pg. 147, Ed. José Bshantsky, 1980. Henrique Gandelman, De Gutemberg à Internet, Record, 1997, p. 85. Acórdão da 6ª CC do TJERJ, AC 40.793,. 19 Note-se, porém, o droit de suite consagrado no art. 38 da Lei. 9.610/98, pelo qual o autor tem direito a 5% de toda a mais valia obtida na venda de uma obra de arte ou manuscrito. Este direito é privativo do autor, e não dos cessionários do direito patrimonial, e não obsta o pleno exercício de qualquer das faculdades inerentes ao domínio.

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d) o produtor do fonogramaCada um desses titulares têm direitos exclusivos, o que significa não apenas o direito à percepção da remuneração pela utilização, mas, sobretudo, o direito de autorizar qualquer forma de uso.Num contexto de obra musical, por exemplo, o direito de autor (compositor ou letrista) é o que se confere ao criador da obra, o qual não se confunde com os direitos dos artistas intérpretes ou executantes ( cantores e músicos), chamados direitos conexos aos de autor. Pode haver outros criadores dentro de uma mesma obra musical, como por exemplo o arranjador, o versionista, adaptador, para os quais também é prevista a proteção autoral. A remuneração nestes casos é livremente pactuada entre estes e os promotores artísticos ou produtores fonográficos.

No mesmo contexto, os direitos conexos aos de autor são os direitos dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores fonográficos e das empresas de radiodifusão. Tradicionalmente, neste meio, dizem-se quanto ao direitos patrimoniais dos autores “direitos fonomecânicos”; já quanto aos direitos patrimoniais dos intérpretes, “direitos artísticos”.

Note-se, além destes, distinguem-se ainda no contexto musical os direitos de execução pública. Autor e intérprete têm também os direitos de execução pública, no caso da obra fixada em fonograma, devendo-se valores cada vez que um fonograma é executado seja por meios de comunicação como Radio, TV, Internet,..

Da mesma modalidade dos direitos conexos, mas radicando-se em cláusula constitucional diversa (art. 5º. XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas)e em legislação extravagante, tem-se ainda os direitos de arena:

LEI Nº 9.615, DE 24 DE MARÇO DE 1998

Art. 42. Às entidades de prática desportiva pertence o direito de negociar, autorizar e proibir a fixação, a transmissão ou retransmissão de imagem de espetáculo ou eventos desportivos de que participem.

§1º Salvo convenção em contrário, vinte por cento do preço total da autorização, como mínimo, será distribuído, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo ou evento.

§2º O disposto neste artigo não se aplica a flagrantes de espetáculo ou evento desportivo para fins, exclusivamente, jornalísticos ou educativos, cuja duração, no conjunto, não exceda de três por cento do total do tempo previsto para o espetáculo.

(...)

Jurisprudência: Direitos autorais e direitos conexos Tribunal de Justiça do Distrito Federal

APELAÇÃO CÍVEL APC2727492 DF Registro do Acórdão Número : 96400. Data de Julgamento : 08/05/1997. Órgão Julgador : 2ª Turma Cível. Relator : NATANAEL CAETANO. Publicação no DJU: 14/08/1997 Pág. : 18.050Ementa DIREITO AUTORAL - CONTRATO DE ENCOMENDA - ELABORAÇÃO DE "JINGLE" - VEICULAÇÃO DA VOZ DO AUTOR EM PROGRAMA POLÍTICO - AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO COMPOSITOR - INDENIZAÇÃO. A Lei de Direitos Autorais visa dar proteção à obra intelectual. A voz, em uma criação musical, não integra nem se confunde com a criação, vez que é atributo da pessoa, peculiar a cada indivíduo. O artista, quando contratado a compor, fá-lo quanto à sua substância, letra e música, não se compreendendo aí a utilização da voz. A veiculação da voz do autor em programa político sem sua autorização gerou-lhe prejuízo material, devendo ser

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indenizado. Indemonstrada cabalmente nos autos a vinculação da imagem do autor com o Partido, inexistente o dever de indenizar quanto aos danos morais.

Jurisprudência: afiliação forçada ao ECAD Direitos Autorais e Liberdade de Associação

Iniciado o julgamento de mérito da ação direta ajuizada pelo Partido Social Trabalhista-PST, contra o art. 99 e § 1º da Lei 9.610/98, que prevêem a manutenção, pelas associações de titulares de direitos de autor, de um único escritório central para a arrecadação e distribuição, em comum, dos direitos relativos à execução pública das obras musicais e lítero-musicais e de fonogramas, inclusive por meio da radiodifusão e transmissão por qualquer modalidade, e da exibição de obras audiovisuais. O Min. Ilmar Galvão, relator, proferiu voto no sentido de acolher o pedido formulado na inicial da ação direta para declarar a inconstitucionalidade das normas mencionadas, por entender que a lei não pode compelir titulares de direitos a se reunirem em entidade única, os quais podem se reunir e se organizar em outras entidades, em face do art. 5º, XVII e XX, da CF (“XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; …XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;”). Após, o julgamento foi adiado em virtude do pedido de vista do Min. Sepúlveda Pertence.

ADI 2.054-DF, rel. Min. Ilmar Galvão, 19.6.2002.(ADI-2054)

Originalidade Derivações

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se:

VIII - obra:

f) originária - a criação primígena;

g) derivada - a que, constituindo criação intelectual nova, resulta da transformação de obra originária;

Originalidade – Parecer

INPI, 1988

“O regime pertinente é o genérico do Direito Autoral, modificado pelas disposições da Lei 7.646. Ora, em tal regime não se exige a novidade objetiva como requisito de proteção, mas tão somente a originalidade - conceito que tem acepção muito peculiar neste contexto.

De um lado, nem tudo que é subjetivamente original é protegido - como nota a Lei 7.646 (Art. 7o.,III) ao absolver de plágio a criação que se aproxima a outra porque as formas alternativas de expressão são limitadas. Se as características do hardware impõem uma e só uma solução de software, não há direito autoral sobre esta, ainda que tenha havido criação original. De outro lado, a recriação independente de uma obra objetivamente já existente faz jus à proteção autoral. Assim, não é a comparação objetiva entre uma obra anterior e uma posterior que poderá ferir a originalidade da segunda; somente uma análise minuciosa do processo criativo poderá chegar a tal conclusão.

Além disto, mesmo quando original, uma obra pode ser dependente de outra que lhe é anterior - como ocorre nas traduções. Quando isto ocorre, há uma obra original, mas derivada da anterior; e tal noção é muito relevante porque obra derivada, na nossa lei autoral, só pode ser explorada com a permissão do titular da obra originária - a da qual se deriva a segunda obra original.

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Esta originalidade, chamada relativa, pode existir seja quanto à expressão da obra (outra vez: como na tradução), seja quanto a sua composição (a forma interna: a ordenação e disposição da obra), mas inexistir quanto ao outro elemento. Para se apurar se há originalidade absoluta ou relativa, assim, é preciso analisar em cada caso se o segundo criador baseou-se nas idéias em geral, que são de domínio público; ou na análise formal-matemática do problema tecnológico a ser resolvido pelo programa de computador, igualmente em domínio público; ou na formulação lógico-matemática de tal análise, o chamado algoritmo, ainda de domínio comum; ou se já nas ordenações e disposições do programa que, não sendo de caráter necessário, representem uma escolha entre alternativas possíveis, assim uma parte da forma interna da obra - sua composição. É tarefa difícil.

Objeto da proteção

Toda a estrutura legal do Direito Autoral, no Brasil, é inspirada no sistema clássico francês, em que ha uma especial ênfase da proteção da obra como manifestação do espirito de seu criador. 20

Num contexto empresarial, esta postura atua de forma comparável ao Direito do Trabalho - pretende favorecer a parte que considera mais frágil, no caso o empregado.

Ao contrario do que acontece no campo do Direito da Propriedade Industrial, a própria definição do objeto da proteção autoral não é muito precisa; tanto a lei que regula a matéria internamente quanto as convenções de que o Brasil é signatário 21 , se referem as "criações do espírito" ou as "obras literárias, artísticas e científicas". Mas o que serão tais coisas? Para nossa sorte, a lei brasileira dá uma lista exemplificava 22 destas criações protegidas pelo Direito Autoral. A isso, acrescentam-se os programas de computador, nos termos do art. 2o. da Lei no. 9.609/98:

20 O sistema anglo-saxão - como o próprio nome do instituto jurídico em inglês o indica ("copyright") - enfoca mais o chamado "direito de copia" do que a personalidade e a criatividade do indivíduo. A distinção entre as duas escolas, que pareceria de importância apenas doutrinaria, tem gerado conseqüências bastante graves; ainda recentemente, foi o conflito de posturas entre o "copyright" e o "droit d'auteur" que, em boa parte, causou a serie de conflitos em torno da proteção dos programas de computador. 21 GATT/TRIPs, Convenção de Berna, Convenção de Genebra (mais conhecida como Convenção Universal) e as diversas Convenções Interamericanas. Mais recentemente, os Tratados OMPI de 1996, ainda não ratificados no Brasil.

22 Lei 9.610/98, Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III - as obras dramáticas e dramático-musicais; IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma; V - as composições musicais, tenham ou não letra; VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia; VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova; XII - os programas de computador; XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual. § 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica, observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis. (...).

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" Art. 2º. O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei. ”.

Assim, o tratamento do software é matéria de um Capítulo próprio.

Observe-se, ademais, que o que recebe proteção não é o objeto em si (livros, escultura, etc.), nem a idéia ou a solução de um problema técnico, mas a expressão do autor. Portanto, o tema da obra, as informações nela contidas, o meio físico no qual esta fixada, os dados científicos, etc., todos estes elementos estão excluídos da incidência do Direito.

Jurisprudência: as formas de criação não são numerus clausus Tribunal de Justiça do Distrito Federal

Ação Rescisória: ARC0000228 J.: 14/12/94 Primeira câmara cível. Desembargador Edmundo Minervino. Data da publicação: 14/06/95 página: 8.227Ementa: ação rescisória. Decisão declaratória de direito autoral. 1. Criação da "feira de amostras do comércio e da indústria de Taguatinga - FACITA". 2. Seu competente registro. 3. Alcance do disposto no art. Sexto, ss/itens, da lei 5.988/73. 1. As hipóteses elencadas nos doze itens do art. sexto, da lei 5.988/73, são meramente exemplificativos, e não taxativas, razão pela qual não esgotam, de sua proteção, as possíveis obras intelectuais de criação do espírito, como no caso em concreto, a da idealização e concretização da "Feira de Amostras do Comércio e da Indústria de Taguatinga-FACITA", de cujo registro cuidou, inclusive, seu idealizador. 2. De outro modo, a decisão rescindenda, ao acolher o pedido declaratório de direito autoral, não o fez com ofensa à literal disposição legal - art. sexto, ss/itens, Lei 5.988/73 -, sobre a qual, sequer, ocorre divergência jurisprudencial. Rejeitada a preliminar de carência ao pedido rescisório. Convertido o depósito em multa a favor da parte ré. Ônus processuais da parte autora. Maioria.

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Direito Autoral. Retransmissão não autorizada de telenovela. Interpretação, nos "créditos" de telenovela, da arte de cabeleireiro e maquilador de fama. Retransmissão da peça televisiva. Necessária autorização do autor.Desde o CC a cessão dos direitos de autor, para os efeitos econômicos, pode ser parcial ou definitiva. A Lei de Direitos Autorais, por outro lado, presume que a permissão para a publicação da obra é para cada vez. Procedência do pedido de pagamento de retransmissão não autorizada previamente.

Referência: Apelação Cível n° 2.476 - Rio de Janeiro - 6a. Câmara Cível do TJ/RJ - Por unanimidade, em 25/09/90 - Rel. Cláudio Lima - Arq. CDA.

Projetos de Engenharia

LEI Nº 5.194, DE 24 DEZ 1966

Regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro-Agrônomo, e dá outras providências.

(...) Art. 17 - Os direitos de autoria de um plano ou projeto de Engenharia, Arquitetura ou Agronomia, respeitadas as relações contratuais expressas entre o autor e outros interessados, são do profissional que os elaborar.

Art. 22 - Ao autor do projeto ou aos seus prepostos é assegurado o direito de acompanhar a execução da obra, de modo a garantir a sua realização, de acordo com as condições, especificações e demais pormenores técnicos nele estabelecidos.

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Parágrafo único - Terão o direito assegurado neste Artigo, o autor do projeto, na parte que lhe diga respeito, os profissionais especializados que participarem, como co-responsáveis, na sua elaboração.

Art. 23 - Os Conselhos Regionais criarão registros de autoria de planos e projetos, para salvaguarda dos direitos autorais dos profissionais que o desejarem.

Lei 9.610/98

Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

(...)

IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;

X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;

Art. 26 O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico alterado sem o seu consentimento durante a execução ou após a conclusão da construção. Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que causar ao autor sempre que, após o repúdio, der como sendo daquele a autoria do projeto repudiado.

A autoria e a titularidade dos direitos

Um ponto em que parece haver consenso entre todos os doutrinadores modernos e que apenas o ser humano, pessoa natural, pode ser criador de obra e, portanto, autor 23. No atual sistema de proteção dos direitos autorais (art. 11) 24, o titular originário dos direitos é necessariamente uma pessoa natural; autor é sempre uma pessoa humana:

"O titular originário do direito de autor não pode ser outro senão o criador da obra intelectual, ou seja, o autor, 'pessoa física'. Esse entendimento é pacífico 25"

Assim não existe, no atual direito, possibilidade de direitos autorais – por exemplo - sobre o resultado de um funcionamento automático de um engenho captador de imagens por satélites26. Não se argumente que os comandos para direcionar a captação para um ou outro objeto sejam em algum grau, resultantes de decisão humana. Tal decisão, se houver, é de natureza meramente técnica, e não importa em criação autoral.

A lei distingue o autor e o titular – mesmo originário – da obra: Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica.

 Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei.

23 No mundo de hoje, talvez seja essa uma das questões mais candentes dos Direitos Autorais. Concebidos os seus contornos ao longo dos séculos XVIII e XIX, viu-se o Direito Autoral a regular relações que não se enquadram mais naquelas concepções antigas - - e muitas vezes romanticamente enganadas - tais como a de "centelha criativa do autor", a de "concepção, geração e nascimento da obra"; sem contar que também os meios de publicação, divulgação, enfim de utilização da obra, modificaram-se essencialmente, causando discussões que deixariam perplexos os autoralistas de antanho.

24 A lei anterior, em seu art. 15, referia-se a possibilidade de autoria originária de pessoa moral. Parte considerável da doutrina, porém apontava para a revogação do dispositivo, em face do texto da carta da República de 1988, art. 5º XXVII - (aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar). 25 Costa Neto, op. Cit., p. 60. 26 Não se suscita aqui a questão da natureza estética ou não da criação, objeto de tantos cuidados na doutrina anterior, especialmente quanto às fotografias, inclusive aquelas obtidas automaticamente. O que se suscita é a existência de qualquer criação humana, ou mais precisamente, a existência de um sujeito ativo originário do direito autoral.

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De outro lado, é um direito moral essencial o de ser reconhecido como autor:(Código Penal) Art. 185 - Atribuir falsamente a alguém, mediante o uso de nome, pseudônimo ou sinal por ele adotado para designar seus trabalhos, a autoria de obra literária, científica ou artística:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parecer: autoria e co-autoria Em 4 de dezembro de 2000

Em expediente de já há muito, a SME solicita certas informações de natureza jurídica, referente à matéria de direitos autorais. Desde a pergunta, entrou em vigor nova lei, de cunho bastante diverso da anterior, razão que certamente levou à prudência da 7 a. P.S. e esmiuçar a matéria, produzindo valioso Estudo Jurídico.

As dúvidas da SME se referem essencialmente à caracterização do servidor público autor, a sua responsabilidade quanto à violação de direitos de terceiro, e a do Município.

Sobre a questão da caracterização dos direitos patrimoniais num contexto de obra produzida nos limites e para os fins de uma relação estatutária, já me pronunciei em memorando de 1/9/98 à douta Procuradora Márcia Marx:

Pela lei anterior, distinguiam-se as hipóteses:

1) As de obra realizada por diferentes pessoas, mas organizada por ente singular ou coletivo e em seu nome utilizada; e

2) obra intelectual for produzida em cumprimento a dever funcional

3) A primeira hipótese era regida pelo seguinte:

Art. 15º - Quando se tratar de obra realizada por diferentes pessoas, mas organizada por empresa singular ou coletiva e em seu nome utilizada, a esta caberá sua autoria.

4) Embora alguns autores considerassem tal dispositivo revogado desde o advento da Carta de 1988, certo é que, em tais hipóteses, se não haveria "autoria" pelo Município, certamente haveria titularidade dos direitos econômicos deste.

5) Já a segunda hipótese, na qual o trabalho criativo era essencialmente realizado por pessoa singular, ou por diferentes pessoas, mas não utilizado em nome do ente organizador, era regulada pelo seguinte dispositivo:

Art. 36º - Se a obra intelectual for produzida em cumprimento a dever funcional ou a contrato de trabalho ou de prestação de serviços, os direitos do autor, salvo convenção em contrário, pertencerão a ambas as partes, conforme for estabelecido pelo Conselho Nacional de Direito Autoral.

6) Assim, se a criação arquitetônica se submetia ao art. 36, a titularidade dos respectivos direitos econômicos era dividida entre o Município e o servidor, salvo a hipótese de convenção em contrario, exemplo da qual se encontra na prática adotada pela MultiRio em relação às produções baseadas em trabalhos de professoras municipais.

7) Não me vem ao conhecimento qualquer disposição de caráter estatutário no Município, dispondo em contrário à divisão propugnada pela lei 5.998/73, a qual supriria, a meu ver a falta de disposição convencional.

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8) Note-se que os direitos morais 27, inclusive o de imutabilidade da obra, remanesciam à época, como hoje, inalienavelmente com o autor 28. De outro lado, o direito de imutabilidade da obra arquitetônica era limitado ao repúdio da mesma, no caso de desfiguração 29. A nova lei pouco alterou a regulação de tais direitos morais 30

A lei 9.610/98 trouxe considerável alteração ao panorama em análise. Suprimiu-se totalmente o dispositivo do art. 15 da lei anterior, assim como a divisão de titularidade dos direitos econômicos em caso de obra produzida em atenção a dever funcional.

Quanto ao primeiro ponto, de obra coletiva organizada por qualquer ente singular ou coletivo (já não mais empresa), aplicam as seguintes regras:

Art. 17. É assegurada a proteção às participações individuais em obras coletivas.

§ 1o Qualquer dos participantes, no exercício de seus direitos morais, poderá proibir que se indique ou anuncie seu nome na obra coletiva, sem prejuízo do direito de haver a remuneração contratada.

§ 2o Cabe ao organizador a titularidade dos direitos patrimoniais sobre o conjunto da obra coletiva.

§ 3o O contrato com o organizador especificará a contribuição do participante, o prazo para entrega ou realização, a remuneração e demais condições para sua execução.

Entendo que à luz de tais regras, a organização de obra coletiva, num contexto de relação estatutária, atribui a titularidade dos efeitos econômicos da criação estética ao ente público, independentemente de contrato. Tal entendimento não encontrará unanimidade na doutrina 31.

No tocante à obra individual, aplicam-se agora em sua integralidade os dispositivos do art. 11 da nova lei, sem qualquer previsão de divisão entre as partes:

Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica.

Parágrafo Único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei.

Aqui, também, entendo que a relação estatutária, abrangendo matéria que seria do fim específico do cargo exercido pelo servidor, qual seja, a criação de obra arquitetônica, traria para o Município "a proteção concedida ao autor", qual seja, a titularidade da obra na esfera patrimonial. Quero crer, também aqui, que estarei em posição certamente não unânime.

Assim, não me cabe discordar da essência da análise do Estudo Jurídico destes autos, a não ser no que friso ser minha posição doutrinária, ainda sem base em jurisprudência ou doutrina alheia, de que a

27 Art. 25º - São direitos morais do autor: I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a paternidade da obra; II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra; III - o de conservá-la inédita; IV - o de assegurar-lhe a integridade, opondo-se a quaisquer modificações, ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la, ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra; V - o de modificá-la, antes ou depois de utilizada; VI - o de retirá-la de circulação, ou de lhe suspender qualquer forma de utilização já autorizada.

28 Art. 20 º - Salvo prova em contrário, é autor aquele em cujo nome foi registrada a obra intelectual, ou conste do pedido de licenciamento para a obra de engenharia ou arquitetura.

29 Art. 27º - Se o dono da construção, executada segundo projeto arquitetônico por ele aprovado, nela introduzir alterações, durante sua execução ou após a conclusão, sem o consentimento do autor do projeto, poderá este repudiar a paternidade da concepção da obra modificada, não sendo lícito ao proprietário, a partir de então e em proveito próprio, dá-la como concebida pelo autor do projeto inicial.

30 Art. 26 (da Lei 9.610/98). O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico alterado sem o seu consentimento durante a execução ou após a conclusão da construção. Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que causar ao autor sempre que, após o repúdio, der como sendo daquele a autoria do projeto repudiado.31 Vide José Carlos Costa Netto, Direito Autoral no Brasil, Ed. FTD 1998, p.70 e seguintes, que entende que, mesmo em tais hipóteses, a titularidade dos direitos patrimoniais permanece, à falta de contrato, com o autor.

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titularidade da obra, tanto coletiva, quanto da individual realizada por servidor público em estrito cumprimento de dever funcional, remanesce com o Município.

No entanto, vale fazer duas advertências e uma recomendação. Não é toda obra realizada por muitas pessoas que será tida, para efeitos da lei, como “ obra coletiva” . Para tanto é preciso que seja “a criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem numa criação autônoma” .

Note-se aí o requisito da “fusão” e da “ autonomia”. Tenho para mim que a simples recoleta de textos, sem uma integração visceral com um fim específico, não constituirá obra coletiva. Autônoma, de outro lado, no contexto de multiplicidade de autores, é a obra que se destaca da soma de suas partes. Seja pela escolha dos autores, seja pela idéia organizadora, seja pela cobertura totalizante de um determinado tema, seja por outra razão, a coletânea ou outra forma que tenha a obra, deve necessariamente conter um efeito sinergético em face dos componentes.

A segunda advertência é a de que – embora seja economicamente absurda a retenção do fruto do trabalho pelo trabalhador numa relação empregatícia ou estatutária -, a jurisprudência corrente tem com freqüência tomado o entendimento de que salvo a existência de um ajuste e mais, que se tome tento, um ajuste eqüitativo com o autor trabalhador, a titularidade dos direitos patrimoniais da obra permanece com este.

Assim, a minha recomendação é a de que, a cada caso e sem falha se solicite de cada autor-trabalhador, em termo específico, o seu consentimento pela cessão dos direitos patrimoniais pertinentes, sempre que possível mediante um pagamento específico de encargos especiais, como o que se atribuiu aos peritos do Município.

Frise-se que esse requisito não é determinante para a manutenção de minha convicção de que a relação estatutária, abrangendo matéria que seria do fim específico do cargo exercido pelo servidor, traria para o Município "a proteção concedida ao autor", qual seja, a titularidade da obra na esfera patrimonial. Mas em muito auxiliaria na defesa dos interesses do Município em face dos trabalhadores-autores.

Finalmente, cabe chamar a atenção para o fato de que a pergunta da SME, se bem que passe pelas cogitações acima mencionadas, se volta essencialmente à questão do risco para os autores e o Município de serem suscitados em pleitos de violação de direitos autorais de terceiros.

A responsabilidade do Município sempre existirá, se utiliza obra ofensiva de direitos de terceiros.

Sempre lembrável o art. 37 da nossa Carta Federal:

§ 6.º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Tal responsabilidade não suprime a pessoal dos autores, no que violarem direitos autorais de terceiros. O ofendido pode, a seu alvedrio, buscar o remédio junto ao contrafator pessoalmente ou ao Município. Vale dizer que, com o atual desenho constitucional dos precatórios, pode ser mais interessante tomar como destinatário de quaisquer indenizações o autor, e não o Município.

(...)

Minha experiência de advogado autoralista me leva a duvidar, porém, da boa fé e da falta de culpa de um plagiador. É a forma (e não as idéias) que é protegida pelo direito autoral, e a reprodução da forma só é inocente por uma imponderabilidade estatística. Salvo casos teratológicos, teria relevantes dúvidas da moralidade administrativa da concessão do benefício a um plagiador cuja solércia ficasse configurada prima facies.

É o que tenho a comentar.

Denis Borges Barbosa

Procurador do Município

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Conteúdo dos direitos

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:

 I - a reprodução parcial ou integral;

 II - a edição;

 III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;

 IV - a tradução para qualquer idioma;

 V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;

 VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra;

VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário;

VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante:

 a) representação, recitação ou declamação;

 b) execução musical;

 c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos;

 d) radiodifusão sonora ou televisiva;

 e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de freqüência coletiva;

 f) sonorização ambiental;

 g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado;

 h) emprego de satélites artificiais;

 i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados;

 j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;

IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;

X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.

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Limites de proteção

Momento da proteção

A proteção do Direito Autoral independe de qualquer providencia, derivando do próprio ato de criação; o registro e assim de natureza facultativa, sendo apenas um bom meio de prova de autoria.

Prazo da proteção –

O prazo de proteção das obras autorais tem mudado com as leis – e varia conforme a modalidade da obra, e outras considerações. A presente lei assim dispõe, em norma geral:

Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil.

Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo.

Com uma importante ressalva, entre várias exceções:Art. 44. O prazo de proteção aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais e fotográficas será de setenta anos, a contar de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de sua divulgação.

A manifestação abaixo ilustra a dificuldade do tema.

Parecer – O Caso do Fotógrafo Malta Promoção PG/CES no. 1/98-DBB

Fotografias documentais realizadas por funcionário municipal. Alegação de direitos autorais. Matéria sub judice.

Senhor Procurador-Geral,

Por remessa do ilustre Subprocurador Geral, é-me submetido o Processo 12/000226/98, com o errôneo título "Acervo do Fotógrafo Augusto Malta". Como se verá, trata-se do acervo técnico do Município do Rio de Janeiro.

O presente processo inicia-se com o questionamento do Arquivo da Cidade quanto à reprodução e uso de material fotográfico constante de seus repositórios, em particular as fotos do antigo funcionário municipal Augusto Malta. Embora as questões suscitadas pelo Arquivo tenham escopo mais vasto do que as fotografias de tal funcionário, concentrarei minhas observações especificamente quanto a essa hipótese.

É a terceira vez que me é dado pronunciar sobre o tema e caso. Em 16 de outubro de 1994, no bojo do processo 12/002804/94, foi-me submetido à comentário a promoção do Procurador Cassius Anibal Rios, exatamente sobre a mesma matéria, com a qual integralmente me pus de acordo, apenas indicando alguns argumentos pelos quais nada seria devido à postulante, Amalthéa Malta, descendente do funcionário municipal (vide anexo).

Posteriormente, quando da propositura da ação judicial em curso, pela citada postulante (acompanhada pelo Processo 11/000104/95), tive ocasião de colaborar com a ilustre Procuradora Fabiani Li Rizzato de Almeida na elaboração da peça contestatória, cujos argumentos não posso deixar de estar de acordo.

São eles:

1) Não há qualquer direito autoral a se considerar. À época em que tais fotos foram realizadas (1903/1936) a lei brasileira não protegia o direito autoral de fotografias. Só em 1948

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passou o direito brasileiro, pela incorporação de uma nova versão da Convenção de Berna, a contemplar a proteção de tais produções.

2) Mesmo à época do pedido administrativo e da ação judicial, inexistiria proteção autoral às fotografias em questão, essencialmente imagens técnicas de imóveis sitos no território municipal, realizadas em decorrência de exigência legal. Com efeito, o art. 6 º da lei autoral em vigência à época, Lei 5.988/73, exigia para a proteção das fotografias que elas tivessem pela escolha de seu objeto e pelas condições de sua execução a natureza de criação artística.

3) Se tivesse havido proteção autoral, já teria há muito se esgotado, eis que o art. 662 do CC e os art. 46 e 48 da Lei 5.988/73 fixavam prazo de 15 anos de proteção para as obras encomendadas pelos Municípios.

4) De outro lado, ainda que não se levasse em conta o prazo específico das obras encomendadas pelo Município, o art. 45 da Lei 5.988/73 prescrevia prazo de sessenta anos, a contar do 1º de janeiro subsequente à conclusão da obra para as fotografias. Assim, na pior das hipóteses, em 1997 teria morrido o último direito, tivesse algum existido.

5) Note-se uma vez mais que a lei interna só veio proteger as fotografias após 1973. Mesmo se se contasse retroativamente (apenas argumentando) a proteção introduzida em 1948 pela Convenção de Berna (norma internacional), ela teria se expirado em 1961 (vinte e cinco anos da morte do autor) ou na mais absurda hipótese em 1973 (vinte cinco anos da vigência da Convenção, na versão de 1948). Note-se que a Convenção não prevê aplicação retroativa

6) A lei de 1973 trazia norma especial quanto ao prazo de proteção de obras fotográficas. Neste caso não se aplicava o disposto no art. 42 da Lei 5.998/73 que dava proteção vitalícia aos pais, cônjuges, e filhos do autor, ou o art. 649 do CC, que lhes assegurava proteção por sessenta anos a contar do seu falecimento. Mas, mesmo se se aplicasse o prazo geral do Código Civil, vigente à data da morte do fotógrafo, os direitos teriam se esgotado em 1996.

7) Tratando-se tais fotos de documentos oficiais - como realmente são- , não se aplicaria qualquer prazo de proteção. Com efeito, o CC, art. 662 e o art. 5 º e 11 da Lei 5.988/73 lançam imediatamente em domínio público os documentos oficiais, uma vez produzidos.

8) Se tivesse havido direito autoral, ele teria vertido imediatamente à titularidade do Município, eis que o art. 661, II do CC prescrevia que pertenciam aos entes públicos as obras encomendadas pelos seus respectivos Governos.

9) Aliás, se tratando de pessoa em relação de trabalho subordinado, a obra produzida em estrito cumprimento do dever funcional resultaria, segundo o direito da época, na propriedade do tomador dos serviços.

10) Segundo o art. 56 da Lei 5.988/73, presume-se titular dos direitos sobre a fotografia quem lhe tem o negativo 32.

Por todas essas razões, cujo fundamento se acha detalhado na contestação anexa, à qual remeto V.Exa., entendi indevida qualquer pretensão dos sucessores do fotógrafo Augusto Malta quanto às fotos havidas pelo Município.

Resta apenas considerar se, com a entrada em vigor, recentemente, da Lei 9.610/98, que substitui a Lei 5.988/73, alteram-se em alguma coisa minhas conclusões.

Em primeiro lugar, não se imagine que as obras já caídas em domínio público voltassem a serem apropriadas em virtude da nova lei. Com efeito, diz a Lei 9.610/98:

Art. 112. Se uma obra, em conseqüência de ter expirado o prazo de proteção que lhe era anteriormente reconhecido pelo § 2º do art. 42 da Lei nº. 5.988, de 14 de dezembro de 1973, caiu

32 Nota – tal dispositivo já não vige sob a Lei 9.609/98.

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no domínio público, não terá o prazo de proteção dos direitos patrimoniais ampliado por força do art. 41 desta Lei.

Note-se que tal caso (do art. 42 § 2º da Lei 5.998/73) é o prazo máximo de proteção após a morte do autor, salvo os casos em que os filhos, os pais e o cônjuge houvessem, vitaliciamente, os direitos transmitidos. Ao mesmo tempo que preserva sob a nova lei a transmissão vitalícia já assegurada (pois extingue tal direito após sua vigência), o art. 112 da Lei 9.610/98 aponta para o fato de que não se retira do domínio público o que nele já se encontrava.

Ora, como já se indicou, em qualquer hipótese já teria havido a expiração dos direitos. Não há como ressuscitá-los pela nova legislação.

Pondere-se, igualmente, que a eventual aquisição dos direitos relativos às fotografias em questão deu-se à luz da legislação anterior - de 1903 a 1917, pela norma anterior ao Código, e após tal data, ao amparo deste. As remissões que se faziam anteriormente à Lei 5.988/73 já tinham propósito simplesmente ilustrativo, eis que os direitos pertinentes - se algum houvesse - teriam sido adquiridos sob direito anterior.

Assim, muito embora a nova Lei 9.610/98 tenha consideravelmente alargado a proteção das obras fotográficas (vide "Imagem, Fotografia e Direitos Autorais", por Eliane Y. Abraão, Revista da ABPI, 1997) tal inovação não afeta os direitos constituídos e, ao que entendo, esgotados sob direito anterior.

Nada tenho, portanto, a acrescer ao que anteriormente indiquei como o direito pertinente à matéria. O Arquivo da Cidade não tem o que cuidar quanto à questão das fotos de Augusto Malta, lembrando-se porém que o caso permanece sub judice.

Já a proteção dos direitos relativos a outros itens sob guarda do Arquivo da Cidade, a própria exposição acima indica a necessidade de uma análise caso a caso. Segurança de que uma obra, em tese, está em domínio público só se terá após a expiração do prazo máximo de uma vida humana, contada nove meses após a morte do autor.

É meu entendimento, s.m.j.

Denis Borges Barbosa

Procurador do Município

Limites territoriais da proteção

Em decorrência dos já mencionados tratados, a proteção a obra se exerce simultânea e instantaneamente em todos os países convencionais, bastando estarem caracterizados os fatos geradores da proteção no pais de origem.

Fair Usage – As l imitações ao direito autoral

Digitaliza o Picasso? 33 Num mundo de multimídia (aliás, do que sou também adepto), o grande fascínio é construir obras informáticas "chupando" daqui uma imagem gráfica, dali uma foto digitalizada, de mais adiante um som, ou um texto literário, para fazer coisa (quem sabe?) nova, original, fascinante não só pelo aspecto lúdico do uso do computador mas até - com sorte - pelo resultado final. Mas pode?

Não é fácil responder a pergunta. Pode, ou não, dependendo do caso, do país onde o artista esteja operando, ou de onde a obra informática deva ser publicada ou consumida, do tipo de obra - sem falar de dezenas de outros problemas. Para não complicar demais a questão, vamos ficar na "pilhagem" criativa de obra escrita ou plástica, e na hipótese em que criador e produto se limitem ao território brasileiro. Caso a sua obra multimeios tenha música, perfumes, sensações táteis, etc., ou seja destinada a outro país, cuidado: as regras podem ser exatamente o contrário.

33 Artigo publicado na revista virtual Alpha Centauri nº 5, 1992, atualizado em face da nova lei autoral.

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Também não vou tocar no problema do software, que permite todas essas mágicas criativas, nem mesmo das telas dos jogos e outros programas, que dão ganas de capturar e usar na nossa própria criação. Aí também a regra pode ser outra, merecendo uma discussão à parte.

Enquanto o artista per/informático estiver se exercitando em seu CD-ROM, ou WINDOWS, ou AD LIB, ou MIDI, fazendo e desfazendo compósitos pelo prazer e pela ginástica intelectual, sem dúvida que pode. Os problemas surgem quando se chega a uma obra, um resultado final que será enfim utilizado, como testemunho do poder criativo do autor perante a mamãe e os amigos, ou como meio de fazer algum - afinal estas coisas também rendem dinheiro.

Original ? Se na obra há trabalho criativo do artista, ela é certamente original, muito provavelmente suscetível de proteção do Direito do Autor. Isso não quer dizer que a obra seja de utilização livre. Quem transforma, inclusive por colagem, patch work, ampliação ou redução, inversão de imagem, etc., uma obra anterior lida com duas obras originais - a transformada e a que sofreu transformação; mas só pode usar livremente a nova obra quem para isto conseguiu autorização do dono da obra originária (e desde que esta não sofra dano....).

Aliás, não só os donos do direito patrimonial à obra transformada podem opor-se : o autor, mesmo não sendo mais dono (pode ter cedido seus direitos, ou realizado obra sob encomenda, Tc...) tem poder para vedar a modificação de sua criação original.

Quem reúne obras de terceiros em antologia, colagem, etc., de forma que a criação alheia permaneça não transformada, adquire também direito sobre o todo coligido, mas resta intacto o direito autoral, individualmente sobre cada um dos elementos reunidos. Ou seja, só se pode utilizar a composição com permissão dos donos.

Em suma, não é o fato de a criação multimídia ser original que vai dar ao artista a propriedade ou o livre uso da coisa criada. Se foi empregado material alheio, transformado, não há liberdade de uso da "nova" obra, a não ser em casos muito específicos - de que falarei abaixo.

Os usos permitidos "Fair usage", diz-se em inglês. Exceções aos direitos exclusivos. A norma que deixa qualquer um fazer uso de uma obra protegida pelo direito autoral, em certos casos muito específicos.

O primeiro deles é o da citação, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores.

Citação é citação, "mero acessório que se engasta em uma obra, como o enfeite à roupa" (sendo esta, aliás, uma amostra de citação, sou obrigado a dar a origem e autoria: Sá Pereira, apud Viera Manso, Direito Autoral, Ed. José Buchatsky, 1980). Não se pode fazer da citação uma outra obra.

Um periódico (como esta revista aqui, por exemplo) pode transcrever de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos.

Uma revista multimídia (mas não o público em geral) pode também reproduzir discursos proferidos publicamente - inclusive conferências e palestras ouvidas numa FENASOFT, por exemplo, sempre que respeitado o princípio da atualidade da informação (por isto, a exceção em favor dos periódicos).

Vale também a citação em livros, jornais, revistas como esta aqui ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;

Pode-se também copiar retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda, quando quem copia é o proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada ou de seus herdeiros.

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Numa importante ressalva, são livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito. Ou seja, se se toma uma obra sisuda e grave, para fazer humor e brincar com arte, be my guest

De outro lado, livre é a cópia de obras de arte existentes em logradouros públicos: outra vez, a regra não se aplica às fotografias das obras de arte. A mesma coisa se diz de um retrato ou efígie de pessoa, pintado ou desenhado por encomenda (novamente: fotografia não), quando a reprodução é mandada fazer pelo proprietário da obra de arte , desde que respeitado o direito de imagem da pessoa representada, e de seus herdeiros 34.

É preciso agora relembrar que tais exceções são exatamente isso: permissões excepcionais, que não podem ser tomadas como regra geral e nem (atenção aqui) podem ser estendidas analogamente a outros casos, que não os descritos. Tal ênfase se explica, pois mencionamos a seguir mais uma fair usage que, embora razoavelmente comum às legislações nacionais, pode levar a uma impressão de que os direitos autorais são uma ilusão de ótica.

É que se pode sempre reproduzir pequenos trechos de qualquer obra (ainda que não toda a obra!) em um só exemplar, desde que destinada a utilização sem intuito de lucro. Quer dizer: para uso pessoal, e sem segundas intenções. É preciso também repetir que esta disposição da lei autoral não se estende à lei do software.

Alei autoral, de outro lado, permite fazer paródias, sem violação do direito do autor da obra, desde que não importem em descrédito desta. Paródias, porém, não são transformações da obra preexistente, mas aproveitamento do mesmo tema, com criação autônoma, de caráter burlesco ou satírico. Cuidado, porém, com os limites desta exceção à regra geral: o satírico para o artista multimídia pode ser mera cópia para o autor satirizado. Prudente, pois, escolher para copiar um autor muito cordato, preferivelmente morto há uns cento e cinqüenta anos.

As fotografias. Nem toda fotografia é protegida pelo Direito Autoral. Aquela que você mesmo tira em máquina automática não é (embora sua própria imagem tenha proteção, ainda que não pelo Direito Autoral). As outras – com a nova lei de 1998 - passaram a ter proteção, sejam ou não consideradas obras artísticas.

A nossa lei estabelece que não se possa reproduzir uma fotografia protegida senão em absoluta consonância com o original, salvo autorização específica. De outro lado, alguns autores acham que se pode fazer um desenho a partir de uma fotografia, e deste reproduzir livremente. Poder-se-á também digitalizar uma foto, e tratar este novo meio como se fosse um desenho? A resposta ainda não existe, mas a prudência aconselha não acreditar em tal possibilidade.

Quem é o dono? O editor desta revista não me perdoaria se terminasse o artigo sem responder a mais aflita de suas próprias questões: quem é o "dono" a quem se deve pedir autorização, se esta é necessária? Ou, de outro lado: quem pode dar autorização?

34 A lei ainda prevê os seguintes casos: o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de quem as ministrou; a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas e transmissão de rádio e televisão em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilização; a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro; a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para produzir prova judiciária ou administrativa; a reprodução de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários; a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro.

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Atrás da dúvida está a miríade de imagens que se capta do seu CD-ROM, para transformar com auxílio do COREL DRAW em sei lá o quê. Ou então aquela fascinante foto de um modelo belíssimo que se encontra num "demo". Todo mundo usa. Em muitos casos, há uma licença de utilização, que possivelmente ninguém lê em meio à documentação do programa ou do repertório gráfico; nestes casos, embora o uso pareça completamente livre, as imagens só podem ser empregadas de acordo com os termos da permissão (é o que a lei autoral...). Quando não haja licença explícita, não acredite que o uso do material seja livre - a mesma lei diz que a interpretação destas permissões deve ser estrita, e (entenda-se) em favor do autor da obra.

Não encontrando tal licença - ou o anúncio que o autor renunciou aos direitos patrimoniais sobre a obra, deixando livre a sua utilização - cabe primeiro examinar se já não expiraram os direitos. Durante toda vida do autor e setenta anos depois persistem os direitos patrimoniais. Fotografias, vídeos e filmes são objeto de proteção por apenas setenta anos desde o dia 1o. de janeiro do ano subseqüente ao que são criadas - vivendo ou não o autor.

São também do domínio público as obras de autores mortos sem sucessores, as de autor desconhecido (não as das obras anônimas - o que é diferente; e ressalvada a proteção legal aos conhecimentos étnicos e tradicionais.) e aquelas publicadas em países que não participem dos tratados internacionais pertinentes nem protejam os autores brasileiros com isonomia a seus próprios nacionais

Se não é caso de domínio público, o próximo passo é localizar o autor. Em muitos casos este é o titular dos direitos patrimoniais (dos chamados direitos morais, será sempre: são intransferíveis). Mas pode ter havido cessão, contrato de edição ou licença, que dê a terceiros o poder de autorizar e de fiscalizar a utilização da obra. Localizar quem pode, licitamente, autorizar a reprodução de um desenho ou fotografia, freqüentemente é complicado.

Note-se que, regra geral, o comprador do corpo físico de uma obra (o livro, o quadro) não ganha o direito de reprodução da mesma. Quase toda a lei nacional diz isso, com toda ênfase.

Mas a quem pertence o direito de reprodução de um quadro existente num museu (indaga o nosso editor)? Com toda a precisão digna de um tucano: depende. Se o museu fica aqui no Brasil, e tiver adquirido o quadro depois da entrada em vigor da lei autoral de 1973, mas antes da de 1998, e não houver disposição em contrário no contrato de compra da obra, e não tiver por sua vez cedido os direitos de reprodução, e se não estiverem os direitos patrimoniais caído em domínio público, é provável que ao tal museu (ou à entidade que o mantém) caiba autorizar a reprodução da obra numa criação computacional multimídia.

No caso de uma obra nova, ou adquirida após julho de 1998, aplica-se a regra do Art. 77 da Lei 9.610/98: Salvo convenção em contrário, o autor de obra de arte plástica, ao alienar o objeto em que ela se materializa, transmite o direito de expô-la, mas não transmite ao adquirente o direito de reproduzi-la. E diz em seguida: Art. 78. A autorização para reproduzir obra de arte plástica, por qualquer processo, deve se fazer por escrito e se presume onerosa.

Em suma: por favor, não digitalize meu Picasso.

Notícia: Limites do Direito

Música polêmicaArtistas brasileiros defendem MP3, mas querem regulamentação e controle sobre direitos autoraisALEXANDRE FONTOURA Especial para o JB Online

A livre circulação de música pela web é o problema atual mais preocupante no que diz respeito à violação dos direitos autorais. A lei em vigência é de 1998 e, segundo ela, a reprodução de apenas um trecho de uma determinada obra não é crime. "Se a lei que trata deste assunto fosse a que estava em vigor antes de 98, a maioria das reproduções de música em MP3 não seria crime", explica o procurador e professor de Propriedade Intelectual da PUC-RJ, Denis Borges Barbosa, que esteve presente no I Congresso

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Internacional de Direitos Autorais no Rio. No entanto, as reproduções tinham que ser para uso individual e sem fins lucrativos.

De acordo com a lei, se uma pessoa reproduzir uma obra por inteiro, não importa o modo, ela estará cometendo um crime que implica a violação do direito autoral. "Não vale a pena processar cada internauta que baixa arquivos sonoros. Seria impossível e inviável economicamente. É preciso, sim, processar o principal causador do problema, o Napster", comentou Borges. "Mesmo que fosse inventado um arquivo de música que se auto apagasse depois de cinco apresentações, por exemplo, continuaria sendo crime", confirma.

Para Borges, a sensação de liberdade na internet está fadada a uma grande modificação em breve. Uma delas seria a diminuição das ofertas gratuitas. "Vai chegar a um limite", conclui.

POLÊMICA - Principal causador de toda a polêmica entre gravadores, usuários e artistas, o Napster está em uma situação incerta. De acordo com a justiça americana, o programa de troca de MP3 deveria estar fora do ar, mas os advogados de defesa conseguiram negociar mais alguns dias de vida para o software.

Quem ganha com isso? Primeiro, o próprio Napster que, com toda essa confusão, ganhou popularidade. De acordo com uma pesquisa do PC Data, o número de acessos à página oficial da Comunidade Napster (www.napster.com) mais do que dobrou nos últimos dias. Na semana anterior ao processo, em julho, o site teve 1,8 milhões de visitas, hoje o número de page views pulou para 5,8 milhões.

No Brasil a briga também existe, mas de forma um pouco mais branda. Alguns sites brasileiros têm passado a receber intimações para retirar os arquivos MP3 não autorizados do ar, como a SomBrasil. Desde o início deste ano, a Associação de Proteção dos Direitos Fonográficos (APDIF), que defende as gravadoras EMI, BMG, Sony, Som Livre, Universal e Warner, está fazendo notificações deste tipo.

Para driblar os problemas com a lei de direitos autorais, vários portais já vendem o download de música, mas o preço ainda está alto. No site da Sonymusic.com, baixar o arquivo MP3 pode custar entre US$ 2,99 e US$ 3,99.

Alguns artistas brasileiros, no entanto, não se sentem afetados diretamente pela livre distribuição de música digital. Segundo eles, quem tem o verdadeiro prejuízo são as gravadoras e, em segundo plano, os autores das músicas. Os próprios artistas consideram muito baixo o valor pago normalmente pelo direito autoral.

"Tirar o software do ar não resolve o problema, o ideal seria criar uma regulamentação e arrecadar os direitos autorais", analisa Gabriel O Pensador. Para o cantor Leo Jaime, as poucas brechas que aparecem são combatidas. "Esse mercado de cinco empresas vem dominando há tempos e engolindo todas as independentes que aparecem com possibilidades", critica Leo Jaime.

E se para os já consagrados não há problemas, para as bandas que estão em início de carreira só há vantagens com o MP3. Elas vêem essa confusão virtual como uma boa coisa: a fácil distribuição de suas músicas é totalmente positiva, já que não há ligação com gravadoras e a divulgação é o mais importante. "Para quem não tem gravadora e quer vender suas canções, é um canal ideal. Quem sabe, o futuro musical seja sem gravadoras?", aposta Paulinho Moska.  

Fair usage – O Caso do Cristo Redentor Promoção PG/CES/02-00-DBB

Em 29 de agosto de 2000

Direito autoral de obra escultural existente em área pública. Inexistência.

Senhor Procurador Geral,

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Solicita-se pronunciamento sobre manifestação da Mitra Arquidiocesana, solicitando a retirada de propaganda onde se vê a figura do Cristo Redentor. Fundamenta-se a solicitação na existência de direito autoral sobre a estátua.

Entendo que a pretensão careça de acolhida.

Vigência dos direitos

O Monumento do Cristo Redentor foi projetado pelo engenheiro Heitor da Silva Costa; mas a escultura em si mesma, que claramente constitui elemento autoral autônomo e destacável, é do arquiteto francês Paul Landowski, morto em 1961 35. Ora, diz o Código Civil, vigente à época da criação da obra e da morte do autor:

Art. 649.  Revogado pela Lei nº 9.610, de 19.2.1998:

Texto original: Ao autor de obra literária, científica ou artística pertence o direito exclusivo de reproduzi-la. (Redação dada pela Lei nº 3.447, de 23.10.1958)

§ 1º Os herdeiros e sucessores do autor gozarão desse direito pelo tempo de 60 (sessenta) anos, a contar do dia de seu falecimento.

Então, vigente ainda o direito autoral, até 2021.

Oponibilidade dos direitos

Ainda que vigente, o direito autoral não seria oponível. Isso se dá pois a corrente Lei Autoral preceitua:

Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais.

Não me consta que a Mitra ainda detenha a propriedade da área onde se situa o Cristo Redentor sito, como está, em meio a um Parque Nacional. Mas creio que mesmo que detivesse, tal fato seria rigorosamente indiferente ao direito autoral. Do site oficial do Parque da Tijuca 36, lê-se:

Mirante do Corcovado, no alto da estrada do Corcovado, a 704m acima do nível do mar. Abriga a estátua do Cristo Redentor, com 30m de altura e 9m de altura do pedestal, que se tornou o símbolo da cidade e um dos seus principais pontos turísticos, recebendo anualmente cerca de um milhão de visitantes;

Por qualquer parâmetro pertinente, o ponto turístico que recebe mais de um milhão de pessoas por ano, sem restrição de entrada, é um logradouro público.

Note-se que na verdade o art. 48 da Lei 9610/98 tem por indiferente a propriedade da área onde se situa a obra escultural. Se há acesso público, e a obra está sujeita à livre fruição da população em geral, existe liberdade de representação. O fator determinante para limitação ao direito autoral, ao que entendo, é o fato de que a fruição já é pública, não cabendo assim retirada desta faculdade do domínio público; para mim, a exata classificação do lugar onde se situa a obra como logradouro ou não é sutileza bizantina em face da análise funcional das propriedades, que enfatiza sua destinação social.

Não se argua, de outro lado, o intuito protetor da lei autoral, que faz interpretar em favor do autor as disposições negociais 37. No caso, não estamos interpretando negócios jurídicos, mas texto legal, e existem dois objetos de tutela igualmente dignos de proteção – a criatividade e a fruição pública da arte. Assim, a racionalidade e a funcionalidade são os critérios heurísticos relevantes 38, não o viés pro autorem, que se aplica no contexto privado.

35 Conforme http://mail.franceantiq.fr/sna/udb/photos/landow-g.htm36 Em http://www.sapnt.org.br/index2.htm

37 Lei 9.610/98 - Art. 4o Interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os direitos autorais.38 Vide o Parecer PG/CES/01/00-DBB, onde longamente me estendo quanto ao conflito de interesses igualmente protegidos pela Constituição.

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Direitos morais e patrimoniais

No Brasil, assim como nos outros países que seguem a tradição latina 39, o Direito Autoral engloba dois aspectos: o direito patrimonial e o direito moral. Deixando de lado as filigranas teóricas, e importante delimitar tais direitos.

A Lei autoral determina que: Art. 24. São direitos morais do autor:

I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;

II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;

III - o de conservar a obra inédita;

IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;

V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;

VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta à sua reputação e imagem;

VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado.

Como se vê, são direitos muito amplos e fortes, havendo apenas ressalvas, no mesmo artigo da lei, de que:

§ 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prévias indenizações a terceiros, quando couberem.

A natureza de tais direitos e tal que a lei (art. 27) os considera como inalienáveis e irrenunciáveis, atribuindo-se expressamente aos herdeiros dos autores o exercício dos direitos morais de paternidade, ineditismo e modificação e ao Estado a defesa da sua integridade.

Jurisprudência: Direitos Morais Tribunal de Justiça de São Paulo

DIREITO AUTORAL – VIOLAÇÃO – PUBLICAÇÃO DE OBRA FOTOGRÁFICA SEM INDICAÇÃO DO AUTOR – INDENIZAÇÃO DEVIDA – INTELIGÊNCIA DO ART. 28 DA LEI 5.988/73 – Não resta dúvida que a obra fotográfica do autor está sob o amparo da Lei 5.988/73, Lei de Direitos Autorais, como também da CF, no seu art. 5°, XXVII, sendo a violação do seu "direito moral" passível de ressarcimento, pois, ocorrente "dano moral, em decorrência da omissão do nome do autor", como autor da obra fotográfica em utilização, de natureza publicitária, realizada em favor do réu. (TJSP – Ap. 199.429-1/0 – 1ª C. – Rel. Des. Guimarães e Souza – J. 22.02.94) (RT 710/ 51.

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Obra cinematográfica. Os direitos morais do autor são irrenunciáveis e inalienáveis. Assim sendo, pode o diretor impedir a remontagem de filme, não obstante, anteriormente, tenha se comprometido a ceder seus direitos de posse a autoria aos co-titulares dos direitos patrimoniais.Ao apelante, nos termos do art. 26 da Lei n° 5.988/73, compete exercer, com exclusividade, os direitos morais do autor. O art. 25, inciso IV, da mesma lei, assegura ao titular dos direitos morais a manutenção da integridade da

39 Tal não ocorre nos países de tradição anglo-saxônica, onde não se concebe a proteção de tais direitos.

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obra. A promessa de cessão de direitos em nada prejudica o exercício específico dos direitos morais, que são inalienáveis e irrenunciáveis.

Referência: Apelação Cível n° 23.242 - Rio de Janeiro - 1a. Câmara Cível do TJ/RJ - Por unanimidade, em 17/08/82. - Rel. Geraldo Arruda Guerreiro -

Direitos Patrimoniais

Quanto aos direitos patrimoniais, basta dizer que se referem a exploração econômica da obra e que podem ser cedidos a terceiros, em caráter definitivo ou temporariamente, parcial ou totalmente.

Classicamente, os dois direitos patrimoniais essenciais do campo autoral são a exclusividade de reprodução (ou cópia, daí, copyright) e de execução pública, essa, para as obras que a comportem. Essas duas faculdades exclusivas são as universalmente assimiladas pelos vários sistemas nacionais, como nota Claude Colombet 40

Outras legislações, inclusive a brasileira atual, elaboram mais o rol de direitos patrimoniais conferidos ao autor. Assim é que prescreve o art. 29 da Lei Autoral (exemplificamos):

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:

I - a reprodução parcial ou integral;

(...)

III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;

(...)

V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;

VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra;

(..)

VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante:

(...)

h) emprego de satélites artificiais;

i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados;

(....)

IX - a inclusão em base de dados; o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;

X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas...”

40 Grands principes du Droit d'Auteur et des Droits Voisins Dans le Monde, Ed. Litec- UNESCO, p. 55.

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Jurisprudência: direito moral DIREITO AUTORAL – VIOLAÇÃO – PUBLICAÇÃO DE OBRA FOTOGRÁFICA SEM INDICAÇÃO DO AUTOR – INDENIZAÇÃO DEVIDA – INTELIGÊNCIA DO ART. 28 DA LEI 5.988/73 – Não resta dúvida que a obra fotográfica do autor está sob o amparo da Lei 5.988/73, Lei de Direitos Autorais, como também da CF, no seu art. 5°, XXVII, sendo a violação do seu "direito moral" passível de ressarcimento, pois, ocorrente "dano moral, em decorrência da omissão do nome do autor", como autor da obra fotográfica em utilização, de natureza publicitária, realizada em favor do réu. (TJSP – Ap. 199.429-1/0 – 1ª C. – Rel. Des. Guimarães e Souza – J. 22.02.94) (RT 710/51)

Do registro de direitos autorais

Propósito do registro

O registro do obra, como aliás ocorre no conjunto do nosso sistema de direito autoral, não é indispensável para obter a proteção: o titular do obra autoral pode, mas em geral não é obrigado a levar a registro sua criação. A propriedade sobre os obra autorais nasce do ato de criação original, e qualquer evidência desta criação substituirá o registro. O depósito do obra autoral e do material informativo para o registro é uma forma de facilitar a prova de que o obra autoral é original ou que foi aquele, e não outro, o resultado de seu trabalho.

O primeiro objetivo do depósito, assim, é a comprovação de que o obra autoral é criação independente, resultante de elaboração autônoma. Que não é cópia de outra obra. É o requisito clássico no Direito Autoral da originalidade (subjetiva), diferente do novidade (objetiva) do sistema de patentes.

No entanto, uma vez mais cabe repetir que o registro é constitui prova condicional: não só pode ser superada por outra evidência mais convincente, como também, no caso da legislação autoral, aqui aplicável, a eventual criação anterior da qual o autor da obra não tenha conhecimento não tira a originalidade da posterior - desde que, é óbvio, não tenha havido indevida apropriação de material da primeira pela segunda criação.

O segundo objetivo do depósito é a identificação do obra autoral em face de outros, especialmente dos eventuais contrafatores. Para quem tais propósitos são irrelevantes, o registro não tem menor sentido.

Ao contrário do que acontece no tocante às marcas e as patentes no INPI, ou aos nomes de empresas nas juntas comerciais, o registro na Biblioteca Nacional41 não implica em qualquer exame de substância ou de anterioridade. Em suma, a Biblioteca Nacional não examina se o que lhe trazem à registro é, ou não, objeto de proteção autoral.

Com efeito, o registro autoral não é constitutivo de direitos 42. Como diz a Del. 1/82 da 1a. Câmara do CNDA:

41 Ou, conforme a Res. CNDA no. 5, de 8/9/76 [Doc. ], no CREA, ou na Escola de Música da UFRJ.

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O direito Brasileiro não exige o registro como formalidade necessária à proteção do Direito de Autor. O registro é uma faculdade jurídica que a lei proporciona ao interessado para segurança de seus direitos, nos termos do caput do art. 17 da Lei 5.988/73.

Ao Direito de Autor, a título de eficiência de registro, interessa, apenas, que se possa comprovar a anterioridade do registro, pois esta configura apenas uma presunção juris tantum, que pode ser fulminada com a prova contrária do interessado (…)

Assim, o CONFEA deve registrar diante de simples solicitação, desde que preenchidos os elementos de individuação sem qualquer preocupação com a configuração de originalidade ou justificativa quanto à imperiosa necessidade do ato (…) 43 (grifos do original).

Igualmente, quanto à substância da obra:Aos órgãos encarregados de executar os serviços de registro das obras intelectuais, para segurança dos direitos autorais (…) não compete examinar se determinada obra intelectual atenta à moral e aos bons costumes 44.

Como já decidiu o Tribunal de Alçada do Estado do Rio de Janeiro, o registro não torna obra intelectual protegível o que não o é:

Simples figura geométrica. Novidade não criada. Registro inoperante. Reprodução. Contrafação inexistente.

Quem apenas desenha figura geométrica com linhas horizontais e verticais de modo nenhum cria novidade. O fato de haver registro do que se reputa criação intelectual sem o ser não torna a obra intelectual protegível. A reprodução de tal obra, mesmo sem a autorização do autor, não constitui contrafação, que só poderá ocorrer quando haja reprodução não autorizada de obra intelectual protegível 45.

Com efeito, esta natureza não constitutiva - meramente ad probandum tantum, e criando só presunção juris tantum - do registro é o parâmetro da norma internacional, adotada no Brasil (Convenção de Berna, art. 5o., alínea 2 46).

Jurisprudência: Registro não dá propriedade Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Apelação. Obra musical. Titularidade. Registro. A titularidade do direito autoral tem como fato gerador a criação da obra, que é a forma originária de criação do direito subjetivo. O registro, que logicamente sucedera a criação, tem natureza declaratória e não constitutiva. Havendo conflito entre o registro e a utilização da obra, prevalece esta desde que anterior ao registro.

Referência: Apelação Cível n° 4.685 - Rio de Janeiro - 3a. Câmara Cível do TJ/RJ - Por maioria, em 26/02/91 - Rel. José Rodriguez Lema

42 Desnecessidade para exercício de direitos: Apel. Cível no. 25.605/1, julgada em 11/11/82, Jurisprudência Brasileira no. 95, p. 180. Embora seja exigível para a cessão de direitos (Lei 5.988/73, art. 53 § 1o. ) vide Agravo de Instrumento no. 271.783 do TJSP, julgado em 24/10/78, em Jurisprudência Brasileira, no. 95, p. 199.43 Deliberações, 1984, p. 35 (Doc. anexo 69 ). 44 Del. CNDA no. 22/83 da 1a. Câm. Deliberações, 1984, p. 270 (Doc. anexo 70).45 1o. TARJ - AP. 51.235 - 2a. Câmara, julgamento em 9/10/80, Rel. Emerson Santos Parente. Transcrito a 129 do vol. 95 de Jurisprudência Brasileira (Doc. anexo 71)e a p. 88 de A Lei de Direitos Autorais na Jurisprudência, C. A. Bittar, Ed. RT, 1988.46 “O gozo e exercício de tais direitos não estão sujeitos a qualquer formalidade”. Vide Guide to the Berne Convention, WIPO, Genebra, 1978, p. 33; Zapata Lopez, El Registro y la informacíon, in Um novo Mundo do Direito de Autor, Direção Geral dos Espetáculos de Portugal, 1994, p. 259; Antonio Chaves, Direitos Autorais na Computação de Dados, Ed. LTR, 1996, p. 157; Luiz Francisco Rebello, Introdução ao Direito de Autor, vol. I, Lisboa 1994, p. 93.

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Qualquer um pode pedir registro?

Quem pode pedir o registro, seja o voluntário ou o obrigatório ? É o titular dos direitos à obra autoral quem pode requerer o registro. Cabe, então perguntar: Quem é titular? O criador - se reunir esta qualidade com a titularidade - o titular originário não criador, se este for o caso, ou os sucessores inter vivos (os cessionários, por exemplo) ou causa mortis (os herdeiros, por exemplo).

Onde se registram os obra autorais

Onde se registra o obra autoral?

O art. 17 da Lei 5.988/73 prevê que os registros de obras intelectuais se farão na Biblioteca Nacional, na Escola de Musica e na Escola de Belas Artes da UFRJ, no Instituto Nacional de Cinema (depois CONCINE), ou no CONFEA, conforme sua natureza. Não se enquadrando nas entidades indicadas, o registro se fará no Conselho Nacional de Direito Autoral (hoje, Secretaria de Intercâmbio e Projetos Especiais do Ministério da Cultura, de acordo com o Decreto 1.673 de 11/10/95, art. 9, inciso V, que se sucedeu ao CNDA nas competências da União relativas ao Direito Autoral).

Conforme a Resolução no. 5/76 do CNDA, que regula os registros autorais (exceto o de Software, objeto da Res. 57 de 6/7/88), cabe registrar na Biblioteca Nacional:

· os livros, brochuras, folhetos, cartas missivas e outros escritos;

· as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;

· as obras dramáticas e dramático-musicais;

· as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por qualquer outra forma;

· as ilustrações, cartas geográficas, e outras obras de mesma natureza;

· as coletâneas e compilações, como seletas, compêndios, antologias, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas, coletâneas de textos legais, de despachos, de decisões ou de pareceres administrativos, parlamentares ou judiciais, desde que, pelos critérios de seleção e organização, constituam criação intelectual.

Um plano, por exemplo, de seguros ou de um evento. Onde será registrado? Não se argumente que o plano é um escrito, pois também o são as patentes de invenção, os planos arquitetônicos, os testamentos ou as escrituras de compra e venda de imóveis, e não será na Biblioteca Nacional o local de levá-las a registro. Também são escritos os planos coreográficos, as obras dramáticas, as coletâneas a que se refere a alínea “compêndios”; assim, para não se ter como redundantes os demais dispositivos da norma citada, é preciso entender que os “escritos” a que se refere a alínea sejam do mesmo gênero das obras anteriores, ou sejam: livros, folhetos, brochuras, cartas-missivas. Ou seja, literatura!

Como se vê da Res. 5/76, na Escola de Música se registram as composições musicais; na Escola de Belas Artes, os desenhos, gravuras, etc.; no CONCINE, as obras cinematográficas; no CONFEA os projetos, esboços, e obras plásticas concernentes à geografia, topografia, engenharia, arquitetura, cenografia e ciência.

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De qualquer forma, a norma legal do art. 17 da Lei Autoral precisa que não se enquadrando nas entidades indicadas, o registro se faria na Secretaria de Intercâmbio e Projetos Especiais do Ministério da Cultura. Ou seja, não tem a Biblioteca Nacional competência residual, mas precisa.

Cabe lembrar que, no Direito Administrativo, os órgãos públicos só detém a competência que lhes for expressamente designada, não cabendo liberdade de exercício da administração, ou uma usucapião de competência, captando o ente público o poder não exercido por terceiros. Só pode a Biblioteca registrar o que lhe é destinado.

No casos, a regra de competência não é só uma expressão formal do Direito Administrativo, mas um requisito logicamente indispensável. A razão para isto é clara. Os registros têm como razão de existência a publicidade dos atos jurídicos, o acesso de todos às informações que tem efeito erga omnes. Se se registrasse uma obra de escultura na Escola de Música, como qualquer um do povo poderia determinar a existência de uma propriedade de terceiros sobre tal criação estética?

Utilização e Cessão das obras protegidas por Direito Autoral

Utilização da Obra

Da Edição Art. 53. Mediante contrato de edição, o editor, obrigando-se a reproduzir e a divulgar a obra literária, artística ou científica, fica autorizado, em caráter de exclusividade, a publicá-la e a explorá-la pelo prazo e nas condições pactuadas com o autor.

Art. 54. Pelo mesmo contrato pode o autor obrigar-se à feitura de obra literária, artística ou científica em cuja publicação e divulgação se empenha o editor.

Da Comunicação ao Público  Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções públicas.

 § 1º Considera-se representação pública a utilização de obras teatrais no gênero drama, tragédia, transmissão e exibição cinematográfica.

 § 2º Considera-se execução pública a utilização de composições musicais ou lítero-musicais, mediante a participação de artistas, remunerados ou não, ou a utilização de fonogramas e obras audiovisuais, em locais de freqüência coletiva, por quaisquer processos, inclusive a radiodifusão ou transmissão por qualquer modalidade, e a exibição cinematográfica.

 § 3º Consideram-se locais de freqüência coletiva os teatros, cinemas, salões de baile ou concertos, boates, bares, clubes ou associações de qualquer natureza, lojas, estabelecimentos comerciais e industriais, estádios, circos, feiras, restaurantes, hotéis, motéis, clínicas, hospitais, órgãos públicos da administração direta ou indireta, fundacionais e estatais, meios de transporte de passageiros terrestre, marítimo, fluvial ou aéreo, ou onde quer que se representem, executem ou transmitam obras literárias, artísticas ou científicas.

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Da Comunicação ao Público - GRATUIDADE LDA 98   Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções públicas.

LDA 73 - Art. 73. Sem autorização do autor, não poderão ser transmitidos pelo rádio, serviço de alto-falantes, televisão ou outro meio análogo, representados ou executados em espetáculos públicos e audições públicas, que visem a lucro direito ou indireto, drama, tragédia, comédia, composição musical, com letra ou sem ela, ou de obra de caráter assemelhado.

O confronto do caput do art. 73 da Lei 5.988/73 com o do art. 68 da Lei 9.610/98 revela a subtração, no novo texto, da cláusula "que visem a lucro direto ou indireto", como fundamento da cobrança de direitos autorais. Tenho para mim, desta feita, que a condição de economicidade do evento deixa de ser exigida para a percepção da verba autoral.

Arte Plástica Art. 77. Salvo convenção em contrário, o autor de obra de arte plástica, ao alienar o objeto em que ela se materializa, transmite o direito de expô-la, mas não transmite ao adquirente o direito de reproduzi-la.

 Art. 78. A autorização para reproduzir obra de arte plástica, por qualquer processo, deve se fazer por escrito e se presume onerosa.

Art. 38. O autor tem o direito, irrenunciável e inalienável, de perceber, no mínimo, cinco por cento sobre o aumento do preço eventualmente verificável em cada revenda de obra de arte ou manuscrito, sendo originais, que houver alienado

Obra Fotográfica Art. 79. O autor de obra fotográfica tem direito a reproduzi-la e colocá-la à venda, observadas as restrições à exposição, reprodução e venda de retratos, e sem prejuízo dos direitos de autor sobre a obra fotografada, se de artes plásticas protegidas.

 § 1º A fotografia, quando utilizada por terceiros, indicará de forma legível o nome do seu autor.

 § 2º É vedada a reprodução de obra fotográfica que não esteja em absoluta consonância com o original, salvo prévia autorização do autor.

Obra Audiovisual Art. 81. A autorização do autor e do intérprete de obra literária, artística ou científica para produção audiovisual implica, salvo disposição em contrário, consentimento para sua utilização econômica.

 § 1º A exclusividade da autorização depende de cláusula expressa e cessa dez anos após a celebração do contrato.

Art. 85. Não havendo disposição em contrário, poderão os co-autores da obra audiovisual utilizar-se, em gênero diverso, da parte que constitua sua contribuição pessoal.

 Parágrafo único. Se o produtor não concluir a obra audiovisual no prazo ajustado ou não iniciar sua exploração dentro de dois anos, a contar de sua conclusão, a utilização a que se refere este artigo será livre.

Cessão

Note-se que na tradição brasileira do Direito Autoral, sob a influência do Direito Francês, a noção de “cessão” sofre de uma incerteza conceitual notável 47:

47 Dentro da noção genérica de cessão também estaria a constituição de outros direitos: por exemplo, o usufruto, o penhor, etc, importando em oneração do direito do titular.

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“O contrato de cessão de direitos autorais é típico no direito brasileiro (...) em que se opera a substituição subjetiva do titular de tais direitos.

(...)

Sem atentar para a ambigüidade da palavra ‘cessão’, os legisladores passaram a se valer dela sem nenhum critério científico, empregando-o ora no sentido de mero cumprimento de obrigação de transferir, mesmo temporariamente, direitos autorais, ora no de sua alienação definitiva, total ou parcial.

(...)

No Direito Autoral Francês (...) é altamente duvidosa a possibilidade de cessão de direitos autorais sobre qualquer tipo de obra intelectual 48”

Assim é que, à falta do hábito - no âmbito autoral brasileiro do uso da expressão “licença” -, a falta de critério científico leva ao emprego da palavra “cessão” para descrever tanto transferências de direitos (e.g., venda) quanto autorizações para o exercício dos direitos (e.g. locação). Claro está, porém, que mesmo fora do campo do software (onde há previsão legal específica) existe campo para a licença autoral.

É o que nota, ainda, o mesmo autor:“Nos quadrantes da ainda chamada Propriedade Industrial, a concessão é negócio jurídico típico, porquanto expressamente regulado para a outorga de licença de exploração de patentes e para uso de marcas (...)

Em matéria de Direito Autoral, as coisas de passam de maneira praticamente igual, sendo a concessão a modalidade de negociação que transfere ao seu beneficiário a faculdade de utilizar a obra intelectual, publicamente e com fins econômicos, sem que idêntico direito deixe de integrar o patrimônio do concedente” .

Direito exclusivo assimilável aos direitos reais o conteúdo dos privilégios, exclusivas autorais e sinais distintivos pode ser objeto de usufruto. A aceitação desta possibilidade resultaria em mais uma instância onde a cessão stricto sensu e uma outra figura jurídica teriam suas fronteira imprecisas.

Cessão na Lei 9.610/98

No campo do Direito Autoral, pela Lei 9.610/98, a Cessão (entendida como transferência total ou parcial, definitiva ou temporária de direitos) assim está regulada:

Art. 49. Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a título universal ou singular, pessoalmente ou por meio de representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão ou por outros meios admitidos em Direito, obedecidas as seguintes limitações:

Note-se que o regime de transferência de direitos (cessão stricto sensu) ou de exercício dos direitos (licenciamento ou concessão) é de liberdade de pactuação, sujeita apenas às limitações estritamente indicadas.

I - a transmissão total compreende todos os direitos de autor, salvo os de natureza moral e os expressamente excluídos por lei;

O inciso se refere à transmissão total, ou seja, à cessão strictu senso, e exclui de seu âmbito os direitos morais (e outros inalienáveis por lei). Assim, a cessão-alienação é sobre os direitos patrimoniais.

48 Eduardo Vieira Manso, op. cit., pg. 23.

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II - somente se admitirá transmissão total e definitiva dos direitos mediante estipulação contratual escrita;

Outra vez referindo-se à cessão strictu senso, a lei exige forma escrita. Vide o art. 50 da lei, que exige forma escrita mesmo para a cessão parcial de direitos.

III - na hipótese de não haver estipulação contratual escrita, o prazo máximo será de cinco anos;

Aqui, abrangendo todas as modalidades de transmissão de direitos e de exercício de direitos, e não só a cessão-alienação, a lei limita aos cinco anos o prazo do negócio jurídico relativo a direitos autorais que não tenha tomado a forma escrita. Obviamente, a cessão definitiva, com o sendo, não terá tal limitação temporal.

IV - a cessão será válida unicamente para o país em que se firmou o contrato, salvo estipulação em contrário;

Ao contrário do que ocorre no campo da propriedade industrial de marcas e patentes, o direito autoral sob as Convenções tem alcance imediato e universal – nos países convencionais. Mas a cessão regulada pela lei brasileira (e leia-se aqui cessão-alienação) é limitada ao país em que se firmou o contrato. Assim, salvo expressa menção de eficácia no Brasil, a cessão-alienação firmada na França não terá eficácia em relação ao território brasileiro.

V - a cessão só se operará para modalidades de utilização já existentes à data do contrato;

Parece razoável entender que essa disposição não se refira exclusivamente à cessão-alienação; pelo contrário, amplia-se a todas as formas de transferência de direitos autorais – ou de seu exercício.

VI - não havendo especificações quanto à modalidade de utilização, o contrato será interpretado restritivamente, entendendo-se como limitada apenas a uma que seja aquela indispensável ao cumprimento da finalidade do contrato.

Trata-se aqui de um regra de interpretação das obrigações, e não uma norma preceptiva, que imponha a natureza de tais obrigações. Podem-se pactuar todas as modalidades de transferência de direitos e de exercício de direitos; mas, em qualquer caso, interpretar-se-á o pactuado em favor do cedente (licenciante, etc.) segundo o parâmetro do mínimo indispensável à satisfação do fim expresso do ajuste. Assim, se o contrato de edição prevê a elaboração de um fonograma com obras musicais do editado, doze ou quatorze obras serão abrangidas pelo contrato, como o mercado o indica, e não sessenta.

Art. 50. A cessão total ou parcial dos direitos de autor, que se fará sempre por escrito, presume-se onerosa.

É tanto da transferência de direitos, quanto do seu exercício, o que se fala aqui; veja-se o § 2º. A presunção de onerosidade é juris tantum, e será contestada por cláusula expressa no contrato.

§ 1º Poderá a cessão ser averbada à margem do registro a que se refere o art. 19 desta Lei, ou, não estando a obra registrada, poderá o instrumento ser registrado em Cartório de Títulos e Documentos.

O registro da obra, previsto no art. 19, é optativo. Assim, ao contrário do que ocorrio no regime da lei anterior, a cessão não exige registro, mas apenas pode tomar forma pública.

§ 2º Constarão do instrumento de cessão como elementos essenciais seu objeto e as condições de exercício do direito quanto a tempo, lugar e preço.

Configura-se aqui mais uma vez a oscilação conceitual da noção de “cessão”. Tanto a menção a tempo quanto ao “exercício do direito” presume modalidades de negócio jurídico que não se limitaria à cessão-alienação.

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Art. 51. A cessão dos direitos de autor sobre obras futuras abrangerá, no máximo, o período de cinco anos.

Parágrafo único. O prazo será reduzido a cinco anos sempre que indeterminado ou superior, diminuindo-se, na devida proporção, o preço estipulado.

A hipótese aqui é de cessão (alienação ou exercício de direitos) sobre obra futura. Compatível com os limites da lei civil (locação de serviços) e da Constituição quanto à liberdade de trabalho, não se terá tal negócio em excesso aos cinco anos, adotando-se o recurso de adequação ao limite legal, e não de nulidade do acordo – solução compatível com a proteção ao autor.

Cessão em Direitos Autorais e Conexos

Cabe, referirmo-nos à lei n° 6.533, de 24 de maio de 1978, que “Dispõe sobre a regulamentação das profissões de Artistas e de Técnicos em Espetáculos de Diversões, e dá outras providências”, a qual assim diz:

Art. 13 - Não será permitida a cessão ou promessa de cessão de direitos autorais e conexos decorrentes da prestação de serviços profissionais.

Parágrafo único - Os direitos autorais e conexos dos profissionais serão devidos em decorrência de cada exibição da obra 49

É de se entender, sob pena de inviabilidade total dos negócios jurídicos referentes à produção dos artistas tutelados pela Lei 6.533/78, que tal proibição se refere à cessão-alienação de todos os direitos conexos, e dos direitos autorais incidentes ao direitos conexos 50, se a abrangência for da transmissão de todos tais direitos presentes e futuros. Clara a impossibilidade constitucional de cessão definitiva e total da própria capacidade de trabalho, sob pena de escravidão; e a lei assim expressa ao mesmo teor que o art. L.131-1 do CPI Francês..

Mas não se entenda que a cessão das interpretações presentes não seja possível; impossível é a cessão por preço único, forfaitaire, no caso de obras conexas (e autorais a ele incidentes) – outra vez, à luz do CPI francês, Art. L.131-4. Assim, a cada vez que se executar o fonograma ou videograma, caberá algum proveito econômico ao intérprete.

49 Vide também a LEI N° 6.615, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1978, que “Dispõe sobre a regulamentação da profissão de Radialista e dá outras providências”: Art. 17 - Não será permitida a cessão ou promessa de cessão de direitos de autor e dos que lhe são conexos, de que trata a Lei n° 5.988, de 14 de dezembro de 1973, decorrentes da prestação de serviços profissionais. Parágrafo único - Os direitos autorais e conexos dos profissionais serão devidos em decorrência de cada exibição da obra. Do mesmo modo, o DECRETO N° 82.385, DE 5 DE OUTUBRO DE 1978, que “Regulamenta a Lei n.º 6.533, de 24 de maio de 1978, que dispõe sobre as profissões de artistas e do técnico em Espetáculos de Diversões e dá outras providências, em seu Art. 33º, (Não será permitida a cessão ou promessa de cessão de direitos autorais e conexos decorrentes da prestação de serviços profissionais. Art. 34º Os direitos autorais e conexos dos profissionais serão devidos em decorrência de cada exibição da obra. Parágrafo único - A exibição de obra ou espetáculo depende da autorização do titular dos direitos autorais e conexos. Art. 35º. Nos ajustes relativos ao valor e a forma de pagamento dos direitos autorais e conexos, os artistas poderão ser representados pelas associações autorizadas a funcionar pelo Conselho Nacional de Direito Autoral. § 1. No caso de ajuste direto pelo Artista, sua validade dependerá de prévia homologação pelo Conselho Nacional de Direito Autoral § 2. Não será homologado pelo Conselho Nacional de Direito Autoral ajuste direto que importe em fixar valor de direitos autorais e conexos inferior ao estabelecido em ajuste feito, com o mesmo empregador, por meio da participação de associação mencionada no caput § 3. O Conselho Nacional de Direito Autoral não homologará qualquer ajuste direto que importe em fixar valor de direitos autorais e conexos inferior ao estabelecido em ajuste feito, com o mesmo empregador, através da participação das associações referidas no § 1) e o DECRETO N° 84.134, DE 30 DE OUTUBRO DE 1979, que “Regulamenta a Lei n.º 6.615, de 16 de dezembro de 1978”, que dispõe: Art. 19 - Não será permitida a cessão ou promessa de cessão dos direitos de autor e dos que lhe são conexos, de que trata a Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973, decorrentes da prestação de serviços profissionais.Parágrafo único. Os direitos autorais e conexos dos profissionais serão devidos em decorrência de cada exibição da obra

50 Por exemplo desse direitos autorais incidentes aos direitos conexos, o das improvisações e colaborações autorizadas na interpretação ou representação das obras em questão, feitas pelos artistas de espetáculos.

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Cessão-alienação. Como reconhecer?

A questão é tanto mais complexa quanto por vezes, e isto acontece com freqüência no exterior, a contraprestação da cessão é efetuada através de pagamentos periódicos, inclusive calculados em forma de percentuais sobre a produção, vendas ou lucro.

No direito tributário americano, o problema foi enfrentado, no que toca a licenças exclusivas; quanto às patentes, a fórmula do caso Leisure Dynamics, Inc., v. Comm. 8th. Cin. 1974) é que haverá transferência de propriedade se o cedente não reteve qualquer direito substancial à propriedade. Quanto às marcas, nomes comerciais e franquias, a fórmula, que é a do Regulamento do Imposto sobre a Renda (§ 1.253 (a)): haverá transferência caso o cedente tenha repassado todo “significant power, right or continuing interest with respect to the subjec matter of the franchise, trademark or trade name”.

Quanto às patentes, o RIR americano (§ 1.1235-2 (b)) manda levar em conta antes as circunstâncias do negócio jurídico do que a terminologia empregada. Assim, considera-se que os pagamentos relativos à cessão (ou licença exclusiva) não são dedutíveis, devendo ser ativados: a) quando há reserva de domínio, mas foram transferidos todos os direitos exclusivos, de forma a que o cedente ou licenciado já se tenham privado da faculdade de usar o privilégio; b) quando o cedente tenha reservado para si direitos que não sejam incompatíveis com a passagem do título, por exemplo, direito à rescisão do contrato, em caso de falta de pagamento ou falência.

Já para o caso de cessões parciais de patente, há, no direito americano, tendência de considerarem as respectivas contraprestações como dedutíveis.

No que se refere às marcas, nomes comerciais e franquias, o Fisco americano considera que não houve transferência de propriedade e, conseqüentemente, os respectivos pagamentos são dedutíveis se o cedente pode: a) impedir o repasse a terceiros; b) denunciar a transferência por ato voluntário puro; c) estabelecer padrões de qualidade; d) restringir a comercialização dos produtos do cessionário; ou e) obter pagamentos calculados sobre produtividade, etc. quando tais contraprestações são um elemento substancial do negócio jurídico.

Parecer – Cessão e Edição Promoção PG/CES/03/99-DBB Em 21 de janeiro de 1999

DIREITO ADMINISTRATIVO. PRECEITO DO ART.111 DA LEI 8.666/93. OBRA DISTINTA DE PROJETOS E SERVIÇOS TÉCNICOS. DISTINÇÃO ENTRE CESSÃO DE DIREITOS E CONTRATO DE EDIÇÃO.

Senhor Procurador Geral,

Trazem-nos à consideração proposta de leilão para a publicação de obras escolhidas através de concurso literário, com previsão de reversão para o Município dos direitos autorais das obras premiadas, invocando-se para tanto o disposto no art.111 da Lei 8.666/93. A questão vertente é do pleito subsequente, no qual o Município, atendendo ao edital do concurso, visa realizar a publicação, escolhendo no setor privado a casa publicadora interessada.

O art. 111 da Lei 8.666/93

Algumas ponderações preliminares precisam ser feitas. O art. 111 da Lei Federal de Licitações, cujo precedente no Decreto Lei 2.300/86 este parecerista teve a oportunidade de redigir, se volta à obtenção dos direitos imateriais necessários à plena satisfação das necessidades públicas pertinentes.

Diz o dispositivo em questão:

ART.111 A Administração só poderá contratar, pagar, premiar ou receber projeto ou serviço técnico especializado desde que o autor ceda os direitos patrimoniais a ele relativos e a

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Administração possa utilizá-lo de acordo com o previsto no regulamento de concurso ou no ajuste para sua elaboração.

Parágrafo único. Quando o projeto referir-se a obra imaterial de caráter tecnológico, insuscetível de privilégio, a cessão dos direitos incluirá o fornecimento de todos os dados, documentos e elementos de informação pertinentes à tecnologia de concepção, desenvolvimento, fixação em suporte físico de qualquer natureza e aplicação da obra.

Qual o alcance de tal norma? Não obstante sua aparente veemência, e a natureza pública de tal imposição, não menos relevante são os princípios do Direito Autoral, sob a tutela constitucional da proteção aos direitos de tal natureza 51. E, destes princípios, importantíssimo é o da proteção ao autor, com o cunho de direito público, pela interpretação restritiva dos negócios jurídicos que se refiram aos direitos autorais 52.

Assim, o caráter restritivo (contra os autores) de tal dispositivo deve ser submetido a uma interpretação por sua vez restritiva, da qual ressalta aplicação do princípio da necessidade da Administração. Ou seja, a eficácia da expressão "desde que o autor ceda os direitos patrimoniais a ele relativos" fica condicionada à cláusula "[desde que] a Administração possa utilizá-lo de acordo com o previsto no regulamento de concurso ou no ajuste para sua elaboração" 53.

A "cessão" a que se refere a Lei 8.666/93 é condicionada à necessidade pública a ser atendida. Se o propósito da Administração pode ser atendido (inclusive sob o ângulo da economicidade) com uma aquisição de direito diversa da completa transferência dos direitos patrimoniais, não há nenhuma razão para se entender que o comando legal deva ser tomado à risca.

Aliás, como já dissemos no Parecer GP/SAE/4/93-DBB, citando Vieira Manso 54:

"Sem atentar para a ambigüidade da palavra "cessão", os legisladores passaram a se valer dela sem nenhum critério científico, empregando-a ora no sentido de mero cumprimento da obrigação de transferir, mesmo temporariamente, direitos autorais, ora no sentido de sua alienação definitiva, total ou parcial".

Disse eu na oportunidade:

Assim é que à falta do hábito - no âmbito autoral brasileiro - do uso da expressão "licença", a falta de critério científico leva ao emprego da palavra "cessão" para descrever tanto a transferência de direitos (e.g., venda) quanto autorizações para o exercício de direitos (e.g. locação).

Assim, não se deve entender que a obrigação de "ceder" prevista no Art. 111 da lei 8.666/93 como a de alienar definitiva e totalmente os direitos patrimoniais de fundo autoral.

Ao contrário, sob o critério iluminador da necessidade pública, e condicionado ao princípio de previsão no edital ou no instrumento do negócio jurídico, a cessão a que se refere a lei em análise pode ser alienação de direitos patrimoniais, ou autorização para exploração de tais direitos, sem alienação; em qualquer de tais alternativas, pode ser total, ou parcial, seja quanto à área geográfica, seja quanto à extensão ou a modalidade dos direitos 'cedidos".

51 Art. 5o - XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;52 Lei 5.988/73, art. 3º Lei 9.610/98, art 4º Interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre direitos autorais.53 Veja-se a título de ilustração, a norma da vigente Lei 9.610/98: Art. 49. Os direitos de autor poderão ser, total ou parcialmente transferidos a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a título universal ou singular, pessoalmente ou por meio de representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão ou por outros meios admitidos em Direito, obedecidas as seguintes limitações: (...)VI - não havendo especificações quanto à modalidade de utilização, o contrato será interpretado restritivamente, entendendo-se como limitada apenas a uma que seja aquela indispensável ao cumprimento da finalidade do contrato.54 Contratos em Direito Autoral, p. 23.

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O art. 111 não se aplica a obras literárias

Note-se, ainda, que o art. 111, a rigor, não se refere a todos os tipos de direito autoral; pelo contrário, ele menciona especificamente: "a Administração só poderá contratar, pagar, premiar ou receber projeto ou serviço técnico especializado". Conspicuamente ausentes na relação legal estão as obras autorais diversas do projeto ou serviço técnico: por exemplo, os livros em geral, e especialmente os livros infantis.

Assim, não será por força do art.111, mas das regras gerais que presumem o atendimento à necessidades públicas através de negócios jurídicos adequados, que se vai analisar a situação em tela.

Além disso, ainda que não literalmente aplicável ao caso vertente, a referência que se fez às regras do artigo 111 no edital e nas regras do concurso constrói, por força de implicação, o dispositivo como norma regente, ainda que por extensão do instrumento licitatório. Mas perceba-se que, neste caso, a disposição não se aplica com a imperatividade própria das normas legais, e sim, apenas, com a normatividade específica e mitigada das normas editalícias.

Análise do regulamento e do Edital

Temos, assim, que perquerir a finalidade da Administração tal como expressa no Edital, lembrando sempre que a interpretação deve ser a mais favorável ao autor, ainda que moderada pelo imperativo de satisfação da necessidade pública.

Segundo o Regulamento do Prêmio, "os direitos autorais sobre as obras premiadas pertencerão integralmente ao Município do Rio de janeiro, na forma do art. 111 da lei 8.666/93"

Ainda diz o Regulamento que o propósito público a ser atendido pelo pleito é "lançar uma linha editorial que estimule a produção de textos na área de Literatura Infantil, focalizando a Cidade do Rio de Janeiro como personagem ou cenário dessas criações". Como remuneração aos autores, se garantirá o prêmio, e mais dez por cento dos exemplares de cada edição.

Vale indicar qual o prêmio em questão. São três mil reais para o primeiro lugar, e dois para o segundo lugar.

Note-se, assim, que o propósito do Município não é apropriar-se das obras em questão, para revenda ou exploração própria; nem tomar a si obras, por exemplo, para utilização no seu sistema educativo. O propósito, estritamente de promoção cultural, se esgota na edição da obra.

De outro lado, a concessão de dez por cento do valor da edição, em espécie ou em livros, é o usual no mercado para remuneração de um novo autor; e o prêmio concedido dificilmente seria compatível com a aquisição da totalidade dos direitos autorais.

Da Edição

Tais índices levam-me a concluir que temos, na espécie, simples obtenção pelo Município dos direitos de edição da obra, o que era sujeito, à época em que foi realizado o pleito concursivo, entre outros aos seguintes dispositivos da Lei 5.988/73, então vigente:

Art. 57º - Mediante contrato de edição, o editor, obrigando-se a reproduzir mecanicamente e a divulgar a obra literária, artística, ou científica, que o autor lhe confia, adquire o direito exclusivo a publicá-la, e explorá-la.

(...)

Art. 59º - Entende-se que o contrato versa apenas sobre uma edição, se não houver cláusula expressa em contrário.

(...)

Art. 61º - No silêncio do contrato, considera-se que cada edição se constitui de dois mil exemplares.

(...)

Art. 63º - Ao editor compete fixar o preço de venda, sem, todavia, poder elevá-lo a ponto que embarace a circulação da obra.

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(...)

Art. 67º - O editor não pode fazer abreviações, adições ou modificações na obra sem permissão do autor.

Art. 68º - Resolve-se o contrato de edição, se, a partir do momento em que foi celebrado, decorrerem três anos sem que o editor publique a obra.

Art. 69º - Enquanto não se esgotarem as edições a que tiver direito o editor, não poderá o autor dispor de sua obra.

Parágrafo único. Na vigência do contrato de edição, assiste ao editor o direito de exigir que se retire de circulação edição da mesma obra feita por outrem.

Em especial, há que se levar em conta a data limite da aquisição dos direitos de exploração, por edição, da obra, segundo o art. 68 da revogada Lei 5.988/73.

Note-se que também não estariam cumpridos os requisitos substanciais e formas do art. 53 da lei então vigente, para concretizar uma cessão stricto sensu:

Art. 53º - A cessão total ou parcial dos direitos do autor, que se fará sempre por escrito, presume-se onerosa.

§ 1° - Para valer perante terceiros, deverá a cessão ser averbada à margem do registro a que se refere o artigo 17.

§ 2° - Constarão do instrumento do negócio jurídico especificadamente, quais os direitos objeto de cessão, as condições de seu exercício quanto ao tempo e ao lugar, e, se for a título oneroso, quanto ao preço ou retribuição.

(...)

Do contrato de Cessão.

Passo agora a apreciar o Contrato de Cessão de Direitos. Sem dúvida, ocorre na hipótese cessão, e de direitos patrimoniais; mas são direitos de exploração da obra, especificamente, direitos contratuais relativos à edição em questão. Não se trata da cessão autoral anteriormente prevista no art. 53 da Lei 5.988/73 e agora no art. 49 e seguintes da Lei. 9.610/98, mas a simples cessão civil de posição contratual.

É de se postular, assim, a conformação do texto do contrato à sua real natureza jurídica, eis que não cabe ao Município transferir mais direitos o que, na realidade, adquiriu por via concursiva.

Conclusões

Assim é que entendo o seguinte:

1. não se deve entender que a obrigação de "ceder" prevista no Art. 111 da lei 8.666/93 como a de alienar definitiva e totalmente os direitos patrimoniais de fundo autoral.;

2. A "cessão" a que se refere a Lei 8.666/93 é condicionada à necessidade pública a ser atendida;

3. o art. 111 da Lei 8.666/93 não se aplica a todos os tipos de direito intelectuais, mas especificamente aos projetos e serviços técnicos;

4. sua aplicação por via editalícia a outros tipos de obras está sujeita às regras próprias, de direito público e de fundo constitucional, que submetem os negócios jurídicos de fundo autoral à interpretação restritiva;

5. a análise do edital e do regulamento levam a concluir que temos no caso, não a cessão autoral, mas a aquisição dos direitos relativos à edição da obra;

Propõem-se alterações à minutas do edital e do modelo do contrato;

São essas minhas sugestões, salvo o entendimento dos mais doutos.

Denis Borges Barbosa

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Procurador do Município

O Direito autoral e a empresa

Alinhados os conceitos jurídicos, como aplica-los, sem prejuízo e sem insegurança para os interessados, no âmbito de uma empresa moderna, onde diariamente são produzidos dezenas de documentos por escrito, designados empregados para proferirem conferencias, internamente e em eventos externos, projetados equipamentos e maquinas, contratados projetos de engenharia, de arquitetura? Mais, como aplicar tais conceitos quando se tem equipes trabalhando em conjunto, de forma a ser impossível determinar quem realmente criou ou desenvolveu a idéia, ou quem redigiu ou desenhou?

Analisemos as diversas hipóteses, em separado

Escritos, conferencias e palestras

Apesar de, em principio, qualquer escrito poder ser considerado como protegido pelo Direito de Autor, não nos parece que devam ser objeto de maior preocupação simples comunicações internas, memorandos e similares, pois que dificilmente seriam objeto de problemas jurídicos quanto a sua propriedade intelectual.

Já os manuais de instruções a usuários, estudos e pareceres dão freqüentemente causa a problemas jurídicos de importância. As conferencias e palestras também estão protegidas, até mesmo quando não registradas por escrito ou por outro meio de fixação.

Desenhos e projetos de engenharia e arquitetura

A pratica comum e excluir da proteção desenhos 55 meramente técnicos, que não tenham valor artístico; sendo porem o reconhecimento do valor artístico inteiramente subjetivo, o critério e de difícil aplicação, alem de não encontrar total respaldo numa interpretação sistemática da lei.

Quanto aos projetos de engenharia e arquitetura, e preciso distingui-los dos desenhos que os representam. A proteção não incide sobre a representação, nem sobre a execução propriamente dita, mas sobre o aspecto imaterial, a concepção em si - ainda que não sobre a idéia.

Anote-se que, com relação aos projetos de arquitetura - em seu sentido lato -, há um abrandamento dos direitos morais, como se depreende do:

" Art. 26 O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico alterado sem o seu consentimento durante a execução ou após a conclusão da construção. Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que causar ao autor sempre que, após o repúdio, der como sendo daquele a autoria do projeto repudiado.

".

55 Como já vimos. o Lei 9.610/98, Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: (...) IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;".

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As obras de pessoas naturais

Quando a obra for realizada por uma única pessoa, seja ela empregada ou prestadora de serviços, sugere-se que antes de lhe ser atribuída tarefa que leve a obra protegivel pelo Direito Autoral, que firme documento cedendo seus direitos ao empregador ou tomador dos serviços. Na hipótese de tais tarefas de empregado serem habituais ou de contrato de prestação de serviços para a realização da obra, poderá constar do próprio contrato de trabalho ou de prestação de serviços essa estipulação.

Ademais, para evitar cavilações , seria de todo conveniente que já constassem, quando possível, do documento inicial, o titulo e uma descrição que permitisse identificar a obra, ou, sendo isso impossível, fosse formado documento posterior a realização da obra, confirmando a cessão, com todos os dados identificatórios.

Quanto aos direitos morais, é preciso que, na utilização da obra, seja indicado o nome do empregado como autor 56 sendo também recomendável que ele autorize, antecipadamente, a introdução de modificações de interesse do empregador. Alias, devido ao problema dos direitos morais, e de bom alvitre evitar-se que apenas um empregado ou prestador de serviço realize obra protegivel. De toda forma, seria sobremaneira prudente que fosse estudada a possibilidade de instituição de uma política de compensação, a exemplo da política de premiação por inventos freqüentemente criada pelo empregador

As obras de contratados, pessoas jurídicas

Complica-se um pouco mais a situação jurídica neste caso, pois ha uma intermediação entre o empregador e o criador pessoa natural, que e a pessoa jurídica contratante ou empregadora do criador (ou sem contrato de serviços).

Em situações como esta, é razoável obrigar contratualmente a pessoa jurídica a ter, com seus empregados e prestadores de serviços, os mesmos cuidados acima recomendados, devendo-se incluir estipulações para que a titularidade dos direitos autorais sobre a obra seja do empregador.

Jurisprudência: a obra como elemento da concorrência UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA – DIVERGÊNCIA ENTRE TERCEIRA E QUARTA TURMAS – DIREITO AUTORAL – SONORIZAÇÃO AMBIENTE – I – Suscitada a uniformização da jurisprudência de que trata o art. 476, parágrafo único do CPC e a divergência manifestada entre turmas julgadoras, hão de ser as teses colidentes submetidas ao julgamento da Segunda Seção (Direito Privado). II – As teses jurídicas ditas divergentes consistem em que a Terceira Turma afirma que "a simples música ambiente, apresentada pela sintonização de emissoras de rádio, não se constitui em execução que enseja o pagamento de direitos autorais, tanto mais porque a cobrança nesses casos seria bis in eadem, já pagos os direitos pelas emissoras", enquanto Quarta Turma é pela cobrança de tais direitos tão-só quando instalada a sonorização ambiental com o objetivo de captar e reter a clientela para desta auferir o chamado lucro indireto. III – Uniformização acolhida. (STJ – REsp. 2.833 – RJ – 3ª T. – Rel. Min. Waldemar Zveiter – DJU 09.10.90).

Súmula STJ 63 - São devidos direitos autorais pela retransmissão radiofônica de música em estabelecimentos comerciais.

56 Salvo se ela preferir o anonimato (o que devera se fazer por escrito).

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Uso do Direito autoral contra a concorrência

Ao tentar usar pretensos direitos autorais, e com isto excluir a concorrentes do mercado para o qual estão habilitadas, pode-se incidir nas sanções da Lei 8.884/94, no que diz:

As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem a hipótese prevista no art. 20 e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica:

(…)

V - Criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvimento de empresa concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços;

XVI - açambarcar ou impedir a exploração de direitos da propriedade industrial ou intelectual ou de tecnologia.

E diz o art. 20 da mesma lei, no relevante:Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:

I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; (…)

Como nota Fábio Ulhoa Coelho:Prejudicar a livre concorrência ou iniciativa, significa, ainda, incorrer em qualquer prática empresarial lesiva às estruturas do mercado, mesmo que não limitativas ou falseadoras dessas estruturas 57.

Além desta infração administrativa, cujo conhecimento poderá chegará à Secretaria de Direito Econômico em procedimento próprio, seguramente a intenção específica falso titular dos direitos autorais, ao tomar medidas para tolher e dificultar a concorrência, colide contra os dispositivos penais da Lei 8.137/90, especialmente contra o seu art. 4o, I, f):

Constitui crime contra a ordem econômica:

I - abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando total ou parcialmente a concorrência, através de:

f) impedimento à constituição, funcionamento ou desenvolvimento de empresa concorrente.

Violação dos direitos autorais

O infrator está sujeito a sanções civis e penais. Nesse particular, é de interesse o disposto no Título VII da Lei nº 9610/96, em especial:

57 Direito Antitruste Brasileiro, Saraiva, 1995, p. 57. Popp e Abdala, Comentários à nova Lei Antitruste, Juruá, 1994.

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“Art. 105. A transmissão e a retransmissão, por qualquer meio ou processo, e a comunicação ao público de obras artísticas, literárias e científicas, de interpretações e de fonogramas, realizadas mediante violação aos direitos de seus titulares, deverão ser imediatamente suspensas ou interrompidas pela autoridade judicial competente, sem prejuízo da multa diária pelo descumprimento e das demais indenizações cabíveis, independentemente das sanções penais aplicáveis; caso se comprove que o infrator é reincidente na violação aos direitos dos titulares de direitos de autor e conexos, o valor da multa poderá ser aumentado até o dobro.

Art. 106. A sentença condenatória poderá determinar a destruição de todos os exemplares ilícitos, bem como as matrizes, moldes, negativos e demais elementos utilizados para praticar o ilícito civil, assim como a perda de máquinas, equipamentos e insumos destinados a tal fim ou, servindo eles unicamente para o fim ilícito, sua destruição.

Art. 108. Quem, na utilização, por qualquer modalidade, de obra intelectual, deixar de indicar ou de anunciar, como tal, o nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor e do intérprete, além de responder por danos morais, está obrigado a divulgar-lhes a identidade da seguinte forma:

I - tratando-se de empresa de radiodifusão, no mesmo horário em que tiver ocorrido a infração, por três dias consecutivos;

II - tratando-se de publicação gráfica ou fonográfica, mediante inclusão de errata nos exemplares ainda não distribuídos, sem prejuízo de comunicação, com destaque, por três vezes consecutivas em jornal de grande circulação, dos domicílios do autor, do intérprete e do editor ou produtor;

III - tratando-se de outra forma de utilização, por intermédio da imprensa, na forma a que se refere o inciso anterior.

Art. 109. A execução pública feita em desacordo com os arts. 68, 97, 98 e 99 desta Lei sujeitará os responsáveis a multa de vinte vezes o valor que deveria ser originariamente pago.”

Em última análise, provada a infração do direito, o infrator se sujeitará não apenas às sanções acima descritas, mas também a ser condenado a uma pena de prisão, de um a quatro anos, e, cumulativamente, ser condenado ao pagamento de perdas e danos e lucros cessantes.

Código Penal - Art. 184 - Violar direito autoral: (Redação dada pela Lei nº 6.895, de 17.12.1980)

§ 1º - Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, com intuito de lucro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem a autorização expressa do autor ou de quem o represente, ou consistir na reprodução de fonograma ou videofonograma, sem autorização do produtor ou de quem o represente: (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 6.895, de 17.12.1980 e alterado pela Lei nº 8.635, de 16.3.1993)

§ 2º - Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, com intuito de lucro, original ou cópia de obra intelectual, fonograma ou videofonograma, produzidos ou reproduzidos com violação de direito autoral. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 6.895, de 17.12.1980 e alterado pela Lei nº 8.635, de 16.3.1993)

Proteção Física anti-cópia e Direitos Autorais LDA Art. 107. Independentemente da perda dos equipamentos utilizados, responderá por perdas e danos, nunca inferiores ao valor que resultaria da aplicação do disposto no art. 103 e seu parágrafo único, quem:

 I - alterar, suprimir, modificar ou inutilizar, de qualquer maneira, dispositivos técnicos introduzidos nos exemplares das obras e produções protegidas para evitar ou restringir sua cópia;

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 II - alterar, suprimir ou inutilizar, de qualquer maneira, os sinais codificados destinados a restringir a comunicação ao público de obras, produções ou emissões protegidas ou a evitar a sua cópia;

 III - suprimir ou alterar, sem autorização, qualquer informação sobre a gestão de direitos;

 IV - distribuir, importar para distribuição, emitir, comunicar ou puser à disposição do público, sem autorização, obras, interpretações ou execuções, exemplares de interpretações fixadas em fonogramas e emissões, sabendo que a informação sobre a gestão de direitos, sinais codificados e dispositivos técnicos foram suprimidos ou alterados sem autorização.

Jurisprudência: Ação Penal Pública Incondicionada Superior Tribunal de Justiça - Recurso especial 0019866/92-RS J.04.05.1992 5a. turma DJ:18.05.1992 pg.06988 RSTJ vol.:00046 pg:00260 Relator: ministro Jesus Costa Lima - Ementa: penal e processual penal. Violação a direito autoral. Reproduções artísticas para fins comerciais sem autorização do autor. Ação penal publica incondicionada. Apressado trancamento do inquérito policial. I- indevido o trancamento do inquérito policial, que visava apurar infração penal, em tese, praticada contra a propriedade imaterial, a pretexto de que as investigações deveriam ser precedidas do exame pericial previsto no art. 527, do CPP. II- a violação de direito autoral mediante a reprodução por qualquer meio, com finalidade comercial, sem expressa autorização do autor, enseja a propositura de ação penal publica incondicionada (CP, art. 186 in fine).III- recurso especial conhecido pela letra a do permissivo constitucional. Decisão: por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento para cassar o v. Acórdão recorrido. Veja: RESP 415-sp (STJ).

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Vade-mecum da comunicação / [organizado por] Reinaldo Santos. - 4a ed. - Rio de Janeiro : Ed. Trabalhista, 1981.

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Manual de direito autoral : fundamentos do direito autoral / Centro Brasileiro de Informações sobre Direitos Autorais. - Brasília : O Centro, 1989.

Pierre Monnet, Protection internationale des oeuvres litteraires : repertoire pratique / Paris [Franca] : Cercle de la librairie, 1929.

Arpad Bogsch, El derecho de autor segun la convencion universal, tomo 1 : analisis y comentario de la convencion / Buenos Aires [Argentina] : Ministério de Justicia de la Republica Argentina, 1975.

Tarcisio Queiroz Cerqueira, Software : direito autoral e contratos / Rio de Janeiro : Fotomatica : Polar, 1993.

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Direito de Imagem

LegislaçãoConstituição

Art. 5º, inciso X - que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação".

LDA Art. 90. Tem o artista intérprete ou executante o direito exclusivo de, a título oneroso ou gratuito, autorizar ou proibir:

§ 2º A proteção aos artistas intérpretes ou executantes estende-se à reprodução da voz e imagem, quando associadas às suas atuações.

Doutrina "Os tribunais do país, já há algum tempo, vêm decidindo que a esfera de privacidade de uma pessoa de renome, com vida pública ou destaque social, é reduzida, em razão mesmo do interesse que sua intimidade desperta. Por outro lado, alguns aspectos da vida particular de uma pessoa pública são de interesse social, pois, se comandam a Nação, por exemplo, obrigatoriamente devem ter uma conduta privada condizente. Nesse aspecto, o entendimento dos tribunais é no sentido de que as pessoas que participam de eventos públicos (festas, desfile de Carnaval etc.) renunciam à sua privacidade, não havendo que se falar em violação do direito à imagem. Isso porque a tutela constitucional relativa ao direito à imagem tem relação direta com o direito à intimidade.

O veículo de comunicação, portanto, que retratar uma pessoa em sua casa, sem o seu consentimento, poderá estar invadindo sua intimidade, prejudicando-lhe. Mas, se o sujeito estiver em local público, não há qualquer objeção. Impedir que a imprensa publique a fotografia de uma pessoa - qualquer pessoa, e não necessariamente notória - em razão de um interesse público ou cultural, é negar o próprio direito à comunicação e o exercício regular do direito de informar[1]. [1] Taís Gasparian, São Paulo, Brasil, maio, 2000. - http://www.direitoautoral.com.br - 

Direito de Imagem

  Jurisprudência: Direito de Imagem > Supremo Tribunal Federal

Dano Moral e Direito à Imagem (Transcrições) RE 215.984-RJ (v. Informativo 271). RELATOR : MIN. CARLOS VELLOSO.

Voto: Destaco do parecer da Procuradoria-Geral da República, às fls. 211/216, lavrado pela ilustre Subprocuradora-Geral, Dra. Helenita Caiado de Acioli:“(...)

3. No caso, parecem pertinentes as razões da irresignação.

4. A Constituição Federal assegura no art. 5º, inciso X, a inviolabilidade da imagem das pessoas e a indenização pelos danos materiais e morais decorrentes de sua violação.

5. Não se trata, evidentemente, de discutir aqui a cumulatividade do dano material com o dano moral, questão superada com o atual texto constitucional, nem de reexame de fatos ou provas, mas sim, definir o sentido e o alcance da norma maior, garantidora do direito de imagem e de reparação no caso de sua violação, uma vez que o acórdão recorrido entendeu que a publicação de fotografias da recorrente, por não ofender a sua reputação, não gerava reparação por danos morais.

6. Data maxima venia, a reparação do dano moral não exige necessariamente a ofensa à reputação daquele que tem sua foto publicada sem o seu consentimento.

7. O eminente Ministro Rafael Mayer ao relatar o RE 95.872, mesmo antes da nova Constituição, já afirmava:

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‘O dever de indenizar decorre da simples utilização de um direito personalíssimo, o da imagem’ (in Jurisprudência Brasileira, vol. 95, p. 95)’

8. Na hipótese sub judice a recorrente, artista consagrada, teve sua fotografia publicada sem o seu expresso consentimento ou contratação, em violação à norma constitucional, que protege e garante o direito à própria imagem (CF/88, art. 5º, X). Sem dúvida, a imagem da atriz é um produto que lhe pertence e foi obtido ao longo de sua carreira, compõe seu patrimônio econômico e, não poderá ser utilizado sem a sua anuência, ou contrato, principalmente em revistas, com evidente cunho publicitário. Daí o constrangimento e o sentimento de revolta e indignação da recorrente a caracterizar o dano moral.

9. O dano moral envolve conceito inerente ao sentimento, sendo desnecessário que ofenda a reputação, como equivocadamente entendeu o v. acórdão recorrido. Existe, sim, uma agressão moral, se considerada a imagem como um dos direitos da personalidade, a ser compensada satisfatoriamente.

10. À propósito do tema, vale destacar o lúcido voto proferido no REsp nº 270.730, pela eminente Ministra NANCY ANDRIGHI do Superior Tribunal de Justiça, ao asseverar, in verbis:

‘A amplitude de que se utilizou o legislador no art. 5º, inc. X da CF/88 deixou claro que a expressão ‘moral’, que qualifica o substantivo dano, não se restringe àquilo que é digno ou virtuoso de acordo com as regras da consciência social. É possível a concretização do dano moral, posto que a honra subjetiva tem termômetro próprio inerente a cada indivíduo. É o decoro, é o sentimento de auto-estima, de avaliação própria que possuem valoração individual, não se podendo negar esta dor de acordo com sentimentos alheios. A alma de cada um tem suas fragilidades próprias. Por isso, a sábia doutrina concebeu uma divisão no conceito de honorabilidade: honra objetiva, a opinião social, moral, profissional, religiosa que os outros têm sobre aquele indivíduo, e, honra subjetiva, a opinião que o indivíduo tem de si próprio. Uma vez vulnerado, por ato ilícito alheio, o limite valoração que exigimos de nós mesmos, surge o dever de compensar o sofrimento psíquico que o fato nos causar. É a norma jurídica incidindo sobre o acontecimento íntimo que se concretiza no mais recôndito da alma humana, mas o que o direito moderno sente orgulho de abarcar, pois somente uma compreensão madura pode ter direito reparável, com tamanha abstratividade.’

11. Por oportuno, registre-se que o mencionado acórdão restou assim ementado:

‘Recurso Especial. Direito Processual Civil e Direito Civil. Publicação não autorizada de foto integrante de ensaio fotográfico contratado com revista especializada. Dano moral. Configuração.

- É possível a concretização do dano moral independentemente da conotação média de moral, posto que a honra subjetiva tem termômetro próprio inerente a cada indivíduo. É o decoro, é o sentimento de auto-estima, de avaliação própria que possuem valoração individual, não se podendo negar esta dor de acordo com sentimentos alheios.

- Tem o condão de violar o decoro, a exibição de imagem nua em publicação diversa daquela com quem se contratou, acarretando alcance também diverso, quando a vontade da pessoa que teve sua imagem exposta era a de exibí-la em ensaio fotográfico publicado em revista especializada, destinada a público seleto.

- A publicação desautorizada de imagem exclusivamente destinada a certa revista, em veículo diverso do pretendido, atinge a honorabilidade da pessoa exposta, na medida em que experimenta o vexame de descumprir contrato em que se obrigou à exclusividade das fotos.

- A publicação de imagem sem a exclusividade necessária ou em produto jornalístico que não é próprio para o contexto, acarreta a depreciação da imagem e, em razão de tal depreciação, a proprietária da imagem experimenta dor e sofrimento.’

(REsp nº 270.730-RJ, Rel. emin. Ministra NANCY ANDRIGHI, in DJ de 07.5.01)

12. Destarte, sobressai na exegese do art. 5º, inciso X da Constituição de 1988, que o uso de fotografia sem autorização, no caso em apreço, gera não só o dever de reparar por danos materiais, como o de compensar por danos morais, considerando que são cumuláveis as duas indenizações, por violação ao direito de imagem, independentemente de ser afetada ou não a reputação da vítima. (...)”. (fls. 212/216)

Correto o parecer.

O acórdão recorrido entendeu indevida a reparação por dano moral ao fundamento de que a recorrente não teria sofrido “nenhum abalo em sua reputação ou constrangimento moral pelo uso indevido das fotografias” (fl. 153).

Todavia, a Constituição é expressa: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” (C.F., art. 5º, X). É dizer, a Constituição não exige a ocorrência de ofensa à reputação na reparação do dano moral. Na verdade, o Tribunal a quo emprestou ao dano moral caráter restritivo, o que não se coaduna com a forma como a Constituição o trata, no inc. X do art. 5º. O que precisa ser dito é que, de regra, a publicação da fotografia de alguém, com intuito comercial ou não, causa desconforto, aborrecimento ou constrangimento ao fotografado, não importando o tamanho desse desconforto, desse aborrecimento ou desse constrangimento. Desde que ele exista, há o dano moral, que deve ser reparado, manda a Constituição (art. 5º, X).

Anteriormente à Constituição de 1988, informa Humberto Theodoro Júnior, “mesmo quando se admitia a reparação do dano moral, a jurisprudência predominante negava sua cumulatividade com o dano material, ao pretexto de que havendo o ressarcimento de todos os efeitos patrimoniais nocivos do ato ilícito já estaria a vítima suficientemente reparada. ” Hoje, porém, acrescenta o mesmo autor, “em caráter muito mais amplo, está solidamente assentado, na doutrina e na jurisprudência, não só a plena reparabilidade do dano moral como sua perfeita cumulatividade com a indenização da lesão patrimonial. O estágio em que a orientação pretoriana repelia a cumulação, sob o pretexto de que a indenização do dano material excluiria a da lesão moral em face de um só evento ilícito, pode-se dizer que foi superada” (Humberto Theodoro Júnior, “O Dano Moral e sua Reparação”, Rev. Forense, 351/83).

No que toca à publicação de fotografias, sem o consentimento do fotografado, doutrina e jurisprudência são no sentido da ocorrência de dano moral que deve ser reparado. Leciona Yussef Said Cahali que, “em linha de princípio, a utilização de imagem

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constitui direito exclusivo e personalíssimo, inerente à reserva de governo sobre a própria pessoa, quer para dispor, como para impedir a liberação a terceiros, mediante paga ou não; a violação desse direito dá ensejo à correspondente indenização, seja perpetrada com intuito de propaganda lucrativa, seja para difamar”. E acrescenta: “sob tal aspecto, é válido dizer-se, com De-mongue, que ‘le fait d’exposer le portrait d’une personne contre sa volonté peut donner lieu à indemnité’.” E vai o ilustre autor ao caso específico: “Do mesmo modo, afirma-se, em reiterada jurisprudência, ser indenizável o dano causado pela reprodução não consentida da imagem da pessoa em material publicitário ou de natureza promocional de atividade especulativa” (Yussef Said Cahali, “Dano Moral”, Ed. Rev. dos Tribs., 2a. ed., 1998, págs. 549 e 551).

No RE 192.593-SP, Relator o Ministro Ilmar Galvão, decidiu o Supremo Tribunal Federal:

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO CUMULADA COM O DANO MATERIAL. ARTIGO 5º, INCISOS V E X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

A nova Carta da República conferiu ao dano moral status constitucional ao assegurar, nos dispositivos sob referência, a sua indenização quando decorrente de agravo à honra e à imagem ou de violação à intimidade e à vida privada.

A indenização por dano moral é admitida de maneira acumulada com o dano material, uma vez que têm pressupostos próprios, passando pelo arbítrio judicial tanto na sua aferição quanto na sua quantificação.

De outra parte, se o acórdão recorrido teve por comprovada a lesão de ordem moral, que envolve conceito inerente ao sentimento, entendendo reclamar ela indenização cumulável com a decorrente de dano material, esse aspecto não cabe ser analisado na instância extraordinária, tendo em vista que seria necessário adentrar-se no exame de parâmetros da razoabilidade, por via da aferição de fato, insuscetível de ser feita na via do recurso extraordinário.

Recurso não conhecido.”

No julgamento do RE 172.720-RJ, Relator o Ministro Marco Aurélio, a 2ª Turma decidiu:

“INDENIZAÇÃO - DANO MORAL - EXTRAVIO DE MALA EM VIAGEM AÉREA - CONVENÇÃO DE VARSÓVIA - OBSERVAÇÃO MITIGADA - CONSTITUIÇÃO FEDERAL - SUPREMACIA.

O fato de a Convenção de Varsóvia revelar, como regra, a indenização tarifada por danos materiais não exclui a relativa aos danos morais. Configurados esses pelo sentimento de desconforto, de constrangimento, aborrecimento e humilhação decorrentes do extravio de mala, cumpre observar a Carta Política da República - incisos V e X do artigo 5º, no que se sobrepõe a tratados e convenções ratificados pelo Brasil.”

O RE, pois, é de ser conhecido e provido, a fim de que seja a recorrida condenada a reparar o dano moral, arbitrada a indenização no quantum fixado para a reparação do dano material, 21,51 salários mínimos, mais 10% (dez por cento) de honorários advocatícios.

Nestes termos, conheço do recurso e dou-lhe provimento.

> Tribunal de Justiça do RJ

DIREITO A IMAGEM. USO INDEVIDO. OBRA CINEMATOGRAFICA. LEI N. 5988, DE 1973. GARANTIA CONSTITUCIONAL - INDENIZAÇAO Embargos Infringentes. Direito à imagem. Obra cinematográfica e fitas de vídeo. Alegada reprodução sem autorização do titular. Indenização pleiteada por descendentes, com base na Lei 5.988, de 1973. Não faz jus à indenização por direito à imagem de características personalíssimas aquele que, em obra cinematográfica e video-tape, referente a atividade coletiva de natureza esportiva, não e' a figura diretamente focalizada, mas - apenas - aparece como decorrência da atividade abranger obrigatoriamente varias pessoas. Impossibilidade da indenização beneficiar descendentes do titular, pois o direito à imagem e' de características personalíssimas, não se estendendo a terceiros, ainda que filhos, não herdeiros, nem sucessores no ensejo Partes: PRODUCOES CARLOS NIEMEYER FILMES LTDA E OUTRAS v EDEMIR DOS SANTOS MARIO E OUTROS

Imagem empresarial – Existe? Código de Auto-Regulamentação do CONAR

"Art. 32. Tendo em vista a s modernas tendências mundiais e atendidas as normas pertinentes do Código de Propriedade Industrial, a publicidade comparativa será permitida, contanto que respeite os seguintes princípios e limites:

b) tenha por princípio básico a objetividade na comparação, posto que dados subjetivos, de fundo psicológico ou emocional não constituem uma base válida de comparação perante o consumidor;

c) a comparação alegada seja passível de comparação;

h) não se utilize injustificadamente a imagem corporativa ou o prestígio de terceiro;

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f) não caracterize concorrência desleal, denegrimento à imagem do produto ou à marca de outra empresa;"

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Anexo

Fontes Principais

•0Lei do Direito Autoral – Lei 9.610/98

•1Lei do Software – Lei 9.609/98

•2http://www.minc.gov.br/diraut/diraut.htm

•3- http://lcweb.loc.gov/copyright/treaty1.html - http://lcweb.loc.gov/copyright/treaty2.html

Outras Fontes

©   Constituição da República Federativa do Brasil

©       LEIS

•0Lei n° 6.533, de 24 de maio de 1978. Dispõe sobre a regulamentação das profissões de Artistas e de Técnicos em Espetáculos de Diversões, e dá outras providências.

•1Lei n° 6.615, de 16 de dezembro de 1978. Dispõe sobre a regulamentação da profissão de Radialista e dá outras providências.

•2Lei n° 8.635, de 16 de março de 1993. Dá nova redação ao art. 184 do Código Penal.

©       DECRETOS

•0Decreto n° 82.385, de 5 de outubro de 1978. Regulamenta a  Lei n° 6.533, de 24 de maio de 1978, que dispõe sobre as profissões de artistas e do técnico em Espetáculos de Diversões e dá outras providências.

•1Decreto n° 84.134, de 30 de outubro de 1979. Regulamenta a Lei n.º 6.615, de 16 de dezembro de 1978.

•2Decreto n° 2.556, de 20 de abril de 1998. Regulamenta o registro previsto no art. 3o. da Lei n° 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá outras providências.

•3Decreto n° 2.894, de 22 de dezembro de 1998. Regulamenta a emissão e o fornecimento de selo ou sinal de identificação dos fonogramas e das obras audiovisuais, previstos no art. 113 da Lei n.º 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais, e dá outras providências.

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©       CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

•0Convenção de Berna Relativa à Proteção das Obras Literárias e Artísticas. Revisão de Paris-1971.

•1Convenção Universal sobre Direito de Autor. Revisão de Paris - 1971.

•2Convenção Interamericana sobre os Direitos de Autor em Obras Literárias, Científicas e Artísticas. Firmada em Washington - 1946.

•3Convenção Internacional para a Proteção aos Artistas Intérpretes ou Executantes, aos Produtores de Fonogramas e aos Organismos de Radiodifusão. Firmada em Roma - 1961.

•4Convenção para a Proteção de Produtores de Fonogramas Contra a Reprodução não Autorizada de seus Fonogramas. Firmada em Genebra - 1971. Tratado sobre o Registro Internacional de Obras Audiovisuais. Firmado em Genebra - 1989.

Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio - TRIPs Firmado em Marraqueche - 1994.  

Entidades Envolvidas

•0Coordenação de Direito Autoral - CDA Esplanada dos Ministérios - Bloco B - 4o andar - Sala 41670068-900 - Brasília/DF - BrasilFone: (+5561) 316-2211 - Fax: (+5561) 316-2301E-mail: [email protected]  Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CONFEATelefone: (61) 348-3700Fax: (61) 348-3739 [email protected] 

•1www.confea.org.br

•2Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro21941-590 - Rio de Janeiro/RJTelefone: (21) 280-9590 Fax: (21) [email protected] 

•3www.eba.ufrj.br

•4

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•5Escola de Música da Universidade Federal do Rio de JaneiroTelefone: (21) 240-1491 - 544-1232 fax: (21) 532-4649E-mail: [email protected]  Home Page: Não consta

•6Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPITelefone: (21) 253-5791 - 253-5792 Fax: (21) [email protected] 

•7 www.inpi.gov.br

•8Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional - EDATelefone: (21) 220-0039 - 262-0017 Fax: (21) [email protected] 

•9www.bn.br

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O Software

Regime constitucional dos programas de computador

Como já mencionado, a Carta de 1988, em seu art. 5o., inciso XIX, dispõe:a lei assegurará (...) proteção às criações industriais (...), tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País

Como já indicamos, ao falar das patentes, não se prevê a nível constitucional privilégio para as criações industriais, distintas dos privilégios de invenção. Isto é, não haverá nem direito exclusivo, nem temporariedade; não se designa autoria, nem se vincula o direito aos inventos. Desta forma, além dos inventos industriais, o texto constitucional prevê a possibilidade de proteção, sempre dentro dos parâmetros do interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, de criações industriais. Quais serão tais criações?

Serão elas criações. Aqui, como na hipótese anterior, não se trata de proteção a descobertas. E serão elas industriais, ou seja, práticas numa acepção econômica. A Carta não vincula tal proteção à utilização do próprio invento, como também não dá o privilégio da utilização exclusiva. A temporariedade, que é limite do direito mas também é garantia de perenidade, enquanto dure, não se acha expressa no texto constitucional: a proteção durará enquanto o exigir o interesse público, ou enquanto persistir o fato que lhe dá causa (por exemplo, o segredo subjacente).

Ao propor tal texto, como terminou por ser incorporado à Constituição, o autor tinha em mente a teoria das criações industriais abstratas, que se deve a André Lucas 58. São elas simultaneamente industriais, no sentido de serem práticas, destinadas a uma finalidade econômica, mas abstratas, pois não resultam em mudanças no estado da natureza. Exemplos seriam os sistemas ou métodos de produção ou organização da produção, como o método PERT, e os programas de computador.

Entendo que, ao adotar a nomenclatura proposta por Lucas, a Constituição inclui entre os direitos suscetíveis de proteção a luz do Art. 5o. XXIX os programas de computador, de uma maneira uniforme com os outros objetos de direito de propriedade intelectual do mesmo tipo. A base constitucional da proteção hoje assegurada pela Lei. 9.609/98 aos programas de computador seria, não os dispositivos pertinentes aos direitos autorais, aos quais não acedem quaisquer limites ou compromissos com a ordem econômica, mas a mesma cláusula que ampara as marcas, patentes e demais direitos intelectuais de fundo econômico.

O regime de proteção dos programas de computador segue, em parte, o da Lei 9.610/98, que protege no Brasil os Direitos Autorais. No entanto, com a muitas alterações introduzidas pela Lei 9.609/98 , e a natureza claramente tecnológica dos programas de computador, inegavelmente estamos, na Lei em vigor, na presença de um tertius genus, à maneira de certos Direitos Conexos, cuja regulação acompanha talvez, na esfera internacional, o da Convenção de Berna - vale dizer, o da matriz internacional dos Direitos Autorais - no que com ela não contraste.

58 André Lucas, La Protection des Créations Industrielles, Lib.Technique, 1975. Martha M. Rezende Lemos, Introdução aos Estudos das Criações Industriais Abstratas, Anuário da Propriedade Industrial, 1977, p. 19.

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No contexto constitucional brasileiro, os direitos intelectuais de conteúdo essencialmente econômico são objeto de tutela própria, que não se confunde com a regulação genérica dos direitos autorais. Em dispositivo específico, a Carta sujeita a constituição de tais direitos a condições especialíssimas de funcionalidade, compatíveis com sua importância econômica, estratégica e social.

Certo é que, no que for objeto de propriedade (ou seja, no alcance dos direitos patrimoniais) , o direito autoral também está sujeito às limitações constitucionalmente impostas em favor do bem comum - a função social da propriedade de que fala o Art. 5o., XXIII da Carta de 1988. Note-se que a proteção autoral, como propugna boa parte da doutrina, não se esgota na noção de propriedade, em particular pela presença dos direitos de personalidade.

O Art. 5º, XXII da Carta, que assegura inequivocamente o direito de propriedade, deve ser sempre contrastado com as restrições do inciso seguinte, a saber, as de que a propriedade atenderá sua função social. Também no Art. 170 a propriedade privada é definida como princípio essencial da ordem econômica, sempre com o condicionante de sua função social 59.

No tocante à propriedade resultante da proteção aos programas de computador, das patentes e dos demais direitos intelectuais de funções essencialmente econômicas, a Carta aceita sem dúvida a restrição à concorrência, mas evitando que os poderes dela resultantes tenham o caráter absoluto - o monopólio só existe em atenção ao seu interesse social e para propiciar o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. Pode-se concluir que, ao menos no nível legislativo, a intervenção do Estado é, no caso, não só facultada mais possivelmente obrigatória 60.

Assim, sem prejuízo das eventuais patentes de software, a Carta prevê, sob o pálio das criações industriais, a tutela dos programas de computador, como categoria distinta dos privilégios industriais.

O O problema específico do software

É claro que, apesar de tanto enfatizar o exemplo da patente tradicional, o software é um objeto novo de direito, com problema muito específicos. Impressiona, realmente, o argumento de que, ao contrário do que ocorre no caso da patente, nos programas de computador - naturalmente autoduplicável - o acesso ao código representa o acesso quase que imediato ao mercado; a economia e as barreiras próprias do mercado de software diferem significativamente das existentes na indústria manufatureira tradicional, fazendo que tal cópia excessivamente fácil, em grande escala, possa realmente desestimular a produção independente 61.

59 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, Ed. RT, 1989, p. 241: "a propriedade (sob a nova Constituição) não se concebe senão como função social".60 "As any undue expansion of the protection accorded to technology may impair rather than stimulate the progress of the indus -try, the new Constitution subjects the enactment of any Industrial Creation right to the fulfilling of some requirements. The law protecting abstract or other industrial creations must therefore take into consideration the social interests of the country and, fur-thermore, contribute to the technological and economic development of Brazil. Those requirements are, by the way, exactly those imposed on the exploitation of industrial property rights in Brazil by Art. 2º of Law 5.648/70; now they were granted Con-stitutional status in order to prevail over the ordinary Legislative process itself”. Do autor, Software, Marjoram & Rose-mary: A Brazilian Experience, WIPO's Regional Forum on the impact of Emerging Technologies, Montevideo, Dez. 1989. Doc. WIPO/FT/MVD/89/761 Duncan M. Davidson, Reverse Engineering of Software, in PLI Computer Software, pg. 102: "manufacturing economics are heavily driven by experience (accumulated units sold) and scale (productive capacity); thus the first-to-market can have a big cost advantage; in contrast, in software, the copier can be ahead: software economics are largely based on distribution channel, not the one product. Small vendors are vulnerable to scale players who can mimic and push the innovative product without the

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De outro lado, o equilíbrio de interesses no caso do software parece ser um pouco diverso do que ocorre no caso das patentes destinadas aos setores tradicionais. De um lado, há a necessidade de promover a criação do software e a sua publicação; a necessidade de promover a competição, pela entrada e convivência de novas empresas produtoras e distribuidoras no mercado; a necessidade de promover a pesquisa e a inovação (o que se distingue da atividade de elaborar programas); a necessidade de promover a educação, inclusive a familiarização da sociedade com a informática - computer literacy; a necessidade de incentivar o uso pessoal e personalizado da tecnologia, com o atendimento de demandas localizadas e específicas, que será possivelmente o modelo característico das futuros sistemas de organização da sociedade.

Estes interesses visam, em geral, o aumento de produtividade e de eficiência, o estímulo à inovação e à diversidade 62, mas, no caso específico dos países em desenvolvimento, ressalta sobre isto o acesso aos bens essenciais para a sobrevivência e a fruição dos direitos econômicos e sociais, essenciais para a manutenção da dignidade.

A importância das economias em desenvolvimento para o mercado específico de software, seja como produtoras, seja como consumidoras, parece ser bastante pequeno. Assim sendo, o estímulo à padronização e desenvolvimento imitativo nos países em desenvolvimento podem ser também objetivos compatíveis com aqueles objetivos gerais, desde que, de um lado, auxiliem decididamente na progressiva incorporação das economias em questão numa sociedade globalmente equalitária, e de outro, não afetem de forma decisiva a capacidade inovadora das economias centrais.

Pois reverse engineering pode ser um mecanismo de acesso a tais propósitos 63: se a legislação facilita sua prática, ela tende a promover a competição imitativa e o rebaixamento de preços; se proíbe sua prática, a tendência é pela diferenciação dos produtos, pela dificuldade de compatibilização e pelo reforço do poder de mercado dos grandes produtores internacionais. No episódio atual da economia brasileira, assim, parece que a opção nacional só pode ser pela primeira alternativa.

O modelo brasileiro

No caso brasileiro, a assimilação do software pelo direito interno resultou diretamente das pressões bilaterais americanas e não se coaduna de forma alguma com o sistema jurídico nacional 64.

manufacturing burden". 62 Duncan M. Davidson, op. cit., pg. 103.63 Duncan M. Davidson, op. cit. pg. 102: "since software does not fit current reverse engineering policies, fit the policies to software; (...) consider reverse engineering policy a lever to turn up or down wealth/creation."64 "Brazil, Japan and France could never have the legislation of their choosing; WIPO put aside its proposals of a 'middle way' form of protection. After spending some time brooding over MITI's proposal, Japan enacted (in 1985) an amendment to her reg -ular copyright law, which falls into line with the legislation of other developed countries. By July, 1985, France appeared to do the same, introducing in her copyright law a set of provision designed to protect software. A new right of use plus right of copy set of rules was contrived, 'moral rights' were abolished, a shorter term of protection was introduced and the property was granted in principle to the software entrepreneur and not to the software creator. This approach meant a straight denial of all French legal tradition concerning the 'droit d'auteur'. By the same time, a WIPO meeting on the protection of software was dis -missed on the conclusion that there was nothing to discuss as copyright protection was deemed to be, for the time, a reasonable answer. It seems to be a curious coincidence that before all those changes of mind and on the same month the Brazilian bill was submitted to the Congress (October, 1984) the US President sanctioned into law the new Trade and Tariff Act, one of the titles of which contains a 'sense of the Congress' stating formally that all countries should adopt the copyright system to protect soft -ware lest they should be the target of severe US retaliations. If it is probably a real coincidence face to the of the Brazilian bill, no doubt whatsoever exists that the Act was intended to preemptively strike the Japanese MITI's draft, as it actually did, and possibly to disincentive sui generis solutions elsewhere. But on September 07, 1985, President Reagan announced he was order-

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Apesar do amplo debate que precedeu a elaboração da lei brasileira de software 65, muito pouco dela resultou - em especial no tocante a suas disposições relativas à propriedade intelectual - em termos de diretrizes a longo prazo para uma política industrial para o setor. O problema, como ocorre em todos os segmentos do direito da propriedade intelectual, é encontrar o ponto certo de proteção, correto do ponto de vista da política econômica global, compatível com as exigências técnicas e, principalmente, adequado às limitações de uma economia como a brasileira. Na nova política de revisão dos direitos intelectuais, decididamente não cabe manter a atual forma de proteção pelo direito autoral, de resto aparentemente sepultada pela Constituição de 1988 66.

ing the commencement of proceedings against Brazil on the basis of Section 301 of the Act, to check on the Brazilian computer policies, including the lack of copyright protection for software. It will not be possibly a surprise to notice that, on August 26, 1986 the Brazilian National Council of Informatics (CONIN) a cabinet level advisory group, told the President of Brazil that a "modified" copyright legislation was the correct way of protecting software; the Executive proposal that reached the Brazilian Congress late December 1986 made references to the copyright law as providing the grounds for the protection, otherwise un -specified" (Barbosa, 1989b).65 "From 1979 on, Brazilian Government, universities, incipient local computer industries, specialized workers and the legal cir -cles have extensively discussed what steps should be taken to incentive local creation of computer software and general avail -ability of foreign software products. In this period the establishment of a locally controlled computer industry was a major ob -jective both of Government, including the military, and the nation's intellectual classes; the interest aroused by such discussions cannot be exaggerated. Literally hundreds of seminars, courses, working groups and congresses brought the theme to the knowl -edge of high school students, military officers, would-be investors and the like. Very soon, the issue of legal protection of soft -ware emerged as one of the most important aspects of the discussion. Should software creations be protected at all? University people felt that software, like scientific discoveries, should be open to all. If legal protection was necessary, what system should be chosen? Officials from the Brazilian Patent Office supported the argument that, waiting for the time where a universally ac -cepted method of protection was found, the rules applied to transfer of technology contracts should be extended to software, which should therefore enjoy from a protection comparable to that granted to trade secrets or know how. Alternatively, the Patent Office proposed to regulate at once the tax, exchange and foreign investment aspects of software imports. Other parties suggested the granting of special patents (a provision of the Patent Law denying protection to 'systems' was deemed to prevent the issuing of regular patents). Many computer specialists and lawyers advanced the use of a special kind of protection, neither patent nor copyright, but a new specific system that should correspond to the unique problems brought by the software creations. A bill was introduced in Congress in 1984 providing for an example of such sui generis protection; but the sending of the Gov-ernment Software bill the following year prevented it from ever being voted. On the other hand, copyright protection found ini -tially more opponents than supporters. Being the system of protection most frequently identified with the interests of foreign software producers, a feeling grew in some circles that the other methods could possibly be more favorable to help the domestic interests. In such a context, the Nationalistic undertones of the matter are easily emphasized" (Barbosa, 1989b).66 "The 1988 Constitution is however the first one to provide for the protection of 'inventions and other industrial creations' as specific kinds of intellectual property rights (Art. 5º, XIX). But what is an 'industrial creation'? (...) The expression 'industrial creations' or, more precisely, abstract industrial creations were coined by Professor Andre Lucas (...) on the new and valuable technical solutions that could not be adequately protected by the traditional patent system. A common aspect of such creations (the paramount example of which is computer software) is that they markedly differ from the classical industrial invention to the extent that they do not result in transforming or reducing a subject matter into another state or thing - a essential test of patentability, usually described as 'industrial utility'. As is well known, software is a result of an informational technology, the achievements of which do not require physical transformation of any kind. The most important aspect of Professor Luca's find -ings is that there are now essential technologies, deserving legal protection, but heretofore excluded from patentability as they are not "inventions". "Industrial creations" could be thus defined as those new solutions of technical problems other than inven -tions; under such a concept, even small improvements resulting from the workshop experience could then enjoy from some a le -gal status. Some of them are "abstract", in the sense established by Professor Lucas; others may not be so. By accepting other in -dustrial creations (including Professor Lucas abstract creations) besides inventions as protectable items the 1988 Constitution expanded broadly the scope of Industrial Property or, more precisely, the Constitutional authorization under which lower laws could establish the Industrial Property rights. As any undue expansion of the protection accorded to technology may impair rather then stimulate the progress of the industry, the new Constitution subject the enactment of any Industrial Creation right to the fulfilling of some requirements. The law protecting abstract or other industrial creations must therefore take into considera -tion the social interests of the country and, furthermore, contribute to the technological and economic development of Brazil. Those requirements are, by the way, exactly those imposed on the exploitation of industrial property rights in Brazil by Art. 2º of Law 5648/70; now they were granted Constitutional status in order to prevail over the ordinary Legislative process itself. Thus, under the present Constitutional setting, the treatment of Industrial Creation rights and copyright are substantially differ -

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Dois fatores colaboraram, desde o início, para diminuir a eficácia de um oligopólio legal no setor de informática (Barbosa, 1984b:391). Em primeiro lugar, a dificuldade - enfim demonstrada - de sustentar, a longo prazo, as restrições de mercado num sistema econômico que se quer de livre mercado. Em segundo lugar, a concentração e a velocidade das evoluções tecnológicas no setor (elementos que interessam mais diretamente ao país).

Com exceção, talvez, do Japão , a batalha pela afirmação tecnológica no setor de software está sendo perdida em todos os países para a pujança empresarial americana, que conserva liderança absoluta. O mercado interno americano, em processo de informatização acelerado, dá espaço suficiente para justificar altos investimentos em pesquisas.

Nesse contexto, a partir daí a expansão internacional se faz insensivelmente. A dinâmica desse mercado, ademais, induz a uma modificação aceleradíssima nos produtos oferecidos ao público. Assim, é no campo específico da tecnologia que o problema existe em sua maior intensidade.

A organização do mercado interno brasileiro, através do instrumento essencial que foi a reserva de mercado, tinha que ser reforçada pela estruturação das relações de propriedade sobre o software, de forma a corrigir os efeitos dessa concentração e velocidade da técnica no domínio da informática. Em outras palavras, a lei que pretender proteger o software segundo o interesse nacional deverá levar em conta que a produção local não é e nunca poderá ser equivalente à do mercado internacional e que a reserva de mercado, por si só, não poderia corrigir este problema.

Por outro lado, como os recursos mais modernos da informática são essenciais para uma indústria voltada para a exportação (como a brasileira precisa ser neste momento), a proteção ao software deve favorecer os interesses dos produtores mais avançados, na proporção em que propicia transferência de tecnologia para o Brasil de forma ordeira e segura.

Como se protege o “software”

Proteção para o software já existe na maior parte das legislações, inclusive, na brasileira. Em avaliação do estado do direito nos 43 principais países do mundo (Keplinger, 1989:383), verificou-se que em todos existe algum nível de aplicação da lei autoral. A tendência, que apenas se esboçava há dez anos, parece agora mais definida. Porém, são o urgente interesse comercial, principalmente americano, e a necessidade de segurança das relações jurídicas que têm ditado o caminho autoral mais do que a conveniência e a oportunidade nacional.

A adeqüabilidade do uso dos direitos autorais para proteção das tecnologias tem sido contestada ardorosamente 67, em especial porque o sistema do direito autoral difere significativamente dos sistemas dedicados até agora a tal tarefa, como, por exemplo, o sistema de patentes 68.

ent. The individualistic and anti-business aspects present in the copyright provisions are not apparent in the case of the newly in -troduced Industrial Property right; on the other hand, Industrial Creations are only to be granted in the interest of Brazilian soci -ety and development, while copyright is recognized irrespective of national purposes and interests, developmental or otherwise" (Barbosa, 1989b).67 Ver Barbosa (1984b:386-403; 1987a; 1987b; 1988b; 1989b). Brascomb (1990:47-60) diz, no entanto, que, não obstante a aparente pacificação da matéria após a modificação legislativa ocorrida em grande número de países, continua a grassar a dúvida quanto à real adequabilidade do modelo do direito autoral à tecnologia. Parte relevante da doutrina americana vem propondo, por exemplo, a utilização dos mecanismos do enriquecimento em causa ao invés do copyright; ver Reback & Hayes (1986).68 Segundo Hermitte (1987:249): "Qu'il s'agisse des logiciels d'ordinateurs, introduits dans le droit d'auteur ou des micro-orga -nismes désormais brevetables dans la plupart des pays industriels, la protection existe, mais les modalités de son exercice ne semblent pas lui conférer l'efficacité qui devrait être la sienne. On commence d'ailleurs à enregistrer les premiers signes de désappointement".

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É até um truísmo dizer que o sistema de proteção do software deve assegurar benefícios à evolução tecnológica do país equivalentes aos que o sistema de patentes prevê, em particular, evitando que seja proibido indefinidamente o acesso público à tecnologia protegida. O sistema de patentes representa uma fórmula de equilíbrio de interesse consagrada, um compromisso básico entre os interesses da comunidade e do produtor da tecnologia, sob pena de não ser favorável nem para um nem para outra 69. Tal compromisso não existe no tocante aos direitos autorais, especialmente nos sistemas jurídicos que seguem a tradição francesa ou alemã, com sua ênfase na personalidade do criador; mas até mesmo no sistema americano tais inconveniências estão se fazendo evidentes 70.

A disfunção vai sendo corrigida, “mal e mal”, pelos tribunais, principalmente os americanos que - com a responsabilidade de tutelar o desenvolvimento de uma das mais importantes indústrias de seu país, empenham-se em ir “lambendo o parafuso do copyright com vistas a fazê-lo prego” - ou melhor, uma proteção eficaz e equilibrada 71.

O O que é programa de computador

A expressão Software, ou, em francês, logiciel 72, se aplica seja ao programa de computador propriamente dito , seja à descrição do programa 73, seja à documentação acessória 74, seja a vários destes elementos juntos. No dizer do Art. 43 da Lei de Informática (no. 7.232 de 29 de outubro de 1984), software seria a soma do programa de computador e de sua documentação técnica associada.

69 Um sumário destes problemas pode ser lido em Barbosa (1988b): "copyright does not fully satisfy the legitimate interests of the software developer to the extent that protection only covers actual copying. Use of software in the computers is also a major concern for the developers, especially in times when sharing of equipment resources and system linkages make it possible to multiple users to take economic profit from one copy of a program. Furthermore, using the basic concepts of a program to create new programs does not infringe the principle that copyright covers expressions and not ideas. Other very important issue is re -verse engineering. Again the notion that copyright covers expression, not ideas, leads naturally to the conclusion that anyone can extract the ideas of a program without infringing any law. This question may show to be especially important in some kinds of software, even considering that, for some authors, it is impossible to reverse engineer something without copying, decompiling, disassembling or performing the program, therefore without infringing the copyright attached to it."70 Brascomb (1990:50) confirma este ponto: "The Office of Technology Assessment of the US Congress has reported that copy -right law provides unsatisfactory protection for computer software (in Intellectual Property Rights in an Age of Electronics and Information (1986), p. 81) (...) Professor Pamela Samuelson, who has written extensively about the legal aspects of computer software, observes: 'It should have been obvious that when Congress decided to put software into its copyright system - a body of law whose most fundamental tenet is the no protection of technologies - that there would be considerably difficulty in inte -grating software in that system (Reflections on the State of American Software Copyright Law and the Perils of Teaching It, Law and the Arts, v. 13, fall 1988, p. 72-73)".71 No entendimento de Millé (1989), estes já são os temas da terceira geração do pensamento jurídico sobre a proteção jurídica do software.72 Tomamos neste ponto a noção de software (logiciel) das Disposições-Tipo para a proteção do software editadas pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual. O documento LPCS/1/2 daquela organização, que propõe as bases de um futu-ro tratado sobre a questão, retrata a definição das Disposições-Tipo da seguinte forma: "Le terme "logiciel" serait ainsi défini comme désignant soit un programme d'ordinateur, soit une description de programme ou une documentation auxiliaire, soit plu -sieurs de ces éléments. Quanto à proposta de alteração da lei tipo, para melhor reflexão dos problemas dos chamados "expert systems", vide o Doc. OMPI/UNESCO LPCS/WGTG/1/3.73 Segundo o documento citado, "On entend par "description de programme" "une présentation complète d'opérations, sous forme schématique ou autre, suffisamment détaillée pour déterminer un ensemble d'instructions constituant un programme d'or -dinateur correspondant" (article 1. ii des dispositions types).74 Sempre citando o documento OMPI LPCS/1/2: " On entend par "documentation auxiliaire" "toute documentation autre qu'un programme d'ordinateur ou une description de programme, crée pour faciliter la compréhension ou l'application d'un programme d'ordinateur, par exemple des descriptions de problème et des instructions à l'usage d'un utilisateur" (Artigo 1.iii§ da Lei Tipo).

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Tomado desta forma, software se define por oposição à expressão inglesa relativa - hardware: ferramental, equipamento, o conjunto dos objetos (ware) tangíveis (hard, mais propriamente, duros) 75. Os dois elementos, em conjunto, formando os chamados sistemas. Daí, a definição constante do relatório da Comissão Especial de Informática formada em 1981 pela Secretaria Especial de Informática:“É o software que incorpora o conhecimento sobre um dado sistema ou processo. Constitui o que se poderia chamar a “inteligência” dos sistemas informáticos. Estes, compreendendo na forma mais ampla: computadores, software, redes de comunicações e sensores (equipamentos de instrumentação) podem, na atualidade, atuar sobre os mais variados sistemas ou processos, automatizando-os e reduzindo a presença do homem a um mínimo indispensável. (Ex.: Controle de processos industriais nas áreas siderúrgica, energética, transportes, aplicações científicas, administrativa, robótica, etc.)”

O núcleo da noção software, de qualquer maneira, é o programa de computador, cuja definição legal foi fixada pelo Art. 1o., parágrafo único da Lei 9.609/98 . Optando por uma redação mais analítica do que a da lei americana 76, a norma brasileira segue o alcance da Lei Tipo da OMPI 77.

Ter-se-ia, assim o programa de computador propriamente dito (o conjunto de instruções para comandar a máquina) e uma série de dados e serviços complementares, compreendendo-se o todo na noção de software. Tal definição faz evidente a ligação do software com os meios usuais de transmissão de tecnologia: além das instruções de máquinas haveria as instruções dirigidas ao receptor humano, e o todo seria o software 78.

Isto faz com que o software compreenda, empiricamente, um segmento em suporte informático (disquete, cd-rom, chips, etc) e outro em suporte convencional: livros, papéis, manuais, etc. A circulação econômica do software se faz quase que necessariamente nas duas espécies, em conjunto. Mas - como veremos - são tais elementos tangíveis meros acessórios, ainda menos intrínsecos ao bem intelectual do que o papel em relação ao livro, a tela para um quadro, o mármore para a Pietá 79.

A intenção do legislador da Lei 9.609/98 , assim, era proteger pelo regime especial exclusivamente o programa de computador, deixando de lado a documentação técnica associada - que, em

75 A oposição entre o hardware e o software refletiu-se no julgado do TJSP, no caso Sinclair, da seguinte forma:

CRIME CONTRA A PROPRIEDADE INDUSTRIAL - Hardware e software - Proteção jurídica de um e de outro por ramo distinto do direito privado - Entendimento - Proteção constitucional.30 - Hardware e software não se confundem no campo jurídico. Hardware está em âmbito do Direito de Propriedade Industrial. Software está em âmbito do Direito Autoral. Não se confunde, pois, software com o correspondente suporte (disquete, fita cassete, ou chip), que se constitui em seu corpo mecânico (assim como disco e o suporte da música, esta obra intelectual protegida). Programa e disquete não se confundem, não dando ensejo a crime de violação de marca de industria ou comércio e de concorrência desleal. - . RJDTACRIM VOLUME 12 PÁGINA: 69 RELATOR:- PENTEADO NAVARRO76 A definição legal é a da Seção 101 do título 17 do United States Code (alterado pela Public Law 96-517 de 12.12.80): "A com -puter programs is a set of statements or instructions to be used directly or indirectly in a computer in order to bring about a cer -tain result".77 Segundo ainda o Documento citado, programa de computador era definido na Lei tipo (artigo 1.i) como "un ensemble d'ins -tructions pouvant, une fois transposé sur un support déchiffrable par machine, faire indiquer, indiquer, faire accomplir ou faire obtenir une fonction, une tâche ou un résultat particulier par une machine capable de faire du traitement de l'information".78 Uma vez mais o documento da OMPI citado acima: "La caractéristique essentielle de cette définition est que "logiciel" n'est pas identique à "programme d'ordinateur". Un programme d'ordinateur n'est que l'ensemble d'instructions qui permet de com -mander le fonctionnement d'un ordinateur ("machine capable de faire du traitement de l'information"), d'une façon déterminée".79 Pois existe a circulação intangível, através, por exemplo, do acesso a um repositório de programas via modem.

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princípio, será objeto do Direito Autoral genérico e do regime fiscal e regulatório próprio aos livros e documentos, conforme sua natureza 80.

Os vários tipos de programa. A questão do programa-produto

A definição acima incorpora todos os tipos e modalidades de programa de computador. As distinções suscitadas pela jurisprudência, principalmente estrangeira, sobre as oposições entre programa-aplicativo e prográma-básico, ou entre o firmware e os programas não inclusos no hardware, não têm pertinência em face do alcance do texto legal brasileiro. Voltaremos, porém, ao tema, mais adiante.

Na seção deste livro dedicada ao regime tributário dos programas de computador, teremos ocasião de tratar da importante questão dos chamados programas-produto e os softwares gerados por encomenda 81.

Software como Expressão

É, como visto, um dos requisitos básicos da proteção clássica do Direito Autoral. Este ramo do Direito não protege idéias, planos, conceitos mas formas de expressão.

O problema específico do software

Numa só palavra, "expressão", a lei resume a massa de problemas que, por quarenta anos, vem enfrentando os especialistas para construir um ambiente jurídico adequado para os programas de computador 82. Isto se dá por peculiaridades do mercado específico de software, pelas características de sua produção, mas, principalmente, porque ele se constitui em um objeto de proteção distinto de qualquer outro antes conhecido em Direito.

Uma patente, por exemplo, protege uma solução para um problema técnico determinado, e com isso é objeto imaterial como o é um programa de computador; mas a patente dá exclusividade à solução como idéia. Vale dizer, como uma mensagem dirigida ao ser humano, que por sua vez atuará todos os meios organizacionais e os equipamentos necessários para efetivamente resolver o tal problema - seja este o processo de fabricação de um produto químico, seja uma válvula eletrônica.

O objeto de proteção no programa de computador não é uma idéia, mas a expressão de uma solução para um problema técnico. Assim como o engenheiro, lendo uma patente, prescreve um conjunto de instruções, seja a uma equipe de operários, seja a uma máquina qualquer, assim também o programa incorpora (ou expressa) este conjunto de instruções, mas destinado e legível apenas por uma determinada máquina de tratamento de informação.

80 A lei francesa de 3 de julho de 1985, que recebeu o "logiciel" no âmbito do Direito Autoral, optou pela proteção em regime especial do todo e não só dos programas de computador; vide Claude Colombet, Proprieté Littéraire et Artistique, 3a. Ed. Dalloz, 1986, nota 226. Assim também parece dispor a regulamentação comunitária sobre o software. 81 Foi o surgimento do programa-produto, nos fins da década de 70', que introduziu novas demandas de proteção jurídica, de tratamento tributário e inéditos procedimentos de comercialização. Disse Denis Borges Barbosa em "(...) Marriage of Inconve-nience: "The growth of computer consumption in the seventies and the Microcomputer Era of the eighties then rendered it impossible to keep on protecting softwares on the basis of trade secret or contract. Once microcomputers entered the market by the tens of millions, the demand for exclusive protection grew with the added exposure to the new buyer with whom no contractual or confidential relationship was meaningful: programs were now being sold in supermarkets like sausages".82 Vide, quanto ao ponto, o equívoco de Tarcísio Queiroz Cerqueira , op. cit., p. 55, ao dizer que ao empregar-se a noção de “expressão” na definição legal, “tira-se a imaterialidade do programa”. Data venia, é precisamente o contrário.

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O valor econômico do programa deriva assim não da sua novidade enquanto idéia, mas da realização desta idéia enquanto conjunto de instruções a uma máquina. Diferentes programas podem representar a mesma idéia, ou mais freqüentemente, incorporam dezenas ou centenas de soluções técnicas, novas ou ressabidas, mas de um modo específico.

Do mesmo jeito, um livro - este livro, por exemplo - incorpora idéias, informações, opiniões, métodos de exposição, tudo numa expressão determinada, e seu valor deriva nem tanto da novidade ou originalidade das idéias mas da maneira que elas estão expressas. Com efeito, a finalidade deste livro é comunicar a experiência e o conhecimento de seus autores ao público, e tal resultado é a medida de seu valor; o programa se destina a emprestar à máquina ao qual instrui uma certa funcionalidade, e aqui também o seu valor se radica.

O exemplo e a comparação obviamente não são gratuitos. É o fato de a proteção do programa de computador ser dirigido à sua expressão (não às idéias) que tornou mais fácil tomar emprestado certos institutos do sistema jurídico do Direito Autoral para proteger o novo objeto de Direito 83. De outro lado, a ênfase em comparar o valor do livro com o do programa, em vez de comparar-lhes a natureza, sobre ser uma debilidade lógica, é uma maneira de evidenciar exatamente a dificuldade de usar um sistema jurídico preexistente para envelopar uma realidade nova.

Vide, mais abaixo, mas ainda sob este artigo, sempre quanto à oposição entre idéia e expressão, a discussão, quanto ao tema da expressão livre e necessária em Direito Autoral, ao problema da proteção da estrutura, sistema e organização dos programas, e ao chamado look and feel, ou aparência externa e funcionalidade perante o usuário dos programas.

Conseqüências do princípio

Decorre do princípio em questão que a tutela recai sobre a expressão (de um conjunto de instruções), não sobre as idéias, ensaios e cogitações, planos, algoritmos e cálculos 84. Tal limite se aplica, por exemplo, para definir em que fase da elaboração do software passa a ser aplicável o regime legal vigente 85.

Em segundo lugar, porque tornam claro que, enquanto o programa de computador em si não é nunca objeto de proteção por patente (com ser expressão...), ele pode incorporar ou expressar idéias e, mais, pode dar a certas soluções teóricas o caráter de ação prática sobre o universo

83 Nos trabalhos científicos, o direito autoral protege a forma de expressão, e não as conclusões científicas ou seus ensinamentos, que pertencem a todos, no interesse do bem comum" RE no. 88.705 (RJ) Rel. Min. Cordeiro Guerra. j. em 25/5/79. 84 Esta é uma característica comum com os demais objetos do Direito Autoral. Como diz o Relatório da House of Representatives dos Estados Unidos no. 1476, do 94o. Congresso, 2a. Sessão, pg. 57, sobre a reforma da legislação autoral amer-icana: "Section 102 (b) is intended, among other things, to make clear that the expression adopted by the programmer is the copyrightable element in a computer program, and that the actual processes or methods embodied in the program are not within the scope of the copyright law. Section 102(b0 in no way enlarges or contracts the scope of copyright protection under the present law. Its purpose is to restate, in the context of the new single Federal system of copyright, that the basic dichotomy be -tween expression and idea remains unchanged".85 Os trabalhos preparatórios - cronologicamente precedentes ao programa de computador - poderão jazer sob a proteção de outros sistemas jurídicos, por exemplo, o do segredo de indústria ou de negócio a que se refere o Art. 178, XI e XII do Dec. Lei 7.903/45; ou poderão, se for o caso, estar no campo pleno da proteção autoral, sem o regime especial da lei em comento; ou serão objeto de uma tutela da privacidade.... Uma vez criada, no todo ou parte, a obra intelectual, no entanto, o que surge é uma outra questão, que será analisada a seguir. A Diretiva 91/250 da Comunidade Européia, como vimos, especificamente inclui os trabalhos preparatórios no âmbito autoral, ou, mais precisamente, o material de concepção.

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circundante, vale dizer, o requisito de utilidade industrial que exigem as leis de patentes 86. São estas as chamadas "patentes de software" 87 (vide abaixo).

Em terceiro lugar, porque evidenciam a impropriedade de uma regime autoral puro para a proteção dos programas de computador, guiando o intérprete quanto as normas da Lei Autoral que merecerão aplicação subsidiária à presente lei.

Expressão livre ou necessária

A doutrina autoral já se defrontou algumas vezes com a questão da expressão necessária. Argumenta-se que só a expressão livre teria a proteção autoral: a única forma de expressar alguma coisa seria insuscetível de exclusividade, pois tal monopólio recairia sobre a idéia subjacente - o que é incompatível com o Direito Autoral 88.

O software não é pura expressão , nem pura idéia. Em muito casos, ambos se unem tão entranhadamente que - se a expressão é resultado necessário da idéia - não pode haver proteção sob pena de se vedar acesso à própria solução técnica 89 Aliás, no caso não só se invade o campo da patente como inexiste o componente de originalidade próprio do direito autoral .

Quando há liberdade de expressão , onde começa a expressão protegível e termina a idéia inapropriável pelo direito autoral - o campo natural da patente?

Na Direito Brasileiro, a questão foi adequadamente incluída não como um requisito de proteção, mas como um limite ao direito. A proteção não existe na proporção em que se comprovar que o conjunto de instruções é inevitável em face das exigências técnicas pertinentes 90.

Software como um conjunto organizado de instruções.

Nem tudo que se encerra em meio magnético recai sob a proteção da lei de Software. Assim é que arquivos de dados ou de texto, e todo outro elemento necessário ao tratamento de informação, podem ser, conforme o caso, objeto de proteção pelo regime genérico do Direito Autoral ou por outros sistemas jurídicos - mas não será regulado pela Lei sob exame. Dela, é o campo do conjunto organizado de instruções à máquina, ou seja, o programa.

86 Tal ocorreu no primeiro caso levado à Suprema Corte dos Estados Unidos de um pedido de patente de software (Diamond v. Diehr): o programa de computador viabilizava o controle de abertura de uma câmara de tratamento de borracha artificial, repetindo incessantemente o calculo de um algoritmo segundo os dados dos sensores de pressão e temperatura.87Também tem sido reconhecido como patenteáveis certas outras invenções relativas a programas de computadores, sendo dentre estas particularmente importantes as de caráter adjetivo, ou seja, aquelas que contenham métodos ou soluções de programa. Vide, a este respeito, Denis Borges Barbosa, Programas de computador y documentacíon tecnica associada, in Revista de Derecho Industrial, no. , 1990. 88 No Direito Americano, vide Morrisey v. Procter & Gamble, 379 F. 2d. 675 (1st. Circ. 1967), Vide, para o caso especifico do software, Lotus Development Corp. v.Paperback Software, 740 F.Supp. 984 (D.Conn. 1989)89 O caso clássico aqui é Baker v. Selden (U.S.Ct. 1879): "to give the author of the book an exclusive property in the art de-scribed therein, when no examination of its novelty has ever been officially made, would be a surprise and a fraud on the public. That is the province of letters patent, not of copyright"; mais recentemente, vide Hebert Rosenthal v. Kalpakian (9th Cir. 1971): "When the idea and its expression are thus inseparable, copying the expression will not be barred, since protecting the expres -sion in such circumstances would confer a monopoly of the idea upon the copyright owner free of the conditions and limitations imposed by the patent law".90 Também a Lei 7646/87, em seu Art. 7º, procurava enfrentar tal problema, determinando que não há cópia quando dois programas têm em comum instruções que exprimem soluções técnicas únicas, determinadas pelas características funcionais de sua aplicação, pela necessidade de obedecer dispositivos legais, ou pela limitação das formas alternativas de expressão.

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Alguém penetra nos arcanos de um disco rígido e copia ou apaga os arquivos de texto onde se acha um romance, o plano estratégico de uma empresa ou a programação visual de uma cadeia de lojas - nada afetou a presente Lei, eis que nenhum um destes arquivos consiste no conjunto articulado de instruções de que fala o dispositivo em análise.

Note-se, porém, que freqüentemente um programa comercial será distribuído com dezenas (por vezes centenas) de arquivos executáveis, arquivos de comandos ou arquivos batch - programas todos eles - juntamente com arquivos de dados ou de textos. Verifica-se neste caso um exemplo clássico da relação entre principal e acessório, em que o bem principal (o programa ou programas centrais) determina o tratamento jurídico de um todo complexo; em tanto que os arquivos texto ou de dados seja parte da funcionalidade do programa principal, permitindo-lhe alcançar os objetivos técnicos a que visa, o regime desta lei alcança o todo - usualmente distribuído sob uma única marca.

Outra coisa, obviamente, são os arquivos texto ou de dados (inclusive de dados gráficos ou de outra natureza) produzidos por ação do programa - por exemplo, os textos resultantes da utilização de um processador. Estes não integram a funcionalidade do programa, sendo aliás o resultado da função técnica; excluem-se pois do regime desta lei.

Programa e código

A definição legal abrange não só o conjunto de instruções em forma legível por máquina, mas também, como se verá imediatamente a seguir, a sua formulação em linguagem de outra natureza. Assim, a proteção não se resume ao código.

De outro lado, esta não abrange outras formas de expressão diversas do conjunto de instruções, com a importante precisão: conjunto organizado de instruções. Assim como um poema não é um conjunto de palavras, nem de metáforas, mas um conjunto organizado de elementos verbais, com vistas a um resultado estético, assim também a organização das instruções, em sua economia de eficácia, maior ou melhor confiabilidade, ou mesmo grau de perícia no uso da arte de programador, é objeto de proteção pela lei em comento.

Exatamente a organização do conjunto de instruções, a sucessão de rotinas e subrotinas, a sabedoria e arte da ordem, destino e sucessão temporal dos comandos é o que caracteriza a originalidade no uso de uma linguagem de computação dentro de determinados limites de hardware. É o que dá o valor comparativo a um programa em face de outro.

Assim, entre a simples idéia e sua expressão de um código em linguagem de máquina existe um vasto campo de atividade intelectual e de investimento. A presente proteção legal não inclui a idéia, mas cobre toda a criação feita a partir desta idéia, a qual vai resultar em algum momento na expressão final de um conjunto de comandos suscetíveis de leitura por uma máquina.

Estrutura, seqüência e organização

Tal foi a extensa discussão travada acerca da questão da "estrutura, seqüência e organização" dos programas de computador, ou seja, quais são os limites de matéria intelectual suscetível de proteção entre a idéia (não coberta pelo direito autoral) e o código (certamente protegido). A matéria envolve, uma vez mais, a aplicação do princípio de que o direito autoral não protege

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idéias, mas somente sua expressão 91 O problema é importantíssimo, pois sua solução implica definir os limites da tecnologia imitável.

O contexto desta elaboração jurisprudencial compôs-se de uma série de ações de contrafação em que se discutia se há ou não há cópia quando, embora não haja sequer um conjunto de instruções iguais nem sinal de cópia servil (ou seja, as obras em confronto não são literalmente similares), a estrutura, a seqüência e a organização de ambos os programas são as mesmas. Obviamente, só haverá oportunidade para suspeitar de contrafação quando houver formas alternativas de expressão.

Num primeiro e importantíssimo passo no sentido de superar as carências e impropriedades do direito autoral como proteção de tecnologia, a jurisprudência americana entendeu que “em grande proporção, a maior parte das despesas e dificuldades envolvidas na criação de um programa resulta do desenvolvimento da estrutura lógica do programa, da correção de erros, da documentação e manutenção, e não do trabalho de codificação propriamente dito. Tais elementos implicam criatividade muito maior e representa valor comercial muito mais alto do que o código operado pelo produto” 92. Entendimentos comparáveis foram adotados por tribunais alemães 93 franceses 94

e italianos 95.

O look and feel (jeitão)

A par da estrutura interna de um programa, subsiste a questão da aparência e da funcionalidade deste em relação com o usuário - como este sente o programa que atua em sua máquina. É o tema da extensa discussão jurisprudencial relativa ao look and feel - o “jeitão ” - dos softwares. O fato de dois softwares terem, em confronto, o mesmo “jeitão ” é extremamente importante para o novo concorrente que entra no mercado, porque o usuário não sente maiores dificuldades de aprendizado decente de cada um deles, pela coincidência de telas, pela seqüência de comandos ou pelo tipo da resposta

Numa situação em que o treinamento de pessoal e as curvas ascendentes de familiarização com um programa novo constituem item significativo de custos das empresas, a possibilidade de ter acesso a um software em substituição a outro, mais caro ou menos funcional, sem precisar retreinar todo o corpo técnico representa valor significativo na concorrência 96.

91 Denis Borges Barbosa, SELA (1987): "The line drawn between uncopyrightable facts and copyrightable expressions of facts serves an important purpose in copyright law. It provides a means of balancing the public's interest in stimulating creative activ -ity against the public need for unrestrained access to information". Miller v. Universal City Studios Inc., 650 F.2d 1365, 1371-72 (5th. circuit, 1981).92 Vide, em particular, Whelam Associates, Inc. v. Jaslow Dental Laboratory, Inc., 797 F. 2d. 1222 (3d. Cir.1986), onde tal questão foi apreciada pela primeira vez. 93 No caso Sudwestdeutsche Inkasso KG v. Bapperet & Burker Computer GmbH, Landesgerichte Kalsruhe , 9/2/83, GRUR 300, o Tribunal de Justiça de Kalsruhe, após explicitamente excluir do âmbito de proteção o algoritmo (não necessariamente o algoritmo matemático) entendeu que "existem elementos suscetíveis de proteção autoral nos vários estágios, compreendendo a definição do objeto através da análise do problema, o estabelecimento dos fluxogramas, a elaboração do programa fonte e a codificação em linguagem de programação". Tal entendimento foi reiterado pela Bundesgerichthof (o Supremo Tribunal Federal) em 9/5/85, com uma exceção muito importante, que será tratada posteriormente.94 Sisro v. Ampersand Software Ltd. Tribunal de Grande Instance de Paris, acórdão de 8/4/87, reproduzido em Expertises (Paris), 94, 1987, p. 155.95 Decisão do Tribunal Criminal de Milão de 13/3/87, publicado no Italia Oggi, de 9/4/87.96 Em matéria de direito autoral, no entanto, o propósito de manter a compatibilidade não foi aceito a princípio, nas decisões das instâncias inferiores, como defesa no caso da Franklin: "Franklin may wish to achieve total compatibility (...) but that is a commercial and competitive objective which does not enter into the somewhat metaphysical issue of whether particular ideas or

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A partir da consolidação da idéia de que o copyright se estenderia à sua estrutura, seqüência e organização, certos fluxos jurisprudenciais 97 chegaram a se voltar à ênfase na aparência visual dos programas, mas também nos outros aspectos do look and feel. Em fases posteriores de tais procedimentos judiciais, porém, prevaleceu entendimento mais restritivo.

A linguagem natural ou codificada

Todo programa perpassa por seis fases básicas: a concepção da idéia que soluciona o famoso problema técnico de que falam as lei de patentes; a formulação do método a seguir, usualmente expresso em fórmulas matemáticas ou lógico-matemáticas, denominado algoritmo; o organograma ou plano de solução, resultante do algoritmo; um texto em linguagem de programação - BASIC, C, PASCAL - que toma os elementos do organograma, chamado de programa fonte ou código fonte; um texto em linguagem intermediária, assembly ou de compilação; um texto legível diretamente pela máquina, denominado código objeto 98.

O conjunto de instruções de que fala a lei é (esquematicamente) expresso em linguagem natural - inglês, português ou alemão, com muito uso de símbolos e diagramas - até a terceira fase. Daí em diante, começa a codificação, vale dizer, a expressão das instruções em uma linguagem própria, capaz de ser traduzida - ou compilada 99 - em linguagem de máquina.

Assim é que a idéia de fazer um computador PC tocar o Hino Nacional Brasileiro é expressa no conjunto de instruções (em linguagem natural): tocar (3a oitava) dó/semínima, fá/colcheia pontuada, mi/semicolcheia, fá/colcheia pontuada, sol/colcheia, lá/colcheia pontuada (etc); codificada em BASIC: PLAY o3 t122 c,f8.,e16,f8.,g16,a8.(etc.). Segundo a lei, ambas expressões serão dignas de proteção, assim como sua versão em assembly ou em código objeto 100.

Código fonte ou código objeto

Vale referirmo-nos aqui à discussão judicial em curso nos Estados Unidos pouco antes da elaboração do projeto da primeira lei de software em 1987 quanto a se o código objeto - que não contêm linguagem legível por ser humano, exceto alguns especialistas - podia ser objeto de Direito Autoral 101.

A questão inicial no desenvolvimento do pensamento jurídico quanto aos direitos autorais relacionava-se ao alcance da proteção autoral: ela abrangeria só aquilo que pode ser diretamente

expressions have merged". De outro lado, é de perguntar se não deveriam ser estabelecidas normas técnicas coativas que impedissem a criação de dificuldades artificiais apenas para impedir a compatibilização de equipamentos ou softwares.97 Ver Ashton-Tate Corp v. Fox Software, Inc., 88-6837-TJH (C.D.Cal. ação iniciada em 18/11/88), com fatos idênticos aos da ação da 14ª Vara Cível do Rio de Janeiro, mencionada. Lotus Development Corp. v. Mosaic Software, Inc. e Lotus Development Corp. v. Paperback Software International, ambas as ações iniciadas na Seção Judiciária Federal do estado de Massachussets, em 12/1/87.98 Carlos Correa e outros, Derecho Informatico, Ed. Depalma, 1987, pg. 57.99 Alguns programas efetivamente traduzem, ou seja, transformam a execução do código superior, a medida em que ela vai sendo processada em uma expressão inteligível pelo código inferior; outros compilam o código superior num inferior, ou seja, transformam não a execução, mas o próprio código, o que é muito mais rápido.100 Mas não terá a proteção da Lei..., nem, acreditamos, da lei autoral genérica, a fase de formulação de soluções nem a de algoritmo.101 Apple Computer, Inc. v. Formula International, Inc., 752 F2d. 521 (9th. Circ., 1984):"Never has the Copyright Act required that the expression be communicated to a particular audience". O tema também fora examinado na justiça estadual da California: GCA Corporation v.Chance, 217 U.S.P.Q. 718, (1982), "because the object code is the decryption of the copyrighted source code, the two are to be treated as one work; therefore, copyright of the source code protects the object code as well."

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lido e compreendido pelo homem - o domínio comum do direito intelectual até o presente - ou também abrangeria fragmentos da comunicação entre homem e máquina?.

Este foi o tema subjacente ao primeiro caso judicial importante que se seguiu à modificação legislativa que, nos EUA, em 1980, introduziu formalmente os programas de computador na proteção autoral. A lide judicial tratava, como num caso brasileiro de 1982 102 de saber se o direito autoral só tutela o estrato superior da elaboração dos programas de computador ou também o nível das instruções dirigidas (comandos à máquina). No caso americano 103 foi entendido que a proteção autoral não cessava no nível superior, mas descia às profundezas da linguagem de máquina 104

No direito brasileiro, a redação não deixa dúvidas quanto à proteção do código objeto.

Expressão contida em um suporte físico de qualquer natureza

A noção do requisito da fixação da obra intelectual é particularmente desenvolvida no Direito inglês e americano 105; a Convenção de Berna (Art. 2o. § 2o.) permite que os países membros estabeleçam tal requisito como pressuposto da proteção 106. Em nossa tradição jurídica, porém, não é necessário que a obra esteja fixada num suporte físico de qualquer natureza, cabendo a proteção de obras orais, independentemente de sua redução a escrito 107.

No caso do Direito Brasileiro, porém, a fixação passa a ser requisito sine qua non da proteção. O dispositivo pertinente exige que a expressão do conjunto de instruções seja contido num meio físico, o que aparentemente elimina a proteção de programas ainda não fixados num meio qualquer - discutível, por exemplo, o status dos programas gerados em memória e ainda não salvados em meio físico permanente.

Programa fixado em ROM/EPROM

O intuito do dispositivo, porém, era claramente outro. Uma vez mais reagindo ao desenvolvimento jurisprudencial mais recente do Direito da Informática ao tempo da elaboração do projeto da Lei 9.609/98 , cuja redação é reproduzida no dispositivo em análise, o que visou o legislador foi eliminar a dúvida quanto à proteção de programas contidos em meios eletrônicos caracterizados como parte do hardware 108. Alegava-se, naquela altura, que a fixação do programa a um meio

102 Decisão no Juízo Cível da Comarca da Capital em São Paulo, na ação de contrafação movida pela Sinclair inglesa contra a brasileira Microdigital, proferida em primeiro grau em 31/5/85, concluindo pela inexistência de cópia, consequentemente não afrontando a questão de direito. Mas, em grau de apelação, o Tribunal de Justiça do Estado entendeu, em obiter dicta (pois manteve o entendimento a quo), que se o software podia ser reduzido a material legível pelo homem, havia proteção autoral. 103 Apple Computer Inc. v. Franklin Computer Corp, 545 F. Supp. 812, (E.D. Pa. 1982).104 Em um caso francês paralelo, Apple v. Seguinex, Tribunal de Grande Instance de Paris, acórdão de 21/9/83, publicado em Expertises (Paris), 56:257, o acórdão lembrou que o fato de a escrita musical ser impenetrável pelo leigo não a torna indigna de proteção pelo direito autoral.105 17 U.S.C. § 102 (a) Copyright protection subsists (...) in original works of authorship fixed in any tangible medium of ex-pression (...)106 Antonio Chaves, Direito de Autor, Forense 1987, pg. 397: "O fenômeno tem uma explicação de origem histórica: a lei francesa de 24.07.1793 referia-se exclusivamente aos escritos, tendo tal sistema sido seguido pela legislação dos demais países" A explicação parece descabida, eis que a Constituição Americana, que precedeu a lei francesa, já se referia aos escritos dos autores. 107 José Maria Assunção, Direito Autoral, Forense, 1980, pg. 14. Quanto às restrições impostas às obras orais, vide Vieira Manso, Direito Autoral, J.Bushatsky Ed., pg. 110 a 130.108 A questão foi discutida em Apple Computer,Inc. v. Franklin Cumputer Corp., 714 F 2d. 1240 (3rd. Cir. 1983), concluindo-se que o fato de o software estar fixado em uma pastilha de memória ROM (Read Only Memory) não eliminava a proteção autoral. Para um outro ângulo do problema, no campo do Direito Tributário Brasileiro, vide Denis Borges Barbosa, Tributação da

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físico integrado ao equipamento retirava a possibilidade de tutelá-lo pelos institutos do Direito Autoral, reservando-se a proteção ao sistema patentário, se fosse o caso.

Este foi, historicamente, o segundo problema discutido no âmbito do Direito Autoral aplicado ao software: especificamente, entre o software e o chip, em forma de ROM, onde ele estaria incluso. Também assunto do caso brasileiro de 1982, o tema foi mais profundamente discutido pelos tribunais americanos e franceses 109.

A lei brasileira elimina tais discussões. Pelo dispositivo em comento, a natureza do suporte físico em que se contem o programa não altera os termos de sua proteção jurídica. Assim, a Lei 9.609/98 contempla a proteção dos programas de computador, sejam eles contidos numa folha de papel, seja num diskette ou num disco rígido, numa EPROM, num CD ROM, numa caixa bernouilli, numa fita ou em um conjunto de cartões perfurados, num chip (pastilha semicondutora) ou em qualquer meio físico que se vier a conceber no futuro.

De outro lado, as tecnologias relativas ao suporte físico em si pode ser protegido por patente ou segredo, ou (no caso de uma pastilha semicondutora) sua topografia pode ser objeto da proteção específica a que se refere o Tratado de Washington de 1989. A proteção é independente e possi-velmente cumulativa com as demais.

Fugacidade dos resultados

Não obstante o programa estar fixado, como código, num disquete, ou qualquer outro suporte físico, ele pode produzir resultados de caráter fugaz - por exemplo, imagens de tela geradas de forma aleatória. A questão foi suscitada no início da discussão sobre programas de jogos, sob o argumento de que as imagens de videogames, sendo fugazes - não fixadas em qualquer meio - e sujeitas a decisões do usuário do programa, não satisfariam o requisito da fixação 110.

O resultado do uso do programa - as imagens por ele geradas, por exemplo, num jogo, podem ser ou não suscetíveis de proteção autoral autônoma, pelo regime geral. A jurisprudência precisou, porém, que tal questão é irrelevante perante o programa em si mesmo 111. Tal programa é obra autônoma em face de seus resultados: sejam estes fixáveis ou não, o que importa para a lei pertinente é que o requisito de fixação esteja satisfeito em relação ao conjunto de instruções. Como veremos mais adiante, os fins do programa, e a fortiori, seus resultados, são irrelevantes em face à proteção da lei em comento.

Software: de emprego necessário

O atual estágio da tecnologia não concebe programas de computador formulados inteiramente em linguagem natural. Desta forma, pelo menos em um nível de elaboração o programa é de emprego necessário em máquinas, vale dizer, não é suscetível de outro emprego senão como meio eficiente de causar certas máquinas a agir de modo e para fins determinados. Caso a obra intelectual deixasse de ter esta vinculação necessária, assim seu aspecto técnico, seria aplicável o regime geral de direito autoral.

Propriedade Industrial e do Comércio de Tecnologia , Ed.Res.Trib., 1983, pg. 87 e seg.109 Quanto ao ponto, cabe citar na jurisprudência americana Williams Electronics Inc. v. Artic International Inc. , 685 F2d. 870 3rd. Circ. 1982); na jurisprudência francesa Apple v. Seguimex, Tribunal de Grande Instance de Paris, 21 de setembro de 1983, in Expertises (Paris), 1984, no. 56, p. 256.110 Vide Williams Electronic, citado, e a análise da questão em Chisum e Jacobs, op. cit.¸ p. 4-42. 111 Stern Electronics, Inc. v. Kaufman, 669 F.2d. 638, 642.

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Programas dedicados

A cláusula não deve ser entendida, de forma alguma, como se dirigindo aos programas vinculados exclusivamente a uma determinada máquina, dispositivo, etc. Ou seja, não se encontre aqui qualquer limitação de tutela no tocante aos programas transportáveis, vale dizer, aqueles que se destinam à aplicação em um número indeterminado de arquiteturas diversas.

Muitos programas só são aplicáveis a um tipo específico de equipamento, ou - ainda mais restritamente - a uma configuração determinada de um equipamento; são eles denominados programas dedicados. Isto ocorria com especial ênfase nas primeiras fases do desenvolvimento da informática.

Considerável tendência porém se levanta nos últimos tempos, para a generalização de programas modulares, aptos a se adaptarem a diferentes arquiteturas e, quando sistemas operacionais, a permitirem rodar aplicativos não vinculados a determinado hardware. Dedicado ou transportável, o programa recai sob a tutela da Lei....

Programas aplicativos ou sistemas operacionais

Também não se entenda da cláusula "emprego necessário" que a proteção só alcance o software indispensável à operação da máquina - o chamado sistema operacional.

O terceiro grande ciclo de problemas resolvidos pela jurisprudência internacional quanto à proteção autoral do software foi o da distinção entre software básico e software de aplicação. O primeiro, destinado a administrar a máquina, ou a tirar dela o máximo de resultados, seria expressivo o suficiente para alcançar a proteção autoral? A percepção desta diferença persistiu longamente, em especial no tocante à legislação tributária 112 mas o entendimento que prevaleceu foi de que, do ponto de vista autoral, ambos merecem proteção 113.

Software: destinado a máquinas automáticas de tratamento de informação

O Direito em vigor evita falar em computadores, utilizando a expressão mais genérica "máquinas automáticas de tratamento de informação". Assim, ainda que o programa se destine a operar máquinas não caracterizadas como um computador de uso genérico, aplicar-se-ão ao diploma em questão. Note-se que a lei não exige que a máquina automática seja eletrônica 114.

A destinação do conjunto de informações

Ao precisar que sua proteção abrange obras constituídas de um conjunto de comandos ou instruções a uma máquina, o Direito Brasileiro enfrenta a questão de que o Direito Autoral

112 Ver Denis Borges Barbosa, Tributação (...), op. cit. (1983). A legislação brasileira também abordou a questão no Parecer Normativo CST 79/75, que considerava o software aplicativo tecnologia, mas o software básico parte da máquina para efeitos de tributação pelo imposto de renda.113 Apple v. Franklin, citado acima. Os comentadores têm notado, no entanto, que, na avaliação da eventual contrafação, os tribunais americanos tendem a ser tanto mais lenientes com o suposto contrafator quanto a cópia diga respeito às intimidades da máquina. Assim, no caso de microcódigos (NEC Corp. v. Intel Corp. 645 F.Supp 590 (N.D.Cal. 1986)) já se admitiram índices de cópia superiores do que no caso de BIOS (o próprio caso da Franklin), de sistemas operacionais ou de aplicativos; o argumento é de que, em tais casos, a expressão do software tende a ser ditada pela funcionalidade do hardware.114 Redação equivalente na lei americana suscitou interessante questão judicial. A definição de programa de computador constante de 17 U.S.C. § 101 se refere ao conjunto de instruções utilizados em um computador; exatamente como o dispositivo da lei brasileira (em uma máquina...). Em NEC Corporation v. INTEL Corporation, 10 U.S.P.Q. 2d. 1177 (1989), a autora havia alegado que, sendo parte de um chip integrante do computador (o programa em questão era um microcódigo) ele não estaria sendo usado em, mas seria um elemento do computador. O tribunal, apoiando-se no julgado de Apple v. Franklin, citado acima, entendeu, no entanto, que a proteção era devida independentemente da função a que o programa se destina.

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abrangeria apenas obras destinadas a um ser humano 115. Para o regime específico da lei em comento, a obra intelectual não deixa de sê-lo, pelo fato de que seu conteúdo se volta a um aparato eletrônico. Pelo contrário, é requisito da proteção específica que assim seja.

De outro lado, não deixa de ser sujeito à Lei.... o conjunto de instruções formulado em linguagem natural - que, em princípio, não seria legível por máquinas de tratamento de informação. Como já exposto, uma vez que se destine a fazer atuar tais máquinas, o conjunto de instruções, expresso em linguagem natural ou codificada, é sujeito ao regime especial da Lei do software.

Software: também aplicável a dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos

Os programas, podem aplicar-se não só às máquinas em sua unidade de processamento central, mas aos dispositivos, instrumentos e equipamentos periféricos. Uma boa parte das funções de um sistema operacional é exatamente coordenar a atuação dos vários dispositivos externos à unidade central, permitido a entrada e saída de dados (I/O).

É programa nos termos desta Lei 9.609/98 o conjunto de instruções que comanda uma enceradeira, um automóvel (ou um carburador), um relógio ou um foguete. Há programa (num ROM) numa impressora ou num terminal remoto.

Programas baseado em técnica digital

Os computadores e equipamentos de tratamento de informação podem, em princípio, ser analógicos ou digitais. Como no caso de relógios do mesmo tipo, a informação sob tratamento analógicos é processada através de um modelo ou réplica controlada (os ponteiros do relógio se deslocam simultaneamente ao tempo representado). O tratamento digital da informação implica (sempre como os relógios) numa fragmentação da informação a ser processada em elementos binários, na forma positivo/negativo, ou 1 e 0.

Os programas a que se referia a Lei 7647/87 eram aqueles formulados em técnica digital, ou seja, segundo a lógica booliana, inteligíveis por computadores digitais. A quase totalidade dos computadores atualmente existentes é digital.

Software: programas para fazer funcionar de modo e para fins determinado

O que caracteriza o objeto da proteção conferida pela Lei específica e que justifica a especialidade da legislação é a característica funcional, técnica, da criação intelectual. Não temos, nos programas em questão, uma criação teórica, mas uma expressão prática, destinada imediatamente a acionar uma máquina de tratamento de informação.

O dispositivo faz bem claro que é juridicamente irrelevante qual o propósito mediato da atuação da máquina. Quaisquer fins, para os quais o programa orientar a máquina, satisfarão o requisito legal. O programa pode fazer cálculos astronômicos, e não se tornará obra científica por isso; ou poderá atuar em um sistema musical MIDI, e nem por isto será uma obra artística; ou será um processador de textos, sem transformar-se em obra jurídica ou literária. Em todos os casos, temos uma obra intelectual de caráter técnico, protegida pela Lei 9.609/98 com as achegas adequadas da Lei Autoral 116.

115 Vide William Electronics, citado. Chisum e Jacobs, op.cit., p. 4-43.116 Cabe aqui lembrar que a lei de patentes não é menos autoral do que a Lei... A menção específica ao autor da invenção é consagrada em nossa tradição jurídica, e pelo menos um dos direitos morais foi sempre atribuído aos inventores: o da nominação. A regra geral, além disto é de que a patente pertence ao autor ou a seus sucessores.

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Em suma, haverá programa suscetível de proteção se for ele capaz de fazer funcionar uma máquina (dispositivo, etc.) de tratamento de informação de modo e para um fim qualquer.

A Lei específica não distingue entre os chamados sistemas operacionais, ou software de base, e os programas aplicativos: todos têm igual proteção. São sistemas operacionais os programas ou conjuntos de programas que se voltam mediata e imediatamente para o próprio controle da máquina, administrando suas funções internas, seus canais de comunicação, seus periféricos, etc.; de outro lado, os aplicativos são programas que visam controlar a máquina para que esta produza resultado externo determinado 117.

Em sua generalidade, o dispositivo em análise também não exclui de proteção as linguagens de programação.

Comportamento, e não texto

A destinação funcional do programa de computador é uma constante do direito comparado. A partir da definição de software na lei americana 118, o programa de computador foi em todos os casos conceptualizado como uma produção humana de caráter funcional - característica enfatizada na Diretriz 91/250 da CEE.

John Hershley, o escritor americano que, nesta condição, participou da Comissão constituída em 1976 pelo Congresso Americano para estudar os problemas postos pelas novas tecnologias ao Direito Autoral 119, tomou este ponto exatamente como o elemento de recusa do Direito Autoral para a proteção do software. O propósito do livro - objeto clássico do Direito Autoral - é a comunicação, enquanto o programa expressa funcionalidade: "it utters only work..." E o direito tutela não o objeto em si (como expressão) mas sua origem e seu propósito.

O sistema constitucional brasileiro se inclina exatamente a esta peculiaridade do regime jurídico do programa de computador, ao compatibilizar as exigências de função social ao valor ou propósito do programa: já que é a atuação prática e não a comunicação que se visa tutelar, que esta tutela siga os parâmetros da proteção à tecnologia - atuação prática ela também.

A adeqüabilidade da proteção autoral para o software continua sendo uma das maiores discussões no campo da Propriedade Intelectual - exatamente pela característica notada por John Hershey 120: a fonte primária de valor do programa não é o texto, mas o comportamento do programa. Mais ainda, notam os autores que, no software, texto (o código) e comportamento são independentes: pode-se ter distintos códigos chegando à idênticos resultados funcionais, como demonstram os casos judiciais referentes aos programas VP-Planner e Lotus 1-2-3 121.

Fins determinados

A definição legal não precisa quais são os fins a que o programa se destina, ao fazer funcionar as máquinas automáticas de tratamento de informação, assim como os dispositivos, instrumentos ou

117 Em Apple v. Franklin, já citado, a questão exatamente era: um sistema operacional é tão colado à máquina que não haveria quanto a ele espaço de proteção autoral.118 "A computer program is a set of statements or instructions to be used directly or indirectly in a computer in order to bring about a certain result" 17 U.S.C. § 101 (1988).119 National Commission on New Technological Uses of Copyrigthed Works (CONTU), Final Report, 31/7/78.120 Vide a extensa e riquíssima discussão da matéria na edição especial da centenária Columbia Law Review, de dezembro de 1994 (Samuelson, Davis, Kapor e Reichman, A Manifesto Concerning the Legal Protection of Computer Programs.121 Lotus Development Corporation v. Paperback Software Int'l, Inc., 740 F. Supp. 37, 69-70 (D. Mass. 1990).

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equipamentos periféricos a que se refere a Lei.... . É apenas necessário a determinação, ou determinabilidade, de tais fins.

Assim, é suscetível de proteção o programa que se volte à própria operacionalidade das máquinas, como o bios ou outras parcelas do sistema operacional, mas também o que tenha fins externos ao hardware. Os videogames e jogos de toda espécie, os simples screensavers, na verdade mais elementos decorativos do que práticos, configuram o uso de programas para fins de caráter não técnico. Mas o emprego de programas para fins técnicos não impede a proteção desta lei, nem transfere integralmente tal utilização prática para a área das leis de patentes.

Com efeito, as leis de cunho autoral convivem há muito com as leis de patente, por exemplo, no campo do design, com a parte artística de uma padronagem restando sob o Direito Autoral, e sua aplicação industrial cabendo à patente própria - hoje o registro de desenho industrial sob a Lei 9.279/96. Assim, a expressão de um programa pode restar sob a Lei do Software, enquanto que o uso do programa para fins de utilidade industrial, inclusive os conceitos e idéias que subjazem ao algoritmo, podem incidir sob a tutela da lei patentária.

Nem o fim estético, literário, artístico ou musical, transfere o programa para o regime geral da lei autoral. A existência de um fim determinado - qualquer seja ele - é requisito de proteção sob a Lei do Software, mas não modifica a natureza da proteção, que será sempre a da lei específica.

A patente de “software”

Em certos casos, tem havido procura da proteção patentária para o software, aproveitando-se da tendência, notável especialmente nos EUA, de maior tolerância para as peculiaridades das criações deste campo tecnológico 122, Estas patentes estão sendo concedidas, naquele país, para tecnologias tais como métodos de fazer negócio 123, para interface entre o computador e o usuário 124, etc. O perfil dos novos titulares de patentes americanas de software tem mudado significativamente, passando a incluir empresas do sistema financeiro 125..

Em tal evolução, pereceram alguns princípios básicos do sistema de patentes em favor do reforço dos interesses dos investidores. Como regra, a proteção da patente soma-se - e não substitui - às demais formas de direito intelectual 126.

Tem-se tratado o software mantido em sigilo como modalidade de segredo industrial. Com o boom do programa produto e, mais, desde o início da comercialização em larga escala de software para

122 Segundo Brascomb (1990:49): "In recent times, however, the Patent Office has begun to erode the boundaries for patenting of software, which were originally quite prohibitive. Today, algorithms which represent unique manners of doing business, for ex -ample, a particular way of financial accounting by computer, may be the subject of a patent, Paine Webber, Jackson & Curtis, Inc., v. Merrill Lynch e Pierce, Fenner, & Smith, Inc., v. Dean Witter Reynolds Inc. , 564 F.Supp. 1358 (D.C. Dela. 1983)". Ver também Bender (1989), para uma visão americana, e Hanneman (1988:14).123 US Patent 4.346.442, da Merrill Lynch, Methodus and Apparatus for Funding Future Liability of Uncertain Cost , de 21/6/88; US Patent 4.694.397, do The Advest Group., Inc., Banking/Brokerage Computer Interface System, de 15/9/87; US Patent 4.674.044, da Merrill Lynch, Automated Securities Trading System, de 16/6/87, etc.124 Por exemplo, US Patent 4.674.065, da IBM, System for Detecting and Correcting Contextual Errors in a Text Processing Sys -tem, de 16/6/87.125 Conforme Bender (1989:53): "A large proportion of these patents are issuing to major players in the computer and financial services industries".126 Conforme (1989:67): "one should keep in mind that we are not necessarily speaking of patent to the exclusion of copyright or trade secret. Rather, in many situations we speak about patent in addition to copyright and/or trade secret. Trade secret and patent are used sequentially; once the patent issues, trade secret protection is divested for whatever is disclosed in the patent. Patent and copyright can be used simultaneously".

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computadores pessoais, a proteção do sigilo não pôde mais satisfazer, por si só, o interesse dos produtores (Ortner, 1989:171; Reback & Patrick, 1989:115). Mas a afirmação do direito autoral como forma dominante de proteção adotou o segredo como parte da fórmula - inclusive na lei brasileira -, somando proteção exclusiva e segredo num único título de proteção (Reback & Patrick, 1989).

Note-se que a corrente Lei de Propriedade Industrial, Lei 9.279/96, art. 10, V, ecoando o texto da anterior Lei 5.772/71, em seu art. 9,h, veda a patente de “programas de computador”, apenas aduzindo a cláusula “em si”. Assim, acompanhando em alguma proporção a tendência do Direito Americano de conceder proteção a determinados resultados do programa, não chega a todas as conseqüências da evolução daquele Direito 127.

O destino da engenharia reversa

É necessário estudar os efeitos de tal evolução no conceito de reverse engineering (engenharia reversa). Uma das desvantagens do Direito Autoral, na ótica dos titulares de direito, e uma de suas vantagens, na perspectiva dos criadores de novos programas competitivos, é que o direito autoral, não abrangendo a tecnologia, estaria aberto à desmontagem conceptual e à evolução técnica desta resultante 128.

Será isto possível num contexto legal que reflita as últimas evoluções da jurisprudência estrangeira? E será realmente necessária a existência da engenharia reversa?

A resposta desta última questão talvez possa ser encontrada na própria jurisprudência americana, na definição de trade secret 129. A defesa contra a reverse engineering é a patente, e não qualquer outra modalidade de proteção que não atenda ao mesmo equilíbrio de interesses.

Para quem, como os brasileiros, não está sujeito aos efeitos deste sistema jurídico, tal noção exata das exigências e limitações do direito à tecnologia parece reconfortadora. Parece também estímulo para que se tomem as medidas legais necessárias no Brasil para que o mesmo entendimento nele prevaleça.

No entanto, apesar de tanto enfatizar o exemplo da patente tradicional, o software é um objeto novo de direito, com problema muito específicos. Impressiona, realmente, o argumento de que, ao contrário do que ocorre no caso da patente, nos programas de computador - naturalmente autoduplicáveis - o acesso ao código representa o acesso quase imediato ao mercado. A economia e as barreiras próprias do mercado de software diferem significativamente das existentes na indústria manufatureira tradicional, fazendo com que tal cópia excessivamente fácil em grande escala possa realmente desestimular a produção independente 130.

127 Vide, para um extensa discussão da matéria, Chisum e Jacobs¸ op.cit., p 2-24 a 2-50.128 "It is our view that the benefit to society from access to ideas that would otherwise be unavailable should be given consider -able weight in any judicial determination of fair use, and the commercial setting in which decompilation frequently takes place should not necessarily preclude a finding of fair use" (Ordem de Advogados de Nova Iorque, 1989:152).129 Kewanee Oil v. Bicron Corp, citado anteriormente, p. 490: "trade secret law provides far weaker protection in many respects than the patent law. While trade secret law does not forbid the discovery of trade secret by fair and honest means, e.g. indepen -dent creation or reverse engineering, patent law operates against the world, forbidding any use of the invention for whatever pur -pose for a significant length of time".130 Davidson (s.d.:102): "manufacturing economics are heavily driven by experience (accumulated units sold) and scale (produc -tive capacity); thus the first-to-market can have a big cost advantage; in contrast, in software, the copier can be ahead: software economics are largely based on distribution channel, not the one product. Small vendors are vulnerable to scale players who can mimic and push the innovative product without the manufacturing burden".

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O equilíbrio de interesses no caso do software parece ser um pouco diverso do que ocorre no caso das patentes destinadas aos setores tradicionais. Há a necessidade de promover a criação do software e sua publicação; a competição, pela entrada e convivência de novas empresas produtoras e distribuidoras no mercado; a pesquisa e a inovação (o que se distingue da atividade de elaborar programas); a educação, inclusive a familiarização da sociedade com a informática - computer literacy; e de incentivar o uso pessoal e personalizado da tecnologia, com o atendimento de demandas localizadas e específicas 131, que será possivelmente o modelo característico dos futuros sistemas de organização da sociedade.

Estes interesses visam, em geral, o aumento de produtividade e de eficiência, o estímulo à inovação e à diversidade (Davidson, s.d.:103). Porém, no caso específico dos países em desenvolvimento, ainda deveria ser prioritário garantir o acesso aos bens essenciais para a sobrevivência e a fruição dos direitos econômicos e sociais essenciais para a manutenção da dignidade.

A importância das economias em desenvolvimento para o mercado específico de software como produtoras ou consumidoras parece ser pequena. Assim, o estímulo à padronização e ao desenvolvimento imitativo nos países em desenvolvimento pode ser compatível com aqueles objetivos gerais, desde que, de um lado, auxilie decididamente na progressiva incorporação das economias em questão numa sociedade globalmente equalitária, e, de outro, não afete, de forma decisiva, a capacidade inovadora das economias centrais.

A reverse engineering pode ser um mecanismo de acesso a tais propósitos 132: se a legislação facilita sua prática, ela tende a promover a competição imitativa e o rebaixamento de preços; se proíbe, a tendência é de diferenciação dos produtos, pela dificuldade de compatibilização e pelo reforço do poder de mercado dos grandes produtores internacionais. No contexto atual da economia brasileira, parece que a opção nacional só pode ser pela primeira alternativa.

Aceitas tais premissas, a legislação brasileira tem de ser alterada para se adequar à necessidade de promover o desenvolvimento nacional, aproveitando-se inclusive do fato de que nem mesmo o atual exercício do GATT/TRIPS chegou a este nível de análise, propiciado pela evolução presente do direito. Ou seja, por enquanto, o caminho está livre à manifestação do interesse nacional.

As exigências de tal mudança seriam as seguintes: a) que haja tratamento diferenciado para a informação tecnológica existente no software e para a informação vendida na forma de produto de software; b) que a proteção genérica do direito autoral seja reservada no nível da pirataria strictu senso, ou seja, a cópia servil ou a transliteração do código, efetuada por um competidor; c) que haja outro método adequado de proteger (agora em condições restritas ou prazo limitado) também o nível de estrutura, seqüência e organização, que representa o estrato tecnológico do software; d) que se ampliem as hipóteses de não -aplicação do direito autoral, em particular no que toca ao acesso acadêmico e experimental, de forma que o uso do software alheio para criação de novos produtos não resulte em contrafação.

131 Cada vez mais os programas permitem sua adaptação às necessidades específicas ou ao estilo do usuário, evitando a impessoalidade típica dos produtos da indústria manufatureira clássica. No nível do consumidor, a tecnologia vai propiciando as vantagens do artesanato ou do "chinelo velho"; no nível do produtor, a tecnologia vai permitindo o atendimento a parcelas da demanda que antes eram antieconômicas pela escala de produção.132 Davidson (s.d.:102): "since software does not fit current reverse engineering policies, fit the policies to software; (...) con -sider reverse engineering policy a lever to turn up or down wealth/creation."

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Um primeiro caminho - que aparentemente não é incompatível com os parâmetros GATT/TRIPS - seria estabelecer tratamento diferenciado quanto à cópia literal ou servil da expressão literal do código e quanto à utilização comum das mesmas estruturas, seqüências e organização. Nestas últimas, de cunho mais claramente tecnológico, a proteção poderia ser reservada à patente, com seus parâmetros mais precisos e exigentes 133. No entanto, talvez fosse prudente, para melhor aproveitar a natureza específica do software, criar um título de proteção cujo prazo pudesse ser, sem as peias do GATT/TRIPS, menor do que o da patente. Os especialistas referem-se a um prazo de 5 a 7 anos para a abertura ao acesso público do nível tecnológico do software 134

O registro do programa

Função e eficácia

O registro do programa, como ocorre no conjunto do nosso sistema de direito autoral, não é elemento essencial da proteção. Como diz o texto em comento, o titular do programa pode, mas não é obrigado a levar a registro sua criação. O registro é apenas uma forma de pré-constituir prova de originalidade ou de identidade de um programa, mesmo assim prova juris tantum, capaz de ser contraditada por outra evidência de maior peso.

No caso dos programas de computador, o papel meramente complementar do registro é feito claro pelo Art.3o. §. 2o. da Lei 9.609/98.

Como já se viu, a propriedade sobre os programas nasce do ato de criação original, e a presença de qualquer índice desta criação substituirá o registro em seu efeito ad probandum tantum.

As normas do INPI.

A legislação ora em vigor prevê que o Instituto Nacional da Propriedade Industrial seja o órgão de registro dos direitos relativos aos programas de computador. Não o fazia assim a norma revogada, que atribuía ao Conselho Nacional de Direitos Autorais o dever de eleger o órgão de registro; o CNDA, por sua vez, conferiu a tarefa ao INPI.

No regime da lei revogada, a demanda de registro junto ao Instituto foi surpreendentemente baixa, o que não obstou que a autarquia emitisse normas próprias sobre a matéria. A autorização legal explícita agora legitima a ação normativa, com os limites que derivam do sistema constitucional vigente.

Limites da norma Tais limites são os da atividade regulamentar exercida por autoridade menor do Poder Executivo; não ultrapassarão, assim, o das formalidades indispensáveis ao registro, de acordo com a lei, assim como o das condições em que o objeto do registro possa permanecer em sigilo. Embora não possam, de nenhuma forma, criar exigência nova, não baseada em lei, os atos

133 Em outras palavras, seria, admitindo-se o patenteamento dos programas - que de resto já tem ocorrido no Brasil em certos casos -, vedar no Código da Propriedade Industrial a adoção da norma de Wheelan Associates.134 Davidson (s.d.:103): "even if release ideas into public domain (after 5 or 7 or 17 years), no need to release program copyright".

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do INPI também não poderão escusar-se a fazer cumprir a legislação brasileira em geral, a pretexto de que tal excede os termos da Lei 9.609/98 .

Com efeito, se a autarquia tem competência própria ou delegada, com base em legislação outra, não se isentará de seu cumprimento ao registrar ou denegar registro ao programa de computador; verificando o descumprimento de norma para a qual não tenha competência executiva, igualmente não poderá se furtar a suscitar a atenção do órgão ou entidade competente para restaurar o equilíbrio legal. Exemplo do primeiro caso é a função de agente auxiliar da fiscalização de tributos federais, deferida por lei à autarquia, cujo não exercício pela entidade poderá ser causa de responsabilização pessoal de seus titulares través de ação popular.

A delegação legislativa dá assim poderes e deveres correlativos ao INPI no tocante ao registro dos programas, ambos sob estrita tutela judicial.

Gratuidade do Registro Segundo o Art. 17 da Lei 5.988/73, que continua em vigor em face da nova Lei Autoral, o registro seria gratuito.

O dispositivo obviamente não se aplica ao caso específico de registro do Art. 3o. da Lei 9.609/98 , o qual implica em elevados custos para a Administração Pública, especialmente no caso em que o objeto do registro deva conservar-se sigiloso. A natureza essencialmente econômica - quase sempre empresarial - dos programas de computador também impõe à Administração o dever de fixar preço público adequado aos serviços de registro, sob pena de ferir a regra isonômica, segundo o parâmetro dos demais serviços análogos prestados pela autarquia. As normas baixadas pela autarquia incluirão, assim, o preço dos serviços pertinentes, segundo as autorizações superiores.

Legitimidade para o registro

Segundo a Lei 9.609/98 , é o titular dos direitos ao programa de computador que pode requerer o registro. Outros carecerão da legitimidade para o pedido.

Quem é titular O registro não é constitutivo do direito; assim, é legitimado ao pedido o criador - se reunir esta qualidade com a titularidade - o titular originário não criador, se este for o caso, ou os sucessores inter vivos ou causa mortis. Não há na Lei 9.609/98 o dispositivo do Código da Propriedade Industrial (Lei 9.279/96), segundo o qual presume-se autor o requerente (Art. 6o. § 1o.). Desta feita, uma vez suscitada a questão da titularidade, a autarquia ver-se-á impossibilitada de prosseguir o procedimento administrativo antes de resolver a preliminar de legitimidade - possivelmente deferindo a discussão à via judicial.

Bibliografia complementar: Software

Eduardo Vieira Manso, A informática e os direitos intelectuais / Eduardo Vieira Manso. - São Paulo : R. dos Tribunais, 1985.

Carlos Alberto Bittar, O direito de autor nos meios modernos de comunicação / R. dos Tribunais, 1989.

A Tutela jurídica do direito de autor / Georgette N. Nazo, coordenadora. - São Paulo : Saraiva, 1991.

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Carlos Alberto Bittar, Contornos atuais do direito do autor / Carlos Alberto Bittar. - São Paulo : Ed. Rev. dos Tribunais, c1992.

Tarcísio Queiroz Cerqueira, Software : direito autoral e contratos / Rio de Janeiro : Fotomatica : Polar, 1993.

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Orientador ABES No 04/97 - Abril-Maio97I – COMUNICADO DECEX Nº 13 - DE 21.05.97

(Suspende exigência de LI - Licença de Importação para o software).

I.1 - Histórico

Conforme é de conhecimento do quadro associativo da ABES, a Entidade formulou pedidos à SEPIN-Secretaria de Política de Informática e Automação, à SDA-Secretaria de Desenvolvimento de Audiovisual e ao DECEX-Departamento de Operações de Comércio Exterior, objetivando primeiro, a eliminação das anuências prévias da SEPIN e SDA das L.I. e depois, a supressão da exigência de L.I. nas importações de software para comercialização.

As duas primeiras medidas foram implantadas de plano (remanesceu a anuência da SDA somente quando o importador informava que o conteúdo do CD Rom era "CD-Rom - Jogos"). A dispensa de obtenção das L.I., porém, não fora alcançada até o dia 21.05.97.

I.2- Comunicado nº 13 do Decex e seus efeitos

1. No dia 21.05.97 o D.O.U. publicou o Comunicado Decex nº 13, de 09.05.97 (cópia anexa), do qual extraímos as considerações seguintes.

2. Na tentativa de produzir um documento suscinto, o DECEX acabou por editar um ato que gera dupla interpretação. Ao descrever o código 8524.39.00, por exemplo, o documento aborda 5 importações distintas:

a) "FORMATO CD-I (COMPACT DISC-INTERACTIVE): Define como tal os "discos ópticos gravados para uso exclusivo em aparelho "CD-I", a serem acoplados à aparelhos receptor de televisão.

b) FORMATO "JOGOS" - Enquadram-se nessa definição os "discos gravados com jogos para uso exclusivo em aparelhos de "video-game"

c) FORMATO "VÍDEO-LASER" - Ganharão esse enquadramento os "discos ópticos gravados com obra audio-visual para uso em aparelho de "video-laser")

d) "FORMATO CD-PHOTO"- Classificar-se-ão como tais os "discos gravados com imagens (fotografias); e, por último,

e) "FORMATO "CD-ROM" - Conceituados como sendo "discos ópticos gravados próprios para uso em aparelhos "CD-Rom" acoplados à máquinas de processamento de dados".

3. Nesse aspecto o documento é absolutamente positivo: define cada uma dessas propriedades intelectuais e deixa claro que TUDO QUE RODA EM CD-ROM ACOPLADO À COMPUTADOR OU MICROCOMPUTADOR ("máquinas de processamento de dados"), SERÁ CLASSIFICADO NO "FORMATO "CD-ROM", ainda que seja ele um jogo.

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4. O problema surge quando o intérprete quer saber se determinado tipo de importação exige ou não L.I. É que o detalhamento do código supra ora fala que "deverá estar indicado NA LI o conteúdo da gravação", ora diz somente: "deverá estar indicado o conteúdo da gravação".

Em consulta telefônica o DECEX esclareceu que, no primeiro caso "a importação exige Licença de Importação, onde se fará a indicação", enquanto que no segundo caso "a indicação se fará diretamente na D.I. Declaração de Importação, dispensada a exigência de L.I.".

Se assim for, ótimo. Significa dizer que o Comunicado 13 extinguiu a L.I. nas importações de software. O receio da Abes é divulgar tal orientação para os Associados e a fiscalização dar outra interpretação e aplicar a multa de 30%, por ausência de L.I., nas importacões de software para comercialização.

Estamos formulando consulta escrita ao DECEX e faremos a correspondente divulgação aos associados tão logo recebamos a resposta daquele órgão. Enquanto isso não acontecer, deixamos ao livre arbitrio do quadro associativo adotar a postura que lhe parecer mais conveniente (importar sem L.I. - correndo o risco da multa se o fiscal tiver entendimento diferente do DECEX - ou obter aquele documento previamente).

5. O problema se repete quando o comunicado se reporta aos códigos "8524.40.00 - Fitas magnéticas gravadas (próprias) para máquinas de processamento de dados" e "8524.91.00 - Discos magnéticos gravados próprios para máquinas de processamento de dados" (ou seja, programas de computador gravados em fitas ou disquetes) uma vez que o comunicado se utiliza da expressão "deverá estar indicado o conteúdo da gravação" sem se referir à L.I.: Na interpretação verbal do DECEX, não seria exigida L.I. para tais casos.

PORTARIA Nº 181, DE 28 DE SETEMBRO DE 1989

Dispõe sobre a tributação dos rendimentos correspondentes a direitos autorais na aquisição de "software ", pagos a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior.

O Ministro de Estado da Fazenda, no uso de suas atribuições, RESOLVE:

Serão tributados na forma dos arts. 554 e 555, I, do Regularmento do Imposto de Renda aprovado pelo Decreto nº 85.450, de 4 de dezembro de 1980 - RIR/80, os rendimentos correspondentes a direitos autorais pagos a beneficiários residentes ou domiciliados no extrerior na aquisição de programas de computadores - "software", para distribuição e comercialização no País ou para uso próprio, sob a modalidade de cópia única.

O suporte informático estará sujeito à incidência do imposto de importação e do imposto sobre produtos industrializados.

2.1 - O valor aduaneiro do suporte informático não abrange o custo ou o valor do programa, desde que este custo ou valor conste, no documento de aquisição, destacadamente do custo ou do valor do suporte físico propriamente dito.

2.2 - Não ocorrendo a situação mencionada no subitem anterior, tomar-se-á para determinação do valor aduaneiro o custo ou o valor da transação, integralmente.

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3. O imposto de que trata o item 1 incidirá inclusive nos casos em que a operação de câmbio, para pagamento do direito autoral, seja efetuada na forma da Resolução nº 1.552, de 21 de dezembro de 1988, do Conselho Monetário Nacional.